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Benjamim augusto
Universidade Rovuma
2021
Esperança Jeronino
Benjamim augusto
Universidade Rovuma
2021
Índice
Introdução..........................................................................................................................4
Nicolas Malebranche.........................................................................................................5
O Ocasionalismo...............................................................................................................8
Conclusão........................................................................................................................12
Referencias Bibliófila......................................................................................................13
Introdução
O presente pretende analisar o argumento proposto por Malebranche, na Recherche de
la verité, para estabelecer a necessidade das ideias na percepção, introduzir o conceito
de ideia segundo Malebranche e a sua posição acerca das relações entre o ato de
perceber e conteúdo percebido; além de ser o passo inicial da demonstração da visão em
Deus, no livro III da Recherche. Desse modo, a sua interpretação adequada é de
fundamental importância para a compreensão das teses propostas por Malebranche
acerca da natureza da cognição humana. Em um primeiro momento, é apresentada a
estrutura geral do argumento e as dificuldades interpretativas que ele suscita. Em um
segundo momento, apresentamos e avaliamos o sucesso das diversas tentativas de
solucionar as dificuldades que foram levantadas.
Objectivo Especifico
Objectivos Especificos
Segundo Schmaltz (2002, p. 152), “sua educação o deixou com um desgosto pela
tradição escolástica ligada às obras de Aristóteles, e em 1660 decidiu deixar as
universidades e entrar para o Oratório, uma congregação religiosa”.
Malebranche se enquadra nessa descrição, sendo que sua teoria do conhecimento tem
um componente teológico marcante. Na sua concepção, a mente humana está localizada
entre Deus e a criação material d‘Ele. Nesse sentido, a alma estaria unida tanto a Deus
quanto ao corpo.
Cada uma dessas uniões nos afeta de maneira diferenciada. Através da união da mente
com Deus, a mente é elevada, ao passo que a união dela com o corpo é em grande
medida prejudicial ao homem, considerando que esta união é a principal causa de
nossos erros. Então, reforçar a união da mente com Deus a tornaria mais forte. Esta
união já foi mais forte, segundo Malebranche. Ela veio a enfraquecer com o primeiro
pecado do homem.
O primeiro pecado também surtiu efeito em relação à união da mente com o corpo. Ele
a fortaleceu, de modo que passamos a acreditar que a alma e o corpo são a mesma
substância. Esse fortalecimento, porém, não eliminou a ligação que existe entre a alma e
Deus.
Deve-se destacar que a doutrina em questão não deve ser entendida como a de que nós
vemos a essência de Deus, ou que a visão que temos é a mesma de Deus, considerando
que temos um conhecimento imperfeito. A doutrina defende que nós vemos os corpos
através das ideias em Deus. Não se deve entender também que os objetos estejam em
Deus, pois não há seres particulares nele, tendo em vista Sua natureza simples e geral,
que não conseguimos compreender.
Malebranche analisará cinco maneiras possíveis pelas quais podemos ver os objectos
externos, sendo que ele alega que apenas uma delas é a verdadeira. A quinta alternativa
corresponde à doutrina da Visão em Deus. As alternativas são as seguintes:
“a) As ideias que temos dos corpos e de todos os outros objectos que
nós não percebemos por eles mesmos vêm desses mesmos corpos ou
desses objectos; ou bem que b) nossa alma tem o poder de produzir
essas ideias; ou que c) Deus as produziu ao criar a alma ou que as
produz todas as vezes que se pensa em algum objecto; ou que d) a
alma tem nela mesma todas as perfeições que ela vê nos corpos; ou,
enfim, e) que ela está unida a um ser totalmente perfeito e que contém,
de modo geral, todas as perfeições inteligíveis, ou todas as ideias dos
seres criados (RECHERCHE, III, ii, i, p. 417).
No que diz respeito ao primeiro grupo, Malebranche apresenta quatro argumentos para
defender que os objetos materiais não transmitem espécies semelhantes a eles. O
primeiro argumento estabelece que os corpos materiais só são capazes de transmitir
espécies de sua própria natureza. Considerando a impenetrabilidade deles, as espécies
devem ser de natureza semelhante, isto é, não são espirituais, o que torna impossível
apreendê-las, fazendo apenas com que se choquem umas contra as outras. O segundo
argumento se baseia nas nossas diferentes percepções de um mesmo objecto tendo em
vista as diferentes distâncias as quais ele está de nós. Nós não conseguimos ver o que
faz com que as espécies aumentem ou diminuam. O terceiro argumento aponta que um
objecto não precisa produzir espécies semelhantes a ele para podermos vê-lo. O quarto
argumento, por sua vez, alega que “não se pode conceber como um corpo que não
diminui sensivelmente poderia continuamente emitir espécies em todas as direcções, ou
como ele poderia constantemente preencher os grandes espaços ao seu redor com elas, e
isso com uma velocidade inconcebível” (RECHERCHE, III, ii, ii, p. 420).
De modo a defender que a alma não é capaz de produzir suas próprias ideias,
Malebranche alega que as ideias são seres reais e espirituais. Sendo assim, segundo
Malebranche, nós não seríamos capazes de produzi-las, pois seria o mesmo que criar
algo a partir do nada.
O Ocasionalismo
Nadler define essa doutrina da seguinte maneira: “o ocasionalismo é a doutrina de que
todas as criaturas, entidades finitas como são, são absolutamente desprovidas de
qualquer eficácia causal, e que Deus é o único agente causal” (NADLER, 2006, p. 115).
Nesse sentido, todos os fenómenos ocorrem apenas porque há a intervenção divina.
Dessa maneira, toda interacção entre uma mente e um corpo, entre os corpos ou nos
próprios processos mentais só é efectivada com a intervenção de Deus.
Essa intervenção se delimitaria a seguir certas regras, ou leis, que foram estabelecidas
por Ele. O único motivo para Deus não seguir essas regras seria para realizar milagres.
É nesse sentido que o ocasionalismo de Malebranche se vincula com a natureza das
relações causais.
A princípio, o ocasionalismo possui uma tese negativa: não há ser finito que seja uma
causa genuína. Como já foi apontado, essa tese de Malebranche é inferida de sua
definição de causa verdadeira: “[uma] causa verdadeira é aquela em que a mente
percebe uma conexão necessária entre ela e seu efeito [...]” (RECHERCHE, VI, II, iii, p.
391). Também já foi apontada sua alegação de que esse tipo de conexão não poderia ser
encontrado nos próprios objetos ou eventos na natureza. Uma consequência importante
dessa tese é a relação entre um evento mental e seu correspondente evento físico:
Assim, considerando que a ideia que temos de todos os corpos nos faz saber
que eles não podem se mover, deve-se concluir que são as mentes que os
movem. Mas quando se examina a ideia que se tem de todas as mentes finitas,
não se vê conexão necessária alguma entre a vontade delas e movimento de
qualquer que seja o corpo. Vê-se, ao contrário, que não há conexão e que não
pode haver. Deve-se, portanto, concluir também que não há nenhuma mente
criada que possa mover qualquer corpo que seja como causa verdadeira ou
principal (RECHERCHE, VI, II, iii, p. 389).
Um ser que não é onipotente, por definição, caso queira X, não se segue logicamente
que X ocorrerá. Portanto, não há conexão necessária e, consequentemente, nenhuma
conexão causal, porque é sempre possível conceber que um ser finito queira X e X não
ocorrer. Um ser que não é onipotente, por definição, caso queira X, não se segue
logicamente que X ocorrerá. Portanto, não há conexão necessária e, consequentemente,
nenhuma conexão causal, porque é sempre possível conceber que um ser finito queira X
e X não ocorrer.
Malebranche observa que não faz sentido os corpos ou as mentes serem causas
genuínas, dado que a vontade de Deus já é totalmente eficaz. Sendo assim, atribuir
poder causal às criaturas seria conflituoso com a noção de que “Deus [...] age sempre
pelas vias mais simples” (RECHERCHE, Éclaircissement 15, p. 578).
Essa alegação de que qualquer contribuição causal por parte dos seres finitos é
supérflua, pois a vontade de Deus já é totalmente eficaz, torna-se explicita na seguinte
passagem do Éclaircissement 15:
Deus não cria os seres para torná-los as forças motrizes das mentes pelas
mesmas razões que Ele não cria os seres para torná-los a força motriz dos
corpos. Sendo as volições de Deus eficazes por si mesmas, é suficiente que Ele
queira de modo a tornar, e é inútil multiplicar os seres sem necessidade
(RECHERCHE, Éclaircissement 15, p. 592).
Uma das aporias deixadas por Descartes, sem nenhuma solução, foi a possibilidade de
explicar a acção recíproca da res cogitans e res extensa, da alma e do corpo.
Nesse sentido, Deus não é um ser transcendente do mundo, mas o mundo inteiro se
encontra em Deus. Isso não quer dizer que conhecemos o mundo porque conhecemos
Deus, mas conhecemos o mundo pelas ideias que estão em Deus. As ideias têm uma
existência eterna e necessária e o mundo corpóreo existe apenas porque Deus desejou
cria-lo. Assim, para ver o mundo inteligível, basta consultar a razão, que contem em si
as ideias inteligíveis, eternas e necessárias, o arquétipo do mundo visível. Nos
conhecemos os corpos pelas ideias que estão em Deus, pois para Malebranche o mundo
e por si mesmo “invisível”.