Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURITIBA
2023
DANIELA LEMOS DA CRUZ
CURITIBA
2023
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................4
ABSTRACT.............................................................................................................5
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 6
1.1 JUSTIFICATIVA..............................................................................................12
2 PATERNIDADE SÓCIO AFETIVA: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS....................16
2.1 HISTÓRICO.....................................................................................................18
2.2 LEGISLAÇÃO..................................................................................................28
3 DECORRÊNCIAS DA PATERNIDADE SÓCIO AFETIVA..................................35
3.1 REGISTRO......................................................................................................42
3.2 SUCESSÃO.....................................................................................................46
3.3 ALIMENTOS....................................................................................................49
4 ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DO TJ/RS.............................................................54
4.1 DECISÕES......................................................................................................56
4.2 CRITÉRIOS VARIADOS..................................................................................65
4.3 CRITÉRIO DE TEMPO....................................................................................68
5 CONCLUSÃO.................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 79
RESUMO
In the refined study entitled "Understanding of the Court of Justice of Rio Grande
do Sul on Temporality for the Recognition of Socio-Affective Paternity", the
jurisprudential evolution of that venerable Court regarding the nuances of
recognizing socio-affective paternity was examined, having as its epicenter the
criterion of temporality. At the dawn of the study, socio-affective paternity was
contextualized as an emerging legal concept, amalgamating not only biological
ties, but above all emotional ties. The objectives, when meticulously outlined, were
inevitably achieved, namely the elucidation of the concept, the investigation of its
application for both fathers and mothers, the eventual change in the birth
registration, the subsequent rights and, finally, the relationship with the food duty.
In the methodological path, we opted for a bibliographical review, focusing on the
scrutiny of doctrines and jurisprudential decisions, deliberately refraining from a
case study. The results obtained revealed a Court immersed in deep debates,
adopting an understanding that moves between rigidity and flexibility. It was
concluded that, although anchored in a methodology devoid of case studies, the
work provided provided an enlightening overview of the jurisprudential conceptions
and applications within the scope of socio-affective fatherhood in Rio Grande do
Sul.
1 INTRODUÇÃO
1.1 JUSTIFICATIVA
afetivos entre um indivíduo e uma criança com a qual não existem laços
biológicos, mas que assume o papel parental, o reconhecimento desta forma de
parentalidade é essencial para a plena proteção dos direitos da criança, bem
como para promovendo estabilidade emocional e desenvolvimento saudável. Ao
longo do tempo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem demonstrado
uma progressão na sua interpretação sobre a temporalidade necessária para o
reconhecimento da paternidade socioafetiva, transitando da noção de que é
necessário um longo período de convivência para um entendimento mais
matizado que considera a profundidade e a qualidade dos vínculos afetivos
formados.
Tais questões jurídicas que surgem do reconhecimento dos vínculos
afetivos na parentalidade, requerem a análise dos critérios utilizados pelo Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul para determinar a temporalidade necessária ao
reconhecimento da paternidade socioafetiva. As considerações vão além da
duração da coabitação e incluem a participação ativa na vida quotidiana da
criança, a prestação de cuidados e proteção, bem como a expressão pública
inequívoca da intenção de assumir um papel parental. Esses critérios visam
garantir que o reconhecimento da paternidade socioafetiva esteja pautado em um
relacionamento robusto e duradouro, proporcionando segurança emocional e
afetiva à criança.
As consequências jurídicas do reconhecimento da paternidade
socioafetiva são significativas e merecem análise minuciosa por parte do Poder
Judiciário. Dentre essas consequências, destaca-se a obrigação alimentar, que
implica a responsabilidade do genitor socioafetivo em prover as necessidades
materiais do filho. Além disso, o reconhecimento confere à criança direitos de
herança, salvaguardando os seus interesses patrimoniais. Portanto, é imperativo
que o Tribunal de Justiça avalie cuidadosamente cada caso, considerando os
interesses das partes envolvidas e os direitos fundamentais da criança.
Contudo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul enfrenta desafios
notáveis no julgamento de casos de paternidade socioafetiva, incluindo a
ausência de legislação específica sobre o assunto, o que pode gerar insegurança
jurídica e impedir tomadas de decisão consistentes. Além disso, há necessidade
de conciliar interesses diversos, como os direitos dos pais biológicos e as
15
2.1 HISTÓRICO
4
O Direito Existencial de Família está fundamentado na pessoa humana, sendo as normas correlatas de
ordem pública ou cogentes. Tais normas não podem ser contrariadas por convenção entre as partes, sob
pena de nulidade absoluta da convenção, por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC). Por outro lado, o
Direito Patrimonial de Família tem seu cerne principal no patrimônio, relacionando-se a normas de ordem
privada ou dispositivas. Essas normas, obviamente, admitem previsão em contrário pelas partes de maneira
livre (TARTUCE, 2018, p. 862).
24
5
"O Direito Existencial de Família está baseado na pessoa humana, sendo as normas correlatas de ordem
pública ou cogentes. Tais normas não podem ser contrariadas por convenção entre as partes, sob pena de
nulidade absoluta da convenção, por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC). Por outra via, o Direito
Patrimonial de Família tem o seu cerne principal no patrimônio, relacionado a normas de ordem privada ou
dispositivas. Tais normas, por óbvio, admitem livremente previsão em contrário pelas partes." (TARTUCE,
2018, p. 862)
25
7
"Coexistindo vínculos parentais afetivos e biológicos ou apenas afetivos, mais do que apenas um direito, é
uma obrigação constitucional reconhecê-los. Não há outra forma de preservar os direitos fundamentais de
todos os envolvidos, sobretudo no que diz respeito à dignidade e à afetividade." (DIAS, 2023, p. 657).
28
2.2 LEGISLAÇÃO
9
“O reconhecimento produz efeitos de natureza patrimonial e de cunho moral. O principal deles é
estabelecer a relação jurídica de parentesco entre pai e filho. Embora se produzam a partir do momento de
sua realização, são, porém, retroativos ou retro-operantes (ex tunc), gerando as suas consequências, não da
data do ato, mas retroagindo ‘até o dia do nascimento do filho, ou mesmo de sua concepção, se isto
condisser com seus interesses’”(GONÇALVES, 2012, p. 250).
38
10
"O reconhecimento sujeita o filho menor ao poder familiar. Dispõe o art. 1.612 do Código Civil que o filho
reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do progenitor que o reconheceu, e, se ambos o
reconhecerem, e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor." (VENOSA,
2013, p. 277)
39
3.1 REGISTRO
modelos familiares. Isso ocorre porque elas incorporam a figura do pai e da mãe por afinidade como novos
referenciais parentais, em conjunto com seus pais biológicos. Ignorar esses laços, forjados sobre os alicerces
de uma relação socioafetiva, pode também significar a falta de proteção a esses menores em
desenvolvimento (TEIXEIRA e RODRIGUES, 2010, p. 204).
43
duração da relação entre pais e filhos seja um fator essencial, não é o único
determinante no reconhecimento da paternidade socioafetiva. Em vez disso, o
tribunal sublinhou a importância da qualidade da relação, caracterizada por
cuidado, carinho e compromisso contínuos e demonstrados, que são igualmente
cruciais para estabelecer a autenticidade do vínculo socioafetivo. Esta postura
reflete um reconhecimento judicial de que os laços de amor e cuidado, integrantes
da relação socioafetiva, necessitam de tempo para se manifestarem e
fortalecerem, garantindo assim a preservação do superior interesse da criança
(DANTAS, OLIVEIRA, & VIEIRA, 2022).
Além disso, as interpretações do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul esclareceram que a paternidade socioafetiva não é apenas uma questão de
cumprimento de formalidades legais; abrange as realidades cotidianas do
relacionamento entre pais e filhos. O tribunal destacou que a paternidade
socioafetiva envolve um investimento emocional e uma profundidade de
envolvimento que reflete, e às vezes pode até superar, as conexões biológicas. A
ênfase na qualidade afetiva durante um período considerável garante que a
paternidade socioafetiva seja reconhecida nos casos em que a relação parental
está profundamente enraizada na vida da criança, proporcionando estabilidade
emocional e sentimento de pertencimento. Esta abordagem alinha-se com os
princípios jurídicos mais amplos de priorizar o bem-estar da criança e reconhecer
as diversas formas de estruturas familiares na sociedade contemporânea
(TEIXEIRA & RODRIGUES, 2010).
Em síntese, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul adotou uma
abordagem abrangente e centrada na criança na interpretação dos requisitos
temporais para o reconhecimento da paternidade socioafetiva. Esta interpretação
influenciou significativamente o discurso jurídico sobre as relações familiares,
destacando o compromisso do tribunal em reconhecer a natureza evolutiva dos
laços familiares e em garantir a proteção e o bem-estar das crianças nestas
diversas configurações familiares (COUTO, 2017).
Continuando a exploração da perspectiva do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul sobre a paternidade socioafetiva, torna-se evidente que o tribunal
assumiu uma postura progressista, integrando aspectos psicológicos e
emocionais ao âmbito jurídico. Esta compreensão matizada reconhece que o
44
3.2 SUCESSÃO
Através das suas decisões, o tribunal tem afirmado que a essência de uma família
reside não apenas nas ligações biológicas, mas também na força e profundidade
dos laços afetivos, garantindo que a lei protege adequadamente essas relações
(KANITZ, 2019).
À medida que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul continua a
refinar sua posição sobre a paternidade socioafetiva, as implicações para o direito
sucessório tornam-se cada vez mais significativas. A jurisprudência do tribunal
reconhece que o vínculo socioafetivo, quando legalmente estabelecido, tem o
mesmo peso que o vínculo biológico em matéria sucessória. Este reconhecimento
alinha-se com os princípios de equidade e justiça no sistema jurídico, garantindo
que as crianças que fazem parte de uma família através de laços socioafetivos
tenham os mesmos direitos e proteções que os seus homólogos biológicos
(MAZZARDO & PICHININ, 2019).
Além disso, a abordagem do tribunal no tratamento de casos relacionados
com a paternidade e sucessão socioafetiva sublinha a natureza evolutiva do
direito da família, que deve adaptar-se às novas realidades das estruturas e
relações sociais. O tribunal desempenhou um papel fundamental na promoção de
uma compreensão mais inclusiva do que constitui uma família, expandindo assim
a definição legal para abranger laços familiares não tradicionais, mas igualmente
válidos. Esta progressão no pensamento jurídico é indicativa de uma mudança
social mais ampla no sentido de reconhecer e valorizar a diversidade das
estruturas familiares (NUNES, 2021).
Concluindo, as interpretações e decisões do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul sobre a paternidade socioafetiva impactaram profundamente o
direito sucessório, abrindo um precedente a ser seguido por outras jurisdições. Ao
garantir que os filhos socioafetivos tenham os mesmos direitos sucessórios que
os filhos biológicos, o tribunal deu um passo significativo no sentido da inclusão
jurídica e da proteção dos direitos de todas as crianças no contexto familiar. Estas
decisões refletem um compromisso com o princípio de que todas as crianças,
independentemente da natureza dos seus laços familiares, têm direito à igualdade
de tratamento perante a lei, especialmente em questões tão cruciais como a
sucessão e a herança (COUTO, 2017).
49
3.3 ALIMENTOS
50
4.1 DECISÕES
Por outro lado, a flexibilidade do TJ/RS nos casos em que são evidentes
afetividade intensa e envolvimento paterno efetivo, apesar de menor duração da
interação, reflete uma compreensão progressiva. Esta perspectiva reconhece que
a essência de uma relação parental pode manifestar-se fortemente num período
relativamente breve, desde que os elementos de cuidado, compromisso e vínculo
emocional sejam suficientemente pronunciados (WELTER, 2009).
As implicações jurídicas destas decisões são profundas. O
reconhecimento da paternidade socioafetiva acarreta responsabilidades
semelhantes às da parentalidade biológica, incluindo obrigações alimentares e
direitos sucessórios. Esta paridade nas responsabilidades legais sublinha a
posição do tribunal de que a natureza do vínculo entre pais e filhos, e não a sua
origem, é fundamental na definição do âmbito dos deveres e direitos parentais
(VALADARES & FERREIRA, 2016).
As críticas à aplicação de critérios temporais pelo TJ/RS giram
principalmente em torno da ambiguidade e da subjetividade na avaliação da
profundidade e da duração dos vínculos afetivos. Os estudiosos defendem o
estabelecimento de padrões mais objetivos para orientar a discricionariedade
judicial, garantindo assim consistência e justiça na aplicação da lei (BARROS,
2021).
Olhando para o futuro, a abordagem do TJ/RS à paternidade socioafetiva
e seus critérios temporais podem continuar a evoluir, influenciados por mudanças
sociais e desenvolvimentos jurídicos. A possibilidade de maior flexibilidade nestes
critérios é provável, à medida que o sistema jurídico se adapta para reconhecer
as diversas realidades dos laços familiares de uma forma que sempre priorize o
interesse superior da criança e defenda os direitos fundamentais (ALMEIDA,
2020).
Em resumo, a aplicação de critérios temporais pelo TJ/RS no
reconhecimento da paternidade socioafetiva é reflexo de um reconhecimento
jurídico e social mais amplo das complexidades da vida familiar moderna. Esta
abordagem, que equilibra a necessidade de estabilidade com o reconhecimento
da diversidade da dinâmica familiar, é fundamental para garantir que a lei
continua a ser sensível e relevante à natureza evolutiva das relações familiares
(CATANI, SILVA, & NUNES, 2019).
72
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS