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Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades

Licenciatura em Direito

Trabalho de Direito processual do Contecioso Administrativo

Tema: RECURSO CONTECIOSO

Direito Pós-Laboral

Discentes: Docente:

Inês John Paulo Ataíde MSc. Isaac Shamir

Juma Júlio Clemente Saide

Luís Alberto Massavanhane

Metissa da Graça Amaral

Roseta Tomas Mandala Doane

Sérgio Alfane

Beira, Janeiro de 2022


Índice
Siglas:..............................................................................................................................................2
Abreviaturas:....................................................................................................................................3
Objectivos Gerais:...........................................................................................................................4
Objectivos Especifícos:...................................................................................................................4
Introdução:.......................................................................................................................................5
O que é contencioso administrativo.................................................................................................5
Secção do Contencioso Adinistrativo..............................................................................................5
Recursos Contecioso........................................................................................................................6
Funções do recurso..........................................................................................................................7
Classificação dos recursos contecioso.............................................................................................8
Classificação doutrinária.................................................................................................................9
Competência..................................................................................................................................11
Constituição da Secção..................................................................................................................12
Funcionamento..............................................................................................................................12
Rejeição da LIMINAR do recurso.................................................................................................13
Natureza e objecto de Recurso Contencioso.................................................................................14
Requisitos da Petição Inicial do Recurso Contencioso..................................................................15
Fundamentos de Recurso Contencioso..........................................................................................15
Recurso de apelação......................................................................................................................16
Agravo...........................................................................................................................................18
Recurso Hierárquico......................................................................................................................18
Recurso Hierárquico Impróprio.....................................................................................................18
Recurso Tutelar..............................................................................................................................19
Efeitos do Recurso.........................................................................................................................19
Prazos de Recursos........................................................................................................................19
Contra-Interessado.........................................................................................................................19
Conclusão:.....................................................................................................................................20
Referências Bibliográficas:............................................................................................................21

2
Siglas:
CPC: Código de Processo Civil.

LPAC: Lei do Processo Administrativo Contencioso.

CRM: Constituição da República de Moçambique.

SPA: Supremo Tribunal Administrativo.

TAC: Tribunal Administrativo Contencioso.

3
Abreviaturas:

Pp.: Páginas;

Ss.: Seguintes;

Art.: Artigo;

Arts.: Artigos;

Ed.: Edição;

Obcit.: Obra citada;

Nº.: Número;

Al.: Alínea.

4
Objectivos Gerais:

 Debruçar sobre os recursos contecioso;

Objectivos Especifícos:

 Determinar as especies de recursos conteciosos;


 Discernir recursos legais de recursos doutrinais;

5
Introdução

Dia-a-dia criam-se relações na sociedade, que sejam de amizade, quer de afinidade, quer ainda
de responsabilidade, e por aí vai, varas são as relações que se constituem e extinguem no
quotidiano da sociedade, umas podem ter fins monetários (relação de compra e venda), outras
nem por isso, o direito não tutela todas estas relações, ele tutela apenas as relações que possuem
um nível de interesse social consideravelmente relevante.

No âmbito do Direito do contencioso administrativo, as relações que interessam não são


quaisquer relações, são relações jurídico-administrativas estabelecidas entre a administração
pública e os particulares, no entanto destas relações surgem litígios, a pergunta que não quer
calar é, que mecanismos podem um particular usar quando a administração pública no uso
excessivo do seu poder lesa os seus direitos?

Existem dois mecanismos principais:

 Os recursos; e
 As acções.

O trabalho em apreço vai descortinar não sobre as acções, mas, sobre os recursos Contencioso.

6
O que é contencioso administrativo

O Contencioso Administrativo é uma garantia constitucional que representa a forma mais


elevada e eficaz da defesa de direitos subjectivos e dos interesses legalmente protegidos dos
particulares, perante a actuação da Administração Pública que efectiva por meio dos tribunais
administrativos.

Secção do Contencioso Administrativo

Nos termos do art 17 nº1, alínea a) da lei nº 7/2015, de 06 de outubro – Lei Orgânica da
Jurisdição Administrativa – LOJA alterada e republicada pela Lei nº. 8/2015, de 06 de Outubro,
a 1º Secção do Tribunal Administrativo denomina-se Contencioso Administrativo, cabendo a
mesma dirimir os litígios entre a Administração Pública e os particulares e vice -versa, por
aplicação das normas do Direito Administrativo e, supletivamente, as disposições relativas aos
tribunais judiciais, com as devidas adaptações.

Recursos Contencioso

Têm sido adoptados no âmbito da jurisprudência administrativa o princípio de duplo grau de


jurisdição de mérito, o qual concede as partes embora com raras excepções o direito a recurso
contra decisões jurisdicionais, mesmo tendo sido proferidas pelos tribunais superiores de 1º grau
de jurisdição1.

Vezes há também, embora excepcionalmente que o contencioso administrativo moçambicano


admite, um duplo grau de recurso, compreendendo a complexidade do caso.

O recurso constitui uma garantia dos particulares e traduz-se num meio de impugnação, feita aos
tribunais competentes, com a finalidade de obter a anulação de um acto administrativo, dentro
das garantias dos administrados encontramos: recurso hierárquico, o recurso hierárquico
impróprio, o recurso tutelar, recurso de revisão, e o recurso contencioso. (artigo 18,número
1, alíneas c, d, e, f e j.
1
NABAIS, José Casalta de, Procedimento e processo Administrativo, 10ª ed, Almedina, 2017,p.285.

7
Ao se falar de recursos jurisdicionais o que se pretende ao fim ao cabo é saber das espécies de
recursos e os seus respectivos regimes aplicáveis, tão-somente isso, e é justamente sobre isso que
estaremos aqui a debruçar de forma mais ou menos exaustiva no decorrer do trabalho.

A quem é atribuída essa legitimidade de recurso?

A legitimidade de recurso não pertence a qualquer um, no sentido de, só por ser pessoa dotada de
direitos e obrigações tem legitimidade para recorrer, é um pensamento no entanto erróneo, a
legitimidade de recorrer de uma decisão é atribuída, como é natural, a quem nela tenha ficado
vencido, artigo 44 da LPAC esta legitimidade também pode ser presumida, nos casos em que o
sujeito A, represente o sujeito b cujos direitos foram afectados, presume-se dai a legitimidade
activa, mas não se está a dizer para todos os efeitos que A é portador da legitimidade muito
menos dos direitos de B, artigo 45 da LPA.

O Ministério Público tem legitimidade para a interposição de recurso sempre que esteja em causa
a defesa da legalidade. (artigo 44, al. a) da lei 7/2014)

Além disso, o Ministério Público é notificado para intervir no processo, emitindo parecer sobre o
mérito dos recursos das partes, em defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos e de interesses
públicos especialmente relevantes ou valores comunitários constitucionalmente protegidos.

Um aspecto fundamental que passa a revestir uma grande importância na identificação dos
recursos que podem ser interpostos contra decisões de tribunais administrativos, prende-se com
as alçadas nos outros países como é o caso de Portugal e Angola porém a lei 7/2015, de 6 de
Outubro estabelece que na jurisdição administrativa moçambicana não há alçada (artigo 12).

Em todo o caso, é sempre admissível o recurso, independentemente do valor da causa, nos


mesmos termos em que isso é admissível de acordo com a lei processual civil e ainda quando se
trate de recorrer de decisões de improcedência de pedidos de intimação para protecção de
direitos, liberdades e garantias, de decisões proferidas em matéria sancionatória ou contra
jurisprudência uniformizada pela administração pública e de decisões que ponham termo ao
processo sem se pronunciarem sobre o mérito da causa.

Salvo em processos urgentes, em que o prazo de recurso é de 15 dias e todos os prazos reduzidos
a metade, o recurso deve ser interposto no prazo de 30 dias a contar da notificação da decisão

8
recorrida, devendo o mesmo ser interposto mediante requerimento com alegações, nas quais se
enunciam os vícios da sentença impugnada. Em observância do princípio do contraditório (artigo
3 do CPC), os recorridos são notificados para alegarem (artigo 167 da lei 14/2011 de 10 de
Agosto).

Funções do recurso
Um dos pontos mais marcantes na reforma do contencioso administrativo moçambicano é a
determinação de que, tendencialmente, todas as decisões de provimento de recursos
jurisdicionais, e não apenas em âmbito de processos urgentes, não se limitam a eliminar a
decisão impugnada e a reenviar o processo para o tribunal inferior2.

Com efeito, o tribunal de recurso julga de novo o fundo da causa, com eventual recurso a novos
meios de prova. Em processo administrativo, os recursos jurisdicionais passaram a ser, em
princípio, recursos de reexame e não meros recursos de revisão.

Este princípio de reexame vale em primeiro lugar para os recursos ordinários de decisões sobre o
mérito da causa (matéria de facto e de direito) proferidas em 1.ª instância pelos TAC (os recursos
interpostos para o pleno da secção do supremo tribunal administrativo dos acórdãos proferidos
em 1ª instância pela secção, apenas dizem respeito a questões de direito).

Mas tal princípio também vale para o recurso de revista (per saltum ou não) em que, perante os
factos materiais fixados pelo tribunal recorrido, o STA, enquanto tribunal de revista, estabelece
definitivamente o regime jurídico adequado ao caso. O mesmo sucede no que diz respeito ao
recurso para uniformização de jurisprudência, em que a decisão de provimento, além de anular a
sentença recorrida, substitui-a, decidindo a questão controvertida3.

Podemos dizer que o recurso é um meio de garantia que consiste na impugnação feita perante o
Tribunal Administrativo competente, de um acto administrativo ou de um regulamento ilegal, a
fim de obter contenciosamente a respectiva anulação.

2
CLARO, João Martins; ANDRADE, Ana robin de, Manual de técnicas de Contencioso Administrativo, ed. ISBN,
Agosto, 2005,pp.106-112.
3
CLARO, João Martins; ANDRADE, Ana robin de, Manual de técnicas de Contencioso Administrativo, ed. ISBN,
Agosto, 2005,pp.114-115.

9
Classificação dos recursos contenciosos

4
Ensina a este propósito VIEIRA DE ANDRADE que “A lei do processo administrativo
distingue formalmente entre recursos ordinários – entre os quais refere a apelação (art. 691
CPC), os recursos de revista (art. 721 do CPC) e o recurso para uniformização de
jurisprudência – e o recurso de revisão (art. 174 da lei 14/2011 de 10 de Agosto) ”. Este
último, extraordinário.

Com efeito, propugna o autor que “em face da regra do duplo grau de jurisdição, talvez
possamos distinguir, no processo administrativo:

a) Na grande maioria dos casos, será o recurso interposto das decisões dos TAC para os
TCA, que se pode designar de “apelação”;
b) Recurso ordinário especial – que constitui o recurso de revista per saltum dos TAC para o
STA;
c) Recursos ordinários excepcionais – que serão o recurso de revista dos TCA para o STA
e o recurso para uniformização de jurisprudência, a interpor para o Plenário do STA.
d) Recurso extraordinário – que será o recurso de revisão. (artigo 174 da lei 14/2011)

Aqui explicitamente ressalvamos que consideramos, como este autor, o recurso para
uniformização de jurisprudência um recurso ordinário, com o argumento, que nos parece válido,
sustentado na própria sistematização da LPAC. Não obstante, AROSO DE ALMEIDA considera
que “Ao contrário do que a organização sistemática da LPAC parece sugerir, o recurso para
uniformização de jurisprudência não é um recurso ordinário, mas extraordinário, pois é um
recurso que se interpõe de decisões já transitadas em julgado”.

Classificação doutrinária

Seguindo novamente os ensinamentos de VIEIRA DE ANDRADE, podemos afirmar que “os


recursos contenciosos não têm todos a mesma natureza, nem seguem um único regime, sendo,
nessa medida, objecto de classificações doutrinais”.

4
Obcit.

10
Assim sendo, em função dos poderes do tribunal para o qual é interposto o recurso (tribunal ad
quem), podem distinguir-se os recursos substitutivos dos recursos cassatórios ou reincidentes.

Nos recursos substitutivos, até pela nomenclatura, o tribunal ad quem, caso entenda dar
provimento ao recurso, vai substituir a decisão impugnada por aquela que entenda ser adequada.

Por sua vez, nos recursos cassatórios ou reincidentes o tribunal ad quem limita-se a verificar a
legalidade da decisão recorrida e, em caso de procedência, a cassá-la, ou seja, a proceder à sua
revogação ou rescisão, remetendo posteriormente o processo ao tribunal competente, em regra,
ao tribunal a quo, para nova decisão5.

Realce-se que a prática processual moçambicana, que se confirma também no processo


contencioso administrativo, vai no sentido de os recursos serem, em regra, substitutivos.

Porém, VIEIRA DE ANDRADE ensina que “Esta classificação – que se funda na existência ou
inexistência dos poderes dispositivos do tribunal superior – não se identifica, apesar de algumas
correlações fortes, com a que distingue entre os recursos de reexame e os recursos de
reponderação ou de revisão – que respeita ao alcance desses poderes”.

Advoga a este respeito o autor que “é certo que, no recurso de cassação, como o tribunal visa
apenas verificar o cumprimento da lei pelo tribunal a quo, não poderá, pelo menos em regra,
senão rever ou reponderar a decisão recorrida com base na prova, nos factos e no direito
existentes à data em foi proferida. Mas, já no caso do recurso substitutivo, tanto pode entender-
se que o tribunal de recurso julga de novo o mérito da causa – devendo, então poder fazer um
reexame da questão, isto é, da relação jurídica controvertida, eventualmente com base em novas
provas e atendendo às alterações de facto e de direito que tenham ocorrido até à decisão do
recurso, como se limita a reponderar a decisão tomada, na exacta medida em que foi impugnada.

Competência

Compete à Secção do Contencioso Administrativo conhecer, em primeira instância:

5
ALMEIDA, Mário Aroso de, Manual de Processo Administrativo, 1ª ed, Coimbra, Almedina, 2010, pp., 53-58.

11
a) Os recursos dos actos administrativos ou em matéria administrativa praticados por
membros do Conselho de Ministros;
b) Os recursos relativos à aplicação de normas regulamentares emitidas por órgãos da
Administração Pública, bem como os pedidos de declaração de ilegalidade dessa
aplicação;
c) Compete, ainda, em segunda instância, conhecer os recursos dos acórdãos dos tribunais
administrativos provinciais e da Cidade de Maputo;
d) Os recursos de actos administrativos punitivos no âmbito das suas competências;
e) Os recursos de actos administrativos punitivos no âmbito das suas competências;
f) Os pedidos da execução das suas decisões, proferidas em primeira instância,
independentemente de ter sido interposto recurso para o Plenário;
g) Os pedidos relativos à produção antecipada de prova;
h) Outras competências nos termos da lei6.

Compete ainda, em segunda instância conhecer os recursos dos acórdãos dos tribunais
administrativos provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo.

Constituição da Secção
Nos termos d artigo 29 da lei n.º 7/2015, de 6 de Outubro, para apreciar a matérias da sua
competência, a secção do Contencioso Administrativo é constituída por três Juízes Conselheiros,
sendo um deles o Presidente da Secção.

Funcionamento
No âmbito dos seus poderes cognitivos, os Juízes da Secção funcionam singular e/ou
colegialmente:

1 . De forma singular, compete ao Juiz relator, de entre outras, rejeitar liminarmente os
requerimentos e incidentes de cujo objecto não deva tomar-se conhecimento e, julgar os
incidentes (cfr. Artigo 20, n.º 1 alíneas d) e f), da lei n.º 7/ 2014 de 28 de Fevereiro, Lei do
Procedimento do Processo Administrativo Contencioso – LPPAC, respectivamente). Compete,
ainda, por despacho fundamentado (cfr. Alíneas do n.º 2 do mesmo dispositivo legal):

6
Lei nº 7/2014 de 28 de Fevereiro.

12
 Rejeitar liminarmente o recurso, por manifestamente não ser da competência da
jurisdição administrativa; pelo facto de o recurso ser manifestamente errado; por
ineptidão da petição; por falta de personalidade ou capacidade jurídica do recorrente; por
caducidade do direito ao recurso; por ilegal coligação dos recorrentes; e por ilegal
cumulação de impugnações;
 Decidir sobre os pedidos manifestamente ininteligíveis;
 Rejeitar o recurso quando, tendo sido convidado para suprir ou corrigir as deficiências ou
irregularidades, num prazo fixado pelo relator, recorrente não se conforma com as
diligências solicitadas;
 Julgar extinta a instância por deserção, desistência ou impossibilidade superveniente da
lide;
 Rejeitar imediatamente o pedido de suspensão de eficácia dos actos administrativos
quando enferme de deficiências ou irregularidades.

De forma colegial, a Secção reúne, em conferência, para efeitos de julgamento, uma vez por
semana em sessão ordinária, extraordinária sempre que convocada pelo respectivo presidente. O
julgamento inicia-se com apresentação do projecto de acórdão, pelo relator, após o que se
procede á discussão e deliberação. Na sessão de julgamento participa, também, o representante
do ministério Público que é ouvido na discussão, excepto nos casos em que for demandante ou
demandado, ou ainda, em representação do Estado. (cfr. Artigo 23 da LPPAC).

O direito ao recurso contencioso é um direito subjectivo público que informa o Estado de Direito
tal como o nosso, com garantia constitucional; portanto, é um direito fundamental, bem como,
direito e garantia dos administrados, por interpretação do disposto no nº 3 do artigo 253,
conjugado com os artigos 69 e 70, todos da Constituição da República de Moçambique.

1. Os recursos contenciosos são de mera legalidade e têm por objecto a declaração de


anulabilidade, nulidade ou inexistência jurídica dos actos administrativos recorridos. Diz-se de
mera legalidade porque o direito já foi definido pela Administração Pública aquando da prática
do acto administrativo, não competindo ao Tribunal, em sede do recurso, substituir-se à
Administração Pública, no exercício das funções administrativas, como por exemplo, modificar o
acto administrativo ilegal, nem condenar à Administração Pública a praticar este ou aquele acto;

13
mas, pode, jurisdicionalmente, verificar e controlar se o acto administrativo praticado é válido ou
inválido.

Se o acto for válido, é confirmado; caso contrário, o tribunal declara a invalidade nas formas de
anulação, declaração de nulidade ou da inexistência.

Através deste meio, o contencioso administrativo é designado contencioso administrativo de


anulação, ou seja, recurso contencioso por natureza (artigo 32 da LPPAC).

2º. Quanto às acções, também conhecidas por recursos contenciosos por atribuição, o tribunal
exerce plena jurisdição, decidindo em primeira mão, tendo como pressuposto a inexistência de
acto administrativo. Contudo, havendo acto administrativo o mesmo deverá ser nulo ou
inexistente, ou, ainda, perante omissão ou indeferimento tácito do qual não tenha sido interposto
recurso contencioso (artigos 111 e seguintes da LPPAC).

Rejeição da liminar do recurso


1. O recurso é rejeitado liminarmente, quando se verifica, de forma clara, o seguinte:

 Ineptidão;
 Incompetência do tribunal;
 Falta de personalidade ou capacidade jurídica do recorrente;
 Falta do objecto do recurso;
 Irrecorribilidade do acto recorrido;
 Ilegitimidade do recorrente;
 Ilegalidade da coligação dos recorrentes;
 Erro na identificação do autor do acto recorrido;
 Falta de indicação de contra-interessado, quando deve;
 Ilegalidade da acumulação de impugnações;
 Caducidade do recurso. (cfr. artigo 58 da LPPAC)7.

NB: Mesmo não se manifestando de forma clara, inicialmente o recurso pode vir a ser rejeitado,
pelas mesmas razões, posteriormente.
7
Lei nº 7/2014 de 28 de Fevereiro.

14
2. Quando o recurso é rejeitado liminarmente, cita-se o recorrido que deve responder no prazo de
vinte dias, sob pena dos efeitos da falta de resposta, (cfr. artigo 64 da LPAC).

Natureza e objecto de Recurso Contencioso

O direito ao recurso contencioso é um direito subjectivo público que enforma o Estado de Direito
tal como o nosso, com garantia constitucional; portanto, é um direito e garantia dos
administrados, por interpretação do disposto no n.º 3 do artigo 253, conjugado com os artigos 69
e 70, todos da CRM.

1 . Os recursos contenciosos são de mera legalidade e tem por o objecto a declaração de
anulabilidade, nulidade ou inexistência jurídica dos actos administrativos recorridos. Diz-se de
mera legalidade por que o direito já foi definido pela administração Pública aquando da pratica
do acto administrativo, não competindo ao Tribunal Administrativo, em sede de recurso,
substituir-se à Administração Pública, no exercício das funções administrativa, como por
exemplo, modificar o acto administrativo ilegal, nem condenar  à administração Pública a
praticar este ou aquele acto, administrativo é designado contencioso administrativo de anulação,
ou seja, recurso contencioso por natureza.

2 . Quanto as acções, também conhecidas por contenciosos por atribuição, o tribunal exerce
plena jurisdição, decidindo em primeira mão, tendo como pressuposto a inexistência de acto
administrativo. Contudo, havendo acto administrativo o mesmo devera ser nulo ou inexistente,
ou ainda, perante omissão ou indeferimento tácito do qual não tenha sido interposto recurso
contencioso.

3.  Admite-se, em sede de Recurso Contenciosos a acumulação de pedidos que podiam ser


requeridos em acções (artigo 24, LPPAC).

Requisitos da Petição Inicial do Recurso Contencioso

Nos termos do artigo 53 da LEPPA, a petição deve ser feita detalhada e o recorrente deve:

15
Indicar a quem é dirigido: Tribunal Administrativo Provincial, Secção do Contencioso
Administrativo do TA ou Plenário do TA, consoante as competências;

 Indicar a sua identidade, residência e os contra interessados, requerendo a sua citação;


 Identificar o acto recorrido e o seu autor, e se foi no uso de delegação ou subdelegação de
poderes;
 Expor com clareza, os factos e as razões de direito que fundamentam o recurso;
 Apresentar de forma clara e sucinta as conclusões, indicado as normas ou princípios que
foram infringidos;
 Formular o pedido (tendo em conta o artigo da LPPAC);
 Indicar os factos cuja prova pretende efectuar;
 Requerer os meios de prova;
 Indicar os documentos que originalmente ou facultativamente acompanham a petição;
 Indicar o escritório ou domicílio do signatário da petição na sede do Tribunal para efeito
de notificação;
 Deve satisfazer as leis fiscais, ou seja, pagar os preparos exigidos por lei;
 Juntar todos os documentos comprovativos bem como indicar o rol de testemunhas
sempre que seja necessário.

Fundamentos de Recurso Contencioso

Nos temos do artigo 34 da LPPAC, Constituem fundamentos de recurso contencioso:

 A usurpação do poder (violação do principio da separação de poderes);


 A incompetência (em razão da matéria do território, da hierarquia e do tempo);
 Vício de forma, neste sim englobando a falta de fundamentação de facto ou de direito, do
acto administrativo e a falta de quaisquer elementos essências deste;
 A violação da lei, incluindo a falta de respeito pelos princípios de igualdade, da
proporcionalidade, da justiça e imparcialidade e, ainda, o erro manifesto o total falta de
razoabilidade no exercício de poderes discricionários;
 Desvio.

16
Recurso de apelação

Neste tipo de recurso o tribunal ad quem conhece tanto da matéria de facto como a de direito. De
acordo com o preceituado no artigo 691.º, n.º 1 do CPC, ainda que declare nula, ou seja, a
apelação apresenta-se não como um mero recurso cassatório ou reincidente, mas sim como um
recurso substitutivo ou de reexame8.

No entanto, segundo TERESA VIOLANTE, “tal não significa como salientam Aroso de
Almeida e Carlos Cadilha, que esteja afastada a possibilidade de delimitação subjectiva e
objectiva do âmbito do recurso, nos termos do disposto no artigo 684.º do CPC. Salienta a autora
que “a este propósito, Vieira de Andrade alerta para o facto de a questão do âmbito do recurso no
contencioso administrativo dever ser entendida e analisada à luz dos princípios próprios deste
ramo de direito, designadamente o princípio do favorecimento do processo consagrado no artigo
7.º do LPAC. Nos termos do n.º 4 do artigo 684.º do CPC, a sentença recorrida faz caso julgado
relativamente às questões que não tenham sido objecto de recurso.

De acordo com aquele Autor, esta solução não pode ser transposta, sem mais, para o contencioso
Administrativo. Entende, assim, que nesta matéria (à semelhança do que sucede,
designadamente, nas acções de impugnação de actos administrativos), o juiz não se encontra
limitado ao princípio ne eat iudex ultra vel extra petita partium”.

Com efeito, tendo em consideração que recurso é um recurso de reexame, impende sobre o
tribunal administrativo de segunda instância o poder-dever de conhecer novamente sobre o
mérito da causa, eventualmente ordenando a renovação da prova ou a realização de novas
diligências probatórias, e não se encontrando, por isso, restringido pela delimitação do objecto do
recurso que for efectuada pelas partes, uma vez que a decisão deverá manter ou substituir a
sentença recorrida, não se consubstanciando, desta maneira, na pura análise da sentença recorrida
na forma como surge delimitada pelas partes por via das alegações e contra-alegações de
recurso9.

8
ANDRADE, José Carlos Vieira de, A justiça Administrativa, 13ª ed, Coimbra, Almedina, 2014, pp.26-28.
9
SILVA, Manuel Pereira da, O Contencioso Administrativo Angolano, ed. Lisboa, 2015, pp.50-65.

17
Isto é, na apelação pode haver lugar ao conhecimento de questões novas, seja porque o tribunal
recorrido não se pronunciou sobre o seu conteúdo, seja porque as mesmas apenas foram
formuladas no tribunal de segunda instância.

Não obstante, o conhecimento de questões novas pode levantar alguns problemas no que diz
respeito à reapreciação das mesmas em sede de recurso. Daí, a doutrina dividir-se, enquanto
Aroso de Almeida e Carlos Cadilha entendem que o direito ao recurso face à sua configuração
constitucional se satisfaz com a simples possibilidade que as partes têm de assegurar a
intervenção do tribunal superior, já Vieira de Andrade manifesta algumas reservas
nomeadamente quando estejam em causa direitos, liberdades e garantias dos particulares ou
decisões proferidas no âmbito de matéria sancionatória.

Destarte, a este propósito concordamos com o entendimento de Aroso de Almeida e Carlos


Cadilha, porquanto nos parece que de facto a consagração constitucional do recurso, artigos
659.º e ss. do CPC.

Agravo

10
O agravo cabe das decisões, susceptíveis de recurso das quais não se possa apelar, este recurso
encontra-se previsto nos artigos 733 e ss. do CPC, sobem imediatamente os agravos interpostos:

 Da decisão que ponha termo ao processo;


 Despacho proferido sobre as reclamações contra o questionário.
 Despacho proferido pelo qual o juiz se declare impedido oposto por alguma das partes.
 Despacho pelo que julgue o tribunal absolutamente incompetente.
 Despachos proferidos depois da decisão.

É justamente nesses casos estabelecidos põe lei que o agravo se dá sem mais ou menos, e em
tudo quanto falte disposição legal aplica-se o previsto a apelação, com as necessárias adaptações,
artigo 733,734 e 710 do CPC.

10
Código de Processo Civil de Moçambique.

18
Recurso Hierárquico

Aqueles praticados por órgãos sujeitos aos poderes hierárquicos de outros órgãos, neste tipo de
recurso podem ser apreciados ou a ilegalidade ou a inconveniência ou ainda a inoportunidade do
acto recorrido, quanto aos prazos, os actos nulos são interpostos a tempo todo, e os anuláveis
num prazo não superior a 90 dias quando não se trate de indeferimento tácito.

O órgão competente para apreciar o recurso pode, revogar a decisão ou então tomá-la quando o
autor do acto não o tenha feito11 (arts.162-166) da lei 14/2011.

Recurso Hierárquico Impróprio

Diz-se impróprio quando interposto a um órgão que exerça poder de supervisão sobre outro
órgão da mesma pessoa colectiva, fora do âmbito da hierarquia administrativa . Aplica-se a este
recurso as disposições previstas na lei 14/2011 relativas ao recurso hierárquico com as
necessárias adaptações, artigo 172 da lei supracitada.

Recurso Tutelar

São os que têm por objecto actos administrativos praticados por pessoas colectivas públicas
sujeitas a tutela ou superintendência, este recurso é excepcional surgindo apenas quando
previstos na lei, salvo disposições facultativas contrárias, e só pode ter fundamento na
inconveniência ou inoportunidade do acto recorrido nos casos em que a lei o determine, artigo
173 da lei 14/201112.

Efeitos do Recurso

 Recurso contencioso não suspende a execução do acto recorrido;


 Recurso contencioso suspende, porém, a eficácia do acto recorrido quando,
cumulativamente, esteja em causa apenas o pagamento da quantia certa, de natureza não

11
Lei nº 14/2011 de 10 de Agosto.
12
Lei nº 14/2011 de 10 de Agosto.

19
sancionatória, e tenha sido prestado caução por qualquer das formas admitidas nos termos
do Código do processo Civil (cfr. artigo 36 da LPPAC);
 Para evitar o perigo da demora da decisão do recurso contencioso pode lançar-se mão do
pedido de suspensão de eficácia do acto administrativo (cfr. artigos 132 e seguintes da
LPAC).

Prazos de Recursos

O recurso contencioso de anulação deve ser interposto no prazo de 90, salvo no caso de
indeferimento tácito, em que o prazo é de um ano. É igualmente de um ano quando o recorrido é
o Ministério Público. Quando se trate de acto nulo ou inexistente, pode ser impugnado a todo
processo. (cfr. artigo 37 da LPAC).

Contra-Interessado

Todo aquele que tomar conhecimento e sentir-se interessado numa causa que corre no
Contencioso Administrativo, cuja decisão favorável ao recorrente lhe afecte directamente, pode
intervir no processo na qualidade de contra-interessado. (cfr. artigo 50 da LPAC).

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Conclusão:

No final do trabalho concluímos que a lei cria as garantias dos particulares por estes serem a
parte fraca da relação jurídico administrativa, e porque vezes há em que a administração pública
no exercício da sua função administrativa viola o direito dos particulares, o direito entendeu que
era necessário tutelar esta relação, criando mecanismos que conferissem aos particulares o direito
de em caso de ver os seus direitos violados pela administração publicar poder reagir.

Estes mecanismos só são accionados quando observada a existência ou não de meios


processuais: a competência, legitimidade etc.

O mecanismo que a nós interessa é o recurso, o recurso em palavras simples é um mecanismo de


impugnação/ ataque que consiste em pedir a anulação de um dado acto ou regulamento
administrativo ilegal, existe uma vasta gama de recursos de acordo com as suas classificações
quer doutrinárias quer legais e cada um reconhece as suas próprias características que os
distingue dos outros.

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Referências Bibliográficas

Legislação:

 Constituição da República de Moçambique, 2018.


 Código de Processo Civil de Moçambique.
 Lei nº 14/2011 de 10 de Agosto.
 Lei nº 7/2014 de 28 de Fevereiro.
 Lei nº 7/2015 de 6 de Outubro

Livros:

 CLARO, João Martins; ANDRADE, Ana Robin de, Manual de técnicas de Contencioso
Administrativo, ed. ISBN, Agosto, 2005,pp.106-116.
 SILVA, Manuel Pereira da, O Contencioso Administrativo Angolano, ed. Lisboa, 2015,
pp.37-65.
 ANDRADE, José Carlos Vieira de, A justiça Administrativa, 13ª ed, Coimbra, Almedina,
2014,pp.23-28.
 ALMEIDA, Mário Aroso de, Manual de Processo Administrativo, 1ª ed, Coimbra,
Almedina, 2010, pp., 53-58.
 NABAIS, José Casalta de, Procedimento e processo Administrativo, 10ª ed, Almedina,
2017,pp.285-289.

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