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Montes Claros/ MG
2019
Caroline Pereira Novais
Montes Claros/ MG
2019
Caroline Pereira Novais
Banca Examinadora
__________________________________________________
Presidente: Prof.
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Membro: Prof.
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Membro: Prof.
Montes Claros/MG
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por estar sempre comigo e por não ter me deixado
desistir.
Aos meus pais e irmãos pelo incentivo prestado.
Ao professor Orientador Marcelo Brito, meus sinceros agradecimentos pelos
conhecimentos transmitidos, suporte, apoio e confiança.
Ao meu melhor amigo e namorado, Pablo Daniel, pela paciência, incentivo e
principalmente pelo apoio durante essa etapa.
E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para realização desse trabalho.
Alienar uma criança é matar, desestruturar. Covardia não esquecida. Ignorância
pura e sabida, que geram traumas, que podem durar por toda uma vida. Até a
criança crescer, tornar-se adulta e entender que o errado do “seu ser” era mero
reflexo do ser que não foi o que deveria ser.
Claudia Berlezi.
RESUMO
Este trabalho objetiva analisar a Lei n° 12.318/10, conhecida como Lei da Alienação Parental,
para refletir acerca da sua aplicação. O tema sempre despertou debates e, recentemente, tem
sido alvo de várias críticas, principalmente nas situações nas quais o suposto alienado
participa do processo, fenômeno conhecido com autoalienação. Carece, portanto, de estudo e
aprofundamento, pois não há uma discussão acentuada sobre o assunto com vistas a
internalizar e esvaziar todas as hipóteses de aplicação de sua Lei. O objetivo desse trabalho é
analisar a efetividade da Lei que versa sobre Alienação Parental com foco na garantia do
melhor interesse da criança e do adolescente, pois, se fala em proteção, porém não se tem um
tratamento adequado aos principais afetados. Há um enfoque muito grande no viés punitivo
da Lei para os alienantes, porém poucas soluções visando à garantia do desenvolvimento
saudável de crianças e adolescentes, que são as principais vítimas e sofrem os maiores
impactos. Através da pesquisa compilada neste trabalho, conclui-se que a Lei de Alienação
Parental embora tenha apresentado progresso em alguns aspectos, ainda prioriza a punição
dos violadores em detrimento da aplicação de medidas protetivas à saúde física e psíquica das
crianças e adolescentes envolvidas na relação defectiva. A Lei deve, portanto, priorizar
medidas de prevenção para minimizar os danos causados a crianças e adolescentes decorrente
dessa prática. Para consecução desta pesquisa, foram realizadas pesquisas científicas
notadamente de cunho bibliográfico e documental abordando a aplicabilidade da lei da
Alienação Parental.
This work aims to analyze the Law n°. 12.318 / 10, known as the Parental Alienation Law, to
reflect on its application. The subject has always aroused debate and, recently, has been the
target of several criticisms, especially in situations in which the alleged alien participates in
the process, a phenomenon known as self-alienation. Therefore, it needs to be studied and
deepened, since there is no sharp discussion on the subject with a view to internalizing and
emptying all the hypotheses of its Law application. Ensuring the best interests of children and
adolescents, because protection is spoken of, but there is no adequate treatment for the main
affected. There is a great focus on the punitive bias of the Law for alienants, but few solutions
to ensure the healthy development of children and adolescents, who are the main victims and
suffer the greatest impacts. Through the research compiled in this paper, it can be concluded
that the Parental Alienation Law, although showing progress in some aspects, still prioritizes
the punishment of violators over the application of protective measures to the physical and
mental health of children and adolescents involved in the defective relationship. . The law
should therefore prioritize preventive measures to minimize the harm caused to children and
adolescents arising from this practice. To carry out this research, scientific researches were
carried out, notably of bibliographic and documentary nature, addressing the applicability of
the law of Parental Alienation.
Keywords: Family, Parental Alienation, Self-Alienation.
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................10
2 ALIENAÇÃO PARENTAL................................................................................................12
2.1 Transformações no conceito de família e poder familiar...............................................12
2.2 Conceito de Alienação Parental........................................................................................16
2.3 Diferenças entre Alienação Parental e Síndrome de Alienação Parental.....................20
4 AUTOALIENAÇÃO PARENTAL.....................................................................................45
4.1 Conceito de Autoalienação Parental e seus desdobramentos........................................45
4.2 Princípio do Melhor Interesse da criança e do adolescente: aplicação do respeito e
autonomia dos filhos................................................................................................................50
4.3 Críticas à Alienação Parental e inclusão da Autoalienação no ordenamento
jurídico......................................................................................................................................54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................57
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................59
10
1 INTRODUÇÃO
2 ALIENAÇÃO PARENTAL
Consoante, Lisboa (2012) alude que com a introdução das máquinas, o trabalho
artesanal que era feito no seio familiar para sua subsistência, se tornou insuficiente para
competir com a produção das fábricas, acarretando uma redução de renda artesanal fazendo
com que os membros da família procurassem outra fonte de renda, trabalhando nas fábricas.
13
É nesse momento que a mulher passa a ingressar no mercado de trabalho e a partir daí
o homem deixa de ser o único responsável pelo sustento material da família. Porém, a
sociedade ainda continuava alicerçada em padrões machistas e patriarcais.
No Brasil, aduz Lobo (2011) que o século XX foi marcado pelo Código Civil de 1916
que ainda se mostrava conservador, pois trazia distinções discriminatórias entre seus membros
negando os vínculos extramatrimoniais e os filhos ilegítimos. Assevera o autor que os
vínculos extramatrimoniais e aos filhos ilegítimos resultantes fora do casamento possuíam
caráter punitivo, pois, havia a exclusão de direitos e garantias fundamentais dessas pessoas
com o objetivo preservação do matrimônio.
No que se refere ao pátrio poder, Barros apud Sousa (2009, p.64):
[...] destaca que esse irá declinar a partir do Código de 1916, tornando-se,
gradativamente, atribuição também da mulher. O Código estabelecia que, em caso
de falta ou impedimento do pai, caberia à mãe exercer o pátrio poder até a
maioridade dos filhos, quando esses seriam considerados, por lei,emancipados.
Assim, o exercício do pátrio poder ficou restrito apenas aos filhos menores de idade,
e poderia, ainda que em situações especiais, ser exercido pela mãe. No entanto,
cumpre lembrar que, até 1934 cabia ao pai, o qual detinha com exclusividade o
pátrio poder, administrar os bens e as decisões referentes aos filhos menores de
idade.
proteção da família de maneira geral, incluindo a família após separação dos progenitores,
conhecida como monoparental e a inclusão dos filhos por vínculo afetivo.
A base de uma sociedade é a família, conforme o ordenamento jurídico e por essa
razão recebe uma proteção maior do estado. O Código Civil de 2002 trouxe reconhecimento a
diversidades de núcleos familiares, rompendo com preconceitos engessados nas épocas
anteriores.
Houve uma mudança no que se refere ao termo Pátrio Poder para o Poder Familiar,
isso porque pátrio poder se referia somente ao pai, e devido à mudança do status da mulher
que passou a ter direitos e deveres igualitários ao dos homens foi imprescindível que houvesse
a alteração desse termo.
O poder familiar é compreendido de acordo com Tartuce e Simão (2012, p. 387) como
"o poder exercido pelos pais em relação aos filhos, dentro da ideia de família democrática,
do regime de colaboração familiar e de relações baseadas, sobretudo, no afeto”.
Apesar de diversas mudanças legislativas em favor das mulheres, explana Sousa
(2008) que permanecia o pensamento de que as mulheres possuíam melhor capacidade para
cuidar dos filhos mesmo em casos de divórcio. Nesse sentido, aduz Sousa (2008, p. 72) que:
A alienação parental (AP) na maioria das vezes surge através do rompimento de uma
relação afetiva entre os genitores. Com esse rompimento, consequentemente um dos genitores
deixa de conviver com a prole ensejando à disputa de guarda.
Nesse sentido, Gardner apud Gagliano (2012, p.862) leciona que:
Nesse mesmo sentido alude Dias (2013) que nos processos de separação, na maioria
dos casos, questões mal resolvidas permanecem entre os progenitores, contribuindo para o
desenvolvimento de sentimentos de enganação, raiva e até mesmo rejeição contra o outro
genitor. Como meio de atingir o outro, os filhos são utilizados como artifício, sendo
enganados e manipulados com a finalidade de que o vínculo afetivo entre pai e filho sejam
quebrados ou até mesmo destruídos.
De acordo com Gagliano (2012), a teoria foi criada por um psiquiatra e professor
norte- americano chamado Richard Gardner. Lecionam Rodrigues e Rotta (2015, s/n) que “a
Síndrome da Alienação Parental (SAP) foi conhecida através dos trabalhos realizados pelo
psiquiatra”.
No que tange ao conceito criado por Gardner, explana Madaleno (2018 p.43) que:
Pode-se dizer que o ato de promover uma campanha denegritória contra um dos
genitores é um dos principais sintomas desencadeantes da SAP, que conjuntamente com
outros fatores é possível definir o grau dos alienadores variando do leve, médio ou grave.
Ainda sobre o assunto, Gardner (2002) explica que não implica a ocorrência de todos
os sintomas supracitados nos casos leves, diferentemente dos casos médios e graves, que
podem ser cumulativos. Além do mais há possibilidade de progressão dos casos, de leves para
médios e médios para graves.
Segundo Gardner (2002, s/n) “Essa consistência resulta em que as crianças com SAP
assemelham-se umas às outras. É por causa dessas considerações que a SAP é um diagnóstico
relativamente claro, que pode facilmente ser feito”.
Desse modo, explica Madaleno apud Gama (2018) que quando submetida a uma
alienação não tão gravosa, a vítima consegue manter uma relação razoável com o genitor,
porém, em determinadas situações, pode se voltar contra o outro, patrocinando campanhas de
maneira involuntária, demonstrando que prefere o alienador. À medida que a criança se
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convence que o genitor alienado não tem nenhum valor para ela, sentimentos negativos, como
ódio e repulsa, se formam internamente, de maneira injustificada.
Leciona Trindade (2007) que a SAP possui diversos sintomas e que advém de um
transtorno psicológico. O alienador é capaz de interferir no psicológico dos filhos através de
estratégias cujo objetivo é dificultar ou até mesmo quebrar vínculos com o outro genitor sem
que existam motivos justificáveis para tal conduta.
No que tange a AP preceitua o artigo 2° da lei 12.318/10 que a “prática da alienação
parental não está restrita somente aos genitores, podendo ser praticado por outros indivíduos
fora do núcleo familiar, desde que essa prática prejudique o desenvolvimento sadio da criança
ou adolescente”. (BRASIL 2010).
Destaca-se a importância em considerar que outros indivíduos fora das relações
parentais podem praticar a AP. Nota-se que houve uma preocupação do legislador em
resguardar a criança e o adolescente de um ato tão perverso que prejudicar seu
desenvolvimento físico e psíquico.
A SAP é tão grave que conforme Pedrosa e Bouza apud Madaleno (2017,p.703):
[...] tem um alcance extremamente destrutivo, pois consegue que os filhos inventem
fatos, respaldem mentiras e esqueçam momentos de felicidade, e ainda consegue que
terceiros se envolvam nos atos de detratação do progenitor rechaçado, enquanto o
genitor alienante se assegura de assumir um autêntico papel de vítima.
Dessa maneira, a AP é compreendida como uma ação praticada por um dos genitores
que detém a guarda da criança ou do adolescente, objetivando destruir ou prejudicar de
qualquer maneira os vínculos existentes entre o menor e o genitor não detentor da guarda
fazendo com que a criança odeie e despreze sem justificativa alguma o outro genitor.
Assevera Madaleno e Madaleno (2018. p.43) que a alienação gera “uma forte relação
de dependência e submissão do menor com o genitor alienante. E, uma vez instaurado o
assédio, a própria criança contribui para a alienação.”.
Nesse diapasão, Dias (2009, p.34) elucida que a vitima é induzida a se afastar do
genitor alienado, uma vez que “isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo
entre ambos. Restando órfão do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor
patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo o que lhe é informado”.
A Psicóloga Andreia Calçada, em seu documentário A Morte Inventada (2009), expõe
algumas artimanhas utilizadas pelo alienante que objetiva afastar seus filhos do ex-
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Dessa forma, nota-se que o alienador planeja todos os seus atos para chegar ao seu
objetivo. A vítima perante o alienador se sente completamente manipulada e vulnerável
realizando mesmo que inconscientemente todas as suas vontades.
Nos entendimentos de Madaleno e Madaleno (2018), os filhos são facilmente
influenciados pelos genitores, principalmente por aquele que detém a guarda. O alienante tem
sã consciência de seus atos, agindo de maneira fria e calculada sem sequer se importar nas
consequências geradas pelo ato que pratica.
Nesse sentido leciona Dias (2010,p.87) que:
Nem sempre a criança consegue discernir que está sendo manipulada e acaba
acreditando naquilo que lhes foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo,
nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade
passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa
existência, implantando-se, assim, falsas memórias.
Verifica-se que a SAP é tão grave que é capaz de causar danos psicológicos
irreversíveis a vitima, pois a criança é manipulada de tal forma que não consegue discernir a
20
Richard Gardner (2002 s/n ), defende que “a alienação parental é um termo mais geral,
enquanto a síndrome de alienação parental é um subtipo muito específico de alienação
parental”, portanto, não se confundem.
O referido tema tem sido alvo de divergências, principalmente no que tange a
conceituação feita pelo professor Gardner acerca da SAP.
As críticas mais recorrentes têm como fundamento de que a SAP não está prevista no
Código Internacional de Doenças (CID10). Nesse sentido lecionam Madaleno e Madaleno
(2007 p.42) que:
Guimarães reconhece a definição feita por Gardner no que tange a AP, porém há uma
negativa de que haja existência de uma síndrome, defendendo que nem todos praticam a AP
de modo doentio, sendo que na maioria dos casos o alienante sabe com exatidão o que está
fazendo.
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Sob ponto de vista diverso, Trindade (2010, p.190) alega que a ausência da descrição
da SAP na CID-10 pouco importa. Dessa forma aduz:
Quanto ao enquadre da Síndrome da Alienação Parental, é importante que não exista
só o que este descrito no Manual Diagnostico e estatístico de Transtorno
mentais, ou na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID10).
Existe sobretudo o que vemos na prática, na realidade de cada dia, pois as coisas
existem independentemente do nome que oficialmente se pode atribuir.
O autor defende que existem vários outros sintomas e comportamentos que ainda não
estão descritos em manuais ou classificados de transtornos mentais, porém estão evidentes na
nossa sociedade, como é o caso de AP.
Sobre o fato de não estar descrito na CID, Gardner (2002 s/n) rebate as críticas
defendendo que:
É importante notar que O DSM-IV não aceita frivolamente cada proposta nova. Suas
exigências são muito estritas no que diz respeito à inclusão de entidades clínicas
recentemente descritas. Os comitês exigem muitos anos de pesquisa e as publicações
em numerosas revistas pelos especialistas dentro de jornais científicos antes de
considerar a inclusão de um transtorno é, portanto, justificável. Gille de La Tourette
descreveu primeiramente sua síndrome em 1885. E foi apenas a partir de 1980, 95
anos mais tarde, que o transtorno encontrou seu caminho no DSM. É importante
ressaltar que atualmente a síndrome de Tourette se transformou no transtorno
de Tourette. Asperger descreveu primeiramente sua síndrome em 1957. E não antes
de 1994, 37 anos mais tarde, é que foi aceito no DSM-IV a síndrome de Asperger,
que se transformou no transtorno de Asperger.
Assim, conforme Gardner, para que a SAP seja considerada e classificada como uma
doença são necessários anos de pesquisa para que seja devidamente testada sua existência e
que seja passível de confirmação científica.
Não há muitos estudos que realmente apontem a existência da SAP, podendo ser
questionável do ponto de vista prático. Nesse diapasão, Sottomayor apud Madaleno (2018,
p.86):
A referida doutrinadora também defende que a SAP por não estar enquadrada na CID,
não possui nenhuma validade jurídica e nem base científica. Alega ainda que a criação desse
termo foi feita com o objetivo de mascarar o real abuso sexual de crianças e até mesmo com o
objetivo de punir as mulheres, baseando-se no fato de que não é feito indagação alguma ao
progenitor sobre seu comportamento, que justifique a aversão da criança, sendo a SAP
utilizada como forma de defesa ao acusado por seus atos ilícitos.
Apesar de existir diversos posicionamentos polêmicos acerca do tema, Gardner (2002
s/n) alude ainda que:
O fato de que algo é controverso não o invalida. Mas por que existe tal controvérsia
sobre a SAP? No que diz respeito à existência da SAP, geralmente não vemos tal
controvérsia a respeito da maioria das outras entidades clínicas na psiquiatria. Os
examinadores podem ter opiniões diferentes a respeito da etiologia e do tratamento
de um distúrbio psiquiátrico particular, mas há geralmente algum consenso sobre sua
existência. E esse deveria ser o principal caso na argumentação para um transtorno
relativamente claro como a SAP, um transtorno facilmente diagnosticado por causa
da similaridade dos sintomas das crianças quando se compara uma família com a
outra. Por que, então, deveria haver tal controvérsia - se a SAP existe ou não?
Se a dúbia alegação do advogado puder demonstrar que a SAP não está listada no
DSM-IV, então a sua posição é considerada “provada” (digo “alegada”, porque o
advogado pode muito bem reconhecer a SAP, mas está servindo somente a seu
cliente, como preconizado no código de ética de sua profissão). A única coisa que
essa alegação prova é que até 1994 o DSM_IV não havia listado a SAP. Os
advogados esperam, entretanto, que o juiz seja convencido por esse argumento
ilusório e conclua, então, que se não há nenhuma SAP, não haverá também nenhuma
programação, e assim, desse modo, o seu cliente ganhará a causa.
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Esta notícia, levada ao Poder Judiciário, gera situação das mais delicadas. De um
lado, há o dever de tomar imediatamente uma atitude e, de outro, o receio de que, se
a denúncia não for verdadeira, traumática será a situação em que a criança estará
envolvida, pois ficará privada do convívio com o genitor que eventualmente não lhe
causou qualquer mal e com quem mantém excelente convívio. Mas como o juiz tem
a obrigação de assegurar proteção integral, reverte a guarda ou suspende as visitas e
determina a realização de estudos sociais e psicológicos. Como esses procedimentos
são demorados – aliás, fruto da responsabilidade dos profissionais envolvidos –
durante todo este período cessa a convivência do pai com o filho.
Enquanto são realizados estudos apurados sobre a situação para lhe conferir
veracidade, a criança é privada do convívio com o genitor acusado como forma de proteção a
sua integridade física e psicológica. No que se diz respeito às falsas denúncias, aduz Dias
(2013, p.271) que:
Frisa-se que a acusação falsa de abusos sexuais é grave, pois, quem mais sofre com as
consequências dessa invenção é a criança que pode ser privada do convívio com seu
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progenitor de forma injusta. Por outra perspectiva, acredita a autora que há possibilidades de
invocação da Lei de AP com objetivo de encobrir crimes cometidos, assim, tendo a criança
vivenciado um abuso sexual, em casos da inobservância do magistrado, ela continuará a
conviver com o seu progenitor abusador, tendo os seus direitos completamente violados.
Sob tal complexidade, explana Paulo (2011,p. 23) que:
De acordo com Gardner, pais que realmente abusam dos filhos geralmente possuem
histórico de impulsividade e violência, não possuindo senso de responsabilidade
familiar, enquanto aqueles que estão sendo alienados, falsamente acusados, são pais
dedicados, possuindo personalidade não hostil, cumprindo com seu papel parental.
Há críticas sobre a forma que Gardner propôs para distinção de abusos reais e falsos.
Sottomayor apud Leal (2017, p. 45) defende que a forma utilizada pelo autor não é capaz de
distinguir abusos reais dos falsos, "os abusadores de crianças podem ser indivíduos de todas
as classes sociais, não revelando qualquer psicopatia e tendo um comportamento social e
laboral, sem sinais de violência ou agressividade". É necessária a observância de outros
fatores importantes.
Sottomayor (2011), afirma que os estudos de Gardner contribuem para um pensamento
misógino e machista, pois, presumem falsas as acusações feitas pelas mães em defesa dos
seus filhos no que se refere a abusos sexuais, Sottomayor (2011,p. 86) alega ainda que:
têm, como estereótipo do abuso verdadeiro, a mãe que se cala, e, como estereótipo
do abuso falso, a mãe que denuncia, raciocínio circular e sem base científica, que
conduz à seguinte dedução: se o crime é autêntico não se denuncia, se se denuncia é
falso. Esta conclusão retira às leis penais que consideram o crime de abuso sexual de
crianças, como crime público, pois se a mãe e a criança se calam o crime continua;
se denunciam, a denúncia funciona como prova de mentira. Os estudos de
GARDNER sobre esta questão não estão publicados, nunca foram sujeitos a algum
tipo de revisão crítica ou teste empírico, e não fazem referência a trabalhos
anteriores sobre alegações de abuso sexual em processos de divórcio.
A crítica da autora se refere à falta de base científica dos estudos da teoria de Gardner.
Sendo assim, não há credibilidade nos critérios utilizados pelo criador da teoria em distinguir
os abusos verdadeiros dos falsos.
O problema de aplicação equivocada da lei de AP se inicia desde um conceito que
adveio de outro país com povos e culturas completamente diferentes do Brasil e ainda está
envolto a uma grande controvérsia científica, uma vez que, a SAP não é reconhecida pelos
manuais da área da saúde e foi criada por um polêmico médico norte americano que fez sua
fama defendendo acusados de abuso.
Nesse sentido Cabral (s/n 2018) afirma que:
A teoria de Richard Gardner se mostra tão incoerente e absurda, que ele tenta justificar
o motivo dos abusos sexuais ocasionados pelo progenitor abusador. De acordo com Matos
(2016), em um dos trabalhos realizados por Gardner, conhecido como “Sex Abuse Hysteria”-
em tradução livre: Histeria por abuso sexual-, o autor afirmava de que a culpa do abuso sexual
praticado pelo pai aos filhos, era da mãe pelo fracasso sexual em satisfazer o marido.
Ademais, pouco importava o melhor interesse da criança. O foco está somente no abusador
que é colocado na posição de vítima.
São visíveis traços sexistas e misóginos ao analisarmos o histórico do criador da
teoria. Barea apud Sottomayor (2011) aduz que a SAP possui interpretações misóginas
referentes à recusa da criança em conviver com seu progenitor não detentor da guarda. Há
uma presunção de que a culpa é das mulheres pelo fato da criança se recusar em conviver com
o progenitor, pois estariam elas agindo de maneira vingativa com a intenção de privar o
convívio dos filhos para com os pais.
Leal (2017, p.51) tece uma crítica a respeito da pouca importância que leva os
vulneráveis nesse processo, nesse sentido aduz a autora que:
[...] enquanto nos processos penais vigora o princípio do in dubio pro reo, nos
processos atinentes à regulação dos poderes parentais deve vigorar o pro interesse da
criança, e não pro interesse do adulto, de modo que diante de uma acusação de
abuso sexual, deve-se primar pela proteção da criança.
Há inúmeras críticas no que toca a AP, principalmente no uso equivocado da lei. Barea
apud Sottomayor (2011, p.83) usa como justificativa que:
A Lei de Alienação Parental é usada na maioria dos casos depois que o pai é
acusado de maus-tratos e abusos, sejam físicos, psicológicos ou sexuais, e faz parte
da estratégia da defesa para alegar que o abuso não ocorreu. Nesses casos, o pai
usa muito convenientemente essa lei como um escudo protetor para dizer que não
fez aquilo que a criança conta e para jogar a responsabilidade na mãe, que seria a
alienadora. Ou seja, a lei tira a validade da palavra da criança, sendo que
geralmente é só o que temos, porque a criança é a testemunha do próprio abuso,
uma vez que o pai não vai abusar em uma situação pública e porque esses abusos
nem sempre deixam vestígios materiais”.
Não provar o crime não quer dizer que ele não ocorreu. Não estou dizendo para
condenar algum acusado sem provas, mas não acho justo punir a criança, porque é
destrutivo para a criança – depois de ela ter a coragem de denunciar o pai, de
ultrapassar todas as barreiras íntimas dela, de medo, de vergonha, de nojo e de
sentimento de culpa – ser punida por um Judiciário que não acredita na sua palavra
e a obriga a conviver com o abusador.
A visão da autora reforça o fato de que a Lei da AP vem sendo utilizada de maneira
errônea como escudo para os abusadores se livrarem dos crimes cometidos, o que torna
extremamente prejudicial à criança, dessa maneira é retirada a credibilidade da palavra da
criança que é a principal vítima da situação.
Por serem partes vulneráveis, seria dever dos Tribunais no exercício de suas funções
salvaguardar o direito da criança, buscando provas por meio de perícias multidisciplinares,
não bastando somente à palavra de um adulto que pode se utilizar da AP com o propósito de
acobertar crimes praticados.
Sob mesma ótica, Bruch apud Sottomaior (2011, p.89) aduz que:
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O próprio GARDNER admite que alguns pais negligentes e abusivos estão a utilizar
a SAP como uma manobra de defesa e encobrimento do seu comportamento, e que a
sua teoria sobre a distinção entre acusações falsas e verdadeiras, já permitiu que
fossem absolvidos progenitores que, de fato, abusaram sexualmente dos filhos/as.
É inegável a controvérsia existente da aplicação da referida lei. Uma lei que fora
criada para defender crianças e adolescentes é utilizada como escudo para abusadores ficarem
impunes dos seus crimes. O próprio autor da SAP admite a ocorrência negligente do uso de
sua própria teoria.
Sobre mesma temática, aduz Sottomayor (2011.p.90): “a SAP coloca as mães em uma
encruzilhada sem saída: ou não denunciam o abuso e podem ser punidas por cumplicidade, ou
denunciam e podem ver a guarda da criança ser entregue ao progenitor suspeito”.
O tema AP foi comparado no Brasil com outros países da America Latina por Calasans
(2018), que faz uma crítica devido à maioria dos países Sul Americanos não possuírem leis
específicas para tratarem do tema em questão como ocorre no Brasil. Ela argumenta que em
outros países as codificações já existentes incluem direitos e garantias fundamentais da
criança e do adolescente sem necessidade de criar uma Lei específica para tal.
Ademais, Calasans (2018) aduz que no México a lei em questão foi revogada por ser
declarada inconstitucional sob a justificativa de que a Lei poderia trazer prejuízos na defesa
dos direitos da criança e do adolescente pela facilidade em ser invocada de maneira falha,
além de não possuir base científica e trazer discriminação contra o gênero feminino. Defende
Calasans (2018, s/n) que: “Não há a necessidade da categoria de Alienação Parental para que
seja feita a proteção e o cuidado das crianças pós-divórcio”. Pois por si só as codificações
existes já trariam a proteção devida a crianças e adolescentes sem necessidade de seguir uma
lei na qual não possui base científica.
Em suma, a AP é uma temática de difícil verificação e comprovação, necessitando de
estudos e perícias multidisciplinares a fim de se evitar danos irreversíveis à criança e/ ou
adolescente. Dessa maneira, é capaz de assegurar que os verdadeiros abusos sexuais sejam
investigados e denunciados. Faz-se necessário, portanto, uma análise mais criteriosa dos casos
concretos para que a tutela dos direitos seja conferida com maior eficácia, observando, além
das relações entre acusado e vítima, o meio social em que estes convivem.
os fatos e pessoas, apontando uma possível correlação de causa e efeito, além de identificar a
motivação e as alterações psicológicas dos agentes envolvidos no processo judicial”.
Dessa maneira é possível a verificar separadamente a motivação psicológica dos
envolvidos no litígio trazendo mais precisão, facilitando ao juiz tomar a melhor decisão para o
caso, assegurando o melhor interesse da criança.
No que tange a demanda de conhecimento técnico em causas que atue o juiz,
Madaleno e Madaleno (2017, p.118) asseveram que:
Prescreve o art. 156 do CPC que deve o juiz ser assistido por perito quando a prova
do fato depender de conhecimento técnico ou científico, e o art. 464 do Código de
Processo Civil dispõe consistir a prova pericial em exame, vistoria ou avaliação,
podendo as partes apresentar quesitos e indicar assistentes técnicos, e o art. 475 do
Código de Processo Civil faculta a nomeação de outros peritos tratando-se de uma
perícia complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento especializado. É
justamente a hipótese ventilada pelo art. 5.º da Lei da Alienação Parental.
Assim, conforme os autores acima, tratando-se de perícia mais complexa, que exija
conhecimentos em mais de uma área técnica, deve o julgador se socorrer de mais de um perito
para auxiliá-lo na tomada de uma decisão mais consciente, facultando, ainda, às partes a
escolha de peritos nessa hipótese.
Temos nas lições de Freitas (2015) que, a perícia multidisciplinar será um dos meios
de prova admitidos na ação. Como tal, terá a perícia um caráter objetivo e outro subjetivo. No
primeiro se confere a demonstração da existência de uma situação fática; no segundo, há a
finalidade de influenciar a psique do julgador.
Dos autores Madaleno e Madaleno (2017, p.119) transcreve-se o seguinte excerto que
versa sobre a perícia:
menores envolvidos na lide, que são os mais vulneráveis e que mais são afetados pelas
demandas judiciais. A AP deve ser o objeto principal.
Em relação ao cuidado que se deve ter ao tomar uma decisão acerca de um tema que
possui grande complexidade como a AP, explanam Santos e Silva (2018, p. 254- 255) que:
Por se tratar de um tema que exige extrema atenção e importância, é necessário que
seja feito um investimento mais expressivo pelo Estado na procura de profissionais
qualificados e habilitados, afim de que se evitem conclusões precipitadas de um tema que
possui grande complexidade. Um único erro pode causar danos irreversíveis, já que se trata de
crianças e adolescentes, que são a parte mais vulnerável da situação.
Sobre o assunto aponta, Madaleno e Madaleno (2013, p.111):
A Psicologia fornece instrumentos com razoável grau de segurança para avaliar até
que ponto o relato de uma criança ou adolescente está contaminado, é produto de
uma programação, mera repetição de fantasia construída por adulto.
Quando há suspeitas de uma falsa acusação de abuso infantil o psicólogo que está
realizando o tratamento deve ficar atento ao analisar cada passo que a criança
relatou sobre as situações de possível abuso e comparar com o que já foi dito por ela
e pelo possível alienador. Isso se torna um dos pontos principais para derrubar falsas
acusações, tendo em vista as controvérsias e o alinhamento do discurso entre um e
outro. Na maioria dos casos em que ocorre o abuso sexual real, a incriminação é
algo que se torna constante, enquanto nas falsas acusações essas mudam de acordo
com as circunstâncias. Por isso é imprescindível ser analisado o contexto da vida da
criança e dos genitores na época da revelação. A informação não pode advir
unilateralmente, devendo o profissional buscar diversas fontes para descobrir o
máximo possível dentre os diversos contextos nos quais o cliente esteja envolvido.
Assim deve visitá-lo em sua residência além do ambiente do consultório, entrevistar
a família ou pessoas envolvidas diretamente com estes, ir até a escola ou instituições
educacionais frequentadas pelo cliente, conversar com outros profissionais que já
atenderam, quando for o caso, e até mesmo realizar observações indiretas da
convivência familiar entre eles, realizando testes como somente um complemento e
não como fonte mais importante dos dados coletados. A entrevista com a criança
deve ser feita em particular em uma linguagem acessível ao entendimento da vítima,
com um clima empático e próximo a ela.
Por não ser prova hierarquicamente superior a nenhuma outra, uma vez que todas
possuem igual valor, a perícia multidisciplinar, como as demais, depende do
conjunto de provas apresentadas no processo, subsidiando, assim, a convicção do
magistrado com base na verossimilhança do conjunto probatório. A fundamentação
da sentença não deve ser realizada tão somente na perícia, e, sim, no conjunto de
provas. A perícia multidisciplinar, pela sua natureza averiguadora, é um elemento
válido para informar o juiz, porém não é a única fonte da verdade. Da mesma forma
38
que não pode haver o julgamento contrário às provas dos autos, o julgador da causa
não pode efetuar a prestação jurisdicional sob o fundamento de uma única prova.
Explana o autor que a perícia multidisciplinar é uma prova importante como qualquer
outra existente no processo, sendo assim, compõe o conjunto de provas, contribuindo para a
convicção do juiz. Porém, a perícia multidisciplinar não é a única fonte a ser analisada. É
necessário que o juiz aprecie a totalidade as provas existentes, não bastando uma em
específico para fundamentação de sua decisão referente ao caso.
Há casos em que o juiz poderá indeferir a perícia multidisciplinar. Dessa forma,
preceitua o artigo 464, inciso I do Código de Processo Civil que: “a prova do fato não
depender de conhecimento especial de técnico”. (BRASIL 2015)
Nesse sentido, assevera Freitas (2015, p.82) que:
os pais não amem mais os filhos e que os abandonarão e rejeitarão. Os danos causados com a
prática dessa conduta são tão graves que de tal maneira pode prejudicar o desenvolvimento
físico e psíquico da criança ou adolescente.
Consoante o artigo 6.º da lei 12.318/ 2010:
A lei 12.318/2010 foi criada para impedir a prática da AP, e nos casos já existentes
para amenizar. De acordo com Costa (2015) em regra, o genitor alienante é aquele que detém
a guarda da criança ou do adolescente, buscando dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro progenitor.
O artigo 6° da referida lei, permite que o juiz cesse desde logo os atos de AP ou
diminua seus efeitos por meio das medidas judiciais listadas nos incisos do referido artigo,
“sem prejuízo de outras medidas judiciais como a responsabilidade civil ou criminal e da
ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a
gravidade do caso”. (BRASIL, 2010)
Após serem declarados os atos de AP e a advertência ao alienador, a próxima medida a
ser tomada é a ampliação da convivência familiar em favor do alienado, conforme o inciso II
do artigo supracitado. De acordo com Ishida (2010, s/n) “o direito à convivência familiar se
refere ao direito da criança ou adolescente ao convívio com ambos os pais, condenando-se a
conduta de alienação parental.” No caso do referido inciso é de extrema importância e
urgência a ampliação da convivência familiar em favor do alienado, pois, é uma forma de
tentar amenizar ou até mesmo reverter os efeitos causados pela AP.
Nesse sentido, aduz Leal (2017, p. 45) que:
40
(...) Gardner entende muitas vezes não ser possível a abordagem terapêutica, de
modo que a retirada da criança do convívio se faz necessária, na medida em que o
laço patológico desenvolvido entre o alienador e a criança não pode ser desfeito
enquanto estiverem morando juntos. O convívio com o genitor alienado deve ser
feito, nesse primeiro momento, sem a interferência do alienador.
(...) Por vezes se tem a impressão de que a criança acaba sendo relegada a segundo
plano, quando a preocupação parece voltada para a medida exemplar que será
determinada para um dos genitores. Não se pode desconsiderar que, em casos nos
quais haja forte ligação com um dos genitores, a decisão de inverter a guarda, ou de
proibir esse genitor de ver a criança durante período de tempo estipulado em
sentença judicial, ou mesmo de lhe retirar o poder familiar, pode trazer intensos
sofrimentos para a criança.
A visão da referida autora diz respeito a uma preocupação maior pela lei em impor
sanções, invés de promover medidas efetivas para a proteção da criança ou adolescente que é
a principal vítima dessa situação. Consoante, Vieira (2005, s/n) também acredita que “o
legislador, portanto, ignorou qualquer papel preventivo à Alienação Parental que as equipes
interdisciplinares poderiam ter, preferindo crer que a punição por si só seria capaz de acabar
com a AP”.
Referente ao inciso VII leciona Leite (2016, s/n) que “O alienador perde a guarda do
filho e o legislador primeiro suspende a autoridade parental, e caso haja reincidência, ela é
rompida definitivamente. Essa é uma medida bem mais grave, que ocorre em um estágio
gravíssimo de alienação parental". Pode-se também considerar uma medida grave, os incisos
V e VI, pois a intenção do legislador é afastar o genitor alienante do filho alienado,
resguardando os seus direitos.
Quanto ao inciso V, aduz Hugo, Pires e Coelho (2011, p.192) “dá notável efetividade
ao instituto da guarda compartilhada, e, por ser o grande temor do ente alienador, tende a
desestimulá-lo a praticar atos de alienação parental”.
No que se refere ao inciso VI que dispõe sobre alteração cautelar do domicilio da
criança ou adolescente, leciona Hugo, Pires e Coelho (2011, p.192) que tem como “intuito de
evitar mudanças abruptas de endereço com fins exclusivos de afastar a prole do ente
alienado”. Dessa forma, é possível perceber uma preocupação do legislador em manter o ente
41
alienado próximo da criança, visto que esse ente também é uma vítima e merece ter seus
direitos resguardados assim como a criança ou adolescente.
A respeito da necessidade da atuação da equipe multidisciplinar, acredita Vieira
(2005) que o propósito é voltado para um viés punitivo dos genitores invés de objetivar o
diagnóstico do ato de AP para que sejam tomadas as melhores medidas adequadas ao caso,
resguardando o melhor interesse da criança e do adolescente.
No que tange as consequências que o ato de AP pode gerar Madaleno apud Madaleno
(2018, p. 123) aduz que:
Uma criança vítima de falsas alegações de abuso sexual corre riscos similares aos de
uma que realmente sofreu essa violência, ou seja, estão igualmente sujeitas a
apresentar algum tipo de patologia grave nas esferas afetiva, psicológica e social.
Isso ocorre porque a mentira contada pelo alienador acaba tornando verdade na cabeça
da criança, não sabendo ela, distinguir de fato a realidade da ficção. No que tange a falsas
denúncias, de acordo com Araújo (2013, p.32):
Essas denúncias, face à gravidade do ato imputado, fazem com que, em regra, o
Ministério Público opine pela restrição/supressão da visitação pelo suposto
abusador, opinião essa adotada pelo Magistrado, utilizando-se o poder geral de
cautela. Entende-se que a restrição da convivência, in limine, é menos gravosa que a
possibilidade de exposição da criança/ adolescente à prática de conduta tão nefasta.
Richard Gardner propõe que, nos casos leves de alienação, o juiz simplesmente
reafirme as visitas do alienado, assegurando que elas ocorram sem percalços e
42
O autor sugere que o juiz analise a gradação de cada caso diagnosticado de alienação,
de modo a tratar, de maneira mais personalizada, cada grupo de genitores alienantes,
propondo medidas próprias conforme o caso e o grau de Alienação demonstrado pela perícia
especializada.
Sobre a multa, o entendimento de Araújo (2013, p. 31) é que:
A multa prevista no art. 6º, III, da LAP aproxima-se em natureza daquela do art. 461,
§ 4º, do CPC. Sabe-se que o objetivo das astreintes não é obrigar o réu a pagar o
valor da multa, mas obrigá-lo a cumprir a obrigação na forma específica, no caso,
deixar de praticar o ato de alienação. Trata-se de multa inibitória, vale dizer, o
genitor-alienador deve sentir ser preferível cumprir a obrigação negativa na forma
específica a pagar a multa.
A multa tem como objetivo compelir o genitor alienante a cumprir medidas que lhe
foram impostas, acredita o autor que a multa é educativa, pois, a probabilidade em preferir
cumprir as obrigações negativas a pagar a multa é grande.
Logo, entende-se que quando se tem aplicação de uma penalidade pecuniária, as
chances de reincidência em transgressões se reduzem significativamente. No entendimento de
Madaleno e Madaleno (2018), a premissa desse argumento é que a constrição patrimonial é
menos danosa que a utilização de força para estabilizar a situação que fora transgredida.
Sob mesma ótica, Gallardo apud Madaleno e Madaleno (2018) defende que o valor da
multa deve ser aplicado coativamente de modo a desestimular o alienante, sendo capaz de
atingir seu fim pretendido, devendo o magistrado sopesar a fixação de acordo com a
gravidade da transgressão cometida e a capacidade econômica do progenitor descumpridor.
Referente à AP, no caso concreto, expõe Sousa e Brito (2011, p. 277) que:
Segundo Sousa e Brito (2011), o caso permaneceu por algum tempo na mídia e com
isso surgiram diversas indagações a cerca do caso sobre quem seriam os culpados de tal
tragédia. É por isso a importância da atuação de psicólogos especializados na área para
desvendar os casos da SAP. Para que erros como esse, não sejam cometidos, pois a principal
vítima e a parte mais vulnerável dessa situação é a criança, que necessita de proteção para que
seus direitos fundamentais sejam resguardados contra aqueles que ousam a feri-los.
Sob mesmo sentido, Sousa e Brito (2011), reforçam sobre a necessidade fundamental
da participação dos psicólogos nos casos da SAP, considerando que depende do diagnóstico
para a aplicação das sanções estatais previstas.
Sobre a atuação dos psicólogos, argumentam Sousa e Brito (2011, p. 280) que:
O referido artigo que a autora critica diz respeito ao laudo pericial, que além de ter
base em avaliação psicológica e biopsicossocial de acordo com o caso, entre outros
instrumentos, também é devido o exame de documentos dos autos. Função essa que causa
divergência para a autora, pois essa função seria a de advogados ou até mesmo de
investigadores, divergindo, das diretrizes emitidas pelo Conselho Federal de Psicologia e da
Resolução de numero 007/2003.
44
4 AUTOALIENAÇÃO PARENTAL
não consegue perceber que os seus atos atingem o seu filho de maneira negativa, ocasionando
o seu afastamento.
Nesse sentido, aduz Ramos (2018, s/n) que o autoalienador se afasta dos filhos
projetando a culpa desse afastamento no outro genitor, se fazendo de vítima. “Acredita que
sua imagem e de seus familiares estão sendo maculadas pelo outro genitor”. Nota-se que o
causador da própria alienação não tem noção de que a culpa é exclusivamente dele. Aduz
Regis (2019, s/n) que “invés de reconhecer a sua contribuição para a situação, este pai/mãe
deduz que este afastamento seria fruto de alienação materna/paterna e não do seu próprio
comportamento desagradável”.
Sob mesma perspectiva, quando há o rompimento de uma relação conjugal e surge
uma nova figura no seio familiar, como, por exemplo, uma madrasta, há grande possibilidade
de que nesse momento a prole não tenha um amadurecimento adequado diante a situação a
fim de que se compreenda a nova relação do pai com outrem. Nesse contexto, Madaleno e
Madaleno (2017, p.180) explana que:
Nessa situação em que os filhos se recusam a conviver com a madrasta que foi pivô
da separação de seus pais, o varão tende a acusar sua ex-mulher pela prática de
alienação parental, pois ela estaria afastando os filhos de sua convivência. Ao acusar
sua ex-mulher da realização de alienação parental, não se apercebe de considerar,
em primeiro lugar, a possível e sincera vontade dos filhos e assim passa ao largo dos
superiores interesses dos menores, obcecado por enxergar uma alienação materna
por ele equivocadamente identificada na falta de disposição da sua prole conviver
com a nova família por ele velozmente constituída. Reconhecer a diferença entre
uma alienação maliciosa e uma decisão real e motivada de os filhos buscarem certa
distância do novo affair do pai apresenta-se como uma séria deficiência do genitor
dos menores, aos quais acusa de terem sido dele alienados, quando nesse exemplo
de autoalienação é o próprio pai quem erroneamente toma atitudes em relação aos
seus rebentos, expressando agravos contra a mãe deles e dando aos próprios filhos
motivos para eles se afastarem do progenitor e rejeitarem qualquer interação com a
atual companheira do pai.
No excerto acima, o autor visa esclarecer como pode ocorrer uma situação de
autoalienação pelo próprio pai. No exemplo dado, a autoalienação é percebida quando o
genitor se afasta da própria família e dos filhos, inicia um novo relacionamento em curto
período e não observa a capacidade da criança para compreender a nova situação na qual está
sendo forçada a se inserir. Diante da recusa, o genitor passa a crer que a criança está se
afastando dele não pela conduta irresponsável que assumiu perante o filho, mas pelo
induzimento da mãe da criança.
Corroborando este entendimento, temos em Madaleno e Madaleno (2017) que o
elemento diagnóstico da autoalienação é a própria rejeição dos filhos em conviverem, ainda
47
que inicialmente, com uma nova família constituída pelo pai com outra mulher e seus filhos.
Porém, deve ser levada em consideração à própria vontade da criança em não desejar essa
convivência, de maneira consciente e livre de interferências, o que descaracteriza a alienação
parental. A própria incapacidade do genitor em se organizar perante a mudança familiar que
provocou é que invoca a autoalienação.
Nesse sentido, Regis (2019, s/n):
Parte da criação dos filhos, sobretudo dos homens, passa por uma máxima de
infalibilidade, aquele que não erra e que está sempre com a razão, ocultando seus sentimentos
em prol de uma imagem de virilidade. Isso se reflete quando esse homem adulto passa por
uma separação e ao não conseguir lidar com seus sentimentos, incluindo a culpa em relação
aos filhos, acaba a atribuindo-a a outrem. Por acreditar não ter culpa no afastamento dos
filhos, remete a culpa à sua ex-companheira, intentando por uma vitimização sua, enquanto
coloca a genitora como alienante dos filhos.
Conforme Leal (2017, p.56) também está presente na autoalienação “uma postura
invasiva e autoritária do genitor” para com os filhos. Conforme a autora, o genitor espelha
determinado tipo de comportamento na prole colocando todas as suas expectativas para que
aconteça exatamente como desejado. O alienante “não aceita que ela adote comportamento
diverso do esperado”. A criança nessa situação é tida como um objeto pertencente dos pais,
tendo o exercício de seus direitos violados.
Preceitua a Lei 8069/1990 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que
crianças e adolescentes são sujeitos de direitos. Dessa forma, o Estado buscou tutelar os
direitos da criança e adolescente não só na Lei 8069/1990, como também na Constituição
Federal que dispõe em seu artigo 227, que:
Em sua obra o autor pondera sobre algumas espécies de abusadores, quais sejam
classificados segundo suas características, observados quando de sua interação danosa e
abusiva com seus próprios filhos e com seus ex-companheiros.
Um dos efeitos mais comuns de serem observados na relação parental é a rejeição que
os filhos sentem quando defrontam com uma separação do casal. Rohner (2012 apud Leal
2017, p.58) tece considerações importantes a esse respeito. Assim, extrai-se o trecho abaixo:
De acordo com o exposto, quando de uma lide entre os genitores, o que estes buscam
tutelar são seus próprios interesses, tratando com egoísmo sua relação com a criança. A falta
de cautela com a observância dos interesses dos menores cega os genitores, tornando-os
incapazes de perceber os prejuízos que causam.
Nesse sentido, aduz Soares (2017, p. 177) que:
51
O surgimento do ECA se deu através da CRFB/88, que foi o principal marco jurídico
que pôs fim a doutrina da situação irregular de crianças e adolescentes. De acordo com
Marques (2011, s/n) o ECA “se sustenta em dois pilares: a concepção da criança e do
adolescente como sujeitos de direitos e a afirmação da sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento”.
Dispõe o artigo 2º do ECA que, “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade”. (BRASIL 1990)
Leciona Guilhermano (2012, p.9) sobre o ECA que:
O ECA é constituído por 267 artigos feitos para resguardar os interesses e direitos
dos menores, contudo ele não contém algumas situações ainda mais particulares em
que os mesmos devem ser amparados. Um desses casos [...] é o do menor vítima da
Alienação Parental, para o qual foi feita uma lei específica, em 2010, que
caracteriza, protege e aponta medidas a serem tomadas quando a mesma ocorre.
normas existentes para aplicação aos novos casos que vierem a surgir, assegurando dessa
forma que direitos não sejam violados.
Nesse sentido, de acordo com Leal (2017, p. 63):
Tem-se que dignidade é algo inerente à pessoa humana, que o faz merecer respeito e
adequado tratamento, com respeito às suas limitações. Assim, a dignidade da pessoa humana
pressupõe a existência de um conjunto de direitos e deveres que devem ser assegurados pelo
Estado, bem como devem ser promovidos e incentivados pela comunidade em que o
indivíduo se encontra inserido.
53
No que tange ao princípio da dignidade humana, aduz Guilhermano (2012, p.8) que:
Trata-se de fazer uma análise conjunta dos princípios que são fundamentais às pessoas
em desenvolvimento. Estas não podem ser discriminadas em virtude de sua condição peculiar
e transitória, qual seja sua situação etária. Mesmo que ainda não detenham capacidade para
responderem plenamente por si, os direitos fundamentais conferidos pelos princípios da
dignidade humana e do melhor interesse da criança não devem ser dissociados.
Alinhando-se à corrente que defende maior respeito às pessoas em desenvolvimento,
Sottomayor apud Leal (2017, p. 64):
1
Disponível em: < https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14708870/habeas-corpus-hc-69303-mg>
54
Segundo Sottomayor apud Leal (2017), ser ouvido e respeitado constituem direitos do
menor, que são provenientes do princípio do melhor interesse da criança. Entende a autora
que, a indeterminação do que seria o melhor interesse para a criança, não pode se transformar
em uma ferramenta para formar o livre convencimento do julgador. Assim, deve ser
observado o que preceitua o ordenamento jurídico e a análise formulada pelos auxiliares da
justiça, dando voz ao menor quanto às suas manifestações.
O respeito e a efetiva proteção aos direitos dos menores são imprescindíveis para que
o fenômeno da autoalienação parental seja aplacado. É o primeiro passo no sentido da
evolução do pensamento jurídico na conferência do direito de se expressar e ser ouvido ao
menor. Há uma pretensão de se conter os abusos psicológicos praticados contra os menores
pelos pais que se encontra resistida, pois, pouco se discute sobre o que é melhor para o
interesse do menor sobre seu próprio ponto de vista.
Assim, é necessária uma mudança de foco quanto aos interesses a serem tutelados. Se
a lide envolve o menor, sua manifestação de vontade também será plenamente válida, vez que
será afetado pela lide. Logo, deverá fazer parte do conjunto probatório, juntamente com as
análises produzidas pelos auxiliares judiciais.
autoalienação Parental é feita pelo próprio genitor que pratica atos, consciente ou
inconscientemente, afastando a sua própria prole de si mesmo.
Assim como a AP, a Autoalienação Parental é um ato complexo, sendo difícil sua
comprovação. Dessa forma é necessário atuação de profissionais capacitados na área para
identificar a prática desse ato, pois as consequências geradas à criança e ao adolescente
podem ser de natureza gravíssima.
Observa-se que a Lei 12.318/10 trata apenas da AP, não estando incluídos os atos de
Autoalienação. Dessa forma defende Leal (2015) que por não existir o reconhecimento
jurídico da autoalienação, há uma maior possibilidade dos tribunais nesses casos atribuir ao
outro a prática desse ato de maneira totalmente equivocada, ficando a criança a mercê do real
alienador.
Neste contexto, aduz Leal (2017) que a temática da Autoalienação Parental é pouco
discutida tendo pouquíssimas decisões judiciais que apontam essa prática. Dessa forma um
grande passo a ser tomado para um maior reconhecimento, defende a autora que seria a
alteração legal do dispositivo, trazendo uma maior publicidade sobre a existência dessa
prática a sociedade. Sendo assim propõe Leal (2017) a inclusão da autoalienação parental na
lei 12.318/10.
Apesar da AP e a Autoalienação Parental serem atos distintos, as consequências
geradas pelas práticas são as mesmas e as principais vítimas dessa situação é a parte mais
vulnerável, que são as crianças e adolescentes.
A prática de ambos os atos ferem direitos e garantias fundamentais, principalmente a
convivência familiar saudável além de afetar também a sua formação de valores e sua visão
acerca de suas relações familiares, assim como sua relação com outros membros que não são
componentes de sua família.
Embora Leal (2017) defenda a inclusão da autoalienação parental no sistema jurídico,
acredita a autora que essa inclusão por si só não seria efetiva para garantia dos direitos da
criança e do adolescente, porém seria um grande avanço, pois, a temática alcançaria uma
maior visibilidade perante a sociedade e consequentemente os debates acerca do assunto
seriam estimulados, dessa forma, haveria uma contribuição positiva para que não houvesse
aplicação errônea da Lei 12.318/10 em casos que envolvam autoalienação parental.
Nesse sentido acrescenta Leal (2017, p.91) “[...] é preciso dar esse passo à frente, para
que o combate à alienação parental não se torne, por si, uma forma de alienação parental
provocada pelo próprio Poder Judiciário.”
56
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo a análise acerca da aplicação da Lei 12.318/10
conhecida como Lei de Alienação Parental.
Primeiramente realizou-se a definição do conceito de Alienação Parental e suas
diferenças, além das transformações do conceito de Família e Poder Familiar.
Ao compreender a perspectiva histórica do conceito de Família e Poder Familiar, nota-
se que, com o surgimento do Estatuto da Mulher casada (Lei 4.121/62), a mulher passou a ser
sujeito de direitos além de também poder exercer o poder familiar com a mesma igualdade de
direitos que os homens.
A promulgação da CRFB/1988 conferiu à mulher os mesmos direitos que eram
garantidos aos homens. Além disso, foi possível falar no reconhecimento de diversos núcleos
familiares distintos, que romperam os preconceitos engessados nas épocas anteriores a
CRFB/1988, bem como a correção das disparidades de tratamento que eram conferidos aos
membros da família, principalmente no que tange a filhos havidos fora do casamento. Em
razão dessas transformações, em 1977 foi aprovado a Lei de n° 6.515 que dispunha sobre o
divórcio, com isso a mulher casada poderia dissolver a sociedade conjugal sem qualquer
impedimento.
A AP, na maioria dos casos, se origina da dissolução da sociedade conjugal, devido à
disputa de guarda. Verifica-se que com a ruptura do vínculo afetivo entre os progenitores, na
maioria das vezes, surgem sentimentos de ódio pelo outro e os filhos acabam sendo objeto
dessa relação. Assim sendo, a AP é toda interferência psicológica realizada na criança ou no
adolescente com o objetivo de fazê-la odiar ou repudiar o outro genitor sem justificativa
alguma ocasionando prejuízo ou a quebra do vínculo afetivo entre o genitor e a prole.
Salienta-se que a AP e a SAP não se confundem. Enquanto a primeira decorre de atos
praticados pela figura do alienador, a segunda é consequência da primeira.
No segundo momento, foi abordado sobre a aplicação da Lei de AP, bem como os
desafios da perícia multidisciplinar.
Nota-se por meio das discussões doutrinárias os diversos posicionamentos acerca da
aplicação da lei de AP.
Por um lado há doutrinadores que defendem que a Lei de AP está sendo utilizada
como escudo para abusadores se safarem dos crimes sexuais cometidos contra crianças e
adolescentes, enquanto que por outro lado, há doutrinadores que defendem que a Lei vem
58
sendo utilizada como meio de vingança por um dos genitores com o objetivo de prejudicar o
outro, utilizando-se dos filhos como mero objeto.
Diante disso é mister a atuação de uma equipe multidisciplinar para identificar tais
atos, auxiliando a atuação do Judiciário para amenizar ou cessar desde já os efeitos causados
pela prática da AP.
As consequências geradas pela aplicação da Lei 12.318/10 variam de advertência ao
alienador até a suspensão da autoridade parental, que é a medida mais drástica a ser tomada.
Por fim, foi explanado acerca da Autoalienação Parental e sua inclusão no
ordenamento jurídico, além do Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
Diferentemente da AP a Autoalienação Parental é provocada pelo próprio genitor que
se diz alienado. Na maioria das vezes, inconscientemente pratica atos que possuem o condão
de afastar a própria prole de si. Ainda não há reconhecimento da Autoalienação Parental no
ordenamento jurídico.
A prática da AP e da Autoalienação viola direitos e garantias fundamentais da criança e
do adolescente que são tutelados pelo Estado. As consequências geradas por ato podem ser
irreversíveis, pois há um prejuízo ao desenvolvimento físico e psíquico da criança e do
adolescente, além dos danos emocionais que podem ser causados.
As vítimas da síndrome da Alienação parental têm sido tratadas como mero objeto de
discussão. Há uma preocupação maior na punição para os alienantes, o que é positivo, mas
ainda não há soluções efetivas com vistas à garantia do desenvolvimento saudável de crianças
e adolescentes que são as principais vitimas e sofrem os maiores impactos.
Portanto, chega-se a consideração de que, ainda não se tem um enfoque maior nos
principais afetados dessa síndrome.
A lei de maneira particular deveria ter uma maior perspectiva no que tange às medidas
de reparação do problema, invés de dar um enfoque maior em previsão de punições aos
alienantes, o que muitas vezes não ocorre de maneira efetiva, pois a dificuldade de se provar
algo dessa grandeza é elevada. Trata-se de uma ação abstrata em que a prova é altamente
complexa.
Ante o exposto, conclui-se que a aplicação da lei 12.318/2010 não é uma tarefa
simples e deve ser realizada com muita cautela pelo Poder Judiciário, pois pode ser um
instrumento tanto de ofuscar a discussão de abuso por parte do suposto alienado, quanto pode
ser uma situação de autoalienação. Portanto, a aplicação da lei deve ser precedida de um
estudo psicossocial que justifique a aplicação de medidas que também devem ter um caráter
menos punitivista e mais protecionista no que tange aos direitos das crianças e adolescentes.
59
REFERÊNCIAS
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Senado. Disponível em: <
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus : HC 69303 MG. Relator (a): Min. Néri
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https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14708870/habeas-corpus-hc-69303-mg> Acesso em
16 de novembro de 2019.
COMPROMISSO E ATITUDE.Alienação parental: por que uma lei mobilizada para defender
abusadores ganhou tanto terreno no sistema de justiça brasileiro?. Disponivel em:
<http://www.compromissoeatitude.org.br/alienacao-parental-por-que-uma-lei-mobilizada-
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15 de março de 2019.
60
COELHO. Curso de Direito Civil, Família Sucessões.5°ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012
CRUZ, Rubia Abs da. Alienação parental: uma nova forma de violência contra a mulher.
Disponível em: <http://www.justificando.com/2017/08/23/alienacao-parental-uma-nova-
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CHIESA, Bianca. Uma síntese das opiniões do Dr. Richard Gardner sobre pedofilia e
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