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FACULDADE DE GEOCIÊNCIA E AMBIENTE

TEXTO DE ANTROPOLOGIA CULTURAL


Por Tomé Morais
Percursos teóricos e metodológicos da Antropologia.

Franz Boas (“Os objetivos da etnologia” - 1888; “Raça, Língua e Cultura” - 1940). Margaret
Mead (“Sexo e temperamento em três sociedades primitivas” - 1935). Ruth Benedict (“Padrões
de cultura” - 1934; “O Crisântemo e a espada” - 1946). Busca das regras estruturantes das
culturas presentes na mente humana.

A antropologia é uma ciência vinculada às ciências sociais que visa entender a formação da
humanidade, por seus vários aspectos (culturais, físicos e históricos), no mundo.

A partir do século XIX, com a necessidade de compreender-se outras culturas e povos de fora
do eixo europeu por uma questão relacionada a um novo movimento colonialista daquele
tempo, os pensadores debruçaram-se sobre os aspectos das diferentes formações humanas.
Nesse sentido, a antropologia estabeleceu-se como uma ciência inciada sobre bases
equivocadas, mas que se fortaleceu ao longo do século XX como capaz de compreender as
formações humanas.

Antecedentes históricos

Podemos encontrar as primeiras e mais remotas preocupações que levaram ao surgimento da


antropologia no século XVI. O movimento colonizador observado nas Grandes Navegações,
ocorridas a partir do final do século XV, colocou o europeu em contato com um tipo humano
jamais visto por ele. A cultura, o modo de vida, a religião e as estruturas sociais tão diferentes
causaram espanto aos europeus. Tanto quanto o espanto foi causado, houve o movimento de
tomada da terra e dos bens naturais dos nativos por parte daqueles.

Para isso os colonizadores apresentaram a lógica religiosa como legitimação da colonização,


pois povos tão, na visão deles, atrasados e profanos deveriam ser forçadamente civilizados. No
entanto, apesar da visão predominantemente etnocentrista dos europeus, nem toda a
intelectualidade manteve-se uníssona em defender a colonização e a civilização forçadas e
etnocentristas dos povos nativos.
Um dos pontos desviantes da linha de raciocínio corrente foi o pensamento do filósofo, político,
escritor, jurista e humanista francês Michel de Montaigne. Montaigne foi um crítico da visão
europeia, que não reconhecia na cultura diferente da sua uma legitimidade.

No século XIX, houve um novo movimento colonizador, denominado neocolonialismo ou


imperialismo. O imperialismo desse período promoveu uma divisão das terras dos territórios
da África e da Ásia entre as principais potências europeias, em especial Inglaterra e França,
que receberam as maiores porções nessa partilha.

Então, o europeu colocava-se novamente em posição de domínio de outros povos e contato


com culturas diferentes. Era, novamente, necessário justificar-se o movimento colonizador,
porém com certas diferenças epistemológicas. O século XIX tinha vivenciado a revolução
científica do século XVI e caminhava para um positivismo cientificista que necessitava de
explicações científicas (e não religiosas) para justificar o domínio de povos. Além da simples
partilha das terras, os europeus precisavam de matéria-prima para suprir a necessidade imposta
pela expansão industrial do século XIX.

Principais teorias da antropologia

De acordo com Barreto (2012), a antropologia tem como objecto de estudo o homem como
ser biológico, cultural e social. Dividida em áreas, a Antropologia tanto se dedica aos aspectos
genéticos e biológicos do homem, quanto ao desenvolvimento das sociedades humanas,
tornando-se ela a ciência que estuda as culturas do homem.

As teorias antropológicas – clássicas e contemporâneas (modernas) construíram seus legados


científicos a partir da segunda metade do século XIX. Elas sucederam-se na linha do tempo,
ampliaram e consolidaram paradigmas fundamentais – modelos e formas de abordagens,
estudos e observações para a interpretação dos modos de vida – biológico, social e cultural do
homem.

Todas as teorias convergiram, coincidiram em diversos aspectos metodológicos e conceituais,


ao mesmo tempo que divergiram e se afastaram em diversos pontos e juntaram-se em aspectos
pontuais. Sendo assim, as teorias não se formaram atoa, elas alinharam-se em uma linha do
tempo a partir do século XVI, que a seguir serão descritas.

Evolucionismo social

Segundo XAVIER (2009), diz que a teoria evolucionista da antropologia predominou no início
da jornada da Antropologia como ciência. A principal característica desta teoria assenta-se na
sistematização do conhecimento das sociedades “primitivas”, de primeira origem, dos
primeiros tempos.

Entendemos assim, que esta teoria se preocupa em conhecer as sociedades desde os seus
primórdios da sua existência.

Nesta teoria explica-se que eram tidas como estágios inferiores do desenvolvimento alcançado
pelas sociedades “civilizadas”, avançadas nos planos técnico, social e científico: todas as
formas de organização das condições materiais e culturais dos homens passariam,
necessariamente, dos estágios primitivos civilizados.

Os expoentes desta teoria formularam o conceito de unidade psíquica do homem, em estágios


diferentes, entre os “primitivos” e os “civilizados”: os grupos étnicos das diversas áreas
geográficas do planeta faziam parte da grande família humana, mas se encontravam em fases
distintas de evolução e desenvolvimento.

Esta teoria conceituou três estágios da evolução da humanidade, segundo Morgan: selvageria,
barbárie e civilização.

XAVIER (2009), aponta ainda que a partir dessa teoria surgiu o etnocentrismo que é um
conceito que considera as normas e valores sociais e culturais da própria sociedade ou cultura
como base de avaliação e julgamento de todas as demais culturas e sociedades.

Difusionismo

No que tange a antropologia difusionista, esta segundo XAVIER (2009), reage ao


etnocentrismo da teoria evolucionista social. Esta teoria procura compreender a natureza das
culturas de cada povo, da origem e sua extensão, de um grupo humano para outro. A
corrente explica o desenvolvimento cultural pelo processo de difusão de aspectos culturais,
formas culturais, de uma cultura para outra.

Para esta teoria, a cultura é algo que se pode expandir de uma região para outra, de uma
sociedade para outra, assim como de um povo para outro povo. Um exemplo prático dessa
difusão é a globalização que é um fenómeno já conhecido por muitas pessoas. A pergunta seria
de que maneira a globalização expande as culturas? Numa tentativa de responder a nossa
pergunta é por exemplo as novelas brasileiras, mexicanas, etc., que são transmitidas nas
televisões moçambicanas, transmitem a sua cultura para as pessoas moçambicanas que vêm as
novelas. As pessoas que vêm as novelas podem imitar a cultura da novela e colocar tudo em
prática.

Para concordar com o que dissemos acima, XAVIER (2009), diz que nessa teoria, os povos
tomam de empréstimo aspectos culturais fundamentais de outros e os adaptam às suas
particularidades, o que provoca a evolução da cultura e explica a diversidade das manifestações
culturais. Portanto, a teoria difusionista da antropologia, explica que os grupos humanos
distintos absorvem “aspectos culturais” de um outro grupo, como uma tendência humana.

Os antropólogos difusionistas substituem o termo raça pelo cultural e se dividem em três


escolas teóricas: a inglesa, a alemão-austríaca e a norte-americana.

Fazem parte da escola americana os seguintes expoentes: Fritz Grabner, Friedrich Ratzel, Léo
Frobénius, Wilhelm Schimidt;

Na escola inglesa temos: Elliot Smith, J. Perry e W. R. R. Rivers. Esta escola ficou conhecida
pelo nome de hiperdifusionista pelo facto de alguns dos seus expoentes levantarem a hipótese
de que todas as invenções do homem tê origem na civilização egípcia.

Já na escola norte-americana o expoente em destaque é o antropólogo Franz Boas (1848-1942).

O principal teórico ou expoente do difusionismo foi o geográfico e etnólogo alemão Friedrich


Ratzel (1844-1904) conhecido como o “pai do conceito espaço vital”.

Antropologia culturalista norte-americana

De acordo com XAVIER (2009), diz que essa teoria antropológica pesquisa de modo especial
a identificação dos padrões culturais. Ela procura as normalizações do desenvolvimento das
culturas.

Franz Boas (1858-1942) citado por XAVIER (2009), foi o principal expoente dessa escola. Ele
desenvolveu um intenso trabalho de campo. Se detinha no detalhe dos detalhes para fazer uma
transcrição meticulosa da realidade.

Essa escola defende que as culturas de maneira geral, são diversas, mas têm características
comuns, padrões culturais. Esses padrões são resultados do agrupamento de complexos
culturais. O padrão é assim para esta teoria uma norma regularizadora que estabelece os valores
de aceitação e rejeição, dentro de uma determinada cultura. Ruth Benedict (1989, p.60) citado
por XAVIER (2009), é um dos principais expoentes dessa escola refere que:

Esta elaboração da cultura num padrão coerente não se pode ignorar como se fosse um
pormenor sem importância. O conjunto, como a ciência está a afirmar insistentemente em
muitos campos, não é apenas a soma de todas as suas partes, mas o resultado de um único
arranjo e única inter-relação das partes, de que resultou uma nova identidade (…).

O culturalismo exerceu influência no campo das Ciências Sociais do Brasil. Gilberto Freire foi
um dos discípulos de Franz Boas e parte considerável da sua abordagem da cultura brasileira
teve como inspiração as teorias desenvolvidas pelo pesquisador alemão, radicado nos Estados
Unidos.

Funcionalismo

De acordo com XAVIER (2009), a teoria funcionalista dá enfase ao estudo das instituições,
formas de organizações sociais e culturais e das suas funções para a manutenção do conjunto
cultural, da totalidade da cultura de um determinado povo.

Estruturalismo

Segundo a autora (idem), esta teoria o seu expoente é o Francês Claude Lévi-Strauss. Ele
pesquisou os princípios da organização da mente humana. Seu objectivo foi estudar as regras
estruturantes das culturas presentes na mente humana.

O antropólogo percorreu os caminhos das teorias do parentesco, da logica do mito, das


chamadas classificações primitivas e da relação natureza versus cultura.

Para esse expoente, o estruturalismo concebe a existência de um certo número de materiais


culturais sempre idênticos, como as “cartas de baralho” e o “caleidoscópio”, estas são duas
suas metáforas preferidas que podem ser classificadas como invariantes.

Considerações finais

Percebe-se que as teorias da antropologia nos mostram as diferentes visões sobre a


compreensão das culturas. Apesar de terem visões diferentes, elas surgiram na mesma época e
a compreensão do homem começou a ser vista sob perspectivas diferentes em relação as suas
produções materiais e culturais.

A difusão acontece, portanto, quando um povo toma de empréstimo aspectos culturais


fundamentais de outros e os adaptam para as suas particularidades, é exactamente isso que
provoca a evolução da cultura e explica a diversidade das manifestações culturais.

Portanto, todas as teorias aqui desenvolvidas, constituíram um paradigma para e a compreensão


da natureza do ser humano. E todas as teorias surgem devido a complexidade da natureza
humana o que permite que o antropólogo possa pesquisar, e compreender bem o passado e o
presente e imaginar o que pode vir no futuro.

Referências

BARRETO, R. A. D. N. Fundamentos antropológicos e sociológicos. Aracaju: UNIT,


2012.XAVIER, J. T. P. Teorias Antropológicas. Curitiba: IESDE. Brasil S.A., 2009.

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