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República de Moçambique

Ministério da Saúde
Direcção de Recursos Humanos
Departamento de Formação

Módulo Vocacional 6:
EXAMES HISTOCITOLÓGICOS

Moçambique
Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

PREFÁCIO

Exmos. Senhores, Estudantes e Professores do Curso de Técnicos Médios de Laboratório

O Ministério da Saúde (MISAU) através da Direcção de Recursos Humanos – Departamento de


Formação na sua missão de formar e desenvolver profissionais de saúde cada vez mais
competentes, tem vindo a implementar reformas curriculares no âmbito da formação baseada em
competências, de modo a trazer ao Serviço Nacional de Saúde, profissionais com conhecimentos,
habilidades e atitudes para responder pontualmente às necessidades dos pacientes.

O presente módulo vocacional apresenta conteúdos, actividades de ensino, casos práticos e


projectos que permitirão que o futuro Técnico Médio de Laboratório adquira competências
básicas para o auxílio ao diagnóstico clínico ao nível das Unidades Sanitárias do Serviço
Nacional de Saúde, bem como vigilância epidemiológica, pesquisa clínica e ensino.

Este módulo é um recurso de apoio aos professores, na planificação e implementação das aulas
que se destinam a formação de Técnicos Médios de Laboratório e visa desenvolver nestes
futuros profissionais de saúde, conhecimentos, habilidades e atitudes com relação as práticas de
prestação de cuidados de saúde com elevada qualidade e em conformidade com o perfil
profissional estabelecido. Por outro lado, o módulo é resultado da revisão do currículo de
técnicos médios de laboratório para a nova abordagem baseada em competências.

Para o estudante, o módulo servirá de um guião de estudo e de consulta para aquisição de


conhecimentos, atitudes e habilidades técnicas que lhe permitirão prestar um atendimento de
qualidade e humanizado aos pacientes, respeitando os princípios éticos e deontológicos da
profissão e consequentemente, melhorar a qualidade dos serviços de saúde prestados em
Moçambique.

Esperamos, por um lado, que este módulo constitua um verdadeiro suporte para o
desenvolvimento e alcance dos objectivos das diferentes temáticas de formação dos profissionais
de laboratório e por outro como uma base sólida onde o professor possa buscar o fortalecimento
de conhecimentos, garantia de uma dinâmica uniformizada tanto na mediação como na
assimilação das matérias de ensino.

O módulo apresenta uma linguagem simples, acessível e clara de modo que permita a fácil
compreensão dos estudantes das Instituições de Formação de Saúde a nível nacional.

Maputo, Setembro de 2016

_______________________________
Nazira Karimo Vali Abdula
Ministra da Saúde

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO AO MANUAL DE ENSINO ___________ Erro! Marcador não definido.


2. DADOS BÁSICOS DO MÓDULO ___________________ Erro! Marcador não definido.
3. REFERÊNCIAS DO MANUAL DE ENSINO ___________ Erro! Marcador não definido.
3.1. Unidade de Competência de referência ____________ Erro! Marcador não definido.
3.2. Módulo Vocacional de referência_________________ Erro! Marcador não definido.
4. UNIDADES DIDÁCTICAS _________________________ Erro! Marcador não definido.
4.1. Conteúdo organizador__________________________ Erro! Marcador não definido.
4.2. Sequência e Temporalização das Unidades Didácticas Erro! Marcador não definido.
4.3. Desenvolvimento das Unidades Didácticas _________ Erro! Marcador não definido.
UNIDADE DIDÁCTICA 1: Introdução a histocitotecnologia e manuseamento das amostras
__________________________________________________________________________ 4
UNIDADE DIDÁCTICA 2: Processamento das amostras ________________________ 43
UNIDADE DIDÁCTICA 3: Colorações _______________________________________ 79
UNIDADE DIDÁCTICA 4: Técnicas complementares __________________________ 109
GLOSSÁRIO ____________________________________________________________ 126

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UNIDADE DIDÁTICA 1

INTRODUÇÃO A HISTOCITOTECNOLOGIA E
MANUSEAMENTO DAS AMOSTRAS

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ÍNDICE

UNIDADE DIDÁTICA 1: INTRODUÇÃO A HISTOCITOTECNOLOGIA E


MANUSEAMENTO DAS AMOSTRAS _________________________________________ 4
OBJECTIVO GERAL ________________________________________________________ 7
Resultados de aprendizagem _________________________________________________ 7
INTRODUÇÃO ____________________________________________________________ 8
1. EVOLUÇÃO DA TÉCNICAS HISTOCITOLÓGICAS __________________________ 9
1.1. Anatomia Patológica em Moçambique___________________________________ 12
2. FUNÇÕES DE UM SERVIÇO DE ANATOMIA PATOLÓGICA _________________ 15
2.1. Rotina Hospitalar ___________________________________________________ 15
2.2. Formação/Ensino ___________________________________________________ 15
2.3. Investigação/Pesquisa ________________________________________________ 16
3. ANÁLISES E MÉTODOS DE ESTUDO ____________________________________ 16
3.1. Tipos de Métodos de Estudo __________________________________________ 16
3.2. Tipos de Análises ___________________________________________________ 17
3.3. Tipos de Tecidos ____________________________________________________ 18
4. RECEPÇÃO E REGISTO DE AMOSTRAS _________________________________ 19
4.1. Dados de Requisição ________________________________________________ 20
4.2. Qualidade de Informação nas Requisições de Análises ______________________ 22
5. FIXAÇÃO ____________________________________________________________ 23
5.1. Autólise___________________________________________________________ 23
5.2. Putrefação _________________________________________________________ 24
5.3. Processos Físicos e Químicos de Fixação ________________________________ 24
5.4. Fixadores Químicos _________________________________________________ 25
5.5. O Formaldeído – Fixador Universal _____________________________________ 26
5.6. Factores da Qualidade de Fixação ______________________________________ 28
6. REGISTO DO ESTUDO MACROSOCÓPICO _______________________________ 30
6.1. Uso da Palavra Material em Anatomia Patológica _________________________ 30
6.2. Organização para o Registo Macroscópico _______________________________ 30
6.3. Estado de fixação do produto __________________________________________ 31

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6.4. Descrição macroscópica ______________________________________________ 32


6.5. Amostragem _______________________________________________________ 32
6.6. Material de Reserva _________________________________________________ 33
7. DESCALCIFICAÇÃO __________________________________________________ 33
7.1. Tipos de Descalcificadores ____________________________________________ 33
7.2. Factores de Descalcificação ___________________________________________ 34
7.3. Controlo de Descalcificação ___________________________________________ 36
7.4. Tratamento Post-Descalcificação _______________________________________ 37
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD Nº 1 _____________________ 39
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD Nº 1 _____________________________________ 40
REFERENCIAS BIBLIGRÁFICAS ____________________________________________ 42

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OBJECTIVO GERAL

Descrever a evolução da história da Anatomia Patológica e suas funções e realizar o


manuseamento prévio ao processamento histológico das amostras biológicas, seleccionando
materiais, reagentes e equipamentos.

Resultados de aprendizagem

No fim desta Unidade o estudante será capaz de:

- Descrever as fases de evolução da Anatomia Patológica no geral.


- Explicar as crises pós-independência de Anatomia Patológica em Moçambique.
- Descrever as funções, análises e métodos de estudo de um Serviço de Anatomia
Patológica.
- Enumerar os vários tipos de tecidos.
- Estabelecer as normas do preenchimento correcto de uma requisição de análise de
Anatomia Patológica.
- Explicar as normas de manuseio de materiais e equipamentos no laboratório de
histologia.
- Descrever os métodos de fixação das amostras e tipo de reagentes necessários.
- Aplicar os procedimentos de fixação mais utilizados no processamento das amostras
biológicas.
- Seleccionar e aplicar os métodos de descalcificação mais adequados nas amostras
biológicas.
- Aplicar os métodos correctos de descalcificação.

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INTRODUÇÃO

A anatomia patológica tem contribuído com informações concernentes à natureza dos processos
que levam à ocorrência de doenças, e ainda hoje, é um dos principais meios de obtenção de
diagnóstico de doenças ou diagnóstico diferencial.

Nesta primeira unidade didáctica faz-se a introdução da histocitotecnologia e manuseamento


das amostras. De referir que a mesma esta composta por sete grandes capítulos.

- O primeiro capítulo aborda a evolução das técnicas histocitológicas com destaque para os
principais precursores e ainda a evolução da anatomia patologia em Moçambique.
- No segundo capítulo, faz-se a descrição das funções específicas do serviço de anatomia
patológica em Moçambique.
- No terceiro capítulo, tratamos das análises e métodos de estudo usados na implementação
ou nos serviços de Anatomia Patológica.
- Para o quarto capítulo, a abordagem será feita em volta do estudo da recepção e registo de
amostras no Serviço de Anatomia Patológico.
- No quinto capítulo apresentamos a temática sobre fixação onde destacaremos dentre
vários, os processos físicos e químicos da fixação e factores de qualidade.
- Dando seguimento, teremos o sexto capítulo que fará a abordagem sobre o registo do
estudo macroscópico nos Serviços de Anatomia Patológica.
- No final, apresentamos o sétimo capítulo que vai desenvolver a temática sobre
descalcificação com destaque para os seus tipos.

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1. EVOLUÇÃO DA TÉCNICAS HISTOCITOLÓGICAS

DEFINIÇÃO Anatomia Patológica é o estudo que focaliza as consequências estruturais e


funcionais de estímulos nocivos sobre as células, tecidos e órgãos e, em última
análise, as consequências em todo o organismo. (Rbbins, 2015)
Os homens vagueiam no tempo com a ânsia de saciar a sua sede académica. Este desejo foi, é e
será para sempre o pilar do desenvolvimento da humanidade.

A curiosidade de diferenciar a morfologia do corpo humano normal e do anormal, desde muito,


embora de uma forma arcaica despertou atenção de certos curiosos da época, pois, conseguiram,
actualmente ver através de pinturas ou outras
manifestações artísticas que chegaram até nós,
tendências de representações de partes do corpo
com aspecto anormal, representando doença.

Quer na Baixa Antiguidade, na Grécia e em Roma,


esta curiosidade era bastante tênua pois os seus
estudos limitavam-se apenas às descrições de lesões
superficiais e não profundas, pois a autópsia não
havia sido devidamente valorizada.

Nesse tempo, a causa das doenças era explicada,


segundo HIPOCRATES DE COS (fig. 1), pela
“teoria dos quatro Humores”- sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra, atribuindo a
desproporção destes a causa de origem de todos os fenómenos doentios, (Gonzalez & Matos,
1991).
Esta teoria, continuou a imperar sob diversas formas, ao longo de toda a idade Média e na
Europa. O fim desta CONCEPÇÃO marcou o período de RENASCIMENTO, que culminou com
o desenvolvimento de todas as actividades artísticas incluindo diversos ramos de Medicina. A
dissecção e a autópsia tornaram-se os métodos preferidos na investigação das doenças.

André Vesálius (1514 – 1554) embora de uma forma pouco consistente notabilizou-se no estudo
de Anatomia Humana Normal. Foram porém, homens como Marcelo Donato, no mesmo século
que puseram a patologia nos seus estrilhos certos, produto da Patologia actual.

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Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a contínua realização de autópsias e o desenvolvimento da


metodologia descritiva permitiram distinguir a Anatomia Normal da Patológica graças aos
trabalhos de Morgagni no século XVIII, relacionando no que encontrava no doente vivo e no
seu corpo após a morte.

Durante muito tempo, reinou apenas o estudo macroscópico, situação que veio a mudar após a
descoberta do microscópio e das técnicas complementares que permitiram a sua aplicação
prática.

Assim, a Microscopia nasceu no século XVII, acompanhando a invenção e o aperfeiçoamento


dos primeiros microscópios. É geralmente considerado que o primeiro microscópio rudimentar,
foi fabricado na Holanda nos fins do século XVI, por Johannes e Zacharias Janssen. O mesmo,
foi aperfeiçoado por Robert Hooke (1635 – 1703), com finalidade de melhorar a qualidade do
fim a que se destinava.

Em 1714 Anton Leeuwenhoek, usando o seu próprio modelo de microscópio rudimentar,


introduziu a coloração na arte de estudo dos tecidos, dando grande impulso a utilização prática
destes aparelhos.
A partir destes modelos, desenvolveram-se outros mais apurados, como sendo, por exemplo,
Microscópio de campo escuro, de fluorescência, de contraste de fase, os de utilização colectiva
como os de uso de um dispositivo com o sistema de cabeças múltiplas (fig. 2) e ou o de circuito
fechado de televisão bem como do microscópio electrónico, com alto poder de resolução.

Após que Anton Leeuwenhoek em 1714 associou a coloração coma microscopia e com uso de
corantes naturais empregues na tinturaria têxtil tais como, carmim, orceína, açafrão e o índigo,
um novo grande salto em frente foi dado à microscopia. Alguns destes corantes, continuam até
hoje, a serem usados.
EXEMPLO
O carmim ou cochonilha – produto derivado dos corpos dessecados das fêmeas de
insectos originários do México, foi e continua a ser usado nas técnicas actuais.

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Mais importante ainda, no campo dos corantes, é a


Hematoxilina, corante extraído de uma planta
leguminosa da América Central, chamada “Pau de
Campeche”, universalmente utilizada, em particular
nas colorações de rotina para estudo das células e
dos tecidos.

Hoje, temos ao nosso alcance inúmeros corantes


dos mais diversos tipos e para os diversos fins.

Por muito tempo, o estudo microscópico ficou


limitado ao estudo do material biológico de ínfimas dimensões, devido ao facto de a espessura de
amostras compactas bloquearem a passagem da luz e consequentemente tornando o espécime
numa mancha escura sem cor. Esta situação veio a mudar a partir dos fins do século XVIII com a
invenção dos Micrótomos – aparelhos concebidos para fazer cortes de tecidos com espessura fina
que permite a sua travessia pelos feixes de luz visível. Alguns destes aparelhos, ficaram na
história de Anatomia Patológica, como a Faca de Valentim, e o Micrótomo de Ranvier.
O modelo Percursor dos modernos Micrótomos foi construído em 1849 por John Queckett. O
processo de aperfeiçoamento destes instrumentos, continuou e hoje dispomo-nos dos mais
variados tipos entre outros, os micrótomos actuais, os de congelação, os vibrátomos, os
ultramicrótomos e outros de complexidade variada.

A progressiva complexidade das técnicas levou o estudo microscópico a diferenciação em dois


ramos – Citotecnologia, ao conjunto de técnicas que permitem um estudo individualizado das
células e Histotecnologia, ao conjunto das técnicas que permitem ao estudo dos tecidos. Assim, a
Histocitotecnologia, corresponde ao conjunto de processos físicos e químicos que permitem o
estudo microscópico dos tecidos e das células individualizadas.

O surgimento de tais recursos tecnológicos e organização do estudo anátomo-patológico,


permitiu novos grandes desenvolvimento nos diagnósticos e na procura das causas das doenças.
É assim que Rudolph Virchow (1821 – 1902), da Escola Alemã, surge, em 1858, com o seu
livro “Patologia Celular”. Esta contribuição foi das mais valiosas nos fins do século XIX, e por
isso, ele é geralmente designado de “Pai da Patologia Moderna”.

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1.1. Anatomia Patológica em Moçambique

No ano seguinte ao da morte de Virchow, nasce em Portugal aquele que viria ser o “Pai da
Patologia em Moçambique” – Manuel Damaso Prates
(fig. 3). A partir de 1931, já como quadro da secção de
Anatomia Patológica do Instituto Português de Oncologia,
vai para Hamburgo, na Alemanha, estudar na
Escola onde Virchow Celebrizara, sob a direcção de um
dos seus discípulos, o Professor Wohlwill.
Mais tarde, este professor viria a emigrar para Portugal,
onde continuou a orientar o Jovem Dr. Prates. Em 1938,
Prates vem pela primeira vez a Moçambique, para estudar a

problemática do cancro do fígado, tendo levado os seus


primeiros resultados, em 1939, a reunião de liga
Internacional de Luta contra o Cancro. Em 1943, foi-lhe
conferido o título de Professor de Patologia, pela Faculdade
de Medicina de Lisboa.
Conflitos de natureza política naquele tempo, são geralmente
apontados para justificar a decisão do Professor Prates de vir
fixar residência em Moçambique onde em 21 de Abril de
1944 fundou o Laboratório de Anatomia Patológica do
então Hospital “Miguel Bombarda” actual Hospital Central de Maputo (fig. 4)

Desde então, e até a data da sua morte, em 27 de Maio de 1965, o professor Prates, realizou um
trabalho extremamente importante que o tornou a ele e o nosso Laboratório, conhecidos e
respeitados pelas comunidades Científicas Locais e Internacionais. (Gonzalez & Matos, 1991)
Em Agosto de 1958, chega a Moçambique o Dr. Fernando Manuel Cordeiro Sousa de Oliveira
Torres (Fig. 5). Após a morte do Professor Prates, é ele quem lhe sucede na condução dos
destinos do Laboratório. Na primeira metade da década de 1970, a Anatomia Patológica, atingiu
o cume do seu desenvolvimento e de qualidade de trabalho, graças ao Professor Oliveira Torres.
Ele, não só prosseguiu, expandiu e levou a novas alturas o trabalho que havia sido iniciado pelo
Professor Prates como também, desenvolveu novas áreas de rotina hospitalar, docência e
investigação. Após a Independência de Moçambique, em 1975, deixaram o Serviço de Anatomia

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Patológica – SAP todos os médicos especialistas nesta actividade (Patologistas) e também quase
todos os técnicos de Laboratório.

A partir dessa altura, o SAP entrou num período difícil, por entre outras, as seguintes razões:
- Instabilidade do “staff” de Patologistas estrangeiros e a
inexistência de técnicos qualificados;
- Dificuldades em adquirir o material e os reagentes devido
a inexistência de verbas;
- Ausência de orientação técnica e administrativa por parte
dos seus dirigentes, indispensável para analisar as
dificuldades, procurar soluções e implementá-las;
- Opções da política nacional de saúde - que levaram a
marginalização das suas actividades e sua classificação
como “não prioritárias”, com todas as implicações
organizativas e orçamentais;
- Confusões institucionais provocadas, com a não delimitação de fronteiras com as
actividades de Medicina Legal e Serviço Funerário.

Por tudo isso, o SAP mergulhou numa crise progressiva que levou até um ponto muito baixo de
organização e do nível de qualidade do seu trabalho.

Porém, grandes esforços foram feitos pelo colectivo de


trabalhadores locais, para minimizar as consequências desta
crise, com abnegação, sacrifício e elevado sentido de
patriotismo e de responsabilidade individual e colectiva dos
seus trabalhadores, o SAP sobreviveu, apesar de tudo.

Entre muitos que contribuíram para isso, referência especial,


vai para os Professores: Alexandre Vassiurenko da União
Soviética, Hideki Yokoyama (do Brasil), Manfred Danz (da extinta República Democrática
Alemã), Evélio Moreira dias e Ernesto Arteaga (de Cuba). Técnicos de Laboratório como as de
Magda Bota Cruz de Lima (de Portugal) e Margareta Asplund (da Suécia). Que a eles, sempre
seremos agradecidos e devedores. (Fontes Orais dos Trabalhadores/SAP. 1990).

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Referência especial entre nós, vai para Dr. Carlos Eduardo Mayor Gonzalez, (fig. 6) e outros
como Francisco Sefane Mondlane e Albino Mucavele, ora falecidos – Deus que os tenha. Dona
Gertrudes Frederico, João Baptista Afocoluene, Damião Samussone Pangueia.

Durante este Período, o Professor Gonzalez reorganizou o Serviço administrativa e tecnicamente,


recuperou o prestígio que o serviço havia perdido.

Nota especial de entre muitas, foi a de mobilizar três médicos Moçambicanos formados na
Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane a ingressarem-se na carreira de
Anatomia Patológica e com graduação a Especialistas em Anatomia patológica em Fevereiro de
2000, nomeadamente: Dr. Jossefo Ferro, Prof. Doutora Carla Carrilho, Prof. Doutor Mamudo
Rafik Ismail.

Apesar de muitos, coube ao Dr. Carlos Eduardo Mayor Gonzalez, Médico Moçambicano, o
destino de conduzir os destinos do SAP, individualidade que se tornou primeiro Patologista
Moçambicano em 1988 e falecido em 1994.

Durante o período em que este foi dirigente do Serviço, contou com a colaboração valiosa do
Professor Doutor/ Consultor – Sobrinho Manuel Simões, Patologista Português, Presidente de
Instituto de Patologia e imunologia da Universidade do Porto. “IPATIMUP”, na formação de
novos quadros moçambicanos bem como na área de Consultoria. Como reconhecimento do seu
esforço e dedicação ao Serviço de Anatomia Patológica/HCM foi atribuído o seu nome ao
Serviço de Anatomia Patológica – Serviço de Anatomia Patológica Carlos Gonzalez em 2009

No sector técnico, novos técnicos moçambicanos foram incorporados para área de Anatomia
Patológica que apesar de inexperiência, com dedicação e zelo poderiam dar conta do recado. Em
1997 surgem os primeiros cinco técnicos médios especializados na área de Anatomia Patológica.

Apesar de ainda persistirem muitas dificuldades, hoje em dia, podemo-nos orgulhar pelas
conquistas alcançadas:

- Existência de Patologista Nacionais e outros em formação


- Existência de mais de 20 técnicos licenciados em anatomia patológica e outros em
formação;

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- Em conformidade com o Programa Nacional de Anatomia Patológica.

DNAM/MISAU existente um plano de expansão dos serviços de anatomia patológica/unidades


de citologia em todos os hospitais de níveis terciário e quaternário (III/IV);

- Abertura de dois Serviços de Anatomia Patológica, nos Hospitais Centrais da Beira e


Nampula e brevemente nos hospitais Geral de Mavalane e Central de Quelimane;
- Abertura de 2 unidades técnicas de Citologia nos hospitais Geral José Macamo e
provincial de Tete;
- Aumento gradual do volume e da qualidade do nosso trabalho.

2. FUNÇÕES DE UM SERVIÇO DE ANATOMIA PATOLÓGICA

As Funções de Serviço de Anatomia Patológica (SAP) são: Rotina Hospitalar: Formação e


Ensino e Investigação e Pesquisa:

2.1. Rotina Hospitalar

O serviço de Anatomia Patológica, estuda os casos que os médicos das enfermarias/unidades


sanitárias lhe enviam – quer como células isoladas (citologias), quer como pequenas amostras de
tecidos doentes (biópsias), quer como órgãos inteiros doentes (peças cirúrgicas), quer como
corpos inteiros vencidos pela doença (autópsias).

Nesta actividade, o SAP assume um papel importante no apoio ao Clínico assistente no


diagnóstico de modo a que este, instale à paciente uma terapêutica adequada; no caso das
autópsias, o clínico poderá conhecer em certos casos, as causas que levaram a morte do paciente
e se possível, em certos casos, evitar que casos semelhantes voltem a acontecer em outros
pacientes. Esta, serve de base as outras duas funções.

2.2. Formação/Ensino

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O SAP assume um papel importante na docência a vários níveis, como nos Institutos de Ciências
de Saúde (ICS) na formação de cursos de Técnicos de Saúde a nível básico e ou médio; Institutos
superiores de ciências de Saúde (ISCISA), na formação de diversas áreas, Faculdade de medicina
e ou outras Faculdades. Nota especial observa-se ao nível das residências médicas
principalmente de especialistas de Anatomia Patológica e ou outras afins.

2.3. Investigação/Pesquisa

Pode ser considerada a mais importante uma vez que permite analisar de uma forma critica e
criativa a experiência de trabalho de tal modo que a comunidade médica possa conhecer a
realidade local e Nacional e não se cingir apenas de experiências de outros Países. Deste modo,
os resultados de investigação, por vezes denominados pesquisa, também servem os objectivos de
rotina hospitalar e docência.

A pesquisa pode ser Institucional ou Individual. No SAP, dá-se prioridade a Primeira,


subdividida em estudos epidemiológicos (tal como o de registo do cancro), estudos estratégicos
(tais como o das infecções genitais e o seu papel no desfecho da gravidez, infecção pelo HIV) e
de estudos complementares (tais como os das áreas de Linfomas, Malária, febre tifóide, etc.).

3. ANÁLISES E MÉTODOS DE ESTUDO

3.1. Tipos de Métodos de Estudo

Para realizar o seu trabalho, o SAP usa os seguintes métodos de estudos: Estudo Macroscópico,
Estudo Histológico e o Estudo Citológico.

Estudo Macroscópico: que consiste em descrever as alterações dos tecidos e órgãos (ou de todo
o corpo, no caso de autópsia), referindo a forma, a consistência, a cor, a profundidade, as
fronteiras das lesões encontradas; podem também ser usados métodos complementares diversos,
como pesagem, fotografia e outros.

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Estudo Histológico: que consiste em tirar pequenos fragmentos dos tecidos doentes, cortá-los
em secções finas e examiná-los ao microscópio, anotando todas as alterações encontradas nos
diversos tipos de células e do material intercelular que compõe os tecidos. O estudo efectuado
deste modo permite, na maior parte das vezes, chegar a uma conclusão sobre a doença que afecta
o indivíduo de onde provêm os produtos.

Estudo Citológico: que consiste em colher algumas células isoladas que se desagregam
espontaneamente dos tecidos ou são forçados a isso por acção do médico e examiná-las ao
microscópio, anotando todas as alterações que são possíveis de serem observadas nos núcleos e
nos citoplasmas das células descamadas (citologia esfoliativa) ou removidas de uma superfície
de corte (citologia por decalque) ou “imprint” ou por aspiração com uma agulha e seringa
(citologia aspirativa). O estudo efectuado deste modo simples, permite muita das vezes, chegar a
conclusões gerais sobre a patologia daquele indivíduo.

3.2. Tipos de Análises

Os métodos acima descritos são usados em


quatro tipos de análises que abaixo se
descrevem.
Autópsias: acto analítico que pretende
descrever todas as alterações observadas no
corpo de um indivíduo vencido pela doença
(fig. 7) e, quando possível, determinar a causa
da morte.

Para isso, devem contribuir as informações clínicas fornecidas pelos clínicos assistentes do
indivíduo ainda em vida. Esta actividade pode ser
completada por outros estudos como histológicos,
citológicos e outros complementares. (Gonzalez &
Matos, 1991).

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Peças Cirúrgicas: estudo de um órgão ou parte dele, (figura 8) removida por cirurgia, regra
geral com fins terapêuticos, isto é, com o objectivo de remover uma parte doente do organismo,
para que a parte saudável possa ficar livre e continuar a viver normalmente. Em casos raros,
pode ter fins profiláticos ou preventivos; por exemplo, a extracção do apêndice durante uma
cirurgia de barriga aberta, efectuada por outros motivos, para evitar eventual apendicite aguda
que pode vir a ser fatal para o individuo. (Gonzalez & Matos, 1991).

Em qualquer dos casos, a peça cirúrgica é cuidadosamente estudada macroscopicamente


Figuras 8: Peça cirúrgica e o
Fonte:
patologista colhe diversas secções para o estudo histológico. O patologista, SAP/HCM
acredita que o estudo
macroscópico da peça, a informação clínica adequada sobre o indivíduo e a sua doença e o
estudo histológico da amostra são suficientes para chegar a uma conclusão sobre a patologia do
indivíduo e ajudar na decisão da terapêutica a instalar no paciente.

Biopsia: é o estudo não de uma peça cirúrgica mas sim de uma pequena amostra que os médicos
clínicos retiram do órgão ou estrutura doente e enviam ao patologista decidir qual é a doença
presente naquela amostra para decidirem a conduta mais adequada.

Em certas situações, a biopsia pode ter fins terapêuticos como nos casos de lesões diminutas
localizadas nas superfícies expostas da pele e das mucosas. Nestas, os clínicos, podem remover
toda a lesão e enviá-la completa para o patologista decidir qual é a doença presente. Este tipo de
biopsia, em que a amostra é a totalidade da lesão, chama-se biopsia EXCISIONAL. (Gonzalez &
Matos, 1991)

Citologias: análise destinada ao estudo de células isoladas removidas de um determinado órgão.


É uma análise muito simples e com muitas limitações do que as anteriores. O estudo destas
células permite classificá-las em grandes grupos, tais como: normais, reactivas, inflamatórias e
cancerosas. Apesar de ser simples e com muitas limitações, com esta análise, consegue-se
diminuir a quantidade de mortes por cancro do colo do útero, por sinal o mais frequente em
mulheres moçambicanas, analisando periodicamente, as células descamadas do colo do útero no
exame designado de Papanicolau ou PAP-TEST. (Gonzalez & Matos, 1991)

3.3. Tipos de Tecidos

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Tecidos são estruturas vitais do nosso corpo. Resultam de união de várias células semelhantes e
com a mesma função.
O nosso corpo é constituído basicamente por 4 tipos de tecidos: Epitelial, conjuntivo, muscular
e nervoso. (Junqueira & Carneiro. 1980)

Tecido Epitelial – é constituído por células bastante juntas e com pouco material entre elas. Sua
função é proteger o corpo, absorver e eliminar substâncias (glândulas) e percepção de alguns
estímulos. É encontrado no revestimento do nosso corpo e cavidades internas.

Tecido Conjuntivo - é constituído por células bastante separadas uma das outras e com grande
quantidade de substâncias intercelular. Este subdivide-se em:
- Conjuntivo propriamente dito (união de estruturas do corpo)
- Ósseo (formação do esqueleto)
- Adiposo (armazenamento de gordura)
- Cartilaginoso (formação de cartilagem)
- Hematopoiético (formação de células sanguíneas)

Tecido Muscular – é constituído por células com grande capacidade de contracção e, por isso
este relacionado com a nossa movimentação, alimentação e até mesmo com os batimentos do
nosso coração. O mesmo, subdivide-se em:
- Muscular esquelético (encontrado na ligação entre os ossos)
- Muscular estriado cardíaco (encontrado exclusivamente no coração)
- Muscular não esteriado (de contracção involuntária, é encontrado nas vísceras)

Tecido Nervoso – é constituído por células neuroniais que são capazes de receber estímulos e
conduzir a informação para as outras células através do impulso nervoso. É encontrado no
sistema nervoso central e periférico (nervos e gânglios nervosos).

4. RECEPÇÃO E REGISTO DE AMOSTRAS

DEFINIÇÃO Recepção: é o acto que permite receber, tratar e encaminhar as amostras ou


produto a analisar nos destinos apropriados. Constitui a primeira etapa das

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actividades internas do Laboratório a serem executadas. Esta etapa deve ser


encarada com grande cuidado, pois que, tratando-se de um processo sequencial,
qualquer erro cometido, pode ampliar-se em cascata e reflectir-se no fim de todo
o processo Laboratorial, (Moral, R. Garcia del 1993).

Para a recepção do material, é necessário dispor-se de um livro de registo de entradas ou um


sistema informatizado onde se anotam: nome completo do paciente, idade do paciente, dia e hora
de recepção da amostra, tipo de produto, local de proveniência de análise e assinatura do
receptor, em caligrafia bem legível. (se o processo não for informatizado). Estes dados não são
os únicos, mas apenas os mais essenciais.

Antes de receber e registar o material, e necessário que o funcionário do Laboratório, confirme


que os dados patentes na requisição são os mesmos do rótulo do produto; que todos os dados da
requisição estejam devidamente preenchidos; verificar o estado de fixação do produto e se
necessário fazer as devidas correcções ou seja se o produto vem ou não imerso em fixador
recomendado. Caso contrário, colocar o produto no fixador recomendado. Esta norma deixa de
existir em casos de estudos devidamente expressos - por exemplo, cortes de congelação. Só
depois que tudo esteja bem é que se recebe e se regista.

4.1. Dados de Requisição

Aos médicos ou outro pessoal autorizado a pedir análises de Anatomia Patológica, recomenda-se
que preencham com rigor todos os dados da requisição e que o técnico de Anatomia Patológica
os conheça e o seu respectivo significado. Uma requisição devidamente preenchida se bem
analisada, a ajuda a uma chegada rápida e clara ao diagnóstico.

Assim, se descrevem abaixo, os julgados essenciais.

1. Nome do Paciente: o nome de alguém é algo sagrado e único; ele deve ser escrito
devidamente para evitar confusões no ficheiro nominal do Serviço e possíveis trocas de
análises entre doentes com nomes semelhantes.

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2. Sexo: é uma característica diferencial e necessária para cada cidadão analisado, sendo por
isso, imperioso especificá-lo sobretudo naqueles doentes cujos nomes não permitem uma
clara determinação do sexo.

3. Raça: em Ciência, é um método de agrupar indivíduos segundo o seu património


genético, tão válido quanto qualquer outro mas muito mais simples e barato por ser muito
facilmente acessível a vista desarmada, na quase totalidade dos casos -dai, o seu valor
importante porque há certas moléstias que são mais frequentes nos indivíduos de uma
determinada raça do que noutras.

4. Idade: é indispensável na identificação do individuo e na determinação da perturbação


presente, porque há certas doenças mais frequentes em certos grupos etários mais que
outros.

5. Naturalidade: dado importante numa requisição porque há certas doenças frequentes


numa determinada região geográfica que noutras e por vezes, esta característica pode
assumir relevo em grupos populacionais que vivem fechados sobre si mesmos, com
poucos contactos com o exterior.

6. Profissão: o seu reconhecimento é importante porque há lesões que se associam com


determinados tipos de profissão.

7. Proveniência da requisição: tem importância para se saber o destino a dar ao resultado,


após conclusão da análise.

8. Número de identificação do doente – NID: ajuda na identificação da análise no


laboratório e na facilidade para o arquivo dos resultados das análises nos processos
clínicos na enfermaria.

9. Natureza do produto a analisar: é um dado importante numa requisição principalmente


naqueles casos em que o órgão está de tal forma alterado e que é difícil a sua
identificação macroscópica por parte do Patologista.

10. Data da colheita do material: é muito necessário, sobretudo para verificar o tempo da
demora dos resultados das análises e para esclarecer casos de negligências do pessoal
encarregado em transportar o material para o Laboratório, é, também, um dos indicadores
da produtividade do Laboratório.

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11. Tipo de fixador em que o material vem imerso: tem grande importância para o
prosseguimento da técnica histológica, visto haver fixadores incompatíveis com
determinadas colorações; por exemplo, a coloração de Fite-faraco para detecção de
bacilos da Lepra, não dos resultados confiáveis se o material tiver sido fixado em líquido
de Bouin (falsos negativos)

12. Diagnóstico clinico ou sintomas predominantes: de relevo, numa requisição para o


Anatomopatologista se inteirar da história clínica do paciente, facilitando deste modo a
chegada mais rápida e clara ao diagnóstico

13. Análises anteriores: embora muitos requisitantes de análises não dêem importância a
este dado, ele é muito importante para o Patologista comparar as alterações anteriores
com as actualmente presentes.

14. Assinatura do médico: para além do patologista saber com quem pode discutir ou
esclarecer-se sobre determinados aspectos clínicos, também permite avaliar a
responsabilidade médica no caso; é uma completa aberração assinar com o nome de outra
pessoa, colocar rúbricas ilegíveis ou assinar “pelo Dr. Fulano”.

4.2. Qualidade de Informação nas Requisições de Análises

O preenchimento de uma requisição para um exame de anatomia patológica deve ser um acto tão
importante quanto ao da própria colheita do material; isto quer dizer que os dados fornecidos
pelo requisitante devem ser completos e concordantes com o que o paciente apresenta na
realidade.

Esta norma, infelizmente, nem sempre é bem seguida podendo ter consequências desastrosas,
tais como troca de nomes, atrasos de resultados e erros de diagnóstico topográfico.

Outro factor de confusão resulta de uso de línguas estrangeiras e de caligrafia ilegível dos
requisitantes – o péssimo hábito de usar a chamada “letra do médico” a qual deveria ser abolida
para sempre – levando, muitas vezes, a más interpretações de quem lê.

RESUMO

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A qualidade de informação deve ser a melhor possível para melhor orientação do pessoal de
Anatomia patológica na decisão diagnóstica.

Ao contrário de outras análises, as de Anatomia Patológica não são feitas por máquinas
automáticas mas sim por pessoas - médicos especialistas e por toda a equipa que eles chefiam.
Por esse facto, uma requisição de exame anátomo-patológico tem carácter de uma inter-consulta
– uma opinião que um médico especialista na área clínica solicita a um médico especialista na
área Laboratorial.

5. FIXAÇÃO

DEFINIÇÃO A Fixação é uma operação destinada a acabar com a actividade vital dos
componentes tecidulares, preservando-os, dentro do possível, com a forma e a
estrutura que tinham em vida. Também os endurece, permitindo que sejam mais
perfeitamente talhados na forma e dimensões ideias para o processamento.
Ainda se considera, como vantagem adicional, a resistência que confere aos
tecidos para que suportem melhor a acção dos reagentes e processos técnicos
usados. Michalany, Jorge 1980).

5.1. Autólise

Qualquer fragmento de tecido removido de um ser vivo - ou todo ele, após a morte – se não for
fixado, desintegra-se mais ou menos rapidamente. A essa desintegração dos tecidos dá-se o nome
de AUTÓLISE.

Autólise (auto= “por si” e lise=”destruição”), pode definir-se como a destruição da célula por
acção dos seus próprias enzimas, normalmente encerrados no interior dos lisossomas.

Após a morte somática (ou na morte tecidular consequente a remoção de um tecido do


organismo vivo ao qual pertence), os lisossomas libertam enzimas digestivas que vão atacar os
constituintes das suas próprias células, provocando a progressiva degradação dos componentes
tecidulares e sua liquefação. A fixação atrasa ou bloqueia completamente a acção enzimática,
alterando o meio em que ocorre ou provocando alterações funcionais ou estruturais nos próprios
enzimas, desnaturando-os.

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5.2. Putrefação

No processo de degradação após a morte, os tecidos autólisados podem vir a ser colonizados por
microrganismos pertencentes a flora intestinal ou proveniente do exterior do corpo. Estes germes
desencadeiam reacções fermentativas que libertam gases e calor. Tal fenómeno designa-se de
PUTREFAÇÃO e diz-se que os tecidos apodrecem, fragmentando-se e liquefazendo-se ainda
mais depressa. O calor proveniente das reacções exotérmicas da putrefacção tem um efeito de
aceleração de todas as reacções enzimáticas, criando-se, assim, um ciclo vicioso que, cada vez
mais, aumenta a velocidade da degradação autolítica e putrefactiva dos tecidos. A fixação destrói
todos os microrganismos e, portanto, impede a putrefacção.

O material podre é totalmente inútil para o estudo histológico, tal como acontece com a carne
deteriorada que não pode ser consumida. Material com autólise incipiente pode, em certas
ocasiões, ser usado, mas tem muitas limitações e sendo totalmente impossível a aplicação de
certos métodos, como a Microscopia Electrónica ou Imunohistoquímica.

5.3. Processos Físicos e Químicos de Fixação

Processos físicos; através do frio, calor e dessecação, sendo os dois primeiros os mais usados em
Anatomia patológica.

Frio: a temperatura baixas, o processo enzimático da autólise é atrasado e a proliferação


bacteriana é inibida, o que retarda a putrefacção; se a temperatura descer abaixo do ponto de
congelação de água, ficam profundamente alteradas as características físicas do meio onde as
reacções enzimáticas têm lugar, o que acrescenta mais um bloqueio à actividade enzimática e,
adicionalmente, endurece os tecidos.

Calor: as temperaturas elevadas, as cadeias proteicas das enzimas perdem a sua estrutura
quaternária, num processo de desnaturação proteica, chamado Coagulação – o exemplo mais
bem conhecido deste processo é a cozedura do ovo na qual, a albumina (“clara do ovo”) coagula,

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passando do estado liquido ao estado sólido, e perde as suas características físicas e químicas
iniciais.
Apesar de agir como fixador, o uso do calor deve ser evitado, uma vez que cria nos tecidos
muitas alterações; ele pode ser usado, em certos laboratórios, na aceleração do processo de
fixação por aquecimento do “formol” para exames urgentes e para eventual fixação de
esfregaços, como o que acontece na microbiologia.

Dessecação: o bloqueio da autólise, nestes casos, é devido a perda da água das soluções em que
as reações enzimáticas têm lugar; com uma tão grande alteração do meio, a actividade
enzimática não podem ter lugar e, consequentemente, a degradação autolítica fica bloqueada; é
pouco usada em Anatomia Patológica.

Processo químico: é o mais usado em histologia; usam-se produtos químicos em soluções


simples (FIXADORES PUROS) ou em soluções complexas (MISTURAS FIXADORAS). Este
processo baseia-se na capacidade que estas substâncias têm para penetrar nos tecidos e
desnaturar os componentes proteicos, seus constituintes, incluindo enzimas lisossómicos –
impedindo a autólise.

O fixador ideal deve:


- Penetrar no tecido de uma forma rápida e uniforme,
- Provocar uma desnaturação proteica rápida e conveniente,
- Conservar o mais possível a estrutura existente em vida,
- Possibilitar qualquer método de coloração.

5.4. Fixadores Químicos

São os mais importantes em Anatomia Patológica e subdividem-se em;


1. Ácidos inorgânicos.
2. Sais metálicos.
3. Ácidos orgânicos.
4. Redutores orgânicos

De entre estes grupos, o mais importante e o mais usado é o dos redutores orgânicos,
representados por:

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a) Formaldeído (popularmente chamado formol)


b) Etanol ou Álcool etílico
c) Metanol
d) Acetona
e) Glutaraldeido

5.5. O Formaldeído – Fixador Universal

DEFINIÇÃO O formaldeído é um gás incolor e inflamável, que em solução aquosa a 40 por


cento recebe a designação de FORMALINA ou “FORMOL”. Tal designação
não é correcta, seguindo a terminologia química geralmente aceite, pois não se
trata de um álcool, mas sim de um aldeído (Michalany J. 1980)
No entanto, ela está de tal modo generalizada que continua a ser usada. O “FORMOL”liberta
vapores muito irritantes para a pele e para as vias respiratórias, podendo ter efeitos mais graves
ao fim de longos períodos de exposição a concentrações muito superiores as que se usam na
prática laboratorial.

Transforma-se facilmente, sob acção da luz e em contacto com o ar, em ÁCIDO FÓRMICO.
A acidez torna-se prejudicial por duas razões:
- Interfere coma acção dos corantes, dependendo do seu grupo auxocromo.
- Promove a formação de um pigmento artefactual, derivado da hemoglobina
denominado pigmento de “formol”

Esta acidez pode ser evitada neutralizando o “formol” com o carbonato de cálcio. O ”formol”,
sobretudo em concentrações mais elevadas, sofre um processo de polimerização. O produto
resultante – o PARAFORMALDEIDO – não tem acção fixadora e apresenta tendência a
depositar-se na forma de um pó esbranquiçado, o qual pode interferir com a fixação correcta dos
produtos.

Uma terceira perturbação do “formol” é a que ocorre, com a passagem do tempo, quando ele se
encontra em solução aquosa, resultando na formação de um composto de adição denominado
METILENOGLICOL, também sem acção fixadora.

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O “formol” comercial, isto é, o aldeído fórmico a 40 por cento em solução aquosa é denominado
“formol” puro ou “formol” a 100 por cento, mas a solução fixadora, de trabalho, é de “formol” a
dez por cento (aldeído fórmico a 4 por cento) ou seja, para obtenção de solução de trabalho dilui-
se dez vezes a solução comercial (formaldeído a 40% ou “formol” puro a 100%. (tabela 1)

RESUMO:

Tabela 1: denominações do formaldeído

Designação corrente designação química


Solucão Mãe formol” puro ou “formol” a aldeído fórmico a 40 por cento em
100 por cento solução aquosa
Solução de formol” a 10 por cento aldeído fórmico a 4 por cento em
Trabalho solução aquosa

Dissemos que o “formol” é o fixador Universal porque, além de ser económico, reúne quase
todos os requisitos de um fixador ideal.

Para evitar a ocorrência daqueles artefactos, aconselha-se a usar “formol” tamponado a 10 por
cento que se prepara de seguinte forma:
- “Formol” concentrado (100%) -------------------------------------- 10 ml
- Fosfato monossódico anidro (NaH2PO4) / (K H2PO4) ---- -------------0,35gr
- Fosfatodissódico anidro (Na2HPO4) ------------------------------ 0,65gr
- Água Destilada perfazer até --------------------------------------- 100 ml

Outros Fixadores
O Etanol (ou álcool etílico) é usado como um fixador Universal em Citologia; em histologia,
não deve ser usado como fixador, porque provoca artefactos. Deve ser sim usado como agente
desidratante.

O Metanol (ou álcool metílico) é um fixador usado às vezes como fixador, nos cortes de
congelação e em algumas técnicas citológicas para fixação de certos esfregaços.

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A Acetona é um fixador normalmente usado para histoenzimologia.

O Ácido Ósmico e o Glutaraldeido, são fixadores usados na Microscopia Electrónica. Os seus


vapores são muito tóxicos, facto que obriga a que sejam cuidadosamente manipulados.
Outro fixador frequentemente usado é o líquido de Bouin também conhecido por picro-formol
aquoso pertencente ao grupo dos ácidos orgânicos, e é um excelente fixador para detecção de
fibras de reticulina, melanina e células argentafins: é composto por várias substâncias fixadoras;
simultaneamente, pode ser usado como descalcificador, e é ideal para a fixação de peças ósseas,
constituindo-se por:
- Ácido pícrico (produto amarelado que deve estar em Solução aquosa por ser explosivo).
- Formaldeído.
- Ácido acético glacial.

O Liquido de BOUIN está contraindicado na fixação de órgãos hematopoéticos e das lesões


hemorrágicas porque deforma os eritrócitos; de igual modo não se deve usar em material em que
vai-se fazer a coloração de Fite-Faraco, pois os bacilos da lepra ficam alterados pelo fixador e
podem originar-se falsos negativos.

5.6. Factores da Qualidade de Fixação

A Qualidade de fixação depende dos seguintes factores:


- Intervalo entre a colheita e o início da fixação.
- Volume do fixador.
- Espessura da amostra.
- Contacto da amostra com o fixador.

Intervalo entre a Colheita e o Inicio da Fixação – Seja qual for o método de colheita do
produto, a autólise dos tecidos é progressiva enquanto o material não for fixado.
Desta maneira deve-se ter como regra geral fixar imediatamente o material após a sua obtenção,
salvo no caso de exames de congelação.

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Na enfermaria ou na sala de operações o material deve ser colocado no recipiente já com o


fixador. Caso contrário, o material deve ser enviado imediatamente ao Laboratório para ser
fixado.

Recomenda-se para nunca usar o soro fisiológico ou água para fins de transporte sob pena de se
pensar que seja um verdadeiro fixador. Se a entidade responsável da colheita não se dispor de
recipientes de vidro ou sacos plásticos para o transporte, recomenda-se que o material seja
envolvido em algodão embebido com fixador e nunca em gaze, porque esta provoca alterações
artefactuais na amostra.

Volume do Fixador – Deve ser de dez a vinte vezes maior que o volume da peça. De contrário a
fixação será defeituosa.

Espessura da Amostra - Quanto menor for a espessura da amostra, mais rápida e eficiente será
a fixação. Recomenda-se que a espessura máxima da amostra para o processamento seja de 6
mm.

Contacto da Amostra com o Fixador – para se conseguir um contacto total e imediato da


amostra com o líquido fixador deve-se:
- Colocar o material em recipientes contendo já o fixador e não em recipientes secos.
- Agitar de vez em quando o recipiente que conte a amostra para renovar o fixador em
contacto com a amostra.
- Usar recipientes bem maiores que o volume da amostra, e de boca larga; porque os tecidos
frescos são em geral moles, e frequentemente são introduzidos a força em recipientes
(sempre que for possível) pequenos ou de boca estreita desproporcionados ao volume
natural da amostra; esta prática, que é comum, é errada e deve ser evitada, pelo seguinte:
- A fixação será deficiente porque o volume do fixador não corresponderá ao exigido para
uma boa fixação.
- Após a fixação, a amostra introduzida a força endurece e adquire o formato do recipiente
que a conte; por esta razão, não poderá ser normalmente retirada, a não ser que se quebre
o recipiente (quando for quebrável), correndo-se o risco de danificar a amostra.
- No caso de órgãos cavitários, como por exemplo estômago ou intestino, abrir numa das
margens e introduzir o fixador ou algodão embebido com fixador; também se pode

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prender o órgão, já aberto, a uma placa de madeira ou de cortiça usando alfinetes, a qual é
virada ao contrário e colocada, dentro de uma bandeja contendo o fixador.

6. REGISTO DO ESTUDO MACROSOCÓPICO

6.1. Uso da Palavra Material em Anatomia Patológica

Em Anatomia Patológica, denomina-se de material a todas as amostras de natureza biológica


recebidas no Laboratório com o fim de diagnóstico. Podem-se usar também com o mesmo fim as
palavras peças; produto e fragmentos.

6.2. Organização para o Registo Macroscópico

Esta etapa segue a recepção do material; é desenvolvida por um técnico de Anatomia Patológica
auxiliado por um agente de serviço. Nesta etapa, prepara-se o material para o registo
propriamente dito. Para esta actividade é necessário entre outros, o seguinte material:

1. Cabina apropriada para o estudo macroscópico


2. Livro apropriado para a descrição macroscópica ou computador ou outros meios
3. Balança para pesagem das amostras
4. Tábua de madeira ou placa de cortiça
5. Jogo de facas, incluindo bisturis
6. Jogo de pinças, com e sem dentes
7. Jogo de tesouras, incluindo enterótomos
8. Régua metálica
9. Lupa
10. Provetas graduadas para medir colecções líquidas
11. Papel de filtro ou esponjas
12. Vasos de recepção metálicos ou de porcelana
13. Cassetes para o processamento
14. Lápis de carvão bem afiado (de preferência com dureza HB)
15. Caneta de tinta permanente para identificação de reservas

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16. Recipiente de vários tamanhos/formatos/volume para conservar reservas


17. Tinta de china, para identificar margens cirúrgicas
18. Corante de eosina para reálce de material diminuto
19. Pincéis para pintar as margens cirúrgicas com tinta de china.
20. Diverso material de biossegurança (luvas, barretes, mascaras, batas, aventais)

Antes do inicio do registo, o técnico deve conferir o material e arrumá-lo devidamente e garantir
que:
- Peças de grandes dimensões sejam descritas (peso e dimensões) e abertas, ficando a fixar
até ao dia seguinte, tendo, nesse dia, prioridade sobre as outras.
- Amostras recolhidas nas autópsias e estudos científicos em curso, devem, sempre que for
possível, ser processadas em outras alturas e separadamente das biopsias e peças
cirúrgicas de rotina hospitalar
O registo propriamente dito, consiste em anotar todas as características observadas numa amostra
pelo patologista. Estas características podem ser influenciadas pelo estado de fixação do
material.

6.3. Estado de fixação do produto

Consiste na determinação macroscópica do estado de fixação do material ou seja no grau em que


os tecidos se encontram: fixados, não fixados ou parcialmente fixados.
Os tecidos fixados, apresentam-se com um apagamento mais ou menos acentuado da sua cor
original, dependendo do tipo do fixador usado. Por exemplo, material fixado em “formol” tende
sempre a adquirir uma coloração esbranquiçada enquanto o material fixado em bouin tende a
adquirir uma coloração amarelada, isto é, cor do próprio fixador.
Em geral, o material fixado, apresenta-se mais duro e elástico; menor volume (retracção da
fixação) do que o não fixado. Estas características devem-se a alteração da natureza do tecido
sobretudo pelas ligações químicas entre o fixador e as cadeias proteicas tecidulares, originando a
sua desnaturação.

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As colecções sanguíneas focais dos tecidos fixados apresentam também uma viragem da cor
vermelha habitual para uma cor castanha vermelho-acastanhado muito escuro.

6.4. Descrição macroscópica

A caracterização e descrição de uma estrutura tecidular consiste em dizer-se a amostra apresenta


ou não alterações da normalidade. A descrição deve basear-se entre outros, nos seguintes
aspectos:
1. Dimensões, incluindo peso
2. Forma
3. Consistência
4. Cor
5. Malformações congénitas ou adquiridas
6. Presença de exsudados fibrosos ou tumorações
7. Margem de ressecção cirúrgica
8. Odor da peça e outras eventuais anormalidades.

Todas as alterações da normalidade podem fornecer preciosas indicações sobre qual a doença
esta presente, se forem analisadas com inteligência.

6.5. Amostragem

A selecção de amostras para o processamento histológico é feita pelo patologista. O técnico deve
anotar, no fim da descrição o número total de fragmentos que seguem para o processamento.
Do mesmo modo, deve anotar se fica reserva ou se o material segue na totalidade (“in toto”).
EXEMPLO A anotação 5+R no fim de uma descrição macroscópica, indica que foram feitas
cinco amostras do produto submetido para análise e que ficou material de reserva;
a anotação 2-“intoto” indica que todo o produto submetido para análise foi
seleccionado num total de duas amostras, não tendo restado qualquer fragmento
para reserva.

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Sempre que possível, as amostras seleccionadas devem ser laminares, com duas faces paralelas
entre si, para facilitar a orientação durante a inclusão. A espessura da amostragem deve variar
entre 3 a 4 mm, para permitir uma rápida e eficaz penetração dos reagentes usados durante o
processamento histológico.
As amostras seleccionadas para o processamento histológico são depositadas em cassetes
previamente identificadas automaticamente ou com lápis de carvão.
Quando o material é diminuto, antes de ser depositado nas cassetes deve ser envolvido num
papel de filtro ou esponja para evitar que este se perda durante o processamento histológico.

6.6. Material de Reserva

Os restos dos produtos que não seguiram para o


processamento histológico após amostragem, constituem a
RESERVA daquela análise (figura 9).
A reserva deve ser identificada com o mesmo número da
respectiva análise e guardada cuidadosamente numa sala
apropriada – espaço para reservas.
Este material tem reserva, tem utilidade para casos em que o Patologista por várias razões quer
fazer nova amostragem.
O material de reserva, SÓ PODE SER DEITADO FORA DEPOIS DO DIAGNÓSTICO TER
SIDO FEITO.

7. DESCALCIFICAÇÃO

DEFINIÇÃO Descalcificação é um processo Laboratorial que consiste na remoção de sais de


cálcio depositados nos tecidos. A descalcificação é indispensável para que o
processamento histológico e a microtomia sejam convenientemente feitos,
usando facas normais de micrótomo. Podem usar-se facas de diamante – que
permitem efectuar a microtomia sem prévia descalcificação; mas elas são
extremamente caras e, por essa razão, são pouco usadas, (Hould. René 1984)

7.1. Tipos de Descalcificadores

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A Remoção do cálcio pode ser feita por diversos métodos. O mais importante e largamente
usado, que passaremos a descrever ao longo deste capítulo, é o MÉTODO DAS SOLUÇÕES DE
ÁCIDOS FRACOS.

Os Descalcificadores mais frequentes são Ácidos Orgânicos e Ácidos Inorgânicos;

Ácidos Orgânicos – São os mais usados e aconselhados em Anatomia Patológica; os mais


importantes são:

Ácido Fórmico, simples ou com “formol”, em solução aquosa – tempo médio de


descalcificação – 3 a 7 dias, especialmente recomendado para dentes. Tem acção lenta.

Ácido Tricloroacetico, com “formol,” em solução aquosa (ácido Tricloroacetico – 10 ml, água
destilada – 80 ml e Formaldeído comercial – 10 ml), fixa e descalcifica simultaneamente.

Líquido de Bouin, já estudado no capítulo anterior, composto por “formol”, ácido pícrico e
ácido acético, todos em solução aquosa, especialmente recomendado para descalcificar pequenos
cilindros ósseos, biópsias de medula óssea e peças com calcificação distrófica.

Ácidos Inorgânicos – Nestes, o mais usado é o ÁCIDO NÍTRICO a 5 por cento em solução
aquosa com formaldeído. Especialmente recomendado para ossos compactos. Tempo médio de
descalcificação, quando espessura de 5 mm – 1 a 3 dias

São também usados, como descalcificadores soluções comerciais de fórmulas concebidas nos
Laboratórios especializados como por exemplo ‘’RDO’’ com um poder de descalcificação muito
alto.

7.2. Factores de Descalcificação

Do ponto de vista químico, os descalcificadores devem transformar os sais de cálcio depositados


nos tecidos em sais solúveis nas próprias soluções descalcificadoras.
A qualidade final e a demora de tal processo, dependem de factores relativos ao estado da
estrutura a descalcificar e factores do descalcificador, tais como;
- Estado de Fixação da peça

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- Afinidade com os sais de cálcio e preservação do tecido


- Concentração do descalcificador
- Volume do descalcificador
- Espessura do tecido a descalcificar
- Agitação e renovação do descalcificador

Estado de Fixação da Peça – A boa descalcificação ocorre em peças bem fixadas; de contrário,
a degradação enzimática da autólise vai juntar-se a agressão química dos hidrogeniões livres e
muito reactivos dos ácidos contidos no descalcificador. O bouin pode ser especialmente
recomendado por, como sabemos, ser descalcificador e também fixador; o mesmo se pode dizer
de todas as soluções descalcificadoras com idêntica composição

Afinidade com os Sais de Cálcio e preservação do Tecido – O bom descalcificador é aquele


que tem maior afinidade pelos sais de cálcio e que produz menos alterações nos tecidos.

Concentração do Descalcificador – como regra geral, quanto maior for a concentração dos
descalcificadores menor é o tempo necessário para a remoção total dos sais de cálcio. No
entanto, maiores serão as alterações artefactuais produzidas nos tecidos e por isso, a qualidade
final será mais baixa. Por esta razão, se recomenda o uso de descalcificadores que actuam
rapidamente em baixas concentrações.

Volume do Descalcificador -Para que a descalcificação seja rápida e eficiente recomenda-se


que o volume do descalcificador seja mais de dez vezes superior ao do tecido a descalcificar.
Espessura do Tecido a Descalcificar – A velocidade de descalcificação vária na razão inversa
da espessura do tecido a descalcificar; portanto é necessário garantir que o material não tenha
uma espessura média superior a 6 mm.

Agitação e Renovação do Descalcificador – A agitação acelera o movimento das partículas,


provocando um maior número de colisões por unidade de tempo e o resultado será uma maior e
mais rápida dissolução dos sais de cálcio presentes no tecido. A actividade do descalcificador
diminui à medida que aumenta a quantidade de sais de cálcio transferidos da peça para a solução
descalcificante sendo, por isso, necessário renovar periodicamente o descalcificador. A

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 35


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

frequência da renovação depende da experiência prática de cada Laboratório, mais quase todos a
fazem diariamente.

7.3. Controlo de Descalcificação

Para o estudo histológico das peças calcificadas é necessário, nas nossas condições de trabalho,
que o cálcio seja completamente removido. Peças mal descalcificadas não permitem bons cortes
devido a sua dureza além disso, corre-se o risco de danificar o fio da faca com formação de
entalhes ou ‘’bocas’’.
O controlo de descalcificação, muito frequentemente é feito por dois métodos; Método físico ou
mecânico e Método químico.

Método Físico ou Mecânico – Consiste em verificar a dureza do material a examinar; para isso,
faz-se penetrar um alfinete em diversas direcções e em diversas profundidades da amostra. Se o
material não oferecer qualquer resistência à penetração do alfinete considera-se que o cálcio foi
totalmente removido e que, por tanto, a descalcificação está completa. Se houver resistência à
penetração do alfinete ou se, se ouvir um crepitar muito típico, ainda existem depósitos de cálcio
no tecido e, consequentemente, é necessário continuar com o processo renovando-se o
descalcificador. Este ensaio repete-se o número de vezes que for necessário até que se possa dar
por concluída a remoção dos sais de cálcio.

Método Físico é o mais frequentemente usado. Porém, tem inconvenientes porque pode dar
falsos negativos na pesquisa dos sais de cálcio com efeito, a descalcificação pode ter sido
irregular deixando áreas descalcificadas entremeadas com outras onde os sais de cálcio ainda
permanecem. Se o alfinete penetrou numa área sem cálcio, o técnico será, erradamente, levado a
concluir que a descalcificação está completa. Um outro inconveniente resulta da dilaceração dos
tecidos, consecutiva a cada penetração do alfinete na amostra.

Método Químico – A pesquisa de sais de cálcio remanescente é feito, não no tecido como no
método físico, mas sim no líquido descalcificante. Para tal efeito usam-se produtos como;
- O hidróxido de amónio ou de sódio
- O oxalato de amónio ou de sódio.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Neutraliza-se o líquido descalcificante com o hidróxido, até ao PH 7. À solução agora


neutralizada, junta-se o oxalato. Se ainda existirem sais de cálcio, formar-se oxalato de cálcio
insolúvel a um pH situado entre 3,5 a 7,5; revelado por uma turvação da solução. Neste caso, a
descalcificação não está terminada e, é necessário continuá-la renovando o descalcificador. O
processo pode ser considerado completo quando, ao fim de cinco minutos não ocorrer turvação.

7.4. Tratamento Post-Descalcificação

O material descalcificado nunca pode ser passado directamente para a água. Se assim acontecer,
o ácido retido no tecido altera o equilíbrio hídrico provocando a tumefação das fibras de
colagénio e outras estruturas, podendo, mesmo, destruir as células. Por isso o material, deve
passar num banho de sulfato de sódio a cinco por cento ou sulfato de amónio durante doze a
vinte e quatro horas para a neutralização do ácido retido no tecido. Só depois desta etapa é que se
pode lavar o material com água corrente durante mais ou menos uma noite e seguidamente
levado para o processador.

RESUMO:

O Estudo das células/tecidos foi desde os tempos do António Leeuenhoeck um objecto de grande
interesse sobretudo com o aparecimento da microscopia associado com a coloração e a
microtomia. A complexidade deste estudo, levou a diferenciação em dois ramos –
Citotecnologia, conjunto de técnicas que permitem um estudo individualizado das células e
Histotecnologia, ao conjunto das técnicas que permitem ao estudo dos tecidos.

Assim, a Histocitotecnologia, corresponde ao conjunto de processos físicos e químicos que


permitem o estudo microscópico dos tecidos e das células individualizadas.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Em Moçambique o Serviço de Anatomia Patológica do então Hospital Central de Maputo nasceu


em 21 de Abril de 1944 Fundado por Dr. Manuel Dâmaso Prates, que entre nós ficou
celebrado como o “Pai da Patologia em Moçambique”.

O Dr. Carlos Eduardo Mayor Gonzalez, foi o Patologista Moçambicano que mais se destacou na
condução do Serviço após Independência de Moçambique.

Qualquer Serviço de Anatomia Patológica tem como funções – Rotina Hospitalar, Formação e
Investigação.
Para estas actividades, ele usa os seguintes métodos: Macroscópico, Histológico e Citológico, e
realizando as seguintes análises: autópsias, biópsias e peças cirúrgicas e citologias.

As amostras por serem estudadas devem ser devidamente fixadas - operação destinada acabar
com a actividade vital dos componentes tecidulares, preservando-os, dentro do possível, com a
forma e a estrutura que tinham em vida.
Quando ocorrem artefactos no processo de fixação pode desencadear-se a autólise (auto= “por
si” e lise= “destruição”) - destruição da célula por acção das suas próprias enzimas, normalmente
encerrados no interior dos seus lisossomas e posteriormente a putrefacção se não haver o
bloqueio de autólise

A fixação, pode ser efectuada por Processos Físicos e Químicos. O Processo químico é o mais
usado e representado por Formaldeído, Fixador Universal em histologia na concentração de 4%,

Estado de fixação do produto grau em que os tecidos se encontram Fixados, não fixados ou
parcialmente fixados.

Para o processamento histológico, a espessura da amostragem deve variar entre 3 a 4 mm, para
permitir uma rápida e eficaz penetração dos reagentes usados durante o processamento.

O material de reserva, SÓ PODE SER DEITADO FORA DEPOIS DO DIAGNÓSTICO TER


SIDO FEITO

Em casos de material ósseo é necessário que este seja descalcificado -processo Laboratorial
que consiste na remoção de sais de cálcio depositados nos tecidos, para permitir o corte dos
tecidos sem danificar as facas.

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ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD1

Actividades de ensino-aprendizagem
ACTIVIDADE nº 1 Preparação de 10 litros de “Formol” Tamponado a 10%
Duração 2 Horas
Objectivos:
- Descrever as características químicas e físicas do formol;
- Descrever as regras de preparação de soluções/diluições;
- Explicar as características da instrumentação inerente;
Conteúdos de referência
- “Formol”: conceito e classificação;
- Sua utilidade na fixação de amostras;
- Alterações artefactuais de formol;
- Diferenciação do formol tamponado e não tamponado;
- Aplicação da fórmula de preparação de soluções, concentrações/volumes;
- Pratica no manuseamento de balanças analíticas/pesagens;
- Diferenciação de instrumentação para preparação de soluções.
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
- A turma deve-se organizar em grupos de 4 alunos. Cada grupo deve:
- Estudar no manual as características físicas e químicas do “formol”;
- Estudar no manual as regras de preparação de soluções;
- Preparar o “formol” na quantidade referida;
- Cada grupo deverá apresentar o resumo das características físicas e químicas do
“formol”; incluindo as alterações artefactuais do mesmo;
- A expressão Matemática que permitiu essa preparação.
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
- As actividades que o professor deve planejar e desenvolver na sala de aulas são:
- Estabelece os conhecimentos prévios dos alunos da turma.
- Expõe os conteúdos conceptuais necessários para o desenvolvimento das sessões
práticas.
- Resume os conceitos chave e faz perguntas para se assegurar que suas explicações são
claras

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- Prepara os planos das actividades práticas, os protocolos de actuação e a


documentação para os grupos de trabalho
- Estabelece os grupos de alunos, e assigna as actividades que eles devem realizar.
- Reparte aos grupos a documentação para suas análises e debates.
- Durante a apresentação dos grupos, o professor deve detectar os erros cometidos e das
orientações necessárias para sua correcção. Também deve comprovar a participação de
cada aluno no trabalho desenvolvido.
- No final da actividade o professor avalia o trabalho desenvolvido pelos alunos
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Espaço físico da sala de aulas;
- Acesso a literatura inerente;
- Material de escritório
Critérios de avaliação
Os estudantes:
- Identificam as características físicas, químicas do formol; importância e suas possíveis
alterações artefactuais;
- Realizam o trabalho em grupo, mencionando todos os passos necessários para a sua
preparação;
- Interpretam a fórmula de preparação de soluções/concentrações e volumes
- Apresentam o resumo final do seu trabalho cumprindo as condições estabelecidas pelo
professor.

CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD1

Caso prático/Projecto
Título
Avaliação da qualidade das requisições dos exames anatomopatológico no serviço de
Anatomia Patológica. (nota: nos locais onde não haja SAP, fazer esta actividade ao nível do
Bloco Operatório/ponto focal da Anatomia Patológica de um hospital).
Descrição
O professor expõe a turma as condições para o desenvolvimento do caso prático.
Cada grupo de trabalho deve apresentar ao final desta unidade e dentro do prazo estabelecido

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 40


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

pelo professor, o resultado da actividade. Esta actividade é um caso de aprendizagem


podendo ser baseada em projecto. Por isso deve compreender as seguintes partes:

- Estabelecer os grupos de trabalho.


- Eleger um laboratório de Anatomia Patológica ou Bloco Operatório de um hospital.
- Visitar o laboratório de Anatomia Patológica ou o hospital ora seleccionado para
verificar e analisar o grau da qualidade das requisições ai presente
- Investigar em Internet e buscar informação relacionada com o tema do trabalho.
- Seleccionar a documentação imprescindível para o desenvolvimento da actividade.
- Elaborar e desenvolver a actividade seguindo as pautas do professor
- Assignar roles e funções a cada um dos integrantes do grupo de trabalho.

Objectivo Geral
- Avaliar a qualidade das requisições dos exames anatomopatológicos das
biopsias/peças cirúrgicas presentes no Serviço da Anatomia Patológica ou Bloco
Operatório de um determinado hospital/ponto focal da Anatomia Patológica.

Para realização deste trabalho, o professor deve dividir a turma em grupo de 4 elementos
onde:
- Cada grupo vai seleccionar aleatoriamente e de forma consecutiva a 2ª requisição
destes exames, até um total de 25 requisições.
- O estudo deve consistir no levantamento dos itens existentes na requisição verificando
se foram ou não preenchidos, incluindo a legibilidade da caligráfica e borrões.
- Descrever a frequência global e relativa do preenchimento de cada item contido na
requisição.
- Finalmente fazer uma análise estatística percentual dos erros cometidos, queira por
uso de gráficos ou tabelas.

Recursos
- Laboratório de Anatomia Patológica ou Bloco Operatório de um hospital/ponto focal
da Anatomia Patológica;

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- Requisições preenchidas de exames anatomopatológico


- Material de escritório
- Referências bibliográficas

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. GARCÍA DEL MORAL, R. (1993). Laboratório de Anatomia Patológica. s/ed. Madrid.

2. GONZALEZ, C. & ALBERTO, M. (1991). Princípios Básicos de Histotecnologia e


citolotecnologia. 1ª edição. MISAU. s/l.

3. HOULD, R. (1984). Techiniques d’histopathologie et de cytopathologie. Edição. Maloine.


Paris.

4. JUNQUEIRA & CARNEIRO. () Histologia Básica.

5. MICHALANY, J. (1980). Técnicas Histológicas em Anatomia Patológicas. s/ed. São


Paulo.

6. ROBBINS. (2015). Patologia Estrutural e Funcional. 9ª Edição.

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UNIDADE DIDÁCTICA 2

PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS

ÍNDICE

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

UNIDADE DIDÁTICA 2: PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS __________________ 43


OBJECTIVO GERAL _______________________________________________________ 45
Resultados de aprendizagem ________________________________________________ 46
INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 46
1. PROCESSAMENTO HISTOLÓGICO ______________________________________ 47
1.1. Método de Dissociação _______________________________________________ 48
1.2. Método de Cortes dos Tecidos _________________________________________ 48
2. ETAPAS DO PROCESSAMENTO HISTOLÓGICO_____________________________ 50
2.1. Fixação Complementar _______________________________________________ 50
2.2. Desidratação _______________________________________________________ 50
2.3. Diafanização, Esclarecimento, Clarificação ou ClareamentO _________________ 51
2.4. Impregnação ou Penetração ___________________________________________ 51
2.5. Processamento Manual e Automático ___________________________________ 53
3. INCLUSÃO ___________________________________________________________ 55
3.1. Meios de Inclusão ___________________________________________________ 56
4. MICROTOMIA ________________________________________________________ 59
4.1. Factores da Microtomia ______________________________________________ 60
4.2. Tipos de Micrótomos ________________________________________________ 60
4.3. Etapas da Microtomia ________________________________________________ 62
4.4. Etapas Complementares da Microtomia __________________________________ 64
4.5 Manutenção do Micrótomo ___________________________________________ 66
5. CRIOTOMIA ___________________________________________________________ 66
5.1 Tipos de Criótomos _________________________________________________ 67
5.2 Aplicações ________________________________________________________ 70
6. FACAS DE MICROTOMO _______________________________________________ 71
6.1 Natureza das Facas __________________________________________________ 71
6.2 Tipos de Facas _____________________________________________________ 71
6.3 Tipos de Afiação ____________________________________________________ 72
6.4 Indicadores dos defeitos das facas de microtomia __________________________ 73
6.5 Tempo de vida útil de uma faca ________________________________________ 73
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD2 ________________________ 74
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD2 ________________________________________ 76

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 78

OBJECTIVO GERAL

Realizar o processamento, inclusão e cortes de tecidos com base nas técnicas adequadas para o
efeito, seleccionando os materias e equipamentos necessários.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Resultados de aprendizagem

No fim desta Unidade o estudante será capaz de:

- Enumerar e descrever as etapas do processamento histológico de tecidos


- Explicar o papel da temperatura no processamento histológico
- Explicar os procedimentos de inclusão das amostras
- Aplicar a técnica de inclusão de tecidos dependendo do tipo de amostra a realizar
- Destacar o papel do histocentro no âmbito de inclusão
- Explicar o papel da microtomia no âmbito do diagnóstico microscópico
- Descrever os tipos de micrótomos e sua manutenção
- Enumerar as regras de microtomia
- Indicar os métodos de colagem dos cortes à lâmina
- Explicar a importância dos cortes de congelação
- Distinguir os tipos de criótomos
- Explicar a importância do Crióstato
- Descrever as regras de criotomia
- Explicar as aplicações dos cortes congelados
- Descrever a importância do exame extemporâneo
- Distinguir o tipo e a importância das facas no papel do corte de tecidos.
- Descrever os vários artefactos dos cortes histológicos

INTRODUÇÃO

Em Anatomia Patológica a qualidade e as condições da amostra ou material recebido para


análise são de suma importância. Portanto, se as amostras forem colhidas de maneira
inapropriada os resultados do laboratório não serão valiosos. O protocolo de amostragem deve
ser claramente definido.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 46


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Nesta segunda unidade didáctica faz-se o estudo do processamento das amostras. De referir
que a mesma está composta por seis grandes capítulos.

- O primeiro capítulo aborda o processamento histológico, onde discutiremos tópicos como


fixação complementar, a diafanização, esclarecimento, clarificação ou clareamento.
- No segundo capítulo, trataremos da temática da inclusão, meios de inclusão e parafina
como meio de inclusão universal.
- Para o terceiro capítulo, a abordagem será feita em volta do estudo da microtomia, onde
destacaremos os tipos de microtomos, factores da Microtomia, qualidades dos cortes e
colagem dos cortes.
- No quarto capítulo apresentamos a temática da criotomia onde abordaremos os tipos de
criótomos, factores de criotomia e exames extemporâneo.
- No final, apresentamos o quinto capítulo que vai desenvolver a temática das facas de
microtomo, e a sua importância no corte de tecidos

1. PROCESSAMENTO HISTOLÓGICO

Para o estudo ao Microscópico é indispensável tornar o material suficientemente transparente


para permitir a passagem da luz; de outro modo, a opacidade não permitirá o estudo das
características do material e, portanto, impedindo o diagnóstico do processo doentio nele
presente. A transparência pode ser alcançada de duas maneiras; pelo método de dissociação dos
elementos tecidulares ou pelo método de corte dos tecidos.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 47


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

1.1. Método de Dissociação

DEFINIÇÃO
O Método de Dissociação: consiste na individualização dos elementos
tecidulares, (Gonzalez & Alberto, M. 1991). Hoje em dia já não se usa.

1.2. Método de Cortes dos Tecidos

DEFINIÇÃO O Método de Cortes dos Tecidos: é o mais usado em técnicas histológicas,


consiste em cortar o tecido em fatias muito finas, transparentes `a radiação
visível, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).
O principal obstáculo ao corte de fatias tão finas é a composição química da matéria viva,
principalmente a água que constitui cerca de 70% da massa dos tecidos orgânicos, os quais
também possuem quantidades bastante significativas de gorduras e outros produtos líquidos ou
semi-líquidos a temperatura corporal e ambiente. Estes componentes dão aos tecidos orgânicos
frescos uma consistência mole ou muito mole.
Tal falta de dureza não permite que se efectuem cortes tão finos como é necessário. Para isso,
existem duas maneiras de solucionar este problema:
- Ou se diminui a temperatura até um ponto em que a água tecidular congele e os restantes
componentes solidifiquem ou, pelo menos, endureçam – MÉTODO DA
CONGELAÇÃO.
- Ou se substituem os componentes moles (e em primeiro lugar a água), por um produto
duro a temperatura ambiente, que permita os cortes – MÉTODO DE INCLUSÃO.
O primeiro, que irá ser estudado no Capítulo de Criotomia, é usado um micrótomo incorporado
numa camara frigorífica – o CRIOSTATO.

No segundo, o produto que substitui a água tecidular, conferindo dureza aos tecidos, também
serve para envolver totalmente a amostra no seu seio, servindo-lhe de apoio. Este processo
designa-se de INCLUSÃO e ao conjunto da amostra e do produto que a impregna e no qual se
encontra incluída dá-se o nome de BLOCO, figura 1.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 48


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Existem vários produtos com os quais se pode efectuar a impregnação e a inclusão, para formar o
bloco. Considerações de ordem económica ou outras, indicam-nos que o melhor produto para
esse efeito é a PARAFINA.

Esta, como veremos em detalhe no próximo Capítulo, é um produto obtido da destilação do


petróleo, oleoso e hidrófobo e insolúvel em água.
Como se disse anteriormente, os tecidos contêm
água no seu interior e se o meio de inclusão é
insolúvel em água, não será possível a impregnação
directa por esse meio, tornando-se necessário um
tratamento prévio. Para isso, faz-se primeiramente,
a substituição da água por etanol; no entanto, a
parafina e o etanol também não são francamente
solúveis, pelo que o problema permanece.

Para o resolver, deve-se substituir o etanol dos tecidos por xilol, produto no qual a parafina é,
finalmente solúvel – o que permite a sua impregnação.

É este conjunto de etapas chamado PROCESSAMENTO HISTOLÓGICO, que permitem


preparar o tecido para a inclusão. Compreendem as seguintes etapas:
- Fixação complementar
- Desitratação
- Diafanização
- Impregnação ou Penetração
- Inclusão
Frequentemente, é esse e o nosso caso antes da desidratação efectua-se uma Fixação
Complementar, usando o”Formol” a 10% ou Bouin. Esta etapa já foi descrita no Capítulo de
Fixação, pelo que aqui só-lhe é feita uma breve referência.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 49


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

2. ETAPAS DO PROCESSAMENTO HISTOLÓGICO

2.1. Fixação Complementar

Frequentemente, as amostras removidas de peças cirúrgicas volumosas não se encontram bem


fixadas, por o fixador não ter atingido as partes mais íntimas da peça. Daí a necessidade de
passarem por um banho de “Formol” a 10% ou de líquido de Bouin – que não corrigem as
alterações autolíticas já instaladas mas sim evitar o seu agravamento.

2.2. Desidratação

DEFINIÇÃO Desidratação: operação que consiste em remover a água contida nos tecidos.
Isto faz-se usando substâncias químicas solúveis na água, as quais a mais usada
é o álcool etílico, (Michalany, J. 1980).
Durante a permanência no etanol, os tecidos vão se compactando, pelo que a amostra diminui
sensivelmente de tamanho, além de sofrer outros artefactos. Este fenómeno é ainda maior se a
desidrastação começar logo com álcool absoluto. Para evitar este inconveniente, é necessário que
a desidratação começe em álcool de baixa concentração e progrida até ao etanol puro.

Sendo a água mais densa que o álcool, ela deposita-se no fundo do recipiente, se não houver
agitação do conjunto, originará uma desidratação irregular. Para se evitar este inconveniente é
necessário:
- Agitar constantemente as amostras para permitir a mistura da água depositada no fundo,
com o álcool
- Renovar regularmente o álcool usado
- Usar recipientes de fundo bem largo

Para a desidratação é necessário, em ordem sequencial, álcool nas graduações de: 85%, 95% e
100%. A desiratação é uma etapa muito importante do processo histológico. Um tecido mal
desitratado não irá diafanizar-se bem, pelo que não se impregnará bem, originando maus cortes.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 50


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2.3. Diafanização, Esclarecimento, Clarificação ou Clareamento

DEFINIÇÃO Diafanização, Esclarecimento, Clarificação ou Clareamento: é a operação


pela qual o álcool retido no tecido durante a desidratação é substituído por um
dissolvente do meio de inclusão, neste caso, a parafina. Esta designação deriva
do facto de amostra se tornar semi-transparente, diafana, à medida que o etanol
vai sendo substituído pelo agente químico usado nesta etapa, (Michalany, J.
1980).
Os diafanizadores mais usados são: XILENO (ou xilol), o BENZENO (ou benzol), TOLUENO
(ou toluol) e o ISOPROPANOL. Quando a água de um tecido mal desidratado entra em contacto
com o diafanizador, os dois, formam uma emulsão, devido a sua imiscibilidade, e assumindo o
aspecto de nuvens de cor branca.

2.4. Impregnação ou Penetração

DEFINIÇÃO Impregnação ou Penetração: consiste na penetração do meio de inclusão


(parafina) em todas as partes do tecido. Para isto ser possível a parafina deve ser
fundida pois ela é sólida a temperatura ambiente, (Michalany, J. 1980).
O ponto de fusão de parafina é uma das suas principais características de selecção. As parafinas
com o ponto de fusão mais baixo denominam-se PARAFINAS MOLES. AS PARAFINAS de
elevado ponto de fusão recebem a designação de PARAFINAS DURAS.
A Parafina a adquirir deve ter um ponto de fusão apropriado, seleccionado de acordo com
diversos factores. Parafinas MOLES originam – no nosso clima tropical e frequentemente sem ar
condicionado – blocos pouco rígidos que dão péssimos cortes.
As parafinas duras, têm o principal inconveniente de exigirem temperaturas elevadas para a sua
liquefação. Quanto mais for elevada a temperatura, maior será a destruição de certos
componentes dos tecidos, sobretudo as proteínas, que são desnaturadas. Este dano, é tanto mais
acentuado quanto maior for a temperatura marcada e quanto mais longa for a impregnação.
Por isso, uma impregnação deve ser aquela em que a penetração completa é mais rápida a baixa
temperatura possível, provocando uma lesão tecidular mínima. Para que a impregnação seja
adequada, a parafina não precisa de ultrapassar os 60 graus centígrados. O ponto de fusão de

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 51


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

uma parafina pode ser artificialmente modificado, no Laboratório – adicionando-se xilol, faz-se
descer o ponto de fusão; adicionando-se cera de abelha faz-se subir o ponto de fusão.
Estes procedimentos não são, contudo recomendados, sendo necessário uma parafina com um
ponto de fusão ideal para as condições de trabalho local. A parafina não é o único produto em
que a impregnação e a inclusão podem ser efectuadas; existem outros meios tais como:
celoidina, gelatina e resinas plasticas do grupo epóxy.
A inclusão é a etapa terminal do processamento histológico. Devido a sua complexidade e
importância, ela será descrita nos próximos capítulos. Cada Laboratório tem o seu próprio
esquema de processamento histológico (tab. 1), no entanto, existe uma relativa constância no
número de banhos, reagentes usados, e tempo de duração de cada um.
No nosso Laboratório, encontram-se em uso o seguinte esquema.

Tabela 1: Esquema do processamento histológico do SAP/HCM

PRODUTO TEMPO/HORAS ETAPA


01 Formol a 10% - I 1
Fixação Complementar
02 Formol a 10% - II 1
03 Etanol a 85% 1
04 Etanol a 95% 1
05 Etanol a Absoluto - I 2 Desidratação
06 Etanol a Absoluto - II 2
07 Etanol a Absoluto - III 2
08 Xilol – I 2
09 Xilol – II 2 Diafanização
10 Xilol - III 2
11 Parafina - I 3
Impregnação
12 Parafina - II 3
Este esquema, de 22 horas, não é rígido, podendo ser alterado em função do tipo e dimensões do
material a processar e dos reagentes usados. Por exemplo, para biópsias endoscópicas ou
diminutas, a duração do processamento histológico pode ser reduzida até 2 á 3 horas, tratando –
se de material com espessura muito reduzida, o seu tratamento é rápido.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 52


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2.5. Processamento Manual e Automático

No passado, o processamento dos tecidos era feito manualmente. Este processo levava cerca de
três dias, o que contribuía para a demora dos resultados. Essa demora, devia-se ao facto de ter, de
se interromper o processamento histológico nos períodos em que o Laboratório se encontrava
encerrado. Para isso, escolhia-se, uma etapa que possibilitasse a permanência de amostras sem
prejuízo avultado da qualidade do processamento, para, no dia seguinte continuar com o
processo.

A automatização do processamento permitiu reduzir esse tempo para vinte e quatro horas em
média. A automatização foi possível com o desenvolvimento de aparelhos – os
PROCESSADORES HISTOLÓGICOS. Hoje, o método automático é universalmente usado para
o trabalho de rotina, pois permite um trabalho sem interrupções programadas e, portanto, muito
vantajosas em termos de produtividade laboratorial.

Contudo, a automatização acarreta algumas desvantagens, tais como: no caso de haver cortes de
energia num dos períodos em que o Laboratório se encontre encerrado, as amostras
permanecerão num determinado banho durante um período superior a que se encontra
programado – o que pode trazer consequências nefastas ao processamento; no caso de haver
corte de corrente no momento em que o mecanismo automático está a efectuar a transferência de
um banho para o banho seguinte, as amostras podem ficar bloqueadas no ar, fora de qualquer
líquido, acarretando, certamente, artefactos no processamento; processamento deficiente devido
a desprogramação acidental do processador (durante limpezas enérgicas ou outros actos); porém,
o principal inconveniente do método automático é, no entanto, o facto de todos os tecidos terem
de ser processados da mesma maneira e não do modo mais adequado às suas particularidades de
composição; na verdade, a estrutura de cada tecido exige um tratamento diferente dos outros
tecidos para tecido.

Apesar dos inconvenientes expostos, as vantagens do processamento automático pesam muito


mais do que as suas desvantagens, pelo que continua a ser usado, e cada vez mais. Hoje em dia, o
MÉTODO MANUAL é pouco usado e talvez em casos restritos que sejam necessário um
controle permanente das fases do processamento.

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Processadores Histológicos

Processadores histológicos são aparelhos automáticos


destinados a fazer passar as amostras em líquidos
colocados numa certa ordem. A maioria dos
processadores possuem 12 posições, onde são
colocados 12 copos contendo as respectivas soluções.
Destes 12, dois são copos termostatizados para fundir a
parafina e são de temperatura regulável (fig. 2).

Existem dois tipos de processadores, quanto as condições às condições que criam nos copos
porta-líquidos.

- Os normais, em que os líquidos se


encontram a temperatura e a pressão
ambientes;
- Os que criam condições especiais tais como
calor e/ou pressão negativa/vácuo (fig. 3).

Os processadores normais com os líquidos a


temperatura ambiente, são os mais usados. Os
processadores com os líquidos a quente são os
menos usados, apesar de acelerarem o
processamento histológico. Acarretam
desvantagens consideráveis devido aos artefactos
que provocam. Qualquer processador é dotado de um sistema de programação de tempos
desejados para cada banho.

Todo o processador de tecidos tem um sistema de início retardado (“Delay –timer”) para permitir
a marcação da hora a que se pretende que o processamento tenha início, figura 3.

Estes processadores são muito vantajosos pois permitem que nas vésperas de fins de semana ou
feriados, se marquem neles a hora a que no dia seguinte, o processo histológico deve ter início.

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Para além destes, existem muitos outros tipos de processadores, com esta ou aquela
particularidade ou vantagem, que cada laboratório deve escolher de acordo com as condições de
trabalho local.

3. INCLUSÃO

No Capítulo de processamento histológico vimos que, para se fazer a inclusão, é necessário que
as amostras sejam processadas até adquirirem as condições adequadas ao meio de inclusão. No
nosso caso, após a fixação, as amostras devem ser desidratadas em álcool, diafanizadas em xilol
são impregnadas em parafina fundida.

DEFINIÇÃO A inclusão: é a operação que consiste em envolver e rodear o fragmento que


constitui a amostra, com uma substância – o MEIO DE INCLUSÃO ou,
simplesmente, o MEIO (não confundir com o Meio de Montagem), o qual será
abordado nos próximos Capítulos. Uma tal substância de inclusão deve ser
sólida a temperatura ambiente e a sua consistência deve permitir que seja
facilmente reduzida a fatias da espessura desejada, delgadas e transparentes,
pela acção do Micrótomo, (Hould, R. 1984).
A inclusão não é uma mera deposição dos tecidos na substância de inclusão; para ser adequada
ao fim a que se destina, existe um conjunto de regras que devem ser cumpridas.
- Em primeiro lugar é necessário garantir que os instrumentos a usar estejam perfeitamente
limpos para evitar contaminações com restos de tecidos de análises anteriores. Uma
contaminação, pode levar a um diagnóstico errado pelo patologista. Isto irá induzir o
clínico também em erro, o que se repercutirá, muito provavelmente, no tratamento do
paciente.
- Em segundo lugar, a inclusão deve respeitar a estrutura anatómica da amostra. Isto para
permitir que, nas fatias cortadas – que a partir de agora passaremos a chamar pelo termo
próprio de CORTES – todas as suas estruturas ou camadas sejam interessadas e
evidenciadas.

Tecidos como estomago e pele são exemplos típicos de amostras que merecem muito cuidado ao
incluir. Nas amostras de tecidos constituídos por uma única camada, o lado que tiver maior

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superfície deve ficar horizontal e paralelo ao molde/base da cassete. No caso de amostras


fragmentadas por exemplo, de material endometrial, os fragmentos devem ser centralizados e
colocados no mesmo plano horizontal para permitir que todos sejam atingidos pelo plano de
corte.

3.1. Meios de Inclusão

Meios de inclusão são produtos nos quais se introduzem as amostras para estudar. Esses meios
podem ser: hidrófilos e hidrófobos.

DEFINIÇÃO Os meios hidrófilos: são aqueles que se dissolvem em água e servem para
inclusão de amostras não desidratadas (Moral Gracia del R. 1993). A gelatina e
o Agar-agar são os melhores exemplos. De entre estes, o mais usado é a gelatina
– uma substância protéica, transacionada no comércio sobre forma de pó ou de
lâminas foleáceas incolores, inodoras e transparentes que se dissolvem
rapidamente em água quente. Na técnica histológica, a inclusão em gelatina
pode ser indicada para impregnações argênticas em material muito escasso e
friável, porém, quase que não se usa.
Os meios hidrófobos são insolúveis em água e solúveis em produtos derivados de petróleo
como xilol, benzol ou toluol. Merecem especial referência:
- A parafina, derivada dos resíduos da destilação do petróleo, é o mais importante e usado
como meio de inclusão de rotina; ela é quimicamente inactiva e apresenta enormes
vantagens:
- É mais barata,
- Os seus preparados podem ser arquivados por tempo indefinido nos laboratórios,
- Permite a execução de cortes extremamente finos e seriados, e
- Permite a realização de quase todo o tipo de coloração usando os mais diversos corantes;
- A celoidina é também usada como meio de inclusão; tem a vantagem de a sua inclusão se
poder realizar a temperatura ambiente razão pela qual provoca menos retrações nos
tecidos; é especialmente indicada para tecidos de consistência variada (por exemplo o
globo ocular e para o sistema nervoso), bem como para cortes de estruturas muito grandes,
por ser mais mole e elástica – o seu uso é bastante restrito.

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Existem no mercado parafinas de fórmulas especiais, como a de tipo (Paraplast), que tem a
vantagem de não se fragmentar pelo resfriamento; o seu uso é mais limitado em virtude de serem
mais caras.
- Com o desenvolvimento da microscopia
electrónica, foi necessário usar
substâncias plásticas muito mais duras
que a parafina rotineira para obtenção
de cortes ultrafinos; estas substâncias
são representadas pelas resinas
sintéticas de tipo Epóxi, metacrilato e
poliéster, que podem também,
eventualmente, serem empregues em
microscopia óptica; porém, por causa do
seu elevado custo, não são usadas para o trabalho de rotina, em histopatologia.

Para se fazer a inclusão em parafina, é necessário que ela se encontre liquefeita e a temperatura
não superior a 60 graus centígrados. Esta norma, infelizmente, nem é sempre cumprida por
alguns técnicos, tal erro no controle de temperatura origina artefactos que podem ser dramáticos
na morfologia e na reactividade biológica ou química dos tecidos. Nestes casos, tais artefactos
tornam-se perturbadores do diagnóstico e impeditivos do uso de certas técnicas.

No passado, era necessário aquecer a parafina ao fogão em copos metálicos e controlar a sua
temperatura por um termómetro externo. Esta maneira muito grosseira de trabalhar, não garantia
a estabilização da temperatura abaixo dos 60 graus recomendados.

Histocentro

DEFINIÇÃO O Histocentro, aparelho construído para resolver o problema de estabilização


de temperatura permitiu que a técnica de inclusão conhecesse uma melhoria
franca na rapidez e na qualidade dos seus preparados (fig 5). No Histocentro,
além do tanque da parafina liquefeita e estabilizada, encontramos também duas
áreas, uma aquecida e outra refrigerada. (Gonzalez & Alberto M. 1991).

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Na zona quente, encontramos áreas para conservação de moldes, cassetes e de selecção ou


estudo dos fragmentos a incluir. A zona fria é constituída por duas placas, uma pequena para
auxílio de inclusão propriamente dito e outra mais grande para acelerar a solidificação da
parafina e resfriar os blocos já formados. No Histocentro, a parafina, é injectada nos moldes por
uma pequena torneira situada na parte frontal do aparelho, a qual é accionada manualmente ou
através de um pedal.

Formação do Bloco

O bloco é um pequeno rectângulo ou quadrado formado pela cassete, meio de inclusão


solidificado e tecido no seu interior Fig 5).
OS BLOCOS formam-se quando a parafina
liquefeita, retorna ao estado sólido no
interior da casseta.
Na prática a inclusão realiza-se de seguinte
forma:
- Depois de estudar o tecido a incluir,
enche-se o molde (que já se encontra
na área quente por baixo da torneira
da parafina) seleccionado com a
parafina liquefeita e depositando se nele o tecido ora estudado com a orientação devida
(respeito de estrutura anatómica, da face mais representativa, de centralização do material
fragmentado) e posteriormente colocar na pequena zona resfriada, para garantir que os
fragmentos fiquem devidamente aderidos na base do molde; depois disto, colocar a
cassete já identificada (que continha o fragmento durante o processamento histológico) na
outra placa grande e fria.

Depois que o bloco tenha-se consolidado, na placa fria, desmolde-o suavemente e ficando o
bloco propriamente dito, que depois se remove o excesso de parafina nos seus bordos e depois
conduzi-lo ao Micrótomo.

Parafina – Meio de Inclusão Universal

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DEFINIÇÃO A Parafina é o meio hidrófobo de inclusão mais usado por fornecer inúmeras
vantagens sobre os outros meios de inclusão. É um meio barato, os seus blocos
conservam-se muito bem, e permite quase todo o tipo de coloração. (Gonzalez
& Alberto M.1991).
É um produto derivado dos resíduos de destilação de petróleo; de cor branca – opalina,
gordurosa ao tacto, insolúvel em água e em álcool mas solúvel nos derivados do petróleo (xilol,
benzeno, tolueno, Isopropanol, clorofórmio e noutras substancias de iguais propriedades). O seu
ponto de fusão deve ser considerado o aspecto mais importante para a sua compra, tendo em
conta, o clima e as condições locais do Laboratório - parafinas moles e ou duras.

4. MICROTOMIA

DEFINIÇÃO Microtomia (micro= ínfimo; tomo = cortar): é uma operação histológica que
consiste em cortar material previamente processado em espessura extremamente
fina, capaz de ser atravessada pela luz. Esta operação, realiza-se com ajuda de
aparelhos especiais – os micrótomos (fig 6). (Alberto, M. & Guisseve, A. 2011).
O aperfeiçoamento da Microtomia foi sempre
pilar essencial para o desenvolvimento da
histotecnologia/histologia. Ressaltam-se
navalhas para barbas, faca de Valentim e
finalmente o Micrótomo de Ranvier, percussor
dos micrótomos de Corrediça (figura 7).

Com o aperfeiçoamento, tais aparelhos


tornaram-se mais complexos, e podem, hoje,
efectuar cortes de grande precisão até com
espessura inferior a 0,5 micra.
A qualidade da microtomia, depende entre outros
factores, da habilidade do Técnico, da qualidade
de fixação, do grau do processamento histológico,
da inclusão, da qualidade da faca/grau de afiação
e da sua inclinação.

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O que vale ter boa maquinaria quando não temos bom operador? A qualidade humana é
indispensável em todas as actividades. Mesmo que o micrótomo seja da última geração, se o
técnico disponível não saber manipulá-lo nada de bom poderá se aproveitar.

4.1. Factores da Microtomia

a) Processamento Histológico: factor importante em microtomia. Amostras mal processadas


claro que irão se cortar pessimamente. Por exemplo, uma desidratação deficiente durante o
processamento histológico fará com que os tecidos ainda retenham água e consequentemente
estes mal se diafanizarão e mal se impregnarão e como resultado final estes continuarão
ligeiramente moles e mal se cortarão – os cortes tenderão a colapsar ou rasgarem-se quando
em contacto com o fio da faca.

b) Qualidade da faca/grau da sua afiação: facas mal preservadas,mal afiadas, produzem


cortes cheios de artefactos; entre os quais, cortes espessos, cortes com estrias, com
fendilhações/fendas ou mesmo rasgados.

c) Ângulo de inclinação da faca: ângulos mal ajustados criarão no bloco artefactos


importantes que poderão se reflectir negativamente nos próximos cortes. Nos micrótomos de
Minot, aconselha-se um ângulo de fuga de 4 a 10 graus. Ângulos demasiadamente grandes,
levam a que a faca “raspe” a superfície do bloco em vez de o cortar. E demasiadamente
pequenos, originam cortes com espessura variada.

d) Inclusão: peças malincluídas podem levar a falta de representatividade fiel do tecido que se
pretende estudar e consequentemente um tempo perdido; por exemplo em material incluído
em diferentes níveis, e ou na falta de orientação anatómica das amostras.

ATENÇÃO O Importante é notar que a inclusão não influencia muito o próprio acto da
microtomia mas sim a qualidade final do trabalho. Amostras incluídas em níveis
diferentes, a microtomia será feita mas não será representativa. E terá sido uma
microtomia apenas de “aquecer” porque faltarão fragmentos por serem estudados.

4.2. Tipos de Micrótomos

Os principais tipos de micrótomos são:

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i. Micrótomos usuais para blocos de parafina


ii. Micrótomos de Congelação, ou Criótomos
iii. Ultra-micrótomos.
iv. Vibrátomos

Neste capítulo, debruçar-nos-emos no estudo dos micrótomos usuais para blocos de parafina.
Quando não acrescentamos nenhuma outra designação específica à palavra micrótomo, é a estes
que queremos nos referir. Existem duas variedades essenciais destes Micrótomos – os de faca
fixa e os de faca móvel.

a) Micrótomos de Faca Fixa – também conhecidos de micrótomos ROTATIVOS ou de


MINOT (fig. 6) (lê-se “Minou” e não “Minote”, pois é uma palavra francesa). São
aparelhos muito pesados (20 a 30 kg), para evitar a trepidação – a qual origina cortes
ondulados e com espessura irregular.

Nestes micrótomos, o sistema PORTA-BLOCOS, avança em direcção a FACA, em movimentos


de subida e descida, os quais se sucedem continuamente enquanto o técnico fizer girar a
manivela do aparelho.

No fim de cada ciclo de subida e descida, o bloco desloca-se uma certa distância aproximando-se
da faca. Esta deslocação designa-se AVANÇO, e a distância percorrida recebe o nome de
PASSO do avanço. O passo é regulável e corresponde a espessura com que o corte vai sair, se
tudo correr bem.

b) Micrótomos de Faca Móvel, também conhecidos por Micrótomos DE PLANO


INCLINADO, DE DESLIZAMENTO, DE CORREDIÇA ou DE TRENÓ (fig 7). Este
tipo de micrótomo é Mais antigo que o de Minot, representando um aperfeiçoamento
domicrótomo de Ranvier.
Igualmente, são aparelhos muito pesados, para evitar a trepidação. Neles, é a faca que efectua o
movimento principal – de-vai-e vem no plano horizontal – do qual resulta a obtenção dos cortes.
O passo é definido, tal como no micrótomo de Ranvier, por uma deslocação ascendente do
sistema porta-blocos. Tal deslocação é regulável e encontra se mecanicamente articulada com o
sistema porta-facas de modo a que o avanço ocorra, automaticamente, no fim de cada ciclo de
vai-e-vem.

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Neste modelo, não existe volante nem a respectiva manivela, mais sim uma EMPUNHADURA
no sistema porta-facas. Este tem a forma de um pequeno carro, ou trenó, o qual carregando com
a faca, CORRE\DESLIZA sob efeito da força muscular do técnico, num canal ou goteira
apropriado.

4.3. Etapas da Microtomia

A microtomia é um processo complexo que envolve várias etapas ou fases, que se descreve em
seguida:
Etapas prévias:
- Instalar a faca/instalar o bloco
- Desbastar o bloco
- Obtenção dos cortes (microtomia propriamente dita)
- Etapas complementares (estendimento e secagem):
- Método de banho histológico
- Método da placa quente
Nas etapas prévias há que garantir que:
- As lâminas estejam bem limpas e identificadas com LÁPIS DE DIAMANTE ou de
grafite/de carvão.
- O banho histológico esteja ligado e regulado para a temperatura desejada, 30 minutos
antes da microtomia, para garantir que a temperatura seja atingida e estabilizada.
- O suporte onde vão ser colocadas as lâminas já com os cortes, que vão seguir ao seu
destino (mais frequentemente a coloração) esteja em condições de ser usado.
- Pinças e agulhas histológicas devem também encontrar-se disponíveis para serem usadas.
- Depois destas etapas preliminares, é necessário, como preparação final, antes de obter os
cortes, efectuar as acções que se seguem:
a) Instalar a faca – consiste na colocação da faca no sistema porta-facas do
micrótomo e no ajustamento do seu ÂNGULO DE INCLINAÇÃO; como já
referimos anteriormente (ver acima) este ângulo deve oscilar entre os 4 e os 10
graus.
b) Instalar o bloco – define-se como a colocação do bloco no sistema porta-blocos
do micrótomo de tal modo que o bloco fique bem fixo.

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c) Desbastar o bloco – a operação


destinada a suprimir a camada
de parafina que, no bloco
instalado, se encontra acima dos
tecidos da amostra até que fique
totalmente exposta; esta operação
deve ser feita com uma faca
diferente daquela que se usa para
obtenção de cortes para o estudo.

Só agora se pode passar a microtomia


propriamente dita, tendo em vista a OBTENÇÃO DOS CORTES, (Figura 8).
Para tal, é necessário que se respeitem algumas regras, como:

- Só se pode obter boas preparações quando todos os tecidos presentes na amostra se


encontrem representados nos cortes, após um desbaste cuidadoso; insiste-se em que esta
operação deve ser feita com uma faca diferente daquela usada para o desbaste;

- A espessura média ideal para o estudo histológico da rotina varia entre 4 e 6 micra;
porém, podem aceita-se secções com
espessura maior do que a referida se a
amostra tiver alterações doentias que
impossibilitam secções mais finas ou em
casos especiais – como o da coloração das
fibras de reticulina, em que o estudo é mais
fiel com cortes ligeiramente grossos que o
habitual. Mas, de um modo geral, quanto
mais finas forem as secções mais perfeitos
serão o estudo e o diagnóstico.
- Durante o processo da microtomia,
aconselha-se a
- Manutenção dos blocos sobre uma placa fria ou sobre o gelo para os manter
permanentemente endurecidos.
- Cada secção feita tem duas faces diferentes:

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- Uma face SUPERIOR, áspera e opaca,


- Uma face INFERIOR, lisa e brilhante; a face inferior é a que deve ser aderida à lâmina de
vidro.
Quando se usam micrótomos rotativos e, sobretudo, ao preparar cortes para aulas e ou de
materiais diminutos devem cortar-se em sucessão, oito a 10 secções; com estes micrótomos, tais
cortes em sucessão, ficam aderidos uns aos outros - o bordo superior de um adere ao bordo
inferior do que lhe sucede.
- Formando, deste modo, umatira que recebe o nome de “TENIA”, pela evidente
semelhança que tem com aqueles vermesintestinais.
Após a obtenção dos cortes não se pode considerar terminada a microtomia antes de se proceder
a certos actos que se designam, globalmente, por ETAPAS COMPLEMENTARES da
Microtomia.

4.4. Etapas Complementares da Microtomia

Com efeito, os cortes devem ser transferidos para as lâminas de vidro e desfeitas as pregas ou
rugas com que tenham ficado no processo de transferência. Isto pode fazer-se por dois métodos –
o de BANHO HISTOLÓGICO (ou mais simplesmente, apenas banho) e o de PLACA QUENTE,
os quais passam a ser descritos.
Método de banho, após a obtenção da secção, esta deve ser imediatamente transferida para o
banho histológico, (figura 9) neste, a água deve estar a uma temperatura de cerca de 5 graus
abaixo da temperatura necessária para a fusão daparafinaem que o material se encontra incluído;
com temperaturas mais elevadas, originam-se artefactos nas secções: as pregas dos cortes
fundem-se, e não permitem o seu estendimento e provocando a aderência das pregas entre si,
deixando de ser possível desfazé-las; com temperaturas inferiores, o corte não se estica
automaticamente e dificultando o seu ESTENDIMENTO; no fim deste, é necessário transferir o
corte para a face da lâmina comenumeração; para esta etapa, designada de“APANHA”, deve-se:
- Introduzir a maior parte da lâmina na água do banho, segurando-a por uma das
extremidades e levando-a até se encontrar com um dos bordos do corte, que se encontra a
flutuar na água do banho.
- Orientar o corte com ajuda da pinça histológica de modo a que ele se situe sobre a lâmina
na sua parte central, com os bordos da parafina do corte paralelos aos bordos da lâmina;

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- Com a lâmina e o corte devidamente orientados entre si, fazer a extremidade do corte
tocar na superfície da face superior da lâmina; em contacto com o vidro, mais frio, o corte
imediatamente adere a lâmina.
- Extrair a lâmina do banho, com um movimento rápido ascendente.
- Escorrer, no bordo do banho, a maior parte da água que é arrastada pelo processo de
apanha.
- Remover da superfície da água do banho, e dos instrumentos de trabalho, quaisquer
resíduos dos cortes acabados de estender para evitar que estes se instalem nos próximos
cortes e ser fonte de confusão diagnóstica.
Método de placa quente – pouco usado entre nós, mas usa-se uma placa de aquecimento
ascendente, aonde se coloca a lâmina com uma gota de água e posteriormente o corte que vai se
estendendo há medida que a água vai gradualmente aquecendo, com todos os princípios
observados no método de banho.

Deve tomar-se em linha de conta que secções com pregas, espessura desigual ou muito espesso,
com estrias, rotas ou pulverulentos não devem ser consideradas úteis para o diagnóstico. A
secção deve ser aderida no centro da lâmina para que a montagem automática ocorra sem
dificuldades.
Alguns autores recomendam que, se houver necessidade, de arquivar lâminas com cortes ainda
não corados (“LAMINAS BRANCAS” ou “CORTES COLADOS”), elas devem ser
mergulhadas em parafina fundida. Após resfriar, a parafina retorna ao estado sólido, formando
um envólucro ao corte colado; segundo estes autores, este envolucro evita a contaminação pelos
fungos sobretudo em climas quentes e húmidos.
A SECAGEM das lâminas é destinada a extrair o remanescente da água usada para o
estendimento, como já estudámos; e permitir, deste modo, uma perfeita aderência dos cortes na
lâmina.
A secagem pode ser feita a temperatura ambiente ou, na estufa, a temperatura entre 8 a 10 graus
abaixo do ponto de fusão da parafina. Esta última é a mais usada, permitindo uma mais rápida
evaporação da água e uma perfeita adesão das secções às lâminas.
As lâminas precisam, apenas, de permanecer na estufa cerca de 15 a 20 minutos até ficarem
secas e prontas para seguir a coloração.
Após a conclusão da Microtomia, os blocos devem ser cuidadosamente guardados (ver nos
próximos capítulos onde se fala de Blocoteca).

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4.5 Manutenção do Micrótomo

Terminada a operação dos cortes, o micrótomo deve ser limpo com pincel seco e em seguida
com pincel molhado com álcool a 70% para eliminar quaisquer partículas residuais de parafina.
Deve tapar-se para evitar que ele apanhe poeiras. Periodicamente, é necessário que seja
lubrificado e aberto o seu interior para revisão e limpeza.

5. CRIOTOMIA

Como estamos recordados de haver estudado no capítulo de processamento histológico, o


endurecimento dos tecidos é indispensável para os tornar aptos para corte no criótomo.

Para o efeito, existem dois grandes métodos de endurecimento de tecidos – aquele em que se
substitui os componentes moles (em primeiro lugar a água) por um produto duro a temperatura
ambiente – método de inclusão em parafina e o de congelação da água tecidular). E é esta última
conhecida pela designação de criotomia. E os cortes dela resultante designam-se por cortes
congelados (em língua inglesa: “Frozen Sections”). Os aparelhos onde se efectua a criotomia
chamam-se Criótomos.

A criotomia (Crio = Frio e Tomo = Cortar) é, assim, a operação destinada para fazer cortes de
fatias muito finas, capazes de serem estudadas ao microscópio da luz, utilizando a congelação da
água existente nos tecidos como forma de os endurecer.

A criotomia pode ser executada quer em tecidos frescos quer em tecidos fixados sem qualquer
tratamento adicional ao contrário do que acontece para a técnica de parafina, acelerando o estudo
e o tempo de espera pelo diagnóstico. Também são evitados os efeitos indesejados de acções de
produtos químicos com os componentes tecidulares que, e inelutavelmente, ocorrem quando se
passam as amostras no processamento histológico.

Por esta última razão, a criotomia tornou-se no melhor método para identificar certas substâncias
cuja a natureza química se alteraria na técnica de parafina. O melhor exemplo deste problema é o
de certas estruturas proteicas, que perdem a sua estrutura (ficam desnaturadas), por acção dos

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reagentes e, sobretudo, das altas temperaturas em que a amostra fica sujeita. Outros produtos
podem ser pura e simplesmente removidos, como acontece com uma grande parte das gorduras.

A criotomia também constitui um método indispensável no apoio dos trabalhos dos centros
cirúrgicos e salas de autópsias, por permitir diagnósticos rápidos em exames, chamados
extemporâneos.

5.1 Tipos de Criótomos

Existem dois tipos de criótomos a destacar:


- Criótomos de ceu aberto ou de meio ambiente
- Criótomos de gabinete.

DEFINIÇÃO Criótomo de Céu Aberto ou de Meio Ambiente: é um aparelho destinado a


cortes de tecidos congelados. Ele está ligado por um tubo a uma “bala”
(recipiente com a forma de projéctil de arma de fogo) de anidrido carbónico
liquido, cuja exposição do tecido a este produto em condições ambientais, de
pressão e temperatura sofre uma evaporação instantânea com o consumo de
calor e com consequente arrefecimento e congelação em pouco segundos.
(Hould R. 1984).
É muito pouco usado na actualidade.

DEFINIÇÃO Criótomos de Gabinete – São os mais usados e concebidos para melhorar as


condições da criotomia. Essencialmente são micrótomos rotativos metidos
dentro duma câmara frigorífica contendo um Termóstato que permite
seleccionar a temperatura desejada. (Hould R. 1984).
Por associar a tecnologia de um criótomo com a de um termóstato, estes
aparelhos são mais frequentemente conhecidos pelo nome de CRIOSTATO,
(CRIO = frio; ESTASE= estabilização, equilíbrio).

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Este nome ilustra bem a principal vantagem destes


aparelhos em comparação com os criótomos de Meio
Ambiente – uma temperatura constante, estável,
conhecida, e que pode ser pré-seleccionada. A amostra a
analisar é metida na câmara frigorífica, e, em 2 ou 3
minutos congela. Atingida a estabilidade térmica, a
amostra fica suficientemente endurecida e pronta para o
corte.

O Criostato (fig 10) possue um sistema de refrigeração


concebido para manter a câmara livre de gelo devido a
descongelação automática que efectua cada ciclo de 24
horas, a uma hora pré-programada.

A câmara pode ser regulada para uma temperatura de trabalho situada entre temperatura
ambiente e 30ºC negativos. A estabilização térmica é atingida ao fim de poucos minutos de
funcionamento do refrigerador, se o aparelho estiver permanentemente ligado. Demorará um
pouco mas, se tiver que alcançar a partir da temperatura ambiente.

A Temperatura Ideal para a criotomia de um certo tecido depende da composição química do


tecido, e, em primeiro lugar, da quantidade relativa de água e lípidos. Quanto maior for a riqueza
em lípidos mais baixo terá que ser a temperatura ideal, já que os lípidos solidificam-se a
temperaturas muito inferiores a da água.

Como há tecidos com maior quantidade de lípidos dos que os outros, a temperatura ideal para a
criotomia, nos primeiros terá de ser mais baixa do que nos segundos. Temperaturas
excessivamente baixas os cortes esfarelam-se, enquanto que, com temperatura insuficientemente
baixa, os cortes saem grossos e irregulares por amostras se encontrarem pouco endurecidas.

No criostato, a amostra e a faca devem estar aproximadamente a mesma temperatura para


facilitar o corte. Se a faca não estiver suficientemente fria os cortes descongelam-se ao
contactarem com ela e será impossível recuperá-los – perdendo-se tempo.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

No fim de cada sessão de trabalho, o criostato deve ser limpo e lubrificado por produto
recomendado pelo fabricante.
Na criotomia, a qualidade dos cortes pode também depender dos factores, como:
- Temperatura;
- Estado do fio da faca bem como
- Ângulo de corte da faca.

a) Temperatura: como foi dito anteriormente é extremamente importante a manutenção da


temperatura óptima de cada um dos componentes do sistema. Se a faca estiver pouco fria,
os cortes sairão grossos e irregulares e colar-se-lhe-ão. Se o tecido estiver pouco frio, não
terá a dureza suficiente e os cortes serão muito grossos. Se o tecido estiver muito frio, os
cortes sairão quebradiços e irão esmigalhar-se

b) Fio da Faca: tem importância idêntica a que já foi estudada na técnica de inclusão em
parafina, sendo aqui, mais do que ali, extremamente importante manter a faca sempre bem
afiada.

c) Ângulo de inclinação da faca: (entre a face inferior do gume da faca e face anterior do
tecido a ser cortado),é recomendado que seja de 5º.

Para Obtenção dos Cortes Congelados no Criostato deve-se:


- Arrefecer os portas-objectos do criostato e depositar neles o meio de inclusão, e
posteriormente o tecido na posição certa
- Colocar o conjunto dentro da câmara, na criobarra, até que a amostra fique congelada
(mais ou menos 2 a 3 minutos)
- Fixar o porta-objectos no carreto porta-blocos do micrótomo e ajustar a faca no porta-
facas
- Efectuar os cortes seguindo todas as regras e etapas estudadas nos capítulos anteriores,
incluindo o desbaste e o acerto da espessura desejada (5 a 8 micras em criotomia)
- Proceder a coloração segundo o tipo de estudo.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

5.2 Aplicações

Os cortes congelados podem ser aplicados em: exames extemporâneo; histoquimica dos
lípidos, Imunohistoquímica e outros.
DEFINIÇÃO Exame Extemporâneo ou perí-operatório: é um método de estudo que exige
diagnóstico anatomopatológico imediato sobre uma doença de um doente que se
encontra anestesiado na sala de operações. (Gonzalez & Alberto M. 1991).

É um exame de urgência que deve ser feito num período não superior a 15 minutos. A
comunicação do diagnóstico pode ser via telefónica, e posteriormente em papel físico escrito em
folha apropriada.

Durante o exame extemporâneo, toda a equipa deve assumir uma postura de extrema
responsabilidade para evitar transtornos irreparáveis ao doente por enganos ou demora do
resultado.
A coloração a efectuar depende de cada laboratório. No entanto, são frequentemente empregue
as colorações de HE com os tempos reduzidos (HE rápida ou HE para exames extemporâneos),
azul de Toluidina e azul-de-metileno polícromo.
Recomenda-se sempre ao tecido remanescente deste exame um estudo detalhado em parafina.

Histoquimica de Lípidos: para identificação dos lípidos tecidulares, recomenda-se o uso de


cortes de congelação já que os tecidos em parafina são sujeitos a tratamentos (processamento
histológico) que podem remover ou alterar a sua estrutura e originando falsos negativos.

Imunohistoquimica: técnica especializada que se baseia na reacção entre antigénio e anticorpo


para determinar a presença ou não de certas substâncias, sobretudo proteínas com capacidade
antigénica nos tecidos. Esta técnica é bastante influenciada pela temperatura excessiva e por
processamento histológico artefactuado.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

6. FACAS DE MICROTOMO

Para que a microtomia seja devidamente


efectuada, ela precisa de instrumentos
extremamente delicados e cortantes
denominados de facas de microtomos (figura
11). No geral, as facas são objectos com forma
prismática faces planas, com um delicado fio na
linha de intersecção dos planos convergentes
das facetas do seu gume. As facetas e o fio da
faca são as partes mais activas na acção de
cortar.

6.1 Natureza das Facas

Segundo a natureza do material que as constituem, elas podem ser de:


- Aço inoxidável,
- Diamante (para osso sem descalcificação)
- Vidros (para microscopia electrónica)
- Carbureto de Tungsténio.

As facas de aço inoxidável eram as mais recomendadas para a microtomia.

6.2 Tipos de Facas

Existem dois principais tipos de facas: facas afiáveis e facas não afiáveis ou descartáveis.

As facas afiáveis até há pouco tempo eram as mais usadas e mais económicas. Quando
terminado o seu tempo de vida útil são afiadas ou recondicionadas (Fig. 11).
Conforme as características das faces e facetas as facas afiáveis subdividem-se em:
- Facas do tipo A; (plano-côncavas, de acentuada concavidade)
- Facas do tipo B (plano – côncavas, de concavidade pouco acentuada)
- Facas do tipo C (faces planas e simétricas)

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- Facas do tipo D (faces planas e assimétricas)


- Facas do tipo Heiffer (faces bicôncavas)
- As facas do tipo C são as mais usadas e é elas que nos referimos se não acrescentarmos
nenhum outro qualificativo a palavra faca.

As facas descartáveis (figura 12) deviam,


mais propriamente, ser chamadas de lâminas
descartáveis, pois, na verdade, elas são
estreitas fitas metálicas que vêem bem afiadas
da fabricada que as produziu, uma vez
terminado o seu tempo de vida útil são
deitadas fora e não sendo possível afiá-las nem dalgum modo reusá-las. Hoje em dia são as mais
usadas na rotina histológica.

Para o seu uso, são adaptadas a um suporte específico (figura 13) da faca do micrótomo. São de
alta qualidade, mas, porém são de elevado custo.

6.3 Tipos de Afiação

A afiação pode ser automática ou manual.


- A afiação automática é feita por afiadores automáticos das facas.
- A afiação manual é feita manualmente por técnicos experientes na pedra de amolar e na
cinta de couro.

A afiação pode ser feita em duas fases:


- Amoladura, fase de remoção de grandes entalhe/boca e assentamento fase de remoção
de pequenas imperfeições no fio da faca.
- Na afiação automática a amoladura é feita por abrasivos grossos e os assentamentos por
abrasivos finos.
- Na afiação manual a amoladura é feita na pedra de amolar e o assentamento na tira de
couro.

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Tanto na afiação automática como na manual a amoladura é feita em primeiro lugar e


obrigatoriamente se completa por assentamento. O assentamento pode ser feito independente da
amoladura.

6.4 Indicadores dos defeitos das facas de microtomia

Os defeitos das facas da microtomia são dados pela qualidade dos cortes por elas produzidos:
- Cortes rasgados ou amarrotados (resultam de um fio da faca rombo ou pouco agudo)
- Cortes estriados ou fendidos (por o fio da faca apresentar-se com pequenos entalhes ou
“bocas”)
- Cortes heterogéneos (fio da faca não perfeitamente linear).
- Cortes inconstantes (por fraca imobilização da faca ou um ângulo de fuga
demasiadamente pequeno).

A detecção destes artefactos, deve levar o


técnico a procurar a causa original e corrigi-la.
Com excepção dos cortes inconstantes, a
solução dos outros defeitos é mudar a faca (no
caso de uso de facas descartáveis).

6.5 Tempo de vida útil de uma faca

O tempo de vida útil de uma faca depende essencialmente dos cuidados fornecidos pelo seu
utilizador, tais como:
- Qualidade do processamento histológico;
- Qualidade de descalcificação.

Para melhor preservação da faca é necessário entre outros:


- Descalcificação completa do material antes do processamento histológico, ainda que isso
signifique algum atraso na saída do diagnóstico;
- Uso de uma faca diferente para peças ósseas e desbaste em relação as das restantes
operações.

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RESUMO

Para que o estudo microscópico dos tecidos seja possível, é necessário que estes passem por um
conjunto de etapas que abaixo se resume:
- Processamento histológico: acto de tornar os tecidos apropriados para serem incluídos
em parafina. Para isto, os tecidos após a sua amostragem devem passar sucessivamente
em fases de desidratação, diafanização e impregnação. Na fase de impregnação, deve-se
respeitar o tempo e a temperatura da parafina em que os tecidos se submetem.
Após a fase anterior, os tecidos são incluídos em parafina – INCLUSÃO, onde os fragmentos
são rodeados por este produto que a temperatura ambiente é sólido e conferindo lhes um formato
apropriado para a sua adaptação ao micrótomo para o seu corte. O elemento chave da inclusão é
a parafina, conhecido como meio de inclusão universal em histologia.
- Microtomia – acto de corte de tecidos em espessura fina capaz de permitir a sua leitura ao
microscópio. Esta actividade é feita em aparelhos chamados micrótomos. Ela carece de
um processamento histológico adequado dos tecidos. A microtomia é uma operação muito
delicada, pós exigem uma boa concentração para obtenção dos cortes com o minímo de
artefactos.
Outra forma de obtenção dos cortes é por criotomia, que é feita em aparelhos especiais –
Criostatos. Os tecidos são cortados a frescos e congelados a uma espessura de 5 a 8 micra. Ela é
indispensável no apoio aos trabalhos dos centros cirúrgicos e salas de autopsias por permitir
diagnósticos rápidos na aplicação dos chamados exames extemporâneos. A microtomia e a
criotomia são actividades que exigem facas de micrótomos apropriadas.

ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD2

Actividades de ensino-aprendizagem
ACTIVIDADE nº 2 Justificação da Sequência das Etapas do Processamento
Histológico
Duração 2 Horas
Objectivos:
- Conhecer as características químicas e físicas das substâncias das etapas do

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processamento histológico;
- Conhecer as características físicas e químicas do meio de inclusão;
- Conhecer o papel da temperatura no processamento histológico e na inclusão
Conteúdos de referência
- Características físicas e químicas do “Ethanol” e sua utilidade no processamento
histológico;
- Características físicas e químicas do “Xilol” e sua utilidade no processamento histológico;
- Características físicas e químicas da “Parafina” e sua utilidade no processamento
histológico;
- Temperatura adequada para realização do processamento histológico e da inclusão
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
- A turma deve-se organizar em grupos de 4 alunos. Cada grupo deve:
- Estudar no manual os capítulos de processamento histológico e de inclusão;
- Cada grupo deverá apresentar o resumo das características físicas e químicas de “todas
substâncias” intervenientes no processamento
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
As actividades que o professor deve planejar e desenvolver na sala de aulas são:
- Estabelece os conhecimentos prévios aos estudantes.
- Exposição dos conteúdos conceptuais necessários para o desenvolvimento da actividade
- Resume os conceitos chaves e faz perguntas para se assegurar que suas explicações foram
claras
- Prepara os planos das actividades práticas, os protocolos de atuação e a documentação
para os grupos de trabalho
- Estabelecer os grupos de alunos, e as actividades que eles devem realizar.
- Reparta aos grupos a documentação para suas análises e debates.
- Durante a apresentação dos grupos, o professor deve detectar os erros cometidos e dá
orientações necessárias para sua correção. Também deve comprovar a participação de
cada aluno no trabalho desenvolvido.
- No final da actividade o professor avalia o trabalho desenvolvido pelos alunos
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Espaço físico da sala de aulas;
- Acesso a literatura inerente;

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- Material de escritório
Critérios de avaliação
Os alunos:
- Identificam as características físicas, químicas de todas as substâncias intervenientes no
processamento histológico e sua importância;
- Justificar com base das características das substâncias ora referidas a razão de tal
sequência das etapas no processamento histológico
- Apresentam o resumo final do seu trabalho cumprindo as condições estabelecidas pelo
professor;

CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD2

Caso prático/Projecto
Título
Resolução dos artefactos dos cortes histológicos
Descrição
O professor expõe a turma as condições para o desenvolvimento do caso prático.
Cada grupo de trabalho deve apresentar no final desta unidade e dentro do prazo estabelecido
pelo professor, o resultado da actividade. Esta actividade é um caso de aprendizagem e podendo
compreender as seguintes partes:

- Divisão dos grupos de trabalho


- Visitar o laboratório de Anatomia Patológica e participar no processo de processamento
histológico, microtomia e coloração em sítio onde haja este tipo de laboratório.
- Estudar o manual da cadeira ou outros relacionados.
- Selecionar a documentação imprescindível para o desenvolvimento da actividade.
- Elaborar e desenvolver a actividade seguindo as pautas do professor
- Assegurar as funções de cada integrante do grupo de trabalho.

Objectivo Geral
- Saber resolver os diversos artefactos dos cortes histológicos

Para realização deste trabalho, o professor deve dividir a turma em grupo de 4 elementos

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onde:
- O estudo deve consistir no levantamento dos diversos artefactos dos cortes histológico
- Descrever as condições necessárias para a sua resolução
- Finalmente fazer uma análise percentual dos artefactos mais frequentes

Recursos
- Laboratório de Anatomia Patológica
- Material de escritório
- Referências bibliográficas

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ALBERTO, M. & GUISSEVE, A. (2011). Histocitecnologia – Manual de procedimentos


práticos para técnicos de laboratório. MISAU. s/l

2. GONZALEZ, C. & ALBERTO, M. (1991). Princípios Básicos de Histotecnologia e


citolotecnologia. 1ª Edição. MISAU.

3. HOULD, R. (1984). Techiniques d’histopathologie et de cytopathologie. Edição. Paris.


Maloine.

4. MORAL GARCÍA DEL, R. (1993). Laboratório de Anatomia Patológica. Madrid.

5. MICHALANY, J. (1980). Técnicas Histológicas em Anatomia Patológicas. São Paulo.

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UNIDADE DIDÁCTICA 3

COLORAÇÕES

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ÍNDICE

1. COLORAÇÃO _________________________________________________________ 83
1.2 Tipos de Corantes _______________________________________________________ 84
1.3 Tipos de Coloração ______________________________________________________ 85
1.4 Mordentes e Lacas _______________________________________________________ 87
1.5 Etapas Prévias __________________________________________________________ 88
2. COLORAÇÃO MANUAL E AUTOMÁTICA__________________________________ 89
3. A COLORAÇÃO UNIVERSAL DA ROTINA ________________________________ 91
3.2 Etapas Complementares ________________________________________________ 92
4. CITOTECNOLOGIA____________________________________________________ 94
4.1 Colheita e Acondicionamento ______________________________________________ 95
5. FIXAÇÃO ______________________________________________________________ 97
6. REGISTO E DESCRIÇÃO MACROSCOPICA ________________________________ 97
7. COLORAÇÃO CITOLÓGICA UNIVERSAL __________________________________ 98
8. COLORAÇÕES ESPECIAIS ______________________________________________ 100
8.1 Técnicas para Identificação de Microorganismos ______________________________ 100
Técnica de Grocott_______________________________________________________ 101
Técnica de Ziehl-Neelsen _________________________________________________ 101
Técnica de Fite Faracco ___________________________________________________ 101
8.2 Técnica para Identificação de Tecido Conjuntivo ______________________________ 102
Técnica de Tricrómico de Masson___________________________________________ 102
Técnica de Weigert–Van Gieson ____________________________________________ 102
Técnica de Reticulina ____________________________________________________ 103
8.3 Técnicas de Identificação de Glúcidos ______________________________________ 103
Método de PAS--Acido Periódico de Schiff & PAS com Diástase ____________________ 103
8.4 Pigmentos ____________________________________________________________ 104
Técnica de Masson Fontana _______________________________________________ 104
Técnica de Perls Ferro ____________________________________________________ 105
Actividades de ensino-aprendizagem da UD nº 3 _________________________________ 106
Caso Prático/Projecto da UD nº 3 _____________________________________________ 107
Referência Bibliográfia _____________________________________________________ 108

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OBJECTIVO GERAL
Preparar as amostras para realizar colorações de Hematoxilina & Eosina, Papanicolau e especiais
segundo as normas estabelecidas e/ou POP para fins de diagnóstico e seguimento do tratamento.

Resultados de aprendizagem

No fim desta Unidade o estudante será capaz de:


- Explicar o fundamento das técnicas de colorações e as principais características dos
corantes mais utilizados
- Classificar os corantes pela sua composição química
- Enumerar os vários tipos de colorações
- Explicar a importância da coloração de HE e de Papanicolau
- Identificar as três formas de colheita de material para estudo Citológico
- Destacar o papel do Citospray na fixação dos esfregaços de Papanicolau
- Explicar a importância das colorações especiais básicas
- Destacar o papel das colorações especiais mais usadas
- Explicar as vantagens e desvantagens das colorações manuais e automáticas.
- Descrever a importância das Punções aspirativas por agulha fina
- Destacar a importância da coloração de Diff-Quick
- Explicar a importância da montagem das preparações
- Interpretar o POP e aplicar na prática as suas indicações.

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INTRODUÇÃO

Anatomia patológica é um ramo da patologia e da medicina que lida com


o diagnóstico das doenças baseado no exame macroscópico de peças cirúrgicas e microscópicos
para o exame de células e tecidos.
O patologista tem ampla actuação na ciência médica. Existem patologistas dedicados
preferencialmente ao desenvolvimento científico, geralmente através da patologia experimental.
Outros atuam preferencialmente na sala de necrópsia, no estudo da história natural das doenças,
outros ainda atuam preferencialmente em patologia cirúrgica diagnóstica e citopatologia, além de
serem responsáveis pela análise e elaboração de laudos (pareceres anátomo-patológicos) em
exames utilizando-se a técnica de imuno-histoquímica.
Os cortes de tecidos apresentam-se incolores após a microtomia. A coloração visa contrastar as
estruturas teciduais. A acção da maioria dos corantes se baseia na interacção entre os radicais
ácidos ou básicos dos elementos químicos dos mesmos com os dos tecidos. No entanto existem
outros tipos de corantes, como será descrito adiante.
- O primeiro capítulo aborda a temática sobre coloração, onde descrevemos os princípios
básicos da coloração, tipos de corantes e os tipos de coloração, coloração manual e
automática; coloração universal de rotina, onde serão apresentados os tipos de
hematoxilina, etapas complementares e os meios de montagem (hidrófobos e hidrófilos).
- Para o segundo capítulo, a abordagem será feita em volta do estudo da citotecnologia,
onde apresentar-se-á colheita e o acondicionamento das amostras, fixação e tipos de
fixadores citológicos; registo e descrição macroscópica, esfregaços e citopreparados e
coloração universal de citologia – coloração de Papanicolau
- No final, apresentamos o terceiro capítulo que vai desenvolver a temática sobre as
colorações especiais com destaque para as técnicas para identificação de
microorganismos.

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1. COLORAÇÃO

DEFINIÇÃO Entende-se por Coloração: a operação pela qual certos produtos químicos – os
corantes – são aplicados as células ou tecidos para que possam, ser estudados,
de acordo com a afinidade entre eles produto químico e célula ou tecido,
(Gonzalez & Alberto, M. 1991).

1.1. Os princípios básicos da coloração

Residem na existência de substâncias químicas chamadas CORANTES – com propriedade de


filtragem do espectro da luz visível; um produto de cor vermelha (filtro vermelho) que, ao
absorver um raio incidente de luz branca, retêm todas as cores do espectro a não ser a vermelha,
originando assim um raio emergente de luz vermelha (a única que não foi absorvida).
Como regra geral, mas não exclusiva, os corantes ligam-se muito firmemente as estruturas
tecidulares segundo uma combinação de ordem química em que as partes ácidas das células ou
dos tecidos se coram com os corantes básicos (basofília) e as básicas pelos corantes ácidos
(acídofilia). Isto acentua mais a noção de que as colorações se fundamentam em afinidades
químicas.
A este respeito, serve de exemplo a coloração de Hematoxilina-Eosina, que a partir de agora
denominaremos pelas suas iniciais (HE), em que os núcleos são corados pelo corante básico (a
Hematoxilina) por serem estruturas basófilas (contem ácidos nucleicos na sua estrutura) e o
citoplasma pelo corante ácido (a eosina) por ser acidófilo, devido a sua composição de ordem
básica.

Quando um corante reage com uma estrutura tecidular de acordo com Moral, Gracia del R.
(1993) que fica corada, da reacção que tem lugar não há formação de uma nova substância,
apenas ocorre mudança de cores das estruturas coradas. Este facto fica bem esclarecido quando
tais estruturas se submetem a descorantes, pois elas perdem, quase totalmente, o corante que
previamente haviam fixado. As colorações servem em geral, dois objectivos, a saber:

Coloração Topográficas, quando se pretende estudar ou evidenciar certas estruturas celulares


ou tecidulares; a HE é exemplo típico do emprego destes corantes.

Colorações Histoquímicas quando se pretende determinar a presença de substâncias de natureza


química especifica que se sabe existirem na célula ou tecido, ou determinar se tal substância está
ou não presente; a coloração do PAS é exemplo típico do emprego destes corantes, pois permite

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determinar se há glicogénio (ou outro produto PAS-positivo) e as características da sua


distribuição.

1.2. Tipos de Corantes

Os corantes mais usados em Anatomia Patológica eram classificados utilizando dois critérios
relativamente simples – quanto a sua ORIGEM (naturais e artificiais) e quanto a sua
REACTIVIDADE (ácidos, básicos e neutros, estes últimos também designados de
indiferentes).
DEFINIÇÃO Corantes naturais: são os mais antigos corantes, extraídos dos vegetais – como
o açafrão, a Orceína, a Hematoxilina, etc – e animais – como o Carmim; hoje
em dia, não têm grande representatividade, pois que a maioria absoluta dos
corantes é agora sintetizável, mesmo os que, ainda há pouco tempo eram apenas
naturais, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).

DEFINIÇÃO Corantes artificiais ou anilinas: são aqueles que são sintetizáveis, derivados de
produtos de destilação do alcatrão – como o trinitrofenol “também chamado de
ácido Pícrico”, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).

DEFINIÇÃO Corantes ácidos: são os que devem a sua afinidade aos componentes ácidos das
suas moléculas, (mais frequentemente o ião carboxilo – o qual recebe o nome de
auxócromo ácido, tendo, em geral, afinidade pelas estruturas básicas da célula
ou do tecido – como o Orange G, a fucsina ácida e outros, (Gonzalez & Alberto,
M. 1991).

DEFINIÇÃO Corantes básicos: são aqueles que devem a sua afinidade aos componentes
básicos das suas moléculas (mais frequentemente, o ião amina, o qual recebe o
nome de auxócromo básico) tendo em geral afinidade pelas estruturas ácidas da
célula ou do tecido – como o azul-de-metileno, o vermelho neutral e a fucsina
básica, entre outros, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).

DEFINIÇÃO
Corantes neutros ou Indiferentes: são substâncias que resultam da interacção

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 84


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

entre soluções aquosas de corantes ácidos e básicos; os produtos resultantes, que


precipitam, recolhem-se e diluem-se em álcool, sendo posteriormente usados;
um dos melhores exemplos é o da mistura do azul-de-metileno e Eosina, para
obter o May – grunwald, corante do tipo Romanowsky usado no chamado
Método de Giemsa, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).

Esta classificação, relativamente simples, foi alterada substancialmente pela adição de um,
terceiro critério de classificação, embora mantendo-se os dois critérios previamente descritos. O
novo critério de classificação dos corantes baseia-se na composição química dos componentes
das suas moléculas que são responsáveis pela definição da cor, denominado GRUPO
CROMOFORO.

Destes modo, quanto a sua COMPOSIÇÃO QUÍMICA, podem classificar-se os corantes em:
corantes quinónicos, corantes azóicos e corantes nitrados.

Corantes quinónicos, incluindo


- Os Fenilmetanos, como as Fucsinas
- A Hemateina, derivada da Hemtoxilina
- Os xantenos, como a Eosina Amarelada (Eosina Y)
- As Antraquinonas, como a Alizarina
- As Quinono-iminas, como o Azul de Metleno

Corantes azóicos, incluindo


- Os Monoazóicos, como o Orange G
- Os Diazóicos, como o Castanho de Bismarck

Corantes nitrados, como o Trinitrofenol (ácido pícrico).

1.3. Tipos de Coloração

Os tipos de coloração segundo Gonzalez & Alberto, M. (1991) mais usados incluem: a Directa,
A Indirecta, A Simples, A Combinada, A Especifica, A Metacromática, A Ortocromática,
A De Contraste Ou De Fundo, A Progressiva, A Regressiva, A Frio, E A Quente,

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 85


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a) Coloração DIRECTA – a quela que se faz directamente sobre o tecido; por exemplo, a
coloração dos tecidos pela Eosina.
b) Coloração INDIRECTA – aquela que se realiza pela acção prévia de uma substância
intermediária chamada MORDENTE, destinada a preparar o tecido para receber o
corante; por exemplo, a coloração pela Hematoxilina Férrica de Regaud exige uma
passagem prévia por um mordente chamado Alúmen de Ferro.
c) Coloração SIMPLES – aquela que é obtida por meio de um único corante; por exemplo,
a coloração de Hematoxilina Fosfotungstica de Mallory, mais conhecida pelas suas
iniciais em inglês – PTAH.
d) Coloração COMBINADA – aquela que é obtida por meio de dois ou mais corantes; por
exemplo, a coloração de Hematoxilina-Eosina.
e) Coloração ESPECÍFICA – aquela que é feita especificamente para um determinado
componente tecidular ou para determinar a presença, na amostra em estudo, de um
produto químico ou agentes biológicos específicos; como exemplo, o Método de perls
para sais de ferro e o método de Ziehl Neelsen para Micobacterium tuberculosis.
f) Coloração METACROMÁTICA – aquela na qual o produto corado fica com uma cor
diferente da cor própria do corante usado – como com o Método do Azul de Toluidina
para Exames Extemporâneos.
g) Coloração ORTOCROMÁTICA – aquela em que o produto corado toma a cor própria
do corante usado, como com a Eosina.
h) Coloração DE CONTRASTE ou de FUNDO – aquela que é empregue para permitir um
melhor estudo, pois os elementos de fundo tomam uma cor muito diferente da cor dos
elementos em estudo (contraste); por exemplo a aplicação de Azul-de-metileno na
coloração de Zieehl-Neelsen, para BAAR.
i) Coloração PROGRESSIVA – aquela em que o corante age progressivamente sobre o
tecido até atingir o tom desejado; por exemplo, a coloração de PTAH.
j) Coloração REGRESSIVA – aquela que se pode fazer usando descorantes para diminuir
a intensidade da cor dos elementos corados; por exemplo a coloração de GRAM.
k) Coloração A FRIO – aquela que é feita a temperatura ambiente; por exemplo a coloração
de PERLS.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

l) Coloração A QUENTE – aquela que é feita acima da temperatura ambiente; por exemplo
a coloração de PTAH; esta coloração é mais rápida a quente do que a frio, mas produz
resultados algo inferiores.

As impregnações METÁLICAS, usam uma técnica muito especial. Ela não é, verdadeiramente,
uma coloração, no sentido de atribuir a sua cor ao elemento alvo. Na verdade, provocam
depósitos metálicos opacos, que vão abolir totalmente a luz emergente do objecto iluminado –
fornecendo-lhe, desde modo, a “cor” negra.
Nestas, aplicam-se metais pesados (prata, ósmio e ouro) sobre o corte, e provoca a sua deposição
nos elementos tecidulares a que se destinam na forma de precipitados metálicos. Eles tornam-se,
assim opacos a luz, assumindo a “cor” negra no meio dos outros componentes tecidulares, que
permanecem com as suas cores respectivas.
Deste modo, revela-se a presença dos elementos alvo, o que permite o seu estudo. Elas não
atribuem, pois, uma cor aos elementos a que se ligam mas, simplesmente, tornam-nos opacos a
luz. Entre as mais frequentes, encontra-se o Método de laidlaw para estudo das fibras de
retículina e o Método de Holmes para neurónios.

1.4. Mordentes e Lacas

MORDENTES são substâncias intermediárias entre o tecido e o corante, destinadas a aderi-los


um ao outro; são usadas nas colorações indirectas, nas quais o corante não tem uma ligação
directa com o material a corar. Sem o seu emprego, a coloração não seria realizável. Ao produto
resultante da ligação do Mordente e do corante dá-se o nome de LACA. Os mordentes mais
frequentemente usados são:
- O Lugol
- O Permanganato de potássio
- O Alúmen de Ferro
- O Alúmen de potássio
- O Alúmen de Amónio
- O Ácido Fosfotungstico
- O Ácido Fosfomolíbdico.

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1.5. Etapas Prévias

DEFINIÇÃO São aquelas que se destinam a preparar o material para a coloração. Para
colorações de materiais incluídos em parafina, é necessário desparafinar e re-
hidratar o material. Posteriormente efectua-se outras manobras nem sempre
obrigatórias. Tais como a mordançagem, a remoção dos pigmentos de “formol“
e de mercúrio, o branqueamento e a coldionagem, (Gonzalez & Alberto, M.
1991).

DEFINIÇÃO A desparafinação é um processo de eliminação de parafina nas secções


aderidas as lâminas; ela pode obter-se pelo uso de solventes da parafina, pode
ser feita a frio durante 5 a 10 minutos ou a quente, sendo este último o mais
rápido, mas menos usado, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).
A desparafinação deve ser completa e, para tal, tem de ser garantida a exposição livre e ampla do
corte ao xilol. De igual modo, deve garantir uma renovação periódica do xilol para evitar a sua
rápida saturação. Se a desparafinação não for feita convenientemente vão ocorrer artefactos, tais
como os seguintes:
- Coloração em placa, correspondendo as zonas não coradas devido a permanência de
parafina não removida.
- Pigmento de nedzel - pigmento bi-refringente, intranuclear, que desaparece ao refazer a
desparafinação a quente e com xilol novo.
DEFINIÇÃO A hidratação é o processo inverso da desidratação. Consiste em remover o xilol
embebido no tecido e substituí-lo por álcoois progressivamente mais diluídos até
a água. Este procedimento é necessário porque as soluções corantes, na sua
grande maioria, são aquosas e se os tecidos não tiverem a sua água original os
corantes não “pegam”, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).

Se no fim da hidratação, os cortes se mantiverem diáfanos e não se tornarem opacos, a extração


do xilol foi incompleta, o que se resolve refazendo a hidratação desde o início; a coloração de
Fite-faraco é um dos exemplos de coloração em que não se faz a hidratação uma vez que os
corantes usados após a desparafinação são hidrófobos, facto que se os cortes forem hidratados
aqueles corantes não pegarão.

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- Mordançagem dos cortes raramente efectuada mas consiste em submeter os cortes a


acção dos mordentes. Isto pode ser feito, logo depois da fixação das amostras ou, mais
correctamente, depois da microtomia e antes das colorações, já nos cortes. Neste último
caso, a maioria dos autores recomenda que os cortes passem num banho de boiun durante
30 a 60 segundos.
- A remoção do pigmento de formol quando necessária é efectuada num banho com
etanol absoluto saturado com ácido pícrico, durante alguns minutos.

Este pigmento é derivado da hemoglobina que se forma frequentemente nos tecidos que:
- Tenham permanecido muito tempo no “formol”
- Tenham sido fixados com “formol” acidificado resultante do seu envelhecimento e de
falta de tamponamento.
- Tenham muito sangue (baço, em condições normais ou qualquer tecido que tenha
congestão ou hemorragia).

O branqueamento dos cortes impregnados com ácido pícrico - efectua-se colocando os cortes
num banho de uma solução de etanol a 70 graus saturada com carbonato de lítio. A presença
deste produto perturba o estudo dos tecidos quer pela cor que lhes atribui, quer pela alteração das
reacções químicas que condiciona, pela sua presença.

A remoção do pigmento de mercúrio – este pigmento remove-se fazendo passar os cortes,


primeiro numa solução alcoólica iodada e, posteriormente, em tiossulfato de sódio. Este
pigmento forma-se nos tecidos que tenham sido fixados em solução contendo o mercúrio,
particularmente o líquido de Zenker.

A colodionagem dos cortes – é um processo que se faz para impedir o descolamento dos cortes.
É muito pouco usado, consiste em revestir o corte com uma fina camada de colódio; este produto
é muito poroso e, por isso, permite a livre passagem dos líquidos usados na coloração.

2. COLORAÇÃO MANUAL E AUTOMÁTICA

A coloração pode ser feita de duas formas: a coloração manual e a automática.

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2.1. Coloração Manual

Faz se passar, manualmente, as lâminas numa sucessão de tinas contendo as soluções


necessárias, organizadas na ordem da sua utilização para o respectivo método de coloração. Ao
conjunto das tinas organizadas sequencialmente, dá-se o nome de BATERIA DE
COLORAÇÕES.
O trabalho manual permite verificar, durante todo o tempo que durar a coloração, o efeito de
cada uma das suas etapas; se o objectivo pretendido naquela etapa não tiver sido alcançado, o
técnico pode resolver logo o problema, antes de passar os cortes para etapa seguinte. Por este
motivo, o trabalho manual é o mais usado em colorações especiais, nas quais os resultados de
cada etapa devem ser controlados constantemente.

2.2. Coloração Automática

É aquela que é feita e em aparelhos designados


por PROCESSADORES DE COLORAÇÕES
(fig. 1). Nestes aparelhos, colocam-se os copos
contendo as soluções, ordenados segundo a
ordem da sua utilização. Para tal programam-se
os tempos desejados para o banho de cada
copo. É geralmente usada em colorações de
rotina, nas quais os resultados de cada etapa
são bem conhecidos pelos técnicos.

Nestes aparelhos, colocam-se os copos contendo as soluções, ordenados segundo a ordem da sua
utilização. Para tal programam-se os tempos desejados para o banho de cada copo.
É geralmente usada em colorações de rotina, nas quais os resultados de cada etapa são bem
conhecidos pelos técnicos. As suas desvantagens são semelhantes as que foram indicadas para os
processadores histológicos. Uma desvantagem adicional é que qualquer erro de programação terá
consequências muito graves, pois podem arruinar todo o trabalho e exigir o recomeço de todo o
processo. Apesar disso, as suas vantagens prevalecem sobre os seus inconvenientes, permitindo,
entre outros, o aproveitamento racional do tempo de trabalho e da disponibilidade dos técnicos.

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3. A COLORAÇÃO UNIVERSAL DA ROTINA

A Hematoxilina – Eosina ou, mais simplesmente, a HE, (Tab. 1) é uma coloração topográfica
destinada a por em evidência os diversos componentes da célula, È a mais antiga coloração
combinada. Como já sabemos, ela é uma coloração indirecta pois necessita de um mordente
previamente aplicado ou incorporado na própria solução de hematoxilina. E a mais difundida em
todos os laboratórios de Anatomia patológica. Ela é indispensável para qualquer diagnóstico,
visto constituir a coloração básica geral, a partir da qual será possível a eventual selecção de
colorações especiais.
A hematoxilina, que é extraída de um vegetal (o pau de “campeche”), não é verdadeiramente o
corante activo neste processo de coloração. Esta função é desempenhada por um produto
resultante da oxidação da hematoxilina – a HEMATEÍNA. Esta oxidação pode ser de natureza
física ou química.
No primeiro caso, ela ocorre espontaneamente pela exposição à luz e ao ar, e por isso se chama
oxidação por agentes Físicos ou Naturais. Quando ocorre pela acção de produtos químicos,
como o iodato de potássio e o óxido de mercúrio, chama-se oxidação química.
Após a oxidação, a hematoxilina encontra-se “amadurecida”, na forma de hemateína ganhando o
poder corante. A oxidação é, por isso, também conhecida pela designação de amadurecimento ou
maturação da hematoxilina.

Para que a solução corante possa ser correctamente usada, não se deve ultrapassar um certo
limite de oxidação; com efeito, a SUPEROXIDAÇÃO leva a transformação de hemateína com
poder corante, em produtos que não o possuem. O grau do poder corante da solução amadurecida
de hematoxilia chama-se FORÇA.

Tabela 1: Características, diferenciais dos corantes de Hematoxilina & Eosina na coloração


universal de tecidos (HE).
Hematoxilina Eosina
Natural, vegetal, básico artificial, ácido
Coloração indirecta, com mordente Coloração directa
Coloração progressiva

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Coloração simples
HE é uma coloração combinada
Cora os núcleos Cora o citoplasma e o fundo
Ortocromático

3.1. Tipos de Hematoxilina

Os tipos de hematoxilina incluem: Harris, Mayer, Ehrliche e Gill`s. Em Moçambique no serviço


de Anatomia Patológica usa-se o tipo Harris

3.2. Etapas Complementares

Após a conclusão da coloração é indispensável, nas preparações definitivas, destinadas a serem


arquivadas durante longos períodos de tempo, efectuar algumas manobras destinadas a:
a) Protecção mecânica dos cortes para que estes não sejam rasgados, esmagados ou
arrancados durante a manipulação das preparações
- Protecção química dos corantes usados para evitar a possível oxidação provocada pelo ar
do meio ambiente
- Tornar homogénio o índice de refracção do conjunto, lâmina-corte-lamela, usando um
produto com índice de refracção muito vizinho do vidro da lâmina e da lamela.

Estas manobras, recebem a designação global de Montagem da Lamela e o produto usado para
esse fim, é o meio de Montagem. Após a conclusão da montagem, há ainda três etapas etapas
finais que o técnico tem de realizar, destinadas a entrega do seu trabalho e posterior arquivo:
Secagem, re-identificação e inspecção da qualidade.

3.3. Os Meios De Montagem: Hidrófobos e Hidrófilos

Os meios de montagem hidrófobos ou oleosos são os mais usados e caracterizam-se, como o


seu nome indica, por serem insolúveis em água. Estes, podem ser naturais, semi-sintéticos ou
sintéticos.

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b) Meios naturais – eram os mais usados num passado relativamente recente e


representados fundamentalmente pelo Bálsamo de Canadá. Este meio, acidifica-se
frequentemente com tempo e deixando as preparações inadequadas.

c) Meios semi-sintéticos ou resinas semi-sintéticas – são feitas à base de resinas naturais e


melhoradas artificialmente para diminuir os inconvenientes que estes possuem.

d) Meios sintéticos ou resinas sintéticas – são polímeros plásticos constituindo os meios


hidrófobos mais usados correntemente. Entre eles, salientam-se, “eukitt”, “DPX” e
“permount”.

Na maioria dos métodos de coloração, habitualmente empregues, as soluções corantes, são


aquosas, o que exige que os cortes seja desparafinados e re-hidratados, como muito bem
sabemos.

No fim da coloração, é indispensável efectuar, a desidratação e a diafanização dos cortes já


corados, para se poder montar a lamela protectora com um meio hidrófobo ou oleoso.

a) Desidratação – processo de tirar água dos cortes, usando álcoois em concentrações


progressivas até ao álcool absoluto ou a 100 %.

b) Dinamização – etapa seguinte à desidratação, destinada a substituir o álcool absoluto dos


cortes por um produto em que o meio de montagem oleoso seja miscível –
universalmente, o xilol ou isopropanol.

Os meios de montagem hidrófilos – ou aquosos podem ser usados para montagem de


preparações em que os cortes não tenham sido desidratados, como é o caso de Fite-faraco. Os
mais usados são os xaropes e a gelatina.

c) Xaropes – são soluções concentradas de glúcidos (glicose ou fructose) especialmente


indicados para reacções metacromáticas.
Destes, o mais usado é o xarope de
Levulose. A goma-arábica, polímero
glucídico de origem vegetal, é também
bastante conhecida, sobre tudo na fórmula
designada por xarope de APATHY.

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Certos meios de gelatina, como a geleia glicerinada de Kaiser são também muito usados em
alguns laboratórios.

O principal inconveniente dos meios hidrossolúveis é o facto de a água nela contida se evaporar
com a passagem do tempo e tornando a preparação inadequada ao fim de muito pouco tempo.

Para evitar, e torná-la permanente nestas condições, é necessário LUTAR A PREPARAÇÃO.


Tal processo, consiste em selar a lamela na lâmina, cobrindo os seus bordos com uma substância
impermeável que impede a evaporização da água. Os lutos mais usados são: parafina e o verniz
para unhas.

A montagem, pode ser feita automaticamente (Figura 2), usando aparelhos especializados –
montadores de lamelas e ou manual. Prefere-se sempre montagem manual pela complexidade
que a montagem automática acarreta.

d) Secagem das preparações – após a montagem e antes de entregar ao patologista as


preparações devem ser secas a temperatura ambiente ou na estufa a temperatura
relativamente baixa.
e) Reidentificação é feita após que as lâminas tenham estado completamente secas, usando
uma caneta de tinta permanente ou lápis de carvão nos casos de lâminas esmiriladas.
Actividade muito delicada, merecendo muita atenção pelos técnicos para evitar
reidentificações erróneas.
f) Inspecção de qualidade – actividade indispensável e vital para qualquer tipo de
laboratório. Em histologia, o técnico deve controlar a qualidade da coloração, qualidade
dos cortes (cortes artefactuados não são aceites – cortes com fendas, espessura irregular,
rotos ou com bocas etc) número de preparações segundo indicações da requisição e ou
outros requisitos.

4. CITOTECNOLOGIA

DEFINIÇÃO A Citolotecnologia: é um conjunto de técnicas que permitem o estudo


microscópico de células individualizadas, removidas dos tecidos de um
determinado órgão ou estrutura anatómica. Tais são técnicas usualmente muito
simples e pouco dispendiosas, permitindo resultado muito mais rápido que as

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técnicas histológicas, (Alonso. Lazcano. Hernández, 2005).

As conclusões que se podem tirar são, em geral limitadas. Com o desenvolvimento tecnológico e
do conhecimento científico, permitiu contudo, que a CITOPATOLOGIA, entrasse num período
de desenvolvimento acelerado a que se refere a Citologia Aspirativa.
No diagnóstico precoce do cancro e das lesões pré-cancerosas do colo de útero, a citologia, tem
desempenhado um papel inigualável. Com efeito, ela permite efectuar rastreios de massa a
milhões de mulheres de modo rápido, simples e pouco dispendioso, através do chamado PAP-
TEST, tendo salvo inúmeras vidas humanas. A sua simplicidade esteve na base da decisão de se
especializar técnicos de laboratório em CITOTÉCNICOS.

4.1. Colheita e Acondicionamento

O material para estudo citológico é colhido pelo clínico ou patologista de três formas:
- Por recolha de células ISOLADAS, que desagregam, de modo espontâneo ou forçado, dos
tecidos – constituindo o processo denominado CITOLOGIA ESFOLIATIVA ou
DESCAMATIVA.
- Aspirando as células com agulha e seringa dos tecidos a que pertencem – processo
denominado por CITOLOGIA ASPIRATIVA
- Por remoção da superfície de corte de um órgão ou tecido seccionado, fazendo-as aderir
ao vidro da superfície de uma lâmina constituindo o processo denomeinado –
CITOLOGIA por DECALQUE ou IMPRINT.
De uma forma geral, após a obtenção, este material deve ser fixado e acondicionado em
embalagem adequada, devidamente identificada e enviada ao Serviço de Anatomia Patológica.

Citologia Esfoliativa
DEFINIÇÃO A citologia esfoliativa: é o estudo das células descamadas, natural ou
artificialmente, da superfície dos tecidos de revestimento. Uma das suas
aplicações e de maior importância, como meio de diagnóstico reside no facto de
permitir detectar o cancro em fase precoce ou mesmo antes de aparecimento de
lesões pré-malígnas e ou de descobrir outras doenças de índole inflamatório ou

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infeccioso. É um método simples, barato e fácil de realizar. Entre nós, esta


forma de diagnóstico citológica aplica-se mais em material cérvico-vaginal,
(Alonso. Lazcano. Hernández, 2005).
Uma forma de obter este material consiste em forçar a desagregação das células do epitélio que
reveste o colo uterino e a vagina, podendo para isso, usar-se a Espátula de Ayer ou escova
ginecológica para obtenção do material. Com amostra ora obtida é, então, efectuado um
esfregaço sobre a lâmina de vidro, o qual é fixado e posteriormente corado para estudo.

Uma outra forma de esfoliação forçada é a que ocorre nos chamados raspados ou escovados das
mucosas de diversos órgãos, por exemplo, dos Brônquios. As células a estudar podem, também,
esfoliar-se espontaneamente, a partir dos revestimentos das cavidades corporais, permanecendo
viáveis no líquido nelas contido (urina, derrame pleural, derrame pericárdio, liquido ascítico,
LCR, etc). Se uma amostra deste líquido for colhida e centrifugada, as células que elas contêm
ficam no fundo do tubo e poderão ser colhidas e efectuado o esfregaço.

Citologia Aspirativa
DEFINIÇÃO Citologia Aspirativa: é uma técnica que proporciona um resultado em curto
espaço de tempo. As localizações mais frequentes para as punções, encontram-
se frequentemente no fígado; gânglios; mamas; tireóide, glândulas salivares, e
entre outras estruturas, sobretudo as que se encontram mais superficialmente,
(Alonso. Lazcano. Hernández, 2005).
As lesões localizadas mais profundamente ou aquelas de localização delicada como por exemplo
a tireóide, recomenda-se que sejam puncionadas com controlo ecográfico. Para este efeito, usa-se
seringa e agulha e punciona-se o órgão ou estrutura em causa. O produto aspirado é, então,
colocado numa das extremidades da lâmina e efectuar-se o esfregaço com fixação a seco ou em
álcool a 95% quando se pretende fazer a coloração de HE.

Citologia por Decalque (Imprint)

A citologia por Decalque ou Imprint é mais frequentemente usada para o estudo de células de
órgãos hemato e linfopoiéticos. Para obtenção do material para estudo, secciona-se o tecido em
causa e ainda a fresco e na superfície dessa secção, encosta-se uma face da lâmina do vidro. As
células presentes ora na secção feita irão aderir-se a superfície da lâmina. Estas preparações são

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então, fixadas em álcool a 95% e posteriormente coradas com HE, Papanicloau ou outra
coloração citológica recomendada.

Esta técnica é especialmente indicada para apoio a histologia sobretudo em tumores malignos
dos órgãos linfopoiéticos, como linfomas, e patologias diversas dos gânglios linfáticos e médula
óssea, permitindo um resultado possível pelo estudo das características das células
individualizadas.

5. FIXAÇÃO

É importante recordar que qualquer tecido fora do organismo sofre uma autólise ou mesmo
putrefacção se não for imediatamente fixado. Nas células individualizadas a autólise ocorre
exactamente da mesma forma que nos tecidos, dai a necessidade de fixar rapidamente para evitar
o apercebimento de alterações nucleares ou citoplasmáticas que podem prejudicar o exame
citológico.

5.1. Os líquidos fixadores mais usados em citologia são:

- Álcool etílico a 70% em partes iguais com o líquido que se pretende estudar.
- Álcool a 95%.
- Cytospray.
Este último é um produto composto à base de álcool isopropílico e de polietilenoglicol,
recomendado para fixar material de Papanicolau. Neste, o álcool actua como fixador do material
biológico enquanto o polietilenoglicol cobre o esfregaço com uma película protectora para evitar
evaporação do álcool fixador e da água normalmente existente na célula. Esta película é
facialmente removida por etanol antes da coloração.

6. REGISTO E DESCRIÇÃO MACROSCOPICA

Em material citológico o registo e descrição macroscópica consiste tal como acontece em


histologia; na enumeração de todas as características macroscópicas observadas no material. Esta
descrição é muito simples e é geralmente feita pelos técnicos.

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As características anotar, varia em função do material, com tudo, deve-se sempre anotar o
volume do material em estudo, aspecto, se contêm ou não coágulos, se foi ou não centrifugado
para obtenção de sedimento com qual se elabora o esfregaço e quantas lâminas foram preparada;
cor de material e o número das lâminas enviadas pelo serviço requisitante.

6.1. Esfregaços e Citopreparado

DEFINIÇÃO É uma técnica de, manualmente, dispor as células numa lâmina de vidro, para
permitir o seu estudo individualizado, a partir do material sedimentado ou não,
com ou sem ajuda de centrífuga, (Alonso. Lazcano. Hernández, 2005).

Modernamente, usam-se cito-centrífugas, aparelhos


automatizados e especiais para concentrar as células e
fazer com elas um esfregaço numa diminuta extensão da
lâmina. Estes tipos de esfregaços denominam-se de
CITOPREPARADOS (figura 3). Permitem uma
observação muito rápida e eficiente ao contrário dos
esfregaços manuais.

7. COLORAÇÃO CITOLÓGICA UNIVERSAL


Há cerca de meio século, Papanicolau, usou uma coloração relativamente simples que lhe
permitia estudar esfregaços cérvico-vaginais e classificar as alterações celulares em 5 grupo.
Mais tarde esses grupos receberam a designação de CLASSES DE PAPANICOLAU, e a técnica de
coloração usada para esse efeito designou-a de PAP-TESTE. Por esta técnica também se
detectam diversos agentes etiológicos, (fungos,
cândidas, trichomonas, lesões virais) nos
esfregaços cérvico-vaginais ou noutros.

Tal como acontece na histologia, na citologia a


Coloração também pode ser feita automaticamente
e manualmente, (figura 4). A coloração automática

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é a mais usada, pois é rápida e deixa o técnico livre para outras tarefas mais complexas. Nela
usam-se processadores automáticos, ao lado representado contrário dos esfregaços manuais.

Para além disso, também permite verificar alterações hormonais do ciclo menstrual -
CITOLOGIA HORMONAL, embora, correntemente se prefira outros métodos de coloração,
para este efeito, por exemplo a técnica de Shorr.

Os principais corantes utilizados no MÉTODO DE PAPANICOLAU, são:

- A Hematoxilina, Orange G e Eosina – azur ou “EA-50”

Normalmente, esta coloração cora os núcleos em azul, o citoplasma das células superficiais em
cor-de-rosa, o citoplasma das células intermediárias, parabasais e basais em azul esverdeado.

A técnica de Papanicolau não é exclusiva para material do colo do útero embora tenha sido
desenvolvida para este efeito. Também, pode ser usada para qualquer outro tipo de material
numa recomendação credível.

7.1. Outras Colorações

DEFINIÇÃO Método de Wright: é uma técnica usada na citologia por Decalque para estudo
de células de órgãos linfopoieticos “medula óssea, por exemplo” (Gonzalez &
Alberto, M. 1991).

DEFINIÇÃO Método de Shorr: é uma técnica de coloração, especialmente indicada para


estudo de células do epitélio vaginal para revelar actividade das principais
hormonas femininas “estrogénio e progesterona”, (Gonzalez & Alberto, M.
1991).

Tal como acontece em histologia, também em citologia, após a coloração é necessário realizar a
montagem da preparação usando meios de montagem hidrófobos, e em seguida secar, re-
identificar e entregar ao cito-técnico/citopatologista para realizar a leitura. Os resultados deste
estudo são expressos segundo as normas da OMS.

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8. COLORAÇÕES ESPECIAIS

A crescente valorização de diagnósticos diferenciais em Anatomia Patológica conduziu á procura


recorrente das colorações especiais básicas que permitem determinar a natureza química de
certas substâncias, ou revelar a presença de certos produtos, e microorganismos presentes nas
células ou tecidos que não são visíveis com as técnicas de rotina. Estas colorações básicas são
uma ferramenta de baixo custo e de fácil execução quando comparadas com as técnicas
modernas de biologia molecular. Embora simples, estas resolvem a grande maioria dos casos de
rotina hospitalar; quando associados á técnica de rotina HE permitem um diagnóstico muito mais
correcto e preciso.

A qualidade das colorações especiais dependem, entre outras de:

- Domínio e acompanhamento integral dos “POPs” das colorações, experiência do Técnico


que as executa, qualidade da água destilada, qualidade dos reagentes/corantes, estado de
limpeza da vidraria bem como das balanças a usar, condições climáticas da sala de
colorações especiais, organização do Laboratório e outras.

Sempre que se começar uma nova coloração tem que se investigar a procedência do corante, bem
como a marca. O grau de purificação, as condições de conservação, o prazo de validade dos
corantes é relevante para obtenção de bons resultados da técnica. No nosso meio, entre muitas
colorações especiais que se realizam, apenas se descrevem alguns exemplos daquelas mais
frequentemente efectuadas.

8.1. Técnicas para Identificação de Microorganismos

A identificação de certos microorganismos pode ser facilitada por métodos especiais


representados por colorações ou impregnações metálicas. Nestas técnicas, incluem-se as técnicas
para detecção dos fungos e micobactérias álcool-ácido resistentes. Dentre elas desçamos:
- Técnica de Grocott
- Técnica de Ziehl-Neelsen
- Técnica de Fite Faracco

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8.1.1. Técnica de Grocott

DEFINIÇÃO A técnica de grocott é uma técnica de impregnação metálica que permite a


demonstração dos fungos. Baseia-se numa oxidação inicial dos cortes em ácido
crômico, seguida pela impregnação na solução de metenamina nitrato de prata
na estufa a 60ºC, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).

Aplicação clínica
- A coloração de grocott é útil para identificação de variedades de fungos patogénicos,
como Aspergillus fumigatus, Blastomicys dermatitidis, Candida albicans, Cryptococcus
neoformans.

8.1.2. Técnica de Ziehl-Neelsen

DEFINIÇÃO A técnica de Ziehl-Neelsen (ZN): é uma técnica que evidencia as micobactérias


de tuberculose, esta baseia-se na capacidade que estes microrganismos possuem
em reter os corantes complexos básicos (tais como a fucsina) após forte
descoloração com álcool-ácido, (Gonzalez & Alberto, M. 1991)

Aplicação clínica
- A coloração de ZN (fig. 5) é útil para o
diagnóstico de Mycobacterium tuberculosis
que é um agente causador da tuberculose.

8.1.3. Técnica de Fite Faracco

DEFINIÇÃO A técnica de Fite Faracco é apenas uma modificação do método de Ziehl


Neelsen em que consiste em tratar o corte, antes de corar pela fucsina, com
substâncias gordurosas, ou oleosas, no nosso caso, óleo de amêndoa e de
terbentina, (Gonzalez & Alberto, M. 1991).

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Aplicação clínica
- A coloração de Fite Faracco “FF” (figura 6) é útil
para o diagnóstico de Mycobacterium leprae que é
um agente causador da lepra.

8.2. Técnica para Identificação de Tecido Conjuntivo

O tecido conjuntivo é constituído por células, fibras e substância fundamental. As técnicas


histológicas referem-se em geral, ao seu componente fibrilar, isto é, fibras colágenas, elásticas e
reticulares

As fibras colágenas são formadas pela proteína denominada colágeno, a técnica de Tricrômio de
Masson é uma das colorações especiais mais eficientes para estas fibras.

Técnica de Tricrómico de Masson

- A técnica de Tricrômio de Masson segundo Hould, R. (1984) é usada para identificação


das fibras colágenas, com esta técnica pode-se observar os núcleos azuis-escuros ou
pretos, o músculo, e o citoplasma das células vermelhos e o colágeno em azul.

Aplicação Clínica
- A coloração de Tricrômio de Masson é usada para distinção entre o colágeno e o tecido
muscular e ajuda no diagnóstico de alterações fibróticas, doenças neuromusculares e
tumores de origem muscular.

Técnica de Weigert–Van Gieson

- A técnica Weigert-Van Gieson segundo Michallany, J. (1980) cora fibras elásticas em


negro pelo corante de Weigert (fucsina básica/resorcina), e as fibras colágenas em
vermelho pelo corante de van Gieson (fucsina ácida). O tecido de fundo, independente do
tipo, fica corado em amarelo pelo ácido pícrico, que serve de corante de fundo. Os
núcleos são corados pela hematoxilina férrica de Weigert

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Aplicação Clínica

- A demonstração das fibras elásticas pelo método de weigert-van gieson é útil para
identificar casos de proliferação ou degeneração das fibras elásticas, doenças vasculares e
invasão de tumores nos vasos

Técnica de Reticulina

- A técnica de reticulina é um método de impregnação metálica que permite a


demonstração das fibras reticulares, onde absorvem a prata, mas não são capazes de
reduzi-las a forma metálica visível, para tal usa-se o ”formol” como solução redutora

Aplicação Clínica

- Em casos de fibroses ou escleroses (nefroescleroses, cirroses hepáticas, fibrose pulmonar,


etc.) Um fígado cirrótico mostra padrões de distúrbios de fibras reticulares, explicando o
uso rotineiro da técnica de reticulina nas amostras de biópsia hepática. As fibras
reticulares também exibem padrões característicos de tumores, auxiliando no diagnóstico
diferencial de certos tipos de tumor; tumores das partes moles, sobre tudo
fibrossarcomas; retículos sarcomas; persistência da trauma reticular em casos de
degeneração parenquimatosa (hepatites) ou em necroses.

8.3. Técnicas de Identificação de Glúcidos

Método de PAS--Acido Periódico de Schiff & PAS


com Diástase

- A técnica de PAS dá uma reacção positiva com


todos os polissacarídeos complexos, o que inclui
o glicogénio e outros mucos polissacarídeos
neutros, (figura 7); pelo facto de o PAS corar o
glicogénio e os mucopolissacarídeos neutros é
preciso eliminar previamente os cortes pela
saliva ou diástase (PAS com diástase). PAS com diastase é utilizada para marcar e
diferenciar glicogénio de outros elementos PAS positivo.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 103


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Aplicação clínica
- A técnica de PAS tem uma variedade de
aplicações clínicas. É mais comummente
utilizada para avaliar depósitos de
glicogénio no fígado. Tumor da bexiga, rim,
pâncreas, fígado, ovário e pulmão também
pode conter grânulos de glicogénio de
significado diagnóstico. PAS com diástase
(figura 8) é utilizada para marcar e
diferenciar glicogénio a partir de outros
elementos do tecido PAS positivo.

8.4. Pigmentos

Nos tecidos podemos observar alguns pigmentos que devem ser caracterizados para assim se
poder determinar a patologia em questão, dentre os vários pigmentos existentes os que são mais
frequentes nas alterações patológicas destacam-se a melanina e a hemossiderina.

DEFINIÇÃO A melanina: é um pigmento normalmente encontrado na pele, coróide e


substância negra do encéfalo. Trata-se de uma substância argentafim como as
granulações das células do intestino, (Alberto, M. & Guisseve A. 2011).

Técnica de Masson Fontana


- Na técnica de Fontana Masson para a melanina é utilizada uma solução de prata
amoniacal sem banho redutor. Apenas as substâncias capazes de reduzir directamente os
sais de prata tais como a melanina são evidenciados. No final, os grânulos argentafins e a
melanina ficam de cor negra enquanto os núcleos e o citoplasma variam de rosa a
vermelho.

Aplicação Clínica

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 104


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- A técnica de masson fontana é útil no diagnóstico de melanoses cutâneas em geral; nevos


melânicos; melanoma juvenil; melanomas malignos, sobre tudo indiferenciado
(melanoma acrómico), carcinoma basocelular pigmentado; pseudomelanose intestinal;
células argentafins na metaplasia intestinal; neuromas argentafins do apêndice;
carcinóides do tubo digestivo, sobretudo do apêndice. Diferenciação com o pigmento
férrico ou outros de coloração parda.

Técnica de Perls Ferro


- A reacção do ferrocianeto férrico, do azul da Prússia ou de Perls é usada para demonstrar
a natureza hemossiderótica de pigmento castanho.

Aplicação Clínica
- A hemossiderina é um pigmento derivado do sangue, é um agregado cristalino de
proteínas envolvidas no armazenamento de ferro. Algumas das condições patológicas
envolvendo hemossiderina são anemia, hemorragia hemolítica, distúrbio metabólico de
ferro, fibrose hepática, cirrose, insuficiência cardíaca e diabetes mellitius.

RESUMO

O estudo microscópico dos tecidos só é possível após que estes tenham sido corados. A
coloração é um acto de aplicação às células ou tecidos determinados reagentes e corantes de
acordo com afinidade entre os dois. As colorações servem em geral três objectivos: -
Topográfica, histoquímica e microbiológica.

As colorações podem ser feitas automaticamente por processadores de colorações e


manualmente. A coloração de HE é universal em histologia pós é apartir desta que se podem
seleccionar outros tipos de colorações – especiais. Ela é topográfica, combinada e indirecta. O
corante activo de hematoxilina é o produto da sua oxidacão – a hemateina.

A coloração de papanicolau é a universal em citologia. É simples, barata e rápida, porém,


limitada. Permite efectuar rastreio em massa de mulheres através do chamado Pap-test, de lesões
pré-malignas, malignas e ou outras afecções inflamatórias. Os seus esfregaços são fixados
rápidamente por citospray e corados por esta técnica – técnica de Papanicolau.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 105


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

A punção aspirativa é extremamente importante entre nós porque é barata, simples, rápida,
porém, limitada. É mais aplicada na patologia mamária, ganglionar, tireoidea, figado e outros.

As colorações especiais são de muita vália no complemento do diagnóstico, pós permitem um


estudo pormenorizado de estruturas e constituintes químicos dos tecidos. São várias e entre
muitas destacam-se as de Fite-faraco, Ziehl Nelseen, PAS, Grocott, Tricrómico de Masson,
Vermelho de congo, etc.

ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD3

Actividades de ensino-aprendizagem
ACTIVIDADE Classificação e importância da Coloração de Hematoxilina e eosina
nº 3 como coloração universal em Histologia.
Duração 2 Horas
Objectivos:
- Descrever a importância da coloração de Hematoxilina e Eosina, como coloração
universal em Histologia
- Explicar a sua classificação quanto ao tipo e quanto a seus objectivos.
- Identificar os corantes/reagentes usados nesta coloração.
Conteúdos de referência
- Importância da coloração de Hematoxilina e Eosina no diagnóstico anatomopatológico
- Sua classificação quanto ao tipo e quanto aos seus objectivos.
- Corantes e reagentes nelas intervenientes
- Importância de montagem das suas preparações.
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
A turma deve-se organizar em grupos de 4 alunos.
Cada grupo deve:
- Estudar no manual da cadeira ou nutras literaturas a coloração de Hematoxilina e
Eosina
- Cada grupo deverá apresentar o resumo da importância da coloração da Hematoxilina
e sua classificação quanto ao tipo e quanto aos seus objectivos
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
As actividades que o professor deve planejar e desenvolver na sala de aulas são:

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 106


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- Estabelece os conhecimentos prévios dos alunos da turma.


- Expõe os conteúdos conceptuais necessários para o desenvolvimento das sessões
práticas.
- Resume os conceitos chaves e faz perguntas para se assegurar que suas explicações
foram claras
- Prepara os planos das actividades práticas, os protocolos de actuação e a
documentação para os grupos de trabalho
- Reparte aos grupos a documentação necessária para suas análises e debates.
- Durante a apresentação dos grupos, o professor deve detectar os erros cometidos e das
orientações necessárias para sua correcção. Também deve comprovar a participação de
cada aluno no trabalho desenvolvido.
- No final da actividade o professor avalia o trabalho desenvolvido pelos alunos
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Espaço físico da sala de aulas;
- Acesso a literatura inerente;
- Material de escritório
Critérios de avaliação
Os estudantes:
- Identificam a importância e a classificação quanto ao tipo e quanto aos seus objectivos
a coloração de Hematoxilina Eosina.
- Os corantes/reagentes para a sua efectivação.
- Importância de montagem das preparações de Hematoxilina e Eosina.
- Apresentam o resumo final do seu trabalho cumprindo as condições estabelecidas pelo
professor.

CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD3


Caso Prático/Projecto
Título
Avaliação do conhecimento e importância do teste de Papanicolau pela população feminina
da sua Instituição de Ensino.
Descrição
O professor expõe a turma as condições para o desenvolvimento do caso prático.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 107


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Cada grupo de trabalho deve apresentar ao final desta unidade e dentro do prazo estabelecido
pelo professor, o resultado da actividade.
Estabelecer os grupos de trabalho.
- Entrevistar 100 (cem) elementos do sexo feminino (estudantes e trabalhadores) da sua
Instituição do ensino.
- Elaborar e desenvolver a actividade seguindo as orientações do professor.
- Assegurar as funções de cada integrante do grupo.

Objectivo Geral
- Avaliar o conhecimento e importância do teste de Papanicolau na população feminina
da sua instituição

Para realização deste trabalho, o professor deve dividir a turma em grupo de 4 elementos
onde:
- Cada grupo vai realizar a actividade anunciada.
- O estudo deve consistir no levantamento do conhecimento do teste de Papanicolau e
da sua importância pela população feminina da sua Instituição.

Recursos
- Ficha/inquérito elaborada (o) pelo professor contendo perguntas fechadas de tipo:
1. Já ouviste falar do teste de Papanicolau – sim ou não
2. A quem se destina o teste – mulheres, homens, toda gente
3. Em que órgãos se faz o teste de Papanicolau? Vagina e colo uterino; olhos e
ouvidos, pele e boca
4. Para que serve o teste de Papanicolau? Diagnosticar o cancro do colo uterino,
diagnosticar anemia, diagnosticar pobreza absoluta. (o professor pode enriquecer
o Inquérito com outras perguntas desde momento que seja fechadas.
- Material de escritório
- Referências bibliográficas

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 108


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. Alberto, m. & Guisseve, A. Histocitecnologia – Manual de procedimentos práticos para


técnicos de laboratório. MISAU 2011
2. Gonzalez, C. & Alberto, M. Princípios Básicos de Histotecnologia e citolotecnologia.
MISAU, 1ª edição. 1991
3. Hould, R. Techiniques d’histopathologie et de cytopathologie. Paris. Edição. Maloine.
1984
4. Lazacano Henández, A. Cáncer Cervicouterino. Diagnóstico, prevencion y control. 2ª
Edição. Editorial Medica Panamericana.
5. Michalany, J. Técnicas Histológicas em Anatomia Patológicas. São Paulo. 1980
6. Moral García Del, R. (1993). Laboratório de Anatomia Patológica. Madrid 1993

UNIDADE DIDÁCTICA 4

TÉCNICAS COMPLEMENTARES

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 109


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

ÍNDICE

OBJECTIVO GERAL ______________________________________________________ 111


Resultados de Aprendizagem ______________________________________________ 111
INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 112
1. AS TÉCNICAS ESPECIALIZADAS ______________________________________ 113
1.1. Imunohistoquímica (IHQ) ___________________________________________ 113
1.2. Aplicações _______________________________________________________ 114
2. CONCEITOS BÁSICOS ________________________________________________ 114
2.1. Tipos de Anticorpos ________________________________________________ 115

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 110


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

2.2. Escolha da Metodologia _____________________________________________ 115


3. MICROSCOPIA ELECTRÓNICA (ME) ___________________________________ 117
3.1. Histoenzimologia __________________________________________________ 118
4. ACTIVIDADES COMPLEMENTARES ___________________________________ 119
4.1. Preparação de Soluções _____________________________________________ 119
4.2. Gestão de Stock ____________________________________________________ 119
4.3. Arquivo __________________________________________________________ 120
4.4. Controlo de Qualidade ______________________________________________ 121
ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD4 _______________________ 123
CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD4 _______________________________________ 124
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA _____________________________________________ 125

OBJECTIVO GERAL

Estabelecer o papel das técnicas especiais e do arquivo de lâminas e de blocos bem como o papel
de controlo de Stock e qualidade no Serviço de Anatomia Patológica.

Resultados de Aprendizagem

No fim desta Unidade o estudante será capaz de:

- Explicar a importância de Imunohistoquímica no diagnóstico anatomopatológico


- Destacar as indicações de imunohistoquímica

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 111


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- Explicar a importância das diluições dos anticorpos no estudo imunohistoquímico


- Destacar a importância e as indicações da Microscopia Electrónica
- Identificar as fases da ultramicrotomia
- Explicar o papel da Histoenzimologia
- Destacar a importância da Laminoteca e Blocoteca
- Explicar os procedimentos de Laminotecas e Blocoteca
- Destacar o papel de controlo de stocks num Serviço de Anatomia Patológica
- Descrever como se realiza a stockagem de materiais e consumíveis num laboratório
- Definir o conceito de garantia de qualidade num Laboratório

INTRODUÇÃO

Em Anatomia Patológica existem várias técnicas complementares de diagnósticos habitualmente


utilizadas, umas feitas obrigatoriamente em rotina.

A presente unidade didactica está composta por quatro grandes tópicos a destacar.

- O primeiro capítulo aborda a temática sobre as técnicas de Imunohistoquimica com enfoque


a antígeno, epitopo, anticorpo e seus tipos.
- No segundo capítulo desta unidade vai-se abordar a microscopia electrónica,
histoenzimologia.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 112


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- No terceiro capítulo que vai-se desenvolver a temática sobre as actividades complementares


desde as preparações de soluções, a gestão de stocks e arquivos e controlo de qualidade.

1. AS TÉCNICAS ESPECIALIZADAS

1.1. Imunohistoquímica (IHQ)

DEFINIÇÃO A Imunohistoquímica: é uma técnica de diagnóstico histológico que combina


metodologias de Imunologia, histologia e química baseada na reação imune
entre ANTIGÉNIO e ANTICORPO formando IMUNOCOMPLEXOS, que são
detectados ao microscópio de luz devido a presença de um MARCADOR,
ligado ao anticorpo, (Alberto, M. & Guisseve, A. 2011).

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 113


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Deste modo é possível revelar, nos cortes histológicos a presença de certas substâncias sobretudo
de natureza protéica com uma actividade antigénica. Esta revelação pode ser de estrema
importância para se chegar a um determinado diagnóstico. No passado, esta técnica era
exclusivamente feita em material fresco (cortes de congelação) sem nenhum tratamento químico
nem mesmo o de fixação, temendo que este tratamento, desse falsos negativos (por desnaturação
protéica/ bloqueio das características antigénicas).

Actualmente, com o desenvolvimento tecnológico permitiu a fabricação de anticorpos muito


sensíveis e específicos capazes de reagirem com uma minúscula parte de antígeno remanescente,
inalterado pelo tratamento químico. Por outro lado, um tratamento especial dos tecidos com uma
enzima proteolítico – a TRIPSINA, contribui, muito significativamente para a recuperação da
capacidade antigénica perdida, por quebrar as ligações entre as moléculas protéicas e as do
formaldeído.

Esta técnica pode ser desenvolvida em material fixado em “formol” e incluído em parafina, bem
como em tecidos frescos, como também material resultante de esfregaços e preparados
citológicos fixados em álcool e ou imprints e cellblock.

1.2. Aplicações

- Diagnóstico quando a morfologia e dados clínico-patológicos não o permitem


- Distinção entre tumores histologicamente semelhantes
- Identificação do sub-tipo histológico
- Caracterização de tumores malignos não diferenciados ou pouco diferenciados para
determinar se são primários ou metastáticos
- Identificação de micrometástases
- Permite diagnóstico, prognóstico e orientação terapêutica.

2. CONCEITOS BÁSICOS

Os conceitos básicos a desenvolver neste capítulo incluem segundo Gonzalez & Alberto, M.
(1991): o antígeno, o epitopo e anticorpo, tabela 1.

DEFINIÇÃO
Antígeno: substância (geralmente exógena) que sob condições apropriadas é

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 114


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

capaz de estimular a formação de anticorpos.

Epitopo: é o determinante antígeno, o sítio exacto de ligação do anticorpo na


molécula do antígeno.

Anticorpo (Imunoglobulinas): proteína capaz de reconhecer e se ligar aos


antígenos de forma específica, provendo uma resposta imune.

2.1. Tipos de Anticorpos

DEFINIÇÃO Anticorpos primários: são os que se ligam directamente e especificamente ao


antígeno tecidual.

Anticorpos secundários: dirigidos contra AC primários

Tabela 1: Características diferenciais do anticorpo primário e secundário

Monoclonais Policlonais
Reagem com um epítopo específico Reagem com vários epítopos
Várias classes de anticorpo (IgG, IgA, IgM,
Simples classe de anticorpo
IgD e IgE
Produzidos através de hibridomas Produzidos em diferentes células
Produzidos de um clone indívidual/ células do
Produzidos por aminais imunizados
plasma
Aminais usados para a sua produção: coelho,
Aminais usados para a sua produção: “ratinhos” cabra, porco, ovelha, cavalo e porquinho da
India
Podem ser obtidos na forma de anti-soro ou
fracção de Ig

2.2. Escolha da Metodologia

A escolha da metodologia depende essencialmente de:

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 115


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- Tipo de amostra

- Disponibilidade do Ac primário

- Grau de sensibilidade

- Tempo de processamento necessário

- Custo dos reagentes

Os diversos métodos usados para a técnica de Imunohistoquímica são: munoflurescencia;


Peroxidase-Antiperoxidase “PAP” e Complexo Avidina-Biotina “ABC”.

No método de Avidina-Biotina, a AVIDINA apresenta 4 ligações das quais 3 já acopuladas com


BIOTINA e a quarta livre para se ligar com a molécula de Biotina do anticorpo secundário. Por
sua vez, cada molécula de Biotina encontra-se quimicamente unida a uma molécula da enzima
PEROXIDASE, esta enzima actua sobre um substrato – a DIAMINOBENZIDINA (DAB).

Quando este substrato é posto em contacto com a enzima, na presença de antigéno em estudo,
ocorre formações de cor castanha, visível ao microscópio da luz.

Ao anticorpo Primário produzido contra o antigénio que se pretende estudar, adiciona-se o


anticorpo secundário, produzido contra o Primário. O secundário está quimicamente ligado a
uma molécula de biotina, por isso, diz-se que é biotinilado. Na prática, quando queremos saber
se um certo antigénio está presente num determinado tecido, sobre o corte histológico, coloca-se
sucessivamente: anticorpo primário, anticorpo secundário biotinilado, complexo ABC e
Diaminobenzidina.

Se o antigénio em estudo não estiver presente, nada acontecerá e todos os reagentes serão
arrastados pelas lavagens. O contrário,
se o antigénio em estudo estiver
presente, formar-se-á um produto de cor
castanha (figura 1), resultante da
reacção do DAB com a peroxidase.

Deste modo, é revelado ao pesquisador


a presença do antigénio que ele procura
saber se estaria ou não presente naquele

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 116


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

tecido. A fixação do material para este estudo de imunohistoquímica pode ser ou não feita;
quando o é, o formaldeido a 4% é o indicado.

O Processamento histológico, a Inclusão e a Microtomia, são feitos de forma idêntica a da


histologia normal, com especial cuidado em evitar temperaturas elevadas. A Coloração de fundo
é feita em função de cada método.

3. MICROSCOPIA ELECTRÓNICA (ME)

Desde que ROBERT HOOKE (1665), observou as células pela primeira vez, pode afirmar-se
que esta experiência ganhou maior salto com a invenção do Microscópio Electrónico. Com
efeito, a utilização deste aparelho, com elevado poder de resolução, fez surgir o que hoje se
considera um dos ramos fundamentais da Biologia – o estudo ULTRAESTRUTURAL.

Segundo Michallany, J. (1980) existem dois tipos de microscópios electrónicos: o Microscópio


Electrónico de TRANSMISSÃO, e de VARREDURA (SCANNING), dotado este da capacidade
para evidenciar estruturas celulares com aspecto TRIDIMENSIONAL.

Este último tem menor aplicação na rotina hospitalar; quando não especificar de outro modo,
referimo-nos ao microscópio electrónico de transmissão. Estes microscópicos diferem dos
ópticos pelo seu poder de resolução, que é
incomparavelmente superior, e por todo o
seu sistema ser baseado, não num feixe
luminoso mais sim num muito delicado feixe
de electrões.

O material para este exame, deve, como


acontece nos outros tipos de microscópia, ser
fixado imediatamente para evitar o
aparecimento de autólise. Os fixadores mais
usados são o GLUTARALDEIDO e o
TETRÓXIDO DE ÓSMIO. O material a
fixar, nesta técnica, não deve ultrapassar 4
mm de espessura.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 117


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

A desidratação é feita por álcoois em graduações progressivas até ao álcool absoluto. Terminada
a desidratação, deve efectuar-se uma lavagem do material em acetona ou óxido propilénico.

Nesta técnica, não há diafanização. A IMPREGNÇÃO é feita logo após a desidratação


frequentemente com o EPON, resina sintética hidrofaba. A inclusão é feita no mesmo produto,
em moldes apropriados de gelatina ou de plástico.

Os cortes são obtidos no ULTRAMICROTOMO. A ultramicrotomia é feita em duas fases. Na


primeira, destinada a obtenção de cortes Semi-Finos (com espessura variando entre 1 a 2
micras); a pos a coloração com azul de toluidina, o patologista vai escolher a área propícia para a
execução da fase seguinte. Nesta, (2ª fase) obtêm-se os cortes ultrafinos com uma espessura
variando entre 60 a 320 nanómetros.

Os cortes são feitos com facas de Vidro ou de Diamante e colocados em pequenas placas
metálicas arredondadas chamadas Grelhas. A “Coloração” é feita com Acetato de Uranilo e
Citrato de Chumbo.

A microscopia electrónica em histopatologia é mas usada para estudos diferenciados de


patologia renal, pulmonar e tumoral.

3.1. Histoenzimologia

DEFINIÇÃO Histoenzimologia: é uma técnica bastante delicada que permite detectar a


presença e estudar determinados enzimas. Os mais frequentes são: Enzimas
óxido-redutores, transferases, hidrolases, isomerases e ligases, (Hould, R.
1984).

A técnica é influenciada por diversos factores como a temperaturas, pH do meio e concentração


do substrato – substância na qual a enzima se liga. O material para estudo enzimático pode ou
não ser fixado. A fixação desnatura as proteínas que formam a enzima, inactivando, podendo, daí
resultar falsos negativos. Em certos casos, porém, obtêm-se resultados válidos, mesmo com
material fixado. É sempre preferível cortes adquiridos por congelação.

Os fixadores recomendados são: Formol tamponado e a Acetona. O tratamento posterior é


idêntico ao da histologia normal.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 118


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

A histoenzimologia pode ser empregue nos estudos de patologia rectal, sistema nervoso e da
mama, mas tem uma especial aplicação em patologia muscular. Entre muitas técnicas
especializadas, realçam-se as de Fotomicrografia, métodos de quantificação, citogenética,
citometria de fluxo, autoradiografia, biologia molecular e outras.

4. ACTIVIDADES COMPLEMENTARES

4.1. Preparação de Soluções

LEMBRA-TE Antes de mais vale lembrar que uma grande parte da qualidade do trabalho
de um Laboratório de Analises depende da qualidade das soluções utilizadas
nas várias etapas do trabalho.

Para se alcançar tal qualidade, é necessário, entre outros factores, que as soluções de trabalho
sejam devidamente preparadas e devidamente conservadas, bem como o controlo do período do
seu uso. Estas exigências também se aplicam às soluções-stocks e a todos os produtos químicos,
pois é a partir deles que vamos preparar todas as nossas soluções de trabalho. Para o
cumprimento destas exigências, muitos Laboratórios dispõem-se de uma sala de preparação de
soluções que alguns denominam de Serviço químico.

4.2. Gestão de Stock

Nesta Sala, decorrem todas as actividades relacionadas com manuseamento de todos os produtos
químicos do serviço desde a sua aquisição, stocagem, condições de uso/armazenamento
preparação de soluções de trabalho e outras.

Cada Serviço, deve adoptar um sistema de controlo mais eficáz segundo as suas reais condições
de trabalho (sistema de fichas com nomes e sinónimos de todos os produtos quimicos ou um
sistema informatizado), para sempre que possível não haver roptura dos seus stocks e com todas
as consequências possíveis. O importante, é promover um de conjunto de acções para que no
mais curto prazo de tempo possível, repor os níveis dos stocks acima do limiar de segurança.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 119


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

4.3. Arquivo

a) Arquivo de Blocos/Blocoteca

Só se pode dar por concluído todo o trabalho de uma


análise depois de o resultado sair para o médico
requisitante. Nesta altura, os blocos, as lâminas, as
requisições e os resultados devem ser arquivados. Ao
conjunto dos blocos organizados sequencialmente e
arquivados dá se o nome de Blocoteca (figura 3).
Sempre que possível, deve se ter uma blocoteca
temporária e definitiva.

b) Arquivo de Lâminas

Ao conjunto de lâminas organizadas sequencialmente e arquivadas dá se o nome de Laminoteca.

Existem dois tipos de Laminotecas:

i. Laminoteca especifica: arrumam-se lâminas de aulas práticas, exames extemporâneos,


dos exames de técnicas especiais, de controlos positivos de colorações especiais e outra de
interesse colectivo.

ii. Laminoteca geral: arrumam-se lâminas de rotina hospitalar.

As lâminas são arquivadas segundo o tipo de análise:

- Lâminas de Autópsias.

- Lâminas de Biópsias e Peças Cirúrgicas.

- Lâminas de Citologias (diferenciadas em citologia cérvico-vaginal e Punções aspirativas/


líquidos).

As lâminas são arrumadas em duas fases: Arquivo Temporário e Arquivo Definitivo.

c) Arquivo Temporário

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 120


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

Arrumação ainda não completa de lâminas pois nem todos os casos efectuados num certo dia
retornam ao mesmo tempo à área técnica, pois a saída dos diagnósticos dos patologistas não é
um acto contínuo, precisando-se por vezes de uma discussão entre colegas ou outras manobras
relativas a esse exame e com consequente tempo de espera.

Após que todas as lâminas retornaram à área técnica (no intervalo de tempo previamente
definido) estas passam para um arquivo normalmente longe da área técnica – Arquivo
definitivo, que pode ter uma duração considerável por vezes até cerca de quinze anos ou até
chegar ao tempo do seu descarte segundo as definições de cada Serviço.

4.4. Controlo de Qualidade

Entende-se por controlo de qualidade a verificação do cumprimento das normas de trabalho


técnico e da perfeição dos resultados alcançados.

Os resultados das análises produzidos no Laboratório devem ter uma segurança absoluta quer
para o doente quer para o clínico que as solicitou.

A qualidade dos resultados de um Laboratório dependem entre outros dos seguintes


factores:

- Pessoal: a causa que mais afecta a segurança da boa qualidade das análises, é a
capacidade técnica e o brio profissional do pessoal que as executa.

- Equipamento: factor importante num laboratório para proporcionar a execução precisa


das técnicas que o exigem, o equipamento deve ser seleccionado de acordo com as
características das actividades a desempenhar nas realidades locais de cada laboratório.

- Método: é um processo racional e sequencial que se segue para chegar a um determinado


objectivo.

De outro lado, para garantir a boa qualidade dos resultados é necessário entre outros a
coordenação, exactidão, aceitabilidade, normação e capacidade de expressão.

RESUMO

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 121


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

A imunohistoquímica é uma técnica de diagnóstico histológico que combina as metodologias


de imunologia, histologia e química, baseada na reacção imune, entre antigénio e anticorpo, por
formação de imunocomplexos que são detectados ao microscópio óptico devido a presença de
um marcador ligado ao anticorpo, revelando a presença ou não de substâncias de natureza
protéica, com actividade antigénica.

Nesta técnica, incluem-se diversos métodos, entre os quais, a imunoflurescência, peroxidase-


antiperoxidase (PAP) e complexo avidina-Biotina (ABC).

Na prática, quando se pretende saber se um certo antígeno está presente num certo tecido, sobre
o corte histológico colocam-se sucessivamente: anticorpo primário, anticorpo secundário
biotinilado, Complexo ABC e Diaminobenzidina (DAB).

Se o antigénio que se pretende estudar estiver presente no corte, formar-se-á um produto de cor
castanha visível ao microscópio óptico. Nesta técnica a fixação e o processamento histológico
são de extrema vália para o seu êxito.

A temperatura deve ser cuidadosamente mantida nos seus valores normais. Os anticorpos devem
ser cuidadosamente conservados e diluidos nos volumes certos de trabalhos, pós estes são
extremamente caros.

Inclue-se nesta unidade a microscópia electrónica que é uma técnica que usa o microscópio
electrónico com maior poder de resolução. Salientam-se dois tipos, de Transmissão e de
Varredura.

O material para esta técnica é fixado em Glutaraldeido ou Tetróxido de Ósmio em uma espessura
não superior a 4 mm. O processo do corte é denominado Ultramicrotomia que é feita em
ultramicrótomos, em duas fases.

Os cortes semi-finos com espessura variando entre 1 a 2 micra e a última de cortes finos com a
espessura de 60 a 320 nanometros com facas de vidros ou de diamantes.

A histoenzimologia é o estudo das enzimas cujos mais importantes são: Óxidos-reductores,


transferases, hidrolases, isomerases e ligases.

A preparação de soluções num laboratório deve ser de grande qualidade para garantir em partes
bons resultados, garantindo a existênca de soluções mães – soluções stocks em quantidade e em
qualidade adequada, com uso de dispositivos de alerta quando os produtos descem abaixo do
limiar da segurança do período necessário para a sua aquisição.

Módulo Vocacional AP –– MISAU – 2016 122


Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

O arquivo é uma actividade extremamente importante pois constitue o celeiro do nosso trabalho.
O arquivo dos blocos denominamos Blocoteca e estes são arquivados separadamente das
biopsias/peças cirúrgicas e das autopsia.

O arquivo das lâminas denomina-se Laminoteca e compreende a geral e a específica. E é feita


também segundo o tipo de análise – autópsias, biopsias/peças cirúrgicas e citologia.

O controlo de qualidade é a verificação do cumprimento das normas de trabalho e de perfeição


dos resultados alcançados. Deve ser feito por todos os trabalhadores e em particular dos mais
graduados.

ACTIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA UD4

Actividades de ensino-aprendizagem
ACTIVIDADE Como desenvolver um sistema de controlo de Stocks num
nº 4 laboratório
Duração 2 Horas
Objectivos:
- Determinar a importância de um sistema de controlo de stock
- Identificar os instrumentos que podem ser usados no sistema de controlo de stock
- Determinar a quantidade minima de stockagem
Conteúdos de referência
- Importância do sistema de controlo de stockagem num laboratório
- Problemas inerentes a roptura de stock
- Meios auxiliares para o sistema de controlo de stock
Desenvolvimento da actividade por parte do aluno
A turma deve-se organizar em grupos de 4 alunos.
Cada grupo deve:
- Estudar no manual da cadeira ou noutras literaturas a importância do sistema controle
de stock
- Cada grupo deverá apresentar o resumo da importância do sistema de controlo de
stock
Papel do docente no desenvolvimento da actividade
As actividades que o professor deve planejar e desenvolver na sala de aulas são:
- Estabelece os conhecimentos prévios dos alunos da turma.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

- Expõe os conteúdos conceptuais necessários para o desenvolvimento das sessões


práticas.
- Resume os conceitos chaves e faz perguntas para se assegurar que suas explicações
foram claras
- Prepara os planos das actividades prácticas, os protocolos de atuação e a
documentação para os grupos de trabalho
- Reparte aos grupos a documentação necessária para suas análises e debates.
- Durante a apresentação dos grupos, o professor deve detectar os erros cometidos e das
orientações necessárias para sua correção. Também deve comprovar a participação de
cada aluno no trabalho desenvolvido.
- No final da actividade o professor avalia o trabalho desenvolvido pelos alunos
Espaço/Meios didácticos e tecnológicos
- Espaço físico da sala de aulas;
- Acesso a literatura inerente;
- Material de escritório
Critérios de avaliação
Os alunos:
- Identificam a importância do sistema de controlo de stock num laboratório
- Os meios auxiliares do sistema de controlo de stock
- Problemas relacionados com a roptura de stock
- Limiar mínimo de segurança de stockagem de cada produto (aqui, o grupo deve dar
exemplo de 10 produtos quimicos mais usados num laboratório).
- Apresentam o resumo final do seu trabalho cumprindo as condições estabelecidas pelo
professor.

CASO PRÁTICO/PROJECTO DA UD4

Caso prático/Projeto
Título:
Justificar uma laminoteca efectuada na base de tipo de análise
Descrição

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

O professor expõe a turma as condições para o desenvolvimento do caso prático.


Cada grupo de trabalho deve apresentar ao final desta unidade e dentro do prazo estabelecido
pelo professor, o resultado da actividade.
Estabelecer os grupos de trabalho.
- Visitar um laboratório de Anatomia Patológica com objectivo de ver os diversos tipos
de laminotecas.
- Elaborar e desenvolver a actividade seguindo as orientações do professor.
- Assegurar as funções de cada integrante do grupo.

Objectivo Geral
- Avaliar a necessidade de diferenciação no arquivo das lâminas segundo o tipo de
análises.
Para realização deste trabalho, o professor deve dividir a turma em grupo de 4
elementos onde:
- Cada grupo vai realizar a actividade anunciada
- O estudo deve consistir no levantamento dos diversos tipos de laminotecas
Recursos
- Literatura de tipos de laminotecas existentes
- Material de escritório
- Referências bibliográficas

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA

1. Alberto, M. & Guisseve, A. (2011). Histocitecnologia – Manual de procedimentos


práticos para técnicos de laboratório. MISAU. s/l.
2. Gonzalez, C. & Alberto, M. (1991). Princípios Básicos de Histotecnologia e
citolotecnologia. MISAU, 1ª edição. s/l.
3. Hould, R. (1984). Techiniques d’histopathologie et de cytopathologie. Paris. Edição.
Maloine. 1984
4. Michalany, J. (1980). Técnicas Histológicas em Anatomia Patológicas. s/ed. São Paulo.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

GLOSSÁRIO

A
 Anatomia do Corte: Corresponde as faces do corte (superior e inferior) tendo em conta
as caracteristicas de cada face.

D
 DPX: É um meio de montagem Hidrofobo (não miscível com água) usado na protecção
definitiva das amostras em histológia e citológia de manuseos mecânicos e de oxidação.

E
 Excisional: Acto cirúrgico de remoção na totalidade de uma lesão.

F
 Formol: Formaldeído, aldeído fórmico ou aldeído metanoíla. Empregue na conservação
de tecidos
 Frozen Sections: Cortes obtidos em tecidos congelados por micrótomos

L
 Lâminas Brancas/Cortes Colados: Cortes montados nas lâminas, não corados

P
 PAS com Diastase: Coloração especial utilizada para marcar e diferenciar glicogénio a
partir de outros elementos PAS positivo. O material PAS positivo sem diastase, torna-se
negativo em PAS com diastase, ou seja, a diastase remove o glicogénio

 Pesquisa: conjunto de ações que visam a descoberta de novos conhecimentos em uma


determinada área.

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QUESTIONÁRIO FINAL DE AUTO AVALIAÇÃO DO MÓDULO

Perguntas de Auto-avaliação da UD1

1. O Período de renascimento marcou o fim do reinado do Hipócrates de Cos. Justifique


esta

2. Afirmação usando alguns exemplos concretos.

3. No período pós-independência de Moçambique muitas actividades científicas no ramo


de medicina e noutras sofreram um declínio significativo. No ramo da Anatomia
Patológica em Moçambique, aconteceu o mesmo. Justifique as causas e diz quem foi o
“herói” por parte Moçambicana que contrapôs este declínio e qual era a sua profissão, e
o que fez de concreto para esta contra-oposição. Aonde e quando é que ele morreu?

4. Mostre com detalhes como preparar 20 litros de solução de trabalho de formaldeído


usando como diluente cloreto de sódio a 0,5 molar, sabendo que: sódio 23 e cloreto 35,5.

5. O formaldeído é tido como fixador universal em histologia. Justifique esta afirmação e


indique três alterações artefactuais e as respectivas causas.

6. A descalcificação é um processo histológico laboratorial importante para estudo de


certos tecidos. Fundamenta esta afirmação e fale do uso de solução “Bouin” neste
processo

7. Fale da importância do material de Reserva.

Actividades de ensino-aprendizagem da UD2

1. Fundamenta a importância da etapa de desidratação no processamento histológico de


tecido.

2. A parafina é um meio de inclusão universal em histologia. Fale das suas características,


regras para a sua aquisição e suas vantagens.

3. Em todas as etapas da técnica histológicas o controle da temperatura dos seus reagentes é


de extrema importância, justifique.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

4. Na Microtomia os cortes histológicos são aderidos à lâmina pela sua face inferior.
Justifique este procedimento

5. Cortes histológicos artefactuados dificultam e por vezes até impedem a leitura dos
mesmos. Justifique esta afirmação e indique os tipos de cortes artefactuados estudados e
as respectivas causas

6. Relata a importância do exame peri-operatório.

Actividades de ensino-aprendizagem da UD3

1. Fale da origem da Hematoxilina, tipos estudados e a possível causa da perda do seu


poder corante.

2. Porque a coloração de Hematoxilina & Eosina é considerada como topográfica?

3. Fale da importância do teste de Papanicolau.

4. Indique os corantes usados na coloração de Papanicolau e as estruturas celulares que


estes coram e bem como a sua diferenciação.

5. Justifica a necessidade das etapas de desidratação e diafanização para a montagem dos


cortes histológicos.

6. Fale da importância das colorações especiais e indique aquelas para estudo de micro-
organismos.

Actividades de ensino-aprendizagem da UD4


1. A técnica de imunohistoquimica é constituída por três sub-técnicas – química, histológica
e imunológica. Defina anticorpo, antigénio e anticorpo secundário.

2. Enuncie 3 diferença entre microscópio electrónico e microscópio óptico.

3. Elabore um dispositivo que lhe auxilie no controle de gestão de stock.

4. Na preparação de reagentes, recomenda-se frequentemente o uso de água destilada,


justifique esta afirmação.

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Módulo Vocacional 6: Exames Histocitológicos

5. Fale da importância do controle de qualidade num laboratório.

6. Estabeleça a diferença entre a Laminoteca Geral e Especifica.

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