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Análise Psicológica (2010), 3 (XXVIII): 517-525

Psicologia Comunitária Positiva: Um


exemplo de integração paradigmática
com populações de pobreza

HELENA ÁGUEDA MARUJO (*)


LUÍS MIGUEL NETO (*)

NOVOS DISCURSOS PSICOLÓGICOS para uma psicologia de comunitária que vá cada


vez mais para além do modelo científico de
The word which we most often use to talk about resolução de problemas e da identificação de
the quality without a name is the word “alive”. necessidades das pessoas, grupos e comunidades
There is a sense in which the distinction between (Levine, Perkins, & Perkins, 2005), e concretize
something alive and something lifeless is much verdadeiramente o seu desígnio dos últimos anos:
more general, and far more profound, that the avançar de uma perspectiva de défice para uma
distinction between living things and nonliving centrada nas forças, agenciamento e empowerment
things, or between life and death. Things which
das populações, em busca da libertação e do bem-
are living may be lifeless; nonliving things may
be alive... estar colectivo (Nelson & Prilleltensky, 2005).
Pretende-se, por conseguinte, que sejam modelos
Christopher Alexander,
“The Timeless Way of Building”
ou teorias verdadeiramente “vivos” (Cronen,
1995) propulsionadores de desenvolvimento
O objectivo deste artigo é examinar como o comunitário, e suportados em narrativas, não
recente modelo da psicologia positiva (Seligman sobre sofrimento ou necessidades, mas sobre
& Csikszentmhihalyi, 2000) pode entrecruzar-se “territórios de dádiva e de vida” (Hoffman &
elegante e eficazmente com o paradigma da psico- Kinman, 2008).
logia comunitária, no sentido de potenciar ambos: Citando Martín-Baró, num posicionamento tido
levar a uma psicologia positiva aplicada, que veja já em 1986, uma psicologia da libertação deverá,
mais longe do que o intra-individual, e se dedique entre outros aspectos, estar menos preocupada
abertamente ao estudo e intervenção junto das com o seu estatuto social e científico, e mais
comunidades e instituições, mobilizando-se assim preocupada com os problemas das pessoas em
para ser parte activa e útil nas mudanças sociais e necessidade; ser uma psicologia mais consciente
no restabelecimento da justiça social; caminhar das virtudes e forças das pessoas na busca da
mudança; e ser uma nova forma de conceber a
libertação como um processo histórico e colectivo
(*) Faculdade de Psicologia, Universidade de
Lisboa, Alameda da Universidade 1649-013 Lisboa; (Martín-Baró, 1989). Associada à significativa e
E-mail: lenamar@fpce.ul.pt / neto@fpce.ul.pt intensa palavra “libertação”, que nos transporta de

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volta a Paulo Freire (2008), Montero (2005), ao transformadora, e ao escolher o centro de
reflectir sobre o futuro da psicologia comunitária, gravidade da intervenção e dos estudos empíricos,
sublinha o desígnio de caminhar para o bem- podemos fazer aumentar ou diminuir os bens
estar das populações – tema especialmente caro à morais.
psicologia positiva, ainda que até ao momento Neste particular, o paradigma da psicologia
sobretudo perspectivado num entendimento positiva veio expandir algo que era terreno próprio
subjectivo e intra-individual (Diener & Biswas- da psicologia comunitária: uma acepção clara de
Diener, 2008; Huppert, Baylis, & Keverne, 2006). valores e o reconhecimento da impossibilidade de
Ambos estes subdomínios da psicologia têm uma ciência neutra. Quando hoje, contra ventos e
vindo recentemente a pretender mudar a atenção marés, dentro do mainstream conservador da
conferida às variáveis psicológicas, para dar psicologia (Seligman, comunicação pessoal,
apreço a dinâmicas económicas, sociais, 2009), se critica a abordagem da psicologia posi-
políticas e contextuais, assim introduzindo novos tiva, reconhece-se ainda assim a sua relevância só
discursos científicos na relação com a vida social ao falar dela, e reforça-se a ideia de que é
(Layard, 2005). Se considerarmos que a ideo- inevitável tomar posições em ciência. Quando a
logia dominante se manifesta na linguagem psicologia positiva se dedica ao estudo da felici-
(Meyer, 2001), podemos reconhecer que as dade, ou do que faz a vida merecer ser vivida
mudanças valorativas são visíveis e a ideologia (Csikszentmhihalyi & Csikszentmhihalyi, 2006)
pode estar a transformar-se: a entrada duma lin- está a ser sensível aos valores e a posicionar-se
guagem positiva e emancipatória das popula- numa dança dialéctica entre o bem e o mal, o belo
ções, reforçadora de uma adjectivação esperan- e o feio, o saudável e o doente, o justo e o
çada e de auto-eficácia e auto-determinação é, injusto... criando condições para uma prática
cada vez mais, um sinal do caminho feito pelas reflectida (Freire, 2008; Freire & Horton, 2002).
ciências sociais e humanas no sentido de uma Enquanto investigadores, tomamos posições
investigação justa e transformadora. claras quando respondemos às questões: “O que
Se a sociedade se preocupa hoje com os valores decido estudar – a patologia de uma população
que levaram a um caos económico, que dizer do ou indivíduo, ou as condições da excelência das
impacto dos valores que subjazem à ciência? Em pessoas e das comunidades?”; “Quem decido
muitas instâncias, os valores colectivos como a conhecer com o meu estudo – os estudantes
justiça social, a solidariedade, a gratidão, a universitários, tão acessíveis aos investigadores
generosidade... recebem uma atenção mínima. Se académicos, e tão bem posicionados em termos
a ciência psicológica os descarta, preferindo antes de poder social, ou as populações marginali-
estudar a depressão, a ansiedade, o crime, a zadas, sem voz e sem qualquer tipo de sobera-
violência ou o medo, acabamos com uma maior nia?”; “Que perguntas faço: sobre o que dá
visibilidade destes últimos em detrimento dos vida, mesmo nas piores circunstâncias, a alguma
anteriores e, em consonância, com uma visão pessoa ou grupo, ou sobre as causas da fragili-
denegrida da humanidade em geral. Nas popula- dade ou da patologia desses mesmos alvos?”;
ções consideradas marginais, como as que vivem “Como decido questionar – dando voz directa
em pobreza, este fenómeno ganha ainda mais e aos intervenientes, ou quantificando e transfor-
doloroso impacto (Lott, 2002; Moreira, 2003; mando os ‘sujeitos’ de investigação em números,
Neto, 1996). de forma distanciada e desumanizada?”; “Como
Por detrás da ciência estão sempre posições intervenho: para além da falsa distinção entre
morais. Por detrás destas, estão sempre diferentes descritivo e prescritivo, escolho melhorar (aumen-
práticas. De acordo com Kekes (1993, cit. in tando o bem-estar, numa posição centrada no
Nelson & Prilleltensky, 2005), valores são “perito”) ou escolho transformar (promovendo o
“benefícios causados pela humanidade que os bem-estar ao mesmo tempo que mudo as relações
seres humanos dedicam uns aos outros... Como de poder, eliminando a opressão, em verdadeira
forma de ilustração, poderemos dizer que o amor e colaboração e solidariedade) (to “ameliorate” or
a justiça são bens morais” (p. 44). Ao investigar e “transform”, tal como diferenciam Prilleltensky
intervir na comunidade com uma perspectiva & Nelson, 1997)?” (Marujo & Neto, 2008).

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As psicologias positiva e comunitária, em práticas de hegemonia e opressão (Cobb, 1993;
paralelo com outros modelos não deficitários de Gergen, Hoffman, & Anderson, 1996). Ao
intervenção dentro dos sistemas humanos trabalhar com populações desfavorecidas e
(Cooperrider, 2004; De Shazer, 1991; 1994), marginais ao poder, ainda é mais urgente tomar
podem ser considerados movimentos críticos e consciência do tipo de práticas implementadas e
corajosos em relação ao status quo da psicologia, de teorias subjacentes, pelo ainda maior risco de
intentando um horizonte de representação da criação de dependências e menorização das
mudança e dos seres humanos baseado nas populações, as quais assumem, por regra, por
forças e no positivo, e na reflexão sobre mudan- expectativas antecipadas de apoio, e por óbvia
ças de segunda-ordem – que mais do que criar resposta ao sistema que estimula dependências e
alterações dentro do sistema, procuram trans- fragilidades, a posição de vítimas.
formar o sistema e os seus pressupostos Nesta mudança de valores, linguagem e
(Rappaport, 1977). Como resultado, estes dois posicionamento moral dos cientistas, académicos
braços da psicologia têm vindo a convidar, e práticos, o actual reenquadramento das vítimas –
implícita ou explicitamente, a uma transfor- de qualquer tipo de situação – como sobrevi-
mação nos valores dos investigadores, na sua ventes, foi um dos muitos sinais da mudança
ética e na sua responsabilidade social. Têm recente no discurso e da transformação em termos
aberto as possibilidades e as escolhas sobre dos valores. Veja-se a propósito a aplicação desta
novos tópicos de conversa, inquirição e acção. mudança linguística nas situações de violência
Recentemente, Mihaly Csikszentmhihalyi doméstica (Teles, 2008). Como desenvolveremos
(2006, p. 5), um dos fundadores da psicologia em seguida, temos vindo a propor avançar ainda
positiva, afirmava: mais, e intervir numa perspectiva narrativa de
“A perspectiva da psicologia positiva está “Supervivência” – entendida como o reconhe-
direccionada para ser correctiva quer, por um cimento das extraordinárias forças e virtudes
lado, do posicionamento de neutralidade valora- inerentes a viver numa posição social, económica,
tiva das abordagens experimentais quer, por cultural, entendida como deficitária e marginal. O
outro, das visões orientadas exclusivamente para segmento da população que vive em situações
a patologia que permearam muita da psicologia socialmente injustas, e que é ainda muitas vezes
clínica”. Estas influências históricas, culturais e rotulado como desonesto ou aproveitador do
morais estão a impactar com intensidade a sistema (que o oprime) – tal como acontece com
psicologia, permitindo-nos entrar em novos tipos as populações beneficiárias do Rendimento Social
de diálogo com os proponentes das teorias, dos de Inserção – merece um entendimento e um
métodos e das práticas interventivas (Marujo, olhar de admiração e apreço, por conseguir, tantas
Neto, Caetano, & Rivero, 2007; Oishi, 2007; vezes, mais do que sobreviver, ser inspirador de
Snyder & Lopez, 2007). uma extraordinária e heróica capacidade de
A atenção aos oprimidos e a luta pela inclu- Supervivência. É preciso celebrar cada acto de
são, integração, libertação e reequilíbrio na heroísmo, por mais banal (Cronen & Lang, 1995;
distribuição de poder (Machado, 1984) tem sido Zimbardo, 2007).
uma das mais fascinantes bandeiras da psico-
logia comunitária (Levine, Perkins, & Perkins,
2005). Ser psicólogo, enquanto identidade O PROJECTO V.I.P. – VALORES,
pessoal e profissional (Nelson & Prilleltensky, INFLUÊNCIAS E PROJECTOS
2005), pode significar – significa frequentemente
– fazer parte dos detentores de poder, pelo que Blake saw that if your myth-created ideology
estes novos discursos propõem a possibilidade was hierarchical, you couldn’t function outside
de libertar os profissionais de paternalismos that hierarchy.
tradicionalmente utilizados através da Northrup Frye
observação, classificação, diagnóstico, definição
e imposição de propostas de mudança, levando- A antítese do valor da igualdade está bem
os assim a pôr fim a uma actuação com base em patente no conceito VIP – sinónimo das pessoas

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realmente importantes, que têm privilégios falar com e sobre as populações com as quais
especiais, no fundo os que já têm tanto e, por isso, trabalhavam, levou a um reconhecimento de um
merecem ainda mais. Foi esta a ideia inspiradora papel de opressores e de definidores autoritários
do título do programa desenvolvido, com o apoio da mudança. Mesmo nos momentos em que
do Instituto de Acção Social – Rendimento Social deveria haver “negociação”, inerentes ao
de Inserção – da Região Autónoma dos Açores, recebimento do RSI, o que os profissionais
em conjunção com Câmaras Municipais (Ribeira verificaram sob as suas práticas foi a sua (até aí
Grande) e Santas Casas da Misericórdia da mesma pouco consciente) imposição de metas de
região. A concepção de que todos somos e – mudança às famílias, metas tantas vezes não
merecemos ser – VIP (Very Important Person), percebidas ou não reconhecidas como relevantes
juntou-se aos três pilares que pretendíamos por aqueles que as deviam concretizar. Conceitos
desenvolver com este projecto de Psicologia como “resistência”, “família desestruturada”,
Positiva Comunitária: os Valores (dos profissio- “agressivo” ou “alcoólico” foram escrutinados
nais, investigadores e académicos envolvidos, e pelos próprios que os utilizavam, avaliando o
das populações a viver em pobreza), as Influências impacto em si mesmos, naqueles a quem se
(positivas, recebidas e transformadas por cada referiam, bem como na relação mútua estabele-
um, quer fosse profissional, quer beneficiário do cida. As próprias populações puderam partilhar
RSI), e os Projectos (numa concepção clara de as suas narrativas sobre as palavras que costu-
uma psicologia e de uma intervenção avessa ao mavam ouvir sobre si, vindas dos profissionais, e
olhar determinista sobre o passado, e que tem, isso trabalhou-se o conceito de discurso, não como
sim, os olhos postos no futuro, portanto ideali- mero descritor da experiência, mas como ponto
zando, e colectivamente sonhando, outras possibi- de partida para a construção da realidade
lidades) (Marujo & Neto, 2008). Estas linhas (Gergen, 2001, 2004; Gergen & Gergen, 2005).
estruturais suportaram acções conjuntas práticas, Desenvolveram-se conversas em grupo sobre
sempre feitas em formato de comunidade e em o poder da linguagem e o nosso próprio poder na
conversa dinâmica – fossem elas uma intervenção sua escolha – quer envolvendo profissionais,
num bairro de realojamento para optimizar a quer a população beneficiária de RSI. Abriram-
qualidade das relações e o surgimento de soluções se perspectivas sobre a liberdade de escolha na
conjuntas num momento de crise e conflito entre linguagem usada e experimentaram-se formas
os moradores, ou acções junto de grupos de diferentes de descrever ou nomear pessoas e
mulheres domésticas sem outro projecto de vida fenómenos. Trabalharam-se as palavras que
que não a maternidade, ou intervenções junto de queríamos usar, as que queríamos ouvir, as que
grupos de jovens para quem era relevante poten- nos orgulhavam e as que nos desvalorizavam; as
ciar a estabilidade no projecto escolar através de que nos marcavam positivamente e as que nos
acções pela arte ou da consciência e protecção feriam; as que nos davam desânimo ou espe-
ambiental da maravilhosa ilha de S. Miguel. rança; as de passado e as relativas ao futuro.
O projecto iniciou-se com o repensar do papel Introduziu-se nessa altura o modelo do Inquérito
dos profissionais no terreno, para que actuassem Apreciativo (Coopperider, 2004; Cooperrider &
de forma verdadeiramente colaborativa e Whitney, 2005; Whitney & Cooperrider, 2000), e
apreciativa, através da expansão de narrativas, a importância e poder das perguntas colocadas.
possibilidades emocionais e escolhas comunica- Deixam-se exemplos de interacções aprecia-
cionais e comportamentais dos próprios. A tivas transformadoras ao nível do acto de fala
conscientização proposta por Paulo Freire (2008) (Pearce, 1994) utilizadas no projecto, quer das
fazia igualmente sentido na perspectiva do destinadas aos profissionais, quer à população
reconhecimento dos valores e influências vividos alvo de intervenção: “Qual o momento em que
pelos profissionais, e na forma como se sentiam se sentiu mais vivo, realizado, feliz, no trabalho
libertos ou presos a modelos psicológicos e com estas populações?”; “Qual o momento em
valorativos deterministas, classificadores e que se sentiu mais orgulhoso e entusiasmado por
patologizadores das populações. A reflexão fazer parte desta comunidade?”; “O que tem
inicial sobre o tipo de linguagem utilizada para posto de melhor de si neste trabalho?”; “O que

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mais admira em si como mãe/pai/ser humano?”; das forças e virtudes individuais e sociais, e um
“Quem vê de fora a sua família, que pontos altos maior poder sobre a forma de moldar o destino e
e forças identifica? O que mais os une e os faz transformar a realidade.
felizes?”; “Se encontrasse a lâmpada do Aladino, A fase seguinte do projecto foi manter vivas as
quais os 3 desejos que pedia para o futuro do conversas em comunidade, aumentar – no sentido
trabalho com esta comunidade?”; “Se encon- de densificar – as relações e as redes sociais, e
trasse essa lâmpada, quais os desejos que pedia fazê-lo numa perspectiva apreciativa e mobili-
para a sua família/comunidade onde vive?”). zadora de emoções positivas (falar do melhor, dos
Estas questões, todas elas baseadas no modelo de sonhos, das excepções aos problemas, comer junto
David Cooperrider (2004), foram ponto de par- com outras pessoas, ter conversas significativas e
tida para novas conversas, sempre que possível com resultados práticos, rir em conjunto, re-
em contexto de grupo, comunidade, vizinhança. experimentar emoções positivas já vividas em
Começando com entrevistas dois a dois, como o momentos altos e bons da vida – alegria, entu-
modelo do Inquérito Apreciativo prevê, passou- siasmo, orgulho numa meta atingida...) aumenta a
se depois nalgumas das comunidades e grupos a esperança e o optimismo sobre o futuro
momentos usando o World Cafe (Brown & (Fredrikson, 2006, 2009). Um clima de optimismo
Isaacs, 2005), e mantendo o questionamento ecológico (Ornelas, 2007) mantém acordada a
apreciativo como forma de identificar o melhor confiança na capacidade de cada um em trans-
do passado e caminhar conjuntamente para os formar a sua vida.
sonhos de futuro. Nesta metodologia, os interve- A mudança de expectativa – por exemplo, de
nientes – no caso, as populações de pobreza, os passar de estar à espera do pior, na pessoa dos
responsáveis pelas áreas da saúde, educação, profissionais, antecipando a reprodução intergera-
formação profissional, os coordenadores de cional da pobreza, para passar a ver e falar das
serviços do Instituto de Acção Social, os profis- forças e histórias de sucesso já vividas e, portanto,
sionais no terreno, professores, jornalistas... – dos avanços já conseguidos por todos – é um
reuniram-se em redor de múltiplas mesas, como factor essencial para conseguir mobilizar a espe-
em esplanada, sendo que cada mesa tinha um rança. Assim se aumenta a probabilidade, junto de
tema ou questão positiva e materiais que psicólogos, assistentes sociais, animadores comu-
permitissem expressões múltiplas, e o uso do nitários..., de renegar construções hegemónicas de
hemisfério direito e do esquerdo (toalhas de destino e inevitabilidade sobre as populações
papel, canetas e lápis de muitas cores para desfavorecidas (Montero, 2005). O mesmo
desenhar ou escrever, e sempre comida e acontece nas próprias populações oprimidas, que
bebida). A dinâmica activa da metodologia, que através desta intervenção se descobrem com uma
implica viagens entre mesas e o máximo de força muitas vezes nunca anteriormente
“polinização” de pessoas e ideias, permite um reconhecida (Marujo & Neto, 2007).
modelo de conversas transformadoras, entre A par de muitas outras acções criativas e
pessoas de diferentes posições sociais que assim comunitárias, que acompanharam este processo de
trabalham ao mesmo nível de poder, num modificação da linguagem, acções essas, sempre
formato de “rizoma” e não de verticalidade na que possível, construídas conjuntamente com as
intervenção (Hoffman & Kinman, 2008). Daqui populações, e de acordo com as suas metas sonha-
partiram ideias de futuro a trabalhar em das e com base nas suas maiores competências,
conjunto, com responsabilidades partilhadas na potencialidades, virtudes e recursos, o projecto
concretização das mudanças desejadas por todos. VIP, que vai no seu 6º ano e está ainda em
A relevância da forma de colocar questões – implementação, invoca a liberdade para converter
também já abordada por Paulo Freire, que no seu aceitação silenciosa e descontentamento triste
livro de 1985 com Faundez nos fala em com a vida numa vocalização, não apenas
“Aprender a Questionar”, serve a concepção de dolorosa, como defendia Freire (2008), mas
que as conversas são transformadoras e, quando sobretudo fortalecida, apreciativa e mobilizadora.
positivas e centradas no futuro, permitem uma Daí que, através do projecto, profissionais e comu-
“consciência iluminada” – porque “iluminista” – nidade tenham vindo a trabalhar intencionalmente

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juntos em formas de aumentar as emoções verdadeira libertação esperançada face à vida da
positivas nas suas vidas, em rir mais, em treinar comunidade e ao seu desenvolvimento.
um discurso colectivo apreciativo e esperançado,
rico em palavras “gordas de boas emoções”, numa
perspectiva e linguagem de “dádiva” e descoberta CONCLUSÕES E DESCOBERTAS
das forças que os mobilizam contra a adversidade
e os fortalecem. Continuar a questionar “quais são Why no colour?
as dádivas e potencialidades que esta pessoa pode Even in those darkest corners, there is never a
trazer para a comunidade”? “Quais as dádivas e purity of the degenerate. Beauty is always right
potencialidades que a comunidade pode dar a before the eyes, glaring at us. What effort,
esta pessoa?” ou “Como superar os impedimentos what discipline we all must make to ensure that
que nos limitam nestas dádivas?” (Hoffman, 2009; this beauty is not acknowledged.
Kinman, 2001) ajuda a comunidade a ultrapassar Open those blinded eyes... for there is no true
melhor os exigentes desafios das suas existências. effort in looking for it, those gifts of life are
everywhere around us.
Nunca negando ou esquecendo o negativo, cuida-
se que a proporção do que se partilha de bom Chris Kinman
sobre a vida seja sempre triplamente mais elevada
que o que se narra sobre o sofrimento, para que Este projecto faz sentido dentro da concepção
de que as formas de vida são criadas, recriadas e
esta comunidade possa florescer (Fredrickson &
mantidas pela comunicação, e que é nela que as
Losada, 2005).
identidades são socialmente construídas (Cronen,
O impacto destas escolhas metodológicas em
1995). Assim, a descoberta mais profunda que
termos de saúde física e mental está comprovado
temos vindo a fazer é a do poder extraordinário da
(Fredrickson, 2006, 2009) e esse fortalecimento
linguagem para transformar e para propulsionar o
beneficiará uma população já de si enfraquecida
desenvolvimento comunitário. Em consonância, o
em termos de saúde e com menos longevidade
maior desafio é o de como colocar as questões que
que os menos oprimidos socialmente ou que
realmente libertam, fazem sentido e promovem
partilham posições de poder social superior bem-estar em cada comunidade, caminhando em
(Marujo & Neto, 2008). simultâneo para uma ciência social que se defina
A avaliação da eficácia do programa está em termos de “capacidade geradora”, isto é,
entretanto a realizar-se mantendo o mesmo tipo capacidade para orientar os pressupostos da
de ideologia e metodologia positiva, nomeada- cultura, colocar as questões fundamentais relativas
mente através do uso do Inquérito Apreciativo à vida social actual, e fornecer novas e inovadoras
(Coghlan, Preskill, Tzavaras, & Catsambas, alternativas para uma intervenção social que gere
2003). Os resultados vão no sentido esperado de vida, suporte as potencialidades da existência e
empowerment das populações e capacitação para estimule uma revolução positiva em torno de
auto-eficácia na construção do destino pessoal e conversas e mudanças significativas (Gergen,
colectivo (Marujo & Neto, 2008). 1982, 1991; Ludema, Cooperrider, & Barrett,
Um estudo qualitativo, dando voz a 1200 2001).
famílias beneficiárias do RSI e representativo da Naturalmente que toda a intervenção comu-
população de todas as ilhas do arquipélago, nitária é feita de paradoxos, inevitáveis e até
permitiu preparar um documento – “Álbuns de desejáveis para um avanço crítico da ciência e da
família: de viva voz” (Marujo & Neto, 2007) – prática. No programa aqui brevemente descrito,
que pretendeu manter vivas as conversas e mais detalhado noutra publicação (Marujo &
transformadoras em comunidade, partindo das Neto, 2008), sentimos naturalmente esses
respostas das famílias e daí construindo uma desafios, que levam a todos os intervenientes a
pool de questões positivas e centradas nas continuar ainda mais as conversas e levantar
soluções eficazes para a vida. A partir desta lista ainda mais e novas questões. Um dos desafios
de possíveis questões tem-se tentado manter as colocados implica o reconhecimento de que
comunidades participativas e os diálogos desenvolver o bem-estar pode ser considerado
generativos, por forma a dar continuidade a uma recomendável (Huppert, Baylis, & Keverne,

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2006) mas, como refere Etzioni (2001), pode human organization, Vol. 1. Oxford Elsevier
também ser facilmente distorcido numa Science.
orientação de apoio social e serviço com as Cooperrider, D. L., & Whitney, D. (2005). Appreciative
características tradicionais, orientação essa mais inquiry: A positive revolution in change. San
baseada numa perspectiva de caridade do que de Francisco, CA: Berrett-Koehler Publishers, Inc.
justiça social (Montero, 2005). Manter-nos alerta Cronen, V. (1995). Practical theory and the task ahead
para este risco, sobretudo potenciando os for social approaches to communication. In W.
factores que mostram ser facilitadores de Leeds-Hurwitz (Ed.), Social approaches to
intervenções realmente justas, participadas e communication. New York:Lawrence Earlbaum
colaborativas, é um dos horizontes da continua- and Associates.
ção do projecto. Ainda, evitar impor modelos Cronen, V., & Lang, P. (1995). Language and Action:
definidos à priori e exteriores sobre bem-estar Wittgenstein and Dewey in the practice of therapy
ou felicidade, mas sim ajudar cada comunidade a and consultation. Human Systems, 5, 5-43.
descobrir qual é o seu, ou os seus, é uma das Csikszentmihalyi, M. (2006). Introduction. In M.
orientações do trabalho dos profissionais. Csikszentmihalyi & I. S. Csikszentmihalyi (Eds.),
É regra deste projecto que todas as práticas e A life worth living: Contributions to positive
actividades desenvolvidas sejam feitas de igual psychology (pp. 3-14). New York: Oxford
forma por todos os participantes, seja qual for a University Press.
posição de poder ou função no grupo. A Csikszentmihalyi, M., & Csikszentmihalyi, I. S. (Eds.).
humanização e aproximação que advém desta (2006). A life worth living: Contributions to
igualdade coloca-nos a todos numa posição mais positive psychology. New York: Oxford University
equilibrada para fazer convites mútuos a Press.
mudanças – as mudanças que todos construímos e De Shazer, S. (1991). Putting difference to work. New
desejamos – e para conseguir balancear a York: Norton.
manutenção de uma perspectiva crítica com uma De Shazer, S. (1994). Words were originally magic.
perspectiva apreciativa (Ludema, Cooperrider, New York: Norton.
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resolver problemas ao mesmo tempo que todos
Unlocking the mysteries of psychological wealth.
nos tornamos em especialistas em soluções, Malden, MA: Blackwell Publishing.
excepções e sucessos. Assim, acreditamos ter
uma “ciência mais humana” (Polkinghome, 1983) Etzioni, A. (2001. The monochrome society. Princeton:
Princeton University Press.
e conseguir, como dizia Harry Aponte (1994, p.
11, cit. in Smith, 2005), “servir, nunca colonizar”. Fredrickson, B. L. (2006). The broaden-and-build
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Csikszentmihalyi & I. S. Csikszentmihalyi (Eds.),
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California: Berrett-Koehler. research reveals how to embrace the hidden
strength of positive emotions, overcome negativity,
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especialmente apropriada para se cruzar eficazmente transformational changes co-constructed between
com o novo paradigma da psicologia positiva. Este professionals and poverty populations.
trabalho descreve e reflecte uma intervenção condu- Key words: Appreciative inquiry, Community
cente a essa integração, realizada junto de populações psychology, Positive psychology, Poverty, Speech act.

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