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Direito
Niterói/RJ
2017
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Direito
Niterói/RJ
2017
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
The present study aims to present the institute of inheritance law and techniques of
assisted reproduction, as well as its implications for postmortem artificial
insemination. Another point is to study about the existing problem of legislative
omission that neither allows nor prohibits this type of assisted reproduction and
leaves a gap in the law to be fulfilled through analogy and principles. The approach
therefore comes to doctrinal divergence about the succession capacity of the child
born after the death of the father, which, a priori, cannot be called to succeed, in view
of the principle of legal certainty. But by giving a wider meaning to the word "unborn",
it could open a loophole for a child to be called to succeed, since it would be
conceived at the moment of opening the succession.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................7
1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS.....................................................................................9
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO FENÔMENO SUCESSÓRIO......................................9
1.2 REGRAS DE SUCESSÃO E ESPÉCIES DE SUCESSÕES (LEGÍTIMA E
TESTAMENTÁRIA)..................................................................................................11
1.3 A CAPACIDADE PARA SUCEDER NA SUCESSÃO LEGÍTIMA E NA
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA: A EXPRESSÃO “JÁ NASCIDOS OU
CONCEBIDOS NO MOMENTO DA ABERTURA DA SUCESSÃO”.......................13
2 O PROCESSO DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA E A FECUNDAÇÃO E
IMPLANTAÇÃO POST MORTEM..............................................................................19
2.1 TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA....................................................19
2.2 A QUESTÃO DA FECUNDAÇÃO E/OU IMPLANTAÇÃO POST MORTEM.....21
3 SUCESSÃO POST MORTEM: ANÁLISE DOS EFEITOS DA SUCESSÃO DO
NASCIMENTO DE FILHO APÓS A MORTE DO AUTOR DA HERANÇA...............29
3.1 DISPOSIÇÕES LEGAIS SOBRE O TEMA.......................................................29
3.2 POSICIONAMENTO DOUTRINÁRIO................................................................33
3.3 O ENUNCIADO DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL..............................37
4 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL ACERCA DA TEMÁTICA....................................39
CONCLUSÃO.............................................................................................................42
REFERÊNCIAS...........................................................................................................44
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INTRODUÇÃO
1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
geral, segundo o Código Civil em seu art. 1798 é de que “Legitimam-se a suceder as
pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”, a
sucessão que o referido artigo faz menção é a legitima e decorre da lei, quando o
falecido não deixa testamento, como veremos de forma mais aprofundada
posteriormente. Deste modo, apenas as pessoas naturais são legitimadas a
suceder, não sendo possível neste tipo de sucessão que pessoas jurídicas
sucedam, pois a lei não confere legitimidade às mesmas. Porém, na sucessão
testamentária, a pessoa jurídica pode ser chamada a suceder, conforme o artigo
1799 do Código Civil que diz:
A pessoa jurídica também não tem capacidade de testar, pelo mesmo motivo
que não tem legitimidade para suceder na sucessão legítima: esta não está sujeita a
morte. Sua extinção ou falência interessa apenas ao Direito Empresarial, não sendo
objeto do Direito das Sucessões. Entretanto, existe a exceção aos Municípios,
Distrito Federal e União, conforme consagra o art. 1844 do Código Civil, que diz:
testamento. Este tipo de sucessão sempre será a título universal, pois não existe
legado se não há testamento, o que significa dizer que o herdeiro receberá a
universalidade de bens, o patrimônio pode ser recebido de forma integral ou uma
fração dele se houver outros herdeiros. Neste caso, o herdeiro sub-roga-se na
posição do falecido, como titular do todo ou da fração daquele patrimônio. Insta
salientar que o legatário, ou seja, aquele que recebe o legado, não é sinônimo de
ser herdeiro. Diferenciando sucintamente os dois, pode-se dizer que este último
sucede a titulo universal, enquanto que o legatário sucede ao falecido a título
singular.
Em relação à sucessão testamentária, essa se dá por disposição de última
vontade. Assim sendo, ela pode ser tanto a título universal quanto a título singular,
ou seja, quando se recebe na sucessão um bem ou direito específico. Se houver
testamento, a sucessão testamentária predomina sobre a sucessão legítima,
observando-se os limites estabelecidos pelo legislador.
Fazendo um breve comentário sobre a sucessão a título singular, pode-se
definir como a transferência do testador ao beneficiário apenas os objetos certos
determinados. Aqui é o legatário que sucede ao de cujus, porém sem sub-rogar-se
no lugar do falecido, uma vez que neste tipo de sucessão o legatário não responde
pelas dívidas, diferentemente da sucessão a título universal em que se têm os
herdeiros assumindo a posição do falecido, sendo responsáveis pelas dívidas.
É necessário observar até onde vai a liberdade de testar, pois esta não é
absoluta, visto que o testador só pode dispor de 50% de seu patrimônio - essa
metade chama-se porção disponível e pode ser deixada para qualquer pessoa,
inclusive para estranhos. A outra parte constitui a legítima, e é assegurada aos
herdeiros necessários. Quem não possui herdeiros necessários terá a liberdade
plena de testar a universalidade de seus bens em favor de qualquer pessoa,
podendo inclusive, afastar a sucessão dos herdeiros colaterais.
É importante salientar que se o testador for casado no regime de comunhão
universal de bens, o patrimônio do casal deve ser dividido em dois, sendo certo que
o testador só poderá dispor integralmente do patrimônio em testamento se não tiver
herdeiros necessários, e da metade, correspondente a um quarto do patrimônio do
casal, se os tiver.
Assim confirma o autor Washington de Barros quando diz,
15
3 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito: Direito das Sucessões. Vol. 6. 35 Ed. São
Paulo: Saraiva, 2003, p. 10-11.
16
5 MAXIMILIANO, Carlos. Direito das Sucessões. Vol. I. Rio de Janeiro, 2016, p. 130.
18
momento em que nasce a personalidade para o direito civil. São elas a natalista,
personalidade condicional e teoria concepcionista.
A teoria natalista entende que o início da personalidade civil se dá através do
nascimento com vida. Deste modo, o nascituro teria apenas uma expectativa de
direito, conforme leciona Flávio Tartuce 7, “a teoria natalista nega ao nascituro até
mesmo seus direitos fundamentais, relacionados com a sua personalidade, caso do
direito à vida, à investigação de paternidade, aos alimentos, ao nome e até a
imagem”.
Já a teoria da personalidade condicional, como o próprio nome sugere,
entende que os nascituros estão sujeitos a uma condição suspensiva, ou seja, o
nascimento com vida. Assim como a teoria natalista, ela também entende que a
personalidade civil da pessoa natural começa com o nascimento com vida, a
diferença é que a teoria da personalidade condicional resguarda os direitos do
mesmo, com a condição que o nascituro nasça com vida. Flávio Tartuce8 salienta o
seguinte em relação a essa teoria:
Por fim, existe a teoria concepcionista, que entende que a personalidade civil
já existe no nascituro, sem que seja necessário o seu nascimento com vida. Este é o
entendimento majoritário da doutrina contemporânea, confirmado pelo 1º Enunciado
da I Jornada de Direito Civil: “1 – Art. 2º: A proteção que o Código defere ao
nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais
como: nome, imagem e sepultura.”
Deste modo, é possível perceber que não há dúvidas acerca da expressão
“nascidos”. Na primeira respiração, começam os direitos da personalidade civil da
pessoa natural. Entretanto, para o direito civil, surge a dúvida acerca do momento da
concepção e qual o sentido desta palavra para o direito sucessório.
7 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 4. Ed. Elsevier/Método. 2014, p. 79
8 Ibid., p. 79
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9 SILVA, Reinaldo Pereira e. Os direitos humanos do concebido. Análise biojurídicas das técnicas de
reprodução assistida. Porto Alegre: Síntese Publicações, 2002, CD-Rom n. 40. Produzida por
Sonopress Rimo Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.
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da doença e da quimioterapia, o rapaz descobriu que não poderia ter filhos. Assim,
decidiu procurar um banco de sêmen para deixar o seu material genético
depositado, a fim de que posteriormente pudesse ser usado pela sua companheira
para gerar seu herdeiro. Passado isso, o casal decidiu se casar, mas devido a
complicações de sua doença, Alain Parpalix faleceu sem conseguir gerar o seu
primogênito.
Após a morte de seu marido, Corine Richard procurou o banco de sêmen para
proceder à inseminação artificial, obtendo resposta negativa do mesmo, que alegou
não haver previsão legal para tal, começando assim uma disputa judicial, para que
ela pudesse gerar o seu herdeiro.
Durante a referida disputa judicial, o banco de sêmen insistia na alegação de
falta de previsão legal e no fato de não haver contrato de depósito entre o laboratório
e o casal, não sendo possível a comercialização de material genético de pessoa
morta na França, ou seja, não existia lei específica que regulasse a inseminação
artificial post mortem.
Após o término da disputa judicial, o tribunal Francês condenou o bando de
sêmen, determinando o envio do material genético ao médico para que fosse
procedida a inseminação, contudo, devido à demora no litígio judicial, os embriões
não estavam mais aptos para concluir a fecundação.
Este caso, como já foi dito, foi considerado o marco inicial para as discussões
acerca do assunto, inclusive para o Brasil, que não tem lei específica que regularize
este tipo de procedimento.
No direito Pátrio, principalmente no Código Civil de 2002, não há previsão
legal, mas existe a possibilidade de paternidade presumida, conforme conceitua o
art. 1957:
10 PINTO, Carlos Alberto Ferreira. Reprodução Assistida: Inseminação Artificial Homóloga Post
Mortem e o Direito Sucessório. Recanto das Letras. São Paulo, 2008, p. 7. Disponível
em:<http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/879805>. Acesso em: 7/11/2017.
11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 324.
26
12 LEITE, Eduardo de Oliveira. Comentários ao Novo Código Civil. Volume XXI: do direito das
sucessões, 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p.649.
27
especificamente esse assunto, fato esse que mostra o quão atrasada está a
legislação brasileira em relação aos demais países do mundo. A partir do caso
“Parpalaix” que foi mostrado acima, surgiram várias produções legislativas que
versam acerca do tema.
Deste modo, temos as soluções encontradas por alguns países. A Alemanha
e a Suécia vedam expressamente o uso de embriões para a inseminação post
mortem. Já a França veda na medida em que entende que o consentimento perde o
efeito quando ocorre o evento morte. O direito Espanhol também veda, porém,
garante os direitos do nascituro, quando houver declaração escrita por escritura
pública ou testamento. Indo contra esse movimento, a Inglaterra permite a
inseminação post mortem, ainda que não garanta os direitos sucessórios se não
houver um documento que expresse a vontade nesse sentido.
Em consonância com esse entendimento José Carlos Teixeira Giorgis 13
esclarece que “a possibilidade de aproveitamento do material depositado para uso
depois da morte do doador é assunto controvertido nos diversos ordenamentos
jurídicos” acrescentando que “é procedimento vedado nas legislações alemã, sueca,
francesa; as regras espanholas também a proíbem, embora garanta os direitos do
nascituro, desde que haja declaração feita por escritura pública ou testamento; as
normas inglesas a aceitam, mas sem direitos hereditários, salvo documento
expresso; a lei portuguesa também o interdita, seja no casamento ou na união de
fato”.
Apesar de, na maioria dos casos, a legislação ser contra a utilização de
embriões criopreservados na inseminação post mortem, a norma utilizada mostrou-
se eficaz na resolução da problemática, diminuindo assim as controvérsias
existentes no tocante ao assunto.
Acerca deste tema, conceitua Eduardo de Oliveira Leite 14 que
Nesse mesmo sentido, conceitua Paulo Luiz Netto Lobo 16, ao dizer que
15 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 5. Direito de Família. 24. Ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 459.
16 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 223.
30
O artigo 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil conceitua que “quando a lei
for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais do direito” (grifo meu). Deste modo, pode-se compreender que,
enquanto restar à omissão legislativa, podem-se e devem-se ser usados os
princípios constitucionais para chegar a uma conclusão adequada.
Dentre os princípios que podem ser úteis acerca da resolução do tema, o
primeiro, e até mais importante, que rege todas as relações entre indivíduos, é o
princípio da dignidade da pessoa humana. Este é considerado um princípio basilar
para todas as constituições consideradas democráticas, posto que foi proclamado
pela primeira vez na declaração universal de direitos humanos em 1948. Logo em
seu primeiro artigo, a Constituição da República conceitua que este princípio é um
dos fundamentais para um Estado democrático.
Este princípio concede a todo e qualquer cidadão direitos como o direito à
vida, a existência que pode ser entendido como o direito de viver bem, com um
mínimo existencial para qualquer pessoa, ou seja, ter uma vida digna.
Em consonância com esse entendimento, conceitua Inga Wolfganf Sarlet 17:
Este direito é assegurado a todos, inclusive àqueles que ainda não nasceram,
pois é garantido desde o momento da concepção até a hora da morte. É inerente à
vida, independentemente de qualquer concepção moral ou religiosa. Deste modo,
pode se chegar a conclusão de que, se toda pessoa é detentora de direitos inatos,
os embriões também seriam detentores de tais direitos, uma vez que estão incluídos
na mesma categoria das pessoas humanas já nascidas.
Outro princípio a ser observado, desta vez em relação à futura mãe que tem
interesse de gerar uma criança a partir de uma inseminação post mortem, é o direito
17 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2. Ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001, p. 60.
33
A respeito disso, leciona Paulo Luiz Netto Lobo 18, ao dizer que
Existem vários outros princípios que podem ser usados para nortear o
fenômeno sucessório na inseminação artificial post mortem, porém, para fim de
igualdade. Logo em seu artigo 5º, a Constituição da república dispõe que “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Todavia, esta afirmação
deve ser relativizada, pois o ser humano deve ser observado à medida de sua
individualidade. Deste modo, deve-se tratar de maneira desigual aqueles que são
18 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito de família, relações de parentesco, direito patrimonial. In: Código
Civil Comentado. São Paulo, Atlas, 2003, p. 44.
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desiguais. Estendendo esse entendimento para aqueles que ainda não nasceram,
leciona Jussara Maria Leal de Meirelles19 ao dizer que:
Pode-se perceber que não se faz distinção entre a vida uterina e extra-
uterina. Se se adota a teoria concepcionista, ou seja, que o termo inicial da vida se
na concepção, pode-se chegar à conclusão de que os embriões criopreservados
teriam os mesmos direitos dos seres humanos concebidos, porém ainda não
nascidos.
Cabe também, dentro do âmbito da igualdade, fazer um adendo ao princípio
da igualdade entre filhos. Em suma, é a proibição legal de fazer diferenciação entre
os filhos advindos de qualquer natureza, os quais não podem ser tratados de formas
diferentes. O artigo 227, §6º, da Constituição da República conceitua que: “Os filhos,
havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação”. Assim sendo, é possível fazer uma analogia aos filhos concebidos após a
morte de seu genitor, ao passo que esses não poderiam sofrer uma diferenciação
para com aqueles já nascidos.
Para o mestre e jurista Sílvio de Salvo Venosa 21, o Código Civil de 2002, no
que tange a inseminação post mortem, não priorizou o direito sucessório daqueles
gerados nessa situação, tendo em vista que na legislação atual só é herdeiro aquele
nascido ou concebido ao tempo da abertura da sucessão. Afirmando expressamente
que aqueles concebidos sob essa condição não terão direito ao status de herdeiro.
Entretanto, apesar de fazer parte dessa corrente doutrinária, o referido mestre
teceu um comentário em relação ao Código Civil de 2002 que mostra uma exceção:
21 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 224.
22 LEITE, Eduardo de Oliveira. Comentários ao Novo Código Civil, volume XXI: do direito das
sucessões, 2º Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p.110.
37
É preciso evitar tais práticas, pois a criança, embora possa ser filha
genética, por exemplo, do marido de sua mãe, será juridicamente,
extramatrimonial, pois não terá pais, nem poderá ser registrada como
filha matrimonial em nome do doador, já que nasceu depois de 300
dias da cessação do vínculo conjugal em razão da morte de um dos
consortes. E além disso, o morto não mais exerce direitos, nem
deveres a cumprir. Não há como aplicar a presunção de paternidade,
uma vez que o matrimônio se extingue com a morte, nem como
conferir direitos sucessórios ao que nascer por técnica conceptiva
post mortem, pois não estava gerado por ocasião da morte de seu
pai genético [...] Por isso, necessário será que se proíba legalmente
a reprodução assistida post mortem, e, se, por ventura, houver
permissão legal, dever-se-á prescrever quais serão os direitos do
filho, inclusive sucessórios.
Os autores que entendem pela segunda corrente são mais permissivos. Esse
posicionamento doutrinário compreende que poderia ser dada ao embrião
capacidade sucessória, uma vez que a Constituição da República veda a distinção
entre filhos, bem como o Código Civil em seu artigo 1597 admite a presunção de
paternidade dos filhos havidos na Constância do casamento. Deste modo, essa
corrente mostra-se com um grande apego a princípios constitucionais como a
igualdade entre filhos e o livre planejamento familiar.
O mestre José Luiz Gavião de Almeida 24 entende pela possibilidade da
criança nascida da inseminação artificial post mortem, ter capacidade sucessória,
inclusive na sucessão legítima. Em consonância com esse entendimento, o referido
autor teceu o seguinte comentário:
23 DINIZ, Maria Helena. A ectogênese e seus problemas jurídicos. São Paulo: Max Limonad, 1995, p.
91.
24 ALMEIDA, José Luiz Gavião de. Código Civil Comentado: direito das sucessões, sucessão em
geral, sucessão legítima. São Paulo: Atlas, 2003, p. 104.
38
Francisco José Cahali26 mostra que de acordo com a regra do Código Civil de
1916, era inadmissível e impossível a geração de vínculo de parentesco entre a
criança nascida e o pai falecido, que teve o seu material genético utilizado, sob o
fundamento de que o evento morte é causa de extinção da personalidade. Porém,
tendo em vista a regra do artigo 1597 do Código Civil de 2002, aduz assim o referido
autor:
27 CAHALI, Francisco José. Curso Avançado de Direito Civil. Vol. 6: direito das sucessões/ Francisco
José Cahali, Gizelda Maria Fernandes Novaes Hironaka. São Paulo: Editora Revista dos tribunais,
2003, p. 346.
40
28 ADI 3.510, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 29-5-2008, Plenário, DJE de 28-5-2010.
42
CONCLUSÃO
melhor interesse da criança, que se mostra mais importante à medida que a situação
lida com crianças que precisam ter o seu direito à filiação e à herança reconhecidos.
O presente trabalho buscou informar ao leitor aspectos acerca do direito
sucessório, da reprodução assistida e do direito de família, fazendo uma análise
crítica à ausência de legislação no direito pátrio acerca da capacidade sucessória da
criança nascida de uma inseminação post mortem. Essa ausência precisa ser
suprida o quanto antes para não deixar de lado a questão dos embriões
criopreservados.
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, José Luiz Gavião de. Código Civil Comentado: direito das sucessões.
São Paulo: Atlas, 2003, p.104.
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Sucessões. 4. Ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1962.
CAHALI, Francisco José. Curso Avançado de Direito Civil. Vol. 6: Direito das
Sucessões/ Francisco José Cahali. São Paulo: Editora Revista dos tribunais, 2003.
AGUIAR, Ruy Rosado de. Enunciado n. 267 da III Jornada de Direito Civil.
Conselho da Justiça Federal, Brasília. 2003. Disponível em:
<http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/526>. Acesso em: 04/11/2017.
DINIZ, Maria Helena. A ectogênese e seus problemas jurídicos. São Paulo: Max
Limonad, 1995, p. 91.
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24. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
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2003.
GUIMARÃES, Luis Paulo Cotrim; MEZZALIRA, Samuel. Artigo 1798. Disponível em:
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LIMA, José Heleno de; CARVALHO, Dimitre Braga Soares de; LIRA, Daniel Ferreira
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às indiferenças. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/ ?
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LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 7. Ed. São Paulo: Atlas,
2007.