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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades

Curso de Direito Pós-laboral

4o Ano

Direito Dos Registo e Notariado

Tema:

Registro Civil: Factos Sujeitos a Registro

Discentes: Docente: Dra. Esperança Xavier

Alfredo Gilberto Nhantumbo

Belmiro Victorino

Daniel Oliveira

Ednilson Chalala. D. Mondlane

Joaquina Carissua João


UNIVERSIDADE ZAMBEZE FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADES

Beira, Março de 2022

Direito Dos Registro e Notariado 2


Índice

I. INTRODUÇÃO......................................................................................................3

II. REGISTO CIVIL....................................................................................................5

2.1. NOÇÕES BÁSICAS DE REGISTO CIVIL..........................................................5

2.2. Noção de registo.....................................................................................................6

2.3. Força probatória dos registos..................................................................................6

III. PRINCÍPIOS DO REGISTRO CIVIL...................................................................7

IV. FACTOS SUJEITOS A REGISTOS......................................................................9

4.1. Registo de Nascimento.........................................................................................12

4.2. Casamento............................................................................................................15

4.3. Óbito.....................................................................................................................16

V. CONCLUSÃO......................................................................................................18

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................19


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I. INTRODUÇÃO

O registo civil desempenha um importantíssimo papel ao nível da informação


fidedigna para o país, designadamente, no que respeita a saber “quantos somos e quem
somos”, bem como, na facilitação ao Estado para o acesso a informação fiável e a dados
estatísticos actualizados da população, permitindo aumentar a eficácia dos programas
sociais e económicos, garantindo que os cidadãos possam exercer todos os seus direitos,
deveres e obrigações em condições de igualdade.

O objecto do registo civil é pois o de dar publicidade à situação jurídica de


pessoas singulares, através do registo dos factos que integram o seu estado civil, ou seja,
permitir a qualquer interessado obter informação sobre os factos registados e,
consequentemente, sobre a situação jurídica das pessoas a que respeitam. O registo civil
é o conjunto de factos que, tendo início no nascimento, ocasião em que se adquire a
personalidade jurídica, até à morte, termo da personalidade jurídica, modificam a
capacidade ou o estado civil.

Com o nascimento o indivíduo adquire (condicionando, concomitantemente)


personalidade jurídica, nos termos das normas de direito civil, que estão
fundamentalmente contidas no Código Civil moçambicano; nomeadamente a tutela
geral da personalidade consagrada no art.º 66 nº 1 que reconhece a personalidade
jurídica a todo o ser humano a partir do nascimento completo e com vida, para além de
determinar a ligação de uma pessoa a determinada família, permitindo verificar a idade,
o sexo, o parentesco ou, mesmo, a nacionalidade.

Tal reconhecimento pelo direito civil significa que a personalidade da pessoa


começa por ser um princípio normativo mas também a aceitação de uma estrutura lógica
sem a qual a própria ideia de Direito não é possível. O Direito só pode ser concebido,
tendo como destinatários os seres humanos em convivência. A aplicação do direito civil
a essa convivência humana desencadeia uma teia de relações jurídicas entre seres
humanos, relações traduzidas em poderes (direitos) e deveres jurídicos lato sensu. Num
sentido puramente técnico ser “pessoa” é precisamente ter aptidão para ser sujeito de
direitos e obrigações; é ser um centro de imputação de poderes e deveres jurídicos,
ser um centro de uma esfera jurídica. Neste sentido técnico-jurídico não há

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coincidência entre a noção de pessoa ou sujeito de direito e a noção de ser humano, tal
como refere Carlos Mota Pinto.

A personalidade jurídica, a suscetibilidade de ser titular de direitos e estar


adstrito a obrigações, corresponde a uma condição indispensável de realização por cada
homem dos seus fins ou interesses na vida com os outros.

Alguns diplomas avulsos regulam matérias do direito privado comum, é


exemplo o Código do Registo Civil, que enumera os actos ou factos sujeitos a registo e
estabelecem o seu respetivo regime. Igualmente, as normas constitucionais,
designadamente, as que reconhecem direitos fundamentais, têm, também, eficácia no
domínio das relações entre particulares, nomeadamente o direito à identidade pessoal, à
capacidade civil e à nacionalidade, plasmados no art.º 41.º da Constituição da República
de Moçambique.

Conforme supra mencionado o registo civil guarda constância dos factos que
constituem o estado civil das pessoas singulares, um estado civil constituído pelo
conjunto de qualidades jurídicas que o Código de Registo Civil moçambicano sujeita a
registo.

Moçambique tem ao logo do tempo sido devastado por vários fenômenos como
a colonização (até 1975), a guerra civil (1977-1992) e os desastres naturais, o que
causou a deserção massiva de pessoal qualificado, a destruição de infra-estruturas, o
deslocamento de pessoas de uma região para outra e, portanto, a perda de deterioração
do registro da população e de registro de recém-nascidos.

Tendo em conta o facto de Moçambique ter estado “mergulhada” numa situação


de guerra durante décadas, verificou-se, consequentemente, verificou-se a destruição
total ou parcial de grande parte das infraestruturas de registo de civil, bem como a
destruição dos seus arquivos. Por outro lado, as dificuldades que existiam relativamente
a circulação de pessoas, entre outros constrangimentos impostos pelo longo período de
guerra, contribuíram para que a população, principalmente nas zonas rurais, fosse
perdendo progressivamente hábitos registrais.

Actualmente, em Moçambique, calcula-se, pese embora sem dados oficiais, que


grande parte da população não possui registo de nascimento de modo a certificar a sua

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existência jurídica e tendo desta forma por consequência a não contagem destes, para as
estatísticas do Estado.

II. REGISTO CIVIL

II.1. NOÇÕES BÁSICAS DE REGISTO CIVIL

A utilidade pública e particular do registo civil, na exata medida em que


preserva de forma duradoura a memória de actos e factos praticados ao longo da vida,
ao nível das consequências jurídicas que de alguns deles advêm, designadamente,
quanto à sua oposição a terceiros, sempre se fez denotar como sendo da maior
relevância. Acompanhando Lopes Seabra, a preocupação em conhecer a verdadeira
situação jurídica das pessoas e coisas, bem como, a possibilidade de provar a ocorrência
de factos relevantes para as relações jurídicas, constituiu preocupação, desde a
antiguidade, para os cidadãos.

Estes, na busca da certeza jurídica, sempre diligenciaram no sentido de conhecer


com verdade as situações jurídicas de pessoas e coisas, a fim de estabelecerem laços
contratuais sólidos e que contribuíssem para a concretização e manutenção de relações
jurídicas duradouras, participando, assim, na construção da confiança na vida em
sociedade.

O registo civil é o registo público que se destina a publicitar, a provar e a tornar


invocáveis os factos a ele obrigatoriamente sujeitos e que na sua essência são os
concernentes ao estado civil das pessoas. Esta necessidade de se saber quem são as
pessoas, qual o seu nome, a sua filiação, o seu estado, foi sentida desde a mais alta
antiguidade. Além das cerimónias públicas nas quais se dava uma publicidade-notícia,
festiva nos nascimentos e casamentos e fúnebre nos óbitos, também se registavam por
escrito esses factos. Assim, entre os hebreus a filiação era anotada em rolos conservados
pelos sacerdotes (e até a Bíblia insiste nas genealogias), na Grécia clássica havia
registos pessoais, conservados por funcionário de tal incumbido, tanto no nascimento,
como na maioridade e na plenitude da cidadania.

Em Roma existiam livros onde funcionários próprios escrituravam “o


nascimento, emancipação, casamento, divórcio e morte”. Depois da oficialização da
religião cristã e durante toda a Idade Média e Moderna o registo civil foi ficando,

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praticamente em toda a Europa, a cargo da Igreja. Era normalmente em três livros


eclesiásticos que se inscreviam os factos mais relevantes do estado civil das pessoas: os
baptismos-onde também se referia a data do nascimento, os casamentos e os óbitos.

II.2. Noção de registo

No sentido do que agora ficou exposto, podemos afirmar que o registo resulta da
necessidade de guardar, para efeitos posteriores, a memória dos factos suscetíveis de
produzir efeitos de direito, factos jurídicos, com o escopo principal de fazer prova da
ocorrência daqueles, bem como, conferir-lhes publicidade. De acordo com Seabra
Lopes há que distinguir entre registos administrativos e registos de segurança jurídica,
uma vez que a publicidade e a certeza jurídica dos factos publicitados não é caraterística
de todos os registos públicos.

A Administração Pública é detentora de registos da mais variada natureza,


inerentes ao funcionamento dos organismos que a compõem, os designados registos
administrativos, que apenas em certos casos são objecto de informação ao público, pese
embora não cumpram os requisitos de segurança jurídica exigidos (publicidade e
garantia de verdade da ocorrência dos factos jurídicos publicitados).

Neste sentido devemos proceder à distinção entre registos de segurança


jurídica, destinados aos particulares e a dotar de certeza jurídica as relações jurídicas
entre estes estabelecidas e, registos administrativos, destinados a permitir a
prossecução das actividades da administração pública.

II.3. Força probatória dos registos

Os registos fazem prova plena dos factos deles constantes, são, assim,
documentos autênticos, atestados por um conservador, não obstante a consistam em
prova que pode ser ilidida através de recurso às vias judiciais. Nos termos do nº1 art.º
369 do CC a autoridade ou oficial público que exara o documento tem de ser
competente em razão da matéria e do lugar, não podendo estar legalmente impedido de
lavrar os respetivo documento, a não ser que os beneficiários ou intervenientes
conhecessem, no momento da sua feitura, a falsa qualidade de autoridade ou oficial
público, a sua incompetência ou, ainda, a irregularidade da sua investidura.

Da presunção legal resultante do registo redunda a inversão do ónus da prova.


Assim, quem tem a seu favor o registo, não precisa de provar que é titular do direito

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nele inscrito, não obstante esta prova poder ser ilidida. Cabe-nos ressalvar que esta
presunção está delimitada ao registo definitivo, sendo que ao registo provisório não
aproveita esta presunção, estando a sua validade condicionada à verificação de um facto
futuro.

III. PRINCÍPIOS DO REGISTRO CIVIL

Os princípios que regem o registo civil não se acham sistematizados num


capítulo próprio, ainda que no tocante à obrigatoriedade, valor e efeitos do registo os
artigos 1.º a 4.º se lhes refiram expressamente. Assim, o primeiro daqueles preceitos,
embora “misture” num só dispositivo legal um princípio de registo com o objecto do
registo, indica de modo inequívoco que os factos sujeitos a registo são de inscrição
obrigatória. Trata-se de “uma obrigatoriedade geral e absoluta, no sentido de que têm de
ser levados a registo todos os factos a ele sujeitos”. A sanção é relativa à
ininvocabilidade do facto que não foi registado.

O outro princípio que vem previsto na disposição seguinte, artigo 2.º é por lei
denominado da atendibilidade dos factos sujeitos a registo, mas que pensamos que é
mais claro se o denominarmos princípio da imposição probatória do registo (ou ainda,
se preferirmos, princípio da eficácia absoluta) que em síntese nos diz o seguinte: os
factos sujeitos a registo civil obrigatório só podem ser invocados por qualquer pessoa,
isto é, quer por aqueles a quem o registo diga respeito quer por terceiros se estiverem
registados. Por isso, dir-se-á que o registo civil não só publicita os factos, mas também
os titula de uma forma necessária para que possam ser considerados e aceites por todos.
Existe assim uma ineficácia que é absoluta em relação a todos, antes do registo.

O artigo 3.º contempla, ao que nos parece, dois princípios: o princípio da


prova absoluta e o princípio da presunção de verdade e que consistem no seguinte: o
primeiro diz-nos que a prova dos factos sujeitos a registo obrigatório e ao estado civil
das pessoas e constantes do registo é feita de forma a que não cede face a outro meio
probatório em sentido oposto, excedendo assim o conceito de “prova plena” que
decorre do artigo 347.º do Código Civil (C.C.).

Daí que esta prova feita pelo registo civil tenha sido apelidada de prova
pleníssima. Mas o mesmo artigo 3.º contém ainda, embora em parte só tacitamente, um
princípio presuntivo de que o estado civil constante do registo existe, tal como neste se
acha definido, ou seja, estabelece-se um princípio de presunção de verdade do registo

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civil. Propendemos a considerar que se trata de uma presunção “iuris et de iure”, visto a
prova feita pelo registo é inelidível salvo nas acções de Estado e nas de registo. Trata-
se, pois, de uma presunção absoluta e não daquela que pode ser afastada mediante prova
em contrário de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 350.º do C.C. (isto é, a mera
presunção tantum iuris). Além disso, a impugnação em juízo dos factos que o registo
comprova está condicionada a que simultaneamente se peça o cancelamento ou a
rectificação dos registos correspondentes.

O princípio que o artigo 4.º em parte enuncia, mas que também os artigos 163.º
e seguintes contemplam é o princípio da publicidade, no sentido da publicidade
formal. Este princípio indica-nos que, relativamente aos factos sujeitos a registo civil
obrigatório, não pode ser utilizado meio probatório distinto daquele que o próprio
Código prevê. Dito de outro modo: para comprovar os aludidos factos é requisito
absoluto a utilização de uma das modalidades certificatórias que se acham previstas nos
artigos 163.º e seguintes. Tornar-se-ia portanto, ilegal pretender provar o estado civil
de uma pessoa através de um outro qualquer meio. Além destes princípios enunciados
nos artigos iniciais do Código, há outros que não se acham mencionados num
determinado preceito concreto, mas decorrem de vários deles e do próprio sistema
registral.

O que desde logo devemos anunciar é o princípio da legalidade, trata-se de um


dos que é comum às várias espécies de registos jurídicos e que, em síntese, nos diz que
os factos, anotações, declarações, comprovativos ou quaisquer dados contrários ao que
se acha estabelecido nas disposições legais não podem ser inscritos no registo. Por
isso, o conservador não poderá receber uma declaração quando existe alguma norma
que, naquelas circunstâncias, não a permite aceitar.

Outro princípio que vigora no registo civil é o que poderemos designar como
princípio da instância verbal ou princípio da oralidade. Assim, o pedido para que se
pratique qualquer acto de registo ou para que seja fornecido um meio de prova ou ainda
normalmente para que seja instaurado um processo, não carece de ser formulado por
escrito. A instância verbal é suficiente. Assim como as declarações que baseiam os
assentos ou outros actos de registo podem ser feitas oralmente pelos interessados.

Há ainda o que poderá ser designado como princípio da actualização oficiosa.


Não apenas “actualização”, mas também com essa característica da oficiosidade, visto

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tratar-se de um princípio que se concretiza através de uma actuação oficiosa dos


serviços. Trata-se do seguinte: por um lado, o registo civil visa publicitar o estado civil
dos cidadãos de uma forma permanentemente actualizada, mas, pelo outro, os factos
que modificam o estado civil podem ocorrer em vários e distintos locais. Por isso,
desde os primórdios da instituição do registo civil, se foi considerando que as
conservatórias deviam comunicar oficiosamente umas com as outras através do envio de
“boletins” (cuja recepção era também comprovada) os quais consentiam que fossem
sendo averbadas aos assentos todas as alterações relevantes do seu conteúdo. Isto
permitia conhecer o estado civil das pessoas de um modo habitualmente actualizado.

Tem também sido indicado um outro princípio (embora entre nós de introdução
recente) e que habitualmente se diz ser característico do registo civil: o da gratuitidade.
Com ele quer-se significar que a maior parte dos actos fundamentais relativos ao estado
civil das pessoas designadamente os assentos de nascimento, perfilhação, casamento
urgente, óbito e outros são gratuitos. A pessoa quando nasce tem direito a que o seu
nascimento fique inscrito no registo civil imediata e gratuitamente, comprovando-se
portanto desde logo a sua própria cidadania.

IV. FACTOS SUJEITOS A REGISTOS

Os factos sujeitos a registo acham-se indicados no n.º 1 do artigo 1.º. São eles:
o nascimento; a filiação; o casamento; o óbito, todos estes que são registados por
assento e, a adopção; a regulação do exercício do poder paternal, a sua inibição ou
suspensão; a interdição ou inabilitação definitivas, a tutela de menores ou interditos e a
curadoria de inabilitados; a curadoria de ausentes e a morte presumida, que ingressam
no sistema registral através de averbamento ao assento de nascimento, as convenções
antenupciais, os factos extintivos ou modificativos do conteúdo do facto registado, que
são averbados ao assento respectivo. Note-se, porém, que a filiação pode não ser e a
maior parte das vezes não é registada por meio de um assento autónomo (como quando
se trata da perfilhação ou da declaração de maternidade), mas sim como uma menção
própria do assento de nascimento (e será a propósito deste assento que abordaremos a
filiação) e também que as convenções antenupciais e alterações do regime de bens são
publicitadas registralmente por menção no assento de casamento ou por averbamento a
este (quando apresentadas posteriormente).

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Os registos são feitos nas conservatórias: as conservatórias do registo civil e a


Conservatória dos Registos Centrais, que a lei considera “órgãos privativos” do
registo (art.º 9.º), podendo também sê-lo, e o Código então diz, ao que nos parece, de
modo não rigoroso, que “a título excepcional” por “órgãos especiais”, que são os que
vêm referidos no artigo 10.º, cabendo realçar os consulados que são organismos oficiais
e que, fundamentalmente para as comunidades moçambicanas que residem e trabalham
no estrangeiro, têm uma importância muito significativa, já que para elas praticam, na
respectiva área, a maior parte dos actos de registo civil e notariais. Os registos que
lavram devem, no entanto, ser integrados em suporte informático no “registo civil
nacional”, de harmonia com o estatuído no artigo 6.º. Isto para que a “base de dados”
do registo civil possa estar em condições de publicitar de uma forma permanente e
actualizada, o estado civil de todos os cidadãos nacionais.

As conservatórias têm, em razão da matéria, competência genérica, como resulta


do disposto do artigo 11.º, quando diz que lhes cabe efectuar o registo de “todos os
factos”: À face da actual legislação têm também, em razão do território, uma
competência geral que salvo disposição especial” (como diz o artigo 12.º) abrange todo
o “território moçambicano, qualquer que seja a nacionalidade dos indivíduos a quem os
factos digam respeito. A Conservatória dos Registos Centrais (que em tempos era a
única competente para registar os factos ocorridos no estrangeiro) tem hoje uma
competência limitada aos actos e factos indicados no artigo 13.º, que respeitam
principalmente aos factos ocorridos no estrangeiro.

O conceito de “partes” é, em registo civil bem mais abrangente do que na lei


processual civil. Com efeito, o artigo 47.º refere que são partes não só as pessoas a
quem o facto diz directamente respeito, como também as pessoas de cujo consentimento
dependa a plena eficácia deste e ainda com um alcance que diríamos essencial, os
declarantes. Nos processos de registo, e como já muito bem se observou, o Código
utiliza ainda a expressão partes num sentido amplo de interessados. Além das partes,
que são os intervenientes principais, há outros que designaríamos como acidentais e que
são todos os outros a que aludem os artigos seguintes (50.º a 57.º). Trata-se dos
intérpretes, procuradores e testemunhas. Os primeiros podem ser nomeados quando as
partes necessitem nos casos de surdez, mudez ou de ignorância da língua moçambicana.
Os procuradores devem, em qualquer caso, ter poderes especiais para o acto (n.º 1 do
art.º. 52.º) e no caso do acto do casamento só são admitidos para um dos nubentes (n.º

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1 do art.º 53.º) e o instrumento de procuração deve sempre identificar o outro nubente e


a modalidade do casamento (n.º 2).

A intervenção de testemunhas é facultativa para as partes nos casos dos assentos


de nascimento (duas) e de casamento (entre duas e quatro), mas pode ser obrigatória em
qualquer espécie de assento “se ao conservador se suscitarem dúvidas fundadas acerca
da veracidade das declarações ou da identidade das partes” (n.º 2 do art.º 55.º).
Exigindo a lei que as testemunhas sejam “pessoas idóneas e maiores ou emancipadas”
(n.º 1 do art.º 55.º), não considera, todavia, que o parentesco ou afinidade quer com as
partes quer com os funcionários seja motivo de impedimento (n.º 2) ao invés do que
ocorreria no processo civil.

Os actos de registo são de duas espécies: os assentos e os averbamentos (art.º


61.º) e, por seu turno, os assentos também podem ser lavrados por duas formas: por
inscrição e por transcrição (art.º 62.º). A lei não define estas duas modalidades de
assentos: apenas enumera os que são lavrados por inscrição (art.º 63.º) ou por
transcrição (art.º 64.º). No entanto a distinção é facilmente perceptível. Diremos que o
registo por inscrição tem lugar quando o ele é feito com base em declaração prestada
directamente ao funcionário do registo civil (sendo certo que no estrangeiro quem
desempenha a função é o agente diplomático ou consular, que na área da respectiva
jurisdição tem competência directa para a prática de actos do registo civil).

Nos assentos lavrados por transcrição tal declaração é indirecta, ou seja, é feita a
outrem que não o próprio funcionário que vai lavrar o registo. Por isso este é efectuado,
não em face da própria declaração directa, mas sim com base num título (documento ou
declaração) de diversa espécie e proveniência admitidas por lei. Os assentos têm
determinados requisitos que são comuns às duas espécies (art.º 67.º) e outros que
apenas existem para os lavrados por transcrição (art.º 68.º).

Os assentos depois de lavrados devem (como diz o art.º 76.º) ser lidos na
presença de todos (e eventualmente corrigido algum lapso) sendo depois aposto o nome
do conservador ou do oficial que o lavrou, após o que fica “completo”, não podendo o
seu texto ser alterado (art.º 77.º,) no sentido de adulterado, muito embora o seu
conteúdo possa ser emendado em processo próprio de rectificação e modificado por
posterior averbamento. Os averbamentos são, pois, uma espécie “abreviada” de registos,
lavrada com referência ao assento respectivo e de harmonia com o modelo legal (art.º

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84.º,), que se destina essencialmente a alterar, completar ou actualizar o conteúdo dos


assentos. A lei pormenoriza (respectivamente nos artigos 85.º, 86.º e 87.º) quais os
averbamentos que, em especial, devem ser efectuados aos três basilares assentos: de
nascimento, casamento e óbito. Indica ainda (art.º 88.º) que ao assento de perfilhação
poderá ser ulteriormente averbado o assentimento do perfilhado.

A feitura dos averbamentos é oficiosa. Assim, por exemplo, quando é lavrado o


assento de casamento, deve este ser imediata e oficiosamente averbado ao assento de
nascimento dos cônjuges. E o mesmo ocorre com respeito aos diversos factos e
relativamente aos vários assentos a que aludimos. No caso de haver incertezas sobre a
localização do assento a que o facto tenha de ser averbado, deve a conservatória tomar
todas as providências necessárias para a sua localização (e identificação) e se porventura
houve omissão ou erro no assento também deve “ex officio” ser instaurado o
competente processo de justificação.

IV.1. Registo de Nascimento

O primeiro e mais significativo facto registável a que alude a alínea a) do n.º 1


do artigo 1.º é o registo de nascimento. O registo de nascimento é pois o primacial
registo, o básico, aquele que define a identidade do cidadão e onde também ficam
consignados direitos fundamentais, cabendo desde já realçar o basilar direito de
personalidade que é o direito ao nome. É, além disso, o registo que comprova o estado
civil, visto que é a esse assento que imediatamente vêm a ser averbadas todas as
alterações que ao longo da vida do cidadão o seu estado civil vai sofrendo e, por último,
onde também é averbado o óbito. Por isso, o registo de nascimento prova a cidadania
da pessoa, a sua nacionalidade, o seu estado civil e até se é viva ou se já faleceu.

É assim, no registo civil, o assento que deve ser considerado principal, visto que
é a ele que os factos registáveis são (através de sucessivos averbamentos) entre si
conectados. O registo é feito com base na declaração de nascimento, que tem o prazo
legal de 120 dias para ser efectuada e, no território nacional, pode sê-lo em qualquer
conservatória do registo civil ou em unidade de saúde autorizada e onde a parturiente
ainda se encontre (artigo 118.º). Se, porém, for excedido o prazo, a declaração deve ser
igualmente prestada sem que haja lugar a qualquer sanção. Existe, sim, a
obrigatoriedade das autoridades ou mesmo qualquer pessoa participarem o facto ao
conservador ou ao Ministério Público. (artigo 120.º).

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A lei não quer que qualquer nascimento fique por registar. Há, porém, lugar a
alguns cuidados legais indicados no artigo 124.º quando o nascimento tiver ocorrido há
mais de um ano (n.º 1) e também a obrigatoriedade da intervenção de duas testemunhas
e se possível de documento comprovativo da veracidade das declarações, quando o
nascimento ocorreu há mais de 14 anos. A declaração deve, em primeiro lugar, ser
prestada pelos pais, por outros representantes legais do menor ou por quem para tal seja
por eles mandatado em mero escrito particular. Poderá ainda e sucessivamente sê-lo
pelo parente capaz mais próximo e pelo representante da unidade de saúde onde ocorreu
o nascimento.

Como já se frisou não existem actualmente limitações quanto à competência


territorial das conservatórias, mas subsiste o conceito da naturalidade do nascido que,
além do lugar em que o nascimento ocorreu, foi alargado ao da residência habitual da
mãe. Sendo evidente que a naturalidade é importante para a própria identificação da
pessoa, o que é certo é que o lugar do nascimento pode ser ocasional e fortuito e por
isso pouco relevante, pelo que o legislador considerou que também podia ser indicado
por quem faz a declaração do nascimento o da residência habitual da mãe. Só que, se os
pais não estiverem de acordo então a naturalidade será obrigatoriamente a do lugar do
nascimento” (artigo 126.º).

O assento de nascimento deve conter determinados elementos (especificados no


n.º 1 do artigo 127.º) que, estando ligados ao início da personalidade, envolvem também
o acoplamento de noções biológicas e jurídicas. Para além da data do nascimento, do
sexo, da naturalidade, da filiação- identificação (quando possível) dos pais e dos avós e
de outras eventuais menções, avulta, como a mais relevante, o nome. O direito ao nome
é, consabidamente, um dos básicos direitos de personalidade, que toda a pessoa tem,
como diz o n.º 1 do artigo 72.º do C.C., e é o que consta do assento de nascimento. Ao
tratar deste, o Código explica no artigo 128.º que o nome é indicado pelo declarante, e
só se porventura o não fizer é que então deve sê-lo pelo funcionário que recepciona a
declaração, e que terá, no máximo, seis vocábulos gramaticais, simples ou compostos,
dos quais só dois como nome próprio e quatro como apelidos que pertençam ou a que
tenham direito ambos ou um só dos pais..

O Código nas subsecções seguintes à do registo de nascimento trata dos casos


especiais do registo de abandonados e dos nascimentos ocorridos em viagem.
Consideram-se abandonados (como refere o art.º 132.º) os recém-nascidos de pais
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desconhecidos que forem encontrados ao abandono, mas também dir-se-ia que apenas
para efeitos do registo e por extensão do conceito, os menores de 14 anos, ou dementes
de qualquer idade, cujos pais se ausentaram para parte incerta deixando-os ao
desamparo. O abandonado deve ser apresentado o mais brevemente possível (no prazo
de 24 horas e com suas roupas e pertenças) à autoridade administrativa ou policial e é
esta que deve promover o registo de nascimento, devendo para tal levantar um auto. A
lei preocupa-se com a futura possibilidade de completa identificação do abandonado e
com a feitura do assento (artigo 134.º) e, por isso, o auto terá de conter as referências
que o n.º 2 do artigo 135.º menciona. No caso de o nascimento ocorrer em viagem de
navio ou avião (por terra não tem hoje especialidade alguma, artigo 137.º) a autoridade
de bordo lavra o assento em duplicado e no primeiro porto ou aeroporto em que se
entre, se for estrangeiro, esse duplicado é entregue à entidade diplomática ou consular
que lavrará o assento e, sendo nacional, é remetido (no prazo de 20 dias) à
Conservatória dos Registos Centrais. Dissemos que o nome era a primeira e básica
menção do assento de nascimento.

A outra cuja grande importância resulta óbvia é a filiação, que resulta do vínculo
geracional e que afinal motiva todo o parentesco. Quando a Ordem Jurídica acolhe e
reconhece este vínculo, mormente em conformidade com o mencionado no assento de
nascimento, diz-se que há o estabelecimento da filiação. Quanto ao estabelecimento da
maternidade, por regra não se suscitam dúvidas “mater semper certa” ainda que a lei
assuma certas cautelas, tais como a da comunicação à mãe se a declaração não tiver sido
feita por ela própria ou pelo seu marido (artigo 140.º), cautelas essas que são maiores se
o nascimento tiver ocorrido há mais de um ano e se a declaração não tiver sido feita pela
mãe ou se ela não estiver presente ou representada no acto de registo. Em tal caso a
pessoa indicada como mãe deve ser notificada pessoalmente para no prazo de 15 dias
confirmar a maternidade, sob a cominação de o filho ser considerado seu. Se negar o
facto, a menção da maternidade fica sem efeito (artigo 142.º). Em tal caso, assim como
em qualquer outro em que a maternidade não conste ou deixe de constar do assento e
salvo no caso de parentesco próximo (n.º 2 do art.º 143.º) o conservador remeterá
certidão ao tribunal, sendo portanto a situação decidida judicialmente (artigos 144.º)

No que toca à paternidade há essencialmente as seguintes hipóteses: 1) ou existe


a paternidade presumida ou ela é reconhecida usualmente por declaração prestada pelo
próprio pai no momento do registo e então (salvo no caso do art.º 148.º) é essa que deve

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constar do assento, ou; a paternidade é desconhecida e nesse caso (como vimos no da


maternidade) deve ser remetida certidão ao tribunal a fim de poder ser averiguada
oficiosamente a identidade do pai (artigos 149.º). Quando a maternidade ou a
paternidade não ficar a constar do assento de nascimento, mas apenas posteriormente
vier a ser determinada voluntariamente haverá lugar a um assento próprio: no caso da
maternidade chama-se o registo de “declaração de maternidade” (artigos 152.º e
153.º) e no da paternidade denomina-se registo de “perfilhação” (artigos 157.º e 158.º).

IV.2. Casamento

O assento que o Código trata na Secção seguinte (Secção III) é o de casamento.


Não começa, todavia, pelo registo, mas sim pelo “processo preliminar de publicações”.
Este processo preliminar que o Código regula, mas que também é imposto pela lei civil
destina-se a comprovar a capacidade matrimonial dos nubentes, isto é, se existem ou
não impedimentos à celebração do casamento. Este processo inicia-se com a declaração
para casamento (art.º. 164.º) feita pelos nubentes ou por seu procurador ou ainda, mas
neste caso através de requerimento, pelo pároco, no caso de casamento católico, ou pelo
ministro do culto respectivo, nas hipóteses de outras religiões.

Esta declaração (ou requerimento) além de identificar os nubentes tem de conter


outras menções que o artigo 165.º enumera, percebendo-se que algumas se destinam a
verificar a inexistência de impedimentos. Tal é a hipótese da menoridade de qualquer
dos nubentes (será necessário identificar os pais ou, sendo o caso, o tutor) ou das novas
núpcias. Há ainda as que respeitam à indicação da modalidade do casamento, à
existência de convenção antenupcial, de filhos e eventualmente ainda outras que a
disposição menciona. A declaração (ou requerimento) deve por norma ser acompanhada
dos documentos previstos no artigo 166.º, cabendo, no entanto, notar que habitualmente
não será necessário anexa-los fisicamente, uma vez que a própria conservatória, logo
quando é feita a declaração, deve oficiosamente comprovar pela base de dados do
registo civil (n.º 4 do art.º 166.º).

O processo preliminar é público (artigo 170.º) no sentido de pode ser dada a


conhecer a qualquer pessoa a identidade dos declarantes, o seu intuito de contrair
casamento e certos outros elementos da declaração (n.º 1). A publicitação do intuito de
casar que os nubentes declararam tem sobretudo em vista apurar se existem
impedimentos ao casamento. E os próprios funcionários da conservatória que o

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constatem devem declará-lo, assim como qualquer pessoa que deles tenha
conhecimento. No caso de que algum venha a ser declarado o processo suspende-se até
que cesse ou venha a ser dispensado ou então que por decisão judicial o aparente
impedimento venha a ser julgado improcedente.

Uma vez instaurado o processo pode haver lugar a algumas diligências


instrutórias (artigo 175.º), mas não as havendo é logo no prazo de três dia proferido o
“despacho final”, no qual o conservador verifica a identidade dos nubentes, a existência
ou não de impedimentos e a sua capacidade matrimonial, concluindo por autorizar o
casamento ou então por mandar arquivar o processo. Este despacho é notificado aos
nubentes e, no caso (normal) da autorização, o casamento deverá ser celebrado no prazo
de noventa dias (art.º 176.º). Quando o casamento não é celebrado na conservatória
(como no caso do casamento católico ou do civil sob forma religiosa) há lugar à
passagem de um certificado o qual contém os elementos previstos no artigo 177.º e se
diz que os nubentes podem contrair casamento.

IV.3. Óbito

O outro importante assento de que trata o Código é o de óbito. Também este


registo é obrigatório: o falecimento de qualquer indivíduo (nacional ou estrangeiro) que
ocorra em território moçambicano, deve ser declarado, no prazo de 48 horas (artigo
233.º) pelas pessoas sucessivamente indicadas nas alíneas do n.º 1 do artigo 234.º. A
declaração é verbal, mas terá de ser acompanhada do certificado médico, que é passado
gratuitamente e que à luz da ciência médica também confirma o óbito (artigo 235.º, n.º
1). No caso de o declarante não ter podido apresentar o certificado é o funcionário da
conservatória que o deve requisitar (n.º 2) e só na “impossibilidade absoluta” de o
médico verificar o óbito é que o certificado pode ser substituído pelo auto previsto no
artigo 236.º. E quando nem sequer o auto de verificação tenha sido lavrado? Nesse caso,
diz o artigo 237.º, só mediante decisão proferida em processo de justificação
administrativa. Se do certificado médico constar que a causa da morte é desconhecida,
ou quando se trate de “morte violenta” ou ainda se houver “suspeitas de crime”, a
conservatória deve de imediato participar tais situações ao Ministério Público (ou à
autoridade policial) e o assento só pode ser lavrado depois da autoridade respectiva
comunicar que foi realizada ou dispensada a autópsia (artigo 238.º).

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Os requisitos que especialmente devem constar do assento de óbito vêm


indicados nas sucessivas alíneas do n.º 1 do artigo 242.º. Todavia, o n.º 4 esclarece só
são indispensáveis as que sejam necessárias à identificação do falecido. As outras, que
depois cheguem ao conhecimento do conservador, são registadas por averbamento ao
assento. Tratando-se de pessoa desconhecida, devem ser feitas as menções a que se
refere o artigo 243.º e as que possam concorrer para possibilitar futura identificação do
falecido.

Esta menção é necessariamente posterior ao registo do óbito, visto que a


habilitação só pode ser efectuada ou o inventário instaurado com base no assento e não
antes dele. Aliás, para que este processo possa ser instaurado (quando “obrigatório”) ou
a tutela instituída (quando for o caso) devem ser feitas ao Ministério Público as
comunicações referidas no n.º 1 do artigo 210.º. Para tanto, o conservador tem de ouvir
o declarante do óbito e reduzir a auto as suas declarações (n.º 2). Devem também ser
feitas outras comunicações conforme se indica no n.º 3 deste artigo.

Nos casos especiais dos óbitos que se deram em estabelecimentos hospitalares


ou prisionais há que comunicar a ocorrência aos serviços (ou postos autorizados) do
registo civil (artigo 245.º). São ainda merecedores de acrescidas diligências os casos dos
óbitos ocorridos em viagem (artigos 246.º e 247.º) e dos que resultem de acidente
(incêndios, naufrágios, terramotos etc. e a que se refere o artigo 250.º). Nestes, porém,
se os cadáveres não forem encontrados ou as vítimas não puderem ser identificadas há
lugar ao procedimento mais complexo da justificação judicial que deve ser promovido
pelo Ministério Público por intermédio de qualquer conservatória (artigo 249.º).

O mesmo procedimento terá lugar em caso de naufrágio, (artigo 250.º, n.º 1),
mas nessas situações é à autoridade marítima que incumbe fazer as averiguações e a
participação ((artigo 250, n.º 2). A respeito do óbito o Código contém à morte fetal,
quando exista o tempo de gestação de 22 semanas ou superior (artigo 244.º). Como é
sabido, nesse caso não se trata ainda de pessoa (o artigo 66.º do C.C. diz que a
personalidade se adquire “no momento do nascimento completo e com vida), pelo que
não há lugar a um assento, mas apenas ao depósito do certificado médico acompanhado
de um “auto” contendo as menções especificadas no n.º 3 do artigo 244.º, que o
requerente do depósito deve indicar.

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V. CONCLUSÃO

O registo civil tem um papel importantíssimo ao nível de informação fidedigna


para o país, particularmente no que respeita a determinar o número real de cidadãos
existentes, bem como a sua filiação, mas não só. O registo civil desempenha, ainda, um
papel determinante na facilitação do acesso por parte do Estado a informação fiável e a
dados estatísticos actualizados da população, permitindo aumentar a eficácia dos
programas sociais e económicos, garantindo que os cidadãos possam exercer todos os
seus direitos, deveres e obrigações em condições de igualdade.

No início do nosso trabalho definimos o objeto do registo civil como a faculdade


de conceder publicidade à condição jurídica de pessoas singulares, através do registo
dos factos que integram o estado civil, neste sentido, facultar a qualquer interessado a
obtenção da informação sobre os factos registados e sobre a situação jurídica das
pessoas a que respeitam. Ora a finalidade última do registo civil é assegurar que os
factos que fundam o estado civil das pessoas singulares, um estado civil constituído pelo
conjunto de qualidades jurídicas que o Código de Registo Civil moçambicano sujeita a
registo, se manterá arquivado em sede própria e que os cidadãos a ele terão acesso
quando assim o entenderem.

A inscrição do registo de nascimento determina a atribuição de um conjunto de


direitos e vinculações, cuja titularidade é aspeto substancial relativamente à situação
jurídica da pessoa. Ora os direitos conexos com a cidadania, dependem do registo civil,
particularmente, do registo de nascimento, que passa a estabelecer o acesso aos direitos
conexos com aquela. Não podemos olvidar, também, que o direito ao nome, à
educação, à saúde, ao exercício de uma actividade profissional, a uma remuneração
correspondente ou direito à habitação, são direitos fundamentais que ao Estado cabe
assegurar, tanto por via direta, como por via indireta.

Assim, o Estado constitui-se na obrigação de criar e manter as infra estruturas


necessárias à prossecução de um real exercício do direito ao acesso aos serviços de
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registo. Com a guerra civil, uma das consequências diretas para este setor de actividade
foi a destruição total ou parcial das infra estruturas de registo civil, bem como o seu
acervo documental.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ALMEIDA, Carlos Ferreira de–Publicidade e Teoria dos Registos. Coimbra:


Livraria Almedina, 1966. p. 5-37, 47-59, 251-280.
2. FERNANDES, Luís Alberto Carvalho – Teoria Geral do Direito Civil II. Fontes,
Conteúdo e Garantia da Relação Jurídica. 4ª ed. rev. atual. Lisboa: Universidade
Católica Editora, 2007. ISBN 978-972-54-0175-0.
3. LOPES, J. Seabra – Direito dos Registos e do Notariado. 6ª ed. Coimbra: Almedina,
2011. ISBN 978-972-40-4604-4. p. 5-154.
4. MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional. Tomo II. Constituição. 6ª
ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2007. ISBN 978-972-32-1534-2.
5. PINTO, Carlos Alberto da Mota – Teoria Geral do Direito Civil. 4ª Edição.
Coimbra: Coimbra Editora, 2005. ISBN 972-32-1325-7.
6. CARVALHO, Manuel Vilhena de – Menções a levar ao assunto de nascimento em
casos especiais. In Regesta. Lisboa. Ano 11 Nº 4 (Out.-Dez. 1990), p.7-11.
7. Código Civil – 14ª ed. Coimbra: Almedina, 2010. ISBN 978-972-40-4249-7.
 Código de Registro Civil (Lei n.˚12/2004)
 Constituição da República de Moçambique
 Código Civil Moçambicano

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