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UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO

Faculdade de Ciências Jurídicas e Políticas


Menstrado em ciências Juridico – Forenses/ Empresarias

MÓDULO DE METODOLÓGIA DE INVESTIGAÇÃO CIÊNTIFICA

TEMA:

UNIÃO DE FACTO
BAIRRO CERÂMICA MUNICÍPIO DE CACUACO EM
ANGOLA

Autor: Augusto Hudson Simeão

Orientador: Phd- Berlamino Van-Dúnem

Luanda, 01 de Julho de 2019

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ASS: AUGUSTO HUDSON SIMEÃO

_____________________________________

TEMA:

UNIÃO DE FACTO
BAIRRO CERÂMICA MUNICÍPIO DE CACUACO EM
ANGOLA DE 2013-2018

Trabalho de Mestrado apresentado a


Universidade Gregório Semedo como
parte dos requisitos para obtenção do
grau de académico de Mestre em ciências
Juridico – Forenses/Empresariais.

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I. INTRODUÇÃO
1.1. INTRODUÇÃO DO TEMA

No presente trabalho aborda-se o tema da união de facto, Sub-título bairro


Cerâmica, município Cacuaco em Angola entre 2013 à 2018. Apesar do modelo
matrimonial continuar a ser o preferido pela sociedade e pelas suas leis, o Estado
não pode hoje ignorar e desprezar os cidadãos que fazem escolhas diferentes, ou
que geram situações de necessidade por virtude das escolhas que fizeram; ou que,
simplesmente, inaptos para fazerem escolhas, se encontram em situação de
carência importante.

A união de facto consiste na convivência sexual comum entre um homem e uma


mulher, como se marido e mulher se tratasse, sem a existência de um casamento
formalizado. Na sua ausência, a união de facto encerra uma vivência de caracter
duradouro entre um homem e uma mulher, segundo o figurino marital, que significa
que entre eles se estabelece a comunhão de cama, mesa e habitação, sem que
todavia, tenham entre si celebrado o casamento.
Independentemente do espírito que presida à sua escolha – a união de facto
enquanto mera etapa prévia ao casamento ou como situação conjugal definitiva –, a
convivência estável entre duas pessoas, do mesmo sexo ou de sexo diferente, cria
nos seus membros um aspecto de interesses e de fins comuns, quer a nível pessoal,
quer a nível patrimonial, aos quais o Direito não pode ser completamente alheio.
Atento à realidade sociológica que o rodeia, o legislador tem vindo, ao longo das
últimas décadas, a adoptar um conjunto de medidas de protecção desta convivência
análoga ao casamento. Porém, e talvez devido à informalidade subjacente à união
de facto, o legislador não ousou prever uma disciplina patrimonial aplicável
especificamente aos membros da união de facto, originando, desta forma, um
conjunto de incertezas nesta área tão próspera em litígios, nomeadamente quando
está em causa o fim da comunhão plena de vida entre duas pessoas.

Perante este cenário, e conscientes de que muito poderá ficar por dizer,
abordaremos no presente estudo o regime jurídico emergente do Código de Família,
procedendo à inevitável indagação relativa ao regime jurídico aplicável às relações

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patrimoniais que se desenvolvem na união de facto, e confrontando-o, sempre que
possível, com o regime matrimonial. Buscaremos, neste contexto, formas de
superação da ausência de uma disciplina patrimonial específica para a união de
facto, recorrendo, para tanto, à análise de alguns instrumentos jurídicos que o direito
comum oferece e que se revelam aptos para os conviventes alcançarem a tão
desejada regulamentação patrimonial, não deixando, contudo, de abordar aquele
que para muitos é o instrumento ideal na realização deste fim: o contrato de
coabitação. Ao longo da análise não deixaremos de abordar algumas matérias em
que, no nosso entendimento, aos membros da união de facto deveria ser conferida
uma protecção jurídica mais intensa.

O estudo, tem em conta a certa realidade no contesto actual angolano,


concretamente na Província de Luanda; é o caso de duas pessoas de sexo
diferente que coabitam em união de cama e mesa, sem o reconhecimento desta
união, isto é nos Órgãos do Registo Civil, e no acto da dissolução desta união
surgem certos conflitos por causa da separação de bens, não sabendo porem que
direitos assistem a cada um deles. Sendo assim é importante que se faça uma
abordagem deste tema para realmente se saber como funciona na vida prática.

A essência deste trabalho é de suma importância dado o papel e destaque que


ocupa na vida da sociedade.

O trabalho está estruturado em secções. Na primeira trata-se da introdução do tema


onde expõe-se a delimitação do mesmo, justificação, o problema e os objectivos, na
segunda aborda-se conceitos necessarios que são essenciais para a pesquisa, se
fará uma abordagem, sobre a família, concubinato, casamento e união de facto, o
que o Código de Família angolano regula ao respeito. Na terceira secção,
caracteriza-se geograficamente o município de Cacuaco.
A escolha deste tema, deve-se pelo facto de que, no longo percurso académico da
formação, mas concretamente na Licenciatura em Direito, a unidade curricular de
Direito da Família, foi a área do saber jurídico que mais me cativou e despertou
interesse em proceder uma investigação científica devido aos problemas por eles
levantados. Não só por ser a área do foro Cível, e serem consideradas como a
última ratio da política social, mas pelo facto de seu estudo abarcar outras áreas que
se ocupam com a investigação.

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As famílias contemporâneas enfrentam uma série de problemas sem precedentes.
Existe uma alteração significativa das formas de constituir família. O surgimento de
uniões coabitantes, o aumento do divórcio e a fertilidade retardada do casamento
são exemplos de mudanças na dinâmica da família. A multiplicidade de novas
formas de família surge em resposta à mobilidade e às restrições demográficas,
económicas e sociais.

Em outro prisma, saliento ainda que a escolha deste tema consiste pelo facto do
mesmo ser e constituir um pressuposto fundamental do Direito da Família, dada a
sua relevância, ao excessivo e crescente número de relações entre pessoas de
sexos opostos, desenvolvido fora dos trâmites exigidos por lei e as consequências
desastrosas por parte dos membros considerados mais frágeis, a mulher e as
crianças, têm posto em causa directa e indirectamente a função social que o
casamento e a união de facto desenpenham para sociedade.

II. OBJECTIVOS

1.2. Objectivos Geraiais:

1.1- Análisar os factoresque estão na base da União de Facto não reconhecida na


cidade de Luanda/Cacuaco.

1.2- Caracterizar o instituto da união de facto no bairro Cerâmica em Cacuac

1.3. Objectivos Especificos:


1.3-Conceptualizar família, concubinato, casamento e união de facto.
1.4-Descrever o instituto da união de facto no bairro Cerâmica em Cacuaco.

III. JUSTIFICAÇÃO DO TEMA

A escolha deste tema, deve-se pelo facto de que, no longo percurso académico da
formação, mas concretamente na Licenciatura em Direito, a unidade curricular de
Direito da Família, foi a área do saber jurídico que mais me cativou e despertou
interesse em proceder uma investigação científica devido aos problemas por eles

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levantados. Não só por ser a área do foro Cível, e serem consideradas como a
última ratio da política social, mas pelo facto de seu estudo abarcar outras áreas que
se ocupam com a investigação.

IV. PERGUNTA DE PARTIDA


Em caso de desconhecimento sobre o instituto da união de facto em meio dos
moradores do bairro Cerâmica em Cacuaco provoca que esta não seja reconhecida
legalmente?

V. HIPÓTISES

 A união de facto não reconhecida no bairro Cerâmica em Cacuaco, tem ligação


com o desconhecimento da lei, por parte dos unidos;

 A situação económica e social do país constitui um incentivo à união de facto não


reconhecida;

 A união de facto consiste no estabelecimento voluntário de vida em comum entre


um homem e uma mulher.

VI. METODOLÓGIA

Métodos Utilizados

Os métodos utilizados para a produção deste trabalho é o dedutivo e o indutivo

realizando uma cadeia de raciocínios que permitiram chegar a conclusões lógicas;

histórico-lógico, analisando a evolução do instituto, da lei e sua aplicação;

análises e sínteses, estatístico; trabalho bibliográfico e comparativo, procurando

soluções de diferentes ordenamentos jurídicos. Foram utilizadas bibliografias

relativas a esta temática, legislações, documentos, diplomas devidamente


seleccionados que serviram para a colecta de dados.

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VII. PROBLEMÁTICA

1.4. Formulação do Problema

Qual é o que o desconhecimento sobre o instituto da união de facto em meio dos


moradores do bairro Cerâmica em Cacuaco provoca que esta não seja reconhecida
legalmente?Esta problemática não está presente apenas em pessoas com
necessidades, mas também em cidadãos que têm a vida bem organizada e
estabilizada. (Maria do Carmo Medina 2005:82).

Como refere Medina, Maria do Carmo (2013: 17) “O novo código veio integrar num
só diploma o conjunto das normas do direito da família, como todos os benefícios
que derivam da codificação das leis. Ele trouxe igualmente a sistematização, clareza
e acessibilidade do texto legal ao cidadão comum, o que constitui uma característica
do direito de inspiração socialista. Trata-se de um código de um novo direito
baseado em novos princípios, orientados para uma visão criadora de novas regras
de conduta que, por sua vez, irão exercer uma influência determinante no meio
social”.
Diz a autora, o mútuo acordo é condição essencial ao reconhecimento, porque tem
de ser ambos a requerer a conversão de uma união livre num negócio jurídico que,
depois do reconhecimento vai produzir precisamente os efeitos que produz o acto de
Casamento. Teve-se em conta que tal modificação do estatuto jurídico dos
companheiros da união de facto em cônjuges releva da autonomia da vontade do
homem e da mulher. Por isso, a lei não permite que quem vive em união de facto
não reconhecida, seja obrigado a alterar a situação em que vive, para a converter
numa união cujos efeitos legais se equiparam ao casamento. Segundo Maria
Medina,( 2013:145) “O reconhecimento da união de facto pode ser por mútuo acordo
dos companheiros. Neste caso, tem que ser pedido individualmente pelos dois
intersectados mais simultaneamente, pois só os dois em conjunto têm legitimidade
para formular pedido”.

Ainda na mesma linha de pensamento da autora, data do fim da união a cessação


das relações pessoais e matrimoniais dos companheiros, uma vez que essa termina
por simples acto de vontade de um ou de ambos. Não obstante, não é de mais
realçar o largo alcance da sentença que vier a reconhecer a união de facto que

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tenha preenchido os pressupostos legais, uma vez que os efeitos dessa união são
equiparados por lei aos do Casamento dissolvido. Assim, se a União de Facto
terminou por morte de um dos companheiros os efeitos do reconhecimento são os
mesmos da dissolução do casamento por morte.Uma vez provada a existência da
união de facto que preencheu os pressupostos legais, o Juiz deve reconhecer essa
união, indicando, tanto quanto possível, quando ela se iniciou e quando veio a
terminar para, assim, determinar o período em que ela produz efeitos,
designadamente quanto a aquisição de bens comuns, responsabilidade por dívidas,
presunção legal de paternidade por parte do companheiro dos filhos nascido da
união (Maria do Carmo Medina 2013: 244).

Quanto aos efeitos do reconhecimento, como refere o professor Antunes Varela


(1999:154) perfilam a mesma ideia estejam eles unidos de facto ou casados o
reconhecimento produz os mesmos efeitos designadamente quanto a aquisição de
bens comuns, responsabilidade por dívidas, presunção legal de paternidade por
parte do companheiro dos filhos nascido da união ou do casamento.A união de facto
pode extinguir-se, quer pela ruptura da relação, ruptura por mútuo consentimento ou
por iniciativa de um dos seus membros, quer em consequência de morte de um
deles. A dissolução por qualquer membro da união de facto, mas é pouco verosímil
que um dos membros deste célebre casamento com outra pessoa sem que
previamente tenha manifestado a vontade de romper a relação. (Guilherme Oliveira
2001: 213).

Em caso de morte do membro da união de facto protegida que era o arrendatário, do


direito de arrendamento para a habitação se transmite em favor da pessoa que com
o arrendatário vivesse no locado em união de facto a mais de um ano. O
arrendamento habitacional decorrente de transmissão por morte em benefício do
membro da união de facto está, em regra, limitado, por natureza, a um período
máximo de cinco anos ainda que o falecido fosse titular de um direito de
arrendamento de duração indeterminada. (Sandra Cunha 2005: 146).

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1.5. A evolução do conceito de família

A família é uma das instituições fundamentais mais antigas da sociedade. É a família


que humaniza o ser humano, fazendo a ponte para o ser com os outros através da
demonstração do amor. A família forma-se através da união de facto, sem recurso a
um ato formal - o casamento. Segundo Coelho Guilherme e Oliveira Guilherme
(2011: 45) “União de facto distingue-se igualmente do concubinato duradouro por
mais longo que esse seja, embora haja ali, de alguma maneira comunhão de leito,
não há ali comunhão de mesa nem de coabitação”.

Só deve reconhece-la se concluir que a vida em comum garante estabilidade,


seriedade e singularidade próprias do casamento. A união de facto é por vezes
identificada com a convivência de duas pessoas em condições análogas às dos
cônjuges, noção que para ser adoptada, exige que se abstraia do requisito da
diversidade de sexo, que é condição da existência de um casamento. Por este
motivo, é preferível reconduzir a união de facto a uma coabitação, na tripula vertente
de comunhão de leito, mesa e habitação (Guilherme Oliveira 2001: 90).

1.6. Natureza do instituto da União de Facto

Como situação de facto que é, pressupões uma comunidade no tempo que a torna
relevante no meio social e que consequentemente, não pode ser ignorada pelo
direito.

Diz a autora, se é certo que a união de facto, a união não formalizada, foi desde os
primórdio da humanidade a forma de constituição da família natural, como vimos a
propósito da evolução histórica do instituto da casamento, também é verdade que,
nos séculos mais recentes, e graça a influência do cristianismo se procurou
favorecer o casamento como forma privilegiada e até única de constituição da
família. Segundo a professora Maria do Carmo Medina (2013:45) “união de facto
consiste na convivência sexual comum entre um homem e uma mulher como se de
marido e mulher se trata-se, sem a existência de um casamento formalizado.”

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1.7. Analogia entre a União de Facto e o Casamento

Uma breve retrospectiva do instituto do casamento mostra que, durante um longo


período de vida do homem, o casamento não se formalizava por qualquer acto
solene. Era o estabelecimento de vida em comum de forma plena entre um homem
e uma mulher, feito no propósito de fundar a família, que caracterizava o casamento.
No direito romano já se distinguia o simples concubinato do casamento, pela affectio
maritalis, elemento subjectivo que evidência o propósito comum de convivência
duradoura entre um homem e uma mulher.

Com a influência do cristianismo, o casamento passou a ser encarado como um


sacramento em que intervinha a vontade divina, o casamento revestia - se da forma
Canónica e era o ministro do culto que autorizava a celebração. Só numa época
mais recente, a partir do conselho do Tanto no século XVI, passou o sacerdote a
intervir na sua Celebração, sendo as questões relativas à validade do casamento, do
conhecimento das autoridades eclesiásticas.

Assim, podemos afirmar que o Direito de Família passou por uma longa e lenta
evolução, em função do próprio desenvolvimento da vida humana em sociedade e
das diferentes mudanças de costumes e de ideias verificadas através dos tempos.

A lei Angolana encara o casamento como uma “plena comunhão de vida, artigo 20.º
do CF exclusiva artigo 21.º CF e tendencialmente perpétua entre duas pessoas,
independentemente do seu sexo. A plena comunhão de vida é exercida em termos
igualitários e acarreta a vinculação recíproca aos deveres de respeito, fidelidade,
coabitação, cooperação e assistência. Contudo, assistimos à inexistência da
consagração de um mínimo de comunhão patrimonial no âmbito da união de facto,
apesar de nela também se desenrolar uma comunhão de mesa, leito e habitação em
condições análogas às dos cônjuges. Na união de facto tal como no casamento
celebrado em regime de separação de bens não será fácil haver uma absoluta
separação entre os patrimónios de cada um dos conviventes, acabando por haver
uma inevitável interpenetração patrimonial.

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1.8. Enquadramento Legal da União de Facto em Angola

O art.113. nº 2º do CF, refere-se a união de facto que não possa ser reconhecida por
falta de pressupostos legais, o que nos põem perante todas as situações que podem
ocorrer e em que existam efectivamente a vida marital comum entre homem e
mulher, mas ela não pode ser subsumida a presunção legal do n.1.º do mesmo
artigo, por falta de qualquer dos requisitos legais (tempo de duração, incapacidade
matrimonial, singularidade.) Segundo a professora Maria Medina (2013:89) “Nesta
situação estão todas as uniões de facto poligâmicas, ainda muito frequentes no país.
Fala-se aqui da união de facto que não pode ser reconhecida para distingui-la da
União de Facto que pode ser extinta”.

Mas é preciso ter em conta que ela, em rigor, pode ser reconhecida, não para
produzir efeitos que na sua plenitude produz a união de facto (n.º 1 do art.113.º),
mas apenas para produzir os efeitos restritos previstos na segunda parte do art.113.º
n.º 2, é ainda o efeito presunção da paternidade do companheiro relativamente aos
filhos nascidos da União de Facto (art.º 168.º alínea b) do CF.

O art.º 168.º estabelece a presunção legal de que os filhos nascidos da companheira


são filhos do homem com quem ela vive nessa união, mesmo que a união não esteja
reconhecida. Aos filhos nascidos dessas uniões de facto estabelecidas entre os
respectivos pais atribui a lei esta presunção legal de paternidade, estando nesta
situação a maior parte da população em Angola.

Interessa agora destrinçar as previsões especificadas no citado n.º 2 do art. 113.º


que devem ser atendidas mesmo que a união de facto não preencha os requisitos
legais. O enriquecimento ilícito, nos termos legais da lei Civil corresponde ao
enriquecimento sem causa previstos nos art. 479.º a 482.º do CC. A sua verificação
depende das seguintes condições:

Condição de ordem económica; o enriquecimento do réu; o empobrecimento do


autor; Condições de ordem jurídica nexo de casualidade entre o enriquecimento e o
empobrecimento, ausência da causa, Ausência da acção apropriada.

Na vigência da união de facto podem ocorrer circunstância em que se produza o


enriquecimento sem causa de um dos companheiros, á causa do património ou das
prestações de serviços por parte do outro, feitos com o propósito de vida comum.

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1.9. TIPOS DE RECONHECIMENTOS DE UNIÃO DE FACTO

Reconhecimento por mútuo acordo

Diz a autora, o mútuo acordo é condição essencial ao reconhecimento, porque tem


de ser ambos a requerer a conversão de uma união livre num negócio jurídico que,
depois do reconhecimento vai produzir precisamente os efeitos que produz o acto de
Casamento. Teve-se em conta que tal modificação do estatuto jurídico dos
companheiros da união de facto em cônjuges releva da autonomia da vontade do
homem e da mulher. Por isso, a lei não permite que quem vive em união de facto
não reconhecida, seja obrigado a alterar a situação em que vive, para a converter
numa união cujos efeitos legais se equiparam ao casamento. Segundo Maria Medina
(2013:145) “O reconhecimento da união de facto pode ser por mútuo acordo dos
companheiros. Neste caso, tem que ser pedido individualmente pelos dois
intersectados (art.º 114.º a línea a) do CF mais simultaneamente, pois só os dois em
conjunto têm legitimidade para formular pedido”.

1.10. Reconhecimento por via judicial

Segundo a professora Medina (2013:234), “o aspecto de maior relevância trazida


pelo CF relativamente a este instituto é precisamente o de a união de facto poder vir
a ser reconhecida depois de ter cessado.” A cessação da união de facto pode dar-
se, tal como a dissolução do casamento, pela morte de um ou de ambos os
companheiros, e ainda pelo facto da ruptura da união. A ruptura é um acto voluntário
que será um acto unilateral se partir de um só dos companheiros, e será um acto
bilateral se resultar da vontade de ambos. O traço dominante da união de facto é o
de ela acertar na voluntariedade, e ser o resultado da vontade dos dois de
permanecerem do quadro da união não formalizada. Quando qualquer deles quiser
por termo a união de facto, esta terá o seu termo igualmente de forma desprovida de
formalismos.

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1.11. O reconhecimento da União de Facto

Têm legitimidade para intentar e prosseguir na acção de reconhecimento:


a) O interessado, ou o seu representante legal em caso de incapacidade;
b) Os herdeiros do interessado em caso de morte deste.

A legitimidade para a propositura da acção vem expressar no art. 123.º do CF e é


atribuída unicamente aos respectivos interessados ou aos seus herdeiros no caso
de morte destes.

Em caso de morte tem legitimidade para a propositura da acção o companheiro


sobrevivo ou seu representante legal quando ele for incapaz ou os herdeiros do
companheiro falecido- art. 123.º a línea a) e b) do CF:

Em caso de ruptura a acção pode ser proposta por qualquer dos companheiros da
união de facto, ou pelo respectivo representante legal, no caso de incapacidade art.
123.º do CF.

No caso de morte transmite-se aos herdeiros do companheiro falecido o direito de


acção, que irá permitir que se opere o reconhecimento posterior da união. Embora o
direito de família seja, no fundamental, como se disse, um direito de natureza
pessoal, a lei reconhece em certos caso excepcionais a transmissão do exercício do
direito em si, mas a do direito de acção que se irá repercutir na esfera jurídica dos
herdeiros do titular deste direito.

A lei salvaguarda não só o direito da propositura da acção por parte dos herdeiros
do interessado mais também o direito de estes prosseguirem na acção no caso de
vir a falecer o companheiro que propôs a acção ou contra quem a acção for
proposta. Ao contrario do que ocorre na acção de divórcio, a acção de
reconhecimento da união de facto não se estingue com a morte de qualquer das
partes, pois em ambos os casos os herdeiros do falecido pode prosseguir na acção.

1.10. Prazo de prositura da acção e formalismo processual no


código de família angolano

O art. 124.˚ do CF prevê que a acção do reconhecimento da união de facto deve ser
proposta dentro do prazo de dois anos, sob pena de caducidade, prazo este que é
do conhecimento oficioso do tribunal. Pode verificar-se que no CC se consagra, em

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regra, o prazo de dois anos para o exercício de determinados direitos de acção,
embora noutros caso seja até fixado o prazo de um ano, quando se entende, que há
que preservar com prevalência a situação jurídica anterior. No caso do
reconhecimento da união de facto, entendeu-se que se devia balizar o tempo dentro
do qual os interessados deveriam exercer a faculdade legal de propor ou não propor
a acção. Na verdade, a circunstância de a lei atribuir ao reconhecimento da união de
facto amplos e importantes efeitos impõe que os interessados venham a juízo com
certa presteza reivindicar os seus direitos para se poder definir os direitos do outro
companheiro e ainda os eventuais direitos de outros interessados. (Maria Medina
2013:144).

1.11. Efeito do reconhecimento da União de Facto em angola

Ainda na mesma linha de pensamento da autora, data do fim da união a cessação


das relações pessoais e matrimoniais dos companheiros, uma vez que essa termina
por simples acto de vontade de um ou de ambos. Não obstante, não é de mais
realçar o largo alcance da sentença que vier a reconhecer a união de facto que
tenha preenchido os pressupostos legais, uma vez que os efeitos dessa união são
equiparados por lei aos do Casamento dissolvido. Assim, se a União de Facto
terminou por morte de um dos companheiros os efeitos do reconhecimento são os
mesmos da dissolução do casamento por morte, art.126.º CF. Segundo Maria
Medina (2013, 244). “Uma vez provada a existência da união de facto que
preencheu os pressupostos legais, o Juiz deve reconhecer essa união, indicando,
tanto quanto possível, quando ela se iniciou e quando veio a terminar para, assim,
determinar o período em que ela produz efeitos, designadamente quanto a aquisição
de bens comuns, responsabilidade por dívidas, presunção legal de paternidade por
parte do companheiro dos filhos nascido da união”.

1.12. Efeito da União de Facto:

Possibilidade de benefício das medidas de protecção da convivência em economia


comum. Os membros da união de facto não protegida (ex, membro da união de facto
compostas por uma pessoa casada que esteja meramente separada de facto do seu

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cônjuge) podem invocar o regime da convivência em economia comum protegida, se
estiverem preenchidos os requisitos desta figura.
Aos membros das próprias uniões de facto protegidas assistem igual faculdade. É
certo que o regime da união de facto protegida é mais favorável do que o da
convivência em economia comum, mas pode haver um interesse atendível na
invocação da protecção própria do último instituto.
Repercussões da união de facto no domínio da filiação biológica. Constituída a
filiação relativamente a ambos os progenitores unidos de facto, responsabilidades
parentais serão plenamente exercidas pelos dois, e em caso de dissolução da união
de facto por morte, o poder paternal pertencerá ao companheiro sobrevivo. Havendo
dissolução por ruptura, aplica-se as regras sobre o exercício das responsabilidades
paternais no caso de divórcio.

A regra da subordinação ao regime comum (não matrimonial). As disposições legais


sobre o efeito do casamento não se aplicam em bloco a união de facto. À aplicação
em bloco opõe-se, por um lado, o direito de celebrar casamento, na vertente
negativa de direito de não casar, e, por outro lado, o principio deque a um acto com
efeitos profundos numa esfera jurídica deve estar associada uma forma que permita
á pessoa interessada reflectir sobre a decisão de que vai tomar.

O direito de não casar impede que se trate uma pessoa que não contraiu matrimónio
como se estivesse casada. O carácter informal da constituição da união de facto não
é suficiente para desencadear todas as consequências de um casamento. O
casamento é celebrado solenemente perante um funcionário do Registo Civil ou
perante um sacerdote e é precedido por um processo, o processo preliminar de
casamento, que se inicia com um documento em que os nubentes declaram
pretender casar. A dissolução por qualquer membro da união de facto, mas é pouco
verosímil que um dos membros deste célebre casamento com outra pessoa sem que
previamente tenha manifestado a vontade de romper a relação . (Guilherme Oliveira
2001:213).

Extinta a relação, há que proceder á liquidação e partilha do património do casal,


que pode suscitar dificuldades, sobretudo, quando a vida em comum durar muito
tempo, havendo então, frequentemente bens adquiridos pelos membros da união de
facto, dívidas contraídas por um ou por ambos, conta bancaria em nome dos dois,
confusão dos bens móveis de um e de outro.

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O mesmo diz que, o princípio do enriquecimento sem causa é frequentemente
invocado na jurisprudência que entendem que, a liquidação e partilha do património
adquirido pelo esforço comum se podem fazer a sequência de acção judicial de
dissolução da união de facto, por dependência desta acção, ou em acção declarativa
de condenação em que o membro da união de facto que se considere empobrecido
relativamente aos bens em cuja aquisição participou peça a condenação do outro e
reembolsa-lo com fundamento no enriquecimento sem causa, provando que há um
proprietário comum resultante da união de facto vivida entre um e outro. As causas
de cessação da união de facto protegida: a morte de um dos membros, a ruptura por
vontade de um dos membros ou por vontade de ambos os companheiros; e o
casamento de um dos unidos de facto com outro ou com terceiro. Uma quarta causa
possível é a reconciliação de um membro da união de facto casado, separado de
pessoa e bens, com o respectivo conjugue. A reconciliação põe fim a separação de
pessoas e bens, implicando o restabelecimento da vida em comum entre os
contraentes do casamento e de todas as situações jurídicas conjugais, o que é
incompatível com a subsistência da união de facto protegida. Para a dissolução da
união de facto por ruptura, basta a manifestação de vontade de um dos seus
membros, sem que se exija intervenção estatal ou especial formalismo. Para Coelho
Guilherme (2001:243) “Com a morte de um membro da união de facto, cabem ao
outro os seguintes benefícios: direito a alimentos e a prestação por morte; direito
real de habitação sobre a casa de morada comum, e direito de preferência na sua
venda, ou direito ao arrendamento habitacional”.

No primeiro caso o membro vivo da união de facto protegida que careça de


alimentos e não possa obtê-los do conjugue separado de pessoas e bens, do ex-
cônjuge, dos parentes na linha recta e dos irmãos, pode exigir alimentos da herança
do companheiro falecido. Este crédito de alimentos perante a herança extingue-se
se não for exercido nos dois anos subsequentes á data da morte do autor da
sucessão. O direito a alimentos cessa ainda se o alimentado contrair casamento ou
se tornar indigno do benefício pelo seu comportamento moral.

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1.13. OS direito sobre a casa da morada partecente ao companheiro

falecido

Em caso de morte do membro da união de facto proprietário da casa da morada


comum, quando ao falecido não sobrevivam descendentes com menos de um ano
de idade ou que com ele convivessem há mais de um ano e pretendam habitar a
casa, o membro sobrevivo goza de direito real de habitação, pelo prazo de cinco
anos, sobre a casa de morada comum, e direito de preferência na sua venda,
também pelo mesmo prazo. Os direitos não serão atribuídos ao companheiro
sobrevivo se o de cuius tiver feito disposição testamentária em contrário. Em caso de
morte do membro da união de facto protegida que era o arrendatário, do direito de
arrendamento para a habitação se transmite em favor da pessoa que com o
arrendatário vivesse no locado em união de facto a mais de um ano. O
arrendamento habitacional decorrente de transmissão por morte em benefício do
membro da união de facto está, em regra, limitado, por natureza, a um período
máximo de cinco anos ainda que o falecido fosse titular de um direito de
arrendamento de duração indeterminada. (Guilherme Oliveira 2002 :146).

1.14. CARACTERIZAÇÃO DA ÀREA DE ESTUDO


O trabalho desenvolve-se no âmbito do Direito de Família especificamente trata
sobre a união de facto em Angola.

Este trabalho, foi desenvolvido na província de Luanda, fundada por Paulo Dias, De
Novais, em 25 de Janeiro de 1575, na sequência da chegada a região de uma
armada de Lisboa que transportava várias centenas de homens entre eles soldados,
mercadores e missionários.

A cidade de Luanda que também é a capital do pais, tem 9 municípios, dos quais o
estudo centrou-se no município de, Cacuaco com o fim de analisar o estado da
união de facto em que várias famílias vivem. Cacuaco é uma vila e município situado
a Norte da província de Luanda em Angola, com área de 571 km 2. Limita a Sul com
os municípios de Viana e Cazenga, a Oeste com o Oceano Atlântico e município de
Sambizanga e a Norte e a Leste com o município do Dande, na província do Bengo.
Tem três comunas Cacuaco, Kicolo e. Funda.

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2.1. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados

Foram utilizadas bibliografias relativas a esta temática, legislações, documentos,


diplomas devidamente seleccionados que serviram para a colecta de dados.
Elaborou-se resumos, fichas de conteúdo, sínteses, Efectuou-se uma leitura
primeiramente exploratória com a finalidade apenas de reconhecimento, para saber
se o material bibliográfico serviria para a realização do trabalho, logo se fez uma
leitura selectiva, em que a selecção do material bibliográfico foi avaliado mais
profundamente, considerando os objectivos da pesquisa, a fim de descartar o
material sem contribuição para a solução do problema proposto, por último com a
análise do material iniciou-se a leitura interpretativa, pela qual, sendo de forma mais
complexa e difícil, se seleccionou exactamente o que contribuiria para solucionar o
problema proposto. Também foi muito positivo a aplicação do questionário aos
moradores do bairro, suas respostas foram de importância para alcançar os
resultados.

2.2. Processamento de dados

Utilizou-se para o processamento dos dados o programa Software Microsoft Office


(Word).

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VIII. BIBLIOGRAFIA
 ANGOLA. Código. (1988). Lei nº 1/88, Código da Família: aprovada em 28 de
Outubro de 1987.
 ANGOLA. Constituição. (2010). Constituição da República de Angola:
promulgada em 5 de Fevereiro de 2010.
 ANGOLA. Decreto Presidencial. (2015). Decreto Presidencial n.º 36/15
Regulamento do reconhecimento da união de facto por mútua acordo e
dissolução da união de facto reconhecida: promulgada em 30 de Janeiro de 2015.

 ANDRADE, Maria Margarida. Introdução à Metodologia do trabalho Científico,


6ª Ed. Editora Atlas, São Paulo, 2003.
 ARTHUR, M.J. Lei de Família, activistas e a cidadania das mulheres. In:
Outras Vozes, nº 1. 2002.
 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Do concubinato ao casamento de facto. 2. Ed.
Belém: CEJUP, 1987.
 CAMPOS, Diogo Leite. Lições de Direito da Família e das Sucessões. 2.ᵃ ed.
Almedina. 2012.
 CAMPOS Diogo Leite de; CAMPOS, Mónica Martinez de. Lições de Direito da
Família, Reimp. 3.ª ed., Almedina, Coimbra, 2017.
 CID, Nuno de Salter. A comunhão de vida à margem do casamento: entre o
facto e o direito. Almedina, Coimbra, 2005.
 CUNHA, Sandra. Todos juntos para sempre. Representações e expectativas
sobre a família e a adopção em crianças e jovens institucionalizados. Tese de
Licenciatura. ISCTE. Portugal, 2005.
 COELHO, F; Guilherme. Direito da Família- Introdução ao direito Matrimonial.
vol. I, 4.ᵃ ed. Coimbra Editora, 2011.
 DIAS, Cristina M. Araújo. Dos Regimes da Responsabilidade por Dívidas dos
Conjugues. Problemas, Críticas e Sugestões. Coimbra Editora, 2009.
 MARCONI, Maria de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa, 5ª
Ed., Editora Atlas, São Paulo, 2002.
 MEDINA, Maria do Carmo. Direito Infanto Juvenil. Faculdade de Direito,
Universidade Agostinho Neto. Unicef 2010, 2013.
 NETO, Abílio. Código Civil Anotado. Edições Jurídicas. 2013.

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 OLIVEIRA, Guilherme. Temas de Direito de Família. 2.ᵃ ed. Aumentada, Vol. II.
Coimbra Editora, 2001.
 PINHEIRO Jorge Duarte. Direito de Família Contemporâneo. 2.ᵃ Ed. Lisboa,
2009.
 PITÃO, António França. União de facto no direito português. Almedina,
Coimbra, 2000.
 PRATA, Ana, Jorge Carvalho. Dicionário Jurídico. Vol. I, 5.ᵃ ed. Almedina,
Coimbra, 2013.
 SANTOS, Eduardo. Direito de Família. Almedina-Coimbra, 2.ᵃ ed. 1999.
 TARTUCE, Flávio. Direito civil. v. 5: Direito de Família. 9. ed. Rev., actual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo, 2014.
 VARELA, Antunes. Direito da Família. Vol.I, 5 ed. Petrony, LDA. 1999.

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