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GOIÂNIA
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2014
WANDERSON JACOMINI DA SILVA
GOIÂNIA
2014
WANDERSON JACOMINI DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
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Orientador: Prof. Donaldo Messias Rodrigues nota
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................2
CONCLUSÃO....................................................................................................2
REFERÊNCIAS.................................................................................................2
ANEXOS............................................................................................................. 2
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INTRODUÇÃO
levando-as a crer que o genitor alienado não contempla nenhum sentimento de amor
por seus próprios filhos.
Juristas, psicólogos e assistentes sociais estão se adaptando à Síndrome
da Alienação Parental e procurando formas de evitar que a criança sofra. Como dito
por Jordão (2008, p. 3) a investigação da suspeita de alienação parental é complexa
e o processo lento, fazendo com que, em muitos casos, a criança permaneça anos
afastada do pai de modo que este afastamento acaba por representar tempo
suficiente para que os vínculos sejam quebrados.
Assim, ao afetar a convivência familiar sadia entre o filho e o genitor
alienado, através de violência emocional ou física, o alienante fere a dignidade
humana da criança, como ser humano em peculiar condição de desenvolvimento,
alterando-lhe a identidade pessoal (PINTO, 2011, p. 3).
Tal conduta sempre existiu, no entanto, nunca foi objeto de tanta atenção
pela sociedade que hoje clama por normatização de todas as situações que
degradam ou de alguma forma enfraquecem os direitos dos indivíduos, sejam elas
crianças, adolescentes, adultos ou idosos (BRITO, 2011, p. 273).
Crianças vítimas da alienação estão mais susceptíveis a problemas
psicológicos tais como depressão, ansiedade e pânico. Além disso, podem vir a
apresentar vícios relacionados a drogas e álcool. Apresentam baixa autoestima e em
casos mais graves podem até mesmo tentar cometer suicídio. Com tão graves
consequências, cabe ao poder judiciário evitar ou trabalhar para a reversão desse
delicado distúrbio familiar, que vitimiza de forma cruel tanto o menor quanto o genitor
privado de seu convívio e afeto.
Para que isso seja possível, é fundamental que os operadores do Direito
conheçam a fundo as nuances que envolvem esse delicado drama familiar, de modo
que os atores envolvidos possam contribuir de forma rápida e eficiente para mitigar
os efeitos psicológicos dessa prática nas crianças e adolescentes envolvidos, bem
como auxiliar na restituição do poder familiar ao cônjuge alienado, privado do
convívio com os filhos, de forma injusta e arbitrária.
E é nesse momento familiar que surgem vários desafios para o poder
judiciário, a quem é atribuída a missão de solucionar e dar respostas plausíveis às
novas necessidades do núcleo da sociedade, a família. Neste cenário, faz-se
necessária a efetiva aplicação da Lei de Alienação Parental, bem como a criação de
mecanismos e estruturas Estatais eficientes não só para conter a Alienação
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Além disso, a partir do novo Código Civil, não existe mais a regra de que
a guarda dos filhos, em caso de dissolução da vida conjugal, ficará com o cônjuge
que não deu causa à separação. Em regra, a definição caberá aos pais, e, no caso
de inexistência de acordo, a mesma será atribuída a quem revelar melhores
condições para exercê-la.
A Emenda Constitucional 66/2010 deu nova redação ao art. 226, § 6º da
Constituição Federal de 1988, de modo que a partir dela qualquer dos cônjuges
pode buscar o divórcio, a qualquer tempo, sem precisar apresentar causas ou
motivos. Anteriormente, a separação, ainda que consensual, só podia ser obtida
depois de um ano do casamento e a separação litigiosa dependia da identificação de
“culpados”, cabendo apenas ao cônjuge que não deu causa à mesma a legitimidade
para ingressar com a ação.
sexo etc. Tal foi a transformação porque passaram as estruturas familiares que se
faz necessário buscar um novo conceito de família que albergue todas as novas
formas de convívio que as pessoas encontraram para alcançar a tão almejada
felicidade.
Diante de tantas mudanças na sociedade e nas leis que a regem,
observa-se que hoje a família finca-se em princípios distintos daqueles sobre os
quais repousos em tempos idos, não mais se estabelecendo por questões políticas,
econômicas ou religiosas. Revela-se como lócus de amparo e solidariedade, onde
seus membros comprometem-se mutuamente com a formação e desenvolvimento
sadios de suas personalidades e com respeito à dignidade de cada integrante
(SOUZA, 2009, p. 01). A nova roupagem do Direito de Família transcorre do
livramento das amarras do liberalismo e da patrimonialização das relações sociais,
permitindo que os interesses puramente individuais passassem a se submeter a
outros valores (BARRETO, 2012, p. 10).
A Lei do Divórcio e a Constituição Federal de 1988 trouxeram grandes
mudanças, como a dessacralização do casamento e reconhecimento de outras
entidades diversas daquelas constituídas pelo matrimônio. Adicionalmente, a cada
ano o país vem registrando um número maior de separações e divórcios, fato que
reflete o anseio da sociedade pela liberdade na formação de seus afetos (SOUZA,
2009, p. 01). Assim, o conceito de família restou flexibilizado, indicando que seu
elemento formador precípuo é, antes mesmo do que qualquer fator genético e como
já dito, o afeto. Percebe-se, portanto, que houve uma mudança de uma relação
econômico contratual para uma relação marcada pelo afeto, a cooperação e respeito
à dignidade de cada um dos membros.
Mesmo as restrições à paternidade dos homossexuais onde existia
barreiras enormes, foram revistas. Eles trouxeram para a cena moderna mais um
conceito de família, a homo parental, graças à adoção e à fertilização in vitro.
Como dito por Pereira (2003, p. 04) o momento atual ainda é de transição
e adaptação, de modo que as pessoas estão experimentando situações para as
quais não existem referências de como agir, o que dizer ou o que esperar.
próximo com os filhos, quando a guarda deles fica com a mãe, precisa desenvolver
tarefas que antes eram atribuições exclusivas da mãe. Percebe-se então, que uma
das funções mais importantes do pai divorciado é fortalecer o vínculo parental,
mantendo uma relação afetiva, íntima e segura com seus filhos. Isso, num contexto
de conflito com o ex-cônjuge, constitui muitas vezes um desafio difícil de suplantar.
A vulnerabilidade psicológica de crianças e adolescentes, ao conviver
com o processo de separação conjugal, tem sido pesquisada em estudos
transversais e horizontais realizados ao longo de dez anos. Esses estudos revelam
que crianças menores têm menos dificuldade em se ajustar às regras familiares
estabelecidas pós-divórcio, enquanto que filhos adolescentes e jovens adultos vivem
conflitos envolvendo lealdade e raiva em relação ao progenitor, principalmente o pai,
mesmo que este não tenha sido responsável pelo início da separação (SCHABBEL,
2005, p. 03).
Hoje, reconhece-se que as consequências negativas para os filhos
originam-se não da separação em si, mas das situações de conflito e tensão
advindas dela. Portanto, a extensão dos prejuízos na criança dependerão da
frequência, intensidade e conteúdo dos conflitos entre seus pais, bem como a forma
escolhida para sanar estas questões.
Em separações conflituosas pode-se observar a chamada triangulação
dos filhos, que assumem compromissos com ambos os genitores em uma
perspectiva perversa de vinculação, pois quando se agrada a um genitor, está
desagradando ao outro, e vice-versa. (BOSZORMENYI-NAGY, 2003 apud
BARBOSA 2013, p. 41).
Sob a ótica de Silva (2003, p. 113), por estar sob forte pressão emocional,
os casais que chegam aos litígios da Vara de Família e Sucessões não tendem a
resolver seus conflitos de forma a resguardar seus filhos. Souza (2009, p. 02)
completa dizendo que é comum os pais abandonarem psicologicamente seus filhos
no momento da separação lançando-os à própria sorte muito envolvidos que ficam
com suas contendas pessoais. O embate parental acaba por engolir os filhos do
casal, tal qual uma fagocitose perversa, aos poucos tomando para si a infância
daqueles meninos.
Além de evitar expor os filhos aos conflitos decorrentes da separação
conjugal, cabe aos pais garantir a eles a convivência com ambos os genitores, visto
que tal convívio faz-se essencial para a formação sadia da personalidade dos filhos.
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Afastada de um dos pais, a criança fica confusa e acaba por perder o valor simbólico
da imagem daquele genitor, geralmente a paterna (DOLTO, 1989, p. 23).
De acordo com Heavey (1994, p. 221), quando os casais não conseguem
encontrar soluções satisfatórias para lidar com situações conflituosas, os conflitos
mal resolvidos geram frustrações e raiva, criando um ciclo em que a discórdia se
torna cada vez mais frequente e hostil. Neste contexto, independente do tipo de
guarda definido após a separação, seja compartilhada, partida ou simples, muitos
pais acabam não aceitando essas condições e, por vingança, passam a programar a
criança para que odeie o outro cônjuge. Geralmente essa campanha denegritória é
realizada pelo cônjuge que possui a guarda do filho e gera consequências nefastas,
sobretudo para a criança envolvida.
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questões financeiras como o fato de o genitor alienante não se sentir satisfeito com
as condições econômicas advindas após o divórcio; um desejo de vingança –
quando a separação foi causada por adultério do ex-cônjuge; superproteção, pois
acredita essa mãe alienadora ser a única pessoa capaz de cuidar de seu(s) filho(s);
desejo de posse exclusiva sobre o(s) filho(s) e ódio que o genitor alienante nutre
pelo ex- cônjuge; até questões como depressão e/ou solidão, que se instalam no
alienante após o rompimento do vínculo conjugal, o que o leva a se apegar
excessivamente ao(s) filho(s), objetivando excluir o outro genitor da vida da(s)
criança(s), além de se colocar como vítima do outro genitor, por exemplo, dentre
vários fatores (PINHO, 2011, p. 137).
mau”; já o genitor alienante é visto aos olhos da criança como “totalmente bom”.
(GARDNER, 1985, p. 2).
A origem da SAP está ligada à intensificação das estruturas de
convivência familiar, o que fez surgir, em consequência, maior aproximação dos pais
com os filhos. Assim, quando da separação dos genitores, passou a haver entre eles
uma disputa pela guarda dos filhos, algo impensável a algum tempo atrás (DIAS,
2008, p. 11). A síndrome na maioria se manifesta no ambiente da mãe, que na maior
parte das vezes detém a guarda dos filhos, pois necessariamente depende de um
longo período de tempo para sua instalação (GOMES, 2013, p. 31).
O detentor da guarda, ao destruir a relação do filho com o outro, assume
controle total. Tornam-se unos, inseparáveis. O pai passa ser considerado um
invasor, um intruso a ser afastado a qualquer preço. Este conjunto de manobras
confere prazer ao alienador em sua trajetória de promover a destruição do antigo
parceiro (DIAS, 2008, p. 12).
Em alguns casos, nem mesmo a mãe distingue mais a verdade da
mentira e a sua verdade passa a ser realidade para o filho, que vive com
personagens fantasiosos de uma existência aleivosa, implantando-se, assim, falsas
memórias, daí a nomenclatura alternativa de “Teoria da implantação de falsas
memórias”.
Segundo Gardner (2002, p. 4) a Síndrome da Alienação Parental é
caracterizada por um grupo de sintomas que geralmente aparecem juntos,
especialmente nos casos moderados e severos. Nos casos leves pode-se não se
ver todos os oito sintomas, que incluem:
1. Campanha denegritória contra o genitor alienado.
2. Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação.
3. Falta de ambivalência.
4. O fenômeno do “pensador independente”.
5. Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental.
6. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor.
7. A presença de encenações encomendadas.
8. Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor
alienado.
Essa consistência resulta em que as crianças com SAP assemelhem-se
umas às outras. É por essas razões que Gardner defende que a SAP é certamente
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uma síndrome, pela melhor definição médica do termo. No entanto, este conceito,
embora criado na década de 80, não está incluído nas listas mais recentes de
classificações de transtornos mentais (CID e DSM) e não há indicação que passe a
constar nas próximas.
Castro (2013, p. 48) chama atenção para o lugar paradoxal ocupado pela
criança no modelo proposto por Gardner, uma vez que o infante é passivo por ter
sido completamente manipulado, perdendo sua subjetividade original e assumindo
uma nova subjetividade, agora baseada em falsos aspectos da relação original com
o genitor alienado. Em contrapartida, é ativa em sua inadequação e autônoma ao
defender a animosidade contra o genitor alienado criando pensamentos, memórias e
fatos novos, já não introduzidos pelo genitor alienador.
A alienação parental refere-se ao comportamento do genitor alienante que
objetiva retirar o outro genitor, definitivamente, da vida da criança ou do adolescente.
A Síndrome da Alienação Parental, por sua vez, refere-se à conduta do filho quando
este se recusa terminantemente a ter qualquer tipo de contato com o genitor
alienado, conduta esta advinda das consequências devastadoras no psiquismo do
infante alienado, ou seja, são as sequelas produzidas pela prática da alienação
parental.
Ressalte-se que são conceitos de utilização recente, que fogem do campo
estritamente jurídico e acorrem à interdisciplinaridade, o que os torna mais
susceptíveis aos equívocos e à necessidade de esclarecimentos a fim de que sejam
aplicados com segurança no âmbito judicial (CASTRO, 2013 p.14). Ao pesquisar a
literatura relativa a estes dois conceitos, percebe-se que diversos textos tratam-nos
como sinônimos ou até mesmo trazem uma mistura deles.
filhos são motivos suficientes para evitar que o conflito entre os pais se instale e se
propague (SOUZA, 2009, p. 1). Ou seja, apesar dos pais terem como dever garantir
uma convivência familiar saudável aos filhos, são eles que geralmente causam
grandes transtornos às crianças no momento em que há a dissolução conjugal
A Síndrome de Alienação Parental é uma condição capaz de produzir
diversas consequências nefastas, tanto em relação ao cônjuge alienado quanto ao
próprio alienador, mas certamente seus efeitos mais dramáticos recaem sobre os
filhos. Estes últimos devem ser tratados com mais cuidado nessa situação, pois as
sequelas que a síndrome deixa na criança pode segui-la durante toda a vida, e
acaba influenciando em seu desenvolvimento, pois para que a criança seja uma boa
mãe/pai de família, é necessário que ela tenha tido uma boa estrutura familiar.
Sem tratamento adequado podem ocorrer sequelas capazes de perdurar
para o resto da vida, pois a alienação implica comportamentos abusivos contra a
criança. Instaura vínculos patológicos, promove vivências contraditórias da relação
entre pai e mãe, cria imagens distorcidas da figura dos dois, gerando um olhar
destruidor e maligno sobre as relações amorosas em geral. Esses conflitos podem
aparecer na criança sob a forma de ansiedade, medo, insegurança, isolamento,
tristeza, depressão, hostilidade, desorganização mental, dificuldade escolar, baixa
tolerância à frustração, irritabilidade, enurese (descontrole urinário), transtorno de
identidade ou de imagem, sentimento de desespero, culpa, dupla personalidade,
inclinação ao álcool e às drogas; em casos mais extremos, a ideias ou
comportamentos suicidas (GERBASE, 2012, p. 12).
Um interessante documentário denominado “A morte inventada” está
disponível na internet e traz diversos depoimentos de pais e filhos que sofreram com
a alienação parental, além de opiniões de psicólogos, assistentes sociais, juízes e
desembargadores. Pelos depoimentos, percebe-se o profundo sofrimento incutido
nos filhos e nos pais privados por anos do convívio com estes. Fica clara também a
lentidão que caracteriza a análise judicial da maioria das situações, prolongando a
dor dos envolvidos.
Em seu depoimento, Rafaella relata o sofrimento decorrente dos 11 anos
em que ficou afastada do pai. Ela se emociona em diversos momentos e relata que
está tentando reconstruir essa relação com o auxílio da terapia. A mãe alienou a ela
e ao irmão Diego, denegrindo de forma insistente a imagem do pai deles. A menina
chegava a sentir-se culpada por se divertir nos passeios com o pai, pois se sentia
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traindo a mãe. Todo esse processo levou-a a sentir-se com um “buraco por dentro”,
que perdura na vida adulta.
A internet disponibiliza vasto material sobre o tema, inclusive depoimentos
reais, como os exemplos a seguir expostos no sítio: <http//g1.globo.com/brasil/
noticia/2010/08/crianças-são-usadas-pelos-pais-no-divordcio-dizem-juristas.html>.
Acessado em: 25 set. 2013.
Me separei e minha filha tinha dois anos. Desde então passei a ter
dificuldade de convívio com ela. Minha ex-mulher inventou um curso em
outro estado e a levou. Quando eu casei de novo, foi o estopim para ela
articular contra mim. Usou a parte mais sombria da alienação parental e me
acusou de ter ensinado a minha filha a se masturbar. Não teve receio de
expor a filha, foi a delegacia várias vezes. De repente recebi a denúncia que
ela fez e o juiz, em vez de determinar o afastamento, determinou visitas
monitoradas. O delegado apreendeu meu computador, viu vídeos meus com
a minha família e entendeu que aquilo não procedia. Ele me liberou. Em
julho houve uma sentença de que eu era inocente de acusação. Minha
sentença cita 24 jurisprudências de alienação parental (veterinário do Mato
Grosso).
Quando minha filha tinha 11 anos eu me separei do meu marido, que era
advogado. Ele acabou obtendo a guarda provisória da criança. Em pouco
tempo ela não me chamava mais de mãe, não queria mais me ver. Ele
trocou de cidade e no apartamento em que ela mora hoje, ela é
emancipada, tem 17 anos e mora sozinha, tem uma foto minha para o
porteiro não me deixar entrar. Ela cresceu e está estudando Direito. Está
começando a perceber que tem algo errado. Devido a esse problema,
passei a participar de discussões sobre alienação parental. A gente acaba
ouvindo casos horríveis. Tem pai que deixa a criança ficar decepcionada
com o outro. Fala que vai encontrar o pai no restaurante, mas não tem nada
combinado. A criança chega e não tem ninguém lá. É muita maldade.
(enfermeira do Rio de Janeiro).
A pedido de Luíza, brincamos de ‘mãe e filha’; onde ela era ‘minha mãe’ e
eu a ‘filha dela’, durante a brincadeira ela me dizia que eu (a filha) teria que
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ser uma filha boazinha, se não ela (a mãe) iria morrer e ‘eu iria morar com
uma família muito ruim. Seria a família do meu pai e que meu pai ia colocar
o dedinho na minha bundinha e no meu xixi.
Contudo, Grégore refere: 'Gosta de estar junto com a mãe e só não falei no
encontro anterior, porque tenho medo que o pai brigue e me surre. Também
revela: 'O pai diz pra nós não ir visitar a mãe e fala mal dela, diz que ela não
cuida direito, mas não é verdade'. Conta que no dia de visitar a mãe o pai
convida para passear, como ir no parque, e isso faz com eles fiquem
divididos, sem saber o que fazer. [...] Diz que a mãe não fala do pai, mas o
pai fala da mãe. Finaliza dizendo: 'Eu gosto dos dois, mas quero morar com
a mãe, ela é mais legal'.
por parte de sua mãe. Há, então, de forma concreta, um abuso da filha pela
requerida
fenômeno no Brasil.
Percebe-se que, mesmo antes da lei, nosso sistema jurídico já dispunha
de instrumentos suficientes para sancionar atos de alienação parental, que
abrangiam desde a previsão do abuso de direito como ato ilícito funcional até
medidas mais gravosas como a suspensão e destituição da autoridade parental.
3.2 POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA NOS CASOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL
pelo pai das crianças, a alegação era de que a mãe sofreria da Síndrome de
Alienação Parental – a causa de todas as denúncias da mãe, denegrindo a imagem
paterna.
Nenhuma das denúncias contra o pai foi comprovada, ao contrário dos
problemas psicológicos da mãe. Foi identificada pela perícia a Síndrome da
Alienação Parental na mãe das crianças. Além de implantar memórias falsas, como
a de violência e abuso sexual, ela se mudou repentinamente para o estado do Rio
de Janeiro depois da sentença que julgou improcedente uma ação que buscava
privar o pai do convívio dos filhos.
Sobre a questão da mudança de domicílio, o juízo goiano decidiu pela
observância ao artigo 87 do Código de Processo Civil, em detrimento do artigo 147,
inciso I, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). De acordo com o primeiro,
o processo ficaria em Goiânia, onde foi originalmente proposto. Se observado o
segundo, o processo deveria ser julgado em Paraíba do Sul, onde foi fixado o
domicílio da mãe.
O ministro relator do conflito na Segunda Seção, entendeu que as ações
da mãe contrariavam o princípio do melhor interesse das crianças, pois, mesmo com
separação ou divórcio, é importante manter um ambiente semelhante àquele a que a
criança estava acostumada. Ou seja, a permanência dela na mesma casa e na
mesma escola era recomendável. O ministro considerou correta a aplicação do CPC
pelo juízo goiano para resguardar o interesse das crianças, pois o outro
entendimento dificultaria o retorno delas ao pai – e também aos outros parentes
residentes em Goiânia, inclusive os avós maternos, importantes para elas.
Também no Estado de Goiás, com base no artigo 4º da Lei nº 12.318, a
juíza Alessandra Gontijo do Amaral, da Vara de Família, Sucessões e 3º Cível da
comarca de Luziânia, declarou, de ofício, o indício de ato de alienação parental
praticado pelo pai de um adolescente que tem privado o filho do convívio com a mãe
desde 2007, quando obteve sua guarda, impedindo-a de visitá-lo ou mesmo de ter
qualquer contato com o garoto. A partir dessa providência, a magistrada determinou
a instauração do processo em ação incidental e mandou, com urgência, abrir vista
dos autos, assim que formados, ao Ministério Público para posterior adoção das
medidas urgentes e necessárias relativas ao caso. A realização de perícia oficial
psicológica a ser feita por uma equipe psicossocial também foi determinada pela
Juíza, que estipulou um prazo de 30 dias para o seu cumprimento. Ao analisar o
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Os filhos não podem se estruturar enquanto sujeitos, uma vez que não
conseguem desejar além do desejo do alienador. Este, uma vez que não conseguiu
se diferenciar do filho alienado acredita, mesmo que inconscientemente, que pode
formar com ele uma díade perfeita. Desta forma a criança não se individualiza e com
isso não alcança o espaço do seu desejo. Enquanto objetos de posse e controle, os
filhos passam a agir de acordo com o que o alienador lhes “impõe” (ARAÚJO, 2010,
p 1).
Cabe salientar que o exercício de um direito, para que não haja abuso,
deve harmonizar-se com os valores sociais éticos e econômicos. O exercício do
Poder Familiar, portanto, deve ser exercido sempre visando o melhor interesse da
criança e do adolescente.
Conforme dispõe Gama (2008, p. 80):
á conduta do alienador, conhecer seus sentimentos também não é tarefa nada fácil,
praticamente impossível. Porém, existe um denominador comum, num entendimento
que prevalece o sentimento de ódio sobre o sentimento de amor, ou seja, o ódio
existe porque o amor ainda não prevalece.
O art. 2º, parágrafo único da Lei nº 12.318 traz alguns exemplos de
condutas alienadoras, a fim de nortear o julgador no momento de aplicação da lei,
quanto à necessidade e à forma de tutela que deve ser conferida ao menor alienado:
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de
desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar
contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa
denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar
ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o
domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares
deste ou com avós.
testes são úteis quando o avaliador quer avaliar a criança intelectualmente ou seu
desenvolvimento, ou ainda, sobre presença de desordens de pensamento. Por outro
lado, existem testes importantes para detectar psicopatogias ou desvios sexuais,
principalmente em pessoas acusadas de abuso: inventários de personalidade,
inventários de depressão, sessões livres e entrevistas semi dirigidas, ou seja,
instrumentos específicos são os mais adequados e utilizados para realizar um
diagnóstico diferencial entre as personalidades dos reais abusadores e abusados e
dos indivíduos falsamente acusados ou abusados.
Monteiro Filho (2008, p. 1) forneceu um interessante relato sobre sua
primeira experiência como perito:
Quando iniciei minha primeira perícia, nomeando pelo juiz, não imaginava
que estaria mergulhado em um amplo trabalho que me proporcionaria
profundos conhecimentos sobre crianças e suas famílias. O trabalho de
perícia é lento, de grande compromisso, por vezes muito sofrido, mas me
proporcionou grandes experiências nos anos em que a ele me dediquei.
Aceitei o desafio. Estava consciente da minha nova responsabilidade em
emitir um parecer que iria colaborar com uma decisão importante,
envolvendo o peso das fortes emoções de uma família desfeita e o futuro de
uma criança. Sabia que teria um trabalho árduo pela frente e que ele seria
demorado. Como tudo na área pediátrica, exigiria de mim muita empatia, um
profundo envolvimento com a criança e a família, todos em sofrimento. E,
finalmente, deveria elaborar um laudo com total isenção. Tinha de ouvir, no
mínimo, o pai e a mãe em separado; a criança, também, só e com cada um
dos pais, e sempre acompanhando todos os diálogos, olhares, emoções.
Além dessas entrevistas em meu consultório, iria visitar, com a criança, os
ambientes onde estavam vivendo sem pai, sua mãe e alguns parentes,
como os avós. Teria de entrevistar também os eventuais novos parceiros
dos pais, para sentir como eles e a criança se portavam, quando juntos.
Comecei meu trabalho, minha primeira perícia, mergulhando no drama de
uma família em conflito. Foram longos e exaustivos encontros que
mantivemos, mas qualquer dúvida tinha de ser desfeita antes de eu dar meu
parecer.
convivência familiar.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
decisão judicial.
Art. 9 ( VETADO)
Art. 10. (VETADO)
Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 26 de agosto de 2010; 189º da Independência e 122º da República.