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Paulo Coelho
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
ART. Artigo
DEC. Decreto
INC. Inciso
MP Medida Provisória
PORT Portaria
Resumo
Abstract
The objective of this monographic work is to make one brief demonstration, doctrinaire and to
seem current on a subject that, with elapsing of the years, comes focusing many quarrels in
the working area, since the women, when reaching a higher degree of equality in all the
sectors of the society to the masculine work, had passed of long ago the denomination of
fragile sex, for an effective competividade with the man, in all the work branches, but that still
if they see in confrontation with some discriminations, has sight that all law of protection the
woman, always focused the cases in which the same ones they meet in the period of
pregnancy, without however projecting it a protection more effective that really could
exteriorized the real equality of them and the masculine sex in the diverse fields of work.
Thus being, the present work will transcorrerá specifically in a demonstration of the first
directed legal devices to the feminine work, as well as most recent, which place the woman,
then in the one hundred percent of equality, but already sketches a more adequate and
efficient treatment, that can the same places them in field that to the men only competed,
leaving of if only worrying about the problem of the period of pregnancy.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho vem ao encontro dos objetivos almejados pelas mulheres no
decorrer dos tempos, principalmente no que tange aos direitos trabalhistas, uma vez que, a
cada dia que passa, elas alcançam um patamar mais elevado de igualdade aos trabalhadores
masculinos.
Para tanto, principiar-se-á, no Capítulo 1, tratando do contrato individual de emprego,
o conceito de empregado e empregador, a relação de trabalho, a relação de emprego, as
características da relação de emprego e, por fim, os princípios gerais e especifico do Direito
do Trabalho e constitucionais.
Logo depois, no segundo Capítulo, abordar-se-á um breve histórico do trabalho
desempenhado pelas mulheres ao longo dos anos, as conquistas legais, abordando as
normas existentes sobre a proteção do trabalho da mulher. Sabe-se que a exploração do
trabalho da mulher como o do menor remonta à antigüidade e persiste mesmo nos dias
atuais. Tratar-se-á da defesa da mulher, sob o aspecto biológico, as medidas especiais
de higiene e segurança do trabalho; do reconhecimento da importância da função da
mulher no lar, na execução dos trabalhos domésticos e assistência aos filhos, à
prorrogação da jornada de trabalho e ao trabalho noturno; as considerações em relação
à questão salarial das mulheres, que continuam tendo remuneração mais baixa em
relação àquela paga ao homem, apesar da isonomia constitucional, que impede prática
discriminatória; a proteção à maternidade, como direito natural da mulher e base da
preservação da raça, a compulsoriedade da licença remunerada da gestante e o direito a
intervalos para amamentação dos filhos.
Por fim, no terceiro Capítulo, tratar-se-á das discriminações sofridas pela
mulher na relação de emprego, para entrar e permanecer na empresa, todas as formas
de discriminação, não só em relação ao sexo, mas à idade, estado civil e cor, e,
finalmente as normas que dão proteção ao mercado de trabalho da mulher.
O tema epigrafado demonstra de forma acintosa as vitórias alcançadas pelas mulheres
trabalhadoras, não se prendendo mais somente a especialidades da gravidez, já que
atualmente necessita- se de normas reguladoras mais fortes e eficazes que possam estampar os
seus direitos, fazendo com que todo o tipo de discriminação seja rechaçada por parte de todo e
qualquer empregador.
9
Capitulo I
CONTRATO DE TRABALHO
O direito do trabalho não somente serve para regular a relação de emprego, servindo
também para assegurar as melhores condições de trabalho do trabalhador de modo geral,
garantindo, por conseqüência lógica, a proteção do empregado, já que este faz parte do pólo
mais fraco desta relação de trabalho, por estar subordinado jurídico e, quase usualmente,
economicamente (MELLO, 2007, p.27).
O direito individual do trabalho é uma parte do Direito do Trabalho que estuda o
contrato individual seguindo suas regras ou normas a ele aplicadas; não é considerado um
ramo autônomo, mas sim uma de suas divisões (MARTINS, 2006, p.79).
Amauri Mascaro Nascimento entende que “O direito individual do trabalho é um setor
do Direito do Trabalho que compreende as relações individuais, tendo como sujeitos o
empregado e o empregador e como objeto a prestação de trabalho subordinado
(NASCIMENTO, 2005, p.668).
A relação individual entre cada trabalhador e seu patrão tem seu fundamento no
contrato de trabalho, que é a relação de direito privado (GOMES, 2007, p.14).
Gomes reuniu o que há de essencial para formular a seguinte definição de contrato de
trabalho (2007, p.121): “Contrato de trabalho é a convenção pela qual uma ou vários
empregados, mediante certa remuneração e em caráter não eventual, prestam trabalho pessoal
em proveito e sob direção de empregador.”
Conforme pode-se notar, o contrato de trabalho é o ato jurídico que cria a relação de
emprego, gerando, desde o momento de sua celebração, direitos e obrigações para ambas as
partes. Pode ser pactuado unicamente entre empregado e empregador.
11
Menciona Sergio Pinto Martins que “Todo contrato de trabalho é uma relação de
trabalho, mas nem sempre a relação de trabalho é um contrato de trabalho, pois pode envolver
o trabalho autônomo, eventual etc.” (MARTINS, 2006, p.82).
O contrato de trabalho situa-se como núcleo do Direito do Trabalho, em que este
contrato, ou a relação em que se revela, compõe-se do desdobramento em suas forças
interativas das figuras do empregado e do empregador (VILHEDA, 1999, p.104).
substituir por outra pessoa, em razão do elemento que existe neste contrato (CARRION, 2007,
p.124).
Conclui-se, portanto, que o empregado é a pessoa física que utiliza sua energia pessoal
em proveito alheio, visando a um resultado determinado, presta serviços de natureza não
eventual a um empregador, sob a dependência deste.
3
Labor humano= Trabalho Humano. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. Editora LTr. São Paulo. v. 7º.
2006.
13
4 subordinatio, onis = Submissão, sujeição ou delegação. GOMES, Orlando Gottschalk. Curso de Direito do Trabalho. Editora Forense.
Rio de Janeiro. V. 13º. 1994.
14
Sendo assim, o objeto das relações de trabalho não é a pessoa que figura como seu
sujeito, mas sim o modo como o trabalho dessa pessoa é exercido (GOMES, 1994, p.433).
No caso da relação de emprego, o que se examina é o poder de direção que o tomador
dos serviços exerce sobre a atividade do prestador; vale dizer, o empregado concorda em
alienar ao empregador o direito de dirigir a prestação pessoal dos serviços. De toda maneira,
como se trata de relação obrigacional, o objeto é sempre uma prestação (MARTINS, 2007,
p.83).
Arion Sayão Romita aponta a atividade que se exterioriza na relação de trabalho como
o vínculo que une o trabalhador ao patrão: por ser credor de trabalho, o empregador tem a
faculdade de intervir na atividade do empregado (ROMITA 1993, p.231).
A relação de emprego envolve obrigação patrimonial de prestação pessoal. A relação
imediata é com o trabalho, mas há relação mediata com a pessoa do trabalhador (MARTINS,
2007, p.84).
É certo, salienta Sergio Pinto Martins, que a própria pessoa do trabalhador está
envolvida na relação jurídica, mas é a atividade do empregado que se insere na organização
da empresa (2007, p.85).
Sendo assim, propõe Valentim Carrion (2000, p.124): “[...] integração da atividade do
trabalhador na organização da empresa mediante um vínculo contratualmente estabelecido,
em virtude do qual o empregado aceita a determinação, pelo empregador, das modalidades de
prestação de trabalho.”
Partindo dessa distinção, aceita-se a afirmação de que sem contrato de trabalho,
entenda-se, não há relação de emprego. Ressalte-se que quando se menciona a necessária
existência de contrato de trabalho, não se está reportando o documento formal. O contrato de
trabalho pode muito bem ser firmado de forma tácita, ou mesmo, quando expresso, não se
converter em documento escrito. O que interessa é detectar a existência de contratação nos
moldes previstos na CLT, quais sejam: trabalho pessoal, subordinado, não eventual,
sinalagmático, oneroso etc. (MARANHÃO, 1993, p.121).
Em face da relevância, projeção e tendência expansionista da relação empregatícia,
reduzindo espaço às demais relações de trabalho ou assimilando às suas normas situações
fáticas originariamente não formuladas como tal, firmou-se, na tradição jurídica, a tendência
de designar-se a espécie mais importante (relação de emprego) pela denominação cabível ao
gênero (relação de trabalho). Nessa linha, utiliza-se a expressão relação de trabalho (e,
consequentemente, contrato de trabalho ou mesmo Direito do trabalho) para se indicarem
15
Este dispositivo encontra-se delineado no art. 8° da CLT, como está expresso a seguir:
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de
disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência,
por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais do direito,
principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o
direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou
particular prevaleça sobre o interesse público (BRASIL, 2005 p.12).
5
LICC = Lei de Introdução ao Código Civil
16
Segundo Sergio Pinto Martins (2007, p.60): “[...] os princípios são as proposições
básicas que fundamentam a ciência, e para o Direito, o principio é o seu fundamento, a base
que irá informar e inspirar as normas jurídicas”
Plá Rodriguez ressalta a importância dos princípios desse ramo do Direito, afirmando
que eles constituem o fundamento do ordenamento jurídico trabalhista, e, conseqüentemente,
entre eles e os preceitos legais não pode haver contradição, sendo certo que tais princípios
estão acima do direito positivo desde quando o servem como elemento inspirador, não
podendo, porém, tornar-se independentes dele, mormente porque se influenciam mutuamente
(1993, p.132).
Assim como no direito penal há a figura do in dubio pro réu6, aqui, no direito do
trabalho, encontramos o in dubio pro operário,7 que significa que, nos casos de dúvida, o
aplicador da lei deverá aplicá-la de maneira mais favorável ao empregado (MARTINS, 2007,
p.64).
Como observa Amauri Mascaro Nascimento (2005, p.350):
[...] é o principio da interpretação do direito do trabalho, significando que, diante de
um texto jurídico que possa oferecer dúvidas a respeito do seu verdadeiro sentido e
alcance, o interprete deverá pender, dentre as hipóteses interpretativas cabíveis, para
a mais benéfica para o trabalhador.
Este princípio não deverá ser aplicado nos casos em que a sua utilização afrontar
claramente a vontade do legislador, ou versar sobre matéria da qual será necessário
apreciação de provas; dessa forma se aplicará conforme disposto nos art. 330 do Código de
Processo Civil e art. 818 da CLT (MARTINS, 2007, p.63).
6
A favor do réu. MARTINS. Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. Editora Atlas. V. 23º. São Paulo. 2007.
7
A favor do operário. MARTINS. Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. Editora Atlas. V. 23º. São Paulo. 2007
18
O princípio in dubio pro operário aconselha o intérprete a escolher, entre duas ou mais
interpretações viáveis, a mais favorável ao trabalhador, desde que não afronte a nítida
manifestação do legislador, nem se trate de matéria proibitória (ARAÚJO, 2003, p.183).
Assim, havendo dúvida do juiz em face do conjunto probatório existente e das
presunções aplicáveis, ele deverá decidir em desfavor da parte que tenha o ônus da prova
naquele tópico duvidoso, e não segundo a diretriz genérica in dubio pro operario. O caráter
democrático e igualitário do Direito do Trabalho conduz ao desequilíbrio inerente às suas
normas jurídicas e à compatível sincronia que esse desequilíbrio tem com a teoria processual
do ônus da prova e com as presunções sedimentadas características desse ramo jurídico
(DELGADO, 2006, p.212).
Manuel Antonio Teixeira Filho (2000, p.146) traz as seguintes observações sobre o
tema:
[...] não haverá incidência da regra do in dubio pro operário em matéria probatória,
tendo em vista que ou a prova existe ou não se prova. A insuficiência de prova gera
a improcedência do pedido e, portanto, o resultado será desfavorável àquele que
detinha o ônus da prova, seja ele o empregado seja ele o empregador. Por outro lado,
se ambos os litigantes produzirem as suas provas e esta ficar dividida, deverá o
magistrado utilizar-se do princípio da persuasão racional, decidindo-se pela adoção
da prova que melhor lhe convenceu, nunca pendendo-se pela utilização da regra in
dubio pro operário, já que neste campo não há qualquer eficácia desta norma.
O juiz, quando decide pela adoção da prova que melhor lhe convenceu, deve usar o
princípio da persuasão racional segundo Teixeira, não pendendo para nenhum dos lados da
ação, mesmo convencido da hiposuficiência do trabalhador.
Princípio este, segundo Martins, que determina a prevalência das condições mais
vantajosas para o trabalhador, ajustadas no contrato de trabalho ou resultantes do
19
Incorporado pela legislação, o art. 468 da CLT determina que as cláusulas contratuais
benéficas somente poderão ser suprimidas caso suplantadas por cláusula posterior ainda
mais favorável, mantendo-se intocadas em face de qualquer subseqüente alteração menos
vantajosa do contrato ou regulamento de empresa (DELGADO, 2006, p.202).
Conforme determina o artigo em questão:
Art. 468. Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas
condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou
indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente
desta garantia.
Parágrafo único. Não se considera alteração unilateral a determinação do
empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente
ocupado, deixando o exercício de função de confiança (BRASIL, 2005, p.189).
Assim o trabalhador que já conquistou um direito não poderá ter seu direito atingido,
mesmo que sobrevenha uma norma nova que não lhe é favorável. Assim determina a
súmula 51 do TST9:
Súmula-51
I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas
anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou
alteração do regulamento.
II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do
empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do
outro (BRASIL, 2005, p.241).
8
A partir deste momento a expressão Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 será abreviada para Constituição Federal de
1988
9
TST - Tribunal Superior do Trabalho
20
O presente princípio dispõe que o operador do Direito do trabalho deve optar pela
regra mais favorável ao obreiro em três situações ou dimensões distintas: elaboração de
novas leis com normas mais favoráveis ao trabalhador; observar na hierarquia das normas a
mais favorável ao trabalhador; havendo várias normas, deve-se aplicar a mais benéfica ao
trabalhador.(MARTINS, 2007, p.63).
Neste mesmo sentido, Amauri Mascaro Nascimento observa que (2005, p.291):
Havendo duas ou mais normas jurídicas trabalhistas sobre mesma matéria, será
hierarquicamente superior, e portanto aplicável ao caso concreto, a que oferecer
maiores vantagens ao trabalhador, dando-lhe condições mais favoráveis, salvo no
caso de leis proibitivas do Estado.
Tem-se como regra que os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo trabalhador. Se
tal fato ocorrer, não terá qualquer validade o ato do operário, podendo o obreiro reclamá-las
na Justiça do trabalho (MARTINS, 2007, p.64).
A irrenunciabilidade inata aos direitos trabalhistas constitui-se talvez no veículo
principal utilizado pelo Direito do Trabalho para tentar igualizar, no plano jurídico, as
diferenças clássicas existentes entre os sujeitos da relação de emprego (DELGADO, 2006,
p.201).
Neste sentido, afirma Eneida Melo Correia de Araújo (2003, p.182): “O direito do
Trabalho partiu do pressuposto de que os indivíduos que se relacionam eram desiguais nos
aspectos econômicos e jurídicos. Em sendo assim, a vontade do mais forte tenderia a anular a
do hipossuficiente.”
Este princípio está bem claro no art. 9º da CLT, combinado com o art. 7º VI da
Constituição Federal de 1988:
Art. 9º CLT - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de
desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente
Consolidação.(BRASIL, 2005, p.13)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social.
[...] VI – irrenunciabilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo (BRASIL, 2004, p.13).
Este princípio faz referência ao princípio da verdade real, que está no direito
processual penal. Sua aplicação no direito do trabalho vem demonstrar a maior valoração que
possui o fato real do que aquilo que consta em documentos formais (MARTINS, 2007, p.65).
Extrai-se o entendimento de Amauri Mascaro Nascimento: “No Direito do trabalho os
fatos são mais importantes do que os documentos. São privilegiados, portanto, os fatos, a
realidade sobre a forma ou a estrutura empregada”.
Em algumas circunstâncias, o empregado assina documentos sem saber o que está
assinando por medo ou ignorância; por isto a necessidade de serem feitas provas para
contrariar os documentos apresentados efetivando a realidade dos fatos ocorridos. No Direito
do Trabalho, segundo Nascimento, importa o que ocorre na prática, mais do que aquilo que as
partes hajam pactuado de forma mais ou menos solene, ou expressa, ou aquilo que conste em
documentos, formulários e instrumentos de controle (NASCIMENTO, 2005, p.349).
No direito do Trabalho, deve-se pesquisar, preferentemente, a prática concreta
efetivada ao longo da prestação de serviços, independentemente da vontade eventualmente
manifestada pelas partes na respectiva relação jurídica. A prática habitual, na qualidade de
uso, altera o contrato pactuado, gerando direitos e obrigações novos às partes contratantes,
respeitada a fronteira da inalterabilidade contratual lesiva (DELGADO, 2006, p.208).
Neste mesmo sentido, Paulo Emilio Ribeiro de Vilheda comenta (1997, p.95): “[...] em
razão do qual a relação objetiva evidenciada pelos fatos define a verdadeira relação jurídica
estipulada pelos contratantes, ainda que sob capa simulada, não correspondente à realidade.”.
Desse modo, o conteúdo do contrato não se circunscreve ao transposto no
correspondente instrumento escrito, incorporando amplamente todos os matizes lançados pelo
cotidiano da prestação de serviços. O princípio da primazia da realidade autoriza, assim, por
exemplo, a descaracterização de uma pactuada relação civil de prestação de serviços, desde
que, no cumprimento do contrato, despontem, concretamente, todos os elementos fático-
jurídicos da relação de emprego, quais sejam: trabalho por pessoa física, com pessoalidade,
não-eventualidade, onerosidade e sob subordinação (DELGADO, 2006, p.208).
23
Este princípio determina que, salvo prova em contrário, presume-se que o trabalho terá
validade por tempo indeterminado. As exceções serão os contratos por prazo determinado e os
trabalhos temporários (MARTINS, 2007, p.65).
Como observa Eneida Melo Correia de Araújo (2003, p.189): “Os contratos por prazo
indeterminado trazem uma perspectiva de continuidade, de inserção e de possibilidade de
profissionalização do trabalhador”.
Como se pode observar, o contrato por prazo indeterminado é a regra no Direito do
Trabalho, procurando inserir o empregado na empresa, o que não acontece quando se
celebram contratos por prazos determinados.
É de interesse do Direito do Trabalho a permanência do vínculo empregatício, com a
integração do trabalho na estrutura e dinâmica empresariais. Apenas mediante tal
permanência e integração é que a ordem justrabalhista poderia cumprir satisfatoriamente o
objetivo de assegurar melhores condições sob a ótica obreira, de pactuação e gerenciamento
da força de trabalho em determinada sociedade (DELGADO, 2006, p.209).
Como conseqüência deste princípio, há o princípio da proibição da despedida
arbitrária ou sem causa, conforme dispõe o art. 7º, I, da Constituição Federal de 1988:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa nos
termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros
direitos (BRASIL, 2004, p.13).
A seu lado, há o grupo de situações direcionadas por leis especiais a certas profissões
delimitadas, como ocorre com os artistas profissionais e também com os atletas profissionais.
Finalmente, a mais recente hipótese da Lei nº. 9.601, de 1998, que regulou o chamado
contrato provisório de trabalho.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem dispõe que todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e em direitos (art. 1°), sendo iguais perante a lei, tendo
direito à igual proteção legal contra qualquer discriminação que viole dispositivos da
Declaração, bem como qualquer incitamento a esta prática (art. 7°).
Art. 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito
de fraternidade.
Art. 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção
da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a
presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação (BRASIL,
2004, P.11).
A lei regula as relações dos homens em sociedade e o Estado tem o dever de amparar e
proteger todas as pessoas, sejam elas brasileiras ou estrangeiras. Por conseguinte,
constitucionalmente, o Estado garante a todos: a vida, a liberdade, a igualdade, a propriedade
(SILVA, 2001, p.110).
Os princípios Constitucionais fundamentais da Constituição Federal de 1988 são
princípios gerais do direito, aplicáveis no direito do trabalho, como são muitos, podem, de
modo mais direto, vincular-se aos conflitos trabalhistas (NASCIMENTO, 2005, p.343).
Há princípios gerais do art. 1º, inc. III e IV, da Constituição Federal de1988: o respeito
à dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da iniciativa, a
27
Quando a artigo supra diz que são invioláveis os direitos à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade não significa que estejam garantidos materialmente
tais bens, mas sim impossibilitando o legislador de limitar ou vedar o exercício de um dos
direitos aí consagrados. Pessoas com os mesmos direitos ou com os mesmos deveres são
tratadas da mesma maneira; pessoas com direitos e deveres desiguais terão tratamento que
lhes corresponda. Para a Constituição Federal de 1988, não há distinção entre as pessoas em
razão do sexo, da cor, da raça, da religião, da opinião política, da profissão etc. Todos devem
ter as mesmas oportunidades na sociedade (SILVA, 2001, p115).
Como afirma Alexandre de Morais (2002, p.158):
[...] essas idéias encontravam um ponto fundamental em comum, a necessidade de
limitação e controle dos abusos de poder do próprio Estado e de suas autoridades
constituídas e a consagração dos princípios básicos da igualdade e da legalidade
como regentes do Estado moderno e contemporâneo.
Portanto, homens e mulheres são tratados igualmente no que, por natureza, não são
igualáveis. Qualquer favorecimento ao homem ou à mulher, viola o princípio da isonomia.
Não haverá, perante a lei, ninguém que não tenha os mesmos direitos dos demais, pois a
igualdade é um princípio universal de justiça (NASCIMENTO, 2005, p.345).
Art. 5º, inc.XIII diz: é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (BRASIL, 2004, p.11).
Se permitida fosse a prática de determinada profissão sem nenhuma restrição, qualquer leigo
poderia, por exemplo, exercer a advocacia ou a medicina, o que seria um fator de insegurança
para a sociedade (PITAS, 1991, p.141).
Analisaram-se, anteriormente, os direitos fundamentais do homem. Agora, tratar-se-á
das garantias fundamentais que se traduzem em remédios processuais constitucionais para a
defesa dos direitos individuais da pessoa humana. A pessoa lesionada em seus direitos poderá
buscar o restabelecimento do estado anterior ou sanar a violação (SILVA, 2001, p.89).
A Carta Magna de 1.967 citava os seguintes remédios constitucionais processuais
(garantias constitucionais) (FREITAS, 1989, p.211):
1. Mandado de segurança;
2. “Habeas corpus;”
3. Ação popular.
Na atual Constituição Federal de 1988 encontram-se a consagração das mesmas
garantias do ordenamento anterior e mais o mandado de segurança coletivo, o mandado de
injunção e o “habeas-data” (SILVA, 2001, p.91).
A Constituição Federal de 1988 defende o respeito aos direitos sociais dos
trabalhadores urbanos e rurais, assegurando-lhes muitos direitos e garantias. A lista desses
direitos encontra-se nos arts. 6º e 7º da Constituição Federal de 1988 (SILVA, 2001, p.95):
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
Art.7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição:
Inc.XVIII. licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com duração de
cento e vinte dias;
Inc.XXX. proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
Inc.XXXII. proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou
entre os profissionais respectivos (BRASIL, 2004, p.12).
Capitulo II
Neste capítulo, estudar-se-á o trabalho da mulher, uma breve evolução histórica, bem
como se fará uma abordagem da proteção a mulher no trabalho e os direitos a salários,
equiparação salarial, trabalho noturno, descansos e, por derradeiro, a proteção à maternidade.
A mulher sempre contribuiu, desde a mais remota antigüidade, tanto nas tarefas de
provimento da subsistência e, especialmente, nos afazeres domésticos, cuidando e amparando
seus filhos, como dando subsídios emocionais aos seus maridos, como em atividades
econômicas, seja no campo, seja na cidade. Afinal, a mulher, segundo os romanos, era para o
homem consortium omnis vitae10 (CARVALHO, 1991, p.225).
10
Associação para toda vida. CARVALHO. J. Antero de. Direitos Trabalhistas da Mulher. LTr. São Paulo. v. 27. p. 217. 1991
32
11
O perigo do trabalho social. . CARVALHO. J. Antero de. Direitos Trabalhistas da Mulher. LTr. São Paulo. v. 27. p. 217. 1991.
34
A Consolidação das Leis Trabalhistas contém uma seção com 10 artigos, no capítulo
III do Título III, “Das normas especiais de tutela do trabalho”. Em seu artigo 391, casar ou
engravidar não configuram motivo para rescisão contratual ou restrições ao direito da mulher
ao emprego. Se isso acontecer, são aplicadas multas pela autoridade do Ministério do
Trabalho (DELGADO, 2006, p.105).
A igualdade deve partir de mecanismos que possam demonstrar transparentemente que
realmente existe, e que homens e mulheres laboram sem qualquer tipo de discriminação,
mesmo que não sejam expressos por textos legais, mas principalmente para os empregadores
que agem implicitamente, promovendo a desigualdade. Assim, a mulher continua, de forma
implícita, sendo discriminada quanto à igualdade nos mais diversos campos de trabalho,
mesmo na CLT, que muito pouco demonstrou e demonstra, pois vive em constantes
alterações de acordo com a evolução da própria sociedade (MARTINS, 2007, p.585).
Neste mesmo sentido, Léa Elisa Call observa que (CALL, 2000, p.23):
[...]um dos aspectos mais importantes em se passar a limpo a História do Trabalho e
do Direito do Trabalho da Mulher no Brasil é demonstrar a peculiaridade do
tratamento legal dado à mulher, ou seja, que o Direito do Trabalho da mulher não
caminhou pari passu 12 com o Direito do Trabalho do “homem”. Obviamente,
algumas das diferenças entre as legislações aplicadas a cada gênero surgiram da real
desigualdade entre eles, tanto que certas proteções legais que advieram de leis se
mantêm necessárias até hoje, porém outras tantas se mostraram mais como fruto do
preceito, do desconhecimento científico acerca da fisiologia feminina do que
propriamente como benefício concedido às mulheres.
12
Ao lado. CALIL, Lea Elisa Silingowischi. Historia do Direito do Trabalho da Mulher. Editora LTr. São Paulo. p. 11-12. 2000.
38
13
A revogação expressa do art. 376 da CLT somente veio ocorrer em 27 de junho de 2001, com a Lei nº. 10.244; é claro que a regra
celetista já se encontrava tacitamente sepultado pela Constituição de 1988. Mauricio Godinho Delgado, Curso de Direito do Trabalho.
Editora LTR. São Paulo. p. 897. 2008.
42
A idade mínima para empregar-se, com a Emenda Constitucional nº. 20, de 1998,
passou a ser de 16 anos, sendo necessária autorização do pai ou responsável legal. Aos 18
anos, a mulher adquire capacidade plena para os fins trabalhistas (NASCIMENTO, 2005,
p.949).
A mulher, adquirida a maioridade, não sofre restrições quanto ao direito de empregar-
se (NASCIMENTO, 2005, p.946).
Não mais vigora o art. 446 da CLT, que presumia autorizado o trabalho da mulher
pelo marido e a este assegurava a faculdade de pleitear a rescisão do seu contrato de trabalho,
se suscetível de acarretar ameaça aos vínculos da família ou perigo manifesto às suas
condições peculiares (MARTINS, 2007, p.587).
Foi a Lei nº. 7.855, de 25/10/1989 art. 13, que revogou o art. 446 da CLT. Como
conseqüência, a mulher casada está autorizada a obter trabalho, não só presumida, mas
efetivamente. Aliás, desde o Estatuto da Mulher Casada (Lei nº. 4.121, de 1962), esta passou
a ser considerada plenamente capaz e não mais relativamente incapaz como
injustificadamente antes ocorria (MARTINS, 2007, p.588).
Acrescente-se que a mulher casada que exerce profissão lucrativa, distinta da do
marido, tem direito ao produto do seu trabalho (MARTINS, 2007, p.589).
Dessa forma, deve obedecer aos ditames contidos no inciso XIII, do artigo 7º da
Constituição Federal de 1988, ou seja, 8 horas diárias e 44 semanais (NASCIMENTO, 2005,
p.950).
A Lei nº. 7.855, de 1989, revogou os arts. 374 e 375 da CLT, que tratavam da
prorrogação e compensação da jornada da mulher. Quanto à compensação, ela só pode ser
feita mediante acordo ou convenção coletiva, como já era a previsão do art. 374 da CLT e da
Súmula 108 do TST (MARTINS, 2007, p.587).
A mulher pode prorrogar e compensar sua jornada de trabalho, fazendo horas extras,
nas mesmas condições que o homem. O art. 376 da CLT foi revogado pela Lei nº. 10.244 de
2001. A mulher pode prorrogar sua jornada em qualquer caso e não apenas em casos
excepcionais ou de força maior, mas terá direito a 15 minutos de descanso antes de iniciar a
jornada extraordinária, como será visto posteriormente (MARTINS, 2007, p.589).
Desta forma pensa Valentin Carrion (2007, p.259):
[...] a distinção de normas em favor da mulher ficou sem eficácia com o princípio da
isonomia entre ambos; só permanecem aquelas que se justificam em razão de
circunstâncias objetivas, como por exemplo a distinção de limites de peso em
transporte de mercadorias (CARRION, 2007)
2.4.2 Salário
Assim, a mulher terá direito aos mesmos salários do homem, se o trabalho que exercer
for de igual valor (NASCIMENTO, 2005, p.949).
A Constituição Federal de 1988 traz a mesma idéia no inciso XXX do art. 7º.
Art. 7... proibição de diferença de salários, de exercícios de funções e de critérios de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. (BRASIL, 2004, p.13)
A CLT também veda a distinção de salário por motivo de sexo em seu art. 5º
Art.5º - A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem distinção de
sexo.(BRASIL, 2004, p.11)
Ainda esclarece a CLT, em seu art. 377, que a adoção de medidas de proteção ao
trabalho das mulheres é considerada de ordem pública, não justificando, em hipótese
alguma, a redução do salário.
Como analisado por Alice Monteiro de Barros (1997, p.154):
Depois de todas as tentativas no sentido de equiparar os salários por trabalho de
igual valor, as estatísticas demonstram que as mulheres continuam percebendo
salários inferiores aos que são pagos aos homens, não só no Brasil, mas em todos os
países, independentemente do nível de desenvolvimento econômico e social,
principalmente no setor privado, pois no serviço público os salários, em geral, se
equivalem (BARROS, 1997).
Art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo
empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário sem distinção de
sexo, nacionalidade ou idade. (BRASIL, 2004, p.188)
Em relação aos períodos de descanso, prevê o art. 382 da CLT que, entre duas
jornadas de trabalho, deve haver um intervalo de no mínimo onze horas, da mesma forma que
acontece para o trabalho masculino (MARTINS, 2007, p.534).
Art. 382 - Entre 2 (duas) jornadas de trabalho, haverá um intervalo de 11(onze)
horas consecutivas, no mínimo, destinado ao repouso (BRASIL, 2005, p.165).
criação de uma escala de revezamento quinzenal, para que, pelo menos de quinze em quinze
dias, o repouso semanal remunerado coincida com o domingo (DELGADO, 2006, p.879).
Tal determinação encontra-se inserta no artigo 386 da CLT:
Art. 386 - Havendo trabalho aos domingos será organizada uma escala de
revezamento quinzenal, que favoreça o repouso dominical (BRASIL, 2005, p.166).
Terá a mulher um descanso para refeição, que não poderá ser inferior a 1 (uma) hora
nem superior a 2 (duas) horas, excetuando-se a hipótese prevista no art. 71, parágrafo 3º da
CLT, da redução do limite mínimo de uma hora de repouso por ato do Ministro do Trabalho,
quando se verificar que o estabelecimento atende integramente às exigências concernentes à
organização dos refeitórios e quando os respectivos empregados não estiverem sob regime de
trabalho prorrogado em horas suplementares (DELGADO, 2006, p.873).
Art. 383 - Durante a jornada de trabalho, será concedido à empregada um período
para refeição e repouso não inferior a 1 (uma) hora nem superior a 2 (duas) horas
salvo a hipótese prevista no art. 71, § 3º.
Art. 71. Em qualquer trabalho contínuo cuja duração exceda de seis horas, é
obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será no
mínimo, de uma hora e, salvo acordo ou contrato coletivo em contrário, não poderá
exceder de duas horas.
§ 3º O limite mínimo de uma hora para repouso e refeição poderá ser reduzido por
ato do Ministério do Trabalho, quando, ouvido o Departamento Nacional de
Segurança e Higiene do Trabalho, se verificar que o estabelecimento atende
integralmente às exigências concernentes à organização dos refeitórios e quando os
respectivos empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas
suplementares (BRASIL, 2005).
seja registrada civilmente pelo genitor, assim como evitar com que não se conheça a
paternidade; que o mesmo colabore com a mãe nos primeiros dias de vida da criança,
enquanto ela está em convalescença do parto; que a criança também tenha um contato com o
pai; e que possibilite o convívio familiar, já que nos preceitos do art. 226 da CF/88: “a família
é a base da sociedade” (DELGADO, 2006, p.682).
Quanto às empregadas domésticas, o parágrafo único do art. 7º da Constituição
Federal de 1988 estendeu a elas a licença à gestante, sem prejuízo do emprego e salário, por
um período de 120 dias, garantiu a licença paternidade e a integrou à previdência social,
porém (DELGADO, 2006, p.698).
Quanto às proteções e disposições constitucionais à gestante, Antero de Carvalho
Junior menciona que (1991, p.271): A previsão para descanso remunerado da gestante, antes e
depois do parto, atende a duas finalidades
A destinação das normas que protegem a maternidade são, sob o ângulo da mulher,
para resguar: por um lado, protege o trabalho da mulher, enquanto por outro atende a um
elevado objetivo social, qual seja a defesa da família e da maternidade.dar o físico feminino,
pois a mulher carrega dentro de si uma nova vida durante 9 meses, com diversas alterações
em seu corpo, tanto interna quanto externamente, além de sua moral; e sob o ponto de vista da
criança, os primeiros meses de vida ultra-uterina visam à adequação e introdução do mesmo
no seio da sociedade, além de estabelecer as condições mínimas para a sua sobrevivência
(CARVALHO, 1991, p.275).
53
Capitulo III
DISCRIMINAÇÃO DA MULHER
Com relação a esta questão, há alguns que dizem estar na legislação protetora a raiz do
problema, pois a discriminação da mulher no mercado de trabalho se dá em razão de as
normas de proteção à maternidade e à gravidez não serem vantajosas para os empregadores,
aos quais não interessa arcar ainda mais com obrigações trabalhistas do que já arcam com os
homens ou com as mulheres solteiras. Assim, defendem como solução para o problema o
afrouxamento da legislação protetora do trabalho da mulher.
Segundo o princípio da isonomia (art. 5º, da CLT), sem distinção de sexo,
repetitivamente, visa-se evitar discriminação salarial contra a mulher, enquanto outro
dispositivo já concede “igual salário sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade” (art.
54
proteger a maternidade não serão consideradas discriminatórias” (§2º do art. 4º) (MARTINS,
2007, p.477).
A lei nº. 9029, de 13 de abril de 1995, estabeleceu normas quanto à
proibição de exigência de atestado de gravidez e esterilização, e outras práticas
discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência da relação jurídica de trabalho
(CARRION, 2007, p.342).
Para se interpretar a Lei nº. 9029 de 1995, é mister observar a diretriz
da Constituição, segundo a qual a empregada não poderá ser dispensada desde a confirmação
da gravidez até cinco meses após o parto, conforme o art. 10, II, b, do ADCT (CARRION,
2007).
Art. 10 - Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o Art. 7º, I, da
Constituição:
II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:
b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o
parto (BRASIL, 2004).
A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 5º, caput, e 7º, incisos XX e XXX,
entretanto, firmemente, eliminou do Direito brasileiro qualquer prática discriminatória contra
a mulher no contexto empregatício ou que pudesse restringir o mercado de trabalho, ainda que
justificada a prática jurídica pelo fundamento da proteção e da tutela. Nesse quadro, revogou
inclusive alguns dispositivos da CLT que, sob o aparente manto tutelar, produziam efeito
claramente discriminatório com relação à mulher obreira (DELGADO, 2006, p.777).
O mesmo se deve dizer quanto à Convenção nº. 103 da OIT, que foi aprovada pelo
Brasil pelo decreto legislativo nº. 20/65, em que, se a mulher se ausentar de seu trabalho em
virtude de gravidez, é ilegal para seu empregador despedi-la durante a referida ausência ou
data tal que o prazo do aviso prévio termine e enquanto durar a ausência mencionada (art. V)
(MARTINS, 2007, p.590).
57
Da mesma forma prevê o artigo 5º da CLT, quando diz que a todo trabalho de igual
valor corresponderá salário igual sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade (CARRION,
2007, p.201).
A noção de isonomia, igualdade, por sua amplitude, não seria compatível com a
diversidade inerente à vida real nem com os próprios objetivos essenciais do Direito do
trabalho, que busca estabelecer, segundo Plá Rodriguez, um nível mínimo de proteção. O
Direito busca é evitar o atraso face ao nível normal ou geral, mas não se pretende equiparar
todos no nível mais alto, porque alguém o obteve. Afinal, o Direito não visa a proibir “todas
as diferenças, mas só as diferenças injustificadas, que costumam ser identificadas pela palavra
discriminação” (DELGADO, 2006, p.796).
No entendimento de Leonardo Vieira Wandelli (2004, p.374):
O princípio da igualdade, em sua faceta princípio de não discriminação, não é uma
regra de exceção, não afeta em abstrato o âmbito semântico da regra permissiva,
porque é somente na interpretação completa da situação concreta que se pode
concluir pelo caráter infundado de um tratamento diferenciado.
estabelecidas nos acordos trabalhistas são vedadas em várias situações (CARRION, 2007,
p.340).
Ao publicar anúncios de empregos, não se poderá fazer discriminação quanto a sexo,
cor, ou idade, para a admissão, salvo quando a natureza do emprego seja notória e
incompatível (DELGADO, 2006, p.776).
É vedado recusar emprego, promoção ou motivar a dispensa do trabalho em razão do
sexo, idade, cor, situação familiar, salvo quando a natureza da atividade seja notória e
publicamente profissional (CARRION, 2007, p.353).
Não é permitido considerar o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável
determinante para fins de remuneração, formação profissional e oportunidades de ascensão
profissional (MARTINS, 2007, p.587).
O artigo 373-A da CLT, inserida pela Lei n°. 9.029, de 13 de abril de 1995, por sua
vez, torna expressos parâmetros antidiscriminatórios, cujo conteúdo, de certo modo, já
poderia ser inferido dos textos normativos preexistentes, em especial da Carta Magna.
(DELGADO, 2006. P.230).
É garantido à empregada, durante a gravidez, sem prejuízo do salário e demais
direitos, a transferência de função, quando as condições de saúde o exigirem, assegurada a
retomada da função anteriormente exercida, logo após o retorno ao trabalho (MARTINS,
2007, p.590).
Após o nascimento da criança, a mulher fica afastada, e o ônus deste afastamento já
que a empregada continuará a ser remunerada, apesar de não prestar serviço, será suportado
pela Previdência Social através do benefício previdenciário Salário-Maternidade, que
atualmente, pelos termos do art. 71 da Lei nº. 8.213/91, é pago diretamente à segurada pelo
órgão gestor da Previdência Social. Mesmo após a gestação e o período imediatamente
posterior ao nascimento da criança, a legislação trabalhista confere, em atenção ao estado de
dependência do recém-nascido, o direito da mulher, até que o filho complete seis meses de
idade, a amamentá-lo em dois períodos de meia hora cada, durante a jornada de trabalho
(CARVALHO, 1991, p.220).
O Professor Valentin Carrion (2007, p. 364) anota que: “[...] este tempo destinado a
amamentar o filho, é tempo de descanso especial, e que existe uma presunção de que este
tempo é de serviço, sendo, portanto, remunerado”.
Ainda em relação aos cuidados dispensados ao recém-nascido, vale destacar a
obrigação das empresas com mais de trinta empregadas de dezesseis anos em manter creche
para os filhos destas, podendo, no entanto, esta obrigação ser suprida pela manutenção de
60
creches distritais mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades públicas
ou privadas (CARVALHO, 1991, p.225).
Outro aspecto a ser abordado neste estudo é que a mulher, exercendo um trabalho de
igual valor, deverá ser remunerada no mesmo nível dos demais empregados, sem qualquer
discriminação por causa do sexo. Esta proteção em relação ao salário da mulher está expressa
no art. 7º, XXX, da Constituição Federal de 1988. No âmbito da legislação ordinária, o art.
461 da CLT, contém norma semelhante (DELGADO, 2006, p.788).
Quanto à jornada de trabalho, não há distinção em relação à dos homens, sendo, nos
termos da Constituição Federal de 1988, de 8 horas diárias e 44 semanais (DELGADO, 2006,
p.877).
Assevera Domingos Sávio Zainaghi que (2004, p.489):
[...] ao conquistar seu merecido lugar no mercado de trabalho, a Mulher o fez pela
sua competência, pela aplicação, pela seriedade do exercício dos misteres que lhe
foram atribuídos. Nos tempos atuais já não perseguem as mulheres quaisquer
privilégios. Basta-lhes o respeito às suas aptidões e o tratamento como o dispensado
a qualquer outra categoria de trabalhador. Se, por força de uma condição física
eventual menos favorável, não disputam ou se habilitam à execução de certos cargos
ou tarefas.
A política que preside a evolução do direito do trabalho da mulher vem passando por
modificações. A primeira fase do direito protetor, caracterizado pelas proibições do trabalho
da mulher em diversas atividades, cede lugar à promoção da igualdade prevista no art. 5º, I da
Constituição Federal de 1988, entre a mulher e o homem no sentido de eliminar estas
proibições. A mulher deve ter tratamento especial da legislação quando em época de gravidez,
amamentação e em decorrência da proteção ao seu mercado de trabalho.
Para se obter posições mais variadas sobre o tema, foram pesquisado jurisprudências
dos Tribunais Regionais do Trabalho de Rio Grande do Sul (TRT 4°), de Santa Catarina (TRT
12ª) e do Paraná (TRT 9ª).
Referente ao intervalo de 15 minutos, compreendido entre a jornada normal e a
jornada extraordinária, coincidindo a mulher e previsto no artigo 386 da CLT, o TRT de Santa
Catarina se posicionado da seguinte forma:
Ementa: INTERVALO PARA DESCANSO PREVISTO NO ART. 384 DA CLT.
PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER. SUPRESSÃO. PAGAMENTO
COMO HORA EXTRA. A proteção ao trabalho da mulher do art. 384 da CLT foi
recepcionada pela Constituição da República e constitui norma de ordem pública
que tem por objetivo principal proteger a saúde, a segurança e a higidez física da
trabalhadora, motivo pelo qual devem ser pagos como extras os 15 minutos de
61
O artigo 386 da CLT não foi recepcionado pela ordem constitucional vigente, visto
que as peculiaridades do trabalho feminino não justificam o tratamento diferenciado entre
ambos os sexos, pois importaria em violação ao princípio da igualdade de direitos e
obrigações, incluso no inciso I do artigo 5º da Constituição Federal de 1988.
Com relação à estabilidade da gestante, a alínea "b" do inciso II do art. 10 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias assegura à empregada gestante o direito à
estabilidade desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Relativamente à
62
Seguindo o entendimento dos tribunais de Santa Catarina e Rio Grande Do Sul, o TRT
do Paraná também garante a estabilidade da gestante até cinco meses após a gestação,
seguindo o entendimento da alínea "b" do inciso II do art. 10 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias conforme jurisprudência a seguir:
DESCONHECIMENTO DA GRAVIDEZ -ESTABILIDADE GESTANTE NÃO
AFASTADA - A intenção do constituinte, ao prever a estabilidade gestante (artigo
10, II, "b", do ADCT/CF), foi garantir à mulher a manutenção do seu emprego, nos
períodos mais delicados de sua vida. Por esta razão, seria inconcebível a sua
dispensa imotivada justamente nestes períodos, quando o salário assume, de fato,
sua imprescindibilidade. Entendimento em sentido contrário, data venia, fere o
Princípio da Dignidade Humana, insculpido no artigo 1º, III, da Carta Magna
Brasileira. Isto porque retira a possibilidade de subsistência da mãe e de seu filho
recém nascido, justamente nestes períodos críticos. Refuta-se, pois, qualquer
pretensão da recorrente em ver afastada a estabilidade, sob a justificativa de
desconhecimento da gravidez da autora, à época da dispensa sem justa causa.TRT-
PR-01001-2007-022-09-00-4-ACO-11125-2008 - 4A. TURMA Relator: SÉRGIO
MURILO RODRIGUES LEMOS Publicado no DJPR em 11-04-2008
63
Considerações Finais
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ZAINACHI, Domingos Sávio. Curso de Legislação Social: Direito do Trabalho. 10ª ed.
São Paulo: Editora Atlas, 2004.
69
Art. 1º Fica instituído o Programa Empresa Cidadã, destinado a prorrogar por sessenta
dias a duração da licença-maternidade prevista no art. 7º, XVIII, da Constituição Federal.
Art. 5º O Poder Executivo, com vistas ao cumprimento do disposto nos arts. 5º, II, 12
e 14 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, estimará o montante da
renúncia fiscal decorrente do disposto nesta Lei e o incluirá no demonstrativo a que se
refere o § 6º do art. 165 da Constituição, que acompanhará o projeto da lei orçamentária
cuja apresentação se der após decorridos sessenta dias da publicação desta Lei.
Art. 6º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a
partir do primeiro dia do exercício subseqüente àquele em que for implementado o
disposto no artigo anterior.
JUSTIFICAÇÃO
Ora, o processo biológico natural, ideal, embora não único, para a construção dessa
ligação afetiva intensa que se faz no primeiro ano de vida é o aleitamento materno. A
amamentação não se presta apenas a prover nutrição ao lactente. Permite o contato
físico com a mãe, a identificação recíproca entre mãe e filho, bem como o despertar de
respostas a estímulos sensoriais e emocionais, compartilhadas num continuum bio-
psicológico, que se configura como unidade afetiva incomparável. Por isso, e por
proposta brasileira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento
materno exclusivo durante os seis primeiros meses de vida. É a forma natural de
propiciar a plenitude do vínculo afetivo original que, na espécie humana, se faz, de
maneira insubstituível, nesse período. O princípio vale, inclusive, para mães
trabalhadoras que não conseguem, por qualquer razão, amamentar seus filhos. Mesmo
não lhes podendo alimentar com leite humano, podem garantir-lhes, com igual plenitude,
todos os demais estímulos essenciais ao estabelecimento do vínculo afetivo, desde que
estejam disponíveis para cuidarem dos filhos. Por isso, a Constituição, sabiamente, não
restringe a licença maternidade às mulheres que estejam amamentando.
O Poder Público tem se valido do caminho do incentivo fiscal para atrair empresas a
um nível elevado de compromissos sociais. Trata-se de solução justa e defensável numa
economia de mercado e numa sociedade democrática, cuja lógica deve ser a do
convencimento e não a da imposição.
Constata-se, pois, que, em vista dos imensos ganhos sociais da iniciativa, a relação
custo-benefício da proposta é claramente positiva, razão pela qual solicito o apoio dos
nobres parlamentares.