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I.

FUNDAMENTO DAS CIÊNCIAS


SOCIAIS
Constituição e desenvolvimento
As ciências sociais são um conjunto de disciplinas ou
ramos de saber que tem como objectivo comum, conhecer
a realidade social.

Tais disciplinas são diversas apesar de constituírem o


mesmo conjunto, o das ciências sociais, uma vez que
cada uma tem o seu objecto, método e abordagens
de forma especifica.
CONT. 1
Começam a ser ciências a partir do momento em que pas-
sam a ter :
um campo de abordagem,
objecto de estudo,
objectivos e métodos de estudo,
delimitam problemas solúveis,
formulam leis,
CONT. 2
constituem modelos interpretativos,
tem capacidade de solucionar problemas,
elaboram e testam meios necessários,
uso de linguagem conceptual adequada e
exclusiva,
teses cientificas refutáveis que sejam veri-
ficáveis logicamente ou matematicamente.
CONT. 3
Foi nos inícios do século XIX que vários autores eviden-
ciaram a autonomia e a profundidade do social.
O social é irredutível ao individuo.
Com a consolidação desta tese surgem as ciências sociais
e com o impacto crescente do saber lógico matemático,
físico e biológico que elaborava um modelo de estratégia
de investigação que ia servindo de referencial aos estu-
diosos sociais.
Com as transformações económicas, demográficas, políti-
cas e culturais dos cientistas do ocidente, referente aos
anos 1800, ou ao século XIX.
Pluralidade, diversidade e interdisciplinari-
dade nas ciências sociais
As ciências sociais são pluridimensionais;

 Único fenómeno pode ser foco de estudo de quase todas


disciplinas sociais;

Estudos são feitos de pontos de vistas diferentes;

factos sociais são designados de factos sociais totais ;


Cont. 1
As disciplinas que compõem as ciências sociais se def-
erem, por que partem de perspectivas teórica distinta e
constroem distintos objectos científicos;

Não significa que os fenómenos sociais sejam comparti-


mentos estanques, são dimensões inerentes a toda acção
social, elas estão profundamente interligados;

É bastante difícil delimitar as fronteiras em todas disci-


plinas.
Cont. 2
As ciências sociais se diferem, de acordo como perspecti-
vam a realidade, onde cada ciência social elabora:
 O seu próprio conjunto articulado de questões,
A sua problemática teórica,
Define o seu objecto científico,
Constroem conjunto de princípios,
teorias,
estratégias metodológicas.
Cont. 3
As ciências sociais se complementam nos campos das
suas abordagens, uma vez que necessitam de alguma outra
ciência para compreender um determinado fenómeno.

A interdisciplinaridade nas ciências sociais reside no facto


da existência da interdependência ou complementaridade
entre as disciplinas.
Ruptura com o Senso Comum
A ruptura das ciências no geral com Senso Comum é so-
bretudo no que diz respeito aos preceitos ou mecanismo
pelos quais um determinado saber deve passar para que se
considere de científico, a verificação, tese bem elabo-
rada e lógica.

As ciências sociais se distanciam do senso comum à me-


dida em que um determinado saber ou teoria deve ser ver-
ificável, e que obedeça aspectos lógico-matemáticos
aceites nos padrões científicos .
Cont. 1
O Senso comum é distanciado do saber científico por não
obedecer regras científicas na justificação do seu saber.

Um saber científico qual quer que seja deve partir de uma
problematização, ser uma teoria lógica, verificável que
obedece aos princípios estabelecidos num determinado
ramo de saber.
Antropologia Cultural no domínio das
Ciências Sociais.
A antropologia Cultural - disciplina que estuda os
povos no seu todo independentemente de ser ou não
ocidental.

 Sua real preocupação é com todas manifestações de


comportamentos evidenciadas pelos membros de
espécies homo sapiens raça, local de residência ou
grau de desenvolvimento.
Definição
FROST e HOEBEL «Antropologia é ciência da hu-
manidade e da cultura», o termo antropologia é composto
por dois vocábulos gregos. Anthropos - homem e Logia -
estudo ou tratado.

Antropologia – estudo sistemático do homem e de suas


actividades e comportamentos (MARTINEZ, 2007: 25).
Objecto de Estudo
De acordo com BERNARDI, Bernardo ( ), o objecto
específico de pesquisa antropológica é o homem.

Antropologia física estuda as formas e as estruturas do


corpo humano.

Antropologia cultural – indaga o significado e as


estruturas da vida do homem como expressão da sua
habilidade mental.
Objecto . Cont.
MARTINEZ (2007)diz, o objecto de estudo da antropolo-
gia divide-se em dois:
Objecto formal – todos aspectos da existência humana;

Objecto material – estudo do homem.

Portanto, o objecto são as culturas simples conhecidas como


primitivas ou ágrafas.
Campos de abordagem

O foco dum antropólogo cultural são: os padrões cultur-


ais,

Arqueologia sobre tudo, que e o estudo das culturas extin-


tas,

Ao estudar a cultura devem compreender os aspectos que


nela interagem, a política, arte, religião, a própria cultura
dos povos já extintos e presentes.
Métodos e técnicas de estudo
Os métodos da Antropologia permitem:
Observar,
Classificar os fenómenos,
Analisar,
Interpretar os dados.

Antropologia tem dois campos de investigação:


 Biológico,
 Cultural.
Cont. 1
Método Histórico – investiga eventos do passado para
compreender o modo de vida do presente.
Ex: Origem e mudança da sociedade Macua.

Método Estatístico – permite verificar as variáveis


das populações.
Ex: Dimensões do corpo humano, grupos sanguíneos, var-
iedade de religiões, diversificação de habitações.
Cont. 2
Método Etnográfico – faz uma análise descritiva das so-
ciedades humanas principalmente as primitivas ou ágrafas
(rurais), exigem generalização e comparação.
Ex.: Estudo do Yão, Chuabo, Xangana.

Método Comparativo ou Etnológico – permite


verificar diferenças e semelhanças do material colectado.
Comparar aspectos físicos, populações extintas,
através dos fósseis ou grupos humanos existentes, anal-
isando características anatómicas: cor da pele,
Cont. 3
Do cabelo, dos olhos, índice cefálico, textura do cabelo,
grossura dos lábios, etc.
Na cultura, o método compara padrões, costumes, estilo
de vida, culturas do passado e do presente.

Trabalho de campo - um processo que envolve aspectos


da conduta social, dentro dos quais o comportamento ob-
servável,
O antropólogo durante o trabalho de campo procura con-
junto de informações sobre o passado e o presente, contex-
tualizar as relações sociais que observa.
Cont. 4
O trabalho de campo é envolvente, é o processo de
procurar conhecimento através de vários outros procedi-
mentos, entre os quais a observação participante.

Observação participante - envolvimento directo


que o investigador de campo faz com um grupo
social em estudo, dentro dos parâmetros das próprias
normas do grupo;
A observação participante é pontual, investigador
faz, tentando ultrapassar o etnocentrismo cultural
espontâneo em que cada ser humano define o seu estar
na vida.
Cont. 5
Método Genealógico – permite o estudo do parentesco
com todas as suas implicações sociais:
Estruturas familiares, relacionamento marido-mulher, Pai-
filho, as cerimónias e Ritos.

Interpretação –  Consiste na interpretação e análise


de dados recolhidos no trabalho de campo;
Deve se analisar os dados recolhidos por meio de
entrevista ou inquéritos.
Aplicações da Antropologia
Os antropólogos recorrem a conceitos de relativismo cultural
e etnocentrismo, quando querem desenvolver estudos nos
grupos humanos sujeitos a mudanças socioculturais.

Emprego prático do conhecimento antropológico colaborando


para o bem estar dos grupos.

O lugar da antropologia hoje é o mundo moderno onde o iso-


lamento cultural é quase impossível (os contactos entre as pes-
soas se multiplicam).
Cont. 1
Minimizar os desequilíbrios e tensões culturais e fazer
com que as culturas antigas sejam menos molestadas e
seus padrões e valores respeitadas.

Aplica conhecimentos antropológicos, físicos e culturais


na busca de soluções para os modernos problemas sociais.

(conflitos de terra, das gerações, de identidade, de valores


autóctones Vs modernos, etc.)
História do Pensamento Antropológico
Seminário 1º
A antropologia é sem dúvida a mais antiga das ciências hu-
manas, atribui se ao grego Heródoto (480 ou 425-499), desde o
século V a.C.

O herói mítico, fundador da história, da geografia comparada e


da etnologia,

este que efectuou várias viagens, nessas viagens fazia dis-


crições narrativas acerca dos povos que encontrava nos locais
visitados, destacando as suas semelhanças e diferenças.
Cont.
O estudo sobre os outros se efectua desde a antiguidade, onde
os não gregos eram chamados de bárbaros;

Era necessário descreve-los para saber até que ponto eles são
ou não bárbaros, descobrir as diferenças e as semelhanças.

Na idade média o discurso passa a ser da diferença entre os


cristãos e os não cristãos ;

sob este pretexto que se fundamentaram as primeiras conquis-


tas e explorações do renascimento, da exploração dos povos
não europeus.
Cont.
 Esta exploração e ocupação teve vários pretextos:
 de evangelizar os povos não ocidentais que tinham suas religiões tradi-
cionais,
 de educa-los sob modelos ocidentais.

 Tais povos foram considerados de povos sem cultura, sem civilização, tin-
ham modelos de vida diferentes dos europeus, por isso, foram alvos de
grandes práticas desumanos.

 Surgia tendência de se publicar acerca dos povos não europeus pelos mis-
sionários e crescia a curiosidade em estudar estes e conhece-los, cresciam
as dúvidas em relação a pertença ou não destes povos á humanidade.
Cont.
A Curiosidade Intelectual e Interesse pelo Exótico

Antropologia, uma ciência recente, não tem data exacta de


nascimento. Ela forma –se como tal só no século XIX.

Desde a essa data, ela passou a conhecer avanços e recuos. A


história antropológica resulta de processos de acumulação e re-
formulação vindas de toda parte.
A curiosidade Intelectual e interesse pelo Exótico
As contribuições deste período são de diversa na-
tureza e origem como: Ícones, arte parietal (pinturas rupestres),
arte móvel (esculturas), manuscritos dos primeiros povos com escrita (Ba-
bilónios, Egípcios, Hindus, Fenícios, Bantus, Mayas, Incas, etc), concor-
reram grandemente na formação do património cultural mundial.

MARTINEZ (2004: 56), aponta que com o Renascimento e


com viagens de exploração, ouve grandes contactos, que de-
ram origem a Tratados.

Tratados acerca das afinidades e diferenças entre os homens


e seus mundos sociais e culturais.
Cont.
As viagens e os contactos que se multiplicaram para todos os
cantos da terra foram acompanhadas pela produção de re-
latórios que, mais tarde serviram de documentos essenciais
para a produção antropológica.

Com isso, os estudiosos começaram a dispor de maior material


antropológico para as suas pesquisas. Ocorrem ainda estudos
do corpo humano com Leonardo da Vinci (1452 - 1518).

No século XIX dá-se a 1ª descoberta do homem fóssil. Depois


vieram ainda contribuições das missões científicas mais orga-
nizadas, de naturalistas, geógrafos, humanistas, que tinham
como objectivo colher informações e fazer observações.
Do projecto colónia à crise da Antropologia
Por volta dos fins do século XIX ou inícios do século XX, a
antropologia deixa de estar a serviço exclusivo do imperial-
ismo e do colonialismo passando a interessar se em estudar os
povos de forma muito interessante e não mais chama-los de
agrafos.

Surge a necessidade de preservar as culturas não ocidentais


temendo a extinção destas sociedades e dai que o campo da
antropologia cultural ficaria em crise, e o estudo passa a ter
uma nova roupagem diferente da aquela antiga.

Actualmente os antropólogos não só se preocupam em estudar


os povos agrafos, passam a estudar os povos no seu todo.
Cont.
A heterogeneidade não é mais vista como acidental e
desnecessária, mas sim como sendo uma necessidade,

Onde não existe mais culturas inferiores ou superiores em re-


lação as outras, mas se exalta as diferenças culturais val-
orizando o multiculturalismo.
A Universalização da Antropologia.
A antropologia conheceu varias fases de desenvolvimento,
onde ganha diversas formas, tendo até estado a serviço do
colonialismo, explorando e pretendendo não aceitar a hetero-
geneidade ou até pretendendo modificar os povos tido sem cul-
tura.

O seu desenvolvimento foi possível graças ao desenvolvimento


das ciências sociais e das ciências no geral, o que fez com que
os etnólogos saíssem dos gabinetes e efectuassem trabalhos de
campos, vivendo e convivendo com os “outros”.
As Correntes Teóricas da Antropologia.
EVOLUCIONISMO
As sociedades primitivas ou diferentes das do oci-
dente representavam um estágio de evolução em que a
sociedade ocidental já tenha passado.

Para os evolucionistas a existência de povos


atrasados e avançados em determinada época
apenas significava que estavam em estado de
evolução diferente .
Cont. 1
O grande e principal teórico do evolucionismo foi
L. Morgan que dividiu a humanidade em três fases
Selvajaria, barbaria, e civilização que dividiu cada
fase em três partes respectivamente:

-Selvajaria antiga –Linguagem.


Selvajaria -Selvajaria media-Fogo,
lanças, machados.
-Selvajaria recente- arco e flecha.
Cont. 2
-Barbaria antiga – cerâmica.
Barbaria -Barbaria média - domesticação,
agricultura.
-Barbaria recente metalurgia.

-Civilização antiga – escrita.


Civilização - Civilização media -pólvora,
bússola, papel.
- Civilização recente -vapor,
electricidade e evolução.
DIFUSIONISMO
Corrente contrária ao evolucionismo que encontrou muitos
adeptos na Alemanha, EUA dentre eles encontramos RATZEL,
FROBENIU e sobretudo GRAEBNERS que é considerado
verdadeiramente o teórico do Difusionismo.

Esta teoria defende que os elementos que constituem uma dada


sociedade fossem recebidos de outras sociedades.

As sociedades difusoras são em pequenos números uma vez


que criar seria difícil que adoptar.
Cont.
Para os difusionistas quando sociedades apresentam estados idênti-
cos de desenvolvimento significaria que tinham adoptado por con-
tacto directo ou indirecto as mesmas características, contrariamente
ao evolucionismo seria que as sociedades estivessem no mesmo ou
idêntico estágio de evolução.

O difusionismo a semelhança do evolucionismo é uma corrente que


estudava as diferentes culturas com pretensão de explicar as razões
das semelhanças e diferenças culturais, onde para o difusionismo a
dinâmica cultural, a questão de evolução cultural, ou mudança de
costumes tinha necessariamente que passar pelo contacto que tinha
se estabelecido entre outros povos.
Culturalismo
Segundo Benedict- Culturalismo é uma teoria segundo a qual
o indivíduo deve ser compreendido como um ser que existe a
partir de uma determinada cultura e que a cultura é determi-
nada pelo indivíduo.

Cada pessoa é acima de tudo uma acomodação aos padrões de


forma e de medida tradicionalmente transmitidos na sua comu-
nidade de geração em geração, onde o indivíduo desde que
vem ao mundo é moldado de acordo com os padrões existentes
na sociedade onde ele faz parte.
Paradigmas emergentes na antropologia
Início de século XXI, as certezas apregoadas pelo positivismo
nos abandonaram e, dentro de uma enorme crise, somos evo-
cados a ampliar o nosso olhar como condição de sobrevivência,
e a mudar nossa forma de fazer ciência, de conviver social-
mente e de ver o próprio homem e sua relação com a natureza.

A ciência não caminha numa via linear contínua e progressiva,


mas por saltos ou revoluções.

Depois da emergência da antropologia como ciência, ela viu-se


envolvido, quase em simultâneo, em crítica em torno da sua es-
sência.
Cont.
A crítica começa internamente.

No séc. XX os estudos passaram a apresentar novas direcções;


passaram a ser criticados os princípios iniciais da antropologia.

Foram propostas novas abordagens; condicionaram a reformu-


lação da antropologia cultural, também o objecto de estudo.

Antropologia passou a estudar não só o exótico, o primitivo,


mas também aspectos culturais do mundo ocidental. O outro
Cont.
Mello (2005: 195) diz, «os povos que antes eram apenas ob-
jecto de estudo dos Europeus e Norte-americanos, como os
africanos, os asiáticos e latino-americanos começaram a culti-
var também estudos antropológicos».

Actualmente ocorre a reinterpretação ou reavaliação da


antropologia cultural, segundo perspectivas elaboradas inter-
namente e não pela alteridade do europeu.

Dessa forma, a antropologia libertou-se do servilismo colonial.


 
A Antropologia no período colonial e pós-colo-
nial em África e em Moçambique
A antropologia da era colonial é dominada pela corrente evolu-
cionista. Ela se restringia ao estudo das sociedades “primiti-
vas” e à busca de explicações científicas sobre as origens.

O método empregue pelos etnólogos foi basicamente compara-


tivo. Aqui, os usos e costumes dos povos eram comparados às
Civilizações clássicas.

Na Antropologia evolucionista, o termo “primitivo” é usado na


sua acepção pejorativa para designar todas as sociedades ile-
tradas (ágrafas).
Cont.
A antropologia colonial é influenciada pela aventura da ex-
ploração e pela luta contra a escravatura. Duas intenções
bastante antagónicas.

A primeira foi suportada pela expansão árabe (trocas mercan-


tis) e pela expansão imperialista europeia, pela sede da domi-
nação do outro;

Segundo, verifica-se uma grande movimentação de grupos ét-


nicos motivados por razões diversas. O cristianismo, pro-
movendo valores de humanismo, luta contra a escravatura.
Cont.
 O projecto colonial (colonialismo), a expansão mercantil (Comércio) e a
expansão missionária (Civilização) foram carregados por esta corrente et-
nocêntrica.

 O intercâmbio comercial não se interessa apenas pelas trocas de produtos


entre os intervenientes.

 Foram envolvidos humanos na qualidade de escravos; plantas de diverso


espécie de origem asiática (cafezeiros, coqueiros, mangueiras, cana de açú-
car, arroz de regadio, inhame, bananeira, citrinos…) espalham-se pela costa
oriental de África do mesmo modo sua religião sob a forma sunitas se
propaga em África.

 A expansão mercantil é uma forma de contacto de dois povos desconheci-


dos e cruzamento de culturas estranhas.
Cont.
Desde o início da expansão europeia os invasores tiveram
tendência de tratar todos os novos povos descobertos, do Sul
da África e das Américas, como seres pouco humanos, uma
doutrina conveniente que implicava que eram objectos legíti-
mos para a escravatura, exploração e extermínio.

O projecto colonial é um projecto de implantação, de insta-


lação dos descobridores em terras exóticas. Os povos primi-
tivos passam de exóticos a vizinhos. A realidade passa a ser
outra. Duas culturas se encontram.

Que será dos povos primitivos?


Cont.
Criam-se segregações à base de grupos étnicos e culturais.

 A expressão mais alta deste fenómeno se encontra no


Apartheid Sul-africano.

Os nativos serão expropriados e desterritorizados.

 Fomenta-se racismo, tribalismo de toda a sorte.

O projecto colonial pretendia, substituir as culturas primitivas


pela Civilização.
Cont.
Os principais temas de interesse estão virados para as origens.

Em África, por exemplo, os primeiros missionários protes-


tantes suíços eram naturalistas.

Difundindo o Evangelho, os missionários europeus se con-


frontam com algumas realidades imorais: o canibalismo, a
venda de escravos e o despeito da integridade humana.
Cont.
Acrescidos a estes temas, podemos mencionar interesse pela ma-
gia e pela religião africana, designada por animista pelos evolu-
cionistas.

A escola funcionalista inglesa desenvolveu estudos científicos so-


bre a organização sociopolítica dos povos africanos.

Para civilizar os “selvagens”, foi concedida autorização especial


às missões católicas como “instrumento da civilização e influên-
cia nacional”.

Desde cedo, as missões católicas cumpriram este dever fielmente,


usando as línguas ocidentais como instrumento desta obra.
Cont.
As missões protestantes, de seu lado, usam igualmente o
método de alfabetização para a consecução deste objectivo.

O ler e o escrever foram usados como instrumento para a trans-


formação da sociedade. Foi usada a língua vernácula. (HAR-
RIES, 2007, p. 239).

A Bíblia foi empregue como livro. Com estes, a Bíblia é


traduzida em outras línguas locais. O povo aprende a ler e a es-
crever em sua língua nativa. Dicionários e gramáticas em lín-
guas locais são escritos. Mesmo assim, a alfabetização criou
em terras africanas duas classes distintas.
Cont.
Em 1927, funda-se em Londres, o International Institute of
African Languages and Cultures. Este instituto passa a ser
chamado em 1947, International African Institute.

Participaram antropólogos e africanistas de diversas as cor-


rentes para a fundação deste instituto, pois os seus objectivos
não eram políticos, mas puramente etnológicos.

 As diversas publicações deste Instituto foram determinantes


para o conhecimento científico das culturas dos povos de
África.
Cont.
Coloca-se o questionamento de porque é que as sociedades e as
culturas das sociedades não e europeias são diferentes destas?

Com este questionamento Alexandre de Chavannes e outros


procuram conhecer mais ainda as sociedades ditas primitivas,
surgindo assim os termos como etnologia e etnografia.

 Foi durante a primeira metade do século XIX, que explo-


radores embrenharam-se no continente africano para melhor
conhecer as culturas das sociedades indígenas.
Cont.
As descobertas feitas pelos militares, missionários e comer-
ciantes entre outros nessa época fizeram com que a burguesia
eufórica planejasse a partilha de África.

Nos princípios do séc. XX o objecto de estudo da antropologia


é globalizado, isto é, não só se estudam as sociedades e cul-
turas das ditas sociedades primitivas, mas também, as culturas
e povos dos países industrializados.

Em África com a ocupação efectiva os administradores coloni-


ais deparam-se com uma situação nova, aquilo que Levi-
Strauss designou de «negação dos africanos do primitivo»,
como objecto por excelência da antropologia.
Cont.
De acordo com BERNARDI, Bernardo, essa negação mani-
festa-se em aspectos como: a fusão das tribos formando com-
plexos sócio-culturais e políticos, nomeadamente reinos, im-
périos e outras comunidades políticas.

Esta situação pós em crise o objecto de estudo da antropologia.

Outras situações que contribuem para o descrédito deste ob-


jecto são:
 O surgimento do 1º movimento nacionalista,
 A introdução do sistema monetário ocidental nas trocas comerciais,
 Movimento de libertação religiosa,
 Introdução do sistema de educação ocidental.
Cont.
Por conseguinte, o desaparecimento do objecto de estudo da
antropologia coloca-se a seguinte questão:
 Qual é o futuro da antropologia cultural em África como ciência?

Kabengele Munanga antropólogo africano e africanista, anal-


isando ideologicamente o colonialismo, a independência e o
neo-colonialismo na sua obra ``Antropologia em África após as
independências´´, ele constata os seguintes aspectos:
 a) no historial – que a antropologia em áfrica inicia no séc. XV e
que o objecto de antropologia é o primitivo- o selvagem-o ar-
caico - o exótico, etc. com o evolucionismo Morgan considerando
as sociedades africanas a praticar a promiscuidade e a poligamia
e os acidentais a monogamia.
Cont.
 b) No funcionalismo – Kabengele constata que Malinonski apela
ao conhecimento das instituições dos autóctones para melhor
administrá-los no contexto da governação indirecta (colónias
britânicas).
 Enquanto Levy Bbruhl considera os africanos como povos que se
organizam à volta dos seus toéns e envolvidos na mitologia e Von
Gennep, considera os africanos praticando a arte primitiva e os
europeus a Verdadeira arte, analisando assim a antropologia cul-
tural e biologicamente.

De acordo com estas situações Kabengele apela a recuperação


dos africanos e da cultura africana. Segundo ele, temos que
nos resgatarmo-nos a nós mesmos e nossa auto-estima.
Práticas etnográficas no Moçambique
colonial e pós-colonial
 A política de assimilação adoptada pelo colonialismo português, tornou de
certa forma desnecessária a utilização prática da antropologia nas tarefas
administrativas.

 Os objectivos da colonização consistiam na substituição dos valores cultur-


ais, políticos e económicos das populações locais e sua integração na nação
portuguesa.

 Os esforços feitos para criar uma pesquisa exclusivamente antropológica


em Moçambique tornaram-se inúteis; as investigações que pudessem ser
realizadas destinavam-se a fornecer às autoridades coloniais os meios ca-
pazes de reforçar a ocupação e aumentar a reserva da força de trabalho.
Cont.
 Os princípios do século XVI e XVII numerosos documentos portugueses
contendo várias indicações de carácter antropológico sobre Moçambique,
hoje constitui fonte importante para a reconstrução da história.

 Esses documentos possuem informações à cerca das populações locais, seus


usos e costumes, dando conselhos sobre o comportamento a adoptar no
trato com estes mesmas populações bem como com políticos e religiosos.

 Nos finais do século XIX encontramos relatórios de descrições etnográficas


feitas por militares e governantes, tais como Mouzinho de Albuquerque,
António Enes, Massano de Amorim, etc., durante o período de ocupação
efectiva, e nas campanhas de pacificação (primeiro seminário interdisci-
plinar de antropologia, Maputo, 1987: 62).
Cont.
 A preocupação em substituir as autoridades tradicionais por novas estruturas
que sirvam os interesses da administração.

 Fomenta-se estudos das línguas locais e cria-se a Escola colonial em Lisboa em


1906, onde além da língua estudava-se todos os ramos da ciência colonial.

 Com a subida ao poder de Salazar e a instituição do chamado nacionalismo


económico assiste-se a uma certa preocupação pelo estudo das estruturas políti-
cas locais, pelos usos e costume das populações, nomeadamente sistema de
parentesco e casamentos, uso e propriedade de terra, etc.. José Napoleão de Vas-
concelos diz-nos:
a obra da civilização que nos propomos levar a efeito nas nossas províncias ul-
tramarinas não poderá de modo nenhum completar-se sem o estudo por-
menorizado da sua etnografia , da sua linguística e da antropologia(…) é ao
administrador que incumbe a missão de recolher tais matérias e apetrechá-lós
com conhecimento convenientes.
Cont.
 Rita Ferreira na sua «nota sobre o conceito de tribo» refere:
abstraindo das implicações futuras da política nacional de integração e de
assimilação, os agregados tradicionais indígenas devem considerar-se
como formando os alicerces em que assenta o edifício administrativo
moçambicano. Essa organização tribal é não só de carácter altamente util-
itário para a administração, como, nas presentes circunstâncias, não é pos-
sível dispensá-la sem graves consequências(…).

A certa altura o reforço da autoridade dos chefes tribais tornou-se uma neces-
sidade para que os mesmos controlassem o fluxo monetário proveniente da
venda dos produtos agrícolas e do trabalho migratório, bem como a mobi-
lização da força de trabalho e a recolha de impostos.
Cont.
 Depois de 1960 e como consequência das mudanças surgidas nas colónias
início das lutas de libertação o discurso antropológico toma novas formas.
Era necessário fazer bons inquéritos e pesquisas apropriadas, publicar boas
monografias para que a administração dispusesse dos melhores instrumen-
tos para lutar contra as acções políticas dos nacionalistas.

 Exceptuando os trabalhos de Jorge Dias sobre os Macondes (por razões


militares) e de Maria Leonor Correia de Matos mais recentemente, não en-
contramos em Moçambique, trabalhos académicos no domínio da
antropologia.

 Em contrapartida, os missionários portugueses para o bom desempenho das


suas funções tiveram de se interessar pelo conhecimento das línguas,
tendências, usos e costumes dos povos, conhecer o mais profundamente a
sua psicologia.
Conceito de Cultura: pluralidade
e diversidade de abordagem
O termo cultura é diverso, por exemplo segundo Martinez
(2007: 39), ela é usada pela nossa sociedade com uma in-
finidade de sentidos.

Basta abrir as páginas de um jornal, escutar uma emissão ra-


diofónica ou televisiva, visitar a Internet ou prestar atenção ao
que a gente diz, e nos daremos conta que há uma variedade de
sentidos.
Conceito, Cont.
ETIMOLOGICAMENTE, o vocábulo Cultura provem do par-
ticípio passivo do verbo latino colo, colis, colere, colui, cultum,
que significa: cultivar, cuidar, ter cuidado, prestar atenção. Ex-
pressa a relação dinâmica e estável a um lugar. Os seus deriva-
dos são: agri-cola=cultivador da terra; agri-cultura=cultivo do
campo; in-cola=morador; colonus=a pessoa que cultiva; colo-
nia=local cultivado.

Segundo Tylor citado por Martinez ( 2007: 41), cultura é um


conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes e várias outras aptidões e hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Cont.
sentido material: colere terram = cultivar a terra; é o primeiro
sentido de cultura;

sentido espiritual: colere deos loci; cultus deorum: venerar


(prestar atenção) os deuses protectores do lugar, cuidar os
deuses da terra;

sentido social: a partir do século XVII, o termo cultura


começou a usar-se no sentido colectivo, algo que tem que ver
não apenas com o individuo, mas com as populações e nações.
Cont.
sentido étnico: também começou o uso particularista e étnico
(a cultura de uma determinada sociedade);

sentido universalístico: no sentido universalista (a cultura de


toda a humanidade, a cultura universal). Neste sentido a cultura
equivale a civilização.
Sobre a origem e o desenvolvimento da cultura

Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um conceito


desenvolvido inicialmente pelo antropólogo
Edward Burnett Taylor para designar o todo complexo
meta biológico criado pelo homem.

São práticas e acções sociais que seguem um padrão determi-


nado no espaço.

Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, re-


gras morais que permeiam e identificam uma sociedade.
Explica e dá sentido à cosmologia social;

É a identidade própria de um grupo humano em um território e


num determinado período.

A cultura é usada pela nossa sociedade com uma infinidade de


sentidos.

Ao longo da história o conceito de cultura foi evoluindo até


aos nossos dias.
Junto as escolas de pensamento, os autores criaram definições,
que configuraram o edifício do que hoje consideramos cultura
no sentido antropológico.

Com as suas teorias os estudiosos enriqueceram o sentido de


cultura e lhe abriram perspectivas novas.

Este movimento de constante sistematização do conceito de


cultura, chegou até aos nossos dias aparecendo novas teorias e
novas reformulações.

Portanto, o processo de globalização em que estamos mergul-


hados, levanta novas questões e desafios novos a reflexão
antropológica.
Factores da Cultura
O conceito de cultura atrás apresentado mostra que a cultura
compreende traços ou elementos de duas ordens: espiritual e
material.

Os elementos espirituais compreendem as ideias, crenças,


normas, valores, usos e costumes do grupo.

Neste conjunto, revestem-se de especial importância os val-


ores, já que toda a vivência colectiva se realiza e se ajuíza em
função deles. As ideias de bem e de mal, de justiça, de beleza,
de bondade, de liberdade, etc., condicionam efectivamente, a
actividade dos indivíduos.
Cont.
Por seu turno, os elementos materiais de uma cultura abarcam
as obras realizadas, as técnicas ou os elementos de trabalho do
grupo, que não só lhe permitem exercer o necessário domínio
da natureza como exprimem o universo espiritual do ser hu-
mano.

Os elementos materiais, relacionam-se, assim, de forma di-


recta, como ambiente que rodeia o grupo, pois reflectem a luta
dos indivíduos pela sua sobrevivência.

Estes adaptam-se a natureza no sentido de a colocar ao seu


serviço.
Os elementos espirituais e materiais não tem existência sepa-
rada, antes interagem dialecticamente, produzindo a cultura.

Ora, quais seriam então os factores da cultuar? Sumariamente,


diríamos que são quatro factores essenciais da cultura.

O anthropos, ou seja, o homem na sua realidade individual e


pessoal;

O ethnos, comunidade ou povo, entendido como associação


estruturada de indivíduos;
Cont.
O oikos, o ambiente natural e cósmico dentro do qual o homem
se encontra a actuar;

O chronos, tempo, condição ao longo da qual, em con-


tinuidade de sucessão, se desenvolve a actividade humana.

Nenhum destes factores produz, só por si, a cultura.


CULTURA E SOCIEDADE
Sabemos que o ser humano tem vivido, desde sempre, em
grupo.

Neste sentido, o homem é um ser social.

Mas, de igual modo podemos afirmar, também, que viveu


sempre num estado cultural, afastando-se do estado de natureza
característico das restantes sociedades animais.

A vida em grupo tem conduzido ao desenvolvimento, espel-


hando valores aceites, na colectividade, afastando-a de um es-
tado selvagem.
Cont.
Em todos os tempos e lugares, a vida social tem, na verdade,
suscitado crenças, criado normas, idealizado valores, encon-
trado soluções organizativas e institucionais;

Desenvolvendo capacidades, aperfeiçoando habilidades, pro-


duzido obras artísticas, técnicas, literárias, etc., que a caracteri-
zam e lhe conferem originalidade.

Numa palavra, a vida em grupo é uma vida em estado de cul-


tura. Isto é, cada sociedade exprime-se e realiza-se através de
uma cultura.
 Cultura é, pois, um fenómeno onde todos os membros do grupo têm lugar,
isto é, um fenómeno partilhado que concede a cada um uma semelhança
básica.

 De modo simplificado, pode dizer-se que a cultura representa a expressão


de um grupo e concretiza tudo o que é socialmente aprendido e partilhado
pelos membros desse grupo.

 Por outras palavras, também a sociedade é uma manifestação tipicamente


cultural.

 Portanto, se quisermos chegar a uma definição de sociedade que tenha em


conta estas considerações antropológicas, devemos dizer juntamente com
Bernardi que “a sociedade é o conjunto dos sistemas normativos das re-
lações humanas que traduzem e accionam os valores e as interpretações
culturais em instituições sociais” (Bernardi, 1974:37)
Crenças e ideias, valores, normas, símbolos
Crenças – é a aceitacao como verdadeira de uma proposicao
comprovada. Há crenças falsas e verdadeiras.

Tipos de crenças: pessoais, declaradas e públicas.

Crenças pessoas- dizem respeito apenas a uma pessoa.

Crenças declaradas – são proposicoes que uma pessoa


aparenta aceitar como verdadeiras, em seu comportamento
público, e que as menciona apenas para defender ou justificar
suas acções perante os soutros. Exemplo: favorável a democra-
cia, igualdade de sexos etc.
Cont.
Crenças públicas – as proposições que os membros de um
grupo concordam, aceitam e declaram como suas crencas
comuns. Exemplo: heirarquia na FADAM ou numa turma da
UP.

Valores – expressam sentimentos , incentivam e orientam o


comportamento humano.

Normas – são regras que indicam os modos de agir dos


indivíduos em determinadas acçoes e situações.
Cont. Simbolo
Do Grego sumbolon – significa lançar conjuntamente, reunir,
amontoar.
Expressa a ideia de aproximar e juntar duas partes de uma
mesma coisa que originariamente estiveram unidas.

O símbolo seria um fenómeno físico que tem o significado


conferido por aqueles que o utilizaram e que só eles conhecem.

O símbolo pode ser sinal; e pode ser natural e convencional:


naturais (próprios da natureza) e convencionais (atribuídos
num contexto cultural, que são objectos, eventos, pessoas, re-
lações, gestos, lugares, períodos de tempo, cores, música,
luzes, etc.)
Cont.
O símbolo é meio de comunicação;

É social, porque é meio de comunicação de mensagens entre os


membros da sociedade
CARACTERÍSTICAS DO CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA

Característica da Cultura
O uso de abstracção é uma característica de cultura: os elemen-
tos culturais só existem na mente das pessoas, em seus símbo-
los tais como padrões artísticos e mitos.

 Entretanto fala-se também em cultura material (por analogia a


cultura simbólica) quando é estudo de produtos culturais con-
cretos (obras de arte, escritos, ferramentas, etc.). Essa forma de
cultura (material) é preservada no tempo com mais facilidade,
uma vez que a cultura simbólica é extremamente frágil.
Cont.
A principal característica da cultura é o chamado mecanismo
adaptativo:
a capacidade de responder ao meio de acordo com mudança de
hábitos, mais rápida do que uma possível evolução
biológica.

O homem não precisou, por exemplo, desenvolver longa


pelagem e grossas camadas de gordura sob a pele para viver
em ambientes mais frios – ele simplesmente adaptou-se com o
uso de roupas, do fogo e de habitações.

A evolução cultural é mais rápida do que a biológica.


Cont.
No entanto, ao rejeitar a evolução biológica, o homem torna-se
dependente da cultura, pois esta age em substituição a elemen-
tos que constituiriam o ser humano;

A falta de um destes elementos (por exemplo, a supressão de


um aspecto da cultura) causaria o mesmo efeito de uma am-
putação ou defeito físico, talvez ainda pior.

Além disso a cultura é também um mecanismo cumulativo.


Cont.
 As modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, de
modo que a cultura transforma-se perdendo e incorporando aspectos mais
adequados à sobrevivência, reduzindo o esforço das novas gerações;
 Nisto, a cultura é:
 Simbólica,
 Social,
 Estável e dinâmica,
 Selectiva,
 Universal,
 Regional,
 Determinante,
 Determinada,
 Explicita ou manifesta,
 Implícita ou não manifesta.
Cont.
A cultura é simbólica
Símbolo – é uma chave a compreensão da cultura.

Toda a cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas sim-


bólicos e constitui de um conjunto de comunicações.

Neste contexto pode-se considerar a pessoa humana como um animal sim-


bólico.

Nisto, não só a linguagem verbal, mas também os ritos, as instituições cul-


turais, as relações, os costumes, etc.. são formas simbólicas .
 Os símbolos formam entre si sistemas que falam e na sua inter-relação
transmitem mensagens que é necessário prestar-lhes a devida atenção para
as captar.

 O símbolo é um fenómeno físico que tem um significado conferido por


aqueles que o utilizam e que só eles conhecem.

 Os símbolos são expressões da vida que se enquadram no comportamento


social, pelo que se tornam formas comuns de expressão de acções dos
membros da sociedade.

A cultura é social
 A cultura pertence a sociedade, dado que os hábitos, costumes, padroniza-
ção dos comportamentos, processos de transmissão e de mudança são pro-
cessos sociais.
 A cultura é transmitida socialmente, mesmo naqueles processos em que
uma pessoa transmite a cultura age em nome da sociedade.

 A pessoa é formada pela cultura e o seu comportamento é pautado pela cul-


tura interiorizada.

A cultura é estável
 Existe uma estabilidade da cultura; A cultura é perseverante; mas não é
fachada nem incomunicável;
A cultura é dinâmica
 Ela se materializa no processo de mudança e de transformação.

 Por lei da vida a cultura muda como um ser vivo que cresce e se vai trans-
formando constantemente. A cultura que se fecha corre o risco de morrer ou
desaparecer.
 A Cultura é também Selectiva, na medida em que integra os valores, códi-
gos, sistemas que um determinado grupo acha pertinente.

 Assim, há uma avaliação inicial dos novos elementos, que culmina com
aceitação ou rejeição dos mesmos numa cultura determinada.

 Muitas vezes, as novas gerações têm considerado algumas normas das ger-
ações precedentes como fora da moda ;

 Contudo, quando os factores exógenos são fortes, persistentes ou põem em


causa a sobrevivência de um grupo, pode ocorrer que haja uma integração
de certos elementos novos sem a respectiva selecção.
 A Cultura é Universal e Regional
A cultura é um fenómeno universal, isto é todos os povos têm cultura.

E há elementos comuns a todas as culturas;

Universais culturais: necessidade de subsistência, alimentação, fogo,


abrigo, defesa de perigos, comunicação, satisfação das apetências sexuais,
respeito, amizade ordem social abertura ao transcendente.

 A cultura é determinante e determinada: se por um lado a cultura é fruto


da actividade mental do homem, este acaba sendo o produto da cultura.

 O Homem depois de nascer é circunscrito a um ambiente cultural, regendo-


se por comportamentos e normas pré-estabelecidas.
 Contudo, isso não significa que este homem não tem algum papel na modi-
ficação desse mesmo ambiente, na medida em que ele é um agente activo
no interior do seu meio cultural, através de vários processos: económicos,
políticos, sociais, etc.

A cultura é explicita ou manifesta


Ela é exteriorizada por meio de acções e movimentos hábitos, comporta-
mentos, aptidões, praticas religiosas, normas.

Ex.: abraço, dança, jogo, artefacto, instrumentos objectos.

A cultura é Implícita ou não manifesta


 É latente, encontra-se no intimo das pessoas. É subjectiva, oculta, incon-
sciente ou dissimulada.
Cultura e educação:
saberes e contextos de aprendizagem em Moçambique.
Tradição e Identidade Cultural
Já notou que as pessoas gostam de se identificar com algo que
acham que as inclui ou está mais perto delas?

Esta expressão antecipa-se a um conjunto de diferentes níveis de


Identidades: identidade colectiva, identidade étnica, identidade de
género, identidade profissional, identidade nacional, identidade
pessoal, identidade comportamental, identidade religiosa, etc.

Se dissemos que somos do espaço lusófono, este espaço é descon-


tínuo e constituído por vários outras identidades espaciais:
moçambicanos, cabo-verdianos, são-tomenses, brasileiros, por-
tugueses, timorenses, angolanos.
Contudo, apesar de ser inclusiva, nem todos os membros do
grupo se comportam da mesma maneira: os portugueses, per-
tencentes ao espaço cultural europeu, são diferentes dos povos
africanos falantes do português.

Mas todos eles podem identificar-se, num certo momento,


como sendo homogéneos, isto é, ao identificarem-se como
lusófonos.

A identidade é a alma colectiva.

A identidade constrói socioculturalmente a semelhança interna


de um grupo pensado como homogéneo.
A identidade alimenta-se da alteridade, isto é, é sempre fir-
mada pela presença de um grupo diferente, mas com referen-
cias idênticos. O médico o é, em relação ao enfermeiro.

A identidade pode ser objectivada, i.é, pensada como con-


tinuidade da base ecológica (território, meio natural), da base
social (população), da base temporal (história) e da base cul-
tural (traços culturais).

Ela pode ser subjectivada, através de construção da diferença,


na auto definição da imagem endógena ou interna, na definição
da imagem exógena e no sentimento de identificação e
pertença.
Dinâmica aculturacional e permanência de
modelos societais endógenos.
 A DIVERSIDADE CULTURAL
 A idéia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade,
multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem,
heterogeneidade e variedade.

 Também, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de


diferenças, ou ainda, na tolerância mútua.

 É a pluralidade cultural que faz do mundo um lugar rico.

 No entanto, “aceitar as diferenças e enriquecer-se com elas continua a ser


um problema que hoje ninguém sabe resolver porque supõe o
reconhecimento da alteridade”.(Valente, 1999: 63).
 Levar em conta a pluralidade cultural no âmbito da educação implica
pensar formas de reconhecer, valorizar e incorporar as identidades plurais
em políticas e práticas curriculares.

 Os precursores do multiculturalismo foram professores doutores afro-


americanos - docentes universitários na área dos Estudos Sociais – que, por
meio de suas obras, levantaram questões sociais, políticas e culturais de
interesse para os afrodescendentes.

 O objetivo era preparar as populações segregadas para exigir igualdade de


direitos, estimulando a auto-estima desses grupos e apoiando o debate
intelectual sobre questões relativas à discriminação e exclusão social. Um
trabalho realizado a partir de argumentos científicos.
O DINAMISMO CULTURAL
difusão cultural
aculturação
endoculturação
transculturação

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