Você está na página 1de 22

CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSIS GURGACZ

GISELE HONORATO GIRARDI

ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA NA


RELAÇÃO SUCESSÓRIA

CASCAVEL
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSIS GURGACZ

GISELE HONORATO GIRARDI

ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA NA


RELAÇÃO SUCESSÓRIA

Trabalho apresentado à disciplina TCC I como


requisito parcial para obtenção da aprovação
semestral no Curso de Direito pelo Centro
Universitário FAG.

Professora Orientadora: Adriana Boeira

CASCAVEL
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO
ASSIS GURGACZ

GISELE HONORATO GIRARDI

ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA NA


RELAÇÃO SUCESSÓRIA

Trabalho apresentado à disciplina de TCC I como requisito parcial para obtenção de


aprovação semestral no Curso de Direito do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Orientadora Profª Adriana Boeira

_____________________________________
Banca avaliadora

CASCAVEL
2018
7

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1..............................................................................................................................5
1.1 ASSUNTO / TEMA..............................................................................................................5
1.2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................................5
1.3 PROBLEMA.........................................................................................................................5
1.4 HIPÓTESE............................................................................................................................6
1.5 OBJETIVOS DA PESQUISA..............................................................................................6
1.5.1 OBJETIVO GERAL............................................................................................................6

1.5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................................6

CAPÍTULO 2..............................................................................................................................8
2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................................8
CAPÍTULO 3............................................................................................................................18
3.1 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO.....................................................................18
3.2 CRONOGRAMA................................................................................................................18
3.3 ORÇAMENTO...................................................................................................................19
REFERÊNCIAS........................................................................................................................20
7

CAPÍTULO 1

1.1 INSTITUTO DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA/ O IMPACTO DO


RECONHECIMENTO DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA NA RELAÇÃO SUCESSÓRIA

O Assunto do referido trabalho está centrado no instituto da filiação socioafetiva.


O tema abordará o impacto do reconhecimento da filiação socioafetiva na relação
sucessória.

1.2 JUSTIFICATIVA

Há algumas situações em que o filho socioafetivo não é reconhecido em vida, no


entanto, conforme o princípio da igualdade, os filhos naturais, adotados, e, até mesmo, os
filhos socioafetivos gozam dos mesmos direitos advindos da filiação.
Entretanto, quando o pai ou a mãe socioafetivo falece o filho não pode deixar de ter
seus direitos por causa da falta de reconhecimento em vida. A lei, por ser antiga, se omite em
casos como esse. Isso está se tornando cada vez mais ocorrente nos dias de hoje, e por isso é
um assunto de suma importância, no qual o reconhecimento dos direitos sucessórios é dado
pela interpretação legislativa de forma ampla, e pela interpretação da lei conforme a
Constituição.
Assim, o trabalho se justifica na importância da abordagem da discussão no âmbito
sucessório. Ainda, importante para a pesquisa é a tratativa com relação à ordem de vocação
hereditária e a extensão dos efeitos para outros parentes, no que diz respeito à aplicação do
tema com relação, também, ao avô/avó socioafetivo.

1.3 PROBLEMA

A filiação socioafetiva comumente é reconhecida em vida, com a inserção do nome do


pai ou mãe socioafetivo/a no assento de nascimento do filho. O que é colocado em questão é
quando esse reconhecimento não é feito em vida.
7

Desta feita, surgem os seguintes problemas dessa pesquisa: se o pai ou a mãe


socioafetivo/a vem a falecer, como fica a questão do reconhecimento da maternidade ou
paternidade socioafetiva? É possível que haja o reconhecimento “pós mortem”? E, ainda,
como ocorreram as questões sucessórias do filho?

1.4 HIPÓTESE

A primeira hipótese a ser levantada é que a possibilidade do reconhecimento da


filiação socioafetiva “pós mortem” em par de igualdades com o reconhecimento da filiação
biológica, em obediência aos ditames jurídicos da igualdade entre os filhos. Qualquer
limitação, seja de caráter formal ou material, não é aceita, levando-se em consideração os
princípios da dignidade da pessoa humana e o princípio da afetividade.
A segunda hipótese, diz respeito às questões sucessórias do filho socioafetivo. Com o
devido reconhecimento, independente do lapso de tempo para a ocorrência desse
reconhecimento os direitos sucessórios do filho socioafetivo são tratados conforme a mesma
regra dos direitos sucessórios do filho biológico ou adotivo, devido à igualdade entre os
filhos.

1.5 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.5.1 Objetivo Geral

O trabalho objetiva realizar uma análise doutrinária e jurisprudencial com relação ao


reconhecimento da filiação socioafetiva em momento posterior ao óbito do pai ou mãe
socioafetivo/a, bem como analisar todas as questões sucessórias, com a descrição dos direitos
sucessórios do filho socioafetivo devidamente reconhecido.

1.5.2 Objetivos Específicos

Para se chegar ao objetivo geral, serão percorridos os seguintes caminhos que


consistem nos objetivos específicos:
7

a) Analisar os princípios da afetividade e da dignidade da pessoa humana como


fundamentos justificadores da filiação socioafetiva;
b) Realizar um estudo a respeito das eventuais limitações temporais para o
reconhecimento da filiação socioafetiva, notadamente no que diz respeito ao
reconhecimento “pós mortem”;
c) Verificar os direitos sucessórios do filho socioafetivo que não teve o
reconhecimento de sua filiação em vida.
7

CAPÍTULO 2

2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1.1 Conceito de família, com ênfase nos princípios da afetividade e dignidade da pessoa
humana

Observa-se que o conceito de família vem sofrendo modificações com o decorrer dos
anos, assumindo múltiplas concepções. A legislação, por seu turno, adapta-se à realidade
social existente.
A ideia de família formada a partir do matrimônio, com ideais eternos de felicidade
deixou de ser o padrão e calhou a ser somente mais uma das formas de arranjo familiar. A
visão mais próxima do que seria a família tradicional era a formação da família romana.
Arnaldo Rizzardo(2011) ensina que a família tradicional romana era fundamentada na
autoridade paterna, de modo que, os membros da família conviviam sob essa única
autoridade, devendo à figura do pai subordinação e respeito.
Neste sentido, as normas constitucionais promulgadas até o ano de 1969 não
trouxeram muitas novidades em referência à sociedade familiar, focando-se apenas num ponto
inicial da modernização da família brasileira, a inclusão da entidade do divórcio ao direito
positivo no ano de 1977.
Antes da entrada em vigência da Constituição Federal Brasileira de 1988 a legislação
concernente à filiação tinha sua base no direito romano, no qual se trazia a ideia de que eram
legítimos os filhos gerados dentro de uma união já estabelecida entre um homem e uma
mulher. Por sua vez, filhos ilegítimos eram os filhos gerados fora de uma união matrimonial
previamente estabelecida, ou era gerado por uma mãe solteira.
Por conta das múltiplas transformações acontecidas no campo do Direito de Família,
especialmente nos anos de 1960 e 1970, a Constituição Federal começou a instituir maior
atenção e importância ao Direito de Família. Com a evolução da sociedade, evidenciada com
a nova Carta Magna, há uma desconstrução de padrões discriminatórios e o incremento de
uma pluralidade de arranjos familiares em nosso ordenamento.
Com o passar do tempo, e com a ampliação da denominação família, foi assumida uma
concepção plural do instituto, podendo o mesmo dizer respeito a um ou mais indivíduos,
7

ligados por traços biológicos ou sociopsicoafetivos, com a intenção de estabelecer o


desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo ali inserido (FARIAS e ROSENVALD,
2016).
Portanto, a família é formada tanto de afeto quanto de laços consanguíneos, já que
aquela sofreu mudanças impostas pela necessidade, pela época, pelos costumes e pelo próprio
direito. Logo, os modelos contemporâneos de família podem ser determinados como pessoas
ligadas por vontade própria em detrimento ao afeto que possuem entre si.
A filiação, pois, é fundada no fato da procriação, pelo qual se evidencia o estado de
filho. O termo filiação exprime a relação entre o filho e seus pais, aqueles que o geraram ou o
adotaram (VENOSA, 2005).
Todas essas mudanças refletem-se na identificação dos vínculos de parentalidade,
levando ao surgimento de novos conceitos e de uma nova linguagem que melhor trata a
realidade atual: filiação social, filiação socioafetiva, estado de filho afetivo etc. Tal como
aconteceu com a entidade familiar, a filiação começou a ser identificada pela presença do
vínculo afetivo paterno-filial (DIAS, 2007).
Como ensina Francisco José Ferreira Muniz:

A família à margem do casamento é uma formação social merecedora de tutela


Constitucional porque apresenta as condições de sentimento da personalidade de
seus membros e à execução da tarefa de educação dos filhos. As formas de vida
familiar à margem dos quadros legais revelam não ser essencial o nexo família-
matrimônio: a família não se funda necessariamente no casamento, o que significa
que casamento e família são para a Constituição realidades distintas, a Constituição
apreende família por seu aspecto social (família sociológica). E do ponto de vista
sociológico inexiste um conceito unitário de família (2007, p. 16).

A família passou a ser considerada, pela legislação brasileira, o alicerce da


coletividade, por força do artigo 226 da Constituição Federal de 1988, possuindo um
particular amparo do Estado. A Carta Magna expandiu a denominação de instituição familiar,
caracterizando-a como a união de algum dos pais e seus descendentes. Neste seguimento, a
união estável entre o homem e a mulher igualmente foi abrangida como nova modalidade de
formação familiar. Estabeleceu, também, o exercício em igualdade tanto por parte do homem
quanto pela mulher no que diz respeito aos direitos e também aos deveres alusivos à
sociedade matrimonial.
O parágrafo sexto do referido artigo assegurou a equidade de direitos entre os filhos,
gerados ou não da constância do casamento, ao afirmar que: “Os filhos, havidos ou não da
7

relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas


quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
Arnaldo Rizzardo faz uma importante reflexão, na qual diz que:

A filiação que até então decorria somente da origem biológica, ou da adoção, passou
a ser entendida como um instituto para manifestação da afetividade através do
carinho, cuidado, amor, do trato e do nome que lhe é dado, transbordando, assim,
para o afeto, deixando estampado para a sociedade a relação parental. A verdade real
que se busca agora não será desvendada pelo exame de DNA, tão festejado e
inovador à sua época, que atualmente não teria efeito algum, posto que a
combinação que se busca não é a genômica, mas sim a do coração, feita através da
manifestação das atitudes e sentimentos que torna inquestionável a relação
socioafetiva (2011, p.21).

Apesar das mudanças já experimentadas, a sociedade permaneceu crescendo e em


evolução, instituindo diferentes maneiras de convivência, introduzindo a afeição como
componente basilar da relação entre os indivíduos.
Ao analisar as questões familiares de uma forma geral, é possível estabelecer o
entendimento de que o afeto é tido como a base de sustentação de uma entidade familiar e de
qualquer outra relação interpessoal dotada de sentimento.
No que se refere ao afeto, lecionam Tartuce e Simão (2012, p. 113) que:

O afeto talvez seja considerado, na atualidade, o principal fundamento das relações


familiares. Mesmo não constando a expressão afeto na Constituição Federal como
sendo um direito fundamental, é legítimo afirmar que ele decorre da valorização
constante da dignidade da pessoa humana.

Com base no entendimento anterior, pode-se perceber, claramente, que não basta a
vinculação biológica para constituir a relação entre pai e filho, pois isso é, em parte,
insuficiente. Para que se estabeleça essa relação é necessário o afeto, o cuidado, entre outros
fatores que somente o amor estabelece.
O art. 1.593 do Código Civil Brasileiro de 2002 quanto definiu a consanguinidade
como sendo natural ou civil, ao analisar a consanguinidade ou outra origem, permitiu uma
inovação na interpretação da entidade da parentalidade.
Insta salientar que, mesmo que a legislação não tenha consagrado à proteção a filiação
socioafetiva, os Tribunais de Justiça, com base no princípio da dignidade da pessoa humana,
têm ofertado respaldo a tal situação. Por sua vez, a expressão “outra origem”, expressa no
artigo retro mencionado, abre margem para variadas interpretações.
7

Como já demonstrado, o conceito de família está em constante evolução, saindo de


uma concepção rígida e imutável para um campo mais aberto, abarcando todas as
modalidades de família.
O parentesco natural já não limita os laços familiares. As mais fortes ligações ocorrem
dentro da esfera afetiva, independe de vínculos parentais genéticos.
Neste cenário, é possível observar a evolução na transformação da denominação de
filiação que, em primeiro momento, fundava-se nos laços de sangue, e em seguida foi
instituído o parentesco civil, derivado da afetividade, sendo acautelado pelas normas do
instituto da adoção.
A Constitução Federal de 1988 admitiu a família para além do modelo padrão do
casamento, reconhecendo a importância das relações afetivas e do próprio afeto como um
direito a ser exercido pelos integrantes de todos os tipos de família.
A paternidade pode assumir três critérios norteadores para defini-la: o biológico,
jurídico e socioafetivo. Quanto ao critério jurídico determina que a paternidade é apontada por
uma presunção de paternidade, conforme art. 1597 do Código Civil. No que diz respeito à
vinculação biológica, a paternidade é caracterizada pelos laços sanguíneos de consequência
natural da procriação e gestação. E ao final, a paternidade socioafetiva é constituída pela
afeição estabelecida entre pai e filho na duração da convivência familiar.
O autor Jorge Fujita (2011, p.09), englobando os critérios acima descritos, definiu a
filiação como “o vínculo que se estabelece entre pais e filhos decorrente da fecundação
natural ou inseminação artificial – homóloga ou heteróloga – assim como em virtude de
adoção ou de uma relação socioafetiva resultante da posse do estado de filho”.
A relação de afeto, como se pode perceber, ganhou, ao longo dos últimos anos, em
especial do começo deste século, valor jurídico, capaz de formalizar direitos e obrigações
entre entes que estejam ligados por esses vínculos afetivos.
Maria Berenice Dias (2017) dispõe que:

Pode-se entender a afetividade como transformadora das relações conjugais e com


reflexos também nos vínculos parentais gerando uma grande variedade de arranjos
familiares, que trazem consequências jurídicas, seja nas relações entre os casais, seja
na relação de filiação. A própria teoria da parentalidade socioafetiva tem sua origem
no princípio da afetividade. Foi este o arcabouço teórico que permitiu o
desenvolvimento, possibilitando assim considerarmos a família hoje para muito
além de vínculos jurídicos formalmente estabelecidos ou ligações consangüíneas
(2017, p. 64).

Por sua vez, Pereira ensina que:


7

Os laços afetivos são, ao longo da vida, instrumento de constituição de vínculos


tanto para relações conjugais, como parentais, constituindo-se muitas vezes ato-fato
jurídico, com capacidade para gerar relações de parentesco. Deve-se, no entanto, ter
bastante cuidado para não se banalizar esse instituto com conclusões apressadas e
sem atentarmos aos objetos de sua constituição. Em contrapartida, não se pode negar
que os laços sanguíneos não são suficientes para se estabelecer as relações parentais.
A ideia de parentalidade socioafetiva se inicia com a paternidade, mas não poderia
deixar de abarcar a maternidade e as demais relações de parentesco ( 2012, p. 126).

Com isso, percebe-se que o primeiro requisito para determinação da parentalidade


socioafetiva é existência do próprio laço de afetividade.
Maria Berenice Dias (2016) entende que, para se chegar ao conceito atual de família,
deve-se ter uma visão pluralista, incluindo aí todos os arranjos familiares, buscando um
elemento comum, que é justamente o elo da afetividade.
A paternidade socioafetiva é construída, dessa forma em uma ocasião, cuja
parentalidade derive de uma disposição automática. E assim, a figura paterna começa a se
associar àquele indivíduo que cria, educa, e tenha participação da vida do filho, que ainda o
abastece de atenção e carinho, e não apenas auxílio financeiro.
Neste diapasão, com a disposição constitucional em que preconiza a igualdade de
filhos, a Lei n. 7841/89 começou a consentir o reconhecimento judicial ou voluntário de
qualquer filho.
Neste mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) dedicou
primordialmente à doutrina da proteção integral da criança e do adolescente. A referida
proteção tem fundamentação no princípio da prioridade absoluta e no melhor interesse do
menor, com visão do seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e dignidade. Tem-se que, a citada doutrina fornece influência ao
Direito de Família, uma vez que é um dos pontos principais quando se diz respeito a filiação
socioafetiva.
Neste sentido, as formas tradicionais de caracterização vínculo biológico estão sendo
mais flexíveis, e, por vezes, a paternidade socioafetiva adveio a predominar sobre a biológica,
por meio da aplicação do princípio do melhor interesse da criança, que está assegurado pela
Constituição Federal e pelo ECA.
Pereira (2015) leciona sobre o desenvolvimento da disposição jurídica das famílias
brasileiras e assevera que, ainda que paternidade socioafetiva seja assunto contemporâneo já é
reconhecida e tutelada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao dizer que:

Os laços de sangue, e uma certidão de nascimento, embora importantes, não são


suficientes para garantir uma paternidade/maternidade. E assim há hoje uma outra
categoria jurídica de paternidade, que está revolucionando os processos de busca de
7

um pai: paternidade socioafetiva, já ampliada para parentalidade socioafetiva. Com


isto um filho pode ter um pai biológico, outro registral, e o seu verdadeiro pai ser
aquele que o criou, ou seja, o pai socioafetivo. A paternidade ou maternidade
socioafetiva, embora seja criação recente do Direito brasileiro, já abraçada pela
jurisprudência, inclusive do Superior Tribunal de Justiça, não é nova. Ela vincula-se
ao milenar instituto da adoção. Em outras palavras, se não se adotar o filho, mesmo
biológico, ninguém se torna pai. Prova isto a conhecida família de Nazaré: José não
era pai biológico de Jesus e nem por isto deixou de ser seu verdadeiro pai aqui na
terra. Eis aí o primeiro caso incontestável de paternidade socioafetiva.

2.1.2 Ação de reconhecimento “pós mortem”

Uma das formas de reconhecimento da paternidade socioafetiva é a partir da


propositura da ação de reconhecimento de vínculo socioafetivo. Maria Berenice Dias ensina
que essa ação é:

Tida por alguns doutrinadores como a ação mais adequada para suscitar o vínculo
afetivo entre pais e filhos. Esse modelo de ação visa o reconhecimento do vínculo de
filiação socioafetiva, e esse vínculo pode ser reconhecido a alguém que pode ser
registrado ou não, com o nome de ambos os genitores, pode ter ou não genitor
biológico, sendo registrado em nome deste ou de outrem. Desde que constituído este
vínculo, a filiação por ser reconhecida, terá prevalência sobre as demais
modalidades. E, desde o entendimento da afetividade como um valor jurídico, a
filiação socioafetiva tomou a dianteira entre os vínculos parentais. Na sociedade, um
exemplo recorrente são as famílias sucessivas ou reconstituídas, formadas por
pessoas em uma nova estruturação familiar, que levam filhos de relações anteriores
para essas novas famílias. O cuidado, o carinho e atenção desses filhos com os
novos companheiros de seus pais ao longo da convivência continua constrói laços
afetivos, que muitas vezes acabam por gerar vínculos de filiação socioafetivos mais
sólidos que os biológicos. Então os personagens envolvidos nesse novo vínculo
construído podem requerer o reconhecimento da filiação, podendo inclusive
coexistirem dois pais, acontecendo o que chamamos de multiparentalidade, o que
vem sendo admitido pela jurisprudência atual (DIAS, 2017, p.316).

Todavia, em alguns casos, os filhos só buscam o reconhecimento do vínculo de


filiação socioafetiva após a morte do pai.
No que se refere ao reconhecimento da paternidade socioafetiva “pós mortem”, é
necessário trazer uma breve conceituação. Desta forma, tal instituto objetiva o
reconhecimento do pai ou mãe socioafetivo após o seu falecimento, partindo da premissa que
o filho não fora reconhecido em vida pelos meios legais.
No tocante ao assunto, decidiu o Superior Tribunal de Justiça, em julgado datado de
2016, de relatoria do Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva que “é possível o reconhecimento
da paternidade socioafetiva “pós mortem”, ou seja, mesmo após a morte do suposto pai
socioafetivo”.
7

Foi com a Constituição Federal de 1988, influenciada pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que veio o grande avanço na proteção aos filhos ilegítimos e as uniões
extraconjugais, pois possibilitou o reconhecimento da família constituída pela união de
pessoas ligadas não por laços religiosos e jurídicos, mas pelo amor e o afeto que une umas as
outras, reconhecendo a união estável e a monoparentalidade como entidade familiar.
Para Paulo Lôbo (2011), a partir do princípio da afetividade, “a família recuperou a
função que, por certo, esteve nas suas origens mais remotas: a de grupo unido por desejos e
laços afetivos, em comunhão de vida”.
Renato Maia (2008) acrescenta que:

a verdadeira paternidade pode também não se explicar apenas na autoria genética da


descendência. Pai também é aquele que se revela no comportamento cotidiano, de
forma sólida e duradoura, capaz de estreitar os laços da paternidade numa relação
psicoafetiva. Aquele, enfim, que além de poder emprestar seu nome de família, trata
o indivíduo como seu verdadeiro filho perante o ambiente social.

2.1.3Efeitos do Reconhecimento, além do pai e da mãe.

Conforme preceitua os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, e da


igualdade de tratamento entre os filhos, não é aceitável a existência de discriminação de um
filho, principalmente no que se refere à parentalidade socioafetiva, tendo em vista o
reconhecimento no ordenamento jurídico do princípio da afetividade.
O sentimento genuíno de filiação, desde que comprovado indubitavelmente, deve ser
considerado, o que não quer dizer que a parentalidade biológica será excluída.
Importante trazer para o presente estudo, o entendimento do Ministro Marco Aurélio
Dias Toffoli: “O reconhecimento posterior do parentesco biológico não invalida
necessariamente o registro do parentesco socioafetivo, admitindo-se nessa situação o duplo
registro com todas as consequências jurídicas decorrentes, inclusive para fins sucessórios”.
(TOFFOLI, 2016).
Desta maneira, inequívoco o entendimento de que as inúmeras espécies de filiação
estão hoje em “pé de igualdade”, sobretudo as de ordem afetiva.
Sendo assim, tendo em vista os princípios dignidade da pessoa humana e da igualdade
entre os filhos, corroborados pela Carta Magna e pelo artigo 1.596 do Código Civil, visível é a
evolução sofrida pelo Direito de Família no que se refere ao direito à sucessão, garantindo ao
filho socioafetivo, igualdade de condições com os demais filhos, passando a ser considerado
7

herdeiro legítimo, para fins sucessórios, quando constatada a existência de posse de estado de
filho.
Válido destacar a disposição dos artigos 1.609 e 1.610 do Código Civil de 2002 e 1º da
Lei 8560/92, que dispõe que o reconhecimento voluntário da paternidade é ato irrevogável,
mesmo que feito por testamento, e apenas pode ser desfeito em exceções, principalmente
quando provado vício de consentimento. Isto quer dizer que, para que possua probabilidade de
invalidação do assentamento do menor, em que a paternidade já foi estabelecida, é imperativo
que exista prova potente de que o pai que registrou tenha sido induzido em erro ou tenha sido
coagido.
Mesmo não sendo de imprescindibilidade ter feito o registro para ser caracterizada
uma relação socioafetiva, é imposta a demonstração da afinidade paterno-filial empregada
entre as partes. Até mesmo a sentença que estabeleça que exista a paternidade socioafetiva
meramente declaratória, pois serve somente para declarar uma circunstância preexistente,
tendo efeito ex tunc.
É de relevante importância trazer a baila o conceito de posse de estado de filho,
essencial para o entendimento do reconhecimento “pós mortem” da filiação, vejamos:

A “posse de estado de filho” constitui a base sociológica da filiação, é esta noção


fundada nos laços de afeto, o sentido verdadeiro de paternidade. Portanto é essa
noção que deve prevalecer em casos de conflitos de paternidade, quando as
presunções jurídicas já não bastam e não convencem, ou quando os simples laços
biológicos não são suficientes para demonstrar a verdadeira relação entre pais e
filhos. (NOGUEIRA, 2001, p. 113)

Maria Berenice Dias (2007) afirma que a noção de posse de estado de filho não se
estabelece com o nascimento, mas num ato de vontade, que se sedimenta no terreno da
afetividade, colocando em xeque tanto a verdade jurídica, quanto à certeza científica no
estabelecimento da filiação.
Deste modo, pode-se inferir que o reconhecimento da paternidade socioafetiva “pós
mortem” tem como parâmetro a posse do estado de filho, que demonstra que o pai em vida,
reconhecia determinada pessoa de forma afetiva como sendo seu filho. A prevalência da posse
do estado de filho é importante para que, assim, o filho possa ser herdeiro legítimo nos efeitos
sucessórios.
Reconhecendo a posição de estado de filho, proveniente da relação socioafetiva, não
possuiria outra vez a probabilidade de anulação ou revogação do reconhecimento da
paternidade.
7

Cumpre esclarecer que, independentemente do que conste no registro civil, a


investigação de paternidade é um direito personalíssimo, indisponível e imprescritível,
podendo a pessoa a qualquer tempo buscar sua verdadeira origem genética, conforme os
artigos 27 e 48 do ECA.
Os artigos 1.829, I e 1.845 do Código Civil de 2002 preveem que não há qualquer
distinção entre filho socioafetivo ou biológico.

2.1.4 Efeitos sucessórios do filho socioafetivo.

Sobre a sucessão, Orlando Gomes ensina que,

O Direito das Sucessões não é um campo aberto a inovações de grande porte, mas,
tendo estrita conexão com duas instituições básicas do ordenamento jurídico de
qualquer povo, como são a família e a propriedade, é compreensível que receba
influências das transformações por que estas passam. Não chegando, contudo, a
provocar mudanças radicais no regime hereditário, que continua orientado por três
grandes conceitos gerais: 1) o do respeito à vontade do finado; 2) o de que a
sucessão legítima é supletiva de sua vontade; 3) o da igualdade das legítimas
(GOMES, 2007, p.207).

Diante disso, percebe-se que as grandes mudanças sociais influenciaram fortemente o


direito das sucessões, todavia sua essência permaneceu a mesma. Com o progresso dos
conceitos familiares e a maior valoração dos vínculos afetivos desenvolvidos pela sociedade
passou-se a reconhecer outras formas de parentesco civil, a exemplo da parentalidade
socioafetiva.
Acerca do reconhecimento dos reflexos jurídicos e patrimoniais da parentalidade
socioafetiva, foi elaborado um enunciado na V Jornada de Direito Civil (nº 519 do CJF/STJ),
afirmando que o reconhecimento de um parentesco em virtude de vínculos socioafetivos, deve
ocorrer com base na posse do estado de filho, para que produza efeitos pessoais e
patrimoniais.
Sendo assim, quando existir o reconhecimento da paternidade socioafetiva é
consolidada uma afinidade de parentalidade que já existe no meio social, e não possuindo
pretexto admissível para recusar os efeitos sucessórios com previsão na legislação civil,
configuraria violação do próprio princípio da isonomia entre os filhos. Desta maneira, quando
há o registro civil pelo pai socioafetivo resta configurada uma relação jurídica e dela emanam
os fins sucessórios, assim como na relação biológica.
7

Diante disso, é válido esclarecer que na carência de registro, os efeitos sucessórios


igualmente vão ser produzidos, porém deve ser devidamente comprovada a existência da
paternidade socioafetiva e comprovada ainda o anseio das duas partes no reconhecimento da
condição paterno-filial.
O Superior Tribunal de Justiça de Santa Catarina decidiu que:

A ausência de registro, os efeitos sucessórios também podem ser produzidos, mas


desde que comprovada a existência da paternidade socioafetiva e demonstrada a
vontade de ambas as partes pelo reconhecimento do estado paterno-filial, não
cabendo a sua legitimação tão somente para fins sucessórios por meio da chamada
petição de herança.

Neste seguimento, sendo reconhecida a paternidade socioafetiva e sendo esta a que


prevalece na vida da pessoa, os efeitos sucessórios decorreriam desta e não da paternidade
biológica. Neste sentido, entendeu o Tribunal de Justiça de Santa Catarina que é

Impossível desconsiderar como cerne da relação familiar a coexistência dos laços de


interação parental, vivendo e convivendo os componentes de uma família em
recíproco afeto e de solidariedade familiar. A herança existe para a sobrevivência,
para manter íntegros os laços do conjunto familiar, e não para atiçar a cobiça de
estranhos apenas ligados pelos vínculos consanguíneos, mas que representam figuras
carentes de relacionamento fático e afetivo. A paternidade ou maternidade mais
importante nasce dos vínculos do tempo e do amor incondicional, e não de uma
sentença que declare ser genitor uma pessoa já falecida.

Diante disso, o Poder Judiciário, cumprindo o seu papel de aplicar a justiça, deve
impedir que a relação de família seja vista, apenas, como meios de resoluções exclusivamente
para fins patrimoniais, evitando assim um retrocesso nas relações humanas.
7

CAPÍTULO 3

3.1 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

O trabalho segue o método de pesquisa dedutivo, que consiste no processo de


raciocinar a partir de premissas para alcançar uma conclusão logicamente correta. A
metodologia de pesquisa é a bibliográfica, com a utilização de doutrinas e artigos de autores
sobre o tema proposto. A natureza da pesquisa é descritiva e os resultados serão apresentados
em obediência à forma qualitativa.

3.2 CRONOGRAMA

ATIVIDADE ANO 2018


Ju
MESES Jan Fev Mar Abr Mai Jul Ago Set Out Nov Dez
n
Coleta de dados
(pesquisa
X
bibliográfica ou
aplicada)
Tabulação das
X X
informações
Descrição dos
X
resultados
Discussão dos
X X
resultados
Conclusão X X
Elaboração do
relatório de X
pesquisa
7

Apresentação em
X
banca

3.3 ORÇAMENTO

ITENS VALOR UNITÁRIO VALOR TOTAL


*100 Folhas sulfites 0,20 20,00
* Materiais para uso (canetas, pranchetas) - 25,00
*Doutrina 74,90 75,00
*Correção 80,00 80,00
*Combustível 1,99 400,00
TOTAL GERAL EM R$ 600,00

.
7

4.REFERÊNCIAS

BRASIL. CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO . Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm> Acesso em: 18 set.2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma. REsp 1.500.999-RJ, Relator: Ministro


Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/4/2016 Disponivel em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/339963282/recurso-especial-resp-1500999-rj-
2014-0066708-3/inteiro-teor-339963296?ref=juris-tabs> . Acesso em: 03 out. 2018

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1274240 SC 2011/0204523-7. Relatora:


Ministra Nancy Andrighi. DJe 15/10/2013. Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24274960/recurso-especialresp-1274240-sc-
2011-0204523-7-stj>. Acesso em: 03 out. 2018

BRASIL. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 18 set. 2018

BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Embargos Infringentes. EI 540457 SC

2010.054045-7. Relator: Luiz Fernando Boller. Julgado em 26/10/2011. Disponível

em:<http://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20662448/embargos-infringentes-ei-

540457-sc-2010054045-7-tjscEI 540457 SC 2010.054045-7>. Acesso em: 20 de out. de

2018.

DIAS, Maria Berenice. Filhos do afeto – 2.ed.rev. e atual. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais 2017

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias – 11.ed. rev., atual. e ampl. – São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016
7

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4.ed.,ver., atual e ampl. São Paulo:
Ed. Revistas dos Tribunais, 2007.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: famílias.
8. ed. rev. e atual. Salvador: JusPodvim, 2016.

FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Filiação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

GOMES, Orlando. Sucessões. – 14ed. rev., atual. e aumentada de acordo com o Código
Civil de 2002/ por Maria Roberto Carvalho de Faria. – Rio de Janeiro: Forense, 2007.

LOBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: para além do


numerus clausus. Disponível em <
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/9408-9407-1-PB.pdf> Acesso em
04 set. 2018.

MAIA, Renato. Filiação Parental e Seus Efeitos. São Paulo: SRS Editora, 2008.

MUNIZ, Francisco José Ferreira. In: Teixeira, 1993:77. Apud. VENOSA, Sílvio de Salvo.
Direito civil: direito de família. Coleção direito civil; volume 6. 7ª ed. São Paulo: Atlas,
2007.

NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras Nogueira. A filiação que se constrói: o


reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica, 2001.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família: uma abordagem psicanalítica – 4.ed.-


Rio de Janeiro: Forense, 2012.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais e norteadores para a


organização jurídica da família. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.
7

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Família de Nazaré é um dos principais exemplo de


parentalidade socioafetiva. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2015-dez-
20/processo-familiar-familia-nazare-umdos-principais-exemplos-parentalidade-
socioafetiva>. Acesso em: 30 de out. de 2018.

RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: Direito de Família. v. 5. 7 ed.,
rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2012.

TOFFOLI, Marco Aurélio Dias. Além do Registro. Disponível em:


<http://www.conjur.com.br/2016-set-23/paternidade-socioafetiva-nao-anula-obrigacoes-
pai-biologico>. Acesso em: 29 de ago. de 2018.

VENOSA. Sílvio de Salvo. Direito civil. Direito de família. 5 ed. São Paulo: Ed. Atlas,
2005.

Você também pode gostar