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A situação projetiva:

Simbolização e Transferência.

Material sigiloso, exclusivo a


estudantes de psicologia,
psicológas e psicólogos. Lei
Federal 4119/62

Chabert, C. (2003). O Rorschach na clínica do adulto. Lisboa: Climepsi. p.


29-39.
O Rorschach é
um método.
• O Rorschach não contém
intrinsecamente os conceitos que
Alguns sistemas de interpretação:
apoiam sua exploração.

• Os protocolos podem ser analisados Sistema Klopfer


segundo modelos teóricos diferentes
Sistema Compreensivo de Exner
(Chabert, 2003, p. XXIII).

• Protocolos podem ser aplicados, Sistema de avaliação por performance: R-PAS


corrigidos e interpretados a partir de
Rorschach Clínico
orientação fenomenológica, genética,
sociológica, antropológica,
Escola Francesa (Escola de Paris).
psicopatológica e psiquiátrica.
A escola de Paris de
interpretação do
Rorschach.
Didier Anzieu

• Escolha pela teoria psicanalítica.

• Didier Anzieu (1978), Nina Rausch


de Traubenberg (1970), Catherine
Nina Rausch de Traubenberg
Chabert (2003).

Catherine Chabert
Trata-se de “uma psicanálise

Como utilizar a impura”, atendendo à falta do


referência divã, sem um enquadramento
psicanalítica sem no qual o inconsciente possa
confundir-se? se fazer ouvir (Anzieu, 1979)
Atenção Associação Livre
Abstinência ...senão aquele
Flutuante
voltado ao Condição
Condição imposta
modo da imposta ao
ao analista de que
atenção analisando de
não tenha outro
flutuante Fala falar livremente
ouvido...
O Enquadre
psicanalítico clássico.
Terreno da Psicanálise Aplicada, que
nos permite utilizar os conceitos
Como utilizar a extraídos da psicanálise, interditando-se
de estabelecer correspondências
referência
sistemáticas entre os fenômenos que se
psicanalítica sem manifestam em uma cura psicanalítica e
confundir-se? aqueles que surgem no decurso de uma
sequência única e limitada de um
protocolo de Rorschach.
Uma proposta de
interpretação
psicanalítica do Método
de Rorschach.
• Proposta de, a partir da
teoria psicanalítica,
esclarecer as condutas
subjacentes aos diferentes
fatores do Rorschach,
utilizando a ficção do
aparelho psíquico
elaborado por Freud.
Noções básicas de
Os referencias teóricos
transferência (Freud) e
contratransferência (Ferenczi)
Fundamentação teórica clássica,
reportada do Vocabulário de
Psicanálise feito por Laplanche e A noção de conteúdo manifesto
Pontalis em 1976. e conteúdo latente.

Referência a Winnicott (1975) e ao


conceito de área transitiva e Freud (1900) A interpretação
fenômenos transicionais. dos sonhos.
Conteúdo manifesto e conteúdo latente.

Para além das estimulações Tal reativação de um conteúdo


perceptivas do conteúdo manifesto, latente a partir da estimulação
a ressonância fantasmática e
de um conteúdo manifesto, nos
reativação dos conteúdos latentes.
permite avaliar: a construção
Os conteúdos latentes são registros
de diversos conflitos, que EMANAM
da identidade, os processos
da relação com cada cartão. identificatórios e a elaboração
da representação de relações.
Por uma interpretação psicanalítica do
Rorschach.
Para além da cotação de Os modos de apreensão são suporte para os
mecanismos de defesa, na abordagem do mundo interno
localização, determinante e e externo.

Os determinantes podem ser interpretados a partir do


conteúdo para sistematização de
princípio dos princípios de funcionamento mental
dados, cada fator é estudado na (princípio do prazer/ princípio da realidade).

Os conteúdo remetem ao trabalho do sonho, marcado


perspectiva dinâmica da sua pelos mecanismos de condensação, deslocamento e
simbolização. Remete a função pré-consciente de ligação
pluralidade de sentido e interação
entre o inconsciente e o consciente, que resulta na
com outros fatores. encenação de cenários fantasmáticos.
Por uma interpretação psicanalítica do
Rorschach.
Consideração da angústia e
dos mecanismos de defesa
contra ela.

Influência da psicopatologia
psicanalítica.
O teste pode ativar no avaliando

Reflexões sobre a clínica imagens relativas a “armadilha, remeter


a situações escolares ou médicas do
passado nas quais ele foi “julgado,
detectado, aferido”. A ideia de bateria
de teste pode remeter a rigidez militar,
e o instrumento pode ser identificado
como sendo instrumento que dota o
psicólogo de poderes secretos dos
quais o sujeito não consegue se
esquivar. Sentimentos de invasão
podem ser ativados. É preciso lembrar
que a invasão é uma violência, sendo
uma sensação típica das experiência
traumáticas.
Por que, onde e para que(m) o
Rorschach?
Indicações são múltiplas e variadas, são É raro que uma aplicação se faça sem
indicadas por sintomas, comportamentos que aquele que aceita se beneficie: ele
encontra lugar para expressar-se e a
ou palavras que conduzem a consulta ou
escuta de um outro, permitindo que ele
hospitalização.
fale o que vive e sente, sem o
Há ainda demandas de seleção e de verdadeiramente o saber.
trabalho. Não se trata de “forçar” o sujeito a dizer,
A questão põe-se no lugar dado ao mas de favorecer a expressão do que
não pode ser dito em uma linguagem
teste e ao pedido.
corrente.
O Rorschach como um objeto
mediador.
É mais comum do seria aceitável que o psicólogo
se utilize do Rorschach como um escudo que o
preserva do contato com seu paciente.

Resultado dessa defesa do psicólogo contra o


contato seria o não acolhimento do cliente. O teste é necessariamente relacional.

Alguns puderam imaginar a aplicação do


Rorschach no sujeito isolado numa sala,
instruído por uma voz mecânica. Esse tipo de
enquadre, se distancia muito da proposta
psicanalítica.
O teste é necessariamente relacional e a
prancha é um OBJETO MEDIADOR entre
os dois participantes.
Clínico
Sujeito

Objeto
Mediador
Repostas as críticas:

O uso do Rorschach ou de outros métodos projetivos


Por que utilizar o não exclui outras formas de expressão espontâneas,
como entrevistas. Na verdade, não é recomendado
Rorschach como um aplicar os testes sem entrevistas: O processo clínico
objeto mediador? deve ser pluridimensional.

Críticas: A esse propósito não parece desejável usar

sistematicamente os métodos projetivos. Parece ser


O Rorschach perturbaria a relação, abusivo submeter a estas provas os sujeitos para os
quais outras formas de investigação foram proveitosas.
por limitar a expressão espontânea
do paciente a uma instrução.
Aplicações frequentes das provas
projetivas:

Esclarecer dados clínicos insuficientes.


Por que utilizar o Melhor compreender o caso e tomar decisões que lhe
Rorschach como um digam respeito.

objeto mediador? Confrontar as informações vindas do teste com outros

dados clínicos para ampliar a confiabilidade da análise do


O clínico deve conhecer os funcionamento psíquico, o que fornece economia de

objetivos que persegue e as recursos e de tempo.

questões que se põem quando se Assim, os métodos projetivos funcionam como objetos

mediadores, tal como ocorre na clínica de crianças.


decide aplicar testes projetivos.
Os métodos projetivos são o lugar onde se vai

desenvolver a expressão de um, a atenção de outro e a


significação de tal produção para um e para o outro.
Sujeito PERCEPÇÃ PROJEÇÃO
O
PROJEÇÃO
Enquanto objeto potencial imaginado, isto na
ausência de configurações concretas do
material – O Rorschach vai permitir uma
PERCEPÇÃO elaboração das percepções do sujeito em
Enquanto objeto real, o estímulo do função de suas essenciais preocupações, dos
modos de organização da sua relação com os
Rorschach vai permitir a emergência
objetos, dos fantasmas e afetos
da palavra, que dará conta das subentendidos nas palavras-imagens que ele
imagens articuladas, a partir da vai dar – todo um campo aberto pela indução
da projeção, tornada possível graças a
realidade do material: Apelo a
indeterminação do material.
percepção.
As interferências
perceptivas e projetivas
constituem a articulação
(Chabert,
essencial das projetivas, 2003, p.32)
em particular do Alguns sujeitos demonstram elasticidade em operar um salto entre

Rorschach mecanismos de percepção e mecanismos projetivos, realizando a


tarefa de forma integrar as exigências internas com as demandas
(Chabert, externas, demonstrando certa harmonia e compromisso estável entre
2003, p.31)
seus desejos e a barreira do real.

Outros sujeitos no entanto, podem responder de tal maneira que se


Além da indeterminação do evidencie a invasão do real por fantasmas ou pelos afetos,
incapacitando esses sujeitos em apreender o objeto exterior como tal.
material, a própria instrução induz
Já outros sujeitos podem revelar-se presos a um rigidez conformista,
uma dupla tarefa, tanto projetiva que obriga uma descrição fria e impessoal do objeto, na interdição de
qualquer expressão libertadora.
quanto perceptiva.
Em “O brincar e a realidade” (Winnicott, 1975), o objeto
real é aquele investido de significados subjetivos pela

Testes projetivos e criança. Está aí a noção de “Espaço transicional”, área


entre-dois, a meio caminho entre o real e o imaginário e
fenômenos cujo acesso pressupõe a aceitação do paradoxo, da

transitivos dupla pertença interno-externo, fantasmático-perceptivo,


que permite a criação do objeto transicional.

Instrução paradoxal induz uma


resposta imaginativa e perceptiva.
O encontro entre o real e o
imaginário é, efetivamente,
possível e necessário. ESPAÇO TRANSICIONAL
Os método projetivos solicitam os fenômenos
transicionais.
Testes projetivos e Um funcionamento harmonioso no teste de

fenômenos Rorschach pressupõe uma aceitação do paradoxo

transitivos Winnicottiano: Jogo entre o fantasmático e o real,


pertencimento ao domínio da ilusão.

(Chabert,
2003, p.33)
Transferência: Processo de
deslocamento de afetos e
Situação projetiva e
fenômenos representações no seio de uma
transferenciais. relação (Chabert, 2003, p.34)

Roy Schafer (1954) foi um dos primeiros a estender a transferência a situação projetiva.

Se numa psicanálise a transferência é o “motor terapêutico” e “fator de cura”, o aspecto


“terapêutico” da transferência está ausente da transferência da situação projetiva, pela

limitada duração.

Distinção entre a transferência de uma psicanálise e a transferência da situação projetiva.


Situação projetiva e fenômenos
transferenciais.
Dupla dimensão da transferência na situação projetiva:

1. Deslocamento dos conteúdos inconscientes ao material fornecido, tal como a


transferência primeiramente descrita por Freud (1900) sobre os sonhos.

2. Reativação, durante a aplicação, de modalidades relacionais particulares,


com referência latente (inconsciente) as figuras parentais.
Transferência da situação escolar:
Para alguns, a situação reativa representações de memórias ligadas a
situação escolar, com o desejo de sucesso e medo do fracasso.
Da parte do sujeito: Posição de aluno-criança frente ao professor-adulto.

Manifestações Pode reativar sentimentos de inferioridade, de incapacidade e de


dependência.

transferenciais. A análise do protocolo pode evidenciar o jogo submissão/dominação,


dependência das figuras paternas e rigidez das defesas.

Transferência em contextos que geram desconfiança:


Pode reativar sentimentos de vergonha relativos a situações de Transferência como possibilidade de
vigilância, de ser espiado, julgado, de não ser apreciado.
expressão:
O sujeito pode se defender da angústia por meio da
Alguns sujeitos encaram a situação e a
agressividade voltada ao clínico e da postura de vigilância contra
relação como uma possibilidade de
a intrusão do olhar do psicólogo.
expressão.
Comentários sobre a instrução, sobre o caráter proposital das
manchas. O perseguidor é identificado como quem fez as Desejo de sedução do clínico, dificuldade de
manchas ou como aquele que o induziu a tal situação. acabar a prova, dependência do clínico: Os
comentários e perguntas vão nesse sentido.
Transferência pode levar a

inibição:
Da parte do sujeito: Os inibidos, de contato difícil,
Manifestações experimentam uma angústia
transferenciais. paralisante.

Olhar fugido, mutismo, tremores,


Esses foram apenas algumas
transpiração, gestos tensos.
ilustrações transferenciais, as Medo é muito ameaçador, o sujeito
reações transferenciais são sente que deve conter tal medo.

Deve-se avaliar a evolução durante a


diversas e nos apontam para o
aplicação.
funcionamento psíquico do
O clínico deve ser sensível para
Contratransferência:
Aquém da neutralidade
Da parte do clínico
<benevolente>, escondem-se e
Manifestações
descobrem-se posições que são
contratransferências.
específicas a cada encontro e a cada
clínico.
Clínicos que valorizam a conformidade a realidade e
as regras, induzem seus pacientes a responder dessa
A atitude contratransferencial
forma;

Clínicos que valorizam a expressão emocional,


depende da forma que o clínico
induzem seus pacientes,

Assim como clínicos que estão convencidos sobre a


concebe a normalidade.
“loucura” de seus pacientes, tendem a interpretar as
respostas fornecidas como indícios de psicopatologia.
O clínico deve encontrar
uma justa acomodação
A escuta pelo clínico que respeite e escute a
subjetividade do
interlocutor.

A análise de um protocolo
A posição do clínico se
também é tributária a postura
compara a “mãe
do clínico. suficientemente boa” – nem
rejeitante, nem invasora.
Estar atento e anotar silêncios,
mudanças de posturas, a
A escuta pelo clínico musicalidade da voz, para
conferir ao discurso sobre o
Rorschach a especificidade da
palavra humana.
Clínico deve estar atendo as
Clínico deve estar atento a suas
manifestações relacionais
próprias reações internas face
“fora do protocolo” as manifestações
transferenciais.
Sobre o rigor do procedimento.
Referência:

Chabert, C. (2003). O Rorschach na


clínica do adulto. Lisboa: Climepsi.
p. 29-39.

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