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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

PRICILA GONÇALVES DOS SANTOS

A ALIENAÇÃO PARENTAL E OS SEUS EFEITOS JURÍDICOS E


PSICOLÓGICOS

CURITIBA
2016
PRICILA GONÇALVES DOS SANTOS

A ALIENAÇÃO PARENTAL E OS SEUS EFEITOS JURÍDICOS E


PSICOLÓGICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Direito da Faculdade de Ciências
Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Doutor André Peixoto de Souza

CURITIBA
2016
TERMO DE APROVAÇÃO

PRICILA GONÇALVES DOS SANTOS

A ALIENAÇÃO
PARENTAL E OS SEUS EFEITOS JURÍDICOS E PSICOLÓGICOS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de
Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____ de _____________ de 2016.

_________________________________
Prof. Dr. PhD Eduardo de Oliveira Leite
Coordenação do Núcleo de Monografia
Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito

_______________________________________
Orientador: Prof. Doutor André da Silva Peixoto
Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito

_________________________________
Examinador: Prof. (a). Dr. (a).
Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito

_________________________________
Examinador: Prof. (a). Dr. (a).
Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito
DEDICATÓRIA

Dedico Este trabalho a Deus por ter me dado forças em todos os momentos ao
longo do curso, ao meu Professor orientador André Peixoto que me deu todo o apoio
necessário para a elaboração deste trabalho, a minha família principalmente o meu
amado marido Gilberto e meu filho Guilherme que suportaram a minha ausência
todos esses anos e sempre me incentivaram de forma incondicional.
RESUMO

Trata da alienação parental uma forma do alienador interferir psicologicamente na


relação da criança ou adolescente com um dos seus genitores, avós ou quem esteja
sob sua responsabilidade, será demonstrado ao longo do trabalho os efeitos que a
alienação pode causar tanto os jurídicos, como a perda da guarda como os
psicológicos, onde a criança ou adolescente acabam criando falsas memórias do
genitor ou a quem lhe detém a guarda, consequência da Síndrome de Alienação
Parental.

Palavras-chave: Alienação Parental. Síndrome da Alienação Parental. Efeitos


Jurídicos e Psicológicos.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09

CAPÍTULO 1- A ALIENAÇÃO PARENTAL ............................................................. 10


1.1 CONCEITO ......................................................................................................... 10
1.2 O ALIENADO ...................................................................................................... 13
1.3 O ALIENADOR .................................................................................................... 14
1.4 A VÍTIMA ............................................................................................................. 15

CAPÍTULO 2 – ALIENAÇÃO PARENTAL E A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO


PARENTAL ............................................................................................................... 16
2.1 A ORIGEM DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL ................................. 16
2.2 DIFERENÇAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL E A SÍNDROME DE ALIENAÇÃO
PARENTAL .............................................................................................................. 17

CAPÍTULO 3 – LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL (12.318/10) ............................... 19


3.1 A LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL E A PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE ....................................................................................................... 20
3.2 A LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL E A SAP ..................................................... 21

CAPÍTULO 4 – OS EFEITOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL ................................... 22


4.1 OS EFEITOS JURÍDICOS .................................................................................. 23
4.2 OS EFEITOS PSICOLÓGICOS .......................................................................... 28

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 32


9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por intuito caracterizar o instituto da alienação


parental, que afeta o âmbito familiar, geralmente em estágio de separação conjugal,
onde um genitor procurar vingar-se do outro por intermédio do filho.

Mediante pesquisa bibliográfica, abordam-se as possíveis consequências


psicológicas para a vida da criança ou do adolescente e de seu genitor prejudicado.

Ainda, decorrente da Alienação Parental, surge a Síndrome da Alienação


Parental, termo criado na década de 80, pelo Dr. Richard Gardner, um psiquiatra
americano. Infelizmente, trata-se de um fenômeno tão comum e corriqueiro que
dificilmente deixou de ser observado por uma pessoa em nossa sociedade, mesmo
que esta pessoa não trabalhe diretamente com famílias e seus conflitos, nem tenha
ouvido antes a expressão.

Consiste em uma forma de abuso emocional, geralmente, iniciado após a


separação conjugal, no qual um genitor (o guardião) passa a fazer uma campanha
desqualificadora e desmoralizadora do outro genitor, visando afastar dele a criança e
destruir o vínculo afetivo existente entre os dois.

Em 27 de agosto de 2010, fora publicada a Lei nº 12.318/2010 de Alienação


Parental, com o objetivo principal de conferir maiores poderes aos juízes, a fim de
proteger os direitos individuais da criança e do adolescente, vítimas de abuso
exercido pelos seus genitores. É certo que o direito positivou a conduta de
desrespeito aos filhos, após atrocidades presenciadas no judiciário e da ausência de
lei regulamentadora que permitisse uma maior atuação do Estado-juiz para
solucioná-la.
10

CAPÍTULO 1 – A ALIENAÇÃO PARENTAL

1.1 CONCEITO

A alienação parental decorre geralmente da ruptura do casamento quando


um dos cônjuges não consegue lidar com a separação e num sentimento obsessivo
por vingança inicia-se a desmoralização do outro para os filhos.
A legislação vigente (Lei 12.318/2010 que estudaremos em tópico
específico) define de forma ampla a alienação parental como uma interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um
dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Alienação parental pode ser considerada a desconstituição da figura parental


de um dos genitores ante a criança. Uma campanha de desmoralização, de
marginalização desse genitor.

Esse processo pode ser praticado por um agente externo, um terceiro, não
estando restrito ao guardião da criança. Há casos em que a alienação é promovida
pelos avós, por exemplo, sendo perfeitamente possível que qualquer pessoa com
relação parental com a criança ou não, a fomente.

O ato de alienação parental pode ser, promovida ou induzida por um dos


genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a
autoridade, guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este, como realizar campanha
de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade, impedir o pai ou mãe que não tem a guarda de obter informações
médicas ou escolares dos filhos, criar obstáculos à convivência da criança com um
dos genitores, apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar sua convivência com a criança ou adolescente,
ou mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou
com avós.
11

Também serão considerados atos de alienação parental aqueles que assim


forem declarados pelo juiz ou constatados por perícia.

A autoridade parental neste caso representa a guarda, no caso de


separação judicial um dos genitores fica com a guarda da criança ou adolescente, e
é o comportamento do genitor guardião que influencia na formação do caráter da
criança, sendo assim as escolhas relativas à vida da criança ficam mais próximas
deste genitor, sob a vigilância do outro genitor.

A alienação pode persistir por anos, gerando severas sequelas de ordem


psíquica e comportamental, geralmente ocorre à reparação quando o filho torna-se
consciente, após certo desligamento desse pai guardião, é como se entende através
da pesquisa de Fonseca (2006, p.163):

[...] Essa alienação pode perdurar anos seguidos, com gravíssimas


consequências de ordem comportamental e psíquica, e geralmente só é
superada quando o filho consegue alcançar certa independência do genitor
guardião, o que lhe permite entrever a irrazoabilidade do distanciamento do
genitor.

Como a Alienação Parental, geralmente sucede-se dentro do âmbito familiar,


com seus efeitos devastadores a todos envolvidos principalmente aos infantes,
aqueles que deveriam estar protegidos nesse momento de conflito, no caso objeto
em discussão, o restabelecimento da guarda, inicia-se uma dinâmica para denegrir a
imagem, a personalidade do outro genitor, fazendo com que a criança passe a odiá-
lo, querendo a sua distância, muitas vezes podendo agravar-se até a Síndrome de
Alienação Parental.

Na consequência da Alienação Parental, o filho pode desenvolver problemas


psicológicos e até transtornos psiquiátricos para o resto da vida.

Além disso, existem também consequências na relação deste filho com os


genitores inicialmente, uma crise de lealdade entre ambos, na qual o afeto por um é
entendido como uma traição pelo outro, o que faz com que o filho, muitas vezes,
comece a contribuir para a campanha de desmoralização do genitor alienado.

Quando houver indícios de atos de alienação parental, o órgão judiciário,


provocado pelo genitor ofendido, pelo Ministério Público, ou mesmo de ofício,
poderá determinar provisoriamente as medidas processuais previstas na lei
12.318/2010. A decretação das sanções pode se dar mediante ação autônoma
ou mesmo incidentalmente em processos que já discutam a relação dos filhos,
como ação de guarda, regulamentação de visitas, fixação de alimentos e
12

fundamentalmente nas ações de divórcio. O Juízo poderá determinar perícia


psicológica ou biopsicossocial. A perícia será realizada por profissional ou
equipe multidisciplinar habilitado, exigida, em qualquer caso, aptidão
comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de
alienação parental.

Encontram-se, portanto, de um lado, o alienante e, do outro, o alienado, que


sofre as respectivas consequências e, no meio, a criança ou adolescente, vítimas
desse contexto.

O autor Bastos disserta que:

[...] quem não consegue elaborar adequadamente o luto da separação


geralmente desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de
descrédito do excônjuge. Se quem assim se sente fica com a guarda dos
filhos, ao ver o interesse do outro em preservar a convivência com a prole,
quer se vingar e tudo faz para separá-los. Cria uma série de situações
visando a dificultar ao máximo, ou a impedir, a visitação. Os filhos são
levados a rejeitar o genitor, a odiá-lo. Tornam-se instrumento da
agressividade direcionada ao parceiro. (BASTOS, 2008, p. 145)

Todavia, conforme define o autor o instinto de vingança, destruição e de


desmoralização se sobressaem a ponto de se impedir visitas, ainda os filhos são
manipulados a desencadear um sentimento de ódio e rejeição pelo genitor.

No mesmo sentido Podevyn define a alienação parental como:

Programar uma criança para que odeie um de seus genitores, enfatizando


que, depois de instalada, poderá contar com a colaboração desta na
desmoralização do genitor alienado (ou de qualquer outro parente ou
interessado em seu desenvolvimento). (PODEVYN , p.49)

Observa-se que o principal objetivo da alienação parental é fazer uma


espécie de “lavagem cerebral” objetivando denegrir a imagem do outro genitor para
os filhos. Consequentemente os filhos começam a rejeitar o genitor afastando-se e
não querendo mais vê-lo.
Nas palavras Maria Berenice Dias (2015, p.546) “o filho é utilizado como
instrumento da agressividade, sendo induzido a odiar o outro genitor. Trata-se de
uma verdadeira campanha de desmoralização”.
13

Portanto, a alienação parental é considerada como uma forma de abuso


psicológico e pode ocorrer na forma de criar falsa imagem do genitor, impedimento
ou obstáculos com intuito de impedir de visitas e nos casos mais graves a falsas
acusações de abusos contra o filho.

1.2 O ALIENADO

Entende-se como alienado o genitor que sofre com os danos causados pelas
atitudes cobertas de ódio vindas do detentor da guarda da criança ou adolescente,
este tem a difícil incumbência de lidar com o fato buscando práticas para não
afastar-se do menor. Destaca Alexandridis Figueiredo:

[...] esse filho cria um sentimento de rejeição contra o genitor ausente,


chegando ao ponto de recusar a manter uma relação com este pai e, ao
extremo, de decidir excluí-lo definitivamente, da sua vida, acarretando
inúmeros problemas emocionais e psicológicos ao menor que se
estenderão na sua fase adulta. (FIGUEIREDO, 2014, p.47).

As consequências da alienação parental podem ser irreversíveis para o


alienado com o passar dos conforme traz Denise Maria Perissini da Silva:

[...] contrariamente ao que o senso comum gostaria de crer, o tempo é um


inimigo implacável. Quando os filhos começam a recursar-se a ver um de
seus dois pais, a rejeitá-lo, a contagem regressiva se inicia. Se ninguém vier
ajudar essa família no momento preciso, a situação só poderá agravar-se.
Mas frequentemente entorno intervém nesse caso para minimizar o
problema e lembrar que o tempo resolve tudo, o que efetivamente não
acontece. 12 Quanto mais o tempo escoa, mais o conflito se cristaliza e é
mais difícil voltar atrás; mesmo que não haja recuo, os filhos podem acabar
por ver o pai que haviam rejeitado anteriormente, mas mesmo neste caso,
em 10 anos, 20 anos, ver 40 anos depois. O tempo realmente modificou os
fatos, mas a que preço? (SILVA, 2009, p. 59)

Contudo, compete ao alienado buscar formas de não perder o vínculo com o


menor, mantendo relação positiva mesmo com o outro genitor tentando alienar a
criança ou adolescente, para evitar os danos irreversíveis.
14

1.3 O ALIENADOR

Já o alienador busca afastar a criança ou adolescente do convívio do alienado


criando as falsas memórias e acusações. O alienador começa sua tortura
psicológica, nas palavras de Caroline de Cássia Francisco Buosi:

O discurso verbal do genitor alienador é sempre o mesmo no sentido de que


está pensando no melhor para o seu filho, em seus interesses e em tudo
que possa fazer para sentir-se melhor. Assim, quando não se faz uma
análise mais aprofundada da situação, as verbalizações levam a crer que
ele está realmente preocupado em manter seu filho próximo ao genitor.
Entretanto ao avaliar a situação de forma mais focal, percebe-se que se
trata de mero discurso para continuar manipulando a situação de controle e
que os comportamentos não são compatíveis com o que estão sendo dito.
(BUOSI, 2012, p. 79).

Na legislação vigente o alienador pode ser um dos genitores, os avós ou os


que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, assim leciona a
doutrinadora Denise Maria Perissini da Silva.

Muitas vezes é a mãe quem dedica mais tempo as crianças, ainda mais
se ela obtiver a guarda principal; se essa mãe decide empreender
manobras de descrédito deliberado contra o pai, então ela tem todos os
meios, tanto verbais (comentários de descrédito), como não verbais
(teatralizados, atitudes). (SILVA, 2009, p. 86).

Ressalta-se que o alienado começa agir de forma imperceptível com atitudes


mais brandas como se esquecer de avisar compromissos da criança em que a parte
alienada seria importante como reuniões escolares e consultas médicas para que
posteriormente comece a ressaltar essas ausências.

Ainda Buosi nos ensina no que diz respeito as influências do alienante:

O genitor alienante ofende os sentimentos da criança, vindo posteriormente


a influenciar seus comportamentos e pensamentos de maneira negativa que
irão gerar a sensação de rejeição e ódio em ambos [...]. (BUOSI, 2012, p.
124).

A figura do alienador se utiliza de formas para convencer a criança ou


adolescente de que sofreu abandono por parte do genitor-alvo, para que assim
possa distanciar um do outro, até que a criança ou adolescente comece a despertar
15

certa rejeição pelo seu genitor, afastando-se e criando sentimentos de desprezo.


Freitas define em suas palavras como cônjuge alienador àquele que modifica a
consciência de seu filho.

Trata-se de um transtorno psicológico caracterizado por um conjunto


sintomático pelo qual um genitor, denominado cônjuge alienador, modifica a
consciência de seu filho, por estratégias de atuação e malícia (mesmo que
inconscientemente), com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir seus
vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado. Geralmente,
não há motivos reais que justifiquem essa condição. É uma programação
sistemática promovida pelo alienador para que a criança odeie, despreze ou
tema o genitor alienado, sem justificativa real (FREITAS, 2014, p. 25).

Assim percebe-se que tanto alienado como a criança são atingidas pelas
severas atitudes do alienador que começa agir de forma mais branda e
gradativamente vai manipulando o psicológico do filho.

1.4 A VÍTIMA

As vítimas da alienação parental são os filhos, quando são usados como


objeto de vingança após a separação dos pais. Estes são sem dúvidas os mais
prejudicados, pois são manipulados psicologicamente e consequentemente tendem
a criar ódio ou repúdio pelo genitor alienado afastando-se dele.
Nas palavras de Souza “diante das maléficas consequências que a
alienação parental pode causar a todos os envolvidos, a criança é, indubitavelmente,
a principal vítima, visto que ela tem menos ferramentas de defesa e de
autoimunidades” (2014, p. 133).
A respeito dos resultados da alienação parental, destaca Maria Berenice
Dias:
Os resultados são perversos. Pessoas submetidas à alienação parental
mostram-se propensas a atitudes antissociais, violentas ou criminosas;
depressão, suicídio e, na maturidade, quando atingida, revela-se remorso
de ter alienado e desprezado um genitor ou parente, assim padecendo de
forma crônica de desvio comportamental ou moléstia Mental por
ambivalência de afetos.” (DIAS, 2015, p. 547).

Cumpre destacar o que relatou a autora que as vítimas da alienação parental


podem carregar na fase adulta sentimento de culpa por deixar-se ser manipuladas,
16

principalmente quando descobrem que a imagem negativa criada para com o genitor
alienada era totalmente falsa.

CAPÍTULO 2 – ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DA


ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 A ORIGEM DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

A Síndrome da alienação parental era praticamente inexistente em épocas onde era


constituída famílias conservadoras que colocavam o papel da esposa como dona de
casa e cuidadora dos filhos enquanto o marido tinha que trabalhar para sustentar a
família além de detentor responsável por impor limites e regras na casa. Assim se o
casamento fosse destituído nas palavras de Berenice Marinho Paulo (2011.p.08)
“Ainda na separação de fato, cabia a mulher a guarda dos filhos e ao pai o
pagamento de alimentos e visitas esparsas que se tornavam obrigatoriedade para o
pai e um “suplício para o filho”.
Ocorre que com o passar do tempo as famílias foram se estruturando independente
do casamento, e com maiores frequências de dissolução do matrimonial as disputas
pela guarda das crianças comeram a crescer consideravelmente, Ana Maria Frota
Velly (2010, p02) destaca que” com a redefinição dos papéis parentais ao longo da
história, a guarda dos filhos passou a ser alvo da disputa entre os pais, sendo isso
uma prática relativamente nova no Brasil. Em consequência desse fato, brigas entre
ex companheiros pelo convivo da prole passa a ocorrer com frequência”.
Desta forma Buosi nos ensina a respeito:

A origem da SAP ocorre exatamente no momento em que a mãe percebe o


interesse do pai em preservar a convivência afetiva com a criança, e usa de
forma vingativa perante sentimentos advindos da época do relacionamento
ou da separação, programando o filho a odiar e rejeitar o pais em nenhuma
justificativa plausível. (GARDNER, 2002, p.02).

Assim, a Síndrome da alienação teve sua primeira definição no ano de 1984 pelo
professor de psiquiatria clínica infantil da Universidade de Columbia, EUA, Richard
Gardner, que define a Síndrome da Alienação parental:
17

É um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto


de disputas de custódias de crianças. Sua manifestação preliminar é a
campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela
própria criança e que não tenha justificação. Resulta da combinação das
instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação,
doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo.
Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes,
a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de
Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é
aplicável. (GARDNER, 2002, p.02).

Neste mesmo sentido o doutrinador Madaleno e Madaleno descreve a


Síndrome da alienação parental como uma campanha promovida pelo genitor
detentor da guarda para odiar e repudiar o outro genitor:

Trata-se de uma campanha liderada pelo genitor detentor da guarda da


prole, no sentido de programar a criança para que odeie e repudie, sem
justificativa, o outro genitor, transformando a sua consciência mediante
diferentes estratégias, com o objetivo de obstruir, impedir ou mesmo destruir
os vínculos entre o menor e o pai não guardião, caracterizado, também,
pelo conjunto de sintomas dela resultantes, causando assim, uma forte
relação de dependência e submissão do menor com o genitor alienante. E,
uma vez instaurado a assedio, a própria criança contribui para a alienação
(MADALENO E MADALENO, 2013, p. 42).

Contudo, embora seja um direito da criança e adolescente ter o convívio


familiar notoriamente com a Síndrome da Alienação Parental esse direito é
totalmente violado, pois tem como único objetivo afastar a criança ou adolescente do
genitor-alvo, através de campanhas feitas pelo genitor detentor da guarda, que não
se conforma com a separação.
.

2.2 DIFERENÇAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL E DA SÍNDROME DE


ALIENAÇÃO PARENTAL

Apesar de ligados entre si não se confunde Alienação parental de Síndrome da


Alienação Parental, pois enquanto alienação parental se caracteriza como a prática
de um genitor de iniciar manipulações capazes de implantar falsas memórias em seu
filho para que este venha rejeitar o outro genitor, a Síndrome de Alienação Parental
é a consequência, ou seja, quando o filho começa a despertar ódio e rejeita o genitor
alienado. Desse modo, expõe Madaleno e Madaleno:
18

De acordo com a designação de Richard Gardner, existem diferenças entre


a síndrome da alienação parental e apenas a alienação parental; a última
pode ser fruto de uma real situação de abuso, de negligência, de maus-
tratos ou de conflitos familiares, ou seja, a alienação, o alijamento do genitor
é justificado por suas condutas (como alcoolismo, conduta antissocial, entre
outras), não devendo se confundir com os comportamentos normais, como
repreender a criança por algo que ela fez fato que na SAP é exacerbado
pelo outro genitor e utilizado como munição para injúrias. Podem, ainda, as
condutas de o filho ser fator de alienação, como a típica fase da
adolescência ou meros transtornos de conduta. Alienação é, portanto, um
termo geral que define apenas o afastamento justificado de um genitor pela
criança, não se tratando de uma síndrome por não haver o conjunto de
sintomas que aparecem simultaneamente para uma doença específica.
(MADALENO, 2013, p. 51).

Assim, conforme relata o autor a alienação parental é quando o genitor


detentor da guarda incentiva o filho não querer ver o outro genitor por situações
verídicas que verdadeiramente ocorrem já a Síndrome de Alienação Parental é
quando começa a serem implantadas na cabeça do menor falsa memórias, injúrias e
consequentemente a criança acaba por afastar-se do genitor alvo criando
sentimento de ódio e repúdio.

Já na opinião do Doutrinador Pinho Apud Gomes:

A Síndrome não se confunde com Alienação Parental, pois que aquela


geralmente decorre desta, ou seja, ao passo que a SAP se liga ao
afastamento do filho de um pai através de manobras do titular da guarda; a
Síndrome, por seu turno, diz respeito às questões emocionais, aos danos e
sequelas que a criança e o adolescente vêm a padecer. (GOMES, 2014, p.
46).

Diante da citação exposta o autor entende que a Síndrome de Alienação


Parental decorre dos danos e sequelas que o menor adquire com a prática da
alienação parental.
19

CAPÍTULO 3 – LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL (12.318/10)

3.1 A LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL E A PROTEÇÃO DA CRIANÇA


E DO ADOLESCENTE

Não é unânime a possibilidade de aplicação de sanções quando


ocorrerem infrações aos deveres de família, sob a justificativa de que não se pode
punir duplamente, ora pela imposição de medidas decorrentes da alienação
parental, ora pela imposição de sanções de natureza civil.

Não obstante a lei de alienação parental impor a adoção de medidas próprias, ao


mesmo tempo estabelece que estas poderão se dar “sem prejuízo da
responsabilidade civil e criminal”. Porém não se tem verificado tal cumulação, a
pretexto de que a própria exposição da questão, por remexer no âmago das
relações familiares, criaria um dano ainda maior pela repristinação, na sombra da
justiça, de situações graves, chocantes, para emporcalhar a vida um do outro, a
pretexto de indenização por dano moral.

Para a proteção da criança e do adolescente tem-se a lei 8.069/90, o


Estatuto da Criança e do adolescente que veio para regulamentar o artigo 227 da
constituição Federal de 1988 que diz:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, a
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

Neste mesmo sentido o artigo 4° do ECA dispõe:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.
20

No entanto, a referida lei não trata a respeito de sansões para os genitores


alienadores, desta forma é criada a Lei da Alienação Parental com intuito de coibir a
prática de um familiar proibir a convivência da criança ou do adolescente com o
outro ente. Assim disserta Buosi:

[...] Podemos pensar a Lei da Alienação Parental como uma tentativa formal
de coibir familiares a restringir o convívio adequado entre a criança e algum
ente querido, mediante interesses pessoais desse adulto, fazendo assim
vigorar com mais efetividade o direito fundamental dos indivíduos
envolvidos e buscando limitar autoridades parentais inadequadas dos pais
para a criação com seus filhos. (BUOSI, 2012, p.116)

Contudo, a Lei 12.318/2010 é o resultado de um projeto de lei proposto em


2008 pelo Deputado Regis Fernandes de Oliveira, tendo como auxílio o anteprojeto
do Juiz Elizio Luiz Peres. A lei foi promulgada em 27 de Agosto de 2010 pelo então
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A referida lei traz como é a conduta do alienador, bem como a suas
características:

Art. 2º. Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a
sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com o auxílio de terceiros:
I- realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício
da paternidade ou maternidade;
II- dificultar o exercício da autoridade parental;
III- dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV- dificulta o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V- omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre
a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;
VI- apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;
VII- mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós. (BRASIL, Lei de Alienação Parental, 2010).

Destaca-se que a lei não apenas descreve como alienador os genitores e


sim os avós ou o detentor da guarda, assim qualquer pessoa que tenha a guarda da
criança ou do adolescente pode se sujeito ativo desta prática.
21

3.2 A LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL E A SAP

A lei 12.318/10 apenas refere-se o termo Alienação Parental, ou seja, ela


busca reprimir a Alienação Parental existentes nas relações entre os detentores da
guarda da criança ou adolescente com intuito de não prejudicar o desenvolvimento
psíquico destes ao depararem com a destituição do casamento de seus genitores. A
lei é expressa ao determinar o que é a Alienação Parental:

Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob
sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
(BRASIL, Lei de Alienação Parental, 2010).

Portanto, é de suma importância destacar que a referida lei não se trata da


Síndrome da Alienação parental, porque o termo síndrome está interligado a doença
e por não ter um código específico de doença o termo ainda está sendo bastante
discutido. Caroline de Cassia Francisco Buosi nos ensina:

“É importante esclarecer que em nenhum momento a lei trata da Síndrome


da Alienação Parental, e sim da Alienação Parental. Isso ocorre porque a
palavra “síndrome” significa uma doença, um transtorno no qual diversos
sintomas se instalam decorrentes de uma prática anteriormente realizada no
caso de que os filhos foram vítimas de extrema reação vingativa do genitor.
Como essa expressão „síndrome de alienação parental” não está tratada em
nenhum código internacional de doenças, tais como DSM-IV ou CID-10 [...].”
(BUOSI, 2012, p.117)

Portanto, para não incorrer a lei de abortar de uma síndrome sem qualquer
registro no conselho de medicina, trata apenas do termo alienação parental que é
definido no artigo 2º da lei. E embora não reconhecendo a síndrome, a lei é bastante
propícia tanto no efeito social, quanto no efeito de reconhecimento de que existe um
abuso causando transtorno psicológicos em crianças ou adolescentes que se não
reparadas podem causar consequências na vida adulta destes.
22

CAPÍTULO 4 – OS EFEITOS DECORRENTES DA ALIENAÇÃO


PARENTAL

Nos termos do artigo 5º da Lei 12.318/2010, diante de indícios da prática


de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz determinará perícia
psicológica ou biopsicossocial a ser realizada por equipe multidisciplinar habilitada e
com aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar
atos de alienação parental.

Note-se que, diante da relevância da questão, a existência de indícios de


alienação é motivo suficiente para que a realização da perícia seja determinada pelo
órgão judicial, que poderá agir de ofício ou mediante provocação do genitor ofendido
ou do Ministério Público.

Superada eventual situação de urgência, o juiz poderá, entendendo


necessário, determinar a realização de perícia mediante entrevista pessoal das
partes, exame de documentos, histórico do relacionamento do casal e dos incidentes
da convivência, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como
a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra o
genitor.

O laudo pericial deverá ser apresentado em até 90 dias, prazo esse que
só pode ser prorrogado mediante autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada. De acordo com seu resultado o juiz irá se pronunciar a respeito da
configuração ou não do ato de alienação parental.

Uma vez configurada a prática de qualquer conduta que dificulte a


convivência da criança ou adolescente com um de seus pais, sem prejuízo da
responsabilidade civil ou criminal ou mesmo de decisões liminares antecipatórias,
poderão ser adotadas as seguintes medidas:

a) declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

b) ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

c) estipular multa ao alienador;


23

d) determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

e) determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou, não


sendo esta possível, sua inversão, atribuindo-se a guarda comum àquele que
viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor;

f) determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

g) declarar a suspensão da autoridade parental.

h) inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente


da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência
familiar, caso fique caracterizada mudança abusiva de endereço, inviabilização ou
obstrução à convivência familiar.

Adicionalmente se registra que a alteração de domicílio da criança ou adolescente é


irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em
direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores
ou de decisão judicial.

4.1 EFEITOS JURÍDICOS

A lei 12.318/2010 define em seu artigo 6º as formas para inibir ou atenuar as


práticas de alienação parental:

Art. 6° Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer


conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor,
em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não,
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus
efeitos, segundo a gravidade do caso:
I – declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III – estipular multa ao alienador;
IV – determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V – determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua
inversão;
VI – determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII – declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço,
inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá
inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da
residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de
convivência familiar. (BRASIL, Lei de Alienação Parental, 2010).
24

Não existe uma sequência a ser seguida para a aplicabilidade dos artigos
supracitados, é verificado cada caso e aplicada a medida cabível pelo magistrado.
Assim nos ensina Fabio Vieira Figueiredo:

Acerca dos sete incisos previstos neste artigo, apesar de parentar certa
gradação quanto à gravidade da previsão imposta, não se deve partir do
pressuposto que esta sequência seja necessariamente fixa e imposta para
que seja seguida nessa ordem pelo juiz. O magistrado não está vinculado a
obedecer progressivamente às medidas, ficando ao seu critério a análise de
cada caso concreto e adaptação de qual dessas ou outras acredita ser
necessária naquela determinada situação, ainda que possa aplica-las
cumulativamente. (FIGUEIREDO, p.72, 2011).

Portanto vale ressaltar, que estas medidas descritas no artigo 6º com o


intuito de eliminar ou diminuir os efeitos da alienação parental o juiz pode cumular
duas ou mais medidas, se entender ser eficaz para diminuir os danos da alienação
parental e aumentar o convício com o genitor alvo. Ressalta-se que as medidas
aplicadas não são de caráter punitivo e sim uma forma de proteção à criança ou
adolescente.

O alienador pode ser advertido quando declarada a existência da alienação


parental isso se declarado a alienação em um estágio leve. Sobre o assunto nos
ensina Eduardo de Oliveira Leite:

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço,


inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá
inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da
residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de
convivência familiar. (LEITE, 2015, p.379).

Destarte, a alienação parental em seu estágio leve é declarada geralmente


logo após a ruptura do casamento, ou seja no início da prática da alienação. Assim,
expõe Fábio Figueiredo:

A advertência deverá consistir no esclarecimento dos malefícios que


acarretam a alienação parental, principalmente com relação ao menor
envolvido, bem como das consequências que a reiteração da prática pode
ocasionar, com a imposição das demais sanções previstas no art. 6º da Lei
25

nº 12.318/2010, incluindo a possibilidade da perda da guarda exercida sobre


o menor, quando o alienador a detiver. (FIGUEIREDO, 2011, p. 73).

Ainda sobre a advertência ao alienador Caroline de Cássia Francisco Buossi


também nos ensina:

[...] Pode funcionar em casos de indícios de comportamentos que gerem a


instalação de alienação parental de maneira leve, tendo em vista que o juiz
irá esclarecer os malefícios consequentes de tal conduta para os
envolvidos, principalmente ao menor e declarar quais as demais sanções
caso a alienação não se findar. (BUOSI, 2012, p. 135).

Portanto, conclui-se que em estágio inicial de alienação parental, apenas a


advertência pode ter resultado positivo, entretanto caso seja mais grave esta medida
certamente será cumulada com alguma outra.
O inciso II do parágrafo 6º da lei 12.318/2010, objetiva ampliar o regime de
convivência familiar entre ambos, no intuito de aumentar a convivência e a
aproximação, pois quanto maior a proximidade, menor será os efeitos da alienação.
Aduz, Douglas Phillips Freitas:

A Lei da Alienação Parental claramente pugna pela prática da Guarda


Compartilhada como solução para, pelo menos, diminuir os efeitos da
alienação, porém, independentemente de modificação da modalidade de
guarda, o período de convivência, há de ser fixado e ampliado em favor do
genitor alienado, nos termos do inciso II do art. 6º, a fim de que o menor não
estigmatize este genitor por conta da desmoralização praticada pelo
alienante, permanecendo maior tempo com aquele. (FREITAS, 2014, p. 42).

Nas palavras de Eduardo de Oliveira Leite (2015, p.381) “ A medida produz


efeito prático considerável porque ataca frontalmente a manobra mais empregada
pelo genitor alienador que procura por todos os meios afastar o filho do genitor
alienado”.
Quanto a multa aplicada ao alienador, esta quando estipulada é baseada no
salário mínimo ou na renda do alienador, sem intenção de enriquecimento para a
outra parte ou empobrecer a outra. Esta sanção é no momento em que o alienador
não permite os dias de visita ou até mesmo não entrega a criança no local
determinado.
Referente a aplicabilidade de multa aduz Eduardo de Oliveira Leite:
26

Vale lembrar que as multas, como as demais medidas, materializam uma


sanção, ou punição, já em decorrência de uma ordem judicial (mais
frequente) já, porque, o alienador decidiu agir contra a salutar e necessária
convivência familiar, materializando a alienação parental. (LEITE, 2015, p.
38)

É importante esclarecer que a aplicabilidade da multa é apenas e tão


somente, uma forma de apaziguar comportamentos tendenciosos a alienação
parental. Assim aplica-se em casos de regulação das visitas, visando sempre o bem-
estar do menor.
Ainda, outra forma de prevista na lei 12.318/2010 para afastar a alienação
parental é o acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial, neste caso afirma
Jorge trindade:

[...] A Síndrome de Alienação Parental exige uma abordagem terapêutica


específica para cada uma das pessoas envolvidas, havendo a necessidade
de atendimento da criança, do alienador e do alienado parental.
(TRINDADE, 2007, p. 105).

Ressalta-se que, neste caso o acompanhamento não se restringe apenas ao


menor vitimado ou o genitor alienador, “sendo possível também tal
acompanhamento alcançar o genitor alienado, devido a diversas consequências
psicossociais que ele pode estar sofrendo” (Buosi, 2012, p136).
Já a alteração da guarda pode ser mais eficaz no que se refere a guarda
compartilhada, pois neste tipo de guarda ambos os genitores terão contato com o
menor. Neste sentido Caroline de Cássia Francis Buosi nos ensina:

A determinação da guarda compartilhada é alternativa eficaz facultada ao


juiz por meio do inciso V, que pode inverter a guarda unilateral se entender
pertinente. A guarda compartilhada permite uma maior aproximação dos
filhos com ambos os cônjuges, sem que nenhum deles tenha seu vínculo
afetivo prejudicado e detenha sobre a criança a conotação de posse dela,
prevenindo, portanto a alienação parental, uma vez que há o convívio mais
próximo da criança com o pai e a mãe. Se devido ao grau de rejeição da
criança pela alienação for momentaneamente dificultosa a alteração da
guarda, pode-se inicialmente encaminhar para a guarda provisória dos avós
para, sucessivamente, e sem maiores traumas, inserir o genitor alienado
novamente no convívio e afeto do menor vitimado. (Buosi, 2012, p. 136).

Neste caso observa-se a preocupação do legislador em manter o convívio


do menor com ambos os genitores e em casos de rejeição do menor para com um
de seus genitores o legislador prevê alternar a guarda com os avós e aos poucos
introduzir o genitor alienado para manter a convivência do menos com seus pais.
27

Destarte, que a lei 12318/2010 prevê no seu artigo 6º, VI, a fixação cautelar
do domicílio da criança, uma forma preventiva do genitor detentor da guarda não
mudar de endereço com frequência sem avisar o outro genitor, com intuito de
dificultar as visitas. Para que o alienador não desapareça com a criança o
magistrado determina um lugar onde deverá ser exercida a guarda.
Assim, expõe Fábio Vieira Figueiredo:

[...] O magistrado pode determinar a fixação cautelar do domicílio da criança


ou adolescente para resguardar maior efetividade nas medidas encontradas
para diminuir a alienação parental, tendo em vista que é comum nesses
casos a constante mudança de endereço do alienador com o menor de
maneira injustificada, o que caracteriza também uma das graves formas de
tentativa de alienar. Assim, fere ainda mais os direitos da criança,
rompendo, além dos vínculos com familiares, vínculos escolares, com
amigos e outras relações pessoais, gerando novamente dificuldades no
desenvolvimento afetivo e psicológico desta. (FIGUEIREDO, 2010, p. 75).

Ressalta-se que neste artigo a preocupação do legislador não é somente


inibir a alienação parental e sim o convívio do menor com familiares e amigos, assim
como a os vínculos escolares.
Quanto a suspensão da autoridade parental está é considerada a mais
severa de todas a punições, aplicabilidade desta é feita com muita cautela pelo
magistrado para não prejudicar o menor. Trata-se a expressão “autoridade parental”
a denominação do código civil de 2002 “poder familiar” que diante de críticas a
palavra poder não estaria adequada assim, foi determinada a expressão autoridade
parental. Não há previsão nem regras desta aplicabilidade, portanto a maioria dos
magistrados optam na aplicabilidade da suspensão da autoridade parental em última
instância.

Assim, nos ensina Eduardo de Oliveira Leite:

A ressalva é importante e merece reflexão porque, embora o inc. VIII do art.


6.º da Lei de Alienação Parental, só se refira à hipótese de “suspensão”, é
claro que a possibilidade de “perda”, ou destituição, existe na alienação
parental, sempre que se materializar a reincidência prevista no inc. IV do
art. 1.638 do CC. [...] Porque a suspensão é penalidade menos severa que
a destituição (daí o seu caráter temporário) enquanto a perda (ou
destituição) do poder familiar é mais grave. Para a configuração da medida
drástica é fundamental a ocorrência de motivos relevantes a justificar a
sanção. (LEITE, 2015, p. 409 e 410)
28

Ainda sobre a aplicação desta define Caroline de Cássia Francis Buosi:

Em situações em que já foram tentadas todas as outras alternativas


existentes, é uma opção para que o menor seja alvo da proteção do Estado,
diante do tamanho abuso que o genitor alienante tem provocado nesta
criança, para que esse sesse definitivamente o terror psicológico causado
para esse menor, mesmo sofrendo com a ausência desse genitor na sua
vida, sofreria demasiadamente mais no convívio com intensas
manipulações e jogos psíquicos deste. (Buosi, 2012, p. 138).

Portanto, conforme demonstrado esta é a mais severa sanção aplicada pelo


magistrado, geralmente é aplicada quando todas as outras medidas não tiveram
qualquer efeito.

4.2 EFEITOS PSICOLÓGICOS

A criança ou o adolescente envolvido na alienação parental apresentam


comportamentos e sentimentos que tendem a prejudicar o seu desenvolvimento e o
da sua personalidade, “esses sentimentos geralmente compostos pela baixa estima,
insegurança, culpa, depressão, afastamento de outras crianças medo, que podem
gerar transtornos de personalidade e de conduta graves na vida adulta” (Buosi,
2012, p.88).

Ainda, existe a consequência da relação de convivência com o genitor alienado, ou


seja, a relação de amor com o genitor alienado passa para um sentimento de
repudio e ódio, desta forma a criança acaba desenvolvendo a Síndrome de
Alienação parental, que em estágio leve.

Para Gardner a Síndrome de alienação parental vem com um conjunto de sintomas


os quais são:

1. Uma campanha denegritória contra o genitor alienado. 2.


Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação. 3.
Falta de ambivalência. 4. O fenômeno do “pensador independente”. 5.
Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental. 6. Ausência
de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor
alienado. 7. A presença de encenações „encomendadas‟. 8. Propagação
29

da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado


(GARDNER, 2002, p. 3).

Ainda, Garder define que a SAP pode ser desenvolvida em três estágios, que são
leve quando os sintomas são superficiais, moderado onde os sintomas são mais
evidentes, a criança começa a fazer comentários negativos do genitor alienado, este
é visto como uma pessoa má enquanto o genitor detentor da guarda passa a ser
visto sempre como uma pessoa boa, há resistência no momento da visita e uma
maior aproximação quando o genitor alienante não está por perto. Já nos casos
mais severos os sintomas são mais exacerbados, de maneira que “a criança e a
mãe dividem fantasias paranoides relacionadas ao pai, tornando-se impossíveis as
visitas, pois a criança fica em pânico só de pensar em estar com o pai” (SOUSA,
2013).

Assim, observa Ana Maria Frota Velly:

[...] uma das consequências dessa síndrome pode também ser o “efeito
bumerangue” que ocorre quando a criança se torna adolescente ou
adulto e tem uma percepção mais apurada dos fatos do passado,
percebendo as injustiças que cometeu com o genitor alienado, o que
desencadeou um relacionamento extremamente prejudicado. Assim
passa a se culpar e despender muita raiva contra o genitor guardião em
função do estímulo que este fez para construir e permanecer neste
contexto. (VELLY, 2010, p. 10).

Em fase adulta o indivíduo percebe que injustamente agrediu a pessoa alienada,


desta forma começa a despertar sentimento de culpa e remorso, causando-lhe
absoluto sofrimento. E ainda, a pior das consequências é quando não é possível
reparar o erro cometido contra o genitor alienador seja por perda de contato com o
genitor alienado, pela morte do mesmo ou pelo distanciamento que chegou numa
situação irreversível. Assim, Sentimento de arrependimento e culpa extrema toma
conta do sujeito, que pode envolver-se gravemente com álcool, drogas, crises
depressivas e até tentativas de suicídios (Buosi 2012, p 91). Portanto, conclui-se que
o principal efeito psicológico desenvolvido pela alienação parental é a SAP, pois esta
afeta o indivíduo quando criança ou adolescente e ainda pode trazer sérias
consequências na vida adulta.
30

CONCLUSÃO

A lei 12.318/2010 veio a definir um novo instituto de proteção às relações


parentais, quando estas se encontrem ameaçadas pelo desgaste ou rompimento do
convívio no âmbito da relação familiar. Muitas das vezes os envolvidos no insucesso
da entidade familiar não se limitam aos cônjuges, posto que, na atualidade, as
consequências por vezes recaem justamente na parte mais desprotegida e
fragilizada que são os filhos eventualmente havidos na relação.

O tema passou a adquirir relevância pela nova definição dos papéis


parentais. No passado recente havia uma divisão tacitamente delineada quanto ao
papel dos cônjuges quanto aos filhos havidos numa relação entre pais que não
coabitassem ou que viessem a não mais coabitar. Normalmente ficavam os mesmos
sob a convivência e os cuidados mais próximos da mãe, sem envolvimento
substancial do pai que se mantinha à certa distância, quando muito participando com
o sustento financeiro e visitação esporádica. Contudo, na atualidade, mudanças
significativas de comportamento vieram a alterar tal realidade levando muitos pais a
buscarem um convívio mais intenso com os filhos, pretensão nem sempre bem
acolhida pela genitora que, seja por insegurança ou por desejo de posse, muitas
vezes sente-se ameaçada em compartilhar a convivência.

Assim, a preocupação do legislador tem seu foco nos eventuais frutos da


relação e na proteção de seu adequado desenvolvimento, mantendo um salutar
convívio entre filhos e genitores, num ambiente pós-rompimento, seja com existência
de guarda compartilhada ou comum. Foca mais especificamente nas situações em
que a relação conjugal desfeita, produz num dos cônjuges, na ânsia de manter sua
proximidade com a criança fruto do relacionamento, a necessidade de criar na
mente do menor falsas memórias e conceitos desfavoráveis em relação ao outro
cônjuge, tendente a produzir uma apatia e o afastamento da criança do genitor que
se busca desconstruir.

Com vistas a combater, reparar ou mesmo se antecipar ao mal que dito


processo pode acarretar ao filho, notadamente, como destinatário de toda a
descarga negativa que se produz em relação ao cônjuge prejudicado é que a
31

normatização apresenta mecanismos de contenção que permitam a adequação do


convívio, numa relação já marcada pelo rompimento da sociedade conjugal.
32

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33

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