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Tubarão
2021
ANA CLÁUDIA SANT’HELENA MELO
Tubarão
2021
Dedico o presente trabalho monográfico à
minha família, especialmente aos meus pais,
Cláudio de Souza Melo e Sandra Regina
Sant’Helena, que com muito esmero, sendo
meus alicerces, possibilitaram a conquista
dessa tão almejada etapa!
AGRADECIMENTOS
OBJECTIVE: To analyze the possibility of applying the right to maternity leave and pay, as
well as stability and guarantee of job to people involved in the practice of surrogate pregnancy.
METHODS: This is an exploratory research with a qualitative approach; as to the procedure,
it is classified as bibliographic data collection based on legal articles and doctrines, and
documentary, using legislation, resolution and jurisprudence. RESULTS: The evolution of the
concept of family caused the emergence of the most diverse forms of family, resulting in the
growing search for assisted reproduction procedures, highlighting, in this study, the technique
of surrogate pregnancy, due to its peculiarities and lack of legal provision in the legal system.
It was verified that such procedure consists in the temporary cession of the uterus from the
carrier mother to the social mother or father, when there is some impossibility of natural
pregnancy, either due to fertility problems, sterility or impossibility of reproduction. In this
context, it was necessary to address the main rights assured to the pregnant worker, such as
maternity leave, maternity pay and the guarantee of employment, in order to analyze the
possibility of guaranteeing these rights to the social mother and the surrogate mother in the
procedure of temporary transfer of the uterus, demonstrating the female evolution in the labor
field, conquering various rights, especially regarding the protection of maternity.
CONCLUSION: From the analysis of the legislation, doctrine and national and international
jurisprudence, it can be inferred that there is much divergence regarding the holder of the
benefits, which causes enormous legal insecurity for those involved in the procedure of
surrogate motherhood, subjecting them to the application of analogy, customs and general
principles of law for the solution of conflicts regarding the recognition of the right to leave,
maternity pay and job stability and guarantee, based on the protection of the pregnant woman,
the unborn child and the kid.
1 INTRODUÇÃO
Esta monografia trata da gestação substitutiva no que diz respeito aos direitos
trabalhistas e previdenciários dos evolvidos na prática de gestação substitutiva, com enfoque
na licença-maternidade, salário-maternidade, estabilidade e garantia de emprego.
A técnica de reprodução assistida está conquistando espaço de acordo com a conjuntura
atual e a evolução do conceito de família.
A família matrimonializada, patriarcal, hierarquizada, heteroparental, biológica, institucional
vista como unidade de produção cedeu lugar para uma família pluralizada, democrática,
igualitária, hetero ou homoparental, biológica ou socioafetiva, construída com base na
afetividade e de caráter instrumental. (MADALENO, 2015, p. 36)
Assim, o desejo de constituir família mediante gestação de um filho consanguíneo
também é possível para essas novas formas de parentesco, por meio de um processo
vulgarmente conhecido como “barriga de aluguel”, no qual se utiliza da fertilização in vitro
para a fecundação do óvulo.
Segundo Madaleno (2020, p. 168), na cessão temporária de útero são considerados duas
espécies distintas de mães sub-rogadoras: a) a mãe portadora, a qual cede o seu útero para que
possa receber os embriões do casal doador, os quais são requerentes da gestação por
substituição, ou, em uma situação contrária, podendo receber um óvulo ou espermatozoide de
um doador anônimo, não havendo, assim, o envolvimento genético da mãe portadora, e; b) a
mãe de substituição, que se difere da primeira, pois esta além de ceder o próprio útero, também
dispõe seus óvulos na inseminação para que sejam combinados com o esperma do marido ou
companheiro dos solicitantes, assumindo o compromisso de dar à luz à prole e entregá-la ao
casal que assumirá a filiação, renunciando a mãe genética e gestante aos direitos maternos para
com a criança gerada.
Outros doutrinadores trazem, para a classificação acima exposta, a figura da mãe social,
que nada mais é do que àquela solicitante da gestação, podendo ou não ser juntamente
considerada mãe genética, caso disponha dos seus óvulos para a fecundação na mãe portadora.
No Brasil, ainda não há regulamento positivado no Direito para que esta prática seja
efetuada, dispondo-se apenas de uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) de nº
2.294/2021, a qual dá providências para a efetivação do procedimento de reprodução assistida.
No caso da barriga solidária, aduz a resolução, que é necessário o preenchimento de
alguns requisitos para a efetivação do método, sendo indispensável que a cessão temporária do
útero seja executada de forma solidária, sem fins lucrativos, e, por isso, não é correta a utilização
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Nessa perspectiva, esta monografia encontra justificativas para a sua realização, como
as que acima se expõem. O presente trabalho monográfico, ainda, aborda questões relevantes
às mulheres que pretendem utilizar o método conceptivo da gravidez substitutiva, abordando,
especificamente, questões atinentes ao direito de recebimento do salário-maternidade e da
licença-maternidade, como também, da estabilidade e garantia de emprego assegurada à
gestante.
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Ressalta-se que o interesse pela temática se originou quando, em uma das cadeiras
trabalhistas ofertadas pelo curso de direito da universidade, fora abordado o tema trabalhado.
Outrossim, considerou-se o apreço da pesquisadora sobre as áreas do Direito envolvidas na
temática, quais sejam: previdenciário e trabalhista. Ademais, trata-se de um tema bastante
polêmico, o qual não possui regulamentação jurídica específica, assim como possui extrema
relevância social, em razão das notáveis mudanças nos núcleos familiares, gerando uma busca
crescente por este meio de reprodução. Em consultas realizadas às bases de dados BDTD,
CAPES, SCIELO e RIUNI foi encontrado apenas um trabalho semelhante quanto ao assunto,
realizado por Bressan (2017), porém distinto quanto ao tema abordado no que tange aos direitos
trabalhistas e previdenciários.
Desse modo, com o aumento do debate é possível que o legislador enfim possa resolver
as lacunas existentes no que tange aos direitos supracitados, possibilitando assim que a
população possa ter a segurança jurídica necessária, além da relevância social existente, dado
que, com a pesquisa, é possível que se tenha uma maior compreensão dos elementos envolvendo
a técnica de reprodução assistida utilizando a barriga solidária, percebendo-se a importância do
resguardo aos direitos sociais.
Ante o exposto, essa monografia tem por objetivo geral: Analisar a possibilidade de
aplicação do direito à licença, ao salário-maternidade e à estabilidade e garantia de
emprego aos envolvidos no procedimento de gestação substitutiva.
trabalho em questão sob a ótica de países distintos; discutir sobre a aplicação dos direitos
assegurados à gestante que trabalha aos envolvidos na prática de gestação substitutiva; analisar
os julgados dos Tribunais Regionais sobre o tema.
O presente trabalho de conclusão de curso conta com cinco capítulos. O primeiro trouxe
a Introdução, expondo-se o tema, o problema, a hipótese, a justificativa, os objetivos e o
delineamento da pesquisa. O segundo tratará da evolução do conceito de família, dos princípios
constitucionais do direito de família e da reprodução assistida e a gestação substitutiva. O
terceiro abordará os direitos trabalhistas e previdenciários assegurados à gestante. Já no quarto
capítulo, será apresentada a possibilidade do recebimento da licença e do salário-maternidade
e da estabilidade e garantia de emprego às mães envolvidas na prática de gestação substitutiva.
Por fim, o quinto e último capítulo mostrará a conclusão do estudo, bem como as referências.
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De acordo com Rizzardo (2019, p. 9), a evolução do conceito familiar ocorreu em fases,
cada uma influenciada por seu contexto cultural. Na fase primitiva, o destaque era o instinto, o
qual aproximava o homem e a mulher para a procriação, símile ao que ocorria com as espécies
de animais irracionais. Já no Direito romano, a família era representada pelo poder de um único
chefe, denominado “pater famílias”, exercendo autoridade sobre os descendentes e a esposa.
Todos os integrantes daquele ciclo familiar deveriam ser submissos ao ente paterno, seja esposa,
filhos, netos e bisnetos; esse exercia poder até mesmo sobre os bens patrimoniais existentes no
lar.
Gusmão (1985, p. 561) ensina que a civilização grega possuía uma organização familiar
muito semelhante à do império romano, veja-se:
[...] A família grega antiga, disciplinada por direito não escrito, é o grupo social, político,
religioso e econômico, com sede na casa em que reside o ancestral mais velho, chefe da família
investido de poderes absolutos e sacerdotais, que mantém a sua unidade e dispõe das pessoas e
dos bens, e conserva a religião doméstica, transmitindo-o às novas gerações e às que a ela passam
a pertencer, bem como, através do casamento de seus descendentes, com pessoas por eles
escolhidas, possibilita, pela procriação, a perpetuação da mesma.
De outro lado, Rousseau (1968, p. 76), em seus estudos, expunha seus pensamentos
sobre o instituto da família, em obra de sua autoria, intitulada “Do Contrato Social”, afirmando
que:
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A mais antiga de todas as sociedades e a única natural é a da família. As crianças só ficam ligadas
ao pai pelo tempo necessário à sua conservação. Tão logo cesse tal necessidade, dissolve-se o
laço natural. Os filhos, liberados da obediência devida ao pai, o pai desobrigado dos cuidados
que devia aos filhos, retoma todos igualmente sua independência. Se continuarem unidos, não
será mais naturalmente, será voluntariamente, e a família só se conservará por convenção. [...] É
a família, portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas, o chefe é a imagem do pai, o
povo representa os filhos e, sendo todos nascidos iguais e livres, só alienaram sua liberdade para
atender à própria conveniência. Toda a diferença consiste em que, na família, o amor do pai pelos
filhos é compensado pelos cuidados que lhes dedica, e no Estado, o prazer de comandar supre
esse amor que o chefe não sente por seus povos.
No Brasil, é possível observar as diferenças evolutivas presentes nas Constituições
Federais do país, haja vista que cada uma delas carrega uma característica própria do
desenvolvimento do antro familiar, dando, aos poucos, maior relevância à família, tratando-a
como pilar da sociedade, uma vez que é responsável pelo controle, progresso e organização do
Estado.
Prevalece a doutrina que atribui à religião exclusiva competência para regular as condições e a
forma do casamento e para julgar da validade do ato. Todavia, a recente lei acerca do casamento
entre os membros das seitas dissidentes (lei 1.144, de 11 de setembro de 1861) consagrou uma
inovação que cumpre assinalar: passou para a autoridade civil a faculdade de dispensar os
impedimentos e a de julgar da nulidade desta forma de casamento.
Dessa forma, apenas após a Lei 1.144/1861, tornou-se possível o casamento entre
nubentes não pertencentes à religião católica, passando a ser considerado válido com efeitos
civis. Conforme Wald (1995, p. 31), a referida lei "[...] deu efeitos civis aos casamentos
religiosos realizados pelos não católicos desde que estivessem devidamente registrados. Para
tanto, foi criado o registro civil estatal para atender à situação dos não católicos."
De outro lado, Castanho (2012) aduz que com o perpetuamento da crise, o país sofreu
com uma polarização política severa, sendo que de um lado estava a extrema direita,
representada pela Ação Integralista Brasileira (AIB) e de outro lado estava a extrema esquerda,
representada pela Aliança Nacional Libertadora (ANL). Dessa forma, haja vista que Getúlio
Vargas estava no poder até o momento, e mostrava-se em total oposição ao socialismo,
beneficiando-se deste momento de fragilidade no Brasil, aplicou o então conhecido golpe de
1937, declarando o Estado Novo através da outorga da Constituição de 1937. Essa nova Carta
Constituinte não trouxe muitas mudanças em relação à entidade familiar, além do que já havia
sido reconhecido anteriormente, destacando o tratamento de igualdade entre os filhos legítimos
e os naturais, como se vê abaixo:
Art 124 - A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do
Estado. Às famílias numerosas serão atribuídas compensações na proporção dos seus encargos.
Art 125 - A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito natural dos pais. O Estado
não será estranho a esse dever, colaborando, de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a
sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação particular.
Art 126 - Aos filhos naturais, facilitando-lhes o reconhecimento, a lei assegurará igualdade com
os legítimos, extensivos àqueles os direitos e deveres que em relação a estes incumbem aos pais.
Art 127 - A infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias especiais por parte
do Estado, que tomará todas as medidas destinadas a assegurar-lhes condições físicas e morais
de vida sã e de harmonioso desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral, intelectual
ou físico da infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por sua guarda e
educação, e cria ao Estado o dever de provê-las do conforto e dos cuidados indispensáveis à
preservação física e moral. Aos pais miseráveis assiste o direito de invocar o auxílio e proteção
do Estado para a subsistência e educação da sua prole. (BRASIL, 1937).
Por sua vez, a Constituição de 1946 não inovou de forma significativa, porém declarou
que o casamento religioso poderia se equivaler ao civil desde que cumprido os requisitos
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Nessa perspectiva, Miranda (2001, p. 59) entende que a Constituição Federal/1988 abriu
caminho para a evolução do conceito de família, como segue:
[...] há multiplicidade de conceitos da expressão ‘família’. Ora significa o conjunto das pessoas
que descendem de tronco ancestral comum, tanto quanto essa ascendência se conserva na
memória dos descendentes; ou nos arquivos, ou na memória dos estranhos, ora o conjunto de
pessoas ligadas a alguém, ou a um casal, pelos laços de consanguinidade ou de parentesco civil;
ora o conjunto das mesmas pessoas, mais os afins apontados por lei; ora o marido e a mulher,
descendentes e adotados; ora, finalmente, marido, mulher e parentes sucessíveis de um e de
outra.
Ademais, Rizzardo (2019) aponta que referida Carta Magna defende uma nova
organização para definir a família, incluindo as peculiaridades nascidas com a desenvoltura
social, renovando os princípios e distanciando-se do preconceito há muito enraizado no
convívio humano, sendo esta, a igualdade de direitos entre o homem e a mulher; o fim da
diferenciação dos filhos, independentemente da origem destes; a afetividade como ponto
principal nas relações pessoais e a aceitação da união estável e do grupo formado por um dos
pais e dos descendentes como entidade familiar.
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dispõe que “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e
a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”.
(BRASIL, 1988). Por sua vez, o Código Civil (art. 1.723) preceitua que: “É reconhecida como
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
(BRASIL, 2002).
Família monoparental: Consiste naquela formada por um progenitor e seu filho, sendo
biológico ou não, instituto que se desenvolveu rapidamente em decorrência dos procedimentos
de inseminação artificial, divórcio, e desejo de constituir família sem que haja envolvimento
com parceiros. Nesse caso, a previsão encontra-se apenas na Constituição Federal (art. 226 §
4º), sendo assim: “Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.” (BRASIL, 1988), carecendo o instituto de
regulamentação infraconstitucional, o que acaba deixando esse tipo de família aos
entendimentos doutrinários e jurisprudenciais (DAMIAN, 2015).
Família eudemonista: É aquela que prega uma entidade familiar baseada na felicidade
individual, consoante expõe Reis e Bernardes (2017, p. 5), segundo os quais, a família
eudemonista é aquela em que: “seus membros convivem por laços afetivos e de solidariedade
mútua, identifica-se essa entidade familiar pela busca da felicidade individual, vivenciando um
processo de independência e autonomia de seus integrantes. [...] a relação familiar deixa de ser
hierarquizada para tornar-se democrática e solidária.
Senado um projeto de lei que passa a reconhecer o casamento homoafetivo no código civil
brasileiro, mas a proposta anda não foi a plenário para votação.
Família paralela: Trata-se de um arranjo familiar que apresenta controvérsia, posto que
contraria a monogamia instituída pelo ordenamento jurídico brasileiro. É formada por três
pessoas envolvidas numa relação amorosa, sem que haja a publicidade da união estável com a
terceira pessoa. Assim, havendo um matrimônio, caso haja o envolvimento de um dos parceiros
com indivíduo diverso, esta poderá ser considerada como família paralela àquela pertencente
ao cônjuge inserido na relação com o amante ou concubinato.
Família reconstituída: Ainda, a partir dos novos panoramas advindos com o divórcio,
instaurou-se o instituto da família reconstituída, estabelecendo-se através do divórcio ou
separação de um casamento ou união estável que tenha gerado descendentes. A partir disso,
uma família monoparental pode vir a se tornar reconstituída caso um dos pais da criança resolva
se casar novamente, com o novo matrimônio há a existência da relação padrasto e enteado,
desenvolvendo-se o vínculo afetivo entre as partes.
Família natural: Prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 25), pelo qual:
“Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes”. (BRASIL, 1990). Equivale à família biológica, já que há existência dos pais e
seus descendentes, seguindo o conceito estatutário, iniciando-se o ramo familiar com a gestação
da mulher. Porém, atualmente, pode ser representada também pelo relacionamento socioafetivo
de pais e descendentes, não necessitando somente da consanguinidade.
Estatuto, antes que a criança e o adolescente sejam inseridos em família substituta, não havendo
possibilidade de inserção na família natural, será introduzida em núcleo de família ampliada,
sejam avós, tios ou primos, sem a necessidade que exista laço sanguíneo, pois a convivência e
os vínculos de afinidade e afetividade são suficientes para que caracterize o parentesco por
extensão.
Família substituta: Regulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 28), pelo
qual: “A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente[...]” (BRASIL, 1990).
Apesar de o Estatuto não descrever diretamente o conceito de família substituta, esta é
representada pelos pais que efetuam cadastro de forma unilateral ou bilateral, quando casados
ou convivendo em união estável, com o intuito de adotar um filho.
Pereira (2004) afirma que os princípios, assim como a lei, os costumes, a analogia e a
jurisprudência, integram as fontes do Direito, necessárias para embasar solução dos conflitos.
No Direito de família, os princípios constitucionais fundamentam as relações familiares
contemporâneas, possibilitando-se resolver o caso concreto, o qual a legislação não alcança.
Diante disso, pontuam-se os princípios pertencentes ao ramo do Direito de Família:
7.ª Câmara de Direito Privado, relator Unias Silva, em decisão proferida em Apelação Cível nº
408.555-5, em 01.04.04, reconheceu que a dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono
paterno, que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico, deve ser
indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa humana (MINAS GERAIS, 2004).
À vista disso, nota-se que o legislador buscou aplacar a diferenciação entre os sexos na
relação conjugal, igualando os seus direitos e deveres, o que também deverá ser devidamente
aplicada na união estável, já que a relação é reconhecida como entidade familiar, seguindo o
disposto na carta constitucional (art. 226, § 3º), pela qual: “Para efeito da proteção do Estado,
é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento.” (BRASIL, 1988).
Nessa perspectiva, Tartuce (2021, p. 28) conclui que: “diante do reconhecimento dessa
igualdade, como exemplo prático, o marido ou companheiro pode pleitear alimentos da mulher
ou companheira, ou mesmo vice-versa; além disso, um pode utilizar o nome do outro
livremente, conforme convenção das partes”.
com as escolhas realizadas por ele, desde que não viole direitos de terceiros ou infrinja valores
relevantes para a sociedade na qual está inserido.
Art. 226. [...] § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar
recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. (BRASIL, 1988)
Nessa esteira, Stolze e Filho (2020, p. 100-101) sustentam:
Isso significa que, em respeito à própria função social desempenhada pela família, todos os
integrantes do núcleo familiar, especialmente os pais e mães, devem propiciar o acesso aos
adequados meios de promoção moral, material e espiritual das crianças e dos adolescentes
viventes em seu meio. Educação, saúde, lazer, alimentação, vestuário, enfim, todas as diretrizes
constantes na Política Nacional da Infância e Juventude devem ser observadas rigorosamente. A
inobservância de tais mandamentos, sem prejuízo de eventual responsabilização criminal e civil,
pode, inclusive, resultar, no caso dos pais, na destituição do poder familiar.
Desse modo, ainda que haja liberdade no planejamento familiar é necessária
responsabilidade quando envolve paternidade, devendo a família propiciar cuidado, afeto e os
recursos para o desenvolvimento da criança e do adolescente, havendo, nesse sentido,
possibilidade de intervenção do Estado para se assegurar as melhores condições a esses.
A infertilidade é algo que causa muita frustração em muitas mulheres; desde os primórdios da
civilização, era visto como algo negativo, como fruto de bruxaria e até mesmo como castigo de
Deus. A infertilidade já foi, inclusive, motivo para banimento da mulher até mesmo do convívio
social. A impossibilidade de procriar fragiliza tanto a mulher quanto o homem, em especial
aqueles que já têm uma vida em comum. William Arthur Pussi afirma que a esterilidade “tornou-
se foco de atenção da medicina moderna visto que ser estéril sempre representou uma “mácula”
no sentimento humano, (...)”.
Destaca-se que as expressões infertilidade e esterilidade não são sinônimas, apesar de
ambas serem um problema orgânico ou psicológico, de origem feminina ou masculina, que
impede a procriação. Nesta senda, Félis e Almeida (2016) expõem que a infertilidade vem sendo
considerada como um problema de saúde pública, tendo em vista que muitos casais, ao
depararem-se com este problema acabam entrando em profunda angústia, porquanto,
impossibilitados de cumprir o planejamento familiar. Essa situação pode causar problemas à
saúde, como depressão, pois para alguns indivíduos ter um filho é um dos principais objetivos
da vida, o que resta inalcançável em virtude da infertilidade dos casais, o que os impede de ter
a prole pela forma natural de concepção.
Contudo, os casais podem buscar a via artificial, pois o direito de planejamento familiar
fora resguardado pela Constituição Federal, tendo o Estado o dever de disponibilizar meios que
propiciem recursos para que seja possível exercer tal direito. Sendo assim, de acordo com a
Carta Magna (art. 226 § 7º):
Art. 226. [...] § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar
recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. (BRASIL, 1988).
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Inseminação Intrauterina (IIU) Artificial: Soligo (s.d) explica que a IA ou IIU, começou
a ser estudada no século XVIII, como uma solução para os problemas de infertilidade masculina
advindos de variações na função sexual, como dificuldades de ereção. Mais tarde, ao ser
incorporada aos tratamentos, tornou-se uma das opções para solucionar, também, a infertilidade
feminina provocada por fatores de menor gravidade, aumentando as chances de obter uma
gravidez. Atualmente, é apontada como uma das técnicas de baixa complexidade, posto que
prevê a transferência dos espermatozoides diretamente ao útero para que a fecundação ocorra
naturalmente, nas tubas uterinas, sendo o procedimento denominado na reprodução assistida
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como fecundação in vivo, possui 4 diferentes etapas para a sua efetivação: estimulação
ovariana, indução da ovulação, coleta do sêmen – preparo seminal e inseminação.
A maternidade por útero de substituição pode ser interpretada como a manifestação mais elevada
do desejo de um casal de ter um filho que seja geneticamente ligado aos pais. Este é o desejo de
ter um filho a qualquer custo, onde noções como “maternidade e paternidade”, “família” e “filho
e filha” são revisadas. No caso da maternidade substituível, não está absolutamente claro quem
é a mãe da criança, como também se procriar é um direito ou um privilégio, e se a família é uma
comunidade, que consiste em homens e mulheres que se juntaram por amor mútuo e vontade
procriacional, ou uma “associação” que permite que terceiros venham a ter determinadas
relações com a família (doador de esperma ou de óvulos, útero de aluguel, etc.), ainda podemos
levantar a questão da exploração do corpo humano e a possibilidade de seres humanos ainda não
nascidos tornarem-se objetos de manipulação. Para o autor, o conceito de “barriga de aluguel” é
o completo oposto do conceito de maternidade, tendo em vista que maternidade pressupõe doar-
se, enquanto “barriga de aluguel” serve para satisfazer o desejo de ter um interesse específico.
Determina-se como maternidade quando há benefício para a criança, enquanto a “barriga de
aluguel” aduz maior benefício para os pais. O pesquisador infere, pois, que uma nova vida surge
através da maternidade natural, mas com a “barriga de aluguel” faz-se uma tentativa de usurpar
a autoridade sobre a vida. (BOYKO, 2011, p. 15-16).
No Brasil, essa prática é permitida somente de forma gratuita, sem qualquer celebração
contratual onerosa, tendo a mãe portadora plena consciência de que gestará a criança para
entregá-la ao final do período à mãe social.
[...] a gestação por outrem assume diferentes formas, e, para delineá-las, devem-se distinguir,
inicialmente, três figuras essenciais, chamadas aqui hipoteticamente, de mães, que pertencem a
categorias diferenciadas conforme a sua participação no pacto efetuado: a mãe social (S) é a que
pretende o filho, a mãe genética (G) é a doadora do óvulo que, fecundado, dará a origem a
criança, e a mãe biológica (B), também denominada mãe hospedeira, ou mãe substituta, ou mãe
portadora, é a que cede o útero, mantendo a gestação em favor da mãe social. Admitindo-se que
as categorias aqui elencadas podem confundir –se na mesma pessoa, tem-se as seguintes
hipóteses mais observáveis na prática: a) fertilização in vitro, em qualquer óvulo e sêmen são
provenientes do casal interessado e implantado no útero, a mãe hospedeira mantém a gestação
(S = G); b) através de inseminação artificial ou de fertilização in vitro, a mãe portadora tem um
óvulo seu fecundado com o sêmen do marido ou do companheiro da mãe social e, mantém a
gestação para o casam interessado. Nesse caso, a mãe hospedeira é também mãe genética,
enquanto a mãe social nenhuma participação biológica tem na gravidez.
Sendo assim, a mãe portadora “é aquela que apenas empresta seu útero. Trata-se de uma
mulher fértil no útero da qual reimplanta-se um ou vários embriões obtidos por fecundação in
vitro, a partir dos óvulos e espermatozoides do casal solicitante.” (LEITE, 1995, p. 572). Por
sua vez, a mãe genética é aquela que doa o óvulo, podendo ser terceira pessoa representada pela
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doadora de gameta anônima ou pela mãe portadora, que além de ceder seu útero também doará
os seus óvulos. E a mãe social é a que pretende a gravidez, a mãe que ao final ficará com a
criança, podendo também ser a mãe genética caso consiga que o seu óvulo seja fertilizado.
O mercado de trabalho nem sempre foi um local totalmente permitido para as mulheres,
pois como visto no patriarcalismo, era o homem quem desempenhava, preferencialmente, o
papel de sustento financeiro da família, restando para a mulher o cuidado exclusivo do lar e dos
filhos. Como exceção à regra, houveram importantes representações femininas em outros
campos além do convívio do lar. Cita-se o exemplo de Joana D’arc, mulher que desempenhou
importante papel no comando de parte do exército francês na Guerra dos Cem Anos (1337-
1453), sendo posteriormente canonizada pela Igreja Católica. Já no Brasil, tem-se como
exemplo dessa quebra de padrões da época, a revolucionária Anita Garibaldi, que participou da
Guerra dos Farrapos (1835-1845) e da Batalha dos Curitibanos (1840), além de integrar a
Batalha de Gianicolo, na Itália, sendo nomeada a Heroína de Dois Mundos (Brasil e Itália).
(MELLO, 2016, apud ANGELO; ANJOS, 2018).
responsáveis pelo pioneirismo ao reagir contra o período de miséria, tomando a frente dos
motins da fome. De outro lado, um grupo pequeno formado por mulheres de letras que mal
sabiam escrever, como Olympe de Gouges, oriundas da pequena burguesia, interessavam-se
por assuntos políticos, fazendo-se presentes nas sessões das sociedades populares, responsáveis
por fundarem, em Paris e na província, clubes femininos de debates.
Alude Pinto (2015) que com a revolução francesa, intensificou-se a busca das mulheres
pelos seus direitos, reivindicando-os por meio de muito protesto e debate, conquistando o
direito ao voto, ao divórcio (1792) e o estabelecimento da igualdade entre os pais na relação
com os seus filhos, findando a diferenciação quanto a autoridade paterna e materna (1793).
Ademais, a mão de obra feminina também era requisitada nos campos de batalha para
que trabalhassem como enfermeiras, cozinheiras, motoristas de ambulâncias etc. Por isso, ainda
que a guerra tenha sido um momento conturbado, de muitas perdas e sofrimentos, ela propiciou
conquistas que foram primordiais para a emancipação feminina. Ao redor do mundo, as
mulheres puderam se estabelecer como profissionais e adquiriram a tão esperada
independência, financeira ou social. (RAMOS, 2013). Em concordância, afirmou DeBeauvoir
(1967, p. 449) que: “Foi pelo trabalho que a mulher cobriu em grande parte a distância que a
separava do homem; só o trabalho pode assegurar-lhe uma liberdade concreta.”
minutos) na indústria têxtil, e 60 (sessenta) horas nas demais fábricas, excluindo-se o domingo,
além de proibir o trabalho da mulher em locais insalubres e perigosos (BARROS, 1995).
Por sua vez, Neto e Cavalcante (2019, p. 924) expõem sobre as leis protetivas na França,
afirmando que:
Na França, houve a proibição do trabalho das mulheres em minas e pedreiras, além da proibição
quanto ao trabalho noturno, desde que menores de 21 anos de idade (1874); a limitação da
jornada das mulheres em 11 horas (1892); a imposição aos proprietários de estabelecimentos
comerciais da obrigação de aparelhá-los com cadeiras para as mulheres (1900); o repouso não
remunerado de 8 semanas para as mulheres grávidas, com a proibição de carregar objetos
pesados (1909); a interdição do trabalho das mulheres nas partes exteriores das lojas (1913).
No entanto, estas leis protecionistas, apesar de extremamente necessárias, tornaram-se
fontes de discriminação quanto à contratação da mão de obra feminina, posto que os
empregadores entendiam que as restrições estabelecidas encareciam e restringiam o trabalho da
mulher, ocasionando baixa contratação e estabelecendo dificuldades de acesso ao emprego,
bem como distinção nos salários em razão do gênero. Nesse sentido, destaca-se que o Tratado
de Versailles/1919 (art. 427, nº. 7) que instaurou, finalmente, a máxima do “salário igual, sem
distinção de sexo, para um trabalho de igual valor”, posteriormente, também incluído no
preâmbulo da Constituição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ocasionando a
inclusão do princípio da igualdade salarial ao direito positivo de diversos países, figurando em
várias Constituições como regra primordial do Direito do Trabalho (BIANCHINI et al, 2013).
[...] (a) mencionar ou fazer mencionar, numa oferta de emprego, o sexo ou a situação familiar do
candidato; (b) recusar a contratação de candidato a emprego, efetivar alteração contratual,
rescindir contrato, não se dispor a renová-lo, em consideração do sexo ou da situação familiar
do candidato. [...]
Ademais, a Lei italiana nº 903/1977 também assinala a modificação na concepção sobre
o trabalho da mulher, inserindo, segundo Magano (1988, p. 103) as seguintes regras:
Assim, com o intuito de melhorar a situação e trazer uma relação maior de igualdade
entre os gêneros no ramo trabalhista, as restrições impostas foram flexibilizadas até deixarem
de existir, mantendo apenas aquelas necessárias em virtude da condição peculiar da mulher,
notadamente no tocante à gestação e à maternidade.
Segundo Bachur e Manso (2011), a Convenção nº 3 da OIT foi a primeira a tratar sobre
a proteção à maternidade, incluindo o direito a licença-maternidade antes e após o parto, caso
comprovada a gravidez, mediante apresentação de atestado médico. Também prevê o direito à
garantia de emprego ao término da licença, o que torna ineficaz qualquer aviso prévio durante
esse período, garantindo-se, ainda, a assistência financeira financiada pelo Poder Público à
gestante, com direito à médico ou parteira gratuitos e dois repousos especiais diários durante a
amamentação com 30min de duração cada.
No Brasil, segundo Calil (2000), a Lei nº 1.596/1917, do Estado de São Paulo, foi a
primeira legislação criada para resguardar o direito da mulher gestante, proibindo o trabalho
feminino em estabelecimentos industriais no último mês de gravidez. Por sua vez, o Decreto
16.300/1923, denominado Regulamento do Departamento Nacional de Saúde Pública, foi a
primeira legislação federal que demonstrou similaridade com algumas diretrizes da Convenção
de nº 3 da OIT, posto que assegurava às mulheres, também empregadas de estabelecimentos
industriais, descanso de trinta dias antes e outros trinta após o parto, bem como o direito às
empregadas de amamentarem seus filhos, sem estabelecer limitação temporal.
33
No entanto, assim como na referida Convenção, para que a empregada pudesse usufruir
do direito ao descanso deveria fornecer atestado médico que constasse a data provável do parto,
possibilitando que fosse feita a comunicação à Inspetoria de Higiene Infantil do Departamento
Nacional de Saúde Pública e o devido lançamento em livro especial a notificação da notificação
relativa ao descanso da gestante.
Por sua vez, a Constituição Federal/1934 (arts. 121, letra h e § 3º; 138, letras c, f; e 141)
estabeleceu alguns dispositivos relativos à proteção à maternidade, destacando que:
Todavia, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)/1943 (arts. 391 e 392) passou a
garantir, novamente, a proteção à maternidade, dispondo sobre a rescisão contratual e a restrição
de direitos à mulher e o trabalho da gestante, resgatando a legislação protetora e suprimindo a
discriminação quanto a desigualdade salarial entre os gêneros, como segue:
Art. 391 – Não constitui justo motivo para a rescisão do contrato de trabalho da mulher o fato de
haver contraído matrimônio ou de encontrar-se em estado de gravidez.
Parágrafo único: Não serão permitidos em regulamentos de qualquer natureza contratos coletivos
ou individuais de trabalho, restrições ao direito da mulher ao seu emprego, por motivo de
casamento ou de gravidez.
Art. 392 – É proibido o trabalho da mulher grávida no período de 4 semanas antes e 8 semanas
depois do parto. (BRASIL, 1943).
Por fim, a Constituição Federal/1988 (arts. 5º e 7º e § único) estabeleceu a igualdade de
direitos e deveres entre os gêneros, proibiu a diferença salarial e aumentou o período da licença-
maternidade para 120 dias, sem prejuízo do emprego e salário da gestante, inclusive para as
trabalhadoras rurais, domésticas e avulsas, vedando a dispensa arbitrária e sem justa causa da
empregada grávida, determinando, ainda, a garantia de emprego por 5 meses após o nascimento
da criança. (BRASIL, 1988).
Art. 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que afetam o
acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos
trabalhistas, é vedado: [...] IV - exigir atestado ou exame, de qualquer natureza, para
comprovação de esterilidade ou gravidez, na admissão ou permanência no emprego (BRASIL,
1943).
Da licença-maternidade: Segundo a CLT (art. 392): “Art. 392. A empregada gestante
tem direito à licença-maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do
salário” (BRASIL, 1943). Salienta-se que, conforme referida legislação trabalhista (art. 393),
durante esse período, a mulher tem direito ao salário integral e, quando variável, calculado de
acordo com a média dos 6 (seis) últimos meses de trabalho, bem como os direitos e vantagens
adquiridos, sendo-lhe ainda facultado reverter à função que anteriormente ocupava. (BRASIL,
1943).
Do direito ao acompanhamento da gestação: De acordo com a CLT (art. 392, § 4º, II):
“Art. 392 [...] § 4o É garantido à empregada, durante a gravidez, sem prejuízo do salário e
demais direitos: [...] II - dispensa do horário de trabalho pelo tempo necessário para a realização
de, no mínimo, seis consultas médicas e demais exames complementares. (BRASIL,
1943).
Do direito aos intervalos para amamentação: Segundo a CLT (art. 389 § 1º): “Art. 389
[...] § 1º Os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de
16 (dezesseis) anos de idade terão local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar
sob vigilância e assistência os seus filhos no período da amamentação. (BRASIL, 1943). Por
sua vez, referida legislação trabalhista (art. 400) define que: “Art. 400. Os locais destinados à
guarda dos filhos das operárias durante o período da amamentação deverão possuir, no mínimo,
um berçário, uma saleta de amamentação, uma cozinha dietética e uma instalação sanitária.
(BRASIL, 1943). Ademais, citado diploma legal (art. 396, §1º CLT) estabelece que: se a mãe
trabalhadora cumpre uma jornada de oito horas por dia, terá direito a dois períodos diários de
36
30 minutos para a amamentação até que o bebê complete seis meses de vida, devendo negociar
diretamente com o empregador a respeito do período e horário dos intervalos, podendo o
período de 6 (seis) meses ser postergado a critério da autoridade competente, caso a saúde da
criança exigir, como segue:
Art. 396. Para amamentar seu filho, inclusive se advindo de adoção, até que este complete 6
(seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos
especiais de meia hora cada um. § 1º Quando o exigir a saúde do filho, o período de 6 (seis)
meses poderá ser dilatado, a critério da autoridade competente. § 2º Os horários dos descansos
previstos deverão ser definidos em acordo individual entre a mulher e o empregador. (BRASIL,
1943).
Do direito à troca de função temporária: A CLT (Art. 392, § 4º, I) define que: “Art.
392 [...] 4º. É garantido à empregada, durante a gravidez, sem prejuízo do salário e demais
direitos: I. transferência de função, quando as condições de saúde o exigirem, assegurada a
retomada da função anteriormente exercida, logo após o retorno ao trabalho (BRASIL,
1943). Destaca-se que em lugares considerados salubres, o afastamento ou mudança de
atividade só é permitido caso a gestante apresente um atestado médico. Nesse sentido,
mencionada legislação (art. 394-A I a III e § 3º) aduz que:
Art. 394-A. Sem prejuízo de sua remuneração, nesta incluído o valor do adicional de
insalubridade, a empregada deverá ser afastada de: I - atividades consideradas insalubres em
grau máximo, enquanto durar a gestação; II - atividades consideradas insalubres em grau médio
ou mínimo, durante a gestação; III - atividades consideradas insalubres em qualquer grau,
durante a lactação. [...] § 3o Quando não for possível que a gestante ou a lactante afastada exerça
suas atividades em local salubre na empresa, a hipótese será considerada como gravidez de risco
e ensejará a percepção de salário-maternidade, nos termos da norma pertinente, durante todo o
período de afastamento. (BRASIL, 1943).
Do direito à adoção: Estabelece a CLT (art. 392-A) que: “Art. 392-A. À empregada
que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança ou adolescente será
concedida licença-maternidade nos termos da lei trabalhista”. (BRASIL, 1943). Contudo,
somente será concedida licença-maternidade em caso de adoção mediante apresentação do
termo judicial de guarda à adotante ou guardiã, sendo que, em caso de adoção conjunta será
permitida a apenas um dos adotantes ou guardiães.
Do aborto espontâneo: A CLT (art. 395) estabelece que: “Art. 395 - Em caso de aborto
não criminoso, comprovado por atestado médico oficial, a mulher terá um repouso remunerado
de 2 (duas) semanas, ficando-lhe assegurado o direito de retornar à função que ocupava antes
de seu afastamento. Frisa-se que a legislação trabalhista se refere especificamente ao aborto
espontâneo; quando ocorrido aborto não criminoso, comprovado por atestado médico, a
trabalhadora tem direito a um repouso remunerado de duas semanas, assegurado o direito de
retornar à função que ocupava antes de seu afastamento.
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3.4 LICENÇA-MATERNIDADE
Art. III — 1. Toda mulher a qual se aplica a presente convenção tem o direito, mediante exibição
de um atestado médico que indica a data provável de seu parto, a uma licença de maternidade.
2. A duração dessa licença será de doze semanas, no mínimo; uma parte dessa licença será tirada
obrigatoriamente depois do parto.
3. A duração da licença tirada obrigatoriamente depois do parto será estipulada pela legislação
nacional, não será, porém, nunca inferior a seis semanas; o restante da licença total poderá ser
tirado, segundo o que decidir a legislação nacional, seja antes da data provável do parto, seja
após a data da expiração da licença obrigatória, ou seja, ainda uma parte antes da primeira destas
datas e uma parte depois da segunda.
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Salienta-se que, para resguardar a saúde da criança, caso o médico especialista entenda
pela necessidade de extensão do prazo da licença, o prazo de 120 dias pode ser ampliado em
até duas semanas antes ou depois do parto. Em caso de nascimento prematuro, é garantido à
gestante o mesmo período de licença-maternidade; caso haja aborto espontâneo não criminoso,
comprovado por atestado médico, a trabalhadora perde o direito à licença, sendo resguardado a
ela o direito à um afastamento remunerado de 2 (duas) semanas (arts. 392, §§ 2º e 3º e 395
CLT), como segue:
Art. 392 [...] § 2o Os períodos de repouso, antes e depois do parto, poderão ser aumentados de 2
(duas) semanas cada um, mediante atestado médico. § 3o Em caso de parto antecipado, a
mulher terá direito aos 120 (cento e vinte) dias previstos neste artigo.
Art. 395 - Em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestado médico oficial, a
mulher terá um repouso remunerado de 2 (duas) semanas, ficando-lhe assegurado o direito de
retornar à função que ocupava antes de seu afastamento. (BRASIL, 1943).
Para Martins (2004) durante o afastamento em decorrência da licença-maternidade o
tempo de serviço é contado normalmente, encaixando-se, por esse motivo, na hipótese de
interrupção do contrato de trabalho, ou seja, findado o afastamento, as obrigações mútuas
contratuais continuam como se não tivesse havido interrupção. Assim, o benefício da licença-
maternidade objetiva assegurar, tanto a boa recuperação da mãe, posto que o período
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3.5 SALÁRIO-MATERNIDADE
Art. 72 [...] § 1º. Cabe à empresa pagar o salário-maternidade devido à respectiva empregada
gestante, efetivando-se a compensação, observado o disposto no art. 248 da Constituição Federal,
quando do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais
rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço.
No caso da trabalhadora avulsa, referida legislação (art. 72 § 3º) prevê que: “Art. 72 [...]
§ 3º. O salário-maternidade devido à trabalhadora avulsa e à empregada do microempreendedor
individual, será pago diretamente pela Previdência Social” (BRASIL, 1991).
Art. 293. O salário-maternidade será pago para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa,
empregada doméstica, contribuinte individual, facultativa, especial e as em prazo de manutenção
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da qualidade de segurada, por ocasião do parto, inclusive o natimorto, aborto não criminoso,
adoção ou guarda judicial para fins de adoção, observadas as situações e condições previstas na
legislação no que concerne à proteção à maternidade. (BRASIL, 2010).
Em relação às seguradas facultativas, especiais e contribuintes individuais há uma
carência de 10 (dez) meses, conforme art. 25, III, da Lei n.º 8.213/91, já para as empregadas,
trabalhadoras avulsas e empregadas domésticas, não há necessidade de preenchimento de
carência para a concessão do benefício. Ainda, de acordo com o art. 45 da Lei 8.213/91,
o salário-maternidade das seguradas empregadas e trabalhadoras avulsas são exceções,
consistindo numa renda mensal igual à sua remuneração integral, limitada ao subsídio dos
ministros do STF (CF, art. 248), podendo, assim, superar o limite máximo do salário de
contribuição. No que se refere ao valor do salário-maternidade, para a segurada empregada
compor-se-á numa renda mensal igual à sua remuneração integral, não podendo exceder o
subsídio mensal dos ministros do STF (RPS, art. 94 e CF, art. 248 c/c art. 37, XI). Nessa esteira,
não é possível que haja limitação de valores tal qual ocorre nos demais benefícios
previdenciários (BRASIL, 1991).
Nos casos de aborto não criminoso, havendo comprovação através de atestado médico,
a segurada terá seu direito ao salário-maternidade garantido, equivalendo-se ao valor
correspondente a duas semanas (RPS, art. 93, § 5º).
Art. 101 [...] I. em valor correspondente ao do seu último salário de contribuição, para a segurada
empregada doméstica; II. em um salário-mínimo, para a segurada especial; III. em um doze avos
da soma dos doze últimos salários de contribuição, apurados em período não superior a quinze
meses, para as seguradas contribuinte individual e facultativa e para a desempregada que
mantenha a qualidade de segurada. (BRASIL, 1999).
41
Caso a empresa tenha aderido ao programa Empresa Cidadã, instituído pela Lei
11.770/2008 (art. 1º I e II), podendo usufruir do acréscimo de 60 dias de licença-maternidade,
a trabalhadora terá direito à sua remuneração integral paga pela empresa, desse modo, o
empregador tributado com base no lucro real poderá deduzir do imposto de renda devido (IRPJ)
(GOES, 2020).
Destaca-se que Horvath Júnior (2004, p. 85) defende que o salário-maternidade cumpre
a função de um benefício, motivo pelo qual poderia ser denominado auxílio-maternidade, pois
objetiva assistir a gestante no período em que ficará afastada do ambiente laboral: "O benefício,
para guardar um paralelismo à denominação de outras prestações, poderia denominar-se
auxílio-maternidade, resgatando-se a expressão histórica adotada pelos Institutos de
Aposentadoria e Pensões".
O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (art. 10, II, alínea b) estabelece que:
“Art. 10 [...] II – fica vedada a dispensa arbitraria ou sem justa causa: [...] b) da empregada
gestante, desde a confirmação da gravidez até́ cinco meses após o parto” (BRASIL, 1988).
Sendo assim, Abud e Marques (2013) ressaltam que o texto constitucional é claro ao
utilizar o termo confirmação, afirmando, consequentemente, que o direito à estabilidade se dá
a partir da confirmação da gravidez após a realização de exames médicos, não sendo suficiente
a mera concepção. Destarte, não é necessário que a trabalhadora gestante informe ao
empregador sobre a sua gravidez, pois o Tribunal Superior do Trabalho entende que o
desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não é capaz de afastar o direito ao
pagamento da indenização decorrente da estabilidade, conforme estabelecido pela Súmula 244,
I, de citado Tribunal, ainda que o contrato de trabalho seja por prazo determinado, tendo como
exemplo o contrato de experiência (BRASIL, 2012).
42
De outra forma, a Tailândia decidiu proibir a prática na sua forma onerosa e em caso de
solicitantes estrangeiros, haja vista que houve um caso marcante no país, em que um casal
solicitante desistiu de levar a criança gestada por ela ter nascido diagnosticada com síndrome
de Down, ocasionando prejuízos à mãe substitutiva. Além disso, houve uma solicitação atípica
de um estrangeiro japonês, que bancou o procedimento para que houvesse a gestação de mais
de 10 (dez) bebês, fato denominado como “caso da fábrica de bebês”.
À vista disso, dois casais europeus se destacaram por terem requerido à Justiça Nacional
o direito à licença-maternidade, estando envolvidos na prática de maternidade por substituição;
o primeiro, oriundo da Inglaterra, que além da citada prática também recorreram à doação de
44
óvulo; o segundo casal, que optou por utilizar a cessão temporária de útero, no entanto
conseguiu utilizar os seus próprios gametas, porém necessitou da técnica de reprodução
assistida pois a mulher não possuía mais o seu útero.
Nos referidos casos, o Tribunal da União Europeia determinou que apenas quem dá à
luz tem direito à licença-maternidade, cabendo a cada país legislar sobre o tema. A Corte
defendeu que o benefício respalda apenas trabalhadora gestante, com enfoque à sua saúde,
portanto, caso a mulher não tenha de fato gerado a criança, esta não faz jus ao direito.
Argumenta, ainda que a licença-maternidade concedida à mãe adotiva não enseja o direito ao
benefício, pois são situações distintas, reafirmando que cabe a cada Estado decidir, posto que
não há nenhuma legislação versando sobre o tema (PINHEIRO, 2014).
[...] a normatividade ajusta o real (aquilo que é) ao ideal (o que deve ser). O direito atua para
transformar as realidades encontradas na vida das comunidades. Tais realidades desvelam, à
espera na órbita da seguridade social, situações de necessidades nas quais se encontram sujeitos
de proteção.
No mesmo sentido, Horvath Júnior (2004) conclui que a seguridade social serve como
uma das medidas públicas responsáveis por diminuir as dificuldades econômicas e sociais, haja
vista que sem tal proteção econômica, os indivíduos que estivessem em situações específicas,
tais como enfermidade natural ou profissional, maternidade, acidente do trabalho, desemprego,
invalidez, velhice e morte, permaneceriam desamparados, sem a devida assistência médica e
proteção às famílias com filhos, resultando no desaparecimento ou em forte redução de suas
subsistências. Nessa linha, a Constituição Federal/1988 (art. 201, II) constata que:
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Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro
e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: [...] II – proteção à maternidade, especialmente à
gestante; [...] (BRASIL, 1988).
Dessa forma, a previdência social tem como objetivo a proteção à maternidade e à
gestante, assim como aos que contribuem para a seguridade social e necessitam de assistência.
Todavia, conforme aduz Barbas (2006) o Brasil ainda segue a premissa arcaica do mater semper
certa est - “maternidade sempre é certa”. Desse modo, apenas a mãe portadora, ou seja, aquela
que gestou a criança, poderia requerer a prestação do salário-maternidade, salvo nas hipóteses
de adoção conforme Lei 8.123/1991. Conquanto, a maternidade há muito deixou de ser algo
singelo, tornando a premissa insuficiente para abarcar as situações advindas com as evoluções
sociais.
Por outro lado, Bachur e Manso (2011) afirmam que mesmo com a omissão das leis
trabalhista e previdenciária quanto a gestação por substituição, ambas as mães envolvidas na
prática devem usufruir dos benefícios de salário-maternidade e da licença-maternidade de 120
dias, tal como ocorre em casos de adoção.
Ocorre que, uma vez que toda a situação envolvendo a prática de maternidade
substitutiva, apesar de não ser novidade, é atípica e inovadora por não ter previsão legal,
havendo omissão legislativa quanto ao complexo contexto familiar, é necessário que haja
decisões inovadoras capazes de englobar e proteger todos os envolvidos, trazendo segurança
jurídica e justiça social para os que já realizam tal prática e não possuem quaisquer direitos
regularizados. Nessa perspectiva, Figueiredo e Oliveira (2007, p. 01) aduzem que:
Situações novas exigem soluções jurídicas inovadoras, por parte de todos os criadores ou
aplicadores do direito, de modo que a mãe biológica (gentrix-solicitadora) deve ser considerada
como mãe para todos os efeitos legais, inclusive trabalhistas e previdenciários, por interpretação
extensiva ou finalista, ou mesmo por analogia.
Em concordância, a Lei de Introdução ao Código Civil (arts. 4° e 5º) determina que:
“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais do direito. [...] Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e as exigências do bem comum” (BRASIL, 2002).
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Dessa forma, a partir do momento em que a busca pelos meios de reprodução assistida,
através da gestação por substituição aumentaram consideravelmente é certo que os envolvidos
necessitam de proteção jurídica para que consigam recorrer aos seus direitos previdenciários e
trabalhistas advindos dessa prática. Nesse sentido, Castro (2005, p. 950) ensina que:
Em razão da divisão dos papéis da mãe biológica e da mãe socioafetiva, na linha de solução para
a licença parental e a licença por adoção, é válido seguir o mesmo tratamento jurídico, por
analogia, no interesse da criança em sua tenra formação, concedendo-se a licença maternidade e
o salário maternidade em favor de duas pessoas distintas.
Por sua vez, Figueiredo e Oliveira (2007) compartilham o mesmo pensamento, tendo
em conta que declaram que em casos de adoção ou guarda para fins de adoção de criança com
idade não superior a oito anos (art. 93-A, § 1°, do Decreto n° 3.048/99) tanto a mãe biológica
quanto a adotante podem ser beneficiárias do salário-maternidade e licença-maternidade,
possibilitando que em caso de maternidade substitutiva seja aplicado o mesmo tratamento
jurídico, em favor de ambas as seguradas, por interpretação extensiva, lógica, finalista ou
analogia.
Destarte, o Código de Processo Civil (art. 8º) asseverou que: “Ao aplicar o ordenamento
jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade,
a legalidade, a publicidade e a eficiência.” (BRASIL, 2015).
incluiu os artigos 392-A a 392-C da CLT, a conferir aos empregados do sexo masculino
adotantes o direito à fruição da licença maternidade. Dessa feita, havendo a comprovação da
maternidade por substituição no momento da rescisão do contrato de trabalho, ainda que
temporário, o autor tem direito ao reconhecimento da garantia provisória de emprego, como
segue:
Ademais, consta do voto da relatora que o documento acostado aos autos emitido pela
Embaixada de Israel em Brasília atestou que o reclamante, na condição de Chefe do Setor de
Cargas da Reclamada, tratou de assuntos relevantes à Companhia Aérea EI AL, em reunião
com o Embaixador de Israel e o Diretor da Coordenação Aduaneira no Ministério da Fazenda
na data de 02 de março de 2010, comprovando, dessa forma, o vínculo empregatício do
reclamante com a 1ª reclamada, pois a relatora entendeu que não havia como contestar a relação
de emprego uma vez que o Reclamante atuou como representante da 1ª reclamada, dirigindo-
se à Embaixada de Israel apenas com o intuito de participar da reunião para tratar de assuntos
pertinentes à reclamada. Em relação a estabilidade provisória no emprego, a relatora entende
que há época dos fatos era comprovada a união homoafetiva na qual o reclamante convivia,
configurando-se a relação familiar, conforme entendimento dado pelo STF, na mesma linha, o
INSS por meio da IN nº 25, de 7.6.2000, concede o benefício da licença-maternidade ao
companheiro homossexual adotante nos termos da Lei nº 12.010/2009.
O relator expõe que de acordo com o art. 10, II, b, do ADCT, a dispensa arbitrária ou
sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até os cinco meses
após o parto é desautorizada, visando garantir a proteção da família e da criança, seguindo o
que preceitua a Constituição Federal de 1988, em seus arts. 226 e 227. Ainda, aduz o relator
que ao interpretar o texto constitucional de forma estrita, considerando que a estabilidade se
refere somente à mãe portadora, excluindo, dessa forma, a mãe social ou biológica apenas por
se tratar de uma cessão temporária de útero, fere de forma evidente o princípio da isonomia,
violando, também, a própria finalidade do dispositivo legal, caracterizada pela garantia ao zelo
51
ao nascituro ou à criança. Ante o exposto, a Turma decidiu por negar provimento ao reexame
necessário, mantendo-se a sentença que concedeu o benefício à impetrante, como segue:
Ainda, tendo em vista a inexistência de previsão legal nos casos de fertilização in vitro
acoplada em cessão temporária de útero, deverá ser aplicada a analogia, os costumes e os
princípios gerais do direito, como bem esclarece o art. 4º da LICC, argumentando a juíza a quo,
que no presente caso, deve-se estabelecer a analogia nos termos da mãe gestante, uma vez que,
enquanto doadora do óvulo, na condição de mãe biológica: “embora não sofra com os
procedimentos da gestação e do parto, é submetida a diversos outros procedimentos a fim de
52
propiciar referida fertilização, além de acompanhar diuturnamente seu filho sendo gestado em
útero alheio, o que significa, necessariamente, consequências psicológicas típicas de uma mãe
gestante.”
Sendo assim, o benefício suplicado objetiva assegurar o bem-estar da criança, para que
se desenvolva da melhor forma, física e mentalmente, propiciando-se atenção necessária
fornecida pela mãe nos primeiros meses de vida, ainda mais quando se trata de trigêmeos,
possibilitando que a mãe tenha o tempo necessário para o bom desenvolvimento dos filhos,
assim como no caso em tela. Desse modo, o relator entendeu que a autora é mãe biológica dos
trigêmeos, ainda que o nascimento tenha se dado em razão de fertilização “in vitro” por meio
de maternidade substitutiva, fazendo jus ao benefício pelo período de 180 (cento e oitenta) dias,
mantendo-se o que fora decidido na sentença, como segue:
situação aproxima-se mais da condição da mãe gestante do que da condição de mãe adotante,
porquanto a distinção entre essas duas é justamente o laço genético havido com a criança, sendo
a mãe que opta por conceber um filho através de aludido método mãe biológica tal qual uma mãe
gestante. Pelo exposto, verificados os motivos acima, é de se entender que o tratamento legal em
que se enquadra a autora deve ser o mesmo da mãe gestante, sendo-lhe, pois, devido o benefício
da licença maternidade a ser gozado no período de 180 (cento e oitenta) dias. Destarte, a autora
é, efetivamente, mãe biológica, não importa se a fertilização foi “in vitro” ou com “barriga de
aluguel”. Os filhos são sanguíneos e não adotivos. A autora faz jus à licença maternidade pelo
período de 180 (cento e oitenta) dias, o que se justifica, sobretudo, por serem 03 (três) os filhos.
(TRF-5 APELAÇÃO CÍVEL Nº 534999 PE (0004161-23.2011.4.05.8300), Relator: Francisco
Cavalcanti, 1ª Turma, Data de Publicação: 30-08-2012).
Recurso Cível nº 5008785-23.2015.4.04.7102 RS 5008785-23.2015.4.04.7102, TRF-4,
Rio Grande do Sul: Relator Oscar Valente Cardoso, 1ª Turma; julgamento em 14/09/2016.
Trata-se de Ação que objetiva a concessão do benefício de salário-maternidade. O Tribunal
Regional Federal da 4ª Região negou provimento à recorrente que postulava a reforma da
sentença que não reconheceu o pedido do pagamento de salário maternidade. Ocorre que a
recorrente foi integrante da técnica de gestação solidária, posto que gestou um filho para sua
irmã que não possuía condições para tal. Sendo assim, a recorrente, como mãe portadora,
solicitou ao INSS, através de requerimento o benefício do salário-maternidade, sendo-lhe,
posteriormente, negado por suposta falta de comprovação de documentos essenciais para a
concessão, sendo um deles, a certidão de nascimento dos gêmeos. No entanto, tal documento,
não poderia ser utilizado pela requerente, posto que os gêmeos estão registrados em nome de
sua irmã, visto que se trata de gestação substitutiva. Posteriormente, em sede de contestação, o
INSS reafirmou a negativa do benefício.
Ante o exposto, o magistrado analisou o mérito e definiu que por meio da leitura da Lei
8.213/91, a partir do art. 71, entende-se que o salário-maternidade tem por objetivo proteger a
relação entre mãe e filho, iniciando-se com o nascimento e perdurando até os primeiros meses
de vida, cumprindo-se o mandamento constitucional de proteção à gestante e à maternidade
(art. 201, II, CF/88). Consequentemente, entendeu que a recorrente não faz jus ao benefício, já
que não cumpre o requisito da convivência e laço familiar entre mãe e filho dada entre os
primeiros meses de vida. No entanto, dos autos, extrai-se que a recorrente recebeu auxílio-
doença pois esteve incapaz de laborar na gestação, fato que, para o magistrado, comprova que
caso a recorrente queira alegar a incapacidade de laborar por algum fator decorrente da
gestação, deve respaldar-se na previdência social apenas quanto ao que se refere a incapacidade
de laborar, mas não sob a perspectiva da proteção à maternidade, como segue:
5 CONCLUSÃO
se fosse o responsável biológico, fazendo jus aos benefícios integrais; ainda, há o entendimento
discordante da doutrina, formulado pelo TRF-4 que negou o benefício de salário-maternidade
à mãe portadora, porquanto entendeu que esta não cumpria o requisito de laço familiar com o
nascituro.
Diante disso, sendo a gestação substitutiva regulada apelas pelo Conselho Federal de
Medicina, ausente qualquer dispositivo legal que assegure a prática e que possa respaldar os
envolvidos, este trabalho buscou demonstrar a insegurança jurídica que assola os indivíduos
envolvidos nessa prática, posto que, por meio das decisões jurisprudenciais se observou que
não há concordância entre os julgadores, privando, desse modo, os pais de exercerem o seu
direito de livre planejamento familiar, pois ficam à mercê da analogia, costumes e princípios
do Direito, que poderão ou não ser aplicados no caso concreto, podendo, em caso de negativa
de benefício, prejudicar a saúde e bem estar tanto do nascituro quanto da gestante.
Por essa razão, é preciso que haja uma ação do legislativo no sentido de assegurar os
direitos aos envolvidos nessa prática, criando-se um adendo, assim como realizado em casos de
adoção, delineando os regramentos de acordo com cada caso, havendo participação genética,
havendo ausência de participação genética, sendo à mãe portadora, à mãe social ou o pai social.
Portanto, é imprescindível que o tema seja cada vez mais debatido e levado à pauta,
demonstrando a sua relevância e a urgência para que sejam definidas tratativas sobre o caso,
tornando possível o cumprimento dos direitos e deveres dos envolvidos na relação gestacional,
protegendo a gestante e o nascituro, certificando, dessa forma, que o Direito possa cumprir o
seu papel social trazendo a tão estimada segurança jurídica à sociedade.
Assim, encerra-se essa monografia.
57
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