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UNIVERSIDADE POLITÉCNICA

A POLITÉCNICA
ESCOLA SUPERIOR ABERTA

PROCESSO DISCIPLINAR
Princípios do Processo Disciplinar

Discente Código
Ivone Gama Pereira 466881

Maputo, 22 de agosto de 2022


Discente
IVONE GAMA PEREIRA

PROCESSO DISCIPLINAR
Princípios do Processo Disciplinar

Relatório Cientifico a ser apresentado, na Escola


Superior Aberta ao Curso de Licenciatura em Ciências
Jurídicas, como exigência parcial para obtenção de
nota na Cadeira Seminário Temático 1 (O
Procedimento Disciplinar). A ser classificado pela
Docente Dra. Virgínia Alice Joaquim Madeira

Maputo, 22 de agosto de 2022

2
Agradecimentos

Agradecer aos meus amigos e colegas de turma virtual, pela paciência e atenção para
realização e submissão do presente relatório sem atraso. Em especial a tutora pela
oportunidade para disseminação de novos conhecimentos valorosos para minha
formação. O meu agradecimento especial é extensivo ao Maxwell, meu colega da
académia e de profissão na carreira jurídica.

3
Resumo

O Direito é uma das áreas importantes para a manutenção da ordem social e para a
perpetuidade de qualquer Estado que se diga Moderno, sendo que sem Direito muito do
social, do humano e do político se perde, tornando os Governos, no seu modus operandi,
mais injustos por estarem ligados a casos de desvio de fundos que configuram verdadeiros
atos de corrupção. Outrossim, olhando pela essência, o Direito deixa-se guiar por
princípios que asseguram a sua eficácia, sendo um dos mais importantes o da legalidade,
citado, neste relatório, à colação. Sem este princípio seria impossível garantir a
manutenção da democracia e dos Estados que se consideram de Direito, como acontece,
no caso em análise, o Estado moçambicano.

Trata o presente relatório o estudo dos princípios que norteiam o processo disciplinar na
visão constitucional ramificada com algumas Leis, Estatutos e Regulamentos que
cooperam entre si, sobre os mesmos objectivos, regulamentar a ordem cívica de uma
organização.

O tema é relevante pois o Estado ao mesmo tempo que precisa cumprir a função e os fins
públicos tem por objetivo disciplinar a conduta dos servidores que a exercem. Destaca
que os princípios disciplinares enquanto mecanismos descritos nas Leis 14/2009 e
62/2009 são instrumento de correção e como tal, tem reconhecimento na CRM. Abordou
os objetivos de: investigar os princípios gerais do processo disciplinar à luz das leis
14/2009 e 62/2009, e analisar cada um dos princípios. Sendo assim, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica em sete tipos diferentes de processos disciplinares. A pesquisa
descreve os princípios que norteiam o processo disciplinar, suas fases de acordo com a
legislação. Enfoca a interpretação de cada um dos princípios, observando princípios da
igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça em um deles

Após a análise dos princípios processuais, os autos foram cotejados com a doutrina e
legislação. O resultado da pesquisa revelou que, embora a legislação seja rigorosamente
cumprida, o solipsismo se esquivou de trazer a interpretação principiológica e como isso
a eticidade, a alteridade, subjetividade foram conceitos ausentes nos autos.

Palavra-chave: Processo disciplinar, princípios.

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Lista de abreviaturas

art. – Artigo

B.R. – Boletim da Republica

CRM – Constituição da Republica de Moçambique

EGFAE – Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado

nº - número

pág. – Página

REGFAE – Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado

5
Sumário
1. Introdução.................................................................................................................. 7

2. Princípios Gerais do Processo Disciplinar ................................................................ 8

2.1 Principio da Legalidade .......................................................................................... 8

2.2 Principio da iniciativa do superior hierárquico ....................................................... 9

2.3 Princípio da oportunidade ..................................................................................... 10

2.4 Princípio do acusatório ......................................................................................... 12

2.5 Princípio do contraditório ..................................................................................... 13

2.6 Princípio da suficiência ......................................................................................... 14

2.7 Principio da economia processual ......................................................................... 15

3. Considerações finais ................................................................................................ 17

4. Referencias Bibliográficas ...................................................................................... 18

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1. Introdução
O processo disciplinar possui vectores que informam o conteúdo das suas normas, dando
orientação tanto aos fazedores das leis como aos aplicadores. Estes vectores ou princípios
podem, em determinadas condições, ser de forma directa aplicados a casos concretos.

Os princípios do processo disciplinar têm uma inquestionável adequação dos princípios


gerais do processo penal.

Convictos de que o estudo dos princípios do processo disciplinar, são de grande


relevância, no presente relatório, far-se-á a abordagem dos princípios que norteiam o
procedimento disciplinar.

7
2. Princípios Gerais do Processo Disciplinar
2.1 Principio da Legalidade
O art. 249, nº 2 da CRM estabelece que “os órgãos da Administração Pública obedecem
à Constituição e à lei e actuam com respeito pelos princípios da igualdade, da
imparcialidade, da ética e da justiça.”

Por outro lado, o art. 5, nº 1 do EGFAE estabelece que “na sua actuação, os funcionários
e agentes do Estado obedecem à Constituição da República e demais legislação.”

Primeiro é preciso ter presente que a Administração pública tem como finalidade a
satisfação do interesse público, e segundo Freitas do Amaral, o interesse público é o seu
norte, o seu guia, o seu fim1. Contudo, embora a Administração pública exista e funcione
com intuito de satisfazer o interesse público, não pode prosseguir este interesse como bem
entender ou mesmo de forma despótica, mas sim deve prosseguir o interesse público
obedecendo princípios e regras. Por essa razão, a Constituição da República impõe que
os órgãos da Administração Pública, na sua actuação obedeçam à Constituição e a lei e
actuam com respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da
justiça2. Por outro lado, e é por essa razão que o Estatuto Geral dos Funcionários e
Agentes do Estado estabelece que os funcionários e agentes do Estado, na sua actuação,
devem obedecer à Constituição da República e demais legislação3. Estamos aqui perante
a manifestação do princípio da legalidade o qual impõe que os funcionários e agentes do
Estado apenas possam praticar actos se uma norma anterior permita. No âmbito do Direito
Penal Moçambicano, o princípio da legalidade significa que a condenação de qualquer
conduta como criminosa carece sempre de uma classificação nesse sentido,
expressamente operada pela lei penal, ou seja, nenhum facto, quer consista em acção,
quer consista em omissão. A reserva legal permite-nos dizer que, via de regra, ao
legislador é vedada a criação de leis penais que incidam sobre fatos anteriores à sua
vigência, tipificando-os como crimes ou aplicando pena aos agentes.

O principio da legalidade é um dos mais importantes e que se aplica na Administração


pública, e naturalmente um dos mais importantes no processo disciplinar. E evidente que

1
AMARAL, Diogo Freitas do. Curso de Direito Administrativo. Vol. II. 2ª edição. Edições Almedina.
Coimbra. 2011. Pág. 49
2
Artigo 249, nº 2 da CRM
3
Artigo 5, nº 1 do EGFAE

8
a violação da lei constitui um dos grandes fundamentos, senão o maior fundamento para
eventual declaração de invalidade do processo disciplinar.

No processo disciplinar se por um lado a decisão é um acto administrativo, por outro lado
a sua manifestação deve se fundar na lei, o que significa que não se baseando na lei irá
declarar-se nulo e, por conseguinte, a improcedência do acto praticado.

Daqui resulta claro que a tramitação do processo disciplinar deve obedecer à Constituição
e à lei e deve se actuar com respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da
ética e da justiça. Mas do princípio da legalidade deve entender-se que o mesmo encontra-
se enquadrado num Estado de Direito como o nosso, onde o Estado na sua actuação é
limitado pelo Direito por si criado, e vinculado a ideia de Direito, havendo limitação
material do poder político, estando este somente como mecanismo de realização e
garantia dos direitos fundamentais fonte de toda ordem jurídica. O Acórdão nº 61/1ª/2000
do Tribunal Administrativo considerou que num Estado de Direito, a Administração
Pública tendo como um dos princípios da sua actuação o da legalidade, o mesmo não se
pode cingir apenas a obediência às leis em sentido formal, mas essencialmente ao “Bloco
legal”, englobando-se assim os princípios gerais do Direito, em geral, e os princípios de
Direito Administrativo, em particular.4

2.2 Principio da iniciativa do superior hierárquico


Em conformidade com este princípio incumbe ao superior hierárquico do funcionário ou
agente do Estado a iniciativa de instauração do processo disciplinar, bem como a
investigação em virtude do cometimento de uma infração disciplinar e a respectiva
aplicação de sanção disciplinar. A este respeito estabelece o art. 100, nº 1 do EGFAE que
“o processo inicia por ordem do dirigente e em resultado da participação ou c directo da
infração.”

Este principio põe de fora a possibilidade de outras entidades terem o impulso processual.
Porém o superior hierárquico do funcionário ou agente do Estado indica ou designa um
funcionário que pode ser da mesma categoria ou de categoria superior em relação ao
arguido para que possa ser instrutor do processo disciplinar, podendo nomear escrivão5.

4
CISTAC, Gilles. Jurisprudência Administrativa de Moçambique. Vol. 2. Texto editores. Maputo. 2000.
Pág. 335
5
Artigo 100, nº 3 do EGFAE

9
Assim, o superior hierárquico tomando a iniciativa de instaurar o processo disciplinar, os
funcionários ou agentes do Estado têm o dever de colaborar.

A instauração do processo disciplinar tem como finalidade repreender ao funcionário ou


agente do Estado infractor de modo a que ajuste o seu comportamento à disciplina da
Administração Pública para proteger a mesma. Deste modo, o processo disciplinar deve
ser visto como assunto da Administração Pública e não do superior hierárquico do
funcionário ou agente do Estado do infractor.

No âmbito do direito criminal aprendem-se os fins das penas, na abordagem em analise


pode-se levantar as seguintes questões: qual é a finalidade de aplicação das sanções
disciplinares? Por que sancionar o infractor?

Ora, no Estado, no âmbito disciplinar, o art. 78, nº 2 do EGFAE e art. 133, nº 2 do


REGFAE estabelecem que “a principal finalidade da sanção é, além da repressão e
contenção da infração disciplinar, a educação do funcionário ou agente do Estado para
uma adesão voluntária à disciplina e para o aumento da responsabilidade no
desempenho da sua função.”

Fazendo uma adequação entre os fins das penas em Direito Criminal e a finalidade da
sanção em processo disciplinar verifica-se que neste último caso o legislador apenas prevê
a prevenção especial. A no meu ponto de vista, o art. 78, nº 2 do EGFAE e art. 133, nº 2
do REGFAE pecam por defeito ainda que use a expressão “principal finalidade”, uma
vez que com a aplicação da sanção disciplinar não se pretende apenas reprimir a conduta
do funcionário e agente do Estado e educar a aderir de forma voluntária à disciplina na
Função Pública e aumentar a responsabilidade no desempenho da sua função. Na verdade,
na aplicação da sanção disciplinar pretende-se ainda que sejam desencorajados os demais
funcionários e agentes do Estado a cometerem infrações disciplinares no seio da
Administração Pública, devendo cumprir voluntariamente os seus deveres. Portanto, um
dos fins da aplicação das sanções disciplinares é a prevenção geral.

2.3 Princípio da oportunidade


Este princípio nos ensina que tanto o início como o desenvolvimento do processo
disciplinar, como regra depende da iniciativa do superior hierárquico do funcionário ou
agente do Estado. Porém, é preciso ter presente que o desenvolvimento do processo ajuda
que a decisão, em regra, seja feita pelo próprio superior hierárquico que mandou instaurar
o processo disciplinar. A investigação é feita pelo instrutor do processo o qual é nomeado

10
pelo superior hierárquico. Dissemos em princípio por que a decisão pode não ser tomada
por quem mandou instaurar o processo disciplinar em virtude de não ter competência para
tal, devendo remeter-se o processo ao superior hierárquico com competência para o efeito.

Para o início do processo disciplinar, resta saber se vigora o princípio da legalidade do


direito disciplinar substantivo. Dito de outro modo, vigora ou não o principio da tipicidade
das infrações disciplinares?

Ora, ao falar do princípio da tipicidade das infrações disciplinares, estamos a assumir que
apenas são infrações disciplinares as que são catalogadas pelo Estatuto Geral dos
Funcionários e Agentes do Estado e pelo seu Regulamento.

Primeiro, há que referir que tanto o Estatuto Geral dos Funcionários e do Estado como o
seu Regulamento não prevêm uma disposição específica que retrata só de infrações
disciplinares, limitando-se apenas o Agentes Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado a fazer uma enunciação dos deveres gerais, especiais e específicos dos
funcionários e agentes do Estado nos artigos 38, 39 e 41. Por outro lado, tanto o Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado como o seu Regulamento prevêm
respectivamente secção III com o título “infrações puníveis e as respectivas sanções” e
art. 138 e ss sanções disciplinares e o que pode caber em cada uma delas.

Tanto com as sanções disciplinares previstas na secção III do EGFAE, como nos art. 138
e ss do REGFAE pode-se facilmente chegar a conclusão sobre o que pode ser considerado
infração disciplinar. De facto, são infrações disciplinares todos os comportamentos que
se integram em cada uma das sanções disciplinares, correspondendo cada um deles uma
determinada sanção disciplinar.

A título de exemplo: O art. 84, n° 2, alinha a) do EGFAE e art. 139, n° 2, alinha a)


REGFAE estabelece que é aplicável a pena de Repreensão pública ao funcionário que
“não o cumpra exacta, pronta e lealmente as ordens e instruções legais dos seus
superiores hierárquicos, relativas aos serviços, desde que não resulte em descrédito ou
prejuízos para os serviços ou terceiros”.

Deste modo deve se entender que o acima exposto constitui uma infração disciplinar. O
mesmo sucede em relações às outras situações previstas tanto na repreensão pública,
como nas outras sanções disciplinares previstas no EGFAE e no REGFAE.

11
No entanto, no processo disciplinar embora os seus princípios tenham uma inquestionável
adequação dos princípios do processo penal, no processo disciplinar não vigora o
principio da tipicidade das infrações disciplinares, podendo considerar-se como infrações
disciplinares, outros factos não no EGFAE e no REGFAE. Ex. Homicídio praticado no
posto de trabalho, violação, calúnia, difamação, etc.

Por estas razões podemos afirmar que no processo disciplinar vigora o princípio da
oportunidade. No entanto, a abertura do processo disciplinar deve ser feita com intuito de
defender interesses do Estado, daí que não se pode abrir o processo disciplinar apenas
para prejudicar a aos funcionários ou agentes do Estado, ou de qualquer modo perseguir
aos funcionários ou agentes do Estado.

2.4 Princípio do acusatório


Segundo este principio, para que haja uma autêntica sanção disciplinar é necessário que
existam condições imprescindíveis, designadamente: a imparcialidade, objectividade e a
independência. Neste sentido para que haja uma autêntica decisão é necessário que quem
investiga não seja o mesmo que acusa e, por conseguinte, tome a decisão.

Na verdade, o princípio do acusatório constitui uma limitação do princípio do inquisitório.


Tendo em conta o modelo desenhado pelo legislador moçambicano, para algumas sanções
nada obsta que a função da acusação bem como da decisão, sejam exercidas pela mesma
entidade, o que sobremaneira defrauda o princípio do acusatório. Ex: sanção de
advertência e repreensão pública uma vez que estas podem ser aplicadas por qualquer
dirigente sobre os seus subordinados. Neste sentido, tendo o dirigente constatado uma
infração disciplinar não impede que o mesmo aplique as sanções acima referidas,
exercendo as funções acusadora e decisora.

Porém, em relação a determinadas sanções disciplinares, crendo que o princípio do


acusatório é deveras obedecido uma vez que quem investiga não é quem aplica a
respectiva sanção disciplinar, como é o caso das sanções de multa, despromoção,
demissão e expulsão que tendo sido cometida uma infração disciplinar ao mais baixo
nível da hierarquia e sendo susceptível a aplicação de uma destas sanções disciplinares

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em que não é competente quem mandou instaurar o processo disciplinar, o mesmo remete
o processo para quem tem competência para decidir6.

2.5 Princípio do contraditório


Este principio “consiste na oportunidade de participação contemporânea e contraposta
dos sujeitos e intervenientes processuais no desenvolvi mento do processo e no sentido
peso e medida das decisões que o possam afectar.7”

Este princípio, orienta-nos a que depois de ter formulado a acusação contra o funcionário
ou agente do Estado arguido, seja necessário que o mesmo tenha ou seja concedido
oportunidade de intervir no processo, antes de se tomar uma decisão sobre os factos que
lhe são imputados, através da sua reacção dando resposta sobre os mesmos, demonstrando
a sua responsabilidade ou irresponsabilidade pela infração ou infrações imputadas.

Por força deste princípio, o legislador estabelece no nº 1 do art. 106. do EGFAE e nº 1 do


art. 166 do REGFAE que “o arguido tem o prazo de 5 dias, a contar da data da entrega
da nota de acusação, para apresentar, querendo, a sua defesa por forma escrita ou oral,
devendo esta última ser reduzida a auto-escrito que é lido na presença de duas
testemunhas e assinado por todos os intervenientes. O prazo acima referido pode ser
prorrogado por 8 dias a requerimento do arguido.”

Efectivamente, esta são situações em que se verifica uma clara manifestação do princípio
do contraditório. As disposições acima referidas não só prevêm a faculdade que é
conferida ao funcionário ou agente do Estado para se defender, como também prevêm o
período ou prazo dentro do qual o funcionário ou agente do Estado pode exercer esse
direito.

Pode-se no entanto questionar, se o princípio do contraditório se manifesta em relação a


aplicação de qualquer sanção prevista no nº 1 do art. 81 do EGFAE e nº 1 do art. 136 do

6
Neste sentido, tendo sido feita a conclusão do processo disciplinar conforme estabelece o art. 111, nº 1 do
EGFAE e art. 175, nº 1 do REGFAE, o dirigente que mandou instaurar o processo disciplinar decide no
prazo de quinze dias, não sendo a sanção a aplicar da sua competência, remete para o órgão que tem
competência para o efeito. Assim, o art. 111, n° 4 do EGFAE e art. 175, nº 4 do REGFAE estabelecem que
“Se a sanção aplicável não estiver dentro da sua competência, remete seguidamente o respectivo processo
ao dirigente competente, pela via hierárquica.” Quando o legislador se refere “sua competência” entenda-
se competência do superior hierárquico.
7
FRANCO, João Melo; MARTINS, Herlander Antunes. Dicionário de Conceitos e Princípios Jurídicos. 3ª
Edição, Revista e Actualizada. Livraria Almedina. Coimbra, 1991. p. 691

13
REGFAE, isto é, o superior hierárquico deve ou não, para aplicação de sanções previstas
no nº 1 do art. 81 do EGFAE e nº 1 do art. 136 do REGFAE, sempre dar oportunidade ao
funcionário ou agente do Estado se defender ou intervir no processo, uma vez que para
aplicação das sanções previstas nas alíneas a) e b) dos mesmos artigos, ou seja,
advertência e repreensão pública, respectivamente, não é necessário instaurar o processo
disciplinar?

Ora o nº 2 do art. 99 do EGFAE estabelece que “as sanções de advertência e repreensão


pública podem não depender de processo, podendo, no entanto, promover-se a audiência
e defesa do arguido.” Da leitura deste dispositivo legal, facilmente se chega a conclusão
de que em todas as sanções disciplinares se impõe a audição do funcionário ou agente do
Estado antes da sua aplicação.

Daqui resulta claro que o principio do contraditório é imprescindível em todas as sanções


disciplinares, independentemente da dependência ou não da instauração do processo
disciplinar.8

Importa referir que é com base neste principio que o funcionário ou agente do Estado
efectua a sua defesa. Neste sentido, quando ao funcionário ou agente do Estado não é
dada oportunidade para poder se defender, o legislador sanciona por invalidade,
concretamente na nulidade, qualificando a mesma como uma nulidade insuprível.

2.6 Princípio da suficiência


As decisões tomadas em sede do processo disciplinar devem ser fundamentadas. Assim
em consonância com este princípio, o superior hierárquico ao tomar a decisão ou ao
aplicar a sanção disciplinar é preciso ter em conta tudo o que é necessário ao processo
disciplinar.

8
De facto, se em processo disciplinar se dá a oportunidade do funcionário ou agente do Estado se defender
através da entrega da nota de culpa na qual não só constam as acusações que pesam sobre si, mas também
do prazo dentro do qual deve se defender, deve entender-se que nesses casos há manifestação do princípio
do contraditório. Fala-se neste, dos casos em que se aplicam sanções disciplinares como a multa,
despromoção, a demissão e a expulsão. Por outro lado, se o legislador se refere que as sanções de
advertência e repreensão pública podem não depender de processo, podendo, no entanto, promover-se a
audiência e defesa do arguido, significa que nestas se verifica também a manifestação do princípio do
contraditório. Daqui não haver a dúvida para concluir que este princípio deve se manifestar em todas as
sanções disciplinares.

14
Este princípio, não permite que o instrutor do processo, tendo feito toda a investigação
necessária para apurar a verdade, não encontrando matéria suficiente para a tomada de
decisão, possa suspender o processo disciplinar de modo que possa aguardar a melhor
prova, como acontece em processo penal.

“...por força do principio da suficiência, o processo disciplinar não pode ser suspenso
para aguardar que em outra instância seja esclarecida ou resolvida uma questão
prejudicial. Uma paragem poderia implicar o curso do prazo prescricional.9

Da leitura do nº 3 do art. 111 do EGFAE e nº 3 do art. 175 do REGFAE pode-se chegar


a conclusão de que existe manifestação do princípio da suficiência, uma vez que, se
pretende aqui que toda a prova produzida e que tenha importância para poder fundamentar
a decisão, deve constar do processo disciplinar. De facto, não só se exige a fundamentação
da decisão como também se impõe que sejam tidas em conta as atenuantes e agravantes.

2.7 Principio da economia processual


De acordo com este princípio “deve procurar-se o máximo resultado processual com o
mínimo emprego de actividade, isto é, o máximo rendimento com o mínimo custo.”10

O processo disciplinar, para além de ser um conjunto de actos, constitui em simultâneo


um conjunto de formalidades. Porém, pretende-se que neste processo, os intervenientes
do processo tenham que fazer esforço no sentido de obter maior resultado em curto espaço
de tempo. Aliás, o processo disciplinar segue a forma sumária. Neste sentido, o art. 102,
nº 1 do EGFAE e art. 156, nº 1 do REGFAE estabelece que “o processo disciplinar é
sempre sumário e deve ser conduzido de modo a levar ao mais rápido apuramento da
verdade material, empregando-se todos os meios necessários para a sua pronta
conclusão.”

Com isso, não se pretende dizer que os intervenientes do processo, em especial o instrutor
deve prescindir das formalidades que a própria lei prevê, ou de certa forma omitir os
passos ou caminhos que o legislador traçou para proceder, mas deve se entender no
sentido de que no processo disciplinar apenas devem estar fora do processo aqueles actos
que são manifestamente dilatórios.

9
MACEDO, Pedro de Sousa. Poder Disciplinar Patronal. Livraria Almedina. Coimbra 1990, pág. 142
10
FRANCO, João Melo; MARTINS. Herlânder Antunes, op cit. pág. 692

15
É por esta razão que o legislador permite que o instrutor do processo disciplinar possa
indeferir o pedido de diligências requeridas pelo arguido quando considera que a prova
produzida é suficiente ou quando considera que entre a infração de que o arguido vem
acusado e a diligência por ele requerida não existe nenhuma relação. Neste sentido,
estabelece o art. 161, n° 6 do REGFAE que “o instrutor pode indeferir as diligências
requeridas quando julgue suficiente a prova produzida ou considere que a diligência não
tem relação com a infração de que venha acusado.”

16
3. Considerações finais
Após o desenvolvimento do presente relatório, pode-se constar que O Direito sem
princípios acaba sendo estéril (ROBERT ALEXY), o Direito, para além de ser um sistema
normativo, igualmente, “(…) formula uma pretensão à correção a qual pertencem os
princípios, nos quais se apoia e ou se deve apoiar o procedimento de aplicação do direito
para satisfazer a pretensão à correção.”

Os Estados atuais de Direito são Estados de matriz democrática onde prevalece o


constitucionalismo, como salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias individuais. A
democracia é sinónimo de constitucionalismo. Portanto, não pode haver democracia sem
que ela se reflita na Constituição de cada Estado, os princípios do processo disciplinar,
dá responsabilidade disciplinar do trabalhador, através da indicação de novos meios de
prova, que este não pôde apresentar ou utilizar no âmbito do procedimento disciplinar,
suscetíveis de demonstrar que os factos que determinaram a sua punição não se
verificaram, ou que não foi o autor desses factos, ou que não tinha a inteligência/liberdade
no momento da sua prática.

17
4. Referencias Bibliográficas
AMARAL, Diogo Freitas do. Curso de Direito administrativo. 3ª Edição. Vol. I. Edições
Almedina. Coimbra. 2009.

EGÍDIO, Baltazar Domingos. Manual do Processo Disciplinar. Escola Editora. Maputo.


2011.

PRATA, Ana. Dicionário Jurídico, Direito Civil, Direito Processual Civil, Organização
Judiciária, 5ª edição, Ed. Almedina. 2013

MACEDO, Pedro de Sousa. Poder Disciplinar Patronal. Livraria Almedina. Coimbra.


2002.

CISTAC, Gilles. Jurisprudência Administrativa de Moçambique. Vol. 2. Texto


Editores. Maputo. 2000.

Legislação

Constituição da Republica de Moçambique, publicada no B.R nº 51, Iª Série de 22 de


Dezembro de 2004.

Decreto nº 62/2009, de 8 de Setembro (Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionários


e Agentes do Estado), publicado no B.R. nº 35, Iª Série.

Lei nº 14/2009, de 17 de Março (Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado),


publicado no B.R. nº 10, Iª Série.

18

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