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Agradeço primeiramente a Deus, por mais essa conquista em minha vida, por me dar
força durante toda a minha trajetória e por sempre estar ao meu lado para me ajudar a seguir
em frente nos momentos em que penso em desistir.
Agradeço a toda a minha família, principalmente minha mãe, Eliana, meu pai, Sandro
e meu namorado, Bruno, pelo apoio e toda a paciência nos momentos de tensão e estresse no
decorrer do presente trabalho e por sempre estarem ao meu lado me incentivando.
Agradeço a instituição Unitoledo, que dispõe dos melhores professores os quais
transmitem brilhantemente conhecimento, o meu orientador, Paulo Cavasana, por ter me
orientado com todo carinho e dedicação na elaboração do presente trabalho e meu
coordenador, Renato Freitas, por todo o empenho e esforço para tornar o curso de Direito do
Unitoledo um dos melhores e pela cordialidade, respeito e muito bom humor no tratamento
com os alunos.
E por fim, agradeço a todos os meus amigos que conquistei na faculdade e que sempre
estiveram comigo durante essa trajetória.
Meu muito obrigada a todos!
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
The aim of this study is to study the socio-affective paternity institute and its importance in
the maintenance of family relations, as well as its recognition and effects on the provision of
food and inheritance rights, enshrining the principle of equality and the best interest of the
child and of the adolescent, besides showing how affectivity became important in the legal
environment and was fundamental so that the recognition of the socioafetiva paternidade was
widely accepted by the doctrine and jurisprudence. To do so, we will make an approach
regarding the origin of the Brazilian family and the main principles that govern it. Thus, in
order to achieve these objectives, we will use doctrinal research, legislation analysis and
jurisprudence regarding socio-affective paternity.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
I – A FAMÍLIA ....................................................................................................................... 10
II – DA FILIAÇÃO ................................................................................................................ 24
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 58
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INTRODUÇÃO
A presença do afeto nas relações familiares foi o principal responsável pelas mudanças
acompanhadas na família brasileira. Diante de tal mudança e a forte presença da afetividade
nas relações familiares o Estado viu a necessidade de mudar também a legislação até então
vigente, com a finalidade de acompanhar tamanha evolução social e consagrar as relações de
afeto dando maior proteção e liberdade para a constituição de novas modalidades de família,
inclusive aquelas baseadas essencialmente por vínculos socioafetivos.
Desta forma, o marco histórico na legislação brasileira que inovou a família foi a
Constituição Federal de 1988, que consagra em seu texto vários princípios visando proteger a
família, tais como, a igualdade, a liberdade, afirmou o princípio da dignidade da pessoa
humana, entre outros. Logo após, veio o código Civil de 2002 que também proporcionou
mudanças importantes para a família brasileira estabelecendo em seu artigo 1.593 que “o
parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem” a
expressão “outra origem” deu margem para que vínculos socioafetivos também configure
parentesco civil e assim a paternidade socioafetiva ganhou espaço e maior visibilidade no
âmbito jurídico.
Tendo em vista tamanha proporção que o afeto ganhou nas relações familiares, a
paternidade socioafetiva, mesmo ausente de regulamentação específica, é amplamente aceita
pela doutrina e jurisprudência, que em respeito ao princípio da igualdade de filiação, confere
os mesmos efeitos da filiação biológica à filiação socioafetiva. Assim, a paternidade
socioafetiva gera inclusive o dever à prestação de alimentos à criança e também direitos
sucessórios. Além do respeito ao referido princípio, as decisões judiciais na qual se discutem
a paternidade, visam resguardar o melhor interesse da criança ou do adolescente, e assim, em
muitos casos a paternidade socioafetiva prevalece sobre a biológica quando presentes vínculos
afetivos entre a criança e o pai socioafetivo.
Assim, a afetividade é reconhecida pela maioria dos doutrinadores como um princípio
jurídico norteador do Direito de Família pois a paternidade socioafetiva baseada na verdade
sociológica e ligada por vínculos de afeto e amor exerce uma função social muito importante
na vida de uma criança, a função da verdadeira paternidade. Desta forma, por meio de estudo
doutrinário e análise jurisprudencial a paternidade socioafetiva será analisada no que diz
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I - A FAMÍLIA
Observa-se na família à época, a ausência do afeto para a sua manutenção, além disso
não estava presente a igualdade entre o homem a mulher e os filhos, o poder marital sempre
prevalecia.
O cristianismo também proporcionou muita influência para o instituto da família e o
casamento, entendendo esse ser um vínculo indissolúvel, a igreja não reconhecia a dissolução
do casamento.
Neste sentido, Lisboa (2013, p. 26):
A no ão de família foi ampliada, dei ando de ser considerada família tão somente
aquela esta elecida a partir do casamento civil A ado ão de outras entidades
familiares e dos princípios constitucionais da solidariedade social e familiar, da
igualdade entre o homem e a mulher e da isonomia entre os filhos via ili a o dever
de coopera ão m tua entre os parentes, cônjuges e conviventes, com maior alcance e
com um novo papel para cada integrante da família (LISBOA, 2013, p. 71).
No mesmo s
A entidade familiar deve ser entendida, hoje, como grupo social fundado,
essencialmente, em laços de afetividade, pois a outra conclusão não se pode chegar à
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Tais mudanças no cenário jurídico se fizeram necessárias para dar amparo as novas
modalidades de entidades familiares que se formavam, visto que, dispositivos anteriores
sequer previam tais modalidades, senão somente aquela derivada do matrimônio.
Conforme visto, “na evolu ão do direito de família verifica-se que, al m de ser havida
como c lula sica da sociedade, a família passou a ser tratada como centro de preserva ão do
ser humano, com a devida tutela dignidade nas rela es familiares” (MONTEIRO; SILVA,
2012, p. 25).
Além da previsão de novos modelos de entidade familiar, não se pode deixar de
destacar os princípios norteadores do Direito de Família que foram incluídos no ordenamento
jurídico, primeiramente, por meio da Constituição Federal e que também desencadearam
inovações e mudanças nas entidades familiares.
Sendo assim, com a promulgação da Constituição de 1988 que não recepcionou vários
artigos do Código Civil de 1916, a edição de um novo Código se fez necessária.
Que a família rasileira sofreu influ ncia da família romana, na qual predominaram
as preocupa es de ordem moral; da família canônica, que considera o casamento
um sacramento, não podendo os homens dissolverem a união reali ada por Deus –
quod Deus conjun it homo non separet –, materiali ada no direito especialmente
pelas Ordena es Filipinas, de forte predomin ncia do Direito anônico .
É visível a influência do Direito Canônico, visto que em seu texto eram apenas
regulamentadas as uniões derivadas do matrimônio e sendo essas uniões indissolúveis, assim
como para a igreja, pois para ela o casamento é considerado um sacramento e não pode ser
dissolvido.
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Além da discriminação entre os filhos de acordo com a origem de sua filiação, havia
também a discriminação em relação a mulher, visto que o homem exercia predominância
sobre a mesma. A igualdade entre os cônjuges e entre os filhos não estava presente no
dispositivo ora estudado.
Sendo assim, visto que:
O digo ivil de 1916, o ra memor vel no seu tempo, não acompanhou a r pida
evolu ão e modifica ão dos costumes, especialmente na estrutura da família
patriarcal do s culo passado, na qual prevalecia a autoridade do homem, enquanto
provedor, marido e pai. A vontade do pai e marido era fundamental e determinante,
sendo imposta aos dependentes como lei. (CARVALHO, 2017 p. 35-36).
Desta forma, durante sua vigência, o dispositivo legal sofreu várias alterações em seu
texto por meio de legislações extravagantes. Tais mudanças denominadas por Gagliano;
Pamplona Filho (2017, p. 69) como:
esparsas que o modificaram, pois o mesmo não mais atendia as necessidades da família
contemporânea, um novo Código Civil com o texto adequado ao texto constitucional foi
aprovado.
1.2.2 A Constituição Federal de 1988 e o Novo Código Civil de 2002
omo acima visto, a tramita ão do Projeto de digo ivil teve início anteriormente
onstitui ão Federal de 1988, que introdu iu os apontados princípios
reformuladores do direito de família No entanto, em ra ão das emendas reali adas,
especialmente na fase final dessa tramita ão, perante a mara dos Deputados, o
novo digo ivil foi adequado Lei aior ( ONTEIRO; SILVA, 2012, p. 36-
37).
Desta forma, após sua a adequação o novo Código Civil foi aprovado e sancionado em
10 de janeiro de 2002, com prazo de um ano de vacatio legis, entrando em vigor em 11 de
janeiro de 2003, nos termos da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Sem dúvidas, a promulgação da Constituição de 1988 foi fundamental para a
aprovação do novo Código Civil, tendo em vista as inúmeras novidades previstas em seu
texto. Neste sentido, assevera Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 33-34):
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O Código de 2002 [...] desde logo enfatiza a igualdade dos cônjuges (art. 1.511),
materializando a paridade no exercício da sociedade conjugal, redundando no poder
familiar, e proíbe a interferência das pessoas jurídicas de direito público na
comunhão de vida instituída pelo casamento (art. 1.513) [...] O novo diploma
amplia, ainda, o conceito de família, com a regulamentação da união estável como
entidade familiar; [...] reafirma a igualdade entre os filhos em direitos e
qualificações, como consignado na Constituição Federal; [...] regula a dissolução da
sociedade conjugal.
No mesmo sentido:
união est vel ...] O princípio da plena igualdade entre os cônjuges foi plenamente
acolhido nos efeitos pessoais e patrimoniais do casamento, inclusive no que se refere
guarda de filhos e chefia conjunta da sociedade conjugal ocorreu a
elimina ão das discrimina es e istentes entre filhos. (MONTEIRO; SILVA, 2012,
p. 37).
O Direito de Família é um dos ramos do direito com a mais ampla proteção do Estado.
A Constituição Federal traz vários princípios protecionistas da família com o intuito de
preservar tal instituto, pois o seio familiar é essencial para a formação dos cidadãos. Neste
sentindo é importante ressaltar o artigo 226 do referido dispositivo legal, pois é neste
dispositivo que se encontra a dimensão da importância que é dada a família. O artigo 226 da
Constituição Federal traz em seu texto:
Com base no artigo citado acima, pode-se extrair princípios constitucionais implícitos
e explícitos que norteiam a família e que são de suma importância para a sua manutenção que
os mesmos sejam aplicados e garantidos. Desta forma:
clamavam por sua inser ão constitucional” (L O, 2002 apud MALUF A., 2010 p.
37).
No mesmo sentido:
Ou seja, a liberdade é inerente ao indivíduo e como membro familiar ele tem o direito
de escolher livremente a respeito da formação, manutenção, planejamento ou extinção da
entidade familiar, bem como a formação de outra família se assim desejar, vedando qualquer
interferência, seja ela estatal ou de terceiros.
estabelecer uma convivência familiar saudável entre os membros da entidade familiar, sempre
prestando assistência uns aos outros de acordo com as necessidades de cada um.
Afeto – Do latim affectus. [...] Espinosa diz que somos construídos por nossos afetos
e pelos laços que nos unem a outros seres. (...) Desde que a família deixou de ser,
preponderantemente, um núcleo econômico e de reprodução, e as uniões conjugais
passaram a se constituir, principalmente, em razão do amor, a família tornou-se
menos hierarquizada e menos patrimonializada. O afeto, tornou-se, então, um valor
jurídico e passou a ser o grande vetor e catalisador de toda a organização jurídica da
família. [...] tornando-se o princípio da afetividade o balizador de todas as relações
jurídicas da família.
II – DA FILIAÇÃO
2.1 Conceito
do ordenamento jurídico, sendo eles ligados por vínculos biológicos ou socioafetivos, dessa
forma, consagrando o princípio da igualdade de filiação, o qual passa a ser analisado.
Filhos legítimos eram os que procediam de justas núpcias. Quando não houvesse
casamento entre os genitores, denominavam-se ilegítimos e se classificavam, por sua
vez, em naturais e espúrios. Naturais, quando entre os pais não havia impedimento
para o casamento. Espúrios, quando a lei proibia a união conjugal dos pais. Estes
podiam ser adulterinos, se o impedimento resultasse do fato de um deles ou de
ambos serem casados, e incestuosos, se decorresse do parentesco próximo, como
entre pai e filha ou entre irmão e irmã.
O enunciado do art 1 596 do digo ivil de que os filhos de origem iol gica e
não iol gica t m os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
discrimina es, que reprodu norma equivalente da onstitui ão Federal, , ao lado
da igualdade de direitos e obrigações dos cônjuges, e da liberdade de constituição de
entidade familiar, uma das mais importantes e radicais modificações havidas no
direito de família brasileiro, após 1988.
Certamente, pode-se afirmar que foi com o advento da Constituição Federal de 1988
que a distinção entre os filhos foi totalmente abolida, consagrando a igualdade de filiação, no
entanto, tal instrumento precisava de respaldo no âmbito civil, visto que o antigo Código Civil
não mais estava adequado ao texto constitucional. Dessa forma, visto a importância do
princípio da igualdade de filiação, o mesmo está previsto não só na Constituição Federal,
como também no Código Civil de 2002 o que traz maior segurança jurídica para a sua
aplicação, assim, o princípio da isonomia deve sempre prevalecer em relação aos filhos,
independentemente da forma que se resultou a filiação.
termo de nascimento registrada no Registro ivil” Desta forma, tal registro, considera-se
prova quase que irrefutável de filiação, visto que só poderá ser invalidado no caso de erro ou
falsidade de registro, devendo esses serem provados, conforme o artigo 1.604 que prevê:
“Ningu m pode vindicar estado contr rio ao que resulta do registro de nascimento, salvo
provando-se erro ou falsidade do registro” Neste sentido, Paulo Lôbo (2017, p. 229):
O registro produz uma presunção de filiação quase absoluta, pois apenas pode ser
invalidado se se provar que houve erro ou falsidade A declara ão do nascimento do
filho, feita pelo pai, irrevog vel Ao pai ca e apenas o direito de contestar a
paternidade, se provar, conjuntamente, que esta não se constituiu por não ter sido o
genitor biológico e não ter havido estado de filiação estável.
Considerado como meio de ser comprovar a filiação e por se tratar de ato totalmente
voluntário baseado na vontade, após o Registro, a paternidade se torna inegável e seu
reconhecimento irretratável, podendo apenas ser discutida no âmbito judicial no caso de
provas contundentes de possível erro ou falsidade.
Tal dispositivo traz em seu inciso II, a figura da posse de estado de filiação, o qual
pode-se conceituar como um conjunto de fatos já certos que corroboram para se provar a
filiação por meio de vínculo afetivo de parentesco entre duas pessoas. Importante ressaltar
que o Enunciado 256 do CJF, do artigo 1.593 do Código Civil esta elece que “a posse do
estado de filho (parentalidade socioafetiva constitui modalidade de parentesco civil” Ou
seja, tal instituto é de suma importância para o reconhecimento da paternidade socioafetiva.
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que não se trata de posse de estado de filho, mas sim de “estado de filho afetivo,
cujo vínculo entre pais e filho, com o advento da Constituição Federal de 1988, não
é de posse e domínio, e sim de amor, de ternura, na busca da felicidade mútua, em
cuja convivência não há mais nenhuma hierarquia”
A posse de estado de filia ão refere situa ão f tica na qual uma pessoa desfruta do
status de filho em relação a outra pessoa, independentemente dessa situa ão
corresponder realidade legal uma com ina ão suficiente de fatos indicando um
vínculo de parentesco entre uma pessoa e sua família que ela diz pertencer [ ...].
Dessa forma, “a posse de estado consiste no desfrute p lico, por parte de algu m,
daquela situa ão peculiar ao filho, tal o uso do nome familiar, o fato de ser tratado como filho
pelos pretensos pais, aliado persuasão geral de ser a pessoa, efetivamente, filho”.
(RODRIGUES, 2004, p. 292).
Quando a mãe reconhece o filho e fornece o nome do pai ao oficial, a este caberá
comunicar o fato ao juiz, que determinará a manifestação do suposto pai. Se este,
voluntariamente, confirma a informação, dar-se-á o reconhecimento,
chamado oficioso pela doutrina. [...] A oficialização da paternidade se faz sem
qualquer ameaça de sanção, a qual inexiste. Se negativa a resposta, esta deverá ser
respeitada. Neste caso, o juiz encaminhará ao Ministério Público os elementos
disponíveis, a fim de examinar a possibilidade de ajuizamento de ação investigatória
de paternidade.
pode ser feito a qualquer tempo, mesmo antes do seu nascimento, durante a vida
deste ou até depois de sua morte, com as ressalvas do parágrafo único do artigo
1.609 do Código Civil, para o qual há restrições para efeitos sucessórios, quando
este reconhecimento de filho já falecido só ocorre para fins claramente patrimoniais,
coibindo esse reconhecimento o parágrafo único do artigo 1.609, e o parágrafo único
do artigo 26 do Estatuto da Criança e do Adolescente, salvo que o perfilhado tenha
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deixado descendentes, porque então serão estes os seus herdeiros, pela ordem de
vocação hereditária do artigo 1.829, inciso I, do Código Civil.
A senten a judicial supre a falta do reconhecimento volunt rio e ser aver ada no
registro de nascimento do filho, do mesmo modo que o ato de reconhecimento
voluntário. A aver a ão gera a presun ão da paternidade (ou da maternidade , com
todo o comple o de direitos e deveres atri uídos rela ão entre pai ou mãe e filho .
A filiação socioafetiva está prevista no artigo 1 593 do digo ivil o qual prev que
“o parentesco natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”, como
se pode perceber, não está prevista explicitamente a figura da filiação socioafetiva no
dispositivo supracitado, no entanto, é consolidado pela doutrina que tal figura é abrangida
pelo termo “outra origem”, que diante de sua generalidade pode abarcar várias formas de
parentesco, inclusive aquela baseada na afetividade.
Corrobora com o exposto acima, Adriana Maluf; Carlos Maluf (2015, p. 521-522):
Desta forma:
A afetividade que hoje se encontra nas relações familiares foi responsável por uma
grande modificação social no cenário das entidades familiares modernas e consequentemente
alteração no conceito de família. Sendo assim, com a predominância do afeto nas relações
familiares que foi dado espaço para a formação das famílias socioafetivas.
Assim:
Importante ressaltar que é por meio do “estado de posse de filho”, que constitui como
o principal meio de prova para o estabelecimento da filiação socioafetiva, conforme já
estudado anteriormente.
Consagrando o princípio da afetividade, a consanguinidade não é mais fator exclusivo
para o estabelecimento da filiação, e em muitos casos, a filiação socioafetiva prevalece sobre
a filiação biológica, pois atualmente se busca uma verdade real em relação a paternidade, pois
é inequívoco que a paternidade é mais do que um vínculo de sangue, tendo em vista que a
criança ou adolescente necessita da figura de um pai presente que esteja disposto a prestar
cuidados, educá-lo e o mais importante, esteja disposto a ama-lo.
Neste sentido, Carvalho (2017, p. 566):
A filia ão real, ou verdadeira, dei a de ser iol gica e passa a ser cultural,
revelando-se numa verdade afetiva construída numa rela ão paterno filial
consolidada nos la os de afeto, que muitas das ve es não e iste na filia ão
iol gica Sustenta-se no desejo de ser pai ou de ser mãe, de conce er um filho no
cora ão, fruto dos sentimentos cultivados durante a conviv ncia e esta elecendo
espontaneamente os vínculos paterno-filial.
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A filiação consanguínea deve coexistir com o vínculo afetivo, pois com ele se
completa a relação parental. Não há como aceitar uma relação de filiação apenas
biológica sem ser afetiva, externada quando o filho é acolhido pelos pais que
assumem plenamente suas funções inerentes ao poder familiar.
Assim:
a verdade biológica conflita com a verdade socioafetiva, essa deve prevalecer, pois é na
vontade e no comportamento de ser pai, que a paternidade se erradia em sua verdadeira
essência e se demonstra nos atos de cuidado, afeto, carinho e atenção e não em fatores
genéticos.
Devido à grande importância que vem sendo dada a afetividade nas relações
familiares, não é incomum casos em que quando há conflito entre a paternidade biológica e a
paternidade socioafetiva, e a última prevaleça em detrimento da primeira, como exemplo, em
casos que o pai registra a criança achando ser o pai biológico e durante a convivência familiar
criam fortes vínculos afetivos e logo depois é descoberto que o mesmo não é o verdadeiro pai
da criança. Se nessa situação restar comprovada a filiação socioafetiva, a mesma prevalece
sobre a verdade biológica não sendo possível a revogação da paternidade.
Diante de tudo já estudado no presente trabalho até o momento, tal prevalência parece
ser coerente, no entanto é importante destacar que a mesma não se trata de uma regra pois se
deve analisar o caso concreto e sempre buscar soluções que respeitam e preservam o melhor
interesse da criança ou adolescente e a dignidade da pessoa humana, assim, “não e iste
posicionamento uniforme na jurisprud ncia so re a paternidade socioafetiva, nem nos parece
que possa vir a existir, em face das variantes de cada situa ão concreta” (MONTEIRO;
SILVA, 2012, p. 465).
Sendo o afeto um pressuposto fundamental para um ambiente de convivência familiar
saudável, muitas vezes é necessário preservar a paternidade socioafetiva de quem cria um
filho sabendo não ser seu, mas como filho o tem, pois não são raras as situações em que
mesmo havendo ligação biológica entre o genitor e a criança, não há vontade de ser ter uma
ligação de afeto, pois o genitor não quer ter como função a paternidade.
Neste sentido, afirma Álvaro Azevedo (2013, p. 240-241):
[...] Alerta, ainda, que o equívoco, “a prop sito da investiga ão de paternidade, est ,
pois, em não se distinguir que posso o rigar algu m a responder patrimonialmente
pela sua conduta [...] –, mas não posso o rigar, quem quer que seja, a assumir uma
paternidade que não deseja Simplesmente porque impossível fa -lo, sem
violentar, não tanto a pessoa, mas a pr pria ideia de paternidade Tem tanto esta de
autodoa ão, de gratuidade, de engajamento íntimo, que não susceptível de
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Certamente que a imposição da paternidade não fará daquele que não deseja, ser pai,
no entanto, quando a pessoa assume o risco de gerar um filho, independentemente de ser esta
a sua vontade, a partir daí, nasce o dever de cuidado para com a criança que foi gerada.
Querendo ou não, a função de pai deve ser cumprida, mesmo que ausente o afeto.
Mesmo com o reconhecimento da paternidade socioafetiva daquele que já possui em
seu registro o pai biológico, não afasta do último seus deveres e obrigações derivados da
paternidade. Assim, “a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro p lico, não
impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica,
com todas as suas consequências patrimoniais e e trapatrimoniais” (FUX, 2016, p 5).
Para melhor entendimento, ao se tratar do conflito entre paternidade biológica e
paternidade socioafetiva, devemos separar tais conflitos em duas perspectivas. Sendo a
primeira quando há o conflito em relação a verdade biológica com a verdade sociológica,
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neste caso o pai descobre não ter vínculo biológico com a criança, porém há o vínculo
socioafetivo e devendo esse prevalecer.
Neste sentido:
A necessidade de manter a esta ilidade da família, que cumpre a sua fun ão social,
fa com que se atri ua um papel secund rio verdade iol gica Revela a
const ncia social da rela ão entre pais e filhos, caracteri ando uma paternidade que
e iste não pelo simples fato iol gico ou por for a de presun ão legal, mas em
decorr ncia de uma conviv ncia afetiva . (DIAS, 2009 apud AZEVEDO, 2013, p.
242).
Dessa forma, ainda que não há a presença dos fatores biológicos, a socioafetividade
continua a produzir os efeitos da paternidade. E nesse caso, embora alegado vício de vontade
no momento em que registrou a criança pois acreditava que a criança era seu filho biológico e
assim tenha sido enganado pela mãe da criança, em busca de preservar o interesse do menor
que já criou vínculo afetivo com aquele que acreditava ser seu pai, não é possível a destituição
da paternidade por meio de ação negatória de paternidade nesse caso, pois a verdade
socioafetiva prevalece sobre a biológica.
Assim:
Desse modo, além das exceções previstas no Código Civil o qual permite a revogação
da paternidade se comprovado erro ou fraude, há também a necessidade de se comprovar que
não há nenhum vínculo afetivo entre o pai e a criança. Assim, vejamos a seguinte decisão:
Não cabe a lei agir como o Rei Salomão, na conhecida história em que propôs
dividir a criança ao meio pela impossibilidade de reconhecer a parentalidade entre
ela e duas pessoas ao mesmo tempo. Da mesma forma, em tempos atuais, descabe
pretender decidir entre a filiação afetiva e a biológica, quando o melhor interesse do
descendente é o reconhecimento, por exemplo, jurídico de ambos os vínculos. Do
contrário, estar-se-ia transformando o ser humano em mero instrumento dos
esquemas condenados pelos legisladores. É o direito que deve servir a pessoa, e não
a pessoa que deve servir o direito. (STF. RE 898.060/SC. Relator Ministro Luiz Fux.
Julgado em 22.09.2016.).
Neste sentido, ensina Carlos Ro erto Gon alves, “que a paternidade socioafetiva,
mantida como pai registral, não afasta os direitos decorrentes da paternidade biológica, sob
pena de violar o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana” (2017, p 521
Ou seja, ainda que o primeiro registro tenha sido feito pelo pai socioafetivo, o
biológico não tem o seu direito de reconhecimento da paternidade afastado e assim poderá
constar seu nome no registro do filho juntamente com o nome do pai socioafetivo, pois neste
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caso não há o que se falar em prevalência, para assim, atender o melhor interesse da criança
ou adolescente.
3.2.1 Da Multiparentalidade
Dessa forma, essa decisão do STF prevê a igualdade entre a paternidade socioafetiva e
biológica, deixando de existir qualquer hierarquia entre ambas, e possivelmente trará
uniformização de futuras decisões em relação a esse assunto que por muito tempo foi questão
de debate e decisões divergentes.
Embora considerada para alguns autores um avanço no Direito de Família, como para
Ricardo Calderón, a multiparentalidade ainda causa debate na doutrina e há aqueles autores
que defendem que a multiparentalidade só deve ser aplicada em casos excepcionais, pois a
mesma pode gerar questões futuras a serem resolvidas.
Neste Sentido, Gonçalves (2018, p. 306) afirma que:
[...] vários são os problemas que podem ocorrer com a multiparentalidade, tais
como: quem irá autorizar a emancipação e o casamento de filhos menores; quem
aprovará o pacto antenupcial do menor; quem representará os absolutamente
incapazes e quem assistirá os relativamente; quem irá exercer o usufruto dos pais
com relação aos bens dos filhos enquanto menores; quando os filhos menores serão
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postos em tutela; como será dividida a pensão alimentícia entre os vários pais e se o
filho é obrigado a pagar a todos eles; como será feita a suspensão do poder familiar;
quem dos vários pais será, também, responsável pela reparação civil prevista no art.
932 do Código Civil; como será contada a prescrição entre pais e filhos e seus
ascendentes; e a quem será atribuída a curadoria do ausente.
além de cuidar para que os mesmos não sofram nenhuma forma de discriminação,
negligência, exploração, violência, crueldade e opressão.
Importante ressaltar, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seu artigo 3º
dispõe que todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana devem ser garantidos a
criança e ao adolescente a fim de lhes assegurar seu “desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.
Diante da tamanha importância da proteção que o Estado garante ao menor, nos
processos judiciais em que está sendo discutido o interesse de uma criança, esse sempre deve
prevalecer ao interesse dos demais. Tal previsão se encontra no Decreto nª 99.710/ 90 (o qual
aprovou a Convenção sobre os direitos da criança), em seu artigo 3º, inciso I, prevê que
“todas as a es relativas s crian as, levadas a efeito por institui ões públicas ou privadas de
bem-estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem
considerar, primordialmente, o interesse maior da crian a”
Dessa forma seria inconcebível admitir que pudesse qualquer decisão envolvendo os
interesses de crianças e adolescentes fazer tábula rasa do princípio dos seus
melhores interesses, reputando-se inconstitucional a aplicação circunstancial de
qualquer norma ou decisão judicial que desrespeite os interesses prevalentes da
criança e do adolescente recepcionados pela Carta Federal. (MADALENO, 2018, p.
99).
Sendo assim, qualquer ação relativa à uma criança seu interesse prevalecerá, inclusive
nas ações de reconhecimento da paternidade socioafetiva.
Dessa forma:
Dessa forma:
Revela o pai que ao filho empresta o nome, e que mais do que isso o trata
publicamente nessa qualidade, sendo reconhecido como tal no ambiente social; o pai
que ao dar de comer expõe o foro íntimo da paternidade, proclamada visceralmente
em todos os momentos, inclusive naqueles em que toma conta do boletim e da lição
de casa. É o pai de emoções e sentimentos, e é o filho do olhar embevecido que
reflete aqueles sentimentos. (FACHIN, 1996 apud CASSETTARI, 2017, p. 13).
Como já citado, Rolf Madaleno (2018) afirma que não há como aceitar a paternidade
biológica que não exista o afeto, ou seja, o afeto é essencial, ainda que haja o vínculo
biológico este deve coexistir com o vínculo socioafetivo para que a paternidade cumpra com a
sua verdadeira função.
As citações acima trazem o verdadeiro significado de pai, independentemente da
origem da filiação, seja ela biológica ou socioafetiva, pai é aquele que cuida, que ama, que
demonstra todo seu afeto e ternura. Ou seja, a adoção à brasileira traz a essência da filiação
socioafetiva, pois como j di a e pressão popular, “pai quem cria”
Ou seja, para que o princípio da igualdade seja aplicado em sua totalidade, seria
necessário a extensão da parentalidade com todos os demais parentes do pai socioafetivo,
gerando inclusive obrigações quanto a prestação de alimentos e direitos sucessórios entre
esses parentes e o filho reconhecido. No entanto, tal hipótese precisa ser analisada com
cautela, tendo em vista que os outros parentes podem não ter vínculo afetivo nenhum com a
criança reconhecida.
Ademais, será abordado dois efeitos jurídicos consequentes da paternidade
socioafetiva, como, a obrigação em prestar alimentos e como se dá o direito à sucessão nas
relações socioafetivas. Iniciando-se pela prestação de alimentos.
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Ou seja, a prestação de alimentos a ser paga pelo pai socioafetivo não afasta o dever
do pai biológico em cumprir com sua obrigação na prestação alimentar de seu filho. Dessa
forma, não restam dúvidas quanto a possibilidade de prestação de alimentos derivada das
relações socioafetivas, pois nossa Constituição Federal e o atual Código Civil, iguala todos os
filhos em direitos e obrigações, independentemente da origem de sua filiação.
Em relação aos direitos sucessórios, se tem também como principal fundamento o
princípio da igualdade de filiação, ou seja, os filhos oriundos de relação socioafetiva possui
direitos sucessórios em relação a seu pai socioafetivo, assim como um filho biológico, pois
como já visto anteriormente, a paternidade socioafetiva gera direitos e obrigações, dessa
forma “[...] no que tange à aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, conclui-
se que serão aplicadas todas as regras sucessórias na parentalidade socioafetiva, devendo os
parentes socioafetivos ser equiparados aos biológicos no que concerne a tal direito.”
(CASSETTARI, 2014, p. 134). Sendo assim, o direito a sucessão outro efeito consequente da
paternidade socioafetiva.
Afirma Dimas Carvalho (2017, p. 588):
Outro importante efeito conferir direitos sucess rios recíprocos entre o filho
reconhecido e todos os parentes socioafetivos na linha reta e na colateral at o quarto
grau, o edecendo ordem de voca ão heredit ria A o edi ncia ordem de voca ão
heredit ria resguarda todos os seus direitos sucess rios na qualidade de filho, como
o direito peti ão de heran a, cola ão dos ens doados pelos pais aos outros filhos,
nulidade da partilha, e clusão dos herdeiros ascendentes e colaterais na sucessão
legítima, veda ão aos ascendentes, mediante testamento, de impor, sem causas
justificadas, clausulas restritivas na legítima
Por outro lado, há também outra situação que merece atenção no campo sucessório,
vinculada à temática da afetividade. São os casos de reconhecimento de filiações
socioafetivas post-mortem, ou seja, após o falecimento do autor da herança. Nessas
situações, um filho com vínculo somente socioafetivo pode vir a demandar em juízo
para ver essa filiação declarada, com o seu reconhecimento judicial e, em
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consequência, com todos os seus direitos sucessórios reconhecidos. Nesse caso, não
parece haver controvérsia quanto ao seu consequente direito sucessório. Ainda
assim, é uma possibilidade que merece atenção no momento da sucessão partilha e,
principalmente, em negócios jurídicos de cessão de direitos hereditários.
Não pode ser perdido de vista que, se a lei considera imoral o reconhecimento de
filho falecido que não deixou descendentes (CC, art. 1.609, parágrafo único; ECA,
art. 26, parágrafo único), porque essa ação só teria propósitos sucessórios, por
analogia do artigo 4° da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro também
deve ser considerado imoral que um filho que estreitou laços socioafetivos com seu
pai registral possa pretender investigar uma ascendência biológica para postular
depois da morte do ascendente genético os efeitos materiais da sua condição de filho
natural do sucedido.
reconhecimento, o seu direito como herdeiro deve ser reconhecido mesmo que seja após a
morte do pai biológico.
Da mesma forma com o reconhecimento da paternidade socioafetiva post mortem, se
comprovado que em vida se configurou a posse de estado de filho, havendo vínculo afetivo
entre o autor da herança e o filho socioafetivo, o mesmo já conquistou seu direito como
herdeiro.
Corrobora neste sentido, Carvalho (2017, p. 560-561):
Evidentemente que ningu m o rigado a afei oar, a ter amor por outra pessoa,
tratando-se de questão inapreensível pelo direito, por sua su jetividade, e li erdade
individual [...] Entretanto, afei oando e fa endo surgir uma rela ão afetiva,
externada por elementos o jetivos apreensíveis pelo direito, por comportamentos
que envolvem rela es familiares comprovadas pela conviv ncia e formando um
n cleo familiar, a afetividade assume valor jurídico regulado pelo Direito. A
espontaneidade, apresentada voluntariamente, ao evoluir em uma rela ão entre as
pessoas, assume car ter de responsa ilidade, surgindo o vínculo socioafetivo,
obrigando e vinculando.
Assim, entende-se que o reconhecimento da paternidade biológica ou socioafetiva é
mera consequência da existência de vínculos biológicos ou afetivos, respectivamente, e dessa
forma, os vínculos que são responsáveis pelos os efeitos da paternidade não necessariamente
o seu reconhecimento.
Como se pode ver, é inegável a concessão de direitos sucessórios às relações
socioafetivas, assim como o dever a prestação de alimentos, pois como já visto,
exaustivamente, se assim não o fosse, estaria sendo contrariado o princípio de igualdade de
filiação previsto na Constituição Federal que veda qualquer distinção entre os filhos, sejam
eles biológicos ou não.
Assim:
Dessa forma, pode-se perceber que o CNJ considerou os principais pontos debatidos
na doutrina e jurisprudência ao editar o referido provimento. No entanto, muitas questões
ainda geram dúvidas em relação a paternidade socioafetiva. Tendo em vista que o
reconhecimento da paternidade socioafetiva é um ato irrevogável, é necessária muita cautela
para evitar problemas futuros, principalmente nos aspectos patrimoniais e sucessórios.
Como visto anteriormente, o provimento nº 63 do CNJ, dedica uma seção especial
para o reconhecimento da paternidade socioafetiva, intitulado “Da Paternidade Socioafeitiva”,
nessa seção estão previstas regras e ressalvas para a efetivação do reconhecimento
diretamente em cartório.
Assim, o reconhecimento da paternidade socioafetiva é vedada aos irmãos entre si ou
ascendente. Não há nenhum impedimento para o reconhecimento de maiores de 18 anos, no
entanto se tratando de adolescente maior de 12 anos, seu consentimento é indispensável e
ainda deverá ser respeitada a diferença mínima de 16 anos de idade entre o pai ou mãe e o
filho a ser reconhecido.
As regras citadas acima, são as mesmas previstas para a adoção no Estatuto da Criança
e do Adolescente.
Importante ressaltar que o reconhecimento de paternidade socioafetiva extrajudicial
não deixa de considerar como requisito o Estado de posse do filho, mesmo não estando
expressamente previsto como pressuposto para o reconhecimento, o artigo 12 do provimento
63 do CNJ, prevê: “suspeitando de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade, simulação ou
dúvida sobre a configuração do estado de posse de filho, o registrador fundamentará a recusa,
não praticará o ato e encaminhará o pedido ao juiz competente nos termos da legislação
local”. Assim, fica subentendido que o estado de posse de filiação deve ser comprovado para
o efetivo reconhecimento da paternidade socioafetiva, no entanto, o provimento não trouxe as
formas como tal fato será comprovado.
Essa previsão acima, deixa claro como o reconhecimento extrajudicial pode trazer
problemas futuros, tendo em vista que em cartórios não é possível fazer uma análise completa
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de provas que comprovem o estado de posse de filho, diferentemente do processo judicial que
possui amplo campo probatório e a participação do Ministério Público. E tendo em vista que
muitas vezes é o interesse de um menor que está em pugna, é imprescindível a comprovação
real da existência de vínculo afetivo duradouro para evitar danos futuros a essa criança ou
adolescente.
O reconhecimento socioafetivo poderá ser feito mediante documento público ou
particular de disposição de última vontade, assim como o reconhecimento voluntário previsto
no artigo 1.609 do Código Civil.
E por fim, estabelece em seu artigo 14: “O reconhecimento da paternidade ou
maternidade socioafetiva somente poderá ser realizado de forma unilateral e não implicará o
registro de mais de dois pais e de duas mães no campo FILIAÇÃO no assento de
nascimento”. Ou seja, o reconhecimento da paternidade socioafetiva só poderá ser feito ou
pelo pai ou pela mãe socioafetivos, nunca de forma bilateral, com o reconhecimento dos dois
(pai e mãe) como figuras socioafetivas, limitando-se a no máximo a presença do nome de dois
pais ou duas mães no campo da filiação. Ressalva essa, importante, pois não coloca em
descrédito o reconhecimento da paternidade socioafetiva, o que aconteceria caso fosse
permitido a inserção indiscriminada de vários pais ou mães no registro da criança e assim
gerando conflitos em relação aos efeitos da paternidade/maternidade conferidos a todos eles.
Embora a possibilidade do reconhecimento da paternidade socioafetiva de forma
extrajudicial seja considerado um avanço para o instituto, não se pode esquecer que em torno
da paternidade há muitas questões a serem debatidas.
Dessa forma, o presente tópico visa mostrar que a edição do referido provimento não é
capaz de solucionar todas as questões que surgem a partir do reconhecimento da paternidade
socioafetiva, sendo necessário que o instituto seja devidamente regulamentado por meio de
Lei Federal, para que haja uma verdadeira uniformização sobre os seus efeitos e que assim os
interesses da criança ou adolescente sejam devidamente resguardados, pois o reconhecimento
da paternidade socioafetiva gera muitos efeitos em relação ao estado de pessoa e no aspecto
patrimonial, podendo desencadear inúmeros conflitos.
Assim, a fim de evitar demandas futuras no judiciário em relação a seus efeitos é
essencial que a paternidade socioafetiva seja regulamentada, e também por considerar-se que
a paternidade socioafetiva possui uma função social muito importante no campo da
afetividade e não restarem dúvidas de como as relações afetivas são fundamentais para uma
saudável manutenção do ambiente familiar o instituto necessita urgentemente de
regulamentação no âmbito civil.
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CONCLUSÃO
Ao longo dos anos o cenário da família brasileira vem sofrendo diversas modificações
resultantes de uma histórica evolução social. Os modelos atuais de família em nada se
assemelham às entidades familiares antigas, que eram tidas como entidades econômicas e
patriarcais. Conforme analisado no presente trabalho a presença da afetividade nas relações
familiares observadas a partir do século XX mudou esse cenário e foi essencial para que as
relações socioafetivas fossem reconhecidas e tuteladas pelo Direito de Família.
Assim, a paternidade socioafetiva é amplamente aceita pela doutrina e jurisprudência,
pois entende-se que respeitar e tutelar as relações afetivas nas entidades familiares é
fundamental para a garantia da dignidade da pessoa humana, pois o afeto, atualmente,
considera-se indispensável para a formação e manutenção familiar.
A Constituição Federal de 1988 foi o principal instrumento normativo a dar amparo as
relações familiares, consagrando princípios e dando espaço para outros modelos de família,
no mesmo sentido, o Código Civil de 2002. Dessa forma, a paternidade socioafetiva e outras
relações baseadas no afeto, como a adoção e união estável ganharam maior visibilidade no
mundo jurídico.
Ao analisar jurisprudências, percebe-se nas decisões relativas a paternidade
socioafetiva como principal fundamento o melhor interesse da criança ou adolescente,
devendo esse sempre prevalecer em relação ao interesse das outras partes do processo. Para
que assim seja, é necessário a preservação dos laços afetivos e da verdade socioafetiva que
uma criança estabelece com seu pai socioafetivo, pois como visto, a paternidade possui uma
função social muito importante e não é estabelecida apenas por vínculos biológicos.
Desta forma, foi abordado no presente trabalho como se dá o reconhecimento da
paternidade socioafetiva e alguns dos seus principais efeitos, como a prestação de alimentos e
direitos sucessórios em respeito ao princípio da igualdade de filiação. Foi visto a possibilidade
da multiparentalidade, ou seja, a coexistência da paternidade socioafetiva com a biológica e a
produção de efeitos de ambas as paternidades.
E por fim, foi visto também, que a paternidade socioafetiva se comprova por meio da
posse de estado de filho e que atualmente seu reconhecimento pode ser feito
extrajudicialmente, possibilidade essa trazida pelo provimento nº 63 do CNJ, o qual fizemos
uma breve análise a respeito das suas considerações e regras para proceder com o
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