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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE DIREITO

CAROLINA ANTUNES SILVA

ALIENAÇÃO PARENTAL

São Paulo – SP
2020
CAROLINA ANTUNES SILVA

ALIENAÇÃO PARENTAL

Trabalho de Graduação Interdisciplinar


apresentado como requisito para obtenção
do título de Bacharel no curso de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.

ORIENTADOR: PROF. EDSON LUZ KNIPPEL


São Paulo – SP
2020

CAROLINA ANTUNES SILVA

ALIENAÇÃO PARENTAL

Trabalho de Graduação Interdisciplinar


apresentado à Banca Examinadora da
Faculdade de Direito da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.

Aprovada em: __/__/____

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________
Prof. Dr. Edson Luz Knippel
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Orientador

___________________________________________
Profª. Dra. Mariângela Tomé Lopes
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Examinadora

__________________________________________
Prof. Dr. Rogério Luis Adolfo Cury
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Examinador
Antunes Silva, Carolina.
Alienação parental. Carolina Antunes Silva – São Paulo: Mackenzie, 2020.
Orientador: Professor Dr. Edson Luz Knippel
Tópicos do trabalho:
1. INTRODUÇÃO
2. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL
2.1. Diferença entre “Síndrome de Alienação Parental” e “Alienação Parental”
2.2. Graus da Síndrome da Alienação Parental
2.2.1. Grau I - Leve
2.2.2. Grau II - Médio
2.2.3. Grau III - Grave
2.3. Características do Alienador
2.4. Consequências para Crianças e Adolescentes que Sofrem Alienação Parental
2.5. A Implantação de Falsas Memórias
3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI Nº 12.318/2010
3.1. Caracterização de Alienação Parental
3.2. Do Indício de Alienação e Medidas Judiciais Cabíveis
3.3. Punição ao Descumprimento de Medidas Protetivas
3.4. Debates sobre a Revogação da Lei 12.318/2010
4. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E PRINCÍPIOS VIOLADOS
5. GUARDA COMPARTILHADA
6. CONCLUSÃO
7. BIBLIOGRAFIA
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso versa esclarecer sobre a prática de alienação


parental, características, indícios, condutas do alienador, bem como a ocorrência da Síndrome
da Alienação Parental, fazendo uma breve análise e relação com a legislação especial (Lei nº
12.318/2010), juntamente com a proteção existente às crianças e adolescentes, mais conhecido
como ECA (Lei nº 8.069/1990). Abordando sobre a manipulação exercida, geralmente por um
dos pais, sobre crianças ou adolescentes contra o outro genitor, caracterizando a conduta de
alienação parental, a guarda compartilhada surge como meio de prevenção e afastamento dos
atos alienatórios. Sendo detectada a alienação parental, devem ser adotadas medidas para
amenizar seus efeitos, constatando a importância do acompanhamento familiar por especialistas
da área de psicologia e/ou assistência social, e seu amparo pelo Poder Judiciário para soluções
da Síndrome da Alienação Parental.

Palavras-chave: Alienação parental; Alienador; Criança e Adolescente; Síndrome da Alienação


Parental; Guarda Compartilhada
ABSTRACT

The present work aims to clarify the parental alienation, characteristics, evidences,
conduct of the alienator, as well as the occurrence of the Parental Alienation Syndrome, making
a brief analysis and relation with the special legislation (Law 12.318/2010), together with the
existing protection of the children and adolescents, better known as RCTs (Law 8.069/1990).
Addressing the manipulation usually carried out by one parent, on children or adolescents,
against the other parent, characterizing the conduct of parental alienation, shared custody
appears as a means of prevention and removal from alienating acts. If parental alienation is
detected, measures should be adopted to mitigate its effects, noting the importance of family
counseling by specialists in the area of psychology and/or social assistance, and its support by
the Judiciary for solutions to the Parental Alienation Syndrome.

Key-words: Parental alienation; Alienator; Child and teenager; Parental Alienation Syndrome;
Shared Guard.
LISTA DE ABREVIATURAS

SAP: Síndrome da Alienação Parental


FM’s: Falsas Memórias
ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente
CPI: Comissão Parlamentar de Inquérito
PL: Projeto de Lei
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL ................... 3
1.1 DIFERENÇA ENTRE “SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL” E “ALIENAÇÃO PARENTAL” .......................... 8
1.2 GRAUS DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL ................................................................................... 10
1.2.1 Grau I - leve................................................................................................................................... 11
1.2.2 Grau II - médio .............................................................................................................................. 12
1.2.3 Grau III - grave .................................................................................................................................... 13
1.3 CARACTERÍSTICAS DO ALIENADOR........................................................................................................... 14
1.4 CONSEQUÊNCIAS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE SOFREM ALIENAÇÃO PARENTAL ...................... 16
1.5 A IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS .................................................................................................. 20

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI Nº 12.318/2010 .......................................... 25


2.1. CARACTERIZAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL.......................................................................................... 26
2.2. DO INDÍCIO DE ALIENAÇÃO E MEDIDAS CABÍVEIS .................................................................................... 28
2.3. PUNIÇÃO AO DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS ...................................................................... 31
2.4. DEBATES SOBRE A REVOGAÇÃO DA LEI 12.318/2010 ............................................................................... 34

3. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E PRINCÍPIOS VIOLADOS ....................... 37


4. GUARDA COMPARTILHADA ........................................................................... 41
5. CONCLUSÃO .................................................................................................... 45
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 48
INTRODUÇÃO

As relações familiares e a sociedade sofreram grandes transformações ao longo da


história, havendo o aumento do número de dissoluções matrimoniais, que muitas vezes não são
consensuais. O processo de separação causa transtornos emocionais em todos os envolvidos,
podendo desencadear a prática de alienação parental por parte de um dos genitores ou
responsável pela criança ou adolescente. O alienador não consegue lidar com os sentimentos de
vingança, tristeza, raiva ou rancor causados pela separação, passando a manipular os
sentimentos do menor para atingir o genitor alienado, enfraquecendo o vínculo afetivo entre
eles.

Em decorrência dessa prática, o menor, vítima do comportamento manipulador do


alienador, é acometido pela Síndrome da Alienação Parental (SAP), que afeta diretamente o
comportamento e o emocional da criança ou adolescente alienado, bem como o laço familiar.
A SAP possui três graus de intensidade, sendo mais leve quando ainda não é possível observar
os efeitos da alienação no dia-a-dia do menor, e o mais grave quando a campanha do alienante
já se tornou tão agressiva que o sentimento de ódio pelo genitor alienado passa a ser natural. A
SAP pode causar efeitos devastadores no psicológico, no desenvolvimento da personalidade da
criança ou adolescente alienado e na construção de suas relações sociais e familiares.

O comportamento do alienante pode tornar-se tão tóxico a ponto de criar falsas


memórias na mente do menor. Ele manipula situações que realmente ocorreram, mas com
distorções que coloquem a criança contra o outro genitor, ou ainda invente situações que nunca
ocorreram, tudo para desmoralizar o outro genitor. As falsas memórias podem conter inclusive
narrativas de abusos sexuais que nunca ocorreram, com o único objetivo de afastar o genitor
alienado do convívio da prole, manchando sua imagem.

A Lei 12.318/2010 disciplinou o tema da alienação parental, criando mecanismos para


inibir essa prática ou amenizar os efeitos causados por ela. Esse dispositivo prevê algumas
medidas protetivas às crianças e adolescentes assim que for constatada a alienação, bem como
sanções para coibir as atitudes do alienador.

Existem diversos debates sobre a revogação da Lei 12.318/2010 em decorrência da sua


utilização como estratégia de defesa de abusadores sexuais contra a outra parte, que denuncia
os abusos. Dois projetos de lei (PL) estão em tramitação para revogar esse dispositivo, e uma
emenda à um deles foi apresentada, propondo alterações na lei, e não sua revogação.

1
A prática de alienação parental viola diversos princípios que regem as relações
familiares e a vida como um todo. A Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), a Declaração Universal dos Direitos da Criança e a Convenção sobre os
Direitos da Criança e do Adolescente são dispositivos legais que garantem a proteção dos
menores, visando sempre seu desenvolvimento saudável, protegendo seus interesses e seus
direitos.

A guarda compartilhada é um meio de inibir a prática de alienação parental, assegurando


o convívio e a manutenção dos laços afetivos entre os genitores e seus filhos. O descumprimento
do regime de convivência estabelecido por esse instituto, bem como o desrespeito às medidas
protetivas previstas pela Lei 12.318/2010, são passíveis de punição criminal.

Assim, o presente trabalho busca demonstrar e esclarecer, em cinco capítulos, todas as


questões em torno do tema da alienação parental, as consequências que essa prática pode gerar
na vida do menor alienado e os meios de inibir e punir os alienadores. Serão levantadas as
divergências da comunidade jurídica em torno do tema, bem como os artigos e textos
pertinentes.

2
1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

O conceito de família se transformou no decorrer da história. Nos primórdios da


humanidade, a sociedade era matriarcal, pois a mulher era a única responsável pela perpetuação
da espécie, pela reprodução, assumindo um papel muito respeitado entre os membros do seu
clã, detendo o domínio sobre ele. Com a normalização da monogamia e a centralização da figura
masculina na sociedade e no seio familiar, estabeleceu-se um regime patriarcal. Assim, a
“direção do lar” tornou-se responsabilidade do homem, minimizando a importância da mulher,
que passou a ser tratada “como sua escrava e como objeto de reprodução”. Essa sistemática
familiar foi denominada de pater familia na Roma Antiga.1

No Brasil, o pater familia esteve vigente até a criação da Constituição Federal de 1988,2
que determinou a igualdade entre os sexos através da instituição do princípio da isonomia pelos
artigos 3º, IV e artigo 5º, I. Além disso, o Código Civil de 2002 3 introduziu o conceito de
igualdade em relação direitos entre homem e mulher e também os deveres mútuos do casal no
exercício do poder familiar, sendo igualmente responsáveis por seus filhos.

O antigo Código Civil de 19164 considerava a incapacidade relativa da mulher


independente de sua idade, condicionando o exercício de alguns de seus direitos à autorização
e tutela de seu marido. O Estatuto da Mulher Casada5 (Lei n. 4.121 de 27.08.1962) alterou essa
condição, considerando a mulher como plenamente capaz, mas ainda assim a limitando apenas
à posição de “colaboradora” no exercício do poder familiar. Anos depois, com a Lei do
Divórcio6 (Lei n. 6515 de 26.12.1977), foi concedido o direito de ambos os cônjuges decidirem
livremente sobre as questões que dizem respeito ao matrimônio, rompendo com o
conservadorismo da época.7

Após todas essas alterações na dinâmica familiar, no papel da mulher na família e na


sociedade, as dissoluções matrimoniais passaram a ser mais frequentes. Como consequência

1
CORREA, Marise Soares. A História e o Discurso da Lei: O Discurso Antecede à História. Tese de doutorado
em História (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Programa de pós-graduação em história, doutorado em história). Orientadora Profa. Ruth Maria Chittó Gauer.
Porto Alegre, 2009. p. 37.
2
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
3
Id. Código Civil Brasileiro. Brasília, 2002.
4
Id. Código Civil Brasileiro. Brasília, 1916.
5
Id. Lei 4.121. Estatuto da Mulher casada. 1962.
6
Id. Lei 6.515. Brasília, 1977.
7
CORREA, Marise Soares. Op cit. p. 107-10.

3
disso, principalmente quando a separação do casal não é consensual, surgem as disputas
judiciais pela guarda dos filhos.

As transformações e transtornos emocionais causados pelo processo de separação


atingem todos os membros da família envolvidos, podendo surgir a prática da alienação parental
nesse contexto. Conforme elucidado por Trindade8, essa prática pode ser desencadeada pois,
após a separação ou divórcio, uma das partes não consegue lidar com a tristeza e os diversos
sentimentos que a ruptura pode causar, pelos mais variados motivos. Assim, inicia-se uma
dinâmica de desmoralização constante do ex-cônjuge pelo alienante, que utiliza o menor como
um instrumento para afetá-lo. Toda essa situação acaba gerando uma confusão de sentimentos
na criança, o que pode destruir o laço afetivo entre eles.

Conforme Rosana Simão,9 o alienador possui diversos meios para praticar a alienação
parental:

Normalmente, o genitor alienador lança suas próprias frustrações no que se refere ao


insucesso conjugal no relacionamento entre o genitor alienado e o filho comum. O
objetivo do alienador é distanciar o filho do outro genitor. Isso se dá de diversas
formas, consciente ou inconscientemente. Assim é que o genitor alienador
(transtornado psicologicamente que é) intercepta ligações do genitor alienado para o
filho evitando o contato entre estes, refere-se ao genitor alienado través de termos
pejorativos, critica ostensivamente o estilo de vida do ex-cônjuge, critica os presentes
dados pelo ente alienado ao filho, fala coisas negativas sobre o outro genitor e seus
parentes à criança.

A alienação parental pode ser praticada por qualquer pessoa que tenha uma relação
próxima de parentesco com o menor, como de um dos genitores com os avós do alienado,
geralmente em razão do parentesco por afinidade, não se limitando somente aos pais. Ainda, a
busca por separar irmãos unilaterais, dadas as intrigas envolvendo o genitor comum.

A prática geralmente tem início com a proibição de visita ao menor, o convencendo de


que o genitor abandou o convívio familiar porque não gosta mais da criança alienada, causando
um sentimento negativo em prejuízo do genitor que decidiu se separar.

8
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica Para Operadores do Direito. 4ª ed. verificada, atualizada e
ampliada. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 178
9
SIMÃO, Rosana Barbosa Cipriano. Soluções judiciais concretas contra a perniciosa prática da alienação parental.
In: PAULINO, Analdino Rodrigues (Org). Síndrome da alienação parental e a tirania do guardião: aspectos
psicológicos, sociais e jurídicos. 1 ed. Porto Alegre, Equilíbrio, 2008. p. 14-25

4
A Alienação Parental é muito recorrente em casos que envolvem disputa de guarda,
transformando o cotidiano do menor em um cabo de guerra entre seus genitores, que tentam
denegrir um ao outro a todo momento. Nesses casos também é comum que apenas um deles
utilize da alienação para prejudicar o outro e conseguir a guarda da criança. A manipulação
psicológica praticada pelos genitores pode acabar causando um grande transtorno psicológico
no menor, chamado de Síndrome da Alienação Parental (SAP).

De acordo com Douglas Phillips10, a SAP se origina a partir do comportamento abusivo


e manipulador do alienador com o menor, com o objetivo de enfraquecer, atrapalhar ou destruir
o vínculo afetivo dele com o cônjuge alienado. Na maioria das vezes esse comportamento não
tem justificativa plausível, servindo apenas como forma de atingir e desmoralizar o ex-
companheiro.

Essa campanha contra o genitor alienado pode ser feita de várias formas, em que o
alienante passa a destruir a imagem do outro perante comentários sutis, desagradáveis,
explícitos e hostis, causando insegurança no menor na presença do genitor alienado, ressaltando
diversas vezes que o infante deve se cuidar e telefonar caso se não se sinta bem durante a
visitação, obstaculizando as visitas ou mesmo ameaçando o filho, podendo também ameaçar
atentar contra sua própria vida caso a criança se encontre com outro.

No instante em que o alienante percebe que está conseguindo se beneficiar de alguma


forma, a alienação parental tende a se intensificar gradativamente, despertando
comportamentos agressivos do alienado com o genitor que é vítima das diversas difamações
infundadas e afetando profundamente o âmbito familiar.

O desejo de vingança acaba cegando o alienante, que não percebe que seus atos podem
gerar consequências psicológicas irreparáveis para o menor. As formas de desmoralização
podem tomar proporções extremas, sendo comum a falsa acusação da prática de crimes sexuais
contra o menor que, com o poder de persuasão do alienante e a falsa sensação de cuidado e
preocupação, pode gerar falsas memórias na criança alienada, a convencendo de que isso seja
verdade.

10
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à lei 12.318/2010. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2014. p.165.

5
Maria Berenice Dias11 explica que a acusação da prática de abusos sexuais por parte do
ex-cônjuge é um meio comum que o alienante se utiliza para manipular o emocional do menor,
que é convencido de que certas situações realmente ocorreram e passa a replicar essa história,
acreditando nos fatos inventados pelo genitor. Com o tempo, pode ser difícil distinguir os fatos
verdadeiros daqueles que são frutos da manipulação abusiva, criando, assim, falsas memórias
na criança,

Assim, o alienador procura a todo tempo vigiar o sentimento da criança, a fim de


desmoralizar a imagem do outro genitor e a afastar dele, fazendo-a acreditar no que lhe está
sendo dito e destruindo, assim, o laço afetivo devido ao acometimento pela Síndrome da
Alienação Parental.

Conforme Madaleno,12 o primeiro conceito da Síndrome da Alienação Parental surgiu


em 1985, por Richard Gardner, então professor de Psiquiatria Clínica na Universidade de
Columbia nos Estados Unidos da América, a partir de suas experiências como perito judicial.13

No Brasil, a divulgação da Síndrome da Alienação Parental passou a ter maior atenção


do Poder Judiciário por volta de 2003, devido ao surgimento das primeiras decisões
reconhecendo este fenômeno, que ocorre há muito tempo nas famílias. Esta percepção começou
a tomar força por conta da maior participação das equipes interdisciplinares nos processos de
família e por conta de pesquisas e divulgações realizadas por institutos como a Associação dos
Pais e Mães Separados (APASE), Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), entre
outros.

A conotação de síndrome não é adotada na lei brasileira em virtude de não constar na


Classificação Internacional das Doenças (CID) e por dizer respeito ao conjunto dos sintomas
provocados pela alienação parental em desfavor de um genitor ou mesmo da família estendida,
eis que a legislação pátria apenas trata desta exclusão proposital e não de seus sintomas e
consequências.

Tal situação sempre existiu em nossa sociedade, sem proteção legal específica. Contudo,

11
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 11ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 456.
12
Madaleno, Ana Carolina Carpes; Madaleno Rolf. Síndrome da Alienação Parental. 3ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2015. p. 53 Retirado de <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6438-2/>.
Acesso em: 20/04/2020.
13
Ibid. p. 54

6
apesar dessa falta, o ordenamento civilista já possibilitava a sua proteção por intermédio da
perda do poder familiar do pai ou mãe que pratica atos contrários à moral e aos bons costumes,
conforme disposto no inciso III do art. 1.638 do Código Civil:14

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I - Castigar
imoderadamente o filho; II - Deixar o filho em abandono;

III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

IV - Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.

Ou ainda faltar com os deveres obrigatórios ao poder familiar, o direcionamento da


criação e da educação dos filhos menores, de acordo com o inciso IV do art. 1.638, combinado
com o art. 1.637, ambos do Código Civil:15

Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
ou o Ministério Público, adotar à medida que lhe pareça reclamada pela segurança do
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.

Nessas condições, os alienadores ferem garantias que estão previstas


constitucionalmente, segundo a leitura do artigo 227 da Constituição da República.16

Assim dispõe referido dispositivo:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

Todas as crianças e adolescentes têm direito à convivência familiar. Contudo, apesar de


ser um direito expresso na Carta Magna e nos princípios regentes da família, muitas vezes esta
garantia é violada.

A alienação parental é a maneira de interromper os laços afetivos de um genitor para


com seus filhos. Por conta das necessidades observadas nos processos de divórcio que
envolviam uma situação de extrema gravidade e prejuízo ao menor devido à alienação parental,
foi aprovada a Lei nº 12.318/2010.

14
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Brasília, 2002.
15
Ibid.
16
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.

7
O conceito legal da alienação parental está disposto no artigo 2º da Lei nº 12.318/201017,
que a define como a interferência no desenvolvimento psicológico do menor promovida por um
dos genitores ou por qualquer pessoa que tenha autoridade ou poder de guarda ou vigilância
sobre o mesmo, com o objetivo de afetar os vínculos com o genitor alienado. Essa lei contém
dispositivos que garantem a segurança do menor, a fim de evitar sua má formação psicológica.

1.1 Diferença entre “Síndrome da Alienação Parental” e “alienação parental”

A alienação parental é a interferência equivocada na formação psicológica do menor


alienado, como meio de transformar o sentimento amoroso em um sentimento negativo sem
qualquer justificativa plausível, podendo ser praticada pelos pais ou por outra pessoa que tenha
grande vínculo afetivo ou a guarda do menor alienado.

Sob este aspecto, Marco Antônio Garcia Pinho18 explica que:

[...] além de afrontar questões éticas, morais e humanitárias, e mesmo bloquear ou


distorcer valores e o instinto de proteção e preservação dos filhos, o processo de
alienação também agride frontalmente dispositivo constitucional, uma vez que o
artigo 227 da Carta Maior versa sobre o dever da família em assegurar a criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito constitucional a uma convivência
família harmônica e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de
negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, assim como
o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Conforme já aludido, a alienação parental pode ocorrer a partir da atitude alienante que
visa denegrir a imagem do outro genitor, até mesmo como motivo de vingança, com o objetivo
de manipular psicologicamente a criança alienada, sem ao menos visar as consequências que
podem ser definitivas no bem-estar e na saúde mental da criança que sofre a alienação.

Já a Síndrome da Alienação Parental é a consequência gerada pelas atitudes do alienante


no comportamento da criança alienada. Quando o menor se encontra acometido pela SAP, ele
já está completamente corrompido com as informações levadas a ele como verdadeiras, não
sendo necessária mais nenhuma mentira contada pelo alienante para nutrir seu ódio contra o
genitor alvo da depreciação. Entende-se como sendo a conduta consumada da alienação
parental.

17
Id. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no
8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 26 abril 2020
18
PINHO, Marco Antônio Garcia. Alienação Parental. In: Revista do Ministério Público. Minas Gerais: ano IV, n
17, 2009. p. 119

8
A Síndrome da Alienação Parental é um distúrbio da infância que aparece quase
exclusivamente no contexto de disputa de custódias de crianças. Sua manifestação
preliminar é a campanha denegatória contra um dos genitores, uma campanha feita
pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das
instruções de um genitor (o que faz a lavagem cerebral, programação, doutrinação) e
contribuições da própria criança para caluniar o genitor alvo. Quando o abuso e/ou a
negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser
justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade
da criança não é explicável.19

Assim, a Síndrome da Alienação Parental se desenvolve através da prática da alienação


parental. Primeiramente o alienante começa a denegrir a imagem do genitor alvo perante o
menor alienado. Após a alienação adquirir uma certa constância, a criança desenvolve a SAP,
momento no qual as mentiras e acusações já estão tão enraizadas em seu psicológico, que nada
mais é necessário para genuinamente alimentar o sentimento negativo e difamar o genitor
alienado, diminuindo ainda mais o convívio e perpetuando assim o sentimento negativo.

Richard Gardner, segundo estudo, aponta que a Síndrome da Alienação Parental é um


distúrbio que surge inicialmente na conjuntura das disputas em torno da guarda do menor. Sua
primeira manifestação aparece em situações que visam denegrir a figura parental perante a
criança, algo sem justificativa. Esta síndrome resulta da combinação de um programa de
doutrinação dos genitores (lavagem cerebral) juntamente com a contribuição da própria criança
vendo de outra forma a figura parental que está na mira desse processo.

Neste sentido é que nos diz Maria Berenice Dias20 explica que há o convencimento do
filho de que tal situação ocorreu da forma que o alienador está dizendo, levando-o a reproduzir
a versão dos fatos que lhe é apresentada. Com o tempo, a capacidade de discernimento entre a
realidade e as mentiras a manipulações do alienador é afetada, criando falsas memórias na
mente da criança.

Em suma, a alienação parental e sua consequente Síndrome da Alienação Parental se


inicia pelas atitudes do alienante que, de algum jeito, mancha a imagem do genitor que é alvo
da alienação, com o objetivo de afastar a criança dele e criar falsas memórias. Assim, essa

19
GARDNER, Richard A. Parental Alienation Syndrome (2nd Edition). Creative Therapeutics, Inc. Cresskill,
1999. P. 3-7 Disponível em: <http://themenscentre.ca/wpcontent/uploads/2013/08/Parental-Alienation-Syndrom-
2nd-ed..pdf.>. Acesso em 20/04/2020.
20
DIAS, Maria Berenice. Síndrome da alienação parental, o que é isso?. 2006. Disponível em <
https://www.migalhas.com.br/depeso/26732/sindrome-da-alienacao-parental-o-que-e-
isso#:~:text=O%20filho%20%C3%A9%20convencido%20da,afirmado%20como%20tendo%20realmente%20ac
ontecido.&text=A%20sua%20verdade%20passa%20a,se%2C%20assim%2C%20falsas%20mem%C3%B3rias.>.
Acesso em 21/04/2020

9
prática gera uma série de danos psicológicos que podem ser irreparáveis, caracterizando a
Síndrome da Alienação Parental, a qual é dividida em graus, sendo possível medir o dano
psicológico do qual o menor está acometido.

1.2 Graus da Síndrome da Alienação Parental

A área da psicologia busca uma ligação com o Direito, para uma melhor identificação
se existe ou não alienação parental, para definir quais os atos de inibição e diminuir os efeitos
da alienação e para descobrir quais são as ferramentas mais efetivas utilizadas pelas famílias
(ampliação ou diminuição do período de convivência, modificação de domicílio, exercício de
guarda por terceiros, tratamento compulsório de pais, entre outras).

Denise Maria Perissini da Silva elenca como comportamentos clássicos de um alienador


17 atitudes mais frequentes da prática da síndrome, a saber:

1. Recusar-se passar as chamadas telefônicas aos filhos; 2. Organizar atividades mais


atraentes nos dias de visitas do genitor sem a custódia; 3. Apresentar o novo
companheiro como o novo pai ou a nova mãe; 4. Interceptar qualquer
correspondência física ou virtual, e telefonemas dos filhos; 5. Desvalorizar e insultar
o outro progenitor diante dos filhos comuns; 6. Recusar-se repassar as informações
das atividades extraescolares da prole; 7. Obstruir o exercício das visitas; 8. Não avisar
o outro progenitor de compromissos dos filhos com médico, dentista ou psicólogo; 9.
Envolver pessoas próximas na alienação; 10. Decidir sozinha acerca de escolhas
relevantes na educação dos filhos; 11. Boicotar informações médicas ou escolares dos
filhos; 12. Deixar os filhos com terceiros em vez do genitor não guardião quando o
custo diante sai de férias; 13. Proibir os filhos de usarem as roupas e os objetos
(telefone celular, computador, brinquedos) dados pelo genitor não guardião; 14.
Ameaçar os filhos ou prometer atentar contra si próprio se os filhos mantiverem
contato com o outro genitor; 15. Culpar o progenitor não guardião pelo mau
comportamento dos filhos; 16. Não só ameaçar mudança para residência
geograficamente distante, como assim proceder, mudando-se para outro Estado da
Federação, isto quando não esboça buscar autorização judicial para morar fora do
País; 17. Telefonar com frequência e sem motivos sérios durante as visitas do outro
genitor.21

Como em todas as outras síndromes ou doenças, a Síndrome da Alienação Parental


(SAP) também é classificada por graus pelos especialistas, identificando assim a ocorrência,
progressão e gravidade do caso, sendo classificados em três níveis.

21
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda Compartilhada e Síndrome de Alienação Parental. O que é isso?
Campinas: Autores Associados, 2010. p.55-56.

10
1.2.1 Grau I - leve

Neste estágio, a demonstração de afeto do genitor alvo da alienação continua sendo


sentida pela criança, o que incomoda o genitor alienante. O fator desencadeante para que o
Alienante comece a denegrir a imagem do outro genitor é a raiva, pois ele percebe que o menor
não sente raiva nem culpa pela separação do casal, e isso causa insatisfação no genitor alienante.

A criança nesse momento não compreende o que está acontecendo e acaba mentindo
para agradar o Alienante, ou seja, quando a criança está com a genitora e ela dispara as críticas
ao pai, a criança concorda e quando ela está com o genitor e ele dispara a criticar a mãe ela
também concorda, agradando os dois lados sem causar discórdia.

As visitas se apresentam calmas, porém já com um pouco de dificuldade na hora da


troca de genitor. Enquanto o filho está com o genitor alienado, as manifestações da campanha
de desmoralização desaparecem ou são discretas.

Conforme ilustra Ana Carolina Carpes Madaleno:22

a) I Leve – a visitação ocorre quase sem problemas, com alguma dificuldade apenas
quando se dá a troca entre os genitores. O menor mostra- se afetivo com o progenitor
alienado.A campanha de difamações já existe – o genitor guardião escolhe um tema
ou um motivo que o menor começa a assimilar –, mas, com pouca frequência, a
criança demonstra sentimento de culpa e um mal-estar em relação ao alienante por ser
afetuoso com o outro. Na ausência do genitor alienante, porém, o menor o defende e
o apoia pontualmente, sendo também baixa a presença de encenações e situações
emprestadas.
A animosidade ainda não se estende à família do pai alienado e os vínculos emocionais
com ambos os pais ainda são fortes, como eram durante a convivência familiar. Os
menores expressam o desejo de ver resolvido o conflito, veem o genitor alienante
como seu principal prestador de cuidados apenas, ainda sem traços patológicos de
dependência.
Nesse estágio, não são utilizados os processos judiciais como difamação da imagem
do outro e os pais geralmente reconhecem que de alguma maneira o conflito afeta sua
prole, contudo, os atos pontuais de difamação são vistos como naturais.
Há possibilidade de uma decisão judicial resolver o conflito, geralmente essa fase é
característica do início da etapa processual, o que pode tanto favorecer o
apaziguamento dos ânimos quanto seu acirramento (...)

Segundo Douglas Phillips Freitas,23 os indícios leves podem ser avaliados através da
tendência do Alienador em dificultar a autoridade parental do genitor que é alvo da Alienação

22
MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO Rolf. Síndrome da Alienação Parental. 3ª ed., Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2015. p.49.
23
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental - Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2015. P. 54

11
ou através das formas que o Alienador busca para obstaculizar o exercício do direito
regulamentado de convivência familiar.

Por este motivo, nesse estágio os efeitos da alienação parental são quase imperceptíveis
e o menor ainda não foi totalmente acometido pela Síndrome da Alienação Parental, não
causando prejuízos perceptíveis na relação familiar.

1.2.2 Grau II - médio

Neste estágio a identificação da alienação é mais perceptível, pois começa a haver


conflitos entre os pais, afetando assim a criança ou adolescente.

Nesta fase, mesmo a criança muitas vezes defendendo o Alienante, ela ainda consegue
enxergar a culpa dele em algumas situações, posicionando-se em favor do genitor alvo da
alienação. Entretanto, as visitas começam a sofrer interferências, com desculpas de mal-estares,
doenças e até mesmo festas importantes para a criança.

Os conflitos começam a aparecer nas trocas de visitas, onde um acusa o outro, brigando
na frente da criança, iniciando assim um processo de distinção onde um é o genitor “bom” e
outro o genitor “mau”. Por presenciar esses momentos, o Alienante usa artifícios para atribuir
a culpa das brigas ao genitor alvo da alienação.

Pelas palavras de Ana Carolina Carpes Madaleno:24

b) O tipo moderado ou estágio II médio – o motivo ou tema das agressões torna-se


consistente e reúne os sentimentos e desejos do menor e do genitor alienante, criando
uma relação particular entre eles, que os torna cúmplices.
Os conflitos na entrega do menor antes ou após as visitas são habituais, e a campanha
de difamação é intensificada, atingindo esferas que antes não atingia. É comum, nessa
fase, que as acusações cessem após o genitor alienado dar suas explicações, bem como
o afastamento do alienador, fazendo com que o decorrer do período da visitação seja
normal. Aparecem os primeiros sinais de que um genitor é bom e o outro é mau, o
menor tem pensamento dependente, defendendo com entusiasmo o progenitor
alienante, porém, por vezes, pode ainda apoiar o pai alienado. As situações
emprestadas começam a aparecer, dando mostras de que a criança se inclina para um
genitor, causando frustração no outro. Assuntos processuais também passam a ser
frequentes, as visitas começam a sofrer interferências, provocadas por denúncias ou
fatores como doenças, festas, atividades escolares, entre outros, que coincidem
sempre com os dias de visitação.
O vínculo afetivo começa a se deteriorar, há o distanciamento qualitativo, não apenas
com relação ao progenitor, mas também em relação à sua família.

24
MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO Rolf. Síndrome da Alienação Parental. 3ª ed., Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2015.p.49-50.

12
O ascendente detentor da custódia não reconhece o problema, e atribui os
acontecimentos à falta de tato ou de cuidado do outro pai. Os menores passam a
enxergar o retorno à casa do guardião como a solução dos problemas.

De acordo com Douglas Phillips Freitas, o comportamento do alienante nesse estágio


pode ser verificado através das seguintes condutas:25

– Obstrução do contato: verifica condutas do alienador que visem dificultar contato


de criança ou adolescente com genitor;
– Realização de falsa denúncia: verifica a intenção do alienador em apresentar falsa
denúncia contra genitor alienado, contra familiares deste ou contra avós, para obstar
ou dificultar a convivência deles com a criança ou o adolescente;
– Mudança domiciliar: consiste na mudança domiciliar do alienador para local
distante, sem justificativa, visando dificultar a convivência da criança ou do
adolescente com o genitor alienado, com familiares deste ou com avós

A partir desse momento, o vínculo da criança com o genitor alienado começa se


desgastar e tornar-se instável, pois a criança cria sentimentos negativos, não querendo mais
conviver com mesmo, afetando assim todo o círculo familiar.

1.2.3 Grau III - grave

Neste estágio, a criança vítima da alienação parental já está acometida pela Síndrome
da Alienação Parental, pois já passou por diversas situações que denigrem a imagem do genitor
alienado. É como se a criança tivesse passado por um tipo de lavagem cerebral.0

O menor pode ficar em pânico apenas com a ideia de ter que visitar o outro genitor e,
quando as visitas ocorrem, geralmente não acabam bem, pois o alienado já está tão perturbado
que a raiva e o ódio acabam falando mais alto. Não é incomum que a criança agrida o genitor
verbalmente e/ou fisicamente ou permaneça calada, não dando abertura para qualquer possível
de diálogo com o genitor alienado. Dependendo da idade, a criança até tende a fugir.

A campanha do genitor Alienante é tão intensa que chega a ser obsessiva, contando com
tantas mentiras e exageros que ele próprio acaba por acreditar nas suas próprias mentiras. Dessa
forma, o genitor Alienado se torna o vilão da relação e a criança chega ao estágio máximo da
SAP, pois não precisa mais escutar as coisas para nutrir o ódio que sente, ela acaba criando
sozinha suas próprias inverdades, pois esse sentimento já faz parte da sua vida.

25
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental - Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2015. P. 57

13
Segundo Ana Carolina Carpes Madaleno: 26

c) O tipo grave ou estágio III grave – os menores encontram-se extremamente


perturbados, por isso as visitas são muito difíceis ou não ocorrem. Caso ainda haja
visitação, ela é repleta de ódio, difamações, provocações ou, ao contrário, as crianças
emudecem, ficam como entorpecidas ou até mesmo tentam fugir. O habitual é que o
pânico, as crises de choro, explosões de violência e gritos do menor impeçam a
continuidade do regime de visitas.
O ódio com relação ao genitor não guardião é extremo, sem ambivalências e sem
culpa, seus diálogos com os menores tornam-se circulares e extremamente cansativos,
uma vez que não há qualquer possibilidade de uma conclusão razoável ou de que o
menor entenda seu ponto de vista, bem como qualquer conversa será utilizada para a
obtenção de informações para um novo ataque de difamações.
O vínculo é totalmente cortado entre o filho e o pai alienado, após um longo período
de convivência entre os dois, o máximo que o menor expressa é calma ou aceitação
da situação. A criança se torna independente, a síndrome alcança seu grau máximo,
uma vez que agora ela é capaz de, sem qualquer ajuda do genitor alienante – que passa
a transmitir a imagem de que tem boas intenções e nada pode fazer com relação aos
ataques do filho –, empenhar sua própria campanha de hostilidades para o genitor não
guardião – que é visto como uma ameaça – e sua família.
As encenações são recorrentes, porém, logo após o início das acusações, dão lugar às
situações e razões próprias do menor.
O progenitor alienante demonstra uma visão obsessiva, tudo gira em torno da proteção
de seus filhos, que devem ser resguardados do mal que outro genitor possa fazer,
sendo exacerbadas suas qualidades negativas e, ainda, recebe a projeção dos medos e
fantasias do próprio alienador – que se sente uma vítima da situação. Da mesma forma
ocorre com os menores, que passam a ter conduta paranoica semelhante à do genitor
alienante, sendo que nessa fase o menor mostra-se claramente programado a odiar,
tem comportamentos de negação e é incessantemente testado pelo alienador acerca de
sua lealdade.

Para Douglas Phillips Freitas,27 nesse estágio da alienação parental há a desqualificação


do exercício da paternidade ou maternidade do genitor alienado e também a omissão de
informações pessoais relevantes sobre o menor.

Esse último estágio causa danos irreparáveis, cometendo assim o genitor alienante atos
que contrariam por inteiro todos os princípios e direitos da criança e do adolescente.

1.3 Características do alienador

Segundo Souza, o objetivo do alienador é evitar ou dificultar o convívio dos filhos com
o ex-cônjuge. No entanto, os pais ou responsáveis não percebem que a convivência familiar é

26
MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO Rolf. Síndrome da Alienação Parental. 3ª ed., Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2015.p.50
27
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental - Comentários à Lei 12.318/2010. 4ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2015. P. 59

14
direito fundamental previsto não apenas na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e
Adolescente (ECA), mas também na Lei 12.318/2010 (Lei de Alienação Parental).28

Tudo começa quando surge a separação, onde aparecem muitos sentimentos de rancor,
mágoa e rejeição, pois existe a intenção de prejudicar o antigo companheiro, só que não
percebem que essas atitudes prejudicam o menor, o que pode enfraquecer ou até destruir o laço
afetivo dele com os pais.

O então padrão de condutas do genitor alienante é elucidado por Fonseca:29

a) denigre a imagem da pessoa do outro genitor; b) organiza diversas atividades para


dia de visitas, de modo a torná-las desinteressantes ou mesmo inibi-las; c) não
comunica ao genitor fatos importantes relacionados à vida dos filhos (rendimento
escolar, agendamento de consultas médicas, ocorrência de doenças, etc.) d) toma
decisões importantes sobre a vida dos filhos, sem prévia consulta do outro cônjuge
(por exemplo: escolha ou mudança de escola, de pediatra, etc.); [...] i) obriga a criança
a optar entre a mãe ou o pai, ameaçando-a das consequências, caso a escolha recaia
sobre o outro genitor; [...] n) sugere à criança que o outro genitor é pessoa perigosa;
o) omite falsas imputações de abuso sexual, uso de drogas e álcool; p) dá em dobro
ou em triplo o número de presentes que o genitor alienado dá ao filho; r) não autoriza
que a criança leve para casa do genitor alienado os brinquedos e as roupas que ele
mais gosta [...]

As ações dos genitores alienantes podem ter características inofensivas no início,


dificultando a constatação da alienação parental. Quando a mãe apresenta um novo
companheiro para o filho e diz que ele é o novo pai, assim como quando intercepta cartas, e-
mails, telefonemas, já está sendo burlada a intimidade entre pai e filho. Atitudes como estas
podem ter um caráter protetor, mas dependendo de como são abordadas podem caracterizar
alienação parental.30

A interferência do Poder Legislativo e Judiciário dentro dos conflitos familiares possui


extrema importância, porque os pais, ao romperem o relacionamento entre si, acabam
automaticamente excluindo do cotidiano de seus filhos aquele genitor que não é detentor da
guarda. Esta situação, infelizmente nem sempre é imposta apenas pelo genitor guardião, pois o
pai/mãe que não é guardião acredita que se cumprir os horários de visitação já estará cumprindo
o “seu papel”.

28
SOUZA, Juliana Rodrigues de. Alienação parental: sob a perspectiva do direito à convivência familiar. Leme:
Mundo Jurídico, 2014.p. 7
29
FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Síndrome de Alienação Parental. Revista Brasileira de Direito de Família,
ano VIII, n. 40, fev.-mar. 2007. p.10
30
TRINDADE, J. Síndrome de Alienação Parental. In: DIAS, M.B. Incesto e Alienação Parental. 3ª edição. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 21 a 30

15
Costumeiramente ocorre uma confusão entre guarda e poder familiar, deixando o
processo de separação ainda mais difícil. Muitas vezes os pais entendem que por não
receber a guarda dos filhos, não têm responsabilidades com estes, deixando a tarefa
de educar a cargo da mãe – que normalmente é nomeada como guardiã. Assim, a
alienação também pode se dar pelo genitor não guardião, que faz o papel de “bom
pai”, deixando a criança fazer o que quer, dizendo que a mãe é má por não permitir
determinadas atitudes e delegar tarefas. Sendo assim, a missão de educar os filhos é
dos dois, mesmo que não sejam mais casados. Umas das formas é ter um bom diálogo,
mesmo porque hoje em dia não há mais espaço para um dos genitores ser expectador,
somente realizar a visita de fim de semana e enviar o dinheiro da pensão alimentícia,
a criação dos filhos é de fundamental importância e deve ser tocada por quatro mãos.31

1.4 Consequências para crianças e adolescentes que sofrem alienação


parental

O modo como os pais enfrentam um processo de divórcio ou dissolução de sua união é


determinante para verificar como seus filhos se comportarão no futuro.32 Após o período
turbulento, se os pais retomam suas vidas, suas rotinas, agindo com naturalidade, os filhos
entendem que o afastamento de um dos genitores vai ser normal e não afetará a vida dele e nem
os sentimentos que um sente pelo outro.

Por outro lado, se os pais passam para os filhos os sentimentos ruins, os aborrecimentos,
discussões entre eles, os filhos entendem que existe algum culpado pela separação, e nisso os
filhos acabam acusando o genitor pela separação, destruição do lar, de ter abandonado a casa e
acaba afastando-se do genitor, ficando ao lado e a favor do outro que continua em casa. O menor
pode acabar se sentindo culpado, o que pode desencadear uma série de transtornos, como
depressão, ansiedade e perda de autoestima.

Conforme exposto, na alienação parental a criança é utilizada manipulada


psicologicamente para servir como instrumento de ódio e rejeição a um dos genitores e assim
acaba perdendo o laço afetivo indispensável para seu desenvolvimento e formação de caráter.
Dessa maneira, Maria Berenice Dias33 esclarece que a SAP gera consequências prejudiciais no
relacionamento com o genitor alienado e com o alienador, mas o impacto mais trágico sempre
recai sobre o filho, vítima da alienação.

31
SOUZA, Juliana Rodrigues de Alienação parental: sob a perspectiva do direito à convivência familiar. Leme:
Mundo Jurídico, 2014. p.8.
32
MADALENO, Ana Carolina Carpes; Madaleno, Rolf. Síndrome da alienação parental: importância da detecção
aspectos legais e processuais. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 54
33
DIAS, Maria Berenice. Incesto e Alienação Parental. Coordenação de Maria Berenice Dias. 3ª Edição. Revista
atual e ampla. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2013. P. 86

16
Diante dos prejuízos que a Síndrome da Alienação Parental pode trazer aos envolvidos,
a criança é a vítima principal, pois é a que tem menos meios próprios de defesa e discernimento
para separar a realidade das ilusões criadas pelo alienante. O alienado deve aprender a lidar com
um novo ambiente bastante turbulento dentro da própria família, o que gera reações diversas
em cada criança, como por exemplo situações em que o alienado manipula o cenário para tentar
obter alguma vantagem, fala apenas uma parte da verdade ou demonstram falsas emoções para
agradar um de seus genitores. Outras crianças não se preocupam com coisas próprias da idade
e acabam tendo a infância roubada pelo egoísmo do genitor alienador, que privou essa criança
de um convívio saudável e fundamental.34

Na área psicológica, também são afetados o desenvolvimento e a noção do


autoconceito e autoestima, carências que podem desencadear depressão crônica,
desespero, transtorno de identidade, incapacidade de adaptação, consumo de álcool e
drogas e, em casos extremos, pode levar até mesmo ao suicídio. A criança afetada
aprende a manipular e utilizar a adesão a determinadas pessoas como forma de ser
valorizada, tem também uma tendência muito forte a repetir a mesma estratégia com
as pessoas de suas posteriores relações, além de ser propenso a desenvolver desvios
de conduta, com a personalidade antissocial, fruto de um comportamento com baixa
capacidade de suportar frustrações e controlar seus impulsos, somado, ainda, à
agressividade com único meio de resolver conflitos [...]

Portanto, “se os pais tiverem equilíbrio suficiente para manter um diálogo construtivo,
os filhos estarão a salvo. Do contrário, acabarão por se tornar artilharia de um cônjuge contra o
outro”.35 Assim, para que a separação não deixe cicatrizes irreversíveis no relacionamento de
pais e filhos e na própria personalidade destes, devem os genitores manter os filhos longe dos
desentendimentos advindos do divórcio, afinal a separação deve ser entre os pais e não para
com os filhos.

O afastamento de um dos pais após o divórcio pode acarretar diversos problemas


psicológicos na criança ou no adolescente, acompanhado de um sentimento de ódio, rancor,
desprezo e repulsa em face de um dos genitores. Tais sentimentos poderão ocorrer por qualquer
motivo egoísta do alienante para exercer com exclusividade o papel de guardião de seu filho.

34
MADALENO, Ana Carolina Carpes; Madaleno Rolf. Síndrome da Alienação Parental. 3ª ed., Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2015. p. 54. Retirado de <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6438-
2/>. Acesso em: 02 de abril de 2020.
35
SOUZA, Raquel Pacheco Ribeiro de. A tirania do guardião. In: APASE, Associação de Pais e Mães Separados;
PAULINO NETO, Analdino Rodrigues (Org.). Síndrome da alienação parental: a tirania do guardião. Porto
Alegre: Equilíbrio, 2012. p. 7-10.

17
O menor perderá o interesse e se recusará a manter contato com o genitor alvo da
alienação sem qualquer motivo aparente, processo que poderá perdurar por muito tempo,
gerando problemas gravíssimos na orem comportamental e psíquica.

Alguns dos efeitos devastadores sobre a saúde emocional da criança, já percebidos pelos
estudiosos, em vítimas de alienação parental, conforme Jorge Trindade,36 são:

- Vida Polarizada e sem nuances;


- Depressão crônica;
- Doenças psicossomáticas;
- Ansiedade ou nervosismo sem razão aparente;
- Transtornos de identidade ou imagem;
- Dificuldade de adaptação em ambiente psicossocial normal;
- Sentimento de rejeição;
- Isolamento e mal-estar;
- Falta de organização mental;
- Insegurança;
- Baixa autoestima;
- Comportamento hostil ou agressivo;
- Transtornos de conduta;
- Inclinação para o uso abusivo de álcool e drogas;
- Suicídio;
- Dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais.

Neste mesmo caminho, Jorge Trindade37 explica que os efeitos sobre os filhos variam
de acordo com a idade do filho, influenciados pela sua personalidade, pela ligação que havia
entre ele e o genitor alienado anteriormente e pela capacidade de resiliência de ambos diante
das situações criadas pelo comportamento abusivo do alienante, além de vários outros fatores
que talvez não fiquem explícitos.

Também encontramos diversas implicações nas relações deste filho com os genitores.
Primeiramente, pode ser observada uma crise de lealdade entre eles, sendo que o afeto por um
é entendido como traição pelo outro, e isso faz com que o filho, muitas vezes, passe a contribuir
para a campanha da desmoralização do genitor alienado. Posteriormente, o genitor alienado
passa a ser rejeitado e odiado pelo filho, destruindo assim o vínculo familiar, principalmente
pela perda de convivência, ainda mais se o distanciamento tenha ocorrido durante anos
primordiais para a construção da criança enquanto sujeito. Com o tempo, nem mesmo o genitor

36
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica Para Operadores do Direito. 4ª ed. verificada, atualizada e
ampliada. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. P. 186 Disponível em <
https://www.academia.edu/39250308/Manual_de_Psicologia_Jur%C3%ADdica_PARA_OPERADORES_DO_
DIREITO>. Acesso em 30 de março 2020
37
Ibid. p. 186

18
alienante consegue distinguir a diferença entre as mentiras criadas e a realidade. Nesse contexto,
Jorge Trindade38afirma que:

O genitor alienador é, muitas vezes, identificado com uma pessoa sem consciência
moral, incapaz de se colocar no lugar do outro, sem empatia sequer com os filhos, e
sobretudo, sem condições de distinguir a diferença entre a verdade e a mentira, lutando
para que a sua verdade seja a verdade também dos outros, levando os filhos a viver
como falsas personagens de uma falsa existência.

O menor alienado nem sempre apresentará sintomas psicopatológicos, estando ela


adaptada à escola e integrada socialmente. Os bloqueios aparecem durante as visitas ao genitor
alienado, quando se recusa a estar com ele sem razão ou por motivos inteiramente fantasiosos,
como o medo infundado de ser maltratado pelo genitor. É então, manifestado ódio pelo genitor
alienado, fazendo falsas acusações sendo que não demonstram remorso, e faz questão de não
ser amigável durante toda a visita. Presenciam então diversas mentiras exageradas ou
disfarçadas de verdade, em que tenta manipular o interlocutor, tratando genitor alienado como
seu inimigo ou simplesmente um desconhecido cuja proximidade não exista e é percebida como
agressão. A situação pode se agravar, quando se há irmãos sendo alienados e o vínculo entre
eles parece estar perdido, isto porque cada um deles encontra-se em diferentes estágios do
processo de alienação. Os irmãos mais velhos costumam agir de maneira conservadora para
com os mais novos, vigiando-os durante toda a visita, obtendo para si o encargo de manutenção
da programação feita pelo genitor alienador.

Quando o genitor alienado passa a ser taxado de incompetente, os filhos mais velhos
acreditam que devem assumir o seu papel perante os mais novos. Os primogênitos podem então,
revelar ou acentuar o discurso difamante do alienador, influenciando os mais jovens. Outro
comportamento existente é o sentimento de repulsa ou animosidade que é desenvolvido contra
o genitor alienado e que atinge não só este, mas também toda a sua família e amigos.

Durante esta fase de intolerância gerada pelos conflitos de amor e ódio que deveriam
sentir, nota-se um discurso pronto, com diversos termos inadequados para a sua faixa etária,
sendo os genitores descritos de forma dualista, um é considerado inteiramente bom e o outro
inteiramente mau. Quando se questiona o menor sobre tal conduta, este afirma que não recebe

38
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica Para Operadores do Direito. 4ª ed. verificada, atualizada e
ampliada. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 201. Disponível em
<https://www.academia.edu/39250308/Manual_de_Psicologia_Jur%C3%ADdica_PARA_OPERADORES_DO_
DIREITO>. Acesso em 29 abril 2020

19
influência de ninguém e que estas conclusões são de autoria própria, ele começa a manipular e
fala apenas meias verdades.

A identificação inicial da Síndrome da Alienação Parental e a intervenção de forma


eficaz são momentos complicados, pois podem expor o menor a situações psicologicamente
traumáticas, pois existem muitos casos que não se tratam apenas de invenções do alienante, mas
sim de fatos que realmente aconteceram, como o abuso sexual. Monica Guazzelli39 alerta:

Essa dificuldade na identificação na Síndrome da Alienação Parental, decorre,


justamente, porque o abuso sexual infantil existe, e, quando denunciado, gera imediata
obrigação de proteger a prole e a necessidade de investigar ao máximo o caso.

Neste mesmo raciocínio, assevera Jorge Trindade:40

[...] não se pode esquecer que muitos abusos realmente acontecem e merecem especial
atenção, necessitando de uma investigação. Não obstante, o fato de imputar
falsamente a ocorrência de abuso, com o objetivo de prejudicar a imagem do outro,
por si só, merece reprimenda social, a par de também ser um forte indicativo de
alienação, em última instancia, produz um sentimento de abuso na medida em que a
criança passa a vivenciar situações antes comuns e aceitas, como abusivas.

As práticas de alienação parental e as falsas denúncias de abuso sexual merecem


especial atenção da justiça, visto que muitas vezes acabam precipitando ao que realmente pode
ocorrer e, assim, contribuir para a ruptura da convivência entre os filhos e seus genitores, que é
imprescindível para o desenvolvimento saudável da criança.

É necessário, portanto, que todos os juízes, advogados, assistentes sociais, psicólogos e


a sociedade estejam conscientes sobre a gravidade da alienação parental e do impacto que a
Síndrome da Alienação Parental pode causar na vida das famílias e assim buscar a prevenção
da sua ocorrência, evitando os diversos danos que a criança ou adolescente poderão vir a sofrer
com a privação do convívio familiar saudável.

1.5 A implantação de falsas memórias

As falsas memórias podem ser definidas como lembranças de eventos que não
ocorreram, de situações não presenciadas, de lugares jamais vistos, ou, então, de lembranças

39
GUAZZELLI, Mônica. A Falsa Denúncia de Abuso Sexual. In: DIAS, Maria Berenice. Incesto e Alienação
Parental: Realidades que a Justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.p. 47
40
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica Para Operadores do Direito. 4ª ed. verificada, atualizada e
ampliada. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.206. Disponível em
https://www.academia.edu/39250308/Manual_de_Psicologia_Jur%C3 Acesso em: 01 de abril de 2020

20
distorcidas de algum evento. São memórias de situações que nunca ocorreram ou, se ocorreram,
foram recuperadas de forma distorcida daquela vivenciada. Elizabeth Loftus41 explica que:

As FM’s podem ser elaboradas pela junção de lembranças verdadeiras e de sugestões


vindas de outras pessoas, sendo que durante este processo, a pessoa fica susceptível a
esquecer a fonte da informação ou elas se originariam quando se é interrogado de
forma evocativa

A implantação de falsas memórias provém da conduta doentia do alienador, que faz uma
verdadeira “lavagem cerebral” na criança alienada, com o objetivo de denegrir a imagem do
genitor alienado. O alienador pode utilizar a narrativa verídica do menor juntamente com fatos
que não ocorreram, introduzindo aos poucos na cabeça do menor atitudes do genitor alienado
que nunca aconteceram ou que aconteceram de modo distinto.

Esse é um recurso bastante utilizado pelos alienantes para afastar o menor do genitor
alienado. Conforme ensina Maria Berenice42, muitas vezes as falsas memórias criadas referem-
se a abusos sexuais que nunca ocorreram, sendo uma das formas mais cruéis de interferência
emocional no desenvolvimento do menor.

Devido à característica sugestionável do alienado, o genitor pode facilmente criar falsas


memórias em sua mente, através das diversas manipulações e mentiras contadas. Dessa forma,
são criadas situações conflitantes na consciência do menor, que serão exteriorizadas em seu
comportamento no dia a dia. Ainda que ele tenha uma certa dúvida sobre algo contado pelo
alienante, essa versão permeará tanto seu subconsciente que talvez a criança nunca mais consiga
ter absoluta certeza sobre as memórias reais que tem do genitor alienado.

A criação das falsas memórias, dizem Teixeira e Bentzeen, é feita constantemente, numa
rotina sistemática criada pelo genitor alienante, durante a qual ele conta histórias e
acontecimentos, levando a criança a acreditar que esses fatos são verdadeiros e realmente

41
LOFTUS, E.. As falsas lembranças. Revista Viver Mente & Cérebro, v. 2,2005. p. 90-93.
42
DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: uma nova lei para um velho problema! Instituto Brasileiro de Direito
de Família.2010. Disponível em: <http://espacovital.jusbrasil.com.br/noticias/2351780/alienacao-parental-uma-
nova-lei-para-um-velho-problema>. Acesso em 01 maio 2020

21
aconteceram. 43
Segundo Trindade, a criança “recorda” sentimentos e sensações advindas de
situações que nunca existiram, mas que ela acredita que são reais, devido à alienação.44

Conforme leciona Maria Berenice Dias45 sobre falsas memórias de abusos sexuais:

A narrativa de um episódio durante o período de visitas que possa configurar indícios


de tentativa de aproximação incestuosa é o que basta. Extrai-se deste fato, verdadeiro
ou não, denúncia de incesto. O filho é convencido da existência de um fato e levado
a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido.

Esse recurso utilizado pelo alienante é bem convincente para o distanciamento da


relação entre os filhos e o genitor alienado, pois, mesmo que o abuso não seja comprovado, o
juiz não tem outra alternativa a não ser suspender as visitas ao genitor acusado (alienado), tendo
em vista a existência de uma acusação de incesto. Até que seja comprovado na investigação
que a denúncia foi falsa, o afastamento entre ambos já se intensificou, agravando ainda mais a
Síndrome da Alienação Parental.46

De um lado, há a obrigação de tomar uma atitude imediata e, de outro, a preocupação


da denúncia ser falsa e gerar uma situação constrangedora e traumatizante para o menor
envolvido, o afastando da convivência com o genitor que pode não lhe ter feito mal algum.
Porém, o Juiz tem o dever de assegurar a proteção integral à criança ou adolescente, podendo
suspender as visitas ou reverter a guarda, determinando também a realização de estudos
psicológicos e sociais. Esses procedimentos são demorados e cessam a convivência do pai com
o filho.47

Por mais que o Judiciário esteja preparado para receber casos assim, os operadores do
Direito terão dificuldade em tomar qualquer decisão diante do depoimento de um menor que
pode estar acometido pela Síndrome da Alienação Parental e da possível inocência do genitor
alienado.48

43
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; BENTZEEN, Ana Luiza Capanema Bahia Von. Síndrome da Alienação
Parental. In: ZIMERMAN, David; COLTRO, Antônio Carlos Mathias (org.) Aspectos Psicológicos na Prática
Júridica. 3ª Edição. Campinas, SP: Editora Milennium, 2005. p.415.
44
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. Quinta Edição. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2011. p. 191.
45
DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental: o que é isso? Instituto Brasileiro de Direito de Família.
2008. Disponível em <http://www.apase.org.br/94009-comparacao.htm> Acesso em 01 junho 2020
46
Ibid.
47
BERENICE Dias, Maria. Incesto e Alienação parental. Editora Revista dos Tribunais. 2010. p 97.
48
Ibid. p.102.

22
A análise desses casos é bastante complicada, pois casos de abuso sexual de menores
por parte de familiares infelizmente são muito comuns na sociedade. Para auxiliar na
diferenciação de casos verídicos dos provenientes de falsas memórias implantadas pelo genitor
alienante, Jorge Manuel Aguilar desenvolveu o seguinte quadro:49

Figura 1 – Comparação entre abuso sexual e síndrome de alienação parental

Fonte: Jose Manuel Aguilar. Comparação dos sintomas de alienação parental com os sintomas de abuso sexual.

49
AGUILAR, José Manoel. Comparação dos sintomas de alienação parental com os sintomas de abuso sexual.
2012. Disponível em: < <http://www.apase.org. br/940 09-com paracao.htm> Acesso em: 10/04/2020

23
Esse quadro expõe as principais diferenças entre uma criança que sofreu abuso sexual e
uma criança vítima de alienação parental. Porém, esse quadro é apenas exemplificativo, não
esgotando todas os comportamentos e situações decorrentes de abuso sexual ou alienação
parental. Assim, essa é apenas uma ferramenta que auxilia a identificação dos verdadeiros casos
de incesto, excluindo aqueles provenientes da Síndrome da Alienação Parental. As
peculiaridades de cada caso devem ser analisadas e avaliadas individualmente, pois a
generalização pode ser muito prejudicial.

A investigação das denúncias de incesto podem ser demoradas e a perícia pode ser
inconclusiva, o que torna a decisão ainda mais complicada e tensa para o julgador, que precisa
decidir se realmente houve abuso sexual e, portanto, o convívio da criança com o genitor
afastado deve ser realmente interrompido, ou se a criança está acometida pela Síndrome da
Alienação Parental, sendo necessária a reconstituição do laço afetivo com o genitor alienado,
que nesse caso foi vítima de uma falsa memória.50

Diante das diversas formas de manipulação emocional utilizadas com a finalidade de


afastar o menor do genitor alienado, é preciso ter consciência de que a saúde emocional e o
sadio desenvolvimento do menor estão em risco. Dessa forma, a prática de alienação parental
pode evoluir rapidamente para um quadro de Síndrome da Alienação Parental, sendo
imprescindível que a intervenção ocorra o quanto antes, analisando as medidas judiciais
cabíveis para cessar a alienação e tratar os efeitos causados por ela.

50
PELAJA JÚNIOR, Antônio Veloso. Síndrome da Alienação Parental. Aspectos materiais e processuais. Jus
Navegandi. 12/2010. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/18089/sindrome-da-alienacao-parental> Acesso
em 10 abril 2020.

24
2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI Nº 12.318/2010

Em 2008 foi apresentado ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 4.053/2008, de


autoria do Deputado Regis de Oliveira, do Partido Social Cristão (PSC), que trata sobre a
alienação parental. Este projeto tramitou na Comissão de Seguridade Social e Família e teve
parecer favorável, e posteriormente aprovado no Senado após o substitutivo da deputada Maria
do Rosário, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. O projeto seguiu então para
aprovação do ex Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, sendo sancionada em
agosto de 2010 a agora Lei nº12.318/2010, Lei da Alienação Parental.

De acordo com a previsão legal, a investigação da prática de alienação poderá ocorrer


em ação autônoma ou incidental e terá prioridade na tramitação.

Através desta lei, finalmente foi reconhecida a prática da alienação parental, a fim de
garantir a proteção jurídica ao menor manipulado e ao genitor alienado. Também consolidou o
instituto da guarda compartilhada como a melhor forma de dirimir conflitos familiares, além de
garantir aos filhos conviver de forma equivalente tanto com família da mãe como também com
a família do pais.

Esse tema começou a adquirir força e despertar a atenção da comunidade há pouco


tempo. Portanto, essa lei veio disciplinar o que a doutrina e a jurisprudência já entendiam por
Síndrome da Alienação Parental.

No texto legal a terminologia “síndrome” não é usada, mas sim o termo “ato”, com o
objetivo de não tratar a alienação parental como uma patologia, ideia que contraria a teoria de
Gardner, a qual serviu de principal inspiração para a lei. Para Perez, prevalece o seguinte
entendimento:

A lei não trata do processo de alienação Parental necessariamente como patologia,


mas como sendo uma conduta que merece intervenção judicial, sem cristalizar única
solução para o controvertido debate acerca de sua natureza.51

Expressões que compreendem a interpretação de alienação parental na lei são “ato


ilícito” e “ato de litígio”. Esses termos podem não ser usados por todos os magistrados, mas se

51
PEREZ, Elizio Luiz. Alienação Parenta, Boletim IBDFAM, Belo Horizonte, ano 9, n. 54, 2009. p.3-4.
Disponível em: <http://instproteger.blogspot.com/2013/05/quando-maoque-afaga-e-mesma-que.html> Acesso
em: 18 abril 2020.

25
fazem presentes no dispositivo legal e a maior parte dos julgados relacionam o seu discurso de
aplicação, como demostrado a seguir:

Pelos termos da lei a gente entende a conduta como uma conduta ilícita. A pessoa
pratica um ilícito, ou seja, ela se vale da mentira, tal como um estelionatário faz. Pode-
se comparar a AP com um estelionato. Eu acho que isso é perverso, sabe? Tem a
questão da maçã podre. Se você colocar ali no cesto, contamina todo mundo.52

A criação da lei tem como objetivo dar visibilidade ao tema e tornar sua compreensão
mais fácil, em atenção especial aos casos de dissolução matrimonial onde o filho fica sob a
guarda de um dos pais e, por estar vulnerável, acaba tornando-se vítima da conduta. O
comportamento do genitor alienante possui uma influência extrema sobre o menor, a ponto de
colocar a segurança de seu próprio filho em risco, pela egoísta pretensão de se vingar do genitor
alienado.

2.1. Caracterização de alienação parental

De acordo com o artigo 2º da Lei de Alienação Parental:53

Art. 2º- Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica


da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós
ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou
vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este. Brasil.

Verifica-se no dispositivo que a interferência não é exclusiva de um dos pais, mas de


toda e qualquer pessoa que possua um vínculo de responsabilidade sobre o menor e que possa
de certa forma criar o mecanismo de alienação que quebra o vínculo familiar entre a prole e o
genitor.

O referido dispositivo54 também traz um rol exemplificativo das diversas formas de


alienação, vejamos:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos
assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com
auxílio de terceiros:

52
MONTEZUMA e col. Abordagens da alienação parental: proteção e/ou violência?, 2017. P. 6 Disponível em:
< https://www.scielo.br/pdf/physis/v27n4/0103-7331-physis-27-04-01205.pdf > Acesso em: 26 de maio de 2020
53
BRASIL. Lei nº 12.318. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>.
Acesso em: 26 maio 2020
54
Ibid.

26
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança
ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,
para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou
com avós Brasil.

Esse rol é considerado exemplificativo, pois, além desses exemplos citados, com o
passar do tempo podem ser caracterizadas novas formas de alienação, seja pelo juiz responsável
pelo caso ou por algum perito ou psicólogo que atue no processo para ajudar na constatação da
alienação parental.

No momento em que os casos que envolvam alienação parental chegam ao Judiciário,


são realizados estudos multidisciplinares, provas periciais, participação de psicólogos,
assistente sociais e psiquiatras para que seja possível a identificação da conduta, garantindo
sempre a proteção do princípio do melhor interesse do menor, que não pode ser privado da
convivência com qualquer dos genitores.

O disposto no artigo 3º da Lei 12.318/201055 expõe o quanto a alienação parental pode


ser prejudicial para a criança. Vejamos:

Art. 3º A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou


do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas
relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança
ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou
decorrentes de tutela ou guarda. (g.n.) Brasil.

Dessa forma, a tomada de decisões em processos que envolvam alienação devem ser
muito bem analisados por todos os profissionais envolvidos, pois os fatos imputados ao genitor
alienado podem não ser verídicos, devido à manipulação de informações pelo alienador e a
consequente criação de falsas memórias pela criança alienada.

55
BRASIL. Lei nº 12.318. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>.
Acesso em: 10/05/2020

27
Por fim, é imprescindível que se avalie a situação concreta para que o menor não seja
prejudicado, pois privá-lo do convívio com um de seus genitores e, assim, romper o laço
familiar pode causar sérias consequências psicológicas na vítima por toda sua vida.

2.2.Do indício de Alienação e medidas cabíveis

O artigo 4º da Lei 12.318/2010 prevê que o magistrado, de ofício ou a requerimento do


representante do Ministério Público ou das partes, ao identificar a possível prática de alienação
parental, não só deve conferir tramitação prioritária ao processo, mas também promover todas
as medidas assecuratórias dos direitos do menor e em defesa do genitor alienado.

Observa-se neste artigo que, mesmo antes de qualquer prova técnica, constatada a
suspeita de alienação parental, com muita cautela, poderá determinar medidas provisórias que
visem a preservação da integridade psicológica da criança ou adolescente.

Nesse sentido, o parágrafo único do referido artigo dispõe que o juiz deve buscar
assegurar a convivência do menor com o genitor, ou incentivar a sua reaproximação. Para isso,
o magistrado pode utilizar-se do recurso da visitação assistida com o acompanhamento de um
profissional, desde que não haja risco à integridade física e psicológica do menor.

Quando constatada a presença de alienação parental, o juiz deverá determinar as


medidas cabíveis no sentido de extinguir ou pelo menos amenizar os efeitos já produzidos, bem
como evitar a continuidade dessa prática, conforme disposto no artigo 6º da Lei 12.318/2010:56

Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que


dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso.

O referido artigo traz um rol exemplificativo57 de sanções que buscam amenizar os


efeitos causados pela alienação, visando sempre resguardar a integridade física e psicológica
do menor, prevenindo e protegendo sua integridade, quais sejam:

56
BRASIL. Lei nº 12.318. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>.
Acesso em: 15/05/2020
57
BRASIL. Lei nº 12.318. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>.
Acesso em: 15/05/2020

28
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Dependendo da gravidade do caso em questão, o juiz decidirá quais as medidas cabíveis


necessárias para cessar a alienação e evitar a progressão do quadro da Síndrome da Alienação
Parental. Explica, ainda, Myriam Pavan58 que, as sanções previstas nos referidos incisos podem
ser cumuladas com a responsabilização civil ou criminal ao alienador.

A advertência foi inserida na lei pois “o mero reconhecimento da alienação parental pelo
judiciário, em muitos casos, é suficiente para interromper a prática, algo formidável sob o ponto
de vista da prevenção e da educação”. 59
O reestabelecimento da convivência familiar com o
genitor alienado é outra medida indispensável que deve ser cumulada com a advertência,
conforme disposto no inciso II do artigo mencionado. O reestabelecimento dos laços familiares
deve ser prioridade, pois quanto mais tempo o menor passar afastado dele, mais aumentam as
chances do distanciamento emocional tornar-se irreversível.60

A multa é mais uma das sanções previstas pela lei, devendo ser utilizada como medida
coercitiva ao alienador, para que ele fique com receio de sofrer uma punição severa,
convencendo-o a desistir de cometer a alienação.61

A constatação da ocorrência de alienação parental está sujeita à análise do conjunto de


reações e manifestações psicológicas dos indivíduos envolvidos. Além disso, em um cenário
em que não se sabe se as denúncias são verdadeiras ou falsas, torna-se difícil avaliar a
necessidade da reaproximação ou do afastamento da criança e do alienante, o que torna os casos
que envolvem alienação ainda mais complexos.

58
PAVAN, Myrian. Nova lei não tipifica alienação parental como crime. AMASEP – Associação de Assistência
às Crianças, Adolescentes e Pais Separados. 2011. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2011-jun-
14/artigo-lei-nao-preve-condenacao-penal-acusado-alienacao-parental> Acesso em 21 abril 2020.
59
NADU, Amílcar. Lei 12318: Lei da Alienação Parental e comentários e Quadros comparativos entre o texto
primitivo do PL, os substitutivos e a redação final da Lei 12.318/10. Blog Direito Integral. Disponível em: <
https://www.direitointegral.com/2010/09/lei-12318-2010-alienacao-parental.html>. Acesso em 21 abril 2020
60
Ibid.
61
HUGO, Pamela Silveira; PIRES, Daniela de Oliveira; COELHO, Elizabete Rodrigues. Síndrome da Alienação
Parental: impactos no âmbito judicial e psicológico. In: Temas Críticos em Direito. Volume 1. Guaíba,RS: Editora
Sob Medida, 2011. P. 191

29
Sendo assim, o inciso IV do referido artigo prevê o “acompanhamento psicológico e/ou
biopsicossocial”. Na análise do caso concreto, o juiz pode designar profissional para realizar
entrevistas pessoais com as partes, analisando o histórico do relacionamento do casal, a forma
como se deu a separação e avaliando a personalidade dos envolvidos, inclusive do filho. Essa
perícia técnica irá subsidiar a decisão judicial, indicando as melhores alternativas de
intervenção no caso concreto, a fim de buscar uma solução que preserve o bem estar dos
envolvidos. Assim esclarece Eveline de Castro Correia:62

Baseado no direito fundamental de convivência da criança ou do adolescente, o Poder


Judiciário não só deverá conhecer esse fenômeno, como declará-lo e interferir na
relação de abuso moral entre alienador e alienado. A grande questão seria o
acompanhamento do caso por uma equipe multidisciplinar, pois todos sabem que nas
relações que envolvem afeto, uma simples medida de sanção em algumas vezes não
resolve o cerne da questão.

Nos casos em que a alienação parental é mais severa, caberá a aplicação das medidas
previstas nos incisos V, VI e VII e no parágrafo único. Esses dispositivos apresentam meios
mais enérgicos para cessar as atividades e manipulações causam o afastamento entre o genitor
alienado e o menor.

De acordo com Hugo, Pires e Coelho, o inciso V dá efetividade à guarda compartilhada,


tendendo a desestimular a prática de alienação por parte do genitor alienador, pois o a
aproximação entre o alienado e o filho é reestabelecida.63 O instituto da guarda compartilhada
está disposto nos artigos 1.583 e 1.584 no atual Código Civil. Conforme explica Ana Maria
Frota Velly, “Guarda compartilhada é a igualdade de direitos e deveres que os pais têm em
relação aos seus filhos menores, direito de conviver e o dever de proteger”.64

O inciso VI dispõe sobre a fixação cautelar do domicílio da criança ou do adolescente,


segundo Hugo, Pires e Coelho65, para evitar mudanças repentinas de endereço a fim de afastar

62
CORREIA, Eveline de Castro. Análise dos Meios Punitivos da Nova Lei de Alienação Parental. Instituto
Brasileiro de Direito de Família. 2011. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=713>. Acesso
em 30 abril 2020.
63
HUGO, Pamela Silveira; PIRES, Daniela de Oliveira; COELHO, Elizabete Rodrigues. Síndrome da Alienação
Parental: impactos no âmbito judicial e psicológico. Temas Críticos em Direito. Volume 1. Editora Sob Medida.
2011. p. 192.
64
VELLY, Ana Maria Frota. Guarda Compartilhada: uma nova realidade para pais e filhos. 2011. Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/_img/artigos/Artigo%20Guarda%20Compartilhada%2029_06_2011.pdf>. Acesso em
30 abril 2020.
65
HUGO, Pamela Silveira; PIRES, Daniela de Oliveira; COELHO, Elizabete Rodrigues. Síndrome da Alienação
Parental: impactos no âmbito judicial e psicológico. In: Temas Críticos em Direito. Volume 1. Guaíba, RS: Editora
Sob Medida, 2011, p. 192.

30
o menor do genitor alienado. Já o inciso VII trata sobre a suspensão da autoridade parental,
também prevista no artigo 1.637 do Código Civil, que representa a consequência mais severa
para o alienador. Essa medida pode ser usada caso haja o abuso da autoridade familiar por parte
dos genitores em relação aos filhos, ou caso eles não estejam cumprindo os fins a que tal
autoridade se destina, prejudicando o pleno desenvolvimento do menor através da prática da
alienação.66

Por fim, o parágrafo único do artigo 6º da Lei 12.318 refere-se às mudanças abusivas de
residência, a fim de inviabilizar ou dificultar o convívio familiar do menor com o genitor
alienado. Nessas situações, o juiz poderá “inverter a obrigação de levar ou retirar a criança ou
o adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência
familiar.”67

O autor Elizio Luiz Perez considera que a intervenção externa serve para
instrumentalizar o genitor alvo, contribuindo para que assuma nova posição na relação parental,
já que sozinho, muitas vezes, ele é incapaz de reverter o processo de alienação.

A Lei 12.318/2010 não tipificou como crime o ato de alienação parental. No dizer de
Elizio Luiz Perez:68

Prevaleceu a tese que atribui ênfase ao caráter educativo, preventivo e de proteção da


norma, com a restrição da parte penal”.13 Isso também se deu em razão da
necessidade, muitas vezes, do exame subjetivo da conduta de alienação, o que não se
coaduna com a forma como deve ser apurado um ilícito penal, diga-se, com
objetividade.

Assim, a inserção da Lei 12.318/10 no ordenamento jurídico representou grande avanço


na regulação das relações familiares, contribuindo para inibir práticas que prejudiquem o bem
estar no âmbito familiar através da alienação parental.

2.3.Punição ao descumprimento de medidas protetivas

A desqualificação e a manipulação psicológica de crianças e adolescentes por seus


genitores sempre ocorreram, mesmo enquanto estes ainda formavam um casal. Por muitos anos,

66
COMEL, Denise Damo. Do Poder Familiar. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, 2003. p. 264- 5.
67
BRASIL. Lei 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre alienação parental e altera o art. 236 da Lei nº
8.069, de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em 30 abril 2020.
68
PEREZ, Elizio Luiz. Alienação Parental. Belo Horizonte: Boletim IBDFAM, ano 9, n. 54. 2009. Disponível em:
<http://instproteger.blogspot.com/2013/05/quando-maoque-afaga-e-mesma-que.html> Acesso em: 19 abril 2020

31
comportamentos abusivos do genitor que visava afastar o menor do convívio da outra parte
ocorreu sem que houvesse o reconhecimento dessa prática como alienação parental ou qualquer
tipo de punição ou intervenção pelo Poder Judiciário.

Porém, com a instituição da guarda compartilhada pelos artigos 1.583 e 1.584 do Código
Civil e a criação da Lei 12.318/10, que dispõe sobre a alienação parental, foi estabelecido um
regime de convivência entre a criança e seus genitores no qual há a participação de ambos na
sua criação e educação, visando proteger o sadio desenvolvimento do menor.

Na guarda compartilhada, o regime de convivência é fixado com o objetivo de garantir


a ambos os genitores a companhia do menor, evitando que este submeta-se apenas ao poder
decisório de um dos pais. Porém, a estipulação de datas alternadas para que a criança vá sempre
para a casa do outro genitor em determinado dia não é suficiente para assegurar o pleno convívio
familiar. Dessa forma, os genitores têm direito de estar em companhia de seu filho em ocasiões
especiais que justifiquem o descumprimento do regime estabelecido judicialmente. Importante
salientar que esse descumprimento deve ser justificável, ou seja, se o menor tiver que ir para a
casa do pai no dia do aniversário da mãe, por exemplo, ela terá o direito de estar na presença
de seu filho, independentemente de prévia autorização ou da vontade do pai.

Mesmo diante do fato de que o descumprimento do regime de convivência estabelecido


na guarda compartilhada e a alienação parental são práticas muito comuns, a Lei 12.318/10 não
estabelece nenhuma sanção a quem as comete. As medidas estabelecidas pela referida lei visam
proteger o menor para que seu desenvolvimento saudável e completo não seja comprometido.

Diante disso, a Lei 13.431/17, que instituiu um sistema de garantia de direito da criança
e do adolescente, reconheceu no artigo 4º, inciso II, b, que a prática de alienação parental é uma
forma de violência psicológica. Assim, o menor alienado, por meio de seu representante legal,
tem o direito de pleitear medidas protetivas contra o genitor alienante. 69

O ECA, por sua vez, dispõe no artigo 98 que as medidas de proteção aos menores visam
resguardar os direitos reconhecidos por esse estatuto, podendo ser aplicadas para protegê-los
sempre que estiverem ameaçados ou quando forem violados. Essa proteção se estende inclusive

69
BRASIL. Lei 13.431, de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente). Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13431.htm>. Acesso em 09 de junho de 2020.

32
à autoridade parental ou ao responsável legal pelo menor, conforme estabelecido no inciso II
do referido artigo, quando estes prejudicarem os direitos da criança ou adolescente por falta,
omissão ou abuso.70

Verificadas as hipóteses de maus-tratos, opressão ou abuso sexual, a autoridade


judiciária pode determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da
moradia comum, além da fixação provisória de alimentos de que necessitem a criança
ou o adolescente dependentes do agressor (ECA, art. 130 e parágrafo único).71

Além de determinar o afastamento do agressor, o juiz pode aplicar as medidas previstas


nos incisos do artigo 22 da Lei Maria da Penha72 sempre que a segurança da vítima estiver em
risco. Dessa forma, o legislador estendeu a proteção dada às mulheres em situação de violência
doméstica às crianças e adolescentes que sofrem alienação parental.

Para assegurar a eficácia das medidas protetivas, o artigo 20 da Lei Maria da Penha73
estabelece que a prisão preventiva do agressor pode ser decretada de ofício, a requerimento do
Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial, ficando sujeito também à
instauração de processo criminal, conforme prevê a Lei 13.641/18, que estabelece pena de
detenção de 03 meses a dois anos ao infrator.

Portanto, a Lei 13.641/18 trouxe uma nova sanção ao genitor alienador nos casos de
alienação parental. Além das medidas protetivas já elencadas pela Lei 12.318/10, agora é
possível penalizar aqueles que as descumprem, com o objetivo de proteger os direitos do menor
e garantir seu sadio desenvolvimento.

70
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 09 de junho de
2020.
71 DIAS, Maria Berenice. Agora alienação parental dá cadeia! 2018. Disponível em <
https://www.migalhas.com.br/depeso/277944/agora-alienacao-parental-da-cadeia>. Acesso em 09 de junho de
2020.
72 BRASIL. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>.
Acesso em 09 de junho de 2020.
73 Ibid.

33
2.4.Debates sobre a revogação da Lei 12.318/2010

O Projeto de Lei 6.371/19, que revoga a Lei 12.318/10, foi apresentado pela deputada
Iracema Portella (PP-PI), pois há uma grande discussão entre os membros da comunidade
jurídica e científica74 em torno do fato de que esse dispositivo pode acabar gerando
impunidade ao genitor que cometeu abuso sexual contra seu filho, bem como prejudicar a
outra parte que denunciou os abusos.
Iracema Portela explica que essa lei está sendo usada como uma estratégia de defesa de
abusadores, em geral pais, pois o abuso sexual é um crime que muitas vezes não deixa provas,
visto que os abusos em crianças e adolescentes normalmente ocorrem através do toque em
partes íntimas e do sexo oral. Esse fato pode servir de argumento para o criminoso negar a
prática de tais atos e acusar o outro genitor de praticar a alienação parental e, em decorrência
disso, mentir para criar falsas memórias.

“Nem sempre, mediante perícia e outros meios, consegue-se extrair a prova necessária
do abuso praticado. O denunciante passa, via de regra, a ser considerado alienante à
vista de ter apresentado denúncia não comprovada contra o genitor abusador (tida
como falsa para obstar ou dificultar a convivência dele com a criança ou adolescente)
e este consegue a manutenção da convivência com o filho menor, passando, por vezes,
a repetir com o menor os mesmos abusos já praticados”.75

A preocupação da comunidade jurídica é que tal situação desestimula as denúncias de


abuso sexual familiar, pois a mãe tem medo de perder a guarda do filho caso não consiga provar
suas alegações. Assim, a Lei 12.318/10 estaria propiciando o esvaziamento do propósito
protetivo da criança ou adolescente, submetendo-os à convivência com seus abusadores.76

Os que defendem a revogação da lei alegam que esse dispositivo se transformou em


uma forma para que os abusadores exijam a manutenção da convivência com o menor, muitas
vezes pleiteando a guarda para si, privando-o de estar na presença do outro genitor.77

74
XAVIER, Luiz Gustavo. Projeto revoga a Lei de Alienação Parental. Agência Câmara de Notícias. 2020.
Disponível em <https://www.camara.leg.br/noticias/631131-projeto-revoga-a-lei-de-alienacao-parental/>.
Acesso em 10 de junho de 2020.
75 Ibid.
76 SENADO. Comissão debate revogação da Lei da Alienação Parental. Agência Senado. 2019. Disponível em
< https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/06/21/comissao-debate-revogacao-da-lei-da-alienacao-
parental#:~:text=A%20revoga%C3%A7%C3%A3o%20da%20Lei%2012.318,da%20norma%2C%20explica%2
0a%20relatora.&text=Foram%20convidados%20para%20o%20debate,do%20Movimento%20Pr%C3%B3Vida
%2C%20Fel%C3%ADcio%20Alonso>. Acesso em 10 de junho de 2020.
77
XAVIER, op. cit.

34
Atualmente, o projeto de lei 6.371/19 está em conclusão para ser analisado pelas
comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

O Projeto de Lei do Senado 498/18, que também prevê a revogação da Lei de Alienação
Parental, de autoria do ex-senador Magno Malta, em decorrência da CPI dos Maus-Tratos,
criada em 2017. Em fevereiro deste ano, a senadora Leila Barros apresentou um relatório que
prevê a alteração da lei, e não sua revogação, durante uma audiência pública na Comissão de
Direitos Humanos.

A senadora elucida a importância da referida lei na proteção das crianças e adolescentes


vítimas de alienação parental, reforçando que sua revogação seria prejudicial para eles. Em
emenda substitutiva, requer a adoção de critérios mais rigorosos durante a investigação das
denúncias de abuso sexual, evitando assim o afastamento do genitor vítima de falsas memórias
em decorrência da alienação parental e também a concessão da guarda para abusadores reais.

O relatório, que ainda deve ser votado pela CDH, pela Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) e depois no Plenário do Senado, defende as seguintes questões: o bem
estar das crianças, a segurança para que genitores possam denunciar suspeitas de
abuso sem serem punidos e o envolvimento de juízes na fases iniciais do processo. A
senadora previu punição para o uso malicioso da Lei de Alienação Parental com
objetivo de praticar crimes contra a criança ou o adolescente, como abuso sexual:
multa e pena de reclusão de dois a oito anos, somados à pena pelo crime cometido.78

Muitos juristas e psicanalistas apontam que a melhor forma de lidar com a


interpretação equivocada e a má aplicação da lei é através do aperfeiçoamento dela e dos
profissionais envolvidos, e não com a sua revogação.

"Existem falhas no sistema judiciário, principalmente em relação à realização das


perícias judiciais. Para fazer perícia com a criança há poucos profissionais, alguns
desmotivados pelo excesso de trabalho. De fato, nosso corpo técnico pode ter
melhorias, que são sempre bem vindas. A lei foi um avanço no Direito de Família por
reconhecer a responsabilidade psicológica dos pais em relação às crianças. Muitos
possíveis alineadores mudam seus comportamentos por saber que existe a Lei e
receberem devida orientação sobre os efeitos de seu comportamento. Não dá para
culpar a LAP pelo comportamento de algumas pessoas mal intencionadas. É comum
em casos de guarda que os pais levem os problemas conjugais para a relação parental
e acabem agindo dessa forma."79

78
RICCA, Renata Tavares Garcia. Revogação da lei de alienação parental é tema de discussão em Direito de
Família. 2020. Disponível em <https://ambitojuridico.com.br/noticias/revogacao-da-lei-de-alienacao-parental-e-
tema-de-discussao-em-direito-de-familia/>. Acesso em 11 de junho de 2020.
79
MARZAGÃO, Silvia Felipe. Lei de alienação parental, que tem menos de dez anos, corre risco de revogação.
2019. Disponível em <https://www.migalhas.com.br/quentes/309251/lei-de-alienacao-parental-que-tem-menos-
de-dez-anos-corre-risco-de-revogacao>. Acesso em 11 de junho de 2020.

35
Diante dos argumentos apresentados, pode-se concluir que todas as questões que
envolvem denúncias de abuso sexual e alienação parental devem ser levadas em conta para
garantir a máxima proteção às crianças e adolescentes, sem que haja o risco que mantê-los sob
a guarda de seu abusador ou seu alienador. Juristas, psicólogos e toda equipe multidisciplinar
envolvida devem ser cada vez mais capacitados para lidar com esses casos em especial.

36
3. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E PRINCÍPIOS VIOLADOS

A Constituição Federal dispõe no artigo 1º, inciso III, o princípio da dignidade da pessoa
humana, o qual serve de alicerce para toda as relações existentes na sociedade, o qual garante à
todos os indivíduos a preservação da sua “integridade física e psíquica”, sua autonomia e seu
direito de decisão, sendo inerente ao mesmo só pelo fato de ser pessoa.80

Além disso, a Síndrome da Alienação Parental também está relacionada com o princípio
constitucional do melhor interesse da criança e do adolescente, os quais são considerados seres
em desenvolvimento, ou seja, que ainda não têm a capacidade necessária para responder por si
mesmos, mas ainda assim detêm a condição de “pessoa” como qualquer outro ser humano.
Sendo assim, o respeito de seus interesses e da sua dignidade em todas as relações que permeiam
sua vida serve como garantia para seu pleno desenvolvimento físico e emocional.81 Este
princípio está disposto nos artigos 226 § 8º e 227, caput da Constituição Federal, os quais
norteiam também os direitos da criança e do adolescente dentro do Direito de Família,
garantindo-lhes seu pleno desenvolvimento e os meios para que isso seja alcançado.

O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente foi consolidado com a


aprovação da Convenção Internacional dos Direitos da Criança em 1989, a qual elucida as
garantias fundamentais e indispensáveis que devem a sociedade deve fornecer às suas
crianças.82 Os países que ratificaram essa convenção83 comprometeram-se a zelar pelo bem-
estar das crianças:

Art.3 - Convenção Internacional dos Direitos da Criança


1 – Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou
privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos
legislativos, devem considerar, primordialmente, o melhor interesse da criança.
2 – Os Estados Partes comprometem-se a assegurar à criança a proteção e o cuidado
que sejam necessários ao seu bem-estar, levando em consideração os direitos e
deveres de seus pais, tutores ou outras pessoas responsáveis por ela perante a lei e,

80
NUNES, Rizzatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: doutrina e jurisprudência. São
Paulo: Saraiva, 2007. p.49-52.
81
MARQUES, Jacqueline Bittencourt. A absoluta prioridade da criança e do adolescente sob a ótica do princípio
da dignidade da pessoa humana. Jus Navegandi. 2011. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/18861/a-
absoluta-prioridade-da-crianca-e-do-adolescente-sob-a-otica-do-principio-da-dignidade-da-pessoa-humana>.
Acesso em 30 maio 2020.
82
PEREIRA, Tânia da Silva. O Princípio do Melhor Interesse da Criança - da Teoria à Prática. 2008. P. 1.
Disponível em: <http://www.gontijo-
familia.adv.br/2008/artigos_pdf/Tania_da_Silva_Pereira/MelhorInteresse.pdf>. Acesso em: 20 de abril de 2020
83
BRASIL, Unicef. Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente. Assinada pela Assembleia Geral
das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989. Parte I. Disponível em: <
https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca>. Acesso em 20 de abril 2020.

37
com essa finalidade, tomarão todas as medidas legislativas e administrativas
adequadas.

Para garantir a aplicação do Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente


e ampliar os efeitos da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, em 1990 foi criado o
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90). O estatuto destaca a condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento e sua titularidade de direitos fundamentais, devendo ser protegida
integral e incondicionalmente.

O principal objetivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é garantir os


direitos do menor, atendendo ao disposto no artigo 227 da Constituição Federal,84 que foi
modificado pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010:

Art. 227.É dever da família, da sociedade, e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O ECA define, em seu artigo 2°, que criança é a pessoa de até 12 anos de idade
incompletos e adolescente é a pessoa entre 12 e 18 anos de idade. As garantias estabelecidas
por este estatuto ampliam o cumprimento do princípio constitucional do melhor interesse do
menor, buscando sempre protegê-lo e assegurar seu desenvolvimento saudável.

Conforme disposto no artigo 4º, caput, do ECA,85 cabe destacar o princípio da prioridade
absoluta:

Art. 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Ademais, o princípio da proteção integral da criança e do adolescente está previsto no


artigo 1° do ECA e no artigo 6° da Constituição Federal, determinando a proteção da infância
como direito social, devendo ser garantida pela família, pela sociedade e pelo Estado.

Em relação à Declaração Universal dos Direitos da Criança, tratado internacional


ratificado pelo Brasil, podemos destacar a garantia de que toda criança gozará de proteção social

84
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Acesso em 21 abril 2020.
85
BRASIL. Lei nº 8.069, de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em 01 maio 2020

38
e lhe devem ser proporcionadas oportunidades e facilidades a fim de lhe facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal e em
condições de liberdade e dignidade. Para tanto, o tratado dispõe que na instituição das leis
visando este objetivo levar-se-ão em conta sobretudo, os melhores interesses da criança.

A Declaração Universal dos Direitos da Criança reconhece a necessidade


biopsicossocial da pessoa em desenvolvimento em contar com um ambiente de afeto e
segurança moral e material, o que compete primordialmente aos genitores conceder a sua prole.
Conforme dispõe o princípio 6 do tratado:86

Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança


precisa de amor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob
a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de
segurança moral e material, salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade
não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades públicas caberá a obrigação
de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e àquelas que carecem de
meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra
natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias numerosas.

O direito fundamental de possuir uma convivência familiar saudável ultrapassa a mera


convivência em uma família estruturada e presente, pois a criança ou adolescente também tem
direito de formar um laço afetivo com seus responsáveis e familiares, receber e dar amor.
Aquele que prejudica injustificadamente a manutenção desse laço familiar, limitando o
convívio da criança com determinados familiares poderá enquadrar-se na prática de alienação
parental.

Em seu livro “Direitos fundamentais da criança na violência intrafamiliar”, Elisabeth


Schreiber87 preleciona o seguinte entendimento:

Os maus tratos emocionais são divididos em abuso psicológico, consistente na


constante exposição da criança e do adolescente e a situações de humilhação e
constrangimento, advindas de agressões verbais, ameaças, cobranças e punições, que
conduzem a vítima a sentimentos de rejeição e desvalia, além de impedi-las de
estabelecer com os adultos uma relação de confiança, ao passo que o abuso emocional
ocorre quando os adultos são incapazes de proporcionar carinho, estimulo, apoio e
proteção para a criança e o adolescente em seus diferentes estágios de
desenvolvimento, inibindo seu bom funcionamento.

86
Declaração Universal dos Direitos da Criança. Adotada pela Assembléia das Nações Unidas de 20 de novembro
de 1959 e ratificada pelo Brasil. Disponível em < http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-1069.html>. Acesso em
01 maio 2020.
87
SCHREIBER, Elisabeth. Os direitos fundamentais da criança na violência intrafamiliar. Porto Alegre: Ricardo
Lenz, 2011. P. 94

39
Os fragmentos dessa manipulação psicológica e desse egoísmo do alienante com a sua
prole de fato vai ficar marcado na personalidade da criança e adolescente que sofreu a alienação,
mesmo que indiretamente, conforme expõe Paulo Lépore88 sobre a importância de uma
convivência saudável no seio familiar:

O direito à convivência familiar tem fundamento na necessidade de proteção a


crianças e adolescentes como pessoas em desenvolvimento, e que imprescidem de
valores éticos, morais e cívicos, para complementarem a sua jornada em busca da vida
adulta. Os laços familiares têm o condão de manter crianças e adolescentes amparados
emocionalmente, para que possam livre e felizmente trilhar o caminho da estruturação
de sua personalidade.

Portanto, aquele que prejudica propositalmente a formação do laço afetivo nas relações
familiares incorrerá na prática de abuso moral contra a criança ou o adolescente. Além disso,
essa prática viola diversos princípios garantidos tanto na Constituição Federal como por
tratados internacionais ratificados pelo Brasil, descumprindo assim os deveres imputados
àqueles que possuem a autoridade parental ou decorrentes do exercício de guarda ou tutela,
sejam os próprios genitores ou seus familiares.

88
LEPORE, Paulo Eduardo, ROSSATO, Luciano, Alves. Alienacao-parental-qual-o-limite-de-interferencia-dos-
pais-sobre-a-formacao-psicologica-de-seus-filho 2011. Disponível em
https://paulolepore.jusbrasil.com.br/artigos/121816325/alienacao-parental-qual-o-limite-de-interferencia-dos-
pais-sobre-a-formacao-psicologica-de-seus-filhos?ref=serp. Acesso em 28/05/2020

40
4. GUARDA COMPARTILHADA

A guarda compartilhada surgiu para atender ao princípio do melhor interesse da criança


e do adolescente, estando disposta nos artigos 1.583 e 1.584 do Código Civil. Compreende-se
por guarda compartilhada “a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do
pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos
comuns”.89

Através da guarda compartilhada, o convívio familiar simultâneo entre pais separados e


seus filhos é permitido, sendo igualmente responsáveis pelo menor. Através desse instituto são
assegurados os vínculos afetivos entre pais e filhos, já que ambos estarão presente durante seu
desenvolvimento, atendendo, assim, o bem-estar familiar.90 Além disso, os possíveis efeitos
emocionais causados pelo fim do matrimônio do casal podem ser amenizados com a guarda
compartilhada.

A guarda compartilhada de forma admirável favorece o desenvolvimento das crianças


com menos traumas e ônus, propiciando a continuidade da relação dos filhos com seus
dois genitores, retirando, assim, da guarda a ideia de posse. Nesse novo modelo de
responsabilidade parental, os cuidados sobre a criação, educação, bem estar, bem
como outras decisões importantes são tomadas e decididas conjuntamente por ambos
os pais que compartilharão de forma igualitária a total responsabilidade sobre a prole.
Assim, um dos genitores terá a guarda física do menor, mas ambos deterão a guarda
jurídica da prole. 91

A guarda dos filhos somente será individualizada quando ocorrer a separação de fato ou
de direito dos pais. Conforme disposto no artigo 1.584, §2º do Código Civil: “Não conseguindo,
os genitores, de comum acordo, definir quem ficará com os filhos, é chamada a Justiça a tomar
essa difícil decisão”,92.

Defendida por especialistas, a guarda compartilhada é considerada como forma de


prevenção da alienação parental, conforme Alexandris Figueiredo:93

89
BRASIL, Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil. Alterado pela Lei 11.698 de 2008.
Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em 28/05/2020.
90
NICK, Sérgio Eduardo. Guarda compartilhada: um novo enfoque no cuidado aos filhos de pais separados ou
divorciados. Rio de Janeiro: Renovar, 1997. P. 135
91
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para família moderna. Belo Horizonte:I
BDFAM, 2008. Disponível em: < http://www.ibdfam.org.br/artigos/420/Guarda+Compartilhada+-
+Um+avan%C3%A7o+para+a+fam%C3%ADlia+moderna.>. Acesso em 27/05/2020
92
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 11ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. P.
402
93
FIGUEIREDO, Fabio Vieira; ALEXANDRIDIS, Georgios. Alienação parental. São Paulo: Saraiva, 2011. p.40.

41
Merece destaque neste momento de redefinição das responsabilidades maternas e
paternas a possibilidade de se pactuar entre os genitores a “Guarda Compartilhada”
como solução oportuna e coerente na convivência dos pais com os filhos na Separação
e no Divórcio.

A guarda compartilhada acaba se tornando um mecanismo de prevenção da alienação


parental que tende a se manifestar nos casos em que se tem um maior convívio com um dos
genitores em relação ao outro. A guarda deverá ser estipulada de modo que preserve o bem
estar do menor, levando em consideração sempre o princípio do melhor interesse da criança ou
adolescente.

Podemos observar que assim se expressa Maria Berenice Dias:94

Falar em guarda de filhos pressupõe a separação dos pais. Porém, o fim do


relacionamento dos pais não pode levar à cisão dos direitos parentais. O rompimento
do vínculo familiar não deve comprometer a continuidade da convivência dos filhos
com ambos genitores. É preciso que eles não se sintam objeto de vingança, em face
dos ressentimentos dos pais.

Segundo a lei 13.058/2010, a responsabilidade do menor passa a ser dos dois, que devem
exercer em conjunto os direitos e deveres dos filhos. É por esta razão que ela se torna um
instrumento efetivo para o combate da prevenção da alienação parental. Infelizmente, a lei
12.318/2010 não impede os atos alienatórios, mas pode combater assim que constatado pelo
magistrado.

A guarda compartilhada dificulta qualquer tentativa de afastamento do menor de um dos


genitores, pois ele terá um convívio igualitário com cada um dos pais, com objetivando a
manutenção do laço afetivo familiar e a adaptação ao novo modelo familiar. Conforme o artigo
21 do ECA95:

Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito
de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para solução
da divergência.

Para que a guarda compartilhada seja eficaz no sentido de assegurar o convívio


igualitário com os genitores, ambos devem participar ativamente da vida do menor. Porém, é
necessário que haja um ambiente de respeito e compreensão por parte dos pais, e não um

94
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 11ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. P.
433
95
BRASIL. Lei 8.069. Dispõe sobre o Estatuto da criança e do adolescente. 1990.

42
ambiente hostil e de rivalidade gerada pela separação ou divórcio. Ou seja, embora não estejam
mais juntos como casal, devem sempre lembrar que o menor não tem nada a ver com o embate,
muito menos com a separação, mostrando para o filho o quanto é amado pelos dois,
salvaguardando a proteção da criança ou adolescente e suas fragilidades.96

A alienação parental, de acordo com o artigo 249 do ECA, é considerada uma infração
administrativa quanto ao descumprimento do dever imposto ao poder familiar. Dessa forma,
quando aplicada a multa prevista no artigo 6º, inciso III da Lei 12.318/2010, esta pode ser
cumulada à sanção administrativa do ECA.

Embora o ECA tenha criado recursos para inibir a consolidação da alienação parental,
como a estipulação de multa, suspensão da autoridade parental ou mesmo inversão da guarda,
não restam dúvidas de que a forma mais eficaz para evitar a prática de alienação é a guarda
compartilhada, pois esta busca manter a relação familiar saudável entre pais e filhos, sendo
necessária a colaboração dos genitores em prol dos interesses morais e materiais do menor, o
que minimiza o conflito parental e diminui consequentemente os sentimentos de culpa e
frustação por não cuidar dos filhos.97

O afeto é a representação mais fiel do ideal de família e os principais responsáveis pela


construção desse sentimento são os pais. Segundo Maria Antonieta Pisano Motta:

A guarda compartilhada muitas vezes revela o poder de conseguir que os pais sejam
mais próximos e participativos da vida dos filhos do que eram antes da separação do
casal, validando o papel parental de ambos com igualdade de importância e de
relevância, incentivando-os ao envolvimento próximo, contínuo e estável com a vida
e o bem estar dos filhos. A nosso ver a guarda compartilhada também pode ser a
solução para aqueles litígios nos quais as crianças são utilizadas como armas de guerra
havendo interferência contínua de um dos genitores na possibilidade de
relacionamento com o não guardião. Referimos-nos aos casos em que as visitas são
dificultadas ou impedidas, em que os contatos telefônicos são proibidos e dificultados,
em que o genitor não guardião é excluído de comemorações e eventos e de
informações da vida social, escolar e de informações sobre a saúde do filhos. 98

96
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p.402
97
GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda compartilhada: repertório de doutrina sobre direito de família. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1999. v. 4. p.175
98
MOTTA, Maria Antonieta Pisano. Guarda compartilhada: uma nova solução para novos tempos. Direito de
Família e Ciências Humanas. Cadernos de Estudos Brasileiros. P. 84

43
Sendo assim, o princípio da proteção integral deve sempre ser visado, uma vez que o
direito a um ambiente familiar saudável é necessário para o desenvolvimento físico e psíquico
da criança e adolescente. Dispõe o artigo 3º do ECA:99

Art. 3º a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à


pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
se lhes, por lei ou outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade.

Ressalta Pinho100acerca do assunto:

A dignidade da pessoa humana é a garantia das condições mínimas de sobrevivência


para que o homem possa exercer os direitos oportunizados pela garantia de ser
cidadão. Ou, seja, numa perspectiva de um Estado Social, a dignidade da pessoa
humana encontra expressão em um Estado ativo, atuante no sentido de proporcionar
à comunidade o pleno respeito aos direitos humanos de segunda geração. Já no
referente à dignidade da pessoa humana dentro de uma perspectiva do Estado de
Direito, percebe-se o dever de omissão relativo aos direitos de primeira geração. A
garantia da liberdade de pensar devendo respeitar tão somente, dentro dos limites da
lei, a sua própria e de consciência. Eis porque a dignidade humana garante o ser
humano enquanto indivíduo livre e moralmente responsável.

A fixação para o estabelecimento da guarda é baseada no princípio do melhor interesse


do menor, consequência natural da dissolução do casamento.

Compete ao genitor que possui a guarda assistir diretamente o menor nas suas
necessidades primárias da vida e ao outo genitor caberá o dever de prestar alimentos e o direito
de convivência. Independente de qual seja a guarda determinada e a quem a detém, sempre
haverá a possibilidade, a qualquer tempo, de destituir a guarda até então estabelecida.

99
BRASIL. Lei 8.069. Dispõe sobre o Estatuto da criança e do adolescente. 1990.
100
PINHO, Judicael Sudário de. Temas de direito constitucional e o Supremo Tribunal Federal. São Paulo: Atlas,
2005. p.398

44
5. CONCLUSÃO

O presente trabalho descreve e analisa o comportamento e as atitudes do genitor que


pratica a alienação parental e a forma como essa sistemática influencia o psicológico do menor
alienado e o laço afetivo com o genitor vítima da alienação.

A alienação parental geralmente ocorre em casos de disputa de guarda após uma


separação não consensual do casal. O alienante utiliza-se da sua autoridade sobre o menor para
criar situações e memórias falsas que visam denegrir a imagem do outro genitor e, assim
prejudicar o vínculo afetivo entre eles. Esse comportamento causa o acometimento do menor
pela Síndrome da Alienação parental, que entre seus diversos graus pode levá-lo até a ter
comportamentos suicidas.

Foi apresentado o padrão de condutas do alienante e as diversas sistemáticas utilizadas


para manipular a prole. O comportamento abusivo pode ser tão grave a ponto de criar falsas
memórias sobre abusos sexuais que nunca ocorreram, gerando medo do genitor alienado e
diversos traumas psicológicos no menor. Um quadro exemplificativo que demonstra algumas
diferenças de comportamento entre crianças vítimas de abuso sexual e crianças acometidas pela
SAP é uma das formas de ajudar a resolver tais questões.

Em seguida, foram abordados os pontos mais relevantes da Lei 12.318/2010, que dispõe
sobre alienação parental. Destacou-se que a referida lei prevê medidas coercitivas, tais como
advertência, inversão da guarda dos filhos e suspensão da autoridade parental. Observou-se que
esse dispositivo é um grande instrumento do Direito de Família, mas seu principal objetivo não
é a prevenção da alienação parental, mas sim a redução dos danos que ela pode causar, pois os
meios de repressão apresentados somente serão utilizados após a comprovação de que houve
realmente a alienação, o que será feito através de laudos periciais elaborados por uma equipe
multidisciplinar designada em cada caso.

A Lei 12.318/2010 tem sido muito discutida na comunidade jurídica, pois uma parte da
comunidade jurídica alega que esse dispositivo não oferece proteção integral às crianças e
adolescentes, tendo em vista que muitos abusadores a têm usado como estratégia de defesa
diante de denúncias de abusos sexuais verídicos, e não frutos da SAP, o que gera uma suposta
insegurança jurídica. Porém, é inegável a proteção que essa lei traz aos menores, sendo uma
novidade no mundo todo.

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Uma alternativa para evitar a revogação da lei é a sua alteração, estabelecendo critérios
rigorosos para que a equipe multidisciplinar envolvida nesses casos esteja preparada para
enfrentar tais questões, levando em conta que a maioria das denúncias é verdadeira, mas existem
casos de falsas denúncias decorrentes da alienação parental. A integridade física e emocional
do menor deve ser sempre garantida, e revogá-la representaria um retrocesso em relação à
proteção das crianças e adolescentes.

Foi demonstrada que a privação da convivência do menor com o genitor alienado, bem
como a manipulação psicológica e a criação de falsas memórias decorrentes da alienação
parental são práticas que violam os princípios da dignidade da pessoa humana, do melhor
interesse da criança e do adolescente, da prioridade absoluta e da proteção integral da criança e
do adolescente, garantidos pela Constituição Federal, pelo ECA e por tratados internacionais
ratificados pelo Brasil. Esses dispositivos, juntamente com a Lei 12.318/2010 e o Código Civil,
apresentam os direitos das crianças e adolescentes e o dever que seus responsáveis têm de
garantir uma convivência familiar saudável, bem como a responsabilidade que a comunidade
jurídica deve ter ao tratar de casos que envolvam as relações familiares dos menores.

A guarda compartilhada apresenta-se como um instrumento eficaz para a prevenção e


afastamento dos atos alienatórios na vida da criança e do adolescente, devendo ser
implementada se não houver consenso entre os genitores sobre quem deve ficar com a guarda
do menor. A guarda unilateral pode gerar a tendência de que uma das partes, descontente com
o término do relacionamento, comece a alienar a prole, colocando-a contra seu ex-companheiro.

Concluiu-se que a melhor maneira de evitar a alienação parental é através da guarda


compartilhada, por estabelecer uma relação de convivência direta com o menor, garantindo que
o laço familiar afetivo entre todos os membros da família seja mantido. É imprescindível que
sempre se busque o melhor interesse para da criança ou adolescente, para que haja seu
desenvolvimento saudável, garantindo a ampla participação de ambos os genitores na formação
e educação de seus filhos.

A Lei 13.431/17 reconheceu a alienação parental como uma forma de violência


psicológica, instituindo um sistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente,
concedendo o direito do menor alienado, por meio de seu representante legal, pleitear medidas
protetivas contra o genitor alienante. O descumprimento do regime de convivência estabelecido
pela guarda compartilhada ou das medidas protetivas concedidas em razão da constatação da

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alienação parental são passíveis de punição criminal, podendo o alienador ser condenado à pena
de detenção de 03 meses a dois anos. As medidas protetivas trazidas pela Lei Maria da Penha
podem ser aplicáveis nos casos de violência psicológica e, portanto, também protegem as
vítimas de alienação parental.

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