Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Faculdade de Direito
Licenciatura em Direito
4o Ano
Beira
2022
UNIVERSIDADE ZAMBEZE
Faculdade de Direito
Licenciatura em Direito
4o Ano
Na Universidade Zambeze
___________________________________________
Beira
2022
Índice
I. RELATÓRIO DE PESQUISA
II. RESUMO
Apesar da lei exigir que os unidos de facto vivam em condições análogas às dos
cônjuges, no momento da ruptura, o legislador traça uma abismal diferença entre os dois
modelos familiares, o que é em si contraditório. De facto, esta discrepância, levanta
inclusive questões de conformidade à Constituição da República Moçambicana, uma
vez que estamos perante duas figuras de natureza familiar que o Estado tem obrigação
de proteger, nomeadamente, num momento tão vulnerável como é o da morte de um
ente próximo. É certo que o casamento tem natureza contratual e que os unidos de facto
não se quiseram vincular ao regime sucessório matrimonial, no entanto, o facto de o
companheiro sobrevivo não ser, pelo menos, herdeiro legitimo do seu parceiro,
consubstancia uma diferença injustificada, uma vez que estamos perante duas figuras
análogas em termos de convivência e afecto.
III. INTRODUÇÃO
Por outro lado, o companheiro sobrevivo não é, ainda hoje, herdeiro legal do seu
companheiro, o que tem sido criticado por diversos autores, entre eles Jorge Duarte
Pinheiro. Esta diferença de regimes reflete-se a vários níveis, embora a diferença de
efeitos sucessórios seja a mais gritante, o que é também consequência do dinamismo do
Direito da Família por oposição ao imobilismo do Direito das Sucessões. É também
aquele sobre a qual vou incidir maioritariamente, sob pena de me desviar do tema que
aqui me proponho analisar.
dos concubinos”. Mas também a uma ideia de grande fosso, nomeadamente sob uma
perspetiva social, desta figura para com o casamento. O que é uma concepção pouco
actual e na qual o Direito sucessório continua a assentar. A união de facto continua, por
isso, a ser um espaço de não direito. E embora o legislador tenha vindo
progressivamente a aumentar os seus efeitos jurídicos, continua a traçar uma diferença
entre regimes intencional e com o objectivo de diferenciar o estatuto das duas figuras,
como se a união de facto de uma situação menos dignificante se tratasse. A verdade é
que, se por um lado, os unidos de facto rejeitaram os efeitos do casamento, por outro,
estes têm uma vida em comum, em que há necessariamente partilha pessoal e
patrimonial e por isso é necessária regulação jurídica do momento da dissolução por
morte ou ruptura relacional. Até porque, se no início, os unidos de facto, tencionam
criar um modelo de vida comum muito mais flexível e desprovido de efeitos jurídicos
que o casamento, a verdade é que no decurso da vida em comum a vontade de
institucionalização jurídica vai sendo cada vez maior.
Uma das grandes questões que está subjacente à discussão em torno dos efeitos
jurídicos dados à união de facto refere-se à natureza jurídica desta. Sobre esta temática
já se pronunciaram vários autores, em diversos sentidos, que serão aqui também
amplamente expostos. A par desta questão, surge também toda a divergência relativa
aos deveres conjugais e à aceitação ou não da ressarcibilidade dos danos causados pela
sua violação no casamento. Isto porque alguns autores, utilizam o facto de os
companheiros não se terem vinculado juridicamente ao cumprimento dos deveres
pessoais existentes no casamento, como argumento para que os unidos de facto não
possam beneficiar de tantos direitos como os que têm os cônjuges. Por outro lado, parte
da doutrina, desvaloriza hoje este argumento, pela perda de juridicidade destes deveres,
relacionada com motivos que serão em sede própria expostos. Por tudo isto, também
esta problemática será necessariamente analisada, caberá neste ponto procurar perceber
quais as actuais consequências do seu incumprimento.
O presente relatório tem como objectivo geral dar resposta à questão de se saber
quais os direitos do unido de facto sobrevivo quando o seu companheiro morre. Para tal
socorremo-nos do método de investigação jurídica, o método literal. O tipo de pesquisa
e análise dos instrumentos utilizados no relatório passou, além do estudo e leitura da lei,
da doutrina e dos acórdãos acerca da união de facto, por entrevistar e questionar
magistrados com intervenção prática na tramitação processual dos processos de
reconhecimento de direitos aos unidos de facto.
4.1.1. Os antecedentes
No passado dia 29 de Julho, no canal televisivo STV, a cidade de Maputo foi colhida de
surpresa perante um caso que, embora não sendo uma ocorrência rara, normalmente não é
falado nem divulgado nos media nacionais. Trata-se do sucedido a Catarina, de 30 anos, que
vivia numa união de facto há doze anos. Com efeito, a decisão de coabitar foi resultado de uma
gravidez que também a afastou dos estudos. Durante todo o tempo em que moraram juntos, o
seu companheiro prometeu e garantiu a ela e à família que se casaria assim que as condições
financeiras o permitissem.
Nos primeiros anos de casada, devido ao desemprego do companheiro e tendo que sustentar a
família que entretanto crescia ainda mais (actualmente tem três filhos desta união), desenvolveu
pequenas actividades lucrativas no sector informal. Viajava por vezes de comboio durante
longas horas para a África do Sul, a fim de trazer de lá pequenas quantidades de produtos
alimentares para revender. Por volta de 2004 o companheiro da Catarina finalmente conseguiu
ter um emprego e desde então a vida do casal mudou bastante, tendo podido arrendar uma casa
maior, adquirido vários bens e inclusive iniciado uma obra no bairro Patrice Lumumba, no
município da Matola.
Perante o evidente aumento dos rendimentos, Catarina esperava que finalmente se pudessem
casar, mas, quando indagado sobre o assunto, o companheiro respondia que estava a organizar-
se. Enquanto esperava ela engravidou pela terceira vez, o que foi mais um pretexto acrescido:
“agora não porque estás grávida!”
Finalmente no dia vinte e oito de Junho, conforme conta Catarina, o companheiro chegou
bastante cedo a casa e depois do jantar pediu-lhe que o abraçasse com muita força e sussurrou-
lhe ao ouvido: “Eu sempre te vou amar”! Ela ficou feliz e pensou que o dia do casamento
estivesse para breve. No dia seguinte o companheiro saiu logo pela manhã para o trabalho e a
Catarina recebeu uma visita que a informou que aquele homem que lhe prometera casamento
havia 12 anos e com o qual teve três filhos, ia contrair matrimónio com outra mulher. Apesar de
ter ido à Conservatória tentar impedir o casamento não teve sucesso nesta diligência, pois o
reconhecimento das uniões de facto na nova Lei de Família tem um alcance limitado e não se
prevê que possa constituir impeditivo de casamento. Infelizmente, o caso da Catarina não está
isolado. A lei não está a proteger a forma de união mais comum no país.
discriminatórios contra as mulheres, estatuindo por exemplo, que o homem era o chefe
da família, que cabia a ele administrar os bens do casal, incluindo os dotais. Estes e
outros artigos da lei chocavam com os princípios da igualdade de direitos e de
tratamento entre mulheres e homens preconizados na Constituição da República, assim
como nos diversos instrumentos internacionais ratificados pelo governo de
Moçambique. Outro aspecto importante que impulsionou a revisão desta lei foi sem
dúvida o não reconhecimento legal das relações entre pessoas não unidas por via do
matrimónio, mesmo vivendo longos anos. Para esta lei, não havendo matrimónio, e
chegada a hora da dissolução da relação, não era possível fazer-se partilha de bens,
embora estes tivessem sido adquiridos por duas pessoas, o que por sua vez dificultava o
exercício de uma justiça equitativa e a favor do cidadão.
Para contornar esta situação que perpetuava a exclusão das mulheres do acesso
aos recursos, as organizações femininas de defesa dos direitos humanos das mulheres, a
bem de uma cultura jurídica em Moçambique, no âmbito da assistência jurídica e
patrocínio judiciário, socorriam-se do instituto da co-propriedade (artigo 1403° e
seguintes do Código Civil, versão anterior à aprovação da Lei de Família), interpondo
acção de divisão de coisa comum segundo o artigo 1052° e seguintes do Código de
Processo Civil, fazendo valer que determinado bem móvel ou imóvel era da pertença de
duas pessoas, neste caso a mulher e o homem. Porém, este pretexto não era visto com
bons olhos pelo juiz cível, imbuído de valores culturais e tradicionais, segundo os quais
a mulher que não tem um emprego formal em nada contribui para as despesas do lar e
por conseguinte a partilha de bens não faz sentido, pois estes pertencem ao homem.
Foi considerando estas situações que as organizações de defesa dos direitos das
mulheres se posicionaram a favor de uma lei que previsse um instituto para
regulamentar as formas de estar que não fosse simplesmente o casamento, mas com os
mesmos efeitos que este, de modo a dar maior protecção jurídica às mulheres.
Finalmente, no ano 2004, a Lei da Família foi aprovada, prevendo no seu artigo
207° a união de facto e os seus efeitos no artigo 208°, que estatuem o seguinte: Artigo
8°, Noção de casamento. O casamento é a união voluntária entre um homem e uma
mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão plena de vida. Artigo
10 A União de Facto: Reconhecimento e Direitos Sucessórios
UNIVERSIDADE ZAMBEZE FACULDADE DE DIREITO
207°, União de facto: noção. A União de facto é a ligação singular existente entre um
homem e uma mulher, com carácter estável e duradouro, que sendo legalmente aptos
para contrair casamento não o tenham celebrado. A União de facto pressupõe a
comunhão plena de vida pelo período de tempo superior a três ano sem interrupção.
A união de facto corresponde a uma das primeiras formas de união familiar que
existiu. É a união de facto a génese da evolução das relações humanas familiares, isto é,
é a união de facto a semente de todas as outras figuras jurídicas que apareceram depois,
das quais se tem destacado o casamento. De facto, só com a criação dos primeiros
sistemas públicos de registo do casamento surge a ideia de o condicionar a
formalidades, quer com a imposição da ideia do casamento escrito, formal. A união de
facto continuou a existir como realidade paralela aquele instituto, aliás, verifica-se em
certas tribos africanas, nas quais não existe a imposição do casamento, que as pessoas
vivem maritalmente, como homem e mulher, sem essa obrigação de se “casar no papel”
e sem se incomodarem com tal formalidade, desnecessária.
torna-se protegida, pelo que se lhe passam a aplicar as normas de protecção previstas na
LF.
V. DIREITO SUCESSÕRIO
A palavra “Sucessão”, em sentido amplo, significa o acto pelo qual uma pessoa
assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens, podendo
ocorrer, por exemplo, na venda de um bem, ou seja, o comprador sucede o vendedor,
assim podemos dizer que ocorreu a sucessão inter vivos. No direito das sucessões, o
vocábulo é empregado no sentido estrito, para designar a decorrente da morte de
alguém, a sucessão causa mortis, nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves o direito
sucessório é o ramo do direito que “disciplinaa transmissão do patrimônio, ou seja, do
ativo e do passivo do de cujo ou autor da herança a ses sucessore”. Na mesma obra, o
consagrado legislador descreve que o direito sucessório remonta à mais alta antiguidade,
sempre ligado à ideia de continuidade da família.
não podem ser gozados totalmente de forma livre, visto que a lei impõe determinadas
limitações.
Assim por exemplo, nos casos de sucessão dos bens do outro cônjuge, o que será
herdado deverá respeitar os limites do regime bens, ou ainda no caso da disposição de
bens via testamento, essa disposição deverá ser respeitar a legítima. Conforme já
elucidado, a sucessão pode ser definida como um conjunto de normas que regula os
acontecimentos após a morte. Como já visto, a ideia da sucessão é dar continuidade
relações jurídicas do falecido, evitando a sua extinção. Todavia, ela não regula apenas a
morte, ela regula o processo sucessório dos herdeiros. Assim, determina o artigo 1 da
LS que a “sucessão é o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das
relações jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos
bens que a esta pertenciam”.
Concebendo que não há diferença no amor envolvido entre os casais que vivem
em união de facto e as pessoas casadas, que a razão que motiva a comunhão de vida é a
mesma para os dois institutos, e uma vez que se encontram em comunhão de vida tanto
as pessoas casadas quanto as que vivem em união de facto comungam dos meus
princípios para a construção e manutenção do lar e da vida em comum, compartilhando
os mesmos deveres e obrigações, mesmo que não expressos em lei, concluímos que, ao
que nos parece a principal diferença entre o casamento e a união de facto diz respeito a
formalização da relação, ou no caso da união de fato, a falta dela, que nos
aprofundaremos adiante. Durante nossa pesquisa, e comparando os dois institutos com
relação a sua essência, não encontramos diferenças substanciais que justifiquem a não
caracterização da união de facto como uma fonte de relação familiar.
natureza, e por toda a parte ele constitui a família, dentro da lei se é possível, fora da
lei se é necessário”.
O texto citado, reforça minha ideia de que, mesmo sem protecção jurídica
adequada, as uniões de facto continuarão presentes na sociedade. Razão pela qual
entendo que cabe ao legislador moçambicano atentar para as necessidades demandadas
pela sociedade garantindo a esses indivíduos a protecção digna e justa de uma relação
familiar. Aceitando ainda essa concepção, de que não é a lei que constrói as relações, de
que essas relações são construídas pelas sociedades, pois se baseiam na afectividade e
no amor dos envolvidos. Se considerarmos apenas os motivos pelos quais as pessoas
resolvem conviver, dividindo obrigações sociais e jurídicas, e visualizarmos como essas
relações se apresentam perante a sociedade, independente do contrato firmado entre
elas, encontraremos família em diversas relações, sejam elas decorrente de relações
homo afetivas, entre homens e mulheres, ou ainda, entre um dos genitores e seus filhos.
família, partilhando em vida uma comunhão, de cama, mesa e habitação. Outro aspecto
que podemos mencionar refere-se ao processo de formação dos institutos. Assim
sendo, podemos dizer que tanto o casamento quanto a união de facto são definidos
como negócios jurídicos bilaterais, e desta forma, para que ele seja concretizado
precisamos de um acto humano e voluntário.
Todavia, reforçamos que antes de protegida pelo Direito civil, a união de fato
deve ser primeiramente resguardada pela Constituição da República. Ao qual passamos
a analisar. Da leitura do número 3 do artigo 110 da Constituição da República
Moçambicana, encontramos uma obscuridade da redação que permite interpretações
diversas. Diz o referido dispositivo legal, “todos têm o direito de constituir família e de
contrair casamento em condições de plena igualdade”. O que extraímos dessa
passagem retirada do texto constitucional é que o legislador referenciou dois direitos
Uma vez reconhecida a união de facto como fonte de relação jurídica familiar, se
faz necessário regulamentar de forma apropriada o instituto. Alguns autores que
defendem a inclusão da União de Facto no artigo 119º da Constituição Moçambicana,
também defendem a igualdade de direitos e feitos do casamento, sob pena de violar o
princípio da igualdade constante no artigo 36º da CRM. Nesse aspecto, mister se faz
enfatizar que não compartilhamos desse posicionamento, como dissemos no início dessa
Dentre as situações que podem ter influenciado a escolha, podemos citar por
exemplo, o desfavorecimento de ordem fiscal, ou a perda de benefícios (como o caso da
pensão de sobrevivência), ou até mesmo a carga religiosa que o instituto carrega, ou
ainda a união de facto pode ser apenas uma situação transitória, em que o casal resolveu
regulamentar sua situação até o casamento. Conforme se verifica os motivos que
influenciaram essa escolha envolvem não só impedimentos de fato, mas também
impedimentos legais. Como se nota, inúmeras são as possibilidades para a escolha de
um tipo de relação em desfavor da outra. O que não podemos, é interpretar essa escolha
como uma forma de negar direitos a esses modelos de família. O que precisamos é
oferecer meios desse casal formalizar a relação para que então possa gozar das garantias
legislativas. Com relação às normas que devem ser aplicadas a esse tipo de relação,
entendo que igualar a união de facto ao casamento é impor aos conviventes regras e
obrigações que estes não queriam, pois se quisessem haviam casado, na maioria dos
casos. Assim, acredito que não seria razoável o legislador impor regras não queridas
pelas partes. De toda forma, não significa que a melhor opção seja deixá-los à margem
de regras.
Assim, para rechaçar qualquer debate no que se refere a não produção de efeitos
pessoais e patrimoniais na união de facto, haja vista o entendimento de que essas
pessoas optaram pela não regulamentação da união, e que, por essa razão, não cabe ao
Estado intervir nessa escolha e impor direitos e deveres não desejados por esses casais,
vislumbrei a possibilidade de fornecer a essas pessoas a escolha de formalizar a união.
Isto posto, sugiro que, aqueles que queiram regularizar a sua situação e
consequentemente garantir uma protecção legislativa teriam a oportunidade de fazê-lo.
Desta feita, entendemos que o Estado não estaria impondo uma regulamentação, nem
tampouco infringindo a vontade e o direito daqueles que não estão em busca de proteção
jurídica, nem de uma relação que demande dependência ou responsabilidades, por assim
dizer.
Além dos efeitos já mencionados por mim, ainda temos dois outros efeitos
pessoais constantes no Código Civil que valem a pena ser trazidos a comentar, que é o
No que tange ao início dos efeitos, entendo que o mesmo só deva começar a ser
produzido com a formalização da união na conservatória de registros civis, já que não
teria mais que considerar o lapso temporal de dois anos, determinado pela legislação
actual. O mesmo conceito se aplica para a cessação desses efeitos, uma vez decretada a
dissolução da união de facto, cessariam também as relações patrimoniais que haviam
entre o casal. Com alusão aos demais artigos da lei em análise, como a questão das
dívidas do casal e da obrigação de alimentos, por exemplo, entendo que também devam
ser regulados na LF afim de incluir a figura do companheiro, contudo, deixaremos esses
aspectos para serem abordados em outro estudo, por ora guardaremos espaço nessa obra
para que possamos abordar situações da sucessão post mortem, ao qual discorreremos
no próximo tópico.
Com relação a sucessão aos casos em que não haja nem descendentes nem
ascendentes do de cujos, entendo que o mesmo deva ter o direito de preferência antes da
convocação dos colaterais no que tange aos bens adquiridos onerosamente durante a
união. Minha justificativa se baseia no facto de que, embora o companheiro não possua
laços sanguíneos com o falecido, este colaborou com a aquisição de bens durante a vida
em comum do casal. Assim sendo, acredito que no que concerne aos bens em comum, o
companheiro deveria receber a totalidade de bens em comum com de cujos, deixando
aos colaterais a partilha dos bens próprios do mesmo. Com relação a quota parte que
deve ser atribuída ao companheiro, também entendo que deva obedecer às regras que
são aplicadas às pessoas casadas. Dessa forma minha sugestão normativa é a seguinte:
primeiro a inclusão do companheiro na categoria de herdeiros legítimos e em seguida
sua classificação na ordem do sucessíveis à herança.
VI. CONCLUSÃO
Por todo o exposto, insta mencionar que temos ciência de que não foram
abordados nessa obra todos os aspectos previstos e garantidos pela Lei da Família
atinentes as pessoas casadas, nesse sentido, justifiquei que, como nosso objectivo era
focar no direito sucessório, optei por deixar espaço para aprofundarmos nessa matéria
em específico, até para não nos dispersamos com outras situações que não estejam
relacionas com o Direito sucessório. No que diz respeito às proteções constantes na Lei
da Família e que por nós não foram mencionadas, esclari que também não me
aprofundarei primeiro porque, no meu entender estamos diante de um direito já
adquirido, o que assegura ao menos alguma garantia às pessoas que vivem em união de
facto, como é o caso dos benefícios fiscais, sociais e trabalhistas, por exemplo; segundo,
porque como explanado, nosso objectivo quando da produção desse trabalho era
discorrer sobre a questão sucessória que envolve o instituto e que entendemos que não
pode ser negado.
Nesse quesito, julguei que alcancei meu objetivo. Assim sendo, optei por manter
os direitos presentes na Lei da Família que não foram estudos por mim. Entendo
também que uma vez que definimos a necessidade de se formalizar a união de facto em
sede de conservatória de registos civis, e em consequência estipulamos um regime de
bens para regular a vida em comum, inclusive na sucessão por morte, entendo que seja
necessário abordar a questão da partilha desses bens sejam em eles em decorrência da
dissolução da união de facto ou da sucessão, contudo, deixai esse aspecto para ser
aprofundado em outro estudo.
ALVES, José Carlos Moreira - Direito Romano. Vol. II. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998.
BAUMAN, Zygmunt – Amor Líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de
Janeiro: Zahar, 2014.
CAMPOS, Diogo Leite de – Nós. Estudo Sobre os Direitos das Pessoas. Coimbra:
Almedina, 2004.
DIAS, Maria Berenice – Manual de Direito das Famílias. 10ª Ed. São Paulo a: Revista
dos Tribunais, 2015.
GONÇALVES, Carlos Roberto - Direito Civil Brasileiro. Vol. VI. 9ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
REALE, Miguel - Filosofia do Direito. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
Legislação