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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

ALIENAÇÃO PARENTAL
A IMPORTÂNCIA DA EFETIVIDADE DA LEGISLAÇÃO VIGENTE

SÃO PAULO
2019
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

Cinthya Freire- B95025-0

ALIENAÇÃO PARENTAL
A IMPORTÂNCIA DA EFETIVIDADE DA LEGISLAÇÃO VIGENTE

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do


título de bacharel em Direito apresentado à
Universidade Paulista- UNIP
Orientadora: Profª. Daniela Matos

SÃO PAULO
2019
FOLHA DE APROVAÇÃO

______________________________
Profª Daniela Matos

______________________________
BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS

Inicialmente, gostaria de agradecer a Deus, que meu deu saúde e forças para
superar todos os momentos difíceis a que eu me deparei ao longo da minha vida e
minha graduação.
Agradeço especialmente aos meus pais José e Marli, meu irmão Charles e
meu noivo Kleber que sempre me apoiaram com tudo que eu precisei e por serem
meu porto seguro.
Agradeço aos meus tios, em particular a Elizabete Coelho e José Roberto, e a
toda sua família por sempre torcerem por mim e me tratarem como muito amor.
Gostaria de agradecer a minha avó D. Maria como exemplo de determinação e luta.
Agradeço a todos os profissionais pelos quais passei ao longo deste caminho e
que de certa forma colaboraram muito para meu crescimento pessoal e profissional.
Agradeço também a todos os meus amigos que sempre me apoiaram e não
desistiram de mim (risos). Em especial, agradeço ao meu grupo (Anna Beatriz, Camila
Ferreira, Ieza Lopes e Ingrid Castro) por compartilharem comigo conhecimento,
paciência, muito amor e carinho.
Por fim, agradeço a todos os professores que passaram em minha vida ao
longo destes duros 5 anos de curso, e especialmente a minha orientadora Prof.ª
Daniela, por todo apoio e paciência ao decorrer da elaboração deste projeto final.
“Quero, hoje, deixar registrado meu repúdio a todos os
pais separados que estimulam seus filhos a deteriorar a
“imagem” do outro genitor”.
E, quero suplicar que parem de torturar vidas inocentes
por rancores e frustrações de um relacionamento que
não deu mais certo.”
Cintia Quissini
RESUMO

Por meio da presente pesquisa foram analisados os pressupostos jurídicos da


alienação parental e da responsabilidade provocada em decorrência dos danos
causados pelo processo de alienação, onde os genitores alienadores precisam ser
punidos por violar a dignidade dos menores. O objetivo do presente trabalho é
abordar a efetividade da legislação vigente frente à prática dos atos de alienação
parental. O presente estudo surgiu da necessidade de abordar a real efetividade da
Lei n.º12.318 de 26 de agosto de 2010, uma vez que o Judiciário encontra inúmeras
dificuldades de comprovar de forma efetiva a alienação parental. Busca-se com a
referida lei inibir os atos de alienação parental, que podem desencadear síndromes ou
algum outro fator que causaria um dano maior e irreversível durante a formação da
vida do menor.
Palavra-chave: Alienação parental. Família. Poder Judiciário.
ABSTRACT

The present study analyzed the legal assumptions of parental alienation and the
liability for damages caused by alienation processes, where alienating generators can
be punished for violating the dignity of minors. The objective of the present work is to
address the effectiveness of the legislation in force regarding the practice of acts of
parental alienation. The present study arose from the need to address the real
effectiveness of Law nº. 12.318 of August 26, 2010, as the Judiciary finds it difficult to
prove the effective form of parental alienation. We seek the law that inhibits acts of
parental alienation, which can trigger syndromes or some other factor that causes
greater and irreversible damage during the formation of the minor life.

Keyword: Parental alienation. Family. Judicial power.


Sumário

1FAMÍLIA NA HISTÓRIA.......................................................................................10

1.1 Aspectos históricos e gerais da entidade familiar.........................................10

1.2 Princípios.......................................................................................................11

1.2.1 Da Dignidade da Pessoa Humana:.........................................................12

1.2.2 Da solidariedade Familiar:......................................................................13

1.2.3 Da igualdade entre os cônjuges e companheiros:..................................13

1.2.4 Da proteção integral a crianças, adolescente e jovem:..........................14

1.2.5 Princípio do melhor interesse da criança:...............................................14

1.2.6 Direitos e deveres dos pais em relação aos filhos:................................17

2. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA FRENTE À PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA


CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.........................................................................19

2.2 A dignidade da criança e do adolescente.........................................................19

2.3 Princípios da instituição familiar.......................................................................21

2.4 As consequências do abandono afetivo...........................................................24

3. ALIENAÇÃO PARENTAL..................................................................................26

3.1 Conceito de alienação parental........................................................................26

3.2 Distinção entre Síndrome da Alienação Parental e Alienação Parental..........27

3.3 Síndrome de Alienação parental: perfil do alienador, falsas memórias e


acusações...............................................................................................................29

4. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA LEI 12.318 E A IMPORTÂNCIA DA


TIPIFICAÇÃO.........................................................................................................30

4.1 Aspectos processuais e dificuldades em produzir provas................................30

4.2 Guarda compartilhada......................................................................................31

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................36

REFERÊNCIAS......................................................................................................38
INTRODUÇÃO

A justiça vem evoluindo e nesse cenário de evolução foram criadas normas


que buscam administrar situações que vinham ocorrendo com frequência ao ponto
de se tornar um problema, nesse caso, foi o que ocorreu com a alienação parental
que é um tema relativamente novo para o Judiciário.
Com as mudanças que aconteceram no decorrer dos anos, sugiram novos
casos e assuntos envolvendo o direito das crianças e dos adolescentes. A
problemática da pesquisa versa em analisar as principais modalidades de família e
os princípios que a regem existentes no Brasil.
Houve um aumento relevante no número de divórcios, e é justamente neste
momento que se iniciam os atos da alienação parental. O poder familiar passou a
ser exercido de forma conjunta ainda que os genitores encontrem-se separados.
Como resposta a esse tipo de conduta o legislador criou a lei de guarda
compartilhada (Lei nº 13.058/2014) para que os genitores tivessem controle sobre a
vivência com a criança de forma igual, e por fim a lei de alienação parental (Lei
nº 12.318/2010) que tem como foco punir genitores que utilizam seus próprios filhos
como instrumento de vinganças contra o seu ex-parceiro (a).
Cumpre esclarecer que é indispensável diferenciar alienação parental e
síndrome da alienação parental, uma vez que uma complemente a outra, existem
diferenças relevantes entre elas.
A problemática da pesquisa versa em analisar as características do alienante
e as consequências por este causadas. Quanto ao objetivo específico a pesquisa
teve como diretriz, analisar aplicabilidade da Lei de alienação parental e identificar
os aspectos jurídicos quanto à responsabilização dos genitores alienadores diante
da realização dessa manipulação com o menor.
A pesquisa se justifica em face da importância em proteger os menores que
tanto sofrem nas mãos de seus genitores que por muitas vezes não respeitam seus
próprios filhos.
A pesquisa incide em uma revisão bibliográfica, tomando como base artigos
científicos e doutrinas jurídicas relevantes. A natureza da pesquisa foi qualitativa e o
método de abordagem utilizado foi o dedutivo.

9
1 FAMÍLIA NA HISTÓRIA

1.1 Aspectos históricos e gerais da entidade familiar

Nas décadas passadas, a família matrimonializada, era tutelada pelo


Código Civil de 1916, no qual a dissolução do casamento era proibida, havendo
diferenciação entre seus membros, sendo uma sociedade extremamente patriarcal.
Cabe salientar que diante dos valores sociais à época não há que se falar em
discriminação ou preconceito, pois as características da sociedade e seus padrões
morais eram para aquele tempo eram adequadas à realidade social. Portanto, a
família era constituída unicamente pelo casamento, não havia que se falar em
nenhum outro meio de constituição familiar, como a união estável. 1
Como consequência de tais fatos, a figura do divórcio era
inimaginável, vez que a felicidade dos membros não era mais importante do que a
predominância da família como instituição, afinal, o divórcio representaria uma
quebra no poderio econômico concretizado pelo casamento.
O Direito das Famílias passou a ser abrangido de maneira diferente
após a Constituição Federal de 1988, acompanhando as mudanças da sociedade.
Historicamente, o modelo de família predominante era o patriarcal, onde a mulher
era totalmente subordinada ao seu marido, sendo vista como um ser totalmente
vulnerável e com menos direitos.
O conceito de família pode ser aplicado de diversas formas. Silvio
Rodrigues nos mostra um conceito amplo que família pode ser definida 2
aquela
formada por todas aquelas pessoas ligadas por vínculo de sangue, sendo a criação
que surge e se desenvolve do matrimônio entre o homem e a mulher e que vai
merecer a mais deliberada proteção do Estado.
No entanto, ao decorrer dos anos e a evolução que a sociedade
passou, o modelo familiar sofreu novas alterações, sendo influenciado pela ideia da
democracia, do ideal de igualdade e da dignidade da pessoa humana.
De certa forma, a família passou então a ser mais democrática,
abandonando assim o modelo patriarcal e passou a ser utilizado um modelo
igualitário, onde todos os seus membros devem ter suas necessidades atendidas e a

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 30
1

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de família – São Paulo : Saraiva, 2004, pg.4 e 6.
2

10
busca da felicidade de cada indivíduo passou a ser essencial. Quanto a definição de
família:
Maria Berenice Dias3, afirma que a família não é mais
essencialmente um núcleo econômico e de reprodução, onde sempre esteve
instalada a suposta superioridade masculina. Passou a ser muito mais que isto, o
espaço para o desenvolvimento do companheirismo, do amor e, acima de tudo, o
núcleo formador da pessoa e elemento fundante do próprio sujeito. “A família é
uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, núcleo fundamental em que
repousa toda a organização social”4
Apesar das diversas conceituações dadas ao vocábulo família,
muitos juristas e doutrinadores convergem no mesmo ponto, ou seja, de que a
família é a base de estrutura da sociedade e por essa razão merece especial
atenção do Estado. Inclusive a própria Declaração Universal de Direitos do Homem
estabelece (XVI 3): “A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem
direito à proteção da sociedade e do Estado.”
Dando maior amplitude ao conceito de família, a Constituição
Federal. 1988 abrangeu a família havida fora do casamento, com origem na união
estável entre homem, mulher e pessoas do mesmo sexo.
Nos dias atuais, não há um modelo a ser seguido; cabendo ao
Direito proteger e positivar todos os tipos que ainda não foram abrangidos na
legislação.

1.2 Princípios

Independentemente dos tipos de família existentes, todas elas devem ter


como alicerce princípios para seja garantida a convivência harmônica entre os
membros e visto que, é no direito das famílias onde mais se sente o reflexo dos
princípios que a Constituição Federal consagra como valores sociais fundamentais 5.

3
DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família e o Novo Código Civil.
Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. VIII.
4
Ibid, Direito de Família e o Novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. VIII.
5
Ibid. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 43
11
No ordenamento jurídico, os princípios são normas jurídicas que se
distinguem das regras não só porque têm alto grau de generalidade, mas também
por serem mandatos de otimização.6
Cada autor traz uma quantidade diferente de princípios que se aplicam ao
direito das famílias, portanto abaixo estão mencionados alguns dos princípios
norteadores.

1.2.1 Da Dignidade da Pessoa Humana:

O art. 1º, III da CF/ 1 988, que o Estado Democrático de Direito brasileiro tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana. Este princípio é denominado
como princípio máximo, ou “superprincípio”, ou “macroprincípio” do qual se irradiam
todos os demais, como: liberdade, autonomia, igualdade, solidariedade, cidadania e
entre outros. Este princípio por sua vez, não representa apenas um limite à atuação
do Estado, mas constitui também um norte para a sua ação positiva. O Estado não
tem apenas o dever de abster-se de praticar atos que atentem contra a dignidade
humana, mas também deve promover essa dignidade através de suas condutas
ativas, garantindo o mínimo existencial para cada ser humano.
Segundo o entendimento de Maria Berenice Dias e Guilherme Calmon
Nogueira da Gama, a dignidade da pessoa humana encontra na família o solo
apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção
independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares
preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares, o afeto, a
solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum,
permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em
ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas 7.
Através do principio da dignidade da pessoa humana, busca-se o pleno
desenvolvimento de todos os membros pertencentes a uma entidade familiar, ou
seja, podemos dizer que este princípio é a base da harmônica da entidade familiar,
permitindo que seus indivíduos desenvolvam suas qualidades e caráter permitindo o
desenvolvimento social e pessoal.

6
Robert Alexy, Teoría de los derechos fundarnentales, 84
7
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 45
12
Podemos tomar como exemplo de incidência deste princípio nas relações
familiares destaca-se a tese do abandono paterno-filial ou abandono efetivo.

1.2.2 Da solidariedade Familiar:

O objeto fundamental da República Federativa do Brasil é a solidariedade


social prevista pelo art.3º, I, da CF/ 1988, no sentido de construir uma sociedade
livre, justa e solidária. Obviamente, este princípio acaba repercutindo nas relações
familiares.
Solidariedade significa responder pelo outro, que dizer, ainda, preocupar-se
com a outra pessoa. Desse modo, a solidariedade familiar deve ser abranger o
sentido amplo, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial e espiritual.
Tem ligação direta com a afetividade e a prestação de assistência aos que
mais necessitam, assim tanto pode um filho requerer o pagamento de pensão
alimentícia para os pais, assim como os pais poderão pedir pensão alimentícia para
os filhos. É o que podemos chamar de mutua assistência.
Existe um grande interesse do próprio Estado em assegurar o princípio da
solidariedade, pois se a família tiver condições e for obrigada a prestar auxilio aos
seus pares, o Estado então ficará desincumbido de prestar este auxilio.

1.2.3 Da igualdade entre os cônjuges e companheiros:

Se observarmos a existência da igualdade constitucional, prevista no artigo


5º, caput, da Constituição Federal de 1988, pode-se extrair dele a igualdade entre os
cônjuges e/ou companheiros que tem uma ligação direta com o conceito de justiça e
moral no âmbito familiar e sociedade conjugal, onde ambos os cônjuges
encaminham a direção da sociedade conjugal com mutua colaboração.
Flávio Tartuce preceitua, em decorrência desse princípio surge a igualdade na
chefia familiar, que pode ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher em um
regime democrático de colaboração, podendo inclusive os filhos opinar. 8

8
Tartuce, Flávio Manual de direito civil: volume único I Flávio Tartuce. 6. ed. rev., atual. e ampl. -
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016, pg. 1189.
13
Certo fato demonstra também um “desligamento” ao modelo patriarcal antigo
em que o homem era o responsável pelo sustento e direção da prole, abrindo
espaço para a decisão em comum acordo.

1.2.4 Da proteção integral a crianças, adolescente e jovem:

A consagração dos direitos de crianças, adolescentes e jovens como direitos


fundamentais está prevista no art. 227 da Constituição Federal, incorporando a
doutrina da proteção integral e vedando referências discriminatórias entre os filhos
(CF 227 §6º), alterou profundamente os vínculos de filiação. Como afirma Paulo
Lôbo, o princípio não é uma recomendação ética, mas diretriz determinante nas
relações da criança e do adolescente com seus pais, com sua família, com a
sociedade e com o Estado. 9
O art. 3º do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) determina que a
criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral, assegurando-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade
e de dignidade. A intenção do legislador ao assegurar a proteção constitucional para
esta parcela de indivíduos, sem sombra de dúvidas, é pela característica da
vulnerabilidade.
Parte do pressuposto de que tais seres humanos não são detentores de
capacidade de exercício, por si só, de seus direitos, necessitando, por isso, de
terceiros (família, sociedade e Estado) que possam resguardar os seus bens
jurídicos fundamentais, consagrados na legislação específica, até que se tornem
plenamente desenvolvidos físico, mental, moral, espiritual e socialmente.

1.2.5 Princípio do melhor interesse da criança:

Este princípio encontra-se amparado na Convenção Internacional dos Direitos


da Criança e adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de
novembro de 1989, que foi ratificada no Brasil em janeiro de 1990, através do

9
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007. p.50
14
Decreto Legislativo n.º 28, de 14 de setembro de 1990, e promulgada pelo decreto
Presidencial nº 99.710 de 21 de novembro de 1990, nos seguintes termos:

“Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por


instituições públicas ou privadas de bem-estar social,
autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem
considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.”

A Constituição Federal de 1988 garante os direitos das crianças e dos


adolescentes em todos os níveis de convivência; ou seja, tanto na finalidade familiar
como na social, aplicando-se o que será melhor para o menor.
A criança em circunstância nenhuma deve ser utilizada como instrumento de
vingança dos pais quando ocorre a separação sem comprometer a felicidade dos
filhos. Portanto, com a ocorrência de tal evento, caberá então, na guarda tratar o
destino, criação e educação do menor, preservando o melhor interesse deste. 10
Segundo, Ana Maria Milano Silva os mostra que o vocábulo “interesse”
conglomeram-se diversas necessidades, absorvendo os interesses morais,
materiais, emocionais e espirituais do menor.
Já Eduardo de Oliveira Leite explica que, a análise do que a lei deseja
expressar como sendo “interesse do menor”, o interesse do menor serve,
primeiramente de critério de controle, isto é, de instrumento que permite vigiar o
exercício da autoridade parental sem questionar a existência dos direitos dos pais. 11
É cediço que a intenção do legislador, ao mostrar que deve ser respeitado o
melhor interesse do menor, é justamente evitar que sejam cometidas arbitrariedades
pelos pais, como ocorre na alienação parental.
Por inúmeras vezes os pais, tomados pela raiva momentânea não conseguem
chegar a um acordo sobre a guarda do filho sob a ótica do melhor interesse do
menor, e segundo esclarece Silvo de Salvo Venosa, o melhor interesse dos menores
tem levado os tribunais a propor a guarda compartilhada ou conjunta. Lembrando
que o instituído da Guarda ainda não atingiu sua plena evolução.
Há quem defenda ser plenamente possível a divisão de atribuições ao pai e a
mãe na guarda concomitante do menor. A questão da guarda, nesse aspecto, a
pessoas que vivam em locais separados não e fácil de deslinde. Dependerá muito

10
SILVA, Ana Maria Milano. Guarda Compartilhada. ed. de Direito. São Paulo, 2005. p.43.
11
LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.
95.
15
do perfil psicológico, social e cultural dos pais, alem do grau de fricção que reina
entre eles após a separação.
Ana Maria Milano Silva destaca que, “é nesse sentido que a prioridade
conferida ao interesse do menor emerge como o ponto central, a questão maior, que
deve ser analisada pelo juiz na disputa entre os pais pela guarda do filho. O
interesse do menor é sempre supremo, caso o juiz verifique circunstâncias que
indicarem a necessidade de mudanças poderá ele rever seu posicionamento, bem
como as partes. Devendo os pais passarem por cima de ressentimentos,
contribuindo no processo de separação ou divórcio para que possam regular
acordos pertinentes aos filhos, com a finalidade maior de privilegiar o melhor
interesse dos filhos”.
Os tribunais já tem demonstrado como fundamentação de suas decisões o
princípio do melhor interesse dos filhos, vejamos:

MENOR. GUARDA. PEDIDO DE MODIFICAÇÃO


PROVISÓRIA DE GUARDA. INADMISSIBILIDADE.
ALEGAÇÕES DO AUTOR QUE NÃO FORAM
DEMONSTRADAS NOS AUTOS. RELATOS
UNILATERAIS QUE NÃO AUTORIZAM A
CONCESSÃO DA GUARDA, AINDA QUE EM
CARÁTER PROVISÓRIO. NECESSIDADE DE
ELEMENTOS MAIS CONSISTENTES, A FIM DE SE
DECIDIR EM FAVOR DO MELHOR INTERESSE DA
CRIANÇA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO
IMPROVIDO. (TJ-SP - AI: 21875114920198260000
SP 2187511-49.2019.8.26.0000, Relator: Vito
Guglielmi, Data de Julgamento: 06/11/2019, 6ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
06/11/2019).

Agravo de instrumento – Ação de modificação de


guarda – Decisão antecipando parcialmente a tutela
de urgência para fixar as visitas da genitora à filha,
das 9:00 horas às 17:00 horas, todo primeiro e
terceiro domingo de cada mês, não podendo se
ausentar da cidade em que a menor reside.
Inconformismo da genitora, pugnando pela
ampliação das visitas, inclusive com o pernoite,
devendo os agravados (avós paternos), deixar a
menor em sua residência. Decisão mantida –
Ausência dos pressupostos do artigo 300 do CPC –
Guarda conferida aos agravados desde a tenra
idade da neta – Melhor interesse da menor que deve
16
ser observado, não se recomendando, pelo menos
por ora, a ampliação das visitas, diante da alegação
de uso de entorpecente, tendo negligenciado os
cuidados da menina – Cautela que é de rigor –
Recurso improvido. (TJ-SP - AI:
21886989220198260000 SP 2188698-
92.2019.8.26.0000, Relator: José Joaquim dos
Santos, Data de Julgamento: 06/11/2019, 2ª Câmara
de Direito Privado, Data de Publicação: 06/11/2019)

Portanto, é de suma importância a observação do princípio do melhor interesse


da criança visto que esta tem por intuito garantir os direitos inerentes ao menor,
assegurando-lhe o pleno desenvolvimento e sua formação cidadã, impedindo os
abusos de poder pelas partes consideradas mais fortes da relação jurídica que
envolva a criança, já que o menor a partir do entendimento de tal princípio ganha
status de parte hipossuficiente, que por esse motivo, deve ter sua proteção jurídica
maximizada.

1.2.6 Direitos e deveres dos pais em relação aos filhos:

Para o correto desempenho do poder familiar são atribuídos aos genitores e/ou
aos responsáveis pelas crianças e adolescentes direitos e deveres.
A criança passou a ser considerada sujeito de direitos através do Estatuto da
Criança e do Adolescente, implantado pela Lei Federal n° 8.069 de 1990 em
consonância com o artigo 227 da Constituição Federal de 1.988 e a Convenção dos
Direitos da Criança.12
A Constituição Federal no artigo 227 enumera os alguns direitos que devem ser
garantidos à criança e ao adolescente:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

12
BARBOSA, Águida Arruda et al. Direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 29-
30.
17
Os direitos inerentes às crianças devem ser respeitados pela família, e
assegurados pela sociedade e pelo Estado.
O art. 7° do Estatuto da Criança e do Adolescente regulamenta entre os direitos
fundamentais dos menores o seu desenvolvimento sadio e harmonioso, bem com o
direito de serem criados e educados no seio de sua família. Após o longo estudo
realizado sobre o psiquismo humano pode se verificar que a convivência dos filhos
com os pais não é direito e sim dever, “não é direito de visitá-lo, é obrigação de
visitá-lo.” Visto que o distanciamentos dos pais e filhos produz sentimentos de ordem
negativa no desenvolvimento dos menores.13
O artigo 1.634 do Código Civil enumera sete diferentes incisos os direitos e
deveres que aos pais incumbem referentes à pessoa do filho. Como exemplo disso
encontra-se o dever de criação e educação que está disposto no inciso I, artigo
1.634 do Código Civil e no artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em conformidade com Silvio Rodrigues, esta obrigação se trata do zelo
material e moral para que o filho fisicamente sobreviva e por meio da educação
forme seu espírito e seu caráter.
Neste diapasão, criar significa incorporar condições no âmbito familiar da
criança e/ou do adolescente para seu desenvolvimento individual pleno e sadio
como ser humano. Educar é orientá-los para a obtenção de conhecimento, hábitos,
usos e costumes, objetivando agregar as suas atitudes à cultura da sociedade em
que vive, refletindo valores de um mundo compartilhado de conhecimento e de
pretensões individuais e coletivas.
O descumprimento do dever de prover a educação de filho caracteriza além de
delito de abandono intelectual (CP art. 246), também constitui infração administrativa
(ECA art. 249). Aliás, no dever de alimentos, está imposta de modo expresso a
obrigação de atender às necessidades de educação (CC art. 1 .694).
Os textos legais que cuidam dos direitos e deveres dos pais devem ser
interpretados levando-se em conta o interesse do menor, que em todos os casos
deve sobrepor-se a qualquer outro bem ou interesse juridicamente tutelado,
considerando a destinação social da lei e o respeito à condição peculiar da criança e
do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

13
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. Porto Alegre: Revista dos Tribunais, 2009.
p. 415
18
2. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA FRENTE À PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.1 A família na Constituição Federal

A Constituição Federal de 1988 traz em seu texto importantes direitos e


garantias fundamentais, e tais encontram-se nesse diploma por ser a maior força
normativa de um país. No caso do Brasil, a Constituição Federal serve de parâmetro
para todas as normas, onde um desvio daquilo que ela determina é motivo para que
a norma seja alvo do controle de inconstitucionalidade.
No artigo 226 da Constituição Federal existem dispositivos que tratam
diretamente da importância da família na sociedade. Sobre o que o artigo 226
afirma: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.’’
O surgimento da instituição é incerto, contudo, com o passar dos séculos
essa entidade social passou por modificações bruscas, entretanto, mesmo com as
mudanças ainda existem os grupos conservadores que lutam pela padronização
dessa instituição. É uma luta perdida, pois a família não se resume em laços de
sangue, ela ultrapassa essa noção obsoleta, onde o maior laço é o afetivo. 14
Tratar da importância da família é de extrema importância para o presente
estudo, pois no decorrer da pesquisa serão analisados casos onde a supremacia da
família e a importância dessa instituição não é o suficiente para que crianças e
adolescentes sejam tratadas como devem ser tratadas, já fatos como o abandono
afetivo e a alienação parental são condutas que violam gravemente a dignidade do
menor.

2.2 A dignidade da criança e do adolescente

Antes de adentrar especificamente na dignidade da criança e do adolescente,


é necessário fincar as bases jurídicas acerca da dignidade da pessoa humana. A
dignidade humana é mais um dos institutos filosóficos e jurídicos que se

14
Brasil, Constituição Federal de 1988, online. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em 28 de
agosto de 2019.

19
desenvolveram com o passar dos anos. Sobre o princípio da dignidade humana,
Sarmento (2016), declara:

Com o princípio da dignidade da pessoa humana não tem sido diferente.


Independentemente da posição que se tenha sobre o fundamento deste
princípio – se ele se ancora, por exemplo, em leis divinas, na natureza
humana, ou se é o resultado contingente e provisório de lutas políticas e
sociais –, não há dúvida de que, do ponto de vista descritivo, o princípio da
dignidade da pessoa humana, tal como hoje o concebemos, não nasceu
pronto e acabado15

Esse princípio passou a se desenvolver e consequentemente se encontra em


vários sistemas jurídicos do mundo todo, inclusive, como fundamento no caso do
Brasil: ‘’Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana (...)’’ (Brasil,
Constituição Federal de 1988, online). No Brasil a dignidade humana é um princípio
fundamental, com isso, todo cidadão, sem distinção de qualquer natureza precisa
que sua dignidade seja tutelada da devida maneira.
A dignidade da pessoa humana é uma máxima constitucional, e quanto a
proteção das crianças e dos adolescentes, esse princípio ganha mais um aliado cujo
é o Estatuto da Criança e do Adolescente, onde nesse dispositivo estão previstos
vários direitos relativos aos menores.
Por criança e adolescente, são consideradas: ‘’ Art. 2º Considera-se criança,
para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.’’ 16
Quanto aos direitos das
crianças e dos adolescentes: ‘’ Art. 3º A criança e ao adolescente gozam de todos os
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral
de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental,
moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.’’ Sobre as
partes que tem como dever a proteção dos menores: ‘’ Art. 4º É dever da família, da
comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta

15
SARMENTO, Daniel. Dignidade da pessoa humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo
Horizonte: Fórum, 2016. p. 26.
16
Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069 de 1990, online. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069compilado.htm> Acesso em 29 de agosto de 2019.

20
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.’’ 17 Como descrito
anteriormente, a criança necessita de proteção, de cuidados, precisa de um
ambiente propício para seu desenvolvimento mental, moral, espiritual e social, ou
seja, condições mínimas necessárias para que qualquer indivíduo se desenvolva
saudavelmente. Como citado, a proteção do menor é responsabilidade tanto dos
pais, como da sociedade e por fim do Estado por ser a entidade suprema que
funciona como uma espécie de mediador dos conflitos provenientes das interações
sociais.

2.3 Princípios da instituição familiar

Independentemente dos tipos de família existentes, todas elas devem ter


como alicerce princípios para seja garantida a convivência harmônica entre os
membros e visto que, é no direito das famílias onde mais se sente o reflexo dos
princípios que a Constituição Federal consagra como valores sociais fundamentais. 18
Cada autor traz uma quantidade diferente de princípios que se aplicam ao
direito das famílias, portanto abaixo estão mencionados alguns dos princípios
norteadores.
O art. 1º, III da CF/ 1 988, que o Estado Democrático de Direito brasileiro tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana. Este princípio é denominado
como princípio máximo, ou superprincípio, ou macroprincípio do qual se irradiam
todos os demais, como: liberdade, autonomia, igualdade, solidariedade, cidadania e
entre outros.
Este princípio por sua vez, não representa apenas um limite à atuação do
Estado, mas constitui também um norte para a sua ação positiva. O Estado não tem
apenas o dever de abster-se de praticar atos que atentem contra a dignidade
humana, mas também deve promover essa dignidade através de suas condutas
ativas, garantindo o mínimo existencial para cada ser humano.

17
Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069 de 1990, online. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069compilado.htm> Acesso em 29 de agosto de 2019.
18
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 43.
21
Segundo o entendimento de Maria Berenice Dias e Guilherme Calmon
Nogueira da Gama, a dignidade da pessoa humana encontra na família o solo
apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção
independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares
preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares, o afeto, a
solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum,
permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em
ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas. 19

Através do princípio da dignidade da pessoa humana, busca-se o pleno


desenvolvimento de todos os membros pertencentes a uma entidade familiar, ou
seja, podemos dizer que este princípio é a base da harmônica da entidade familiar,
permitindo que seus indivíduos desenvolvam suas qualidades e caráter permitindo o
desenvolvimento social e pessoal. Podemos tomar como exemplo de incidência
deste princípio nas relações familiares destaca-se a tese do abandono paterno-filial
ou abandono efetivo. O objeto fundamental da República Federativa do Brasil é a
solidariedade social prevista pelo art.3º, I, da CF/ 1988, no sentido de construir uma
sociedade livre, justa e solidária. Obviamente, este princípio acaba repercutindo nas
relações familiares.20
Solidariedade significa responder pelo outro, que dizer, ainda, preocupar-se
com a outra pessoa. Desse modo, a solidariedade familiar deve ser abranger o
sentido amplo, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial e espiritual.
Tem ligação direta com a afetividade e a prestação de assistência aos que
mais necessitam, assim tanto pode um filho requerer o pagamento de pensão
alimentícia para os pais, assim como os pais poderão pedir pensão alimentícia para
os filhos. É o que podemos chamar de mutua assistência.
Existe um grande interesse do próprio Estado em assegurar o princípio da
solidariedade, pois se a família tiver condições e for obrigada a prestar auxílio aos
seus pares, o Estado então ficará desincumbido de prestar este auxilio. 21
Se observarmos a existência da igualdade constitucional, prevista no artigo
5º, caput, da Constituição Federal de 1988, pode-se extrair dele a igualdade entre os
cônjuges e/ou companheiros que tem uma ligação direta com o conceito de justiça e

19
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 45.
20
Ibid. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007.
21
Ibid. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007.
22
moral no âmbito familiar e sociedade conjugal, onde ambos os cônjuges
encaminham a direção da sociedade conjugal com mutua colaboração.
Flávio Tartuce preceitua, em decorrência desse princípio surge a igualdade na
chefia familiar, que pode ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher em um
regime democrático de colaboração, podendo inclusive os filhos opinar. 22
Certo fato demonstra também um “desligamento” ao modelo patriarcal antigo
em que o homem era o responsável pelo sustento e direção da prole, abrindo
espaço para a decisão em comum acordo.
A consagração dos direitos de crianças, adolescentes e jovens como direitos
fundamentais está prevista no art. 227 da Constituição Federal, incorporando a
doutrina da proteção integral e vedando referências discriminatórias entre os filhos
(CF 227 §6º), alterou profundamente os vínculos de filiação. Como afirma Paulo
Lôbo, o princípio não é uma recomendação ética, mas diretriz determinante nas
relações da criança e do adolescente com seus pais, com sua família, com a
sociedade e com o Estado.23
O art. 3º do ECA determina que "a criança e o adolescente gozam de todos
os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e de dignidade". A intenção do legislador ao
assegurar a proteção constitucional para esta parcela de indivíduos, sem sombra de
dúvidas, é pela característica da vulnerabilidade.
Parte do pressuposto de que tais seres humanos não são detentores de
capacidade de exercício, por si só, de seus direitos, necessitando, por isso, de
terceiros (família, sociedade e Estado) que possam resguardar os seus bens
jurídicos fundamentais, consagrados na legislação específica, até que se tornem
plenamente desenvolvidos físico, mental, moral, espiritual e socialmente.

22
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 6. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016, p. 1189.
23
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007. p.50.
23
2.4 As consequências do abandono afetivo

O abandono afetivo é uma forma cruel de violar a dignidade da criança e do


adolescente, uma vez que eles não esperam que aqueles que deveriam protegê-los
se tornasse seu algoz, não por conta de uma ação, mas sim, omissão. Abandonar
uma pessoa afetivamente não consiste apenas na ausência sentimental, mas de
aspectos importantes como a proteção da saúde, a segurança do menor, a
educação, além disso, os menores passam a ter uma imagem deturpada sobre
valores importantes que devem ser passados de pessoa para pessoa.
A ausência de um dos responsáveis deixa uma lacuna no desenvolvimento do
menor, lugar esse que antes ocupava alguém que ele confiava e sentia afeto, e que
agora o abandonou. Quanto as consequências do abandono afetivo, Silva (2018)
afirma:

A ausência da figura de um dos genitores faz com que a criança perca uma
de suas referências imprescindíveis para o seu desenvolvimento. Ao ser
abandonada pelo pai, perde o exemplo de força e liderança perante a
família. O pai é extremamente importante para o desenvolvimento
sociológico do menor. Ao ser abandonada pela mãe, a criança é privada de
amor, carinho e afeto, sendo muitas vezes, criada por algum parente
próximo, isso quando não é jogada em algum orfanato à mercê da própria
sorte24

O abandono afetivo é uma conduta cruel, onde diante desses casos o Estado
por meio do seu poder judiciário fixa indenizações, valores a serem pagos para os
menores que foram abandonas, todavia, nenhum valor pecuniário pode apagar o
dano causa pelo abandono afetivo:

Contudo, percebe-se que apenas o pagamento de pensão não é o suficiente


para compensar a ausência de um pai ou uma mãe durante a vida, fazendo
com que as indenizações comecem a surgir no cenário nacional, visando
reparar os danos morais sofridos pelos filhos em decorrência do abandono
afetivo parental. Entretanto, percebemos que o assunto vai muito mais além
do que a questão pecuniária 25

24
SILVA, Daniele Minski. O abandono afetivo e suas consequências, 2018. Disponível em
<https://jus.com.br/artigos/73336/o-abandono-afetivo-e-suas-consequencias-juridicas> 02 de
setembro de 2019. p. 1.
25
Ibid. O abandono afetivo e suas consequências, 2018. Disponível em
<https://jus.com.br/artigos/73336/o-abandono-afetivo-e-suas-consequencias-juridicas> 02 de
setembro de 2019. p. 1.

24
O afeto pode se manifestar por meios diversos, seja por meio da
demonstração e amor e carinho, seja através de uma proteção; um tratamento
médico e a proteção dos pais para com os filhos; a preocupação dos genitores com
a educação dos menores, entre outras medidas importantes para a proteção da
dignidade humana da criança e do adolescente.
O Estado não pode ocupar o lugar dos genitores, mas ele pode punir os pais
que abandonam seus filhos, pois o abandono é uma afronta direta a dignidade da
pessoa humana, e como consequência os menores passam a sofrer diversos efeitos
psicológicos, como ansiedade, irritabilidade, e em casos graves até depressão como
será abordada quando for citada a alienação parental e a síndrome de alienação
parental.

25
3. ALIENAÇÃO PARENTAL

3.1 Conceito de alienação parental

Por alienação parental, entende-se a interferência de um dos genitores


quanto a visão do menor frente ao outro genitor, o que faz com que a criança tenha
uma relação conturbada com a parte que está sendo atacada, pois a mãe ou o pai
inventa fatos para colocar o filho contra ele(a).
A Lei que dispõe sobre a alienação parental é a Lei 12.318 de 2010, e em seu
artigo 2° esse diploma trata sobre as características da alienação:

Art. 2o  Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a
sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este 26

Como descrito pela lei, uma das partes ‘’manuseia’’ a criança com mentiras
com o intuito de prejudicar a relação entre o menor e a outra parte como se fosse
algum tipo de vingança doentia que o alienador ignora as consequências desses
atos no desenvolvimento da criança.
No artigo 3° da lei de alienação, estão descritos exemplos de condutas
consideradas como alienação. Vide artigo 3°:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além


dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:  I - realizar campanha de
desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar
contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa
denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar
ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o
domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares
deste ou com avós27

26
Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069 de 1990, online. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069compilado.htm> Acesso em 29 de agosto de 2019.
27
Ibid. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069compilado.htm> Acesso em 29
de agosto de 2019.
26
A alienação coloca em risco o desenvolvimento do menor, além de destruir a
visão de família e de lar que ele tinha o que faz com que inúmeras consequências
surjam, dentre elas a síndrome de alienação parental. Dessa forma, a alienação
parental precisa ser combatida e o alienador punido com severidade por
desrespeitar e atacar a dignidade da criança para satisfazer seus próprios caprichos.
No capítulo anterior foi realizado um questionamento quanto a qual
responsabilidade: objetividade e subjetiva seria executada nesses casos, nada mais
justo que a aplicação do viés objetivo, já que o indivíduo realiza a alienação com
culpa e coloca em risco o desenvolvimento da criança, aliás, não importante o
aspecto, cabe a responsabilização do alienador, pois esse comportamento só pode
existir com dolo, e a ação por si só já é uma manipulação da criança.

3.2 Distinção entre Síndrome da Alienação Parental e Alienação Parental

São conceitos interligados e que não se confundem. O primeiro ponto é


diferenciar a síndrome da alienação parental, pois enquanto a primeira é
consequência, a segunda é a conduta:

“A Síndrome da Alienação Parental (SAP) não se confunde


com a Alienação Parental (AP). O termo síndrome constitui um
distúrbio, um agrupamento de sintomas que se alojam em
decorrência da extrema reação emocional que os pais
submetem seus filhos. Já a alienação parental são as ações
que proporcionam verdadeira campanha de desrespeito de um
genitor em relação ao outro.”28

A síndrome de alienação parental é um distúrbio, onde as consequências


para o menor são drásticas, e em casos graves se manifesta a depressão ou até o
ódio da criança por parte do pai que foi alvo de mentiras. No que dispõe o conceito
de síndrome e distúrbio:

Postula que “síndrome” significa distúrbio e, no caso da SAP,


engloba os sintomas resultantes da prática que os menores
CAMPOS, Alessandra Barboza de Souza. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL: POSSÍVEIS
28

CONSEQUÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA, 2016. Disponível


em <https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1044.pdf> Acesso em 04 de outubro de 2019. p. 10.
27
foram vítimas, de extremada reação emocional em relação a
um dos genitores. Logo a “alienação” são os atos que excitam
certa campanha desmoralizadora induzida pelo “alienante”, que
nem sempre é o guardião. Chama-se de “alienado” tanto o pai
quanto o filho vítima desta prática29

Para fins jurídicos, basta que haja ao menos o indício da pratica de ato de
alienação parental para promover ação autônoma ou incidental, conforme previsto
no art. 5º da Lei 12.318/2010, vejamos:

Art. 5º Havendo indício da prática de ato de alienação parental,


em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário,
determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.
§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica
ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo,
inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de
documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e
da separação, cronologia de incidentes, avaliação da
personalidade dos envolvidos e exame da forma como a
criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual
acusação contra genitor.
§ 2º A perícia será realizada por profissional ou equipe
multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão
comprovada por histórico profissional ou acadêmico para
diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar
a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa)
dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente
por autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada.

O ato de alienar acarreta a síndrome de alienação, e esse distúrbio é uma


condição clínica na qual surge em consonância com o início da manipulação do
menor pelas mãos de um dos genitores. No que diz respeito a “SAP”, o Estado vem
punindo o alienador por meio do pagamento de indenização, enquanto a criança
passa a ter acesso a tratamento psicológico e também começa a ter contato com o
responsável que foi alvo da alienação.
A síndrome evolui de acordo com a implantação de novas memórias na
criança, e muitas das vezes são mencionadas coisas que nunca ocorreram com ela,
e por estar em desenvolvimento acaba sendo influenciada e enganada com
facilidade por aquele (a) que a utiliza com objeto para satisfazer sua vingança
pessoal. No nível mais elevado da síndrome a criança pode até vir a odiar a outra

CAMPOS, Alessandra Barboza de Souza. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL: POSSÍVEIS


29

CONSEQUÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA, 2016. Disponível


em <https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1044.pdf> Acesso em 4 de outubro de 2019. p. 10.
28
parte, e tudo isso por conta do processo de alienação parental. Sobre esse nível,
Campos (2016) o caracteriza da seguinte forma:

“No último grau, não mais permanece a incoerência de


emoções, pois a criança abomina o pai alienado. Nesses
casos, a criança está totalmente envolvida na conexão de
dependência específica, que a impede pela liberdade e a
imparcialidade em relação ao discurso do genitor alienador.
Neste estágio a aceitação da criança alienada por parte do que
lhe fala o pai alienador é tão intensa, que falsas memórias são
enraizadas, motivo das desleais agressões verbais, físicas, e
até falsos abusos sexuais.”30

3.3 Síndrome de Alienação parental: perfil do alienador, falsas memórias e


acusações

O alienador é uma das partes inconformada com o término da relação e que


coloca em prática a sua vingança em detrimento da dignidade do menor ao ponto de
criar falsas memórias, inventar acusações (como agressões e abusos sexuais) para
que a criança crie uma repulsa por seu outro genitor, fazendo com que a ligação
entre eles seja “quebrada”.
A criança e o adolescente ainda estão em desenvolvimento: mental e físico,
além de outros aspectos, já que o desenvolvimento humano é divido em tipos: físico-
locomotor, aspecto intelectual e social. Esse ponto é necessário de ser mencionado
em razão da fragilidade da criança e do adolescente frente aos adultos, o que faz
com que os efeitos da alienação sejam tão intensos e graves ao ponto de gerar uma
síndrome.
Muitas vezes o ambiente familiar em que ocorre a alienação é bastante
conflituoso, com clima de inimizades entre os genitores e até mesmo suas famílias
do casal que está passando pelo processo de divórcio.
Os critérios de identificação não são aplicados com clareza pelo poder
judiciário que encontra grande dificuldade em identificar quando de fato ocorre a
alienação parental, gerando entre seus profissionais um estado de atenção para que
não tratem o alienador de forma despercebida como vítima.

CAMPOS, Alessandra Barboza de Souza. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL: POSSÍVEIS


30

CONSEQUÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA, 2016. Disponível


em <https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1044.pdf> Acesso em 04 de outubro de 2019. p. 10.
29
4. Considerações acerca da lei 12.318 e a importância da tipificação

A alienação parental surgiu em meados do ano de 1980, porém, para o Poder


o Poder Judiciário tornou-se novidade em 2010, ano em que foi promulgada a lei
12.380/2010 pelo ex- Presidenta da República Dilma Ruseff.
Seu objetivo principal é diminuir os casos de alienação parental que passaram
a ocorrer com grande frequência. “A lei busca proteger o menor das condutas
realizadas pelo alienador, preservando assim seu desenvolvimento psíquico, físico e
emocional.”31
A tipificação da alienação parental foi de grande importância no cenário jurídico, uma
vez que com a criação da lei, o judiciário não pode ser inerte quanto a penalização
do genitor que pratica a alienação. A lei dispõe de mecanismos que atuam de forma
efetiva para combater e prevenir a alienação parental, bem como definiu realmente o
que é a alienação parental.

4.1 Aspectos processuais e dificuldades em produzir provas

A Alienação Parental pode ser arguida de forma incidental em qualquer tempo


no processo já em trâmite. O genitor que é vítima da alienação parental, quando
munido de provas que relate os prejuízos causados pelo outro genitor ao menor e a
si mesmo, requer ao Judiciário que seja suspendida a convivência familiar com o
genitor alienador, bem como a suspensão das visitas que sempre ao concedidas de
forma liminar pelo Juiz.
Nesta senda, Teixeira e Rodrigues nos esclarecem que o local apropriado
para alegação de alienação parental é a vara de Família que encontram-se situadas
próximo ao domicílio do menor, vejamos:

“A alegação da alienação parental em juízo tem como foro


competente para sua apreciação a Vara de Família situada no
domicílio da criança ou adolescente, e tal pode ocorrer de
forma incidental, a qualquer momento processual, em
processos que envolvam direta ou indiretamente os interesses

TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. Alienação parental: aspectos
31

materiais e processuais. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 2, n. 1, jan.-mar./2013. Disponível


em: <http://civilistica.com/alienacao-parental/>. Acesso em 30 de outubro de 2019
30
do menor, ou através de ação autônoma aforada com o
propósito específico de suscitar, provar, declarar e punir atos
alienadores.”32

Sendo assim, medidas que tem como objetivo interromper os atos da


alienação parental, bem como a proteção imediata ocorre de forma ágil e não ferindo
os direitos constitucionais da ampla defesa e contraditório, uma vez que ocorrem
falsos relatos parte de um ou de ambos os genitores.
Nesta oportunidade, cabe explicar a importância da realização de perícia que
ajuda o julgador a ter uma visão ampla, clara e integral do caso. Com a perícia,
busca-se um estudo minucioso da dinâmica familiar, apropriado para identificar o
abuso psicológico que o menor esteja sofrendo pelo processo alienador.
Como a perícia é considerada um meio de prova, é admitido à indicação de
profissionais como assistente técnico e quais os quesitos que devem ser aplicados
por este, afim de que seja possível elaborar um laudo com o maior número de
informações e detalhes sobre a alienação parental, o dano e sua extensão psique
infantil, as falsas memórias que são implantadas pelo processo de deterioração do
genitor alienado, sugestão de formas de recuperação da integridade psicologia da
criança e da convivência familiar que se perde com o processo alienador.

4.2 Guarda compartilhada

Por guarda entende-se:

Guarda, termo importante que traz aplicações destinadas ao


ato de cuidado, é uma expressão que nos leva a pensar em
segurança, proteção e fragilidade. Alguém que necessita
desses cuidados só pode ser uma pessoa frágil, incapaz de se
cuidar sozinha, se defender, tomar decisões importantes,

32
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. Alienação parental: aspectos
materiais e processuais. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 2, n. 1, jan.-mar./2013. Disponível em: 31
de outubro de 2019
31
precisa estar a salvo de estranhos e de tudo o que possa lhe
causar o mal.33

Quando um casal se separa e dessa união o casal teve filhos a guarda


compartilhada se torna o meio menos doloroso para que os menores possam
continuar tendo contato com ambos responsáveis.
Com base na diversidade da instituição familiar e as novas configurações
jurídicas do Brasil, filho pode ser tanto por conta de laços sanguíneos ou afetivos,
não importa, ambos têm o mesmo valor. Os responsáveis pelas crianças e os
adolescentes exerce o denominado poder familiar, onde o futuro dos menores é
norteado por sua família:

“O poder familiar decorre do status de pai ou mãe, não


importando se a prole é natural ou adotiva, ambos têm direitos
e obrigações com relação aos filhos, bem como ambos podem
ter a guarda, ou seja, poder familiar e guarda não se
confundem, podendo ser vistos de formas diferentes, o fato de
um genitor ser detentor do poder familiar, não significa que tem
também a guarda.”34

No início do século XXI com a vigência do novo código civil, atualmente


vigente, no qual foi aprovado em 2002, quando ocorria a separação a ideia de que
as crianças deveriam ficar com a mãe era proveniente de uma noção cultural de que
a mulher é quem sabe e tem o dever de educar e cuidar do lar, contudo, com as
novas configurações sociais e a mudança no papel da mulher na sociedade fez com
que os homens passassem a ter uma atuação mais direta nas atividades do lar,
assim como quanto ao contato com os filhos, dessa maneira, a guarda
compartilhada se tornou um importante meio de manter a ligação dos filhos com
ambos os pais (mães). Sobre esse papel da mulher na família:

“Culturalmente, durante muito tempo, existia uma premissa de


que a mãe era quem deveria deter a guarda da prole, por ser
aquela que fica mais tempo com os filhos em casa, porque foi
quem deu à vida, porque é a mãe quem amamenta, entre
outros argumentos que eram utilizados para a guarda materna,
tanto que antes da Carta Magna de 1988, o ordenamento

33
RAMALHO, Fabiana. A importância da guarda compartilhada para evitar os atos da alienação
parental, 2017. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/59925/a-importancia-da-guarda-
compartilhada-para-evitar-os-atos-da-alienacao-parental> Acesso em 15 de setembro de 2019. p. 1.
34
Ibid. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/59925/a-importancia-da-guarda-compartilhada-para-
evitar-os-atos-da-alienacao-parental> Acesso em 15 de setembro de 2019. p. 1.
32
jurídico dava preferência à mulher, independente de dar causa
a separação.”35

Como resposta a essa modificação quanto a configuração da instituição


familiar começou a surgir leis, como a de guarda compartilhada e a alienação
parental, como meios para colocar o menor em contato com os genitores e combater
abusos cometidos por uma das partes como forma de vingança. No que dispõe essa
nova concepção acerca do papel da mulher e do homem no ambiente familiar,
enfatiza-se:

Durante muito tempo na história a mulher ficou ligada apenas


ao papel de mãe e por essa razão a consequência era que não
havia melhor guardião que ela. Ocorre que com a evolução
social, foi acontecendo uma alteração nesse papel e a mulher
já não era vista mais apenas como mãe, a questão de afeto e
carinho ligadas somente a mãe e o aspecto de segurança e
proventos ligados ao pai começam a ter uma outra conotação,
pois os pais começam a se aproximar mais dos filhos e a
mulher sai para o mercado de trabalho, mas faz-se necessário
ressaltar que há ainda um certo preconceito com relação a
guarda paterna, a Associação de pais e mães separados teve
sua origem justamente nesse preconceito, trazendo à baila um
novo conceito de homem-pai, foi então que iniciou-se os
estudos que ensejou o projeto que culminou na Lei da Guarda
Compartilhada.36

O primeiro tipo de guarda a ser analisado é a guarda unilateral na qual consiste em:

“Por essa modalidade, um dos genitores fica com o encargo


físico do cuidado aos filhos, cabendo ao outro exercer as
visitas. A determinação sobre a qual dos pais será atribuída a
guarda e consequentemente o exercício mais efetivo do poder
familiar, pode ser feita de dois modos: por acordo dos pais ou
mediante decisão judicial. Este tipo de guarda não prevê a
cisão ou diminuição dos atributos advindos do poder familiar,
eis que ambos os pais continuam responsáveis pelos filhos.”37

35
RAMALHO, Fabiana. A importância da guarda compartilhada para evitar os atos da alienação
parental, 2017. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/59925/a-importancia-da-guarda-
compartilhada-para-evitar-os-atos-da-alienacao-parental> Acesso em 15 de setembro de 2019. p. 1.
36
Ibid. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/59925/a-importancia-da-guarda-compartilhada-para-
evitar-os-atos-da-alienacao-parental> Acesso em 16 de setembro de 2019. p. 1.
37
Ibid. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/59925/a-importancia-da-guarda-compartilhada-para-
evitar-os-atos-da-alienacao-parental> Acesso em 16 de setembro de 2019. p. 1.
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Nesse caso, a criança fica com um dos genitores, todavia, ambas as partes
tem total controle sobre o futuro dos filhos, assim como ambos são responsáveis por
eventuais problemas ou necessidades dos menores.

Outro tipo de guarda é a alternada, onde como o próprio nome diz, existe uma
alternância quanto a quem detém a guarda do menor por um período determinado
de tempo:
“Como o próprio nome já indica, caracteriza-se pelo exercício
exclusivo alternado da guarda, segundo um período de tempo
pré-determinado, que tanto pode ser anual, semestral, mensal,
que ao final desse tempo os papéis se invertem,
alternadamente.”38

Por fim tem a guarda nidal, onde haveria uma terceira casa para a criança e
os pais iriam revezar quanto aos cuidados e cuidados necessários para o menor;
tem a guarda atribuída a terceiros, no qual os pais não ficam com a guarda da
criança, mas sim um familiar, e por fim a guarda compartilhada. Sobre o conceito de
guarda compartilhada:

“A guarda compartilhada define os dois genitores como


detentores iguais de direitos e deveres com relação à criança.
Sua proposta é manter os laços de afetividade, buscando
minimizar as agruras causadas com o rompimento do vínculo
matrimonial dos pais. Qualquer que seja o modelo de guarda
atribuído aos pais, o que deve prevalecer sempre é o bem-
estar do menor. O rompimento do vínculo conjugal é um
sofrimento intenso para todos os envolvidos, mas muitas vezes
é solução para a felicidade de todos. Para que esse sofrimento
seja minorado, é muito importante o elo entre pai e mãe, uma
vez que eles deixam de ser um casal, mas não deixam de ser
pais, mas infelizmente acontecem de as pessoas não
conseguirem entender esse final.”39

Com esse tipo de guarda o controle sob a criança será de igual para igual
com relação a ambas as partes, evitando assim eventuais violações de direitos da
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RAMALHO, Fabiana. A importância da guarda compartilhada para evitar os atos da alienação
parental, 2017. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/59925/a-importancia-da-guarda-
compartilhada-para-evitar-os-atos-da-alienacao-parental> Acesso em 15 de setembro de 2019. p. 1.
39
Ibid. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/59925/a-importancia-da-guarda-compartilhada-para-
evitar-os-atos-da-alienacao-parental> Acesso em 15 de setembro de 2019. p. 1.

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criança e do adolescente por parte dos genitores, onde o mais importante é a
proteção do menor diante de abusos, inclusive, diante da possibilidade da alienação
parental.

35
CONCLUSÃO

O Direito de Família vem passando por diversas mudanças e a maior delas é


a evolução social, que por inúmeras vezes ocasionam novos problemas que
necessitam do auxílio do Poder Judiciário para que sejam resolvidos.
Em meio a tantas mudanças, ocorreu o surgimento da Alienação Parental que
é fruto de uma sociedade que após muitas reivindicações, conseguiu o direito o de
decidir manter o vínculo conjugal ou não, garantindo todos os seus direitos e
deveres diante de sua família.
A Alienação Parental tem se tornado algo decorrente nas famílias que
enfrentam o processo de divórcio ou em casos de separação, onde um dos cônjuges
acaba saindo desgastado, e isso acarreta o despertar do sentimento de vingança em
seu íntimo.
Vale ressaltar que a Alienação Parental nada mais é que um conjunto de
técnicas usadas por um dos genitores para desmoralizar o outro perante a criança
alienada. Enquanto a síndrome de alienação parental é um “distúrbio”, onde as
consequências para o menor são drásticas, e em casos graves se manifesta a
depressão ou até o ódio da criança por parte do pai que foi alvo de mentiras
Em alguns casos os genitores não percebem quando se tornam vítimas ou
alienadores, por se deixar tomar pelo sentimento de raiva e julgam normal
determinadas atitudes.
A Alienação Parental é uma prática extremamente dolorosa e de
consequências graves, muitas das vezes irreversíveis, que ocasiona prejuízos sérios
para o desenvolvimento do menor alienado como um todo. Tudo isso colabora para
a destruição do crescimento sadio do menor, onde a única coisa que importa para o
alienador é cortar o vínculo entre o genitor e o filho.
Não há afronta maior a moral de uma pessoa do que destruir suas
potencialidades ou tudo de bom que ela poderia vir a ser ou viver com as pessoas
que ela ama, e isso é o alienador faz com a criança. Na sede de vingança o
alienador destrói indiretamente tudo de bom que ela poderia ser, sua infância e a
relação afetiva do menor com o seu pai/mãe.

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Posto que a alienação parental seja um assunto relativamente novo aos olhos
do ordenamento jurídico, e buscando uma forma de melhor de zelar pelo menor que
tora-se vítima da alienação e de suas consequências psicológicas redigiu-se então a
Lei n.º12.318 promulgada em 26 de agosto de 2010.
A lei embora não seja totalmente eficaz em sua aplicação, busca facilitar e
permitir maior segurança na identificação da alienação parental, e tem como objetivo
principal garantir um convívio sadio do menor com seus genitores assegurando-lhes
os Direitos Fundamentais previstos na Constituição Federal 1988.
Para tanto, nota-se que a guarda compartilhada atualmente é a melhor forma
de evitar a alienação parental uma vez que ambos os genitores a exercem de forma
igualitária, porém sua aplicação ainda passa por dificuldades pelo fato dos genitores
não saberem diferenciar o relacionamento que passam a ter e que tinham um com o
outro.
São muitos os motivos que fazem que com um pai se distancie de seu filho,
dentre eles cabe o simples desamor ou a alienação parental.
Torna-se necessário a identificação do alienador com brevidade para que
assim, os atos da alienação parental sejam minimizados ou nem cheguem a se
configurar.
Responsabilizar o autor desse tipo de comportamento é uma necessidade,
uma vez que ela fere a dignidade da criança, destrói seu psicológico e os laços
afetivos que ele poderia ter com seu outro genitor por meio de acusações cruéis
quanto a crimes e situações que nunca ocorreram.
Nenhuma sentença judicial mudará sentimentos, mas sim fatos isolados aos
quais são cobrados do Poder Judiciário uma solução que nem sempre ocorre de
forma eficaz pelas dificuldades que o mesmo encontra para a identificação da
alienação parental.

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REFERÊNCIAS

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&lt;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm&gt;
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Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069 de 1990, online.


Disponível em &lt; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069compilado.htm&gt;
Acesso em 29 de agosto de 2019.

Brasil, Lei de Alienação Parental 12.318 de 2010, online. Disponível em &lt;


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm&gt; 03 de
setembro de 2019 às 14:45 hrs. Acesso em 28 de agosto de 2019 às 15:45 hrs.

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PSICOLÓGICO DA CRIANÇA, 2016. Disponível em
&lt;https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1044.pdf&gt; Acesso em 04 de setembro
de 2019 às 16:20 hrs.

DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família e o Novo


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DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007.

RAMALHO, Fabiana. A importância da guarda compartilhada para evitar os atos


da alienação parental, 2017. Disponível em &lt;https://jus.com.br/artigos/59925/a-
importancia-da-guarda-compartilhada-para-evitar-os-atos-da-alienacao-parental&gt;
Acesso em 15 de setembro de 2019 às 15:40 hs.

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38
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