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República de Moçambique

MINISTÉRIO DA SAÚDE
DIRECÇÃO DE RECURSOS HUMANOS
DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO

Módulo Vocacional para Formação Inicial de Técnicos


Médios de Laboratório

Módulo Vocacional 5:
EXAMES MICROBIOLÓGICOS

Moçambique
______________
2017
NOTA INTRODUTÓRIA

O presente manual faz parte do currículo de formação inicial do curso de Técnico Médio de
Laboratório (TML) baseado em competências, o qual consiste em 4 semestres lectivos, sendo os
três primeiros de carácter teórico-prático em sala de aula e laboratórios humanístico e
multidisciplinar, com uma componente de estágios parciais, sendo o último referente ao estágio
integral.

A elaboração dos módulos vocacionais é fruto da colaboração entre Ministério da Saúde


(MISAU), International Training and Educational Center for Health (I-TECH), American
Society for Clinical Pathology (ASCP) e o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças em
Moçambique (CDC), no âmbito do Programa de Emergência do Presidente dos EUA Para o
Alívio ao SIDA (PEPFAR).

O conteúdo desta publicação é de exclusiva responsabilidade dos seus autores e não representa
necessariamente a opinião do CDC.

É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte.
FICHA TÉCNICA

Elaboração, distribuição e informações:


Ministério da Saúde (MISAU)
Direcção de Recursos Humanos (DRH)
Departamento de Formação
Repartição de Planificação e Desenvolvimento Curricular (RPDC)
Av. Eduardo Mondlane, 1008, 4º andar
Maputo, Moçambique

Coordenação:
Joaquim Wate (I-TECH)
Gerito Augusto (I-TECH)
Florindo Mudender (I-TECH)
Ermelinda Notiço (MISAU/ DRH/Departamento Formação)
Suraia Nanlá (MISAU/ DRH/Departamento Formação)
Flávio Faife (CDC Moçambique)

Equipa técnica de elaboração:

Elaboração do Conteúdo Revisão Técnica Revisão Pedagógica e Linguística


Leonel Monteiro Rafael Joaquim Joaquim Wate
Luis Porto Gerito Augusto
Travis Price Florindo Mudender
Ivana Brubacker Flávio Faife
Adelina Maiela
Serene Myers

Formatação e Edição
Joaquim Wate
Serene Myers
Flávio Faife
Leonel Monteiro

©2017. Ministério da Saúde


_____________
1ª Edição – Ano 2017
LISTA DE ABREVIATURAS

AS - Agar sangue
ATCC - American type cell culture
BAAR - Bacilos álcool-ácido resistentes
CA - Critério de Avaliação
CHOC - Agar chocolate
CLSI - Clinical and Laboratory Standard Institute
CD - Critério de Desempenho
CQ - Controlo de qualidade
ECV - Elemento de Competência Vocacional
ELISA - Enzyme Linked Immunosorbent Assay
LCR - Líquido cefalorraquidiano
LPMN - Leucócitos polimorfonucleares
MAC - Agar MacConkey
MF - Módulos Formativos
MISAU - Ministério da Saúde
MV - Módulo Vocacional
PCR - Polymerase chain reaction (reacção em cadeia de polimerase)
POP - Procedimento Operacional Padrão
QNQP - Quadro Nacional de Qualificação Profissional
RA - Resultado de Aprendizagem
RCL - Reacção em cadeia de ligase
SM - Sub-módulos
TM - Agar Thayer Martin
TSA - Teste de Sensibilidade aos Antibióticos
UC - Unidade de Competência
UD - Unidade Didática
VB - Vaginose bacteriana
PREFÁCIO

Exmos Senhores Estudantes e Professores do Curso de Técnicos Médios de Laboratório

O Ministério da Saúde (MISAU) através da Direcção de Recursos Humanos – Departamento de


Formação na sua missão de formar e desenvolver profissionais de saúde cada vez mais
competentes, tem vindo a implementar reformas curriculares no âmbito da formação baseada em
competências, de modo a trazer ao Serviço Nacional de Saúde, profissionais com conhecimentos,
habilidades e atitudes para responder pontualmente às necessidades dos pacientes.

O presente módulo vocacional apresenta conteúdos, actividades de ensino, casos práticos e


projectos que permitirão que o futuro Técnico Médio de Laboratório adquira competências
básicas para o auxílio ao diagnóstico clínico ao nível das Unidades Sanitárias do Serviço
Nacional de Saúde, bem como vigilância epidemiológica, pesquisa clínica e ensino.

Este módulo é um recurso de apoio aos Professores, na planificação e implementação das aulas
que se destinam à formação de Técnicos Médios de Laboratório e visa desenvolver nestes
futuros profissionais de saúde, conhecimentos, habilidades e atitudes com relação as práticas de
prestação de cuidados de saúde com elevada qualidade e em conformidade com o perfil
profissional estabelecido. Por outro lado, o módulo é resultado da revisão do currículo de
técnicos médios de laboratório para a nova abordagem baseada em competências.

Para o estudante, o módulo servirá de um guião de estudo e de consulta para aquisição de


conhecimentos, atitudes e habilidades técnicas que lhe permitirão prestar um atendimento de
qualidade e humanizado aos pacientes, respeitando os princípios éticos e deontológicos da
profissão e consequentemente, melhorar a qualidade dos serviços de saúde prestados em
Moçambique.

Esperamos, por um lado, que este módulo constitua um verdadeiro suporte para o
desenvolvimento e alcance dos objectivos das diferentes temáticas de formação dos profissionais
de laboratório e por outro, como uma base sólida onde o Professor possa buscar o fortalecimento
de conhecimentos, garantia de uma dinâmica uniformizada tanto na mediação como na
assimilação das matérias de ensino.

O módulo apresenta uma linguagem simples, acessível e clara de modo que permita a fácil
compreensão dos estudantes das Instituições de Formação de Saúde a nível nacional.

Maputo, 20 de Março de 2017


ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO AO MANUAL DE ENSINO ___________________________________ 1


Sub-módulo 1: Formação de recursos humanos em saúde __________________________ 4
Sub-módulo 2: Metodologia de investigação aplicada em saúde _____________________ 4
2. DADOS BÁSICOS DO MÓDULO ___________________________________________ 5
3. REFERÊNCIAS DO MANUAL DE ENSINO ___________________________________ 5
3.1. Unidade de Competência de referência _____________________________________ 5
3.2. Módulo Vocacional de referência__________________________________________ 7
4. UNIDADES DIDÁCTICAS _________________________________________________ 8
4.1. Critério de Organização das Unidades Didácticas _____________________________ 8
4.2. Sequência e Temporalização das Unidades Didácticas _________________________ 9
UNIDADE DIDÁCTICA 1: __________________________________________________ 10
UNIDADE DIDÁCTICA 2 ___________________________________________________ 30
UNIDADE DIDÁCTICA 3 ___________________________________________________ 67
UNIDADE DIDÁCTICA 4 __________________________________________________ 102
UNIDADE DIDÁCTICA 5 __________________________________________________ 134
GLOSSÁRIO ______________________________________________________________ 1
QUESTIONÁRIO FINAL DE AUTO AVALIAÇÃO DO MÓDULO ___________________ 3
Questionário da UD1 _______________________________________________________ 3
Questionário da UD2 _______________________________________________________ 3
Questionário da UD3 _______________________________________________________ 4
Questionário da UD5 _______________________________________________________ 6
Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

1. INTRODUÇÃO AO MANUAL DE ENSINO

O presente manual corresponde à um dos módulos do programa formativo do TÉCNICO


MÉDIO DE LABORATÓRIO, desenhado com base em competências profissionais. A
competência é um conceito amplo que incorpora a capacidade de transferir habilidades e
conhecimentos para novas situações, dentro de uma determinada área ocupacional.
Inclui a organização e planificação do trabalho e a inovação e capacidade de lidar com
actividades não rotineiras; abrange, também, as qualidades de eficácia pessoal que são
exigidas no âmbito do trabalho, para lidar com os colegas e com os possíveis alunos.
Assim sendo, ser competente é saber agir e reagir em contextos diversificados, ser capaz de
solicitar e combinar os recursos necessários e pertinentes para o cumprimento de uma
determinada tarefa, de compreendê-la e de ter êxito no momento de executá-la.
Uma Qualificação Profissional é uma comprovação de competências para desempenhar uma
ocupação a um determinado nível. O cenário de abordagem por competências tem elementos
inovadores nos âmbitos profissionais e laborais, tais como:
- Mudanças estruturais no mundo do trabalho.
- Mudanças de ordem sócio-económica que vão condicionar o surgimento de
“actividades novas" que antes não existiam no mundo laboral.
- Tecnologias que criam ou modificam ocupações.
- Mudanças nas tendências demográficas; aumento do nível de escolaridade; novas
regulamentações laborais, entre outros. Criando-se assim novas ou mais exigências.
- Necessidade/interesse em realizar actividades com determinado padrão de qualidade.
Aplicar esta metodologia de definição do Perfil Profissional de um técnico que irá garantir
um óptimo e correcto desempenho de todas as exigências laborais e técnicas correspondentes
à uma ocupação é um processo directamente associado ao desenho da formação apropriada
do mesmo para responder a essas exigências de desempenho.
 Um Perfil Profissional assim definido é caracterizado por um conjunto de funções
designadas de Unidades de Competência.
 A Unidade de Competência (UC) é um grupo de funções produtivas, identificadas no
campo de trabalho, que expressam um determinado resultado significativo da actividade
técnico-laboral e tem um reconhecimento e um significado no sistema de emprego
organizado e estabelecido dentro de um determinado sector. Cada UC estabelece o
resultado a ser alcançado numa determinada actividade e evidencia a capacidade do

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

profissional em obtê-lo ou de atingi-lo. Cada UC detalha, também, a qualidade da


evidência requerida nesse resultado, expressando aquilo que é considerado um bom
desempenho profissional.
Cada Unidade de Competência (UC) é constituída por:
 Elementos de Competência (EC): descrevem uma acção ou comportamento que
alguém deve ser capaz de realizar e demonstrar numa situação de trabalho e num
determinado campo ocupacional.
 Critérios de Desempenho (CD) definem os níveis de competência que permitem julgar
as actividades de trabalho realizado pela pessoa. Portanto, expressam o nível aceitável de
realização profissional, para cada Elemento de Competência, que responde aos
objectivos das organizações e forneça orientações para a avaliação da competência
profissional.
 Contexto de aplicação da UC: descreve os meios de produção, os produtos e os
resultados do trabalho, a informação utilizada ou gerada e os itens de natureza
semelhantes e considerados necessários para o desempenho profissional. O contexto de
aplicação fornece o significado contextual dos elementos de competência. Isto é,
esclarece o ambiente e as condições actuais e previsíveis em que serão aplicados os
elementos de competência que compõem a unidade de competência.
No âmbito de desenvolvimento desta metodologia foi definida a qualificação do Técnico
Médio de Laboratório. Na qual foram identificadas e definidas 11 Unidades de
Competências Vocacionais:
UC1: Realizar os procedimentos das fases pré e pós-analíticas no laboratório clínico

UC2: Obter sangue seguro e seus componentes para uso hospitalar

UC3: Realizar análises hematológicas de amostras biológicas humanas para fins de


diagnóstico e de seguimento de tratamento
UC4: Realizar exames de bioquímica para auxiliar o prognóstico e diagnósticos clínicos, bem
como no seguimento do tratamento
UC5: Realizar testes laboratoriais microbiológicos para auxiliar no diagnóstico clínico e de
seguimento do tratamento das infecções
UC6: Processar o material biológico para observação e emissão do resultado histocitológico
que auxilie o diagnóstico clínico
UC7: Realizar testes imunológicos e moleculares para auxiliar no diagnóstico, tratamento e
monitoria clínica das enfermidades
UC8: Processar amostras biológicas para a pesquisa de parasitas e/ou materiais associados, no
sangue, no tracto gastrointestinal e urinário para auxiliar no diagnóstico clínico e
monitoria de tratamento de infecções

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

UC9: Gerir recursos humanos, aprovisionamento, qualidade, segurança, e actividades


administrativas do laboratório
UC10: Atender ao utente, realizar actividades administrativas e manter as comunicações nos
serviços de saúde
UC11: Participar na formação de novos profissionais de saúde e na formação contínua de
funcionários, assim como em actividades de investigação que assegurem a eficácia dos
serviços
A partir do Perfil Profissional desenhado é definido o Programa Formativo, com um
formato modular. Cada Unidade de Competência do perfil profissional corresponde à um
módulo formativo.
Cada um dos Módulos Formativos constitui um bloco coerente de formação associado a
cada uma das Unidades de Competência, cujo objectivo é a aquisição de competência
profissional.
Para cada um destes Módulos são definidos os seguintes aspectos:
- Resultados de Aprendizagem são os resultados esperados por partedo aluno no final
da Disciplina: , e através dos quais, visa-se verificar se o aluno alcançou a
competência profissional especificada na UC.
- Critérios de Avaliação: é um o conjunto de parâmetros definidos para cada resultado
de aprendizagem que indica- o grau de concretização.
- Conteúdos para cada um dos resultados de aprendizagem.
- Requisitos de Instrução: Infra-estrutura, equipamentos e perfil do professor /
formador.
- Notas de Suporte: Contexto da Disciplina/formas de instrução, abordagem da
avaliação.
- Referências Bibliográficas.
A partir das 11 Unidades de Competência Vocacionais que constituem o Perfil Profissional, o
Programa Formativo do Técnico Médio de Laboratório contém os seguintes Módulos
Formativos (MF) e Sub-módulos (SM):
Módulos formativos Sub-módulos

MV1: Procedimentos Pré-pós analíticos

MV2: Banco de sangue


MV3: Exames Hematológicos
MV4: Exames Bioquímicos
MV5: Exames Microbiológicos
MV6: Exames Histocitológicos

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

MV7: Exames Imunológicos e


Moleculares
MV8: Exames Parasitológicos
MV9: Gestão de Recursos e Qualidade
Laboratorial
Sub-módulo 1: Atendimento ao utente,
MV10: Documentação, comunicação, humanização e deontologia profissional
atendimento ao utente e humanização Sub-módulo 2: Gestão da documentação e
dos serviços de saúde comunicação derivadas da actividade dos serviços
de saúde
Sub-módulo 1: Formação de recursos humanos em
MV11: Formação e Investigação em
saúde
Saúde
Sub-módulo 2: Metodologia de investigação
aplicada em saúde
Estágio Parcial
Estágio Rural e Integrado

O presente manual desenvolve o módulo nº 5, intitulado Exames Microbiológicos.

Para facilitar a leitura -este manual – encontra-se dividido em partes apresentadas no


sumário:
 Dados básicos do módulo/submódulo.
 Referentes do manual de ensino: perfil profissional e módulo formativo.
 Unidades Didácticas:
- Conteúdo organizador.
- Sequência das Unidades Didácticas.
- Desenvolvimento das Unidades Didácticas: a denominação, o objetivo geral, a
introdução da unidade, os conteúdos, o desenvolvimento dos conteúdos, as
actividades de ensino–aprendizagem e o caso práctico / projeto.
- As Actividades de Ensino-Aprendizagem que se apresentam têm como
seguintes objectivos:
- Facilitar aos alunos a aprendizagem significativa.
- Conseguir a implicação dos alunos.
- Despertar neles a intencionalidade.
- Integrar os conteúdos concetuais, procedimentais e atitudinais.
- O Caso Práctico /Projeto: Integra os conteúdos da Unidade Didáctica completa
apoiados deinformações e documentos similares aos reais. Todas as Unidades
Didácticas incluem a resolução de um projecto ou caso que parte de situações

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

concretas relacionadas com o desenvolvimento da actividade habitual, de


maneira que permita a transferência do conteúdo aprendido à outros contextos.
 Anexos: caso manual necesste de algum dado, instrumento, enlaces web,
informação, entre outros, que seja apenas para consulta.
 Lista de abreviaturas e glossário: com a definição dos termos utilizados.
 Questionário final de Auto-avaliação do módulo/submódulo: serve para que o aluno
para avalie os seus conhecimentos referentes ao módulo.
 Referências Bibliográficas: todos os materiais que foram consultados para a
elaboração do manual.

2. DADOS BÁSICOS DO MÓDULO

Denominação do módulo: Módulo vocacional 5 - Exames Microbiológicos


Unidade de Competência UC5: Realizar testes laboratoriais microbiológicos para auxiliar no
correspondente: diagnóstico clínico e seguimento do tratamento das infecções
Nível do QNQP: Médio 5
Duração do módulo: 80 horas
Número de créditos: 8

3. REFERÊNCIAS DO MANUAL DE ENSINO

3.1. Unidade de Competência de referência

UC5: Realizar testes laboratoriais microbiológicos para auxiliar no diagnóstico clínico e


seguimento do tratamento das infecções

Elementos de Critérios de Desempenho


Competência
ECV5.1. Preparar os CD5.1.1.Desinfecta, arruma a bancada de trabalho com os produtos
equipamentos, e métodos adequados e documenta
materiais, CD5.1.2.Coloca e conserva adequadamente o material esterilizado,
reagentes, meios para manter as condições óptimas
de culturas e CD5.1.3.Identifica e organiza o material e reagentes necessários
amostras, em para realização das técnicas
função das CD5.1.4.Verifica a qualidade e quantidade das amostras a serem
técnicas a realizar analisadas
para garantir a CD5.1.5.Prepara os meios de culturas segundo a técnica
qualidade dos recomendada
resultados e CD5.1.6.Armazena os meios de cultura segundo as normas
segundo as estabelecidas e/ou POPs.
normas

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

Elementos de Critérios de Desempenho


Competência
estabelecidas e/ou
POP
ECV5.2. Realizar exames CD5.2.1.Selecciona e efectua, para a cada tipo de amostra a
microbiológicos: processar, os procedimentos prévios (centrifugação,
a fresco, de Gram, homogeneização entre outras) para sua posterior análise
Ziehl Nielsen, CD5.2.2.Prepara a lâmina de amostra para o exame
auramina, CD5.2.3.Executa o exame directo de amostras
citoquímico, tinta- CD5.2.4.Cora o esfregaço segundo as técnicas a serem aplicadas
de-china, segundo CD5.2.5.Observa ao microscópio a preparação a fresco ou corada,
as normas aplicando técnicas de microscopia selecionadas
estabelecidas e/ou CD5.2.6.Identifica os microrganismos presentes nas amostras
POP para garantir observadas.
o diagnóstico
ECV5.3. Colabora na CD5.3.1.Identifica os principais tipos de meios e/ou equipamento
execução de semi-automático mais usados na cultura de microrganismos
técnicas CD5.3.2.Seleciona os meios de culturas a semear de acordo com o
complementares tipo de amostra e microrganismo suspeito
de análises CD5.3.3.Aplica a técnica de sementeira em meios de culturas
microbiológicas correspondente segundo o tipo de amostra e agente
segundo as suspeito
normas CD5.3.4.Incuba as amostras semeadas de acordo com o tempo e as
estabelecidas e/ou condições ambientais exigidas pelo microrganismo em
POP suspeita
CD5.3.5.Prepara a lâmina corada a partir do esfregaço proveniente
das colónias suspeitas
ECV5.4. Garantira CD5.4.1.Avalia a integridade física das amostras antes do seu
qualidade dos processamento
resultados de CD5.4.2.Testa as amostras de controlo interno e externo de
exames qualidade
Microbiológicos CD5.4.3.Notifica os desvios registados que estejam fora da
realizados para normalidade
obter resultados CD5.4.4.Recebe os relatórios dos controlos externos e/ou do seu
fiáveis e precisos superior hierárquico, implementa as acções correctivas
que auxiliem no segundo as recomendações fornecidas
diagnóstico, CD5.4.5.Envia os resultados de controlo externo de qualidade
tratamento e dentro dos prazos estabelecidos
seguimento do CD5.4.6.Confronta os resultados das análises com a informação
doente, segundo clínica
as normas CD5.4.7.Libera os resultados de amostras processadas e validados
estabelecidas e/ou CD5.4.8.Realiza a esterilização do material utilizado e as amostras
POPs. utilizando as técnicas disponíveis
CD5.4.9.Descarta as amostras e regista os dados
CD5.4.10. Coloca e conserva adequadamente o material
esterilizado.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

3.2. Módulo Vocacional de referência

Módulo Vocacional 5: EXAMES MICROBIOLÓGICOS


Resultados de aprendizagem Critérios de avaliação
CA 5.1.1. Reconhece os materiais, aparelhos, reagentes e soluções
para o exame microbiológico
CA 5.1.2. Descreve as técnicas de desinfecção e esterilização
identificando os equipamentos e meios necessários
CA 5.1.3. Desinfecta e arruma a bancada de trabalho com os
produtos e métodos adequados
CA 5.1.4. Realiza a esterilização do material utilizado e as
amostras utilizando as técnicas disponíveis
CA 5.1.5. Coloca e conserva adequadamente o material
RA 5.1.Preparar os esterilizado, para manter as condições óptimas
equipamentos, materiais, CA 5.1.6. Identifica e organiza os materiais e reagentes
reagentes, meios de necessários para a realização das técnicas
culturas e amostras, em CA 5.1.7. Explica os passos a serem seguidos na preparação dos
função das técnicas a materiais e reagentes necessários para a realização do
realizar para garantir a exame
qualidade dos resultados CA 5.1.8. Verifica a qualidade e quantidade das amostras a serem
e segundo as normas analisadas
estabelecidas e/ou POP CA 5.1.9. Explica os processos de preparação dos meios de
cultura para obter meios de qualidade
CA 5.1.10.Prepara os meios de cultura segundo a técnica
recomendada
CA 5.1.11.Armazena os meios de cultura segundo as normas
estabelecidas e/ou POP
CA 5.1.12.Selecciona e efectua, para a cada tipo de amostra a
processar, os procedimentos prévios (centrifugação,
homogeneização entre outras) para sua posterior
análise.
CA 5.2.1. Explica os passos a serem seguidos na preparação dos
materiais e reagentes necessários para a realização do
exame directo de microorganismos patógenos e
observação microscópica
CA 5.2.2. Prepara esfregaços de amostras biológicas humanas
para corar e identificar os microorganismos patógenos
RA 5.2.Realizar exames
CA 5.2.3. Cora o esfregaço segundo as técnicas a serem aplicadas
microbiológicos de
CA 5.2.4. Prepara amostra na lâmina para exame microscópico
pronto despiste de
CA 5.2.5. Observa ao microscópio óptico a preparação ao fresco
microrganismos
ou corado aplicando técnica de microscopia
patógenos
seleccionada
CA 5.2.6. Identifica os microrganismos presentes nas amostras
observadas a fresco ou corados segundo o seu nível de
formação
CA 5.2.7. Elabora e apresenta um relatório com os resultados
obtidos.
RA 5.3.Colaborar na realização CA 5.3.1. Identifica os principais tipos de meios e/ou equipamento
de técnicas semi-automático mais usados na cultura de

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

complementares de microrganismos
análises microbiológicas CA 5.3.2. Seleciona os meios de cultura a semear de acordo com o
segundo as normas tipo de amostra e microrganismo suspeito
estabelecidas e/ ou POP CA 5.3.3. Executa a sementeira no meio de cultura correspondente
segundo o tipo de amostra e agente suspeito
CA 5.3.4. Incuba as amostras semeadas de acordo com o tempo e
as condições ambientais exigidas pelo microrganismo
em suspeita
CA 5.3.5. Executa o exame directo de amostras para a
identificação dos microorganismos presentes nas
mesmas
CA 5.3.6. Descreve como preparar o ambiente para o
antibiograma
CA 5.3.7. Explica como seleccionar os discos antibióticos e como
colocá-los no meio de cultura
CA 5.3.8. Descreve como reconhecer os halos de inibição no
antibiograma.
CA 5.4.1. Avalia a integridade física das amostras antes do seu
processamento
CA 5.4.2. Descreve os procedimentos usados para controle de
qualidade interno e externo das amostras
CA 5.4.3. Testa as amostras de controlo interno e externo de
qualidade segundo as normas estabelecidas e/ou POP
RA 5.4.Avaliar a qualidade dos
CA 5.4.4. Notifica os desvios registados que estejam fora da
resultados de exames
normalidade segundo as normas estabelecidas e/ou POP
microbiológicos
CA 5.4.5. Recebe os relatórios anteriores e implementa as
produzidos para obter
recomendações fornecidas
resultados fiáveis e
CA 5.4.6. Envia os resultados de controlo externo de qualidade
precisos que possam
dentro dos prazos estabelecidos.
monitorar o tratamento
CA 5.4.7. Confronta os resultados das análises com os dados dos
registos nos tubos e a informação clínica
CA 5.4.8. Emite os resultados de amostras processadas e
validados
CA 5.4.9. Descarta as amostras e regista os dados segundo as
normas estabelecidas e/ou POP

4. UNIDADES DIDÁCTICAS

4.1. Critério de Organização das Unidades Didácticas

Realizar testes laboratoriais microbiológicos para auxiliar no diagnóstico clínico e


seguimento do tratamento das infecções.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

4.2. Sequência e Temporalização das Unidades Didácticas

Unidades Didácticas Tempo (em horas)


UD1. Fundamentos de microbiologia 8
UD2. Requisitos para exames microbiológicos 12
UD3. Exames microbiológicos 28
UD4. Diagnóstico microbiológico de infecções por sistemas 18
UD5. Garantia de qualidade em microbiologia 14

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

UNIDADE DIDÁCTICA 1:

FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

ÍNDICE

OBJECTIVO GERAL ______________________________________________________ 12


Resultados de aprendizagem da unidade didáctica _______________________________ 12
INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 13
1. TAXONOMIA E CLASSIFICAÇÃO MICROBIANA _________________________ 13
1.1. Taxonomia Microbiana e Classificação __________________________________ 13
1.1.1. Classificação e estrutura bacteriana _________________________________ 14
1.1.2. Nomenclatura __________________________________________________ 17
1.2. Estrutura da Célula Bacteriana _________________________________________ 18
2. CRESCIMENTO MICROBIANO _________________________________________ 20
2.1. Necessidades de Oxigénio ____________________________________________ 20
2.2. Necessidades de Nutrientes ___________________________________________ 21
2.3. Temperatura _______________________________________________________ 21
2.4. pH _______________________________________________________________ 21
2.5. Medição da massa bacteriana em culturas líquidas de bactérias _______________ 22
3. FLORA MICROBIANA NORMAL ________________________________________ 23
3.1. Flora Transitória ____________________________________________________ 23
3.2. Flora Permanente ou Residente ________________________________________ 23
3.3. Microrganismos da flora normal por região corporal _______________________ 24
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD1 ________________________ 25
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD1 ________________________________________ 27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 28

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

OBJECTIVO GERAL
Descrever as características dos microrganismos de importância clínica.

Resultados de aprendizagem da unidade didáctica

No fim desta unidade o formandodeve ser capaz de:


- Descrever os parâmetros de classificação microbiana.
- Comprar bactérias Gram negativas das Gram positivas.
- Explicar as fases de crescimento bacteriano e sua implicação no diagnóstico
laboratorial.
- Descrever a flora microbiana normal.
- Explicar o papel da flora microbiana normal no diagnóstico laboratorial.

Módulo Vocacional para Formação Inicial de Técnicos Médios de Laboratório – DRH/Formação – MISAU – 2017 12
Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

INTRODUÇÃO

Microbiologia é uma ciência que se dedica ao estudo dos microrganismos, incluindo


eucariotas unicelulares e procariotas. Estes microrganismos podem ser (bactérias, fungos,
vírus e parasitas).
Em Medicina, a Microbiologia está focada no diagnóstico, apoiando no estabelecimento de
terapias adequadas e acompanhamento do progresso dos pacientes. Para melhor compreensão
da contribuição da Microbiologia no isolamento e identificação dos microrganismos, é
importante descrever as principais características destes, ou seja, aquelas usadas para a sua
detecção. Esta unidade está dividida em três capítulos:
- O primeiro capítulo aborda a temática sobre a taxonomia e classificação microbiana
com destaque para a taxonomia microbiana e sua classificação.
- O segundo capítulo tem como foco os factores que afectam o crescimento microbiano,
principalmente: necessidades de oxigênio, necessidades de nutrientes, temperatura,
pH.
- E finalmente, no terceiro capítulo será discutidar a flora microbiana normal,
destacando as principais regiões anatómicas com presença da flora microbiana
normal, e o papel da desta na contaminação laboratorial.

1. TAXONOMIA E CLASSIFICAÇÃO MICROBIANA

DEFINIÇÃO Taxonomia: é um ramo da Biologia que se ocupa na definição de grupos de


organismos biológicos tendo como base as características comuns. Para cada
grupo é atribuído um nome, e uma nota de forma que estes possam ser
classificados de forma hierárquica (Murray et al., 2004).

1.1. Taxonomia microbiana e classificação

A taxonomia em alguns casos é usada como sinónimo da sistemática, é importante a


“classificação” ou “sistemática” de organismos, arranjo em grupos ou categorias, designados
taxa. A taxonomia pode ser dividida em três partes:
- Classificação: arranjo ordenado de unidades em grupos de unidades maiores.
- Nomenclatura: denominação das unidades definidas (caracterizadas) e delineadas
pela classificação (dar nomes).

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- Identificação: usando critérios estabelecidos para classificação e nomenclatura,


os microrganismos são identificados pela comparação entre as unidades
“conhecidas” e “desconhecidas” A identificação de um microrganismo
recentemente isolado requer caracterização, descrição e comparação adequadas
com descrições típicas dos microrganismos conhecidos.

1.1.1. Classificação e estrutura bacteriana

A classificação das bactérias baseia-se em sete propriedades essenciais: coloração de Gram,


características culturais, características morfológicas, características metabólicas,
características de composição química, características antigénicas, e características genéticas.
a) Coloração de Gram (características microscópicas): a partir do exame
microscópico de um esfregaço corado é possível observar as características
morfológicas de células isoladas ou agrupadas. As bactérias podem ser classificadas
em Gram positivas e Gram negativas com base nas diferenças do grau de afinidade
com os corantes (mais adiante serão discutidas tais diferenças). É também possível
caracterizar as bactérias quanto a forma e a disposição (Figura 1):
 FORMA: as bactérias podem ser cocos (esféricas), bacilos (bastonetes),
espirilos (espirais).
 DISPOSIÇÃO: refere-se ao agrupamento das bactérias que pode ser aos pares
(recebendo o prefixo DIPLO), em cadeia (STREPTO) ou em aglomerados
irregulares/cacho (STAPHYLO).
i. Cocos/bacilos em pares: DIPLOcocos/DIPLObacilos;
ii. Cocos/bacilos em cadeia: STREPTOcocos/STREPTObacilos;
iii. Cocos irregulares/cacho: STAPHYLOcocos.

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b) Características culturais: o estudo das características culturais das bactérias refere-


se à avaliação macroscópica das colónias em diferentes meios de cultura (substância
usada para cultivar microrganismos no laboratório). Estas características auxiliam na
identificação preliminar do grupo ou género bacteriano, e na selecção de testes
diferenciais para a identificação final do microrganismo. Abaixo são apresentadas as
principais características culturais das colónias de microrganismos em meios de
cultura (Figura 2):
 Tamanho: o diâmetro (em mm) das colónias;
 Forma: puntiforme, circular, filamentosa, rizóide ou fusiforme;
 Margem (bordos da colónia): inteira, ondulada, lobada, crenada, filamentosa,
ondulada;
 Elevação: plana, convexa, monticular, umbeliforme, umbilicada;
 Cor: branca; amarela, preta, cinzenta, rosa, verde, vermelha;
 Superfície: brilhante, fosca, etc.;
 Densidade: opaca, translúcida, transparente, etc.;
 Odor: suco de uva, pútrido, etc.;
 Consistência: butirinosa, viscosa, quebradiça, membranosa;
 Reacções em alguns meios de cultura:
i. Produção de pigmentos: piocianina; pioverdina, piorrubina,
piomelanina;
ii. Hemólise: alfa (α); beta (β); gama (δ);
iii. Aterações em meios diferenciais: em função da presença de indicadores
das actividades enzimáticas.

Figura 2: Características culturais de Escherichia coli em agar MacConkey


Fonte: Autores

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c) Características metabólicas: frequentemente, a identificação de uma espécie requer


um conhecimento detalhado da sua actividade bioquímica, pois, outras características
não estão suficientemente definidas ou diferenciadas.
EXEMPLO
Por exemplo, a Escherichia coli, é indistinguível microscopicamente
da Salmonella typhi (ambas são bacilos Gram negativos).

É importante notar que as propriedades metabólicas podem influenciar o tipo de doença


causada.
EXEMPLO Microrganismos anaeróbios têm uma grande tendência de causar
abcessos;
Organismos ácidos resistentes crescem lentamente, por isso associam-
se a infecções crónicas;
Vibrio cholerae tem crescimento rápido, por tal associa-se a progressão
rápida.
d) Características químicas: composição química da parede celular bacteriana é muito
diferente da composição química da parede celular das algas e dos fungos. A distinção
principal entre os vírus baseia-se no tipo de ácido nucléico. Há também, diferenças de
composição química das paredes celulares de certos grupos de bactérias, isto é, entre
bactérias Gram positivas e Gram negativas. Estas diferenças estruturais constituem a
base para o diagnóstico e tratamento das infecções bacterianas.
e) Características antigénicas: as características antigénicas referem-se as estruturas
dos microrganismos associadas com o processo infeccioso, desde a entrada até ao
aparecimento de sinais no hospedeiro (desenvolvimento da doença). Tais estruturas
são também designadas de factores de virulência. Algumas das vias que auxiliam o
estabelecimento dos patógenos nos tecidos, a sua multiplicação e patogenicidade
incluem: existência de cápsula, presença de pili, produção de enzimas extracelulares,
libertação de endotoxinas e síntese de exotoxinas. Bactérias tais como Streptococcus
pneumoniae, Klebsiella pneumoniae e Haemophilus influenzae são capazes de
secretar em volta de suas paredes celulares uma cápsula fina protectora, que os
previne da destruição por células fagocitárias do hospedeiro, e contribui para
virulência da bactéria.

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f) Características genéticas: a composição das bases do ADN é uma característica


constante de uma determinada espécie e expressa como a % de moles de Guanina e
Citosina (G+C) sobre o total de moles de todas as bases.
G+C/ A+T+G+C*100%
Os valores obtidos variam entre 23 e 75, dependendo das espécies de organismos. Se dois
organismos têm proporções muito semelhantes de bases, significa que estão de alguma forma
relacionados.

1.1.2. Nomenclatura

Cada espécie recebe um nome constituído por duas palavras (ex: Bacillus subtilis); onde o
primeiro nome é o do género e sempre inicia com letra maiúscula. A denominação do género
é uma palavra latina ou grega. Os nomes próprios dos organismos são escritos em itálico ou
sublinhados.
EXEMPLO Exemplos de géneros bacterianos que são derivados de palavras ou raízes
latinas:
- Bacillus (masculino) = pequeno bastão
- Lactobacillus (masculino) = pequeno bastão
- Sarcina (feminino) = um pacote ou grumo
- Micrococcus (masculino) = pequeno grão
- Clostridium (neutro) = pequeno fuso
- Pasteurella (feminino) = homenagem a Louis Pasteur
- Erwinia (feminino) = homenagem a Erwin F. Smith, pioneiro norte-
americano da Fitopatologia.
- Neisseria (feminino) = homenagem a Albert Neisser, que, em 1879,
descobriu o agente etiológico da gonorréia.
A segunda palavra do nome de uma bactéria (epíteto específico) é escrita em letra minúscula
e, usualmente, é descritiva.
EXEMPLO Adjectivo que modifica o nome; Bacillus albus (Bacillus branco);
Adjectivo sob a forma de particípio presente de um verbo; Clostridium
dissolvens (Clostridium que dissolve).
Substantivo no caso possessivo que modifica o nome genérico; Salmonella
pullorum (Salmonella dos pintos). Nome em aposição, de carácter explicativo;
Bacillus radicola (Bacillus habitante de raíz).

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1.2. Estrutura da célula bacteriana

A célula bacteriana é uma célula procariota (Figura 3), e diferencia-se da célula eucariótica
por não estar compartimentada (não
apresenta núcleo). Geralmente, esta
célula possui apenas um cromossoma
circular ligado ao mesossoma a nível
da membrana celular, e não apresenta
os seguintes organelos: membrana
nuclear, mitocôndria, retículo
endoplasmático, corpos de Golgi,
fagossomas e lisossomas. As
estruturas bacterianas podem ser
divididas em dois grupos, as básicas
(existentes em todas as bactérias) e as
especiais (existentes em algumas
bactérias). O quadro abaixo apresenta as características das estruturas bacterianas.
Tabela 1. Estrutura da célula bacteriana
Presente em
Estrutura Características
todas bactérias
É uma molécula de ADN circular, e é também designado
corpo cromatínico, por muitas vezes não ser considerado
Cromossoma Sim um cromossoma verdadeiro. Este cromossoma carrega as
informações genéticas da célula, tornando-o apto a realizar a
auto-replicação.
É uma pequena molécula de ADN circular com replicação
independente. Seus genes não são codificadores de
Plasmídeos Não informações e características essenciais, mas pode conferir
vantagens selectivas, como por exemplo resistência aos
antibióticos.
É uma camada dupla de fosfolípidos, mas também contem
Membrana
Sim proteínas essenciais auxiliadoras na permeabilidade de
celular
nutrientes, na defesa e na produção de energia.
Parede De forma geral Quanto a sua constituição, diz-se que as bactérias podem ser

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celular sim, mas com Gram negativas ou Gram positivas. As bactérias Gram
algumas positivas permanecem coradas por cristal violeta depois de
excepções. lavagem, enquanto as bactérias Gram negativas não. Todas
as bactérias têm uma membrana celular onde ocorre
fosforilação oxidativa. Fora da membrana celular, encontra-
se a parede celular que é rígida e protege a célula de lise
osmótica.

1.1. Nas bactérias Gram positivas, a camada de


peptidoglicano da parede celular é mais espessa
que a das bactérias Gram negativas. As bactérias
Gram negativas teêm uma membrana celular
externa adicional que constitui uma barreira à
permeabilidade neste grupo de bactérias. O espaço
entre a membrana interna e externa é chamado de
espaço periplasmático. Bactérias Gram negativas
armazenam enzimas degradativas no espaço
periplasmático. Em bactérias Gram negativas
patogénicas os factores de virulência são
encontrados no espaço periplasmático. As bactérias
Gram positivas não têm espaço periplasmático e
estas não podem armazenar enzimas degradativas
(Figura 4).

É uma camada polissacarídica ou protéica que recobre a


Cápsula Não parede celular. Tem a função de proteger a célula da acção
dos fagócitos (resistente a fagocitose).
É uma estrutura protéica presa à mambrana citoplasmática, e
Flagelo Não
é responsável pela mobilidade da bactéria.
Também conhecidas como “pili”, são estruturas protéicas,
características das bactérias gram-negativas e diferentemente
dos flagelos, não servem para locomoção, mas para adesão.
Fímbrias Não
Existe ainda um tipo específico de fímbria, a sexual, que
serve para auxiliar no processo de conjugação, ligando as
bactérias para que troquem material genético.

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Figura 4. Estrutura da parede bacteriana (A – bactérias Gram posiivas; B – bactérias Gram


negativas).
Fonte: Adaptado de Fox (2009).

2. CRESCIMENTO MICROBIANO

O crescimento e divisão celular necessitam de um ambiente propício com todos os


constituintes químicos e físicos necessários para o seu metabolismo. Essas necessidades
específicas são dependentes de informações genéticas para cada espécie bacteriana. Algumas
espécies com vasta flexibilidade nutricional, como as do género Pseudomonas, são capazes
de sintetizar muitos de seus metabólitos a partir de precursores simples, enquanto outras
espécies são mais exigentes, como as Porphyromonas e Treponemas, que necessitam de
nutrientes complexos para o crescimento e reprodução. Necessidades para crescimento
bacteriano incluem oxigénio (ou sua ausência), nutrientes, temperatura e pH óptimos.

2.1. Necessidades de Oxigénio

As actividades de todos os microrganismos dependem das suas necessidades de oxigénio. De


acordo com essa necessidade os microrganismos podem ser: aeróbios obrigatórios,
anaeróbios obrigatórios, facultativos e microaerofílicos.
- Aeróbios obrigatórios: para a sua actividade, dependem do oxigénio livre do ar,
e não podem levar a cabo a fermentação.
- Anaeróbios obrigatórios: só crescem na ausência do oxigénio livre, sendo a
presença de concentrações mínimas de oxigénio tóxicas para estes
microrganismos.
- Facultativos: crescem entre estas necessidades extremas de oxigénio, ou seja,
tanto em ausência como em presença de oxigénio livre.

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- Microaerofílicos: têm necessidade de oxigénio, mas em concentrações inferiores


à do ar, sendo que não sobrevivem à altas concentrações.

2.2. Necessidades de Nutrientes

As bactérias necessitam de fontes de energia para elaborar o protoplasma e os seus materiais


estruturais. Os elementos mais importantes são: carbono (C), hidrogénio (H), nitrogénio (N),
fósforo (P), enxofre (S) e iões metálicos (exemplo: ferro, Fe2+). Como fontes de carbono e
energia utilizam geralmente os hidratos de carbono e os aminoácidos. As fontes de nitrogénio
são compostas orgânicos (exemplo: proteínas e certos aminoácidos). Uma bactéria pode
necessitar para a formação do seu material celular de um ou mais compostos orgânicos que é
incapaz de sintetizar a partir de componentes mais simples. Tais nutrientes orgânicos são de
três tipos:
- Aminoácidos necessários para a síntese proteíca;
- Purinas e pirimidinas que são necessárias para a síntese de ácidos nucleicos;
- Vitaminas que são necessárias para a síntese de enzimas.

2.3. Temperatura

A temperatura é um importante factor de crescimento, uma vez que influencia todas as


reacções químicas relacionadas com o processo. A temperatura na qual um microrganismo
cresce com maior rapidez designa-se temperatura óptima. Com base neste parámetro as
bactérias podem ser classificadas em psicrófilas (temperatura óptima de crescimento entre 20
– 35ºC), mesófilas (temperatura óptima de crescimento entre 30 – 45ºC) e termófilas
(temperatura óptima de crescimento entre 45 – 70ºC). Note que, a maioria dos
microrganismos patogénicos são mesófilos, pois a temperatura corporal dos hospedeiros
vivos está dentro do seu limite óptimo.

2.4. pH

Da Química, o pH define-se como potencial ácido. Para todos os microrganismos há um valor


de pH óptimo, onde a taxa de crescimento é máxima. A maioria das bactérias é neutrófila, ou
seja, atinge o pico de crescimento a um pH próximo da neutralidade ou ligeiramente alcalino
(6,8 – 7,5). Outras bactérias podem sobreviver e mesmo crescer em condições totalmente
ácidas (4,0 – 6,0), sendo designadas acidófilas, ou alcalinas (8,5 – 9,0), são chamadas de

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basófilas. Certas bactérias criam as condições favoráveis para o seu crescimento ao


produzirem ácido através da degradação de hidratos de carbono. Um exemplo deste tipo de
bactérias é a Lactobacillus acidophilus, principal membro do complexo de Lactobacillus
responsável pela acidez da vagina. O comportamento perante a acidez do meio auxilia na
identificação dos locais de ocorrência das bactérias e dos agentes desinfectantes mais
apropriados.

2.5. Medição da massa bacteriana em culturas líquidas de bactérias

Embora as bactérias desenvolvam-se bem em meios de cultura de sólidos, os estudos de


crescimento são feitos essencialmente em meios líquidos. Nesses meios a massa bacteriana
pode ser determinada por dois métodos comuns a turvação (quão nublada está a cultura
líquida de bactérias: medida de bactérias totais [vivas e mortas]). Esta é normalmente
quantificada com um espectofotómetro ou densitómetro; e o número de bactérias viáveis na
cultura (normalmente avaliada pela contagem do número de colónias que crescem depois de
semear um volume conhecido em uma placa (contagem de unidades formadoras de colónias).
Em qualquer um dos casos acima, quando uma determinada bactéria é semeada num meio de
composição apropriada e incubada em temperatura adequada, o seu crescimento segue uma
curva caracterísica ao longo do tempo, denominada Curva de Crescimento (Figura 4).
A curva de crescimento é composta por quatro fases distintas: (1) fase lag, (2) fase log, (3)
fase estacionária e (4) fase de declínio. A FASE LAG é uma fase de adaptação das bactérias
às condições do meio. Nesta, verifica-se um pequeno ou nenhum crescimento. Durante a
FASE LOG, observa-se um crescimento rápido (exponencial). Na FASE ESTACIONÁRIA
as bactérias param de crescer. Finalmente, quando o suprimento de nutrientes é exaustivo, as
bactérias começam a morrer (FASE DE DECLÍNIO). Em muitos casos (mas não sempre) a
autolise das bactérias (durante a fase de declínio) e a turvação diminuem.

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3. FLORA MICROBIANA NORMAL

A flora microbiana normal é um conjunto de microrganismos (bactérias, fungos) que se


localizam em diferentes regiões do corpo humano. Muitos desses microrganismos apresentam
funções benéficas como impedir o crescimento de microrganismos patogénicos. Em
particular, o equilíbrio entre a microbiota do tracto gastrointestinal e da vagina tem grande
importância para a saúde do ser humano. Os microrganismos da flora normal são
classificados em dois grupos: flora residente e flora temporária. A flora transitória é
composta de microrganismos não patogénicos ou potencialmente patogénicos derivados do
ambiente, que habitam a pele ou membranas mucosas por períodos curtos ou longos (horas a
semanas), enquanto a flora permanente consiste de microrganismos comuns em certa
regiões e numa determinada faixa etária.

3.1. Flora Transitória

A flora transitória consiste de microrganismos não patogénicos e potencialmente patogénicos


que colonizam as superfícies corporais e membranas mucosas por período limitado de tempo.
Por exemplo, a pele está constantemente exposta e em contacto com o ambiente, e está mais
sujeita a conter microbiota transitória.

3.2. Flora Permanente ou Residente

É constituída por tipos relativamente fixos de microrganismos. Seu crescimento numa região
depende de factores fisiológicos como: temperatura, humidade, pH, substâncias tóxicas
(inibitórias) e existência de determinados nutrientes. A flora residente de certas regiões
desempenha um papel importante na manutenção do funcionamento normal e da saúde. Por
exemplo, membros da flora residente do tracto intestinal sintetizam a vitamina K e auxiliam
na absorção de nutrientes. Nas membranas mucosas e na pele, a flora residente impede a
colonização de patógenos e possível doença através de “competição biológica”. Por outro
lado, os membros da flora residente podem produzir doença em certas condições (imunidade
fraca do hospedeiro) ou translocação para outras regiões anatómicas. Por exemplo, a
microbiota intestinal está muitas vezes implicada com infecções do tracto urinário. É
importante ainda reconhecer que a flora normal permanente pode causar confusão no
diagnóstico laboratorial, e subsequente erro de interpretação. Este aspecto será discutido mais
adiante neste manual.

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3.3. Microrganismos da flora normal por região corporal

a) Pele: a pele humana é rica em micróbios. A população microbiana da pele varia em


função do pH, oxigénio, água e secreções. Existem quatro grupos de bactérias
predominantes na pele: difteróides (exemplo: Corynebacterium diphtheria),
micrococos (exemplo: Staphylococcus epidermidis, Streptococcus alfa (α) ou gama
(γ) hemolíticos), e enterococos). Para além de bactérias podem ser encontradas
leveduras (exemplo Candida) e outros fungos.
b) Olhos: a população microbiana usualmente encontrada na conjuntiva do olho é
normalmente transitória e incluí Staphylococcus, Streptococcus, bacilos difteróides,
Haemophilus, e Neisseria.
c) Tracto Respiratório Superior (Faringe E Traqueia): a população microbiana do
tracto respiratório superior inclui Staphylococcus, Streptococcus (exemplo:
Streptococcus agalactiae), difteróides (exemplo: Corynebacterium diphtheria),
espiroquetas, Neisseria, e Haemophilus.
d) Cavidade Oral (Boca e Dentes): a população microbiana encontrada na boca e
dentes inclui Staphylococcus, Streptococcus (particularmente Streptococcus mutans),
Lactobacillus acidophilus, Actinomyces odontolyticus, espiroquetas, e bacilos curvos.
e) Tracto Intestinal: no tracto gastrointestinal a população microbiana é composta por
Lactobacillus, Enterococcus faecalis, Bacteroides, Clostridium, Enterobacteriaceae,
Pseudomonas, e Candida.
f) Tracto Genito-Urinário (Região genital e uretra): no tracto genito-urinário
encontra-se uma população equilibrada de leveduras (exemplo Candida) e o
complexo de Lactobacillus no canal vaginal de mulheres saudáveis. Mycobacterium
smegmatis pode ser encontrado no penis. A urina de um indivíduo saudável é estéril,
mas pode ser contaminada devido a translocação de microrganismos do tracto
gastrointestinal, ou ascensão dos microrganismos da região genital.
ATENÇÃO O isolamento de bactérias e fungos são significativamente importantes se o
microrganismo for isolado de um local normalmente estéril, ou seja
desprovido de microrganismos como, por exemplo, o sangue ou líquidos
biológicos. No entanto, muitas partes do corpo possuem uma flora microbiana
normal que pode ser alterada por influência endógena ou exógena e o
isolamento de microrganismos potenciais nestes locais, como por exemplo, nas
vias respiratórias, na pele, no trato intestinal, devem ser considerados no
contexto da flora normal de cada trato.

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RESUMO
A classificação das bactérias baseia-se em sete propriedades essenciais: coloração de Gram,
características culturais, características morfológicas, características metabólicas,
características de composição química, características antigénicas, e características genéticas.
Estas propriedades determinam as necessidades específicas de crescimento de cada espécie
microbiana. As bactérias são então semeadas em meios de cultura e incubadas em
temperaturas óptimas para permitir o seu crescimento que segue uma curva caracterísica ao
longo do tempo (curva de crescimento). Durante esse processo de crescimento microbiano no
laboratório, é importante ainda reconhecer que a flora normal permanente pode causar
confusão no diagnóstico laboratorial, e subsequente erro de interpretação.

ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD1

ACTIVIDADE nº 1 Mapa da flora microbiana normal


Duração 1h
Objectivos
Reconhecer os principais microrganismos da flora normal do corpo humano
Identificar as regiões anatómicas estéreis e colonizadas por microrganismos da flora normal
Conteúdo (s) de referência
Flora microbiana normal
Desenvolvimento da actividade por parte do estudante
A cada estudante cabe a pesquisa bibliográfica (fora da sala de aulas): levantamento de todas
as regiões anatómicas com e sem membros da flora normal;
Elaboração de um mapa da flora microbiana normal (fora da sala de aulas): apresentar uma
imagem ilustrativa do ser humano indicando todas as regiões anatómicas com e sem
microrganismos;
Apresentação em plenária (sala de aulas): descrição da flora microbiana normal de uma
região anatómica indicada pelo professor;
Papel do professor no desenvolvimento da actividade
Orientação da pesquisa bibliográfica: apresenta as fontes bibliográficas adequadas para o
trabalho; explica o objectivo da actividade;
Orienta a formação de grupos, e distribui as regiões anatómicas para cada grupo;

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No fim da sessão sintetiza o conteúdo, e apresenta os aspectos mais relevantes do tema,


relacionando-o com os temas subsequentes (exemplo: culturas e contaminações).
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
Sala de aulas
Cartazes
Material bibliográfico
Computadores e projectores
Critérios de avaliação
No fim da sessão cada grupo descreve a flora microbiana de uma região anatómica indicada
pelo professor; Cada aluno entrega um mapa indicando todas as regiões anatómicas com e
sem membros da flora normal;
ACTIVIDADE nº 2 Características culturais de bactérias
Duração 2h
Objectivos
Descrever as principais características culturais de bactérias da flora normal do trato
intestinal;
Conteúdos de referência
- Classificação das bactérias (características culturais);
- Flora microbiana normal (trato gastrointestinal).
Desenvolvimento da actividade por parte do estudante
- Pesquisa bibliográfica prévia (fora da sala de aulas): revisão sobre bactérias que
compoem a flora microbiana intestinal, e levantamento das características culturais de
bactérias.
- Leitura de uma placa com crescimento primário da cultura de amostras de fezes de
indivíduos saudáveis;
- Registo (em formulário apropriado) de todas as características culturais de membros
da flora microbiana intestinal.
Papel do professor no desenvolvimento da actividade
Ao professor cabem as seguintes tarefas:
- Orientar os estudantes para a realização da tarefa (criação de grupos de trabalho e
apresentação dos objectivos); Os grupos podem ser constituídos por 4 membros
(flexível em função do número de estudantes e recursos existentes);
- Preparar 8 placas de culturas de amostras de fezes para subsequente observação (24

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horas de antecedência);
- Preparar -a folha de registo das principais características culturais.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Laboratório
- Cultura dos microrganismos
- Folha de registo dos resultados
Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega a folha de registo
preenchida com as principais características culturais dos diferentes microrganismos;
- Cada grupo deve ser capaz de identificar e descrever 80% das características dos
microrganismos da cultura apresentada.

CASO PRÁTICO

Caso prático
Título
Controlo de microrganismos (Contaminação de cosméticos)
Descrição
Nos dias de hoje os cosméticos são usados em grande escala pela população moçambicana de
diferentes níveis sociais. Em 2015 foram detectadas diferentes bactérias em lotes de shampoo
e loções de pele de um estabelecimento comercial de representação nacional na Cidade de
Maputo. Os recipientes apresentavam diferentes tipos de tampas, e os produtos tinham baixos
índices antimicrobianos. Os cosméticos mencionados já tinham sido libertos e a venda
iniciada três semanas depois da descoberta. Uma equipa de microbiologistas foi convidada a
detectar os contaminantes nos cosméticos, e os resultados são apresentados na tabela abaixo.
Tabela 1. Resultados da investigação
Bactérias Incidência de contaminação (%)
Shampoo Loção de pele
Citrobacter spp. 2 0
Enterobacter spp. 8 2
Klebsiella spp. 2 2
Pseudomonas spp. 2 2

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Serratia spp. 2 1

Actividades que devem ser desenvolvidas pelos grupos


Actividade 1: fazer uma reflexão sobre os seguintes elementos: (1) como as bactérias
contaminaram os produtos; (2) porquê os microbiologistas pesquisaram esse grupo de
bactérias; (3) como evitar a contaminação de cosméticos.

Actividades a desenvolver pelos estudantes


- Identifica os elementos do caso;
- Pesquisa a informação;
- Analisa a informação recolhida;
- Faz a apresentação do trabalho do grupo.
Actividades a desenvolver pelo professor
- Forma e orienta os grupos (grupos podem ser constituídos por seis membros, ou
definidos em função do número dos estudantes);
- Explica os procedimentos da actividade;
- Acompanha as actividades do grupo;
- Promove debate em plenária;
- Analisa e sumarisa os pontos apresentados
Recursos necessários
- Material de leitura sobre contaminação microbiana (Livros de Microbiologia);
- Folha de caso;
- Quadro;
- Marcadores/Giz;
- Apagador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. JAWETZ, E., J. L. MELINK, A. E. ADELBERG, G. F. BROOKS, J. S. BUTEL E A.


S. MORSE (2000). Microbiologia Médica. 21ª edição, 518pp. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan.
2. SURVANA, K., A. LOLAS, P. HUGHES, & R. L. FRIEDMAN (2011). Case Studies
of Microbial Contamination in Biologic Product Manufacturing. Microbiology
Review.

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3. LIMA, A. O., J. B. SOARES, J. B. GRECO, J. GALIZZI E J. R. CANÇADO (1992).


Métodos de Laboratório Aplicados à Clínica: Técnica e Interpretação. 7ª Edição. Rio
de Janeiro, Guanabara Koogan.
4. MARSHALL, JACQUELYN R. (1995). Microbiologia: Manual de Laboratório
Clínico. 161pp. São Paulo, Livraria Santos.
5. MURRAY, P. R., K. S. ROSENTHAL, G. S. KOBAYASHI E M. A. PFALLER
(2004). Microbiologia Médica. 4ª Edição, 762pp. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.

SITES CONSULTADOS
1. AMSTRONG, D. Shapes of Bacteria. https://www.tes.com/lessons/mW7aeqO8BUQz-
Q/shapes-of-bacteria.
2. FOX, A. (2009). The Bacterial Cell. http://pmi.med.sc.edu.
3. SANCHEZ, M. Célula Bacteriana.
https://www.tes.com/lessons/JPQRmK0b5DHfzA/celula-bacteriana.

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UNIDADE DIDÁCTICA 2

REQUISITOS PARA EXAMES MICROBIOLÓGICOS

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ÍNDICE
OBJECTIVO GERAL ______________________________________________________ 32
Resultados de aprendizagem da unidade didáctica _______________________________ 32
1. INTRODUÇÃO ________________________________________________________ 33
2. CONDIÇÕES PARA REALIZAÇÃO DE EXAMES MICROBIOLÓGICOS________ 33
2.1. Competência Técnica do Profissional de Laboratório _______________________ 33
2.2. Ambiente de trabalho ________________________________________________ 34
2.3. Equipamentos ______________________________________________________ 35
2.4. Reagentes e meios de cultura __________________________________________ 36
2.5. Amostras biológicas _________________________________________________ 37
3. MÉTODOS DE ESTERILIZAÇÃO E DESINFECÇÃO ________________________ 37
3.1. Métodos de esterilização _____________________________________________ 38
3.2. Métodos de desinfecção ______________________________________________ 39
4. AMOSTRAS CLÍNICAS PARA EXAMES MICROBIOLÓGICOS _______________ 40
4.1. Qualidade da amostra para exame microbiológico _________________________ 40
4.2. Principais amostras enviadas para o laboratório de microbiologia _____________ 41
4.3. Procedimentos para colheita e verificação da qualidade das amostras __________ 45
4.3.1. SANGUE (HEMOCULTURA) ____________________________________ 46
4.3.2. LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO (LCR) _________________________ 47
4.3.3. URINA _______________________________________________________ 48
4.3.4. FEZES (ZARAGATOA RECTAL) _________________________________ 50
4.3.5. EXPECTORAÇÃO______________________________________________ 51
4.3.6. OROFARINGE _________________________________________________ 52
4.3.7. SECREÇÕES GENITAIS ________________________________________ 52
4.3.8. PÚS/FERIDAS _________________________________________________ 54
4.3.9. OUTROS LÍQUIDOS CORPORAIS (PLEURAL, SINOVIAL, LAVADOS) 55
5. MEIOS DE CULTURA __________________________________________________ 56
5.1. Classificação de meios de cultura ______________________________________ 56
5.2. Preparação dos meios de cultura (procedimento geral) ______________________ 57
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD2 ________________________ 61
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD2 ________________________________________ 63
BIBLIOGRAFIA __________________________________________________________ 65

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OBJECTIVO GERAL
Preparar os equipamentos, materiais, reagentes, meios de culturas e amostras, em função das
técnicas a realizar para garantir a qualidade dos resultados e segundo as normas estabelecidas
e/ou POP.

Resultados de aprendizagem da unidade didáctica

No fim desta unidade o estudante deve ser capaz de:


– Identificar os materiais e equipamentos essenciais para o trabalho no laboratório de
Microbiologia.
– Arrumar a bancada de trabalho com os produtos e métodos adequados.
– Descrever os parâmetros que definem a qualidade de uma amostra biológica.
– Elaborar um procedimento para aceitação e rejeição de amostras biológicas.
– Descrever os procedimentos de preparação de meios de cultura microbiológicos.
– Preparar os meios de cultura de isolamento e identificação de microrganismos.

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INTRODUÇÃO

Os exames microbiológicos exercem uma importante função no trabalho do médico,


auxiliando no diagnóstico, conduta e prevenção de doenças. Estes têm como finalidade a
detecção, o isolamento, a quantificação e identificação de microrganismos e seus metabólitos
em diferentes amostras biológicas. Para realizar um exame microbiológico capaz de produzir
resultados úteis e fiáveis é necessario assegurar a existência dos seguintes requisitos:
competência técnica do pessoal; ambiente apropriado; validação dos métodos; manutenção,
calibração e monitoria dos equipamentos; preparação e organização dos reagentes e meios de
cultura; e amostras biológicas adequadas. Nesta unidade serão discutidos cada um destes
requisitos/parâmetros para a realização dos exames microbiológicos em quatro capítulos:
– O primeiro capítulo aborda as condições essenciais para realização de exames
microbiológicos, destacando a competência técnica do profissional de laboratório, o
ambiente de trabalho, os equipamentos, os reagentes, os meios de cultura e outros.
– O segundo capítulo foca-se nos métodos de esterilização e desinfecção usados em
Microbiologia.
– O terceiro capítulo aborda as amostras clínicas, centrando-se no momento da colheita,
o volume recomendado e os procedimentos de colheita.
– O quarto capítulo aborda os meios de cultura, com enfoque na preparação e controlo
de qualidade dos mesmos.

1. CONDIÇÕES PARA REALIZAÇÃO DE EXAMES


MICROBIOLÓGICOS

Para a realização de exames microbiológicos deve-se criar determinadas condições. Portanto,


quando se fala das tais condições são incluídas: a competência técnica do profissional do
laboratório, o ambiente de trabalho, os equipamentos, os reagentes e meios de cultura, bem
como, as amostras biológicas.

1.1. Competência técnica do profissional de laboratório

Os testes microbiológicos devem ser realizados e/ou supervisionados por profissionais


qualificados. Cabe aos profissionais considerados competentes (através de exames de
proficiência) executar todos os procedimentos dentro do laboratório, incluindo a manutenção

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dos equipamentos. Para assegurar o bom desempenho dos técnicos é importante realizar
treinos e provas de proficência regulares.
LEMBRA-TE A interpretação dos resultados do teste para identificação e verificação
dos microrganismos é fortemente conectada à capacidade técnica do
profissional que realizou e deve ser monitorada regularmente.

1.2. Ambiente de trabalho

Um laboratório típico é composto por instalações de testagem (onde os testes microbiológicos


específicos e actividades associadas são realizadas) e de instalações auxiliares (entradas,
corredores, blocos administrativos, armazéns, arquivo, lavabos, etc). A Figura 1, ilustra uma
área de processamento de amostras.

No geral, existem requisitos ambientais específicos para instalações de testagem:


– A área para a lavagem (depois da descontaminação) pode ser compartilhada com
outras partes do laboratório, desde que precauções necessárias sejam tomadas para
evitar a transferência de vestígios de substâncias que podem afectar o crescimento
microbiano. A necessidade de separação física deve ser julgada com base nas

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actividades específicas para o laboratório (por exemplo, número e tipo de testes


realizados).
– Os equipamentos de laboratório não devem ser frequentemente movidos entre as áreas
para evitar a contaminação cruzada acidental.
– O espaço deve ser suficiente para permitir que as áreas de trabalho sejam mantidas
limpas e arrumadas. O espaço necessário deve ser proporcional ao volume de análises
feitas e à organização interna geral do laboratório. O espaço deve estar de acordo com
os regulamentos nacionais, quando disponíveis.
– Os locais de trabalho devem ser adequadamente ventilados e à uma temperatura
adequada. Isto pode ser feito por ventilação natural ou pelo uso de um aparelho de ar
condicionado. Quando são utilizados condicionadores de ar, os filtros devem ser
adequados, inspecionados, mantidos e substituídos de acordo com o tipo de trabalho a
ser realizado.
– Um programa de monitoria ambiental apropriada deve ser concebido, incluindo, por
exemplo, o uso de placas de liquidação de ar e colheita de zaragatoas de superfícies
para determinar os níveis de contaminação ambiental.
– Deve haver um programa regular e documentado de limpeza para equipamentos de
laboratório e superfícies para relacionar os resultados da monitoria e a possibilidade
de contaminação cruzada. Incluir um procedimento para lidar com os derrames.
– Estabelecer medidas para evitar o acúmulo de poeira, por exemplo através da:
disponibilização de espaço suficiente para armazenamento suficiente, redução para o
mínimo o uso de papel no laboratório, proibição do uso de pertences pessoais na área
de trabalho do laboratório e, acesso a água (incluindo pontos para lavagem adequada
das mãos).
– Uso de roupas apropriadas para o tipo de teste que está sendo executado (incluindo, se
necessário, proteção para o cabelo, barba, mãos, etc.). O módulo Pré e Pós Analítico
discute mais detalhadamente este tópico.

2.1. Equipamentos

Todos os equipamentos usados para exames microbiológicos devem ser submetidos a


procedimentos de manutenção e calibração para garantir o bom desempenho dos mesmos.

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 Manutenção: a manutenção de equipamentos, incluindo o registo deve ser efectuada


em intervalos de tempo especificados conforme a taxa de utilização. Deve-se dar
especial atenção à prevenção de contaminação cruzada resultante de equipamentos.
EXEMPLO Equipamentos descartáveis devem ser esterilizados no momento apropriado
antes do descarte;
Equipamentos re-utilizados devem ser devidamente lavados e esterilizados
quando recomendado/necessário.
Normalmente, os seguintes equipamentos deverão ser mantidos pela limpeza e inspeção de
danos, verificação geral e, se necessário, esterilização:
– Equipamentos de serviço geral: aparelho de filtração, de vidro ou plástico
recipiente (garrafas, tubos de ensaio), vidro ou plástico placas de Petri, a
amostragem de instrumentos, fios ou alças de platina, níquel / cromo ou plástico
descartável;
– Banhos de água, incubadoras, armários microbiológicos, autoclaves,
homogeneizadores, geladeiras, freezers;
– Equipamentos volumétricos: pipetas, distribuidores automáticos, platers em
espiral;
– Instrumentos de medição: termómetros, cronómetros, balanças, medidores de pH,
contadores de colónias.

Calibração e verificação de desempenho: o laboratório deve estabelecer um programa para


a verificação da calibração e desempenho de equipamentos que tem influência directa sobre
os resultados do teste. A frequência da calibração e verificação de desempenho deve ser
determinada pela experiência documentada e baseada na necessidade, tipo e desempenho
anterior do equipamento. Os intervalos entre calibração e verificação devem ser mais curtos
do que o tempo que o equipamento foi encontrado para levar à deriva fora dos limites
aceitáveis.

2.2. Reagentes e meios de cultura

O laboratório que deve assegurar que a quantidade e qualidade dos reagentes usados são
apropriadas para o exame em causa.

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Eles devem verificar a adequação de cada lote de reagentes críticos para o teste, inicialmente
e durante a sua vida útil, utilizando organismos controlo reconhecidos a nível nacional e
internacional.

2.3. Amostras biológicas

Para cultura, identificação e análise bem-sucedidas de microrganismos, o departamento de


Microbiologia depende da recepção de uma amostra correctamente colhida e transportada
para o local de testagem.
LEMBRA-TE A validação dos exames microbiológicos devem reflectir as condições
reais do ensaio, incluindo: competência do profissional, ambiente de
trabalho, controlos positivos e negativos (ex: organismos padrão);
calibração de equipamentos; testes de proficiência; competência do pessoal
e, existência de amostras, materiais e reagentes.
Nesta unidade serão destacados os métodos de esterilização e desinfecção, meios de cultura e
amostras biológicas.

3. MÉTODOS DE ESTERILIZAÇÃO E DESINFECÇÃO

DEFINIÇÃO Esterilização: é um processo que visa eliminar todos os microrganismos


(incluindo esporos) presentes num material ou numa superfície. O termo
estéril implica ausência de microrganismos capazes de se replicarem
mesmo que as condições sejam favoráveis (Marshal, 1995).
Desifencção: consiste na redução da carga microbiana (morte da maior
parte dos microrganismos), mas não de todos os microrganismos capazes
de se replicarem em uma superfície. Geralmente a desinfecção não tem
efeito sobre os esporos (Marshal, 1995).
Limpeza: consiste na remoção da grande parte dos microrganismos
presentes numa superfície. A limpeza é um pré-requisito da desinfecção e
da esterilização (Marshal, 1995).
Antisepsia: é a desinfecção aplicada em tecidos vivos, tais como feridas
(Marshal, 1995).
Descontaminação: processo que permite tornar um determinado material
ou equipamento seguro para mnipulação (Marshal, 1995).

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3.1. Métodos de esterilização

Existem diversos métodos de esterilização: físicos e químicos. Os métodos de esterilização


mais utilizados em Microbiologia são os que utilizam o calor (calor seco e calor húmido), ou
seja, esterilização por calor seco e esterilização por calor húmido.
a) Esterilização por calor seco: O calor seco ou ar quente leva a desnaturação e
oxidação das proteínas, que resulta na morte dos microrganismos. A esterilização por
calor seco é indicada para esterilizar vidrarias, instrumentos de corte ou de ponta, os
quais podem oxidar na presença do vapor da autoclave, e materiais impermeáveis
como ceras, pomadas e óleos. Os métodos de esterilização por calor seco incluem:
Flambagem e Estufa de ar quente.
 Flambagem: é a exposição do objecto à chama de bico de Bunsen ou
lamparina. Na técnica bacteriológica utiliza-se a flambagem para esterilizar a
alça de platina pelo aquecimento até o rubro vermelho. As pinças, as pipetas,
as bocas dos tubos e balões em que se faz a semeadura são aquecidos na
chama sem, no entanto, leválas ao rubro.
 Estufa de ar quente: a exposição ao ar quente é um método usado
correntemente em Bacteriologia para a esterilização de materiais secos, tais
como: tubos, ampolas, placas, provetas, objectos metálicos, óleo mineral,
vaselina sólida, parafina, talco, areia, etc. note que o material a ser estrilizado
por este meio deve ser capaz de suportar temperaturas elevadas.
b) Esterilização por calor húmido: o calor húmido pode ser utilizado para destruir
microrganismos presentes em materiais através das formas de: vapor de água, água
fervente e água aquecida abaixo de seu ponto de ebulição, é mais eficaz do que o
calor seco, pois leva à coagulação e desnaturação das enzimas e proteínas estruturais
dos microrganismos.
 Vapor de água (autoclave: 121º C com tempo de exposição de 15 a 30
minutos): é um processo mais eficiente para destruir os microrganismos e os
esporos. A penetração do vapor no material garante maior nível de destruição
dos microrganismos, e por esse motivo é mais rápido.

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3.2. Métodos de desinfecção

Este processo pode ser realizado de forma física ou química (desinfectantes). Em ambas
formas, este processo pode ser classificado em três níveis: desinfecção de nível alto,
intermediário ou de baixo.
– Desinfecção de alto nível: inactiva todos os microrganismos, excepto esporos. Ex:
HBV, HIV e M. tuberculosis. Este tipo de desinfecção é indicado para itens que
entram em contcato com mucosas íntegras e pele não íntegra.
EXEMPLO
Espéculos.

– Desinfecção de nível intermediário: é aquela que inactiva bactérias na forma


vegetativa (M. tuberculosis), fungos e a maioria dos vírus, é indicada para uso em
itens que entram em contacto apenas com a pele íntegra.
EXEMPLO
Estetoscópios, termômetros, esfigmomanômetros, máscaras, etc.

– Desinfecção de baixo nível: inactiva a maioria das bactérias na forma vegetativa,


excepto M. tuberculosis, alguns fungos e vírus, é indicada também para itens que
entram em contacto apenas com a pele íntegra.
A tabela abaixo apresenta um resumo dos principais desinfectantes e antisépticos utilizados
em Microbiologia.
Tabela 1. Principais desinfectantes e antisépticos utilizados em Microbiologia
Agente Espectro de acção* Uso Modo de acção Duração do efeito
Álcoois (70-Gram positivas Antissépticos Desnaturação Curto (10-15 min)
80%) Gram negativas Desinfectantes protéica dissolução
BAAR** de lípidos
Fenóis Gram positivas Desinfectantes Desnaturação Efeito imediato
Gram negativas protéica
BAAR
Compostos Gram positivas Antissépticos Alteração da Curto (10-30 min)
Quaternários Gram negativas Sanitizantes membrana celular
de amônio Desinfectantes bacteriana
(instrumentos
cirúrgicos)

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Cloro Gram positivas Tratamento da Inactivação Efeito imediato


Gram negativas água enzimática agente
BAAR oxidante
Iodo Gram positivas Antissépticos Inactivação Efeito imediato
Gram negativas Desinfectantes enzimática
BAAR
Iodóforos Gram positivas Antissépticos Inactivação Efeito imediato
Gram negativas Desinfectantes enzimática
BAAR
Aldeídos*** Gram positivas Desinfectantes Desnaturação Curto (formas
Gram negativas (instrumentos protéica vegetativas)
BAAR e superfícies) Prolongado
(esporos)
Metais Gram positivas Antissépticos Inactivação Só agem enquanto
pesados Gram negativas enzimática em contacto
*- Formas vegetativas; Fonte: Trabulsi (1991).
**BAAR: Bacilos álcool-ácido resistentes;
*** Activos contra esporos

4. AMOSTRAS CLÍNICAS PARA EXAMES MICROBIOLÓGICOS

Amostras clínicas são submetidas para detecção e identificação de microrganismos no


diagnóstico de doenças infecciosas. Todas as amostras devem ser colhidas, acondicionadas e
transportadas conforme especificações sobre o exame a ser realizado. Para melhor selecção e
interpretação dos procedimentos laboratoriais é essencial uma boa comunicação entre as
partes envolvidas (laboratório e clínica), sendo que o pessoal do laboratório tem a
responsabilidade de orientar a colheita e transporte das amostras.
DEFINIÇÃO
Amostra clínica é uma porção de um produto patológico através da qual se
pretende investigar a presença ou ausência de microrganismos.

4.1. Qualidade da amostra para exame microbiológico

Pouco vale uma tecnologia diagnóstica avançada e aplicação rigorosa dos procedimentos
laboratoriais, se a amostra não apresenta a qualidade desejada. Diferentes factores podem
afectar a qualidade da amostra tais como: uso prévio de antibióticos, flora microbiana

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normal, região anatômica, técnica de colheita, material de colheita, recipientes de


colheita e volume da amostra.
a) Uso prévio de antibióticos: os antibióticos previnem a recuperação ou o isolamento
de microrganismos. Assim, as amostras devem ser colhidas antes de iniciar o
tratamento.
b) Flora microbiana normal: tem sido associada com muitos resultados falso positivos.
Por exemplo: em colheitas de sangue para hemocultura, a flora normal da pele pode
contaminar os frascos e resultar em falso positivos.
c) Região anatómica: se o clínico suspeita de uma infecção urinária, a amostra de
eleição seria urina, isto é, a amostra deve representar a região anatómica afectada (o
processo infeccioso). Embora pareça fácil e linear alguns casos são diferentes. Por
exemplo: quando se trata de suspeita de febre tifóide (patógeno entérico implicado), o
sangue é a amostra de eleição, pois é difícil diagnosticar a doença usando fezes.
d) Técnica de colheita: por exemplo quando se pretende cultivar microrganismos
anaeróbios é importante usar técnicas que limitem a exposição á oxigénio.
e) Material de colheita: as amostras podem ser contaminadas por membros da flora
normal se não forem providenciados materiais para limpeza ou higiene prévia.
f) Recipientes de colheita: certas amostras devem ser inoculadas em meios apropriados
no momento da colheita (por exemplo para pesquisa de Neisseria gonorrhoeae), ou
imediatamente colocadas em recipientes com meios de transporte (por exemplo para
pesquisa de Vibrio cholerae).
g) Volume da amostra: o volume da amostra deve estar relacionada com o teste que se
pretende executar. Por exemplo para hemocultura a diluição de sangue para o caldo
deve ser 1:10 (muito ou pouco sangue pode resultar em falso negativo).
LEMBRA-TE
Uma amostra sem qualidade afecta a qualidade do diagnóstico e
consequentemente o tratamento do paciente.

4.2. Principais amostras enviadas para o laboratório de microbiologia

Diferentes amostras são enviadas para laboratórios hospitalares e de pesquisa para detecção
de microrganismos. Estas amostras agrupam-se em três categorias: (1) amostras para testes
patológicos; (2) amostras para segurança e qualidade de alimentos; e (3) amostras
ambientais. A seguir serão descritas o primeiro grupo de amostras.

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Dentro da categoria de amostras para testes patológicos, as frequentemente recebidas em


laboratórios de Microbiologia para detecção e caracterização de agentes infecciosos são:
sangue; líquido cefaloraquidiano (LCR); fezes; secreções genitais; expectoração; orofaringe;
pus/feridas; urina. A tabela abaixo apresenta mais detalhes de cada tipo de amostra, bem
como, os microrganismos que podem ser detectados.

Tabela 2: Amostras frequentemente recebidas em laboratórios de Microbiologia


Razões de envio ao Organismos
Descrição da amostra
laboratório frequentemente detectados
Sangue: líquido espesso e Para detectar bactérias Staphylococcus aureus
viscoso (vermelho escuro na (bacteremia, septicémia), Streptococcus grupo Viridans
ausência de oxigênio, vírus (viremia), fungos Enterococcus spp.
vermelho brilhante na (fungemia) ou anticorpos Streptococcus pneumoniae
presença de oxigênio). (serologia). Streptococcus agalactiae
Streptococcus pyogenes
(primariamente em neonatos)
Neisseria meningitidis

Bacilos Gram negativos


entéricos:
Escherichia coli
Proteus spp.
Klebsiella spp.

Patógenos entéricos:
Salmonella spp., incluindo
Salmonella typhi

Outros bacilos Gram


negativos: Pseudomonas
aeruginosa.

Bacilos Gram-negativos
zoonóticos: Yersinia pestis,
Franciscella tularensis,
Brucella spp.

Leveduras: Candida
albicans; Cryptococcus.
Urina: jacto intermédio Para detectar bactérias na Escherichia coli
(normalmente líquida, urina (bacteriúria, infecção Proteus spp.

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amarela, límpida, não urinária), outras células Klebsiella spp.


viscosa). (leucócitos e eritrócitos), Enterobacter spp.
Amostras diferentes do jacto critais. Enterococcus spp.
intermédio podem ser turvas Staphylococcus saprophyticus
indicando a presença de Staphylococcus aureus
células.
Fezes: altamente variada na Para detectar Salmonella spp.
consistência, mas geralmente microrganismos implicados Shigella spp.
sólidas na ausência de com gastroenterites Campylobacter jejuni
diarreia. A cor varia em (bactérias, vírus ou Enterohemorrhagic E. coli
função da dieta e processos protozoários). (E. coli 0157:H7)
patológicos (preta a castanha, Vibrio cholerae
amarela a branca); Vibrio parahaemolyticus
O cheiro é geralmente Aeromonas species
desagradável. Yersinia enterocoliticus
Plesiomonas shigelloides.
Virus e protozoários
Líquido cefaloraquidiano Para o diagnóstico dos Neonatos (0 – 2 meses)
(LCR): normalmente é um agentes causadores das Escherichia coli
líquido límpido. Pode conter meningites (bactérias, vírus e Streptococcus agalactiae
sangue como resultado do fungos). Listeria monocytogenes
processo de colheita ou ser 2 meses – 2 anos
turvo se ter bactérias. Haemophilus influenzae
Neisseria meningitidis
Mais de 2 anos
Neisseria meningitides
Streptococcus pneumoniae
Expectoração: fluído Normalmente colhida em Mycobacterium tuberculosis
viscoso, normalmente claro a suspeitas de infecções Pneumonia adquirida na
leitoso. A infecção é notada respiratórias (pneumonia, comunidade: Streptococcus
pela coloração amarela ou tuberculose pulmonar). pneumoniae; Haemophilus
verde. influenzae; Moraxella
catarrhalis; Staphylococcus
aureus;
Virus Influenza;
Klebsiella pneumoniae,
particularmente com
alcoolismo e outras condições
crónicas; Mycoplasma
pneumonia; Legionella
pneumophila.
Pneumonia nosocomial:
Streptococcus pneumoniae;

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Escherichia coli; Klebsiella


spp.; Serratia spp.;
Staphylococcus aureus;
Pseudomonas aeruginosa;
Haemophilus influenzae;
Legionella pneumophila.
Pacientes
imunocomprometidos
(HIV/SIDA):
Pneumocystis jeroveci.
Pús/feridas: tecido ou fluído Para busca de evidências de Adquiridos na comunidade:
turvo obtido de lesões e infecção microbiana. Staphylococcus aureus;
feridas. Streptococcus pyogenes;
Clostridium perfringens (e
outras espécies);
Nosocomiais:
Staphylococcus aureus;
Bacilos Gram negativos
entéricos: Escherichia coli;
Pseudomonas aeruginosa e
outras pseudomonas;
Outros bacilos Gram
negativos;
Acinetobacter spp.;
Streptococcus pyogenes;
Clostridium spp.
Outros anaeróbios;
Orofaringe: fluído viscoso, Para diagnóstico de faringite Vírus causam 75% a 80% de
normalmente claro a leitoso. faringites;
A infecção é notada pela Bactérias comuns:
coloração amarela ou verde. Streptococcus pyogenes
Corynebacterium diphtheriae
Neisseria gonorrhoeae
Secreções genitais: fluído Para busca de bactérias Uretrite, cervicite: Neisseria
límpido e claro produzido implicadas com infecções do gonorrhoeae; Chlamydia
pelo organismo para trato genital. trachomatis;
lubrificar os órgãos genitais. Vaginite: Candida albicans;
Quando apresentam mau Trichomonas vaginalis;
cheiro, e alguma coloração, é Vaginose bacteriana.
sinal de possível infecção.
Outros fluídos corporais: Líquido sinovial para Causas comuns de artrite
fluidos de diferentes regiões diagnóstico de artrite séptica séptica: Staphylococcus
antómicas; (muitos casos de artrite são aureus; Neisseria

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Líquido sinovial não infecciosas); gonorrhoeae; Staphylococcus


(articulações): limpido e coagulase negativo;
aquoso; Líquido pleural é colhido
Líquido pleural (pulmão): para auxiliar o diagnóstico Ver expectoração para
normalmente límpido a de pneumonia. agentes comumente
leitoso; detectados no líquido pleural.
Líquido peritoneal (cavidade
abdominal): várias
colorações.

4.3. Procedimentos para colheita e verificação da qualidade das amostras

Para melhor adequação dos procedimentos de colheita das amostras deve-se tomar em
consideração essencialmente a natureza da amostra, o tipo de exame a ser realizado e os
microrganismos a serem pesquisados. Abaixo são apresentados os procedimentos para
colheita das amostras acima mencionadas.
LEMBRA-TE Toda a amostra deve ser realizada mediante uma requisição de exame que
inclui as seguintes informações:
Identificação do paciente: Nome completo, NID, outros dados de
identificação conforme o serviço de saúde.
Proveniência: internado (indicar o serviço ou enfermaria); ambulatório
(indicar o serviço de atendimento).
Data da solicitação: indicaro da data e da hora da solicitação do exame.
Suspeita Clínica: breve descrição do quadro clínico do paciente, ou da
suspeita percebida pelo clínico/médico.
Uso de antimicrobianos: caso tenho sido iniciado o tratamento, deve ser
acompanhada pela indicação do momento (antes ou depois da colheita da
amostra).
Tipo de amostra: menção do tipo de amostra indicado para o envio ao
laboratório.
Exames solicitados: menção dos tipos de exames laboratoriais para os
quais a amostra será submetida.
Identificação do solicitante: carimbo, nome e contacto do profissional que
solicita os exames.

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4.3.1. SANGUE (HEMOCULTURA)

a) Momento da Colheita
A hemocultura é um exame de urgência! a colheita deve ser realizada logo no início dos
sintomas (se possível antes de iniciar o tratamento antibiótico).
ATENÇÃO A colheita de hemoculturas NÃO deve ser condicionada pela existência de
pico febril. O pico febril não é o momento em que a concentração bacteriana é
mais elevada, além de atrasar o momento da colheita e poder assim
impossibilitar o isolamento do agente.
Normalmente esta situação resulta da lise dos microrganismos. O momento
ideal será no “calafrio” (antes da subida da temperatura).

b) Volume da amostra
As amostras de sangue são colhidas e inoculadas em frascos com meios de cultura
líquidos (Figura 2). O volume da amostra é determinado conforme o tipo de paciente
(Tabela 3).

Tabela 3: Volume da amostra de sangue para hemoculturas.


Frasco BACTEC Tipo amostra Paciente Volume sangue
PEDS PLUS/F Aeróbios Pediátrico 1 – 3 mL
BACTEC PLUS+Aerobic/F Aeróbios Adulto 8 – 10 mL
BACTEC PLUS+Anaerobic/F Anaeróbios Adulto 8 – 10 mL
MYCO/F LYTIC Micobactérias/fungos Adulto 1 – 5 mL

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c) Procedimentos
i. Lavar correctamente as mãos antes de proceder à colheita, quer se use luvas ou
não;
ii. Escolher o local de punção tendo em atenção que se deve evitar os membros
inferiores e a zona inguinal e não se deve obter amostras através de catéteres;
iii. Descontaminar a pele do doente com solução alcoólica de iodopovidona ou
álcool iodado e esperar que seque;
iv. O volume de sangue a inocular nos frascos é o recomendado para cada tipo de
frasco conforme descrito acima;
v. Quando a tampa de protecção do frasco da hemocultura é retirada e não é de
imediato inoculado o sangue, desinfectar o local de inoculação com álcool a
70% (não é necessário mudar de agulha antes de introduzir o sangue no
frasco);
vi. Quando se realiza a colheita com a finalidade em simultâneo de se proceder a
outros exames analíticos, da mesma amostra, o frasco de hemocultura tem de
ser o PRIMEIRO a ser inoculado. Se assim não se deve proceder à forte risco
de contaminação;
vii. Enviar ao laboratório logo após a colheita. Se não for possível deve guardar-se
em estufa a 37º ou enviar ao laboratório de urgência e Nunca refrigerar;
viii. Para cada hemocultura deve-se efectuar uma punção distinta.
ATENÇÃO As amostras devem ser enviadas imediatamente ao laboratório (máximo dentro
de 4 horas) à temperatura ambiente (nunca refrigerar os frascos de
hemocultura). Obter no mínimo duas amostras (de locais diferentes) por
paciente.

4.3.2. LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO (LCR)

a) Momento da Colheita
Lembre que se trata de um exame de
urgência! A colheita deve ser realizada
logo no início dos sintomas (se possível
antes de iniciar o tratamento antibiótico).
b) Volume da amostra (ver a tabela abaixo
para sistema automático)

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Recomenda-se a colheita sequencial de LCR em no mínimo três frascos de 2 ml cada


(Figura 3) para bioquímica, bacteriologia e hematologia. A citometria de fluxo exige a
colheita de um quarto frasco específico com volume entre 2 a 10ml; A supeita de
micobactérias com solicitação de pesquisa e cultura de BAAR e PCR para M.
tuberculosis exige um quinto frasco específico com volume mínimo de 5ml.
c) Procedimentos
A obtenção da amostra é da responsabilidade do médico que deve proceder em
condições de rigorosa assépsia.
ATENÇÃO A pesquisa de antígeno directo apresenta baixa sensibilidade, especialmente
para N. meningitidis. Deve ser desencorajada. Quando solicitada, realizar
apenas se a citologia apresentar mais que 5 células/ml. As alíquotas para
exames bacteriológicos não devem ser refrigeradas.

4.3.3. URINA

a) Momento da Colheita
Oobter a primeira urina da manhã sempre que possível (preferencialmente no
laboratório) ou reter a urina na bexiga por no mínimo 2 horas antes de realizar a
colheita (permanencia da urina na bexiga por pelo menos 4 horas é o ideal, pois
diminui o número de resultados falso negativos).
b) Volume da amostra
10 ml a 20 ml de urina são suficientes para o seu processamento no laborório. O
frasco (Figura 4) deve ser identificado correctamente, incluindo a hora e o
procedimento de colheita (saco colector, sonda de alívio ou punção).

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ATENÇÃO
Não induzir a micção pela ingestão de líquidos. Líquidos em excesso diluem a
urina (diminuem a contagem de colónias) e resultam em falsos negativvos.

c) Procedimentos
i. EM MULHERES
 Lavar as mãos, separar os grandes lábios. Higienizar a área genital de frente para
trás com gaze embebida em água e sabão, novamente de frente para trás enxaguar
a área limpa com gaze humedecida em água para retirar o sabão (repetir o
procedimento com água duas vezes). Mantendo os grandes lábios separados,
desprezar o primeiro jato e sem interromper a micção, colher o jato médio para
recipiente estéril.
 Transferir aproximadamente 10 ml a 20 ml da urina para o tubo cônico, fechar e
colocar na estante. Evitar a colheita de jato médio urinário durante o período
menstrual.
ii. EM HOMENS
 Retrair o prepúcio (se tiver), higienizar a genitália externa com gaze embebida em
água com sabão, dando atenção especial ao meato uretral, enxaguar a região para
retirar o sabão utilizando outra gaze humedecida em água (repetir o procedimento
com água duas vezes).
 Transferir aproximadamente 10 ml a 20 ml da urina para o tubo cônico, fechar e
colocar na estante.
iii. EM CRIANÇAS (URINA INFANTIL)
 Fazer a higiene da região genital, coxas e nádegas com gaze embebida em água e
sabão. Utilizando outra gaze embebida em água enxaguar retirando o sabão. Fixar
o saco colector assepticamente. Trocar o saco a cada 45 minutos repetindo a
higiene a cada troca. Se houver contaminação fecal a amostra deve ser desprezada
e o procedimento reiniciado. NÃO enviar ao sector a amostra caso a criança tenha
defecado. Após a micção, retirar cuidadosamente o coletor, fechar e enviar ao
laboratório.
ATENÇÃO A urina deve ser enviada imediatamente ao laboratório, se mantida a
temperatura ambiente deve ser processada na microbiologia dentro de no
máximo 1 (uma) hora após a colheita. Quando não for possível processar a
urina dentro de uma hora, a amostra deve ser refrigerada (2 a 8 °C) até num
período máximo de 24 horas.

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4.3.4. FEZES (ZARAGATOA RECTAL)

a) Momento da Colheita
Colher a amostra durante a fase aguda da diarréia, preferencialmente antes da
antibioticoterapia.
b) Volume da amostra
Transferir para o frasco com tampa fornecido pelo laboratório uma porção da amostra
de aproximadamente 5 ml de fezes diarréicas, ou 5g de fezes formadas.
c) Procedimentos
i. Colher as fezes em um recipiente limpo e seco, fornecido pelo laboratório.
ii. Retirar a zaragatoa da embalagem, colher uma porção das fezes (de preferência
nas partes da amostra contendo muco, sangue ou pus, quando presentes).
iii. Abrir o tubo contendo meio de transporte e colocar a zaragatoa (identificar o
tubo: ID do paciente, data e hora da colheita) e fazer o mesmo para o frasco.
iv. Para zaragatoa rectal: rodar a zaragatoa (Figura 5) no esfíncter anal (1cm) com
cuidado, e observar coloração fecal no algodão; Colocar a zaragatoa em Cary
Blair (meio de transporte) e enviar para o laboratório (para facilitar a colheita
a zaragatoa pode ser humedecida em soro fisiológico ou ou água destilada
estéril).
v. Encaminhar a zaragatoa e o frasco imediatamente para o laboratório ou
refrigerar por 24h máximo.

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ATENÇÃO Registar a hora da colheita. As fezes em meios de transporte podem ser

refrigeradas (4 ºC) e enviadas ao laboratório dentro de 24 horas. As fezes em


frascos sem meios de transporte devem ser processadas dentro de 1 hora.

4.3.5. EXPECTORAÇÃO

a) Momento da Colheita
A primeira amostra da manhã antes da ingestão de alimentos é a melhor amostra; o
paciente deve escovar os dentes sem pasta de dentes e enxaguar a boca várias vezes
com a água, inclusive com gargarejos; Quando for o caso, retirar a protese dentária
antes da colheita. Colher antes do uso de antibióticos.
b) Volume da amostra
Colher um frasco (5-10ml, ver Figura 6) para exames bacteriológicos; na suspeita de
tuberculose colher três amostras em dias consecutivos (apenas uma amostra por dia).
c) Procedimentos
A orientação para a colheita deste material deve ser clara, evitando ao máximo colher
saliva ou material de vias aéreas superiores. Preferencialmente a colheita deve ser
feita sob supervisão directa da equipa de assistência.
i. Colher pela manhã com o paciente em jejum, após higiene oral (escovar os
dentes sem o uso de pasta dental e fazer gargarejos).
ii. Colher após tosse profunda e depositar directamente em frasco estéril de boca
larga com tampa de rosca.
iii. Anotar a hora da colheita, identificar o material e encaminhar ao laboratório
por período não superior a 30 minutos e protegida da luz ou refrigerar (4 ºC);
Amostras para pesquisa de Mycobacterium podem ser refrigeradas até sete
dias.
ATENÇÃO A expectoração (ou o escarro) obtida deve ser PURULENTO. Amostras
constituídas por saliva não são adequadas para análise bacteriológica pois não
representam o trato respiratório inferior.

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4.3.6. OROFARINGE

a) Momento da Colheita
Primeira amostra da manhã, antes da ingestão de alimentos. Antes do início do
tratamento.
b) Volume da amostra
Não aplicável.
c) Procedimentos
i. Utilizar uma espátula para para pressionar gentilmente a língua.
ii. Pressionar e rodar uma zaragatoa estéril sobre as tonsilas e atrás da uvula (faringe
posterior), evitando tocar na língua, mucosa bucal e uvula. Tocar
preferencialmente nas áreas com hiperemia e pontos de supuração (pus ou placas).
iii. Colocar a zaragatoa no meio de transporte de AMIES e enviar ao laboratório.
iv. Enviar ao laboratório dentro de 12 horas (temperatura ambiente).

4.3.7. SECREÇÕES GENITAIS

a) Momento da Colheita
Primeira amostra do dia, de preferência colhida antes de urinar. Caso o pacienete já
tenha urinado, aguardar 2 horas, e só depois colher a amostra. Antes do início do
tratamento.

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b) Volume da amostra
Não aplicável.
c) Procedimentos
i. EM HOMENS
 Colher a secreção uretral com uma zaragatoa; utilizar zaragatoa fina com haste
flexível (própria para colheita uretrogenital). Humedecer o algodão com soro
fisiológico antes da inserção pode ajudar a reduzir o desconforto.
 Introduzir a zaragatoa lentamente (2-3 cm em homens), rodar lentamente,
mantendo 1 a 2 segundos e retirar delicadamente.
ii. EM MULHERES (AMOSTRA VAGINAL)
 Colheita com auxílio de espéculo:
- Introduzir o espéculo;
- Colher a secreção do fundo do saco ou da parede vaginal utilizando uma
zaragatoa estéril;
 Colheita sem espéculo:
- Limpar a secreção externa com auxílio gaze;
- Introduzir a zaragatoa no canal vaginal;
- Rodar suavemente para colher o material;
ATENÇÃO Para ambas as situações: fazer um esfregaço em lâmina e corar pelo método de
Gram (rodar suavemente, ou seja, não esfregar a zaragatoa sobre a lâmina);
Lavar ou homogeinizar a mesma zaragatoa em soro fisiólogico para exame a
fresco.

iii. EM MULHERES (AMOSTRA ENDOCERVICAL)


 Introduzir o espéculo para visualizar o colo do útero. Se necessário, utilizar água
morna para facilitar a introdução do espéculo, não utilizar lubrificantes.
 Limpar o colo do útero com gaze estéril ou zaragatoa, removendo secreções
vaginais e muco endocervical.
 Introduzir a zaragatoa estéril 1-2 cm no canal endocervical, rodar delicadamente
180° várias vezes e retirar sem tocar as paredes vaginais.
 Para pesquisa de Neisseria gonorrhoeae, a zaragatoa deeve ser inoculada
imediatamente em meio de transporte de Amies com carvão.

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 Para pesquisa de Chlamydia trachomatis uma segunda zaragatoa deve ser colhida
e enviada para o laboratório em meio de transporte específico conforme a técnica
molecular.
 Para pesquisa de Mycoplasma e Ureaplasma uma terceira zaragatoa deve ser
colhida e enviada para o laboratório em meio de transporte específico conforme a
técnica de cultura.

4.3.8. PÚS/FERIDAS

a) Momento da Colheita
Colher amostras de feridas que tenham sinais clínicos de infecção ou que não
cicratizam por longo período. Antes do início do tratamento com antibióticos.
b) Volume da amostra
Não aplicável.
c) Procedimentos
Preferencialmente, colher o material após lavar a lesão com soro fisiológico. A
secreção pode ser colhida de duas maneiras:
 Por aspiração da secreção utilizando seringa e agulhas estéreis ou somente a
seringa (o material deve ser encaminhado imediatamente ao laboratório).
 Com zaragatoa (é a técnica menos recomendada), tendo o cuidado de imergi-lo no
meio de transporte ou encaminha-lo imediatamente ao laboratório.
LEMBRA-TE
É essencial indicar na requisição a região anatómica e as informações
adicionais (tipo de lesão, secreção superficial ou profunda, fístula, etc.).

i. Técnica de colheita de secreção com seringa


– Desinfectar o local (pele íntegra). Se a lesão for aberta, fazer limpeza com soro
fisiológico.
– Aspirar o material com seringa e agulha estéreis ou somente com a seringa.
– Transportar na própria seringa (eliminar o ar e vedar) ou em frasco.
– Encaminhar imediatamente para o laboratório.
ii. Técnica de colheita com zaragatoa
– Realizar a técnica do curativo, até a limpeza com soro fisiológico e secagem com
gaze estéril;

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– Colher a amostra do local onde houver maior suspeita de infecção, porém evitando
áreas de tecido necrosado e pús que devem ser removidos;
– Inserir a zaragatoa no invólucro especial ou no meio de transporte (Amies ou
Stuart);
– Colher uma outra zaragatoa e preparar um esfregaço em lâminas;
– Concluir o curativo;
– Encaminhar imediatamente para o laboratório.
ATENÇÃO
Caso seja solicitada a cultura para anaeróbios, colher duas zaragatoas (uma
para pesquisa de aeróbios e outra para a pesquisa de anaeróbios).

4.3.9. OUTROS LÍQUIDOS CORPORAIS (PLEURAL, SINOVIAL, LAVADOS)

 Desinfectar a pele na região de colheita;


 Realizar a aspiração do material com seringa e agulha estéril, dentro de técnica
asséptica;
 Inocular o material em um frasco apropriado;
 Na impossibilidade de sementeira directa do material em meio de cultura ou
quando o objectivo é pesquisar fungos ou micobactérias, colocar o material em
frasco estéril e adicionar heparina para evitar coagulação do líquido;
 Enviar ao laboratório imediatamente (conservar em temperatura ambiente).
SABER Todas as amostras submetidas para os exames microbiológicos são
MAIS cuidadosamente verificadas para definir a sua viabilidade tendo em consideração
os parâmetros anteriormente discutidos. As amostras sem condições de
realização de exames serão devolvidas com indicação da causa de devolução.
Abaixo são listados os principais parâmetros dessa avaliação:
iii. Legibilidade da identificação da amostra: as amostras com
identificação ilegível ou inadequada são rejeitadas.
iv. Contaminação da amostra: todas as amostras com evidência de
contaminação são rejeitadas.
v. Conservação da amostra: todas as amostras acondicionadas sob
condições não apropriadas para o exame que se solicita são rejeitas
(por exemplo amostras de LCR refrigeradas).
vi. Identificação da amostra: todas as amostras sem identificação são

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rejeitadas.
vii. Derrames: todas as amostras derramadas são rejeitadas para evitar o
risco de contaminação.
viii. Requisições do exame: todas as amostras devem ser acompanhadas
de uma requisição dos exames com informações claras sobre a
identificação do paciente, do solicitante e todas outras informações
relevantes. Assim, são rejeitadas as amostras:
o Sem requisição, e as requisições sem amostra;
o Com identificação do paciente diferente da amostra e da
requisição;
o Com preenchimento inadequado da requisição/ficha
epidemiológica;
o Com recipientes abertos, quebrados ou danificados;
o Com requisição sem identificação do solicitante.

5. MEIOS DE CULTURA

O uso de procedimentos microbiológicos de cultura permite a recuperação de agentes


infecciosos, sua identificação e reacção quando expostos à acção de antibióticos (descrição
do perfil de resistência aos antibióticos os microrganismos). Para que um método de cultura
seja executado são necessários meios de cultura.
DEFINIÇÃO Meio de cultura é uma substância usada para cultivar microrganismos no
laboratório. Os meios usados para cultivar bactérias são designados meios
bacteriológicos (Folgosa e Martelli, 1985).

5.1. Classificação de meios de cultura

Os meios de cultura são classificados segundo os parâmetros que se seguem: concentração


de agar, composição e utilidade/objectivo.
a) Concentração de agar: são divididos em sólidos (alta concentração de agar), semi-
sólidos (baixa concentração de agar) e líquidos (sem agar).
b) Composição: são divididos em simples (constituídos por nutrientes que se utilizam na
sua forma natural, ex: leite e carne); sintéticos (substâncias nutritivas essenciais para o

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desenvolvimento de microrganismos específicos; são meios artificiais); e vivos


(organismos vivos ou células).
c) Utilidade/objectivo: são divididos em cinco categoriais, a saber: enriquecimento
(utilizados para favorecer o desenvolvimento de uma determinada espécie que pode
estar em pequenas concentrações na amostra; exemplo: água peptonada alcalina);
isolamento (contém substâncias inibidoras, ou seja, capazes de impedir o
desenvolvimento de determinados microrganismos, e permitindo a proliferação de
outros. Exemplo: agar MacConkey); selectivos (são específicos para um único
microrganismo, por exemplo: HTM – Haemophilus influenzae medium); diferenciais
(observação de reacções bioquímicas que facilitam a diferenciação dos
microrganismos. Exemplo: citrato); transporte (usados para o envio de amostras ao
laboratório, principalmente quando são previstos atrasos. Exemplo: amies).

Tabela 3: Resumo da classificação dos meios tendo em conta o seu objectivo


Tipo de Meio Composição Exemplos
Enriquecimento Estimuladores de Caldo de carne
crescimento Água peptonada
Agar nutriente
Selectivo Inibdores para certo grupo de Chapman
bactérias Campy agar
MacConkey
Diferencial Indicadores Kligler Iron Agar
Transporte Sem nutrientes Stuart
Com agente redutor Cary Blair
Soro fisiológico
Fonte: Adaptado de Folgosa e Martelli (1985).

5.2. Preparação dos meios de cultura (procedimento geral)

A maioria dos meios de cultura está disponível em pó, tornando fácil a sua reconstituição
pelo uso de água destilada. A preparação dos meios de cultura é um processo relativamente
simples que obedece as instruções do fabricante.
De forma geral, este processo obedece os seguintes passos: pesagem e dissolução dos
componentes em água, esterilização, adição de suplementos, distribuição, precauções e
recomendações gerais, controlo de qualidade e conservação.

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a) Pesagem e dissolução dos componentes em água


 Em um recipiente limpo (balão volumétrico adequado) pesar com auxílio de uma
balança analítica a quantidade correspondente ao volume de meio que se pretende
preparar (ter em consideração as instruções do fabricante);
 Dissolver no mesmo recipiente em que o pó foi pesado, e aquecer o balão em
banho-maria (ver a temperatura recomendada para cada meio) agitando-o
constantemente;
 Para meios líquidos ou sólidos em tubo, após a dissolução deixar arrefecer e
distribuir nos recipientes definitivos do meio, equanto para os meios sólidos em
placa a distribuição é feita depois da esterilização.
b) Esterilização
 O ciclo recomendado de esterilização é 121ºC por 15 minutos para 1.0 L ou
menos. Volumes superiores a 1.0 L podem necessitar ciclos mais longos (ver
instruções do fabricante).
 Alguns meios não são autoclavados devido as alterações de seus constituintes pelo
aquecimento a temperaturas altas.
 Para os meios líquidos ou sólidos em tubos, esterilizar com as tampas dos frascos
ligeiramente abertas.
 Depois do ciclo de esterilização arrefecer os meios em banho-maria a 50ºC.
ATENÇÃO Colocar papel de autoclave no frasco para controlar o processo de
esterilização. Esterilização excessiva pode levar a: alteração do pH, alteração
da propriedade de solidificação de agar, aparecimento de precipitados atípicos,
escurecimento do meio, perda de nutrientes, alteração de propriedades
selectivas e diferenciais.

c) Adição de suplementos
 Alguns meios podem necessitar a adição de suplementos. Nestes casos, antes da
sua adição deve arrefecer os meios em banho-maria 50oC (os suplementos
tendem a ser sensíveis a temperaturas elevadas).
 Para preparação de agar sangue, utilizar sangue fresco conservado entre 2–8oC.
Aquecer o sangue na incubadora entre 35 – 37oC antes de adicionar ao meio. Usar
balões volumétricos com boca larga para garantir uma boa oxigenação do sangue.

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 Rodar o balão (recipiente) suavemente para assegurar uma boa mistura do meio e
dos suplementos.
d) Distribuição
Meios sólidos em placas
 Depois do arrefecimento em banho-maria de 50ºC, dispensar em placas de Petri
15 x 100 mm ou 15 x 150 mm aproximadamente 20 ml do meio para garantir uma
profundidade de 3 – 4 mm.
 Trabalhar na cabine de segurança de forma a evitar contaminações.
 Solidificar à temperatura ambiente.
 Deixar uma pequena abertura na tampa da placa depois de distribuir o meio até
solidificar para evitar condensação.
Meios em tubos
 Para meios sólidos em tubo com declive (região inclinada), arrefecer em posição
adequada no “suporte em declive”. Fechar as tampas com os tubos ainda quentes.
 Usar tubos com dimensões adequadas para cada tipo de meio:
o Para meios inclinados, dispensar 4 ml em tubos de 16 mm x 100 mm com
tampa de rosca.
o Para meios inclinados e com fundo, dispensar 5 ou 6 ml em tubos de 16
mm x 100 mm com tampa de rosca.
o Para caldos (APA, SEL) e outros meios líquidos, dispensar 4 ml em tubos
13 mm x 100 mm ou 16 mm x 100 mm com tampa de rosca.
e) Precauções e recomendações gerais
 Evitar o uso de meios fora do prazo (no caso de usar certificar com o controlo de
crescimento que está funcionar apropriadamente).
 Não usar meios prontos para uso em tubos ou placas que estejam ressecados.
 Usar tubos com tampa de rosca para evitar ressecamento rápido meio (tamanho
dos tubos utilizados geralmente são de 13 mm x 100 mm).
f) Controlo de qualidade
 O controlo da qualidade dos meios preparados é essencial para garantir um bom
desempenho dos mesmos.
 Fazer o controlo de qualidade de todos os meios preparados e registar os
resultados no formulário adequado de CQ para cada meio.

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 Colar etiqueta de CQ em todas as bolsas e caixas indicando a aceitabilidade dos


resultados.
 Guardar os formulários de controlo de qualidade na pasta designada
“CONTROLO DE QUALIDADE DOS MEIOS DE CULTURA”. Não usar meios
que não passaram no CQ, e analisar as causas da falha.
 Controlar os seguintes parâmetros para todos os meios de cultura:
o pH: verificar o pH do meio depois de arrefecer, e descartar se o pH estiver
fora do intervalo recomendado.
o Esterilidade: incubar pelo menos 5% de placas e tubos preparados de cada
lote por 24h a 37ºC para verificar a esterilidade do meio. Qualquer
crescimento observado anula a utilização do lote.
o Suporte de crescimento: usar uma estirpe (recomendado o uso de ATCC)
para analisar a capacidade do meio suportar crescimento do patógeno
desejado. Também observar se a estirpe produz reacções bioquímicas
esperadas no meio em causa.
o Reacções bioquímicas: usar uma estirpe positiva e uma negativa para
verificar a capacidade do meio diferenciar os organismos.
g) Conservação
 Conservar tanto os tubos como as placas na geleira entre 2-8 ºC.
 Armazenar as placas com tampas viradas para baixo e os tubos com as tampas
bem fechadas.
 Identificar todos os meios com nome, data de fabrico, data de validade e tipo de
armazenamento.
 Embalar os meios sólidos na placa em saco plástico transparente (10 placas em
cada saco) para evitar o ressecamento.
 Para meios de cultura em tubos, colocar em sacos plásticos, procurando tirar o
excesso de ar.

RESUMO

O laboratório de Microbiologia clínico desempenha um papel fundamental no


estabelecimento de diagnóstico de infecções, seguimento de pacientes e prevenção de
doenças. Para o bom desempenho do laboratório alguns requisitos são de extrem relevância

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para a validação dos resultados. Estes incluem: ambiente adequado, profissionais qualificados
e competentes, equipamentos operacionais, materiais, reagentes e meios de cultura, e
amostras biológicas. Práticas de trabalho seguras compreendem o uso de equipamento de
protecção individual, lavagem de mãos e uso de luvas, limpeza regular, ausência de alimentos
nas áreas de processamento, prevenção de acidentes (ex: incêndios), e cuidados com os
materiais e equipamentos usados. Estas práticas devem ser obedecidas por todos os
profissionais do laboratório durante as actividades de rotina. O laboratório de microbiologia
recebe diferentes tipos de amostras para finas de diagnóstico clínico ou investigação
epidemiológico. Todas as amostras devem ser consideradas potencialmente patogénicas, e
por isso, cuidadosamente manipuladas. A manipulação das amostras inclue a sementeira em
meios de cultura, que são substâncias nutritivas que permitem o isolamento e identificação
dos microrganismos associados com as infecções, através da sua caracterização fenotípica.
Para além destes grupos de meios, existem meios que têm a função de enriquecimento e de
transporte.

ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM

ACTIVIDADE E-A nº 1 Materiais e equipamentos usados no laboratório de


Microbiologia
Duração 2 horas
Objectivos
- Desenvolver uma lista de materiais e equipamentos essenciais para o trabalho no
laboratório de Microbiologia;
Conteúdos de referência
- Condições para realização de exames microbiológicos
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
A turma organiza-se em grupos de 5 alunos. Cada grupo prepara uma lista de todos os
materiais e equipamentos essenciais para o trabalho dentro do laboratório de Microbiologia
tendo em conta todas as fases de testagem: (1) pré-analítica, (2) analítica, e (3) pós-analítica;
Os alunos deverão:
- Fazer um levantamento bibliográfico e observação de laboratórios existentes e
acessíveis (actividade a ser desenvolvida fora da sala de aulas);
- Elaborar uma lista dos materiais e equipamentos, incluindo uma breve descrição
(actividade a ser desenvolvida fora da sala de aulas);

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- Verificar a existência desses materiais no laboratório da instituição (na sala de aulas);


- Comparar os itens listados por cada grupo, e corrigir ou completar o seu documento
(na sala de aulas);
- Cada grupo deverá apresentar a sua listagem e a descrição dos itens em plenária para o
debate e sua melhoria.
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
- Esclarece a actividade;
- Apoia na formação dos grupos e na indicação de referências bibliográficas;
- Acompanha e orienta a realização da actividade;
- Avalia a actividade dos alunos.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Quadro preto/branco;
- Giz/marcadores;
- Apagador;
- Computador/projector;
- Papel gigante.
Critérios de avaliação
- A entrega dos trabalhos se realiza em forma e no tempo estabelecido
- O trabalho é completo e ajusta-se as normas
- O aluno valoriza a importância de fazer um levantamento de materiais e equipamentos
para o trabalho no laboratório de microbiologia
ACTIVIDADE E-A nº 2 Preparação de meios de cultura
Duração 4 horas
Objectivos
- Preparar meios de cultura para isolamento e identificação de bactérias
Conteúdos de referência
- Meios de cultura
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
A turma organiza-se em grupos de 5. Para a preparação de uma lista de todos os materiais e
equipamentos necessários para a produção de meios de cultura, os alunos deverão:
- Preparar todo o material
- Verificar a funcionalidade dos equipamentos
- Cada grupo irá preparar um lote de meios de cultura conforme os recursos existentes;

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Papel do docente no desenvolvimento da actividade


- Esclarece a actividade;
- Prepara e fornece o roteiro da actividade;
- Elabora e fornece aos grupos os procedimentos para a preparação de meios;
- Acompanha e orienta a realização da actividade;
- Avalia a actividade dos alunos.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Quadro preto/branco;
- Giz/marcadores;
- Água destilada
- Meios de cultura (pó)
- Balanças
- Balões volumétricos
- Provetas
- Pipetas
- Tubos de ensaio
- Placas de Petri
- Banho-maria
- Autoclave
- Estufas de ar quente
- Bico-de-Bunsen
- Folhas de registo
Critérios de avaliação
- A entrega dos trabalhos se realiza em forma e no tempo estabelecido
- O trabalho é completo e ajusta-se às normas
- Entrega um lote de meios de cultura conforme a distribuição feita pelos grupos

CASO PRÁTICO

Caso prático
Título
Procedimento de aceitação e rejeição de amostras clínicas
Descrição
Uma amostra de líquido cefaloraquidiano (LCR) deu entrada as 10h de uma Segunda-feira no

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Laboratório de Microbiologia com as características alistadas abaixo:


1. Volume: 1mL;
2. Hora da colheita: sem referência;
3. Data da colheita: sem referência;
4. Conservação: 2-8 ºC;
5. Identificação: com ID do paciente.
Adicionalmente foi enviada uma requisição com as seguintes informações:
1. Nome: com indicação do nome;
2. Idade: sem referência;
3. Sexo: com indicação do sexo;
4. Tratamento prévio com antibióticos: sim;
5. Suspeita clínica: sem indicação.
Você recebeu a amostra, e tem a tarefa de decidir se a amostra reune critérios suficientes para
ser submetida à testagem em Microbiologia. Qual é a sua decisão final: aceitar ou rejeitar a
amostra?
Actividades que devem ser desenvolvidas pelos grupos
 Actividade 1: Com o caso, fazer uma reflexão sobre os: (1) os critérios de aceitação e
rejeição de amostras em Microbiologia; (2) importância da verificação da amostra
antes da submissão para testagem.
 Actividade 2: Elaborar um procedimento (uma norma) para aceitação ou rejeição de
amostras em Microbiologia.
Actividades a desenvolver pelos alunos
- Identifica os elementos do caso;
- Pesquisa e analisa informação relevante;
- Faz levantamento de todos os critérios que definem a aceitação ou rejeição de
amostras para exames microbiológicos em termos gerais;
- Faz levantamento de todos os critérios que definem a aceitação ou rejeição dos
diferentes tipos de amostras enviadas ao laboratório para exames microbiológicos, e
elabora uma lista;
- Elabora um procedimento (uma norma) para aceitação e rejeição de amostras para
exames microbiológicos;
- Faz a apresentação do trabalho do grupo.
Actividades a serem desenvolvidas pelo professor

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- Forma e orienta os grupos, fornecendo referências bibliográficas e outros materiais de


auxílio da actividade;
- Explica os procedimentos da actividade;
- Elabora um esqueleto (formato) do procedimento (ou da norma) para aceitação e
rejeição de amostras para exames microbiológicos, e fornece aos alunos para
padronizar a apresentação dos grupos;
- Acompanha as actividades do grupo, e promove discussões de consertação;
- Analisa e sumarisa os pontos apresentados;
Recursos necessários
- Papel gigante
- Computador/projector/quadro/marcadores/giz
- Norma 9001:2008 (se existir)
- Livros e artigos
Critérios de avaliação
No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega o documento (a norma
para aceitação e rejeição de amostras para exames microbiológicos).

BIBLIOGRAFIA

1. Cheesbrough, Monica (1984). Medical Laboratory Manual for Tropical Countries,


volume II: Microbiology. 479pp. Great Britain, ELBS.
2. Folgosa, E. M. P. e A. Martelli (1985). Bacteriologia Médica: Manual de Laboratório.
204pp. Maputo, Ministério de Saúde.
3. Garcia, L. S., & Isenberg, H. D. (2010). Clinical Microbiology Procedures Handbook.
http://www.asmscience.org/content/book/10.1128/9781555817435.
4. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods.—22nd ed. /
[edited by] Richard A. McPherson, Matthew R. Pincus (2011). Elsevier.
5. Lima, A. O., J. B. Soares, J. B. Greco, J. Galizzi e J. R. Cançado (1992). Métodos de
Laboratório Aplicados à Clínica: Técnica e Interpretação. 7ª edição. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan.
6. Marshall, Jacquelyn R. (1995). Microbiologia: Manual de Laboratório Clínico. 161pp.
São Paulo, Livraria Santos.
7. Trabulsi, L.R. (1991). Microbiologia. Livraria Atheneu, R.J. S.Ed.

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8. WHO (2003). Manual of Basic Techniques for a Health Laboratory. Second edition.
Geneva.
9. Winn, W. C., & Koneman, E. W. (2006). Koneman's color atlas and textbook of
diagnostic microbiology. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

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UNIDADE DIDÁCTICA 3

EXAMES MICROBIOLÓGICOS

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ÍNDICE

OBJECTIVO GERAL ______________________________________________________ 69


Resultados de aprendizagem da unidade didáctica _______________________________ 69
INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 70
1. EXAMES MICROBIOLÓGICOS _________________________________________ 70
1.1. Exames microbiológicos directos e indirectos _____________________________ 71
1.2. Exames Microscópicos _______________________________________________ 71
1.3. Exames Culturais e Teste de Sensibilidade aos Antibióticos __________________ 72
1.4. Exames Serológicos _________________________________________________ 72
2. MICROSCOPIA (EXAME A FRESCO E MÉTODOS DE COLORAÇÃO) _________ 72
2.1. Microscopia _______________________________________________________ 72
2.2. Microscópio óptico __________________________________________________ 73
2.3. Exame a fresco _____________________________________________________ 75
2.4. Métodos de coloração________________________________________________ 76
2.4.1. Coloração diferencial ____________________________________________ 77
3. CULTURA, IDENTIFICAÇÃO E TESTE DE SENSIBILIDADE AOS ANTIBIÓTICOS83
3.1. Isolamento de Microrganismos __________________________________________ 83
3.1.1. Métodos culturais _______________________________________________ 83
3.1.2. Métodos não culturais ____________________________________________ 85
3.2. Identificação de microrganismos _________________________________________ 85
3.2.1. Testes Bioquímicos ______________________________________________ 86
3.2.2. Testes serológicos _______________________________________________ 91
3.3. Teste de sensibilidade aos antibióticos (TSA) _____________________________ 92
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD3 ________________________ 96
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD3 ________________________________________ 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________________ 100

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OBJECTIVO GERAL
Realizar exames microbiológicos de pronto despiste de microrganismos patogénicos;

Resultados de aprendizagem da unidade didáctica

No fim desta unidade o estudante deve ser capaz de:


– Preparar esfregaços de amostras biológicas humanas para corar e identificar os
microrganismos patógenos;
– Corar o esfregaço segundo as técnicas a serem aplicadas
– Preparar a amostra na lâmina para exame microscópico
– Observar ao microscópio óptico a preparação ao fresco ou corada aplicando técnica de
microscopia seleccionada
– Identificar os microrganismos presentes nas amostras observadas a fresco ou corados
segundo o seu nível de formação
– Elaborar e apresentar um relatório com os resultados obtidos.

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INTRODUÇÃO

O diagnóstico de doenças infecciosas é frequentemente iniciado pela obtenção do historial


clínico do paciente, e condução do exame físico (anamnese), é importante compreender que o
estabelecimento de uma suspeita clínica adequada leva a colheita de amostras representativas
do processo infeccioso, e a selecçcão de procedimentos laboratoriais correctos. Em
Microbiologia diferentes métodos são aplicados às amostras biológicas para determinar a
natureza das infecções e caracterizar os microrganismos associados a estas. Os exames
microbiológicos podem ser divididos em dois grupos: (1) directos (demonstram a presença
do agente infeccioso), (2) indirectos (demonstram a presença de anticorpos de um agente
infeccioso).

Esta unidade está dividida em três capítulos, que abordam os princípios básicos da testagem
em Microbiologia:
– O primeiro capítulo aborda de forma geral os diferentes tipos de exames
microbiológicos;
– O segundo capítulo centra-se nos princípios de microscopia, dando ênfase aos exames
a fresco e os métodos de coloração diferencial;
– Finalmente, o terceiro capítulo aborda os princípios dos métodos culturais. Este
capítulo aborda em detalhes os procedimentos de isolamento e identificação
bacteriana e o teste de sensibilidade aos antibióticos pelo método de disco-difusão.

1. EXAMES MICROBIOLÓGICOS

DEFINIÇÃO Considera-se Exames Microbiológicos a um conjunto de métodos aplicados


às amostras biológicas para determinar a presença ou não de microrganismos
patogénicos (bactérias, protozoários, fungos, e vírus). Estes exames visam
determinar a natureza de diferentes infecções, caracterizar os agentes
etiológicos, e quando possível testar a acção dos agentes antimicrobianos
sobre os agentes etiológicos.

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1.1. Exames microbiológicos directos e indirectos

Os exames microbiológicos focam-se na detecção e caracterização de agentes etiológicos de


infecções. Tendo em conta as características de cada um dos microrganismos a sua presença
numa amostra pode ser evidenciada por métodos directos (microrganismos cultiváveis) ou
indirectos (microrganismos não cultiváveis).
Os métodos directos têm por objectivo demonstrar a presença dos agentes (Figura 1), e
incluem a caracterização
morfológica por
microscopia; o isolamento e
identificação bioquímica
por cultura e teste de
sensibilidade aos
antibióticos, a detecção de
antígenos por meio de
testes de aglutinação em
latex. Os métodos
indirectos têm por
objectivo demonstrar a
presença de respostas
imunológicas devido a
presença de um agente infeccioso (exemplo: testes serológicos).

1.2. Exames Microscópicos

Os exames microscópicos podem ser feitos a partir de uma amostra clínica, ou a partir do
microrganismo obtido de uma cultura. Dependendo do tipo de amostra e da suspeita clínica
pode se realizar exames a fresco ou exames corados.
 O exame a fresco é aplicado por exemplo na análise do sedimento urinário (e.g. com
a presença de leucócitos em caso de infecção) e no estudo micológico da secreção
vaginal para a visualização de leveduras (Candida albicans).
 Os principais exames corados em Microbiologia são: a coloração pelo método de
Gram; a coloração para as bactérias álcool-ácido resistentes (BAAR) de Ziehl-

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Neelsen. Os exames microscópicos são relativamente simples, e permitem o


diagnóstico presuntivo e a selecção de métodos culturais apropriados.

1.3. Exames Culturais e Teste de Sensibilidade aos Antibióticos

A amostra, depois de preparada ou processada pode-se usar o isolamento e identificação do


agente infeccioso. Para isso, a amostra deve ser inoculada (semeada) em meios de cultura
apropriados (básicos ou selectivos). Os testes de identificação são aplicados em culturas
puras (compostas por apenas um microrganismo) e baseiam-se nas características culturais,
bem como propriedades metabólicas (em meios selectivos e diferenciais) e morfológicas.
O teste de sensibilidade aos antibióticos (TSA) é aplicado ao agente etiológico identificado.
EXEMPLO Quando uma bactéria é isolada e identificada, esta é semeada em uma placa
com meio de cultura recomendado e exposta a antibióticos para determinar a
sua acção sobre o microrganismo.

1.4. Exames Serológicos

Os exames serológicos baseiam-se na resposta imunológica (produção de anticorpos) devido


a presença de agentes estranhos (antígenos) no indivíduo infectado. O estado do paciente é
determinado pela quantidade de anticorpos produzidos, sendo que para alguns agentes os
anticorpos produzidos permanecem para vida inteira. Isto leva-nos a concluir que a presença
de anticorpos (resultado laboratorial positivo) nem sempre é indicativo de uma doença
recente.
EXEMPLO Entre os diferentes exames serológicos de interesse na Microbiologia,
destacam-se: precipitação, aglutinação de partículas de látex,
imunofluorescência, ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay).

2. MICROSCOPIA (EXAME A FRESCO E MÉTODOS DE COLORAÇÃO)

2.1. Microscopia

O estudo morfológico dos microrganismos é fundamental para o Microbiologista. Para obter


o máximo rendimento do microscópio é necessário conhecer os princípios em que se baseia a
construção deste, bem como, a sua constituição e utilização correcta. O microscópio deriva de
micro (pequeno) scopio (ver) e, é um instrumento que permite observar objectos demasiado

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pequenos para serem observados a olho nú. O microscópio mais usado em Microbiologia é o
microscópio óptico.

2.2. Microscópio óptico

O microscópio óptico é composto de uma parte óptica e uma parte mecânica (Figura 2). Os
constituintes da parte mecânica (pé, braço, platina, revólver, parafusos macro e
micrométricos), têm basicamente a função de suporte. A parte óptica é constituída por: fonte
luminosa, condensador, sistemas de lentes objectivas e oculares.
a) Fonte luminosa e condensador: a fonte luminosa dos microscópios modernos é
constituída por uma lâmpada eléctrica de tungsténio ou halogéneo incluídas no
próprio aparelho, podendo regular-se a intensidade luminosa com o reóstato. O
condensador consta de um conjunto de lentes convergentes e de um diafragma-íris.
Quando a fonte luminosa é constante para obter boa iluminação, sobe-se o
condensador e abre-se o diafragma. O inverso reduz a intensidade luminosa.
b) Oculares: constam de um conjunto de lentes que permitem ampliar a imagem real
dada pela objectiva e formar a imagem virtual. Permite incorporar dispositivos com
retículos de medida, marcadores de referência, etc. As oculares de 10× são as mais
utilizadas, mas existem as de 12,5×, 8× e 6× nos microscópicos binoculares.
c) Objectivas: conjunto de lentes que permitem ampliar a imagem 4x, 10x, 40x, ou
100x. As objectivas de 4x, 10x e 40x são designadas “objectivas secas”. A objectiva
de 100× é “objectiva de imersão” por ser obrigatório colocar uma gota de óleo de
imersão entre elas e a preparação.

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Os princípios básicos do microscópio são: ampliação, poder de resolução, iluminação.


a) Ampliação: a imagem resultante da ampliação da objectiva é real e invertida e a
ocular amplia-a ainda mais e tornando-a virtual e situada a aproximadamente 25 cm
dos olhos do observador. Em termos aproximados a ampliação total é a ampliação
objectiva × a ampliação ocular. Na prática a ampliação do microscópio óptico não
ultrapassa, sem distorção, os 1200×.
Tabela 1: Cálculo de ampliação final de uma imagem
Ampliação Ampliação final
Objectiva Ocular (Objectiva * Ocular)
4x 10x 40x
10x 10x 100x
100x 10x 1000x

b) Poder de resolução: o poder de resolução do microscópio óptico, ou seja a


capacidade de obter imagens independentes de dois pontos distintos, é de 0,2 μ,
limitação imposta pelo comprimento de onda das radiações visíveis.
c) Iluminação: para uma boa observação é necessário que a quantidade de luz seja
apropriada à ampliação. A iluminação é regulada pelo condensador e pelo diafragma
que permitem uma concentração de luz na amostra em quantidades apropriadas.
ATENÇÃO Regras fundamentais para utilização do microscópio:
 Manter o microscópio sempre limpo, protegendo-o das poeiras e da
incidência directa da luz solar;
 Antes do exame, limpar com papel especial a ocular e as objectivas;
 Verificar sempre, no início do trabalho, a posição do condensador e
do diaframa, em relação ao tipo de exame que se vai realizar;
 Controlar sempre o trabalho inicial de focagem com a vista, para
evitar possíveis traumatismos entre as objectivas e as lâminas;
 Não executar, com o parafuso micrométrico, mais que uma volta; as
deslocações que excedam este limite, devem ser feitas com parafuso
macrométrico;
 Não empregar a força para resolver dificuldades que surjam no
movimento dos parafusos, macro e micrométricos, para evitar danos;
 Fazer a observação monocular mantendo os dois olhos abertos para

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evitar o cansaço do olho utilizado;


 Nunca deixar a objectiva de imersão suja com óleo. Depois de
terminada a observação limpar cuidadosamente as objectivas
utilizando papel;
 Findo o trabalho deve-se desligar o verificando se a fonte de
iluminação está totalmente apagada e baixar completamente a platina.
SABER Para além do microscópio óptico, existem outros tipos de microscópio: fundo
MAIS escuro, fluorescência, contraste de fase, electrónico. Caso tenha interesse
em compreender o princípio destes tipos de microscópios, consulte outros
manuais e/ou materias de Microbiologia, Microscopia, Biologia, etc.

2.3. Exame a fresco

O exame a fresco é um método muito simples, consistindo na observação de células através


de microscópio, pequenos organismos vivos ou fragmentos de tecidos vivos, num meio
líquido o mais próximo possível do meio natural desses organismos. A finalidade desse
método é permitir a observação de estruturas “in vivo”, de modo a poder observar
manifestações funcionais, como a ciclose, reações de estímulos, etc., além de ser importante
na contraprova de outros métodos de estudo de estrutura celular que utilizem o estudo de
células mortas. Com este exame podem ser observadas a morfologia (cocos, bacilos e
espiroquetas), tipo de agrupamento (aos pares, cadeias, aglomerado irregular “cacho de uva”,
sarcina) e mobilidade das bactérias (atribuída à presence de flagelos). O agrupamento é
característica dos cocos, podendo alguns bacilos (raramente) apresentá-lo.
Vantagens do exame a fresco
– É rápido e fácil de executar, podendo ser feito no consultório.
– Permite a observação dos microrganismos e células vivas.
– Dá uma visão geral do estado do paciente (permite saber se a amostra é patológica ou
não, orientando o diagnóstico).
– Orienta na decisão de se fazer ou não outros exames específicos.
Desvantagens do exame a fresco
– Não permite conservação da preparação por longo tempo.
– Não permite classificar as bactérias em Gram positivas ou Gram negativas.

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Tabela 2: Materiais necessários e procedimentos para exame a fresco


Material necessário Procedimentos
Luvas 1. Lavar, secar as mãos, e calçar as luvas;
Amostra biológica 2. Preparar todo o material necessário para execução da
Bico de Bunsen técnica;
Pipeta de Pasteur 3. Para amostras líquidas, colocar uma gota da amostra
Lâmina e lamela microscópica ou do sedimento obtido por centrifugação sobre a
Ansas lâmina;
Soro fisiológico (quando se trata 4. Para amostras sólidas, colocar uma gota de soro
de uma amostra sólida) fisiológico estéril sobre a lâminia e em seguida
Microscópio colocar a amostra, e misturar bem de forma a
emulsificar a preparação;
5. Cobrir a amostra com lamêla;
6. Observar a preparação ao microscópio (focar com
objectiva de menor ampliação “4x”);
7. Trocar para objectiva de 40x (regular a luz se
necessário);
8. Descartar a prepação;
9. Limpar o microscópio e colocar na posição de
repouso;
10. Descartar as luvas, lavar e secar as mãos.

ATENÇÃO Como as lâminas não estão coradas, a iluminação deve ser pouco intensa o
que se consegue com o condensador descido e o diafragma fechado. Focar
primeiro com a objectiva de 4x e depois de escolher o pormenor a observar
focar com as obejectivas seguintes (de 10x e 40x). Para focar deve fazer-se a
aproximação da objectiva à lâmina com controlo visual externo e só depois
focar usando o parafuso macrométrico, o parafuso micrométrico serve apenas
para melhorar a visibilidade.

2.4. Métodos de coloração

Em microscopia, os métodos de coloração são usados para enaltecer o contraste na imagem


microscópica. Diferentes métodos de coloração são usados para tornar as células e suas

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organelas internas mais visíveis sob a luz microscópica. Para maximizar o benefício do uso
do microscópio as amostras devem ser preparadas de forma a manter as principais
características das estruturas presentes nelas. Os métodos de coloração podem ser de três
tipos: (1) simples, (2) diferencias, e (3) estruturais ou especiais. Neste manual ênfase será
dada para a coloração diferencial.

2.4.1. Coloração diferencial

 A coloração diferencial usa dois ou mais corantes e permite a categorização das


células em vários grupos ou tipos. Por outro lado, para além da observação da
morfologia providencia mais informação sobre as características da parede celular
(espessura). Métodos de coloração diferencial comuns em Microbiologia incluem
o método de Gram (descrito por Hans Cristian Joaquim Gram), e o método de
Ziehl-Neelsen (descrita por Franz Ziehl e Friedrich Neelsen).
a) Coloração de Gram
– Usada para verifcar a morfologia das bactérias bem como diferenciá-las em Gram
negativas ou Gram positivas.
Princípio
– A existência de diferentes graus de permeabilidade na parede celular dos
microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos, explica o princípio de
funcionamento desta técnica. Segundo ela, ambos tipos de bactérias são coradas por
cristal violeta. A adição de iodo forma um complexo dentro da parede celular. A
adição de um descorante remove o corante primário dos organismos Gram negativos
devido ao alto conteúdo de lípidos das mesmas. Estas células são coradas pela
safranina que é o corante de contraste nesta técnica, sendo portanto vermelho.
Tabela 3: Materiais necessários e procedimentos da coloração de Gram
Material necessário Procedimentos
Amostra biológica 1. Preparar, secar e fixar o esfregaço:
Kit de Gram (cristal violeta,  Retirar uma pequena porção da amostra
lugol/iodo, álcool absoluto e com ansa estéril e colocar sobre uma
safranina); lâmina limpa; (Para amostras sólidas
adicionar algumas gotas de soro
Cristal violeta: é usado como primeiro fisiológico para emusificar e facilitar a
corante. Inicialmente cora todas distribuição).
estruturas presentes no esfregaço.  Distribuir de modo que forme uma
camada fina;
Lugol/Iodo: é usado como fixador (fixa  Secar ao ar (sem aquecimento);

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o primeiro corante à parede das  Fixar o esfregaço em chama de bico de


bactérias), formando um complexo Bunsen (passar três vezes a lâmina com a
(lugol-cristal violeta), que possui uma superfície na qual foi feita o esfregaço
estrutura mais larga e difícil de remover. voltada para cima).
2. Colocar a(s) lâmina(s) já preparadas num
Álcool absoluto: é usado como suporte juntamente com lâminas CQ positivo
descorante. Remove o primeiro corante e CQ negativo.
da parede de bactérias Gram negativas. 3. Cobrir a(s) lâmina(s) com solução de violeta
Safranina: é usada como corante de e deixar actuar por cerca de 60 segundos.
contraste. As bactérias que não fixam o 4. Retirar o excesso do corante, e passar água
primeiro corante tomam a sua cor. corrente para remover o resto de corante.
5. Cobrir a(s) lâmina(s) com lugol e deixar
Outro material actuar por 60 segundos. De seguida lavar com
– Ansas água.
– Lâmina microscópica 6. Cobrir a(s) lâmina(s) com álcool absoluto e
– Bico de Bunsen (ou lamparina) deixar actuar durante 30 segundos. De
– Microscópio óptico seguida lavar com água.
– Óleo de imersão 7. Aplicar o corante de contraste (safranina) e
deixar actuar durante 60 segundos.
8. Lavar com água e deixar secar à temperatura
ambiente.

Leitura e interpretação
Leitura
– Examinar a lâmina sobre baixa luminosidade para avaliar o aspecto geral do
esfregaço. Examinar pelo menos 10 campos de baixa luminosidade e observar a
presença de células polimorfonucleares (PMN), eritrócitos e células epiteliais. Num
esfregaço propriamente corado estas células aparecem coradas de vermelho, os
microrganismos Gram positivos de violeta profundo e os Gram negativos de vermelho
ou rosa.
– Mover para objectiva de óleo de imersão (100x), e avaliar a presença de células
bacterianas, tendo como base: a reacção de Gram, morfologia e disposição das células
bacterianas observadas. Examinar pelo menos 20 campos usando a objectiva de óleo
de imersão.
Interpretação
– A presença de células brancas ou eritrócitos sugere um processo infeccioso.

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– A presença de células epiteliais escamosas e artefactos sugere uma colheita


inadequada da amostra.
– Quanto a reacção de coloração pelo
Gram, pode-se encontrar os seguintes
resultados:
o Gram positivas: bactérias que se
coram de azul púrpura ou violeta
(cor de cristal violeta, ver Figura
3).
o Gram negativas: bactérias que se
coram de vermelho ou cor-de-
rosa (cor da safranina, ver Figura
4).
Reporte do resultado
Todos os resultados obtidos devem ser registados no sistema usado dentro do laboratório
(exemplo: livro de registo). Posteriormente, os
resultados devem ser transferidos para a folha
de reporte de resultados.

Objectiva de baixa ampliação:


– Se não tiver células epiteliais ou
células PMN na amostra clínica
reporta como: “ Sem observação de
células epiteliais” ou “sem observação
de células PMN”.
– Se células forem observadas, indique cada tipo de célula observada
(polimorfonucleares, células epiteliais, eritrócitos).
Objectiva de óleo de imersão:
– Se nenhum organismo for observado na amostra clínica então reportar como: “Sem
organismo observado”.
– Se forem observados microrganismos, quantificar as bactérias e leveduras e reportar
como:
1 +: <1/Campo
2+: 1–5/Campo

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3+: 6–30/Campo
4+: >30/Campo
– Especificar a morfologia segundo o método de Gram e indicar a que grupo de
microrganismo se parece se a forma de apresentação for usual/ clássica. Contudo
tenha cuidado em caso de dúvida, pois outras espécies podem confundir apresentações
típicas.
EXEMPLO Cocos Gram positivos podem ser sugestivos de Streptococcus pneumoniae;
Cocobacilos Gram negativos pequenos podem ser sugestivos de Haemophilus;
Diplococos Gram negativos podem ser sugestivos de Neisseria.

ATENÇÃO Ao executar o método de Gram, tenha em consideração os seguintes aspectos


de forma a obter bons resultados:
– Obedecer regras gerais de biossegurança;
– Incluir para cada procedimento um controlo positivo: lâmina fixada
contendo Staphylococcus aureus (ATCC 25923), e um controlo
negativo: lâmina fixada contendo Escherichia coli (ATCC 25922).
– Evitar aquecimento excessivo da lâmina durante a fixação do esfregaço
pela chama do bico de Busen. O aquecimento excessivo para além de
tornar os organismos mais susceptíveis à descoloração, altera a
morfologia da célula;
– Evitar lavagens excessivas entre os passos. A lavagem excessiva
constitui uma fonte de super descoloração;
– Descoloração prolongada. Alguns solventes descoram a bactéria mais
rápido que os outros. Recomenda-se o uso de etanol a 95%, em outros
casos é aceitável o uso de álcool-acetona. O descorante deve escorrer
sobre a superfície corada da lâminna até todo corante ser removido
(lavado). Este pode ser um processo difícil, principalmente quando o
material não está distribuído de maneira uniforme.
b) Coloração de ZIEHL-NEELSEN
– Usada para detecção de bactérias álcool-ácido resistentes (BAAR), que incluem o
agente causador da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis).
Princípio
– As bactérias álcool-ácido resistentes têm uma parede celular constituída por grandes
quantidades de lípidos (60 a 70 %), dificultando a penetração de corantes e outros

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

produtos químicos em solução aquosa, visto que essas paredes são hidrofóbicas.
Assim, é necessário utilizar um corante forte e medidas especiais para forçar os
corantes a atravessarem a parede bacteriana. Depois da penetração do corante nas
células é muito difícil a sua remoção mesmo que para isso se use uma mistura
agressiva de álcool-ácido como agente descorante. Devido a esta propriedade estes
microrganismos designam-se BAAR, sendo esta resistência ao álcool-ácido atribuída
a certos lípidos de alto peso molecular (ácidos micólicos) presentes na parede celular
destas bactérias.
Tabela 4: Materiais necessários e procedimentos da coloração de Ziehl-Neelsen
Material necessário Procedimentos
Amostra biológica 1. Preparar, secar e fixar o esfregaço (como
Fucsina fenicada: a fucsina fenicada é usada descrito na coloração de Gram);
como o primeiro corante (mordente). Esta 2. Colocar a(s) lâmina(s) já preparadas num
substância é formada pelo corante suporte juntamente com lâminas CQ
concentrado de fucsina de cor vermelha e positivo e CQ negativo;
pelo mordente ácido fénico. Para facilitar a 3. Cobrir a lâmina com uma solução filtrada
coloração aplica-se o calor de modo a de fucsina e aquecer até a emissão de
permitir a passagem da fucsina fenicada vapores. Deixar actuar o corante durante
através da parede lipídica e do citoplasma. 5 minutos, repetindo em intervalos (três
Álcool-ácido: usado como descorante. Antes vezes) o aquecimento e substituindo o
da descoloração o esfregaço deve ser corante a medida que se evapora, sem
arrefecido de modo a permitir o deixar secar. O calor é aplicado de modo
endurecimento das substâncias lipídicas da a permitir a passagem da fucsina fenicada
parede. Quando se aplica o álcool-ácido, as através da parede lipídica e do
bactérias álcool-ácido resistentes vão resistir citoplasma. De seguida lavar com água;
à descoloração, pois o corante primário é 4. Cobrir a lâmina com solução álcool-
mais solúvel nos lípidos celulares do que no ácido (HCl 3% ou H2SO4 a 20%). Deixar
agente descorante. actuar durante 3 min. De seguida lavar
Azul de metileno ou Verde de malaquite: com água.
usado como corante de contraste. Serve para 5. Corar a lâmina com azul-de-metileno, ou
corar as células bacterianas previamente solução diluída de verde malaquita,
descoradas. As células não álcool-ácido durante 1 minuto;
resistentes absorvem o corante de contraste e 6. Lavar, deixar secar à temperatura
ficam coradas de azul ou verde de acordo ambiente e depois observar ao
com o corante usado. microscópio usando objectiva de imersão.

Leitura e interpretação
Leitura
– Examinar a lâmina sobre a objectiva de máxima ampliação (objectiva de imersão).
Examinar pelo menos 100 campos para observar a presença de BAAR (são aquelas

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que não descoram quando se aplica a solução álcool-ácida e por isso aparecem
coradas de vermelho, ver Figura 5), e quantificar os BAAR.

Interpretação
 Quantificar de forma aproximada o número de BAAR existentes. Percorrer os 100
campos em linhas rectas, de forma sistemática para abranger o esfregaço evitando a
repetição da leitura de alguns campos;
 Contar o número de campos observados e o número de BAAR que foi identificado.
Classificar como mostrado abaixo:
- Negativo: ausência de BAAR em 100 campos;
- Positivo (escassos): contagem exacta – 1–9 BAAR em 100 campos;
- Positivo (1+): 10 a 99 BAAR em 100 campos;
- Positivo (2+): 1 a 10 BAAR por campo (pelo menos 50 campos);
- Positivo (3+): mais de 10 BAAR por campo (pelo menos 20 campos).
ATENÇÃO Sempre que se realizar a coloração de Ziehl-Neelsen, deve garantir que o
procedimento foi bem executado descartando a possibilidade de
contaminações cruzadas entre as lâminas, e o uso de reagentes inadequados.
Para este fim, deve-se incluir a cada procedimento o seguinte: (1) controlo
positivo: lâmina fixada contendo BAAR; (2) controlo negativo: lâmina fixada
não contendo BAAR.

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3. CULTURA, IDENTIFICAÇÃO E TESTE DE SENSIBILIDADE AOS


ANTIBIÓTICOS

Para que se estabeleça uma terapia adequada é necessário identificar o microrganismo


associado à infecção. O primeiro passo para identificação de um microrganismo é o seu
isolamento em meios de cultura.

3.1. Isolamento de Microrganismos

O isolamento dos microrganismos pode ser classificado em dois tipos: (1) métodos culturais e
(2) métodos não culturais. Os métodos culturais envolvem isolamento de microrganismos em
meios líquidos, sólidos e em sistemas automáticos.

3.3.1. Métodos culturais

As amostras recebidas no laboratório são inoculadas em meios de cultura apropriados,


dependendo da suspeita clínica e dos microrganismos que se pretendem detectar. Durante a
execução das culturas, é fundamental tomar em conta os seguintes parâmetros:
a) Condições atmosféricas: as bactérias de crescimento rápido são possíveis de
identificar depois de 18 – 24 horas de incubação a 37 °C. Outras bactérias necessitam
de mais tempo, podendo variar de 48 horas até várias semanas. Segundo as
necessidades de oxigénio dos microrganismos mais prováveis, as placas e tubos
podem ser incubadas na presença de oxigénio, em pequenas concentrações de dióxido
de carbono, na ausência de oxigénio, em ambiente de microaerofilia (traços de
oxigénio).
b) Temperatura óptima: a maioria das bactérias atinge o seu óptimo crescimento a uma
temperatura igual a 37 °C, que pode ser alcançada ao se colocar as placas numa
incubadora ajustada para esta temperatura.
c) Necessidades de crescimento: as bactérias têm diferentes necessidades de
crescimento, sendo que as amostras devem ser inoculadas em meios que contenham
todos os nutrientes necessários para garantir um óptimo crescimento.
EXEMPLO Streptococcus pneumoniae necessita de factor V e factor X (encontrados em
agar chocolate) para um bom crescimento. Assim quando se suspeita de S.
pneumoniae a amostra deve ser inoculada ou semeada em agar chocolate.

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Cultura líquida
Os meios líquidos podem ser selectivos ou não selectivos, permitindo o crescimento de
microrganismos entre 24 e 48 horas (normal), ou até mais de 14 dias. Em meios líquidos, o
crescimento microbiano é detectado pela turvação do meio. A cultura líquida é muitas vezes
usada para aumentar a chance de isolamento do microrganismo devido ao uso de meios de
enriquecimento. Contudo, este método apresenta algumas desvantagens:
– Não é possível determinar as características do microrganismo (colónias) presente na
cultura, sendo necessário a subcultra para meios sólidos;
– Atrasos na obtenção dos resultados da cultura;
– Sensível a contaminações.

Cultura sólida
O método mais comum para o isolamento de bactérias de amostras clínicas é a cultura em
meios sólidos. Estes meios permitem a caracterização das bactérias através da observação das
colónias produzidas na superfície do meio de cultura, garantindo uma identificação
preliminar das bactérias presentes.
A inoculação de meios sólidos depende do objectivo a ser alcançado: (1) obter colónias
isoladas (inoculação por estrias de esgotamento); (2) determinar a carga bacteriana da
amostra (incolução por estria cruzada).
EXEMPLO Na cutura das fezes (uma amostra contaminada com membros da flora normal)
o objectivo é isolar as colónias.No caso de amostras de urina, para além de
isolar as colónias a quantificação das bactérias é importante, pois um
organismo é considerado patogénico quando estão presentes>105 unidades
formadoras de colónias por mililitro de urina.
Procedimentos de inoculação de meios sólidos em placa (Figura 6)
– Colocar uma pequena porção (inóculo) da amostra num canto de um dos quadrantes
da superfície do meio (usar zaragatoa, ansa ou pipeta estéreis);
– Distribuir o inóculo dentro do quadrante (usar uma ansa estéril, e fazer movimentos de
zigue-zague);
– Esterilizar a ansa por flambagem (bico de Bunsen), e fazer o segundo segmento de
estrias inciando-o por onde terminou o primeiro segmento;
– Repetir o número de vezes necessário para obter diferentes segmentos de estrias
conforme o tamanho da placa.

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LEMBRA-TE
Quanto mais segmentos de estrias na placa, mais isoladas estarão as
colónias das bactérias e mais fácil é a sua selecção e caracterização.

Cultura automática (sistemas automáticos)


Os sistemas automáticos utilizam culturas líquidas, e o crescimento pode ser detectado por
diferentes métodos, como por exemplo produção de CO2 pela bactéria. Sistemas automáticos
comuns no isolamento de bactérias, incluem BACTEC, BacteAlert (para hemoculturas, ou
seja, cultura de sangue), e MGIT (para cultura de Mycobacterium). Embora os sistemas
automáticos permitam a obtenção de resultados em tempos curtos, a sua viabilidade
comercial constitui a grande limitação, principalmente em países com escassez de recursos
financeiros.

3.3.2. Métodos não culturais

Alguns microrganismos, incluindo bactérias são difíceis de isolar em meios de cultura


ordinários levando a aplicação de métodos não culturais para seu isolamento. Estes métodos
incluem reacção em cadeia de polimerase (PCR), reacção em cadeia de ligase (RCL), e
outros.

3.2. Identificação de microrganismos

Depois do isolamento da bactéria em cultura pura, o organismo deve ser identificado ao nível
do género ou espécie. A identificação correcta do microrganismo tem um grande valor em
termos clínicos (estabelecimento de abordagens terapêuticas adequadas) e epidemiológicos
(compreensão da distribuição dos agentes em termos de tempo, lugar e pessoa).

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Os procedimentos de identificação frequentemente usados em Microbiologia são: coloração


dos microrganismos isolados (já abordado nesta unidade), teste de mobilidade, testes
bioquímicos, testes serlógicos, sistemas automáticos e semi-automáticos de identificação e
testes moleculares. Nesta abordagem será dada ênfase aos testes bioquímicos e serológicos.

4.2.1. Testes Bioquímicos

Os testes bioquímicos mais comuns em Microbiologia são: Catalase, Coagulase, Oxidase,


Indol, Série bioquímica curta (fermentação de açúcares e reacções enzimáticas, Indol,
Citrato, Urease).

a) Teste de catalase: é aplicado para diferenciar o género Staphylococcus de


Streptococcus. Este detecta a presença da enzima catalase nas bactérias.
Princípio do teste
– O teste é usado para detectar a presença da enzima catalase pela decomposição de
peróxido de hidrogénio para libertar oxigénio e água. O peróxido de hidrogénio é
formado por algumas bactérias como produto final oxidativo da quebra aeróbica de
açúcares.
Procedimento e interpretação
– Colocar uma lâmnia
microscópica numa placa de
Petri (manter a tampa da placa
disponível);
– Retirar com um palito de
madeira ou uma ansa estéril,
uma pequena porção de
colónias bem isoladas (18 – 24
horas) e colocar sobre a
lâmina. Ter cuidado para não
retirar nenhuma partícula do meio (particularmente meios com sangue, como agar
sangue), pois pode resultar em um teste falso-positivo).
– Colocar uma gota de 3.0% de peróxido de hidrogénio (H2O2) sobre o organismo
na lâmina (usar uma pipeta de Pasteur ou outro dispensador). Não misturar.

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– Tapar imediatamente a placa de Petri, e observar o aparecimento de bolhas de gás


dentro de 10 segundos (teste positivo). A ausência de bolhas indica um teste
negativo (Figura 7).
o Teste positivo sugere tratar-se de uma espécie de Staphylococcus;
o Teste negativo sugere tratar-se de uma espécie de Streptococcus.
b) Teste de coagulase: é aplicado para diferenciar Staphylococcus aureus das outras
espécies de Staphylococcus, pela sua capacidade de coagular o protoplasma devido a
acção da enzima coagulase.
Princípio do teste
– A enzima coagulase existe em duas formas: uma ligada à parede celular e outra livre
(libertada pelas paredes celulares). A coagulase ligada é detectada pelo teste de
coagulase em lâmina, enquanto que a coagulase livre é detectada pelo teste de
coagulase em tubo. A coagulase ligada adsorve o fibrinogénio do protoplasma
precipitando-o no Staphylococcus, e resultando na aglutinação da célula. A coagulase
livre reage com uma substância no protoplasma para formar um coágulo de fibrina.
Procedimento e interpretação (coagulase em tubo)
– Misturar uma pequena quantidade das
colónias do microrganismo com plasma
comercial para coagulase num tubo;
– Incubar o tubo a 37 oC, e observar a
formação de coágulo de fibrina (Figura
8), normalmente notável dentro de 24
horas;
– Interpretação:
o Presença de coágulo de fibrina
(teste positivo): Staphylococcus
aureus.
o Ausência de coágulo de fibrina (teste negativo): Staphylococcus
epidermidis ou outros Staphylococcus saprophyticus.
c) Teste de oxídase: o teste de oxidase é usado para diferenciar membros da família
Enterobacteriaceae de outros bacilos Gram negativos. Este teste pode também ser
usado para diferenciação de Neisseria, Moraxella, Campylobacter e espécies de
Pasteurela.

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Princípio do teste
– Bactérias oxidase positivas possuem citocromo oxidase, uma enzima também
designada indofenol oxidase. Ambos catalisam o transporte de electrões de
compostos dadores (NADH) para receptores de electrões (normalmente oxigénio). O
reagente do teste, N, N, N', N'-tetra-metil-p-phenylenediamine dihydrochloride
age como um receptor artificial de electrões para a enzima oxidase, e quando oxidado
forma um composto colorido indofenol azul.
Procedimento e interpretação
– Molhar um pequeno pedaço de papel de filtro em reagente de oxidase (1% de
Kovac’s de oxidase) e deixar secar numa placa de Petri;
– Colher com uma ansa estéril algumas colónias do microrganismo suspeito (cultura
recente, 18 – 24 horas) e colocar sobre o
papel de filtro;
– Observar as alterações de cor (se a
colónia for oxidase positiva, inicialmente
ficará rosa, depois vermelha e depois azul
púrpura (Figura 9). A reacção deve
ocorrer dentro de 90 segundos. Caso a
reacção ocorra depois de 2 minutos, não
se considera positiva).
d) Indol: é aplicado como parte de um conjunto de testes usados na diferenciação de
membros da família Enterobacteriaceae e outros bacilos Gram negativos.
Princípio do teste
– O teste de indol determina a habilidade de um
organismo para produzir indol da degradação do
aminoácido triptofano. Triptofano é hidrolisado
por triptofanase para produzir três possíveis
produtos finais – um dos quais é indol.

Procedimento e interpretação
– Inocular a colónia suspeita no meio SIM
(Sulfureto, Indol, Mobilidade) com uma agulha;
– Incubar a 37 ºC durante 24 horas;

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– Para testar a produção de indol, adicionar ao tubo algumas gotas do reagente Kovac’s
(composto por: p-dimetilaminobenzaldeído, álcool amílico, ácido clorídrico
concentrado);
– Observar a mudança de côr (Figura 10):
o Aparecimento de anel vermelho/rosado: reacção positiva (Escherichia coli,
Vibrio cholerae).
o Ausência de anel vermelho/rosado: reacção negativa (Klebsiella,
Salmonella, Shigella).
e) Série bioquímica curta para identificação de Enterobacteriaceae
A série curta é usada para diferenciação de géneros da família Enterobacteriaceae.
Nesta série observam-se as seguintes reacções bioquímicas: fermentação de glicose,
fermentação de lactose, produção de H2S e produção de gás, utilização de citrato,
mobilidade e produção de indol e produção de urease.

i. Teste de KIA (Kligler Iron Agar)


Princípio do teste
– O meio Kligler Iron Agar é composto por
dois açúcares (glicose e lactose). O teste
consiste em observar as reacções de
fermentação dos açúcares pela mudança
de côr do meio indicando uma reacção
ácida ou alcalina.
– A acidificação do meio, consequente à
fermentação dos açúcares, provoca a
viragem do indicador (vermelho fenol) de
vermelho para amarelo.
Procedimento
– Inocular uma colónia (usando uma agulha ou ansa), no tubo contendo meio KIA
inclinado, por picada na base e estrias na região inclinada do meio;
– Incubar a 37 ºC, durante 24 horas e observar as reacções de fermentação de
açúcares, a produção de gás e a produção de ácido sulfídrico.
Interpretação (Figura 11)
– Fundo e língua vermelhos: não fermenta glicose, nem lactose (reacção negativa).
– Fundo e língua amarelos: fermenta de glicose e lactose (reacção positiva).

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– Pigmentação preta mais ou menos difusa: produção de H2S (reacção positiva).


– Fendas ou bolhas no fundo do tubo:
produção de gás (reacção positiva).

ii. Teste de Citrato


Princípio do teste
– Consiste em usar o citrato como única
fonte de energia para a bactéria.
Procedimento e interpretação
– Inocular o tubo contendo meio Citrato
de Simmons inclinado, por picada na
base e estrias na região inclinada;
– Incubar 37 ºC, durante 24 horas e observar a mudança de côr do meio verde para
azul (Figura 12):
o Côr azul: reacção positiva.
o Côr verde: reacção negativa.

iii. Teste de Mobilidade (em meio SIM


tal como referido na prova de
indol)
Princípio do teste
– Usado para determinar se organismos são
móveis por meio de flagelos. A produção de flagelos também está sujeita às
condições de cultura; por exemplo,
algumas bactérias são móveis a
temperaturas diferentes para as quais elas
são normalmente incubadas, exemplo:
Yersinia enterocolitica é móvel de 20-25
ºC, mas não a 37 ºC.
Procedimento e interpretação
– Inocular a colónia suspeita no meio SIM
com uma agulha (ter atenção para obter
uma única linha de inolculação);

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– Incubar 37 ºC durante 24 horas, e observar a mobilidade alguns mm fora da linha


de inoculação;
– Observar a natureza do crescimento ao longo da linha de inoculação (Figura 13):
o Crescimento difuso no meio: reacção positiva, ou seja, bactéria móvel.
o Crescimento na linha de inoculação: reacção negativa, ou seja, bactéria imóvel.
iv. Teste de Urease
Princípio do teste
– Usado para determinar a habilidade da bactéria degradar urea através da produção
da urease. A reacção positiva é evidenciada por um ndicador de pH fenol
vermelho, que em condições ácidas (pH 6.8) é amarelo e em condições alcalinas
(pH 8.4) é vemelho/rosa.
Procedimento e interpretação
– Inocula-se a colónia suspeita no meio urea.
– Incuba-se a 37 ºC durante 24 horas.
– Passadas 24 horas observa-se a viragem do indicador (Figura 14):
o Côr vermelha: reacção positiva.
o Côr amarela: reacção negativa.

4.2.2. Testes serológicos

Os procedimentos serológicos, tais como detecção de antíngenos, são uma ferramenta


importante para identificação de microrganismos. Estes podem também ser usados
para confirmar a identificação feita por outros métodos. Por exemplo, espécies de
Escherichia coli, Salmonella e Vibrio cholera isoladas e identificadas são submetidas
a aglutinação para serotipagem.
i. Aglutinação em lâmina
O uso de antisoros de antisoros é um dos métodos de aglutinação mais rápidos
que permite a identificação de bactérias. O teste de aglutinação pode ser
executado em placa de Petri ou lâmina microscópica (Figura 15).
1. Com uma agulha ou
ansa retirar uma
porção das colónias
do microrganismo
de um meio não
selectivo;

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2. Colocar em um tubo com solução salina (soro fisiológico) e agitar


suavemente;
3. Com uma pipeta de Pasteur, retirar uma gota da solução e colocar sobre a
lâmina ou na placa de Petri (examinar a suspensão da lâmina para presença
de grumos devido a auto-aglutinação; nesta fase não devem existir
grumos);
4. Adicionar uma pequena gota do antisoro (volume inferior ao da suspensão
na lâmina, usualmente 10µl);
5. Misturar a suspensão e o antisoro movimentando suavemente a lâmina (as
reacções positivas ocorrem dentro de 60 segundos).
ii. Aglutinação em partículas de latex
A aglutinação em latex é observada quando uma amostra contendo um
antígeno (ou anticorpo) específico é misturada com um anticorpo (ou
antígeno) coberto por partículas de látex na sua superfície. A aglutinação em
latex é executada conforme as instruções do fabricante do teste (Kit).

3.3. Teste de sensibilidade aos antibióticos (TSA)

O teste de sensibilidade aos antibióticos é usado para determinação “in vitro” da actividade
de antibióticos sobre bactérias. Este serve de auxílio ao clínico na escolha do antibiótico mais
adequado para o tratamento da doença.
Princípio do teste
– Um inóculo padronizado do microrganismo é semeado na superfície do meio. Ao ser
colocado o disco (papel de filtro impregnado com uma determinada concentração do
antibiótico) na superfície do meio de cultura específico, o antibiótico contido no disco
difunde-se vários milímetros ao seu redor. Se o antibiótico não tiver algum efeito
sobre o microrganismo este crescerá ao redor do disco.
– Quando o antibiótico apresenta efeito sob o microrganismo há formação de uma
regiãosem crescimento (zona de inibição), sendo o seu diâmetro medido em
milímetros e comparado com valores (pontos de corte) padronizados.
Procedimento (Técnica de Kirby-Bauer)
a) Preparação do inóculo
– Com ansa ou zaragatoa, picar 4 ou 5 colónias isoladas para um tubo com 5mL
de soro fisiológico estéril;

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– Misturar a suspensão (Vortex 15-20 segundos);


– Ajustar a turvação com o padrão de turvação de McFarland 0.5 ou com o
densitômetro (Figura 16).

b) Inoculação da placa
– Dentro de 15 min de ajustamento do inóculo, mergulhar uma zaragatoa estéril na
suspensão e retirar rodando contra a parede do tubo para remover o excesso do
líquido (Figura 17);
– Semear toda a superfície da placa três vezes, rodando a placa aproximadamente
60º entre as estrias para assegurar distribuição uniforme. (Evitar tocar as
extremidades da placa de Petri e a criação de aerossois), como mostra a Figura 17;
– Deixar a placa em repouso por pelo menos 3 minutos antes de aplicar os discos
(não deixe mais de 15 minutos);
– Para o caso de Streptococcus pneumoniae, semear a superfície do meio (agar
sangue ou Mueller-Hinton com 5% de sangue de carneiro) imediatamente e
aplicar os discos.

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c) Aplicação de discos
– Aplicar discos na superfície de agar usando pinça estéril (pressionar levemente o
disco com a pinça para assegurar o contacto com o agar, ver Figura 18);
– Aplicar os discos com uma distância mínima de 25 mm (2,5 cm) do centro de cada
disco.
o Não mais de 12 discos na placa de 150 mm.
o Não mais de 5 discos na placa de 100 mm.
– Não trocar (recolocar) a posição do disco depois de tocar a superfície do agar (a
difusão do antimicrobiano é instantânea).

d) Incubação
– Incubar as placas dentro de 15 minutos depois da plicação de discos;
– Inverter as placas e empilhá-las em número máximo de 5;
– Incubar por 18 a 24 horas a 35 ˚C a 37 ˚C na incubadora normal (não mais de 35
˚C se estiver a testar Staphylococcus suspeito de resitência a oxacilina e
penicilina);
o Incubar todos Staphylococcus suspeitos de resistência a oxacilina e
meticilina por 24 horas.
e) Leitura e interpretação
– Lêr as placas apenas se o crescimento for uniforme;
– Para meios translúcidos (agar Mueller-Hinton, meio para Haemophilus)
o Pousar a placa com tampa virada para baixo;
o Iluminar a placa;
– Para meios opacos

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o Remover a tampa da placa;


o Iluminar a placa.
– Medir o diâmetro da zona de inibição (Figura 19) com régua ou paquímetro e
comparar com os diametros, e classificar os microrganismos em resistente,
intermédio e sensível de acordo com as tabelas (recomendações) do CLSI –
Clinical and Laboratory Standard Institute (actualizada anualmente).

RESUMO
Entre as principais actividades rotineiras de um laboratório de microbiologia destacam-se o
isolamento e identificação de agentes causadores de infecção em humanos através de exames
microbiológicos. Os exames microbiológicos podem ser divididos em directos e indirectos.
Os exames microscópicos (morfológicos) constituem um passo inicial para a identificação
definitiva dos microrganismos Gram positivos e Gram negativos.
Para além dos exames morfológicos, há muitos outros procedimentos que são usados para a
identificação de bactérias patogénicas: testes bioquímicos (tradicionais ou comerciais) testes
serológicos e moleculares. Depois da identificação final do microrganismo, este é submetido
ao teste de sensibilidade aos antibióticos para determinar o padrão de resistência do
microrganismo.

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ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD3

Exames microscópicos (exame a fresco, coloração de Gram


ACTIVIDADE E-A nº 1
e de Ziehl-Neelsen)
Duração 4 horas
Objectivos
- Executar exames microscópicos de amostras biológicas.
Conteúdos de referência
- Exame a fresco
- Métodos de coloração
- Coloração de Gram
- Coloração de Ziehl-Neelsen
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
- Dentro dos grupos formados, cada aluno faz a revisão do conteúdo de referência e
organiza o material necessário conforme indicado no roteiro de aula fornecido pelo
docente;
- Prepara exame a fresco de amostra de urina
- Prepara e cora (Gram e/ou Ziehl-Neelsen) o esfregaço com amostras de urina e
expectoração;
- Observa a lâmina ao microscópio e regista (em formulário apropriado) todas as
estruturas presentes;
- Descarta as lâminas e faz a manutenção diária do microscópio.
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
- Prepara e fornece o roteiro da aula com uma semana antes das sessões;
- Organiza o material necessário para a actividade;
- Orienta os alunos para a realização da tarefa (apresenta os objectivos);
- Disponibiliza todo o material da actividade para os grupos procederem a selecção;
Auxilia os grupos a seleccionar o material necessário, caso tenham dificuldades; e
regista o grau de dificuldade dos alunos na selecção do material;
- Prepara e fornece aos grupos a folha de registo da descrição do campo microscópico
para cada tipo de exame microscópico;
- Observa as lâminas de cada grupo para confrontar os resultados apresentados, e
esclarece as dúvidas existentes.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

Espaço/Meios didácticos e tecnológicos


- Laboratório;
- Quadro/Giz/marcadores;
- Cultura de microrganismos
- Amostras biológicas (urina, pús, expectoração)
- Lâminas e lamelas microscópicas
- Soro fisiológico
- Kit de Gram
- Kit de Ziehl-Neelsen
- Folha de registo dos resultados
Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega a folha de registo
preenchida;
- Cada grupo deve ser capaz de identificar e descrever no mínimo 80% das estruturas
presentes nos campos microscópicos;

Isolamento, identificação e teste de sensibilidade aos


ACTIVIDADE E-A nº 2
antibióticos (amostra de urina)
Duração 6 horas (Desagregadas em diferentes dias de trabalho devido a
natureza da actividade).
Objectivos
- Executar a cultura de urina para isolamento e identificação de microrganismos
implicados com infecção urinária;
- Executar o TSA dos isolados obtidos;
Conteúdos de referência
- Cultura e teste de sensibilidade aos antibióticos
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
- Dentro dos grupos formados, cada aluno faz a revisão do conteúdo de referência e
organiza o material necessário conforme indicado no roteiro de aula fornecido pelo
docente;
- Prepara exame a fresco de amostra de urina
- Prepara e cora (Gram e/ou Ziehl-Neelsen) o esfregaço com amostras de urina e
expectoração;

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

- Observa a lâmina ao microscópio e regista (em formulário apropriado) todas as


estruturas presentes;
- Descarta as lâminas e faz a manutenção diária do microscópio.
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
- Prepara e fornece o roteiro da aula com uma semana antes das sessões;
- Organiza o material necessário para a actividade;
- Orienta os alunos para a realização da tarefa (apresenta os objectivos);
- Disponibiliza todo o material da actividade para os grupos procederem a selecção;
Auxilia os grupos a seleccionar o material necessário, caso tenham dificuldades; e
regista o grau de dificuldade dos alunos na selecção do material;
- Prepara e fornece aos grupos a folha de registo da descrição do campo microscópico
para cada tipo de exame microscópico;
- Observa as lâminas de cada grupo para confrontar os resultados apresentados, e
esclarece as dúvidas existentes.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Laboratório;
- Quadro/Giz/marcadores;
- Amostras biológicas (urina)
- Culturas padrão (microrganismos ATCC)
- Agar sangue
- Agar MacConkey
- Agar Mueller-Hinton
- Provas bioquímicas
- Ansas, zaragatoas
- Discos de antibióticos
- Folha de registo dos resultados
Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega a folha de registo
preenchida com as principais características culturais dos diferentes microrganismos;
- Cada grupo deve ser capaz de isolar, identificar testar a sensibilidade do
microrganismo isolado da amostra de urina.

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CASO PRÁTICO

Caso prático
Título
Utilização do método de Gram para diagnóstico presuntivo
Descrição
Você recebeu duas amostras: (a) uma amostra de pús de um abcesso num ponto de sutura, (b)
uma amostra de expectoração. Em ambos os casos os clínicos solicitaram um diagnóstico
presuntivo pelo método de Gram, e você tem a tarefa de assessorar aos solicitantes sobre a
utilidade do relatório de Gram para cada uma das amostras recebidas.
Em qual das amostras o resultado de Gram seria mais útil para a conduta clínica?
Actividades que devem ser desenvolvidas pelos grupos
 Actividade 1: Com o caso, faz uma reflexão sobre: (1) a aplicação do método de
Gram considerando o tipo e a origem da amostra biológica; (2) a utilidade clínica do
resultado de Gram.
 Actividade 2: Elabora uma listagem de argumentos técnicos para a decisão tomada
sobre a utilidade do resultado de Gram para a conduta clínica.
Actividades a serem desenvolvidas pelos alunos
- Identifica os elementos do caso;
- Pesquisa e analisa informação relevante;
- Faz levantamento de todos os critérios da aplicabilidade da coloração de Gram;
- Elabora uma listagem de argumentos técnicos para a solicitação do Gram;
- Faz a apresentação do trabalho do grupo.
Actividades a serem desenvolvidas pelo professor
- Forma e orienta os grupos fornecendo referências bibliográficas e outros materiais de
auxílio da actividade (Sugere-se que para esta actividade cada grupo tenha um número
máximo de cinco alunos).
- Explica os procedimentos da actividade;
- Acompanha as actividades do grupo, e promove discussões de consertação;
- Analisa e sumarisa os pontos apresentados;
Recursos necessários
- Papel gigante
- Computador/projector/quadro/marcadores/giz
- Livros e artigos

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bibliografia
1. Cheesbrough, Monica (1984). Medical Laboratory Manual for Tropical Countries,
volume II: Microbiology. 479pp. Great Britain, ELBS.
2. Cavalieri, S.J., et al. (2005), Manual of Antimicrobial Susceptibility Testing, M.B.
Coyle, Editor. 2005, American Society for Microbiology.
3. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods.—22nd ed. /
[edited by] Richard A. McPherson, Matthew R. Pincus (2011). Elsevier.
4. Lima, A. O., J. B. Soares, J. B. Greco, J. Galizzi e J. R. Cançado (1992). Métodos de
Laboratório Aplicados à Clínica: Técnica e Interpretação. 7ª edição. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan.
5. Marshall, Jacquelyn R. (1995). Microbiologia: Manual de Laboratório Clínico. 161pp.
São Paulo, Livraria Santos.
6. UK Standards for Microbiology Investigations (2014). BACTERIOLOGY – Test
Procedures 3. Issue 3.
7. WHO (2003). Manual of Basic Techniques for a Health Laboratory. Second edition.
Geneva.
8. Winn, W. C., & Koneman, E. W. (2006). Koneman's color atlas and textbook of
diagnostic microbiology. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

SITES CONSULTADOS

1. GARCIA, L. S., & ISENBERG, H. D. (2010). Clinical Microbiology Procedures


Handbook. http://www.asmscience.org/content/book/10.1128/9781555817435.
2. Health Protection Agency (2006). Catalase Test. National Standard Method BSOP TP
8 Issue 1. http://www.hpa-standardmethods.org.uk/pdf_sops.asp.
3. Health Protection Agency (2005a). Introduction of the Preliminary Identification of
Medically Important Bacteria. National Standard Method BSOP ID 1 Issue 1.
http://www.hpastandardmethods.org.uk/pdf_sops.asp.
4. Health Protection Agency (2005b). Coagulase Test. National Standard Method BSOP
TP 10 Issue 3. http://www.hpa-standardmethods.org.uk/pdf_sops.asp.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

5. Health Protection Agency (2004a). Inoculation of Culture Media. National Standard


Method BSOP 54 Issue 4. http://www.hpa-
standardmethods.org.uk/pdf_bacteriology.asp.
6. Health Protection Agency (2004b). Oxidase Test. National Standard Method BSOP
TP 26 Issue 1. http://www.hpa-standardmethods.org.uk/pdf_sops.asp.
7. Health Protection Agency (2004c). Indole Test. National Standard Method BSOP TP
19 Issue 1. http://www.hpa-standardmethods.org.uk/pdf_sops.asp.
8. Health Protection Agency (2004d). Motility test. National Standard Method BSOP TP
21 Issue 1. http://www.hpa-standardmethods.org.uk/pdf_sops.asp.
9. Health Protection Agency (2004e). Urease Test. National Standard Method BSOP TP
36 Issue 1. http://www.hpa-standardmethods.org.uk/pdf_sops.asp.

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UNIDADE DIDÁCTICA 4

DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO DE INFECÇÕES POR


SISTEMAS

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ÍNDICE

OBJECTIVO GERAL _____________________________________________________ 104


Resultados de aprendizagem da unidade didáctica ______________________________ 104
INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 105
1. INFECÇÕES SISTÉMICAS _____________________________________________ 105
1.1. Processamento dos frascos de hemocultura ______________________________ 106
2. INFECÇÕES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL _________________________ 108
3. INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS _________________________________________ 111
3.1. Faringite _________________________________________________________ 113
3.2. Pneumonia _______________________________________________________ 113
3.3. Tuberculose ______________________________________________________ 115
4. INFECÇÕES URINÁRIAS ______________________________________________ 116
5. INFECÇÕES GENITAIS _______________________________________________ 122
5.1. Vaginites e vaginoses _______________________________________________ 122
5.2. Uretrites e cervicites ________________________________________________ 124
6. INFECÇÕES GASTROINTESTINAIS ____________________________________ 126
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD4 _______________________ 128
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD4 _______________________________________ 131
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________________ 132

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

OBJECTIVO GERAL

Realizar exames microbiológicos por sistemas segundo as normas estabelecidas e/ ou POP;

Resultados de aprendizagem da unidade didáctica

No fim desta unidade o formando deve ser capaz de:


- Seleccionar procedimentos laboratoriais de acordo com o tipo de amostra e a suspeita
clínica.
- Descrever o fluxo de processamento de amostras biológicas no laboratório de
microbiologia.
- Executar o diagnóstico laboratorial segundo o tipo de amostra e microrganismo
suspeito.
- Explicar a selecção de discos de antibióticos conforme o quadro clínico e o
microrganismo isolado.
- Executar o antibiograma conforme os microrganismos implicados com diferentes
infecções.

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INTRODUÇÃO

O diagnóstico de doenças infecciosas é frequentemente iniciado pela obtenção do historial


clínico do paciente, e condução do exame físico (anamnese), é importante compreender que o
estabelecimento de uma suspeita clínica adequada leva a colheita de amostras representativas
do processo infeccioso, e a selecçcão de procedimentos laboratoriais correctos. Nesta
Unidade discute-se em detalhes para cada sistema afectado, as amostras recomendadas, os
exames indicados e os procedimentos laboratoriais para a identificação do microrganismo.
Assim, segundo os quadros clínicos esta unidade está dividida em sete capítulos, a destacar:
- O primeiro capítulo aborda as infecções sistémicas.
- No segundo capítulo será das infecções do sistema nervoso central.
- Capítulo 3, que apresenta a temática sobre as infecções respiratórias.
- Capítulo 4, que destaca as infecções urinárias.
- Capítulo 5, que aborda as infecções genitais; e por fim o Capítulo 6, que se centra nas
infecções gastrointestinais.

1. INFECÇÕES SISTÉMICAS

O diagnóstico de infecções sistémicas é uma das funções essenciais e críticas do laboratório


de microbiologia. Para a grande maioria dos agentes associados com infecções sistémicas é
usada a hemocultura, que permite o isolamento, identificação e caracterização destes
microrganismos.
DEFINIÇÃO Quando um agente patogénico (exemplo: bactérias ou fungos) invade seus
hospedeiros e consegue multiplicar-se, inicia-se um processo infeccioso.
Quando esse processo infeccioso se alastra, ou seja, quando através da
corrente sanguínea o microrganismo se dissemina para diferentes regiões do
corpo, resulta numa infecção sistémica (Murray et al., 2004).
O bom diagnóstico de infecções sistémicas e outras infecções (isolamento e identificação do
microrganismo implicado) depende do estabelecimento da correcta suspeita clínica, e colheita
(incluindo conservação e transporte) de amostra biológica representativa do processo
infeccioso.
Amostra recomendada

Convencionalmente, o diagnóstico de infecções sistémicas é feito usando uma amostra de


sangue total, dado que os agentes alcançam diferentes sistemas através da corrente sanguínea

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

(rever Unidade 2 para procedimentos de colheita e garantia de qualidade da amostra de


sangue).

Exame Microbiológico

A amostra de sangue é então submetida ao laboratório para cultura (hemocultura). A


Hemocultura é um exame usado para detectar a presença de bactérias ou fungos no sangue
através do uso de meios de cultura específicos. Este exame visa auxiliar o diagnóstico e
tratamento do paciente, é importante lembrar que as infecções sistémicas estão sempre
associadas a apresentações clínicas severas, tornando assim a hemocultura um exame de
extrema urgência. A hemocultura pode ser manual ou automatizada (exemplos de sistemas
automáticos de incubação incluem BACTEC e BacAlert).

1.1. Processamento dos frascos de hemocultura

a) Incubação dos frascos


 Receber os frascos e verficar a identificação e outros elementos de
qualidade da amostra.
 Incubar os frascos com sangue no sistema automático ou numa incubadora
(37º C).
 O sistema automático examina as amostras diariamente (de acordo com o
protocolo estabelecido pelo laboratório, geralmente 5 dias) para a
presença de crescimento, enquanto a incubação na incubadora implica a
monitoria visual diária (até 7 dias) para detecção do crescimento (grau de
turvação do meio contido no frasco).
b) Seguimento dos frascos incubados
 Culturas negativas: descartar todos os frascos negativos depois do
período de incubação definido no protocolo do laboratório (5, 7, 21 dias)
tendo em conta o grupo de microrganismo. Emitir o resultado como “sem
crescimento”, e indicar o período de incubação.
 Culturas positivas
i. Todos os frascos positivos devem ser seguidos para isolar e
identificar o microrganismo em causa.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

ATENÇÃO
Se tiver dois ou mais frascos por paciente deve processar apenas os frascos
positivos.

ii. Para todos os frascos positivos, misturar o conteúdo, limpar o septo


do frasco, e remover com auxílio de uma seringa algumas gotas do
fluído para Gram e subcultura em meios de isolamento.
iii. Fazer um esfregaço e corar pelo método de Gram. Examinar o
esfregaço e registrar a presença de microrganismos e sua
morfologia (conforme descrito na Unidade 3).
iv. O resultado do Gram pode indicar a necessidade de uso de meios
adicionais:
EXEMPLO  Se o Gram do conteúdo do frasco revelar a presença de cocos Gram
positivos em cadeia, inocular uma placa de agar sangue (AS) e adicionar
um disco de optoquina.
 Se o Gram revelar a presença de bacilos Gram negativos, inocular uma
placa de AS e uma de agar MacConkey (MAC).
 Se o Gram revelar a presença de presença de cocobacilos Gram negativos
ou diplococos Gram negativos, incluir uma placa de agar chocolate
(CHOC).
v. Notificar ao clínico todos os resultados positivos. Registrar a
notificação.
vi. Semear as placas dos meios adequados, preenchendo os quatro
quadrantes de forma a obter dispersão de colónias e facilitar a sua
caracterização.
vii. Incubar as placas do subcultivo a 35-37°C em 5% CO2 por 24
horas ou 48h (para placas sem crescimento dentro de 24h).
viii. Examinar o crescimento, identificar o isolado (conforme o grupo
de microrganismos) e fazer o teste de sensibilidade aos antibióticos
(rever a Unidade 3, e ter em conta a especificidade).
c) Interpretação e relatório
o Reportar todos os patógenos relevantes, ou seja, Staphylococcus
aureus, Streptococcus beta-hemolíticos, Streptococcus

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

pneumoniae, Haemophilus influenzae, e membros da família


Enterobacteriaceae, incluindo o teste de sensibilidade aos
antibióticos, tempo para positividade.
o Possíveis contaminantes da flora normal da pele podem ser
detectados. Entre eles, Staphylococcus coagulase negativo,
Corynebacterium spp., e Streptococcus grupo Viridans. Nestes
casos, é importante indicar o número de frascos positivos e o
período de positividade.
ATENÇÃO Podem ocorrer culturas falso-negativas se os pacientes tiverem iniciado o
tratamento antibiótico antes da colheita da amostra.
Evitar a contaminação dos frascos e placas.
Pode ocorrer infecção por múltiplos agentes, portanto ao examinar o Gram dos
frascos tenha atenção para incluir os meios apropriados para a subcultivo.

2. INFECÇÕES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Normalmente os microrganismos entram no sistema nervoso atravessando a barreira da


mucosa na corrente sanguínea seguindo-se a penetração da barreira sangue-cérebro. As
infecções do sistema nervoso central mais comuns são categorizadas em meningites e
encefalites.
DEFINIÇÃO Meningite: é uma inflamação (inchaço) das membranas que protegem a
medula espinhal e o cérebro conhecida como meninges. Esta inflamação é
geralmente causada por uma infecção do fluido em torno do cérebro e da
medula espinhal. A meningite é geralmente causada por bactérias, fungos,
protozoários ou vírus (Winn & Koneman, 2006). É importante saber a
causa específica de meningite porque o tratamento difere dependendo da
causa.
Encefalite: é definida como inflamação do cérebro. Tal como a meningite, a
encefalite é causada por agentes biológicos (bactérias, fungos, protozoários
ou vírus), agentes químicos, reacções autoimunes, sendo por isso importante
distinguir a causa (Winn & Koneman, 2006).

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Amostra Recomendada

Normalmente são colhidos 3 a 4 tubos de líquido cefaloraquidiano (LCR) colhidos por


punção lombar. A primeira amostra (o primeiro tubo) tem um alto potencial de
contaminação por microrganismos da flora normal e não deve ser enviada para exame
microbiológico (esfregaço, cultura ou provas moleculares). Um mínimo de 1mL de LCR deve
ser enviado para o laboratório de microbiologia em recipiente (tubo) estéril. Volumes
elevados (5-10mL) aumentam a sensibilidade da cultura, e são recomendados para pesquisa
de micobactérias e fungos. Quando possível, obter amostras para cultura antes do início de
tratamento antimicrobiano.
Exame Microbiológico

O processamento microbiológico do LCR envolve três avaliações: (a) macroscópica, (b)


microscópica e (c) cultural.
a) Caracterização macroscópica
 Observe a aparência física do LCR, ou seja, transparente e incolor, turvo,
manchado de sangue ou xantocrômico. Além disso, observe presença de
coágulo de fibrina e/ou de sangue.
ATENÇÃO  Se tiver presente o coágulo de fibrina, proceder a contagem de células
na câmara de Bawman.
 Caso a amostra apresente coágulo de sangue, proceder com o Gram e a
cultura (amostras com coágulo de sangue não são usadas para
contagem celular).
 Registar todos os achados.
b) Microscopia
 Coloração de Gram
i. Identificar (número do laboratório) um tubo estéril, e uma lâmina
microscópica.
ii. Concentrar o LCR pela centrifugação a 1500 rpm durante 15 minutos, e
decantar cuidadosamente o sobrenadante no tubo estéril.
iii. Misturar (“Vortex”) o sedimento por poucos segundos para resuspender
(não usar pipetas para misturar, pois as células incluindo bactérias
podem aderir ás paredes do tubo e e resultar em falso-negativos).

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iv. Usando uma pipeta de Pasteur estéril preparar um esfregaço (uma gota
do sedimento de LCR sobre a lâmina) e corar pelo método de Gram
conforme descrito na Unidade 3.
v. Ler a lâmina, e registar os resultados do Gram conforme descrito na
Unidade 3.
LEMBRA-TE No caso de LCR o exame de Gram fornece informações úteis para tomada
de decisões.
Por isso, é fundamental reportar imediatamente todos os resultados
positivos para o solicitante.
 Tinta de china para Cryptococcus neoformans
i. Quando a microscopia (contagem na câmara de Bawman e coloração de Gram
indicam a presença de leveduras, mas que não se pode aferir se é Cryptococcus
neoformans, procede-se com a tinta
de china para verificar a presença de
cápsulas. A tinta de china não cora
material celular, providenciando um
fundo escuro que facilita a
vizualização da cápsula de C.
neoformans.
 Colocar uma gota de tinta de
china na lâmina
microscópica.
 Adicionar uma gota do sedimento de LCR usando uma pipeta de Pasteur e
misture gentilmente.
 Cobrir com lamêla e examine ao microscópio usando primeiro a objectiva de
10x e depois a objectiva de 40x.
 Observar a presença da cápsula de C. neoformans.
 Registar os resultados, e comunicar ao solicitante caso seja positivo.
c) Cultura
i. Com uma pipeta de Pasteur estéril, inocular (uma gota de LCR) uma placa de
agar sangue (AS) e uma placa de agar chocolate (CHOC). Se necessário
inocular ainda o caldo de BHI (Brain Heart Infusion, infusão cérebro-coração).
ii. Semear com uma ansa estéril usando estrias por esgotamento.

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iii. Incubar as placas de AS e CHOC a 37 C em 5% CO2 por 18 a 24 horas.


Incubar o caldo de BHI em condições aeróbicas a 37 C por 18 a 24 horas.
iv. Caso o resultado do Gram indique, adicione outros meios de cultura:
EXEMPLO - Cocos Gram positivos em cachos (sugestivos de Staphylococcus): agar
DNA; MSA (Mannitol Salt Agar); agar mueller-hinton para TSA.
- Cocos Gram positivos em cadeia (sugestivos de Streptococcus): disco de
Optoquina em AS.
- Bacilos Gram negativos: agar MacConkey.
 Leitura das culturas
i. Examinar as placas para o crescimento e os caldos para turvação. Reincubar
por mais de 24 horas caso não haja indicação de crescimento.
ii. No caso de ausência de crescimento depois das 24 horas, reincubar apenas as
placas de CHOC e AS por mais 5 dias.
iii. Reportar como “Sem crescimento depois de 48 horas”, e aguardar pelo tempo
restante.
iv. Caso o caldo indique crescimento (turvação), preparar um esfregaço e corar
pelo método de Gram conforme descrito na Unidade 3.
v. Subcultivar o conteúdo de todas amostras positivas na microscopia por Gram,
isolar e identificar os microrganismos.
vi. Para todas as amostras positivas executar o teste de sensibilidade aos
antibióticos conforme descrito na Unidade 3, e tendo em consideração a
espécie isolada para seleccionar os meios de cultura e discos de antibióticos.
vii. Se disponível, fazer o teste de detecção de antígeno (principalmente quando
observar elevado número de leucócitos polimorfonucleares, e ausência de
bacérias).
viii. Quando o Gram e a tinta de china excluem o C. neoformans proceder a cultura
para isolamento e identificação das espécies de Candida usando a prova de
germinação em tubo.

3. INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS

As infecções respiratórias são definidas como qualquer processo infeccioso que afecta o
tracto respiratório. Estas infecções são subdivididas em dois grupos: infecções do tracto

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respiratório superior e infecções do tracto respiratório inferior. As infecções do tracto


respiratório superior incluem resfriado comum, laringite, faringite, rinite aguda, sinusite e
otite média. As infecções do tracto respiratório inferior incluem bronquite, bronquiolite,
pneumonia, e quadros pulmonares (tuberculose pulmonar).
DEFINIÇÃO Infecções do tracto respiratório superior (Winn & Koneman, 2006):
 Resfriado comum: é uma infecção viral que afecta principalmente o
nariz e a garganta. Essa é uma das doenças mais comuns que existem.
 Laringite: é uma inflamação da laringe que faz com que a sua voz
fique áspera ou rouca, causada principalmente por vírus.
 Faringite: é uma simples inflamação da faringe (região anatómica
que conecta a boca e o nariz à laringe e ao esófago), é o processo
inflamatório/infecioso mais frequente das vias respiratórias
superiores.
 Rinite: irritação e inflamação crónica ou aguda da mucosa que
reveste internamente o nariz. Pode ser causada tanto por vírus como
por bactérias, mas resulta com frequência em decorrência de alergia,
ou por reacções ao pó, fumaça.
 Sinusite: é uma inflamação (aguda ou crónica) dos seios paranasais.
Tal como a rinite, a sinusite está geralmente associada a um processo
infeccioso por vírus, bactérias ou fungos, mas pode resultar de alergia
ou inalação de poluentes.
 Otite média: é uma inflamação do ouvido médio (espaço cheio de ar
atrás do tímpano). As otites médias atacam principalmente as
crianças e são habitualmente causadas por bactérias, virus e fungos.
Infecções do tracto respiratório inferior (Winn & Koneman, 2006):
 Bronquite: inflamação dos brônquios, e são de dois tipos: aguda e
crónica. A bronquite aguda é geralmente causada por vírus ou
bactérias e dura entre dias e semanas. A bronquite crónica não é
necessariamente infecciosa, e geralmente apresenta duração
prolongada (até 2 anos).
 Bronquiolite: inflamação dos bronquíolos (uma das regiões mais
profundas das vias aéreas dos pulmões) e que, geralmente, é de
etiologia viral. É comum em crianças menores de 2 anos, e ocorre

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mais durante o inverno.


 Pneumonia: é inflamação de porções distais do pulmão,
comprometendo alvéolos (sacos microscópicos dos pulmões que
absorvem oxigénio). É das infecções mais graves do tracto
respiratório.
 Tuberculose: infecção bacteriana (Mycobacterium tuberculosis)
altamente contagiosa que afecta principalmente os pulmões.
Os procedimentos a seguir referem-se ao diagnóstico de faringites, pneumonias e tuberculose,
pois são os quadros clínicos frequentemente associados a infecções bacterianas.

3.1. Faringite

Os patógenos mais implicados na faringite são os vírus (90.0% em adultos e 70.0% em


crianças. Em Microbiologia quando o paciente se apresenta com um quadro característico de
faringite, procura-se identificar Streptococcus pyogenes (Streptococcus beta-hemolítico do
Grupo A) para reduzir o risco de febre reumática aguda. Os procedimentos que se seguem
abaixo estão relacionados com o isolamento e a identificação de SGA.
Amostra recomendada
- Zaragatoa da orofaringe em meio de transporte, encaminhada para o laboratório logo
depois da colheita (os atrasos não devem exceder 24 horas). Colher a primeira amostra
do dia antes da ingestão de alimentos.
Exame microbiológico
- A cultura da orofaringe é o exame padrão, segundo os procedimentos que se seguem:
Esfregar a zaragatoa sobre uma porção da placa e, em seguida, com uma ansa fazer
estrias em quatro quadrantes para obter colónias isoladas. Incubar as placas em 5% de
CO2 entre 24 e 48 horas.
- Depois da incubação examinar a placa de agar sangue, e procurar colónias beta-
hemolíticas (sugestivas de Streptococcus spp.). Identificar Streptococcus beta-
hemolíticos do grupo A usando provas disponíveis (sensibilidade a bacitracina, grupos
de Lancefield, teste de PYR (L-pyrrolidonyl-β-naphthylamide).

3.2. Pneumonia

As pneumonias são causadas por diferentes agentes, incluindo bactérias, vírus, fungos e
reações alérgicas. Lembre-se de proceder o diagnóstico diferencial para determinar a causa da

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pneumonia. Abaixo são apresentados procedimentos para isolamento e identificação dos


microrganismos cultiváveis.
Amostra (s) recomendada (s)
- A pneumonia resulta da instalação dos agentes etiológicos no espaço alveolar (espaço
onde ocorre a troca gasosa). A amostra recomendada para o isolamento de
microrganismos implicados é a expectoração (primeira amostra do dia). Quando
existente pode-se obter um aspirado alveolar (líquido pleural).
Exame microbiológico
- A cultura é o exame recomendado, visto que permite a detecção dos microrganismos
associados (apenas para os microrganismos cultiváveis). A coloração de Gram pode
ser usada para estabelecer a viabilidade da amostra para a cultura.
a) Coloração de Gram
i. Preparar um esfregaço (porção purulenta da amostra) e corar pelo método de
Gram.
ii. Observar ao microscópio, e quantificar todas as células, incluindo microrganismos
presentes.
iii. Registar os resultados e avaliar a qualidade da amostra para cultura (amostras sem
qualidade incluem saliva, amostras contaminadas com restos de alimentos).
 Amostra sem qualidade: presença de muitas células epiteliais
escamosas.
 Amostra com qualidade: raras células epitiliais escamosas.
ATENÇÃO
Caso a amostra não seja viável para cultura, rejeitar e solicitar uma nova
amostra. Indicar o motivo de rejeição e documentar a notificação.

b) Cultura
i. Com uma zaragatoa estéril, retirar uma porção purulenta da amostra e inocular em
placas de AS, CHOC e MAC.
ii. Fazer estrias em quatro quadrantes de maneiras a obter colónias isoladas.
iii. Caso tenha observado diplococos Gram positivos no Gram, colocar um disco de
optoquina no segundo quadrante da placa de agar sangue (isto auxilia na
identificação atempada de Streptococcus pneumoniae.

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iv. Incubar as placas em 5% CO2 a 35-37 °C por 24 a 48 horas, e examinar depois


desse período.
v. Isolar e identificar os microrganismos, e testar a sensibilidade destes aos
antibióticos.
ATENÇÃO Poderá isolar microrganismos da flora normal. Portanto, quando possível dar
prioridade aos microrganismos observados no esfregaço corado pelo Gram.
Patógenos primários incluem: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus
influenzae, Staphylococcus aureus e bacilos Gram negativos, como espécies de
Klebsiella (K. pneumoniae) ou Pseudomonas aeruginosa. Microrganismos da
flora normal do tracto respiratório não são reportados: Streptococcus do grupo
Viridans, leveduras, Staphylococcus coagulase negativa.

3.3. Tuberculose

A tuberculose é causada por Mycobacterium tuberculosis, um bacilo em álcool ácido


resistente. Em resposta as necessidade clínicas e epidemiológicas associadas a esta infecção
foram desenvolvidas diferentes técnicas de diagnóstico para detecção do agente.
Amostra recomendada
- As micobactérias podem ser detectadas a partir de diferentes amostras clínicas,
incluindo as amostras das vias respiratórias (expectoração, lavados brônquicos, lavado
broncoalveolar), urina, sangue, líquido cefalorraquidiano, biópsias de tecidos e
aspirados. A amostra mais utilizada é a primeira expectoração da manhã antes da
ingestão de alimentos.
LEMBRA-TE Colher três amostras em dias consecutivos (apenas uma amostra por dia).
Para prevenir a proliferação de contaminantes a amostra deve ser
processada o mais rápido possível.
- O diagnóstico laboratorial da tuberculose envolve microscopia (Baciloscopia) e cultura
da amostra. O procedimento mais comum para detecção de bacilo álcool resistente
(BAAR) sugestivo de Mycobacterium por microscopia (Baciloscopia) usando amostra
de expectoração é o método de Ziehl-Neelsen (ver descrição na Unidade 3).

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4. INFECÇÕES URINÁRIAS

A infecção urinária é um quadro infeccioso que pode ocorrer em qualquer parte do tracto
urinário. O tracto urinário é dividido em porção superior (rins, pelve renal e ureteres) e
porção inferior (bexiga urinária e uretra). As infecções urinárias são mais comuns na região
inferior, podendo ascender para as regiões superiores como resultado de complicações.
DEFINIÇÃO Uretrite: inflamação da uretra (canal que transporta a urina da bexiga para
fora do corpo). As uretrites podem ser divididas em dois grandes grupos:
gonocócicas (causadas por Neisseria gonorrhoeae) e não gonocócicas
(causadas por diferentes tipos de microrganismos). A complicação da uritrite
resulta em cistite (Winn & Koneman, 2006).
Cistite: inflamação da bexiga, frequentemente causada por infecção
bacteriana (Eschecrichia coli, Staphylococcus saprophyticus, etc.). A sua
complicação pode resultar em bacteremias ou pielonefrites (Winn &
Koneman, 2006).
Pielonefrite: designa a infecção do tracto urinário, que atinge a "pielo"
(pelve) do rim. Acomete quase todas as estruturas do rim e existe sob duas
formas: aguda (causada por uma infecção bacteriana) e crónica (infecções
bacterianas repetidas, associadas a um sistema imunitário debilitado) (Winn
& Koneman, 2006).
Amostra recomendada: O tracto urinário é geralmente um local estéril, isto é, livre de
microrganismos da flora normal. Uma excepção a isso é a uretra que suporta o crescimento
de uma flora normal. Para o diagnóstico de infecções urinárias é recomendado a colheita de
uma amostra de urina (jacto médio da primeira amostra da manhã). Ver procedimentos de
colheita de urina na Unidade 2.
Exame microbiológico: O processamento microbiológico de urina envolve dois exames: o
exame citoquímico e a urocultura (cultura de urina).
Exame citoquímico (Urina II)
 O exame citoquímico é um indicador útil do estado geral de saúde do paciente. Este
exame providencia informações sobre o metabolismo de carbohidratos do paciente,
função do renal e hepática, e equilíbrio de ácido-base.
 O exame citoquímico da urina compreende três etapas: (1) análise das características
físicas da urina (volume, cheiro, côr); (2) análise química para detecção de elementos

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anormais (frequentemente pelo uso da fita); (3) análise microscópica do sedimento


urinário.
Análise das características físicas da urina
i. Lavar as mãos e calçar luvas.
ii. Preparar o material e equipamento necessários.
iii. Obter a urina e registar a amostra. Se estiver refrigerada, deixe que esta alcance a
temperatura ambiente antes de testá-la.
iv. Observar a cor da urina e registar.
v. Notar o odor da urina. Se for anormal, registar.
vi. Observar e registar a transparencia da urina.
Interpretação
 Côr: a côr da urina normal é amarela (Figura 2). Esta, é atribuída ao seu pigmento
principal, urocromo. Mudanças podem dever-se à doenças, mas também à ingestão de
certos tipos de alimentos e drogas.
 Transparência (límpida, semi-turva, turva): a urina normal é límpida. Amostras
expostas a temperatura ambiente mais de uma ou duas horas podem tornar-se turvas
devido ao crescimento bacteriano ou precipitação de uratos ou fosfatos. Outras
possíveis causas são: cálculos renais, esperma.
 Odor: a urina normal tem odor não ofensivo. Quando anormal, apresenta um odor
ofensivo (ex: Amônia). Esta alteração pode dever-se à uma infecção urinária, ou a
presença de corpos de cetónicos como no caso de: Diabetes, diarréia, desnutrição,
ingestão de certos alimentos, ou a contaminação do recipiente de urina.
Análise química da urina (método da fita)
i. Misturar a urina suavemente rodando e, colocar aproximadamente 10 – 15ml em um
tubo de centrífuga (transparente e cônico) para análise do sedimento.
ii. Mergulhar a fita na urina humedecendo todos blocos (quadradinhos).
iii. Remover a fita imediatamente.
iv. Observar a mudança de côr, comparando com a tabela padrão (Figura 3). Registar os
resultados.
v. Descartar a fita conforme protocolo do laboratório.

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Interpretação:
a) Leucócitos: quando presentes na urina sugerem uma infecção urinária moderada. A
presença repetida de leucócitos indica a necessidade para outros testes como
culturas ou testes de sangue.
b) Nitritos: a presença de nitritos na urina deve-se a conversão de nitratos dos
alimentos como resultado da acção de enzimas bacterianas, muitas vezes associadas
à infecção do tracto urinário (bexiga ou uretra).
c) pH: a urina normal é ácida. Indivíduos que ingerem grandes quantidades de
proteínas produzem urina mais ácida que aqueles que ingerem principalmente frutas
e vegetais. O aumento da acidez da urina (baixo pH) pode também verificar-se em
casos de diabetes, febres, diarreia e desidratação. Urinas alcalinas (alto pH) podem
ser notadas em casos de inflamação crónica da bexiga, intoxicação por drogas (ex:
salicilatos).
d) Proteínas: a presença de proteínas na urina é designada proteinúria e é um
importante sinal de doença renal. Esta situação pode dever-se a um aumento da
permeabilidade da parede dos glomérulos. Porém, uma pequena quantidade de
proteínas, principalmente albumina, pode aparecer na urina em resposta a esforço
muscular excessivo, exposição ao frio, ou ingestão extra de proteínas com
alimentos.
e) Cetonas: as cetonas são designadas corpos cetónicos e incluem acetona, ácido
diacético e ácido beta-hidrobutírico e aparecem na urina normal de pacientes com

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dieta deficiente em carbo-hidratos. A presença de cetonas na urina chama-se


cetonúria e pode ocorrer em casos de diabetes não controladas hipertiroidismo,
desnutrição ou jejum prolongado.
f) Urobilinogénio: a presença de pequenas quantidades de urobilinogénio é normal,
pois é formado como produto de degradação da bilirubina pela acção de bactérias
intestinais. Quantidade aumentada de urobilinogénio na urina pode indicar dano do
tecido hepático, como ocorre em hepatites ou cirroses.
g) Bilirubina: é uma substância que é produzida pela degradação das células
vermelhas do sangue. A urina normal não apresenta bilirubina. Quando presente,
designa-se bilirubinuria e pode ocorrer em doença do fígado ou obstrução do ducto
biliar e associado à "icterícia". A presença de bilirubina na urina também pode
ocorrer em esclerose do fígado, cancro da cabeça do pâncreas.
h) Glucose: é o indicador chave do metabolismo de carbohidratos. A presença de
glicose na urina chama-se glicosúria, e está associada à diabetes melitus, ou doenças
renais que afectam a reabsorção tubular. Outras causas comuns de glicosúria são
excitação, hiper-actividade ou toxicidade da glândula tiroide, danificação do fígado,
choque e inflamação aguda do pâncreas.
i) Sangue: a presença de sangue na urina é um sinal de alerta de doença renal ou
cancro do tracto urinário. Normalmente poucos eritrócitos podem estar presentes na
urina. Porém, se mais de 8 ou 10 eritrócitos são observados num campo
microscópico, é considerado um achado anormal.
j) Hemoglobina: é o principal componente das células vermelhas do sangue que
carregam oxigénio dos pulmões para todas partes do corpo. A presença de
hemoglobina na urina indica a lise dos eritrócitos e é chamada hemoglobinúria.
k) Densidade: a densidade da urina depende da gravidade e do número de moléculas
dissolvidas na solução da amostra de urina. A densidade normal varia de 1.002 a
1.030. Urina diluída (densidade baixa) pode ocorrer em casos de doença renal,
enquanto urina concentrada (densidade alta) pode ocorrer em casos de diabetes,
diarreias e febres.
Análise do sedimento urinário
i. Centrifugar 10ml a 15ml de urina (aliquotados no procedimento acima) a 1500-2000
rpm por 5 minutos.
ii. Descartar o sobrenadante, deixando aproximadamente 0.5 ml da urina no tubo.
Resuspender o sedimento batendo suavemente o fundo do tubo.

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iii. Colocar uma gota da suspensão sobre uma lâmina microscópica limpa, e cobrir a
lâmina com lamela.
iv. Examinar a preparação ao microscópio, percorrendo entre 10 e 15 campos
microscópicos.
v. Identificar e quantificar todas as estruturas presentes, buscando a presença de
microrganismos, cristais, células epiteliais, células sanguíneas e cilindros (quando
presentes deve descrever o tipo de cilindro).
Interpretação:
 Microrganismos (Bactérias, protozoários e fungos): a presença de microrganismos
sugere existência de infecção do tracto urinário. Como para bactérias, a presença de
fungos no sedimento urinário podem indicar uma infecção. O fungo frequentemente
encontrado na urina é Candida sp. (uma levedura), e é comum em diabéticos. O
parasita mais frequente na urina é Trichomonas spp. Normalmente, provém de
secreções genitais contaminando a amostra. Contudo, deve ser mencionado dado ao
facto de terem sido reportados casos de colonização da bexiga e próstata por este
microrganismo.
 Células epiteliais: as células epiteliais são constantement descamadas do revestimento
interno do trato urinário. As células do epitélio vaginal e uretral aparecem grandes,
planas com núcleo distinto e citoplasma grande.
 Leucócitos: normalmente 0 a 5 por campo microscópico. Mais de 5 leucócitos
sugerem doença em alguma região do tracto urinário.
 Eritrócitos: normalmente não devem estar presentes na urina. Quando presentes
devem ser registados e reportados.
 Cristais: os cristais indicam risco de pedras nos rins, porém, muitas situações
benignas podem provocar formação de cristais. Atenção: a alcalinização e refrigeração
são promotoras de formação de cristais.
 Cilindros: resultam do acúmulo e precipitação de proteínas nos túbulos renais, e são
classificados conforme o material incluído neles. A presença de cilindros na urina pode
indicar doença renal.
ATENÇÃO Muitos objectos estranhos podem ser encontrados na urina causando confusão
na interpretação. Os mais comuns são fibras de Kleenex, algodão, talco ou
outro pó, e fragmentos de vidro.

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LEMBRA-TE Quando correctamente executada, embora simples, a urinálise é uma


ferramenta muito ponderosa para o manejo de pacientes admitidos no
hospital.
Urocultura
A cultura da urina permite o isolamento, identificação e caracterização do perfil de resitência
aos antibióticos das bactérias implicadas nas infecções urinárias. Para a cultura da urina
proceda conforme descrito abaixo:
a) Inoculação dos meios de cultura
 Agitar o frasco de urina suavemente para misturar bem o conteúdo.
 Com uma ansa calibrada (0.001ml) e estéril retirar a urina e inocular a placa
com meio de cultura (AS, MAC e/ou CLED).
 Criar uma linha vertical (canto superior para o inferior da placa, conforme a
posição do inóculo).
 Fazer estrias perpendiculares a esta linha vertical, e incubar a 37 ºC durante 24
horas.
 Examinar a placa para isolar colónias de potenciais agentes patogénicos. Caso
se trate de uma cultura mista (dois ou mais microrganismos), proceder a
subcultura para obter cultura pura (único microrganismo)
 Identificar o isolado conforme procedimentos disponíveis para o grupo de
microrganismo (Gram positivo ou Gram negativo).
 Testar a sensibilidade aos antibióticos de todos os patógenos, conforme
descrito na Unidade 3. Não identificar microrganismos conhecidos como
membros da flora normal do tracto uro-genital.
 Reportar como “Sem crescimento depois de 24 horas”, e reincubar as placas
por mais 24 horas.
b) Interpretação
 Determinar a contagem de colónias para cada morfotipo. Com a ansa calibrada
a 0.001ml (1 µl), uma colónia corresponde a 1,000 UFC/ml.
 Definição de infecção urinária (ITU)
- Mais de 100,000 UFC/ml de único microrganismo (cultura pura)
relevante.
- Se mais de dois microrganismos forem isolados, considerar
contaminação ou flora misturada.

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- Para amostras obtidas de ciurgia ou aspirado da bexiga reportar


qualquer número de potenciais patógenos.
- Reportar qualquer isolado de fungos.
- Bacilos Gram negativos relevantes para ITU incluem: Escherichia coli,
Proteus mirabilis, Klebsiella pnuemoniae, e Pseudomonas aeruginosa.
- Cocos Gram positivos relevantes para ITU incluem: Enterococccus
spp., Staphylococcus saprophyticus e GBS (Group B Streptococcus ou
Streptococcus agalactiae).

5. INFECÇÕES GENITAIS

As infecções genitais são categorizadas em: lesões cutâneas genitais, vaginites e vaginoses,
uretrites e cervicites, e infecções da pelve feminina (endometriose e doença inflamatória
pélvica). Neste capítulo dar-se-á mais ênfase aos procedimentos microbiológicos para
diagnóstico das vaginites, vaginoses, uretrites e cervicites.
DEFINIÇÃO Vaginite: inflamação dos tecidos da vagina resultante da infecção por
microrganismos ou da irritação por agentes não infecciosos (Winn &
Koneman, 2006).
Vaginose: inflamação crónica da mucosa vaginal (parede interna do órgão),
geralmente causada pelo desiquilíbrio da flora normal da vagina (Winn &
Koneman, 2006).
Uretrite: ver a secção das infecções urinárias. Uretrite gonocócica: infecção
genital causada por Nesseria gonorrheae (Winn & Koneman, 2006).
Cervicite: inflamação do colo do útero resultante da infecção de uma
variedade de microrganismos (Winn & Koneman, 2006).

5.1. Vaginites e vaginoses

A vaginite é causada por um número limitado de agentes infecciosos, e por irritantes não
infecciosos. A doença geralmente envolve a inflamação simultânea da vulva (vulvovaginite).
Cerca de 50% das vaginites não tem uma etiologia específica, podendo estar implicados
Trichomonas vaginalis (com produção de uma secreção amarela ou amarela-esverdeada) e/ou
Candida albicans (com produção de uma secreção espessa e tipo coalho, e com uma mucosa
eritematosa).

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A vaginose bacteriana é também conhecida como uma proliferação maciça, e sinergética de


Gardnerella vaginallis com bactérias anaeróbicas dos géneros Peptococcus, Bacteroides,
Mobiluncus. Esta proliferação gera uma secreção vaginal mal-cheirosa.
ATENÇÃO
As vaginites e as vaginoses são infecções genitais transmitidas por meios não
sexuais.

Amostra recomendada
 Zaragatoa da secreção vaginal em meio de transporte adequado. Pode ser refrigerada
caso sejam atrasos previstos.
Exame Microbiológico
 O método mais rápido e barato para o diagnóstico de infecções vaginais é o exame a
fresco das secreções vaginais. Com este exame é possível detectar leveduras (Candida
spp.), Trichomonas vaginalis e células indicadoras de vaginose bacteriana. Por outro
lado, a vaginose bacteriana pode ser detectada por microscopia pelo Gram, sendo que a
cultura não é util para detecção da vaginose bacteriana.
a) Preparação a fresco para Trichomona vaginalis
 Mergulhar a zaragatoa com secreção vaginal num tubo com 0,5 ml de soro
fisiológico.
 Colocar uma gota deste líquido numa lâmina de vidro, e cobrir com lamêla.
 Examinar ao microscópio (objectiva de 40x) para presença de T. vaginalis e
outras células.
b) Coloração de Gram para Vaginose bacteriana (VB)
 Preparar o esfregaço rolando a zaragatoa sobre uma lâmina microscópica
limpa, deixar secar, fixar e corar conforme descrito na Unidade 3.
 Examinar o esfregaço e detectar a presença de leveduras, leucócitos
polimorfonucleares, e procurar evidências de vaginose bacteriana.Critérios de
Nugent para detecção de vaginose bacteriana: examinar pelo menos 30
campos microscópicos (usar objectiva de imersão) e observar a presença de:
- Lactobacillus spp. – bacilos grandes Gram positivos.
- Gardnerella spp. – bacilos pequenos Gram variáveis.
- Mobiluncus spp. – bacilos curvos Gram variáveis.

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 Quantificar os morfotipos conforme a tabela abaixo:


Pontuação
Número por campo
Lactobacillus spp. Gardnerella spp. Mobiluncus spp.
0 4 0 0
1+ 3 1 1
2+ 2 2 2
3+ 1 3 3
4+ 0 4 4
 Calcular a pontuação final pela adição dos pontos de cada um dos três
morfotipos:
o Vaginose bacteriana
 0–3 = Normal, reportar como “sem evidência de vaginose
bacteriana”.
 4–6 = Intermédia, reportar como “Gram mostrou alteração da flora
vaginal, não consistente com vaginose bacteriana”.
 7–10 = Confirmada, reportar como “Gram mostrou alteração da flora
vaginal, consistente com a vaginose bacteriana”.
o Reportar outros patógenos observados: leveduras ou Trichomonas vaginalis.
o Esfregaços negativos para os morfotipos acima: “sem evidência de vaginose
bacteriana; leveduras e Trichomonas vaginalis ausentes”.
LEMBRA-TE
Sempre que tiver que fazer culturas e esfregaços em lâmina, comece por
inocular os meios de cultura e só depois prepare os esfregaços.

5.2. Uretrites e cervicites

A maioria dos quadros de uretrite e cervicite estão associados a infecção por Chlamydia
trachomatis. Outros agentes implicados com estas infecções incluem Neisseria gonorrhoeae,
vírus herpes simples tipo 2, papiloma vírus humano.
ATENÇÃO As uretrites e as cervicites são infecções genitais transmitidas por meios
sexuais. As uretrites ocorrem em homens e mulheres, enquanto as cervicites
ocorrem exclusivamente em mulheres.
Amostra recomendada
 Zaragatoa uretral ou cervical para isolamento de N. gonorrhoeae em meio de
transporte adequado.

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Exame microbiológico
 O enfoque básico para o diagnóstico da uretrite gonocócica é a coloração de Gram
para a pesquisa de diplococos Gram negativos intracelulares. Todavia, nas mulheres
este exame não é suficiente para estabelecer o diagnóstico laboratorial, devido as
limitações do exame na diferenciação de N. gonorrhoeae com membros da flora
vaginal que possuem morfologia similar. O diagnóstico final requer o isolamento do
agente etiológico através de cultura. Para detecção de C. trachomatis são usadas
provas moleculares.
a) Cultura de secreção uretral ou cervical
i. Usar a zaragatoa para inocular as placas com meios de cultura (AS, CHOC,
Thayer Martin (TM). Fazer estrias em quatro qudrantes da placa com os meios de
cultura,
ii. Incubar as placas em condições de baixa concetração de oxigênio, a 37 o C durante
24 horas.
 Incubar as placas de AS por 48 horas.
 Incubar as placas de CHOC e TM por 72 horas para detectar N. gonorrhoeae.
iii. Reincubar as placas negativas por mais 24 horas.
iv. Usar provas padronizadas e disponíveis para identificar potenciais patógenos.
 N. gonorrhoeae
 S. pyogenes (Grupo A Streptococcus)
 Streptococcus Grupo B e Listeria monocytogenes em mulheres grávidas.
 Candida spp.
 T. vaginalis.
Reporte de resultados
 Reportar todos os isolados relevantes (ver lista acima).
 Quando procurar um patógeno específico e não detectar, reportar como negativo para
este agente.
EXEMPLO
Cultura negativa para Neisseria gonorrhoeae depois de 72 horas de incubação.

 Se não isolar nenhum patógeno, mas ocorrer a presença de membros da flora normal,
em mulheres reportar como “flora normal genital presente”, e em homens “flora
normal da pele presente”.

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ATENÇÃO
Notificar (telefonar) o clínico para resultados positivos de Neisseria
gonorrhoeae.

6. INFECÇÕES GASTROINTESTINAIS

As infecções gastrointestinais caracterizadas por diferentes quadros clínicos (esofagite,


gastrite, gastroenterite e proctite), e uma variedade de agentes etiológicos (bactérias, vírus,
protozoários). Esta secção foca-se no diagnóstico de gastroenterites.
DEFINIÇÃO Gastroenterite: inflamação do tracto gastrointestinal que afecta o estômago
("gastro"-) e o intestino delgado ("entero"-). Abrangem uma ampla
variedade de sintomas (diarreia, vómitos e cólicas abdominais), e agentes
etiológicos (bactérias, vírus, protozoários), sendo por isso essencial a
diferenciação dos agentes para o estabelecimento da causa (Winn &
Koneman, 2006).

O sintoma mais comum que se apresenta nas gastroenterites é a diarreia. A diarreia pode ser
causada por virus, protozoários, bactérias. Os agentes bacterianos mais comuns são
Salmonella spp., Shigella spp., V.cholerae, Campylobacter spp., enterotoxogenic E. coli,
Aeromonas spp., Plesiomonas shigelloides.
Amostra recomendada
 Fezes ou zaragatoas rectais transportadas dentro de 2 horas depois da colheita. Caso
atrasos sejam previstos, refrigerar a amostra ou colocar em meio de transporte (Cary-
Blair).
Exame microbiológico
 O exame de fezes inclui cultura (coprocultura) em meios selectivos e de
enriquecimento, isolamento e identificação (série bioquímica, seroaglutinação e
imunofluorescência).
a) Inoculação primária e subculturas
i. Semear placas de MAC, XLD, TCBS, CAMPY e caldos enriquecedores Selenito
F (SEL F) e água peptonada alcalina (APA).
ii. Incubar os meios como descrito abaixo:
 MAC, XLD, e TCBS a 37 oC durante 24 horas.
 Caldo de SEL F a 37 oC durante 24 horas com a tampa pouco apertada.

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 APA 37 oC durante 6 a 8 horas com a tampa pouco apertada.


 CAMPY 42 oC durante 48 horas em condições de microaerofilia.
iii. Subcultivar APA em TCBS (depois de 6 a 8 horas), e incubar 37 oC durante 24
horas.
iv. Subcultivar SEL F em XLD, e incubar 37 oC durante 24 horas.
b) Leitura das placas
 Depois do período de incubação examinar as placas primárias, conforme
descrito abaixo:
 MAC: seleccionar colónias incolores (não fermentadores de lactose), e
inocular em meios bioquímicos disponíveis (KIA, Citrato de Simons,
SIM, Urea). Incubar a 37 oC durante 24 horas.
 XLD: seleccionar colónias vermelhas com ou sem pontos pretos no
centro, e inocular em meios bioquímicos disponíveis. Incubar a 37 oC
durante 24 horas.
 TCBS: seleccionar colónias amarelas (fermentador de sacarose) e
inocular meios bioquímicos disponíveis. Incubar a 37 oC durante 24
horas.
 CAMPY: Seleccionar colónias cinzentas ou incolores, fazer os testes de
Gram e oxidase. Reincubar por mais 24 horas se for negativa.
c) Interpretação
 Para identificação de Salmonella, Shigella, e Vibrio, veja a tabela de reacções
bioquímicas. Confirme a identificação com antisoros.
 As espécies de Campylobacter são bacilos Gram negativos com forma de S,
oxidase positivas. (Para este caso, usar 0.1% fucsina básica como contraste,
pois estes bacilos são dificilmente observados quando a safranina é usada
como contraste).
d) Reporte dos resultados
 Para culturas negativas reportar como “Não foram isolados Salmonella,
Shigella, Campylobacter, V. cholerae”
 Para culturas positivas indicar o género/espécie e o serotipo isolado:
EXEMPLO
- Isolado Vibrio cholerae O1 Ogawa.
- Isolado Campylobacter spp. ou Campylobacter jejuni.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

RESUMO
O diagnóstico de doenças infecciosas é frequentemente iniciado pela obtenção do historial
clínico do paciente, e condução do exame físico (anamnese). Nesta unidade foi abordado o
diagnóstico laboratorial por cada grupo de infecção, ou seja, pelos sistemas afectados tendo
como enfoque as amostras recomendadas para exames microbiológicos, os tipos de exame e
os procedimentos para o estabelecimento do diagnóstico definitivo.
Ênfase foi dada para as infecções sistémicas, urinárias, meningites, respiratórias, genitais e
gastrointestinais. Note-se que diferentes microrganismos podem estar implicados num mesmo
quadro clínico, levantando assim a necessidade da diferenciação através de procedimentos
microbiológicos. Os procedimentos para o isolamento e identificação dos microrganismos
variam em função do grupo (Gram postivos vs. Gram negativos).

ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Identificação de procedimentos laboratoriais para


ACTIVIDADE E-A nº 1
processamento de amostras
Duração 2 horas
Objectivos
- Seleccionar meios e procedimentos para o processamento da amostra;
Conteúdos de referência
- Diagnóstico laboratorial por sistemas
- Informação clínica: um menino de 8 anos com febre, diarreia, náusea e dor abdominal
foi observado por um clínico, que imediatamente enviou uma amostra de fezes
solicitando a sua análise.
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
- Considerando a informação clínica, cada grupo faz uma reflexão sobre os: (a)
possíveis agentes etiológicos; (b) procedimentos para a análise microbiológica da
amostra de fezes (isolamento e ideintificação);
- Elabora um relatório mencionando alistando os microrganismos mais prováveis, e os
procedimentos para o processamento da amostra de fezes (isolamento e identificação
final do microrganismo em causa).
Papel do docente no desenvolvimento da actividade

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

- Prepara e fornece o roteiro da aula com uma semana antes das sessões;
- Organiza o material necessário para a actividade;
- Orienta os alunos para a realização da tarefa (apresenta os objectivos);
- Prepara e fornece aos grupos o modelo do relatório a ser usado para apresentação dos
resultados da actividade;
- Acompanha os grupos durante a execução do trabalho, e regista as dificuldades
encaradas por cada membro do grupo. Esclarece as dúvidas existentes;
- Avalia os relatórios apresentados pelos grupos e providencia uma retroinformação.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Quadro/Giz/marcadores;
- Modelo de relatório.
Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega o relatório;
- Cada grupo deve ser capaz de identificar e descrever no mínimo 80% dos elementos
essenciais do caso (microrganismos mais prováveis e os procedimentos
microbiológicos);

ACTIVIDADE E-A nº 2 Identificação de agente patogénico


Duração 6 horas
Objectivos
- Identificar agente patogénico associado a um caso clínico
Conteúdos de referência
- Diagnóstico laboratorial de infecções por sistemas
- Informação clínica: uma mulher de 22 anos apresentou-se numa unidade sanitária
com as seguintes queixas: urgência para urinar e sensação de ardor ao urinar. Afirmou
ser sexualmente activa e com múltiplos parceiros.
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
- Considerando a informação clínica apresenta um fluxo de processamento da amostra
mais indicada, e identifica o microrganismo (presente na amostra simulada pelo
professor);
- Cada grupo faz uma reflexão sobre (a) os tipos de amostras mais indicadas para o
exame microbiológico; (b) os possíveis agentes etiológicos; (c) procedimentos para o
isolamento e identificação do(s) agente(s);

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

- Identifica a amostra mais representativa do processo infeccioso em causa (reflectindo


sobre a região anatómica afectada), e elabora um plano resumido do processamento
tomando em conta os meios de cultura para para o isolamento, e as provas para
identificação do microrganismo;
- Elabora um relatório mencionando o tipo de amostra, os procedimentos de
identificação preliminar, e os procedimentos para identificação final do
microrganismo, e identifica o microrganismo (género ou espécie) em causa.
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
- Prepara e fornece o roteiro da aula com uma semana antes das sessões;
- Organiza o material necessário para a actividade (amostra simulada e todos os
reagentes necessários);
- Orienta os alunos para a realização da tarefa (apresenta os objectivos);
- Disponibiliza todo o material da actividade para os grupos procederem a selecção;
Auxilia os grupos a seleccionar o material necessário, caso tenham dificuldades; e
regista o grau de dificuldade dos alunos na selecção do material;
- Prepara e fornece aos grupos a folha do laudo (relatório) do laboratório, indicando
todos os parâmetros a serem analisados;
- Acompanha os grupos durante a execução do trabalho de laboratório, e regista as
dificuldades encaradas por cada membro do grupo. Esclarece as dúvidas existentes;
- Avalia os relatórios apresentados pelos grupos e providencia uma retroinformação.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Laboratório;
- Quadro/Giz/marcadores;
- Amostra biológica (amostra simulada)
- Culturas padrão (microrganismos ATCC, se tiver)
- Meios de cultura (a serem seleccionados pelos alunos em função da interpretação da
informação clínica: agar sangue, agar MacConkey, agar CLED, agar chocolate, agar
Mueller-Hinton);
- Provas bioquímicas (a serem seleccionados pelos alunos em função da interpretação
da informação clínica: Gram, catalase, coagulase, oxidase, indol, série bioquímica
curta);
- Provas sorológicas (se aplicável segundo a decisão dos alunos);
- Ansas descartáveis/platina

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- Zaragatoas
- Agulhas de inoculação
- Folha de registo dos resultados (preliminar)
- Modelo de relatório final
Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega o relatório;
- Cada grupo deve ser capaz de identificar e descrever: (a) o tipo de amostra em 100%;
(b) os procedimentos para identificação preliminar em 100%; (c) os procedimentos
para identificação final, mínimo de 80%; (d) o microrganismo em causa, mencionando
o género ou a espécie (obter 100%).

CASO PRÁTICO

Caso prático
Título
Utilização de métodos de diagnóstico
Descrição
Você recebeu duas amostras: (a) pús de um abcesso num ponto de sutura, (b) expectoração.
Em ambos os casos os clínicos solicitaram um diagnóstico presuntivo pelo método de Gram,
e você tem a tarefa de assessorar aos solicitantes sobre a utilidade do relatório de Gram para
cada uma das amostras recebidas.
Em qual das amostras o resultado de Gram seria mais útil para a conduta clínica?
Actividades que devem ser desenvolvidas pelos grupos
Actividade 1: Com o caso, faz uma reflexão sobre os: (1) a aplicação do método de Gram
considerando o tipo e a origem da amostra biológica; (2) utilidade clínica do resultado de
Gram.
Actividade 2: Elabora uma listagem de argumentos técnicos para a decisão tomada sobre a
utilidade do resultado de Gram para a conduta clínica.
Actividades a serem desenvolvidas pelos estudantes
- Identifica os elementos do caso;
- Pesquisa e analisa informação relevante;
- Faz levantamento de todos os critérios da aplicabilidade da coloração de Gram;
- Elabora uma listagem de argumentos técnicos para a solicitação do Gram;

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- Faz a apresentação do trabalho do grupo.


Actividades a serem desenvolvidas pelo professor
- Forma e orienta os grupos, fornecendo referências bibliográficas e outros materiais de
auxílio da actividade. Para esta sessão sugere-se a formação de grupos com um
máximo de seis membros/estudantes.
- Explica os procedimentos da actividade;
- Acompanha as actividades do grupo, e promove discussões de consertação;
- Analisa e sumarisa os pontos apresentados;
Recursos necessários
- Papel gigante
- Computador/projector/quadro/marcadores/giz
- Livros e artigos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bibliografia
1. Cowan, M. K. (2012). Microbiology: a systems approach. 3rd ed. McGraw-Hill, New
York.
2. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods.—22nd ed. /
[edited by] Richard A. McPherson, Matthew R. Pincus (2011). Elsevier.
3. Jawetz, E., J. L. Melink, A. E. Adelberg, G. F. Brooks, J. S. Butel e A. S. Morse
(2000). Microbiologia Médica. 21ª edição, 518pp. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.
4. Lima, A. O., J. B. Soares, J. B. Greco, J. Galizzi e J. R. Cançado (1992). Métodos de
Laboratório Aplicados à Clínica: Técnica e Interpretação. 7ª edição. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan.
5. Marshall, Jacquelyn R. (1995). Microbiologia: Manual de Laboratório Clínico.
161pp. São Paulo, Livraria Santos.
6. Murray, P. R., K. S. Rosenthal, G. S. Kobayashi e M. A. Pfaller (2004).
Microbiologia Médica. 4ª edição, 762pp. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.
7. Ravel, Richard (1997). Laboratório Clínico: Aplicações Clínicas dos Dados
Laboratoriais. 6ª edição, 616pp. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.
8. Walters, N. J., B. H. Estridge e A. P. R. Reynolds (1997). Laboratório Clínico:
Técnicas Básicas. 3ª edição, 482pp. Porto Alegre, ARTMED.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

9. WHO (2003). Manual of Basic Techniques for a Health Laboratory. Second edition.
Geneva.
10. Winn, W. C., & Koneman, E. W. (2006). Koneman's color atlas and textbook of
diagnostic microbiology. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

SITES CONSULTADOS

1. Garcia, L. S., & Isenberg, H. D. (2010). Clinical Microbiology Procedures Handbook.


http://www.asmscience.org/content/book/10.1128/9781555817435.

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UNIDADE DIDÁCTICA 5

GARANTIA DE QUALIDADE EM MICROBIOLOGIA

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ÍNDICE

GARANTIA DE QUALIDADE EM MICROBIOLOGIA__________________________ 134


OBJECTIVO GERAL _____________________________________________________ 136
Resultados de aprendizagem da unidade didáctica ______________________________ 136
INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 137
1. GARANTIA DE QUALIDADE __________________________________________ 137
2. CONTROLO DE QUALIDADE__________________________________________ 137
3. PARÂMETROS DE QUALIDADE NO PROCESSO TOTAL DE TESTAGEM EM
MICROBIOLOGIA _______________________________________________________ 138
3.1. Parâmetros de qualidade na fase pré-analítica ____________________________ 139
3.2. Parâmetros de qualidade na fase analítica _______________________________ 140
3.3. Parâmetros de qualidade na fase pós-analítica ____________________________ 144
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD5 _______________________ 146
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD5 _______________________________________ 148
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________________ 149

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OBJECTIVO GERAL
Garantir a qualidade dos resultados de exames microbiológicos realizados para obter
resultados fiáveis e precisos que auxiliem no diagnóstico, tratamento e seguimento do doente,
segundo as normas estabelecidas e/ou POPs.

Resultados de aprendizagem da unidade didáctica

No fim desta unidade o estudante deve ser capaz de:


- Avaliar a integridade física das amostras antes do seu processamento;
- Testar as amostras de controlo interno e externo de qualidade.
- Notificar os desvios registados que estejam fora da normalidade.
- Implementar acções correctivas segundo os desvios registados e as recomendações
fornecidas.
- Explicar a importância de confrontar os resultados das análises com a informação
clínica.

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INTRODUÇÃO

A garantia de qualidade (GQ) é o processo total em que a qualidade de relatórios de um


laboratório de microbiologia pode ser validada. Cada laboratório deve estar munido de
políticas, normas e procedimentos que permitam o monitoramento regular de suas
actividades, seus materiais e equipamentos. Estes regulamentos devem estar relacionados
com as três fases do processo total de testagem (pré-analítica, analítica e pós-analítica), e
documentados nos Procedimentos Operacionais Padronizados (POP). Nesta unidade serão
discutidos os parâmetros de qualidade em laboratórios de Microbiologia (colheita e transporte
de amostra, desempenho de equipamentos e instrumentos, meios de cultura, reagentes e
suplementos, funcionários, controlo de qualidade, manual de laboratório). A mesma está
dividida em três grandes capítulos, a citar:
- O capítulo 1 aborda de forma geral a garantia de qualidade no laboratório de
microbiologia.
- O capítulo 2 centra-se nos elementos relacionados com o controlo de qualidade.
- E por fim, o terceiro capítulo reserva-se a discussão dos parâmetros de qualidade no
processo total de testagem em Microbiologia.

1. GARANTIA DE QUALIDADE

O trabalho do laboratório de Microbiologia é essencial para o diagnóstico, tratamento, a


vigilância de doenças infecciosas, e selecção e utilização de agentes antimicrobianos. Por
isso, é de suma importância que os resultados sejam confiáveis, atempados e sobretudo
válidos (interpretados correctamente).
DEFINIÇÃO De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1994) o coneceito
de garantia de qualidade resume-se nos seguintes termos: resultado certo,
no tempo certo, sobre a amostra representativa, do paciente certo, com
interpretação baseada em referência padronizada, e ao preço certo.

2. CONTROLO DE QUALIDADE

O controlo da qualidade (CQ) abrange todas as fases do processo de testagem de um


laboratório de microbiologia, destacando-se aquelas que estão directamente ligadas com o
produto oferecido ao cliente (paciente). As técnicas do CQ centram-se na prevenção de erros

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para garantir o produto final válido e confiável. Todos os materiais, reagentes, equipamentos
e procedimentos devem ser adequadamente controlados.
DEFINIÇÃO Componente da garantia de qualidade que se centra primariamente no
controlo de erros do desempenho das técnicas de diagnóstico, e verificação
dos resultados. O CQ deve ser prático, viável e acessível (WHO, 1994).

3. PARÂMETROS DE QUALIDADE NO PROCESSO TOTAL DE


TESTAGEM EM MICROBIOLOGIA

A qualidade não deve se restrinigr aos procedimentos analíticos, mas relacionada com todas
as fases do processo total de testagem no laboratório. Assim, a qualidade é garantida através
da detecção, registo e prevenção de erros nas três fases (pré-analítica, analítica e pós-
analítica). Em todas as fases, um dos procedimentos mais importantes para as actividades
rotineiras dum laboratório de microbiologia é um manual actualizado de procedimentos ou
procedimento operacional padrão (POP). A Tabela 1 resume os principais elementos de
qualidade em laboratórios de Microbiologia.

Tabela 1: Parâmetros do Controlo de Qualidade em Microbiologia


Fase Parâmetros
Pré-analítica (descreve todos os elementos Manual de Laboratório
(manual de
relacionados com o funcionamento do procedimentos).
laboratório, a requisição dos exames, e Requisição de exames.
obtenção de amostras biológicas). Colheita e transporte de amostras.
Analítica (descreve todos os elementos Desempenho dos equipamentos e
relacionados com a testagem das amostras). instrumentos.
Meios de cultura adquiridos de fabricantes
externos.
Meios de cultura locais (preparados no
laboratório).
Reagentes e suplementos.
Funcionários.
Registro de CQ.
Pós-analítica (descreve todos os elementos Registro da entrega dos resultados.
relacionados com a entrega dos resultados). Registo do tempo de resposta.

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3.1. Parâmetros de qualidade na fase pré-analítica

Os parâmetros da fase pré-analítica centram-se na selecção e uso apropriado de


procedimentos microbiológicos, preenchimento adequado de requisições de exames, colheita
e transporte de amostras.
a) Manual de laboratório
O manual do laboratório deve apresentar em detalhes as normas e políticas do laboratório.
Este documento tem por objectivo descrever as actividades do laboratório, o funcionamento e
o fluxo de amostras biológicas desde a entrada até a liberação do relatório (resultado) dos
exames. Este documento deve espelhar com clareza todos os procedimentos operacionais do
laboratório, e estabelecer prioridades em situações de escassez de recursos.
LEMBRA-TE Quanto menos recursos, mais importante é o estabelcimento de prioridades
baseadas em necessidades clínicas. Por isso, normas claras devem ser
providenciadas (disponibilizadas nas áreas de trabalho) para a utilização e
valorização de procedimentos microbiológicos.
b) Requisição de exames
A requisição do exame microbiológico deve conter detalhes sobre o paciente (nome, idade,
sexo, ocupação, número de identificação, enfermaria ou serviço), tipo e origem da amostra,
data e hora da colheita, informação clínica (suspeita clínica, início do tratamento, local de
início de tratamento), exame (s) solicitado (s), detalhes do solicitante (nome e contacto).
c) Colheita e transporte de amostras
É importante lembrar que a qualidade dum resultado microbiológico é dependente da
qualidade da amostra submetida (tendo em conta os parâmetros discutidos na Unidade 2) e
da informação fornecida ao laboratório (ver o ponto sobre a requisição dos exames). O
laboratório deve providenciar instruções claras a todos os envolvidos (dentro e fora do
laboratório) no processo de obtenção e envio de amostras de forma a garantir a qualidade
desejada. Tais instruções devem incluir a requisição de exames, colheita, conservação, e o
trasporte das amostras.
d) Verificação da amostra
Quando a amostra dá entrada no laboratório deve ser avaliada para verificar a sua qualidade.
Elementos importantes nesta tarefa incluem a verificação: do tipo de amostra conforme a
solicitação (requisição); da quantidade da amostra conforme o exame solicitado; do tempo
entre a colheita e a chegada ao laboratório; das condições de conservação durante o envio. O

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laboratório deve ter procedimentos claros de aceitação e rejeição de amostras conforme o tipo
de exame solicitado.
EXEMPLO
As amostras não apropriadas para exames microbiológicos incluem:
Zaragatoa rectal seca, saliva, zaragatoa ocular seca, amostras derramadas.

Depois de validar a amostra para a submissão aos procedimentos laboratoriais, deve-se ter
atenção de priorizar as amostras associadas a exames de urgência (é reccomendado anotar na
requisição o comentário “exame urgente”).

EXEMPLO Urgência devido a natureza do quadro clínico (líquido cefalorraquidiano


(LCR), hemocultura, fezes com sangue e muco).
Urgência devido a condição da amostra (urina, zaragatoas fora do meio de
transporte).

3.2. Parâmetros de qualidade na fase analítica

a) Desempenho dos equipamentos e instrumentos


Todos os equipamentos e instrumentos usados para testes devem ser calibrados antes da sua
disponibilização e em intervalos regulares. Os recipientes
das amostras devem ser inspecionados regularmente,
especialmente as tampas de garrafas, tubos e frascos
escapes ou folgas. Em todos os laboratórios de
microbiologia, é importante que para cada equipamento
ou instrumento exista um programa de manutenção
preventiva para assegurar o seu funcionamento adequado.
- Os equipamentos devem ser controlados em
intervalos de tempo regulares definidos pelo laboratório.
- As peças devem ser trocadas após um período específico de uso, mesmo que não
pareçam alteradas.
- A manutenção pode ser executada tanto pelo fabricante como pelo sector de
manutenção do laboratório.
- Os trabalhadores do laboratório devem realizar e registrar todos os controlos
conforme estabelecido no manual do laboratório.

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- As temperaturas dos equipamentos devem ser medidas diariamente usando


termômetros calibrados.
- Qualquer leitura que resulte em valores fora dos limites de tolerância definidos, deve-
se determinar a causa e corrigir o problema.
Tabela 2: Procedimentos de manutenção de alguns equipamentos de laboratório.
Limites de
Equipamento Procedimento Intervalo
tolerância
Geleiras Registo de temperatura Diário ou contínuo 2 ºC a 8 ºC
Congeladores Registo de temperatura Diário ou contínuo -8 ºC a -20 ºC
-60 ºC a -75 ºC
Estufas Registo de temperatura Diário ou contínuo 35 ºC ± 2 ºC
Estufas CO2 Medida do conteúdo de CO2 Diário ou duas 5% a 10%
vezes ao dia
Banho–maria Registo de temperatura Diário 36 oC a 38 oC
55 oC a 57 oC
Autoclaves Testes com tiras de esporos Semanal Não crescimento
(Bacillus stearothermophilus) do esporo.
Medidor de pH Testes com soluções para calibrar A cada uso ± 0,1 unidade de
Ph pH do padrão
em uso.
Jarras de Tira indicadora com azul-de- A cada uso Conversão da
anaerobiose metileno tira de azul para
branco indica
baixa tensão de
CO2.
Rotador de Contagem de rpm A cada uso 180 ± 10 rpm.
sorologia
Centrífugas Controlar revoluções com Mensal Dentro de 5%
tacômetro do estabelecido
no indicador.
Cabines de Medir a velocidade do ar através Semestral ou Fluxo de 1,52m
segurança da abertura para o rosto trimestral de fluxo de
ar/minuto ±
0,152m/minuto.

b) Reagentes e suplementos
Todos os reagentes e suplementos devem ser claramente identificados, incluindo as datas de
recepção e abertura, e armazenados conforme as recomendações do fabricante. O laboratório
deve ter um mecanismo de controlo regular (documentado) da qualidade dos reagentes.

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EXEMPLO Em intervalos regulares, e quando novos reagentes (corantes) são


preparados, deve-se corar um esfregaço controlo. Para a coloração de Ziehl-
Neelsen o esfregaço deve conter uma carga pequena a moderada de bacilos
álcool-ácido-resistentes (BAAR). Para o caso da coloração de Gram, pode-
se usar uma cultura de estafilococos e Escherichia coli para preparar o
esfregaço.

LEMBRA-TE
Todos os reagentes não devem ser usados depois do prazo de validade, ou
quando estes mostram sinais de deterioração (côr e turvação anormais).

c) Meios de cultura
Para os meios de cultura, o nível de controlo depende do tipo do meio. O laboratório de
microbiologia deve estabelecer um plano de controlo da qualidade dos meios de cultura,
incluindo registro de todos os resultados. Para todos os meios deve-se avaliar os seguintes
parâmetros: pH, Esterilidade, Suporte de crescimento e Reacções bioquímicas.
pH
- Verificar o pH do meio depois de arrefecer, e descartar se o pH estiver fora do
intervalo recomendado.
Esterilidade
- Incubar pelo menos 5% de placas e tubos preparados de cada lote por 24h a
37ºC para verificar a esterilidade do meio. Qualquer crescimento observado
anula a utilização do lote.
Suporte de crescimento
- Usar uma estirpe (estirpes de referência ou isolados da rotina) para analisar a
capacidade do meio suportar crescimento do patógeno desejado. Também
observar se a estirpe produz reacções bioquímicas esperadas no meio em
causa.
Reacções bioquímicas
- Usar uma estirpe positiva e uma negativa para verificar a capacidade do meio
diferenciar os organismos.

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Tabela 3: Suporte de crescimento e reacções em meios de cultura (alguns exemplos)


Meio de cultura Microrganismo Reacções
Agar sangue Streptococcus Grupo A Bom crescimento (beta-hemólise).
Bom crescimento (alfa-hemólise).
Streptococcus pneumoniae
Agar chocolate Haemophilus influenzae Bom crescimento.
Neisseria gonorrhoeae
Agar MacConkey Escherichia coli Colónias rosas (fermentadoras de
lactose).
Proteus mirabilis Colónias incolores (não
fermentadoras de lactose).
Espécies de Enterococcus Sem crescimento.
Agar XLD Espécies de Salmonella Colónias vermelhas (lisina
positivas).
Escherichia coli Colónias amarelas (positiva para
açúcares).
Espécies de Shigella Colónias incolores/transparentes
(lisina negativas).
Agar Salmonella- Salmonella typhimurium Colónias incolores, centro preto.
Shigella
Agar TCBS Vibrio cholera Colónias grandes e amarelas.
Vibrio parahaemolyticus Colónias com centro azul a verde.
Inibição parcial. Quando crescem as
Proteus/Enterococcus colónias são pequenas, amarelas a
translucidas.
Agar Citrato de Klebsiella pneumoniae Crescimento ou cor azul (positivo).
Simons Sem crescimento, permanece verde
Escherichia coli (negativo).
Indol Escherichia coli Cor vermelha/rosa (positivo).
Klebsiella pneumoniae Ausência de cor vermelha/rosa
(negativo).

d) Funcionários
O laboratório deve ter um programa de educação contínua
regular, funcional e efectivo. Todos os técnicos do
laboratório, com particular ênfase para os de bancada
devem ser encorajados e estimulados a participarem com
frequência em treinos, seminários e simpósios locais,
regionais e nacionais. Diariamente, antes da liberação dos

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resultados cabe ao responsável do sector verificar e validar os resultados tendo em conta a


precisão e a concordância com os padrões de controlo de qualidade.
O laboratório deve avaliar a capacidade técnica de todos os profissionais envolvidos em
actividades de rotina através de ensaios regulares de proficiência. Para melhorar os
procedimentos laboratoriais, é importante estabelecer um plano de reuniões regulares.
e) Registro de CQ
O laboratório deve estabelecer um mecanismo de registro dos resultados de controlo de
qualidade (interno e externo), de forma a monitorar todos os desvios e todas as acções
correctivas. A participação em esquemas de controlo externo de qualidade é essencial, e deve
incluir a testagem da maioria dos patógenos. A realização de controlo interno de qualidade
mandatória para a validação dos resultados.

3.3. Parâmetros de qualidade na fase pós-analítica

A fase pós-analítica centra-se nos relatórios (laudos) do laboratório, na verificação e


interpretação dos resultados dos testes microbiólgicos, e na tomada de acções adequadas
quando o resultado tem sérias implicações para o paciente ou a saúde pública.

a) Registro da liberação de resultados


A terminologia e o formato usado nos relatórios (laudos) do laboratório devem ser
padronizados (uniformizados) e de consenso entre os laboratórios e as clínicas. Assim, é de
suma importância estabelecer um mecanismo de comunicação efectiva entre os profissionais
envlovidos (pessoal do laboratório e o pessoal clínico). Os relatórios do laboratório só devem
ser enviados depois da verificação e validação dos resultados, e a liberação deve ser
registrada usando procedimentos padronizados.
LEMBRA-TE Enviar qualquer resultado preliminar (a cada fase da investigação) para o
solicitante de exame. Nestes casos, depois de finalizar o processo deve
enviar o relatório final escrito. Todos os relatórios devem ser verificados
para clareza e assinados pelo responsável do sector ou chefe do
departamento, e mantidos confidenciais dentro e fora do laboratório
(durante o transporte).

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b) Registo do tempo de resposta


É importante estabelecer um mecanismo funcional e efectivo de comunicação entre os
solicitantes e os profissionais de laboratório. Estas podem incluir relatórios preliminares por
telefone, notificação da recepção dos resultados, e reuniões regulares. Os solicitantes devem
confirmar a recepção dos resultados, e esta deve ser registrada no laboratório.
ATENÇÃO O laboratório deve estar preparado para esclarecer e assessorar os clínicos
sobre que tipo de investigações ou exames seriam mais úteis para o
diagnóstico, bem como o tratamento antibiótico mais recomendável.

LEMBRA-TE Os interesses do paciente são alcançados pelos relatórios preliminares


(identificação presuntiva de um potencial agente patogénico, e possível
sensibilidade antibiótica), do que pelos relatórios finais (identificação final
precisa) atrasados.

RESUMO
A garantia de qualidade (GQ) é um processo imprescindível para os laboratórios de
Microbiologia e outros, pois permite a validação de todos os procedimentos rotineiros
levados a cabo neles, é importante que cada laboratório esteja munido de normas e
procedimentos que visem manter e melhorar a qualidade nas diferentes fases do processo de
testagem: pré-analítica, analítica e pós-analítica. Estas normas devem ser documentadas em
Procedimentos Operacionais Padrão, e disponibilizadas nas áreas de trabalho. Muitas vezes, a
garantia de qualidade é vista como um processo exclusivo da fase analítica deixando
esquecidas as outras duas fases. Procediementos de qualidade da fase pré-analítica incluem os
relacionados com a exitência de um manual de laboratório, as requisições de exames e a
colheita e transporte das amostras. Os da fase pós-analítica relacionam-se com o registro da
liberação dos resultados e do tempo de resposta. Na fase analítica os procedimentos de
qualidade focam-se no desempenho dos equipamentos e instrumentos, nos reagentes e
suplementos, na capacidade técnica e nos programas de controlo de qualidade (interno e
externo). Todos os elementos de qualidade visam garantir um bom desempenho do
laboratório, e validação dos relatórios por este emitido.

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ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Elaboração e análise da folha de controlo de temperaturas


ACTIVIDADE E-A nº 1
de equipamentos de laboratório de Microbiologia.
Duração 3 horas
Objectivos
- Elaborar um formulário de controlo diário de temperatura de equipamentos
laboratoriais.
- Discutir o procedimento de análise da informação e comunicação dos desvios.
Conteúdos de referência
- Garantia de qualidade em Microbiologia;
- Parâmetros de qualidade da fase analítica.
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
- Dentro dos grupos formados, cada aluno faz a revisão do conteúdo de referência e
organiza o material necessário conforme indicado no roteiro de aula fornecido pelo
docente. Sugere-se para esta sessão que cada grupo seja composto por no máximo
cinco membros.
- Prepara o formulário de registro de temperaturas dos equipamentos laboratoriais;
- Apresenta uma lista de procedimentos de análise da informação e comunicação dos
desvios.
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
- Prepara e fornece o roteiro da aula com uma semana antes das sessões;
- Organiza o material necessário para a actividade;
- Orienta os alunos para a realização da tarefa (apresenta os objectivos e distribui a
listagem de equipamentos para os quais cada grupo irá desenvolver a folha de registo
da temperatura);
- Auxilia os grupos a seleccionar o material necessário, caso tenham dificuldades;
- Recolhe e analisa os trabalhos dos grupos.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Sala de aulas;
- Quadro/Giz/marcadores;
- Papel gigante;
- Computadores.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega uma amostra da
folha de registo de temperaturas e uma listagem de procedimentos de análise e
comunicação de desvios;
- Cada grupo deve ser capaz de entregar uma amostra da folha de registo de
temperaturas (100% de cumprimento da tarefa);
- Cada grupo deve alistar elementos para avaliação da folha de registo da temperatura, e
para comunicação dos desvios.

Elaboração de POP para registro do tempo de resposta do


ACTIVIDADE E-A nº 2
do laboratório.
Duração 3 horas
Objectivos
- Desenvolver POP para o registro do tempo de resposta do laboratório.
Conteúdos de referência
- Parâmetros de qualidade da fase pós-analítica
Desenvolvimento da actividade por parte do estudante
- Dentro dos grupos formados, cada estudante faz a revisão do conteúdo de referência e
organiza o material necessário conforme indicado no roteiro de aula fornecido pelo
docente. Sugere-se para esta sessão que cada grupo seja composto por no máximo
cinco membros.
- Desenvolve um Procedimento Operacional Padrão (POP) para o registro do tempo de
resposta do laboratório.
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
- Prepara e fornece o roteiro da aula com uma semana antes das sessões;
- Organiza o material necessário para a actividade;
- Orienta os alunos para a realização da tarefa (apresenta os objectivos);
- Disponibiliza todo o material da actividade para os grupos (formato/esqueleto do POP,
material adicional de referência bibliográfica);
- Apresenta uma listagem de conceitos importantes e relevantes para o desenvolvimento
da actividade.
- Avalia os documentos e discute os pontos por melhorar.
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos

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- Sala de aulas;
- Formato/esqueleto do POP;
- Referências bibliográficas
- Quadro/giz/canetas/Computador/projector
Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega o POP
desenvolvido;
- Cada grupo deve ser capaz de indicar no documento todos os mecanismos de registro
e comunicação do relatório do laboratório, e como será calculado o tempo de resposta.

CASO PRÁTICO

Caso prático
Título
Avaliação da qualidade meios de cultura em Microbiologia
Descrição
O seu laboratório recebeu dois lotes com meios de cultura produzidos por um fabricante
externo. O primeiro lote composto por 100 placas de agar sangue, e o segundo lote de meios
da série curta de identificação bioquímica de bacilos Gram negativos (KIA, Citrato, SIM, e
Urea). Quando os lotes foram abertos, você verificou que apesar dos meios estarem
identificados, estes não continham informação sobre a data de fabrico, e outros detalhes
sobre o controlo de qualidade.
O que faria com os lotes recebidos? (a) verificar a funcionalidade e usar; (b) solicitar
informações adicionais para melhor decidir; (c) descartar os lotes.
Actividades que devem ser desenvolvidas pelos grupos

Actividade 1: faça uma reflexão sobre: (1) procedimentos de aquisição de meios fabricados
por fornecedores externos; (2) avaliação da qualidade de meios de cultura preparados
internamente e externamente.
Actividade 2: Elabora um plano de aquisição e avaliação da qualidade dos meios de cultura
adquiridos de fabricantes externos.
Actividades a serem desenvolvidas pelos alunos
- Identifica os elementos do caso;
- Pesquisa e analisa informação relevante;

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- Faz levantamento de todos os critérios da aquisição e avaliação de meios de cultura;


- Elabora um plano de aquisição e avaliação da qualidade dos meios de cultura
adquiridos de fabricantes externos.
- Faz a apresentação do trabalho e entrega o documento final depois da apreciação e
discussão em plenária.
Actividades a desenvolver pelo professor
- Prepara e fornece o roteiro da aula com uma semana antes das sessões;
- Orienta os alunos para a realização da tarefa (apresenta os objectivos);
- Forma e orienta os grupos, fornecendo referências bibliográficas e outros materiais de
auxílio da actividade. Sugere-se para esta sessão que cada grupo seja composto por no
máximo cinco membros.
- Elabora e fornece um formato (esqueleto) do plano a ser desenvolvido pelos grupos;
- Promove a discussão em plenária e esclarece as dúvidas;
Recursos necessários
- Sala de aulas
- Quadro/Giz/Canetas/Computador/Projector
- Papel gigante
- Esqueleto do POP (plano de aquisição e avaliação de meios de cultura)
- Livros e artigos
Critérios de avaliação
- No fim da sessão cada grupo apresenta os seus resultados, e entrega o plano de
aquisição e avaliação da qualidade dos meios de cultura adquiridos de fabricantes
externos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Cheesbrough, M (1998). District laboratory practice in tropical countries. Part 1.


(Cambridge University Press, New York). 1st edition.
2. Richard A. McPherson, Matthew R. Pincus (2011). Henry’s clinical diagnosis and
management by laboratory methods. 22nd ed. Elsevier.
3. Lima, A. O., J. B. Soares, J. B. Greco, J. Galizzi e J. R. Cançado (1992). Métodos de
Laboratório Aplicados à Clínica: Técnica e Interpretação. 7ª Edição. Guanabara
Koogan. Rio de Janeiro.

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Módulo Vocacional 5: Exames Microbiológicos

4. Marshall, Jacquelyn R. (1995). Microbiologia: Manual de Laboratório Clínico.


Livraria Santos. São Paulo. 161pp
5. Ravel, Richard (1997). Laboratório Clínico: Aplicações Clínicas dos Dados
Laboratoriais. 6ª Edição. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 616pp.
6. Winn, W. C., & Koneman, E. W. (2006). Koneman's color atlas and textbook of
diagnostic microbiology. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

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GLOSSÁRIO

A
 Aeróbio: Na presença de oxigénio.
 Aerossóis: Partículas de materiais potencialmente infecciosos
 Agar: Extracto de alga marinha que se torna líquido quando aquecido e sólido quando
arrefecido.
 Anaeróbio: Na ausência de oxigénio.
 Amostra biológica: Porção de um produto patológico na qual se pretende investigar a
presença ou ausência de microrganismos.
B
 Bacteriemia: Circulação de bactérias na corrente sanguínea.
 Bronquiolite: Inflamação dos bronquíolos (uma das regiões mais profundas das vias
aéreas dos pulmões).
 Bronquite: Inflamação dos brônquios.
C
 Cervicite: Inflamação do colo do útero resultante da infecção por uma variedade de
microrganismos.
 Cistite: Inflamação da bexiga, frequentemente causada por infecção bacteriana.
 Colónia: Grupo de bactérias que resulta do crescimento em um meio de cultura.
 Controlo de Qualidade: Componente da garantia de qualidade que se centra
primariamente no controlo de erros do desempenho das técnicas de diagnóstico, e
verificação dos resultados.
 Coprocultura: Exame de cultura de fezes.
D
 Desinfecção: Redução da carga microbiana.
E
 Esterlização: É um processo que visa eliminar todos os microrganismos (incluindo
esporos) presentes num material ou numa superfície.
F
 Faringite: Inflamação da faringe.
 Flora microbiana normal: Conjunto de microrganismos que se localizam em
diferentes regiões do corpo humano.

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H
 Hemocultura: Exame para detectar a presença de bactérias ou fungos no sangue
empregando meios de cultura.
I
 Infecção sistémica: Infecção de diferentes órgãos/sistemas como resultado da
disseminação dos microrganismos através da corrente sanguínea.
 Inoculação: Introdução de microrganismos em um meio para posterior identificação.
 In-vitro: Nas condições de laboratório.
M
 Meios de cultura: Substâncias usadas para cultivar microrganismos no laboratório.
 Meningites: Inflamação (inchaço) das membranas que protegem a medula espinhal e
o cérebro.
P
 Pneumonia: Inflamação de porções distais do pulmão, comprometendo alvéolos.
T
 Taxonomia: Ramo da Biologia que se ocupa na definição de grupos de organismos
biológicos tendo como base as características comuns.
U
 Uretrite: Inflamação da uretra (canal que transporta a urina da bexiga para fora do
corpo).
 Urocultura: Exame de cultura de urina.

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QUESTIONÁRIO FINAL DE AUTO AVALIAÇÃO DO MÓDULO

Questionário da UD1

1. Que parâmetros são usados para a classificação das bactérias?


2. Descreva as estruturas da célula bacteriana, incluindo a função das mesmas.
3. Como é que as bactérias são classificadas quanto as reacções de Gram?
4. Classifique as bactérias quanto aos parâmetros abaixo:
a. Temperatura
b. Oxigénio
c. pH
d. Concentração salina.
5. A curva de crescimento é composta por quatro fases distintas. Mencione e descreva
cada uma das fases.
6. Defina flora microbiana normal, e apresente suas vantagens e desvantagens.
7. Diferencie a flora microbiana transitória da flora microbiana permanente.
8. Mencione três regiões anatómicas isentas (regiões estéreis) de microrganismos da
flora normal.
9. Quais as bactérias que compõem a flora normal das seguintes regiões: pele, tracto
intestinal, tracto respiratório?
10. Como é que os membros da flora microbiana normal podem afectar o diagnóstico
laboratorial?

Questionário da UD2

1. A competência do técnico de laboratório é um requisito fundamental para a realização


de um exame microbiológico. Como deve ser garantida a competência técnica do
profissional de laboratório?
2. Diferencie esterilização de desinfecção.
3. Compare esterilização por calor seco e esterilização por calor húmido.
4. Cite oito amostras frequentemente recebidas no laboratório de Microbiologia.
5. Para cada amostra mencionada na pergunta anterior, discuta as condições de envio
tomando em consideração:

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a. A conservação.
b. O tempo máximo entre a colheita e a entrada no laboratório.
6. As amostras biológicas são recolhidas de regiões estéreis ou não estéreis, podendo ou
não passar por canais contaminados por membros da flora normal. Como é que essa
informação pode ser útil para o diagnóstico laboratorial?
7. Porque é que a amostra de LCR deve ser processada imediatamente?
8. Qual é a importância de descontaminar a pele para proceder a colheita das amostras?
9. Como é que os meios de cultura são classificados?
10. Qual é o intervalo de pH para a maioria dos meios de cultura bacteriana?
Questionário da UD3

1. Diferencie exames microbiológicos directos de indirectos.


2. Discuta as vantagens e desvantagens dos exames a fresco.
3. O que entende por coloração diferencial? Apresente um exemplo de um método de
coloração diferencial usado em Microbiologia.
4. Um esfregaço de expectoração foi corado pelo método de Ziehl-Neelsen, tendo sido
observado o seguinte (100 campos percorridos): fundo verde, 5 a 10 células epiteliais
por campo microscópico, 10 a 99 BAAR por campo microscópico.
a. Que corante de contraste foi utilizado?
b. Que resultado apresentaria? Discuta em termos de número de cruzes.
5. Qual é a utilidade da cultura bacteriana? Descreva dois tipos de cultura que conhece.
6. Diferencie cultura pura de cultura mista, e discuta a importância da cultura pura.
7. Descreva o procedimento de inoculação dos meios de cultura em tubos e em placas.
Tome em conta que os meios em tubos podem ser líquidos ou sólidos.
8. Os estafilococos estão sempre no nosso caminho, em hospitais e convivendo como
comensais na nasofaringe e pele de cerca de 50% das pessoas. É importante saber
como diferenciar Estafilococos dos Estreptococos. Indique dois procedimentos
(testes) laboratoriais que podem ser realizados para diferenciar esses dois géneros de
cocos Gram positivos.
9. Qual é a diferença entre as hemólises alfa, beta e gama? Discuta a importância da
avaliação das reacções de hemólise em agar sangue.
10. Qual é a importância do teste de sensibilidade aos antibióticos? Discuta os factores
que podem afectar a qualidade do resultado de um TSA.

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Questionário da UD4

1. Para a realização de hemoculturas, quantos frascos são necessários por cada paciente?
2. Descreva os procedimentos do processamento de hemoculturas depois da indicação de
positividade da amostra.
3. Quando é indicado proceder o exame de tinta de china para as amostras de líquido
cefalorraquidiano?
4. Na cultura de LCR, que tratamento devem ser dadas as placas de agar chocolate e agar
MacConkey caso sejam negativas depois de 24 horas de incubação? Argumenta a sua
decisão.
5. Qual é o objectivo da cultura de amostras de secreções da orofaringe?
6. Que cuidados devem ser tomados na cultura de expectoração para o diagnóstico da
pneumonia?
7. Qual é a importância do exame citoquímico da urina? Descreva os parâmetros
analisados nesse exame.
8. Uma bactéria isolada da amostra de uma paciente com suspeita de infecção urinária
foi testada para cinco antibióticos de forma a determinar o perfil de sensibilidade aos
antibióticos. Os resultados estão apresentados na tabela abaixo. Como profissional de
laboratório, que medidas tomaria?

R = Resistente.
9. Uma amostra de secreção vaginal, de uma paciente com suspeita de vaginose
bacteriana deu entrada em seu laboratório. Segundo o protocolo do seu sector, deve
usar os critérios de Nugent para estabelecer o diagnóstico final. Foi preparado um
esfregaço e corado pelo método de Gram. O resultado está resumido na tabela abaixo.
Lactobacillus Gardnerella Mobilluncus
Campo 1 1 30 25
Campo 2 2 35 20
Campo 3 3 35 30
Campo 4 1 35 35

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Campo 5 3 40 25
Campo 6 4 50 20
Campo 7 1 60 20
Campo 8 1 80 30
Campo 9 0 90 25
Campo 10 1 50 35
a) Usando os critérios de Nugent que resultado enviaria para o paciente?
10. Defina coprocultura, e descreva os procedimentos desta técnica.

Questionário da UD5

1. Que parâmetros devem ser considerados para garantir a qualidade em um laboratório?


Descreva cada um deles.
2. Apresente uma lista dos parâmetros de qualidade para as seguintes fases:
a. Pré-anlítica
b. Analítica
c. Pós-analítica
3. Como é que o desempenho de um equipamento afecta a qualidade do diagnóstico?
4. Qual a importância da verificação e registo diário da temperatura das geleiras?
5. Como é que a qualidade do meio de cultura afecta o diagnóstico laboratorial?
Descreva os procedimentos para a verificação da qualidade dos meios de cultura.
6. Quais são as medidas tomadas para evitar a exposição dos profissionais de saúde, os
seus clientes e o ambiente a agentes que perigam a saúde pública?
7. Como deve ser emitido um resultado (laudo) do laboratório?
8. Qual é a importância do registo do tempo de resposta do laboratório? Discuta sobre o
melhor mecanismo de registo deste tempo.
9. Porque é que os profissionais de laboratório devem participar regularmente em
eventos técnico-científicos (provas de proficiência, educação continua, seminários,
jornadas)?
10. Qual a importância dos programas de controlo de qualidade? Faça uma reflexão sobre
a necessidade de participar em painéis de controlo externo (nacionais e/ou
internacionais).

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Esta publicação foi financiada pelo Centro Internacional para Educação e Formação em HIV/SIDA
(IAETC), com financiamento do acordo de Cooperação U91HA06801 do Departamento de Saúde e
Serviços Humanos (HHS) dos EUA, a Administração dos Recursos e Serviços de Saúde (HRSA),
no âmbito do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da SIDA (PEPFAR). O
seu conteúdo e as suas conclusões são da exclusiva responsabilidade dos seus autores e não devem
ser interpretados como posicionamento ou politicas oficiais, assim como não se deve inferir
nenhum endossamento à HRSA, HHS ou ao Governo dos EUA.

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