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1.Introdução

O presente trabalho tem como tema: Evolução Histórica do sistema judicial moçambicano.

Para entender o trabalho em apreso parte-se de principio que Moçambique é um Estado de


direito democrático baseado no princípio da separação e interdependência de poderes. De acordo
com a Constituição de 2004, a terceira constituição adoptada após a independência do país, os
direitos individuais e a independência dos tribunais foram fortalecidos.

A criação e o desenvolvimento da organização judiciária pretendeu aproximar os sujeitos


jurídicos dos tribunais, através da inclusão nos tribunais de juízes eleitos, os quais são escolhidos
de entre pessoas idóneas da sociedade pelos legítimos representantes dos cidadãos eleitos para a
assembleia nacional ou assembleia local.

Para a elaboração do trabalho Foi utilizado o seguinte método de investigação: pesquisa


documental. A pesquisa documental constitui-se uma valiosa técnica de abordagem de dados
qualitativos. A pesquisa documental resumiu-se no levantamento de dados primários que é
desenvolvida a partir de material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos
científicos e tem por finalidade conhecer as diferentes contribuições científicas que se realizam
sobre determinado assunto ou fenómeno, de forma a explorar o sustentáculo temático em estudo.

Na pesquisa bibliográfica basei-me em livros que atendem a situação judicial de Moçambique e a


sua reforma.
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1.1.Objectivos

1.1.1.Objectivo geral

 Analisar a evolução histórica do sistema judicial em Moçambique.

1.1.2.Objectivos específicos.

 Compreender a natureza da instituição do sistema judicial em Moçambique.


 Compreender a natureza de constituição dos Tribunais comunitários e sua função.
 Explicar a função da constituição da república na reforma do sistema judicial
moçambicano
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2.A evolução da justiça moçambicana

2.1.A organização judiciária (origem)

A evolução da organização judiciária desde a independência até aos dias acompanha, em termos
gerais, a evolução do próprio sistema político e da ordem jurídico-constitucional de
Moçambique. É, assim, possível observar quatro períodos, correspondendo cada um deles ao
tempo de vigência das transformações que se fizeram sentir, com incidência sobre a composição,
a organização e o funcionamento dos tribunais e dos outros órgãos de administração da justiça:

– de 1975 a 1978, a (re) construção do sistema judiciário;

– de 1978 a 1992, a implantação do sistema de Justiça Popular;

– de 1992 a 2004, a criação de uma organização judiciária do Estado de Direito, com a separação
dos tribunais comunitários; – o período que se inicia com a recente revisão constitucional, de
Novembro de 2004, é o do reconhecimento do pluralismo jurídico e da criação de um sistema
integrado de Justiça, com o objectivo de tornar a justiça mais próxima, mais acessível, mais
eficiente, mais transparente e ao serviço da cidadania, da democracia e do desenvolvimento.

O período entre a proclamação da independência e a aprovação da primeira Lei da Organização


Judiciária foi o da concepção do sistema judiciário moçambicano e, ainda, de tomada de medidas
pragmáticas necessárias para garantir o funcionamento das instituições de justiça, dentro do novo
quadro constitucional de um novo país, (Anteproposta da lei de Bases do Sistema de
Administração da Justiça, p. 6 ).

3.Tribunais popular

Alcançada a independência a 25 de Junho de 1975, após um longo conflito armado entre as


Forças Armadas Portuguesas e a Frente de Libertação Nacional, a organização judiciária de
Moçambique passou de um sistema jurídico de cariz elitista e colonial para um sistema
democrático mais próximo do povo (GABRIEL,2014).
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Durante o conflito armado foi desenvolvido pela Frelimo, nas zonas conquistadas nos anos de
guerra colonial, um trabalho que, em 1978, resultou na aprovação da Lei Orgânica dos Tribunais
Populares, que criou os tribunais populares em diferentes escalões territoriais. No topo da
hierarquia estava o Tribunal Popular Supremo, seguindo-se-lhe os Tribunais Populares
Provinciais, Tribunais Populares Distritais enquanto, na base ou 1.ª instância, estariam os
Tribunais Populares de Bairro.

No exercício judicial participavam juízes profissionais e juízes eleitos. Os juízes eleitos são
pessoas idóneas, eleitos pelas assembleias populares e exercendo funções verdadeiramente
jurisdicionais, em processos relativos a litígios penais, em que analisavam tanto a matéria de
facto como a de direito.

No 1º escalão da organização judiciária, estavam os tribunais de localidade e de bairro, que


funcionavam exclusivamente com juízes eleitos, os quais conheciam as infracções de pequena
gravidade e tomavam as suas decisões de acordo com critérios de bom senso e de justiça, tendo
em conta os princípios que presidem à construção de uma sociedade socialista.

Neste sentido, o governo tentou por fim à aplicação do direito consuetudinário, que tinha
ligações estreitas ao direito colonial. Ao abrir a justiça aos cidadãos, o efeito provocado foi
justamente o inverso do pretendido posto que o direito costumeiro subsistiu, visto este interligar-
se com os princípios fundamentais mencionados na Constituição.

3.1.Função

Os tribunais populares de base deveriam substituir as autoridades tradicionais ao nível das


funções judiciais. Contudo, a estas cabiam, ainda, funções administrativas, que, na estrutura
estabelecida pelo Estado moçambicano, passariam a ser desempenhadas pelos Grupos
Dinamizadores, que nunca chegaram a conhecer formatação jurídica formal (Meneses, 2009: 26).
Os GDs eram comités compostos por oito a doze pessoas, liderados por um secretário, que
passaram a desempenhar um conjunto de tarefas. Para além de funções como a mobilização das
populações para a participação político-partidária, a segurança nacional, a organização de
processos de produção colectiva e a execução de programas de educação, foram-lhes atribuídas
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inicialmente funções na área da justiça. Cabia-lhes difundir e explicar os novos valores e as


novas normas comportamentais e dirimir pequenos conflitos. Ainda que, logo após o III
Congresso da FRELIMO em 1977, e a criação dos tribunais populares em 1978, as suas tarefas
tenham sido reestruturadas e lhes tenha sido retirado o papel de resolução de conflitos, fazia
parte das suas funções “promover as relações de boa vizinhança entre os moradores, e procurar a
solução de pequenos conflitos, desde que estes não sejam da competência do tribunal popular
local”.

Assim, no que diz respeito à justiça, o papel dos GDs e dos tribunais populares de base tende,
por vezes, a confundir-se, o que permanecerá uma constante, mesmo quando, nos anos 90, os
últimos são substituídos pelos tribunais comunitários (Isaacman e Isaacman, 1982: 300-304;
Araújo e José, 2007). Ora, isto não significa que as autoridades tradicionais tenham
desaparecido, de facto, do mapa da administração e da justiça moçambicano.

4.Extinção

Em 1984, o governo aderiu às Instituições de Breton Woods (IBWs), nomeadamente ao Banco


Mundial e ao Fundo Monetário Internacional. A Constituição de 1990, no contexto de construção
de uma democracia liberal, consagrou os princípios da separação de poderes, da independência,
da imparcialidade, da irresponsabilidade e da legalidade, lançando bases para a produção de
alterações substanciais na organização judiciária.

Assim, a Lei dos Tribunais Populares foi substituída pela Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais
de 1992.3 Os tribunais de base foram excluídos da organização judiciária e, no mesmo ano,
foram criados, por lei própria, os tribunais comunitários (TCs). Estes, fora da organização
judiciária, deviam continuar a funcionar com juízes eleitos pela comunidade e a desempenhar o
papel que cabia aos tribunais populares de localidade e de bairro.

4.1.Tribunais comunitários

A Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais aprovada em 1992 extinguia os Tribunais Populares
(TPs) de base; isto é de localidade ou de bairro e estes foram substituídos pelos Tribunais
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Comunitarios (TCs) criados pela lei 4/92 de 6 de Maio. Porém a lei que criou os TCs não foi até
hoje regulamentada, o que leva reflectir que estes tribunais assumiram a herança dos TPs, ora
extintos.

Os TCs, assumiram a herança dos TPs que foram oficialmente declarados extintos, e não são
nem completamente oficiais e nem completamente não oficias, os TCs são um híbrido jurídico.
Estes tribunais assumiram o legado humano e institucional dos TPs, mas não o legado
organizacional formal, pois ao contrário destes, nem estão integrados na organização judiciária,
nem são apoiados técnica e materialmente pelos tribunais distritais e funcionam com carências
humanas e infra-estruturas.

Os tribunais comunitários constituem hoje, na configuração que lhes é dada pela Lei nº 4/92, de
6 de Maio, uma instância “oficial” (no sentido de ter sido criados por diploma normativo estatal)
de resolução de conflitos, dado que eles representam, até certo ponto, uma continuidade dos
“tribunais populares de base” previstos na anterior organização Judiciária.

No processo de constituição e funcionamento dos tribunais comunitários, intervêm os tribunais


judiciais para o controlo e a validação dos resultados eleitorais na eleição dos juízes, na formação
do pessoal do tribunal comunitário e na avaliação das competências para os casos que lhes são
incumbidos.

Igualmente, os Tribunais Comunitários articulam-se com outras instâncias do sistema informal


de justiça, na avaliação das medidas tomadas se não atentam contra a Constituição e as demais
leis e nas autoridades comunitárias buscam as boas práticas locais e delas obtêm informações
necessárias sobre os litigante.

Os Tribunais Comunitários articulam-se também com as Procuradorias no processo de educação


jurídica e na prevenção de conflitos. Igualmente, na sua actuação, os tribunais comunitários
articulam-se com outras formas alternativas de resolução de conflitos nas comunidades, como
sejam:

 Organizações sócio profissionais;


 Liga Moçambicana dos Direitos Humanos;
 Régulos e outros líderes tradicionais;
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 Secretários e outros líderes comunitários;


 Organizações Religiosas;
 Organizações de Massas;
 Organizações sócio-profissionais.

Os tribunais comunitários constituem, assim, a base do sistema integrado de justiça, articulando-


se com os tribunais judiciais e demais órgãos do sistema judiciário, (Trindade, 2010).

De acordo com dados oficiais constantes do Relatório ao X Conselho Coordenador do Ministério


da Justiça12, em 2004 haviam sido inventariados no país 1653 tribunais comunitários – dos quais
254 (cerca de 15%) instalados no período de 2000 a 2004 –, com cerca de 8265 juízes.

4.1.Função

A Constituição da República estabelece no número 2 do artigo 223 que podem ser criados os
tribunais comunitários como uma espécie de tribunais distintos dos demais tribunais, facto que
pressupõe uma orgânica e actuação própria desta instância de resolução de conflitos na nossa
sociedade, (Salimo, 2011:4).

Por outro lado, o nº 5 da Lei nº 24/2007 de 20 de Agosto, Lei de Organização Judiciária define
os Tribunais Comunitários como instâncias não judiciais de resolução de conflitos.

No sistema de Administração da Justiça, os tribunais comunitários, articulam-se com os


seguintes órgãos:

 O Tribunal Judicial do Distrito;

 A Procuradoria do Distrito;

 As representações da Ordem dos Advogados e do Instituto Nacional de Patrocínio e


Assistência Jurídica;

 A Polícia da República de Moçambique.


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Como corolário deste princípio, os tribunais comunitários são consagrados como órgãos de base
do sistema de justiça, deixando de ser jurisdição voluntária e passando a ser jurisdição
obrigatória.

Nos termos do respectivo anteprojecto de Lei Orgânica, estes tribunais tem a competência para
todo o tipo de conflitos, à excepção daqueles em que estejam em causa princípios e normas
constitucionais ou de contencioso administrativo, ou cujo valor da causa seja duas vezes o salário
mínimo nacional, digam respeito à capacidade das pessoas, à validade ou interpretação de
testamento, à adopção e à dissolução de casamento civil ou, ainda, em matéria criminal,
relativamente a crimes de natureza pública ou sempre que o pedido de indemnização cível
exceda duas vezes o salário mínimo nacional, (Trindade, 2010).

Das decisões proferidas pelos tribunais comunitários caberá sempre recurso para o tribunal
judicial de distrito competente, e o recurso poderá ser interposto oralmente ou por escrito pelos
interessados, sem necessidade de patrocínio jurídico. O julgamento destes recursos está sujeito
aos mesmos critérios de equidade, bom senso e justa composição dos litígios, sendo vedado ao
juiz decidir de acordo com critérios de legalidade.

A justiça comunitária é tendencialmente gratuita, devendo o orçamento anual dos tribunais


judiciais de província incluir uma verba destinada aos tribunais comunitários situados na sua área
de jurisdição, para financiamento dos recursos humanos e das despesas materiais correntes, à
excepção das despesas com edifícios, equipamento e demais recursos materiais, que serão da
responsabilidade dos governos provinciais, ( Trindade, 2010).

5.Reforma do sistema judicial

Novembro de 2004, é o marco do reconhecimento do pluralismo jurídico e da criação de um


sistema integrado de Justiça, com o objectivo de tornar a justiça mais próxima, mais acessível,
mais eficiente, mais transparente e ao serviço da cidadania, da democracia e do desenvolvimento.

O artigo 29 da Lei Orgânica Judicial descreve a organização judiciária como sendo composta por
quatro graus, como órgão máximo o Supremo Tribunal, os Tribunais Superiores de Recurso, os
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Tribunais Judiciais de Província e os Tribunais Judiciais. Os órgãos jurisdicionais subdividem-se,


no caso do Tribunal Supremo, em Plenários e Secções, e dentro destas divisões existe uma
subdivisão entre 1ª instância e 2ª instância.

Os Tribunais Superiores de Recurso, os quais têm competência para a resolução de conflitos não
resolvidos na 1ª instância, subdividem-se em 1ª e 2ª instância. Já os Tribunais Judiciais de
Província subdividem-se em 1.ª e 2.ª instância. Por sua vez, os Tribunais Judiciais de Distritais
subdividem-se em 1.ª e 2.ª instância, sendo que cada uma destas instâncias se divide em 1.ª e 2.ª
classe.

Nos quadros de todos os Tribunais supracitados existem juízes profissionais e juízes eleitos. Os
juízes eleitos do Tribunal Superior e dos Tribunais Superiores de Recurso são designados pela
Assembleia da República; para os Tribunais Judiciais de Província e Distritais são designados
pelos órgãos representativos do poder local. Estes juízes são seleccionados entre os cidadãos de
reconhecida idoneidade propostos por associações cívicas, organizações sociais, culturais ou
profissionais.

O controlo da eleição dos juízes eleitos é feito por uma comissão pela Assembleia da República
ou pela Assembleia de Província, conforme art.º 90 da Lei Orgânica Judicial. Para melhor
apreender a estrutura orgânica e funcional dos Tribunais moçambicanos analisamos, em
separado, cada um deles.

Tribunal Supremo

No topo da hierarquia da Organização Judiciária encontra-se o Tribunal Supremo, tendo


jurisdição em todo o território do estado moçambicano, garantindo a aplicação uniforme da lei
na esfera da sua jurisdição, ao serviço dos interesses do povo, e incumbindo ainda a direcção do
aparelho judicial. Este encontra-se sediado em Maputo, capital da República de Moçambique.
O Tribunal Supremo é composto por Juízes Conselheiros, sendo o Presidente da República que
nomeia o Presidente e o Vice- Presidente, ouvido o Conselho Superior de Magistratura; os
restantes juízes são nomeados pelo Presidente República sob proposta do Conselho Superior. À
data de nomeação, os Juízes Conselheiros devem ter idade igual ou superior a 35 anos e hão-de
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ter exercido pelo menos 10 anos de actividade forense ou de docência de direito, conforme
art.º 227 da Constituição da República ( CRM).

O tribunal organiza-se internamente em secções e plenários, conforme o estipulado no art.º


227 da CRM, e no art.º 43 da Lei Orgânica Judicial, Em plenário, organiza-se como tribunal
2.ª instância, e de instância única nos casos previstos na lei. Funcionando como tribunal de
instância única, o plenário é composto pelo Presidente, por um Vice-Presidente, por Juízes
Profissionais e por Juízes Eleitos, que têm competência para julgar os processos contra
algumas categorias de pessoas, nomeadamente o Presidente da República, o Presidente da
Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, o Presidente e o Vice-Presidente e os Juízes
Conselheiros do Tribunal Supremo, conforme o estipulado nos artigos 44 n.º 2 e 46 da Lei
Orgânica Judicial.

No caso do Tribunal Supremo funcionar como 2ª instância, este é constituído pelo Presidente, o
Vice-Presidente e os Juízes Profissionais, tendo competência para uniformizar a
jurisprudência quando tenham sido proferidas decisões contraditórias nas várias instâncias do
Tribunal Supremo ou nos Tribunais superiores de apelação; decidir de competências cujo
conhecimento não esteja, por lei, reservado a outros tribunais; julgar processos de decisões em
primeira instâncias pelas secções do Tribunal Supremo; e ordenar que qualquer processo seja
julgado em tribunal diverso do legalmente competente, conforme os artigos 44 n.º 1 e 45 da
LOJ.

Por outro lado, o Tribunal Supremo organiza- se, também, secções, de 1.ª e 2.ª instância,
conforme o estipulado no artigo 43 al. b) da Lei Orgânica Judicial. Funcionando em 1.ª
instância, a secção é composta por dois juízes profissionais (um presidente e outro adjunto) e
dois juízes eleitos, com competência para julgar processos crime em que sejam arguidos
nomeadamente deputados da Assembleia da República, membros do Conselho de Ministros,
membros do Conselho de Estado, juízes profissionais dos tribunais superiores de recurso e
magistrados do Ministério Público junto dos mesmos tribunais, julgar processos de extradição,
conforme artigos 48 n.º 1 e 51 da Lei Orgânica Judicial.

No caso de funcionar em 2.ª instância é composto por um mínimo de dois juízes profissionais,
com competência sobretudo para julgar em matéria de direito os recursos das decisões
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proferidas pelos tribunais superiores de recurso; conhecer conflitos de competência entre os


tribunais superiores de apelação e entre estes e os tribunais judiciais de província; julgar os
processos de revisão e confirmação de sentenças estrangeiras; conhecer os pedidos de habeas
corpus no âmbito das suas competências, conforme artigos nº 48 n.º 1 e 50 da Lei Orgânica
Judicial. O Tribunal Supremo apenas conhece matéria de direito, excepto nos casos
especialmente previstos na lei, conforme o estipulado no artigo 41 da Lei Orgânica Judicial.

Tribunal Superior de Recurso

O Tribunal Superior de Recurso foi criado pela Lei 24/2007 de 20 de Agosto. Trata-se de
tribunais de recurso, de terceiro nível na hierarquia judiciária. Nascem com o objectivo de
responder à preocupação de tornar a justiça mais célere e eficiente, combatendo assim a
passividade e morosidade dos tribunais de recurso. Têm sede numa das capitais administrativas
incluídas na área da sua administração, neste caso, em Maputo, Nampula e Beira, conforme o
estipulado nos artigos nºs 59 e 60 da LOJ. Estes tribunais organizam-se em secções de
competência genérica ou especializada.

Sempre que funcione como tribunal de segunda instância, o tribunal superior de recurso é
composto por três juízes desembargadores; e por um só juiz desembargador e dois juízes eleitos,
quando opere como tribunal de primeira instância.

Quando funciona como tribunal de primeira instância tem competência para julgar processos
crime nos quais sejam arguidos juízes profissionais dos Tribunais Judiciais de Província e
magistrados do MP junto dos mesmos, e por actos relacionados com o exercício das suas
funções, conhecer e decidir das acções de perdas e danos instauradas contra os mesmos e
conhecer pedidos de Habeas Corpus. Ao passo que, operando como tribunal de segunda instância,
cabe-lhe julgar conflitos de competência entre Tribunais Judiciais de Província, conflitos de
competência entre tribunais judiciais e outras entidades, ou ainda recursos das decisões de
decisões proferidas pelos Tribunais Judiciais de Província.

Tribunais Judiciais de Província


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No segundo patamar da hierarquia encontram-se os Tribunais Judiciais de Província, existindo um


em cada província, e um na cidade de Maputo, sendo no total 11. O tribunal de província
organiza-se em secções de competência genérica ou especializada, a qual será estabelecida por
despacho do Presidente do Tribunal Supremo. Pode funcionar em primeira instância, sendo
composto por um juiz profissional e quatro juízes eleitos, não podendo deliberar sem que
estejam presentes dois dos juízes eleitos e o juiz profissional, quando funcione como tribunal
colegial e apenas o juiz profissional em tribunal singular.

Poderá, igualmente, funcionar em segunda instância, sendo constituído por três juízes
profissionais com competência para conhecer os recursos interpostos das decisões dos tribunais
distritais; conhecer os conflitos de competência entre os tribunais judiciais de distrito; julgar os
recursos interpostos de decisões emanadas dos tribunais arbitrais e conhecer os pedidos de
habeas corpus, que lhe sejam remetidos.

Tribunais Judiciais de Distrito

Os Tribunais Judiciais de Distrito estão no primeiro patamar da organização judicial da


República de Moçambique. A sua implantação geográfica ideal seria um tribunal distrital por
cada distrito (em Moçambique existem 124 distritos), mas na realidade local só existem tribunais
distritais em 93 deles.

Neste primeiro patamar da organização judicial, os tribunais são de 1ª e 2ª instância, podendo os


de 1ª instância classificar-se em tribunais de 1.º ou 2ª classe. Em termos de funcionamento
podem operar como tribunal singular ou colectivo. Os Tribunais Judiciais de Distrito têm
competência genérica, sendo compostos por um juiz profissional, o qual deverá ser o presidente, e
por juízes eleitos. Funcionando em colectivo, intervém com o juiz profissional e quatro juízes
eleitos, não podendo deliberar sem que se encontrem presentes o juiz presidente e dois são
juízes eleitos.

Ao juiz presidente dos Tribunais Judiciais Distritais compete, para além das demais atribuições
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previstas por lei, dirigir e representar o tribunal, supervisionar a secretaria judicial e os demais
serviços de apoio, presidir e dirigir as secções de distribuição de processos, presidir o acto de
investidura dos juízes eleitos do tribunal, distribuir os juízes eleitos pelas secções, prestar
informação sobre a actividade judicial do tribunal, dar posse, prestar informações de serviço e
proceder disciplinarmente sobre os funcionários do tribunal e controlar a gestão do património
afecto ao tribunal, conforme o estipulado no art.º 87 da Lei Orgânica Judicial.

As competências dos tribunais judiciais de distrito variam consoante, funcionem em 1ª


instância – 1ª classe, 1ª instância – 2ª classe ou 1ª e 2ª classe – 2ª instância, as quais
passaremos a elencar de seguida:

1ª Instância – 1ª classe (art.º 84 da Lei Orgânica Judicial)

 Julgar questões respeitantes a relações de família e os seus processos


jurisdicionais de menores.

 Julgar acções cuja alçada não exceda cem vezes o salário mínimo nacional, para o
qual não seja competente outro tribunal.

 Julgar infracções criminais cujo conhecimento não seja atribuído a outro tribunal.

 Julgar as infracções criminais em que a pena de prisão em abstracto não seja


superior a 12 anos de prisão.

1ª Instância – 2ª classe (art.º 85 da Lei Orgânica Judicial)

 Julgar acções cíveis cujo valor não exceda cinquenta vezes o salário mínimo que
não sejam competentes outros tribunais.

 Conhecer as questões cujo conhecimento não pertença a outros tribunais.

 Julgar as infracções criminais que não corresponda a pena superior a oito anos
de prisão.
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2ª Instância – 1ª e 2ª classe (art.º 86 da Lei Orgânica Judicial)

 Julgar recursos das decisões dos tribunais comunitários.

 Conhecer os pedidos de habeas corpus, que lhe devam ser remetidos.

Tribunal Administrativo

O Tribunal Administrativo não se encontra definido na lei da organização judiciária,


encontrando-se previsto desde a Constituição da República de Moçambique de 1990, na al. b)
do nº 1 do art.º 167 e art.º 173. O art.º 173 da CRM1990 define como competência principal o
controlo da legalidade dos actos administrativos e a fiscalização da legalidade das despesas
públicas. Actualmente na Constituição de 2004, o Tribunal Administrativo encontra-se
consagrado na al. b) do nº 1 do art.º 223 da CRM2004 e no art.º 228 e ss. da CRM2004.

O art.º 228 da CRM2004 define o Tribunal Administrativo como o órgão superior na


hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais e aduaneiros, o qual tem a competência de
controlo da legalidade dos actos administrativos, da aplicação das normas regulamentares
emanadas pela administração pública e a fiscalização da legalidade das despesas públicas.
Compete ao Tribunal Administrativo julgar as acções que tenham por objecto litígios
emergentes das relações jurídicas administrativas, julgar os recursos interpostos das decisões dos
órgãos do estado e conhecer os recursos interpostos das decisões proferidas pelos tribunais
administrativos, fiscais e aduaneiros.

À semelhança do Tribunal de Contas português, ao Tribunal Administrativo de Moçambique


compete ainda emitir relatório e um parecer sobre a conta geral do estado, fiscalizar
previamente a legalidade e a cobertura orçamental dos actos e contratos, fiscalizar sucessiva e
concomitantemente os dinheiros públicos e a aplicação de recursos financeiros obtidos no
estrangeiro. Relativamente à composição, o Tribunal Administrativo é composto por Juízes
Conselheiros, em número estabelecido por lei. O Presidente da República nomeia depois de
ouvido o Conselho de Magistratura Judicial Administrativa o Presidente do Tribunal
Administrativo e, sob proposta da mesmo conselho, os restantes juízes Conselheiros que, à
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data da sua nomeação, terão de ter idade igual ou superior a 35 anos e preencher os demais
requisitos estabelecidos por lei, conforme se encontra previsto no artigo 230 da CRM2004. Os
magistrados do presente Tribunal, quando em exercício, não podem desempenhar outras
funções públicas ou privadas, excepto actividades de docência ou de investigação jurídica, após
autorização do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.
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5.Conclusão

Feita a analise do trabalho conclui-se que a lei que cria estes tribunais serve para a “promoção do
acesso à justiça e ao direito, a dinamização e consolidação de uma justiça de proximidade, a
prevenção dos conflitos, o reforço da estabilidade social e a valorização, de acordo com a
Constituição, das normas, regras, usos, costumes e demais valores sociais e culturais existentes
na sociedade moçambicana”. Com base no que foi instituído pela lei, entendemos haver motivos
suficientes para o alargamento das competências para conferir mais autoridade a essas instâncias
judiciais.

A evolução da organização judiciária desde a independência até aos dias acompanha, em termos
gerais, a evolução do próprio sistema político e da ordem jurídico-constitucional de
Moçambique.

Os tribunais tem a competência para todo o tipo de conflitos, à excepção daqueles em que
estejam em causa princípios e normas constitucionais ou de contencioso administrativo, ou cujo
valor da causa seja duas vezes o salário mínimo nacional, digam respeito à capacidade das
pessoas, à validade ou interpretação de testamento, à adopção e à dissolução de casamento civil
ou, ainda, em matéria criminal, relativamente a crimes de natureza pública ou sempre que o
pedido de indemnização cível exceda duas vezes o salário mínimo nacional,
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6.Referências Bibliográficas

Anteproposta da lei de bases do sistema de administração da justiça. consultado em


https://www.legal-tools.org/doc/a9f701/pdf/ no dia 8 de Maio de 2019.

Constituição da Republica de Moçambique (2004) Imprensa Nacional: Maputo.

SOUSA SANTOS, Boaventura e de TRINDADE, João Carlos – Caracterização do Sistema Judicial


e do ensino e Formação Jurídica in Conflito e Transformação Social: Uma paisagem das Justiças
em Moçambique, Porto: Edições Afrontamento, Vol. I, 2003

TRINDADE, João Carlos .Constituição e reforma da justiça um projecto por realizar .


Constituição e Reforma da Justiça Desafios para Moçambique 2010 consultado em
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/des2010/IESE_Des2010_10.ConstRefor.pdf no dia
8 de Maio de 2019.

GABRIEL, Dário. Direitos Africanos – Constituição e Organização Judiciária de Moçambique.


2014.

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