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Normas de recepção
As normas de competência internacional servem-se de alguns elementos de conexão com a ordem jurídica
nacional para atribuir competência aos tribunais judiciais para o conhecimento de uma certa questão. As
normas de conflitos que definem as condições em que os Tribunais do foro são competentes para a
apreciação de um objecto que apresenta uma conexão com várias ordens jurídicas podem designar-se por
normas de recepção. É essa a função dos vários critérios enunciados no art. 65º/1 CPC (A competência
internacional dos tribunais moçambicanos depende da verificação dos seguintes critérios:
Estas normas de recepção definem a competência internacional dos Tribunais de uma certa ordem
jurídica. Elas decorrem tanto da regra segundo a qual, quando, o caso em apreciação apresenta uma
conexão relevante com uma ordem jurídica, os seus Tribunais devem ser competentes para a acção, como
do princípio de que, perante a existência de uma tal conexão, os Tribunais daquela ordem devem recusar a
competência internacional, pois que isso pode equivaler a uma denegação de justiça. Note-se que a
conexão com uma certa ordem jurídica pode ser mais fraca do que aquela que determina a aplicação do
direito nacional ao caso sub iudice, porque não há qualquer paralelismo necessário entre a atribuição da
competência internacional e a aplicação da lei material do foro.
As normas de recepção só determinam, através da referida conexão, que os tribunais de uma jurisdição
nacional são competentes para apreciar uma relação plurilocalizada. Essas normas não são normas de
competência, porque não a atribuem a um tribunal, antes se limitam a determinar as condições em que
uma jurisdição nacional faculta os seus tribunais para a resolução de um certo litígio com elementos
internacionais. As normas de recepção preenchem, no âmbito processual, uma função paralela àquela que
as normas de conflitos realizam no âmbito substantivo: estas determinam qual a lei aplicável a uma
relação jurídica plurilocalizada (se a lei do foro ou uma lei estrangeira); aquelas aferem se essa mesma
relação pode ser apreciada pelos Tribunais de uma certa ordem jurídica.
a) Necessidade:
Nem sempre a circunstância de a questão em apreciação se situar no âmbito da competência internacional
(porque o objecto em apreciação é uma relação jurídica plurilocalizada) implica a utilização dos critérios
específicos da competência internacional para a atribuição de competência aos Tribunais de uma certa
ordem jurídica. Para que haja necessidade de aferir a competência internacional dos Tribunais de um certo
Estado, é indispensável que se verifique um de dois factores: que a conexão com a ordem jurídica nacional
seja estabelecida através de um elemento que não é considerado relevante por nenhuma das normas da
competência territorial e que, portanto, não possa ser atribuída competência aos Tribunais de um certo
Estado utilizando exclusivamente as regras de competência territorial dos seus Tribunais; ou que o Estado
do foro esteja vinculado, por convenção internacional, a certas regras de competência internacional.
b) Unilateralidade:
As normas de recepção funcionam unilateralmente. Isto significa que essas normas se limitam a facultar
os tribunais de uma jurisdição para a resolução de uma certa questão. Ou seja, essas normas atribuem
competência aos tribunais de uma ordem jurídica para a resolução de um certo litígio, mas não excluem a
apreciação dessa mesma questão por um tribunal estrangeiro.
c) Previsão:
Quando a acção apresenta uma conexão objectiva, relativa ao objecto do processo, ou subjectiva, referida
às partes em causa, com uma ou várias ordens jurídicas estrangeiras, pode ser necessário determinar a
competência internacional dos Tribunais portugueses. Essa aferição deve restringir-se às situações em que
os Tribunais portugueses não são competentes segundo as regras da competência interna, pois que, como
se verificou, só importa averiguar a competência internacional quando os Tribunais de uma certa ordem
jurídica não sejam competentes para apreciar uma relação jurídica plurilocalizada segundo as suas regras
de competência territorial. Essa é a função dos critérios constantes do art. 65º/1 CPC.
A competência legal internacional dos Tribunais portugueses é determinada, segundo uma ordem
decrescente de aplicação pratica, pelos critérios da exclusividade (art. 65º/1-b CPC), do domicílio do réu
(art. 65º/1-a CPC), da causalidade (art. 65º/1-c CPC) e a necessidade (art. 65º/1-d CPC).