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Resenha do livro Pesquisa Social - Teoria, Método e

Criatividade

RESENHA

MINAYO, Maria Cecília (Org.). Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 


Editora Vozes: Petrópolis, 1998. 80p.

1. Introdução
 

Este livro escrito no ano de 1998, ou seja, com mais de 15 anos de existência introduz o
leitor no universo das abordagens qualitativas para a investigação social. Discute os
conceitos de ciência e conhecimento procurando distinguir os conceitos de ciências
humanas e sociais das ciências naturais. Considera as ciências humanas e sociais,
portanto, de naturezas distintas das ciências naturais com repercussão na construção da
teoria e na escolha do método. É uma obra de interesse para todos aqueles que queiram
compreender mais e melhor os contornos das investigações qualitativas.

1. Sobre a autora
 

Maria Cecília Minayo possui graduação em sociologia pela Universidade Federal do


Rio de Janeiro (1978), graduação em ciências sociais pela City University of New
York (1979), mestrado em antropologia pela UFRJ (1985) e doutorado em saúde pública
pela Fundação Oswaldo Cruz (1989). É editora da Revista Ciência&Saúde Coletiva,
atuando como docente, pesquisadora e orientadora em temas como metodologia da
pesquisa social, metodologia da pesquisa social em saúde pública, violência e saúde:
causas externas, violência, violência autoinfligida, saúde coletiva e saúde e sociedade.
Tem vários prêmios por seus méritos na área de saúde, dentre eles o de medalha de
mérito da saúde Oswaldo Cruz conferido pelo Ministério da Saúde em 2009 e o prêmio
em Direitos Humanos em 2014.

1. Ciências humanas, sociais e naturais (p. 01 a 11)


 

Nossa autora inicia sua obra nos dizendo que do ponto de vista antropológico o ser
humano “homo sapiens” sempre procurou conhecer e explicar a realidade. Da visão
mítica, passando pela religião e pela filosofia o ser humano sempre buscou explicar
lógicas do inconsciente coletivo, do comportamento humano e a ciência é apenas uma
dessas dimensões. Essa busca não é definitiva, exclusiva ou conclusiva. É uma busca
constante, a incompletude é uma das características do conhecimento.

A sociedade ocidental deu a ciência uma forma hegemônica de construção e afirmação


da realidade, considerada por muitos como um novo mito, por sua pretensão de única
promotora dos critérios da verdade, sem com isso encontrar soluções viáveis para os
problemas essenciais da vida como a concentração de riqueza, renda, conhecimento; a
desigualdade social; a exclusão; os preconceitos; a pobreza e a violência.

Sobre a hegemonia da ciência sobre outras formas de conhecer o mundo (o senso


comum, a ideologia, a filosofia, a religião são outras formas de conhecer o mundo) diz a
autora que a primeira razão, de ordem externa a ela mesma, está na sua possibilidade de
responder a questões técnicas e tecnológicas postas pelo desenvolvimento industrial. A
segunda de ordem interna, diz respeito ao fato de que os cientistas terem conseguido
estabelecer uma linguagem fundamentada em conceitos, métodos e técnicas para a
compreensão do mundo das coisas, dos fenômenos e dos processos. Essa linguagem é
utilizada pela comunidade científica que a tem sob controle.

Apesar da normatividade do campo científico, ele é permeado por conflitos e


contradições. Um desses conflitos é entre ciências da natureza e ciências sociais.
Minayo, citando Paulo de Bruyne advoga que a cientificidade comporta ao mesmo
tempo um polo de unidade e ou polo de diversidade. Portanto, a cientificidade comporta
tanto a unidade das ciências naturais como a diversidade das ciências naturais.

Figura 1 - POLOS CIÊNCIAS NATURAIS E CIÊNCIAS HUMANAS

1. Pesquisa social (p.12 e 13)


 

Sobre a pesquisa social a autora levanta três questões: É possível o ser humano tratar de
uma realidade da qual faz parte? Isso não prejudica a possibilidade de objetivação? Em
segundo, será que a objetivação própria das ciências não estaria a prejudicar a
subjetividade característica das questões sociais? Terceiro qual o método poderia
estudar a diversidade humana?

Há um dilema para as ciências sociais: quando se aproxima das ciências naturais


empobrece as possibilidades de seu objeto. Quando investe na subjetividade,
distanciando-se das ciências naturais, afasta-se do conceito de cientificidade. A saída
para este impasse é ver a cientificidade não como um modelo de normas, mas como a
ideia reguladora de alta abstração.

Poderíamos dizer que o labor científico caminha sempre em duas direções: no primeiro
caso, elaborando suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelecendo resultados.
Na segunda direção, inventa ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminha-se
para certas direções privilegiadas. Com isso os investigadores aceitam o critério da
historicidade, de colaboração e humildade científica de reconhecer que todo
conhecimento é construído.

1. Objeto das ciências sociais (p.13 a 15)


 

O objeto das ciências sociais é histórico, isto significa dizer que as sociedades humanas
existem num determinado espaço de tempo cuja a formação social é específica. Os seres
humanos vivem o presente com as referências do passado, buscando projetar o futuro,
numa dialética constante  entre o que está dado e o que pode ser construído. Com isso o
objeto dos estudos das ciências sociais possui consciência histórica.

Segundo Minayo, não é apenas o investigador que dá sentido ao seu trabalho intelectual,
mas os sujeitos, os grupos e as sociedades dão significado e intencionalidades a suas
ações e construções, na média em que as estruturas sociais nada mais são que ações
objetivadas. O nível de consciência histórica das ciências sociais, está referenciado ao
nível de consciência histórica e social.

Os objetos das ciências sociais são intrinsecamente e extrinsecamente ideológicos.


Ninguém ousa negar que toda ciência é comprometida, veiculando interesses e visões de
mundo historicamente construídas, embora suas contribuições ultrapassem as intenções
de seu desenvolvimento. Na investigação social a relação entre o pesquisador e o seu
corpo de estudo está presente em todo o momento, e a visão de mundo de ambos está
implicada em todo o processo de conhecimento, desde a concepção do objeto aos
resultados do trabalho.

O objeto das ciências sociais é essencialmente, ou seja, a realidade social é o próprio


dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela
transbordante. Essa mesma realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer
pensamento e qualquer discurso que possamos elaborar por ela. As ciências sociais, no
entanto, possuem instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação da
suntuosidade que é a a vida dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma
incompleta, imperfeita e insatisfatória. Para isso, ela aborda o conjunto de expressões
humanas constantes nas estruturas, nos processos, nos sujeitos, significados e
representações.

1. Pesquisa qualitativa
 

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa – nas


ciências sociais – com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela
trabalha o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atividades, o
que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

1. Sociologia compreensiva
 

Em oposição ao positivismo a sociologia compreensiva responde de forma diferente à


questões sobre o qualitativo. Essa corrente teórica, como o próprio nome indica, coloca
como tarefa central das ciências sociais a compreensão da realidade humana vivida
socialmente. Num embate frontal com o positivismo a sociologia compreensiva propõe
a subjetividade como fundamento do sentido da vida social e defende-a como
constitutiva do social e inerente à construção da objetividade nas ciências sociais.

A sociologia compreensiva não se preocupa em quantificar, mas sim, em compreender e


explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez são depositárias de crenças,
valores, atividades, hábitos, trabalham com a vivência com a experiência, com a
cotidianidade e compreensão das estruturas e instituições como resultado da ação
humana objetivada, isto é, desse ponto de vista, a linguagem, as práticas, as coisas são
inseparáveis.

A abordagem dialética traz a orientação devida ao caso. Ela se propõe a abarcar o


sistema de relações que constrói o modo do conhecimento exterior ao sujeito, mas
também a representações sociais que traduzem o mundo dos significados. A perspectiva
dialética incorpora a avaliação quantitativa como um elemento dos fatos e fenômenos
sociais, buscando encontrar na parte uma explicação para o todo. Neste sentido, busca
compreender as transformações dadas pelos sujeitos, compreendendo a relação de
complementariedade entre o mundo natural e o mundo social, entre matéria e
pensamento social.

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