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Principios Que Norteam o Processo Disciplinar
Principios Que Norteam o Processo Disciplinar
A POLITÉCNICA
ESCOLA SUPERIOR ABERTA
PROCESSO DISCIPLINAR
Princípios do Processo Disciplinar
Discente Código
Ivone Gama Pereira 466881
PROCESSO DISCIPLINAR
Princípios do Processo Disciplinar
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Agradecimentos
Agradecer aos meus amigos e colegas de turma virtual, pela paciência e atenção para
realização e submissão do presente relatório sem atraso. Em especial a tutora pela
oportunidade para disseminação de novos conhecimentos valorosos para minha
formação. O meu agradecimento especial é extensivo ao Maxwell, meu colega da
académia e de profissão na carreira jurídica.
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Resumo
O Direito é uma das áreas importantes para a manutenção da ordem social e para a
perpetuidade de qualquer Estado que se diga Moderno, sendo que sem Direito muito do
social, do humano e do político se perde, tornando os Governos, no seu modus operandi,
mais injustos por estarem ligados a casos de desvio de fundos que configuram verdadeiros
atos de corrupção. Outrossim, olhando pela essência, o Direito deixa-se guiar por
princípios que asseguram a sua eficácia, sendo um dos mais importantes o da legalidade,
citado, neste relatório, à colação. Sem este princípio seria impossível garantir a
manutenção da democracia e dos Estados que se consideram de Direito, como acontece,
no caso em análise, o Estado moçambicano.
Trata o presente relatório o estudo dos princípios que norteiam o processo disciplinar na
visão constitucional ramificada com algumas Leis, Estatutos e Regulamentos que
cooperam entre si, sobre os mesmos objectivos, regulamentar a ordem cívica de uma
organização.
O tema é relevante pois o Estado ao mesmo tempo que precisa cumprir a função e os fins
públicos tem por objetivo disciplinar a conduta dos servidores que a exercem. Destaca
que os princípios disciplinares enquanto mecanismos descritos nas Leis 14/2009 e
62/2009 são instrumento de correção e como tal, tem reconhecimento na CRM. Abordou
os objetivos de: investigar os princípios gerais do processo disciplinar à luz das leis
14/2009 e 62/2009, e analisar cada um dos princípios. Sendo assim, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica em sete tipos diferentes de processos disciplinares. A pesquisa
descreve os princípios que norteiam o processo disciplinar, suas fases de acordo com a
legislação. Enfoca a interpretação de cada um dos princípios, observando princípios da
igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça em um deles
Após a análise dos princípios processuais, os autos foram cotejados com a doutrina e
legislação. O resultado da pesquisa revelou que, embora a legislação seja rigorosamente
cumprida, o solipsismo se esquivou de trazer a interpretação principiológica e como isso
a eticidade, a alteridade, subjetividade foram conceitos ausentes nos autos.
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Lista de abreviaturas
art. – Artigo
nº - número
pág. – Página
5
Sumário
1. Introdução.................................................................................................................. 7
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1. Introdução
O processo disciplinar possui vectores que informam o conteúdo das suas normas, dando
orientação tanto aos fazedores das leis como aos aplicadores. Estes vectores ou princípios
podem, em determinadas condições, ser de forma directa aplicados a casos concretos.
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2. Princípios Gerais do Processo Disciplinar
2.1 Principio da Legalidade
O art. 249, nº 2 da CRM estabelece que “os órgãos da Administração Pública obedecem
à Constituição e à lei e actuam com respeito pelos princípios da igualdade, da
imparcialidade, da ética e da justiça.”
Por outro lado, o art. 5, nº 1 do EGFAE estabelece que “na sua actuação, os funcionários
e agentes do Estado obedecem à Constituição da República e demais legislação.”
Primeiro é preciso ter presente que a Administração pública tem como finalidade a
satisfação do interesse público, e segundo Freitas do Amaral, o interesse público é o seu
norte, o seu guia, o seu fim1. Contudo, embora a Administração pública exista e funcione
com intuito de satisfazer o interesse público, não pode prosseguir este interesse como bem
entender ou mesmo de forma despótica, mas sim deve prosseguir o interesse público
obedecendo princípios e regras. Por essa razão, a Constituição da República impõe que
os órgãos da Administração Pública, na sua actuação obedeçam à Constituição e a lei e
actuam com respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da
justiça2. Por outro lado, e é por essa razão que o Estatuto Geral dos Funcionários e
Agentes do Estado estabelece que os funcionários e agentes do Estado, na sua actuação,
devem obedecer à Constituição da República e demais legislação3. Estamos aqui perante
a manifestação do princípio da legalidade o qual impõe que os funcionários e agentes do
Estado apenas possam praticar actos se uma norma anterior permita. No âmbito do Direito
Penal Moçambicano, o princípio da legalidade significa que a condenação de qualquer
conduta como criminosa carece sempre de uma classificação nesse sentido,
expressamente operada pela lei penal, ou seja, nenhum facto, quer consista em acção,
quer consista em omissão. A reserva legal permite-nos dizer que, via de regra, ao
legislador é vedada a criação de leis penais que incidam sobre fatos anteriores à sua
vigência, tipificando-os como crimes ou aplicando pena aos agentes.
1
AMARAL, Diogo Freitas do. Curso de Direito Administrativo. Vol. II. 2ª edição. Edições Almedina.
Coimbra. 2011. Pág. 49
2
Artigo 249, nº 2 da CRM
3
Artigo 5, nº 1 do EGFAE
8
a violação da lei constitui um dos grandes fundamentos, senão o maior fundamento para
eventual declaração de invalidade do processo disciplinar.
No processo disciplinar se por um lado a decisão é um acto administrativo, por outro lado
a sua manifestação deve se fundar na lei, o que significa que não se baseando na lei irá
declarar-se nulo e, por conseguinte, a improcedência do acto praticado.
Daqui resulta claro que a tramitação do processo disciplinar deve obedecer à Constituição
e à lei e deve se actuar com respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da
ética e da justiça. Mas do princípio da legalidade deve entender-se que o mesmo encontra-
se enquadrado num Estado de Direito como o nosso, onde o Estado na sua actuação é
limitado pelo Direito por si criado, e vinculado a ideia de Direito, havendo limitação
material do poder político, estando este somente como mecanismo de realização e
garantia dos direitos fundamentais fonte de toda ordem jurídica. O Acórdão nº 61/1ª/2000
do Tribunal Administrativo considerou que num Estado de Direito, a Administração
Pública tendo como um dos princípios da sua actuação o da legalidade, o mesmo não se
pode cingir apenas a obediência às leis em sentido formal, mas essencialmente ao “Bloco
legal”, englobando-se assim os princípios gerais do Direito, em geral, e os princípios de
Direito Administrativo, em particular.4
Este principio põe de fora a possibilidade de outras entidades terem o impulso processual.
Porém o superior hierárquico do funcionário ou agente do Estado indica ou designa um
funcionário que pode ser da mesma categoria ou de categoria superior em relação ao
arguido para que possa ser instrutor do processo disciplinar, podendo nomear escrivão5.
4
CISTAC, Gilles. Jurisprudência Administrativa de Moçambique. Vol. 2. Texto editores. Maputo. 2000.
Pág. 335
5
Artigo 100, nº 3 do EGFAE
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Assim, o superior hierárquico tomando a iniciativa de instaurar o processo disciplinar, os
funcionários ou agentes do Estado têm o dever de colaborar.
Fazendo uma adequação entre os fins das penas em Direito Criminal e a finalidade da
sanção em processo disciplinar verifica-se que neste último caso o legislador apenas prevê
a prevenção especial. A no meu ponto de vista, o art. 78, nº 2 do EGFAE e art. 133, nº 2
do REGFAE pecam por defeito ainda que use a expressão “principal finalidade”, uma
vez que com a aplicação da sanção disciplinar não se pretende apenas reprimir a conduta
do funcionário e agente do Estado e educar a aderir de forma voluntária à disciplina na
Função Pública e aumentar a responsabilidade no desempenho da sua função. Na verdade,
na aplicação da sanção disciplinar pretende-se ainda que sejam desencorajados os demais
funcionários e agentes do Estado a cometerem infrações disciplinares no seio da
Administração Pública, devendo cumprir voluntariamente os seus deveres. Portanto, um
dos fins da aplicação das sanções disciplinares é a prevenção geral.
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pelo superior hierárquico. Dissemos em princípio por que a decisão pode não ser tomada
por quem mandou instaurar o processo disciplinar em virtude de não ter competência para
tal, devendo remeter-se o processo ao superior hierárquico com competência para o efeito.
Ora, ao falar do princípio da tipicidade das infrações disciplinares, estamos a assumir que
apenas são infrações disciplinares as que são catalogadas pelo Estatuto Geral dos
Funcionários e Agentes do Estado e pelo seu Regulamento.
Primeiro, há que referir que tanto o Estatuto Geral dos Funcionários e do Estado como o
seu Regulamento não prevêm uma disposição específica que retrata só de infrações
disciplinares, limitando-se apenas o Agentes Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado a fazer uma enunciação dos deveres gerais, especiais e específicos dos
funcionários e agentes do Estado nos artigos 38, 39 e 41. Por outro lado, tanto o Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado como o seu Regulamento prevêm
respectivamente secção III com o título “infrações puníveis e as respectivas sanções” e
art. 138 e ss sanções disciplinares e o que pode caber em cada uma delas.
Tanto com as sanções disciplinares previstas na secção III do EGFAE, como nos art. 138
e ss do REGFAE pode-se facilmente chegar a conclusão sobre o que pode ser considerado
infração disciplinar. De facto, são infrações disciplinares todos os comportamentos que
se integram em cada uma das sanções disciplinares, correspondendo cada um deles uma
determinada sanção disciplinar.
Deste modo deve se entender que o acima exposto constitui uma infração disciplinar. O
mesmo sucede em relações às outras situações previstas tanto na repreensão pública,
como nas outras sanções disciplinares previstas no EGFAE e no REGFAE.
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No entanto, no processo disciplinar embora os seus princípios tenham uma inquestionável
adequação dos princípios do processo penal, no processo disciplinar não vigora o
principio da tipicidade das infrações disciplinares, podendo considerar-se como infrações
disciplinares, outros factos não no EGFAE e no REGFAE. Ex. Homicídio praticado no
posto de trabalho, violação, calúnia, difamação, etc.
Por estas razões podemos afirmar que no processo disciplinar vigora o princípio da
oportunidade. No entanto, a abertura do processo disciplinar deve ser feita com intuito de
defender interesses do Estado, daí que não se pode abrir o processo disciplinar apenas
para prejudicar a aos funcionários ou agentes do Estado, ou de qualquer modo perseguir
aos funcionários ou agentes do Estado.
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em que não é competente quem mandou instaurar o processo disciplinar, o mesmo remete
o processo para quem tem competência para decidir6.
Este princípio, orienta-nos a que depois de ter formulado a acusação contra o funcionário
ou agente do Estado arguido, seja necessário que o mesmo tenha ou seja concedido
oportunidade de intervir no processo, antes de se tomar uma decisão sobre os factos que
lhe são imputados, através da sua reacção dando resposta sobre os mesmos, demonstrando
a sua responsabilidade ou irresponsabilidade pela infração ou infrações imputadas.
Efectivamente, esta são situações em que se verifica uma clara manifestação do princípio
do contraditório. As disposições acima referidas não só prevêm a faculdade que é
conferida ao funcionário ou agente do Estado para se defender, como também prevêm o
período ou prazo dentro do qual o funcionário ou agente do Estado pode exercer esse
direito.
6
Neste sentido, tendo sido feita a conclusão do processo disciplinar conforme estabelece o art. 111, nº 1 do
EGFAE e art. 175, nº 1 do REGFAE, o dirigente que mandou instaurar o processo disciplinar decide no
prazo de quinze dias, não sendo a sanção a aplicar da sua competência, remete para o órgão que tem
competência para o efeito. Assim, o art. 111, n° 4 do EGFAE e art. 175, nº 4 do REGFAE estabelecem que
“Se a sanção aplicável não estiver dentro da sua competência, remete seguidamente o respectivo processo
ao dirigente competente, pela via hierárquica.” Quando o legislador se refere “sua competência” entenda-
se competência do superior hierárquico.
7
FRANCO, João Melo; MARTINS, Herlander Antunes. Dicionário de Conceitos e Princípios Jurídicos. 3ª
Edição, Revista e Actualizada. Livraria Almedina. Coimbra, 1991. p. 691
13
REGFAE, isto é, o superior hierárquico deve ou não, para aplicação de sanções previstas
no nº 1 do art. 81 do EGFAE e nº 1 do art. 136 do REGFAE, sempre dar oportunidade ao
funcionário ou agente do Estado se defender ou intervir no processo, uma vez que para
aplicação das sanções previstas nas alíneas a) e b) dos mesmos artigos, ou seja,
advertência e repreensão pública, respectivamente, não é necessário instaurar o processo
disciplinar?
Importa referir que é com base neste principio que o funcionário ou agente do Estado
efectua a sua defesa. Neste sentido, quando ao funcionário ou agente do Estado não é
dada oportunidade para poder se defender, o legislador sanciona por invalidade,
concretamente na nulidade, qualificando a mesma como uma nulidade insuprível.
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De facto, se em processo disciplinar se dá a oportunidade do funcionário ou agente do Estado se defender
através da entrega da nota de culpa na qual não só constam as acusações que pesam sobre si, mas também
do prazo dentro do qual deve se defender, deve entender-se que nesses casos há manifestação do princípio
do contraditório. Fala-se neste, dos casos em que se aplicam sanções disciplinares como a multa,
despromoção, a demissão e a expulsão. Por outro lado, se o legislador se refere que as sanções de
advertência e repreensão pública podem não depender de processo, podendo, no entanto, promover-se a
audiência e defesa do arguido, significa que nestas se verifica também a manifestação do princípio do
contraditório. Daqui não haver a dúvida para concluir que este princípio deve se manifestar em todas as
sanções disciplinares.
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Este princípio, não permite que o instrutor do processo, tendo feito toda a investigação
necessária para apurar a verdade, não encontrando matéria suficiente para a tomada de
decisão, possa suspender o processo disciplinar de modo que possa aguardar a melhor
prova, como acontece em processo penal.
“...por força do principio da suficiência, o processo disciplinar não pode ser suspenso
para aguardar que em outra instância seja esclarecida ou resolvida uma questão
prejudicial. Uma paragem poderia implicar o curso do prazo prescricional.9
Com isso, não se pretende dizer que os intervenientes do processo, em especial o instrutor
deve prescindir das formalidades que a própria lei prevê, ou de certa forma omitir os
passos ou caminhos que o legislador traçou para proceder, mas deve se entender no
sentido de que no processo disciplinar apenas devem estar fora do processo aqueles actos
que são manifestamente dilatórios.
9
MACEDO, Pedro de Sousa. Poder Disciplinar Patronal. Livraria Almedina. Coimbra 1990, pág. 142
10
FRANCO, João Melo; MARTINS. Herlânder Antunes, op cit. pág. 692
15
É por esta razão que o legislador permite que o instrutor do processo disciplinar possa
indeferir o pedido de diligências requeridas pelo arguido quando considera que a prova
produzida é suficiente ou quando considera que entre a infração de que o arguido vem
acusado e a diligência por ele requerida não existe nenhuma relação. Neste sentido,
estabelece o art. 161, n° 6 do REGFAE que “o instrutor pode indeferir as diligências
requeridas quando julgue suficiente a prova produzida ou considere que a diligência não
tem relação com a infração de que venha acusado.”
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3. Considerações finais
Após o desenvolvimento do presente relatório, pode-se constar que O Direito sem
princípios acaba sendo estéril (ROBERT ALEXY), o Direito, para além de ser um sistema
normativo, igualmente, “(…) formula uma pretensão à correção a qual pertencem os
princípios, nos quais se apoia e ou se deve apoiar o procedimento de aplicação do direito
para satisfazer a pretensão à correção.”
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4. Referencias Bibliográficas
AMARAL, Diogo Freitas do. Curso de Direito administrativo. 3ª Edição. Vol. I. Edições
Almedina. Coimbra. 2009.
PRATA, Ana. Dicionário Jurídico, Direito Civil, Direito Processual Civil, Organização
Judiciária, 5ª edição, Ed. Almedina. 2013
Legislação
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