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Análise Psicológica (1997), 3 (XV): 375-388

Psicologia comunitária
Origens, fundamentos e áreas de intervenção

JOSÉ ORNELAS (*)

1. ORIGENS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA sivo na criação de um novo paradigma de inter-


venção na comunidade.
tooda uma gama de
A Psicologia Comunitária surge em meados A prestação de cuidados numa base comunitá-
mudanças no âmbito
da ciência e cultura.
da década de 60, no decurso de um período de ria, foi inspirada conceptualmente a partir de quer dizer, a questão da
importância da comunidade na
e a questão mesmo grandes transformações, não somente na área da métodos e modelos desenvolvidos com soldados melhora da pessoa.
do que a professora
disse da modernidade Saúde Mental, mas também na sociedade em ge- durante a II Guerra Mundial, por exemplo, a
e a suas características
da contra-revolução. ral. Colocaram-se novas questões relacionadas ideia de que a ajuda deveria localizar-se estrate-
Que é a luta pelas com os problemas sociais, acrescidas de um ritmo
causas. gicamente no local onde as problemáticas ocor-
de mudança acelarado e abrangente o que levou rem e proporcionada de forma tão breve, quanto
outros olhares para os a que, metodologias até aí utilizadas para a com-
fenômenos sociais come- possível. O sucesso alcançado na prestação de
çaram a aparecer. preensão dos fenómenos sociais, se tornassem suporte estruturado durante situações de crise,
inadequadas. representou um desafio claro à ineficácia ante-
Um momento decisivo para a abordagem co-
riormente sentida em relação às crises desenca-
munitária, foram as propostas de mudança apre-
deadas pelas doenças mentais.
sentadas pelo Presidente Kennedy1 ao Congresso
No seguimento destes resultados e, devido às
Americano em 1963, onde defendeu a reintegra-
condições degradadas em que funcionavam os
ção dos doentes mentais na comunidade e apelou
a uma perspectiva preventiva do sofrimento hu- Hospitais Psiquiátricos, advogando alguns auto-
mano e à promoção de uma visão positiva da res que estes criavam mais problemas dos que os as instituições psiquiátricas, "
Castel: "revolving door",
Essa Saúde Mental
Saúde Mental. Este conjunto de propostas deu que resolviam (Goffman, 1961), levou a que se Goffman, Em nome da Razão.
Comunitária era a inte-
gração de pessoas na origem à Lei dos Centros de Saúde Mental Co- acreditasse que muitos dos doentes mentais po-
sociedade, sem nenhum
tipo de trabalho na munitários, que desempenharam um papel deci- deriam ser mantidos fora destas Instituições e
comunidade, e o que
contribui para o adoecimento
para tal, seria relevante a criação de serviços na
das pessoas. comunidade.
Estudos Epidemiológicos como os de Dohren-
(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada. wend e Dohrenwend (1969), Strole et. al. (1962),
1
Uma visão positiva da Saúde Mental significa mais
do que a ausência de sintomatologia, inclui um bem-
e Leighton (1963), demonstraram de forma con-
-estar que permite ao indivíduo alcançar com sucesso sistente, uma relação inversa entre o status social
e satisfação os seus objectivos pessoais. e as perturbações psicológicas e concluiram, que

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as problemáticas emocionais são mais frequentes ção do suporte necessário à comunidade e aos
e mais profundas em grupos populacionais de seus líderes, de modo a que esta funcionasse efi-
baixos rendimentos, mas também que essas pro- cazmente, com o seu contributo como consulto-
as questões sociais
que estão presente nas blemáticas surgiam em áreas geográficas onde a res para a resolução de situações-problema.
problemáticas sociais.
desorganização social tendia a prevalecer, apon- Rappaport (1977), refere-se à Saúde Mental
as condições sociais não
são um reflexo nas pessoas.tando estes dados, para a necessidade de refor- Comunitária como uma abordagem dos proble-
Existe um filtro que faz
com que as pessoas elaborem mas no sistema de saúde mental. mas comunitários que rejeita a noção de défice,
de alguma maneira isso tudo.
Segundo Vigotsky e Sawaia.
A relação entre os problemas sociais e a Saúde e defende o princípio do ajustamento do indiví- esse olhar de adaptação e
ajustamento do indivíduo a
Mental, levou à progressiva substituição do duo ao seu meio, da relatividade cultural e da realidade. Muito pouco fala da
própria realidade que é
Como Rosa de Luxemburgomodelo biológico e individual, por uma interven- diversidade, que transforma o objectivo da in- adoecida. É sempre um olhar
falava: primeiro a reformas, ção educacional, de crítica social, de implemen- tervenção social no fornecimento de recursos individualizado para o
mas depois a revolução. problema. Como se o indivíduo
Aqui que é o Gramsci, que étação de reformas e planeamento social. Exemplo materiais, educacionais e psicológicos de supor- é que tivesse que modificar.
o argumento da marxismo
cultural, de entrar com al- desta mudança de papéis, são os programas de te, aos indivíduos e grupos de uma comunidade
gumas mudanças culturais,
para depois enfrentar a lutaluta contra a Pobreza desencadeados nos anos 60 que assim, podem viver segundo formas diferen-
de classes, a luta pelo poder.
que, para além de incidirem na prestação de servi- ciadas da sociedade em geral (pag. 61).
ços directos a nível educacional, assistência habi- A perspectiva da Saúde Mental Comunitária,
o estado de bem-estar social.
tacional e de segurança social, foram estruturados segundo Bloom (1973), pode ser descrita em ter-
para modificar os sistemas de prestação de mos da sua localização (na comunidade), nível
serviços vigentes, bem como as suas instituições, de intervenção (numa comunidade global ou
para melhorar os serviços dirigidos aos grupos grupo específico, por exemplo, área geográfica
mais empobrecidos. Estes Programas de Luta ou uma população em risco), o tipo de serviços
contra a Pobreza que tinham como objectivo a (serviços preventivos) e a forma como são pres-
já vem trazendo a questãomudança social e a prestação de assistência tados (serviços indirectos, através da consultoria
do conceito de poder.
directa à população, preconizavam uma maior e educação), bem como a sua estratégia (o maior
tem gente que se diz insti- participação social do grupo-alvo, facto que deu número de indivíduos possível), o tipo de
tucionalista, onde o 2 que poder é
desenvolvimento vem aos origem ao conceito de Community Control . esse? de fala?planeamento (focalização em necessidades pre-
poucos, progressivamente, O clima generalizado de mudança, impulsio- valentes em populações de alto-risco e coorde-
com a ajuda das instituições.
nou a experimentação de diferentes modelos de nação de serviços), os seus recursos humanos
prestação de serviços para alcançar as popula- (utilização de profissionais e não-profissionais
os trabalhadores
ções até aí não abrangidas e envolveu profissio- como estudantes e pessoas, de alguma forma,
nais de saúde mental nos programas preconiza- ligadas ao grupo-alvo), os processos de decisão
dos pelos Centros de Saúde Mental Comunitá- (responsabilidade partilhada) e, finalmente as
rios. Os profissionais envolvidos nestes progra- suas concepções etiológicas (realce das causas
a mudança do Coneito de mas comunitários, adoptaram os princípios dos ambientais das perturbações emocionais).
Saúde, ou seja, a questão
movimentos dos Direitos Civis das décadas de
de que o lugar, a sociedade, O termo Psicologia Comunitária surge em
também influenciavam na
saúde da pessoa. 50 e 60, no sentido de se conseguirem idênticas 1965, no âmbito da Conferência de Swampscott
mudanças sociais e económicas no âmbito da – Boston, que incidiu sobre o papel dos psicó-
Saúde Mental. O conceito de doença, como logos no Movimento da Saúde Mental Comuni-
e toda uma concepção de
"empoderamento" que era factor eminentemente pessoal, foi substituído tária. Nesta Conferência foram definidas três
a coisa da pessoa também
trabalhar a sua vontade. pela atribuição da responsabilidade ao sistema grandes prioridades: (1) Intervir a nível da Pre-
Será a co-participação?
Mas isso vai ajudar ele? Umasocial em proporcionar um ambiente adequado venção Primária; (2) intervir a nível da comuni-
vez que não existe uma
horizontalidade, não existe
ao desenvolvimento individual. O principal dade e (3) intervir numa perspectiva de mudan-
poder igual. objectivo dos profissionais, passou a ser a presta- ça. Rappaport (1977), realça que estamos com a
Psicologia Comunitária perante uma mudança
de paradigma, tendo verificado-se alterações na
2
Significa Controlo por parte da Comunidade, si- forma como as questões são levantadas e nos
tuando-se para além da implementação de um Progra- métodos usados para se obter respostas.
ma e pressupõe a participação activa dos membros de
uma comunidade na resolução dos seus próprios pro- Nas últimas duas décadas, a Psicologia Comu-
blemas. A comunidade assume a responsabilidade por nitária tem-se focalizado na criação de serviços
todos os seus cidadãos, o que implica o controlo sobre adequados a populações socialmente marginali-
os Programas que lhes são dirigidos. zadas, ao desenvolvimento de técnicas inovado-

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ras de prestação de serviços e estratégias de Em- paradigma científico e um conjunto de valores,
powerment no sentido de facilitar a participação partindo do pressuposto de que o ambiente exer-
destes grupos. ce efeitos significativos no comportamento hu-
Os psicólogos comunitários construiram uma mano.
nova visão do psicólogo, cujo principal objectivo O estudo de unidades maiores do que os or-
passou a ser o estudo, a compreensão, a concep- ganismos individuais tem vindo a ser o objecto
tualização e a intervenção rigorosa nos proces- da Ecologia, incluindo populações, comunida-
sos, através dos quais, as comunidades pudessem des, ecossistemas e a biosfera. Assim, a popula-
melhorar o estado psicológico geral dos indiví- ção pode ser definida como um grupo de indi-
duos que nela vivessem. víduos com semelhanças e a comunidade como
De notar que esta nova perspectiva requer que uma população numa área determinada; quando
utilizemos concepções teóricas que incluam uni- esta surge associada ao que é inanimado, ambos
dades de análise mais amplas. Por isso, uma ca- constituem o ecossistema e, finalmente, a biosfe-
racterística importante da Psicologia Comunitá- ra refere-se ao ambiente global habitado. Do
ria é o ênfase dado ao ponto de vista ecológico mesmo modo que a Ecologia, a Psicologia Co-
que é caracterizado pelo ajustamento entre os in- munitária focaliza-se na relação íntima entre os
divíduos e os seus ambientes, centralizando-se organismos e os recursos, utilizando o conceito
na relação entre os indivíduos que funcionam co- de organismo como produto das suas proprieda-
mo uma comunidade, como um grupo específico des e a sua adaptabilidade aos recursos existen-
que possui um sistema elaborado de relações tes ou em mudança, chamando assim a atenção
formais e informais. para o que está para além da pessoa, individual-
Heller e Monahan (1977), igualmente realça- mente considerada.
ram a necessidade de focalização em níveis A perspectiva ecológica, segundo Kelly
ecológicos mais amplos que não o exclusiva- (1987), transpõe para a Psicologia, a necessida-
mente individual. Korchin (1976), enfatizou os de da observação dos indivíduos nos seus con-
para mim, isso é Gestalt, e a teoria
factores do ambiente social e o ênfase em inter- textos naturais, propõe a impossibilidade de se- do campo, com essa ideia do todo.
venções centradas nos sistemas, por oposição às paração da definição dos problemas, dos méto-
intervenções centradas no indivíduo. Graziano e dos de investigação, dos valores subjacentes e o
Moony (1984), destacaram a diferença entre a trabalho ou posição do interventor social, pelo
orientação comunitária e a individual, em termos que a investigação comunitária é uma interven-
da opção relativa ao alvo de intervenção. ção no fluxo contínuo da vida comunitária.
Se analisarmos o conceito comunitário, ao ní- Segundo Trickett, Kelly e Vincent (1985), as
vel da intervenção social e não individual, adi- actividades da investigação comunitária, são fo-
cionamos ao social, uma perpectiva política. calizadas nas trocas de recursos que envolvem
Por política, não nos referimos ao sentido tradi- pessoas, contextos e acontecimentos, cujo
cional do termo (eleições ou partidos políticos), objectivo é criar produtos que beneficiem a co-
mas sim, à intervenção local no sentido da reso- munidade como um todo. A investigação de ba-
lução de problemas específicos, através da cria- se ecológica é parte integrante da comunidade e
ção de novos recursos. Segundo Korchin (1976), é afectada por esta, tornando-se por esse facto,
a intervenção social está íntimamente ligada à mais flexível e improvisada que a investigação
acção política e às reformas sociais. de laboratório. Este tipo de investigação, modifi-
ca inevitavelmente a comunidade e os seus habi-
tantes, de formas consideradas relevantes e, por
2. FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA isso, toda esta actividade deverá ser entendida
COMUNITÁRIA numa perspectiva longitudinal.
A perspectiva ecológica, na generalidade, não
entende o comportamento humano como o efeito
2.1. Psicologia Comunitária e Ecologia linear de uma causa única e isolada, o que repre-
senta uma separação clara em relação à tradição
A Ecologia é um referencial fundamental à dominante na Psicologia, que tem por base a tes-
Psicologia Comunitária, funcionando como um tagem de hipóteses causais.

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James Kelly (1966), ao propor uma analogia cionalização, implicaram o desenvolvimento de
entre a Psicologia Comunitária e a Ecologia, uma intervenção, sem o conhecimento amplo de
identificou quatro princípios para a abordagem como as comunidades distribuíam os seus recur-
da intervenção comunitária: O primeiro, relacio- sos. A expectativa de que os recursos da comu-
na-se com o facto de os componentes de uma nidade dariam resposta às necessidades apresen-
unidade social serem interdependentes, isto é, as tadas pelos Doentes Mentais na comunidade, não
mudanças num dos componentes de um ecossis- foi totalmente alcançada, porque enquanto as
tema, produzirão mudanças noutros componen- Instituições Psiquiátricas se mantiverem abertas,
tes desse mesmo ecossistema, por exemplo, a os custos da sua operacionalidade continuaram a
Desinstitucionalização dos Doentes Mentais das existir.
Instituições Psiquiátricos teve efeitos importan- O terceiro princípio, é o da Adaptação, que
tes noutros sistemas para além do da Saúde realça a especificidade dos recursos que o meio
Mental; teve repercursões ao nível do sistema proporciona e como estes podem facilitar deter-
judicial, de Saúde e dos serviços de apoio social minados comportamentos e constranger outros.
(Levine e Perkins, 1987). O princípio da interde- Assim, a adaptação é o processo pelo qual, os or-
pendência, refere-se não somente à existência de ganismos podem introduzir variações nos seus
uma influência mútua entre os componentes da hábitos ou características, para lidar com os
comunidade, mas também à sua interacção dinâ- recursos disponíveis ou em mudança. Este con-
mica ao longo do tempo. Este princípio, realça a ceito, está relacionado com outro conceito que é
complexidade dos processos de mudança e tam- o de Nicho, que se refere ao habitat, no qual uma
bém aponta a comunidade como unidade base criatura pode viver, pelo que quanto maior for a
para a intervenção, direccionando a nossa aten- diversificação do habitat, no qual se podem en-
ção para um nível diferente do da análise exclu- contrar diversas criaturas do mesmo tipo, maior
siva das características internas de um determi- será o nicho. Mills e Kelly (1972), defendem que
nado indivíduo. Outra implicação da interdepen- o conceito de nicho nos leva a pensar no desen-
dência, relaciona-se com o facto de que os pro- volvimento de papeis funcionais numa organiza-
fissionais de saúde mental, ao intervir na comu- ção social e na provisão de recursos adequados
nidade, terão de adoptar papeis diferenciados e às características da população que ocupa esse
trabalhar noutros ambientes em que habitual- nicho. Considerando, o exemplo, dos doentes
mente não se encontravam. mentais institucionalizados, as características
O segundo princípio, relaciona-se com o ca- do seu comportamento são, até certo ponto, re-
rácter cíclico dos Recursos (cycling of Resour- flexo de um contexto limitado nos seus recursos.
ces) e sugere que no sistema biológico, a transfe- Assim, o treino de competências para o dia-a-
rência de energia revela os componentes indivi- -dia, pode proporcionar-lhes o acesso a outros
duais que constituem o sistema e as suas interre- recursos diversificados, como residências co-
lações; a energia é transmitida através deste ci- munitárias, novas fontes de rendimento ou opor-
clo, ou seja, o que resta numa etapa serve de ba- tunidades de desempenho de uma actividade
se para a fase seguinte do ciclo. profissional, o seu nicho alarga o âmbito e a pro-
Da mesma forma, uma intervenção comuni- babilidade de se adaptar à vida na comunidade
tária, representa uma mudança na forma como os aumenta. Kruzich e Berg (1985), concluiram
recursos são transformados, o que implica tocar que a auto-suficiência dos doentes mentais de
na forma como estes são criados e distribuídos, evolução prolongada, depende mais das caracte-
pelo que Kelly (1987), considera que antes de se rísticas organizacionais dos serviços de longo
intervir na mudança de distribuição dos recursos, prazo onde vivem, do que das suas característi-
deve procurar conhecer-se como funcionam os cas pessoais. Para o estudo das atitudes dos pro-
ciclos dos recursos comunitários existentes. Para fissionais, os conceitos de Nicho e Adaptação
operar mudança na comunidade é necessário são úteis, porque nos ajudam a pensar em novos
que se saiba primeiro como é que ela funciona; recursos considerados relevantes, também nos
por exemplo, as dificuldades encontradas na ajudam a aceitar as diferenças entre os indiví-
transferência de recursos da Instuição Psiquiátri- duos e, se necessário, considerar soluções tais
ca para a comunidade, como suporte à desinstitu- como a reorganização do ambiente às necessida-

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des dos indivíduos com maiores dificuldades de so aos recursos, pelo que a resolução de um pro-
adaptação ao meio. blema requer adaptação, tornando-se assim es-
O quarto princípio de James Kelly, relaciona- sencial introduzir mudança no sistema, tanto
-se com a Sucessão, que implica a avaliação dos numa perspectiva de curto como de longo prazo.
ambientes ou contextos como algo não estático. O terceiro princípio, focaliza-se na eficácia do
Enquanto que a interdependência nos ensina a suporte e implica que este se localize estrategica-
entender a comunidade antes de tentar alterá-la, mente no epicentro do problema, enfatizando a
a sucessão implica que tal mudança, tanto natu- abordagem situacional inerente à analogia de ba-
ral como artificial possa contribuir para uma se ecológica, que sugere que alteremos a nossa
maior compreensão do contexto. perspectiva sobre as formas de prestação de aju-
A utilização deste princípio da Sucessão, pode da. Em vez do encaminhamento, este princípio
alertar para a utilidade de novos recursos, como sugere que o suporte deverá ir ao encontro do
por exemplo, os grupos de Ajuda Mútua, que indivíduo ou mais precisamente, do contexto
têm sido considerados como uma forma de su- no qual a pessoa é definida como constituindo o
cessão à utilização dos profissionais na prestação problema. A perspectiva ecológica, propõe assim
de apoio às populações ou grupos com alguma que se examine ou analise as circinstâncias am-
desvantagem. Na relação entre o movimento da bientais ou contextuais, lembrando que se deve
ajuda mútua e o papel dos profissionais de saúde ter em conta tanto a dimensão espacial como a
mental, pode observar-se o desenvolvimento de dimensão temporal de um problema.
um novo paradigma de suporte para as popula- O quarto princípio, direcciona-se para os
ções, baseada nas possibilidades de trocas de re- objectivos e valores do agente prestador de su-
cursos para satisfazer necessidades. Segundo porte ou serviços que deverão ser consistentes
este princípio, os problemas e as limitações com com os objectivos e valores do contexto. Este
que nos defrontamos residem na capacidade de princípio, confronta-nos com a questão dos valo-
visionar e criar novos contextos. res no âmbito da intervenção e parte do pressu-
No seguimento dos trabalhos de Kelly (1966) posto de que cada contexto contém propósitos
e Levine (1969), desenvolveram-se a partir dos explícitos e implícitos. Deste modo, se os
pressupostos da Ecologia, cinco princípios-base objectivos de mudança forem consistentes com
para a prática da Psicologia Comunitária: o pri- esses propósitos, o processo de mudança não es-
meiro princípio reconhece que um problema timulará a resistência, mas se os valores essen-
surge num contexto ou numa situação. Os factos ciais do agente social de mudança entrarem em
podem impulsionar, exacerbar ou manter um conflito com os valores e objectivos do contexto,
determinado problema, pelo que os nossos esfor- poderá esperar-se oposição, incluindo esforços
ços de diagnóstico não deverão focalizar-se de bloqueio à mudança ou mesmo, exclusão do
exclusivamente na descrição das características agente. Os valores e objectivos diferentes dos
dos indivíduos envolvidos, mas também na com- que caracterizam um determinado contexto, po-
preensão das características dos contextos da si- dem ser prosseguidos, mas tal não acontecerá
tuação-problema. Precisamos de encontrar onde sem conflito, defendendo alguns autores (Levine
falha o ajustamento entre os indivíduos e os con- e Perkins, 1987) o argumento de que o conflito é
textos, indagar da possibilidade de encontar ou- essencial à mudança e que deve ser induzido
tras formas de utilização de recursos diferencia- conscientemente para a produzir, o erro reside
dos e como poderá esse facto conduzir-nos a ín- em não anticipar uma situação de conflito ou não
dices de adaptabilidade e de comportamento in- compreender a sua base.
dividual diferentes mais ajustados e funcionais. O quinto princípio, relaciona-se com a presta-
O segundo princípio, relaciona-se com a no- ção do Suporte que se deve estabelecer numa ba-
ção ecológica de interdependência, implica que se sistemática, utilizando os recursos naturais do
as pessoas e os contextos funcionam como parte contexto ou introduzindo novos recursos que po-
do mesmo sistema integrado. Este princípio, su- dem passar a ser parte integrante do contexto.
gere que a capacidade adaptativa dos indivíduos Sugere-nos este princípio, que se deve procurar
num determinado contexto é limitada, tanto pela compreender a natureza dos recursos e como a
natureza da organização social, como pelo aces- comunidade estabelece o ciclo desses mesmos

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recursos, adoptando-se uma afirmação da prefe- A teoria da crise é útil, porque apela para a opor-
rência por um tipo de mudança que perdure no tunidade e importância da intervenção que se
tempo e mantenha a capacidade para ajudar na pode situar nos diferentes níveis dos processos
resolução de problemas, num determinado con- de confrontação e das situações-problema.
texto. Para a mudança perdurar, deverá compre- A teorização da crise, relacionada com a pers-
ender-se como é que o novo componente se pectiva comunitária, teve início com os trabalhos
ajustará no nicho anterior e como será o ecossis- de Erich Lindemann (1944), num estudo de pes-
tema afectado pela mudança. As ideias de inter- soas relacionadas com as vítimas de um incêndio
dependência e de sucessão, são a chave para al- em Boston, nos Estados Unidos da América,
cançar efeitos preventivos de longo prazo através onde observou que cada indivíduo que havia
de programas que utilizem nichos permanentes perdido alguém, teve que se adaptar à situação
nas comunidades onde estão implantados. de ausência da pessoa falecida, recriando um
Estes princípios, estabelecem o enquadra- ambiente que não a incluia e formando novas
mento para a conceptualização e para a acção na relações e ligações sociais. Concluiu este autor, a
Psicologia Comunitária e contribuem para o de- partir deste estudo que os acontecimentos ine-
sign da avaliação da intervenção, para a estru- vitáveis tendem a gerar tensão emocional e, na
turação de estratégias de mudança social e inves- generalidade, requerem adaptação. A origem
tigação neste domínio. etimológica da palavra crise, vem do grego e
A analogia ecológica é um dos fundamentos significa decidir e ocorre quando os indivíduos
principais da Psicologia Comunitária, porque a enfrentam obstáculos aos objectivos considera-
Ecologia, ao lidar com unidades maiores que a dos relevantes, obstáculos esses que parecem ser
pessoa individualmente considerada, enfatiza os intransponíveis pela utilização dos métodos
contextos naturais, considerando-os como os comuns de resolução de problemas. A crise é
mais válidos e apropriados locais para a investi- precipitada por qualquer situação que perturbe a
gação e esta última passa a definir-se como um adaptação anterior e requer novas respostas,
processo de colaboração continuado entre o in- desafiando os indivíduos a alterações súbitas da
vestigador e os contextos comunitários. sua comduta.
Os princípios propostos por Kelly (1966 e Numa crise podemos identificar algumas ca-
1971) e revistos por Levine (1969 e 1987), refor- racterísticas, em primeiro lugar, que o aconteci-
çam a ideia de que os problemas e as suas solu- mento negativo ou que provoca stress implica
ções devem ser perspectivados em ligação a um mudança, apresenta-se como um novo problema
determinado contexto. Assim, as intervenções para o indivíduo, que pode ser percepcionado co-
que tomarem este facto em consideração, deve- mo irresolúvel no presente ou no futuro ime-
rão ter presente que os seus resultados podem ser diato. Os acontecimentos considerados vitais
diversificados e produzir efeitos desejados ou in- podem ser anticipáveis ou não, sendo destes últi-
desejados, pois não se poderá deixar de lado o mos exemplo, a morte de um familiar, a perda de
facto de que os contextos não são uniformes. emprego, ou uma doença resultante de uma inca-
pacidade ou acidente súbitos, ou podem ser uma
2.2. Psicologia Comunitária e a Teoria da ameaça, por exemplo de acidente físico, assalto,
Crise violação ou outro tipo de dano que possa pôr em
perigo a integridade e que está para além do
Outro fundamento teórico importante para a controlo pessoal.
Psicologia Comunitária é a denominada Teoria Por seu turno, os acontecimentos anticipáveis
da Crise que pode ser analisada e integrada numa estão normalmente associados a transições de
perspectiva comunitária, ao argumentar que as papel, mudanças no estilo de vida, novas respon-
situações de crise surgem em resultado de uma sabilidades ou a necessidade de desenvolver no-
falha na socialização e de dificuldades de respos- vas relações sociais, como por exemplo, a entra-
ta às circunstâncias, ou seja, as diferenças de da para uma nova escola, maternidade ou a pa-
funcionamento entre os indivíduos estão em ternidade, a reforma ou as mudanças de habita-
função dos suportes do meio e da disponibili- ção. O carácter de anticipação destes aconteci-
dade de moderadores para as situações conflito. mentos, pode permitir ao indivíduo a decisão so-

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bre algum tipo de acção preventiva que permita biente ou pelo aumento das competências indivi-
obter suporte para quando considerar necessário. duais.
Uma segunda característica de uma situação O termo adaptação social, parece implicar
de crise, está relacionada com a natureza do pro- que o indivíduo deve ajustar-se a um determina-
blema e com os recursos do indivíduo ou dos do sistema social, o que implica transacções es-
que lhe estão próximo, tendo em conta a sua rede truturadas entre o indivíduo e o meio. Como os
a nível material, física ou psicológica. A crise acontecimentos vitais podem ameaçar a disponi-
surge quando os métodos individuais para lidar bilidade de recursos e provocar ruptura nas tran-
com as emoções e com os problemas exteriores, sições sociais em curso tendem a requerer uma
demonstram ser desadequados e uma das conse- resposta adaptativa. Um número elevado de si-
quências é que a pessoa em crise, pode sentir-se, tuações de ruptura, requer processos de adapta-
ineficaz, ansiosa, receosa e culpabilizada com o ção significativos de modo a permitir a sobrevi-
resultado das suas acções. A situação de crise vência, o indivíduo pode correr o risco de ficar
pode também fazer ressurgir problemas pessoais desprovido dos meios para participar nas trocas
antigos, pois o estado de vulnerabilidade faz com de bens e serviços, facto que pode conduzir a no-
que o passado possa ser reactualizado e adicio- vas situações de ruptura e consequentemente ao
nar-se ao problema presente. isolamento social.
A fase aguda de uma situação de crise é con- A adaptação pode envolver dimensões bioló-
siderada como um período de grande vulnerabi- gicas, sociais, de auto-referência ou valorativas,
lidade que pode ser dividida em duas partes, uma pelo que um determinado estado de adaptação é
relacionada com o impacto inicial e a outra com também uma situação específica e temporária.
o aumento de tensão. O impacto inicial, refere-se Novas situações de ruptura podem surgir em re-
sultado de outros factores de stress ou mudanças
ao reconhecimento de que o indivíduo está pe-
no ambiente, por isso inevitavelmente, períodos
rante uma situação que requer uma resposta; por
de adaptação alternam com períodos transitórios
vezes, esta fase é acompanhada por um estado de
de desiquilíbrio.
choque ou entorpecimento, mas logo depois au-
menta o estado de tensão, quando o indivíduo re-
conhece que tem que agir. Com o aumento da 2.3. Psicologia Comunitária e Suporte Social
tensão, o indivíduo utiliza as suas respostas de Para a Psicologia Comunitária, a área do su-
resolução de problemas que podem ser a depen- porte social com maior relevância tem a ver com
dência de outra pessoa que toma decisões em seu os indivíduos em situação de isolamento, que
lugar, simplesmente retira-se ou procura activa- não façam parte de nenhuma rede social e, por
mente informação ou alternativas para a resolu- esse facto, estejam extremamente vulneráveis.
ção da situação. A tensão dissipa-se quando o Os trabalhos de Blazer (1982) e Lynch (1977),
problema é resolvido e se os meios utilizados realçaram o facto de que a solidão e o isolamen-
para a resolução do mesmo tiver trazido algo de to podem levar a situações extremas. As redes
novo, pode o indivíduo considerar ter «crescido» dos indivíduos isolados por longos períodos,
ou desenvolvido novos conhecimentos ou tendem a ser preenchidas por profissionais, liga-
competências e ter adquirido novos recursos dos ao sistema público ou por conhecidos com
pessoais. uma problemática idêntica.
Dohrenwend (1978), partindo da Teoria da A situação dos indivíduos isolados socialmen-
Crise, definiu como um dos objectivos da Psico- te, contrasta com a da maioria das pessoas que
logia Comunitária, a compreensão do processo dispõem de um tipo de suporte não estigma-
pelo qual o stress gera perturbações emocionais tizante, como sejam os seus colegas de trabalho,
e considerou como fundamental o conceito de conjuge, família, amigos ou profissionais de aju-
adaptação que descreveu como sendo o aumento da (ex: médicos, advogados ou outros). Tanto os
nos índices de ajustamento entre o indivíduo e as utilizadores do sistema público como do sistema
exigências ou os constrangimentos do meio. O privado, têm que ter algumas competências para
processo de adaptação pode ser facilitado pelo poder ter acesso aos recursos proporcionados
alargamento do nicho proporcionado pelo am- pela rede. Aqueles que dependem de uma rede do

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domínio público, têm que ter competências para chegaram à conclusão de que as redes sociais das
ultrapassar barreiras burocráticas, enquanto que pessoas com problemas psiquiátricos são ca-
aqueles que dependem das suas famílias e do racterizadas na generalidade por menor número
mercado privado, podem ter que utilizar tipos de ligações, incluindo ligações íntimas, maior
diversos de competências e abordagens. número de relações assimétricas e de dependên-
O suporte social, tem impacto no aumento ou cia e índices mais baixos de suporte social per-
redução da resistência individual ao stress e a cepcionado (Pattison, 1975; Tolsdorf, 1976).
presença de suporte muda a natureza do contexto Uma comparação entre doentes mentais e
situacional do indivíduo, de tal modo que os que doentes físicos, por exemplo, concluiu que os
experienciam situações de stress não estão em doentes mentais apresentam menos laços ínti-
idêntica situação de risco de vir a sofrer de per- mos, menor reciprocidade nas relações e menor
turbações a nível emocional. vontade de utilizar as suas redes em tempos de
O papel desempenhado pelo suporte social crise. O factor mais significativo na distinção
pode contribuir para uma análise mais detalhada destes dois grupos foi a sua orientação para a
do processo de ajustamento entre o indivíduos e mobilização e utilização da sua rede interpessoal
o meio, segundo o conceito de adaptação propos- em momentos de stress (Tolsdorf, 1976).
to por Kelly. Assim, no caso dos doentes men- Os doentes mentais têm maior probabilidade
tais, em vez de estes serem considerados como de perspectivar as suas redes sociais com discon-
isolados devido à sua doença, podem ser descri- fiança e não as ter em conta como fontes de su-
tos como indivíduos a quem falta uma rede so- porte. A relação entre as características da per-
cial de suporte (Leavy, 1983). sonalidade individual e a estrutura da rede, per-
Diversos estudos demonstraram que a presen- manece ainda por esclarecer. Foi possível apren-
ça de suporte social estava consistentemente der com os doentes mentais, quão complexa é a
associada a um menor risco de problemas psico- criação e a manutenção de sistemas de suporte
lógicos (Broadhead et al., 1983; Cohen & Wills, social. Estes conhecimentos poderão ser trans-
1985; Kessler et al., 1985). Deste modo, pode feridos para outros grupos que não sejam doen-
concluir-se que o bem-estar individual pode estar tes mentais.
relacionado com um conjunto alargado de redes A própria natureza de uma comunidade pa-
de suporte que tendem a conduzir a sentimentos rece também ter influência nas redes individuais,
de auto-estima e da adaptação. tanto a nível da experiência individual no con-
Se a adaptação pode ser influenciada pela texto comunitário, como na participação em pro-
acessibilidade a recursos sociais, então, os pro- cessos comunitários. Alguns estudos de inves-
gramas que ajudem os indivíduos e as comuni- tigação sugerem-nos que os padrões informais de
dades a fortalecer os seus sistemas de suporte so- suporte têm probabilidades de ser diferentes
cial pode aumentar as suas competências e dimi- consoante a função desempenhada por diferentes
nuir as suas disfunções psicológicas. grupos, como por exemplo, os de vizinhança.
Os conceitos de Rede Social e de Suporte So- O suporte social como componente de uma
cial oferecem-nos uma estratégia instrumental estratégia de intervenção comunitária tem de-
para aumentar o nosso entendimento da vida quo- monstrado ser útil na identificação dos alvos de
tidiana das pessoas nas suas comunidades e a intervenção, pode ser utilizada de forma coerente
análise das redes sociais individuais proporciona- a nível individual e de grupos, tornando as
nos um conjunto de pistas para o entendimento intervenções mais específicas, reais e concretas.
das ligações numa variedade de contextos sociais.
As redes sociais parecem ser um instrumento
útil para examinar tanto as adaptações funcionais 3. ÁREAS DE INTERVENÇÃO
como as disfuncionais, pelo que tem assistido-se
a um interesse crescente em estudar as redes so-
ciais de populações com problemáticas psiquiá- 3.1. A Psicologia Comunitária e a Interven-
tricas em comparação com outras populações em ção Social
este tipo de problemática.
Foram realizados estudos comparativos que A Psicologia Comunitária, parte da estrutura

382
social existente e considera como seus objectivos objectivo final da Intervenção Social é a mudan-
criar ou mudar os serviços ou organizações, ça da vida dos indivíduos, que pode ser alcan-
com o objectivo de as tornar mais eficazes na çada pela mudança das estruturas e dos proces-
prossecução dos propósitos da prestação de sos sociais. No âmbito dos (4) objectivos e me-
serviços menos estigmatizantes e que proporcio- tas, estes serão fixados de acordo com a direcção
nem crescimento e desenvolvimento psicológico. a imprimir à mudança, sendo indeterminados à
A intervenção social poderá então ser opera- partida, pelo que é necessária uma avaliação pré-
cionalizada a partir de influências, orientações via para se saber quais os efeitos que pretendem.
ou acções concretas no sentido de modificar O (5) âmbito de aplicação, terá que ter em
sistemas sociais e políticos, com incidência em conta a multidimensionalidade e complexidade
áreas como a saúde, a educação, o bem-estar físi- do desenvolvimento humano, podendo identifi-
co e emocional, domínios religiosos ou judiciais car-se um conjunto de áreas priviligiadas de in-
(Kelly, 1966; Bloom, 1973; Caplan, 1964). tervenção como a educação, a saúde mental, o
Todas as alterações das relações sociais entre abuso de substâncias, a utilização dos tempos li-
indivíduos, grupos, associações ou instituições vres, o sistema judicial, o sistema religioso e ou-
com impacto na sociedade em geral ou em gran- tros. As (6) técnicas e estratégias utilizadas, im-
de número de indivíduos ou grupos, são o alvo plicam o desenvolvimento de práticas inovado-
prioritário da intervenção social (Seidman, ras em domínios como o psicossocial, o político-
1983). Este autor considera que deve ser dada -administrativo, o organizativo, a saúde pública e
primazia a alguns processos de intervenção so- o ambiental ou ecológico.
cial, como por exemplo, os direitos civis, o Finalmente, a (7) duração, que pode diferir se
acesso a recursos emocionais, materiais e a ser- a intervenção implicar mudanças estruturais, re-
viços ou ainda ao desempenho de papeis sociais. organizações ou dinamização e mobilização de
Como pudemos observar, existem várias comunidades, criação de estruturas associativas e
perspectivas sobre a intervenção social, confor- resolução de conflitos grupais, terá que ser de
me os referênciais teóricos de quem as formula, longa duração e exigirá uma planificação inicial.
no entanto, a intervenção é entendida concen- São também factores de duração a dimensão da
sualmente como um processo intencional de in- população a abranger e a profundidade da mu-
terferência ou influência e que tem como objecti- dança que se pretende, quer a nível pessoal quer
vo provocar uma mudança. Deste modo, a inter- a nível institucional.
venção social (Seidman, 1983) terá que ter em O resultado imediato da intervenção social é a
conta os seguintes níveis: (1) O objectivo ou des- mudança social e em última instância a mudança
tinatário da intervenção, (2) o estado inicial, (3) individual. Por isso, parece-nos pertinente esta-
o tipo de mudança que se pretende, (4) os belecer aqui o paralelo entre a intervenção social
objectivos ou metas, (5) o âmbito de aplicação, e a intervenção comunitária (Sánchez-Vidal,
(6) as técnicas e estratégias utilizadas e (7) a du- 1991) que assume uma esfera de acção específi-
ração. ca ao realçar a importância do papel activo e par-
Quanto ao (1) objectivo ou destinatário da in- ticipativo dos indivíduos, a interacção entre os
tervenção, este constitui-se nas comunidades, or- agentes de intervenção e o grupo-alvo, o carácter
ganizações e instituições que se caracterizam pe- restrito da intervenção e a valorização do grupo-
la sua complexidade, pela sua interacção ecoló- alvo como sujeito e razão de ser da intervenção,
gica com o ambiente e evolução dinâmica. Rela- ao ponto destes influenciarem a direcção do
tivamente ao (2) estado inicial, constata-se que a processo interventivo.
Intervenção Social parte da avaliação do estado No domínio da Intervenção Comunitária pre-
inicial do sistema a modificar, que é composto domina o enfoque dado à criação de recursos co-
pela estrutura social interna, a sua relação com o munitários em ligação com as acções concretiza-
meio, a sua história e a sua cultura, sendo pla- das pela própria comunidade com maior ou me-
neada a intervenção para interferir ou influenciar nor índice de apoio externo, partindo-se assim do
a evolução destes componentes ao nível do ritmo pressuposto que as comunidades possuem os
e/ou da direcção de desenvolvimento. recursos potenciais para gerarem a dinâmica do
No que concerne ao (3) tipo de mudança, o desenvolvimento.

383
Neste contexto, podemos identificar um con- dades e poder seleccionar os métodos e tipos de
junto de etapas que serão úteis para a descrição intervenção com maior probabilidade de eficá-
do processo da intervenção comunitária, desen- cia. O seguinte conjunto de questões parece ser
volvidas por George Fairweather (1985). A pri- relevante para avaliar da adequabilidade dos
meira etapa, relaciona-se com a necessidade de métodos seleccionados: (1) Quais as áreas fun-
investigação de todos os aspectos da comunidade damentais de intervenção?; (2) Quais as necessi-
seleccionada, de modo a caracterizar qual o tipo dades prioritárias sentidas pelo grupo-alvo?; (3)
de comunidade onde se vai intervir, bem como Quais os problemas do grupo e que soluções
identificar e caracterizar o grupo social ou gru- técnicas específicas devem ser implementadas?;
pos que possam participar nesta intervenção; (4) Quais são e onde se localizam os elementos
uma outra etapa, implica a determinação do em maior risco?
grau de concordância entre os interesses ex-
pressos pelo programa e os interesses expressos 3.2. Desenvolvimento e Participação Comuni-
pela comunidade. A identificação das fontes tária
actuais e potenciais de conflito entre grupos
com influência, tendo em conta que as mudanças O desenvolvimento comunitário é um proces-
provocadas pela dinâmicas se alteram permanen- so que permite criar as condições para o progres-
temente, constitui outro dos pontos considerados so económico e social através da participação
relevantes, bem como organização das estruturas dos cidadãos na sua comunidade. Esta aborda-
ou espaços de encontro, onde os elementos pres- gem parte do pressuposto de que a mudança co-
tigiados da comunidade se encontram e tenham a munitária pode, mais eficazmente ser alcançada,
oportunidade de se influenciarem mutuamente através da participação generalizada dos indiví-
sobre as actividades propostas pelo programa de duos na definição e implementação dos objecti-
intervenção, de modo a que isso possa produzir vos de mudança.
efeitos nas decisões a nível local, governamental As áreas temáticas mais frequentemente abor-
e em outras instâncias de poder. dadas pelos modelos de desenvolvimento comu-
A identificação dos métodos e técnicas desen- nitário são os procedimentos democráticos, a co-
volvidos que comprovem a capacidade de captar operação voluntária, a ajuda-mútua, a liderança e
o interesse dos diferentes grupos por temáticas educação dos agentes locais. A estratégia priori-
relacionadas com o programa, constitui-se numa tariamente utilizada para obter mudança é a do
das áreas relevantes, tal como o é a atenção dada envolvimento dos indivíduos na identificação e
à necessidade de promover e facilitar o contacto resolução dos seus próprios problemas, cabendo
entre diversos grupos em conflito que, por sua habitualmente aos profissionais o papel de faci-
vez pode ser operacionalizada através da partici- litadores da resolução de problemas, encorajando
pação em reuniões locais com âmbito mais alar- os indivíduos e as organizações, dando ênfase
gado que são cruciais para a obtenção de infor- aos objectivos comuns e favorecer o crescimento
mação necessária para a tomada de decisões re- a nível das competências democráticas.
lacionadas com a implementação do Programa A criação de novos espaços de contacto, tais
de Intervenção. como conselhos de cidadãos, clubes de bairro ou
Os outros domínios deste processo são o do grupos de ajuda mútua, tem por objectivo au-
envolvimento dos membros da comunidade na mentar o grau de participação, responsabilidade
planificação e execução do programa de acção e de conhecimento entre os participantes. Estes
bem como a clarificação dos limites da execução novos núcleos podem estar ligados a outras re-
do Programa comunitário, mantendo deste modo des, de modo a facilitar o contacto interpessoal e
um dos seus atributos base que é o carácter res- acesso a suporte social. A troca de recursos
tritivo da Intervenção. dentro das redes na comunidade é uma estratégia
Desde o momento em que os profissionais de- que tem demonstrado ser de utilidade, se se
cidem concretizar o programa, a metodologia aplicar o princípio ecológico da reciclagem dos
das aproximações sucessivas e explorações, di- recursos, transformando os que já existem em
rectas na comunidade, deverão ser levadas a vez de trazer novos recursos do exterior.
efeito, com o objectivo de estabelecer as priori- A criação de novos recursos exige um interes-

384
se e motivação elevados por parte dos partici- pois as preocupações mútuas sobre a sua comu-
pantes e permite um debate e definição mais nidade tendem a aproximar as pessoas, aumen-
alargada e aprofundada dos problemas, procu- tando a convicção de que, colectivamente, po-
rando assim um maior leque de alternativas para dem contribuir de forma mais eficaz e obter me-
a solução dos problemas sociais identificados. lhores resultados e têm também uma dimensão
Se tomarmos como exemplo uma intervenção humanizada, pois são organizações talhadas à
de tipo preventivo, para que aumente a sua pro- medida das pessoas, em termos de estruturas e
babilidade de sucesso, deverão ser incluídos três actividades e são influenciadas pela participação
objectivos principais (Florin e Wandersman, directa, o que lhes permite funcionar de forma
1990): a) Participação Comunitária – As inicia- informal; finalmente, são orientadas para a re-
tivas de base comunitária devem conter um pro- solução de problemas, porque são normalmente
cesso (participação dos cidadãos), uma estrutura criadas para dar resposta a problemas cruciais.
(um conselho de cidadãos), um sistema de valo- Tendo em conta a relevância da participação
res (empowerment) e um domínio (desenvolvi- comunitária num Programa de Intervenção, de-
mento comunitário). A participação dos cidadãos veremos tentar obter respostas a algumas ques-
é um processo em que, segundo Heller et al. tões cruciais: Quem participa na comunidade ou
(1984), os indivíduos tomam parte nos processos não e porquê?; Em que medida a interacção do
de decisão que as afectam. Por isso, pode assu- indivíduo com a situação influência a sua partici-
mir uma variedade de formas tais como consul- pação?; Quais os efeitos da participação dos ci-
tores, promotores de políticas, grupos de residen- dadãos no contexto específico em causa?; Quais
tes ou movimentos sociais a favor de uma causa. os factores que se apresentam como sendo rela-
A participação comunitária propõe-se a ter uma cionados com o contexto?; Quais as caracterís-
variedade de benefícios a nível nacional, comu- ticas das organizações que alcançam sucesso, por
nitário interpessoal e individual. oposição às que são inactivas?
Podem encontrar-se em diversos trabalhos de A resposta a estas questões pode ser encon-
investigação, referidos por Florin (1990) alguns trada em alguns resultados de investigação (Flo-
indícios, que nos sugerem que a participação co- rin, 1990) que nos indicam, por exemplo, a cor-
munitária está relacionada com alguns melhora- relação existente entre o nível de partcipação de
mentos na comunicação ao nível da vizinhança e vizinhança e a coesão social e a ligação destes
da própria comunidade através da observação de factores com índices de satisfação do grupo so-
relações interpessoais mais fortes, da existência cial em estudo.
de um tecido social activo e a presença de sen- Poderemos então concluir que a participação
timentos expressos de eficácia pessoal e política. dos cidadãos, as organizações voluntárias e o de-
Podemos finalmente afirmar, que a participa- senvolvimento comunitário são, deste modo, um
ção comunitária é uma prática que emprega uma contributo para o entendimento e a facilitação
variedade de estratégias e técnicas, utilizando as dos processos de Empowerment que abordare-
competências e a energia dos cidadãos para al- mos de seguida.
cançar objectivos colectivos. Deste modo, as
Organizações de base comunitária incluem es- 3.3. Empowerment e Comunidade
truturas como, associações de vizinhança, de
inquilinos ou de comerciantes, grupos de igreja A perspectiva de Empowerment num contexto
ou clubes de jovens, têm algumas características comunitário, segundo Julian Rappaport (1992,
em comum (Florin e Wndersman, 1990). Ten- p. 2) consiste em identificar, facilitar ou criar
dem a ser geograficamente localizadas, pois contextos em que as pessoas isoladas ou silen-
emergem em locais específicos e implicam o ciadas possam ser compreendidas, ter uma voz
compromisso dos indivíduos no seu próprio e influência sobre as deciões que lhes dizem di-
território; uma outra característica destas organi- rectamente respeito ou que de algum modo, afectem
zações é o seu carácter voluntário, que implica a sua vida.
que o seu recurso primário e prioritário é a parti- Para a Psicologia Comunitária o empower-
cipação activa não remunerada. ment tem vindo a tornar-se numa área de inter-
Estes organismos são localmente focalizados, venção crucial e um dos seus principais objectos

385
de estudo, pois permite o entendimento da espe- mos práticos, levou Zimmerman (1995) a iden-
cificidade e da qualidade das relações entre os tificar quatro fundamentos para o empowerment
indivíduos e a comunidade, entre as várias orga- ao nível das comunidades: a) a presença de um
nizações nas comunidades e destas últimas com sistema de valores que inspire o crescimento
o sistema social e político. pessoal; b) um sistema que proporcione, de for-
Os fenómenos de empowerment são definidos ma continuada, o acesso a papéis sociais multi-
essencialmente por aqueles que o experienciam funcionais; c) um sistema de suporte baseado
num dado momento, como por exemplo, o con- nos cidadãos como pares, que os acompanhe e
trolo sobre a uma decisão crucial para uma co- proporcione um forte sentimento de comunida-
munidade e para corroborar este tipo de conheci- de; d) uma liderança inspiradora, talentosa, par-
mento, Kieffer (1984) e Zimmerman (1986), tilhada e comprometida, tanto com o contexto
realizaram estudos sobre as mudanças indivi- como com os seus membros.
duais naqueles que participaram em processos Podemos pois afirmar que existe uma base
sociais e políticos no contexto da sua comuni- teórica e empírica para a ideia de que a partici-
dade. Os resultados obtidos indicaram que o pação social e o empowerment estão ligados,
sentido de dever cívico e de utilidade política, pois a participação é um processo no seio do
foi considerado pelos participantes como uma qual este pode emergir. É assim possível iden-
valorização das suas competências pessoais e tificar, segundo Rich et.al. (1995), quatro cate-
como um reconhecimento das suas capacidades gorias de empowerment que são o Empowerment
de liderança. Formal, que surge quando as instituições apre-
A partir destas observações é possível iden- sentam mecanismos que influenciam decisões
tificar características nos mais diversos con- públicas que estejam relacionadas com os cida-
textos que podem funcionar tanto como obstácu- dãos e as suas instituições sociais, criando assim
los, como facilitadores dos processos de em- novas oportunidades para os cidadãos participa-
powerment, sendo disso exemplo a oportunidade rem em processos decisórios. Uma segunda cate-
de exercício de papéis de liderança, o acesso à goria é a de Empowerment intrapessoal que se
informação ou as relações de poder no contexto refere ao sentimento de competência da própria
das organizações. Os Grupos de Ajuda Mútua, pessoa numa determinada situação; algum grau
são um espaço onde o exercício de papéis for- deste tipo de Empowerment, parece ser condição
mais de responsabilidade podem tomar a forma essencial para o processo de participação no
de mecanismos de empowerment por excelência, contexto da comunidade e pode determinar o
pois permitem que os seus membros vejam cla- grau de confiança individual para a participação
ramente que a prevalência do grupo depende di- em acções futuras.
rectamente do seu contributo. Uma outra categoria, a de Empowerment Ins-
O Empowerment é ainda um processo obser- trumental, refere-se à capacidade individual para
vável longitudinalmente, isto é, só dispondo de participar e influenciar um processo de tomada
um tempo de comparação, um momento diferen- de decisão. Pode ser observado através da in-
te em que seja possível constatar as alterações de teracção de factores como a apresentação de
comportamento ou performances individuais, conhecimento relevante para a questão em
institucionais ou mesmo comunitárias, é que se debate, os recursos materiais apresentados, a
pode realizar a avaliação dos resultados e dos capacidade de argumentação e persuasão e a le-
processos que tiveram lugar. gitimidade na participação. Finalmente, podere-
Zimmerman (1995) torna mais específica a mos definir uma quarta categoria, o Empower-
conceptualização do empowerment, referindo-se ment Substantivo que se refere à habilidade para
ao conceito como tendo três dimensões: 1. a ca- tomar decisões que resolvam problemas e pro-
pacidade percepcionada de influenciar o sistema duzam os resultados desejados. Ao examinar-se
social e político; 2. o conhecimento e as compe- a comunidade como um contexto priviligiado pa-
tências interactivas para dominar esses sistemas; ra promover o empowerment, a nossa atenção
3. as acções individuais que os influenciam. deverá então focalizar-se para o bem-estar co-
A dificuldade em determinar qual o real signi- lectivo, ambiental e individual.
ficado dos processos de empowerment em ter- Uma comunidade é composta tanto por indi-

386
víduos como por instituições formais e o em- Heller, K., & Monahan, J. (1977). Psychology and
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