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GRADUAÇÃO EM DIREITO
SÃO PAULO
2021
JULIANA SOUZA DO NASCIMENTO
SÃO PAULO
2021
JULIANA SOUZA DO NASCIMENTO
O trabalho versa sobre o assédio moral sofrido pelo trabalhador em seu ambiente de
trabalho e o principal objetivo é desenvolver o tema assédio moral nas relações de emprego, é
despertar a classe patronal e conscientizar os trabalhadores sobre os efeitos danosos causados
pelo assédio moral no local de trabalho. O tema é pouco discutido e, na maioria das vezes, o
trabalhador assediado suporta em silêncio, situações extremamente vexatórias em razão de sua
necessidade de trabalho, compreendida como seu sustento e de sua família. Pretende-se
demonstrar o contexto do assédio moral na relação de emprego, os sujeitos dessa relação e
principalmente os poderes atribuídos aos empregadores, que por muitas vezes extrapolam seus
limites e causam a prática do assédio moral nas organizações de trabalho. Abordaremos também
o direito personalíssimo, que tem como elementos a personalidade do seu titular em seus
aspectos físico, moral e intelectual. Os direitos da personalidade nascem com a pessoa e a
acompanham durante toda sua trajetória na vida, tendo como objetivo à proteção das qualidades
e dos atributos essenciais da pessoa humana, de forma a salvaguardar sua dignidade e protegê-
la de agressões, cabendo ao Estado tutelar e sancionar juridicamente esse direito. Aponta-se a
classificação, natureza jurídica e principalmente o princípio da dignidade humana,
fundamento constitucional, sob o aspecto do trabalhador, e a agressão à dignidade ocorrida no
ambiente de trabalho. Depois de caracterizado o assédio moral sofrido pelo trabalhador, aborda-
se o dano moral decorrente desse assédio, sua natureza jurídica, caracterização, competência da
Justiça do Trabalho e a difícil tarefa do Juiz de Direito em fixar o valor decorrente dessa
indenização, que é a reparação pelo assédio sofrido; a ferramenta de resgate à dignidade do
empregado.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................9
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO....................................................................................................10
1.3 JUSTIFICATIVA..............................................................................................................11
1.4 METODOLOGIA.............................................................................................................12
2 ASSÉDIO MORAL GERAL............................................................................................13
3 ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO...............................................14
3.1 ELEMENTOS DEFINIDORES DO ASSÉDIO MORAL................................................15
3.2 SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO...................................................16
3.3 TIPOS DE ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO...........................................................17
3.4 CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O TRABALHADOR E PARA O
EMPREGADO ASSEDIANTE..............................................................................................19
3.5 CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA A EMPRESA..............................22
3.6 COMPORTAMENTOS QUE NÃO CARACTERIZAM ASSÉDIO MORAL...............24
4 NATUREZA JURÍDICA DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.......................27
4.1 CARACTERIZAÇÃO E PROVA DO DANO MORAL TRABALHISTA.....................28
4.2 DA RESPONSABILIDADE POR ATO ÍLICITO.........................................................30
4.3 DA REPARAÇÃO DO DANO E FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO..............................33
5 CONCLUSÃO....................................................................................................................35
REFERÊNCIAS....................................................................................................................37
ANEXOS................................................................................................................................39
DECLARAÇÃO DE VERACIDADE DE AUTORIA.......................................................46
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Art. Artigo
CC Código Civil
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
TST Tribunal Superior do Trabalho
TRT Tribunal Regional do Trabalho
CATEGORIAS
Assédio Moral: Assédio Moral é submeter alguém, sem trégua, a pequenos ataques
repetidos com insistência, cujos atos tem significado e deixam na vítima o sentimento de ter
sido maltratada, desprezada, humilhada, rejeitada. É uma questão de intencionalidade. A
forma de agir é perversa, desestabilizando e explorando psicologicamente a vítima. O
comportamento perverso é abusivo, é uma atitude de incivilidade.
Poder Diretivo: O poder diretivo revela-se pela natureza objetiva do vínculo, através do qual
o empregador conta de modo permanente, com a atividade e trabalho daquela pessoa que
participa da atividade da empresa. O poder diretivo não se detém, em sua qualificação
jurídica, apenas no comando, no controle, na coordenação e na organização dos fatores de
produção. Estende-se todos aqueles atos de previsão que, sobre o trabalho de outrem,
impliquem em garantia dos meios de manter-se a regular atividade do processo produtivo ou
da troca de bens e serviços. O limite, portanto, desse poder diretivo é a segurança na regular
marcha da atividade empresária. É o que se considera limite e que, em geral, coincide com
sua outra face, o limite jurídico.
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1 INTRODUÇÃO
O objetivo principal para apresentação deste projeto são inúmeros casos de assédio
moral sofrido por pessoas em nossa sociedade num modo geral, mas particularmente nos
últimos meses, onde vi casos acontecendo próximos a mim e isso fez com que eu me
interessasse bastante em discutir sobre o tema.
Sempre ouvia falar disso nos bastidores da vida real, mas quando isso começou a se
tornar comum, isso passou a me incomodar demais como ser humano, pois acho inaceitável e
porque não dizer inadmissível tais atitudes tão desrespeitosas com um trabalhador que está ali
desenvolvendo seu papel de maneira digna, correta e por uma simples implicância de seu gestor,
começa a ser perseguido, ou pior dizendo, serem perseguidos, pois não foram um, nem dois
casos que tive conhecimento e sim alguns, onde até houveram a demissão de colaboradores que
até então deveriam ter seus direitos respeitados em lei.
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1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
Este projeto de conclusão de curso tem por objetivo analisar o assédio moral no trabalho,
onde as relações sociais e hierárquicas são ocasionadas pela demonstração de poder, disputa de
mercado e cargos, afetando o dia a dia do trabalhador assediado dentro das grandes, médias e
pequenas empresas.
Casos de assédio moral vêm aumentando cada vez mais com o passar do tempo, sendo
grande fator causador de desconforto, traumas e ainda doenças que afastam os trabalhadores de
suas devidas funções, trazendo também danos ao empregador, podendo atingir a lucratividade
da empresa, além de grave violação da dignidade humana, que deveria ser mais respeitada.
Ante o exposto, pretende-se apresentar as consequências desse fato tão cruel com o
colaborador em suas funções no meio de trabalho, onde muitas vezes ignoram-se os sentimentos
humanos, trazendo inúmeros tipos de violência à pessoa.
Esta realidade favorece em transformar tal ambiente em um lugar hostil, ruim mesmo
de se estar todos os dias, por se tornar tenso, com o desrespeito ao trabalhador que deveria ter
o direito de um local digno e até tranquilo para realizar suas funções, onde começam a surgir
disputas entre colegas, formando-se um ambiente propício ao assédio moral.
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1.2 JUSTIFICATIVA
O Assédio Moral, é passível de reparação de Dano Moral, visto que, atinge a honra e a
dignidade do trabalhador, que na maioria dos casos, tem comprometido muito sua saúde física,
moral e por que não dizer até mental, afetando assim sua imagem perante o mercado de trabalho,
sua convivência familiar e seu meio social, que na maioria das vezes tem sua causa fundada
por seu patrão, chefe, empregador e alguns de seus subordinados que exerçam um cargo mais
alto dentro do ciclo de trabalho , gerando conflitos tão grandes e insustentáveis que o indivíduo
venha romper o contrato de trabalho.
O tema, está dentro da nossa realidade socioeconômica e jurídica, que deveria se
incumbir de garantir o direito de resposta do trabalhador contra os abusos sofridos por seu
empregador e prepostos.
É de extrema e relevante importância a necessidade que existe em se combater o Assédio
Moral no ambiente de trabalho, pois tal ato tão horrendo e inescrupuloso, compromete de
maneiras desastrosas e raras vezes até irreversíveis, a saúde mental, física, emocional e moral
do indivíduo.
Para que o Assédio Moral não ganhe espaço no ambiente de trabalho, o empregador
tem que ter a consciência e a boa vontade de saber que, ao ouvir seus empregados, esse ato não
é perda de tempo, e é de grande importância que haja um meio de comunicação entre
funcionário e patrão, pois o que eu vejo acontecendo em um caso típico de meu conhecimento
é que essa “comunicação” não existe nesta empresa, à qual me inspirei para realizar minha
conclusão de curso, onde os trabalhadores sofrem assédio moral com certa frequência e eles
não tem a possibilidade de chegar à quem realmente deveria ou poderia ouvi-los.
Manter uma relação amigável e harmoniosa com seus empregados, fará do local de
trabalho um ambiente agradável e sadio para ambas as partes, no qual contribuirá e muito no
desenvolvimento laboral.
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1.3 METODOLOGIA
O assédio moral é um dos problemas mais graves que o empregado enfrenta em seu
ambiente de trabalho e nos últimos anos vem crescendo como um fenômeno social, onde sua
importância no meio acadêmico e no meio profissional vem ganhando proporções nunca vista
antes. Salienta-se que a repercussão do assédio moral no mundo jurídico, é um problema que
vem crescendo, mesmo em países de primeiro mundo.
Acredita-se que o assédio moral se resume a ameaças, situações vexatórias, insultos,
gritos e outros tipos de constrangimento. Há as sobrecargas de tarefas, cobranças de metas
excessivas, instruções imprecisas e distorcidas para a execução do trabalho, isolamento do
funcionário e até mesmo restrições quanto ao uso do banheiro, podem ser consideradas assédio
moral.
Geralmente, para que seja reconhecido o assédio moral, é necessário que a conduta seja
repetitiva, sendo como uma espécie de perseguição, onde tal situação deva ser praticada mais
de uma vez pelo assediador. Sendo assim, é necessário avaliar cada caso com cautela.
Sempre com o intuito de perseguir, inferiorizar, constranger, isolar, diminuir, humilhar,
causando um abalo físico ou psicológico no empregado, há grande chance de se caracterizar
assédio moral, ainda que a conduta não seja tão frequente.
Como por exemplo, aquela chefe que expõe em público, sua funcionária, dando à ela
um prêmio de “pior funcionário do mês”, ou então, um outro funcionário de mesma importância
na função, que coloca apelido maldoso, expondo um problema particular no outro colega de
trabalho, por exemplo, são situações que podem caracterizar o assédio moral.
Infelizmente, a criatividade dos assediadores geralmente, ultrapassam esses pequenos
exemplos acima citados, dificultando assim a configuração ou não do assédio moral.
Engana-se que a situação de assédio moral só ocorra entre superiores e subordinados.
Infelizmente esse tipo de assédio também pode acontecer entre colegas de trabalho e até mesmo
entre os subordinados contra seus superiores.
O assédio moral não é peculiar somente à hierarquia não, mas sim à dignidade do
trabalhador, pois qualquer conduta sucessiva que fira a dignidade do trabalhador, mesmo sendo
praticada por funcionário de mesma hierarquia, pode ser considerado assédio moral.
Para que seja reconhecido o assédio moral, além da prática ser frequente, é necessário
que exista a humilhação, o constrangimento ou mesmo a inferiorização do funcionário. Como
por exemplo dar instruções erradas com o objetivo de prejudicar o funcionário, mudar suas
metas de vendas na última semana do mês, não passar tarefas corretamente, expô-lo
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As vítimas de assédio moral, na maioria das vezes não são pessoas frágeis ou
vulneráveis, a maioria são notadas pelo agressor como aquelas que ameaçam o seu poder. Essas
pessoas podem ser aquelas que reagem ao autoritarismo do agressor ou até serem aquelas que
se recusam a submeter-se a ele. As vítimas geralmente são aquelas que já sofrem discriminação
social em algum outro momento de suas vidas, tais como mulheres, homossexuais, pessoas com
deficiências, idosos, minorias étnicas, entre outros.
No assédio moral interpessoal, o propósito está em prejudicar ou retirar o trabalhador
da relação laboral com os outros, já no assédio moral organizacional o objetivo é atingir o
trabalhador por meio de estratégias organizacionais de constrangimento com o objetivo de
melhorar a produtividade e reforçar o controle.
O assédio moral organizacional, em alguns casos, acontece com o intuito de que o
trabalhador indesejável peça sua demissão, evitando assim custos à organização (como não
pagar multas rescisórias). Esse tipo de assédio acontece por meio de práticas abusivas, como
cobranças exageradas, extremas e persistentes ou colocando o número de metas abusivas e
crescentes por parte de gestores ou representantes da organização, com o intuito de alcançar
objetivos organizacionais.
Além dos sujeitos como elementos do assédio moral existe a conduta abusiva, onde a
concepção se refere ao abuso de direito como ato ilícito, na forma promulgada pelo art. 187
do C.C. Podendo ser direcionada sob qualquer conduta imprópria que se manifeste através
de comportamentos, palavras e atos, capaz de ofender a personalidade e dignidade, com
prejuízos à integridade física e psíquica do empregado, criando condições de trabalho
desgastantes, tornando o ambiente de trabalho ruim, além de colocar em perigo o emprego.
Uma vez estabelecido o conceito do assédio moral e os seus elementos, vê-se então a
necessidade de verifica-se as figuras que integram essa relação negativa e prejudicial. O
assédio moral no meio das relações de emprego abrange diferentes formas. Para verificação
da sua ocorrência e consequente responsabilização pela sua prática é preciso identificar-se
antes de mais nada os sujeitos envolvidos nesse processo.
É o tipo de assédio moral mais comum nas empresas, quando o assédio é praticado
por um trabalhador hierarquicamente superior ao empregado assediado.
Quando um gestor de uma equipe em home center, materiais de construção, cobra
metas de vendas de seus promotores de pisos e, para isso, os coloca em situações vexatórias,
fazendo com que façam dancinhas, usem algum tipo de fantasia e com isso passem muita
vergonha, visto que, precisem agir desta forma por imposição de sua supervisora, até
apelidando-os com codinomes pejorativos, etc.
Este tipo de assédio acontece entre funcionários que ocupam a mesma posição
hierárquica dentro da empresa.
Vê-se essa situação, quando um funcionário bate suas metas e debocha com ironia do
outro que não conseguiu cumpri-las. Frequentemente acontece no dia a dia das empresas que
geram grande competitividade entre seus funcionários.
Por fim, conclui-se que as doenças desencadeadas pelo exercício do trabalho são
doenças profissionais.
E quanto as consequências do assédio moral para o empregado assediante, a principal
consequência é a dispensa por justa causa. Alkimin comenta que “é relevante ponderar que o
superior hierárquico, ou seja, o chefe, supervisor, gerente etc., que pratica assédio moral
também poderá sofrer as consequências do poder disciplinar do empregador, em especial, ter o
contrato de trabalho rescindido com enquadramento em uma das justas causas previstas no
art.482 da CLT e respectivos incs. ‘b’, ‘j’e ‘k’.” Veja-se
_______________________
Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das conseqüências mais marcantes do estresse
profissional, e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade
com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional). O termo Burnout é uma composição de
burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e
emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço.
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Verifica-se que o agressor atinge seu objetivo quando consegue excluir a vítima das
suas funções laborais, mas infelizmente, não é apenado com uma tipificação legal específica,
restando-lhe apenas o enquadramento na demissão por justa causa e algumas configurações de
crime, conforme apontamos abaixo.
Passa-se a analisar as consequências da conduta do empregado assediador, no âmbito
penal, pois, não há tipo penal específico no ordenamento jurídico que regulamente a prática do
assédio moral, o que há, são Projetos de Lei Federal, que visam tipificar criminalmente o
assédio moral no ambiente de trabalho.
O Projeto de Lei Federal n.5.971/2001 altera dispositivos do Código Penal incluindo a
alínea A ao art.203, e tipifica a coação moral como crime, veja-se:
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
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2
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena – detenção, de 3(três) meses
a 1 (um) ano, e multa.
3
Art.140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena – detenção, de 1 (um) a 6(seis) meses,
ou multa.
4
Art.136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância,para fim de
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena –
detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.
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moral. Destaca-se que as indenizações por danos materiais e morais dependem da comprovação
do fato ocorrido, do prejuízo e da relação de causalidade entre eles.
Os inconvenientes de ordem social são aqueles que atingem a sociedade como um todo,
quando o Estado passa a arcar com as despesas hospitalares (após os primeiros quinze dias
de afastamento do trabalhador), indenizações de seguro - desemprego, aposentadoria
antecipada, pagamento de pensões, enfim todos os benefícios pagos pela previdência social,
assegurados ao trabalhador adoecido.
A) O Estresse
O estresse gerado por pressões e excesso de trabalho, cita a autora, pode levar a um
esgotamento, como a Sindrome de Burnout ou ao desenvolvimento de outras patologias, mas
somente se caracterizará como assédio moral caso se desencadeie em razão de um processo
repetido de violência psicológica.
B) O Conflito
Marie France Hirigoyen (2002, p.25) afirma que o psicoterror pode nascer de uma
situação ou de uma relação conflituosa, mas, quando se instala, nega o confronto, foge o
embate aberto, torna-se invisível a uma observação isolada, pois “ se existe assédio moral,
é justamente porque nenhum conflito pôde ser estabelecido”.
Assim, o conflito não se confunde com o assédio moral, mas pode se desenvolver a
partir dele.
Também reconhece-se que o conflito não se revela necessariamente um mal, e pode
até oferecer saudável contribuição, caso permita ao indivíduo transformar o seu meio e
renovar o próprio trabalho. O que caracteriza então um conflito é a escala simétrica, uma
igualdade teórica entre os protagonistas. Aceitando o conflito, reconhece-se a existência
do outro como interlocutor e o pertencimento a um mesmo sistema de referência. No conflito
se fala, revela-se o motivo, não existe o não dito, estabelecem-se o choque, a oposição, a
resistência.
C) Técnicas de Gestão
D) Agressões Isoladas
Ações isoladas não bastam para configurar o assédio moral, a doutrina e jurisprudência
são pacíficas nesse sentido.
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Nas relações humanas, pequenas agressões, desde que isoladas, não se caracterizam
como situação de assédio moral, mesmo que se manifestem como uma forma de violência, o
que significa que repreender, insultar ou agredir verbalmente alguém pode ser fruto de uma
reação ou de um impulso, configurando, no máximo, ausência de civilidade e de urbanidade.
E) Assédio Sexual
F) Dano Moral
H) Abuso de Poder
A prática do assédio moral pressupõe o abuso de poder, mas somente quando a conduta
assediante é continuada e sistemática, só desta forma que o assédio moral se configura.
O poder atua, como um elemento essencial para a caracterização do assédio moral, que
permite facilmente, quando presente, a sua configuração.
Portanto, não são todas as ações praticadas pelo empregador que caracterizam a prática
do assédio moral, podendo também o empregador estar sujeito ao assédio moral por parte do
empregado, mas verifica-se que neste caso, se dá em raras situações.
Nota-se que não é qualquer alegação de dor da vítima ou ofensa sofrida, ou ocorrência
de efetivo prejuízo extrapatrimonial, que caracteriza a existência do dano moral. Só haverá
responsabilidade do empregador se houver dano a ser reparado, sendo necessária a presença de
elementos fundamentais para a configuração da responsabilidade civil pelo ofensor, tais como:
o dano efetivamente sofrido; a culpa do empregador e o nexo de causalidade existente entre o
efeito danoso e o ato, quer seja culposo ou doloso.
Segundo a maioria dos doutrinadores, o dano moral sofrido pelo empregado pode
ocorrer nas fases pré-contratual, contratual, de extinção do contrato e pós-contratual.
Mas, não é consenso entre os doutrinadores a existência de dano moral na fase pré-
contratual, ou seja, aquela que antecede a efetiva contratação, pois naquele período de tempo,
as partes contratantes negociam livremente as cláusulas e condições do contrato de trabalho que
pretendem formalizar, ainda não se configurou a existência da figura do empregado e
empregador.
Para outros doutrinadores, este é o momento inicial das conversações entre o
empregador e o empregado, que antecede à assinatura do contrato, assim, a ausência de
consumação do contrato de trabalho não pode servir de excludente à reparação do dano moral
trabalhista, que por ventura venha a ocorrer, como por exemplo, o fato da promessa de emprego,
que não foi efetivada, causando prejuízo ao bem extrapatrimonial do candidato ao trabalho.
Na fase contratual, ou seja, na fase de execução do contrato, se dá o dano moral quando
o empregador deixa de cumprir certas obrigações oriundas do contrato de trabalho firmado
entre as partes.
Também é possível configurar o dano moral praticado pelo empregado contra a pessoa
do empregador ou contra a empresa, é o caso do empregado que divulga informações da
empresa e que compromete sua imagem, como por exemplo; dizer que a empresa não paga
os salários em dia, dizer que a empresa não cumpre os contratos firmados com seus
fornecedores; ou que o empregador é impiedoso, desumano e cruel.
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O agente da relação empregatícia que pratica o assédio moral, não está sujeito apenas à
reparação pelo dano moral causado a vítima, mas também o Direito Civil Brasileiro pune o ato
ilícito praticado pelo agressor/assediador, no âmbito da responsabilidade civil, quando em seus
arts.186, 187 e art.927, prescrevem a conduta ilícita, assim dispondo
Art.927- Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo. Parágrafo único: haverá obrigação de reparar o dano
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem. (ALKIMIN, 2005, p. 117)
Venosa (2003. p.22) define atos ilícitos como “são os que promanam direta ou indiretamente
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No mesmo sentido a Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal, que tem a seguinte
redação: “é presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou
preposto”.
Maria Helena Diniz (2005, p.535) comenta que os arts. 932 e 933 do Código Civil,
estabelecem a idéia de responsabilidade civil objetiva por fato de outrem, no caso, a
responsabilidade do empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos
no exercício do trabalho que lhes competir ou por ocasião dele (art.932,III). E a autora
preceitua que “na responsabilidade por fato alheio alguém responderá, indiretamente, por
prejuízo resultante da prática de um ato ilícito po routra pessoa, em razão de se encontrar
ligado a ela, por disposição legal. Há dois agentes, portanto: o causador do dano e o
responsável pela indenização”.
Conclui-se que o Direito responsabiliza o empregador por ato ilícito e pelos prejuízos
causados a terceiros, praticados pelo empregado/preposto/serviçal, mesmo que o empregador
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não tenha concorrido com culpa. Observando três requisitos: a) culpa do empregado que esta
sob o poder de comando do empregador; b) relação de emprego e consequentemente o vínculo
de subordinação; c) que o ato ilícito, doloso ou culposo, seja praticado no exercício dafunção
laboral, ou por ocasião dela. (DINIZ, 2005) p.525.
Na legislação civil quanto trabalhista não existem regras para a indenização resultante
de assédio moral, a vítima busca no desempenho de seu trabalho uma realização pessoal e
profissional, então, a fixação do montante indenizatório se torna um fator difícil, tanto para a
avaliação do dano moral no Direito do Trabalho, como no Direito Civil. Adotou-se assim a
teoria da culpa ou teoria subjetiva, como elemento caracterizador da responsabilidade civil.
A legislação elegeu o arbitramento judicial como forma de liquidação da compensação
por danos morais. Esse arbitramento judicial tem por finalidade a reconstituição do patrimônio
do lesado, tanto quanto possível, ao seu estado anterior, e a condenação seja como um inibidor
de novas práticas lesivas.
O dano moral é também consagrado como garantia constitucional, conforme prescreve
o art.5º, incisos V e X, da Constituição Federal:
O juiz tem o livre-arbítrio para fixar a indenização, de acordo com o grau da culpa,
atendendo ao disposto no diploma civil, devendo verificar os pressupostos da ação, ou seja, o
ato ilícito decorrente de ação ou omissão do agente causador do dano. Os pressupostos para
configuração do dano moral; ato ilícito, dolo ou culpa do agente, nexo de causalidade entre o
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ato lesivo praticado e o dano decorrente. Inclusive responderá o empregador por fato de
terceiro, independente de culpa.
Para fixar o valor da indenização o magistrado levará em conta as circunstâncias em que
ocorreram os fatos concretos, observados: a intensidade da dor sofrida pela vítima; a gravidade
da natureza da lesão; antecedentes do agente causador do dano; a condição econômica do
ofensor e do ofendido; a possibilidade de retratação; o tempo de serviço prestado pelo
funcionário à empresa; a intensidade do dolo e o grau da culpa; o cargo e a posição hierárquica
ocupada na empresa; permanência temporal dos efeitos do dano. Tais indicativos não são
determinantes, pertencendo ao Juiz fixar a compensação pecuniária justa e mais adequada à
lesão sofrida pela vítima.
Luiz de Pinho Pedreira da Silva cita as regras sugeridas por Maria Helena Diniz para
que o órgão judicante atinja homogeneidade pecuniária na avaliação do dano moral.
assédio moral sofrido pelo empregado, poderá gerar indenização por dano moral e dano
material, pois, além de atingir a integridade, a dignidade e a personalidade da vítima também
pode reduz-ila à condição de desemprego, bem como onerá-lo com despesas e tratamentos
médicos, psicológicos e remédios, nos termos do Art.949 do Código Civil que dispõe:
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego. Curitiba: Juruá, 2005.
ALMEIDA, Amador Paes De. Curso Prático de Processo do Trabalho. 23. ed. rev. e atual. São
CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
FELKER, Reginald Delmar Hintz. O dano moral, o assédio moral e o assédio sexual nas
relações de trabalho: doutrina, jurisprudência e legislação. 2. ed. São Paulo: Ltr: 2007. p. 172.
FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho. Campinas:
GIGLIO, Wagner D. Corrêa; VELTRI, Cláudia Giglio. Direito Processual do Trabalho. 16. ed.
Saraiva, 2002.
SILVA, Luiz de Pinho Pedreira da. A reparação do dano moral no direito do trabalho. São
SILVA, Oscar Gomes da. Assédio Moral no Trabalho: Uma Conduta Perversa. Rio de Janeiro:
THOME, Candy Florêncio. O assédio moral nas relações de emprego. São Paulo: Russell
Editores. 2004.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003,
p. 22.
VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de emprego: estrutura legal e supostos. São
https://ww2.trt2.jus.br
https://www.tst.jus.br
https://trt15.jus.br
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ANEXOS
JURISPRUDÊNCIAS
RECURSO ORDINÁRIO
PROCESSO nº 0011551-17.2016.5.15.0052 RO
MORAL. CABIMENTO.
Apurado que a execução dos serviços contribuiu para o agravamento da doença adquirida pelo
empregado, assim como a culpa no evento danoso, uma vez que não foram tomadas as medidas
(R$8.000,00) razoável aos danos suportados pelas trabalhadora, de forma que a indenização
também sirva como um desestímulo para novas práticas por parte da ré, visando ainda a adoção
de medidas preventivas e de atendimento aos trabalhadores que denunciam este tipo de
agressão, para que não mais ocorra tanto este tipo de tratamento desrespeitoso com nenhum
outro trabalhador, bem como sejam tomadas medidas efetivas quando da denúncia de tais fatos.
Apelo da ré a que se nega provimento.
JURISPRUDÊNCIA TST
Processo: Ag-AIRR - 225-52.2014.5.05.0038
Órgão Judicante: 1ª Turma
Relator: Luiz José Dezena da Silva
Julgamento: 22/09/2021
Publicação: 27/09/2021
Tipo de Documento: EMENTA
JURISPRUDÊNCIA TST
Processo: RR - 1085-50.2012.5.04.0103
Órgão Judicante: 7ª Turma
Relator: Renato de Lacerda Paiva
Julgamento: 08/09/2021
Publicação: 17/09/2021
Tipo de Documento: EMENTA
944 do Código Civil. O quantum indenizatório tem um duplo caráter, ou seja, satisfativo-
punitivo. Satisfativo, porque visa a compensar o sofrimento da vítima, e punitivo, porque visa
a desestimular a prática de atos lesivos à honra, à imagem das pessoas. Dessa forma, o valor
deferido a título de indenização por dano moral, de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) , não se
afigura desarrazoado, tampouco exorbitante, visto que o Tribunal Regional levou em
consideração a extensão do dano, o porte econômico da reclamada e o caráter pedagógico da
pena, além de observar os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Recurso de
revista não conhecido. HONORÁRIOS DE ADVOGADOS SUCUMBÊNCIAIS -
INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ANTERIOR À LEI Nº 13.467/2017. Conforme a Súmula
219, I, do TST, na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios
não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte, concomitantemente: a) estar
assistida por sindicato da categoria profissional; b) comprovar a percepção de salário inferior
ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita
demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família (art.14, § 1º, da Lei nº
5.584/1970). No caso dos autos, o Tribunal Regional deferiu honorários de advogado no
importe de 15% sobre o valor da condenação, embora o reclamante não esteja assistido por
sindicato da categoria profissional. Recurso de revista conhecido e provido.
JURISPRUDÊNCIA TST
Processo: AIRR - 1857-32.2012.5.06.0014
Órgão Judicante: 7ª Turma
Relator: Renato de Lacerda Paiva
Julgamento: 01/09/2021
Publicação: 09/10/2021
Tipo de Documento: EMENTA