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A. L. R. Timo e P. C.

Ribeiro 275

CONTRATRANSFERÊNCIA: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO


DO CONCEITO EM TEÓRICOS DAS RELAÇÕES OBJETAIS

Alberto L Rodrigues Timo1, Paulo de Carvalho Ribeiro2

RESUMO
O conceito de contratransferência é de fundamental importância para a teoria a prática clínica psicanalíti-
cas, mas, apesar disso, é tema controverso no conjunto das teorias psicanalíticas. Este trabalho realiza uma
revisão de literatura, a fim de demarcar o lugar da contratransferência na história da psicanálise. Partindo
das considerações de Freud e Melanie Klein, chegamos às obras de Paula Heiman, Heinrich Racker, Donald
Winnicott e Hanna Segal. Concluímos que o uso indiscriminado da contratransferência como instrumento
de compreensão da situação analítica determina riscos de natureza ética e técnica inadmissíveis. No entanto,
é impossível negar a existência dos afetos do analista como componentes do setting. Portanto, considerar a
contratransferência como inerente ao processo analítico minimiza o risco de negligenciar a interação entre
paciente e analista como uma relação intersubjetiva em que ambos são afetados, na qual uma escuta ancora-
da na técnica não descaracteriza a existência concomitante de uma postura acolhedora e empática.
Palavras-chave: Psicanálise; Contratransferência; Transferência.

ABSTRACT
Even being a fundamental concept to theory and clinical practice in psychoanalysis, countertransference is
a controversial issue in most psychoanalytic theories. The present research conducts a literature review on
countertransference in order to situate it within history of psychoanalysis. The development of this work
consisted on examining the work of some authors whose productions make important contributions to the
field of countertransference, such as Paula Heiman, Heinrich Racker, Donald Winnicott and Hanna Segal.
The objective of this work is to elucidate the manner in which the feelings of the analyst may manifest in
their clinical performance, sometimes working as hindrance to the technique, other times serving as tools
of research on the patient’s unconscious. We have also demonstrated the impossible existence of an analyst
free from conceptions, affections, and desires, proposing that instead of being barriers to therapeutic pro-
cess, they can work as important instruments.
Keywords: Psychoanalysis; Countertransference; Transference.

1
Universidade Federal de Minas Gerais; albertolrtimo@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais; icaro.bhz@terra.com.br

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Introdução Tenhamos presente que todo ser humano, pela


É possível imaginar um analista que ja- ação conjunta de sua disposição inata e de influ-
mais tenha se sentido sexualmente interessado pe- ências experimentadas na infância, adquire um
las pessoas que frequentam seu divã. Também é certo modo característico de conduzir sua vida
plausível que pensemos em um analista que nunca amorosa, isto é, as condições que estabelece para
sinta sono ou tédio ao ouvir o relato enfadonho de o amor, os instintos que satisfaz então, os obje-
um paciente. Do mesmo modo, é possível imagi- tivos que se coloca. Isso resulta, por assim dizer,
nar que um analista capaz de lidar adequadamente num clichê (ou vários), que no curso da vida é
com suas emoções não se deixe contaminar pelo regularmente repetido, novamente impresso, na
sofrimento ao acompanhar um paciente que atra- medida em que circunstâncias externas e a natu-
vessa um período difícil de sua vida. Contudo, se reza dos objetos amorosos acessíveis o permi-
podemos conceber a existência de um analista tem, e que sem dúvida não é inteiramente imutá-
assim, próximo do que seria a condição ideal de vel diante das impressões recentes. (p. 134-135)
tal profissional, devemos admitir também e, cer-
tamente com mais razão, a existência de circuns- De imediato, notemos que, para Freud,
tâncias em que o analista se afasta muito dessas a constituição psíquica é o que, necessariamente,
condições ideais. É preciso admitir, portanto, que produz a transferência, essa repetição de um modo
o analista experimente desejo sexual dentro da de amar. Assim, temos uma concepção da relação
situação do atendimento, que sinta sono, que se analítica que se baseia, por parte do paciente, na
enraiveça, que se sinta ultrajado, que tenha senti- tentativa de reviver os modos pelos quais se cons-
mentos muito mais difusos e difíceis de descrever, tituiu. E por parte do analista, é preciso reconhe-
tais como medo indefinido, mal-estar físico e que cer que ele também é marcado pela presença dos
se veja inclusive emocionado a ponto de chorar, restos de relação que o fundaram, seus próprios
ou tomado de alegria a ponto de gargalhar. Mas, clichês amorosos que forçam a repetição ao longo
por que condições como essas, que alguns analis- de sua vida. É razoável imaginar que, na relação
tas poderiam considerar desastrosas do ponto de entre estas duas pessoas, ambas se influenciam
vista da técnica e muito indesejáveis do ponto de mutuamente, e é esperado que o analista tome uma
vista da ética, podem acometer o analista e se ma- posição frente à própria subjetividade, reconhe-
nifestar à sua revelia? O que poderia explicar a pre- cendo que alguns de seus conflitos são atualizados
sença de todas essas reações num analista durante naquela relação. Mas já não é razoável supor que o
seus atendimentos? analista possa evitar, na situação de atendimento,
Não nos apressemos em qualificar como o retorno de seus próprios conflitos, dos restos de
despreparado o psicanalista que se depara com es- relação que o habitam. A partir de agora, quando
sas vicissitudes da prática clínica e tentemos partir nos referirmos àquilo que surge no analista como
da resposta mais simples e óbvia: essas reações su- resposta psíquica à relação com o paciente, usare-
postamente indesejáveis apenas mostram que ser mos o termo contratransferência.
analista não assegura a ninguém a possibilidade de Apesar de ser um conceito relevante para
deixar de ser humano e, muitas vezes, demasiada- a prática clínica em psicanálise, a contratransfe-
mente humano. rência é um assunto controverso no conjunto
Na situação de atendimento clínico, o pa- das teorias psicanalíticas. Suas definições não são
ciente tende a recriar, em sua relação com o te- bem delimitadas e do ponto de vista da técnica,
rapeuta, o mesmo tipo de relação na qual ele se as orientações quanto às possibilidades de ação do
constituiu. A essa tentativa que o paciente faz de analista também estão longe de algum consenso
reeditar as mesmas relações experimentadas ao (Roudinesco & Plon, 1998; Laplanche & Pontalis,
longo da vida na cena analítica, Freud (1912/2010) 2001). Por isso, estudos sistemáticos sobre o tema
deu o nome de transferência e assim definiu os se fazem necessários. Estudos que, como este, de-
motivos de sua aparição necessária no tratamento: senvolvam uma análise comparativa das definições

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do conceito, como também um levantamento das Freud e o início da discussão


dificuldades e possibilidades técnicas que o manejo Desde os Estudos sobre histeria (1893-
da contratransferência pode trazer para o analista. 1895/2006a), Freud teve a chance de perceber,
A revisão bibliográfica conceitual nos per- juntamente com Breuer, que a relação estabelecida
mite verificar a pertinência da formulação do con- entre analista e paciente é diferente da relação mé-
ceito de contratransferência, avaliando-o desde sua dica. A proximidade entre o médico que realizava
origem no pensamento freudiano e seus desdobra- a catarse a partir da talking cure e da paciente que se
mentos propostos por alguns dos principais autores livrava de seus sintomas, como também os afetos
que se debruçaram sobre o tema ao longo dos anos. mobilizados por esse processo, eram mais intensos
do que os normalmente encontrados em sua práti-
A contratransferência na teoria psicanalítica ca. Breuer recuou com certo espanto diante disso,
A realização de uma revisão bibliográfi- não sem antes experimentar uma relação demasiada-
ca do assunto neste trabalho tem dois objetivos mente intensa com uma de suas pacientes. Lembra-
principais. O primeiro é fomentar a busca de res- mos que, na condição de médico, Breuer dedicava a
posta às principais perguntas que surgem quando Anna O. uma atenção bastante incomum, chegando
se aborda o conceito em questão e que estão re- a visitá-la em sua casa duas vezes por dia, antes que
lacionadas ao fenômeno clínico correspondente. ela pudesse acusá-lo de tê-la engravidado.
O segundo objetivo é aprofundar a investigação Desde a fundação da psicanálise, localiza-
do conceito em um grupo restrito de autores, a mos os problemas gerados por essa relação distinta
saber, Paula Heimann (1950; 1959), Heinrich que surge quando analista e paciente se propõem
Racker (1960), Donald Winnicott (1947; 1960) e revirar as profundezas da alma, na busca de apla-
Hanna Segal (1982), visando a evidenciar o fato camento do sofrimento psíquico. No caso Dora,
de que esse não é um conceito negligenciado no Freud (1905[1901]/2006b)3 confessa os motivos
campo psicanalítico, mas, muito pelo contrário, de seu fracasso no atendimento da paciente, mos-
significativamente trabalhado ao longo de décadas trando que havia desconsiderado a sistematicidade
de discussão. Com isso, nossa expectativa é que o e a força do fenômeno da transferência, que se es-
conceito de contratransferência possa ser definido tabelece necessariamente dentro do atendimento
a partir de perguntas que nortearão nossa busca: psicanalítico. Com menos ênfase, mas sem deixar
O que é contratransferência? De que formas ela de relatá-lo, o autor também considera o possível
aparece na clínica psicanalítica? Quais os fatores envolvimento prévio com o pai da paciente e o
determinantes de sua aparição? E, talvez a pergun- pouco interesse que tinha nela como tendo contri-
ta mais importante: que destinos o analista pode
buído para o fracasso do caso.
lhe conferir?
Mas foi justamente a partir desse fracasso
Estamos cientes de que os autores con-
que a transferência da paciente, tomada primeira-
sultados em sua problematização a respeito do
mente como uma resistência ao trabalho, passa a
tema respondem a concepções clínicas diferentes
ser o ponto central sobre o qual o próprio trabalho
e a tipos diferentes de pacientes. Assim, cada au-
clínico pode ocorrer e assume, em Freud, como vi-
tor formulará questões que diferem, em maior ou
mos na introdução do trabalho, o sentido de uma
menor grau, dessas que apresentamos, e suas res-
repetição dos modos de amar.
postas nem sempre caminharão na mesma direção.
Sérgio Telles (2012) aponta que há algo de
Entretanto, entendemos que essa disparidade na
tóxico nessa relação, toxidade à qual Freud não estava
definição do conceito contribui para o enriqueci-
imune e que podemos perceber já nesses princípios.
mento da discussão, na medida em que diz respei-
to às sucessivas tentativas de tradução teórica de À semelhança dos físicos Pierre e Marie Curie,
um fenômeno clínico de difícil manejo. pioneiros no estudo da radioatividade, que des-

1
Em “Fragmentos da análise de um caso de histeria” (1905[1901]/2006b), mais conhecido como O caso Dora, Freud se propõe
reapresentar a posição da psicanálise no tratamento da histeria, mas o faz a partir de um fracasso clínico.

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conheciam o poder letal dos elementos que ma- 1997, p. 133), Freud novamente faz considerações
nejavam, os primeiros psicanalistas lidavam com sobre a contratransferência como um fator nega-
afetos intensos e primitivos (os deles próprios tivo ao andamento do tratamento. Roudinesco e
e os de seus pacientes) sem terem ainda conhe- Plon assim comentam a carta de Freud:
cimento das consequências disso. (Telles, 2012)
Em 1913, numa carta a Ludwig Binswanger,
Freud sublinhou que o problema da contratrans-
É preciosa a metáfora do elemento ra-
ferência “é um dos mais difíceis da técnica psica-
dioativo para falar sobre os afetos que invadiam a
nalítica”. O analista – e isso deve ser uma regra
sessão e produziam seus efeitos, tanto no paciente
segundo Freud – nunca deve dar ao analisando
quanto no analista, sem que eles pudessem se dar
nada que tenha saído de seu próprio inconscien-
conta disso, sem que pudessem deles se defender.
te. Vez após outra, ele deve “reconhecer e ultra-
No caso de Dora, Freud confessa que não estava
passar sua contratransferência, para que possa
muito interessado na moça, que mantinha relações
estar livre”. (Roudinesco & Plon, 1997, p. 133)
cordiais com o pai da paciente e que a atendia a pe-
dido dele. Posiciona-se ao lado do pai da paciente Como um dos mais difíceis problemas que
em um momento, em outro, deseja e argumenta envolvem a técnica psicanalítica, o estudo siste-
que ela poderia livrar-se de sua doença se assumis- mático da contratransferência seria, obviamente,
se a paixão pelo Senhor K. Essas são atitudes que, necessário. A surpresa é que Freud somente usa o
no mínimo, revelam muito sobre as expectativas termo mais duas vezes em toda a sua obra, ambas
do analista e deixam entrever a “radioatividade” em seu texto “Observações sobre o amor transfe-
daqueles elementos aos quais Telles fez referên- rencial”, obra de 1915. Nesse texto, o autor exa-
cia e os seus efeitos deletérios. Mas são justamen- mina o tipo de transferência no qual a paciente se
te esses efeitos que constituem o material com o enamora da figura do analista. As recomendações
qual trabalhamos na sessão analítica. Entretanto, de Freud são proibitivas, no sentido de o analista
foi preciso uma longa trajetória teórica e clínica não responder contratransferencialmente ao amor
antes que Freud pudesse abordar, de forma clara e da paciente. É um texto que nos desperta um inte-
direta, o problema da contratransferência. resse particular por tratar mais do que não deveria
Freud usou o termo contratransferência so- acontecer do que, propriamente, de recomenda-
mente três vezes ao longo de sua obra (França, ções técnicas sobre o manejo da contratransferên-
2006), embora, em cartas aos seus discípulos, ele cia. É como se Freud dissesse: Não façam isso, porque
tenha comentado o assunto. A primeira vez que não adianta ou porque é um erro técnico e moral. Fazer
utilizou o termo foi em 1909, em carta endereçada isso, acompanhando o texto freudiano, é unir-se
a Jung4, na qual comenta a relação amorosa que legítima ou ilegitimamente com a paciente. Isso
o discípulo mantinha com uma paciente. Esse re- não é suficiente. Se o analista não deve correspon-
lacionamento de Jung com a paciente pressionou der ao amor que a paciente lhe dedica, o que ele
Freud a publicar o primeiro escrito técnico so- pode fazer? No texto de Freud, a única saída que
bre o assunto (Dias, 2006). Em 1910, no artigo: encontramos é a interrupção do tratamento, posto
“As perspectivas futuras da terapêutica analítica”, que uma filha da natureza (entenda-se, mulher sub-
Freud nos diz que a contratransferência precisa ser metida às exigências do desejo sexual) inviabiliza
superada pelo bem do tratamento psicanalítico, um tratamento psicanalítico.
condenando assim o relacionamento amoroso en- Por hora, basta que retenhamos o seguin-
tre paciente e analista, clara alusão ao caso de Jung. te sobre a posição de Freud sobre a contratrans-
Em outra carta, datada de 1913 e endere- ferência: ele se viu obrigado a teorizar a respeito
çada a Ludwig Binswanger (Roudinesco & Plon, do tema pelo envolvimento erótico de alguns dos

4
Carta endereçada a Jung, de 7 de junho de 1909 (McGuire, 1976, citado por Dias, 2006), na qual comenta com Jung a relação
amorosa que o discípulo mantém com uma paciente.

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seus colegas com pacientes do sexo feminino. ção para suas observações clínicas. Lembremos que
Algo que, além de prejudicar as pacientes e levar o o conceito de pulsão de morte se insere em um mo-
tratamento à falência, colocava em risco a credibi- mento da obra de Freud6 no qual ele tenta buscar
lidade da psicanálise como uma ciência e um mé- explicação para as origens do psiquismo humano a
todo clínico, precisando, portanto, ser condenado. partir de várias hipóteses, sendo uma delas a de que
O conceito de contratransferência em Freud está a pulsão original, aquela que está presente desde o
intimamente ligado às situações que produziram início, é a pulsão que encaminha o indivíduo bioló-
seu surgimento. Elas demandavam uma resposta gico para a inércia absoluta, para a morte.
enérgica de Freud e, nesse sentido, é compreensí- Apostando num bebê que nasce com uma
vel que ele tenha trabalhado a contratransferência “cota” específica de pulsão de morte, Melanie Klein
de maneira restrita, como algo que, surgindo no (1932 [1969]) fundamenta sua teoria justamente nos
analista, deveria ser superado, sob pena do fracas- modos de operação que esse bebê encontra para li-
so do tratamento. dar com essa cota de pulsão de morte que o ataca
A discussão a respeito da contratransfe- desde o nascimento. A partir disso, Klein confere
rência evolui, posteriormente, a partir da amplia- importância fundamental aos processos de projeção
ção do conceito e de suas implicações. E isso ocor- e de identificação utilizados pelo bebê para externar
re a partir de uma grande discussão que tem início alguns de seus conteúdos e internalizar outros, sem-
com Melanie Klein. pre na tentativa de lidar com a violência sádica que o
ataca desde o nascimento e que permeará as relações
Identificação projetiva e sua relação com a com seus objetos.
contratransferência O tipo de conteúdo projetado para fora é,
O conceito de identificação projetiva, presente a princípio, caracterizado pelo ódio, raiva e agres-
na obra de Melanie Klein (1946), está intimamente são. Expulsando esse conteúdo mortífero, o bebê
conectado com o desenvolvimento das discussões identifica o mundo externo (ou a mãe) a esse con-
sobre a contratransferência em autores que foram teúdo, numa tentativa de controle que, ao mesmo
influenciados, direta ou indiretamente, pela auto- tempo, agride a mãe, identificando-a ao mau, e a
ra. Embora essa relação não ocorra explicitamente transforma em depositária de uma parte de si mes-
na obra de Melanie Klein, alguns de seus discípulos mo. Para Melanie Klein, identificação projetiva é
se apoiaram no conceito de identificação projetiva isso: o bebê projeta no outro uma parte de si, tanto
para tratar da contratransferência. Por isso, examina- para se livrar de algo ruim, quanto para contro-
remos, ainda que por breve momento, as possíveis lar o outro. À mãe, caberia responder à violência
inter-relações entre identificação projetiva e contra- do bebê de maneira não violenta. Estar presente
transferência, tema central das nossas discussões. como um objeto que não frustra e, a partir disso,
Cintra e Figueiredo (2004) concebem o ser capaz de ajudar o bebê a introjetar essa parte
trabalho de Melanie Klein como estando centrado, de si mesmo da qual ele havia se apartado.
principalmente, em fenômenos que dizem respeito Precisamos reconhecer que não existe em
a um tempo de fundação do psiquismo. Para abor- Klein nenhuma conexão entre o conceito de iden-
darmos alguns aspectos do pensamento da autora, tificação projetiva e o conceito de contratransfe-
impõe-se a revisão de alguns dos seus fundamentos. rência. Essa não foi a intenção da autora ao cunhar
O primeiro deles é o conceito de pulsão esse conceito. Aliás, para Melanie Klein, a palavra
de morte. Klein (1957)5 rastreia na obra freudiana contratransferência sempre trouxe problemas com
aportes teóricos específicos, que oferecem sustenta- os quais ela não queria se envolver e, como Freud,

5
Embora a autora trabalhe o conceito de pulsão de morte em toda a sua obra, é em “Inveja e gratidão” (1957) que Klein aprofunda
as relações entra a pulsão de morte e a inveja, e suas consequências para a constituição psíquica do sujeito e para o manejo clínico
do paciente.
6
É notável que a leitura de Freud que Melanie Klein privilegia é a do Freud mais próximo possível do Além do Princípio do Prazer,
1920 e de O Eu e o Id, 1923.

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usou o termo somente três vezes ao longo de sua puderam ser integradas e simbolizadas pelo seu
obra. França (2006) supõe que esse uso muito próprio psiquismo.
restrito do termo por Klein se deveu mais a um Pensar que o analisando possa transmitir
cuidado político do que a uma opinião pessoal de- sentimentos ao analista por uma via que não é a pa-
cisiva. Lembremos que a autora disputava espaço lavra e que o analista experimente esses sentimen-
na construção de uma psicanálise para atendimen- tos do outro equivale a pensar em um fenômeno
to de crianças com nada menos que Anna Freud, contratransferencial, mesmo que não receba esse
que contava com o apoio irrestrito do pai, maior nome. Sobre isso, ressaltamos mais uma observa-
figura de autoridade da psicanálise. Klein sofria ção de França: “para o mecanismo ser considera-
enormes pressões em decorrência dessa disputa, do identificação projetiva, tem de causar efeitos no
por isso, comentadores da obra da autora, como aparelho psíquico do receptor, de quem espera-se
França (2006), têm razões para suspeitar de que a capacidade de metabolização de tais conteúdos”
Klein tinha restrições com relação a tratar de as- (França, 2006, p. 33). Os tais efeitos no aparelho psí-
suntos que a fariam entrar em conflito direto com quico do receptor (analista) são, efetivamente, efeitos
o próprio Freud, como é o caso da contratransfe- contratransferenciais, produtos do funcionamento
rência. A suspeita é de que Freud poderia utilizar do analista em contato com o paciente. Mas essas
sua influência para criticar Klein, caso ela tomasse afirmações que vimos França formalizar acima pa-
posições contrárias às normativas propostas pelo recem extrapolar o conceito de identificação pro-
pai da psicanálise, e fazê-la perder espaço dentro jetiva em Melanie Klein. E, de fato, extrapolam.
da escola inglesa. De acordo com Sandler (1989), a teori-
Mas se Melanie Klein usou o termo con- zação da identificação projetiva evolui para um
tratransferência poucas vezes, a temática que en- segundo estágio, depois da primeira observação
volve o conceito de identificação projetiva, pelo do fenômeno por Melanie Klein. Neste segundo
menos como vemos no trabalho de alguns dos estágio, alguns teóricos da escola kleiniana passam
seus discípulos, aproxima-se bastante daquilo a trabalhar com a questão da contratransferência,
que podemos considerar uma teoria kleiniana da relacionando-a à identificação projetiva, de modo
contratransferência. Apesar de presumirmos que que a reação contratransferencial seria fonte de in-
Melanie Klein discordaria dessa afirmação, te- formações a respeito dos conteúdos internos do
mos o conceito de identificação projetiva como paciente. Os analistas que iniciam essa associação
um fenômeno clínico que conecta os sentimentos entre os conceitos e assim ampliam a noção de
do paciente ao aparelho psíquico do analista. Em contratransferência são Paula Heimann (1950) e
“Notas sobre alguns mecanismos esquizoides” Heinrich Racker (1960)7, cujas ideias serão aborda-
(1946), a autora apresenta o conceito de identifi- das no decorrer deste trabalho. Por hora, é impor-
cação projetiva como um processo essencial de tante destacar que os analistas da escola kleiniana e
comunicação de experiências entre o bebê e sua aqueles que com essa escola mantêm boas relações,
mãe, no qual o bebê comporta-se de tal modo que são os que mais contribuíram e contribuem para a
faz com que a mãe acabe experimentando aqueles discussão da contratransferência na técnica psica-
sentimentos que não pôde conter dentro de si nem nalítica. Isso se deve às discussões que o conceito
expressar de outra forma. A autora ainda afirma de identificação projetiva puderam proporcionar e
que isso acontece na situação clínica principalmen- à iniciativa de Paula Heimann e Heinrich Racker,
te como um mecanismo de defesa presente na po- que, a despeito da discordância da própria Melanie
sição esquizo-paranoide, na qual o paciente leva o Klein, insistiram nas discussões sobre o tema por
analista a experimentar aquelas sensações que não considerá-lo de fundamental importância.

7
O livro Estudios sobre técnica psicoanalítica, de 1960, reúne os principais textos de Racker sobre o tema da contratransferência, que começam
a ser publicados na segunda metade da década de 40 do século passado e continuaram sendo produzidos até a década de 1960.

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A contribuição de Paula Heimann contratransferência foi apresentado para discussão


Depois de Freud, quem retoma a discus- praticamente simultaneamente por diferentes pes-
são sobre a contratransferência ou, pelo menos, quisadores indica que o momento é propício para
quem a faz ressurgir com vigor no cenário psica- uma pesquisa mais aprofundada sobre a natureza
nalítico internacional é Paula Heimann. Heimann e a função da contratransferência”.9
foi analisada por Melanie Klein e era membro da Mesmo sem que a autora soubesse, pois
Sociedade Psicanalítica Britânica, na qual começou nessa época ainda não havia entrado em contato
como uma defensora da teoria kleiniana, até que com Racker, a abrangência de seu comentário ultra-
uma divergência teórica sobre a contratransferên- passa as fronteiras da Sociedade Britânica de Psica-
cia afastasse as duas psicanalistas e fizesse Hei- nálise, já que na bacia do Prata, na América do Sul,
mann aderir ao chamado “grupo independente” a discussão sobre contratransferência acontecia com
(Mello, 2012). vigor, liderada por Heinrich Racker, e trabalhos so-
Em 1949, no 16º Congresso Interna- bre o tema eram publicados praticamente na mesma
cional de Psicanálise da IPA, em Zurique, Paula época em que Heimann fazia sua comunicação.
Heimann lê pela primeira vez o artigo “On Coun- O artigo de Heimann traz considerações
tertransference”8, posteriormente publicado em a partir de sua experiência como supervisora e
1950, no qual apresenta a reação contratransfe- de um impasse que ela percebeu na formação de
rencial não mais como um obstáculo, mas como candidatos a analistas. A autora se diz impressio-
um importante instrumento de compreensão do nada com a crença dos candidatos de que a con-
inconsciente do analisando. Esse ponto de vista, tratransferência não é mais do que uma fonte de
apesar de duramente criticado por Melanie Klein problemas, que eles se sentiam com medo e culpa-
(França, 2006), influenciou de maneira decisiva o dos ao perceberem seus sentimentos com relação
desenvolvimento de teorias que abordavam o uso aos seus pacientes e empreendiam, em decorrência
da contratransferência como uma ferramenta da disso, uma tentativa de se tornarem completamen-
clínica psicanalítica. O artigo foi considerado um te insensíveis e imparciais, evitando qualquer res-
divisor de águas na história da técnica psicanalí- posta emocional. Intrigada com a repetição dessa
tica, pois Heimann iniciou o questionamento da postura nos analistas em formação, Heimann em-
postura defensiva dos analistas em formação. Me- preende uma busca, na literatura psicanalítica, no
lanie Klein temia “que essa ampliação do conceito intuito de entender os fundamentos dessa prática
[contratransferência] sustentasse as alegações dos em seus supervisionandos. Assim a autora descre-
analistas de que suas próprias deficiências eram ve seus achados:
causadas pelos pacientes” (França, 2006, p. 36). Eu achei que a nossa literatura, de fato, contém
Melanie Klein chegou a solicitar a Heimann que descrições do trabalho analítico que podem dar
retirasse o artigo do congresso da IPA, mas a au- lugar à noção de que um bom analista não sen-
tora recusou-se a fazê-lo. te nada além de uma uniforme e suave benevo-
Examinando o conteúdo dessa comuni- lência para com seus pacientes, e que qualquer
cação de Heimann (1950), pode-se perceber que agitação produzida pelas ondulações emocionais
ela já se insere num contexto em que vários au- nesta superfície lisa representa uma perturbação
tores sentem a necessidade de debater o tema e a ser superada. (Heimann, 1950)
publicam trabalhos quase que simultaneamente,
incitando as discussões. Heimann afirma em uma Na sequência de sua apresentação, Paula
nota de rodapé: “O fato de que o problema da Heimann define contratransferência como “a to-

8
Este artigo encontra-se sem paginação no original. Portanto, todas as referências subsequentes não apresentarão a especificação
da página.
9
Essa, como as outras citações retiradas do artigo “On Countertransference”, de Heimann, presentes neste trabalho, são de tradução
nossa.

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talidade dos sentimentos do analista com respeito Na esteira dessas considerações, a autora
a seu paciente”, e apresenta sua tese: afirma que quando as emoções do analista cami-
nham na mesma direção de sua percepção cons-
Minha tese é que a resposta emocional do ana-
ciente da situação analítica, não há problemas. Mas,
lista a seu paciente dentro da situação analítica
algumas vezes, as emoções contratransferenciais
representa uma das ferramentas mais importan-
estariam mais próximas do núcleo das questões do
tes para o seu trabalho. Contratransferência do
analisando do que os processos de racionalização
analista é um instrumento de pesquisa sobre o
do analista. Ou seja, a percepção inconsciente do
inconsciente do paciente. (Heimann, 1950)
analista, sentida por meio de sua contratransferên-
cia, seria mais aguçada e precederia a percepção
Aqui, Heimann responde a uma das prin-
consciente. Portanto, se o analista trabalhasse sem
cipais perguntas de nossa investigação. A con-
consultar seus sentimentos, ele produziria, segun-
tratransferência servia, para a autora, como um
do Heimann, interpretações mais pobres.
instrumento de pesquisa sobre o inconsciente do
Mas Heimann não apresenta, como Me-
paciente. A autora salienta que a situação analítica
lanie Klein a acusa de fazer, uma postura que
é uma relação entre duas pessoas, e seu caráter sin-
desconsidera os riscos do uso desse instrumento
gular não se define pela presença de sentimentos
privilegiado de escuta de seus pacientes. Para a
em um e ausência em outro, mas o que a distingue
autora, a contratransferência não pode funcionar
das outras relações comuns entre duas pessoas é,
como um anteparo para as deficiências do analista,
acima de tudo, o grau de sentimentos vivenciados
e isso seria garantido pela análise pessoal do ana-
e a maneira como esses sentimentos podem ser
lista. Nas palavras da autora:
utilizados pelo analista. A seguir, Heimann busca
definir como esse instrumento seria usado e quais Quando o analista em sua própria análise tem tra-
as implicações de utilizá-lo: balhado através de seus conflitos infantis e ansie-
dades (paranoico e depressivas), de modo que ele
O objetivo da própria análise do analista, a partir
pode facilmente estabelecer contato com seu pró-
deste ponto de vista, não é transformá-lo em um
prio inconsciente, ele não imputa ao seu paciente
cérebro mecânico que pode produzir interpre-
o que pertence a ele mesmo. (Heimann, 1950)
tações sobre a base de um processo puramente
intelectual, mas permitir que ele possa sustentar
Assim, o analista poderia, a partir de sua
os sentimentos que agem nele, em oposição a
análise, ter condições de separar os conteúdos que
descarregá-los (como o faz o paciente), a fim de
pertencem a ele, analista, daqueles que pertencem
subordiná-los à tarefa analítica em que ele fun-
ao paciente. Portanto, a contratransferência não
ciona como um reflexo em espelho do paciente.
poderia ser utilizada para acusar os pacientes do
(Heimann, 1950)
fracasso do processo analítico, como vaticinou
Klein. Apesar dos argumentos que apresenta,
Assim, para Heimann, a natureza relacio-
Heimann não consegue evitar que algo da crítica
nal da sessão analítica implica o aparecimento de
de sua colega se concretize e que alguns analistas
sentimentos nas duas pessoas que compõem a ses-
acabem por utilizar seu texto para justificar inter-
são, e não há nada que o analista possa fazer para
pretações que tinham mais relação com conflitos
evitar que lhe surjam esses sentimentos. A análise
de natureza pessoal do que com aqueles de seus
do analista é o que lhe possibilita reconhecer os
analisandos. Por isso, Heimann revisa sua coloca-
sentimentos que lhe surgem a partir do contato
ção, dez anos depois, em 1959:
com o paciente e utilizá-los como via de acesso
privilegiada ao mundo interno de seu analisante, Aos poucos, posso mencionar que tive a oportu-
em vez de descarregá-los. É o destino dos senti- nidade de comprovar que meu trabalho também
mentos do analista que o diferencia na relação, que tinha provocado alguns erros em alguns candi-
potencializa seu trabalho ao invés de embargá-lo. datos, que, apoiando-se nesse trabalho para se

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A. L. R. Timo e P. C. Ribeiro 283

justificar, sem o suficiente sentido crítico, fun- foco das interpretações naquela parte do material. Se
damentavam as suas interpretações sobre seus o material é sempre sobredeterminado, é importante
sentimentos. Respondiam a qualquer pergunta que se tenha um instrumento que indique qual parte
“minha contratransferência”, e pareciam pouco dele é mais evidente em dado momento específico.
propensos a comparar suas interpretações com Torna-se, a partir da comunicação de Heimann, cada
os dados reais da situação analítica. (Heimann, vez mais imprescindível atentar para a contratransfe-
citada por Antonelli, 2011, p. 37). rência na situação de análise.

Antonelli (2011) afirma que Heimann Transferência e Contratransferência e sua


faz essa nova colocação “para situar o problema centralidade no processo analítico: a visão de
da contratransferência dentro da tarefa analítica, Heinrich Racker
objetivo este que vinha se perdendo” (p. 37). O Heinrich Racker, polonês radicado na Ar-
problema que motiva Heimann a se reposicionar gentina, onde produziu a maior parte de sua obra,
origina-se, ainda de acordo com Antonelli, no fato apresenta um estudo sistemático dos fenômenos
de que alguns analistas não estavam cotejando suas contratransferenciais, considerando-os instru-
interpretações com os dados reais da situação ana- mentos para a compreensão do inconsciente do
lítica, mas justificando-se com uma leitura parcial analisando. Teve uma vida curta, mas muito pro-
da teoria de Heimann, escancaravam seus senti- dutiva enquanto teórico da psicanálise, morrendo
mentos e acusavam seus pacientes. relativamente cedo, aos 50 anos de idade, em 1961
Para encerrar seu artigo inaugural so- (Zimmermann, 1982).
No prefácio de seu livro Estudos sobre téc-
bre contratransferência, Paula Heimann retoma
nica psicanalítica (1960), que reúne seus principais
o argumento freudiano de que o analista deveria
trabalhos produzidos entre os anos de 1948 a
reconhecer e dominar sua contratransferência,
1960, o autor afirma que sempre lhe impressionou
e propõe que a contratransferência não seria so-
e preocupou a distância existente entre a amplidão
mente um fator de distúrbio, de modo que, para
e profundidade do conhecimento psicanalítico e as
combatê-la, o analista deveria se tornar insensível
limitações no aproveitamento desse conhecimen-
e distante. Mas pelo contrário, o analista pode uti-
to para a transformação psicológica dos pacientes.
lizar sua resposta emocional como uma chave para
Segundo Racker, a psicanálise evidenciou, desde o
o inconsciente do paciente:
começo, a tarefa central do trabalho como sendo
As emoções despertadas no analista serão de va- a elaboração da transferência, mas sua outra parte,
lor ao seu paciente, se utilizadas como fonte de seu complemento, a contratransferência, era ainda
mais uma visão sobre os conflitos inconscientes um tema inexplorado. O autor estava convencido
e defesas do paciente, e quando estas são inter- de que, pelo estudo da contratransferência, poder-
pretadas e trabalhadas, as consequentes altera- se-ia diminuir essa distância entre o conhecimento
ções de ego do paciente incluem o reforço do psicanalítico e a transformação psicológica dos pa-
seu senso de realidade, de modo que ele vê seu cientes. Assim, explica alguns dos motivos de seu
analista como um ser humano, não um deus ou interesse pelo tema:
demônio, e a relação “humana” segue na situa- Era (...) claro que o silêncio científico que reina-
ção analítica, sem que o analista tenha de recor- va em tão alto grau em relação aos fenômenos e
rer a meios extra-analíticos. (Heimann, 1950) problemas da contratransferência constituía um
sério impedimento para a percepção e compre-
Assim, Paula Heimann propõe usar a con- ensão da transferência. Pois a contratransferên-
tratransferência como um índice de atenção, como cia é a resposta vivencial à transferência, e, se
uma seta que aponta para os elementos mais insis- aquela for silenciada, esta não poderá se desen-
tentes na temática da associação livre do paciente na- volver com plenitude de vida e de conhecimen-
quele momento e serve para o analista concentrar o to. (Racker, 1960, p. 13)

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Contratransferência: surgimento e evolução do conceito em teóricos das relações objetais 284

Nos Estudos sobre técnica psicanalítica, Racker celência, à transferência. Para definir a neurose de
dedica-se, em alguns momentos, a analisar a ques- contratransferência, Racker afirma:
tão da contratransferência no âmbito da técnica e da
E assim, como o conjunto de imagens, sen-
prática da psicanálise. Em um dos capítulos, o autor
timentos e impulsos do paciente para com o
analisa o que chama de “A Neurose de Contratrans-
analista, enquanto determinados pelo passado,
ferência”, que diz respeito aos processos psicopato-
é chamado transferência, e sua expressão pato-
lógicos que, com maior ou menor intensidade, cos-
lógica denominada neurose de transferência, assim
tumam ocorrer no analista, em sua relação com o
também o conjunto de imagens, sentimentos e
paciente. O autor insiste na tomada de consciência
impulsos do analista para com o paciente, en-
desses processos por parte do analista, pois é isso
quanto determinados pelo passado, é chamado
que poderia, a seu ver, levá-lo a evitar que essas pato-
contratransferência, e sua expressão patológica
logias atuassem negativamente em seu trabalho.
poderia ser denominada neurose de contratransferên-
Racker enfatiza que o significado que se dá
cia. (Racker, 1960, p. 101)
à contratransferência e a importância dos problemas
correspondentes dependem do significado que se dá
O autor assevera que todo analista sabe
à função do analista dentro do processo psicanalíti-
que não está livre de dependências infantis, de
co de transformação interna. O autor retoma Freud
representações neuróticas, de mecanismos pato-
para afirmar que tal significado deriva diretamente
lógicos de defesa. Mas, mesmo sabendo disso, o
das batalhas decisivas que se travarão no plano da
tema da contratransferência é pouco abordado em
transferência, no qual o paciente, repetindo sua in-
muitos círculos psicanalíticos. O autor provoca o
fância, reencontra-se com um objeto, o analista, para
campo psicanalítico comparando o tema da con-
quem dirige suas moções pulsionais. O analista é
tratransferência como um filho de quem os pais se
essa reedição de um objeto que pode, sem tédio nem
envergonham. Vergonha, aliás, que estaria associa-
angústia, enfrentar essas moções junto ao paciente e,
da ao “auto-apreço” do analista, por ter de admitir
deste modo, permite ao paciente introjetar no supe-
que continua sendo neurótico. Atrás da denegação
rego um objeto que é mais tolerante e compreensivo
da contratransferência estariam todos os temores
que os objetos arcaicos.
e todas as defesas inerentes à neurose do analista.
No paciente vibram, a partir da relação
O autor adverte que não podemos nos esquecer
com o analista, sua personalidade total, suas partes
que a situação profissional só reveste, com novos
sã e neurótica, o presente e o passado, a realida-
termos, antigos impulsos, imagens e angústias da
de e a fantasia. Assim, segundo Racker, também
pessoa que se propõe a ajudar (Racker, 1960).
vibra o analista, embora em diferentes quantida-
Assim, Racker aponta o narcisismo do
des e qualidades, em sua relação com o paciente.
analista como parte de sua dificuldade de admi-
As diferenças entre essas duas relações residiriam
tir a contratransferência, admitir que ainda padece
em diferenças nas situações internas e externas de
de suas doenças. Para diminuir as possíveis con-
cada um, associadas, principalmente, ao fato de
sequências das ações de sua parte neurótica, que
que o analista já tenha sido analisado. Entretanto,
precisa ser elaborada, o analista, segundo o autor,
o autor enfatiza que o analista também não está
precisaria adotar uma “dupla posição”, que carac-
livre da neurose, havendo sempre uma parte de
teriza como:
sua libido disposta a ser transferida. Há também a
pressão inerente a situações internas centrais que Este oscilar entre o esquecer-se de si e o recor-
são transferidas sobre sua profissão e a situação dar-se de si, entre sua entrega ao paciente e o
socioeconômica a ela vinculada. Ainda precisa- controle de si próprio, por um lado, o oscilar
mos considerar o fato, acrescenta o autor, de que entre cada uma destas duas posições, entre a po-
a escolha da profissão de analista, como todas as sição de recepção intuitiva, e de discriminação
escolhas que fazemos, baseia-se nas relações de intelectual, por outro lado, este oscilar entre ser
objeto da infância, prestando-se, por isso e por ex- instrumento passivo-sensível (sobre o que to-

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A. L. R. Timo e P. C. Ribeiro 285

cam paciente e analista) e ser duplamente ouvin- O que vemos na concepção de Racker
te crítico-racional, tudo isso pertence às funções é que o analisando, no processo transferencial,
técnicas básicas do analista, e sua observação e projeta conteúdos no analista que chegam até ele
seu desenvolvimento são de importância corres- como sentimentos, que algumas vezes não passa-
pondentemente básica. (Racker, 1960, p. 103) ram pela via do discurso do analisando, nesse pro-
cesso comum de identificação projetiva. E acon-
Essa posição do analista, que conside- tece algo internamente no analista, a partir desse
ra sua contratransferência, escutando-a de modo contato com o analisando. Sentimentos de angús-
pendular entre permitir que ela ocorra num plano tia, de raiva ou quaisquer outros, que deveriam ser
passivo-sensível e elaborá-la, ao mesmo tempo, falados pelo analisando, acabam sendo sentidos
num plano crítico racional, parece ser para Racker pelo analista, que, com seus próprios sentimen-
aquilo que tem o potencial de proteger analista e tos, tem acesso ao mundo interno do analisando.
paciente da neurose de contratransferência. A concepção de análise de Racker passa por uma
Se no capítulo sobre “A Neurose de Con- inter-relação radical entre as duas pessoas, o que
tratransferência” Racker dá especial atenção à con- implica que o analista “rackeriano” seria aquele
tratransferência como perigo para a função do ana- totalmente sujeito a invasões e a irrupções de con-
lista, neste outro estudo, denominado “Significados
teúdos do outro. Acometido de uma série de fe-
e Usos da Contratransferência”, o interesse predo-
nômenos identificatórios que ocorreriam à revelia
minante do autor dirige-se à contratransferência
dele mesmo, o analista teria a função de detectar e
como instrumento técnico, ou seja, como meio es-
de lidar com esses fenômenos, transformando-os
sencial para a compreensão dos processos psicoló-
em material para a compreensão do mundo inter-
gicos e transferenciais do paciente. Racker também
no do analisando.
aborda nesse estudo o papel da contratransferência
O autor afirma que a contratransferên-
no processo de transformação interna do paciente,
cia seria a expressão da “constelação” interna do
ou seja, a influência da contratransferência sobre os
analista, estimulada pelo paciente, com isso abre
destinos da transferência e sobre as possibilidades
espaço para que possamos pensar que os afetos
de o paciente elaborá-la e de vencer o círculo vicioso
que o analista experimenta no contato com seu
de sua neurose. Neste estudo, Heinrich Racker leva
paciente não partem exclusivamente do paciente,
às últimas consequências a possibilidade do uso des-
sas informações internas do paciente, conseguidas a mas de dentro do próprio analista. E que o melhor
partir de sentimentos e afetos contratransferenciais: direcionamento para essa amálgama de afetos, que
“transferência e contratransferência representam partem do paciente e de dentro do analista, seria
dois componentes de uma unidade, dando-se vida uma espécie de tempo silencioso, no qual o ana-
mutuamente e criando a relação interpessoal da situ- lista tenta dominar o impacto desses afetos em si,
ação analítica” (p. 68). para depois poder utilizar a percepção dos afetos
O material que poderia ser acessado a par- para a análise dos processos do paciente.
tir da contratransferência pode dizer respeito ao Tão logo pensemos isso, podemos tam-
paciente e à interpretação da transferência está inti- bém pensar que esta seja a tarefa mais difícil da
mamente conectada ao material que foi acessado contra- análise dos processos contratransferenciais. O
transferencialmente. O autor continua seu raciocínio analista precisa tentar dominar o impacto dos afe-
dizendo que a transferência se oferece como uma tos que vêm de fora e, ao mesmo tempo, os que
realidade constante no contato com o paciente, que vêm de dentro e que não podem ser percebidos
apresenta, diante do analista, sentimentos, angústias, internamente, senão enquanto amálgama real de
defesas e desejos reais. A reposta do analista é a pró- sentimentos. Seria possível realizar essa tarefa pro-
pria realidade constante da contratransferência, com posta por Racker? A tarefa de perder a razão, mo-
sentimentos, angústias, defesas e desejos igualmente mentaneamente, imerso em afetos contratransfe-
reais, embora possam aparecer com menor intensi- renciais, para logo depois poder recobrá-la a partir
dade que os do analisando. de uma análise interna?

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Contratransferência: surgimento e evolução do conceito em teóricos das relações objetais 286

Antes de encerrarmos a análise da posi- ética do analista que possa proteger o paciente de
ção do autor, revisemos alguns aspectos sobre a possíveis atuações contratransferenciais. Em 1947,
maneira como Racker entende a relação analítica. o autor argumenta sobre a necessidade de o analis-
O analista, segundo Racker, está sujeito a toda sor- ta atentar para os fenômenos de ódio contratrans-
te de invasões de afetos que vêm do analisando. ferenciais que aparecem, de maneira inevitável,
É inevitável que esses afetos o invadam e provo- no atendimento de alguns pacientes e, em 1960,
quem nele reações afetivas parecidas com as que aponta para a necessidade de uma atitude profissional
o invadiram. À neurose de transferência, Racker que garanta uma distância segura, capaz de prote-
opõe a neurose de contratransferência. À angústia ger o paciente de possíveis atuações contratransfe-
no paciente, Racker associa a angústia no analis- renciais do analista.
ta. De modo que o analista, no contato com seu No primeiro artigo, o autor afirma que o
paciente, acaba se vendo tomado pelos conteúdos manejo do paciente psicótico é irritante e gerador
que vêm de fora, correndo o risco de ser invadido de ódio, tanto para o psicanalista quanto para to-
e assujeitado. Tendo absorvido tudo como uma es- dos os profissionais que se envolvem nos cuidados
ponja, o analista se encontra diante da tarefa difícil desse tipo de paciente. Por isso, o analista depende
de tentar assimilar e metabolizar esses conteúdos muito da sua análise pessoal para que o seu ódio
para poder utilizá-los na compreensão do paciente. pelo paciente psicótico possa ser “discernível e
Dessa forma, não poderíamos pensar que consciente” e para que essa “pesada carga emocio-
o analista, na concepção de Racker, é esse que, de nal” não inviabilize o seu trabalho. Winnicott con-
alguma forma, está ciente dessa invasão que o con- sidera que os profissionais que lidam com esses
tato com o outro opera no humano desde sempre? pacientes precisam compreender essa dimensão da
Ciente da força da alteridade que não cessa de afe- contratransferência, já que:
tar o mundo interno sempre que há contato pró-
ximo entre as pessoas? Seria possível pensarmos, Por mais que estes amem os seus pacientes, não
então, que os processos defensivos que criamos poderiam evitar odiá-los e temê-los, e quanto
para nos separarmos da alteridade radical que nos melhor eles o souberem, mais difícil será para
fundou serão sempre precários? o medo e o ódio tornarem-se os motivos deter-
Existe uma diferença qualitativa entre a minantes para o modo como eles tratam esses
empatia, que seria poder compreender o que o ou- pacientes. (Winnicott, 1947/2000, p. 278)
tro sente, e estar à mercê dos processos internos
do outro. O analista concebido por Racker viven- Não é difícil perceber, pela clareza da pro-
cia os dois processos. A projeção dos conteúdos posta do autor, a definição de contratransferência
do outro o identifica com o outro nesse processo intrínseca às suas colocações. Contratransferência
cujo vetor vem de fora: identificação projetiva. é, nesse momento, para Winnicott, algo como um
Na mesma época em que Paula Heimann sentimento hostil e inevitável que surge no tera-
e Heinrich Racker publicaram seus estudos, Do- peuta (analista, psiquiatra) a partir do contato com
nald Winnicott apresentou sua visão sobre o tema. o paciente, e que precisa ser discernido, reconhe-
Winnicott é mais conservador do que os outros cido e tornado consciente, justamente para que a
dois autores e prefere utilizar o conceito de con- conduta do profissional não seja pautada por uma
tratransferência de maneira mais restrita, como ve- reação a esse conteúdo. O autor ainda examina as
remos a seguir. raízes do ódio que os pacientes psicóticos desper-
tam no analista. O modo como os pacientes psi-
A posição winnicottiana cóticos se portam em análise remete a fracassos
Winnicott dedica dois artigos à temáti- constitutivos, sendo capazes de se relacionar so-
ca da contratransferência: “Ódio na contratrans- mente a partir de um fenômeno brutal de “amor
ferência”, de 1947, e “Contratransferência”, de e ódio coincidentes” e incitam, constantemente, o
1960. Em ambos Winnicott defende uma postura analista a se relacionar com eles da mesma forma.

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A. L. R. Timo e P. C. Ribeiro 287

Dessa maneira, o autor considera que o ódio que manter sua postura profissional. Isto quer dizer
surge no analista é legítimo e precisa ser claramen- que o analista precisa preservar uma distância en-
te percebido e mantido em um lugar à parte para tre si e o paciente, afastando-se o máximo de ser
ser usado em futuras interpretações. “a pessoa não confiável que costuma ser na vida
No ano de 1960, Winnicott publica “Con- privada” (1960/1983, p. 147).
tratransferência” para contrapor-se à palestra de É relevante notar que a proposta de Win-
Michael Fordham, discípulo de Jung, que afir- nicott (1947/2000; 1960/1983) sobre a contra-
mou ser inútil que o analista se defenda do con- transferência deriva de uma importante inversão
tato com o paciente considerando-o um relacio- que o autor realiza na concepção de transferên-
namento profissional (Fordham apud Winnicott, cia10. Em vez de abordar o tema a partir do amor
1960/1983). Winnicott acredita que esse ponto de de transferência, nos dois artigos o autor privilegia
vista pode acarretar inúmeros equívocos na for- o ódio como um dos reguladores dessa relação. O
mação e atuação dos analistas e, por isso, advoga analista terá que se haver com o ódio que o pacien-
a favor da delimitação de uma posição ética para te lhe causa e com os modos pelos quais essa sen-
o profissional, que circunscreva o uso da contra- sação determinará uma reconfiguração na forma
transferência a determinadas situações. Kahtuni, como interpreta e escuta.
estudiosa da obra do autor, resume o ponto de Kahtuni (2005) afirma que a posição de
vista de Winnicott neste artigo-resposta de 1960: Winnicott sobre a contratransferência vai além do
que é exposto nesses artigos, uma vez que Winni-
Ao discutir a contratransferência Winnicott dis-
cott não cessa de apontar, ao longo de sua obra,
se que entre o paciente e o terapeuta existe a ati-
como o analista precisa estar atento às identifica-
tude profissional do terapeuta, sua técnica e o
ções que estabelece com seu paciente e estar sensí-
trabalho que ele realiza com sua mente. Existe
vel às suas necessidades, ou seja,
um esforço de sua parte, um trabalho mental que
precisa ser consciente. O terapeuta é empático Cabe ao terapeuta o cuidado de manter um pé
em relação a seu paciente, tem sentimentos, pen- na realidade externa e outro na identificação que
samentos e fantasias em relação a ele, mas tudo faz com seu paciente. Também é sua responsa-
isso passa por uma malha fina e requer elabora- bilidade equilibrar, no manejo da transferência e
ção antes de voltar para o paciente em forma de da contratransferência, sua autenticidade e capa-
comunicação, intervenção ou manejo. Esse tra- cidade criativa com os afetos genuínos que sente
balho de elaboração é função e responsabilidade pelo paciente (sim, o terapeuta sente afetos por
do terapeuta. Requer não apenas conhecimento seus pacientes, e precisa gostar verdadeiramente
teórico e técnico, mas treinamento prévio, e é deles para exercer as funções maternas no pro-
facilitado ou dificultado por suas experiências cesso analítico quando for necessário, pois o
e vivências pessoais, sua análise pessoal e auto- trabalho com esses pacientes exige muita dedi-
análise, suas supervisões e características pesso- cação). (Kahtuni, 2005)
ais. (Kahtuni, 2005)
Kahtuni (2005) explica que esse tipo de
Manter a postura profissional não sig- relação acontece prioritariamente com pacientes
nifica, para o autor, manter uma série de defesas que se apresentam em estágios mais primitivos
egoicas, inibições e obsessão pela ordem, já que do desenvolvimento psíquico. Estes apresentam
é necessário que o analista permaneça vulnerável processos evolutivos congelados num passado no
para não diminuir sua capacidade de enfrentar as qual não dispuseram de um contato afetivo facili-
situações novas que o paciente lhe traz. No en- tador de seu desenvolvimento e, por isso mesmo,
tanto, além de permanecer vulnerável, ele precisa necessitam do terapeuta como uma figura identifi-
10
Agradecemos a Fábio Belo por esse e outros apontamentos com relação à posição de Winnicott sobre a contratransferência. (Belo,
2012, comunicação pessoal).

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Contratransferência: surgimento e evolução do conceito em teóricos das relações objetais 288

catória que participa de um rearranjo de processos “fonte de importância primordial, de informações


constitutivos que foram interrompidos. Tais pacien- sobre o paciente” (Segal, 1982), o que a autora
tes revivem estágios precoces de desenvolvimento defende na esteira das considerações de Heimann
na situação transferencial e por isso precisam de um (1950), que considera ser a responsável pela mu-
analista empático e que faça uso dos movimentos dança no eixo dessa discussão.
contratransferenciais como instrumentos de traba- Trabalhando com o conceito de identifica-
lho e de comunicação. Um profissional capacitado a ção projetiva, Hanna Segal propõe a transferência
ofertar um holding consistente, associado a um bom como enraizada na experiência infantil primitiva
manejo do  setting, atento à sua própria sensibilida- do paciente, que não só percebe e reage ao analista
de e aos movimentos psíquicos que se desenvolvem de modo distorcido, mas também “faz coisas com
como resposta à imaturidade psíquica e ao tipo de a mente do analista”:
dependência do paciente. A autora faz alusão à influ-
Todos estamos familiarizados com os conceitos
ência de Melanie Klein e seu conceito de identifica-
de atuação (“acting in”) que podem ocorrer de
ção projetiva sobre a escola winnicottiana.
modo bastante grosseiro; contudo, aqui não es-
Assim, a posição winnicottiana sobre a
tou me referindo a uma atuação grosseira mas a
contratransferência também engloba o uso de
algo constantemente presente – uma interação
movimentos contratransferenciais como instru-
não verbal constante em que o paciente atua so-
mentos de trabalho e comunicação, pois, de acor-
bre a mente do analista. (Segal, 1982)
do com Kahtuni (2005), a direção do tratamento
exige, além de um sólido conhecimento técnico,
Essa “interação não verbal constante”, a
teórico e experiencial, habilidade empática do tera-
partir da qual o paciente atua sobre a mente do
peuta e emprego de seus sentimentos contratrans-
analista, Segal entende como sendo a identifica-
ferenciais, valiosos guias no processo terapêutico.
ção projetiva. As raízes da identificação projetiva,
segundo Segal, encontram-se na situação clínica
O melhor dos empregados e o pior dos pa-
das seguintes maneiras: como uma comunicação
trões, a contribuição de Hanna Segal
subjacente e integrada a outras formas de comu-
Hanna Segal é analista da escola kleinia-
nicação que lhes dão profundidade e ressonância
na, tendo se formado na Sociedade Britânica de
afetiva; como formas de comunicação predomi-
Psicanálise, da qual chegou a ser presidente. Rea-
nante, provindo de experiências pré-verbais que
lizou sua análise com Melanie Klein e alcançou a
só poderiam ser comunicadas dessa forma; ou até
categoria de analista didata, aos 32 anos de idade.
mesmo sob o formato de um ataque à comunica-
Em 1982 publicou o artigo “Contratransferência”,
ção. A autora completa seu raciocínio afirmando
no qual oferece contribuições importantes para a
que essas formas de atuação do paciente se fazem
discussão do tema.
cada vez mais presentes à medida que os casos se
Nessa publicação, Segal analisa os pontos
aproximam de processos psicóticos. Trabalhando
de vista alternantes com relação à contratransfe-
o conceito de transferência a partir dos processos
rência dentro do cenário psicanalítico e atribui essa
de identificação projetiva, a autora completa:
alternância no entendimento do fenômeno a uma
evolução na compreensão da própria transferên- Se olharmos desta maneira para a transferência,
cia na psicanálise. Se em um primeiro momento então se torna bastante claro que o que Freud
ela foi considerada como resistência ao trabalho, descreve como atenção livremente flutuante se
posteriormente “passa a ser vista como o fulcro refere não apenas à abertura intelectual da men-
no qual reside a situação analítica”11 (Segal, 1982). te, mas também a uma abertura especial dos
Em decorrência dessa mudança, há uma evolução sentimentos – permitir que nossos sentimentos,
no reconhecimento da contratransferência como nossa mente sejam afetados pelo paciente em

11
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um grau muito mais elevado que nós nos permi- Na análise da dinâmica transferência/con-
timos sermos afetados nas relações sociais nor- tratransferência, a autora ainda faz uma ressalva:
mais. (Segal, 1982) somos obrigados a admitir que nem todas as per-
cepções que os pacientes têm de seus analistas são,
Tributária da exposição de Heimann de fato, projeções. Segal observa que os pacientes
(1950), Segal relê a proposta freudiana de uma es- reagem a aspectos da personalidade, a alterações
cuta livremente flutuante, acrescentando à definição de estados de ânimo do analista, sejam esses as-
do mestre uma espécie de “abertura especial dos pectos uma resposta direta ao material abordado
sentidos”, na qual o analista pode permitir que os na sessão ou provindos de outras fontes. E existe
seus sentimentos sejam afetados por aquilo que o um tipo especial de pacientes que detectam até as
paciente lhe traz como projeções transmitidas por menores mudanças na atitude do analista, pacien-
formas de comunicação não verbal que atravessam tes sensíveis e extremamente dependentes. Essa
a sessão, cabendo ao analista a tarefa de escutá-las sensibilidade inusitada pode suscitar incômodo no
e integrá-las ao processo do tratamento. Mas a au- analista, mas nem por isso se desenvolve alheia à
tora não faz essas afirmações sem tentar remetê-las condição do paciente. O paciente paranoide pode,
à técnica, justamente para diferenciar o movimento por exemplo, detectar facilmente qualquer disposi-
de transferência que parte do paciente da contra- ção negativa do analista. O paciente depressivo de-
transferência, sua contrapartida no analista: tecta mais facilmente sinais de fraqueza ou doença
Ao falar destes sentimentos livremente flutuan- no analista. Segal defende que os analistas estejam
tes no analista, estarei dizendo que não há dife- conscientes tanto da capacidade de seus pacientes
rença entre transferência e contratransferência? de detectar tais afetos, quanto de sua responsa-
Espero não estar dizendo nada disto, porque, ao bilidade sobre o aparecimento dos mesmos, não
mesmo tempo em que o analista está abrindo exatamente para que o analista “confesse” a sua
sua mente livremente a suas impressões, ele tem contratransferência, mas para que tenha consciên-
que manter distância de seus próprios sentimen- cia da natureza de sua relação com seu paciente
tos e reações ao paciente. Ele deve observar suas e possa reconhecê-la na sua interpretação. Essa é,
próprias reações, concluir a partir delas para usar para Segal, a tarefa mais difícil. A maior parte da
o seu próprio estado mental para a compreensão transferência é inconsciente, assim como da con-
do seu paciente sem, em momento algum, ser di- tratransferência, e delas só podemos acessar os
rigido pelas suas próprias emoções. (Segal, 1982) derivativos conscientes. Por isso mesmo, a autora
propõe uma espécie de modelo de um bom es-
Não é para reagir instintivamente que o tado funcional da contratransferência no analista.
analista usa a contratransferência. Se ele a usa, só Tal modelo pendular, por assim dizer, abarca dois
pode fazê-lo mantendo uma distância de seus sen- movimentos que se alternam: uma relação recep-
timentos, para garantir que a investigação de seus tiva com os conteúdos advindos do paciente, que
próprios processos afetivos no interior da sessão contém e compreende a comunicação do paciente,
de análise sirva para a compreensão do seu pacien- e outra mais ativa, que funciona produzindo ou
te. Para explicar a maneira como o analista pode dando compreensão, conhecimento ou estrutura
realizar isso, Segal utiliza a metáfora da relação da ao paciente na interpretação.
mãe com seu bebê, segundo a qual a capacidade do Para falar sobre a condição ideal do uso
analista de conter os sentimentos nele mobilizados da contratransferência pelo analista, a autora uti-
pelo paciente pode ser vista como um equivalente liza o modelo do seio que contém o alimento, en-
da função de uma mãe que contém as projeções quanto o mamilo o entrega aos poucos. A tarefa
do bebê, com a ressalva de que enquanto os pais do analista, ao trabalhar com a contratransferên-
o fazem instintivamente, o analista deve sujeitar cia, seria a de conter as identificações projetivas do
seu estado mental a um exame, uma reflexão pré- paciente, compreendendo-as como comunicações
consciente de seus estados internos. e devolvendo-as aos poucos, nas interpretações,

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como formas mais compreensíveis daquele con- Hanna Segal faz questão de não colocar o analista
teúdo, formas mais estruturadas, mais suportáveis. num lugar livre de erros, mas aponta para o ne-
Segal denomina empatia e intuição esse processo de cessário reconhecimento desses erros para que se
bom funcionamento da contratransferência como possa aprender com eles.
ferramenta disponível ao analista para o entendi- Com a contribuição de Hanna Segal, en-
mento do paciente. Acompanhando a autora: cerramos o desenvolvimento deste trabalho, no
qual apresentamos algumas definições de contra-
Quando a nossa contratransferência trabalha
transferência, algumas propostas de destino para
deste modo, dá origem a um fenômeno chamado
ela e algumas críticas a seu uso indiscriminado ou
empatia ou intuição psicanalítica ou sentir-se em
reativo na clínica.
contato. É um guia para a compreensão. Quan-
Considerações finais
do ocorrem rupturas nesta atitude, tornamo-nos
Nossas primeiras perguntas são relativas
conscientes de perturbações no nosso funciona-
à definição do conceito de contratransferência,
mento analítico, e devemos tentar compreender
às maneiras como ela se manifesta clinicamente, a
a natureza da perturbação e a informação que
que se deve sua aparição e que destino o analista
ela nos dá a respeito de nossa interação com o
deveria lhe conferir.
paciente. (Segal, 1982)
Quanto à definição do conceito, ao longo
do trabalho podemos apreender, a partir das te-
Ao mesmo tempo em que pode ser um
orias apresentadas, que, embora haja divergências
“bom empregado”, a contratransferência pode se
quanto à definição precisa do conceito, a contra-
transformar no “pior dos patrões”, se o analista
transferência pode ser compreendida como um
se identifica com os afetos que o paciente lhe des-
produto, um efeito do funcionamento psíquico
perta e reage a esse conteúdo alijado de sua fun-
do analista em contato com o paciente. A con-
ção crítica. Isso, segundo Segal, aconteceu diversas
tratransferência tem sempre dupla raiz: um ramo
vezes na história da contratransferência, quando
parte do paciente, dos seus complexos, da maneira
analistas construíram racionalizações para agir sob
como se posiciona na sessão e, consequentemente,
pressão da contratransferência e não a utilizaram
os efeitos que provoca no analista a partir desse
como um guia para a compreensão. É com essa
posicionamento específico; o outro ramo do qual
advertência que a autora encerra seu texto:
surge a contratransferência são os processos inter-
Muitas vezes vejo-me dizendo aos meus su- nos do analista, seus desejos infantis e complexos
pervisionados que a contratransferência não é atuais que estão em ação no momento da sessão
desculpa; dizer que o paciente “projetou-o em analítica e que podem ali ser ativados.
mim”, ou “ele me irritou” ou “ele me colocou Como vimos em Heimann (1950), a con-
sob tal pressão sedutora” devem ser claramente tratransferência é uma resultante da maneira como
reconhecidos como afirmações de fracasso para o analisando se posiciona, de sua transferência,
compreender e usar a contratransferência cons- por isso ela pode ser um importante instrumento
trutivamente. Não argumento aqui que devemos, de apreensão do inconsciente do analisando, uma
ou até, que possamos ser perfeitos, digo apenas ferramenta clínica de acesso privilegiado aos pro-
que não iremos aprender com nossos fracassos a cessos internos do paciente. Isso não livra o ana-
não ser que os reconheçamos claramente como lista da responsabilidade de buscar, a partir da sua
tais. (Segal, 1982) análise pessoal e de uma postura atenta, separar os
conteúdos que têm origem no paciente daqueles
A contratransferência não é uma descul- conteúdos que se originam dele mesmo, analista,
pa, defende a autora. Deixar-se atuar a partir dela os quais mantêm relação com seus complexos in-
não representaria senão o fracasso de usá-la como ternos e não com os do paciente.
um importante instrumento clínico para a com- Heinrich Racker (1960) também conside-
preensão dos processos internos do analisando. ra a dupla raiz dos processos contratransferenciais.

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O autor argumenta que a transferência se oferece isolado de compreensão da situação analítica de-
como uma realidade constante no contato com o termina riscos de natureza ética e técnica inadmis-
paciente, o qual apresenta, diante do analista, sen- síveis. No entanto, negar a existência dos afetos do
timentos, angústias, defesas e desejos reais. A res- analista como componentes do setting, refutar de
posta do analista é a própria realidade constante da maneira peremptória a hipótese de que esses afe-
contratransferência, com sentimentos, angústias, tos possam dialogar com questões do analisando,
defesas e desejos igualmente reais. Por isso, o autor implica correr um risco tão grande quanto o pri-
propõe que o analista desenvolva em seu trabalho meiro, a saber, negar o fato de que o analista não
uma atenção pendular, que oscila entre permitir que é imune ao contato com seu paciente. Ademais,
a contratransferência ocorra em um plano passivo- considerar a contratransferência como inerente
sensível, e exigir sua elaboração, em um plano crí- ao processo analítico minimiza o risco de negli-
tico racional. Tal processo de elaboração tem o po- genciar o reconhecimento de preciosos aspectos
tencial de proteger analista e paciente da neurose da interação entre paciente e analista como uma
de contratransferência, que surge como algum tipo relação fundamentalmente intersubjetiva em que
de manifestação dos complexos infantis, neuróti- ambos são afetados, na qual o oferecimento de
cos do analista, os quais sempre o acompanham. uma escuta ancorada na técnica não descaracteriza
A proposta de Winnicott (1947/2000; a existência sempre concomitante de uma escuta
1960/1983) deriva de uma importante inversão acolhedora e empática.
que o autor realiza na concepção de transferência.
Em vez de falar de amor de transferência, como a Referências
convenção estabelecia, Winnicott privilegia o ódio
como um dos reguladores dessa relação. O ana- Andrade, L. F. G. (1983, setembro). Contratrans-
lista terá de se haver com o ódio que o paciente ferência e atuação. V Congresso Nacional do
lhe causa e com os modos como essa sensação Círculo Brasileiro de Psicanálise, Olinda-Recife.
determinará uma reconfiguração na forma como Recuperado em 30 de agosto de 2010, de http://
interpreta e escuta. www.escolafreudianajp.org/arquivos/trabalhos/
Segal (1982) amplia a noção freudiana de Contratransferencia_e_atuacao.pdf
uma escuta livremente flutuante, propondo que
a escuta analítica também seja portadora de uma Antonelli, E. (2011).  Os sentimentos do analista:  a
abertura especial dos sentidos. Por meio dessa abertu- contratransferência em casos de difícil acesso. São Paulo:
ra, o analista permite que seus sentimentos sejam Zagodoni.
afetados por projeções de complexos internos do
paciente, transmitidas por formas de comunicação Cintra, E. & Figueiredo, L. (2004). Melanie Klein:
não verbal que atravessam a sessão. A tarefa do Estilo e pensamento. São Paulo: Escuta.
analista é perceber a transmissão desses conteúdos
e integrá-los ao processo do tratamento. Dito de Dias, H. (2006). Contratransferência: uma questão
outra forma, ao trabalhar com a contratransferên- fundamental na clínica psicanalítica. II Congres-
cia, o analista recebe as identificações projetivas do so Internacional em Psicopatologia Fundamental.
paciente, compreendendo-as como comunicações, São Paulo: Escuta, v. 1. p. 1-1.
e as devolve, aos poucos, em interpretações, como
formas mais compreensíveis daquele conteúdo, Fédida, P. (1988). Clínica Psicanalítica: Estudos. São
formas mais estruturadas, mais suportáveis. Paulo: Escuta.
O aporte teórico concedido por esses
autores oferece algumas respostas para nossos França, C. P. Em nome da mãe: o brado kleiniano.
questionamentos, como também advertências não In: A. C. Carvalho & C. P. França (Orgs.) Estilos do
só pertinentes como necessárias. O uso indiscri- xadrez psicanalítico: a técnica em questão. Rio de Janei-
minado da contratransferência como instrumento ro: Imago. (pp. 21-45)

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Recebido: 16/10/2016

Aceito em: 13/02/2017

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