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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE TRABALHO DE CURSO
MONOGRAFIA JURÍDICA

ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DESAFIOS DO PODER


JUDICIÁRIO

ORIENTANDO: WANDERSON JACOMINI DA SILVA


ORIENTADOR: PROF. DONALDO MESSIAS RODRIGUES

GOIÂNIA
1

2014
WANDERSON JACOMINI DA SILVA

ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DESAFIOS DO PODER


JUDICIÁRIO

Monografia Jurídica, apresentada a disciplina de


Trabalho de Curso II, do Departamento Ciências
Jurídicas, curso de Direito da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás–PUC GOIÁS.
Orientador: Prof. Donaldo Messias Rodrigues.
2

GOIÂNIA
2014
WANDERSON JACOMINI DA SILVA

ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DESAFIOS DO PODER


JUDICIÁRIO

Data da Defesa: ____ de Março de 2014.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ ___________
Orientador: Prof. Donaldo Messias Rodrigues nota

_______________________________________________________ ___________
3

Examinadora Convidada: Profª. Mercia Lisita nota

Dedico este trabalho a meus filhos Vithor


Jacomini de Souza e Davi Jacomini de Souza a
meus pais Wilson Borges da Silva e Odete
Jacomini da Silva, e por último mas não menos
importante, muito pelo contrário, a minha
amada e companheira de todas as horas; Ana
Helena de Mendonça que em todos os
momentos mostrou-se um ser humano de
raríssimos princípios e atitudes, demostrando
elevado espírito mesmo nos momentos mais
difíceis, onde requer um amor incondicional,
um verdadeiro exemplo a ser seguido, mulher
assim somente recitada na bíblia, que eleva
4

meu espírito e me faz um ser humano cada ver


melhor.
x

Agradeço primeiramente a Deus como o Grande


Criador do Universo, por ter realizado mais este sonho, de
me formar no curso de Direito com esta bolsa de estudos.
Irei sempre honrá-lo em minha em minha caminhada.
Agradeço ao meu professor Donaldo Messias Rodrigues
que é mais do que um professor ou um orientador mas
5

sim um verdadeiro mestre para a vida. E muito obrigado


pelas oportunidades de crescimento que tem me
proporcionado.
x

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................2

CAPÍTULO I – A EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA NO DIREITO


BRASILEIRO..................................................................................................... 2
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA............................................................2
1.2 CONCEITOS DA FAMÍLIA EM NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO...........2
1.3 AMPLIANDO O CONCEITO DE FAMÍLIA E QUEBRANDO PARADIGMAS...2
1.4 NOVAS PROBLEMÁTICAS FAMILIARES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO2

CAPÍTULO II – ALIENAÇÃO PARENTAL.................................................2


2.1 CONCEITO DE ALIENAÇÃO PARENTAL.......................................................2
2.2 CONCEITO DE SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL............................2
2.3 EFEITOS DA PRÁTICA DA ALIENAÇÃO PARENTAL....................................2

CAPÍTULO III – ANÁLISE DA LEI Nº 12.318 E ATUAÇÃO DO


PODER JUDICIÁRIO.......................................................................................2
3.1 PRIMEIROS CASOS NO BRASIL...................................................................2
3.2 POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA NOS CASOS DE ALIENAÇÃO
PARENTAL............................................................................................................2
6

3.3 ALIENAÇÃO PARENTAL COMO ABUSO DO PODER FAMILIAR.................2


3.4 PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL...................................................2
3.5 IDENTIFICAÇÃO DOS ATOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL..........................2
3.6 FASE PROCESSUAL E CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO DA LEI......................2
3.7 A PERÍCIA E IDENTIFICAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS..............................2
3.8 DAS MEDIDAS PROCESSUAIS PREVISTAS NO ART. 6º DA LEI 12.318....2

CONCLUSÃO....................................................................................................2

REFERÊNCIAS.................................................................................................2

ANEXOS............................................................................................................. 2
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INTRODUÇÃO

O conceito de família vem sofrendo profundas transformações, de modo


que hoje a sociedade convive com uma pluralidade de estruturas e de relações entre
seus membros, guiando-se não somente pela consanguinidade, mas também pela
afinidade e afetividade.
Mudança tais como a perda da imagem patriarcal, inserção da mulher no
mercado de trabalho e possibilidade de dissolução da vida conjugal criaram um novo
cenário, onde ambos os cônjuges decidem conjuntamente sobre qualquer situação
pertinente à vida familiar. Nessa conjuntura de aumento das rupturas conjugais
chama a atenção a Alienação Parental, que consiste no afastamento do filho de um
dos genitores, provocado pelo outro, muitas vezes devido ao seu inconformismo
com a separação.
Maria Berenice Dias explica que esse fenômeno se estabelece por meio
da implantação de “falsas memórias” e desmoralização do genitor alienado, gerando
na criança sentimentos negativos em relação a este, sem que haja uma motivação
para isso (DIAS, 2012, p. 1).
Este processo gera transtornos psicológicos na criança e no adolescente,
comprometendo, na maioria dos casos, a imagem que tem de seu pai, que muitas
vezes se sente perdido e impotente. Como destacado por Brito (2011, p. 273),
dentro desta seara, podemos observar diversos comportamentos absurdos como
indução pelo genitor alienante de sentimentos de medo e raiva nas crianças,
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levando-as a crer que o genitor alienado não contempla nenhum sentimento de amor
por seus próprios filhos.
Juristas, psicólogos e assistentes sociais estão se adaptando à Síndrome
da Alienação Parental e procurando formas de evitar que a criança sofra. Como dito
por Jordão (2008, p. 3) a investigação da suspeita de alienação parental é complexa
e o processo lento, fazendo com que, em muitos casos, a criança permaneça anos
afastada do pai de modo que este afastamento acaba por representar tempo
suficiente para que os vínculos sejam quebrados.
Assim, ao afetar a convivência familiar sadia entre o filho e o genitor
alienado, através de violência emocional ou física, o alienante fere a dignidade
humana da criança, como ser humano em peculiar condição de desenvolvimento,
alterando-lhe a identidade pessoal (PINTO, 2011, p. 3).
Tal conduta sempre existiu, no entanto, nunca foi objeto de tanta atenção
pela sociedade que hoje clama por normatização de todas as situações que
degradam ou de alguma forma enfraquecem os direitos dos indivíduos, sejam elas
crianças, adolescentes, adultos ou idosos (BRITO, 2011, p. 273).
Crianças vítimas da alienação estão mais susceptíveis a problemas
psicológicos tais como depressão, ansiedade e pânico. Além disso, podem vir a
apresentar vícios relacionados a drogas e álcool. Apresentam baixa autoestima e em
casos mais graves podem até mesmo tentar cometer suicídio. Com tão graves
consequências, cabe ao poder judiciário evitar ou trabalhar para a reversão desse
delicado distúrbio familiar, que vitimiza de forma cruel tanto o menor quanto o genitor
privado de seu convívio e afeto.
Para que isso seja possível, é fundamental que os operadores do Direito
conheçam a fundo as nuances que envolvem esse delicado drama familiar, de modo
que os atores envolvidos possam contribuir de forma rápida e eficiente para mitigar
os efeitos psicológicos dessa prática nas crianças e adolescentes envolvidos, bem
como auxiliar na restituição do poder familiar ao cônjuge alienado, privado do
convívio com os filhos, de forma injusta e arbitrária.
E é nesse momento familiar que surgem vários desafios para o poder
judiciário, a quem é atribuída a missão de solucionar e dar respostas plausíveis às
novas necessidades do núcleo da sociedade, a família. Neste cenário, faz-se
necessária a efetiva aplicação da Lei de Alienação Parental, bem como a criação de
mecanismos e estruturas Estatais eficientes não só para conter a Alienação
9

Parental, mas para, sobretudo, prevenir que este fenômeno aconteça.


Este trabalho apresenta uma metodologia eclética baseada nas normas e
princípios jurídicos. Foi feito através de pesquisa bibliográfica de juristas renomados,
jurisprudências e demais profissionais especialistas da área, por ser o tema
complexo e portanto multidisciplinar. Utilizou-se o método dedutivo-biográfico, o
metodológico-histórico e sempre que necessário fez-se uma incursão analítica de
textos legais ou comparativo, por meio de casos concretos.
Portanto, iremos analisar o fenômeno da alienação parental no âmbito do
Poder Judiciário. E o faremos em três etapas: 1. discorrendo sobre o conceito de
família e sua evolução; 2. analisando a síndrome de alienação parental no que tange
a conceito, diferenças, características, efeitos, requisitos e consequências e, por fim,
3. analisando como o judiciário tem se posicionado frente estes novos conceitos de
família e sobre a alienação parental.
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CAPÍTULO I – A EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA

A humanidade sempre se portou e se mostrou de forma aglomerada,


tendo em vista a necessidade do homem de viver em comunidade. É
psicologicamente difícil ao ser humano a vida segregada, sem compartilhamentos,
sem trocas. E a partir desta junção de pessoas começaram a se formar as famílias.
Em verdade, família é um caleidoscópio de relações que muda no tempo de sua
constituição e consolidação em cada geração, que se transforma com a evolução da
cultura, de geração para geração (ABRAMOVAY, 2004).
A ideia de família surgiu muito antes do Direito, dos códigos, da
ingerência do Estado e da Igreja na vida das pessoas. Surgiu há cerca de 4.600
anos como primeira célula de organização social e formada por indivíduos com
ancestrais comuns ou ligada por laços afetivos (BARRETO, 2012, p. 1).
No decorrer dos séculos o conceito de família passou por profundas
transformações em sua constituição, com grande influência do Direito Canônico, de
modo que até então só eram aceitas famílias constituídas dentro dos sagrados laços
do matrimônio. Barbosa (2012, p. 3) salienta que a partir da elevação do casamento
a sacramento, que não poderia ser desfeito pelas partes e somente a morte poderia
fazê-lo, a Igreja passou a atacar tudo o que pudesse desagregar o seio familiar,
11

citando-se o aborto, o adultério e concubinato.


No século XVII o poder patriarcal era definidor quanto às
intencionalidades das uniões. Os casamentos arranjados continuavam a ser uma
forma de manutenção e expansão patrimonial. Entretanto uma alteração
fundamental se instalou nessa "lógica econômica", com o fim da exclusividade dos
bens dirigidos aos primogênitos e, consequentemente, incentivo aos filhos mais
novos. Tal mudança causou indignação social e veio acompanhada por outras
mudanças socioeconômicas (ÁRIES, 1981, apud MÜLLER, 2009). Nesta época a
criança passou a ser enxergada não mais sob a perspectiva de “adultismo”, mas
como um ser em desenvolvimento, com necessidades e características
diferenciadas (BARBOSA, 2013, p. 25).
O modelo de família contemporânea começou a ser idealizado no século
XIX, sendo precedido pelas Revoluções Francesa e Industrial. Passou-se a valorizar
a convivência entre seus membros, bem como os sentimentos e valores de cada um
(BARRETO, 2012, p. 04). A Revolução Francesa foi um marco na busca pela
igualdade entre homens e mulheres, uma vez que estas últimas ainda eram
consideradas incapazes. Contudo, o, o Código Civil de Napoleão reforçou o poder
patriarcal, outorgando ao pai maiores direitos sobre os filhos. Também ressaltou que
o poder patriarcal é estendido à esposa, que continua sob seu jugo.
O século XX trouxe a valorização do casamento por amor e a
responsabilização pelo bem estar e desenvolvimento da criança (AUN, 2006 apud
BARBOSA, 2013, p. 26), ocorrendo também a inserção da mulher no mercado de
trabalho formal, fato que lhe rendeu maior autonomia e poder familiar. Neste cenário,
o casamento ganhou nova roupagem, passando a ser visto como uma parceria, não
sendo mais regra a dependência da mulher em relação ao marido.
O papel do homem no contexto familiar também sofreu modificações. Nos
anos 90, interrogações e problemas contemporâneos sobre a paternidade fizeram
multiplicar os escritos sobre o papel do homem como pai e sua função, fato gerado
pelo grande número de divórcios e recasamentos. Na atualidade, os pais que dão
banho, trocam fraldas, levam os filhos para passear, são apontados pela mídia como
“novos pais”. Esse novo comportamento é fruto de um conjunto de transformações,
inclusive de suas esposas, que por força da relação do mercado de trabalho,
passaram a dividir com seus esposos, o tempo e a responsabilidade com seus filhos
(GOMES, 2013, p. 36).
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Atualmente, conforme preconiza Simionato (2003, p. 01), as famílias se


distinguem pela ênfase que dão ao processo de individualização. O elemento central
não é mais o grupo reunido, mas os membros que a compõem. Com essa mudança
o indivíduo passou a buscar autonomia e independência para guiar suas escolhas
com sentimento de liberdade e menos oprimido pelas exigências externas
(BARBOSA, 2013, p. 27).

1.2 CONCEITOS DA FAMÍLIA EM NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO

Nas constituições brasileiras, frutos das necessidades mais pungentes da


sociedade em cada época, a família transitou do estado patriarcal-patrimonial para o
estado sócio-afetivo.
As leis em vigor antes da Constituição Federal Brasileira de 1988
apresentavam somente o modelo da família patriarcal, constituída pelo casamento.
A Constituição de 1824, por exemplo, não fez qualquer menção relevante à família,
havendo como determinante, somente o casamento religioso (BARBOSA, 2008, p.
02), devido à grande influência da Igreja na sociedade e em suas leis. Esse mesmo
autor destaca que o Código Civil de 1916, elaborado num período em que
predominava a atividade rural e a família era tratada como uma unidade de
produção, com mais filhos significando mais força de trabalho, continuou a tratar a
família no molde patriarcal, cabendo à mulher apenas o papel de esposa e mãe.
A primeira constituição a se preocupar em delinear a família em seu
contexto foi a de 1934. Determinou-se a indissolubilidade do casamento,
ressalvando-se os casos de anulação ou desquite. Já a Constituição de 1937 trouxe
a igualdade entre os filhos considerados legítimos e naturais. A de 1946 não inovou
no conceito de família e a de 1967 manteve a idéia de que família somente era
aquela constituída pelo casamento civil. Em contrapartida, a emenda constitucional
de 1969, que manteve a indissolubilidade do casamento, foi modificada com o
advento da Lei do Divórcio de 1977, passando-se a haver aceitação de novos
paradigmas (LOUZADA, 2011, p. 03).
Cabe ressaltar que em 1962 surgiu o chamado Estatuto da Mulher
Casada (Lei 4.121/62), que alterou o Código Civil de 1916 e passou a assegurar o
pátrio poder a ambos os cônjuges. No entanto, nessa época a esposa ainda aparece
13

apenas como colaboradora no exercício do pátrio poder e em caso de divergência,


prevalecia a decisão do pai, podendo a mãe recorrer ao juiz para solução do
impasse. Posteriormente, aprovou-se a Lei 6.697/79 – Código de Menores, que
regulava a assistência, proteção e vigilância a menores e foi criada buscando ajustar
a situação de meninos de rua em centros urbanos. Segundo Barreto (2012, p. 07) a
referida Lei atrelou-se a questões de segurança pública e não se pautou
integralmente na proteção às crianças que se encontravam em situação de risco.
Até 1988, o Código Civil de 1916 era o centro do ordenamento jurídico
quanto à normatização da vida privada das pessoas. Isto foi alterado apenas com a
Constituição de 1988, que passa a ser o centro delineador de todo o ordenamento
jurídico. A Constituição Federal de 1988 representou um marco na evolução do
conceito de família, ao corporificar o conceito de Lévy-Brul, de que o traço
dominante da evolução da família é sua tendência a se tornar um grupo cada vez
menos organizado e hierarquizado e que cada vez mais se funda na afeição mútua
(GENOFRE, 1997 apud SIMIONATO, 2003, p. 01). Além disso, a Carta Magna
consagrou a igualdade entre os cônjuges quanto ao exercício do poder familiar, não
cabendo mais apenas ao homem a solução de conflitos e a tomada de decisões.
Oliveira (2003, p. 01) aponta quatro vertentes básicas na Carta
constitucional: a) ampliação das formas de constituição da família, que antes se
circunscrevia ao casamento, acrescendo-se como entidades familiares a união
estável e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes; b)
facilitação da dissolução do casamento pelo divórcio direto após dois anos de
separação de fato, e pela conversão da separação judicial em divórcio após um ano;
c) igualdade de direitos e deveres do homem e da mulher na sociedade conjugal, e
d) igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento, ou por adoção, garantindo-se
a todos os mesmos direitos e deveres e sendo vedada qualquer discriminação
decorrente de sua origem.
A igualdade quanto ao exercício do pátrio também foi ressaltada no
Código Civil de 2002, em seu Art. 1631:

Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais;


na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.
Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é
assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo.
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Além disso, a partir do novo Código Civil, não existe mais a regra de que
a guarda dos filhos, em caso de dissolução da vida conjugal, ficará com o cônjuge
que não deu causa à separação. Em regra, a definição caberá aos pais, e, no caso
de inexistência de acordo, a mesma será atribuída a quem revelar melhores
condições para exercê-la.
A Emenda Constitucional 66/2010 deu nova redação ao art. 226, § 6º da
Constituição Federal de 1988, de modo que a partir dela qualquer dos cônjuges
pode buscar o divórcio, a qualquer tempo, sem precisar apresentar causas ou
motivos. Anteriormente, a separação, ainda que consensual, só podia ser obtida
depois de um ano do casamento e a separação litigiosa dependia da identificação de
“culpados”, cabendo apenas ao cônjuge que não deu causa à mesma a legitimidade
para ingressar com a ação.

1.3 AMPLIANDO O CONCEITO DE FAMÍLIA E QUEBRANDO PARADIGMAS

Conforme preconiza Maria Berenice Dias no artigo “Que Família?”, nos


dias de hoje é indispensável ter uma visão plural das estruturas vivenciais, inserindo
no conceito de entidade familiar todos os vínculos afetivos que, por imperativo de
ordem ética, devem gerar direitos e impor obrigações. Por isso é necessário
reconhecer que, independente da exclusividade do relacionamento ou da identidade
sexual do par, as união de afeto merecem ser identificadas como entidade familiar,
gerando direitos e obrigações aos seus integrantes.
O álbum de família moderno requer legendas cada vez mais encorpadas
para explicar quem é quem. O retrato atual não reflete mais o modelo clássico,
composto de pai, mãe e filhos de um mesmo casamento. Aquele que parece ser o
pai é o padrasto; a moça com uma criança no colo não é a mãe, mas uma meia-
irmã; os três jovens que dividem o mesmo teto são um casal e uma amiga; e aquela
que parecia ser a mãe pode ser, na verdade, a namorada dela (PEREIRA, 2003, p.
01).
No Brasil costuma-se dizer que o conceito de família se largou, afastou-se
do modelo convencional da família constituída pelos sagrados laços do matrimônio,
para enlaçar uma multiplicidade de conformações familiares: assim, famílias
reconstruídas, informais, monoparentais, família formada por pessoas do mesmo
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sexo etc. Tal foi a transformação porque passaram as estruturas familiares que se
faz necessário buscar um novo conceito de família que albergue todas as novas
formas de convívio que as pessoas encontraram para alcançar a tão almejada
felicidade.
Diante de tantas mudanças na sociedade e nas leis que a regem,
observa-se que hoje a família finca-se em princípios distintos daqueles sobre os
quais repousos em tempos idos, não mais se estabelecendo por questões políticas,
econômicas ou religiosas. Revela-se como lócus de amparo e solidariedade, onde
seus membros comprometem-se mutuamente com a formação e desenvolvimento
sadios de suas personalidades e com respeito à dignidade de cada integrante
(SOUZA, 2009, p. 01). A nova roupagem do Direito de Família transcorre do
livramento das amarras do liberalismo e da patrimonialização das relações sociais,
permitindo que os interesses puramente individuais passassem a se submeter a
outros valores (BARRETO, 2012, p. 10).
A Lei do Divórcio e a Constituição Federal de 1988 trouxeram grandes
mudanças, como a dessacralização do casamento e reconhecimento de outras
entidades diversas daquelas constituídas pelo matrimônio. Adicionalmente, a cada
ano o país vem registrando um número maior de separações e divórcios, fato que
reflete o anseio da sociedade pela liberdade na formação de seus afetos (SOUZA,
2009, p. 01). Assim, o conceito de família restou flexibilizado, indicando que seu
elemento formador precípuo é, antes mesmo do que qualquer fator genético e como
já dito, o afeto. Percebe-se, portanto, que houve uma mudança de uma relação
econômico contratual para uma relação marcada pelo afeto, a cooperação e respeito
à dignidade de cada um dos membros.
Mesmo as restrições à paternidade dos homossexuais onde existia
barreiras enormes, foram revistas. Eles trouxeram para a cena moderna mais um
conceito de família, a homo parental, graças à adoção e à fertilização in vitro.
Como dito por Pereira (2003, p. 04) o momento atual ainda é de transição
e adaptação, de modo que as pessoas estão experimentando situações para as
quais não existem referências de como agir, o que dizer ou o que esperar.

1.4 NOVAS PROBLEMÁTICAS FAMILIARES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO


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As mudanças sociais acima descritas tiveram como um de seus efeitos o


surgimento de uma menor tolerância às insatisfações nas relações matrimoniais,
fazendo com que a separação conjugal se transformasse em uma escolha possível
e cada vez mais comum (BARBOSA, 2013, p. 30). Diante disso Bilac (2002, p. 29)
opina que há uma crise na instituição família e tal “crise” trouxe como resposta o
surgimento novos status familiares, novos papéis.
Nesse diapasão, a mulher obteve mais liberdade para se dedicar a outras
atividades além daquelas relacionadas à família e as disputas judiciais pela guarda
dos filhos aumentaram significativamente.
No contexto das dissoluções conjugais, as emoções subjacentes à
escolha pela separação e a reconstrução das identidades interferem e definem esse
difícil processo. Para os casais com filhos isso se torna deveras complicado, devido
à contradição entre o desejar afastar-se do ex-cônjuge e precisar manter-se perto
em virtude da união indissolúvel da parentalidade (BRITO, 2007 p. 32). Quanto
maior a dificuldade em diferenciar características e emoções referentes ao ex-
cônjuge daquelas relativas ao parceiro parental, maiores serão as chances de
conflitos no pós-divórcio.
Muitas vezes, na ebulição da discórdia, os casais parecem não pensar e
nem sentir adequadamente, em um misto de irracionalidade e insensibilidade que os
leva a um grande vazio, a um turbilhão de emoções confusas, guiadas pelo
ressentimento que nutrem entre si, tornando ainda mais difícil o processo de ruptura.
As consequências dessa grande desordem deveriam ser suportadas apenas pelo
casal litigante, mas acabam por afetar também os filhos (SOUZA, 2009, p. 01).
No Brasil as taxas de divórcios e separações tem se mostrado elevadas
(IBGE, 2011, p. 100), e de acordo com Forgatch (1999, p. 711), crianças de famílias
divorciadas estão expostas a uma série de dificuldades decorrentes da separação,
tanto no curto quanto no longo prazo. Os problemas advindos da separação dos pais
incluem depressão, baixo rendimento acadêmico, pobre relacionamento com pais e
altas taxas de problemas de comportamento.
Com a reorganização da família contemporânea e o crescente número de
separações e divórcios, a função paterna se vê, muitas vezes, configurada através
de visitas quinzenais aos filhos. Essa restrição de convívio traz angústias e
sofrimentos para ambos. O pai divorciado, ganha uma nova função na sociedade
contemporânea, onde além de enfrentar dificuldades de manter contato mais
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próximo com os filhos, quando a guarda deles fica com a mãe, precisa desenvolver
tarefas que antes eram atribuições exclusivas da mãe. Percebe-se então, que uma
das funções mais importantes do pai divorciado é fortalecer o vínculo parental,
mantendo uma relação afetiva, íntima e segura com seus filhos. Isso, num contexto
de conflito com o ex-cônjuge, constitui muitas vezes um desafio difícil de suplantar.
A vulnerabilidade psicológica de crianças e adolescentes, ao conviver
com o processo de separação conjugal, tem sido pesquisada em estudos
transversais e horizontais realizados ao longo de dez anos. Esses estudos revelam
que crianças menores têm menos dificuldade em se ajustar às regras familiares
estabelecidas pós-divórcio, enquanto que filhos adolescentes e jovens adultos vivem
conflitos envolvendo lealdade e raiva em relação ao progenitor, principalmente o pai,
mesmo que este não tenha sido responsável pelo início da separação (SCHABBEL,
2005, p. 03).
Hoje, reconhece-se que as consequências negativas para os filhos
originam-se não da separação em si, mas das situações de conflito e tensão
advindas dela. Portanto, a extensão dos prejuízos na criança dependerão da
frequência, intensidade e conteúdo dos conflitos entre seus pais, bem como a forma
escolhida para sanar estas questões.
Em separações conflituosas pode-se observar a chamada triangulação
dos filhos, que assumem compromissos com ambos os genitores em uma
perspectiva perversa de vinculação, pois quando se agrada a um genitor, está
desagradando ao outro, e vice-versa. (BOSZORMENYI-NAGY, 2003 apud
BARBOSA 2013, p. 41).
Sob a ótica de Silva (2003, p. 113), por estar sob forte pressão emocional,
os casais que chegam aos litígios da Vara de Família e Sucessões não tendem a
resolver seus conflitos de forma a resguardar seus filhos. Souza (2009, p. 02)
completa dizendo que é comum os pais abandonarem psicologicamente seus filhos
no momento da separação lançando-os à própria sorte muito envolvidos que ficam
com suas contendas pessoais. O embate parental acaba por engolir os filhos do
casal, tal qual uma fagocitose perversa, aos poucos tomando para si a infância
daqueles meninos.
Além de evitar expor os filhos aos conflitos decorrentes da separação
conjugal, cabe aos pais garantir a eles a convivência com ambos os genitores, visto
que tal convívio faz-se essencial para a formação sadia da personalidade dos filhos.
18

Afastada de um dos pais, a criança fica confusa e acaba por perder o valor simbólico
da imagem daquele genitor, geralmente a paterna (DOLTO, 1989, p. 23).
De acordo com Heavey (1994, p. 221), quando os casais não conseguem
encontrar soluções satisfatórias para lidar com situações conflituosas, os conflitos
mal resolvidos geram frustrações e raiva, criando um ciclo em que a discórdia se
torna cada vez mais frequente e hostil. Neste contexto, independente do tipo de
guarda definido após a separação, seja compartilhada, partida ou simples, muitos
pais acabam não aceitando essas condições e, por vingança, passam a programar a
criança para que odeie o outro cônjuge. Geralmente essa campanha denegritória é
realizada pelo cônjuge que possui a guarda do filho e gera consequências nefastas,
sobretudo para a criança envolvida.
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CAPÍTULO II – ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 CONCEITO DE ALIENAÇÃO PARENTAL

O Estatuto da Criança e do Adolescente tutela, em seu artigo 18, a


inviolabilidade psíquica e moral da criança e do adolescente. Indo totalmente de
encontro a essa previsão, encontra-se a prática da Alienação Parental, que consiste
em desconstituir para a criança, a figura parental de um dos seus genitores por
intermédio de uma campanha de desmoralização, e marginalização do seu genitor
tendo como objetivo afastá-lo do seu convívio e transformá-lo em um estranho para
a criança (GOMES, 2013, p. 46). Desta forma a criança é programada a ter repúdio
pelo outro genitor através de falsas memórias.
A Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, que trata da alienação parental,
dispõem no artigo 2º que essa figura consiste na interferência perniciosa à formação
psicológica da criança e do adolescente, causada por um dos genitores, pelos avós
ou por quem detenha a guarda dos infantes ou jovens, ao instigá-los contra o outro
genitor, utilizando-se de vários meios, todos injustificados, que objetivam o
afastamento físico entre o filho e o genitor alvo das ações alienantes e a ruptura dos
vínculos emocionais entre eles (BARBOSA, 2013, p. 13).
A doutrina ensina quais as motivações que podem levar o genitor detentor
da guarda – no Brasil, normalmente a mãe – a praticar a alienação. Estas vão desde
20

questões financeiras como o fato de o genitor alienante não se sentir satisfeito com
as condições econômicas advindas após o divórcio; um desejo de vingança –
quando a separação foi causada por adultério do ex-cônjuge; superproteção, pois
acredita essa mãe alienadora ser a única pessoa capaz de cuidar de seu(s) filho(s);
desejo de posse exclusiva sobre o(s) filho(s) e ódio que o genitor alienante nutre
pelo ex- cônjuge; até questões como depressão e/ou solidão, que se instalam no
alienante após o rompimento do vínculo conjugal, o que o leva a se apegar
excessivamente ao(s) filho(s), objetivando excluir o outro genitor da vida da(s)
criança(s), além de se colocar como vítima do outro genitor, por exemplo, dentre
vários fatores (PINHO, 2011, p. 137).

2.2 CONCEITO DE SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Um dos primeiros estudos sobre a Síndrome da Alienação Parental (SAP)


foi realizado pelo professor de psiquiatria infantil Richard Gardner em 1985 e até
hoje este pesquisador é a maior referência no assunto.
Assim, Gardner (1985, p. 3) conceituou a Síndrome da Alienação
Parental:

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que


aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de
crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um
dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha
nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor
(o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições
da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a
negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da
criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação
Parental para a hostilidade da criança não é aplicável.

Percebe-se que a doutrinação de uma criança através da SAP é uma


forma de abuso emocional, podendo conduzir ao enfraquecimento progressivo da
ligação psicológica entre a criança e um genitor amoroso, podendo até mesmo levar
à destruição total dessa ligação.
Outro sintoma da SAP é a completa ausência de ambivalência. As
relações humanas são ambivalentes, e o relacionamento entre pais e filhos não é
diferente. Na SAP o genitor alienado é visto pela criança como sendo “totalmente
21

mau”; já o genitor alienante é visto aos olhos da criança como “totalmente bom”.
(GARDNER, 1985, p. 2).
A origem da SAP está ligada à intensificação das estruturas de
convivência familiar, o que fez surgir, em consequência, maior aproximação dos pais
com os filhos. Assim, quando da separação dos genitores, passou a haver entre eles
uma disputa pela guarda dos filhos, algo impensável a algum tempo atrás (DIAS,
2008, p. 11). A síndrome na maioria se manifesta no ambiente da mãe, que na maior
parte das vezes detém a guarda dos filhos, pois necessariamente depende de um
longo período de tempo para sua instalação (GOMES, 2013, p. 31).
O detentor da guarda, ao destruir a relação do filho com o outro, assume
controle total. Tornam-se unos, inseparáveis. O pai passa ser considerado um
invasor, um intruso a ser afastado a qualquer preço. Este conjunto de manobras
confere prazer ao alienador em sua trajetória de promover a destruição do antigo
parceiro (DIAS, 2008, p. 12).
Em alguns casos, nem mesmo a mãe distingue mais a verdade da
mentira e a sua verdade passa a ser realidade para o filho, que vive com
personagens fantasiosos de uma existência aleivosa, implantando-se, assim, falsas
memórias, daí a nomenclatura alternativa de “Teoria da implantação de falsas
memórias”.
Segundo Gardner (2002, p. 4) a Síndrome da Alienação Parental é
caracterizada por um grupo de sintomas que geralmente aparecem juntos,
especialmente nos casos moderados e severos. Nos casos leves pode-se não se
ver todos os oito sintomas, que incluem:
1. Campanha denegritória contra o genitor alienado.
2. Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação.
3. Falta de ambivalência.
4. O fenômeno do “pensador independente”.
5. Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental.
6. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor.
7. A presença de encenações encomendadas.
8. Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor
alienado.
Essa consistência resulta em que as crianças com SAP assemelhem-se
umas às outras. É por essas razões que Gardner defende que a SAP é certamente
22

uma síndrome, pela melhor definição médica do termo. No entanto, este conceito,
embora criado na década de 80, não está incluído nas listas mais recentes de
classificações de transtornos mentais (CID e DSM) e não há indicação que passe a
constar nas próximas.
Castro (2013, p. 48) chama atenção para o lugar paradoxal ocupado pela
criança no modelo proposto por Gardner, uma vez que o infante é passivo por ter
sido completamente manipulado, perdendo sua subjetividade original e assumindo
uma nova subjetividade, agora baseada em falsos aspectos da relação original com
o genitor alienado. Em contrapartida, é ativa em sua inadequação e autônoma ao
defender a animosidade contra o genitor alienado criando pensamentos, memórias e
fatos novos, já não introduzidos pelo genitor alienador.
A alienação parental refere-se ao comportamento do genitor alienante que
objetiva retirar o outro genitor, definitivamente, da vida da criança ou do adolescente.
A Síndrome da Alienação Parental, por sua vez, refere-se à conduta do filho quando
este se recusa terminantemente a ter qualquer tipo de contato com o genitor
alienado, conduta esta advinda das consequências devastadoras no psiquismo do
infante alienado, ou seja, são as sequelas produzidas pela prática da alienação
parental.
Ressalte-se que são conceitos de utilização recente, que fogem do campo
estritamente jurídico e acorrem à interdisciplinaridade, o que os torna mais
susceptíveis aos equívocos e à necessidade de esclarecimentos a fim de que sejam
aplicados com segurança no âmbito judicial (CASTRO, 2013 p.14). Ao pesquisar a
literatura relativa a estes dois conceitos, percebe-se que diversos textos tratam-nos
como sinônimos ou até mesmo trazem uma mistura deles.

2.3 EFEITOS DA PRÁTICA DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Nos auditórios forenses a família em conflito em nada se aproxima da


feição romântica que lhe reservaram nossos literatos e poetas. Nas lides forenses o
que se vê com frequência é que tudo de nobre que gravita em torno da família dá
lugar a sentimentos subalternos como os de deslealdade, frieza, egoísmo, ódio,
abandono. E o mais grave de tudo: tenha o casal filhos ou não. Nem mesmo seus
23

filhos são motivos suficientes para evitar que o conflito entre os pais se instale e se
propague (SOUZA, 2009, p. 1). Ou seja, apesar dos pais terem como dever garantir
uma convivência familiar saudável aos filhos, são eles que geralmente causam
grandes transtornos às crianças no momento em que há a dissolução conjugal
A Síndrome de Alienação Parental é uma condição capaz de produzir
diversas consequências nefastas, tanto em relação ao cônjuge alienado quanto ao
próprio alienador, mas certamente seus efeitos mais dramáticos recaem sobre os
filhos. Estes últimos devem ser tratados com mais cuidado nessa situação, pois as
sequelas que a síndrome deixa na criança pode segui-la durante toda a vida, e
acaba influenciando em seu desenvolvimento, pois para que a criança seja uma boa
mãe/pai de família, é necessário que ela tenha tido uma boa estrutura familiar.
Sem tratamento adequado podem ocorrer sequelas capazes de perdurar
para o resto da vida, pois a alienação implica comportamentos abusivos contra a
criança. Instaura vínculos patológicos, promove vivências contraditórias da relação
entre pai e mãe, cria imagens distorcidas da figura dos dois, gerando um olhar
destruidor e maligno sobre as relações amorosas em geral. Esses conflitos podem
aparecer na criança sob a forma de ansiedade, medo, insegurança, isolamento,
tristeza, depressão, hostilidade, desorganização mental, dificuldade escolar, baixa
tolerância à frustração, irritabilidade, enurese (descontrole urinário), transtorno de
identidade ou de imagem, sentimento de desespero, culpa, dupla personalidade,
inclinação ao álcool e às drogas; em casos mais extremos, a ideias ou
comportamentos suicidas (GERBASE, 2012, p. 12).
Um interessante documentário denominado “A morte inventada” está
disponível na internet e traz diversos depoimentos de pais e filhos que sofreram com
a alienação parental, além de opiniões de psicólogos, assistentes sociais, juízes e
desembargadores. Pelos depoimentos, percebe-se o profundo sofrimento incutido
nos filhos e nos pais privados por anos do convívio com estes. Fica clara também a
lentidão que caracteriza a análise judicial da maioria das situações, prolongando a
dor dos envolvidos.
Em seu depoimento, Rafaella relata o sofrimento decorrente dos 11 anos
em que ficou afastada do pai. Ela se emociona em diversos momentos e relata que
está tentando reconstruir essa relação com o auxílio da terapia. A mãe alienou a ela
e ao irmão Diego, denegrindo de forma insistente a imagem do pai deles. A menina
chegava a sentir-se culpada por se divertir nos passeios com o pai, pois se sentia
24

traindo a mãe. Todo esse processo levou-a a sentir-se com um “buraco por dentro”,
que perdura na vida adulta.
A internet disponibiliza vasto material sobre o tema, inclusive depoimentos
reais, como os exemplos a seguir expostos no sítio: <http//g1.globo.com/brasil/
noticia/2010/08/crianças-são-usadas-pelos-pais-no-divordcio-dizem-juristas.html>.
Acessado em: 25 set. 2013.

Me separei e minha filha tinha dois anos. Desde então passei a ter
dificuldade de convívio com ela. Minha ex-mulher inventou um curso em
outro estado e a levou. Quando eu casei de novo, foi o estopim para ela
articular contra mim. Usou a parte mais sombria da alienação parental e me
acusou de ter ensinado a minha filha a se masturbar. Não teve receio de
expor a filha, foi a delegacia várias vezes. De repente recebi a denúncia que
ela fez e o juiz, em vez de determinar o afastamento, determinou visitas
monitoradas. O delegado apreendeu meu computador, viu vídeos meus com
a minha família e entendeu que aquilo não procedia. Ele me liberou. Em
julho houve uma sentença de que eu era inocente de acusação. Minha
sentença cita 24 jurisprudências de alienação parental (veterinário do Mato
Grosso).

Quando minha filha tinha 11 anos eu me separei do meu marido, que era
advogado. Ele acabou obtendo a guarda provisória da criança. Em pouco
tempo ela não me chamava mais de mãe, não queria mais me ver. Ele
trocou de cidade e no apartamento em que ela mora hoje, ela é
emancipada, tem 17 anos e mora sozinha, tem uma foto minha para o
porteiro não me deixar entrar. Ela cresceu e está estudando Direito. Está
começando a perceber que tem algo errado. Devido a esse problema,
passei a participar de discussões sobre alienação parental. A gente acaba
ouvindo casos horríveis. Tem pai que deixa a criança ficar decepcionada
com o outro. Fala que vai encontrar o pai no restaurante, mas não tem nada
combinado. A criança chega e não tem ninguém lá. É muita maldade.
(enfermeira do Rio de Janeiro).

Cuenca (apud FREITAS, 2012, p. 37), assim entende:

Ao estudar o perfil do genitor alienador, conclui que este geralmente


demonstra uma grande impulsividade e baixa autoestima, medo de
abandono repetitivo, esperando sempre que os filhos estejam dispostos a
satisfazer as suas necessidades, variando as expressões com exaltação e
cruel ataque esta é a fase mais grave.

O Acórdão no agravo de instrumento 70014814479, julgado em


07/06/2006 no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul trouxe em seus autos
relatório da assistente social que acompanhou o caso sob análise, inclusive as
visitas monitoradas, em que afirmou:

A pedido de Luíza, brincamos de ‘mãe e filha’; onde ela era ‘minha mãe’ e
eu a ‘filha dela’, durante a brincadeira ela me dizia que eu (a filha) teria que
25

ser uma filha boazinha, se não ela (a mãe) iria morrer e ‘eu iria morar com
uma família muito ruim. Seria a família do meu pai e que meu pai ia colocar
o dedinho na minha bundinha e no meu xixi.

Observa-se que a mãe-alienante programa o filho a ter imagem negativa


e distorcida do pai, mas jamais admite que o faz, pois ela na verdade está
“protegendo” a criança e arma toda uma situação que venha a comprovar, ligando
aos prantos para um amigo, saindo de casa em desabalada carreira, gritando para
que vizinhos a escutem e mesmo chegando a se ferir para imputar tudo aos algozes,
vez que sabem de antemão que em 99% dos casos o homem, “macho Alfa”, é o
culpado — gera graves consequências psicológicas na criança, assim como no pai
alienado e familiares, pois o raio de ação destrutiva da Alienação Parental é
extremamente amplo, seguindo um efeito cascata que assume verdadeira roupagem
de linha sucessória (PINHO, 2010, p. 7). Este mesmo autor salienta que a Alienação
também se dá — e na maioria das vezes assim ocorre — não de maneira explícita
sob forma de “lavagem cerebral”, mas, sim, de maneira velada, bastando, por
exemplo, que a mãe, diante de despretensiosa e singela resistência do filho em
visitar o pai, por mero cansaço ou por querer brincar, nada faça, pecando por
omissão e não estimulando nem ressaltando a importância do contato entre pai e
filho ou mesmo transformando e publicitando uma trivial discussão caseira em
verdadeiro ambiente de caos e motivo para desencadear o egoístico processo
destrutivo.
Em muitos casos há uma grande competição entre os pais, colocando a
criança à prova de quem está certo ou quem está errado, o que acaba ocasionando
uma situação de grande conflito, pois as mesmas não tem discernimento e se
encontram vulneráveis para julgar a relação de seus genitores. Tais atitudes
terminam por levar o infante a um “conflito de lealdade”, confusão e ambivalência,
como pode ser verificado no laudo emitido por psicóloga como parte da análise da
Apelação Cível nº 70046988960 do TJ-RS:

Em relação às crianças, observou-se que estão confusas e ambivalentes a


respeito da situação que vivenciam. Manifestam muita lealdade ao guardião
e, principalmente, Pâmela, na presença do pai, reforça as concepções dele
em relação à mãe, assim como também utiliza justificativas para não estar
com a genitora que refletem a posição do pai. Grégore, por sua vez, acaba
também entrando neste processo de denegrir a imagem materna, o que não
se observa individualmente. Chama a atenção que Grégore, no primeiro
atendimento, questionou a psicóloga sobre os motivos pelos quais não pode
morar com a mãe, já que esse é o seu desejo. Em seguida, pediu para que
26

não contasse para o genitor, pois o mesmo poderia castigá-lo. No entanto,


em sua segunda entrevista individual, altera o relato trazido primeiramente,
sob o argumento de que apenas disse que queria ficar com a mãe porque
gosta muito dela e não desejava magoá-la. Embora sem saber justificar a
preferência, dessa vez disse que prefere morar com o pai. [...] Ainda, fica
evidente o discurso contraditório de Pâmela, onde ela não quer ir visitar a
mãe e quando visita expressa comportamento hostil, bem como refere
preferir ir para um abrigo ao invés de morar com a mãe, revelando raiva e
desprezo pela mãe, sem justificativa real para esse fato. Porém, destaca-se
que em seguida refere gostar da mãe e desejar continuar visitando-a, o que
torna seu discurso anterior incongruente.

No mais, o laudo segue com transcrições contínuas de relatos confusos


por parte das crianças, concluindo a psicóloga pela existência de elementos
indicativos de alienação parental realizada pelo genitor, como ilustrado a seguir:

Contudo, Grégore refere: 'Gosta de estar junto com a mãe e só não falei no
encontro anterior, porque tenho medo que o pai brigue e me surre. Também
revela: 'O pai diz pra nós não ir visitar a mãe e fala mal dela, diz que ela não
cuida direito, mas não é verdade'. Conta que no dia de visitar a mãe o pai
convida para passear, como ir no parque, e isso faz com eles fiquem
divididos, sem saber o que fazer. [...] Diz que a mãe não fala do pai, mas o
pai fala da mãe. Finaliza dizendo: 'Eu gosto dos dois, mas quero morar com
a mãe, ela é mais legal'.

Pensar nas conseqüências para uma criança ou adolescente que passa


meses ou até anos afastados da presença do genitor, sendo alienados na sua
percepção deste, sem que ele, mesmo repleto de provas seja ouvido pela justiça,
preocupa. Os transtornos ocasionados a este sistema familiar são muito grandes, e
muitas vezes sem possibilidade de resgate para estes.
Aumentando as dificuldades, verifica-se que algumas vezes os pais não
colaboram para o restabelecimento do bom senso, nem mesmo após serem
conclamados a fazê-lo:

Por isso, CONCLAMO a ambos os genitores que, em nome de seu filho,


busquem o desarmamento de espíritos, pois, caso contrário, o litígio (que só
reflete um doentio jogo de poder) só terminará quando a criança se tornar
maior de idade, e, traumatizada por uma infância permeada de conflitos
entre os genitores, acabar optando por se afastar de ambos! (Agravo de
Instrumento n. 70044613925, voto do Desembargador Luiz Felipe Brasil
Santos, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul).

Os pais alienados, vítimas e excluídos, acusados de agressores e


algozes, também podem ser atingidos por consequências igualmente desastrosas,
sob várias formas: depressão, perda de confiança em si mesmo, paranóia,
27

isolamento, estresse, desvio de personalidade, delinqüência e suicídio.


O relato da doutora em psicologia Sandra Maria Baccara Araújo
disponível no blog “mediarfamilia” ilustra bem a angústia do genitor alienado:

Na minha experiência clínica, encontro homens, na faixa dos 40 anos,


profissionais liberais bem sucedidos, que ao me procurarem dizem: “Dra. eu
só quero o direito de ser pai”. Homens que não só têm sido excluídos do
contato com os filhos, como estão sendo acusados de abuso sexual, queixa
mais comum nos quadros de alienação parental, e que pela demora do
curso judicial vêem-se privados de acompanhar o crescimento dos filhos. Se
me preocupa o dano emocional causado aos filhos, acredito que precisamos
nos preocupar também com as conseqüências emocionais e sociais para
este genitor alienado.

Percebe-se, portanto, que a alienação parental, constitui em uma das


formas mais violentas de abuso contra a criança, chegando a causar a perda de
poder familiar do genitor alienante. Lidar com ela requer dos operadores do Direito,
assistentes sociais e conselheiros, o auxílio da área da Psicologia especializada,
visando o enfrentamento do problema, já que se trata de relacionamento humanos
conflituosos.
28

CAPÍTULO III – ANÁLISE DA LEI Nº 12.318 E ATUAÇÃO DO


PODER JUDICIÁRIO

3.1 PRIMEIROS CASOS NO BRASIL

No Brasil, desde a dessacralização do casamento, desencadeada pela


Lei do Divórcio e o reconhecimento constitucional de outras modalidades familiares
diferentes da composição tradicional, o número de divórcios e separações aumentou
consideravelmente.
Aliado a isso, a presença de crianças nos tribunais tem se tornado casa
vez mais freqüente. Tal fato suscita importantes questionamentos e leva ao
reconhecimento da criança como um indivíduo em formação, e, portanto, com
capacidades e necessidades distintas dos adultos.
As inúmeras inovações no âmbito do Direito também passaram a
conceder proteção integral às crianças. Conforme discorreu Barreto (2012, p. ----) o
processo de integração social surgiu da observação do constituinte de 1988, que
destinou elástico capítulo à família, à criança, ao adolescente e ao idoso.
A temática da Alienação Parental surgiu no Brasil em 2002 quase
simultaneamente com a Europa, e nos Tribunais Pátrios, a temática vem sendo
ventilada desde 2006. Gomes (2013, p. 51), na recente obra “Alienação parental: o
bullying familiar” destaca que ainda há poucas decisões dos Tribunais Superiores
29

abordando a Síndrome de alienação parental e deve-se reconhecer que o tardio


reconhecimento do divórcio no Brasil tem influência direta nesse estado de coisas.
Entretanto, apesar de sua previsão legal ser recente, verifica-se que já
haver reconhecimento do instituto por decisões anteriores à Lei de 2010. Pacheco
(2009, p. 34) destaca que o Rio Grande do Sul foi o estado pioneiro no
enfrentamento da questão, reconhecendo a existência e a validade da SAP desde
junho de 2006, como pode ser observado no acórdão da então Desembargadora no
Rio Grande do Sul, Maria Berenice Dias, disponível no sítio <http://br.vlex.com/
vid/43575589?ix_resultado=1.0&query%5Bbuscable_id%5D=172&query
%5Bbuscable_type%5D=Coleccion&query%5Bq%5D=maria+berenice+dias&query
%5Brefine%5D=70014814479# >:

GUARDA. SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA. SÍNDROME DA


ALIENAÇÃO PARENTAL. Havendo na postura da genitora indícios da
presença da síndrome da alienação parental, o que pode comprometer a
integridade psicológica da filha, atende melhor ao interesse da infante
mantê-la sob a guarda provisória da avó paterna. Consigna ainda a
mencionada decisão que a mãe estava devidamente ciente das
consequências jurídicas de seus atos alienadores, tendo sido advertida no
sentido de buscar auxiliar emocionalmente a filha, seja deixando de criar
empecilhos psicológicos à criança, com relação às visitações, seja evitando
a criação de imagens negativas na mente da infante, com relação ao pai e
aos familiares paternos. O fato de a agravante, conforme bem menciona a
decisão guerreada, não estar agindo no melhor interesse da filha… (fl 32).
Assim, necessário que seja a genitora advertida de que sua postura pode vir
a influenciar até mesmo na futura definição de guarda.

No referido caso, a eminente jurista analisou indícios de SAP ocasionados


pela genitora da criança, restando, por fim, a guarda conforme deferida em primeiro
grau, a avó paterna da criança:

Verifica-se que a conduta da genitora indícios do que a moderna doutrina


nomina de “síndrome de alienação parental” ou “implantação de falsas
memórias”, o que, segundo os estudos do psiquiatra americano Richard
Gardner, trata-se de verdadeira campanha desmoralizadora do genitor,
utilizando a prole como instrumento da agressividade direcionada ao
parceiro. Com isso, a criança é levada a rejeitar o genitor que a ama e que
ela também ama, o que gera contradição de sentimentos e a destuição do
vínculo entre ambos.... O filho acaba passando por uma crise de lealdade,
pois a lealdade para com um dos pais implica em deslealdade para com o
outro, tudo isso somado ao medo do abandono. Neste jogo de
manipulações todas as armas são válidas para levar ao descrédito do
genitor, inclusive a assertiva de ter sido o filho vítima de abuso sexual.
Como bem colocado pela Promotora de Justiça da Comarca de Santa
Vitória do Palmar, Drª Daniela Silveira Timm, os laudos juntados, por
assistente social e psicóloga, denotam uma abuso psicológico da menina
30

por parte de sua mãe. Há, então, de forma concreta, um abuso da filha pela
requerida

No ano de 2007 foi julgado o AC 70017390972, que levou à decisão de


suspensão de visitas aos progenitores maternos da criança, em caso, aliás, que se
verifica a primeira constatação da SAP. Conforme pode ser verificado no voto do
Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, os avós maternos realizavam alienação:

VICTÓRIA é apenas uma criança, que não pode carregar a


responsabilidade de ser, para os avós, a única lembrança da mãe, e com
isso, ser levada a rejeitar o pai e vivenciar um conflito de lealdade
extremamente prejudicial à sua formação e ao seu desenvolvimento
emocional. Talvez o sofrimento que estão vivenciando, pela prematura
morte da filha, não esteja permitindo aos apelantes enxergar que
VICTÓRIA, justamente por ter perdido a mãe, precisa receber amor, venha
de onde vier, inclusive e principalmente do pai, figura necessária e
fundamental na elaboração do luto e na reestruturação do afeto desta
criança, para que cresça segura e feliz. Ao invés de se mobilizarem em
desfazer da figura do pai – ensejando a síndrome de alienação parental
noticiada na petição e laudo de fls. 438/443, o que de melhor a família
materna fazer por esta menina é um esforço para superar as diferenças e se
empenhar para que ela se sinta amada e afetivamente amparada por todos
aqueles a quem ama, inclusive o pai. Para mitigar os efeitos sensíveis do
processo de alienação, instaurado pela mágoa e o rancor, inicialmente da
mãe, e depois dos avós maternos, VICTÓRIA já está recebendo
acompanhamento psicológico. Contudo, para que o tratamento seja
realmente efetivo, imperioso que também os avós se submetam a
tratamento especializado, para que seu imenso amor pela neta reverta
puramente em favor dela, despido dos sentimentos negativos
remanescentes dos rancores da filha falecida, até então não tratados.
Desde logo, porém, convém que fiquem advertidos de que, caso persistam
no comportamento alienante, poderão ter as visitas suspensas, por meio de
processo próprio.

O AI 70023276330, julgado em 2008 também pelo TJ-RS trouxe outra


inovação, devido à manutenção da pena de multa por parte da genitora, conforme já
determinado em primeiro grau:

Ao que transparece dos elementos anexados ao instrumento, fortes são os


indícios de que a guardiã do menor sofre da síndrome da alienação
parental, hipótese que recomenda a imediata realização de perícia oficial
psicológica, junto ao DMJ, com o casal envolvido e o menor, se ainda não
determinada pelo Juízo esta perícia. Por ora, na ausência de um substrato
técnico efetivo que autorize a adoção de outra solução, conveniente a
manutenção da multa fixada pelo Juízo, como forma de imposição à mãe ao
cumprimento da visitação, nos termos acordados, evitando-se a utilização
de força, com carga eventualmente mais prejudicial ao pequeno Gustavo.

Foram dados, assim, os primeiros passos no sentido da compreensão do


31

fenômeno no Brasil.
Percebe-se que, mesmo antes da lei, nosso sistema jurídico já dispunha
de instrumentos suficientes para sancionar atos de alienação parental, que
abrangiam desde a previsão do abuso de direito como ato ilícito funcional até
medidas mais gravosas como a suspensão e destituição da autoridade parental.
3.2 POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA NOS CASOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Após a promulgação da lei específica, em 2010, verificou-se um grande


aumento dos casos referindo à ocorrência da alienação parental nos tribunais
brasileiros.
Não obstante a legislação acerca da alienação parental datar agosto de
2010, verifica-se sua utilização apenas três meses após, no AI 70039118526 (de 13
de novembro de 2010) já sendo referida pelo juízo de primeiro grau (TJ-RS).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUSPENSÃO DE VISITAS PATERNAS.


ADEQUAÇÃO. O Juízo está atento à possibilidade de prática de alienação
parental neste caso. Há advertência bem clara à genitora acerca das
sanções possíveis, caso comprovada a conduta da agravada tendente à
prática de alienação. Por outro lado, a suspensão das visitas é temporária.
Há também clara previsão na decisão no sentido de que a suspensão
vigorará até a execução do laudo social e audiência, os quais já estão
aprazados. Logo, a cautela recomenda que se avalize o entendimento do
juízo singular, e também do Ministério Público de Primeiro Grau, que estão
diretamente em contato com as partes e tem melhores condições de
discernimento acerca da melhor solução para este breve momento. Mantida
a suspensão da visitação. NEGADO SEGUIMENTO. EM MONOCRÁTICA.
(Agravo de Instrumento nº 70039118526, Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, Relator: Rui Portanova, Julgado em
13/10/2010.

Conforme relatado na Revista Consultor Jurídico, de 27 de novembro de


2011, após a promulgação da Lei o primeiro caso de alienação parental chegou ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ), em um conflito de competência entre os juízos de
direito de Paraíba do Sul (RJ) e Goiânia (GO). Diversas ações relacionadas à
guarda de duas crianças tramitavam no juízo goiano, residência original delas. O
juízo fluminense declarou ser competente para julgar uma ação ajuizada em Goiânia
pela mãe, detentora da guarda das crianças, buscando suspender as visitas do pai.
A alegação era de que o pai seria violento e que teria abusado sexualmente da filha.
Por isso, a mãe “fugiu” para o Rio de Janeiro com o apoio do Provita (Programa de
Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas). Já na ação de guarda ajuizada
32

pelo pai das crianças, a alegação era de que a mãe sofreria da Síndrome de
Alienação Parental – a causa de todas as denúncias da mãe, denegrindo a imagem
paterna.
Nenhuma das denúncias contra o pai foi comprovada, ao contrário dos
problemas psicológicos da mãe. Foi identificada pela perícia a Síndrome da
Alienação Parental na mãe das crianças. Além de implantar memórias falsas, como
a de violência e abuso sexual, ela se mudou repentinamente para o estado do Rio
de Janeiro depois da sentença que julgou improcedente uma ação que buscava
privar o pai do convívio dos filhos.
Sobre a questão da mudança de domicílio, o juízo goiano decidiu pela
observância ao artigo 87 do Código de Processo Civil, em detrimento do artigo 147,
inciso I, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). De acordo com o primeiro,
o processo ficaria em Goiânia, onde foi originalmente proposto. Se observado o
segundo, o processo deveria ser julgado em Paraíba do Sul, onde foi fixado o
domicílio da mãe.
O ministro relator do conflito na Segunda Seção, entendeu que as ações
da mãe contrariavam o princípio do melhor interesse das crianças, pois, mesmo com
separação ou divórcio, é importante manter um ambiente semelhante àquele a que a
criança estava acostumada. Ou seja, a permanência dela na mesma casa e na
mesma escola era recomendável. O ministro considerou correta a aplicação do CPC
pelo juízo goiano para resguardar o interesse das crianças, pois o outro
entendimento dificultaria o retorno delas ao pai – e também aos outros parentes
residentes em Goiânia, inclusive os avós maternos, importantes para elas.
Também no Estado de Goiás, com base no artigo 4º da Lei nº 12.318, a
juíza Alessandra Gontijo do Amaral, da Vara de Família, Sucessões e 3º Cível da
comarca de Luziânia, declarou, de ofício, o indício de ato de alienação parental
praticado pelo pai de um adolescente que tem privado o filho do convívio com a mãe
desde 2007, quando obteve sua guarda, impedindo-a de visitá-lo ou mesmo de ter
qualquer contato com o garoto. A partir dessa providência, a magistrada determinou
a instauração do processo em ação incidental e mandou, com urgência, abrir vista
dos autos, assim que formados, ao Ministério Público para posterior adoção das
medidas urgentes e necessárias relativas ao caso. A realização de perícia oficial
psicológica a ser feita por uma equipe psicossocial também foi determinada pela
Juíza, que estipulou um prazo de 30 dias para o seu cumprimento. Ao analisar o
33

caso, a magistrada entendeu que existiam fortes indícios da síndrome de alienação


parental, já que o genitor descumpre o acordo formulado judicialmente com a mãe
do jovem desde que obteve a sua guarda, ainda criança (MOTTA, 2011, p. 1).
Algumas vezes a alienação envolve até mesmo falsas acusações de
abuso sexual:
REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS - ACUSAÇÕES DE OCORRÊNCIA DE
ABUSOS SEXUAIS DO PAI CONTRA OS FILHOS - AUSÊNCIA DE PROVA
- SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL CARACTERIZADA -
DESPROVIMENTO DO RECURSO. É indispensável a fixação de visitas ao
ascendente afastado do constante convívio com os filhos, em virtude do fim
do casamento dos pais, conforme prescreve os artigos 1589 e 1632 do
Código Civil. A prática de abusos sexuais deve ser cabalmente comprovada,
sob pena de inadmissível afastamento do pai da criação da prole, medida
esta que culmina em graves e até mesmo irreversíveis gravames psíquicos
aos envolvidos. O conjunto probatório que não demonstra o abuso sexual
sustentado pela genitora, com autoria atribuída ao pai dos infantes, aliada
às demais provas que comprovam a insatisfação dos filhos com o término
do relacionamento do casal, inviabiliza a restrição do direito de visitas
atribuído ao ascendente afastado da prole, mormente diante da
caracterização da síndrome da alienação parental (TJMG, Ap. Cív.
1.0024.08.984043-3/004, 6ª CC, Rel. Des. Edilson Fernandes, J. 14/9/2010,
DJMG 24/9/2010)

De acordo com Calçada (2008, p. 62), para a pessoa acusada


falsamente, esse tipo de situação gera sentimentos profundos como raiva,
impotência e insegurança. Por ser uma acusação subjetiva, é difícil contestar
objetivamente. Fora esses sentimentos, essas pessoas são sujeitas às
conseqüências jurídicas e penais, o que causa a desestruturação completa em toda
a sua vida. Socialmente, o indivíduo perde a confiança social e passa a ser visto
com desconfiança. Perde amizades, passa por constrangimentos em todos os
ambientes, perde a privacidade e fica exposto a insultos e injúrias, o que leva a
fechar-se e a retrair-se socialmente.
Devido à complexidade do tema e as graves consequências que podem
advir do processo de alienação, sobretudo para os filhos, é necessário que o Poder
Judiciário fique atento a oferecer um serviço de qualidade, com profissionais
qualificados e com o mínimo de conhecimento técnico a respeito da alienação
parental, para que as sentenças judiciais assegurem a convivência familiar,
buscando a melhor solução possível para tais conflitos. A Jurisprudência aos poucos
tem evoluído, mas ainda há muito a fazer para conferir efetividade à doutrina de
proteção integral às crianças e aos adolescentes.
34

3.3 ALIENAÇÃO PARENTAL COMO ABUSO DO PODER FAMILIAR

Convivemos em uma época que o Direto de Família está pormenorizado.


Família que se constitucionaliza e se transforma deixando de ser o casamento
formal e absoluto o centro das atenções e se torna um meio mais democrático,
pluralizado, consolidado através da hermenêutica da constituição de 88, marcada
pelos princípios da dignidade da pessoa humana, da solidariedade e da afetividade.
Nesta perspectiva a sistemática dualista entre liberdade e
responsabilidade é imperativa, ou seja, não há liberdade sem responsabilidade e o
inverso também é verdadeiro. A liberdade assegurada pelas famílias
contemporâneas pelo Direito encontra sentido e legitimidade somente quando está
na ética da responsabilidade.
A ética da responsabilidade familiar repudia todos os atos de alienação e
são situações inaceitáveis do ordenamento jurídico por violar os direitos
fundamentais da população infanto-juvenil previsto no artigo 227 da Constituição
Federal, que dispõe que os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade.
A alienação parental ocorre por meio do exercício do poder familiar, no
exercício dos deveres de criar e educar os filhos, vez que tais fatos propiciam a
construção de uma relação de confiança entre pais e filhos. Nesse diapasão a
alienação configura-se como abuso do direito, definido pelo art. 187 do Código Civil
da seguinte forma: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Segundo Machado (2011, p. 185) o artigo 187 do Código Civil sob análise
diz respeito à figura do abuso de direito, situando-o no rol dos atos ilícitos. O direito
há de ser exercido por seu titular de forma equilibrada, norteado sempre pela boa-fé,
probidade e bons costumes. Além disso, nasce o direito da necessidade da
convivência pacífica entre homens, ser social que é (ubi societas bis jus). Portanto,
faz-se necessário respeitar os limites sociais e éticos impostos à atividade individual
na vida em sociedade. Ocorrerá, pois, abuso de direito sempre que o agente invocar
autorização legal para atingir objetivo não tolerado pelo consenso social.
35

Os filhos não podem se estruturar enquanto sujeitos, uma vez que não
conseguem desejar além do desejo do alienador. Este, uma vez que não conseguiu
se diferenciar do filho alienado acredita, mesmo que inconscientemente, que pode
formar com ele uma díade perfeita. Desta forma a criança não se individualiza e com
isso não alcança o espaço do seu desejo. Enquanto objetos de posse e controle, os
filhos passam a agir de acordo com o que o alienador lhes “impõe” (ARAÚJO, 2010,
p 1).
Cabe salientar que o exercício de um direito, para que não haja abuso,
deve harmonizar-se com os valores sociais éticos e econômicos. O exercício do
Poder Familiar, portanto, deve ser exercido sempre visando o melhor interesse da
criança e do adolescente.
Conforme dispõe Gama (2008, p. 80):

O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente representa


importante mudança de eixo nas relações paterno-materno-filiais, em que o
filho deixa de ser considerado objeto para ser alçado a sujeito de direito, ou
seja, a pessoa humana merecedora de tutela do ordenamento jurídico, mas
com absoluta prioridade comparativamente aos demais integrantes da
família de que ele participa. Cuida-se, assim, de reparar um grave equivoco
na história da civilização humana em que o menor era relegado a plano
inferior, ao não titularizar ou exercer qualquer função na família e na
sociedade, ao menos para o direito.

3.4 PREVENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

A Lei 12.318, que trata de alienação parental, ainda é uma desconhecida


por pais, operadores do direito e entidades de proteção à criança. Essa foi a
conclusão de especialistas em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos
do Senado, realizada no ano de 2013. Eles avaliaram, também, que alguns juízes,
escolas e membros de conselhos tutelares não estão preparados para lidar com o
problema. Além de maior preparação de operadores do direito e das entidades de
proteção à criança e ao adolescente, eles julgaram que a lei precisa ser mais
divulgada. Essa foi a conclusão do artigo “Especialistas avaliam que lei da alienação
parental ainda é desconhecida” divulgado pela Agência Brasil no sítio <
http://www.dci.com.br/legisla cao/especialistas-avaliam-que-lei-da-alienacao-
parental-ainda-e-desconhecida-id363404.html >.
A informação talvez seja o primeiro instrumento para prevenir a
36

ocorrência da alienação, principalmente após o genitor potencialmente alienador


saber das sanções às quais está sujeito caso se comporte de determinada maneira.
A partir dessa premissa, Teixeira (2013, p. 10) defende que o papel do Estado ao
desenvolver políticas públicas de conscientização é essencial, pois seu escopo é a
informação sobre a existência de tal fenômeno, dos danos causados aos envolvidos
e as punições previstas em lei à massa da população.
Para garantir alcance e efetividade o trabalho informativo deve ter a
participação de múltiplos atores. Além dos operadores do Direito, deve haver o
envolvimento daqueles que trabalham com a população infanto-juvenil.
A Associação Brasileira Criança Feliz disponibiliza na internet e distribui
gratuitamente desde 2012 a cartilha “Alienação parental: vidas em preto e branco”.
O objetivo da cartilha é informar, alertando sobre danos irreparáveis, e propor a
união entre todos os profissionais nela envolvidos, para encontrar soluções que
exterminem este abuso.
A Associação Brasileira Criança Feliz também idealizou o Projeto Grupo
Vivências, voltado para o apoio e esclarecimento aos pais, vítimas ou não da
Alienação Parental. Contado com o apoio de um psicólogo e do coordenador do
grupo, que proporciona:

(...) além do esclarecimento e orientação, a oportunidade destes pais


ouvirem e serem ouvidos em histórias tão particulares e, ao mesmo tempo,
tão idênticas. O trabalho desenvolvido no Grupo Vivências não direciona,
não instiga. Apenas esclarece e, através da reflexão, pode levar o indivíduo
à percepção daquilo que está vivenciando e da forma como está reagindo à
tamanha agressividade. É neste espaço que pensamentos, sentimentos e
falas se organizam e, muitas vezes, levam esses pais ao entendimento e
clareza daquilo até então desconhecido. É muito difícil para a vítima da
alienação parental raciocinar em meio a esse turbilhão de sentimentos de
raiva, medo, angústia e revolta. Ela perde o discernimento necessário para
agir de forma adequada. Num primeiro momento, ela não entende bem o
que está acontecendo e nem imagina o que poderá acontecer.

Ao entender a alienação parental, seus motivos e razões, o indivíduo


acaba entendendo o alienador. Com essa compreensão fica mais fácil tomar
atitudes corretas e adequadas que levarão não à reação, mas ao enfrentamento da
situação e da busca da melhor solução ao conflito existente (GERBASE, 2012, p.
20).

3.5 IDENTIFICAÇÃO DOS ATOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL


37

A identificação da síndrome da alienação parental e as respectivas


providências cabíveis são fundamentais para o bem estar do menor, visando evitar
prejuízos maiores que tal situação pode acarretar. Portanto, uma vez identificados
atos que caracterizam a alienação parental, a intervenção do Poder Judiciário deve
ser imediata, para que o papel do Estado na tutela das crianças e adolescentes
possa ser efetivamente inibitório das práticas abusivas e de seu perpetuamento,
acautelando na maior medida possível seus melhores interesses.
O comportamento de um alienador pode ser muito criativo, sendo difícil
oferecer uma lista fechada dessas condutas. Pode-se mencionar: destruição, ódio,
raiva, inveja, ciúmes, incapacidade de gratidão, super proteção dos filhos, desejos.
É importante também que seja detectada o quanto antes, pois quanto
mais cedo ocorrer à intervenção psicológica e jurídica, tanto menores serão os
prejuízos causados e melhor o prognostico de tratamentos para todos. O problema
afetará cada uma das pessoas de um jeito mais específico e, sendo assim, deverá
ser analisado individualmente. Trindade (2007, p. 103), explica: “de fato, a Síndrome
da alienação parental exige uma abordagem terapêutica específica para cada uma
das pessoas envolvidas: criança, do alienador e do alienado”.
O alienador costuma ser muito criativo em suas atitudes, com isso
dificultando uma listagem fechada dessas condutas. No entanto, como relatado por
Alemão (2012, p. 1) algumas delas são freqüentes: recusar-se a passar chamadas
telefônicas aos filhos, excluir o genitor alienado de exercer o direito de visitas;
apresentar o novo cônjuge como sua nova mãe ou pai; interceptar cartas e
presentes; desvalorizar ou insultar o outro genitor; recusar informações sobre as
atividades escolares, a saúde e os esportes dos filhos; criticar o novo cônjuge do
outro genitor; impedir a visita do outro genitor; envolver pessoas próximas na
lavagem cerebral de seus filhos; ameaçar e punir os filhos de se comunicarem com
o outro genitor; culpar o outro genitor pelo mau comportamento do filho, dentre
outras.
Todos os comportamentos exemplificados, quando ocorrem com
freqüência, constituem-se em um valioso conjunto de evidências na identificação do
genitor alienador, caracterizando, assim, a presença da Síndrome da Alienação
Parental.
Assim como é difícil descrever todos os comportamentos que diz respeito
38

á conduta do alienador, conhecer seus sentimentos também não é tarefa nada fácil,
praticamente impossível. Porém, existe um denominador comum, num entendimento
que prevalece o sentimento de ódio sobre o sentimento de amor, ou seja, o ódio
existe porque o amor ainda não prevalece.
O art. 2º, parágrafo único da Lei nº 12.318 traz alguns exemplos de
condutas alienadoras, a fim de nortear o julgador no momento de aplicação da lei,
quanto à necessidade e à forma de tutela que deve ser conferida ao menor alienado:
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de
desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar
contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa
denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar
ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o
domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares
deste ou com avós.

3.6 FASE PROCESSUAL E CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO DA LEI

A Síndrome da Alienação Parental é ainda uma situação nova no nosso


ordenamento jurídico, demandando estudos e reflexões para que pais não sejam
injustiçados por pessoas que não tem controle emocional para lidar com o fim de um
relacionamento, exigindo uma ação eficiente para que este transtorno não chegue
ao ponto de se transformar em uma doença tanto no genitor alienador quanto na
criança alienada (ALEMÃO, 2014, p. 1).
Segundo Peleja Júnior (2010, p. 1) a alienação parental pode ser
verificada em um processo já em trâmite – ação de guarda, regulamentação de
visitas, divórcio, incidentalmente, e em qualquer fase processual. Também pode ser
analisada em ação autônoma na qual se invoca a alienação parental como causa de
pedir e como pedido uma das medidas elencadas no artigo 6º da norma.O juiz
também pode, de ofício, verificar a ocorrência da alienação parental nos processos
mencionados – guarda, divórcio, regulamentação do direito de visitas.

Art. 4º: Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de


39

ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou


incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará,
com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Como mencionado por Teixeira (2013, p. 16) a alienação parental é figura


de tal importância, em razão dos danos potenciais que pode provocar, que todos os
atores do processo judicial podem suscitá-la em juízo, a fim de se instaurar o
procedimento que vise identificá-la e coibi-la. De acordo com o art. 4º da Lei 12.318,
constatado indício da prática alienadora, advogados, promotores, assistentes
sociais, psicólogos podem requerer ao juiz – e este pode instaurar de ofício –
procedimento para apurar a existência da alienação parental. A finalidade desta
legitimidade extensiva é preservar a integridade psicológica do menor e o direito à
convivência familiar com o genitor alienado – salvo situação grave apontada por
técnico nomeado pelo juiz (e não por profissional particular).
A Lei 12.318 determina a tramitação prioritária. Lembrando que, por mais
celeridade, que tais casos demandem, o respeito ao princípio constitucional que
garante o contraditório e a ampla defesa é fundamental antes de se decidir pelo
afastamento a criança de seus genitores, através da reversão da guarda ou da
suspensão do direito de visitas (TEIXEIRA, 2010, p. 414).

3.7 A PERÍCIA E IDENTIFICAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS

Um relevante ganho para a identificação, prevenção e banimento da


alienação parental foi o estabelecimento da perícia psicológica ou biopsicossocial no
procedimento judicial, pelo art. 5º da Lei 12.318. Trata-se de um necessário encontro
dos variados campos do conhecimento, cuja finalidade é fornecer ao julgador uma
visão mais completa e integral do caso (TEIXEIRA, 2013, p.17).

AÇÃO DE GUARDA - INDÍCIOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL -


REALIZAÇÃO DE PERÍCIA - PRESERVAÇÃO DO BEM ESTAR DO
MENOR. Com fulcro na Lei nº 12.318/2010, havendo nos autos indícios da
ocorrência da prática de ato de ALIENAÇÃO PARENTAL, o juiz pode
determinar a realização de perícia psicológica ou biopsicossocial, a fim de
se aproximar da verdade real, e, assim, obter novas condições para
40

escolher o melhor guardião para a criança. A melhor doutrina e a atual


jurisprudência, inclusive deste próprio Tribunal, estão assentadas no sentido
de que, em se tratando de guarda de menor, "o bem estar da criança e a
sua segurança econômica e emocional devem ser a busca para a solução
do litígio" (Agravo nº 234.555-1, acórdão unânime da 2ª Câmara Cível,
TJMG, Relator Des. Francisco Figueiredo, pub. 15/03/2002). Recurso
provido (TJMG, AI 1.0024.09.644906-1/003, 1ª CC, Rel. Des. Eduardo
Andrade, J. 12/4/2011, DJMG 13/5/2011).

É imperioso que os juízes se dêem conta dos elementos identificadores


da alienação parental, determinando, nesses casos, rigorosa perícia psicossocial,
para então ordenar as medidas necessárias para a proteção do infante. Fonseca
(2006 p.162) ressalta que:

Não se cuida de exigir do magistrado - que não tem formação em psicologia


- o diagnóstico da alienação parental. No entanto, o que não se pode tolerar
é que, diante da presença de seus elementos identificadores, não adote o
julgador, com urgência máxima, as providências adequadas, dentre elas, o
exame psicológico e psiquiátrico das partes envolvidas.

O principal objetivo da perícia é a elaboração de um laudo detalhado


sobre a identificação da alienação parental, as falsas memórias implantadas pelo
processo de deterioração do genitor alienado; o dano e sua extensão na psique
infantil, sugestão de formas de recuperação da integridade psicológica da criança e
da convivência familiar desgastada com o processo alienador. Isso porque os
operadores do direito não têm competência técnica para identificar todos esses
aspectos, estritamente necessários para um julgamento que efetive o princípio do
melhor interesse da criança e do adolescente (TEIXEIRA, 2013, p. 18).
Uma exigência contundente e justificável da lei é que a perícia seja
realizada por profissional com aptidão comprovada por histórico profissional ou
acadêmico para diagnosticar aos de alienação parental. Entretanto, há de se
verificar se é possível que a exigência seja cumprida nos diversos tribunais do País.
Por vezes, o cumprimento estrito da lei vale para os grandes centros, mas no Brasil
do Interior, sua eficácia imediata fica postergada.
Nos casos que envolvem denúncias de abuso sexual, o psicoterapeuta
norte-americano Edward Nichols defende que, se o objetivo for a confirmação ou
não de uma história de abuso, os testes psicológicos formais não são indicados,
fornecendo apenas informações adicionais sobre o estado emocional da criança. Os
41

testes são úteis quando o avaliador quer avaliar a criança intelectualmente ou seu
desenvolvimento, ou ainda, sobre presença de desordens de pensamento. Por outro
lado, existem testes importantes para detectar psicopatogias ou desvios sexuais,
principalmente em pessoas acusadas de abuso: inventários de personalidade,
inventários de depressão, sessões livres e entrevistas semi dirigidas, ou seja,
instrumentos específicos são os mais adequados e utilizados para realizar um
diagnóstico diferencial entre as personalidades dos reais abusadores e abusados e
dos indivíduos falsamente acusados ou abusados.
Monteiro Filho (2008, p. 1) forneceu um interessante relato sobre sua
primeira experiência como perito:

Quando iniciei minha primeira perícia, nomeando pelo juiz, não imaginava
que estaria mergulhado em um amplo trabalho que me proporcionaria
profundos conhecimentos sobre crianças e suas famílias. O trabalho de
perícia é lento, de grande compromisso, por vezes muito sofrido, mas me
proporcionou grandes experiências nos anos em que a ele me dediquei.
Aceitei o desafio. Estava consciente da minha nova responsabilidade em
emitir um parecer que iria colaborar com uma decisão importante,
envolvendo o peso das fortes emoções de uma família desfeita e o futuro de
uma criança. Sabia que teria um trabalho árduo pela frente e que ele seria
demorado. Como tudo na área pediátrica, exigiria de mim muita empatia, um
profundo envolvimento com a criança e a família, todos em sofrimento. E,
finalmente, deveria elaborar um laudo com total isenção. Tinha de ouvir, no
mínimo, o pai e a mãe em separado; a criança, também, só e com cada um
dos pais, e sempre acompanhando todos os diálogos, olhares, emoções.
Além dessas entrevistas em meu consultório, iria visitar, com a criança, os
ambientes onde estavam vivendo sem pai, sua mãe e alguns parentes,
como os avós. Teria de entrevistar também os eventuais novos parceiros
dos pais, para sentir como eles e a criança se portavam, quando juntos.
Comecei meu trabalho, minha primeira perícia, mergulhando no drama de
uma família em conflito. Foram longos e exaustivos encontros que
mantivemos, mas qualquer dúvida tinha de ser desfeita antes de eu dar meu
parecer.

A importância de uma avaliação bem feita, com métodos sérios e


profissionais competentes, têm como resultado a verdade, e com isso, a chance da
criança e do genitor acusado refazer suas vidas a tempo.
Para aumentar as chances de uma boa avaliação, a lei estabeleceu
requisitos mínimos para assegurar razoável consistência ao laudo: notadamente
entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico de
relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da
personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se
manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. Tem-se assim, maior
42

profundidade na investigação pericial, com maior demanda por qualidade no


trabalho de assistentes sociais, psicólogos e médicos.
Observa-se, no entanto, que a necessidade de perícia não pode ser
absoluta, sob pena de retrocesso. Casos de evidente ato abusivo de alienação
parental já permitem imediata intervenção judicial, como por exemplo, o deliberado
desrespeito à sentença que regulamenta convivência, tornando incontroversa a
possibilidade de que seja intentada, em tal hipótese, ação de execução direta, sem
perícia (PEREZ, 2010, p 72).
3.8 DAS MEDIDAS PROCESSUAIS PREVISTAS NO ART. 6º DA LEI 12.318

O comportamento do alienador é ilícito, lesando não só os melhores


interesses da criança e do adolescente, como também direitos do genitor alienado.
Teixeira (2013, p. 1) versa que:

Muito se fala em sanções que devem ser impostas ao alienador como


resposta jurídica aos ilícitos por ele perpetrados. Não se olvida da
necessidade da coerção jurídica, mas a punição jurídica deve ser imposta
de forma técnica, respeitando o princípio constitucional da pessoalidade da
pena, no intuito de evitar que a criança também acabe por experimentar,
ainda que indiretamente, reflexos da sanção imposta ao genitor alienador.
Neste sentir, imperioso analisarmos o artigo 6º da Lei 12.318 e
compreendermos a finalidade e a natureza jurídica das “medidas
processuais” ali previstas, as quais devem ser implementadas pelo juiz
diante da constatação da alienação parental.

A Lei 12.318/2010 trouxe em seu Art. 6º sanções para aplicação em


casos de alienação parental, bem como alguns trâmites especiais afetos aos
processos judiciais:

Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer


conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor,
em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não,
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus
efeitos, segundo a gravidade do caso: I – declarar a ocorrência de alienação
parental e advertir o alienador; II – ampliar o regime de convivência familiar
em favor do genitor alienado; III – estipular multa ao alienador; IV –
determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V –
determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua
inversão; VI – determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou
adolescente; VII – declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço,
inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá
inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da
residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de
43

convivência familiar.

Como se observa, o artigo 6º da Lei 12.318/2010 previu algumas medidas


protetivas que podem ser determinadas pelo juiz após a constatação de atos típicos
de alienação parental, conforme a gravidade do caso.
Contudo, oportuno esclarecer que esse dispositivo ressalva a
possibilidade de responsabilização civil ou criminal, além das medidas por ele
determinadas. Vale dizer, o artigo 6º da novel lei não tipificou a prática de alienação
parental como crime, pois as medidas tomadas pelo juiz não importam em
responsabilização penal, com aplicação de sanção penal, seja ela pena (privativa,
restritiva ou prisão simples) ou medida de segurança (PAVAN, 2011, p.1).
O projeto que deu origem à Lei 12.318/2010 previa a tipificação da
alienação parental como crime, nas mesmas penas determinadas pelo caput do
artigo 236, para aquele que apresentasse relato falso ao agente indicado no caput
ou á autoridade policial, cujo teor pudesse ensejar restrição à convivência de criança
ou adolescente com o genitor. Entretanto, o artigo 10 que trazia esta modificação,
com o acréscimo de um parágrafo único que tipificaria a alienação parental como
crime, foi vetado pelo então Presidente da República. O veto se deu em razão de
que a imposição de sanção de natureza penal acabaria por acarretar danos
psicológicos ainda maiores aos menores vitimados pela alienação parental, que são
os verdadeiros destinatários da proteção da nova lei, bem como os maiores
prejudicados com essa síndrome.
O artigo 9º, também vetado, pretendia a utilização do procedimento de
mediação para solução do conflito, de forma originária ou incidental ao processo
judicial. Contudo, foi vetado sob o fundamento de que o direito a convivência familiar
da criança e do adolescente é direito indisponível, razão pela qual não poderia ser
aferida por mecanismos extrajudiciais de soluções de conflito, bem como sob a
alegação de que encontraria resistência no princípio da intervenção mínima (artigo
100, parágrafo único, inciso VII, do Estatuto da Criança e do Adolescente). Pavan
(2011, p. 1) destaca, entretanto, que a doutrina mais atenta já repudia essa última
alegação, pois o mecanismo da mediação teria justamente o escopo de respeitar
esse princípio, bem como a desjudicialização do atendimento, causando menores
impactos aos envolvidos.
44

CONCLUSÃO

A alienação parental representa um desafio a ser enfrentado pelos


operadores do direito sobretudo a proteção integral das crianças e adolescentes,
garantindo-lhes o direito a convivência familiar sadia independente de qual tipo de
relação conjugal que seu pais tem.
Tendo em vista os efeitos nefastos expostos neste trabalho, faz-se
necessários que os operadores de Direito e os demais profissionais envolvidos
aprofundem seus conhecimentos sobre o assunto e trabalhe de forma preventiva
nos litígios que envolva menores. Ou seja, mais do que detectar e punir tais
condutas é fundamental que todos os atores envolvidos tenham conhecimento da
gravidade e consequências desse comportamento, adotando uma postura
preventiva.
Cabe ao judiciário utilizar de todas as ferramentas processuais para inibir
e, ou, punir o genitor alienante, ferramentas estas, também elencadas no artigo 6°
da lei 12.318/2010. Depreende-se deste trabalho que a lei fomentou o debate e
45

publicitou a relevância do combate a alienação parental, como medida de proteção e


tutela prioritária da criança e do adolescente.
Ficou demostrado que o Judiciário tem peritos para comprovar se há ou
não a ocorrência da Síndrome de Alienação Parental, mas ficou evidente também
em sentenças ou acordão que o judiciário não tem aparato multiprofissional para
fazer o acompanhamento das famílias que sofrem de alienação parental. Restando
mais uma vez, somente as medidas prevista em lei para tentar coibir esta prática
abusiva. O ideal é buscar a máxima descrita no artigo 227 da Carta Magna, que é o
convívio familiar, ou seja, que se trate a família para que esta síndrome não se faça
presente e somente em último caso se rompa o convívio do infante com os entes
queridos.
Tendo em vista os casos analisados neste trabalho o judiciário tem
interpretado segundo a hermenêutica constitucional balizada no princípio da
dignidade da pessoa humana do menor. Não foi verificado que exista um secção do
judiciário com multiprofissionais que não só identifique a síndrome de alienação
parental, mas que acompanhe os casos em todas as fases processuais. Verificando
em seu dia a dia a convivência familiar daquela criança para que efetivamente se
cumpra com eficiência o que a Constituição de 1988 tem como relevantes princípios
para como o infante.
A rapidez na alteração de um guarda ou aumento da visitação, de logo, já
poderá gerar no alienador a consciência de que não mais terá o controle sobre a
situação, o que poderá fazer com que acate a decisão judicial. Por outro lado a
demora na prestação jurisdicional em casos que tiver provas de indícios de
alienação parental faz do judiciário uma ferramenta alienante poderosa à disposição
do alienador.
Portanto a família brasileira abandonou o modelo tradicional religioso.
Com o advindo da Guarda Compartilhada, da paternidade socioafetiva, das famílias
monoparentais, da reprodução assistida, da desvinculação do sexo ao casamento,
do exame de DNA, da proteção às crianças, aos adolescentes e aos idosos, as
uniões homoafetivas, trouxeram assim novos modelos de família. Nesta perspectiva
o judiciário deverá ser capaz de compor estes novos conceitos de forma eficiente e
eficaz para consolidar a paz social garantindo os direitos constitucionais
fundamentais da família onde a alienação parental deve ser retirado sem ferir estes
mesmos princípios basilares.
46

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51

ANEXOS

LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010


Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei
nº 8.069, de 13 de julho de 1990.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1 Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.
Art. 2 Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos
assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou
52

com auxílio de terceiros:


I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,
para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou
com avós.
Art. 3 A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou
do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas
relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança
ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou
decorrentes de tutela ou guarda.
Art. 4 Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício,
em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o
processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o
Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da
integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua
convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o
caso.
Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia
mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de
prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado
por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das
visitas.
Art. 5 Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma
ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou
biopsicossocial.
§ 1 O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,
53

conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes,


exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da
separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e
exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual
acusação contra genitor.
§ 2 A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,
exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou
acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3 O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo,
prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada.
Art. 6 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII - declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou
obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar
para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das
alternâncias dos períodos de convivência familiar.
Art. 7 A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que
viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas
hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada.
Art. 8 A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a
determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de
convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de
54

decisão judicial.
Art. 9 ( VETADO)
Art. 10. (VETADO)
Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 26 de agosto de 2010; 189º da Independência e 122º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Paulo de Tarso Vannuchi

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