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FACULDADE DE DIREITO SANTO AGOSTINHO – FASA

Caroline Pereira Novais

CONTROVÉRSIAS DA LEI 12.318/10:


Alienação Parental e Autoalienação.

Montes Claros/ MG
2019
Caroline Pereira Novais

CONTROVÉRSIAS DA LEI 12.318/10:


Alienação Parental e Autoalienação

Monografia apresentada Curso de Direito da


Faculdade de Direito Santo Agostinho –
FASA, como requisito para aprovação na
disciplina Trabalho de Curso II e requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Direito.

Orientador: Prof. Ms. Marcelo Brito

Montes Claros/ MG
2019
Caroline Pereira Novais

CONTROVÉRSIAS DA LEI 12.318/10:


Alienação Parental e Autoalienação

A Monografia apresentada ao Curso de Direito da


Faculdade Santo Agostinho – FASA, como
exigência para aprovação na disciplina Trabalho de
Curso II, e requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Direito, foi avaliada por todos os
membros da Banca Examinadora e aprovada em sua
forma final.

Banca Examinadora

__________________________________________________
Presidente: Prof.

__________________________________________________
Membro: Prof.

__________________________________________________
Membro: Prof.

Montes Claros/MG
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por estar sempre comigo e por não ter me deixado
desistir.
Aos meus pais e irmãos pelo incentivo prestado.
Ao professor Orientador Marcelo Brito, meus sinceros agradecimentos pelos
conhecimentos transmitidos, suporte, apoio e confiança.
Ao meu melhor amigo e namorado, Pablo Daniel, pela paciência, incentivo e
principalmente pelo apoio durante essa etapa.
E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para realização desse trabalho.
Alienar uma criança é matar, desestruturar. Covardia não esquecida. Ignorância
pura e sabida, que geram traumas, que podem durar por toda uma vida. Até a
criança crescer, tornar-se adulta e entender que o errado do “seu ser” era mero
reflexo do ser que não foi o que deveria ser.
Claudia Berlezi.
RESUMO

Este trabalho objetiva analisar a Lei n° 12.318/10, conhecida como Lei da Alienação Parental,
para refletir acerca da sua aplicação. O tema sempre despertou debates e, recentemente, tem
sido alvo de várias críticas, principalmente nas situações nas quais o suposto alienado
participa do processo, fenômeno conhecido com autoalienação. Carece, portanto, de estudo e
aprofundamento, pois não há uma discussão acentuada sobre o assunto com vistas a
internalizar e esvaziar todas as hipóteses de aplicação de sua Lei. O objetivo desse trabalho é
analisar a efetividade da Lei que versa sobre Alienação Parental com foco na garantia do
melhor interesse da criança e do adolescente, pois, se fala em proteção, porém não se tem um
tratamento adequado aos principais afetados. Há um enfoque muito grande no viés punitivo
da Lei para os alienantes, porém poucas soluções visando à garantia do desenvolvimento
saudável de crianças e adolescentes, que são as principais vítimas e sofrem os maiores
impactos. Através da pesquisa compilada neste trabalho, conclui-se que a Lei de Alienação
Parental embora tenha apresentado progresso em alguns aspectos, ainda prioriza a punição
dos violadores em detrimento da aplicação de medidas protetivas à saúde física e psíquica das
crianças e adolescentes envolvidas na relação defectiva. A Lei deve, portanto, priorizar
medidas de prevenção para minimizar os danos causados a crianças e adolescentes decorrente
dessa prática. Para consecução desta pesquisa, foram realizadas pesquisas científicas
notadamente de cunho bibliográfico e documental abordando a aplicabilidade da lei da
Alienação Parental.

Palavras- chave: Família, Alienação Parental, Autoalienação.


ABSTRACT

This work aims to analyze the Law n°. 12.318 / 10, known as the Parental Alienation Law, to
reflect on its application. The subject has always aroused debate and, recently, has been the
target of several criticisms, especially in situations in which the alleged alien participates in
the process, a phenomenon known as self-alienation. Therefore, it needs to be studied and
deepened, since there is no sharp discussion on the subject with a view to internalizing and
emptying all the hypotheses of its Law application. Ensuring the best interests of children and
adolescents, because protection is spoken of, but there is no adequate treatment for the main
affected. There is a great focus on the punitive bias of the Law for alienants, but few solutions
to ensure the healthy development of children and adolescents, who are the main victims and
suffer the greatest impacts. Through the research compiled in this paper, it can be concluded
that the Parental Alienation Law, although showing progress in some aspects, still prioritizes
the punishment of violators over the application of protective measures to the physical and
mental health of children and adolescents involved in the defective relationship. . The law
should therefore prioritize preventive measures to minimize the harm caused to children and
adolescents arising from this practice. To carry out this research, scientific researches were
carried out, notably of bibliographic and documentary nature, addressing the applicability of
the law of Parental Alienation.
 
Keywords: Family, Parental Alienation, Self-Alienation.
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AP- Alienação Parental


Art. - Artigo
CID- Classificação Internacional de Doenças
CRFB/88 - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
DSM- (American Psychiatric Association’s) Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
PLS - Projeto de Lei do Senado
SAP- Síndrome de Alienação Parental
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................10
2 ALIENAÇÃO PARENTAL................................................................................................12
2.1 Transformações no conceito de família e poder familiar...............................................12
2.2 Conceito de Alienação Parental........................................................................................16
2.3 Diferenças entre Alienação Parental e Síndrome de Alienação Parental.....................20

3 APLICAÇÃO DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL..................................................25


3.1 Possibilidades da aplicação equivocada da Lei 12.318 de 26 de agosto de
2010...........................................................................................................................................25
3.2 Desafios da aplicação da Perícia Multidisciplinar nos processos de
Alienação..................................................................................................................................31
3.3 Consequências da aplicação da Lei de Alienação Parental...........................................38

4 AUTOALIENAÇÃO PARENTAL.....................................................................................45
4.1 Conceito de Autoalienação Parental e seus desdobramentos........................................45
4.2 Princípio do Melhor Interesse da criança e do adolescente: aplicação do respeito e
autonomia dos filhos................................................................................................................50
4.3 Críticas à Alienação Parental e inclusão da Autoalienação no ordenamento
jurídico......................................................................................................................................54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................57

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................59
10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem por objetivo analisar as controvérsias existentes


acerca da aplicação da Lei de Alienação Parental.
Nesta pesquisa discutem-se os diversos posicionamentos doutrinários acerca da
aplicação da Lei 12.318/10, visando o melhor interesse da criança e do adolescente.
Diante disso, a problemática e o objetivo geral desse estudo reside na seguinte
indagação: até que ponto é possível falar em efetividade da lei que versa sobre alienação
parental em sua aplicação e consecução para garantir o melhor interesse da criança e do
adolescente, posto que em sua aplicação seja possível perceber um enfoque em punir o
alienante, invés de abarcar uma maior atenção e proteção às crianças e adolescentes que são
principais vítimas desse ato.
A relevância do tema consiste no fato da existência de diversas controvérsias em torno
da Lei 12.318/10. Por um lado há defensores que argumentam que a lei em questão tem sido
utilizada para acobertar crimes sexuais cometidos por abusadores, que a invoca contra o outro
genitor de maneira injusta. Por outro lado, alegam defensores que a lei vem sendo usada
como litigância de má fé com o objetivo de vingança para atingir o outro. Além disso, há
também a possibilidade da lei ser invocada de maneira errônea em casos que se configura
como autolienação parental.
Para a realização dessa pesquisa, o trabalho foi organizado em três capítulos, cada qual
organizado com três subseções.
O primeiro capítulo titulado como “Alienação Parental”, buscou apresentar as
transformações do conceito de Família e Poder Familiar, demonstrando as diversas evoluções
da entidade familiar, principalmente no que tange a igualdade entre homens e mulheres, além
de apresentar também o conceito de Alienação Parental e as diferenças entre Alienação
Parental e Síndrome de Alienação Parental.
O segundo capítulo titulado como “Aplicação da Lei de Alienação Parental”, buscou
demonstrar as possibilidades da aplicação equivocada da Lei 12.318/10, os desafios da
aplicação da Pericia Multidisciplinar nos processos de Alienação e as consequências geradas
pela aplicação da Lei de Alienação Parental.
O terceiro e ultimo capítulo, titulado como “Autoalienação Parental”, buscou explanar
acerca do conceito de Autoalienação e seus desdobramentos, e demonstrar-se à ainda, o
Principio do melhor interesse da criança e do adolescente, além da inclusão da Autoalienação
Parental no ordenamento jurídico.
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A consecução desse trabalho se deu mediante pesquisas científicas notadamente de


cunho bibliográfico e documental abordando a aplicabilidade da lei da alienação parental. As
principais fontes consultadas foram doutrinas precipuamente referentes aos ramos do direito
de família, direito da criança e do adolescente, trabalhos acadêmicos e artigos científicos.
Destarte, foram adotados os métodos quanto ao procedimento, histórico e monográfico
e no que tange à abordagem, o método dedutivo.
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2 ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 Transformações do conceito de família e Poder Familiar.

A família é um instituto que passou por diversas transformações. Com a evolução da


sociedade, fez-se necessário a evolução do direito, principalmente no que tange a definição do
conceito jurídico de família.
No início do século passado o conservadorismo era sujeito a forte influência da Igreja,
fazendo do casamento uma instituição indissolúvel. Leciona Lisboa (2012, p.21) que, “o
cristianismo mostrou-se contrário à institucionalização do divórcio e à realização de um
segundo matrimônio, salvo no caso de morte de um dos cônjuges ou da existência do
adultério.” Demonstra Dias (2013) que naquela época somente o casamento civil era tido
como válido, pois, era centrado na ideia patriarcal de que o reconhecimento de família era
somente aquela matrimonializada, hierarquizada e heterossexual.
Nesse sentido, destaca Venosa (2006, p.16) que “a mulher dedicava-se aos afazeres
domésticos e a lei não lhe conferia os mesmos direitos do homem. O marido era considerado
o chefe, o administrador e o representante da sociedade conjugal”.
Assim sendo, a mulher não possuía os mesmos direitos dos homens tampouco
capacidade jurídica. Sua função era somente cuidar dos afazeres domésticos e ficar a
disposição do seu marido. Desse modo, aduz Gagliano e Filho (2012) que a família era uma
entidade chefiada e organizada pela figura masculina. Além disso, pautava-se em unidade
econômica possuindo caráter produtivo, reprodutivo, político e militar.
Com o surgimento da revolução industrial, houve uma ruptura da organização
familiar. Gagliano e Filho (2017, p. 21) acentuam que:

A passagem de economia agrária à economia industrial atingiu irremediavelmente a


família. A industrialização transforma drasticamente a composição da família,
restringindo o número de nascimento nos países desenvolvidos. A família deixa de
ser uma unidade de produção na qual todos trabalhavam sob autoridade de um chefe.
O homem vai para fábrica e a mulher lança-se para o mercado de trabalho.

Consoante, Lisboa (2012) alude que com a introdução das máquinas, o trabalho
artesanal que era feito no seio familiar para sua subsistência, se tornou insuficiente para
competir com a produção das fábricas, acarretando uma redução de renda artesanal fazendo
com que os membros da família procurassem outra fonte de renda, trabalhando nas fábricas.
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É nesse momento que a mulher passa a ingressar no mercado de trabalho e a partir daí
o homem deixa de ser o único responsável pelo sustento material da família. Porém, a
sociedade ainda continuava alicerçada em padrões machistas e patriarcais.
No Brasil, aduz Lobo (2011) que o século XX foi marcado pelo Código Civil de 1916
que ainda se mostrava conservador, pois trazia distinções discriminatórias entre seus membros
negando os vínculos extramatrimoniais e os filhos ilegítimos. Assevera o autor que os
vínculos extramatrimoniais e aos filhos ilegítimos resultantes fora do casamento possuíam
caráter punitivo, pois, havia a exclusão de direitos e garantias fundamentais dessas pessoas
com o objetivo preservação do matrimônio.
No que se refere ao pátrio poder, Barros apud Sousa (2009, p.64):

[...] destaca que esse irá declinar a partir do Código de 1916, tornando-se,
gradativamente, atribuição também da mulher. O Código estabelecia que, em caso
de falta ou impedimento do pai, caberia à mãe exercer o pátrio poder até a
maioridade dos filhos, quando esses seriam considerados, por lei,emancipados.
Assim, o exercício do pátrio poder ficou restrito apenas aos filhos menores de idade,
e poderia, ainda que em situações especiais, ser exercido pela mãe. No entanto,
cumpre lembrar que, até 1934 cabia ao pai, o qual detinha com exclusividade o
pátrio poder, administrar os bens e as decisões referentes aos filhos menores de
idade.

Destarte, faz-se importante pontuar que a mulher possuía um papel de submissão


perante os homens, visto que só poderia exercer o pátrio poder em casos restritos, que seria
nos casos da falta do pai ou impedimento, ficando o pátrio poder restrito somente no que
tange aos filhos menores de idade.
De acordo com Souza (2009), o século XX foi marcado pelo surgimento do Estatuto
da Mulher Casada, lei 4.121/62 que tornava a mulher independente. Agora a mulher também
era considerada capaz para realizar atos em sua vida civil.
Apesar do reconhecimento de alguns direitos às mulheres, o Código Civil de 1916 de
acordo com Farias apud Souza (2009, p.65):

[...] buscava preservar a família, a qual tinha por fundamento o matrimônio. Os


interesses do grupo familiar deveriam ser priorizados ante os de seus integrantes, ou
seja, o grupo tinha precedência ao indivíduo. Por conta disso, o divórcio, até os anos
1977, não existia no Brasil. A separação do casal era restrita à separação de corpos e
de bens, sendo permitida apenas em caso de “adultério, tentativa de morte, sevícias
ou injúrias graves e abandono de lar voluntário, por mais de dois anos contínuos,
além do mútuo consentimento dos consortes, quando casados há mais de dois anos”
O vínculo conjugal, contudo, permanecia indissolúvel. Até 1977, o Código de 1916
denominava o rompimento da sociedade conjugal de “desquite”.
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Assim sendo, somente em casos específicos o divórcio poderia ser concedido à


mulher. Com a aprovação da Lei n° 6.515/77 que dispunha sobre o divorcio, é que foi
possível à dissolução do matrimônio. Nesse sentido, assevera Dias (2015, p.140) que “com
isso não há nem prazos, nem a necessidade de identificar causas para dissolver-se o vínculo
matrimonial.”. A partir daí, a mulher poderia recomeçar a vida ao lado de outra pessoa sem
impedimentos.
Consoante inúmeras mudanças legislativas, surge a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88). Nesse sentido assevera Dias (2015, p.140) que:

A Constituição Federal de 1988 instaurou a igualdade entre o homem e a mulher e


esgarçou o conceito de família, passando a proteger de forma igualitária todos os
seus membros. Estendeu proteção à família constituída pelo casamento, bem como à
união estável entre o homem e a mulher e à comunidade formada por qualquer dos
pais e seus descendentes, que recebeu o nome de família monoparental. Consagrou a
igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento , ou por adoção, garantindo-lhes
os mesmos direitos e qualificações. Essas profundas modificações acabaram
derrogando inúmeros dispositivos da legislação então em vigor, por não
recepcionados pelo novo sistema jurídico. Como lembra Luiz Edson Fachin, após a
Constituição, o Código Civil perdeu o papel de lei fundamental do direito de família.

Observa-se uma mudança paradigmática do pensamento acerca do conceito de família,


que era traduzida nos diplomas legais anteriores à CRFB/88. Esta se traduziu como
importante instrumento para corrigir as disparidades de tratamento conferidas aos membros da
família que eram adotados, além de assegurar igualdade entre homens e mulheres.
É possível perceber que houve uma preocupação do legislador ao redigi-lo em abarcar
de maneira ampla a proteção à família, especialmente no que tange a igualdade jurídica de
cônjuges e companheiros e filhos havidos ou não fora do casamento.
Após a CRFB/88 surgiu um novo Código Civil de 2002, pois, o anterior se encontrava
incompatível com as leis atuais vigentes, sendo assim leciona Gonçalves (2012, p. 40) que:

Todas as mudanças sociais havidas na segunda metade do século passado e o


advento da Constituição Federal de 1988, com as inovações mencionadas, levaram à
aprovação do código civil de 2002, com a convocação dos pais a uma “paternidade
responsável” e assunção de uma realidade familiar concreta, onde vínculos de afeto
se sobrepõem à verdade biológica, após as conquistas genéticas vinculadas aos
estudos do DNA. Uma vez declarada a convivência familiar e comunitária como
direito fundamental, prioriza-se a família socioafetiva, a não discriminação de filhos,
a cor- responsabilidade dos pais quanto ao exercício do poder familiar, e se
reconhece o núcleo monoparental como entidade familiar.

Conforme citado, a CRFB ocupou-se em priorizar o vínculo afetivo sobre o biológico.


Com o advento do Código Civil de 2002, corroborou-se o que a CRFB desejava, que era a
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proteção da família de maneira geral, incluindo a família após separação dos progenitores,
conhecida como monoparental e a inclusão dos filhos por vínculo afetivo.
A base de uma sociedade é a família, conforme o ordenamento jurídico e por essa
razão recebe uma proteção maior do estado. O Código Civil de 2002 trouxe reconhecimento a
diversidades de núcleos familiares, rompendo com preconceitos engessados nas épocas
anteriores.
Houve uma mudança no que se refere ao termo Pátrio Poder para o Poder Familiar,
isso porque pátrio poder se referia somente ao pai, e devido à mudança do status da mulher
que passou a ter direitos e deveres igualitários ao dos homens foi imprescindível que houvesse
a alteração desse termo.
O poder familiar é compreendido de acordo com Tartuce e Simão (2012, p. 387) como
"o poder exercido pelos pais em relação aos filhos, dentro da ideia de família democrática,
do regime de colaboração familiar e de relações baseadas, sobretudo, no afeto”.
Apesar de diversas mudanças legislativas em favor das mulheres, explana Sousa
(2008) que permanecia o pensamento de que as mulheres possuíam melhor capacidade para
cuidar dos filhos mesmo em casos de divórcio. Nesse sentido, aduz Sousa (2008, p. 72) que:

Visando a alterar esse quadro de assimetria em relação à guarda de filhos, foi


promulgada em 2008 a Lei 11698/08, que institui a guarda compartilhada. Com a
nova lei foram alterados os artigos 1583 e 1584 do Código Civil, os quais regulam
sobre a posse e guarda dos filhos menores de diante da separação do casal.
Conforme exposto em capítulo anterior, como ainda não se dispõe de dados sobre os
efeitos dessa lei nos encaminhamentos jurídicos e nas relações sociais, optou-se por
trabalhar com questões pertinentes até o momento da alteração da norma legal.

Com a lei da guarda compartilhada, houve paridade de deveres no que tange ao


cuidado da prole entre os pais. Agora não é só a mulher é considerada ideal pra cuidar dos
filhos e o pai só um mero fiscal da educação. A responsabilidade passa a ser de ambos, de
maneira igualitária. Concretiza aqui, o princípio da igualdade entre homens e mulheres que é
assegurado na CRFB/88.
Assim, com a edição de um Código Civil mais atualizado, o tratamento conferido às
famílias foi priorizado, para que seu núcleo fosse protegido.
Com as novidades legislativas e priorizando o vínculo afetivo, os filhos não serão
discriminados por nenhuma causa mesmo os havidos fora do casamento. Dessa forma, o
legislador objetivou conferir igualdade e respeito aos filhos, compatibilizando-se com o
princípio da dignidade da pessoa humana que é o princípio basilar no ordenamento jurídico.
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2.2 Conceito de Alienação Parental

A alienação parental (AP) na maioria das vezes surge através do rompimento de uma
relação afetiva entre os genitores. Com esse rompimento, consequentemente um dos genitores
deixa de conviver com a prole ensejando à disputa de guarda.
Nesse sentido, Gardner apud Gagliano (2012, p.862) leciona que:

A síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece


quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua
manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma
campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta
da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral,
programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o
genitor-alvo.

Nesse mesmo sentido alude Dias (2013) que nos processos de separação, na maioria
dos casos, questões mal resolvidas permanecem entre os progenitores, contribuindo para o
desenvolvimento de sentimentos de enganação, raiva e até mesmo rejeição contra o outro
genitor. Como meio de atingir o outro, os filhos são utilizados como artifício, sendo
enganados e manipulados com a finalidade de que o vínculo afetivo entre pai e filho sejam
quebrados ou até mesmo destruídos.
De acordo com Gagliano (2012), a teoria foi criada por um psiquiatra e professor
norte- americano chamado Richard Gardner. Lecionam Rodrigues e Rotta (2015, s/n) que “a
Síndrome da Alienação Parental (SAP) foi conhecida através dos trabalhos realizados pelo
psiquiatra”.
No que tange ao conceito criado por Gardner, explana Madaleno (2018 p.43) que:

[...] a SAP é um fenômeno resultante da combinação de lavagem cerebral com


contribuições da própria criança, no sentido de difamar o genitor não guardião, sem
qualquer justificativa, e seu diagnóstico é adstrito aos sintomas verificados no
menor. Atualmente, esse conceito foi ampliado, somando-se a ele “comportamentos,
conscientes ou inconscientes, que possam provocar uma perturbação na relação da
criança com o seu outro progenitor, ainda, o fato de que as críticas podem ou não ser
verdadeiras, igualmente acrescidos outros fatores de desencadeamento, não apenas
circunscritos ao litígios pela guarda, mas diante da divisão de bens, do montante dos
alimentos, ou até mesmo a constituição de nova família por parte do genitor
alienado.

O conceito da SAP elencado pelo doutrinador acima leva em consideração a


adulteração psíquica da criança na relação parental. Assim, há uma influência negativa na
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criança pelos genitores, induzindo-os a comportamentos agressivos e sentimentos negativos


para com a vítima paterna ou materna.
Dessa forma, é importante distinguir duas figuras existentes, sendo elas, alienador e
alienado. É conhecido como alienador, aquele que pratica os atos de alienação parental, e
alienado, aquele que sofre as consequências desse ato. Gardner (2002, s/n) alude à existência
de diferentes níveis de alienadores, os dividindo em categorias que varia do nível leve ao
grave. Para ele “a Síndrome da Alienação Parental se caracteriza por um conjunto de sintomas
que aparecem na criança geralmente de forma conjunta, principalmente nos casos médios e
graves”.
Nesse sentido, Gardner (2002, s/n) elenca em seu artigo oito sintomas da SAP:

1) Uma campanha denegritória contra o genitor alienado.


2) Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação.
3) Falta de ambivalência.
4) O fenômeno do “pensador independente”.
5) Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental.
6) Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor
alienado.
7) Presença de encenações ‘encomendadas’.
8) Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor
alienado.

Pode-se dizer que o ato de promover uma campanha denegritória contra um dos
genitores é um dos principais sintomas desencadeantes da SAP, que conjuntamente com
outros fatores é possível definir o grau dos alienadores variando do leve, médio ou grave.
Ainda sobre o assunto, Gardner (2002) explica que não implica a ocorrência de todos
os sintomas supracitados nos casos leves, diferentemente dos casos médios e graves, que
podem ser cumulativos. Além do mais há possibilidade de progressão dos casos, de leves para
médios e médios para graves.
Segundo Gardner (2002, s/n) “Essa consistência resulta em que as crianças com SAP
assemelham-se umas às outras. É por causa dessas considerações que a SAP é um diagnóstico
relativamente claro, que pode facilmente ser feito”.
Desse modo, explica Madaleno apud Gama (2018) que quando submetida a uma
alienação não tão gravosa, a vítima consegue manter uma relação razoável com o genitor,
porém, em determinadas situações, pode se voltar contra o outro, patrocinando campanhas de
maneira involuntária, demonstrando que prefere o alienador. À medida que a criança se
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convence que o genitor alienado não tem nenhum valor para ela, sentimentos negativos, como
ódio e repulsa, se formam internamente, de maneira injustificada.
Leciona Trindade (2007) que a SAP possui diversos sintomas e que advém de um
transtorno psicológico. O alienador é capaz de interferir no psicológico dos filhos através de
estratégias cujo objetivo é dificultar ou até mesmo quebrar vínculos com o outro genitor sem
que existam motivos justificáveis para tal conduta.
No que tange a AP preceitua o artigo 2° da lei 12.318/10 que a “prática da alienação
parental não está restrita somente aos genitores, podendo ser praticado por outros indivíduos
fora do núcleo familiar, desde que essa prática prejudique o desenvolvimento sadio da criança
ou adolescente”. (BRASIL 2010).
Destaca-se a importância em considerar que outros indivíduos fora das relações
parentais podem praticar a AP. Nota-se que houve uma preocupação do legislador em
resguardar a criança e o adolescente de um ato tão perverso que prejudicar seu
desenvolvimento físico e psíquico.
A SAP é tão grave que conforme Pedrosa e Bouza apud Madaleno (2017,p.703):

[...] tem um alcance extremamente destrutivo, pois consegue que os filhos inventem
fatos, respaldem mentiras e esqueçam momentos de felicidade, e ainda consegue que
terceiros se envolvam nos atos de detratação do progenitor rechaçado, enquanto o
genitor alienante se assegura de assumir um autêntico papel de vítima.

Dessa maneira, a AP é compreendida como uma ação praticada por um dos genitores
que detém a guarda da criança ou do adolescente, objetivando destruir ou prejudicar de
qualquer maneira os vínculos existentes entre o menor e o genitor não detentor da guarda
fazendo com que a criança odeie e despreze sem justificativa alguma o outro genitor.
Assevera Madaleno e Madaleno (2018. p.43) que a alienação gera “uma forte relação
de dependência e submissão do menor com o genitor alienante. E, uma vez instaurado o
assédio, a própria criança contribui para a alienação.”.
Nesse diapasão, Dias (2009, p.34) elucida que a vitima é induzida a se afastar do
genitor alienado, uma vez que “isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo
entre ambos. Restando órfão do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor
patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo o que lhe é informado”.
A Psicóloga Andreia Calçada, em seu documentário A Morte Inventada (2009), expõe
algumas artimanhas utilizadas pelo alienante que objetiva afastar seus filhos do ex-
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companheiro(a) na tentativa de alterar a percepção da criança fazendo-a odiar o outro,


promovendo o seu “falecimento”.
No documentário, a referida psicóloga cita estratégias utilizadas pelo alienante que
objetiva afastar o alienado do genitor, dentre elas está presente à desvalorização e depreciação
do genitor alienado, dos seus hábitos, costumes e até mesmo dos seus parentes. Além disso, o
alienante visa provocar conflitos entre o genitor alienado e a criança, limitar o contado da
criança com o genitor alienado entre outros. Muitas das vezes essa limitação de contato da
criança com o genitor alienado é formada através de mentiras e ilusões, como por exemplo, a
invenção de que o genitor alienado oferece algum tipo de perigo à criança.
Nesse sentido, segundo Madaleno e Madaleno (2018,p.46) asseveram que:

A alienação é obtida por meio de um trabalho incessante, muitas vezes sutil e


silencioso, por parte do genitor alienador, trabalho que requer tempo, e esta é uma
estratégia de alienação, uma vez que o objetivo da síndrome é eliminar os vínculos
afetivos entre o progenitor alienado e seu filho.
Portanto, para dispor do maior tempo possível com os filhos, o genitor alienante
passa a obstaculizar as visitas, muitas vezes de maneira inocente, como se estivesse
protegendo o menor, com evasivas dizendo que a criança está doente, não podendo,
então, sair de casa ou então arranjar visitas inesperadas de parentes ou amigos e
aniversários de colegas. Outras vezes, com argumentos mais fortes, o alienante faz
chantagem emocional com a criança, dizendo, por exemplo, que ficará muito triste e
sozinho se o menor encontrar o outro genitor, e que tal atitude seria uma traição.

Dessa forma, nota-se que o alienador planeja todos os seus atos para chegar ao seu
objetivo. A vítima perante o alienador se sente completamente manipulada e vulnerável
realizando mesmo que inconscientemente todas as suas vontades.
Nos entendimentos de Madaleno e Madaleno (2018), os filhos são facilmente
influenciados pelos genitores, principalmente por aquele que detém a guarda. O alienante tem
sã consciência de seus atos, agindo de maneira fria e calculada sem sequer se importar nas
consequências geradas pelo ato que pratica.
Nesse sentido leciona Dias (2010,p.87) que:

Nem sempre a criança consegue discernir que está sendo manipulada e acaba
acreditando naquilo que lhes foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo,
nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade
passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa
existência, implantando-se, assim, falsas memórias.

Verifica-se que a SAP é tão grave que é capaz de causar danos psicológicos
irreversíveis a vitima, pois a criança é manipulada de tal forma que não consegue discernir a
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realidade da ficção. O conceito de AP vem sendo estudado e analisado por diversos


profissionais, principalmente da área do direito devido à prática vir sendo denunciada de
forma recorrente e irresponsável.
A constatação de uma situação de AP demanda uma avaliação psicológica da
criança e do adolescente, havendo necessidade de laudo psicológico, sendo que muitas vezes
esses laudos não são conclusivos. Podemos observar que nos casos em que ocorrem denúncias
por parte dos genitores nem sempre se busca uma apuração adequada do acontecimento do
fato, gerando o afastamento dos genitores, o que é prejudicial ao desenvolvimento da criança.

2.3 Diferenças entre Alienação Parental e Síndrome da Alienação Parental

Há diferenças no que tange a AP e SAP. A AP é definida pela Lei n° 12.318/2010 em


seu artigo 2° que dispõe que a alienação parental é a “interferência na formação psicológica
da criança ou do adolescente [...] para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.” (BRASIL 2010).
Nesse contexto a AP é o ato praticado, enquanto a síndrome é o resultado da
consequência gerada por esse ato. Portando, aduz Torres (2018, s/n) que “a síndrome de
alienação parental é decorrente dos atos praticados pelo genitor provedor da guarda do filho,
no sentido de influenciar a criança para que odeie e repudie, sem motivo algum, o outro
genitor”.
Corroborando o entendimento, Dias (2010) afirma que a SAP são os sintomas que se
instalam na criança e no adolescente através de uma conduta manipuladora do alienante,
enquanto que a AP se resume nos atos que levam ao resultado deste.
Nesse sentido Fonseca apud Gagliano, Filho (2012 p.862):

A síndrome da alienação parental não se confunde, portanto, com a mera alienação


parental. Aquela geralmente é decorrente desta, ou seja, a alienação parental é o
afastamento do filho de um dos genitores, provocado pelo outro, via de regra, o
titular da custodia. A síndrome da alienação parental, por seu turno, diz respeito às
sequelas emocionais e comportamentais de que vem a padecer a criança vitima
daquele alijamento. Assim, enquanto a síndrome refere-se à conduta do filho que se
recusa terminante e obstinadamente a ter contato com um dos progenitores, que já
sofre as mazelas oriundas daquele rompimento, a alienação parental relaciona-se
com o processo desencadeado pelo progenitor que intenta arredar o outro genitor da
vida do filho.
21

Richard Gardner (2002 s/n ), defende que “a alienação parental é um termo mais geral,
enquanto a síndrome de alienação parental é um subtipo muito específico de alienação
parental”, portanto, não se confundem.
O referido tema tem sido alvo de divergências, principalmente no que tange a
conceituação feita pelo professor Gardner acerca da SAP.
As críticas mais recorrentes têm como fundamento de que a SAP não está prevista no
Código Internacional de Doenças (CID10). Nesse sentido lecionam Madaleno e Madaleno
(2007 p.42) que:

A conotação de síndrome não é adotada na lei brasileira em virtude de não constar


na Classificação Internacional das Doenças (CID) e também por dizer respeito ao
conjunto dos sintomas provocados pela alienação parental ou alijamento da prole em
desfavor de um genitor ou mesmo da família estendida, eis que a legislação pátria
apenas trata desta exclusão proposital e não de seus sintomas e consequências.

Argumentam os autores que a expressão SAP constitui um conjunto de sintomas que


caracterizam uma doença, sendo assim não é adotada pela Legislação Brasileira por não
constar na CID. Nesse sentido, Leal (2015 p.43) “A legislação brasileira não adotou a
designação de Síndrome, utilizando apenas a expressão "alienação parental". Contudo, o que
se verifica é que a prática apontada pela lei é a descrita por Gardner como SAP”.
Esse é um ponto bastante criticado entre os doutrinadores, chegando alguns até negar a
existência de tal termo.
Nesse sentido Guimarães (2010, s/n), alude que:

O Dr. Gardner, sem dúvida, acertou na definição de um fenômeno sócio-jurídico que


acometia e continua a produzir vítimas, em nossa sociedade, mas, provavelmente,
pela vaidade acadêmica, resolveu por patologizá-lo. 
Nem todos, ou, a maioria, não a pratica (alienação parental) patologicamente. Na
maioria dos casos, o indivíduo, dito alienante, age com convicção de que está agindo
absolutamente de acordo com suas convicções de que o outro genitor represente ser
para a prole efetiva ameaça e, muitas vezes, é. A linha que separa o que pode ser
uma patologia de uma realidade sócio-jurídica,é absolutamente intangível, razão
pela qual faço a advertência. Acredito, por experiência, que alguns casos sejam
patológicos, mas, posso afirmar que a maioria tem como móvel sentimentos comuns
de ódio, rancor, mágoa etc. Por fim, acredito que Gardner tenha sido exato na
descrição do fenômeno, mas, tenha errado feio em situá-lo como doença. 

Guimarães reconhece a definição feita por Gardner no que tange a AP, porém há uma
negativa de que haja existência de uma síndrome, defendendo que nem todos praticam a AP
de modo doentio, sendo que na maioria dos casos o alienante sabe com exatidão o que está
fazendo.
22

Sob ponto de vista diverso, Trindade (2010, p.190) alega que a ausência da descrição
da SAP na CID-10 pouco importa. Dessa forma aduz:

Quanto ao enquadre da Síndrome da Alienação Parental, é importante que não exista
só o que este descrito no Manual Diagnostico e estatístico de Transtorno
mentais, ou na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID10). 
Existe sobretudo o que vemos na prática, na realidade de cada dia, pois as coisas  
existem   independentemente   do   nome   que   oficialmente   se   pode   atribuir.

O autor defende que existem vários outros sintomas e comportamentos que ainda não
estão descritos em manuais ou classificados de transtornos mentais, porém estão evidentes na
nossa sociedade, como é o caso de AP.
Sobre o fato de não estar descrito na CID, Gardner (2002 s/n) rebate as críticas
defendendo que:

É importante notar que O DSM-IV não aceita frivolamente cada proposta nova. Suas
exigências são muito estritas no que diz respeito à inclusão de entidades clínicas
recentemente descritas. Os comitês exigem muitos anos de pesquisa e as publicações
em numerosas revistas pelos especialistas dentro de jornais científicos antes de
considerar a inclusão de um transtorno é, portanto, justificável. Gille de La Tourette
descreveu primeiramente sua síndrome em 1885. E foi apenas a partir de 1980, 95
anos mais tarde, que o transtorno encontrou seu caminho no DSM. É importante
ressaltar que atualmente a síndrome de Tourette se transformou no transtorno
de Tourette. Asperger descreveu primeiramente sua síndrome em 1957. E não antes
de 1994, 37 anos mais tarde, é que foi aceito no DSM-IV a síndrome de Asperger,
que se transformou no transtorno de Asperger.

Assim, conforme Gardner, para que a SAP seja considerada e classificada como uma
doença são necessários anos de pesquisa para que seja devidamente testada sua existência e
que seja passível de confirmação científica.
Não há muitos estudos que realmente apontem a existência da SAP, podendo ser
questionável do ponto de vista prático. Nesse diapasão, Sottomayor apud Madaleno (2018,
p.86):

A SAP sequer tem validade científica, sendo amplamente divulgado faltarem às


teses de Richard Gardner qualquer rigor científico e aceitação pela comunidade
acadêmica, porquanto seus pseudocritérios diagnósticos não se relacionam com
nenhuma patologia identificável. A conceituada doutrinadora portuguesa narra ser a
Síndrome da Alienação Parental totalmente desacreditada pela comunidade
científica americana, e que o raciocínio desenvolvido por Richard Gardner para
diagnosticar a SAP é circular, periférico, sem base científica, que se assenta na
diabolização das mulheres e na negação da violência de gênero e do abuso sexual
das crianças. Para Maria Clara Sottomayor, o trabalho de Richard Gardner faz
presumir que a criança e a mãe mentem, descurando-se de perquirir se o progenitor
dito alienado é realmente desleal ou se se comportou de forma a explicar a real
23

aversão da criança, servindo a SAP como manobra de defesa para encobrir o


comportamento negativo do próprio genitor que se apresenta como vítima da
suposta alienação.

A referida doutrinadora também defende que a SAP por não estar enquadrada na CID,
não possui nenhuma validade jurídica e nem base científica. Alega ainda que a criação desse
termo foi feita com o objetivo de mascarar o real abuso sexual de crianças e até mesmo com o
objetivo de punir as mulheres, baseando-se no fato de que não é feito indagação alguma ao
progenitor sobre seu comportamento, que justifique a aversão da criança, sendo a SAP
utilizada como forma de defesa ao acusado por seus atos ilícitos.
Apesar de existir diversos posicionamentos polêmicos acerca do tema, Gardner (2002
s/n) alude ainda que:

O fato de que algo é controverso não o invalida. Mas por que existe tal controvérsia
sobre a SAP? No que diz respeito à existência da SAP, geralmente não vemos tal
controvérsia a respeito da maioria das outras entidades clínicas na psiquiatria. Os
examinadores podem ter opiniões diferentes a respeito da etiologia e do tratamento
de um distúrbio psiquiátrico particular, mas há geralmente algum consenso sobre sua
existência. E esse deveria ser o principal caso na argumentação para um transtorno
relativamente claro como a SAP, um transtorno facilmente diagnosticado por causa
da similaridade dos sintomas das crianças quando se compara uma família com a
outra. Por que, então, deveria haver tal controvérsia - se a SAP existe ou não?

No entendimento de Gardner (2002) por ser um assunto novo é normal à existência de


controvérsias. Porém, argumenta o autor que negar a existência da SAP é uma defesa forte do
alienador, pois, para ele é mais benéfico desacreditar na existência da síndrome para
encontrarem brechas na lei e obstruir a admissão nos Tribunais de Justiça. Nesse sentido,
Gardner (2002 s/n):

Se a dúbia alegação do advogado puder demonstrar que a SAP não está listada no
DSM-IV, então a sua posição é considerada “provada” (digo “alegada”, porque o
advogado pode muito bem reconhecer a SAP, mas está servindo somente a seu
cliente, como preconizado no código de ética de sua profissão). A única coisa que
essa alegação prova é que até 1994 o DSM_IV não havia listado a SAP. Os
advogados esperam, entretanto, que o juiz seja convencido por esse argumento
ilusório e conclua, então, que se não há nenhuma SAP, não haverá também nenhuma
programação, e assim, desse modo, o seu cliente ganhará a causa.
24

Dessa forma, quando submetido a uma lide, o alienador tentará formar o


convencimento do julgador intentando pela inexistência da SAP, desqualificando assim o que
lhe foi imputado.
Na defesa de sua teoria, Gardner (2002) afirma que ao usar o termo AP,
desconsiderando a existência da SAP, traria um grande prejuízo à família que realmente sofre
com a síndrome, pois assim as causas da alienação sofridas pela criança não seriam
identificadas de maneira correta para que os tratamentos adequados pudessem ser realizados.
Verifica-se, portanto, que a AP e SAP não se confundem, sendo a primeira conjunto
de atos realizado pelo alienador que interfere na formação física e psíquica da criança, e a
segunda consequência da primeira, melhor dizendo, é resultado final do ato de AP.
É possível perceber a existência de diversas controvérsias que gira em torno da SAP,
principalmente pelo fato de não ser reconhecida como uma patologia na CID. Ainda sim,
defende o criador da teoria que por se tratar de uma discussão nova é possível o não
reconhecimento, pois o comitê do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos
Mentais (DSM) exigem anos de pesquisas sobre o assunto para posteriormente incluí-lo na
CID.
25

3. APLICAÇÃO DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL

3.1 Possibilidades da aplicação equivocada da lei 12.318 de 26 de agosto de 2010

O tema da AP começou a receber um enfoque maior após a prática recorrente de falsas


denúncias.
O tema tem sido alvo de diversas críticas. Por um lado, críticos argumentam que a Lei
da AP está sendo utilizada para acobertar crimes sexuais cometidos por um dos genitores à
criança e/ ou adolescente, obrigando-os a conviverem com os reais abusadores enquanto que,
do outro, existe outra vertente que defende que a Lei está sendo utilizada de maneira
fraudulenta, com vistas a prejudicar o outro genitor como meio de vingança.
A questão é muito complexa diante de uma acusação de abuso sexual por parte de um
dos genitores e de AP por parte do outro. Seja qual a versão seja verdadeira, a criança poderá
passar por uma situação de tensão emocional que poderá marcá-la para o resto da vida.
Nesse sentido, Paulo (2011) alude que, nas situações em que estejam envolvidas
denúncias de abuso sexual contra criança ou adolescente, sejam elas verdadeiras ou falsas, a
criança estará sendo vítima dele. Defende o autor que no caso de falsas denúncias, há um
abuso psicológico realizado pelo alienante à criança. Dessa forma a prática desse ato é tão
grave que crianças e adolescentes podem desenvolver problemas e sintomas gerados pelo
abuso sexual real.
O jogo de manipulações utilizadas pelo genitor alienador, faz com que a criança ou
adolescente tome para si uma mentira como verdade, não sabendo distinguir de fato o que é
falso ou real cultivando um sentimento de ódio pelo genitor alienado.
Nesse sentido leciona Dias (2010) que, para o alienador chegar ao seu objetivo, que é a
destruição do vínculo afetivo da criança com o outro genitor, ele utiliza de várias artimanhas,
inclusive a mais gravosa, que é a invenção de abuso sexual por parte do genitor alienado. Na
maioria dos casos, a criança é manipulada de tal forma que acaba se convencendo da
existência de um crime que não ocorreu. Dentro dessa ótica, aduz Pereira (2017, S/n) que “a
conduta do genitor alienante é no sentido de não apenas convencer o magistrado, mas também
o próprio filho de que o abuso sexual existiu, geralmente distorcendo a verdade acerca de
fatos que não têm conotação abusiva”.
Sobre a dificuldade de o magistrado identificar existência dos atos denunciados,
salienta Dias (2010, s/n) que:
26

Diante da dificuldade de identificação da existência ou não dos episódios


denunciados, mister que o juiz tome cautelas redobradas. Deve buscar identificar a
presença de outros sintomas que permitam reconhecer que está frente à síndrome da
alienação parental e que a denúncia do abuso foi levada a efeito por espírito de
vingança, como meio de acabar com o relacionamento do filho com o genitor. Para
isso, é indispensável não só a participação de psicólogos, psiquiatras e assistentes
sociais, com seus laudos, estudos e testes, mas também que o juiz se capacite para
poder distinguir o sentimento de ódio exacerbado que leva ao desejo de vingança a
ponto de programar o filho para reproduzir falsas denúncias com o só intuito de
afastá-lo do genitor.

Em relação à dúvida se o caso é de alienação ou de um abuso sexual, o Poder


Judiciário, uma vez provocado, terá que enfrentar uma delicada situação que envolve a
necessidade de apoio técnico de uma equipe multidisciplinar e acompanhamento psicológico
da criança e do adolescente envolvido com vistas a evitar decisões errôneas, pois, o que se
tutela é o melhor interesse da criança e do adolescente que são parte vulneráveis desse
processo.
Nesse contexto, aduz Dias (2010, s/n) que:

Esta notícia, levada ao Poder Judiciário, gera situação das mais delicadas. De um
lado, há o dever de tomar imediatamente uma atitude e, de outro, o receio de que, se
a denúncia não for verdadeira, traumática será a situação em que a criança estará
envolvida, pois ficará privada do convívio com o genitor que eventualmente não lhe
causou qualquer mal e com quem mantém excelente convívio. Mas como o juiz tem
a obrigação de assegurar proteção integral, reverte a guarda ou suspende as visitas e
determina a realização de estudos sociais e psicológicos. Como esses procedimentos
são demorados – aliás, fruto da responsabilidade dos profissionais envolvidos –
durante todo este período cessa a convivência do pai com o filho.

Enquanto são realizados estudos apurados sobre a situação para lhe conferir
veracidade, a criança é privada do convívio com o genitor acusado como forma de proteção a
sua integridade física e psicológica. No que se diz respeito às falsas denúncias, aduz Dias
(2013, p.271) que:

A falsa denúncia de práticas incestuosas tem crescido de forma assustadora. Essa


realidade perversa pode levar a um injustificado rompimento de vínculo de
convivência paterno-filial. Mas há outra consequência ainda pior: a possibilidade de
identificar como falsa denúncia o que pode ser uma verdade. Nos processos que
envolvem abuso sexual, a alegação de que se trata de alienação parental tornou-se
argumento de defesa. Invocada como excludente de criminalidade, o abusador é
absolvido e os episódios incestuosos persistem.

Frisa-se que a acusação falsa de abusos sexuais é grave, pois, quem mais sofre com as
consequências dessa invenção é a criança que pode ser privada do convívio com seu
27

progenitor de forma injusta. Por outra perspectiva, acredita a autora que há possibilidades de
invocação da Lei de AP com objetivo de encobrir crimes cometidos, assim, tendo a criança
vivenciado um abuso sexual, em casos da inobservância do magistrado, ela continuará a
conviver com o seu progenitor abusador, tendo os seus direitos completamente violados.
Sob tal complexidade, explana Paulo (2011,p. 23) que:

A simples existência de todas estas possíveis realidades surgidas do cruzamento da


Alienação Parental com o Abuso Sexual Incestogênico cria um problema bastante
difícil e delicado para aqueles que têm o dever de garantir a proteção da criança:
diferenciar e detectar cada uma delas. Isto porque, se é certo que a existência de
abusadores que, buscando a autodefesa, desacreditam a palavra das crianças,
afirmando serem elas vítimas de Alienação Parental, prejudica – e muito! – a ação
dos que lutam contra o abuso sexual infantojuvenil, também é certo, sem dúvida,
que as falsas denúncias de abuso sexual praticado por genitores contra seus filhos
atrapalham – e muito a luta dos pais pelo direito de conviver com sua prole.

Se utilizar da AP como forma de defesa de um crime cometido é extremamente


prejudicial à criança, pois sua palavra é desacreditada e na maioria das vezes a criança
realmente luta contra um abuso sexual real.
Sob mesma perspectiva, Gardner expõe maneiras de como identificar o verdadeiro
abuso, do falso abuso sexual. Neste sentido, Leal (2017. p. 45):

De acordo com Gardner, pais que realmente abusam dos filhos geralmente possuem
histórico de impulsividade e violência, não possuindo senso de responsabilidade
familiar, enquanto aqueles que estão sendo alienados, falsamente acusados, são pais
dedicados, possuindo personalidade não hostil, cumprindo com seu papel parental.

Há críticas sobre a forma que Gardner propôs para distinção de abusos reais e falsos.
Sottomayor apud Leal (2017, p. 45) defende que a forma utilizada pelo autor não é capaz de
distinguir abusos reais dos falsos, "os abusadores de crianças podem ser indivíduos de todas
as classes sociais, não revelando qualquer psicopatia e tendo um comportamento social e
laboral, sem sinais de violência ou agressividade". É necessária a observância de outros
fatores importantes.
Sottomayor (2011), afirma que os estudos de Gardner contribuem para um pensamento
misógino e machista, pois, presumem falsas as acusações feitas pelas mães em defesa dos
seus filhos no que se refere a abusos sexuais, Sottomayor (2011,p. 86) alega ainda que:

Os critérios criados por GARDNER para distinguir alegações verdadeiras de


alegações falsas de abuso sexual baseiam-se nas suas observações pessoais
relativamente a um número desconhecido de casos vistos na sua prática forense e
28

têm, como estereótipo do abuso verdadeiro, a mãe que se cala, e, como estereótipo
do abuso falso, a mãe que denuncia, raciocínio circular e sem base científica, que
conduz à seguinte dedução: se o crime é autêntico não se denuncia, se se denuncia é
falso. Esta conclusão retira às leis penais que consideram o crime de abuso sexual de
crianças, como crime público, pois se a mãe e a criança se calam o crime continua;
se denunciam, a denúncia funciona como prova de mentira. Os estudos de
GARDNER sobre esta questão não estão publicados, nunca foram sujeitos a algum
tipo de revisão crítica ou teste empírico, e não fazem referência a trabalhos
anteriores sobre alegações de abuso sexual em processos de divórcio.

A crítica da autora se refere à falta de base científica dos estudos da teoria de Gardner.
Sendo assim, não há credibilidade nos critérios utilizados pelo criador da teoria em distinguir
os abusos verdadeiros dos falsos.
O problema de aplicação equivocada da lei de AP se inicia desde um conceito que
adveio de outro país com povos e culturas completamente diferentes do Brasil e ainda está
envolto a uma grande controvérsia científica, uma vez que, a SAP não é reconhecida pelos
manuais da área da saúde e foi criada por um polêmico médico norte americano que fez sua
fama defendendo acusados de abuso.
Nesse sentido Cabral (s/n 2018) afirma que:

O problema está na lei e na aplicação. Ela parte de um pressuposto que é totalmente


questionável, o conceito foi importado, como muitos conceitos são, sem se observar
a realidade histórica e o desenvolvimento de um país que tem uma cultura que é
extremamente violenta, machista e segregacionista. É complicado, não dá para
importar conceitos jurídicos sem uma reflexão e, infelizmente, acabamos fazendo
isso com frequência. Importamos sem investigar de forma científica e aplicamos na
realidade do país, engessando operadores e operadoras do Direito e causando
situações extremamente iníquas.

Por se tratar de um conceito oriundo de uma realidade completamente diferente da


nossa, para Cabral (2018) é imprescindível uma análise mais complexa, devendo ser
observado à realidade do país e sua cultura, pois, é necessário que haja mais profundidade no
tema de AP por envolver crianças e adolescentes.
Assim, Sottomayor (2011) defende que as teorias de Gardner advêm de uma origem
sexista, tendo por base um de seus trabalhos publicados, “True and false accusations of child
sex abuse” - em tradução livre: verdadeiras e falsas acusações de abuso sexual infantil-, que
fazia da mulher um mero objeto sendo somente receptoras do sémem do homem, trazendo a
extrema fragilização da figura feminina e uma visão de mulher amarga e vingativa,
insinuando que as mulheres possuem facilidade em mentir e inventar a prática de abusos
sexuais contra o progenitor, para alcançar a guarda de seus filhos.
29

No que tange a diversas afirmações feitas por Gardner consideradas machistas,


Sottomayor (p.85 2011) explica que:

Significam uma crença numa sociedade patriarcal assente na propriedade do


homem, como chefe de família, sobre as crianças e as mulheres, e numa aprovação
da pedofilia, ideologia que nega à criança o estatuto de pessoa autónoma e livre,
considerando-a um objeto dos adultos do sexo masculino, submetido ao poder e
livre arbítrio destes.

A teoria de Richard Gardner se mostra tão incoerente e absurda, que ele tenta justificar
o motivo dos abusos sexuais ocasionados pelo progenitor abusador. De acordo com Matos
(2016), em um dos trabalhos realizados por Gardner, conhecido como “Sex Abuse Hysteria”-
em tradução livre: Histeria por abuso sexual-, o autor afirmava de que a culpa do abuso sexual
praticado pelo pai aos filhos, era da mãe pelo fracasso sexual em satisfazer o marido.
Ademais, pouco importava o melhor interesse da criança. O foco está somente no abusador
que é colocado na posição de vítima.
São visíveis traços sexistas e misóginos ao analisarmos o histórico do criador da
teoria. Barea apud Sottomayor (2011) aduz que a SAP possui interpretações misóginas
referentes à recusa da criança em conviver com seu progenitor não detentor da guarda. Há
uma presunção de que a culpa é das mulheres pelo fato da criança se recusar em conviver com
o progenitor, pois estariam elas agindo de maneira vingativa com a intenção de privar o
convívio dos filhos para com os pais.
Leal (2017, p.51) tece uma crítica a respeito da pouca importância que leva os
vulneráveis nesse processo, nesse sentido aduz a autora que:

[...] enquanto nos processos penais vigora o princípio do in dubio pro reo, nos
processos atinentes à regulação dos poderes parentais deve vigorar o pro interesse da
criança, e não pro interesse do adulto, de modo que diante de uma acusação de
abuso sexual, deve-se primar pela proteção da criança.

Nesse sentido, Matos (2016), em um de seus trabalhos publicados, havia uma


preocupação de Gardner em proteger o pai molestador, pois o autor chamava atenção para o
cuidado que devia ser tomado para que não ocorresse a AP da criança para com o pai
molestador. Frisa Matos (2016) que era defendido pelo autor que a criança não deveria ser
privada do convívio com seu pai, seja ele abusador ou pedófilo sem que antes que fossem
esgotadas todas as tentativas de tratamento contra pedofilia e/ou abuso. Sendo assim, caso as
tentativas fossem insuficientes, aí sim seria cabível a remoção do progenitor pedófilo do lar.
Isso se dava sempre em último caso.
30

Há inúmeras críticas no que toca a AP, principalmente no uso equivocado da lei. Barea
apud Sottomayor (2011, p.83) usa como justificativa que:

GARDNER criou as suas teses para defender ex-combatentes acusados de violência


contra as mulheres e/ou de abuso sexual dos filhos, tendo feito a sua carreira
profissional como perito, em processos de divórcio ou de regulação das
responsabilidades parentais, a defender homens acusados de abusar sexualmente dos
seus filhos, através da estratégia de desacreditar as vítimas para inverter as posições
e transformar o acusado em vítima.

Observa-se que Gardner, ao defender ex-combatentes revela um posicionamento


favorável ao comportamento destes. Assim, baseou sua carreira na especialização em defesas
de acusados de abusos, criando uma inversão do papel de acusado e vítima, intentando o
descrédito daqueles que poderiam realmente estar tutelando sua própria defesa ou de seus
filhos.
Nesse sentido, aduz Novais (2018, s/n) que:

A Lei de Alienação Parental é usada na maioria dos casos depois que o pai é
acusado de maus-tratos e abusos, sejam físicos, psicológicos ou sexuais, e faz parte
da estratégia da defesa para alegar que o abuso não ocorreu. Nesses casos, o pai
usa muito convenientemente essa lei como um escudo protetor para dizer que não
fez aquilo que a criança conta e para jogar a responsabilidade na mãe, que seria a
alienadora. Ou seja, a lei tira a validade da palavra da criança, sendo que
geralmente é só o que temos, porque a criança é a testemunha do próprio abuso,
uma vez que o pai não vai abusar em uma situação pública e porque esses abusos
nem sempre deixam vestígios materiais”.
Não provar o crime não quer dizer que ele não ocorreu. Não estou dizendo para
condenar algum acusado sem provas, mas não acho justo punir a criança, porque é
destrutivo para a criança – depois de ela ter a coragem de denunciar o pai, de
ultrapassar todas as barreiras íntimas dela, de medo, de vergonha, de nojo e de
sentimento de culpa – ser punida por um Judiciário que não acredita na sua palavra
e a obriga a conviver com o abusador.

A visão da autora reforça o fato de que a Lei da AP vem sendo utilizada de maneira
errônea como escudo para os abusadores se livrarem dos crimes cometidos, o que torna
extremamente prejudicial à criança, dessa maneira é retirada a credibilidade da palavra da
criança que é a principal vítima da situação.
Por serem partes vulneráveis, seria dever dos Tribunais no exercício de suas funções
salvaguardar o direito da criança, buscando provas por meio de perícias multidisciplinares,
não bastando somente à palavra de um adulto que pode se utilizar da AP com o propósito de
acobertar crimes praticados.
Sob mesma ótica, Bruch apud Sottomaior (2011, p.89) aduz que:
31

O próprio GARDNER admite que alguns pais negligentes e abusivos estão a utilizar
a SAP como uma manobra de defesa e encobrimento do seu comportamento, e que a
sua teoria sobre a distinção entre acusações falsas e verdadeiras, já permitiu que
fossem absolvidos progenitores que, de fato, abusaram sexualmente dos filhos/as.

É inegável a controvérsia existente da aplicação da referida lei. Uma lei que fora
criada para defender crianças e adolescentes é utilizada como escudo para abusadores ficarem
impunes dos seus crimes. O próprio autor da SAP admite a ocorrência negligente do uso de
sua própria teoria.
Sobre mesma temática, aduz Sottomayor (2011.p.90): “a SAP coloca as mães em uma
encruzilhada sem saída: ou não denunciam o abuso e podem ser punidas por cumplicidade, ou
denunciam e podem ver a guarda da criança ser entregue ao progenitor suspeito”.
O tema AP foi comparado no Brasil com outros países da America Latina por Calasans
(2018), que faz uma crítica devido à maioria dos países Sul Americanos não possuírem leis
específicas para tratarem do tema em questão como ocorre no Brasil. Ela argumenta que em
outros países as codificações já existentes incluem direitos e garantias fundamentais da
criança e do adolescente sem necessidade de criar uma Lei específica para tal.
Ademais, Calasans (2018) aduz que no México a lei em questão foi revogada por ser
declarada inconstitucional sob a justificativa de que a Lei poderia trazer prejuízos na defesa
dos direitos da criança e do adolescente pela facilidade em ser invocada de maneira falha,
além de não possuir base científica e trazer discriminação contra o gênero feminino. Defende
Calasans (2018, s/n) que: “Não há a necessidade da categoria de Alienação Parental para que
seja feita a proteção e o cuidado das crianças pós-divórcio”. Pois por si só as codificações
existes já trariam a proteção devida a crianças e adolescentes sem necessidade de seguir uma
lei na qual não possui base científica.
Em suma, a AP é uma temática de difícil verificação e comprovação, necessitando de
estudos e perícias multidisciplinares a fim de se evitar danos irreversíveis à criança e/ ou
adolescente. Dessa maneira, é capaz de assegurar que os verdadeiros abusos sexuais sejam
investigados e denunciados. Faz-se necessário, portanto, uma análise mais criteriosa dos casos
concretos para que a tutela dos direitos seja conferida com maior eficácia, observando, além
das relações entre acusado e vítima, o meio social em que estes convivem.

3.2 Desafios da aplicação da Perícia Multidisciplinar nos processos de Alienação.


32

A análise em um processo que envolva processos de AP pode se revelar bastante


complexa. Ao se demandar no Judiciário, cria-se uma responsabilidade para o julgador de
tomar a medida mais adequada ao caso apresentado. Em processos como este, caso sejam
observados os critérios de avaliação corretos, é possível que se crie estabilidade e que se
minimizem os efeitos da Alienação sobre as vítimas.
Madaleno e Madaleno (2018) aduz que não é fácil a identificação dos atos de AP,
principalmente quando envolve alegações de abusos sexuais de criança ou adolescente. Nesse
caso a demanda deve ser conferida a quem tenha competência e conhecimento sobre o assunto
necessitando o magistrado de auxilio técnico para a compreensão e interpretação dos fatos
envolvidos no litígio.
A lei de AP, Lei 12.318 foi criada com o objetivo de prevenir, amenizar ou até
mesmo extinguir os efeitos causados pelo ato de AP. De acordo com o artigo 5° da referida
lei:

Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou


incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.
§1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,
conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame
de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação,
cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da
forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação
contra genitor.
§2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,
exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou
acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo,
prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada (BRASIL, 2010).

É possível observar que o legislador ao redigir a lei proporcionou a realização de uma


pericia psicologia ou biopsicossocial que pode ser determinada pelo juiz caso julgue
necessário. Essa perícia é realizada por meio de um laudo com intervenção de profissionais
habilitados área ou por uma equipe multidisciplinar. Conforme Leal (2017. p. 49) “Os
indícios de alienação parental podem ser detectados de ofício pelo juiz, ou a requerimento das
partes.”.
Sobre a perícia psicológica, Santos e Silva (2017) lecionam que é utilizado meios
científicos para realização de exames, no qual abarca técnicas específicas ao caso, sendo
necessário que seja realizado por especialistas reconhecidos na área. Nessa perspectiva,
aduzem Santos e Silva (2017, s/n) que tem o “objetivo de elaborar análises e conclusões sobre
33

os fatos e pessoas, apontando uma possível correlação de causa e efeito, além de identificar a
motivação e as alterações psicológicas dos agentes envolvidos no processo judicial”.
Dessa maneira é possível a verificar separadamente a motivação psicológica dos
envolvidos no litígio trazendo mais precisão, facilitando ao juiz tomar a melhor decisão para o
caso, assegurando o melhor interesse da criança.
No que tange a demanda de conhecimento técnico em causas que atue o juiz,
Madaleno e Madaleno (2017, p.118) asseveram que:

Prescreve o art. 156 do CPC que deve o juiz ser assistido por perito quando a prova
do fato depender de conhecimento técnico ou científico, e o art. 464 do Código de
Processo Civil dispõe consistir a prova pericial em exame, vistoria ou avaliação,
podendo as partes apresentar quesitos e indicar assistentes técnicos, e o art. 475 do
Código de Processo Civil faculta a nomeação de outros peritos tratando-se de uma
perícia complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento especializado. É
justamente a hipótese ventilada pelo art. 5.º da Lei da Alienação Parental.

Assim, conforme os autores acima, tratando-se de perícia mais complexa, que exija
conhecimentos em mais de uma área técnica, deve o julgador se socorrer de mais de um perito
para auxiliá-lo na tomada de uma decisão mais consciente, facultando, ainda, às partes a
escolha de peritos nessa hipótese.
Temos nas lições de Freitas (2015) que, a perícia multidisciplinar será um dos meios
de prova admitidos na ação. Como tal, terá a perícia um caráter objetivo e outro subjetivo. No
primeiro se confere a demonstração da existência de uma situação fática; no segundo, há a
finalidade de influenciar a psique do julgador.
Dos autores Madaleno e Madaleno (2017, p.119) transcreve-se o seguinte excerto que
versa sobre a perícia:

Primeiro, permite o artigo 5.º da Lei da Alienação Parental que a perícia


multidisciplinar seja ordenada em qualquer demanda incidental, como, por exemplo,
em uma ação de divórcio, ou de dissolução de união estável, de guarda de filhos, ou
até mesmo em um processo de alimentos, ou ainda em uma ação autônoma de
declaração de alienação parental, especialmente ajuizada para a denúncia e busca da
resolução judicial pelo exercício abusivo da alienação parental, com a cessação dos
atos de alienação ou com outras abordagens legais e terapêuticas a serem
determinadas em função do tipo e estágio de alienação.

O que os autores objetivaram, foi esclarecer que quaisquer demandas familiares em


que estejam presentes a AP, seja ela divórcio, guarda ou alimentos, os filhos devem ser
protegidos, não sendo necessário que a designação da perícia multidisciplinar se dê somente
em ação autônoma de declaração de alienação. Isso porque não se devem deixar de lado os
34

menores envolvidos na lide, que são os mais vulneráveis e que mais são afetados pelas
demandas judiciais. A AP deve ser o objeto principal.
Em relação ao cuidado que se deve ter ao tomar uma decisão acerca de um tema que
possui grande complexidade como a AP, explanam Santos e Silva (2018, p. 254- 255) que:

No judiciário brasileiro é crítico o sistema pericial realizado face às suspeitas de


alienação parental. Como visto, a regulamentação legal apresenta duas opções, e esta
possibilidade em si gera inúmeros riscos aos resultados apresentados, já que
incalculáveis vezes, o Estado por optar em não investir dinheiro público na
contratação de profissionais qualificados, tem como resultado conclusões
imprecisas, e a partir delas, consequentes efeitos danosos à vida do menor alienado.
Paralelo ao descaso com os padecedores desse crime ocorre à morosidade do
judiciário e a fragilidade jurídica das aplicações resultantes das análises malfeitas
com as vítimas e seus familiares. A realidade é que a falta de investimento público
faz com que haja somente o conselheiro tutelar e o psicólogo jurídico para atuação
em todas as fases de análises em que ocorrem os processos de AP, não se
percebendo a atuação da figura importantíssima do psiquiatra forense e toda sua
bagagem de estudos psíquicos.

Por se tratar de um tema que exige extrema atenção e importância, é necessário que
seja feito um investimento mais expressivo pelo Estado na procura de profissionais
qualificados e habilitados, afim de que se evitem conclusões precipitadas de um tema que
possui grande complexidade. Um único erro pode causar danos irreversíveis, já que se trata de
crianças e adolescentes, que são a parte mais vulnerável da situação.
Sobre o assunto aponta, Madaleno e Madaleno (2013, p.111):

É difícil se comprovar as demandas que tratam acusações de alienação parental,


salvo se diagnosticadas e analisadas por peritos especializados na matéria. A prova
pericial advém “da necessidade de ser mostrado no processo fato que depende de
conhecimento especializado, que está acima dos conhecimentos da cultura médica,
não sendo suficientes as manifestações legais de testemunhas.”

O trecho traduzido reafirma a necessidade de se ter profissionais cada vez mais


qualificados para lidar com essas situações em que os vulneráveis, quais sejam crianças e
adolescentes, se apresentam. A qualificação dos profissionais reduz a chance de cometimento
de erros na identificação de situações potencialmente danosas e eleva o grau de segurança do
Judiciário quando decide o mérito de uma lide envolvendo possíveis casos de AP.
Perez (2008) defende que o diagnóstico da AP deve ser feito através de exames que
são realizados na criança por meio de profissionais da área da psicologia. Dessa maneira,
Pezes (2008, p.4):
35

A Psicologia fornece instrumentos com razoável grau de segurança para avaliar até
que ponto o relato de uma criança ou adolescente está contaminado, é produto de
uma programação, mera repetição de fantasia construída por adulto.

Tem sido crescente o número de casos de AP relacionados a abusos sexuais, e na


maioria dos casos são falsas alegações de AP pelo abusador, na tentativa de sair impune de um
crime e afastar a criança do ente alienado. Dessa forma a pericia psicológica ou
biopsicossocial é capaz de determinar a veracidade ou não dos atos praticados de AP na prole.
Nesse sentido Madaleno e Madaleno (2013, p. 111) “não é tarefa fácil identificar os
atos de alienação parental e maiores dificuldades surgem quando seu estágio extremo envolve
alegações de molestações sexuais ou abuso físico da criança ou do adolescente.”
Os efeitos que a prática desse ato pode causar são de natureza grave e irreversível
sendo necessária uma posição rigorosa do poder judiciário na escolha dos profissionais
habilitados da área, pois aqui se trata do melhor interesse da criança. Santos e Silva (2018),
defende que é dever do estado investir em medidas cabíveis para a efetivação da conclusão
dos laudos periciais, para isso é mister a escolha de uma equipe multidisciplinar preparada
para lidar com casos relacionados à AP, que atinge crianças e adolescentes, assegurando dessa
forma a dignidade da pessoa humana.
Sob mesma temática, Buosi apud Madaleno e Madaleno (2018, p. 120-121) a respeito
de falsas acusações de abuso infantil:

Quando há suspeitas de uma falsa acusação de abuso infantil o psicólogo que está
realizando o tratamento deve ficar atento ao analisar cada passo que a criança
relatou sobre as situações de possível abuso e comparar com o que já foi dito por ela
e pelo possível alienador. Isso se torna um dos pontos principais para derrubar falsas
acusações, tendo em vista as controvérsias e o alinhamento do discurso entre um e
outro. Na maioria dos casos em que ocorre o abuso sexual real, a incriminação é
algo que se torna constante, enquanto nas falsas acusações essas mudam de acordo
com as circunstâncias. Por isso é imprescindível ser analisado o contexto da vida da
criança e dos genitores na época da revelação. A informação não pode advir
unilateralmente, devendo o profissional buscar diversas fontes para descobrir o
máximo possível dentre os diversos contextos nos quais o cliente esteja envolvido.
Assim deve visitá-lo em sua residência além do ambiente do consultório, entrevistar
a família ou pessoas envolvidas diretamente com estes, ir até a escola ou instituições
educacionais frequentadas pelo cliente, conversar com outros profissionais que já
atenderam, quando for o caso, e até mesmo realizar observações indiretas da
convivência familiar entre eles, realizando testes como somente um complemento e
não como fonte mais importante dos dados coletados. A entrevista com a criança
deve ser feita em particular em uma linguagem acessível ao entendimento da vítima,
com um clima empático e próximo a ela.

É imprescindível a realização de uma pesquisa sistemática de todos que mantém


relação com a criança, seja diretamente ou indiretamente por se tratar de um problema de
36

natureza grave, sendo necessária a análise comportamental de todos os envolvidos na relação.


Por esse motivo o judiciário necessita de profissionais específicos e competentes da área, pois
sozinho o juiz não possui o condão de desvendar atitudes camufladas por trás da intenção do
genitor.
Assevera Azevedo (2011. p.11) que:

O legislador estabeleceu de forma exemplificativa, a realização da perícia, definindo


que o laudo do expert deve se ater a entrevistas com as partes, principalmente com o
próprio menor, sem, contudo, sobrelevar suas informações a patamares inatingíveis,
sob pena de extrapolar suas considerações, já que podem estar revestidas de elevado
grau de influência do genitor alienante.

O trabalho a ser realizado pela equipe multidisciplinar, precisa ser detalhado e


composto por uma equipe profissional capacitada em casos isolados, como a de abuso sexual,
por exemplo, com vistas a evitar erros na produção do laudo pericial, ouvindo todos os
envolvidos da relação.
Sobre o prazo para apresentação do laudo pericial, aduz Azevedo (2011, p.12):

A relevância da identificação da alienação parental também foi exigida pelo


legislador a partir da fixação do prazo de noventa dias para a apresentação do laudo
pericial, prorrogável somente através de autorização judicial, devidamente
fundamentada. Nota-se a importância dada ao estudo da alienação parental, já que o
magistrado pode impedir a prolongada permanência dos autos no poder do
profissional ou da equipe multidisciplinar, uma vez que o menor não pode ficar à
mercê dos alongados prazos em que os autos ficam com as equipes de assistentes do
juízo.

O autor explana sobre a importância da fixação de prazos para a conclusão da perícia


técnica, pelo juiz. Na visão do autor, a indeterminação quanto a prazos pode levar a um
descaso quanto aos envolvidos na ação. Enquanto não se conclui a perícia, os menores
continuam a mercê de situações que podem se revelar prejudiciais e irreversíveis. Para que
isso não ocorra o juiz fixará prazos, impedindo assim sua prolongação por parte da equipe
responsável por elaborar o laudo técnico.
Leciona Freitas (2005) que as partes envolvidas no processo de AP, possuem o direito
de contratar um assistente técnico, que é um profissional de sua confiança que possui a função
de auxiliar durante todo o processo.
Nesse sentido demonstra Santi (2017,s/n) que:

A indicação de um perito assistente técnico é de fundamental importância para dar


segurança e eficiência à produção da prova pericial, pois, cabe a esse profissional
37

fazer a interface de comunicação com o perito do juízo e evidenciar os aspectos


técnicos de interesse ao esclarecimento da matéria fática sob a ótica da parte que o
contratou, de modo que o cliente não seja prejudicado por visões unilaterais,
distorcidas da realidade ou que não sejam suficientemente abrangentes para o
magistrado formar sua convicção.

Dessa forma, a atuação do assistente técnico no processo é importante, pois conduz


uma maior segurança às partes além de contribuir com que o magistrado forme sua convicção
se baseando em outras provas além das que forem produzidas pelo próprio perito do juízo.
No que tange a atuação dos peritos, o Código de Processo Civil, em seu artigo 473, §
3° aduz que:

Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se


de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações,
solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em
repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas,
desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto
da perícia.

Consoante o dispositivo legal mencionado, é lícito aos peritos e aos assistentes


técnicos utilizarem todos os meios de prova admitidos para fundamentar seus pareceres acerca
das situações apresentadas para análise. Dessa forma, tem-se maior grau de certeza quanto aos
elementos ensejadores da lide e maior riqueza de detalhes para fundamentar uma decisão mais
adequada a ser tomada pela autoridade julgadora.
Leciona Freitas (2015), que o juiz não está obrigado a julgar conforme o laudo juntado
nos autos pelos peritos e/ ou assistentes. Porém deve o juiz fundamentar o porquê de sua
oposição, uma vez que o perito apura os fatos se utilizando do seu conhecimento técnico.
De acordo com o artigo art. 371 do Código de processo civil: “o juiz apreciará a prova
constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na
decisão as razões da formação de seu convencimento.” (BRASIL 2015)
Apesar de ser livre o convencimento do juiz, é necessário, de acordo com Freitas
(2015), que a sentença esteja em consonância com o conjunto de prova. Caso contrário, a
sentença poderá ser reformada por meio de recursos. Nesse sentido, Freitas (2015, p.82-83):

Por não ser prova hierarquicamente superior a nenhuma outra, uma vez que todas
possuem igual valor, a perícia multidisciplinar, como as demais, depende do
conjunto de provas apresentadas no processo, subsidiando, assim, a convicção do
magistrado com base na verossimilhança do conjunto probatório. A fundamentação
da sentença não deve ser realizada tão somente na perícia, e, sim, no conjunto de
provas. A perícia multidisciplinar, pela sua natureza averiguadora, é um elemento
válido para informar o juiz, porém não é a única fonte da verdade. Da mesma forma
38

que não pode haver o julgamento contrário às provas dos autos, o julgador da causa
não pode efetuar a prestação jurisdicional sob o fundamento de uma única prova.

Explana o autor que a perícia multidisciplinar é uma prova importante como qualquer
outra existente no processo, sendo assim, compõe o conjunto de provas, contribuindo para a
convicção do juiz. Porém, a perícia multidisciplinar não é a única fonte a ser analisada. É
necessário que o juiz aprecie a totalidade as provas existentes, não bastando uma em
específico para fundamentação de sua decisão referente ao caso.
Há casos em que o juiz poderá indeferir a perícia multidisciplinar. Dessa forma,
preceitua o artigo 464, inciso I do Código de Processo Civil que: “a prova do fato não
depender de conhecimento especial de técnico”. (BRASIL 2015)
Nesse sentido, assevera Freitas (2015, p.82) que:

Entretanto, o direito constitucional de ampla defesa dá à parte a possibilidade de


produção de provas, mesmo quando o juiz afirmar possuir o conhecimento técnico
necessário, devendo os envolvidos no processo, que queiram a realização da perícia
multidisciplinar, invocá-la. Por ser a perícia multidisciplinar um elemento, dentre
um conjunto probatório, a necessidade de sua feitura para corroborar as demais é
imprescindível. Assim, mesmo que o juiz entenda desnecessário, havendo qualquer
dúvida sobre fatos possíveis de serem periciados, deverá, sim, a parte requerer a
produção dessa prova.

Assim, mesmo o juiz entendendo pela desnecessidade de produção de nova perícia


multidisciplinar, pode a parte invocar seu direito constitucional de ampla defesa e requerer
que seja produzida para corroborar suas alegações e promover sua defesa em juízo contra
fatos que restem controversos.
A perícia multidisciplinar, portanto, visa o atendimento do melhor interesse da criança
e do adolescente quando estes se tornam objetos de disputa entre os seus progenitores, com
intuito de protegê-los contra abusos cometidos por quaisquer destes, ou de ambos, para que
não seja prejudicado o direito a um ambiente familiar equilibrado.

3.3 Consequências da aplicação da Lei de Alienação Parental

A AP traduz-se em graves danos às crianças e adolescentes. Estas são utilizadas como


objeto de vingança de um genitor contra o outro, frequentemente em casos que envolvam
divórcio dos pais e conflitos pela guarda dos filhos. Manipulam-se os sentimentos dos filhos
de modo a confundi-los, a fazer com que acreditem em situações que lhe são induzidas, que
39

os pais não amem mais os filhos e que os abandonarão e rejeitarão. Os danos causados com a
prática dessa conduta são tão graves que de tal maneira pode prejudicar o desenvolvimento
físico e psíquico da criança ou adolescente.
Consoante o artigo 6.º da lei 12.318/ 2010:

Art 6° Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que


dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I – declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III – estipular multa ao alienador;
IV – determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V – determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI – determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII – declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização à


convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou
retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias
dos períodos de convivência familiar.

A lei 12.318/2010 foi criada para impedir a prática da AP, e nos casos já existentes
para amenizar. De acordo com Costa (2015) em regra, o genitor alienante é aquele que detém
a guarda da criança ou do adolescente, buscando dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro progenitor.
O artigo 6° da referida lei, permite que o juiz cesse desde logo os atos de AP ou
diminua seus efeitos por meio das medidas judiciais listadas nos incisos do referido artigo,
“sem prejuízo de outras medidas judiciais como a responsabilidade civil ou criminal e da
ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a
gravidade do caso”. (BRASIL, 2010)
Após serem declarados os atos de AP e a advertência ao alienador, a próxima medida a
ser tomada é a ampliação da convivência familiar em favor do alienado, conforme o inciso II
do artigo supracitado. De acordo com Ishida (2010, s/n) “o direito à convivência familiar se
refere ao direito da criança ou adolescente ao convívio com ambos os pais, condenando-se a
conduta de alienação parental.” No caso do referido inciso é de extrema importância e
urgência a ampliação da convivência familiar em favor do alienado, pois, é uma forma de
tentar amenizar ou até mesmo reverter os efeitos causados pela AP.
Nesse sentido, aduz Leal (2017, p. 45) que:
40

(...) Gardner entende muitas vezes não ser possível a abordagem terapêutica, de
modo que a retirada da criança do convívio se faz necessária, na medida em que o
laço patológico desenvolvido entre o alienador e a criança não pode ser desfeito
enquanto estiverem morando juntos. O convívio com o genitor alienado deve ser
feito, nesse primeiro momento, sem a interferência do alienador.

No entendimento de Gardner é necessário o distanciamento do alienador com a


criança alienada para que se tenha uma maior efetividade na redução dos efeitos que esse ato
venha causar. É de suma importância ampliar a convivência em favor do genitor alienado.
Referente às sanções descritas no artigo 6° da lei 12.318/ 2010, de acordo com Sousa e
Brito (2011, p.276)

(...) Por vezes se tem a impressão de que a criança acaba sendo relegada a segundo
plano, quando a preocupação parece voltada para a medida exemplar que será
determinada para um dos genitores. Não se pode desconsiderar que, em casos nos
quais haja forte ligação com um dos genitores, a decisão de inverter a guarda, ou de
proibir esse genitor de ver a criança durante período de tempo estipulado em
sentença judicial, ou mesmo de lhe retirar o poder familiar, pode trazer intensos
sofrimentos para a criança.

A visão da referida autora diz respeito a uma preocupação maior pela lei em impor
sanções, invés de promover medidas efetivas para a proteção da criança ou adolescente que é
a principal vítima dessa situação. Consoante, Vieira (2005, s/n) também acredita que “o
legislador, portanto, ignorou qualquer papel preventivo à Alienação Parental que as equipes
interdisciplinares poderiam ter, preferindo crer que a punição por si só seria capaz de acabar
com a AP”.
Referente ao inciso VII leciona Leite (2016, s/n) que “O alienador perde a guarda do
filho e o legislador primeiro suspende a autoridade parental, e caso haja reincidência, ela é
rompida definitivamente. Essa é uma medida bem mais grave, que ocorre em um estágio
gravíssimo de alienação parental". Pode-se também considerar uma medida grave, os incisos
V e VI, pois a intenção do legislador é afastar o genitor alienante do filho alienado,
resguardando os seus direitos.
Quanto ao inciso V, aduz Hugo, Pires e Coelho (2011, p.192) “dá notável efetividade
ao instituto da guarda compartilhada, e, por ser o grande temor do ente alienador, tende a
desestimulá-lo a praticar atos de alienação parental”.
No que se refere ao inciso VI que dispõe sobre alteração cautelar do domicilio da
criança ou adolescente, leciona Hugo, Pires e Coelho (2011, p.192) que tem como “intuito de
evitar mudanças abruptas de endereço com fins exclusivos de afastar a prole do ente
alienado”. Dessa forma, é possível perceber uma preocupação do legislador em manter o ente
41

alienado próximo da criança, visto que esse ente também é uma vítima e merece ter seus
direitos resguardados assim como a criança ou adolescente.
A respeito da necessidade da atuação da equipe multidisciplinar, acredita Vieira
(2005) que o propósito é voltado para um viés punitivo dos genitores invés de objetivar o
diagnóstico do ato de AP para que sejam tomadas as melhores medidas adequadas ao caso,
resguardando o melhor interesse da criança e do adolescente.
No que tange as consequências que o ato de AP pode gerar Madaleno apud Madaleno
(2018, p. 123) aduz que:

Uma criança vítima de falsas alegações de abuso sexual corre riscos similares aos de
uma que realmente sofreu essa violência, ou seja, estão igualmente sujeitas a
apresentar algum tipo de patologia grave nas esferas afetiva, psicológica e social.

Isso ocorre porque a mentira contada pelo alienador acaba tornando verdade na cabeça
da criança, não sabendo ela, distinguir de fato a realidade da ficção. No que tange a falsas
denúncias, de acordo com Araújo (2013, p.32):

Essas denúncias, face à gravidade do ato imputado, fazem com que, em regra, o
Ministério Público opine pela restrição/supressão da visitação pelo suposto
abusador, opinião essa adotada pelo Magistrado, utilizando-se o poder geral de
cautela. Entende-se que a restrição da convivência, in limine, é menos gravosa que a
possibilidade de exposição da criança/ adolescente à prática de conduta tão nefasta.

Ante o exposto, é de salutar a importância ao considerar-se a posição do autor, quando


aduz sobre a aplicação da restrição de convivência ao abusador para evitar maiores danos
futuros à criança. Segundo ele, entre manter o menor sobre a tutela do suposto abusador e seu
afastamento, esta última medida resta menos gravosa, uma vez que aumenta a proteção contra
abusos até que as denúncias sejam plenamente verificadas.
É possível que haja responsabilização no âmbito penal pelo crime de falsas denúncias,
principalmente no que tange as de abuso sexual que vem ocorrendo de maneira
indiscriminada. Segundo Madaleno e Madaleno (2018), essa responsabilização também
abrange os crimes de calunias e até mesmo a desobediência judicial principalmente em casos
de descumprimento das visitas quando estipuladas pelo judiciário.
Ainda sobre responsabilizações, no que tange a diferentes níveis de Alienação,
lecionam Madaleno e Madaleno, (2018, p. 124):

Richard Gardner propõe que, nos casos leves de alienação, o juiz simplesmente
reafirme as visitas do alienado, assegurando que elas ocorram sem percalços e
42

qualquer solução de continuidade, sendo um bom mecanismo para a efetividade da


medida a aplicação de multas pecuniárias, as astreintes previstas na lei processual
(arts. 296 e 538 do CPC – não havendo no CPC/2015 artigo correspondente ao 287
do CPC/1973) e no art. 213 do Estatuto da Criança e doAdolescente.
Nos casos considerados moderados Richard Gardner sugere o tratamento com
terapeuta que tenha acesso ao juiz e que haja postura judicial na hipótese de
desobediência. A submissão compulsória à terapia psicológica sob a supervisão
judicial é medida que se impõe como forma radical de buscar estancar os efeitos de
uma alienação que se encontra em franca expansão e prescinde de uma enérgica
determinação judicial, igualmente fiscalizada pelo julgador que deve receber
relatórios do profissional por ele indicado, podendo o magistrado, além disso, impor
multa pecuniária em caso de desobediência, ou ordenar alternativas declinadas nos
incisos do art. 6.º da Lei 12.318/2010.

O autor sugere que o juiz analise a gradação de cada caso diagnosticado de alienação,
de modo a tratar, de maneira mais personalizada, cada grupo de genitores alienantes,
propondo medidas próprias conforme o caso e o grau de Alienação demonstrado pela perícia
especializada.
Sobre a multa, o entendimento de Araújo (2013, p. 31) é que:

A multa prevista no art. 6º, III, da LAP aproxima-se em natureza daquela do art. 461,
§ 4º, do CPC. Sabe-se que o objetivo das astreintes não é obrigar o réu a pagar o
valor da multa, mas obrigá-lo a cumprir a obrigação na forma específica, no caso,
deixar de praticar o ato de alienação. Trata-se de multa inibitória, vale dizer, o
genitor-alienador deve sentir ser preferível cumprir a obrigação negativa na forma
específica a pagar a multa.

A multa tem como objetivo compelir o genitor alienante a cumprir medidas que lhe
foram impostas, acredita o autor que a multa é educativa, pois, a probabilidade em preferir
cumprir as obrigações negativas a pagar a multa é grande.
Logo, entende-se que quando se tem aplicação de uma penalidade pecuniária, as
chances de reincidência em transgressões se reduzem significativamente. No entendimento de
Madaleno e Madaleno (2018), a premissa desse argumento é que a constrição patrimonial é
menos danosa que a utilização de força para estabilizar a situação que fora transgredida.
Sob mesma ótica, Gallardo apud Madaleno e Madaleno (2018) defende que o valor da
multa deve ser aplicado coativamente de modo a desestimular o alienante, sendo capaz de
atingir seu fim pretendido, devendo o magistrado sopesar a fixação de acordo com a
gravidade da transgressão cometida e a capacidade econômica do progenitor descumpridor.
Referente à AP, no caso concreto, expõe Sousa e Brito (2011, p. 277) que:

No cenário nacional, disputas pela guarda de filhos de pais separados com


frequência são noticiadas pela mídia devido aos inusitados, e por vezes trágicos,
rumos e desfechos que se observam. Apesar da recente promulgação da lei sobre
43

alienação parental, já se identificam não só sentenças judiciais como também


jurisprudência baseadas em processos litigiosos avaliados como situações de SAP
(Barbosa, 2010). Em julho de 2010, alcançou grande destaque na mídia o caso de
uma menina de 5 anos de idade que teve a guarda invertida em favor do pai, ao
mesmo tempo em que foi impedido qualquer contato entre mãe e filha pelo período
de noventa dias. Embora fosse uma criança saudável, como garantiu seu pediatra, a
menina veio a falecer após sucessivas internações hospitalares ao longo do primeiro
mês em que esteve sob a guarda do pai. Ao serem identificados ferimentos e
luxações no corpo da criança, foi levantada a suspeita de maus-tratos por parte do
pai guardião (Lima, 2010). Conforme matéria publicada em revista de grande
circulação nacional (Lobato, 2010), a juíza responsável pelo caso teria baseado sua
decisão em laudo psicológico, o qual concluíra que a criança estaria sendo vítima de
alienação parental.

Segundo Sousa e Brito (2011), o caso permaneceu por algum tempo na mídia e com
isso surgiram diversas indagações a cerca do caso sobre quem seriam os culpados de tal
tragédia. É por isso a importância da atuação de psicólogos especializados na área para
desvendar os casos da SAP. Para que erros como esse, não sejam cometidos, pois a principal
vítima e a parte mais vulnerável dessa situação é a criança, que necessita de proteção para que
seus direitos fundamentais sejam resguardados contra aqueles que ousam a feri-los.
Sob mesmo sentido, Sousa e Brito (2011), reforçam sobre a necessidade fundamental
da participação dos psicólogos nos casos da SAP, considerando que depende do diagnóstico
para a aplicação das sanções estatais previstas.
Sobre a atuação dos psicólogos, argumentam Sousa e Brito (2011, p. 280) que:

Considera-se, ainda, que a atuação desse profissional em tal contexto segue em


sentido contrário ao que dispõe o Código de Ética Profissional do Psicólogo
(2005), que orienta que o psicólogo, em sua atuação, deve analisar crítica e
historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. De forma
semelhante, a Resolução nº 007/2003 do CFP determina que os profissionais, ao
produzirem documentos escritos provenientes de suas avaliações, se baseiem
exclusivamente em instrumentais próprios de sua área de conhecimento,
orientação que pode ser desconsiderada ao se cumprir o § 1º, do art. 5º, da lei
sobre a alienação parental, o qual lista distintos instrumentos a serem levados em
consideração na elaboração do laudo pericial.

O referido artigo que a autora critica diz respeito ao laudo pericial, que além de ter
base em avaliação psicológica e biopsicossocial de acordo com o caso, entre outros
instrumentos, também é devido o exame de documentos dos autos. Função essa que causa
divergência para a autora, pois essa função seria a de advogados ou até mesmo de
investigadores, divergindo, das diretrizes emitidas pelo Conselho Federal de Psicologia e da
Resolução de numero 007/2003.
44

Assim, conforme o exposto seria necessário mais de um profissional para a elaboração


de um laudo apropriado, uma vez que determinadas ações não se encontram no âmbito de
competência de um psicólogo, necessitando de profissionais de outras áreas para uma
complementação mais adequada de um laudo técnico. Dessa maneira, ter-se-ia um parecer
mais sólido e com maior clareza acerca dos fatos que se apresentem concretamente.
45

4 AUTOALIENAÇÃO PARENTAL

4.1 Conceito de Autoalienação parental e seus desdobramentos

Assim como AP, a Autoalienação parental ou AP autoinfligida, ocasiona danos que


podem ser irreversíveis à criança ou adolescente. Em ambos os casos o exercício da
autoridade parental é realizada de forma abusiva, de uma maneira que venha a prejudicar o
desenvolvimento físico e psíquico da criança.
Segundo Leal (2017, p.8), o termo Autoalienação Parental surgiu através de discussões
doutrinárias. “O advogado e professor Rolf Madaleno foi o pioneiro no reconhecimento dessa
prática como uma forma de violação aos direitos dos infantes.”
No que tange a definição do conceito de Alienação autoinfligida, leciona Ramos
(2018, s/n) que:

Alienação autoinfligida ou autoalienação parental se dá quando o próprio progenitor


alienado provoca o afastamento do filho, tratando-o de maneira impolida, com
crueldade, de forma desumana, projetando para criança ou adolescente o sentimento
de culpa que carrega por não participar do desenvolvimento e do processo de criação
dos filhos.

Pelo exposto, entende-se como Alienação autoinfligida, o distanciamento de vínculos


da prole com o genitor. O ato se dá pelo próprio genitor que se diz alienado. Nessa situação,
não há de se atribuir culpa a terceiro, seja ele cônjuge ou outro par parental como acontece na
AP. Na autoalienação a própria conduta do genitor possui o condão de afastar a prole de si.
Assevera Marques e Salzano (2018) que os efeitos causados pela AP quanto pela
autoalienação são graves, podendo os efeitos gerados pela autoalienação serem mais graves
que na própria AP. Os autores chamam atenção para a diferença de efeitos entre as alienações,
explanam que na AP subsiste o desejo de retomada de vínculo pelo genitor alienado, enquanto
na própria autoalienação isso não ocorre. O autoalienante não consegue enxergar que foram as
consequências dos seus próprios atos que causaram distanciamento da prole, colocando a
culpa no outro genitor.
Defendem Madaleno e Madaleno (2017), que há possibilidade da autoalienação
parental ocorrer em casos em que o genitor não detenha a guarda dos filhos. Os autores
esclarecem que com a dissolução do casamento, um dos progenitores não aceita de maneira
pacífica o fim da relação conjugal, nutrindo sentimentos de vingança contra o outro. Nesse
caso ocorre uma obsessão tão grande no ex-companheiro (a) da relação que o genitor alienado
46

não consegue perceber que os seus atos atingem o seu filho de maneira negativa, ocasionando
o seu afastamento.
Nesse sentido, aduz Ramos (2018, s/n) que o autoalienador se afasta dos filhos
projetando a culpa desse afastamento no outro genitor, se fazendo de vítima. “Acredita que
sua imagem e de seus familiares estão sendo maculadas pelo outro genitor”. Nota-se que o
causador da própria alienação não tem noção de que a culpa é exclusivamente dele. Aduz
Regis (2019, s/n) que “invés de reconhecer a sua contribuição para a situação, este pai/mãe
deduz que este afastamento seria fruto de alienação materna/paterna e não do seu próprio
comportamento desagradável”.
Sob mesma perspectiva, quando há o rompimento de uma relação conjugal e surge
uma nova figura no seio familiar, como, por exemplo, uma madrasta, há grande possibilidade
de que nesse momento a prole não tenha um amadurecimento adequado diante a situação a
fim de que se compreenda a nova relação do pai com outrem. Nesse contexto, Madaleno e
Madaleno (2017, p.180) explana que:

Nessa situação em que os filhos se recusam a conviver com a madrasta que foi pivô
da separação de seus pais, o varão tende a acusar sua ex-mulher pela prática de
alienação parental, pois ela estaria afastando os filhos de sua convivência. Ao acusar
sua ex-mulher da realização de alienação parental, não se apercebe de considerar,
em primeiro lugar, a possível e sincera vontade dos filhos e assim passa ao largo dos
superiores interesses dos menores, obcecado por enxergar uma alienação materna
por ele equivocadamente identificada na falta de disposição da sua prole conviver
com a nova família por ele velozmente constituída. Reconhecer a diferença entre
uma alienação maliciosa e uma decisão real e motivada de os filhos buscarem certa
distância do novo affair do pai apresenta-se como uma séria deficiência do genitor
dos menores, aos quais acusa de terem sido dele alienados, quando nesse exemplo
de autoalienação é o próprio pai quem erroneamente toma atitudes em relação aos
seus rebentos, expressando agravos contra a mãe deles e dando aos próprios filhos
motivos para eles se afastarem do progenitor e rejeitarem qualquer interação com a
atual companheira do pai.

No excerto acima, o autor visa esclarecer como pode ocorrer uma situação de
autoalienação pelo próprio pai. No exemplo dado, a autoalienação é percebida quando o
genitor se afasta da própria família e dos filhos, inicia um novo relacionamento em curto
período e não observa a capacidade da criança para compreender a nova situação na qual está
sendo forçada a se inserir. Diante da recusa, o genitor passa a crer que a criança está se
afastando dele não pela conduta irresponsável que assumiu perante o filho, mas pelo
induzimento da mãe da criança.
Corroborando este entendimento, temos em Madaleno e Madaleno (2017) que o
elemento diagnóstico da autoalienação é a própria rejeição dos filhos em conviverem, ainda
47

que inicialmente, com uma nova família constituída pelo pai com outra mulher e seus filhos.
Porém, deve ser levada em consideração à própria vontade da criança em não desejar essa
convivência, de maneira consciente e livre de interferências, o que descaracteriza a alienação
parental. A própria incapacidade do genitor em se organizar perante a mudança familiar que
provocou é que invoca a autoalienação.
Nesse sentido, Regis (2019, s/n):

Infelizmente, como os homens são socializados na cultura da culpabilização e


responsabilização materna por qualquer comportamento infantil que escape ao que
se considera ideal ou frustre suas expectativas, o recurso mais fácil - e que os
mantém na posição de não assumirem suas falhas - é acusar a ex-companheira de
alienação parental, posando de injustiçado.

Parte da criação dos filhos, sobretudo dos homens, passa por uma máxima de
infalibilidade, aquele que não erra e que está sempre com a razão, ocultando seus sentimentos
em prol de uma imagem de virilidade. Isso se reflete quando esse homem adulto passa por
uma separação e ao não conseguir lidar com seus sentimentos, incluindo a culpa em relação
aos filhos, acaba a atribuindo-a a outrem. Por acreditar não ter culpa no afastamento dos
filhos, remete a culpa à sua ex-companheira, intentando por uma vitimização sua, enquanto
coloca a genitora como alienante dos filhos.
Conforme Leal (2017, p.56) também está presente na autoalienação “uma postura
invasiva e autoritária do genitor” para com os filhos. Conforme a autora, o genitor espelha
determinado tipo de comportamento na prole colocando todas as suas expectativas para que
aconteça exatamente como desejado. O alienante “não aceita que ela adote comportamento
diverso do esperado”. A criança nessa situação é tida como um objeto pertencente dos pais,
tendo o exercício de seus direitos violados.
Preceitua a Lei 8069/1990 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que
crianças e adolescentes são sujeitos de direitos. Dessa forma, o Estado buscou tutelar os
direitos da criança e adolescente não só na Lei 8069/1990, como também na Constituição
Federal que dispõe em seu artigo 227, que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL
1988)
48

Sendo dever de todos assegurar à criança, ao adolescente o direito à vida, dignidade,


respeito, à liberdade e à convivência familiar, fica evidente que os atos de Autoalienação
Parental viola esses direitos preceituados na CRFB, pois, a criança é utilizada como mero
objeto dos pais que se utiliza de opressão e violência para moldar a criança conforme suas
vontades.
Segundo Ramos (2018, s/n) há algumas características da autoalienação que estão
presentes no alienador, como por exemplo, violência, agressividade e o desprezo. “Na ânsia
de atingir o genitor que detém a guarda dos filhos, o autoalienador parental não consegue
avaliar o sofrimento e o prejuízo psíquico que está causando aos filhos”.
Assim, conforme ensina Leal (2017), o estranhamento gerado nos filhos, que os leva
ao afastamento, advém da própria mudança comportamental do pai, que muitas vezes revela-
se agressivo e indiferente em relação aos próprios filhos, acreditando que estão sob abuso
psíquico da ex-companheira.
Prosseguindo em seus ensinamentos, aduz Leal (2017. p. 56) que:

O psicanalista Sérgio Nick aponta algumas situações de autoalienação parental, que


podem ocorrer em circunstâncias diversas, como no caso do genitor agressivo, que
trata os filhos de forma inadequada ou violenta, do genitor deprimido, triste e
apático, que não possui condições de cuidar de ninguém e projeta no outro as
dificuldades de lidar com a prole, do genitor ciumento, que sente ciúmes da nova
relação do ex-cônjuge, e do genitor perverso, com personalidade psicopática, que
tenta se valer das preocupações e dos sentimentos dos outros em benefício próprio.

Em sua obra o autor pondera sobre algumas espécies de abusadores, quais sejam
classificados segundo suas características, observados quando de sua interação danosa e
abusiva com seus próprios filhos e com seus ex-companheiros.
Um dos efeitos mais comuns de serem observados na relação parental é a rejeição que
os filhos sentem quando defrontam com uma separação do casal. Rohner (2012 apud Leal
2017, p.58) tece considerações importantes a esse respeito. Assim, extrai-se o trecho abaixo:

O professor Ronald Rohner tem analisado os efeitos da rejeição materna e paterna


para o filho, apontando que, quando as crianças se sentem rejeitadas ou mal-amadas
pelo pai ou pela mãe, ficam mais sujeitas a se tornarem pessoas hostis, agressivas e
emocionalmente instáveis, com baixa autoestima, sensação de inadequação e
pessimismo. Problemas de comportamento, depressão e abuso também estão
relacionados à rejeição familiar. Em estudo feito com Abdul Khaleque, Rohner
destaca como os seres humanos possuem a necessidade de um retorno positivo das
pessoas que lhes são importantes, e como essa necessidade se reflete, durante a
infância, no amor, cuidado, afeto e suporte parental. Na ausência desses elementos,
o indivíduo pode desenvolver a sensação de que ele não merece ser amado ou que
ele não é bom em satisfazer as expectativas alheias, o que gera o aumento da
incidência de sentimentos negativos.
49

Dos estudos apresentados, é importante se analisar os impactos psicológicos que a


rejeição possa causar em uma criança envolvida na relação parental conflituosa. Seus
pensamentos, ações e sentimentos são condicionados ao seu modo de criação e convivência.
Se esta se pauta por descaso, rejeição e abandono, as propriedades psicológicas da criança se
desenvolverão fora de um padrão normal do que se espera. Dessa forma, a criança rejeitada se
tornará um adulto com a psique deturpada.
Complementando o entendimento sobre danos causados à criança, extrai-se dos
estudos de Schreiber e Torres apud Madaleno e Madaleno (2017, p. 106)

Elisabeth Schreiber e Renata Torres da Costa Mangueira descrevem como maus-


tratos o abuso psicológico de expor uma criança ou adolescente a situações de
humilhação e de constrangimento por meio de agressões verbais, ameaças,
cobranças e punições exageradas, além de impedi-la de estabelecer com outros
adultos uma relação de confiança. A alienação parental pode estar perfeitamente
enquadrada nessa série de abusos psicológicos causados consciente ou
inconscientemente por um pai. A prática demonstra que os indicadores mais graves
de dano psíquico aos filhos menores advêm do manejo inadequado da separação dos
pais, os quais deveriam formar uma barreira de proteção para seus filhos diante de
seus conflitos pessoais e de suas sequelas conjugais.

O que os pesquisadores desejaram foi solidificar o entendimento de que os maus tratos


à criança constituem um aspecto amplo, dos quais fazem parte as diversas formas de abuso
psicológico. Dentro desta última pode se enquadrar a alienação parental praticada contra os
filhos, mesmo que de maneira inconsciente.
Em síntese, leciona Leal (2017, p.59) que “é importante ressaltar que, embora a
alienação parental e a autoalienação parental sejam analisadas sob a ótica da separação ou
divórcio dos pais, esse tipo de prática pode se dar, também, na família nuclear.”
Conforme exposto, saliente-se que ambas as formas de AP e autoalienação, constituem
em grave prejuízo à criança. Porém é necessário que se observe também que sua ocorrência
pode se dar tanto na constância do casamento dos pais, quanto do divórcio, embora esta seja a
mais comum. Dentro desta ótica, aduz Leal (2017) que também é necessário estender mais a
situação para quadros excepcionais, como no caso das famílias extensas e ampliadas.
Conforme Leal (2017, p.59) “em muitos casos, os tios e os avós, por exemplo,
exercem uma influência tão grande sobre a criança, atuando como cuidadores primários, que
podem desencadear um quadro de alienação ou de autoalienação.”
As situações narradas neste tópico devem ser observadas sob o ponto de vista do
interesse da criança envolvida. Deve-se sempre tutelar seu melhor interesse para que se
50

garanta um desenvolvimento pleno e sadio. Do contrário, incorre-se no risco de que sequelas


gravíssimas sejam conferidas aos que deveriam estar sendo amparados.

4.2. Princípio do Melhor Interesse da criança e do adolescente: aplicação do respeito e


autonomia dos filhos

A CRFB/88 assegurou os direitos das crianças e dos adolescentes, rompendo com a


visão de que as crianças e adolescentes eram mero objeto dos pais. Agora no ordenamento
jurídico ambos são considerados sujeitos de direitos.
Leciona Soares (2017) que vigorava no Brasil a doutrina Penal do Menor, conhecida
como Doutrina da Situação Irregular. Essa doutrina excluía os direitos das crianças
delinquentes sendo que na maioria dos casos a delinquência se dava por consequência da
situação socioeconômica do infante. Em conformidade com o autor supracitado, Holanda
(2012) assevera que “Os jovens não eram tratados como sujeitos de direitos, mas sim objeto
de medidas judiciais”.
A CRFB trouxe em seu artigo 227 o princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente, no qual busca assegurar os seus direitos, além de listar medidas a serem tomadas
para a concretização destes pelo Estado através de políticas sociais.
Sobre a definição do Principio do melhor interesse da criança, leciona Pereira (2016)
que, o que é considerado melhor para a criança não é algo fixo, acabado. Pode, portanto,
estar sujeito a variações conforme o ambiente no qual essa criança tenha sido criada.
Nesse sentido aduz Lapa (2015, s/n) que:

Logo, sendo decorrência lógica desse princípio, e em respeito à pessoa em


desenvolvimento, os casos envolvendo alienação parental devem ser tratados com
cautela, sobretudo na averiguação da veracidade das afirmações, posto que o
egoísmo que toma os genitores em tais situações não lhes permite enxergar os
danos causados à sua prole.

De acordo com o exposto, quando de uma lide entre os genitores, o que estes buscam
tutelar são seus próprios interesses, tratando com egoísmo sua relação com a criança. A falta
de cautela com a observância dos interesses dos menores cega os genitores, tornando-os
incapazes de perceber os prejuízos que causam.
Nesse sentido, aduz Soares (2017, p. 177) que:
51

A própria promulgação da Constituição Federal de 1988 e seu avanço no que


concerne aos direitos dos infantes, ensejava uma nova postura em relação a temática,
tomando-se necessário, como Pontuou Angotti (1991), que um novo estatuto social
fosse desenhado para o cotidiano. Nesse sentido, a inclusão do artigo 227 na
Constituição Federal, além de ter sido baseado nos postulados da Declaração
Universal dos direitos da Criança, constituiu-se em fundamento para a elaboração do
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), o qual rompeu com os antigos
paradigmas infraconstitucionais da Doutrina da Situação Irregular, descendo a
minúcias nos direitos e garantias dos infantes, já evidenciados na Carta Magna
(RIZZINI; PILOTTI, 2009)

O surgimento do ECA se deu através da CRFB/88, que foi o principal marco jurídico
que pôs fim a doutrina da situação irregular de crianças e adolescentes. De acordo com
Marques (2011, s/n) o ECA “se sustenta em dois pilares: a concepção da criança e do
adolescente como sujeitos de direitos e a afirmação da sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento”.
Dispõe o artigo 2º do ECA que, “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade”. (BRASIL 1990)
Leciona Guilhermano (2012, p.9) sobre o ECA que:

O ECA é constituído por 267 artigos feitos para resguardar os interesses e direitos
dos menores, contudo ele não contém algumas situações ainda mais particulares em
que os mesmos devem ser amparados. Um desses casos [...] é o do menor vítima da
Alienação Parental, para o qual foi feita uma lei específica, em 2010, que
caracteriza, protege e aponta medidas a serem tomadas quando a mesma ocorre.

Paralelamente, Teixeira e Rodrigues apud Leal (2017,p. 63), acreditam que o


ordenamento jurídico Brasileiro, já possuía em suas codificações medidas apropriadas para
combater e amenizar os atos de AP, resguardando o melhor interesse da criança e do
adolescente. Abrangendo “desde a previsão do abuso do direito como ato ilícito funcional até
medidas mais gravosas como a suspensão e destituição da autoridade parental".
Pontua Leal (2017) que apesar de existir proteção específica para AP e não para
Autoalienação, é necessário se utilizar dos meios existentes no ordenamento jurídico para o
combate dessa prática que ainda não está prevista.
Em consonância, Calderón apud Leal (2017) defende que é necessária uma
flexibilidade do direito já que a sociedade está em constante modificação. Seria necessário
que o direito evoluísse junto à sociedade, porém essa evolução não ocorre de maneira
imediata, dessa forma defende o autor que é necessário uma adequação e flexibilização das
52

normas existentes para aplicação aos novos casos que vierem a surgir, assegurando dessa
forma que direitos não sejam violados.
Nesse sentido, de acordo com Leal (2017, p. 63):

O papel desempenhado pela doutrina e pela jurisprudência se enquadra justamente


nesse contexto de adaptação das normas jurídicas aos novos contextos e realidades.
E, nesse sentido, verifica-se a valorização do papel dos princípios para o processo de
interpretação das normas jurídicas e para a ponderação entre os valores conflitantes
no caso concreto.

A prática da AP e da Autoalienação é uma violação ao direito da dignidade humana,


bem como a outros direitos básicos da criança e do adolescente como também dos princípios
constitucionais tutelados, pois, a execução desse ato é capaz de gerar consequências
psicológicas graves e até mesmo irreversíveis, prejudicando o seu desenvolvimento físico e
psíquico.
Nessa perspectiva, dispõe o ECA, em seu artigo 17 que, “o direito ao respeito consiste
na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais”. (BRASIL 1990)
A esse respeito, complementa Nunes apud Cunha (2009, s/n) que, "a dignidade nasce
com a pessoa, é inata e inerente à sua essência. O indivíduo nasce com integridade física e
psíquica, cresce e vive no meio social, e tudo o que o compõe tem que ser respeitado".
A dignidade da pessoa humana recebe proteção constitucional por ser um direito
fundamental do ser humano. Nesse sentido, Sarlet apud Santana (2010, s/n) explana que:

Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada


ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do
Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais
mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação
ativa co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos
demais seres humanos.

Tem-se que dignidade é algo inerente à pessoa humana, que o faz merecer respeito e
adequado tratamento, com respeito às suas limitações. Assim, a dignidade da pessoa humana
pressupõe a existência de um conjunto de direitos e deveres que devem ser assegurados pelo
Estado, bem como devem ser promovidos e incentivados pela comunidade em que o
indivíduo se encontra inserido.
53

No que tange ao princípio da dignidade humana, aduz Guilhermano (2012, p.8) que:

No ordenamento jurídico brasileiro este princípio está previsto na Constituição


Federal de 1988 no seu art. 1º, III, estando intimamente ligado a outro princípio
constitucional atingido pela SAP, o do melhor interesse da criança e do adolescente.
Os menores são considerados seres em desenvolvimento, porém têm a mesma
condição de “pessoa” como qualquer outro ser humano, apenas estando em uma
situação peculiar, pois ainda não têm a capacidade necessária para responder por si.

Trata-se de fazer uma análise conjunta dos princípios que são fundamentais às pessoas
em desenvolvimento. Estas não podem ser discriminadas em virtude de sua condição peculiar
e transitória, qual seja sua situação etária. Mesmo que ainda não detenham capacidade para
responderem plenamente por si, os direitos fundamentais conferidos pelos princípios da
dignidade humana e do melhor interesse da criança não devem ser dissociados.
Alinhando-se à corrente que defende maior respeito às pessoas em desenvolvimento,
Sottomayor apud Leal (2017, p. 64):

[..] defende uma concepção personalista das responsabilidades parentais, através da


qual a criança é considerada não apenas como sujeito de direito susceptível de ser
titular de relações jurídicas, mas como uma pessoa dotada de sentimentos,
necessidades e emoções, a quem é reconhecido um espaço de autonomia e de auto-
determinação, de acordo com sua maturidade.

Corroborando os entendimentos dos autores traduzidos neste trabalho, tem-se em Leal


(2017) que a efetivação dos direitos dos menores se encontra também no direito à livre
expressão, qual seja o respeito à sua voz, ao seu direito de ser ouvido, de ter suas opiniões
consideradas, assim como preceitua o ordenamento jurídico brasileiro, com ênfase no ECA.
Em um julgamento de Habeas Corpus referente à guarda e direito de escolha, o
Ministro Marco Aurélio, salientou o seguinte entendimento¹ reforçando a ideia de que
crianças e adolescentes possuem direito a serem ouvidos:

“As paixões condenáveis dos genitores, decorrentes do término litigioso da


sociedade conjugal, não podem envolver os filhos menores, com prejuízo dos
valores que lhes são assegurados constitucionalmente. Em idade viabilizadora de
razoável compreensão dos conturbados caminhos da vida, assiste-lhes o direito de
serem ouvidos e de terem as opiniões consideradas quanto à permanência nesta ou
naquela localidade, neste ou naquele meio familiar, ao fim e, por conseqüência, de
permanecerem na companhia deste ou daquele ascendente, uma vez inexistam
1
motivos morais que afastem a razoabilidade da definição.”
(BRASIL - STF - 2ª T. – publ. no DJ de 20- 11-92 - HC 69.303-2-MG - Rel. desig.
Marco Aurélio).

1
Disponível em: < https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14708870/habeas-corpus-hc-69303-mg>
54

Segundo Sottomayor apud Leal (2017), ser ouvido e respeitado constituem direitos do
menor, que são provenientes do princípio do melhor interesse da criança. Entende a autora
que, a indeterminação do que seria o melhor interesse para a criança, não pode se transformar
em uma ferramenta para formar o livre convencimento do julgador. Assim, deve ser
observado o que preceitua o ordenamento jurídico e a análise formulada pelos auxiliares da
justiça, dando voz ao menor quanto às suas manifestações.
O respeito e a efetiva proteção aos direitos dos menores são imprescindíveis para que
o fenômeno da autoalienação parental seja aplacado. É o primeiro passo no sentido da
evolução do pensamento jurídico na conferência do direito de se expressar e ser ouvido ao
menor. Há uma pretensão de se conter os abusos psicológicos praticados contra os menores
pelos pais que se encontra resistida, pois, pouco se discute sobre o que é melhor para o
interesse do menor sobre seu próprio ponto de vista.
Assim, é necessária uma mudança de foco quanto aos interesses a serem tutelados. Se
a lide envolve o menor, sua manifestação de vontade também será plenamente válida, vez que
será afetado pela lide. Logo, deverá fazer parte do conjunto probatório, juntamente com as
análises produzidas pelos auxiliares judiciais.

4.3. Críticas à Alienação parental e inclusão da Autoalienação no ordenamento jurídico

Pelas inúmeras controvérsias existentes em torno da Lei de AP, de acordo com


Baptista (2019) há em tramitação um projeto de Lei do Senado que prevê sua revogação,
conhecido como PLS 498/18.
Os argumentos utilizados pelos defensores da revogação é que nos casos em que a mãe
denuncia as práticas de abuso sexual, o pai em defesa alega atos de AP para dissimular o
crime cometido. Além disso, os favoráveis a revogação asseveram que após os processos
judiciais as crianças têm sido retiradas das mães que denunciaram o abuso e entregues a
guarda do abusador, dessa forma os direitos e garantias fundamentais da criança e do
adolescente continuam sendo feridos. Essa é a fundamentação utilizada para a revogação da
Lei 12.138/10, que segundo Machado (2018, s/n) “a proposta tramita em caráter conclusivo e
será analisada pelas comissões de Seguridade Social e Família; e de Constituição e Justiça e
de Cidadania”.
È importante destacar que a AP e Autoalienação Parental não se confundem. Enquanto
a AP é provocada por um dos genitores com a intenção de atingir o outro, provocando ódio e
repúdio pela criança, ou ao adolescente, contra o genitor alienado sem justificativa alguma, a
55

autoalienação Parental é feita pelo próprio genitor que pratica atos, consciente ou
inconscientemente, afastando a sua própria prole de si mesmo.
Assim como a AP, a Autoalienação Parental é um ato complexo, sendo difícil sua
comprovação. Dessa forma é necessário atuação de profissionais capacitados na área para
identificar a prática desse ato, pois as consequências geradas à criança e ao adolescente
podem ser de natureza gravíssima.
Observa-se que a Lei 12.318/10 trata apenas da AP, não estando incluídos os atos de
Autoalienação. Dessa forma defende Leal (2015) que por não existir o reconhecimento
jurídico da autoalienação, há uma maior possibilidade dos tribunais nesses casos atribuir ao
outro a prática desse ato de maneira totalmente equivocada, ficando a criança a mercê do real
alienador.
Neste contexto, aduz Leal (2017) que a temática da Autoalienação Parental é pouco
discutida tendo pouquíssimas decisões judiciais que apontam essa prática. Dessa forma um
grande passo a ser tomado para um maior reconhecimento, defende a autora que seria a
alteração legal do dispositivo, trazendo uma maior publicidade sobre a existência dessa
prática a sociedade. Sendo assim propõe Leal (2017) a inclusão da autoalienação parental na
lei 12.318/10.
Apesar da AP e a Autoalienação Parental serem atos distintos, as consequências
geradas pelas práticas são as mesmas e as principais vítimas dessa situação é a parte mais
vulnerável, que são as crianças e adolescentes.
A prática de ambos os atos ferem direitos e garantias fundamentais, principalmente a
convivência familiar saudável além de afetar também a sua formação de valores e sua visão
acerca de suas relações familiares, assim como sua relação com outros membros que não são
componentes de sua família.
Embora Leal (2017) defenda a inclusão da autoalienação parental no sistema jurídico,
acredita a autora que essa inclusão por si só não seria efetiva para garantia dos direitos da
criança e do adolescente, porém seria um grande avanço, pois, a temática alcançaria uma
maior visibilidade perante a sociedade e consequentemente os debates acerca do assunto
seriam estimulados, dessa forma, haveria uma contribuição positiva para que não houvesse
aplicação errônea da Lei 12.318/10 em casos que envolvam autoalienação parental.
Nesse sentido acrescenta Leal (2017, p.91) “[...] é preciso dar esse passo à frente, para
que o combate à alienação parental não se torne, por si, uma forma de alienação parental
provocada pelo próprio Poder Judiciário.”
56

Hodiernamente, há inúmeras controvérsias em torno da Lei 12.318/10 que visa


proteger crianças e adolescentes contra atos de AP. De um lado há denúncias de abuso sexual
contra o progenitor a prole, por outro lado, há alegações de que atos de alienação parental
estão sendo praticados a ponto de incluir invenção de falso abuso sexual. É difícil identificar
veracidade nesses casos, o fato é que a Lei de alienação parental vem sendo utilizada de
maneira equivocada pelas partes.
A autoalienação parental ou alienação autoinfligida muitas vezes é confundida com a
própria AP, por ser uma prática pouco conhecida. A incidência da autoalienação parental é
muito grande e na maioria das vezes o autoalienador não tem consciência de que seus próprios
atos geram o afastamento da prole, culpabilizando o outro.
Portanto, apesar da autoalienação não ser reconhecida juridicamente, a possibilidade
da inclusão de tal ato na Lei 12.318/10, seria de suma importância para que se evitem
decisões errôneas pelo judiciário, assegurando dessa forma os direitos e garantias
fundamentais da criança e do adolescente.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo a análise acerca da aplicação da Lei 12.318/10
conhecida como Lei de Alienação Parental.
Primeiramente realizou-se a definição do conceito de Alienação Parental e suas
diferenças, além das transformações do conceito de Família e Poder Familiar.
Ao compreender a perspectiva histórica do conceito de Família e Poder Familiar, nota-
se que, com o surgimento do Estatuto da Mulher casada (Lei 4.121/62), a mulher passou a ser
sujeito de direitos além de também poder exercer o poder familiar com a mesma igualdade de
direitos que os homens.
A promulgação da CRFB/1988 conferiu à mulher os mesmos direitos que eram
garantidos aos homens. Além disso, foi possível falar no reconhecimento de diversos núcleos
familiares distintos, que romperam os preconceitos engessados nas épocas anteriores a
CRFB/1988, bem como a correção das disparidades de tratamento que eram conferidos aos
membros da família, principalmente no que tange a filhos havidos fora do casamento. Em
razão dessas transformações, em 1977 foi aprovado a Lei de n° 6.515 que dispunha sobre o
divórcio, com isso a mulher casada poderia dissolver a sociedade conjugal sem qualquer
impedimento.
A AP, na maioria dos casos, se origina da dissolução da sociedade conjugal, devido à
disputa de guarda. Verifica-se que com a ruptura do vínculo afetivo entre os progenitores, na
maioria das vezes, surgem sentimentos de ódio pelo outro e os filhos acabam sendo objeto
dessa relação. Assim sendo, a AP é toda interferência psicológica realizada na criança ou no
adolescente com o objetivo de fazê-la odiar ou repudiar o outro genitor sem justificativa
alguma ocasionando prejuízo ou a quebra do vínculo afetivo entre o genitor e a prole.
Salienta-se que a AP e a SAP não se confundem. Enquanto a primeira decorre de atos
praticados pela figura do alienador, a segunda é consequência da primeira.
No segundo momento, foi abordado sobre a aplicação da Lei de AP, bem como os
desafios da perícia multidisciplinar.
Nota-se por meio das discussões doutrinárias os diversos posicionamentos acerca da
aplicação da lei de AP.
Por um lado há doutrinadores que defendem que a Lei de AP está sendo utilizada
como escudo para abusadores se safarem dos crimes sexuais cometidos contra crianças e
adolescentes, enquanto que por outro lado, há doutrinadores que defendem que a Lei vem
58

sendo utilizada como meio de vingança por um dos genitores com o objetivo de prejudicar o
outro, utilizando-se dos filhos como mero objeto.
Diante disso é mister a atuação de uma equipe multidisciplinar para identificar tais
atos, auxiliando a atuação do Judiciário para amenizar ou cessar desde já os efeitos causados
pela prática da AP.
As consequências geradas pela aplicação da Lei 12.318/10 variam de advertência ao
alienador até a suspensão da autoridade parental, que é a medida mais drástica a ser tomada.
Por fim, foi explanado acerca da Autoalienação Parental e sua inclusão no
ordenamento jurídico, além do Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
Diferentemente da AP a Autoalienação Parental é provocada pelo próprio genitor que
se diz alienado. Na maioria das vezes, inconscientemente pratica atos que possuem o condão
de afastar a própria prole de si. Ainda não há reconhecimento da Autoalienação Parental no
ordenamento jurídico.
A prática da AP e da Autoalienação viola direitos e garantias fundamentais da criança e
do adolescente que são tutelados pelo Estado. As consequências geradas por ato podem ser
irreversíveis, pois há um prejuízo ao desenvolvimento físico e psíquico da criança e do
adolescente, além dos danos emocionais que podem ser causados.
As vítimas da síndrome da Alienação parental têm sido tratadas como mero objeto de
discussão. Há uma preocupação maior na punição para os alienantes, o que é positivo, mas
ainda não há soluções efetivas com vistas à garantia do desenvolvimento saudável de crianças
e adolescentes que são as principais vitimas e sofrem os maiores impactos.
Portanto, chega-se a consideração de que, ainda não se tem um enfoque maior nos
principais afetados dessa síndrome.
A lei de maneira particular deveria ter uma maior perspectiva no que tange às medidas
de reparação do problema, invés de dar um enfoque maior em previsão de punições aos
alienantes, o que muitas vezes não ocorre de maneira efetiva, pois a dificuldade de se provar
algo dessa grandeza é elevada. Trata-se de uma ação abstrata em que a prova é altamente
complexa.
Ante o exposto, conclui-se que a aplicação da lei 12.318/2010 não é uma tarefa
simples e deve ser realizada com muita cautela pelo Poder Judiciário, pois pode ser um
instrumento tanto de ofuscar a discussão de abuso por parte do suposto alienado, quanto pode
ser uma situação de autoalienação. Portanto, a aplicação da lei deve ser precedida de um
estudo psicossocial que justifique a aplicação de medidas que também devem ter um caráter
menos punitivista e mais protecionista no que tange aos direitos das crianças e adolescentes.
59

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