Você está na página 1de 82

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATOLICA DO PARANÁ

ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL


SOBRE A TEMPORALIDADE PARA O RECONHECIMENTO DA
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA

CURITIBA
2023
DANIELA LEMOS DA CRUZ

ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL


SOBRE A TEMPORALIDADE PARA O RECONHECIMENTO DA
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA

Trabalho apresentado ao curso de Direito da


Pontifícia Universidade Católica do Paraná
como requisito final para a obtenção do título
de Bacharel em Direito.

Orientador(a): Prof. André Parmo Folloni

CURITIBA
2023
SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................4
ABSTRACT.............................................................................................................5
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 6
1.1 JUSTIFICATIVA..............................................................................................12
2 PATERNIDADE SÓCIO AFETIVA: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS....................16
2.1 HISTÓRICO.....................................................................................................18
2.2 LEGISLAÇÃO..................................................................................................28
3 DECORRÊNCIAS DA PATERNIDADE SÓCIO AFETIVA..................................35
3.1 REGISTRO......................................................................................................42
3.2 SUCESSÃO.....................................................................................................46
3.3 ALIMENTOS....................................................................................................49
4 ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DO TJ/RS.............................................................54
4.1 DECISÕES......................................................................................................56
4.2 CRITÉRIOS VARIADOS..................................................................................65
4.3 CRITÉRIO DE TEMPO....................................................................................68
5 CONCLUSÃO.................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 79
RESUMO

No refinado estudo foi perscrutada a evolução jurisprudencial daquela veneranda


Corte acerca das nuances do reconhecimento da paternidade socioafetiva, tendo
como epicentro o critério da temporalidade. No alvorecer do estudo, a paternidade
socioafetiva foi contextualizada como um conceito jurídico emergente,
amalgamando não somente os laços biológicos, mas sobretudo os laços afetivos.
Os objetivos, ao serem meticulosamente delineados, foram impreterivelmente
atingidos, sendo eles a elucidação do conceito, a averiguação da aplicação tanto
para pais quanto para mães, a eventual alteração no registro de nascimento, os
direitos subsequentes e, enfim, a relação com o dever alimentício. Na senda
metodológica, optou-se pela revisão bibliográfica, primando-se pelo escrutínio de
doutrinas e decisões jurisprudenciais, abstendo-se deliberadamente de um estudo
de caso. Os resultados obtidos revelaram um Tribunal imerso em debates
profundos, adotando um entendimento que transita entre a rigidez e a
flexibilidade. Concluiu-se que, ainda que ancorado em uma metodologia
desprovida de estudo de caso, o trabalho vertido permitiu um panorama
elucidativo sobre as concepções e aplicações jurisprudenciais no âmbito da
paternidade socioafetiva no Rio Grande do Sul.

Palavras-chave: Paternidade socioafetiva; Tribunal de Justiça do Rio Grande do


Sul; Temporalidade; Jurisprudência; Direito de Família.
ABSTRACT

In the refined study entitled "Understanding of the Court of Justice of Rio Grande
do Sul on Temporality for the Recognition of Socio-Affective Paternity", the
jurisprudential evolution of that venerable Court regarding the nuances of
recognizing socio-affective paternity was examined, having as its epicenter the
criterion of temporality. At the dawn of the study, socio-affective paternity was
contextualized as an emerging legal concept, amalgamating not only biological
ties, but above all emotional ties. The objectives, when meticulously outlined, were
inevitably achieved, namely the elucidation of the concept, the investigation of its
application for both fathers and mothers, the eventual change in the birth
registration, the subsequent rights and, finally, the relationship with the food duty.
In the methodological path, we opted for a bibliographical review, focusing on the
scrutiny of doctrines and jurisprudential decisions, deliberately refraining from a
case study. The results obtained revealed a Court immersed in deep debates,
adopting an understanding that moves between rigidity and flexibility. It was
concluded that, although anchored in a methodology devoid of case studies, the
work provided provided an enlightening overview of the jurisprudential conceptions
and applications within the scope of socio-affective fatherhood in Rio Grande do
Sul.

Keywords: Socio-affective fatherhood; Court of Justice of Rio Grande do Sul;


Temporality; Jurisprudence; Family right.
6

1 INTRODUÇÃO

No contexto sociojurídicas contemporâneo, o conceito de paternidade


socioafetiva tem merecido significativa atenção devido ao seu impacto nos direitos
e deveres decorrentes das relações familiares. O reconhecimento da paternidade
socioafetiva é essencial para garantir a proteção e o bem-estar das crianças e
adolescentes, bem como para promover a igualdade de tratamento entre os
descendentes biológicos e afetivos. Portanto, é imprescindível que o Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul possua um entendimento claro e consistente sobre
a temporalidade necessária ao reconhecimento desta forma de paternidade para
evitar injustiças e garantir a segurança jurídica das partes envolvidas.
Ao longo dos anos, a interpretação do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul sobre a dimensão temporal necessária para o reconhecimento da
paternidade socioafetiva evoluiu. Inicialmente, acreditava-se que era necessária
uma convivência prolongada e contínua entre pais e filhos para estabelecer a
existência de vínculos afetivos sólidos. No entanto, esta visão restritiva não
conseguiu abranger as situações da vida real vividas pelas famílias
contemporâneas.
Atualmente, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul utiliza critérios
mais flexíveis para apurar a temporalidade necessária ao reconhecimento da
paternidade socioafetiva. Além da convivência sustentada, são considerados
outros elementos como a formação de vínculos afetivos sólidos e a manifestação
pública de afeto entre pais e filhos. Esta abordagem mais ampla permite uma
análise mais adequada das relações familiares, tendo em conta a diversidade de
configurações familiares presentes na sociedade moderna.
Os desdobramentos jurídicos do reconhecimento da paternidade
socioafetiva são de extrema importância para a garantia dos direitos das crianças
e dos adolescentes. Uma implicação primária é a obrigação alimentar, que visa
garantir o sustento e o bem-estar da prole. O reconhecimento da paternidade
socioafetiva acarreta a responsabilidade de prestar apoio, conforme estipula a
legislação brasileira. Assim, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
desempenha papel crucial no exame dos casos de reconhecimento de
7

paternidade socioafetiva e na determinação da obrigação alimentar


correspondente.
Contudo, é importante ressaltar que o Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul enfrenta desafios significativos na análise de casos de reconhecimento de
paternidade socioafetiva. A subjetividade envolvida nessas avaliações pode
dificultar a tomada de decisões, uma vez que não existem critérios objetivos para
mensurar o afeto e os vínculos familiares. Além disso, há casos em que as partes
envolvidas podem ter interesses conflitantes ou apresentar relatos divergentes
sobre a relação afetiva estabelecida.
A postura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre a exigência
temporal para o reconhecimento da paternidade socioafetiva também tem sido
alvo de críticas e polêmicas. Alguns juristas argumentam que a exigência de
coabitação prolongada e contínua pode ser excessivamente restritiva, excluindo
situações em que os vínculos afetivos são intensos, mas não se enquadram neste
critério temporal. Por outro lado, defende-se a necessidade de estabelecer limites
claros para prevenir abusos e garantir segurança jurídica.
Dadas as transformações sociais e familiares observadas nas últimas
décadas, podem-se vislumbrar perspectivas futuras quanto à interpretação do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre a temporalidade necessária ao
reconhecimento da paternidade socioafetiva. A evolução da sociedade e das
relações familiares exige uma análise mais flexível e abrangente deste tipo de
paternidade, considerando as particularidades de cada caso. Nesse sentido,
espera-se que o Tribunal continue acompanhando as mudanças sociais e
adaptando seu entendimento para garantir a proteção dos direitos das crianças e
dos adolescentes.
Dando continuidade ao discurso anterior, é fundamental considerar a
trajetória da paternidade socioafetiva no âmbito legal. À medida que as estruturas
familiares se tornam mais variadas e complexas, a necessidade de um sistema
jurídico que acomode estas mudanças é inegável. O reconhecimento da
paternidade socioafetiva não só desafia os conceitos tradicionais de família, mas
também necessita de uma reavaliação das leis existentes para refletir a evolução
das noções de responsabilidade parental e de bem-estar infantil.
8

Os meandros jurídicos que envolvem a paternidade socioafetiva, incluindo


os direitos e deveres que ela confere, exigem um exame minucioso. O imposto
alimentar, por exemplo, levanta questões sobre a extensão da responsabilidade
financeira e a sua interação com as obrigações dos pais biológicos. O Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, em suas deliberações, deve equilibrar os princípios
jurídicos com as realidades emocionais e práticas dessas relações. A
jurisprudência indica uma tendência ao reconhecimento da substancialidade do
vínculo socioafetivo ao longo da mera passagem do tempo, o que poderia marcar
uma mudança significativa na determinação dos direitos e obrigações familiares.
Além disso, a influência da relação socioafetiva nos direitos de herança
surge como uma questão controversa que os tribunais devem abordar com
sensibilidade. Os direitos sucessórios envolvem inerentemente o reconhecimento
de uma pessoa como herdeiro legítimo, o que, nos casos de paternidade
socioafetiva, vai além da linhagem biológica. As decisões do Tribunal neste
âmbito têm o potencial de abrir precedentes que podem solidificar ou minar a
legitimidade dos laços socioafetivos aos olhos da lei.
O potencial para avanços legislativos também surge no horizonte, com
propostas e debates em torno da codificação da paternidade socioafetiva
ganhando força. A ausência de orientação legislativa explícita deixa um vazio
muitas vezes preenchido pela discricionariedade judicial, sublinhando a
importância de uma jurisprudência informada e equitativa. À medida que a
comunidade jurídica se debate com estes desenvolvimentos, as interpretações e
decisões do Tribunal influenciarão, sem dúvida, futuros esforços legislativos.
Ou seja, os fundamentos teóricos da paternidade socioafetiva no domínio
jurídico sublinham o delicado equilíbrio entre o direito e as construções sociais da
família. As interpretações e decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
não apenas refletem, mas também moldam a compreensão da sociedade sobre o
que constitui uma relação entre pais e filhos. Esta interação dinâmica entre o
direito e a sociedade garante que, à medida que os paradigmas familiares
evoluem, também evoluirá o reconhecimento legal e a proteção das diversas
formas de família que caracterizam a paisagem contemporânea.
Este projeto tem como objetivo aprofundar o entendimento do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS) sobre o prazo necessário para o
9

reconhecimento da paternidade socioafetiva e a consequente obrigação de


pensão alimentícia. A pesquisa depende da demarcação do tempo necessário
que sustenta a aceitação da paternidade socioafetiva, uma forma de filiação que
transcende os laços genéticos e está enraizada nos laços de afeto e cuidado.
No panorama sociojurídicas contemporâneo, o conceito de paternidade
socioafetiva ganha uma importância sem precedentes, redesenhando as
fronteiras familiares para além das meras ligações biológicas. Essa forma de
paternidade está alicerçada no afeto, no compromisso e na presença sustentada,
aspectos que, segundo a jurisprudência progressista do TJ/RS, podem
estabelecer obrigações análogas às decorrentes de uma ligação biológica, como
a prestação de alimentos e direitos sucessórios.
A evolução jurisprudencial do TJ/RS significa uma mudança do foco na
duração da convivência para a qualidade do vínculo afetivo, refletindo uma
adaptação aos novos arranjos familiares. A pesquisa visa esmiuçar como o tempo
de convivência e a qualidade do relacionamento afetivo são ponderados pelo
TJ/RS na atribuição de direitos e deveres, especialmente no que diz respeito à
obrigação alimentar, que surge como uma responsabilidade material do pai
socioafetivo para com a criança ou adolescente.
Confrontado com a subjetividade inerente às relações familiares, o
tribunal enfrenta o desafio de quantificar os afetos para reconhecer direitos e
deveres jurídicos. O discernimento da temporalidade assume assim uma
complexidade única, suscitando críticas e controvérsias que esta investigação
procura explorar e compreender.
O estudo centra-se na questão seguinte: como o TJ/RS interpreta o
tempo necessário para o estabelecimento da paternidade socioafetiva legítima e
suas consequências jurídicas, especificamente no que diz respeito à obrigação de
prestação de pensão alimentícia? Portanto, a pesquisa buscará fomentar o
diálogo entre a teoria e a prática jurídica, contribuindo para a formação de uma
compreensão mais equitativa e para o avanço da justiça nas relações afetivas
familiares.
A fundamentação teórica para um projeto que explore o entendimento do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre a exigência temporal para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva envolveria o exame dos atuais
10

marcos legais, das interpretações judiciais e do discurso acadêmico sobre o


assunto.
A paternidade socioafetiva transcende os limites dos vínculos biológicos,
pois se baseia nos vínculos afetivos e no compromisso intencional com a
educação do filho. O reconhecimento legal desta forma de paternidade tem
implicações significativas, não só alterando o registo de nascimento para refletir a
relação socioafetiva, mas também impactando os direitos de herança e a
obrigação de fornecer apoio financeiro. Os critérios do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul para tal reconhecimento incluem a duração e a qualidade do
relacionamento, o reconhecimento público do vínculo e a prestação de apoio
emocional e financeiro, demonstrando uma mudança de exigências temporais
rigorosas para uma visão mais holística da relação pai-filho.
Ao considerar o imposto alimentar, o Tribunal também delibera se a
responsabilidade financeira do progenitor socioafetivo deve ocorrer
independentemente independente das contribuições do progenitor biológico. Esta
consideração reflete uma tendência judicial mais ampla no sentido de reconhecer
a natureza dos papéis e responsabilidades parentais. As nuances jurídicas da
paternidade socioafetiva, incluindo o potencial para obrigações alimentares duplas
e os direitos à sucessão, destacam a posição evolutiva do Tribunal sobre a
dinâmica familiar.
A ausência de legislação específica sobre paternidade socioafetiva em
algumas jurisdições tem levado a interpretações diversas por parte dos tribunais,
sublinhando a importância de examinar as doutrinas jurídicas prevalecentes e
potenciais propostas legislativas que procurem abordar e clarificar os critérios de
reconhecimento da paternidade socioafetiva. O Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, em particular, tem estado na vanguarda ao empregar uma abordagem
mais matizada, considerando a profundidade do vínculo socioafetivo em vez de
confiar apenas na duração da coabitação.
A questão-chave que norteia esta pesquisa é a abordagem do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul sobre o aspecto temporal do reconhecimento da
paternidade socioafetiva. Ao analisar os critérios utilizados pelo Tribunal, a
investigação visa oferecer insights sobre os processos judiciais que navegam nas
11

complexidades das estruturas familiares modernas e no reconhecimento legal dos


laços afetivos como fundamentais para as responsabilidades parentais.
Levanta-se a hipótese de que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
(TJ/RS) adota um entendimento flexível quanto à temporalidade necessária ao
reconhecimento da paternidade socioafetiva, considerando fatores qualitativos
para além da mera duração da convivência. O reconhecimento do vínculo
socioafetivo poderá acarretar consequências jurídicas específicas, incluindo
alterações nos registros de nascimento e a imposição do dever de apoio
alimentar.
Esta hipótese sugere que a abordagem do Tribunal adapta-se
progressivamente às realidades complexas das relações familiares
contemporâneas, reconhecendo a profundidade e a substância dos laços afetivos
em detrimento dos critérios tradicionais baseados no tempo. Consequentemente,
prevê-se que as implicações legais de tal reconhecimento reforcem as
responsabilidades socioafetivas dos pais, paralelamente às dos pais biológicos,
garantindo assim o bem-estar e os direitos da criança dentro destas estruturas
familiares em evolução.
A metodologia deste estudo, será sustentada por uma ampla revisão de
literatura, abrangendo diversas etapas estruturadas. Inicialmente, a revisão
doutrinária implicará uma exploração dos principais textos jurídicos que discutem
a paternidade socioafetiva para compreender a sua evolução conceitual e
dimensões atuais. Seguir-se-á uma rigorosa análise da jurisprudência,
escrutinando decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul pertinentes à
paternidade socioafetiva, com ênfase no aspecto temporal e nos critérios
empregados para o seu reconhecimento.
Posteriormente, será realizado um exame comparativo com outros
tribunais estaduais e superiores para avaliar como as interpretações do Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul se alinham ou divergem de perspectivas judiciais
mais amplas. O culminar desta investigação envolverá a síntese dos dados
recolhidos em relação aos objetivos específicos propostos, conduzindo a uma
conclusão que resume o entendimento do Tribunal sobre a paternidade
socioafetiva.
12

1.1 JUSTIFICATIVA

A justificativa para aprofundar o tema da paternidade socioafetiva e seu


reconhecimento pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul gira em torno do
entendimento matizado de que a parentalidade vai além dos laços biológicos,
abrangendo os profundos laços emocionais e sociais que podem se formar entre
uma criança e um indivíduo. A dimensão temporal, aspecto central deste
reconhecimento, exige uma análise aprofundada pelo seu impacto direto na
obrigação alimentar subsequente, sublinhando a necessidade de equilibrar os
interesses da criança com as responsabilidades do progenitor socioafetivo.
Este estudo visa elucidar a evolução interpretativa do Tribunal e a sua
posição atual sobre o limiar temporal necessário para estabelecer tal paternidade,
matéria que continua a ser fundamental para garantir o bem-estar e a segurança
jurídica da criança. Ao examinar os critérios aplicados e a jurisprudência que
emergiu, esta pesquisa contribuirá para um quadro jurídico mais refinado e
principiológico, que aborde as complexidades inerentes à definição e salvaguarda
da estrutura familiar na sociedade brasileira contemporânea.
A exigência de explorar os princípios e raciocínios judiciais aplicados pelo
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em casos de paternidade socioafetiva é
sublinhada pela crescente prevalência de tais reivindicações e pelas profundas
implicações que elas têm para as estruturas familiares na jurisprudência
brasileira. À medida que o paradigma jurídico muda para abraçar definições de
família mais inclusivas, baseadas não apenas em ligações genéticas, mas
também na presença de ligações emocionais duradouras e significativas, o poder
judicial é obrigado a lidar com a questão da necessidade temporal. Esta
necessidade diz respeito não só à duração da relação entre pais e filhos, mas
também à qualidade e profundidade do vínculo emocional, que pode estabelecer
um direito legítimo à paternidade.
13

Assim, analisam-se os critérios temporais que o Tribunal tem utilizado,


reconhecendo que o aspecto temporal não é apenas uma medida de tempo, mas
também um indicador do compromisso e intenção do progenitor socioafetivo. As
interpretações do Tribunal sobre estes requisitos temporais têm repercussões
significativas, pois estão ligadas ao cumprimento das obrigações alimentares –
dever legal de prestar apoio financeiro que decorre da relação parental
reconhecida.
Além disso, o reconhecimento da paternidade socioafetiva traz consigo
implicações para os direitos de herança e para o estatuto jurídico geral da criança
dentro da unidade familiar. A necessidade de proporcionar às crianças os
mesmos direitos e proteções, independentemente da natureza da sua
ascendência, é um princípio orientador que sublinha a importância desta
investigação.
A falta de orientações legislativas explícitas sobre o aspecto temporal da
paternidade socioafetiva sublinha a necessidade desta investigação, com o
objetivo de fornecer um enquadramento mais claro tanto para os profissionais do
direito como para as famílias. Ao analisar as decisões do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, este estudo tentará identificar quaisquer padrões ou princípios
emergentes que possam servir de referência para casos futuros. Prevê-se que os
resultados iluminem as complexidades e nuances desta área do direito,
oferecendo insights valiosos sobre a evolução da paternidade socioafetiva na
doutrina jurídica brasileira e sua aplicação prática nos tribunais.
A justificativa para este estudo reside na evolução do reconhecimento
jurídico das relações parentais não biológicas no ordenamento jurídico brasileiro.
O crescente reconhecimento da paternidade socioafetiva reflete mudanças sociais
na compreensão dos laços familiares, obrigando os tribunais a estabelecer
critérios definitivos para o seu reconhecimento. No contexto do Rio Grande do
Sul, é evidente a necessidade de compreensão dos padrões aplicados pelo
Tribunal de Justiça, principalmente no que diz respeito ao aspecto temporal
exigido para tal reconhecimento.
A importância do reconhecimento da paternidade socioafetiva no âmbito
jurídico e social promana do imperativo de assegurar os direitos e obrigações
decorrentes desta filiação. Caracterizada pelo estabelecimento de vínculos
14

afetivos entre um indivíduo e uma criança com a qual não existem laços
biológicos, mas que assume o papel parental, o reconhecimento desta forma de
parentalidade é essencial para a plena proteção dos direitos da criança, bem
como para promovendo estabilidade emocional e desenvolvimento saudável. Ao
longo do tempo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem demonstrado
uma progressão na sua interpretação sobre a temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva, transitando da noção de que é
necessário um longo período de convivência para um entendimento mais
matizado que considera a profundidade e a qualidade dos vínculos afetivos
formados.
Tais questões jurídicas que surgem do reconhecimento dos vínculos
afetivos na parentalidade, requerem a análise dos critérios utilizados pelo Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul para determinar a temporalidade necessária ao
reconhecimento da paternidade socioafetiva. As considerações vão além da
duração da coabitação e incluem a participação ativa na vida quotidiana da
criança, a prestação de cuidados e proteção, bem como a expressão pública
inequívoca da intenção de assumir um papel parental. Esses critérios visam
garantir que o reconhecimento da paternidade socioafetiva esteja pautado em um
relacionamento robusto e duradouro, proporcionando segurança emocional e
afetiva à criança.
As consequências jurídicas do reconhecimento da paternidade
socioafetiva são significativas e merecem análise minuciosa por parte do Poder
Judiciário. Dentre essas consequências, destaca-se a obrigação alimentar, que
implica a responsabilidade do genitor socioafetivo em prover as necessidades
materiais do filho. Além disso, o reconhecimento confere à criança direitos de
herança, salvaguardando os seus interesses patrimoniais. Portanto, é imperativo
que o Tribunal de Justiça avalie cuidadosamente cada caso, considerando os
interesses das partes envolvidas e os direitos fundamentais da criança.
Contudo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul enfrenta desafios
notáveis no julgamento de casos de paternidade socioafetiva, incluindo a
ausência de legislação específica sobre o assunto, o que pode gerar insegurança
jurídica e impedir tomadas de decisão consistentes. Além disso, há necessidade
de conciliar interesses diversos, como os direitos dos pais biológicos e as
15

necessidades emocionais e afetivas das crianças envolvidas. Assim, é crucial que


o Tribunal desenvolva critérios claros e objetivos para estas análises, a fim de
garantir julgamentos justos e equilibrados.
A postura do Tribunal sobre a temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva tem sido alvo de críticas e polêmicas.
Alguns argumentam que o tempo de convivência é insuficiente para determinar a
presença de vínculos afetivos sólidos e defendem um exame mais amplo das
circunstâncias. Por outro lado, outros sustentam que o tempo é um fator decisivo
no estabelecimento desses vínculos, enfatizando a importância da estabilidade
emocional e da segurança jurídica.
Para ampliar a compreensão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
sobre a temporalidade necessária ao reconhecimento da paternidade
socioafetiva, justifica-se a consideração de diversas soluções ou propostas. Uma
abordagem envolve a análise de jurisprudência de outros tribunais, buscando
referenciais e experiências que possam contribuir para um processo de tomada
de decisão mais fundamentado. Além disso, é importante fomentar debates e
discussões sobre o tema, envolvendo especialistas e profissionais do direito, com
o objetivo de desenvolver um entendimento mais consensual baseado em
princípios constitucionais e direitos fundamentais. A segurança jurídica também
deve ser considerada como um fator significativo nesta equação, garantindo que
os resultados sejam transparentes, previsíveis e consistentes.
Este estudo é essencial para compreender a evolução jurisprudencial
num assunto de tamanha relevância e contemporaneidade. A compreensão do
posicionamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul proporcionará
clareza jurídica às partes envolvidas nas disputas relativas à paternidade
socioafetiva e orientará advogados e juízes na tomada de decisões neste âmbito.
16

2 PATERNIDADE SÓCIO AFETIVA: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

A paternidade socioafetiva é um conceito que se refere à relação de afeto


e cuidado estabelecida entre um indivíduo e uma criança, independentemente dos
laços biológicos. Essa forma de paternidade reconhece a importância do vínculo
emocional e do papel desempenhado pelo pai ou figura paterna na formação da
identidade e no desenvolvimento psicossocial da criança. No contexto familiar, a
paternidade socioafetiva contribui para a construção de relações saudáveis e para
o fortalecimento dos laços familiares, promovendo o bem-estar e a felicidade de
todos os envolvidos. Além disso, no âmbito social, a valorização da paternidade
socioafetiva contribui para a desconstrução de estereótipos de gênero e para a
promoção da igualdade de direitos (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
Pode ser definida ainda como um fenômeno jurídico em crescente
reconhecimento no cenário legal contemporâneo, constitui-se enquanto uma
forma de vínculo parental não consanguíneo, cuja legitimação provém dos laços
afetivos e sociais estabelecidos entre o progenitor e a prole. Neste sentido, ela se
distancia das tradicionais concepções de paternidade, fundamentadas
primordialmente nas relações biológicas, para abraçar uma perspectiva mais
inclusiva e alinhada com as dinâmicas familiares modernas. Segundo o
entendimento de diversos juristas e doutrinadores, a paternidade socioafetiva
sobrepõe-se aos aspectos genéticos, valorizando as relações construídas na
convivência diária e no afeto recíproco (WELTER, 2009).
As características intrínsecas à paternidade socioafetiva residem,
portanto, na prevalência do afeto e na responsabilidade compartilhada na criação
e educação da criança ou adolescente, independentemente dos laços
17

sanguíneos. A jurisprudência brasileira, consolidada a partir de decisões


emblemáticas do Superior Tribunal de Justiça, tem conferido validade jurídica a
este tipo de vínculo parental, ressaltando a importância do bem-estar da prole e
do reconhecimento das relações afetivas como elemento central na constituição
da parentalidade (VALADARES & FERREIRA, 2016).
Ademais, a paternidade socioafetiva consagra-se como um instrumento
de efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, em
conformidade com o princípio do melhor interesse da criança, preconizado pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Constituição Federal Brasileira.
Destarte, a proteção à dignidade e ao direito ao desenvolvimento integral da prole
emerge como um imperativo legal, impondo-se sobre eventuais argumentos
contrários pautados na ausência de vinculação biológica (COUTO, 2017).
A necessidade de uma regulamentação específica e criteriosa sobre a
paternidade socioafetiva impõe-se como um desafio para o ordenamento jurídico
brasileiro, demandando a elaboração de normativas claras e protetivas, que
assegurem a estabilidade e segurança jurídica às famílias constituídas sob esta
modalidade de parentalidade. Neste diapasão, a jurisprudência e a doutrina
pátrias têm desempenhado papel crucial na consolidação dos parâmetros legais e
na promoção de um ambiente jurídico seguro para o reconhecimento e proteção
da paternidade socioafetiva (ALMEIDA, 2020).
A paternidade socioafetiva, em sua essência, manifesta-se como um
reconhecimento jurídico de um vínculo parental firmado na base de laços afetivos,
emocionais e sociais, transcendendo as fronteiras da biologia para consolidar-se
na prática diária da convivência e do afeto mútuo. Nesse prisma, a paternidade
não é circunscrita unicamente pelos laços sanguíneos, mas é, sim, reconhecida e
legitimada pela intensidade e autenticidade da relação afetiva entre o adulto e a
criança ou adolescente. Tal entendimento encontra respaldo em robusta
jurisprudência e doutrina, que, paulatinamente, têm se inclinado a valorizar a
afetividade como critério determinante para o estabelecimento da relação parental
(HELLER, 2010).
Embora a paternidade socioafetiva denote uma ruptura com paradigmas
tradicionais de parentalidade, seu reconhecimento jurídico não se dá de forma
arbitrária ou desprovida de critérios. A jurisprudência brasileira tem exigido a
18

comprovação da existência de uma relação duradoura, pautada no cuidado, no


afeto e na responsabilidade, elementos estes que, conjuntamente, configuram um
ambiente propício ao desenvolvimento saudável e integral da prole. Ademais,
ressalta-se a necessidade de estabilidade e continuidade na relação afetiva, a fim
de se evitar a banalização do instituto e assegurar a proteção aos interesses da
criança ou do adolescente (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
A paternidade socioafetiva, em sua gênese, está atrelada ao princípio do
melhor interesse da criança, norteador de todo o ordenamento jurídico no que
tange aos direitos da criança e do adolescente. Esse princípio, consagrado tanto
em tratados internacionais quanto na legislação interna, impõe-se como uma
diretriz máxima, guiando as decisões judiciais e as políticas públicas para garantir
a proteção integral e prioritária dos direitos dos menores. Dessa forma, o
reconhecimento da paternidade socioafetiva alinha-se a essa diretriz, promovendo
o bem-estar da criança ou adolescente e garantindo-lhe o direito a um ambiente
familiar seguro e afetivo (VIEIRA, 2020).
Entretanto, a ascensão da paternidade socioafetiva enquanto figura
jurídica não está isenta de desafios e controvérsias. Questões atinentes à
multiparentalidade, à sucessão e aos direitos hereditários surgem como temas
complexos, demandando uma atuação judiciária cautelosa e uma legislação
atualizada e específica. Neste contexto, faz-se mister a promoção de debates
jurídicos aprofundados e a elaboração de normativas claras e protetivas, que
confiram segurança jurídica às partes envolvidas e assegurem a efetivação dos
direitos fundamentais da criança e do adolescente (JOSÉ, 2020).
Pretende-se, portanto, expor de maneira aprofundada e com
embasamento jurídico, as nuances, os critérios e os desafios que permeiam o
reconhecimento e a consolidação da paternidade socioafetiva no ordenamento
jurídico brasileiro, destacando sua relevância e seu alinhamento com os princípios
fundamentais de proteção à criança e ao adolescente.

2.1 HISTÓRICO

A trajetória histórica da paternidade socioafetiva no âmbito jurídico


brasileiro tem sido marcada por uma mudança paradigmática de uma perspectiva
19

biológica rigorosa para um reconhecimento mais inclusivo das relações afetivas


que sustentam o vínculo familiar. Inicialmente, o direito da família estava
firmemente enraizado na premissa da paternidade biológica, sendo considerado
pertinente apenas o vínculo genético entre pai e filho para a determinação da
filiação. Com o tempo, porém, tornou-se cada vez mais evidente que os laços
afetivos estabelecidos entre pais e filhos, desprovidos de ligação biológica,
também mereciam reconhecimento legal. Esta mudança é fundamental para a
proteção dos direitos das crianças e adolescentes, garantindo a sua integração
familiar e o acesso aos direitos fundamentais, refletindo uma compreensão social
em evolução das estruturas familiares (SILVA & MACHADO, 2016).
O termo “família” carrega diferentes significados e conceituações,
surgindo como um conglomerado de indivíduos interligados por laços
consanguíneos e laços afetivos. Tal como consagrado na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, a família é reconhecida como o núcleo fundamental e
essencial da sociedade, com direito à proteção inalienável da sociedade e do
Estado. Esta proteção jurídica é imperativa, reconhecendo a família não só como
entidade social, mas também como instituição jurídica que merece ser
salvaguardada (ALVES, 2020).
Ao se aprofundar nas definições lexicográficas da palavra “família” na
língua portuguesa, esta é descrita como um grupo de pessoas ligadas por laços
de parentesco, que engloba ancestrais, descendentes e parentes colaterais.
Embora esta definição seja abrangente, ela não capta a totalidade das formas e
manifestações familiares na contemporaneidade, necessitando de uma análise
mais aprofundada e crítica para compreender suas nuances e variações (SOUZA,
2017).
Com base nesses pressupostos, a evolução histórica e social da família
impõe uma reflexão acerca de sua conceituação, demandando uma abordagem
que transcenda as definições tradicionais e contemple as diversas configurações
familiares existentes na sociedade atual. A proteção jurídica conferida à família
deve, portanto, ser flexível e inclusiva, assegurando direitos e deveres a todas as
suas manifestações, independentemente de sua estrutura (MICHAELIS, 2018).1
1
Conjunto de pessoas, em geral ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto. 2 Conjunto
de ascendentes, descendentes, colaterais e afins de uma linhagem ou provenientes de um mesmo tronco;
estirpe. 3 Pessoas do mesmo sangue ou não, ligadas entre si por casamento, filiação, ou mesmo adoção;
20

O panorama sociojurídico da família no Brasil passou por uma profunda


transformação, desafiando a percepção tradicional da família como uma unidade
definida estritamente por laços de sangue e conexões conjugais. Historicamente,
a família foi vista como uma sociedade natural, caracterizada pelas relações
consanguíneas e laços de afinidade que eram compreendidos pelo prisma da
descendência e solidificados pelo sacramento do matrimônio (Dias, 2020).
Contudo, a maré inexorável de mudanças que varreu as estruturas familiares
brasileiras nas últimas décadas exige uma reavaliação e expansão do conceito de
“família”. A era contemporânea, tal como exposta por Dias, testemunhou o
surgimento de novas considerações e interpretações sobre o que constitui uma
família, desafiando os paradigmas tradicionais e apelando a uma recalibração
jurídica e sociológica para acomodar estas dinâmicas em evolução (SOUZA,
2017).
Este apelo à redefinição é particularmente evidente no reconhecimento
legal da paternidade socioafetiva, onde o elemento temporal se tornou um fator
crítico a ser considerado pelo judiciário. O entendimento do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul sobre a temporalidade necessária para o reconhecimento da
paternidade socioafetiva, e a consequente obrigação alimentar, é indicativo de um
reconhecimento jurídico mais amplo dos laços familiares significativos e legítimos
que se desenvolvem por meio de relações afetivas sustentadas,
independentemente de conexão biológica. Tal reconhecimento sublinha a
resposta adaptativa do sistema jurídico à mudança do tecido dos laços familiares,
garantindo que os direitos e obrigações inerentes aos papéis parentais não sejam
contornados pela ausência de ligação genética (DIAS, 2020).2
A família tem sido tradicionalmente percebida como uma unidade
fundamental, composta por indivíduos interligados por meio de uma complexa
parentes, parentela. 4 Grupo de pessoas unidas por convicções, interesses ou origem comuns. 5 Conjunto
de coisas que apresentam características ou propriedades comuns. 6 Categoria sistemática, divisão
principal de uma ordem, constituída por um ou mais gêneros ou tribos vegetais ou animais com
características filogenéticas comuns e que se diferenciam de outros gêneros ou tribos por caracteres
marcantes. 7 Conjunto dos tipos cujo desenho, independentemente do corpo, apresenta as mesmas
características fundamentais, podendo apenas variar na forma e na inclinação dos traços e na largura
relativa das letras. 8 Conjunto de curvas e superfícies indexadas por um ou mais parâmetros. (MICHAELIS
DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2018)
2
O afeto foi reconhecido como o ponto de identificação da família. É o envolvimento emocional que retira
um relacionamento do âmbito do direito obrigacional — cujo núcleo é a vontade — e o conduz para o
direito das famílias, cujo elemento estruturante é o sentimento de amor, o elo afetivo que une almas e
mescla patrimônios, gerando responsabilidades e comprometimentos mútuos. (DIAS, 2020, p. 15).
21

rede de relações sanguíneas e vínculos formados por meio do casamento. Os


laços de sangue foram elucidados através da linhagem, enquanto a afinidade foi
interpretada como decorrente da união conjugal e da posterior integração dos
parentes ao núcleo familiar através do sacramento do casamento (DIAS, 2020).
Contudo, a incessante onda de mudanças que varreu a estrutura das
famílias brasileiras nas últimas décadas exige uma reavaliação e ampliação do
termo “família”. A era contemporânea testemunhou o surgimento de novas
considerações e interpretações sobre o que constitui uma família, desafiando os
paradigmas tradicionais e necessitando acomodar estas dinâmicas em evolução
(COUTO, 2017).
O quadro jurídico e as percepções sociais em torno da família devem,
portanto, ser flexíveis e adaptáveis, capazes de abranger a diversidade de
configurações familiares que floresceram na era moderna. Isto exige um
afastamento de definições rígidas e ultrapassadas e um movimento em direção a
uma compreensão mais inclusiva e holística da família que reconheça e valide as
inúmeras formas como os laços familiares podem manifestar-se (WELTER, 2009).
No âmbito da jurisprudência, o entendimento da paternidade socioafetiva
pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, particularmente no que diz
respeito à temporalidade necessária para o seu reconhecimento e a consequente
obrigação de apoio, é uma prova desse cenário em evolução. As análises deste
órgão judicial aos casos de paternidade socioafetiva refletem uma vontade
crescente de considerar a profundidade e a qualidade do vínculo afetivo entre
progenitor e filho como a pedra angular para o estabelecimento de laços
familiares, evitando um foco outrora inabalável na duração da coabitação ou na
existência de laços biológicos (TARTUCE & SIMÃO, 2018).
A evolução da posição do Tribunal resume a resposta do sistema jurídico
às mudanças nos contornos da dinâmica familiar, garantindo que o direito da
criança à integração e apoio familiar seja respeitado, independentemente das
restrições tradicionais da paternidade biológica (DIAS, 2020).3
3
A ideia de família tem se distanciado cada vez mais da estrutura matrimonial. O divórcio e a possibilidade
de estabelecimento de novas formas de convivência revolucionaram o conceito outrora sacralizado de
matrimônio. A constitucionalização da união estável e do vínculo monoparental promoveu uma verdadeira
transformação na concepção de família. Portanto, na busca pelo conceito de entidade familiar, torna-se
imperativo adotar uma visão pluralista, capaz de abranger os mais diversos arranjos vivenciais. Faz-se
necessário identificar o elemento que autorize o reconhecimento da origem dos relacionamentos
interpessoais. O grande desafio reside em descobrir o traço diferenciador dessas estruturas, de modo a
22

O desenvolvimento histórico do conceito jurídico de paternidade


socioafetiva na jurisdição brasileira, particularmente no âmbito do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, reflete uma transição sociocultural mais ampla em
direção a uma compreensão mais inclusiva dos laços familiares.
Tradicionalmente, os laços familiares eram vistos através do prisma da linhagem
sanguínea e da afinidade conjugal, estabelecidos pela descendência e
fortalecidos pelo sacramento do casamento. Essa perspectiva, há muito sustenta
as definições legais de família no arcabouço jurídico brasileiro. No entanto, a
evolução persistente das estruturas familiares, impulsionada por mudanças
sociais, exigiu uma expansão deste conceito tradicional, reconhecendo a
importância dos laços afetivos, independentemente da ligação biológica
(ALMEIDA, 2020).
As percepções jurídicas e sociais da família foram assim obrigadas a
tornar-se mais flexíveis, adaptando-se à diversidade de configurações familiares
que surgiram nos tempos modernos. Essa adaptabilidade requer um afastamento
dos limites rígidos de definições ultrapassadas em direção a uma compreensão
mais inclusiva e holística da família – uma compreensão que reconheça e valide
as inúmeras formas como os laços familiares podem manifestar-se (DANTAS,
OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
Neste domínio jurídico, o Direito da Família surge como uma ferramenta
vital para regular as entidades familiares, regular as relações familiares,
salvaguardar direitos e resolver conflitos decorrentes destas complexas dinâmicas
interpessoais. O Direito de Família contemporâneo está amparado tanto nas
dimensões existenciais quanto nas patrimoniais, oferecendo uma visão ampla da
natureza das relações familiares (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
O aspecto existencial investiga os laços emocionais intangíveis que
constituem a essência da unidade familiar, enquanto a dimensão patrimonial
aborda considerações tangíveis e financeiras cruciais para a estabilidade e
prosperidade familiar. Esta dupla abordagem sublinha a complexidade do Direito
da Família, destacando o seu papel na navegação no delicado equilíbrio entre
ligações emocionais e considerações materiais. Ao fazê-lo, garante uma proteção
e governança holísticas das entidades familiares, atendendo às suas

inseri-las em um conceito mais amplo de família (DIAS, 2023, p. 14).


23

necessidades emocionais e financeiras e promovendo um ambiente propício ao


florescimento dos laços familiares (TARTUCE & SIMÃO, 2018).4
O contexto histórico da paternidade socioafetiva no sistema jurídico
brasileiro, particularmente no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, reflete a
interação dinâmica entre as construções sociais em evolução e a doutrina jurídica.
Tradicionalmente, a família tem sido legalmente definida dentro dos parâmetros
dos laços consanguíneos e conjugais, delineados pela descendência biológica e
solidificados legalmente através do casamento.
No entanto, as últimas décadas testemunharam uma redefinição
transformadora de “família”, alargando as suas fronteiras para abranger relações
afetivas que, embora não biológicas, não são menos reais em termos de cuidado,
responsabilidade e vínculos emocionais. Esta mudança exigiu uma
reconceitualização dos quadros jurídicos para reconhecer e regular a paternidade
socioafetiva, particularmente no que diz respeito à temporalidade necessária para
o reconhecimento e às suas implicações, incluindo as obrigações alimentares
(DIAS, 2020).
Na busca pela regulação das entidades familiares, o Direito da Família
atua como uma disciplina crucial, orquestrando as relações familiares,
salvaguardando direitos e facilitando a resolução de conflitos derivados dessas
interações. Enraizado em princípios de justiça e equidade, este ramo do direito
esforça-se por defender a santidade dos laços familiares no meio das
complexidades da dinâmica interpessoal.
De acordo com o art. 166, VI, Código Civil, o Direito de Família
contemporâneo está ancorado tanto na dimensão existencial quanto na
patrimonial da vida familiar. O Direito de Família está pautado na pessoa humana,
enfatizando o caráter imperativo das normas de ordem pública imunes à
contravenção por mútuo acordo entre as partes, pois tais ações resultariam na
nulidade absoluta do acordo, constituindo uma evasão fraudulenta de imperativo
lei (BRASIL, 2002).

4
O Direito Existencial de Família está fundamentado na pessoa humana, sendo as normas correlatas de
ordem pública ou cogentes. Tais normas não podem ser contrariadas por convenção entre as partes, sob
pena de nulidade absoluta da convenção, por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC). Por outro lado, o
Direito Patrimonial de Família tem seu cerne principal no patrimônio, relacionando-se a normas de ordem
privada ou dispositivas. Essas normas, obviamente, admitem previsão em contrário pelas partes de maneira
livre (TARTUCE, 2018, p. 862).
24

Por outro lado, a vertente patrimonial do Direito da Família centra-se na


propriedade, alinhando-se com normas de ordem privada de natureza dispositiva,
que inerentemente permitem disposições contrárias acordadas pelas partes
envolvidas. Esta dicotomia entre as dimensões existencial e patrimonial sublinha
a natureza do Direito da Família, destacando o seu papel na navegação no
delicado equilíbrio entre a defesa dos direitos individuais e a proteção dos bens
familiares (TARTUCE & SIMÃO, 2018). 5
O contexto histórico da paternidade socioafetiva na jurisprudência
brasileira, e especificamente nas deliberações do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, é um testemunho da progressiva ampliação do conceito jurídico
de família, tradicionalmente sustentado por princípios biológicos e conjugais.
Apesar da unidade familiar estar salvaguardada pela Constituição Federal
Brasileira de 1988 (CRFB/88) e regulamentada pelo Código Civil Brasileiro, há
uma evidente ausência de uma definição explícita de “família” em termos
legislativos. Esta lacuna no corpus jurídico deu origem a uma infinidade de
interpretações e entendimentos de “família”, evoluindo em conjunto com as
transformações sociais ao longo do tempo (JOSÉ, 2020).
Venoso elucida esse fenômeno destacando a natureza da família e sua
suscetibilidade a diversas interpretações. O termo ‘família’ sofreu uma
metamorfose, adaptando-se às mudanças no tecido social e refletindo a
diversidade de estruturas familiares presentes na sociedade contemporânea. Esta
evolução na compreensão sublinha a necessidade de um quadro jurídico que seja
simultaneamente flexível e inclusivo, capaz de acomodar as inúmeras formas
como os laços familiares se manifestam (VIEIRA, 2020).
O desafio, portanto, reside na elaboração de uma definição jurídica que
capte a essência da família e, ao mesmo tempo, proporcione a adaptabilidade
necessária para abranger as suas diversas manifestações. Isto exige um
afastamento de definições rígidas e ultrapassadas e um movimento em direção a
uma compreensão mais matizada e abrangente da família, que reconheça e

5
"O Direito Existencial de Família está baseado na pessoa humana, sendo as normas correlatas de ordem
pública ou cogentes. Tais normas não podem ser contrariadas por convenção entre as partes, sob pena de
nulidade absoluta da convenção, por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC). Por outra via, o Direito
Patrimonial de Família tem o seu cerne principal no patrimônio, relacionado a normas de ordem privada ou
dispositivas. Tais normas, por óbvio, admitem livremente previsão em contrário pelas partes." (TARTUCE,
2018, p. 862)
25

valide as numerosas formas em que os laços familiares podem manifestar-se


(VENOSA, 2013).6
A família, tanto como conceito como unidade social, tem sido uma
construção duradoura na civilização humana, abrangendo tradicionalmente um
grupo de indivíduos ligados por uma ancestralidade comum ou por laços
conjugais. Esta estrutura arquetípica tem servido como alicerce das sociedades,
promovendo o crescimento e o desenvolvimento dos indivíduos dentro dos limites
seguros dos laços familiares (VENOSA, 2013).
Para compreender plenamente a natureza da família e as inúmeras
formas como ela evoluiu ao longo do tempo, é imperativa uma análise histórica e
constitucional abrangente. Tal exame investiga as profundezas do tempo,
traçando as transformações na conceituação da família e examinando como
essas mudanças se correlacionam com mudanças mais amplas que ocorrem na
sociedade (COUTO, 2017).
A família não permaneceu estática; tem sido sujeito a uma redefinição
contínua, adaptando-se às vicissitudes do progresso social e à evolução das
normas e valores que acompanham essa mudança. Isto exige uma compreensão
diferenciada da família que reconheça as suas raízes históricas e, ao mesmo
tempo, esteja sintonizada com as realidades contemporâneas que moldam a sua
forma atual (VALADARES & FERREIRA, 2016).
No contexto da paternidade socioafetiva, as interpretações do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul a respeito dos requisitos temporais para o
reconhecimento e das consequentes obrigações alimentares evidenciam o caráter
dinâmico das respostas jurídicas a essas transformações sociais. Por meio da
análise das decisões do Tribunal, o estudo visa elucidar como as definições legais
de paternidade se expandiram para incluir as relações afetivas, refletindo o
cenário mutável dos laços familiares na sociedade brasileira (LÔBO, 2008).
A evolução do conceito de paternidade socioafetiva no âmbito jurídico
brasileiro passou por transformações significativas ao longo dos anos. O Código
6
"A conceituação de família oferece, de plano, um paradoxo para sua compreensão. O Código Civil não a
define. Por outro lado, não existe identidade de conceitos para o Direito, para a Sociologia e para a
Antropologia. Não bastasse ainda a flutuação de seu conceito, como todo fenômeno social, no tempo e no
espaço, a extensão dessa compreensão difere nos diversos ramos do direito. Assim, sua extensão não é
coincidente no direito penal e fiscal, por exemplo. Nos diversos direitos positivos dos povos e mesmo em
diferentes ramos de direito de um mesmo ordenamento, podem coexistir diversos significados de família."
(VENOSA, 2013, p. 1)
26

Civil de 1916 postulava a filiação como determinada exclusivamente pelos laços


biológicos, ignorando a importância primordial das relações afetivas no
desenvolvimento da criança. Contudo, o advento da Constituição Federal de
1988, enfatizando os princípios da dignidade humana e da igualdade, marcou
uma mudança de paradigma em direção a uma maior valorização das relações
familiares fundadas no afeto. Essa mudança foi ainda solidificada pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) de 1990, que reconheceu a paternidade
socioafetiva como elemento fundamental no estabelecimento de vínculos
familiares (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
O reconhecimento da paternidade socioafetiva desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento emocional e psicológico da criança. O vínculo
afetivo formado entre pais e filhos é essencial na formação da identidade e da
autoestima do indivíduo, ao mesmo tempo que proporciona segurança emocional
e estabilidade familiar. A falta desse reconhecimento pode resultar em
sentimentos de rejeição e abandono na criança, impedindo assim o
desenvolvimento saudável. É, portanto, imperativo que o sistema jurídico
reconheça e proteja esta forma de parentalidade, garantindo que os direitos
fundamentais das crianças sejam respeitados (GONÇALVES, 2012).
Ao longo dos anos, o ordenamento jurídico brasileiro passou por inúmeras
transformações, sendo particularmente digna de nota a evolução do Direito de
Família em relação às novas perspectivas sobre a formação familiar. A
Constituição Federal de 1988 (CRFB/88) e posteriormente o Código Civil de 2002
(CC/02), alinhados aos princípios consagrados na Carta Magna, elevaram a
socioafetividade como uma das principais características da sociedade
contemporânea (HELLER, 2010).
Ambos os documentos legais atribuem igual valor jurídico à paternidade
socioafetiva e biológica, eliminando efetivamente qualquer potencial diferenciação
entre crianças ligadas por laços biológicos e aquelas ligadas através de relações
sociais e afetivas com os seus pais. Esta mudança de paradigma sublinha o
reconhecimento do sistema jurídico das diversas formas como os laços familiares
podem manifestar-se, garantindo proteção e direitos iguais para todos,
independentemente da natureza das suas ligações familiares (LIMA, 2018).
27

Dias oferece uma exposição perspicaz sobre este assunto, elucidando as


nuances desta evolução jurídica e suas profundas implicações para a
compreensão e reconhecimento da família no contexto moderno. O
reconhecimento legal dos vínculos socioafetivos como equivalentes aos laços
biológicos representa um avanço significativo em direção a um quadro jurídico
mais inclusivo e equitativo, garantindo que todas as configurações familiares
recebam o reconhecimento e a proteção que merecem (DIAS, 2020).7
No âmbito da jurisprudência brasileira, o conceito de paternidade
socioafetiva tem tido um reconhecimento progressivo, especialmente nas
deliberações do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre os requisitos
temporais para o seu reconhecimento e as obrigações alimentares decorrentes. A
transformação começou com o Código Civil de 1916, que fundamentou a filiação
nos laços biológicos, mas evoluiu significativamente com a Constituição Federal
Brasileira de 1988 (CRFB/88), enfatizando a dignidade humana e a igualdade,
que abriu caminho para o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) de 1990 para
reconhecer a paternidade socioafetiva como elemento crítico nos vínculos
familiares (BRASIL, 1988; BRASIL, 2002).
Esta evolução reconhece o papel profundo que a paternidade socioafetiva
desempenha no desenvolvimento emocional e psicológico da criança. A relação
afetiva entre pais e filhos é primordial, moldando a identidade e a autoestima,
proporcionando segurança emocional e garantindo a estabilidade familiar. A
ausência de reconhecimento legal para tais relações pode ter efeitos prejudiciais
no desenvolvimento da criança, destacando a necessidade de o sistema jurídico
proteger estas formas de relações parentais e os direitos fundamentais das
crianças envolvidas (ALVES, 2020).
À medida que a jurisprudência brasileira evoluiu, tanto a Constituição
Federal de 1988 quanto o Código Civil de 2002 reconheceram a igualdade de
todas as crianças, independentemente dos laços biológicos, refletindo uma
mudança em direção a um quadro jurídico que reconhece a diversidade dos laços
familiares e garante proteção e direitos iguais para todos (BRASIL, 2002).

7
"Coexistindo vínculos parentais afetivos e biológicos ou apenas afetivos, mais do que apenas um direito, é
uma obrigação constitucional reconhecê-los. Não há outra forma de preservar os direitos fundamentais de
todos os envolvidos, sobretudo no que diz respeito à dignidade e à afetividade." (DIAS, 2023, p. 657).
28

O arcabouço legal enfatiza a necessidade de reconhecer todas as formas


de vínculo familiar, garantindo assim que os direitos e privilégios concedidos aos
descendentes biológicos sejam igualmente estendidos àqueles ligados por
vínculos socioafetivos. Esta abordagem igualitária reflete um compromisso mais
amplo na defesa dos princípios da justiça e da igualdade, garantindo que o
reconhecimento legal da família abrange todas as suas diversas manifestações. O
ordenamento jurídico, nesse sentido, atua como guardião dos laços familiares,
salvaguardando os direitos de todos os descendentes e garantindo que a
santidade da família seja preservada (LENZA, 2012).
Além disso, o Código Civil de 2002, alinhado à Constituição Federal de
1988, ressalta a igualdade entre as crianças, afirmando a influência constitucional
na codificação civil. Isso fica evidente no art. 1.593, que afirma: “A filiação pode
ser natural ou civil, por consanguinidade ou outras origens”, encapsulando o
reconhecimento de diversos vínculos familiares, sejam eles estabelecidos por
meio de laços biológicos ou outras ligações (BRASIL, 2002).
É essencial notar que, à luz das profundas transformações na
organização familiar e na sociedade em geral, o quadro jurídico teve que evoluir
concomitantemente, fazendo os ajustes necessários e sofrendo reformulações
significativas, especialmente no que diz respeito aos arranjos familiares
contemporâneos. Essa evolução reflete uma capacidade de resposta jurídica às
mudanças sociais, garantindo que a lei permaneça relevante e aborde
adequadamente as complexidades da vida familiar moderna (BRASIL, 2002).

2.2 LEGISLAÇÃO

A legislação relativa à paternidade socioafetiva representa uma evolução


crítica no direito da família, refletindo a natureza complexa das relações entre pais
e filhos para além da mera biologia. Sublinha o discurso académico e a reforma
jurídica que são imperativos para garantir que o quadro jurídico que rege a
paternidade socioafetiva continua a responder às mudanças sociais e à evolução
da compreensão das relações familiares e parentais (VIEIRA, 2020).
A paternidade socioafetiva transcende as conexões biológicas,
enraizando-se nos laços de afeto, cuidado e reconhecimento social que
29

estabelecem a relação pais-filhos. É uma manifestação da compreensão moderna


de família, reconhecendo que os laços emocionais podem ser tão significativos
quanto os laços genéticos na constituição dos laços familiares. Os sistemas
jurídicos mundiais, incluindo o Brasil, têm adotado progressivamente essa noção,
proporcionando o devido reconhecimento à paternidade socioafetiva e
estabelecendo seus efeitos jurídicos (SILVEIRA, 2019).
Nas jurisdições que aderem a esta visão progressista, o reconhecimento
da paternidade socioafetiva passa pela atribuição de plenos direitos e
responsabilidades parentais, alinhando-os com os decorrentes da paternidade
biológica. Isso garante o direito da criança à convivência familiar, ao apoio
emocional e à herança, independentemente da ausência de vínculo biológico. Os
efeitos jurídicos estendem-se a diversas dimensões do direito da família,
abrangendo a guarda, a pensão alimentícia e os direitos sucessórios (TARTUCE
& SIMÃO, 2018).
O reconhecimento da paternidade socioafetiva necessita de um quadro
jurídico meticuloso que salvaguarde os interesses de todas as partes envolvidas,
em particular da criança. Requer uma abordagem diferenciada, garantindo que o
estabelecimento de vínculos socioafetivos não prejudique os direitos decorrentes
das ligações biológicas, defendendo assim os princípios da justiça e da equidade
(MARQUES & SULZBACH, 2021).
Um dos desafios mais salientes da paternidade socioafetiva reside no seu
reconhecimento legal e nas subsequentes implicações nos direitos sucessórios e
de filiação. O panorama jurisprudencial evoluiu, embora de forma inconsistente
entre jurisdições, procurando equilibrar os laços biológicos e socioafetivos. A
polêmica decorre da necessidade de proteger os direitos das crianças das
relações socioafetivas, garantindo que o arcabouço legal não comprometa os
vínculos biológicos. Isto levanta a questão: até que ponto os vínculos
socioafetivos devem ser reconhecidos e priorizados nos contextos jurídicos? O
discurso em curso procura abordar estas complexidades, defendendo um quadro
jurídico abrangente e equitativo que reconheça a natureza da paternidade
(COUTO, 2017).
Os fundamentos teóricos da paternidade socioafetiva estão
indissociavelmente ligados à evolução dos quadros jurídicos, das normas sociais
30

e das percepções culturais. Os desafios e controvérsias que rodeiam esta forma


de paternidade são indicativos de uma transformação social mais ampla,
refletindo as complexidades e nuances das estruturas familiares contemporâneas.
Continua a ser imperativo promover um ambiente jurídico e social que defenda os
direitos e o bem-estar de todas as crianças, independentemente da natureza dos
seus laços parentais (SILVA & FERREIRA, 2018).
A exploração da paternidade socioafetiva no âmbito jurídico requer
análise aprofundada, especialmente na jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul no que diz respeito à temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva e a consequente obrigação de apoio
alimentar. O conceito de paternidade socioafetiva transcende os vínculos
biológicos, mergulhando no âmbito dos vínculos afetivos e do reconhecimento
mútuo entre pais e filhos. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem
desempenhado papel fundamental na formação do discurso jurídico sobre o tema,
esclarecendo os critérios e as condições necessárias para o estabelecimento de
tais relações paternas (KANITZ, 2019).
O tribunal enfatizou a importância de um período substancial de
convivência e da demonstração de cuidado e afeto parental, sublinhando que o
estabelecimento de um vínculo socioafetivo requer tempo e envolvimento parental
consistente. Na interpretação do tribunal, o reconhecimento da paternidade
socioafetiva não depende apenas da duração da relação, mas também da
qualidade do vínculo afetivo e da extensão do compromisso parental (DANTAS,
OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
Quanto às obrigações alimentares decorrentes do reconhecimento da
paternidade socioafetiva, o tribunal afirmou que tais responsabilidades são
equivalentes às decorrentes da paternidade biológica. O tribunal tem defendido
consistentemente o princípio de que as crianças, independentemente da natureza
dos seus laços paternos, têm direito a apoio financeiro, garantindo o seu bem-
estar e desenvolvimento (LIMA, 2018).
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem sido
fundamental para promover um ambiente jurídico que reconheça e proteja os
direitos das crianças nas estruturas familiares socioafetivas, garantindo-lhes as
mesmas garantias jurídicas daquelas com vínculos biológicos. Esta abordagem
31

está alinhada com os princípios jurídicos mais amplos da igualdade, do interesse


superior da criança e do reconhecimento das diversas configurações familiares
(COUTO, 2017).
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem desempenhado papel
crucial na definição dos contornos jurídicos da paternidade socioafetiva,
estabelecendo parâmetros claros para o seu reconhecimento e as obrigações
alimentares decorrentes. Esta evolução jurisprudencial reflete um compromisso
de defesa dos direitos de todas as crianças, independentemente da natureza das
suas relações paternas, e sublinha a importância primordial do vínculo afetivo no
âmbito do direito da família (VENOSA, 2013).
Aprofundando os meandros da paternidade socioafetiva, é imperativo
sublinhar o impacto transformador das interpretações judiciais no cenário jurídico,
particularmente no contexto do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
jurisprudência do tribunal tem sido fundamental no estabelecimento de um quadro
robusto para o reconhecimento da paternidade socioafetiva, enfatizando a
primazia do vínculo afetivo entre progenitor e filho. O tribunal tem destacado
consistentemente que a essência da paternidade transcende as ligações
biológicas, atribuindo um peso significativo às dimensões emocionais e sociais da
relação pai-filho (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
Nesse sentido, o tribunal elucidou que a temporalidade da relação,
embora importante, não é o único determinante no reconhecimento da
paternidade socioafetiva. A qualidade do relacionamento, caracterizada pelo
carinho, cuidado e compromisso mútuos, desempenha um papel crucial nesta
determinação. O tribunal sublinhou que o período sustentado de coabitação,
aliado à demonstração das responsabilidades parentais, constitui o fundamento
da paternidade socioafetiva (ALMEIDA, 2020).
Além disso, o tribunal tem sido inequívoco na sua posição sobre as
obrigações alimentares decorrentes da paternidade socioafetiva. Afirmou que as
crianças em estruturas familiares socioafetivas têm direito a apoio financeiro,
alinhando os seus direitos com os das crianças em contextos familiares
biológicos. Isto garante condições equitativas, proporcionando a todas as crianças
a estabilidade financeira necessária ao seu crescimento e desenvolvimento.
32

Assim, a jurisprudência do tribunal tem sido fundamental na promoção de


um ambiente jurídico que responda à evolução da dinâmica da estrutura familiar,
garantindo que os direitos das crianças em contextos familiares socioafetivos
sejam adequadamente protegidos e respeitados (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA,
2022).
Sintetizando a análise supracitada, fica evidente que o Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul tem desempenhado um papel seminal na formação do
discurso jurídico em torno da paternidade socioafetiva. As interpretações do
tribunal proporcionaram clareza e orientação, garantindo que o quadro jurídico
está em sintonia com as realidades das diversas configurações familiares e com o
interesse superior da criança (WELTER, 2009).
Continuando a exploração da paternidade socioafetiva no âmbito jurídico,
é fundamental aprofundar-se nas dimensões desse conceito, especialmente no
contexto da jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. As
decisões do tribunal sublinharam a imprescindibilidade de um vínculo afetivo
genuíno e duradouro no reconhecimento da paternidade socioafetiva. Este órgão
judicial tem estado na vanguarda da defesa dos direitos das crianças em várias
estruturas familiares, garantindo que o bem-estar emocional da criança esteja no
centro das considerações jurídicas (COUTO, 2017).
No âmbito jurídico do direito de família brasileiro, o reconhecimento da
paternidade socioafetiva constitui um testemunho da natureza evolutiva dos
vínculos parentais, transcendendo os limites tradicionais da ligação biológica. A
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem sido fundamental
para elucidar os aspectos temporais necessários ao reconhecimento da
paternidade socioafetiva, afirmando que embora a duração do relacionamento
seja significativa, ela deve ser aumentada pela profundidade e qualidade do
relacionamento que gera o vínculo afetivo (TEIXEIRA & RODRIGUES, 2010).
O tribunal destacou que a mera passagem do tempo é insuficiente; antes,
é a demonstração consistente de afeto, cuidado e compromisso parental que
cimenta um vínculo socioafetivo. Além disso, o tribunal afirmou categoricamente
que as obrigações alimentares decorrentes da paternidade socioafetiva espelham
as da paternidade biológica. Esta paridade garante que as crianças em contextos
familiares socioafetivos não sejam relegadas a um estatuto secundário, mas
33

possuam as mesmas proteções e direitos legais que os seus homólogos em


famílias biológicas (VALADARES & FERREIRA, 2016; DANTAS, OLIVEIRA, &
VIEIRA, 2022).
Esta posição judicial reflete um compromisso mais amplo de defesa dos
princípios da igualdade, da primazia do interesse superior da criança e do
reconhecimento das diversas manifestações da família na sociedade
contemporânea. A jurisprudência do tribunal tem sido fundamental na criação de
um ambiente jurídico que se adapta à natureza evolutiva das estruturas familiares,
garantindo que os direitos e o bem-estar das crianças continuam a ser primordiais
(TARTUCE & SIMÃO, 2018).
Ou seja, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul desempenhou um
papel vital na formação do discurso jurídico em torno da paternidade socioafetiva,
proporcionando clareza e direção em uma área jurídica complexa e em evolução.
As interpretações do tribunal garantiram que o quadro jurídico responde às
necessidades das crianças em vários ambientes familiares, defendendo os seus
direitos e garantindo o seu bem-estar (MARTINS, 2015).
A paternidade socioafetiva, fenômeno jurídico de magnitude ímpar, vem
ganhando destaque no cenário jurídico brasileiro, necessitando de análise
cuidadosa e minuciosa. Caracteriza-se pelo estabelecimento de vínculos
parentais não consanguíneos baseados no afeto, na convivência e na
responsabilidade, surgindo como um mecanismo significativo para a
concretização do princípio do superior interesse da criança. Influenciada pelas
transformações socioculturais contemporâneas, a legislação brasileira incorporou
normas que reconhecem e regulamentam a paternidade socioafetiva, visando
proporcionar proteção integral à criança e promover um ambiente familiar estável
e propício ao seu desenvolvimento integral (BRASIL, 1988)).
No contexto judicial brasileiro, a legislação relativa à paternidade
socioafetiva e o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul quanto
à temporalidade necessária para o seu reconhecimento, juntamente com a
consequente obrigação alimentar, é um assunto matizado e em evolução. O
Superior Tribunal de Justiça, a mais alta instância de interpretação da legislação
federal no Brasil, tem desempenhado um papel fundamental na consolidação da
paternidade socioafetiva por meio de decisões históricas que reiteram sua
34

legalidade e a necessidade de sua proteção jurídica. Essas decisões sustentam a


premissa de que os laços afetivos têm relevância jurídica equivalente aos laços
sanguíneos, conferindo à paternidade socioafetiva o selo de legalidade e
legitimidade (BRASIL, 1988).
Além disso, é imperioso ressaltar que a Constituição Federal de 1988, ao
elevar a dignidade humana como fundamento da República Federativa do Brasil,
estabelece um paradigma jurídico que enfatiza a primazia dos direitos
fundamentais. Nesse quadro, a paternidade socioafetiva surge como expressão
do direito à convivência familiar, reforçando a noção de família como entidade
plural baseada no afeto (BRASIL, 1988).
A legalidade da paternidade socioafetiva no Brasil, portanto, repousa
sobre pilares sólidos, estando ligada à efetivação dos direitos fundamentais e à
promoção de uma concepção familiar que valorize os vínculos afetivos. A
legislação e a jurisprudência nacionais, atentas às transformações sociais e à
necessidade de proteção das relações parentais forjadas no cotidiano, afirmam o
caráter legítimo e juridicamente protegido da paternidade socioafetiva,
consolidando-a como realidade jurídica indiscutível no ordenamento jurídico
brasileiro (MARQUES & SULZBACH, 2021).
Do ponto de vista jurídico, o reconhecimento da paternidade socioafetiva
tem recebido considerável atenção, com inúmeras jurisdições reconhecendo a
sua legitimidade e fornecendo um quadro para o seu estabelecimento e proteção.
O rigor legal neste domínio sublinha a necessidade de estabelecer provas
inequívocas do vínculo afetivo, garantindo que o superior interesse da criança
seja primordial. Os tribunais têm utilizado cada vez mais uma abordagem
holística, considerando fatores como a duração e a qualidade da relação, a
presença de afeto mútuo e a assunção de responsabilidades parentais (DIAS,
2020).
35

3 DECORRÊNCIAS DA PATERNIDADE SÓCIO AFETIVA

O conceito de paternidade socioafetiva tem conquistado significativo


destaque no âmbito jurídico, impulsionado principalmente pelo imperativo de
salvaguarda dos interesses das crianças e adolescentes. Essa forma de
paternidade transcende as dimensões biológicas da parentalidade, estabelecendo
um vínculo enraizado no afeto, no cuidado e no respeito mútuo. Zeni (2013)
elucida que a relação socioafetiva, uma vez reconhecida, é indelével e se estende
por toda a vida, proporcionando um ambiente estável e estimulante para o
desenvolvimento holístico da criança.
As ramificações jurídicas da paternidade socioafetiva são múltiplas,
abrangendo diversas facetas das relações familiares. O reconhecimento desta
forma de paternidade confere à criança todos os direitos e privilégios inerentes à
descendência biológica, garantindo a paridade em termos de direitos sucessórios,
o acesso ao apoio familiar e o estabelecimento de uma ligação emocional
robusta. A lei, na sua sabedoria, abraçou o espírito da inclusão, reconhecendo
que a essência da paternidade não se limita aos laços genéticos, mas se estende
ao domínio dos laços emocionais e das experiências de vida partilhadas
(DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
Além disso, o reconhecimento legal da paternidade socioafetiva impõe ao
progenitor os mesmos deveres e responsabilidades que cabem ao progenitor
biológico. Isto inclui a obrigação de fornecer apoio financeiro, garantir o bem-estar
da criança e contribuir para o seu desenvolvimento global. A lei, a este respeito,
atua como guardiã dos direitos da criança, garantindo que o progenitor
socioafetivo cumpra os mesmos padrões de responsabilidade que qualquer outro
progenitor (ZENI, 2013).
A jurisprudência sobre esta matéria evoluiu significativamente, refletindo
uma mudança progressiva no sentido de uma abordagem mais humana e
centrada na criança. Os tribunais têm desempenhado um papel fundamental
nesta transformação, interpretando a lei de uma forma que defende os melhores
36

interesses da criança, garantindo que os seus direitos sejam protegidos e que o


seu bem-estar seja priorizado.8
Ou seja, as consequências jurídicas da paternidade socioafetiva são
profundas e abrangentes, englobando o direito da criança ao apoio emocional, à
estabilidade financeira e ao sentimento de pertença. A lei, na sua sagacidade,
reconhece o papel inestimável das relações socioafetivas na vida de uma criança,
garantindo que esses vínculos sejam protegidos e nutridos, contribuindo assim
para a criação de uma sociedade mais compassiva e inclusiva (COUTO, 2017).
A emergência da paternidade, seja ela socioafetiva ou biológica,
engendra uma teia recíproca de direitos e obrigações entre pais e filhos. Nesse
contexto, o artigo 229 da Constituição Federal do Brasil (CRFB/88) estipula um
mandato claro: “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores,
enquanto os filhos adultos são obrigados a sustentar e ajudar os pais na velhice,
necessidade ou doença” (BRASIL, 1988). Esta disposição legal sublinha a
natureza vitalícia destas responsabilidades familiares, estendendo-se para além
dos anos de menoridade.
Numa perspectiva mais ampla, o reconhecimento voluntário de um filho
impõe ao pai, seja ele biológico ou socioafetivo, uma quase impossibilidade de
posterior recusa. O Código Civil de 2002 (CC/02) em seu artigo 1.604 articula
esse princípio, afirmando que “ninguém pode reivindicar condição contrária à que
resulta da certidão de nascimento, salvo provando erro ou falsidade no registro”
(BRASIL, 2002). De acordo com esse dispositivo legal, a desestabilização da
paternidade é uma exceção, permitida apenas mediante demonstração de erro ou
falsificação no registro. Existem circunstâncias excepcionais em que a anulação é
possível mesmo na ausência desses defeitos, mas tais casos dependem da falta
de origem biológica e de vínculo socioafetivo estabelecido.
No que diz respeito à dissolução da paternidade socioafetiva, a postura
predominante no arcabouço jurídico brasileiro afirma sua inadmissibilidade. Uma
8
O filho afetivo passará a ter direitos e deveres para com os pais, ou o pai ou a mãe afetivos, inclusive
sucessórios, que serão recíprocos entre o filho afetivo, seus descendentes, pai/mãe afetivos, seus
ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária. Ele será
desligado de qualquer vínculo com pais e parentes biológicos, salvo os impedimentos matrimoniais, que
permanecerão. Se um dos cônjuges ou companheiros obtiver o reconhecimento judicial do relacionamento
afetivo com o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o filho afetivo e o cônjuge ou
companheiro do pai/mãe afetivo e os respectivos parentes. Enfim, o filho afetivo terá todos os direitos e
obrigações que o filho biológico, assim como o adotivo, tem com seus pais (ZENI, 2013, p. 101).
37

vez tomada a decisão de reconhecimento, esta assume caráter irrevogável e


irretratável. Esta posição doutrinal é firmemente defendida tendo em vista o
interesse primordial do menor, visando preservar a sua identidade e fortalecer os
seus laços familiares, salvaguardando assim a sua história e desenvolvimento
pessoal. Gonçalves oferece um extenso discurso sobre esse assunto
(GONÇALVES, 2019).9
A filiação socioafetiva, conceito que vem ganhando destaque e
reconhecimento no âmbito jurídico, engendra uma infinidade de efeitos jurídicos
primordiais para o estabelecimento e manutenção de vínculos familiares. Esta
forma de filiação, não baseada em laços biológicos, mas sim nas ligações afetivas
entre pais e filhos, necessita de uma compreensão abrangente das suas
ramificações jurídicas (DIAS, 2020).
O exercício do poder parental constitui um dos principais efeitos jurídicos
que emanam da filiação socioafetiva. Isto engloba os direitos e responsabilidades
que os pais têm em relação aos seus filhos, garantindo o seu bem-estar,
educação e desenvolvimento. Os direitos de tutela e de guarda, juntamente com o
direito de visitação, são componentes integrantes desta construção jurídica,
garantindo que o interesse superior da criança esteja sempre em primeiro plano
(VIEIRA, 2020).
Venosa elucida essa questão, enfatizando a imprescindibilidade do
reconhecimento e da defesa desses direitos e deveres no âmbito jurídico. Ele
ressalta a necessidade de um arcabouço jurídico que aborde e proteja
adequadamente os interesses de todas as partes envolvidas nas relações
socioafetivas, garantindo que os laços de afeto sejam devidamente reconhecidos
e preservados (VENOSA, 2013).
Em alinhamento com estes princípios, é imperativo que o sistema jurídico
continue a evoluir e a adaptar-se, garantindo que os direitos e responsabilidades
associados à filiação socioafetiva sejam claramente definidos e protegidos. Isto
não só mantém a integridade das relações familiares, mas também garante que o

9
“O reconhecimento produz efeitos de natureza patrimonial e de cunho moral. O principal deles é
estabelecer a relação jurídica de parentesco entre pai e filho. Embora se produzam a partir do momento de
sua realização, são, porém, retroativos ou retro-operantes (ex tunc), gerando as suas consequências, não da
data do ato, mas retroagindo ‘até o dia do nascimento do filho, ou mesmo de sua concepção, se isto
condisser com seus interesses’”(GONÇALVES, 2012, p. 250).
38

bem-estar da criança continua a ser a consideração primordial em todas as


deliberações e decisões legais (KANITZ, 2019).
Ao fazê-lo, o sistema jurídico desempenha um papel crucial na
legitimação e salvaguarda dos laços de afeto que definem as relações
socioafetivas, garantindo-lhes o mesmo reconhecimento e proteção que os laços
familiares biológicos. Isto, por sua vez, contribui para a criação de um cenário
jurídico mais inclusivo e equitativo, que reconhece e celebra a diversidade das
estruturas familiares na sociedade contemporânea (VENOSA, 2013).10
Assim, a filiação socioafetiva, com as suas profundas implicações nos
direitos e responsabilidades legais dos pais e dos filhos, necessita de uma
abordagem jurídica abrangente. É através dela que os laços de afeto podem ser
devidamente reconhecidos, protegidos e celebrados, garantindo o bem-estar e a
prosperidade de todas as famílias, independentemente da sua origem (ALMEIDA,
2020).
O conceito de autoridade parental, que emana do estado de filiação,
engloba não só os direitos, mas também as obrigações e deveres concomitantes
dos pais para com os seus filhos. Em alinhamento com a Constituição Federal
Brasileira de 1988, as responsabilidades de criar e educar os filhos são atribuídas
igualmente ao pai e à mãe, garantindo a paridade nos papéis parentais (BRASIL,
1988).
O quadro de autoridade parental é estabelecido entre pais e filhos,
permanecendo inalterado independentemente de quaisquer transformações na
união dos pais. Embora os acordos de custódia possam sofrer alterações, sendo
a guarda unilateral de um dos progenitores ou a guarda partilhada os resultados
possíveis, a essência da autoridade parental persiste indivisa entre ambos os
progenitores (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
A prerrogativa de visitação é concedida ao genitor que não detém a
guarda. Isto está articulado no artigo 1.589 do Código Civil de 2002, que delineia
os parâmetros deste direito, garantindo o envolvimento contínuo do progenitor
não custódio na vida da criança. A legislação sublinha assim a importância de

10
"O reconhecimento sujeita o filho menor ao poder familiar. Dispõe o art. 1.612 do Código Civil que o filho
reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do progenitor que o reconheceu, e, se ambos o
reconhecerem, e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor." (VENOSA,
2013, p. 277)
39

manter uma abordagem equilibrada e equitativa das responsabilidades parentais,


salvaguardando o bem-estar e os interesses da criança (BRASIL, 2002).
Nesta trama de relações familiares, o direito desempenha um papel fulcral
na defesa dos princípios da igualdade e do interesse superior da criança,
garantindo que os laços de afeto e de responsabilidade entre pais e filhos sejam
preservados, independentemente das vicissitudes da vida (BRASIL, 1988;
BRASIL, 2002).11
O direito à visitação visa perpetuar os vínculos afetivos existentes entre
pais e filhos, com o objetivo primordial de favorecer o desenvolvimento do menor,
assegurando o crescimento integral e completo da criança, não intimidado pela
ausência de convivência com o pai ou a mãe. É imprescindível ressaltar que além
de ser um direito assegurado aos pais que não detêm a guarda dos filhos, o
direito à visitação é predominantemente um direito da própria criança de interagir
com os pais, fortalecendo assim os vínculos afetivos (GONÇALVES, 2012).
Quanto aos direitos assegurados aos filhos, estes também possuem o
direito ao nome de família, bem como às relações de coabitação e parentesco.
Estes podem ser considerados direitos morais no âmbito da relação socioafetiva,
o que não permite qualquer distinção entre os direitos e deveres dos filhos
biológicos e socioafetivos. Concomitantemente aos direitos e deveres de “ordem
moral”, existem também os de natureza patrimonial, abrangendo o direito à
herança e à sucessão, bem como o direito e o dever de prestar alimentos aos
filhos (LÔBO, 2008).
O direito à herança e à sucessão decorre do reconhecimento da filiação
socioafetiva, equiparada à filiação biológica, conferindo ao filho afetivo direitos
iguais aos descendentes consanguíneos situados na mesma linha sucessória.
Assim, o filho com vínculo socioafetivo será considerado herdeiro compulsório,
ocupando a posição de destaque na ordem de sucessão hereditária, conforme
estabelece o artigo 1.829 do Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002).12
11
"O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia,
segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e
educação. Parágrafo único. O direito de visita estende-se a qualquer dos avós, a critério do juiz, observados
os interesses da criança ou do adolescente." (BRASIL, 2002)
12
"A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no
regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se,
no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
40

No domínio do discurso jurídico, é imperativo elucidar que tanto os


descendentes biológicos como os consanguíneos possuem posição equivalente
na esfera da sucessão, estabelecendo-se assim como herdeiros legítimos e
compulsórios. Esta paridade nos direitos sucessórios sublinha a abordagem não
discriminatória do sistema jurídico em relação às diferentes categorias de filiação,
garantindo uma aplicação uniforme das leis sucessórias (ZENI, 2013).
É pertinente articular que os herdeiros compulsórios não podem ser
totalmente excluídos da sucessão apenas pela disposição testamentária do
falecido, exceto nos casos em que se verifiquem circunstâncias de indignidade,
conforme delineadas nos artigos 1.814 a 1.818 do Código Civil, ou nos casos de
deserdação, regida pelos artigos 1961 a 1964 do mesmo código legal. Tanto a
indignidade como a deserdação servem para cortar a vocação hereditária do
herdeiro, baseando-se em conduta ilícita e repreensível (LIMA, 2018).
No contexto do direito à pensão alimentícia, este caracteriza-se como um
direito pessoal e altamente individual, alicerçado nos princípios da
responsabilidade pessoal e do apoio mútuo. Gonçalves elucida sobre os direitos e
obrigações relativos à prestação de alimentos, enfatizando o seu papel
fundamental na garantia do bem-estar e sustento dos titulares (GONÇALVES,
2012).13
A obrigação de fornecer pensão alimentícia, conforme delineada no artigo
1.694 do Código Civil Brasileiro (CC/02), é uma prova do compromisso do
arcabouço legal em garantir que parentes, cônjuges ou companheiros possam
reivindicar o apoio necessário para manter um padrão de uma vida proporcional
ao seu estatuto social, incluindo provisões para as suas necessidades educativas.
Esta disposição legal sublinha o imperativo da solidariedade familiar e da
salvaguarda da dignidade humana, especialmente para aqueles que não
conseguem sustentar-se de forma independente (BRASIL, 2002).

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;


III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais." (BRASIL, 2002)
13
O vocábulo ‘alimentos’ tem, todavia, conotação muito mais ampla do que na linguagem comum, não se
limitando ao necessário para o sustento de uma pessoa. Nele se compreende não só a obrigação de prestá-
los, como também o conteúdo da obrigação a ser prestada. A aludida expressão tem, no campo do direito,
uma acepção técnica de larga abrangência, compreendendo não só o indispensável ao sustento, como
também o necessário à manutenção da condição social e moral do alimentando (GONÇALVES, 2012, p.
336).
41

A obrigação de prestar alimentos está ancorada em dois princípios


fundamentais: a dignidade da pessoa humana e a solidariedade familiar. O
primeiro princípio sublinha o imperativo de garantir a subsistência de indivíduos
incapacitados e incapazes de se defenderem sozinhos, defendendo assim a sua
dignidade inerente. Este último princípio, a solidariedade familiar, desdobra-se
numa responsabilidade atribuída aos membros da família, necessitando da
prestação de apoio aos necessitados (VIEIRA, 2020).
Além disso, o Código Civil Brasileiro, em seu artigo 1.696, elucida o
caráter recíproco da obrigação de prestar alimentos, ampliando-a para abranger a
relação entre pais e filhos, bem como todos os ascendentes, cabendo a
responsabilidade ao grau mais próximo. Neste contexto, Dias fornece insights
adicionais, elucidando os meandros desta disposição legal e suas implicações
para as relações familiares (DIAS, 2020).14
No panorama jurídico, a paternidade socioafetiva emergiu como aspecto
central, engendrando consequências jurídicas substanciais. Uma decisão histórica
do Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil, proferida no julgamento do Recurso
Extraordinário 898.060 e na análise da Repercussão Geral 622, promulgada em
24 de agosto de 2017, cristalizou uma tese jurisprudencial de importância
monumental. Articulou que “a paternidade socioafetiva, declarada ou não em
cartório, não impede o reconhecimento de vínculo filial concorrente de origem
biológica, cada um com seus inerentes efeitos jurídicos”.
Nessa conjuntura, o referido pronunciamento judicial reconheceu o
conceito de multiparentalidade, ampliando o espectro dos vínculos filiais e
colocando em pé de igualdade a paternidade socioafetiva e biológica. Além disso,
endossou a viabilidade de mesclar a paternidade socioafetiva com a paternidade
biológica, afirmando que o reconhecimento de uma relação jurídica, seja ela
consanguínea ou socioafetiva, não nega o reconhecimento simultâneo da outra
(TEIXEIRA & RODRIGUES, 2010).15
14
"No contexto da prestação de alimentos, é imprescindível discernir os níveis de parentesco diante da
obrigação recíproca de prover sustento. Os primeiros a serem chamados para fornecer alimentos são os
familiares mais próximos, conforme determina o artigo 1.696 do Código Civil. Em matéria de sucessão, o
tipo de parentesco influencia a forma de participação na herança, de acordo com a ordem de sucessão
hereditária, definida no artigo 1.829 do Código Civil." (DIAS, 2020, p. 613).
15
Diante de uma conjuntura social que abrange todas as formas possíveis de famílias e de um sistema
jurídico que permite a livre (des)construção familiar, é inegável que a presença de famílias recompostas
simboliza a chance de estabelecimento de múltiplos laços parentais para crianças inseridas nesses novos
42

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil evidentemente se


alinha aos novos paradigmas das famílias contemporâneas e às situações que
devem ser avaliadas à luz desses novos arranjos familiares. É inequivocamente
claro que esta decisão específica gera repercussões jurídicas significativas nos
domínios do Direito da Família e do Direito das Sucessões. Como foi elucidado,
esta estabelece direitos e obrigações entre pais e filhos, e vice-versa (CATANI,
SILVA, & NUNES, 2019).
A tese endossada, reconhecendo a multiparentalidade, abrange as
diversas formas de famílias que evoluíram ao longo do tempo, estendendo a sua
aceitação a todos os indivíduos abrangidos por estas estruturas familiares. Ao
escrutinar as consequências jurídicas da filiação socioafetiva, conclui-se que são
idênticas às decorrentes dos laços biológicos, desde que se estabeleça uma
relação jurídica de parentesco entre progenitor e filho, independentemente de
estarem ligados por sangue (LÔBO, 2008).
Concluindo, é imperativo afirmar que não é admissível qualquer
diferenciação entre os direitos e obrigações dos filhos afetivos e dos filhos
biológicos. Do ponto de vista jurídico, quando a legislação não fornece definições
claras e específicas, cabe ao julgador adaptar e avaliar a situação à luz das
possibilidades emergentes e das configurações familiares. Deve-se sempre dar
primazia ao melhor interesse da criança e do adolescente, em conformidade com
os preceitos da Constituição Federal do Brasil (CRFB/88) e do princípio da
dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988).

3.1 REGISTRO

O entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre a


temporalidade necessária para o reconhecimento da paternidade socioafetiva
marca um desenvolvimento significativo no direito de família, ressaltando uma
abordagem matizada que vai além de meros parâmetros cronológicos. A
jurisprudência do tribunal tem enfatizado consistentemente que, embora a

modelos familiares. Isso ocorre porque elas incorporam a figura do pai e da mãe por afinidade como novos
referenciais parentais, em conjunto com seus pais biológicos. Ignorar esses laços, forjados sobre os alicerces
de uma relação socioafetiva, pode também significar a falta de proteção a esses menores em
desenvolvimento (TEIXEIRA e RODRIGUES, 2010, p. 204).
43

duração da relação entre pais e filhos seja um fator essencial, não é o único
determinante no reconhecimento da paternidade socioafetiva. Em vez disso, o
tribunal sublinhou a importância da qualidade da relação, caracterizada por
cuidado, carinho e compromisso contínuos e demonstrados, que são igualmente
cruciais para estabelecer a autenticidade do vínculo socioafetivo. Esta postura
reflete um reconhecimento judicial de que os laços de amor e cuidado, integrantes
da relação socioafetiva, necessitam de tempo para se manifestarem e
fortalecerem, garantindo assim a preservação do superior interesse da criança
(DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
Além disso, as interpretações do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul esclareceram que a paternidade socioafetiva não é apenas uma questão de
cumprimento de formalidades legais; abrange as realidades cotidianas do
relacionamento entre pais e filhos. O tribunal destacou que a paternidade
socioafetiva envolve um investimento emocional e uma profundidade de
envolvimento que reflete, e às vezes pode até superar, as conexões biológicas. A
ênfase na qualidade afetiva durante um período considerável garante que a
paternidade socioafetiva seja reconhecida nos casos em que a relação parental
está profundamente enraizada na vida da criança, proporcionando estabilidade
emocional e sentimento de pertencimento. Esta abordagem alinha-se com os
princípios jurídicos mais amplos de priorizar o bem-estar da criança e reconhecer
as diversas formas de estruturas familiares na sociedade contemporânea
(TEIXEIRA & RODRIGUES, 2010).
Em síntese, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul adotou uma
abordagem abrangente e centrada na criança na interpretação dos requisitos
temporais para o reconhecimento da paternidade socioafetiva. Esta interpretação
influenciou significativamente o discurso jurídico sobre as relações familiares,
destacando o compromisso do tribunal em reconhecer a natureza evolutiva dos
laços familiares e em garantir a proteção e o bem-estar das crianças nestas
diversas configurações familiares (COUTO, 2017).
Continuando a exploração da perspectiva do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul sobre a paternidade socioafetiva, torna-se evidente que o tribunal
assumiu uma postura progressista, integrando aspectos psicológicos e
emocionais ao âmbito jurídico. Esta compreensão matizada reconhece que o
44

desenvolvimento de uma relação entre pais e filhos em termos socioafetivos é um


processo dinâmico, que não pode ser estritamente definido apenas por fronteiras
temporais. O tribunal tem salientado consistentemente que a essência de tal
relacionamento reside nas interações sustentadas e estimulantes que se
desenvolvem ao longo do tempo, criando um vínculo familiar que é reconhecido
pela sua profundidade emocional e compromisso (DIAS, 2020).
Esta abordagem interpretativa do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul mostra uma sensibilidade à natureza evolutiva da dinâmica familiar na
sociedade moderna. Significa um reconhecimento judicial das diversas formas
pelas quais os laços familiares podem formar-se e florescer, indo além das
tradicionais restrições biológicas ou legalistas. As decisões do tribunal servem,
assim, não apenas como diretivas legais, mas também como reflexos de
mudanças sociais, abrangendo uma definição mais ampla e inclusiva do que
constitui uma família (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por meio de seus acórdãos,
tem contribuído significativamente para o discurso jurídico sobre a paternidade
socioafetiva. Estas decisões enfatizam a importância de reconhecer e validar
legalmente as relações construídas sobre conexões emocionais e cuidado mútuo.
Ao fazê-lo, o tribunal abriu um precedente que sublinha a importância da
adaptabilidade e da capacidade de resposta nas interpretações jurídicas às
realidades da vida familiar contemporânea, garantindo que os direitos e o bem-
estar das crianças estão na vanguarda de todas as considerações (LENZA,
2012).
A abordagem do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre a
paternidade socioafetiva, particularmente no que diz respeito à temporalidade
para o seu reconhecimento, não apenas conforma, mas também enriquece o
arcabouço jurídico existente sobre o direito de família no Brasil. Ao focar nos
aspectos afetivos das relações parentais, as decisões do tribunal sublinharam o
princípio de que o bem-estar da criança é primordial, transcendendo as normas
jurídicas convencionais que priorizam as ligações biológicas. Esta ênfase na
qualidade e na substância da relação entre pais e filhos, em detrimento de uma
mera avaliação quantitativa do tempo passado juntos, marca uma mudança
fundamental na compreensão jurídica dos laços familiares (JOSÉ, 2020).
45

Além disso, a jurisprudência do tribunal nesta área tem sido fundamental


na defesa de uma interpretação mais inclusiva do direito da família, que
reconheça a legitimidade das diversas estruturas familiares e a importância dos
laços emocionais no desenvolvimento da criança. Esta inclusão é particularmente
significativa numa sociedade onde os paradigmas familiares tradicionais estão a
evoluir cada vez mais para incluir uma variedade de figuras parentais que
desempenham papéis críticos na vida das crianças (VENOSA, 2013).
Em essência, as decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
sobre a paternidade socioafetiva ampliaram o reconhecimento jurídico do que
constitui uma família, atendendo à dinâmica da sociedade moderna. Estas
decisões refletem um entendimento de que as disposições legais devem evoluir
em conjunto com as mudanças sociais, garantindo que todas as crianças
recebam a proteção e os cuidados de que necessitam, independentemente das
suas circunstâncias familiares (SILVA & FERREIRA, 2018).
Continuando com a análise do tratamento da paternidade socioafetiva
pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, fica claro que o tribunal tem
desempenhado um papel crucial na ampliação da compreensão jurídica da
dinâmica familiar. A abordagem matizada do tribunal ao aspecto temporal da
paternidade socioafetiva sublinha uma apreciação mais profunda das realidades
das relações familiares contemporâneas. Esta abordagem transcende os quadros
jurídicos tradicionais, integrando as complexidades e a diversidade da vida
familiar moderna no processo judicial (ZENI, 2013).
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul estabeleceu, por meio de
suas decisões, que o vínculo de paternidade socioafetiva não é apenas uma
construção jurídica, mas uma realidade vivida por muitas famílias. Ao reconhecer
a importância das relações socioafetivas, o tribunal reconheceu o profundo
impacto que tais vínculos podem ter no bem-estar emocional e psicológico de
uma criança. O foco do tribunal na qualidade destas relações, e não na sua
duração, alinha-se com uma compreensão mais ampla do que significa ser pai no
mundo de hoje (VALADARES & FERREIRA, 2016).
Além disso, a abordagem do tribunal nestes casos é uma prova do seu
compromisso com o princípio do interesse superior da criança, um princípio
fundamental do direito da família. Este princípio é evidente nos esforços
46

consistentes do tribunal para garantir que as crianças em relações socioafetivas


recebam as mesmas proteções e direitos legais que as crianças nas famílias
biológicas. Ao fazê-lo, o tribunal não só afirmou o valor dos laços socioafetivos,
mas também garantiu que os direitos das crianças estivessem na vanguarda das
considerações legais (TEIXEIRA & RODRIGUES, 2010).
Ou seja, a abordagem do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul aos
casos de paternidade socioafetiva representa um avanço significativo na evolução
do direito de família. As decisões do tribunal enriqueceram a compreensão
jurídica da paternidade, refletindo uma compreensão avançada e empática da
dinâmica familiar. Estas decisões estabeleceram um precedente para reconhecer
e valorizar as diversas formas de relações parentais, garantindo que o sistema
jurídico continua a responder à mudança do panorama das estruturas familiares
(GOMES, 1994).

3.2 SUCESSÃO

No âmbito da paternidade socioafetiva, o Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul tem fornecido substancial jurisprudência, com foco especial nos
requisitos temporais para o reconhecimento dessa paternidade. O tribunal
enfatizou que o período necessário para estabelecer uma relação socioafetiva
não é apenas uma questão de tempo decorrido, mas, mais significativamente, da
qualidade e consistência do vínculo afetivo formado entre pai e filho. Esta postura
interpretativa significa uma mudança nas noções tradicionais de temporalidade,
considerando a profundidade da relação e o investimento emocional genuíno
como fatores primordiais (SOUZA, 2017).
As decisões do tribunal iluminaram o equilíbrio necessário na avaliação
da dimensão temporal da paternidade socioafetiva. Este equilíbrio é crucial, pois
garante que o reconhecimento da paternidade socioafetiva não se baseia em
relações superficiais ou transitórias, mas em ligações sustentadas e significativas
que refletem as realidades do compromisso parental. O tribunal estabeleceu
assim um precedente de que, embora o tempo seja um fator relevante, são os
aspectos qualitativos da relação, como o cuidado contínuo, o apoio e a nutrição
47

emocional, que são decisivos no reconhecimento da paternidade socioafetiva


(LIMA, 2018).
Em termos de sucessão, a abordagem do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul sobre a paternidade socioafetiva tem implicações profundas. O
tribunal destacou que, uma vez reconhecida a paternidade socioafetiva, a criança
goza dos mesmos direitos que uma criança em relação familiar biológica. Isto
inclui direitos em matéria de sucessão, garantindo que os filhos de relações
socioafetivas não sejam desfavorecidos ou discriminados em matéria de herança.
As interpretações do tribunal alargam assim o âmbito dos direitos familiares,
reforçando o princípio jurídico de que todos os filhos, independentemente da
natureza da sua paternidade, têm direito à igualdade de tratamento perante a lei,
nomeadamente em matéria de sucessão (COUTO, 2017).
Dando continuidade à exploração da perspectiva do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul sobre a paternidade socioafetiva, especialmente no que diz
respeito à sucessão, o tribunal traçou um caminho onde os vínculos socioafetivos
recebem peso igual ao das ligações biológicas em matéria de herança e direito de
família. Esta postura judicial garante que os filhos reconhecidos pela paternidade
socioafetiva não sejam excluídos dos direitos sucessórios, proporcionando-lhes
paridade jurídica em termos de direitos sucessórios e familiares (SILVEIRA,
2019).
Esta abordagem equitativa nos direitos sucessórios demonstra o
compromisso do tribunal em defender o princípio da não discriminação entre as
crianças, independentemente da natureza da sua paternidade. O tribunal integrou
eficazmente as relações socioafetivas no quadro jurídico, reconhecendo a sua
legitimidade e importância na estrutura familiar. Esta integração é crucial, pois
reflete um reconhecimento social mais amplo das diversas configurações
familiares e da importância dos laços afetivos na constituição das unidades
familiares (SILVA F. F., 2018).
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem sido
fundamental na reformulação do panorama jurídico dos direitos sucessórios no
contexto da paternidade socioafetiva. Destaca a capacidade de resposta do
tribunal à evolução das normas sociais e a necessidade de adaptar as
interpretações jurídicas às complexidades das relações familiares modernas.
48

Através das suas decisões, o tribunal tem afirmado que a essência de uma família
reside não apenas nas ligações biológicas, mas também na força e profundidade
dos laços afetivos, garantindo que a lei protege adequadamente essas relações
(KANITZ, 2019).
À medida que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul continua a
refinar sua posição sobre a paternidade socioafetiva, as implicações para o direito
sucessório tornam-se cada vez mais significativas. A jurisprudência do tribunal
reconhece que o vínculo socioafetivo, quando legalmente estabelecido, tem o
mesmo peso que o vínculo biológico em matéria sucessória. Este reconhecimento
alinha-se com os princípios de equidade e justiça no sistema jurídico, garantindo
que as crianças que fazem parte de uma família através de laços socioafetivos
tenham os mesmos direitos e proteções que os seus homólogos biológicos
(MAZZARDO & PICHININ, 2019).
Além disso, a abordagem do tribunal no tratamento de casos relacionados
com a paternidade e sucessão socioafetiva sublinha a natureza evolutiva do
direito da família, que deve adaptar-se às novas realidades das estruturas e
relações sociais. O tribunal desempenhou um papel fundamental na promoção de
uma compreensão mais inclusiva do que constitui uma família, expandindo assim
a definição legal para abranger laços familiares não tradicionais, mas igualmente
válidos. Esta progressão no pensamento jurídico é indicativa de uma mudança
social mais ampla no sentido de reconhecer e valorizar a diversidade das
estruturas familiares (NUNES, 2021).
Concluindo, as interpretações e decisões do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul sobre a paternidade socioafetiva impactaram profundamente o
direito sucessório, abrindo um precedente a ser seguido por outras jurisdições. Ao
garantir que os filhos socioafetivos tenham os mesmos direitos sucessórios que
os filhos biológicos, o tribunal deu um passo significativo no sentido da inclusão
jurídica e da proteção dos direitos de todas as crianças no contexto familiar. Estas
decisões refletem um compromisso com o princípio de que todas as crianças,
independentemente da natureza dos seus laços familiares, têm direito à igualdade
de tratamento perante a lei, especialmente em questões tão cruciais como a
sucessão e a herança (COUTO, 2017).
49

Com base nos avanços significativos alcançados pelo Tribunal de Justiça


do Rio Grande do Sul no domínio da paternidade socioafetiva e suas implicações
no direito sucessório, é evidente que o tribunal estabeleceu um precedente legal
com visão de futuro. Este precedente sublinha a importância dos aspectos
emocionais e psicológicos na constituição dos laços familiares, reconhecendo o
profundo impacto destes fatores nos direitos legais dos filhos em matéria de
sucessão (ALVES, 2020).
As decisões do tribunal realçaram a necessidade de os sistemas jurídicos
evoluírem em resposta às mudanças na dinâmica da vida familiar, garantindo que
todas as crianças tenham oportunidades e direitos iguais, independentemente das
suas origens familiares. Esta abordagem não é apenas um reflexo de um sistema
jurídico mais inclusivo e equitativo, mas também um reconhecimento das diversas
formas como as relações familiares são formadas e nutridas na sociedade
contemporânea (MARTINS, 2015).
Além disso, a abordagem do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
sobre a paternidade socioafetiva no contexto do direito sucessório serve de
modelo para outras jurisdições. Sublinha a necessidade de os sistemas jurídicos
se adaptarem às mudanças sociais, proporcionando um quadro que seja flexível e
responda às necessidades de todos os membros da família. Ao fazê-lo, o tribunal
reforçou a ideia de que o reconhecimento legal das relações familiares deve
abranger um espectro mais amplo de vínculos parentais, garantindo assim que os
direitos e interesses de todas as crianças sejam protegidos (DIAS, 2020).
Em síntese, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
no âmbito da paternidade socioafetiva e dos direitos sucessórios representa um
avanço significativo no direito de família. As decisões do tribunal estabeleceram
um padrão de inclusão e justiça, garantindo que os filhos de relações
socioafetivas não sejam prejudicados em questões de herança. Esta interpretação
jurídica progressista é uma prova do compromisso do tribunal em defender os
direitos de todas as crianças e em reconhecer a natureza evolutiva das estruturas
familiares no século XXI (VALADARES & FERREIRA, 2016).

3.3 ALIMENTOS
50

Ao abordar a questão das obrigações alimentares no âmbito da


paternidade socioafetiva, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul delineou
uma postura jurídica clara e progressista. O tribunal tem sustentado
consistentemente que o estabelecimento da paternidade socioafetiva acarreta as
mesmas responsabilidades que a paternidade biológica, particularmente no
domínio da pensão alimentícia. Esta perspectiva assenta-se no princípio de que a
obrigação de assegurar o bem-estar da criança não depende apenas dos laços
biológicos, mas também da relação afetiva e de cuidado estabelecida entre
progenitor e filho (WELTER, 2009).
A jurisprudência do tribunal nesta matéria elucida que uma vez
reconhecida a paternidade socioafetiva, esta implica um conjunto abrangente de
responsabilidades parentais, incluindo o apoio financeiro. Este ponto de vista
jurídico é fundamental, pois sublinha o compromisso do tribunal em garantir que
as crianças em relações socioafetivas não sejam desfavorecidas ou privadas do
apoio a que têm direito. A ênfase na igualdade das obrigações alimentares entre
pais socioafetivos e biológicos reflete uma compreensão mais ampla da
responsabilidade parental, reconhecendo a importância de satisfazer as
necessidades físicas, emocionais e educativas da criança, independentemente da
natureza do vínculo parental (LÔBO, 2008).
Além disso, as interpretações do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul reforçaram o princípio de que o bem-estar e o melhor interesse da criança são
primordiais em questões de direito de família. Ao equiparar as obrigações
alimentares dos pais socioafetivos e biológicos, o tribunal garantiu um nível de
segurança financeira e de apoio às crianças em relações socioafetivas,
defendendo assim o seu bem-estar e desenvolvimento global. Esta abordagem é
indicativa de um sistema judicial que se adapta à evolução das concepções de
família e parentalidade na sociedade moderna, garantindo que as disposições
legais respondem às necessidades de todas as crianças (MARQUES &
SULZBACH, 2021).
A abordagem do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul às obrigações
alimentares nos casos de paternidade socioafetiva é reflexo de sua interpretação
progressista do direito de família. O tribunal reconheceu as complexidades
inerentes às relações socioafetivas, sublinhando que o estabelecimento de um
51

vínculo parental, independentemente da sua origem biológica, exige a assunção


de responsabilidades parentais plenas. Isto inclui a prestação de apoio financeiro,
garantindo que as necessidades fundamentais da criança sejam satisfeitas. A
posição do tribunal é indicativa de um cenário jurídico em evolução que
reconhece e se adapta à natureza mutável das relações familiares (GOMES,
1994).
Além disso, a jurisprudência do tribunal nesta área destaca o seu
compromisso em defender o princípio da igualdade entre todas as crianças em
termos do seu direito a receber apoio alimentar. Ao equiparar as
responsabilidades dos pais socioafetivos com as dos pais biológicos, o tribunal
reforçou a noção jurídica de que todas as figuras parentais, independentemente
da natureza do seu vínculo com a criança, são igualmente responsáveis pela
educação e bem-estar da criança. Esta perspectiva judicial desempenha um papel
crucial na salvaguarda dos interesses das crianças nas diversas estruturas
familiares presentes na sociedade contemporânea (MARTINS, 2015).
Em essência, as decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
relativas às obrigações alimentares nos casos de paternidade socioafetiva servem
como uma mudança de paradigma no direito de família. As interpretações do
tribunal foram além das noções jurídicas tradicionais, adoptando uma abordagem
mais inclusiva e equitativa da parentalidade. Esta abordagem é fundamental para
garantir que as crianças em arranjos familiares socioafetivos recebam o mesmo
nível de cuidados e apoio que as crianças em famílias biológicas tradicionais,
promovendo um quadro jurídico mais justo e equilibrado para o direito da família
(MONTEIRO, 2016)
Continuando o discurso sobre as decisões do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul relativas às obrigações alimentares na paternidade socioafetiva,
fica evidente que o tribunal deu passos significativos no sentido de garantir a
paridade e equidade jurídica. A perspectiva do tribunal reconhece os aspectos
emocionais e práticos da parentalidade, indo além dos meros laços biológicos
para incluir a educação e o cuidado intrínsecos às relações socioafetivas. Este
reconhecimento garante que os pais socioafetivos não ficam isentos das
responsabilidades financeiras associadas à criação de um filho, promovendo
assim o bem-estar e o desenvolvimento da criança (OLIVEIRA, 2002).
52

A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul também


ilustra a importância da adequação das normas jurídicas às estruturas familiares
contemporâneas. O tribunal demonstrou uma compreensão profunda da natureza
evolutiva das unidades familiares, reconhecendo que os laços socioafetivos,
embora não tenham base biológica, são igualmente vitais no contexto da vida de
uma criança. Ao garantir que os pais socioafetivos são legalmente obrigados ao
cumprimento dos deveres alimentares, o tribunal tem defendido o princípio de que
todos os pais, independentemente da natureza da sua relação com o filho, têm
igual responsabilidade na garantia do seu bem-estar (CATANI, SILVA, & NUNES,
2019).
Além disso, estas decisões judiciais têm implicações de longo alcance
para o reconhecimento e proteção de diversas formas familiares. Ao afirmar as
obrigações alimentares dos pais socioafetivos, o tribunal reforçou a noção de que
todas as crianças merecem igual proteção e cuidados perante a lei. Esta
abordagem alinha-se com mudanças sociais e jurídicas mais amplas no sentido
da inclusão e do reconhecimento de vários laços familiares, garantindo que o
sistema jurídico permanece responsivo e relevante às necessidades de todos os
membros da família (SOUZA, 2017).
Concluindo, a abordagem do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul às
obrigações alimentares nos casos de paternidade socioafetiva reflete um
compromisso com a justiça e a igualdade. As decisões do tribunal têm sido
fundamentais para promover um ambiente jurídico que reconhece a importância
das relações socioafetivas e garante que os direitos e necessidades das crianças
dentro destas relações sejam satisfeitos. A jurisprudência do tribunal, portanto,
permanece como um testemunho da natureza progressista do direito da família no
Brasil, abraçando as complexidades e a dinâmica em evolução da vida familiar
moderna (COUTO, 2017).
À medida que o cenário judicial continua a evoluir, o tratamento dado pelo
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul às obrigações alimentares na
paternidade socioafetiva exemplifica ainda mais a adaptabilidade do judiciário às
mudanças no tecido das relações sociais. A compreensão diferenciada e a
aplicação dos princípios do direito da família por parte do tribunal nestes casos
sublinham a importância de reconhecer e afirmar legalmente as diversas formas
53

de ligações familiares que existem na sociedade contemporânea. Ao fazê-lo, o


tribunal não só validou as relações socioafetivas, mas também garantiu que a
estas relações é atribuído o mesmo estatuto jurídico e responsabilidades que os
laços familiares tradicionais, particularmente no que diz respeito à prestação de
alimentos aos filhos (DIAS, 2020).
As decisões do tribunal nestas matérias têm sido fundamentais para
redefinir o quadro jurídico que rodeia o direito da família, nomeadamente no que
diz respeito ao reconhecimento das responsabilidades financeiras que
acompanham a paternidade socioafetiva. Esta abordagem judicial representa um
passo significativo na criação de um sistema jurídico mais inclusivo e equitativo,
que reconheça a natureza diversa das estruturas familiares e as correspondentes
obrigações de todos os pais, independentemente da origem do seu vínculo
parental (ALMEIDA, 2020).
Além disso, as decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
nesses casos têm implicações significativas para os profissionais do direito e os
formuladores de políticas. Servem de orientação para abordar casos semelhantes
no futuro, garantindo que o bem-estar da criança seja sempre a consideração
primordial. Este foco no interesse superior da criança está alinhado com as
normas e convenções jurídicas internacionais, que defendem a proteção e o bem-
estar de todas as crianças. A jurisprudência do tribunal nesta área é reflexo do
seu compromisso com estes princípios, garantindo que os direitos das crianças
das famílias socioafetivas são salvaguardados (MARTINS, 2015).
Concluindo, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
em relação às obrigações alimentares em casos de paternidade socioafetiva é
uma prova da natureza progressista do sistema jurídico brasileiro no tratamento
das complexidades da vida familiar moderna. As decisões do tribunal nestas
questões estabeleceram um precedente legal que enfatiza a importância de
garantir o bem-estar de todas as crianças, independentemente da natureza dos
seus laços familiares. Esta abordagem garante que o sistema jurídico permanece
relevante, responsivo e justo, em consonância com a dinâmica evolutiva das
estruturas familiares na sociedade contemporânea (NUNES, 2021).
54

4 ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DO TJ/RS

Os critérios utilizados pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul


(TJ/RS) para o reconhecimento da paternidade socioafetiva é um assunto
complexo e em evolução, significativamente influenciado pelas mudanças
jurídicas e sociais contemporâneas. A paternidade socioafetiva, distinta da
paternidade biológica, depende do estabelecimento de um vínculo afetivo, que é
nutrido por meio do envolvimento parental contínuo caracterizado pelo cuidado,
atenção e amor. Estes elementos são agora cada vez mais reconhecidos como
fundamentais na educação e no desenvolvimento de uma criança.
Desde 2019, o TJ/RS adota uma postura progressista em relação à
paternidade socioafetiva. Esta abordagem sublinha um reconhecimento judicial
mais amplo da importância dos laços emocionais na constituição de relações
familiares, marcando um afastamento das visões tradicionais que enfatizavam as
ligações biológicas. Os critérios do tribunal abrangem fatores como a natureza
pública do relacionamento, a percepção e o reconhecimento da criança no
ambiente social como sendo filho dos pais e a existência de um vínculo emocional
profundo formado ao longo do tempo. Esta perspectiva alinha-se com os
entendimentos contemporâneos do direito da família, que priorizam o bem-estar e
a saúde psicológica da criança.
Neste contexto, os juristas têm-se centrado cada vez mais nos princípios
da afetividade, no melhor interesse da criança e na realidade social dos laços
familiares. Além disso, as decisões do TJ/RS refletem um alinhamento com as
tendências jurídicas internacionais que reconhecem a importância dos fatores
sociais e emocionais na definição das relações familiares. Esta abordagem é
corroborada por convenções e declarações internacionais, como a Convenção
sobre os Direitos da Criança, que enfatiza a importância primordial do interesse
superior da criança em todas as ações que lhe dizem respeito, incluindo questões
de direito da família (DIAS, 2020; LÔBO, 2008).
Ou seja, os critérios do TJ/RS para reconhecer a paternidade socioafetiva
significam uma abordagem transformadora no direito de família brasileiro, que
harmoniza as perspectivas jurídicas com a evolução da compreensão social das
relações familiares e parentais. Esta mudança sublinha a importância dos fatores
55

não biológicos no reconhecimento legal dos papéis parentais, garantindo assim


que os interesses superiores da criança sejam prioritariamente servidos em
disputas e acordos familiares (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
É fundamental explorar as implicações práticas da abordagem do TJ/RS à
paternidade socioafetiva e seu impacto mais amplo no direito de família no Brasil.
Os critérios do tribunal, embora progressistas, também convidam a uma série de
complexidades jurídicas, especialmente nos casos em que as paternidades
socioafetivas e biológicas se cruzam ou entram em conflito. Esta situação exige
uma compreensão e aplicação diferenciadas da lei, equilibrando os direitos e
responsabilidades de todas as partes envolvidas (SOUZA, 2017).
As decisões do TJ/RS nesse âmbito muitas vezes ilustram uma
consideração cuidadosa tanto do bem-estar psicológico da criança quanto dos
direitos legais dos pais. Nos casos de paternidade socioafetiva, o tribunal
normalmente examina a profundidade e a duração da relação pai-filho, o
reconhecimento da criança no ambiente familiar e social e a intenção do pai em
assumir o papel paterno. Esta abordagem holística está alinhada com o princípio
do melhor interesse da criança, uma pedra angular da jurisprudência brasileira e
internacional dos direitos da criança (HELLER, 2010).
A abordagem do TJ/RS em relação à paternidade socioafetiva reflete uma
mudança social mais ampla no sentido do reconhecimento de diversas estruturas
familiares. Esta perspectiva reconhece que os laços familiares vão além das
conexões biológicas, abrangendo as realidades da dinâmica familiar moderna.
Sinaliza também um crescente reconhecimento jurídico dos aspectos emocionais
e psicológicos das relações parentais, que são muitas vezes tão importantes
como os laços biológicos na formação da vida de uma criança (BARROS, 2021).
Assim sendo, os critérios e decisões do TJ/RS sobre questões
socioafetivas. A paternidade passiva é emblemática de uma transformação mais
ampla no direito da família, que incorpora cada vez mais princípios de afetividade,
vínculos emocionais e o melhor interesse da criança. Esta evolução significa não
apenas uma adaptação legal, mas também um reconhecimento social das
diversas formas de família e parentalidade no mundo contemporâneo (DANTAS,
OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
56

4.1 DECISÕES

A evolução do conceito de paternidade socioafetiva no ordenamento


jurídico brasileiro tem sido marcada por mudanças significativas ao longo dos
anos. Inicialmente, o Direito de Família era pautado apenas pela filiação biológica,
ou seja, a relação de parentesco estabelecida pelo vínculo sanguíneo entre pais e
filhos. No entanto, com o passar do tempo, percebeu-se a necessidade de
reconhecer e proteger também os laços afetivos que se desenvolvem entre
indivíduos que não possuem vínculo biológico, mas que vivem uma relação de
paternidade/maternidade. Essa evolução é fundamental para garantir a proteção
dos direitos das crianças e adolescentes, pois permite que elas tenham acesso
aos mesmos direitos e benefícios conferidos aos filhos biológicos (LIMA, 2018).
No âmbito do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o reconhecimento
da paternidade socioafetiva tem sido analisado com base em critérios específicos.
Ao analisar as decisões judiciais proferidas nesse sentido, observa-se que os
magistrados levam em consideração diversos elementos para determinar se há
efetivamente uma relação de paternidade/maternidade socioafetiva. Entre esses
critérios estão a convivência familiar duradoura, o estabelecimento de vínculos
afetivos sólidos e a manifestação pública da vontade de ser pai/mãe (BARROS,
2021).
Um aspecto relevante a ser discutido é a temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva. A questão central é se existe um
período mínimo de convivência ou de estabelecimento de vínculo afetivo entre o
pai socioafetivo e o filho para que esse reconhecimento seja válido. Alguns
entendem que é necessário um tempo mínimo de convivência, a fim de garantir a
estabilidade e a consistência da relação. No entanto, outros defendem que não há
uma temporalidade fixa, devendo-se analisar cada caso concreto, levando em
consideração a intensidade e qualidade do vínculo afetivo estabelecido
(MARQUES & SULZBACH, 2021).
No que diz respeito à obrigação alimentar decorrente do reconhecimento
da paternidade socioafetiva, surgem questionamentos sobre sua automática
aplicação ou se depende de outros fatores, como a existência ou não de vínculo
biológico entre o pai socioafetivo e o filho. Alguns entendimentos jurisprudenciais
57

têm defendido que a obrigação alimentar é automática no caso da paternidade


socioafetiva, independentemente da existência de vínculo biológico. No entanto,
há quem defenda que essa obrigação deve ser analisada caso a caso,
considerando-se as particularidades de cada situação (DANTAS, OLIVEIRA, &
VIEIRA, 2022).
O entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acerca da
temporalidade necessária para o reconhecimento da paternidade socioafetiva tem
sido alvo de críticas por parte de alguns estudiosos e juristas. Argumenta-se que
impor um período mínimo de convivência ou estabelecimento de vínculo afetivo
pode ser limitador e injusto, pois desconsidera situações em que a relação se
desenvolveu rapidamente e com intensidade. Defende-se, portanto, a
flexibilização desse critério, a fim de que cada caso seja analisado de forma
individualizada, levando-se em consideração a realidade das partes envolvidas
(MONTEIRO, 2016).
As consequências jurídicas do reconhecimento da paternidade
socioafetiva são diversas e têm impacto direto na vida dos envolvidos. Uma delas
é a possibilidade de adoção unilateral pelo pai socioafetivo, o que confere ao filho
todos os direitos e deveres inerentes à filiação biológica. Além disso, o
reconhecimento da paternidade socioafetiva também gera reflexos no campo dos
direitos sucessórios, conferindo ao filho socioafetivo os mesmos direitos
hereditários dos filhos biológicos (LENZA, 2012).
A análise do entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
acerca da temporalidade necessária para o reconhecimento da paternidade
socioafetiva é de extrema importância para a compreensão e aplicação do direito
de família no Brasil. Isso porque o posicionamento adotado por esse tribunal
influencia diretamente as decisões judiciais em casos semelhantes, podendo criar
precedentes e orientar a atuação dos magistrados em todo o país. Portanto,
compreender e analisar esse entendimento é fundamental para garantir uma
interpretação adequada e atualizada das normas jurídicas relacionadas à
paternidade socioafetiva (LÔBO, 2008).
No âmbito do direito de família, as decisões do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul (TJ/RS) relativas ao reconhecimento da paternidade socioafetiva
constituem um testemunho da natureza evolutiva das interpretações jurídicas das
58

relações familiares. Estas decisões, particularmente no que diz respeito aos


critérios variáveis utilizados, refletem uma compreensão matizada de que a
essência da paternidade se estende para além dos meros laços biológicos,
abrangendo a profundidade e a qualidade do vínculo emocional entre pais e
filhos. Esta abordagem, informada pelos valores sociais e princípios jurídicos
contemporâneos, significa uma mudança no sentido de uma compreensão mais
inclusiva e dinâmica das estruturas familiares (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
Desde 2019, o TJ/RS tem aplicado consistentemente um conjunto de
critérios variáveis no julgamento dos casos de paternidade socioafetiva. No centro
destes critérios está o reconhecimento público da relação paterna, a extensão do
vínculo emocional partilhado entre os pais e o filho, e o reconhecimento desta
relação nos círculos sociais e familiares dos indivíduos envolvidos. Além disso, a
intenção dos pais de assumir e cumprir as responsabilidades da paternidade,
desprovida de qualquer compulsão externa ou ganho material, constitui um
aspecto crítico desta avaliação (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
No domínio acadêmico, investigam-se os meandros dos laços
socioafetivos, explorando as implicações de tais relações no contexto do
reconhecimento legal dos pais e as ramificações mais amplas para o direito da
família. A aplicação desses critérios pelo TJ/RS reflete uma tendência mais ampla
no direito internacional da família, em que os aspectos emocionais e sociais da
parentalidade estão ganhando cada vez mais reconhecimento. Esta abordagem
judicial está em consonância com os padrões jurídicos globais, particularmente
aqueles delineados em convenções internacionais como a Convenção sobre os
Direitos da Criança. Tais normas enfatizam a importância primordial do bem-estar
e do bem-estar psicológico da criança, defendendo quadros jurídicos que
reconheçam e protejam diversas formas de laços familiares (LÔBO, 2008).
Em síntese, as decisões do TJ/RS no reconhecimento da paternidade
socioafetiva, especialmente no que diz respeito aos critérios variáveis,
representam um avanço significativo no domínio jurídico. Esta evolução sublinha
um reconhecimento crescente no sistema jurídico da natureza multifacetada das
relações parentais, destacando a necessidade de considerar os laços afetivos
juntamente com as conexões biológicas na definição dos laços familiares (ALVES,
2020).
59

Continuando a exploração das decisões do TJ/RS sobre paternidade


socioafetiva, é fundamental aprofundar a forma como esses critérios são
aplicados na prática e suas implicações mais amplas para o ordenamento jurídico.
A abordagem do TJ/RS caracteriza-se pelo exame minucioso das circunstâncias
singulares de cada caso, garantindo que o reconhecimento da paternidade
socioafetiva seja concedido de forma que reflita verdadeiramente os vínculos
afetivos e sociais estabelecidos, salvaguardando assim o melhor interesse da
criança (DIAS, 2020).
Nestes casos, o tribunal considera frequentemente a duração e a
consistência da relação, examinando até que ponto o progenitor participou
ativamente na educação e no desenvolvimento da criança. Este envolvimento não
se limita ao apoio financeiro, mas estende-se à nutrição emocional, à orientação e
à formação de um ambiente estável e amoroso, que são essenciais para o bem-
estar da criança. A avaliação do tribunal também inclui a percepção e aceitação
que a criança tem do indivíduo como pai, fator crucial para determinar a existência
e a profundidade do vínculo socioafetivo (LENZA, 2012).
As decisões do TJ/RS neste domínio também refletem uma tendência
internacional crescente de reconhecimento dos direitos das crianças de manter
relações com aqueles que desempenham um papel parental, independentemente
dos laços biológicos. Esta perspectiva alinha-se com os princípios delineados na
Convenção sobre os Direitos da Criança, que defende uma abordagem centrada
na criança em questões de direito da família, onde as necessidades emocionais e
psicológicas da criança são da maior importância (ONU, 1989).
Concluindo, a abordagem do TJ/RS no reconhecimento da paternidade
socioafetiva, particularmente por meio da aplicação de critérios variáveis,
representa um avanço significativo no direito de família. Estas decisões não só se
alinham com os princípios jurídicos internacionais, mas também refletem uma
compreensão social em evolução da natureza das relações familiares. Ao priorizar
os vínculos afetivos e o melhor interesse da criança, o TJ/RS ressalta a
importância do reconhecimento das diversas formas de parentalidade,
contribuindo assim para um sistema jurídico mais inclusivo e humano (JOSÉ,
2020).
60

Com base na estrutura estabelecida, as decisões do TJ/RS ao reconhecer


a paternidade socioafetiva destacam ainda mais a evolução do cenário jurídico no
tratamento de situações familiares complexas. Esta evolução é particularmente
relevante no contexto de famílias mistas e cenários de adoção, onde as relações
socioafetivas desempenham muitas vezes um papel crucial. A abordagem do
tribunal nestes casos demonstra uma consciência aguda da dinâmica familiar
contemporânea e da necessidade de o sistema jurídico se adaptar em
conformidade (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
Ao avaliar a paternidade socioafetiva, o TJ/RS também leva em
consideração o potencial impacto de suas decisões nas estruturas familiares
existentes. Isto inclui a consideração dos direitos e responsabilidades de outros
membros da família, especialmente nos casos em que o reconhecimento de um
progenitor socioafetivo possa cruzar-se com os direitos dos pais biológicos ou de
outros tutores legais. Ao fazê-lo, o tribunal equilibra o interesse da criança em
manter uma relação com o progenitor socioafetivo contra a potencial perturbação
da estrutura familiar estabelecida (ZENI, 2013).
Acadêmicos jurídicos como Conrado Paulino da Rosa e Carlos Roberto
Gonçalves têm contribuído significativamente para o discurso sobre esses
aspectos desde 2019. Seu trabalho enfatiza a necessidade de uma abordagem
flexível e específica para cada caso no direito da família, reconhecendo a
diversidade dos arranjos familiares e a importância de proteger os interesses de
todas as partes envolvidas, especialmente as crianças (VENOSA, 2013).
Além disso, as decisões do TJ/RS em casos de paternidade socioafetiva
alinham-se com princípios mais amplos de direitos humanos, enfatizando a
dignidade e o valor de cada indivíduo dentro da unidade familiar. Esta abordagem
é consistente com as doutrinas internacionais de direitos humanos, que defendem
o reconhecimento e a proteção de várias formas de estruturas e relações
familiares (VIEIRA, 2020).
A aplicação de critérios variáveis pelo TJ/RS no reconhecimento da
paternidade socioafetiva é um reflexo da natureza dinâmica e multifacetada do
direito de família moderno. Estas decisões sublinham a importância de
reconhecer e respeitar as diversas formas de relações familiares, garantindo que
61

o sistema jurídico continua a responder às mudanças no tecido social e continua a


dar prioridade aos melhores interesses da criança (SILVEIRA, 2019).
Na esfera da paternidade socioafetiva, o Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul (TJ/RS) tem desempenhado papel fundamental na formação do
cenário jurídico, oferecendo interpretações diferenciadas que ressaltam a
complexidade dos laços familiares para além das ligações biológicas. A
jurisprudência do tribunal tem sido crucial no esclarecimento dos parâmetros
necessários ao reconhecimento da paternidade socioafetiva, com particular
destaque para a vertente temporal e as obrigações alimentares daí resultantes
(LÔBO, 2008).
O tribunal tem enfatizado consistentemente que o estabelecimento de um
vínculo socioafetivo necessita de um período suficiente para promover um
relacionamento genuíno e duradouro entre os pais e a criança. Contudo, também
deixou claro que a mera passagem do tempo não é o único critério; a qualidade
do relacionamento, caracterizada pelo carinho, cuidado e comprometimento
mútuos, é de extrema importância. O tribunal destacou que o vínculo afetivo deve
estar profundamente enraizado e manifestar-se nas interações e
responsabilidades cotidianas que caracterizam a relação pai-filho (KANITZ, 2019).
No que diz respeito às obrigações alimentares, o TJ/RS tem afirmado que
as crianças inseridas em estruturas familiares socioafetivas têm direito a apoio
financeiro, alinhando os seus direitos com os das crianças em contextos
familiares biológicos. Isto garante que todas as crianças, independentemente da
natureza dos seus laços familiares, recebam a estabilidade financeira necessária
ao seu crescimento e desenvolvimento. O tribunal tem sido inequívoco na sua
posição de que o reconhecimento da paternidade socioafetiva implica as mesmas
responsabilidades legais que a paternidade biológica, garantindo condições
equitativas para todas as crianças (COUTO, 2017).
A jurisprudência do tribunal reflete um compromisso mais amplo com a
defesa dos princípios da igualdade, dos melhores interesses da criança e do
reconhecimento das diversas manifestações da família na sociedade
contemporânea. Tem sido fundamental na criação de um ambiente jurídico que se
adapta à natureza evolutiva das estruturas familiares, garantindo que os direitos e
o bem-estar das crianças sejam fundamentais (VIEIRA, 2020).
62

No julgamento de casos de paternidade socioafetiva, o Tribunal de Justiça


do Rio Grande do Sul (TJ/RS) forneceu decisões seminais que moldam o discurso
jurídico em torno deste aspecto matizado do direito de família. As decisões do
tribunal proporcionaram clareza e orientação, garantindo que o quadro jurídico se
alinha com as realidades das diversas configurações familiares e com os
interesses primordiais da criança (ONU, 1989).
O TJ/RS navegou meticulosamente pelo cenário da paternidade
socioafetiva, estabelecendo precedentes que ressaltam a imprescindibilidade dos
vínculos afetivos nas relações familiares. O tribunal afirmou inabalavelmente que
o reconhecimento da paternidade socioafetiva depende da presença de uma
ligação emocional profunda e duradoura que transcende meras obrigações legais
(CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
O tribunal esclareceu que embora a dimensão temporal seja
inegavelmente significativa, ela não opera isoladamente. São os aspectos
qualitativos do relacionamento – demonstrações consistentes de amor, cuidado e
compromisso – que, em última análise, cimentam o vínculo da paternidade
socioafetiva. O tribunal enfatizou que esses laços afetivos devem ser tangíveis e
demonstráveis, entrelaçados na vida cotidiana e nas interações.
Ao abordar as obrigações alimentares decorrentes do reconhecimento da
paternidade socioafetiva, o tribunal tem sido categórico na sua postura. Os filhos
enquadrados em laços familiares socioafetivos têm direito a apoio financeiro,
espelhando as obrigações que incumbem aos pais biológicos. Esta postura
jurisprudencial assegura uma aplicação uniforme das responsabilidades
parentais, salvaguardando o bem-estar financeiro de todos os filhos,
independentemente da natureza dos seus laços familiares.
As decisões do tribunal refletem uma profunda compreensão da natureza
evolutiva das estruturas familiares e um compromisso em garantir que o quadro
jurídico continua a responder a estas mudanças. Ao colocar em primeiro plano o
interesse superior da criança e ao reconhecer a legitimidade de várias
configurações familiares, o tribunal tem desempenhado um papel crucial na
promoção de um ambiente jurídico inclusivo (WELTER, 2009).
Em síntese, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem sido
fundamental na articulação de uma abordagem abrangente da paternidade
63

socioafetiva. Através das suas interpretações criteriosas, o tribunal garantiu que o


reconhecimento legal dos laços familiares se baseia nas realidades das relações
humanas e que os direitos e o bem-estar das crianças permanecem na vanguarda
do discurso jurídico (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
Continuando a exploração da jurisprudência do TJ/RS sobre paternidade
socioafetiva, é imperativo sublinhar o compromisso inabalável do tribunal com a
defesa da primazia dos direitos e do bem-estar das crianças. O tribunal tem
demonstrado consistentemente uma profunda compreensão das dimensões
psicológicas e emocionais das relações entre pais e filhos, reconhecendo que os
laços de afeto e cuidado mútuo são a base de um ambiente familiar estimulante
(VALADARES & FERREIRA, 2016).
Em suas criteriosas deliberações, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul tem examinado meticulosamente os meandros de cada caso para garantir que
o reconhecimento da paternidade socioafetiva não seja concedido levianamente
ou sem a devida consideração. O tribunal estabeleceu um limiar elevado para o
estabelecimento desses laços, exigindo provas claras e convincentes de uma
relação sustentada e genuína, caracterizada por afeto recíproco, apoio e um
profundo sentimento de pertença (TARTUCE & SIMÃO, 2018).
A abordagem do tribunal reflete uma compreensão holística da dinâmica
familiar, reconhecendo que a essência da parentalidade se estende muito além da
ligação biológica. Ao fazê-lo, o tribunal desempenhou um papel fundamental na
legitimação e proteção de diversas estruturas familiares, garantindo que todas as
crianças, independentemente das suas circunstâncias familiares, tenham os
mesmos direitos e proteções (VIEIRA, 2020).
Em termos de obrigações alimentares, o tribunal tem sido inequívoco ao
afirmar que os pais, sejam biológicos ou socioafetivos, têm a responsabilidade
legal e moral de satisfazer as necessidades dos seus filhos. O tribunal reforçou o
princípio de que o dever de apoio é um aspecto inerente à parentalidade, parte
integrante do direito da criança a uma existência digna (BARROS, 2021).
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre esta
matéria serve de farol para o pensamento jurídico progressista, orientando o
caminho em direção a um quadro jurídico mais inclusivo e compassivo. As
decisões do tribunal sublinham o poder transformador do amor e do cuidado no
64

domínio do direito da família, destacando o facto de que os laços do coração são


tão vinculativos e significativos como os do sangue (ALVES, 2020).
Concluindo, a abordagem empática do tribunal à paternidade socioafetiva
marca um avanço significativo em direção a um paradigma jurídico que abrange
plenamente as complexidades das relações humanas. Ao colocar o interesse
superior da criança no centro da sua jurisprudência, o tribunal garantiu que o
reconhecimento jurídico dos laços familiares reflete a natureza diversa da vida
familiar na sociedade contemporânea (VALADARES & FERREIRA, 2016).
Na sequência, são apresentadas diversas peças jurisprudenciais
relativamente à paternidade socioafetiva em consonância com o Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS), cuja análise é apresentada nas linhas
seguintes (DIAS, 2020):

 Em determinada circunstância, a 7ª Câmara Cível do TJRS confirmou, por


unanimidade, sentença do Tribunal de Justiça de Palmeira das Missões
que julgou improcedente uma ação de investigação de paternidade
combinada com uma petição de herança sob o fundamento de que a
paternidade socioafetiva não é considerada quando não houve
reconhecimento por adoção ou instrumento público (Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul – TJRS).
 Em outro caso, ainda que o exame de DNA tenha indicado a exclusão da
paternidade do pai registrado, a ação de negativa de paternidade foi
julgada improcedente se a paternidade socioafetiva foi comprovada nos
autos. Esta decisão destaca o reconhecimento pelo ordenamento jurídico
dos vínculos socioafetivos sobre os vínculos biológicos em determinadas
circunstâncias (Registros de Apelações Civis no Jusbrasil).
 Em outra situação, a Decisão do TJRS sobre a desconstitucionalização
da paternidade socioafetiva afirmou ser incabível a anulação do registro
de paternidade, ainda que o apelante não seja o pai biológico da
reclamada. Esta decisão ressalta a proteção jurídica conferida às relações
socioafetivas no contexto da paternidade (Jus.com.br).
 Ademais, observa-se que a guarda, por si só, não é decisiva no
reconhecimento da paternidade socioafetiva. Houve menção a um caso
65

envolvendo adoção socioafetiva póstuma em que a ausência de


manifestação de vontade do falecido tornou o pedido juridicamente
impossível (Jus.com.br).

Esses casos refletem a abordagem socioafetiva do TJ/RS sobre a


paternidade, indicando a complexidade e as nuances envolvidas em tais
determinações legais, particularmente a ênfase na relação socioafetiva
estabelecida sobre os vínculos biológicos e a necessidade de reconhecimento por
meios formais. A relevância dos fatores temporais no estabelecimento dessas
relações poderia ser analisada por meio da revisão do texto completo dessas
decisões e da identificação de padrões ou critérios relacionados à duração e
qualidade do vínculo socioafetivo (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).

4.2 CRITÉRIOS VARIADOS

Na exploração acadêmica dos diversos critérios utilizados pelo Tribunal


de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS) para considerar a paternidade
socioafetiva, em especial os critérios variáveis, é necessária uma compreensão
abrangente para apreender toda a extensão desses parâmetros legais. A noção
de paternidade socioafetiva, central neste discurso, transcende os limites
tradicionais da linhagem biológica, mergulhando no domínio dos laços emocionais
e psicológicos que constituem o cerne de uma relação parental. Este
reconhecimento legal reconhece que a parentalidade, no seu sentido mais
verdadeiro, abrange muito mais do que os laços genéticos, concentrando-se, em
vez disso, na educação, no cuidado e no afeto que são vitais para o
desenvolvimento de uma criança (ZENI, 2013).
Os critérios variáveis estabelecidos pelo TJ/RS, refletindo uma postura
jurídica progressista, incluem, mas não se limitam, ao reconhecimento público da
relação parental, à profundidade e longevidade do vínculo emocional entre pai e
filho, e à aceitação social e familiar desta relação. Parte integrante desta
avaliação é a demonstração de um compromisso consistente com as
responsabilidades parentais, evidenciando uma intenção genuína de promover e
66

manter o vínculo parental, desprovido de quaisquer segundas intenções


(VALADARES & FERREIRA, 2016).
Além disso, a abordagem do TJ/RS na aplicação desses critérios
variáveis alinha-se com as tendências internacionais do direito da família, onde há
uma ênfase crescente no reconhecimento dos vínculos afetivos e sociais na
definição das relações familiares. Esta perspectiva está em consonância com os
princípios delineados em instrumentos jurídicos internacionais, como a
Convenção sobre os Direitos da Criança, que dá prioridade ao bem-estar e ao
bem-estar psicológico da criança em todas as questões de direito da família
(LIMA, 2018).
Os critérios de reconhecimento da paternidade socioafetiva praticados
pelo TJ/RS representam uma evolução significativa no direito de família, tanto no
Brasil como internacionalmente. Esta abordagem reflete uma compreensão da
natureza diversa e dinâmica dos laços familiares, enfatizando a importância das
ligações emocionais e do melhor interesse da criança nas determinações legais
da parentalidade (TEIXEIRA & RODRIGUES, 2010).
Dando continuidade ao exame dos critérios do TJ/RS para
reconhecimento da paternidade socioafetiva, torna-se evidente que essas
orientações estão sustentadas por uma profunda compreensão das dimensões
psicológicas e sociais da parentalidade. Os critérios variáveis utilizados pelo
tribunal refletem uma abordagem matizada, que aprecia a complexidade das
relações humanas e as diversas formas que um vínculo familiar pode assumir.
Esta perspectiva é vital num panorama jurídico onde as definições tradicionais de
família e paternidade estão em constante evolução (VIEIRA, 2020).
O principal desses critérios é a consideração da perspectiva e da
experiência da criança no relacionamento socioafetivo. O tribunal avalia como a
criança percebe e interage com o pai socioafetivo, dando peso substancial ao
sentimento de pertencimento e à conexão emocional da criança. Este foco na
experiência da criança está alinhado com o princípio abrangente do melhor
interesse da criança, um princípio fundamental tanto na legislação brasileira
quanto internacional em matéria de direitos da criança (CATANI, SILVA, &
NUNES, 2019).
67

A adjudicação dos casos de paternidade socioafetiva pelo TJ/RS também


ressalta a importância da adaptabilidade e da sensibilidade na tomada de
decisões jurídicas. Cada caso é avaliado de acordo com seus méritos únicos, com
o tribunal considerando uma série de fatores que incluem a duração e a
consistência da relação socioafetiva, a natureza pública do vínculo e a presença
de intenção e afeto parental. Esta abordagem caso a caso garante que as
decisões jurídicas sejam adaptadas às circunstâncias e necessidades específicas
dos indivíduos envolvidos (TARTUCE & SIMÃO, 2018).
Assim sendo, os critérios de reconhecimento de paternidade socioafetiva
adotados pelo TJ/RS são emblemáticos de uma mudança mais ampla no direito
de família, tanto no Brasil quanto no mundo. Esta mudança destaca um crescente
reconhecimento legal e social da natureza diversificada e dinâmica das estruturas
familiares, enfatizando o papel crítico dos laços emocionais e psicológicos na
definição da essência da parentalidade (SILVEIRA, 2019).
Aprofundando-se nos critérios do TJ/RS para reconhecimento da
paternidade socioafetiva, é essencial considerar as implicações jurídicas e sociais
mais amplas dessas decisões. Os critérios variáveis não só fornecem um quadro
para o reconhecimento legal destas relações, mas também refletem uma
compreensão aprofundada da natureza diversa dos laços familiares na sociedade
contemporânea. Este reconhecimento legal da paternidade socioafetiva sublinha
uma mudança para uma abordagem mais inclusiva e empática do direito da
família, que valoriza os laços emocionais e a realidade das experiências vividas
(LIMA, 2018).
Um aspecto importante da abordagem do TJ/RS é a ênfase na
estabilidade e continuidade da relação socioafetiva. O tribunal avalia a natureza
duradoura do vínculo, considerando fatores como o tempo de existência da
relação e o nível de compromisso mútuo entre os pais e o filho. Esta perspectiva
de longo prazo é crucial para distinguir relações socioafetivas genuínas de
conexões temporárias ou superficiais (VIEIRA, 2020).
Além disso, os critérios do TJ/RS alinham-se aos princípios da
Convenção sobre os Direitos da Criança, particularmente ao priorizar o melhor
interesse da criança em questões jurídicas familiares. Este alinhamento
demonstra um compromisso em defender os padrões internacionais em matéria
68

de bem-estar e direitos da criança, garantindo que o sistema jurídico responde às


necessidades e ao bem-estar das crianças (ONU, 1989).
Ou seja, a aplicação de critérios variáveis pelo TJ/RS nos casos de
paternidade socioafetiva representa um avanço significativo no campo do direito
de família. Ao reconhecer a importância dos laços emocionais e da realidade
vivida das relações familiares, estas decisões marcam um passo progressivo em
direção a um sistema jurídico mais inclusivo e empático, que reconhece as
diversas formas de família e parentalidade no mundo moderno (ALVES, 2020).

4.3 CRITÉRIO DE TEMPO

A construção de vínculos afetivos é um processo relacionado à dimensão


temporal. A evolução dos relacionamentos, sejam familiares, românticos ou
platônicos, depende da passagem do tempo e das experiências compartilhadas
que nele se desenrolam. A importância do tempo neste contexto é fundamental,
pois facilita um aprofundamento gradual da conexão, compreensão e investimento
emocional entre os indivíduos. Este processo não é instantâneo; em vez disso,
necessita de interação sustentada e envolvimento mútuo durante longos períodos.
O papel fundamental do tempo na formação de vínculos afetivos tem sido
sublinhado pela investigação contemporânea em psicologia e sociologia,
destacando a sua indispensabilidade na promoção de relações significativas e
duradouras (SOUZA, 2017).
Os quadros jurídicos também reconheceram a natureza crítica do tempo
no estabelecimento e solidificação de ligações afetivas. Em contextos como a
adoção e as batalhas pela custódia, os tribunais avaliam meticulosamente a
duração e a qualidade das relações para tomar decisões informadas que dão
prioridade ao bem-estar dos envolvidos. Isto sublinha o reconhecimento legal do
tempo como um elemento crucial na avaliação dos laços afetivos, alinhando-se
com o reconhecimento mais amplo da sociedade da sua importância. Através
desta lente jurídica, o tempo não é apenas um pano de fundo passivo para os
relacionamentos; é um agente ativo, desempenhando papel vital no
amadurecimento e validação das conexões afetivas (SILVA & MACHADO, 2016).
69

Concluindo, a dimensão temporal ocupa um lugar central na construção


de vínculos afetivos, servindo como cadinho dentro do qual os relacionamentos
são formados, testados e, em última análise, fortalecidos. A interação entre o
tempo e as conexões emocionais é complexa, necessitando de uma
compreensão diferenciada de como os momentos compartilhados e as interações
sustentadas contribuem para a estrutura dos relacionamentos. O reconhecimento
desta interação estende-se para além do discurso acadêmico, permeando as
práticas jurídicas e as normas sociais, destacando, em última análise, o papel
indispensável do tempo na promoção de laços afetivos profundos e significativos
(NUNES, 2021).
Ao examinar os critérios temporais utilizados pelo Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul (TJ/RS) para o reconhecimento da paternidade socioafetiva, é
preciso apreciar as intrincadas nuances e implicações inerentes a tal arcabouço
jurídico. Este critério, central no âmbito do direito da família, centra-se na
avaliação da duração e da estabilidade da relação entre pai e filho socioafetivo,
visando garantir que o vínculo estabelecido seja sólido e consistente. Fatores
essenciais considerados pelo tribunal incluem a convivência diária, a participação
ativa na vida do menor, o cumprimento dos deveres parentais e a demonstração
de afeto contínuo ao longo do tempo, sublinhando a profundidade do vínculo
socioafetivo (NUNES, 2021).
Contudo, o TJ/RS também tem demonstrado flexibilidade na aplicação
desse critério. Em determinados casos, o tribunal tem reconhecido a paternidade
socioafetiva sem período prolongado de convivência, considerando a intensidade
do afeto e o exercício efetivo da função paterna suficientes para estabelecer tal
vínculo. Essa flexibilização visa proteger os direitos fundamentais do menor,
priorizando o superior interesse da criança (TEIXEIRA & RODRIGUES, 2010).
Por outro lado, algumas decisões do TJ/RS têm exigido um período
mínimo de convivência para o reconhecimento da paternidade socioafetiva. Esta
exigência fundamenta-se na necessidade de estabelecer uma relação estável e
duradoura, garantindo assim os direitos e deveres decorrentes desta filiação. Tal
postura busca evitar o reconhecimento oportunista ou meramente simbólico da
paternidade socioafetiva (VIEIRA, 2020).
70

As consequências jurídicas do reconhecimento da paternidade


socioafetiva pelo TJ/RS são significativas. Incluem o potencial estabelecimento de
uma obrigação alimentar por parte do pai socioafetivo para com o filho,
equiparando-o, em termos de responsabilidades, a um pai biológico (OLIVEIRA,
2002).
Contudo, a postura do TJ/RS sobre a temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva não está isenta de críticas
doutrinárias. Alguns estudiosos têm apontado a falta de critérios objetivos para
avaliar a intensidade e a duração do afeto, bem como a ausência de uma
definição clara do que constitui a coabitação prolongada, destacando a
necessidade de um debate mais aprofundado sobre o assunto (BARROS, 2021).
Por fim, é essencial considerar as perspectivas futuras sobre este tema,
incluindo o potencial de mudanças no entendimento do TJ/RS e a influência das
decisões dos tribunais superiores. Com as transformações sociais e culturais em
curso, poderá haver uma maior flexibilidade nos requisitos temporais para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva, priorizando sempre o melhor
interesse da criança e a proteção dos direitos fundamentais (TARTUCE & SIMÃO,
2018).
Continuando a discussão, é crucial aprofundar-se no cenário jurídico em
evolução moldado pela aplicação dos critérios temporais pelo TJ/RS no
reconhecimento da paternidade socioafetiva. Esta evolução significa uma
resposta judicial à natureza dinâmica e variada das estruturas familiares
contemporâneas, onde os paradigmas tradicionais das relações pais-filhos estão
a ser redefinidos. Nesse contexto, o critério temporal não é apenas uma medida
de tempo, mas uma lente através da qual se avalia a qualidade e a profundidade
do vínculo socioafetivo (MONTEIRO, 2016).
Nos casos em que o TJ/RS tenha exigido uma duração mínima de
convivência ou interação para estabelecer a paternidade socioafetiva, o foco está
em garantir que o relacionamento tenha resistido ao teste do tempo, solidificando
assim a sua legitimidade. Esta abordagem sublinha a crença de que uma relação
estável e duradoura proporciona uma base mais fiável para o reconhecimento
legal da paternidade (NUNES, 2021).
71

Por outro lado, a flexibilidade do TJ/RS nos casos em que são evidentes
afetividade intensa e envolvimento paterno efetivo, apesar de menor duração da
interação, reflete uma compreensão progressiva. Esta perspectiva reconhece que
a essência de uma relação parental pode manifestar-se fortemente num período
relativamente breve, desde que os elementos de cuidado, compromisso e vínculo
emocional sejam suficientemente pronunciados (WELTER, 2009).
As implicações jurídicas destas decisões são profundas. O
reconhecimento da paternidade socioafetiva acarreta responsabilidades
semelhantes às da parentalidade biológica, incluindo obrigações alimentares e
direitos sucessórios. Esta paridade nas responsabilidades legais sublinha a
posição do tribunal de que a natureza do vínculo entre pais e filhos, e não a sua
origem, é fundamental na definição do âmbito dos deveres e direitos parentais
(VALADARES & FERREIRA, 2016).
As críticas à aplicação de critérios temporais pelo TJ/RS giram
principalmente em torno da ambiguidade e da subjetividade na avaliação da
profundidade e da duração dos vínculos afetivos. Os estudiosos defendem o
estabelecimento de padrões mais objetivos para orientar a discricionariedade
judicial, garantindo assim consistência e justiça na aplicação da lei (BARROS,
2021).
Olhando para o futuro, a abordagem do TJ/RS à paternidade socioafetiva
e seus critérios temporais podem continuar a evoluir, influenciados por mudanças
sociais e desenvolvimentos jurídicos. A possibilidade de maior flexibilidade nestes
critérios é provável, à medida que o sistema jurídico se adapta para reconhecer
as diversas realidades dos laços familiares de uma forma que sempre priorize o
interesse superior da criança e defenda os direitos fundamentais (ALMEIDA,
2020).
Em resumo, a aplicação de critérios temporais pelo TJ/RS no
reconhecimento da paternidade socioafetiva é reflexo de um reconhecimento
jurídico e social mais amplo das complexidades da vida familiar moderna. Esta
abordagem, que equilibra a necessidade de estabilidade com o reconhecimento
da diversidade da dinâmica familiar, é fundamental para garantir que a lei
continua a ser sensível e relevante à natureza evolutiva das relações familiares
(CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
72

À medida que prossegue o discurso sobre os critérios temporais para


reconhecimento da paternidade socioafetiva pelo TJ/RS, é imperativo reconhecer
o potencial de maior refinamento e desenvolvimento nesta área do direito. A
flexibilidade e adaptabilidade demonstradas pelo TJ/RS na aplicação desses
critérios são indicativas de um sistema judicial responsivo às realidades da
dinâmica familiar contemporânea, onde as relações não são definidas apenas
pela duração, mas pela qualidade e substância do vínculo afetivo (COUTO, 2017).
A aplicação de critérios temporais pelo TJ/RS levanta considerações
importantes quanto ao equilíbrio entre a segurança jurídica e o reconhecimento de
experiências familiares diversas. Embora um requisito de duração mínima possa
fornecer uma referência clara para o estabelecimento da paternidade socioafetiva,
tal rigidez pode nem sempre encapsular as realidades dos diferentes arranjos
familiares. Por outro lado, demasiada flexibilidade pode levar a inconsistências
nas decisões judiciais, conduzindo potencialmente a desafios na aplicação e
interpretação do direito da família (JOSÉ, 2020).
Este delicado equilíbrio é ainda mais complicado pela evolução das
normas sociais e pelo crescente reconhecimento de diversas formas de estruturas
familiares para além dos modelos tradicionais. À medida que o conceito de família
continua a se expandir, o sistema jurídico, incluindo o TJ/RS, enfrenta o desafio
de adaptar seus critérios para garantir que reflitam essas mudanças e, ao mesmo
tempo, protejam os direitos e interesses de todas as partes envolvidas,
especialmente das crianças (CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
A crítica e o debate académico em curso sobre este tema, destacados
pelos juristas, são essenciais para a evolução desta área do direito. Estas
discussões incentivam a reavaliação e o refinamento contínuos dos critérios,
promovendo uma aplicação mais matizada e eficaz do direito da família, que se
alinhe com os princípios de justiça, equidade e os melhores interesses da criança
(VENOSA, 2013).
Os desenvolvimentos futuros na abordagem do TJ/RS à paternidade
socioafetiva e seus critérios temporais provavelmente serão influenciados por
tendências jurídicas mais amplas, tanto no Brasil como internacionalmente. À
medida que o direito da família continua a evoluir globalmente, as experiências e
decisões de outras jurisdições podem oferecer informações valiosas e informar a
73

abordagem do TJ/RS, garantindo que o seu quadro jurídico permaneça na


vanguarda da abordagem das complexidades da vida familiar moderna (SOUZA,
2017; VALADARES & FERREIRA, 2016).
Concluindo, a aplicação de critérios temporais pelo TJ/RS no
reconhecimento da paternidade socioafetiva reflete uma abordagem dinâmica e
responsiva do direito de família. Esta abordagem sublinha a necessidade de um
sistema jurídico que seja adaptável e sintonizado com as realidades das diversas
estruturas familiares, garantindo que os direitos e o bem-estar das crianças sejam
priorizados e que as relações familiares sejam reconhecidas e valorizadas nas
suas diversas formas. A evolução contínua destes critérios é uma prova do
diálogo contínuo e da adaptação necessária na prossecução de um sistema
jurídico justo e equitativo que responda às complexidades das relações humanas
(DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
O panorama jurisprudencial relativo aos critérios temporais para o
estabelecimento da paternidade socioafetiva sofreu transformação substancial no
discurso jurídico contemporâneo. A paternidade socioafetiva transcende os
parâmetros biológicos, enfatizando os laços emocionais e sociais forjados entre
uma criança e um adulto, independentemente da ligação genética. Torna-se
assim imperativo elucidar os critérios legais subjacentes ao estabelecimento de
uma relação tão significativa (ALVES, 2020; DIAS, 2020).
Os critérios legais para determinar a paternidade socioafetiva dependem
predominantemente da natureza qualitativa da relação, e não de uma duração
medida quantitativamente. A legislação e a jurisprudência sublinham
consistentemente a primazia da manifestação contínua, pública e inequívoca do
afeto e da responsabilidade paterna. A componente temporal, embora não
definida categoricamente, requer uma demonstração de compromisso duradouro
e o estabelecimento de laços emocionais robustos (DIAS, 2020; OLIVEIRA,
2002).
A consistência e a estabilidade surgem como fatores centrais na
avaliação jurídica da paternidade socioafetiva. O judiciário busca apurar a
genuinidade do vínculo paterno, avaliando a presença de apoio emocional,
cuidado e orientação consistentes. A estabilidade da relação, manifestada através
74

de interações sustentadas e afeto mútuo ao longo do tempo, serve de testemunho


da autenticidade do vínculo socioafetivo (MARTINS, 2015).
A avaliação temporal no contexto da paternidade socioafetiva é repleta de
complexidade. O Judiciário, embora reconheça a necessidade do tempo para
solidificar os vínculos paternos, abstém-se de impor marcos temporais rígidos. O
foco permanece na qualidade e consistência do relacionamento, com o tempo
servindo como um fator facilitador e não determinante (OLIVEIRA, 2002).
Em síntese, embora o tempo desempenhe inegavelmente um papel
crucial no estabelecimento e fortalecimento da paternidade socioafetiva, os
critérios legais enfatizam as dimensões qualitativas da relação. As manifestações
contínuas, públicas e inequívocas do afeto paterno, aliadas à consistência e
estabilidade do vínculo afetivo, são consideradas primordiais na avaliação
jurídica. A complexidade da avaliação temporal ressalta o compromisso do
judiciário com uma análise matizada e abrangente, garantindo a primazia das
conexões paternas genuínas nas determinações socioafetivas da paternidade
(SILVA F. F., 2018).
Diante do exposto, entendimento consolidado pelo Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul para o reconhecimento da paternidade socioafetiva
fundamenta-se em critérios fundamentais para a análise dos casos que envolvem
essa temática. O Tribunal considera, em primeiro lugar, a existência de uma
relação afetiva entre o suposto pai e o filho, baseada no cuidado, no amor e na
convivência familiar. Além disso, é levado em conta o tempo de convivência entre
as partes, sendo necessário que essa relação seja duradoura e estável (SOUZA,
2017).
A temporalidade necessária para o reconhecimento da paternidade
socioafetiva é um aspecto de extrema importância nesse contexto. O Tribunal
entende que não basta apenas a existência de uma relação afetiva atual entre o
suposto pai e o filho, mas sim a comprovação de que essa relação se estendeu
ao longo do tempo. Isso significa que é preciso demonstrar que houve um vínculo
afetivo contínuo entre as partes, não se tratando de uma relação passageira ou
eventual (DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
As consequências jurídicas do reconhecimento da paternidade
socioafetiva são diversas e incluem a obrigação alimentar. Uma vez reconhecida
75

a paternidade socioafetiva, o suposto pai passa a ter os mesmos deveres e


direitos de um pai biológico, incluindo a responsabilidade de prover alimentos ao
filho. Essa obrigação alimentar visa garantir o bem-estar e o desenvolvimento
adequado da criança ou adolescente (MARTINS, 2015).
Os princípios constitucionais também embasam o entendimento do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em relação à paternidade socioafetiva.
Dentre esses princípios, destacam-se o princípio da dignidade da pessoa
humana, que visa assegurar a proteção integral do indivíduo, e o princípio da
afetividade, que reconhece a importância das relações familiares baseadas no
amor e no cuidado (COUTO, 2017).
Diversos casos emblemáticos foram julgados pelo Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul e trataram da temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva. Em um desses casos, por exemplo,
ficou comprovado que o suposto pai exerceu o papel de pai afetivo durante mais
de dez anos, estabelecendo uma relação sólida e duradoura com o filho. Essa
decisão reforçou a importância do tempo como critério para o reconhecimento da
paternidade socioafetiva (OLIVEIRA, 2002).
Apesar do entendimento consolidado pelo Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul acerca da temporalidade necessária para o reconhecimento da
paternidade socioafetiva, existem críticas e controvérsias em relação a essa
questão. Alguns juristas argumentam que a exigência de um tempo mínimo de
convivência pode ser excessiva e prejudicar casos em que há uma relação afetiva
intensa mesmo em um curto período (NUNES, 2021).
No entanto, é possível vislumbrar perspectivas futuras e possíveis
mudanças no entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em
relação à temporalidade necessária para o reconhecimento da paternidade
socioafetiva e a consequente obrigação alimentar. Com o avanço dos estudos
sobre a temática e a evolução dos conceitos relacionados à família e às relações
afetivas, é possível que o Tribunal reavalie seus critérios e adote uma postura
mais flexível em relação ao tempo necessário para o reconhecimento da
paternidade socioafetiva (ALMEIDA, 2020).
A necessidade de estabelecer critérios temporais para o reconhecimento
da paternidade socioafetiva se justifica pelo fato de que esse tipo de vínculo não
76

se forma instantaneamente. É necessário um período de convivência e


demonstração contínua de afeto e cuidado por parte do pai socioafetivo. A
temporalidade é fundamental para garantir a estabilidade e a segurança
emocional da criança, evitando situações em que o reconhecimento seja
precipitado ou baseado em circunstâncias passageiras (DIAS, 2020).
No entanto, existem divergências no entendimento do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul em relação à temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva. Diferentes magistrados adotam
posicionamentos distintos em casos semelhantes, gerando insegurança jurídica e
dificultando a aplicação uniforme desse instituto. Essas divergências podem levar
a decisões contraditórias e prejudicar a efetivação dos direitos das crianças
envolvidas (TARTUCE & SIMÃO, 2018).
As decisões judiciais acerca da temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva possuem influência direta na garantia
dos direitos das crianças e adolescentes. Em especial, a obrigação alimentar por
parte do pai socioafetivo é um aspecto relevante a ser considerado. A demora
excessiva no reconhecimento pode privar a criança de seus direitos
fundamentais, como o acesso à saúde, educação e bem-estar, além de perpetuar
situações injustas e desiguais (GONÇALVES, 2012).
Uma análise crítica do entendimento do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul em relação à temporalidade necessária para o reconhecimento da
paternidade socioafetiva se faz necessária. É importante identificar possíveis
lacunas ou inconsistências que possam prejudicar a efetivação dos direitos das
crianças e adolescentes. Essa análise crítica permite uma reflexão sobre as
decisões judiciais e contribui para o aprimoramento do sistema jurídico, visando
sempre o melhor interesse da criança (VIEIRA, 2020).
É fundamental que o Tribunal de Justiça adote uma abordagem mais
flexível e contextualizada em relação à temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva. Cada caso possui particularidades
próprias que devem ser levadas em consideração, assim como o melhor interesse
da criança. Uma visão mais ampla e sensível às nuances familiares contribui para
uma decisão justa e adequada, garantindo a proteção dos direitos das crianças
envolvidas nesse tipo de vínculo afetivo (JOSÉ, 2020).
77
78

5 CONCLUSÃO

A investigação realizada para o desenvolvimento do presente trabalho


iluminou a forma como a sociedade sofreu transformações e metamorfoses ao
longo do tempo, visando adaptar-se aos modelos familiares emergentes que se
materializaram ao longo da história. Neste contexto, o discurso abrange a
sociedade como um todo, abordando mudanças nas relações interpessoais,
mudanças nos processos de pensamento e a aceitação de diversas situações e
arranjos familiares. Paralelamente, aprofunda-se na adaptação de marcos legais
e no estudo do Direito de Família.
O objetivo principal desta análise foi avaliar criticamente como a
sociedade contemporânea e o ordenamento jurídico têm sofrido modificações em
relação aos aspectos decorrentes da paternidade socioafetiva. Neste sentido,
foram examinadas a instituição da família, a sua evolução histórica e
constitucional, bem como as suas diversas formas. Observou-se que o modelo
hierárquico de família patriarcal sofreu modificações substanciais, influenciadas
principalmente pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).
A Carta Magna conferiu à sociedade um novo horizonte no que diz
respeito ao conceito de família. Em relação às organizações familiares, as uniões
estáveis ganharam reconhecimento, assim como a comunidade monoparental.
Além disso, igualou os filhos, erradicando as distinções entre os nascidos dentro
ou fora do casamento.
Assim, o legislador reconheceu a pluralidade da família e os seus
diversos arranjos. É evidente que a CRFB/88 foi o primeiro instrumento jurídico
brasileiro a considerar o afeto como elemento fundacional da família,
independentemente dos laços resultantes do casamento ou do sangue, marcando
um avanço significativo para todos.
Quanto aos princípios constitucionais norteadores, verifica-se que os
mesmos estão fundamentados na dignidade da pessoa humana, na formação e
proteção das diversidades familiares e, predominantemente, no melhor interesse
das crianças e dos adolescentes. Ao estudar a paternidade socioafetiva, fica clara
a importância primordial do vínculo afetivo, enraizado na convivência, na
dedicação e no companheirismo mútuo, assumindo os laços consanguíneos uma
79

posição de menor relevância nas relações de paternidade. As diversas


manifestações da paternidade socioafetiva têm destaque na instituição da
adoção, na posse da condição de filho e na inseminação artificial heteróloga.
No que diz respeito às consequências jurídicas da paternidade
socioafetiva, fica claro que os filhos socioafetivos possuem os mesmos direitos e
deveres daqueles com vínculos consanguíneos, fato corroborado por decisões
recentes do Supremo Tribunal Federal.
Assim, considera-se que os efeitos jurídicos da filiação socioafetiva
abrangem tanto a dimensão moral como a patrimonial. Disto surgem a autoridade
parental, os deveres e direitos de guarda e o direito de visitação. Além disso, os
filhos têm direito ao nome de família, bem como às relações de coabitação e
parentesco. Na frente patrimonial, isto inclui direitos de herança e sucessão, bem
como o direito e o dever de fornecer alimentos aos filhos.
A partir desta pesquisa conclui-se que o núcleo familiar, resultante da
filiação socioafetiva, tornou-se um espaço primordial de afeto entre seus
membros. Fica evidente que com as transformações ocorridas no âmbito familiar,
a legislação aplicável ao Direito de Família não fica estagnada e vem ganhando
inovações em consonância com os novos arranjos familiares e as diversas
situações que surgem ao longo do tempo.
Embora o entendimento jurisprudencial seja de que a filiação socioafetiva
decorre de princípios constitucionais, e portanto o seu reconhecimento seja
inteiramente pertinente, reconhece-se que muitas lacunas ainda precisam ser
preenchidas para atender prioritariamente aos anseios da sociedade e garantir a
segurança jurídica. Portanto, conclui-se que o carinho e o amor devem ser
considerados como elementos essenciais no estabelecimento de vínculos entre
pais e filhos. O compromisso com o bem-estar da criança e do adolescente deve
ser um ponto importante para avaliar o que é do melhor interesse da criança,
independentemente de existir vínculo biológico ou apenas afetivo.
Por fim, com base na pesquisa realizada, pretendeu-se aprofundar novas
perspectivas sobre o arranjo familiar e a instituição da filiação, analisando como o
sistema jurídico está se reorganizando para garantir a proteção dos direitos dos
filhos afetivos, levando em consideração o mandato do a Constituição Federal de
1988 (CRFB/88) que a família deveria receber proteção especial do Estado.
80

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, C. M. (2020). O direito de filiação dos casais homoafetivos: novos


paradigmas no Direito das Famílias.
ALVES, M. C. (2020). A paternidade socioafetiva e a possibilidade de
multiparentabilidade sob a ótica do Ordenamento Jurídico Pátrio.
BARROS, F. M. (2021). A Evolução da Paternidade Socioafetiva e os Direitos
Sucessórios. Jornal Jurídico da Família, vol. 32, no. 4, pp. 101-117.
BRASIL. (1988). Constituição Federal.
BRASIL. (2002). Diário Oficial da União, Brasília, DF, Código Civil: Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002.
CATANI, L. O., SILVA, J. B., & NUNES, D. H. (2019). A investigação da
parentalidade com vistas às suas espécies. socioafetiva e biológica.
COUTO, D. W. (2017). A União Estável e o direito sucessório:(des) igualdade
inconstitucional.
DANTAS, M. R., OLIVEIRA, W. M., & VIEIRA, P. H. (2022). Possibilidade da
cumulação de pensão por morte nos casos de multiparentalidade. Revista
Multidisciplinar do Nordeste Mineiro, v. 6, n. 1.
DIAS, M. B. (2020). Filhos do Afeto. Disponível em:
http://www.mariaberenice.com.br/manager/arq/(cod2_690)3filhos_do_afeto.pdf.
GOMES, O. (1994). Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 7.ed.
GONÇALVES, C. F. (2012). A importância da socioafetividade nas ações de
filiação segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
HELLER, F. P. (2010). Filiação e presunção de paternidade.
JOSÉ, M. A. (2020). Pluriparentalidade: a filiação socioafetiva à luz do princípio da
afetividade. Direito-Araranguá.
KANITZ, T. (2019). Análise das decisões do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina acerca dos alimentos avoengos. Direito-Tubarão.
LENZA, P. (2012). Direito Constitucional Esquematizado. Editora Saraiva: São
Paulo, 16 ed. .
LIMA, G. d. (2018). Multiparentalidade e parentalidade socioafetiva: uma análise
jurídica das principais decisões do Superior Tribunal de Justiça e Supremo
Tribunal Federal. TCC (Graduação)-Curso de Direito, Faculdade Nacional de
Direito, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
LÔBO, P. L. (2008). Direito Civil: Famílias. São Paulo: Saraiva.
81

MARQUES, E. d., & SULZBACH, J. G. (2021). O contexto de aplicação em terra


de enunciados e teses: implicações na relação entre as filiações biológica e
afetiva. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, n. 47, p. 221-240.
MARTINS, E. C. (2015). A presunção relativa na recusa a perícia em DNA.
MAZZARDO, L. d., & PICHININ, L. M. (2019). O Instituto da Multiparentalidade no
Século XXI e os seus amplos efeitos jurídicos. Revista Jurídica da Faculdade de
Direito de Santa Maria-FADISMA, v. 14, n. 1.
MONTEIRO, F. S. (2016). Direito de família: negatória de paternidade frente à
ausência de afetividade e o posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado de
Rondônia.
NUNES, A. (2021). Direito sucessório na união estável e dos filhos socioafetivo.
OLIVEIRA, J. S. (2002). Fundamentos constitucionais do direito de família.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
ONU. (1989). Convenção sobre os Direitos da Criança . Organizaçao das
Nações Unidas.
SILVA, C. C., & MACHADO, V. B. (2016). O Recurso Extraordinário Nº 898.060-
Sc Como Base Da Multiparentalidade No Conflito Entre Paternidade Socioafetiva
E Biológica. Acta Scientia Academicus: Revista Interdisciplinar de Trabalhos
de Conclusão de Curso, v.1, n. 01.
SILVA, F. F. (2018). Possibilidade da Desconstituição da
Paternidade/Maternidade Socioafetiva.
SILVA, R. S., & FERREIRA, L. M. (2018). TCC-Direito. Multiparentalidade e
seus efeitos juridicos.
SILVEIRA, P. M. (2019). Estado de Filiação: Uma Análise do Impacto da
Manifestação deVontade dos Filhos na Manutenção de Estruturas Familiares
Marcadas pelo Abandono Afetivo. Portal de Trabalhos Acadêmicos, v. 6, n. 2.
SOUZA, F. S. (2017). A possibilidade de desconstituição da paternidade registral
decorrente de erro após o estabelecimento de vínculo socioafetivo: comentários
ao acórdão do REso 1.330. 404/RS. Revista de Direito Civil Contemporâneo-
RDCC (Journal of contemporary Private Law, v.12, p.491-530.
TARTUCE, F., & SIMÃO, J. F. (2018). Direito Civil. São Paulo: Método, volume 5:
Direito de Família.
TEIXEIRA, A. C., & RODRIGUES, R. d. (2010). O direito das famílias entre a
norma e a realidade. São Paulo: Atlas.
VALADARES, M. G., & FERREIRA, I. C. (2016). Revista Brasileira de Direito
Civil. Multiparentalidade: uma forma de respeito à convivência avoenga nas
adoções unilaterais, v. 8, n. 02.
82

VENOSA, S. d. (2013). Direito Civil, volume 6: Direito de Família. São Paulo:


Editora Atlas S.A.
VIEIRA, I. d. (2020). Abandono afetivo: formas de prevenção aos danos
causados aos filhos pela omissão parental.
WELTER, B. P. (2009). Revista brasileira de direito das famílias e sucessões.
v. 8.
ZENI, B. S. (2013). O Afeto como reconhecimento da filiação. Revista Direito em
Debate, v. 18, n. 32, mar. 2013. ISSN 2176-6622.

Você também pode gostar