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NARCISISMO E ONIPOTÊNCIA: A IDEALIZAÇÃO (FRÁGIL) DA PERFEIÇÃO

QUE DESAFIA O RECONHECIMENTO DAS VERDADES PENOSAS NO PROCESSO


TERAPÊUTICO.
Silvia Regina de Souza Rojas¹

RESUMO

Cada vez mais, na atualidade, o conceito de narcisismo e a compreensão de suas defesas


psíquicas presentes no processo terapêutico, passa a ter maior enfoque, talvez isto deva-se à
demanda de pacientes com problemáticas muito relacionadas a este território. Entretanto, como
afirma Bion, em maior ou menor graus, todos apresentamos algum grau de Personalidade
Psicótica, onde o narcisismo se manifesta e precisamos compreendê-lo não só nas chamadas
patologias narcisistas, mas também nas implicações no tratamento psicoterápico e na relação
terapêutica. Este ensaio objetiva realizar uma reflexão teórico-metodológica sobre a atuação do
analista na clínica psicanalista com pacientes que estejam na posição narcisista. Com isso,
inicialmente será realizado uma formulação teórica geral acerca do narcisismo na abordagem de
Freud, Melanie Klein e Hornstein; para então discorrer sobre as características clínicas do
mesmo buscando assim, compreender a dinâmica psíquica destes pacientes no setting
terapêutico; em seguida será abordado mais especificamente o manejo técnico do psicanalista
diante de algumas formas de transtorno narcisista, assim como as particularidades que fazem da
análise de pacientes narcísicos, um desafio para a clínica psicanalítica.

Palavras-chaves: Narcisismo; narcisismo-primário; transferência; processo terapêutico

INTRODUÇÃO

Utilizamos a palavra narcisismo, no senso comum, para nos referirmos àquela pessoa
que só se preocupa consigo mesma e cuja autoimagem traz a ideia de onipotência. Mas, a
psicanálise conceituou inicialmente o narcisismo, utilizando o mito grego do Narciso, para
evidenciar, em síntese, o amor pela imagem de si mesmo. Mas, diante das apresentações do
narcisismo desde 1914 com o trabalho de Freud, Sobre o Narcisismo: uma introdução até a
clínica psicanalítica atual podemos pensar apenas em amor a si mesmo?
Dentre alguns dos diversos desafios da clínica psicanalítica, Zimerman (2009) relata
que o tema referente ao narcisismo tem ocupado notória curiosidade na literatura
psicanalítica tanto nos aspectos metapsicológicos quanto nos da teoria, técnica e prática
clínicas. O autor relata que mesmo com a expansão dos conhecimentos nessas áreas da
psicanálise, a temática do narcisismo permanece plena de ambiguidades, contradições,
obscuridades e confusão semânticas.
Este autor diz que o ser humano é o que, entre todos os seres vivos, tem mais
prolongada a duração de um estado de dependência absoluta para a satisfação de suas
necessidades básicas primárias. Esse estado é designado com o nome de neotenia.

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¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.
Gradativamente, o indivíduo vai adquirindo uma relativa diferenciação e autonomia, embora
nunca exista uma independência absoluta em relação aos demais.
Percebemos no ser humano, mesmo que muitas vezes não reconheça, o desejo de
nunca sentir angústia ou dor, de se sentir importante, de ser reconhecido, amado e atendido
incondicionalmente prontamente. Como nem sempre tais desejos podem ser atendidos, faz-
se necessário desenvolver uma capacidade psíquica para tolerar frus trações, postergar a
satisfação ou substituir anseios para que se possa usufruir a vida. Porém esta capacidade
encontra-se comprometida na mente narcísica, pois para este indivíduo, é insuportável a
ideia de não ter os desejos realizados em sua plenitude e imediatamente (BORGES,2007).
Em seu estudo, ao descrever os pacientes narcísicos, a autora afirma que tais pacientes,
não podem esperar e nem mesmo transformar suas demandas, e acreditam totalmente que
merecerem e que têm o direito de receber de seu entorno tudo que querem, como querem e
quando querem. Quando isso não ocorre, sentem o sentimento de rejeição, inferioridade e
humilhação, podendo reagir com uma fúria incontrolável. Dominados pelo ódio automático
que emerge oriundo de alguma frustração, podem se tornar agressivos. Estão quase sempre
com raiva e insatisfeitos, pois qualquer frustração é sentida como uma retaliação, uma
atitude proposital, maliciosa ou negligente do entorno, que é percebido como hostil ou
maldoso; as coisas boas que lhes acontecem ou que recebem de outra s pessoas, são dadas
como certas, tinham o direito a elas; as coisas sentidas com ruins, baseado em sua percepção,
são a prova viva da hostilidade do mundo externo.
Frente à complexidade destes pacientes e da falha primitiv a em sua constituição
psíquica, mesmo nas divergências no relativo à técnica a ser utilizada, é digna de nota a
percepção de que a complexidade do paciente narcísico exige do analista mais
disponibilidade, que não se faz só nos aspectos técnicos, mas no papel exercido pelo analista
na relação transferencial que se estabelece, com a capacidade interpretativa do mesmo,
necessitando de novas inscrições, novos significados na relação terapêutica
(DERETTI,2008). É preciso inscrever, dar figurabilidade àquilo que nunca teve vez de ser
constituído no psiquismo, como relata Botella (2000).
Malva (2005) ao falar da experiência clínica com pacientes narcisistas, refere a
ausência de identificação experimentada que tenha deixado no psiquismo um lugar, n ão
tendo havido um olhar organizador do objeto (ego). Não há ego, logo, não há identificação.
Diante disso, é evidente o enorme trabalho emocional demandado do analista, onde sendo a
quantidade e a energia psíquica requisitada para o enfrentamento das defesas narcísicas são
muito intensas. Ao aceitar tais pacientes em análise, o analista se disporá a ir ao encontro do

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¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.
que há de mais profundo e ameaçador em suas estruturas, ou seja, o contato com um ego
incipiente, frágil e que se utiliza fantasias onipotentes para se organizar diante das ameaças
que se apresentam. Desta forma, é para este cenário que os analistas são arremessados por
seus pacientes quando experimentam suas identificações projetivas, cabendo aos mesmos,
terem muito boa capacidade de continência para poderem conter, tolerar e transformar os
sentimentos negativos do paciente, e contra transferencialmente, os dele próprio.
Diante disto, este ensaio busca refletir acerca dos desafios da clínica psicanalítica no
processo terapêutico durante o tratamento dos pacientes em posições narcisistas.
Inicialmente, retomarei alguns aspectos teóricos gerais do narcisismo na obra de Freud,
Melanie Klein e Hornstein para então discorrer sobre as características clínicas do
narcisismo compreendendo assim a dinâmica psíquica destes pacientes no setting
terapêutico; em seguida abordarei mais especificamente o manejo técnico do psicanalista
diante de algumas formas de transtorno narcisista, assim como as particularidades que
fazem da análise de pacientes narcísicos, como aponta Zimerman (2009), um desafio para
qualquer psicanalista, pois mais experiência que possua.

DESENVOLVIMENTO

Formulações teóricas gerais acerca do Narcisismo: Freud, Melanie Klein,


Hornstein.

Com os estudos iniciais datados por Freud, é elucidado que o território do narcisismo
delimita o campo do infantil e da plenitude típica de um bebê. Mas, a psicanálise revela
através da observação de diversos psicanalistas, que aquilo que é da ordem do infantil
permanece ativo dentro do sujeito em todas as fases do desenvolvimento. O narcisismo,
então, faz parte da história psíquica tanto passada quanto presente , pois o inconsciente é
atemporal. Por outro lado, o modelo do narcisismo pode escravizar, fazendo com que o
sujeito fique impossibilitado de tomar as rédeas de sua própria vida e olhar pra dentro de si e
se vê dissociado do outro. No intuito de visualizar o narcisismo nestas concepções proponho-
me a revisitar as teorizações acerca deste conceito na perspectiva de Freud, Klein e
Hornstein.
As primeiras considerações sobre o narcisismo foram tecidas por Freud em 1910 sobre
o estudo realizado a respeito da infância de Leonardo da Vinci e posteriormente em 1911, ao
escrever sobre o caso Schreber. Não estando diretamente interessado em discorrer sobre o

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¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.
narcisismo, mas através de tais estudos, Freud postulou que o narcisismo seria uma fase do
desenvolvimento libidinal e sexual do homem, que se situava entre o autoerotismo e o amor
objetal. Para Freud, tanto a paranoia quanto o homossexualismo, seriam distúrbios do
desenvolvimento da libido, fruto da fixação em uma fase narcísica, o que impediria o
indivíduo de se desenvolver em direção ao amor objetal (BORGES,2007).
Somente três anos depois, datando 1914, que partindo da observação clínica das
parafrenias (observando como são megalomaníacos e tem tendencia para retirar seu interesse
do mundo externo), e das hipóteses da mobilidade da libido nesta afecção psíquica, foi que
Freud concebeu o narcisismo no plano teórico como o investimento libidinal do ego, através
da obra intitulada Sobre o Narcisismo: uma introdução. Para elucidar o fenômeno psíquico
que descreve a noção de narcisismo, Freud faz uso de um modelo atrelado a mitologia grega,
com correlação direta entre o conceito de narcisismo e Narciso.
O nascimento psíquico do homem se daria, de acordo com Freud (1914), após o
nascimento biológico do bebê, com o surgimento do ego, que aparece como uma entidade
que vai unificar as pulsões parciais e autoeróticas, formando o narcisismo primário, que é um
estado precoce de constituição do ego, onde toda a libido, fica concentrada no próprio ego.
Para o autor, se o desenvolvimento libidinal segue dentro da normalidade, as escolhas de
objeto futuras se darão segundo o modelo do primeiro amor, retratando a relação libidinal
com a mãe ou alguma figura substituta, e o sujeito poderá constituir uma relação objetal
analítica ou por apoio. Ao contrário, se a pessoa sofre algum distúrbio no seu
desenvolvimento libidinal no início da vida, as suas futuras relações objetais serão
predominantemente narcísicas, ou seja, o próprio indivíduo se tomará como objeto do seu
amor.
O desenvolvimento do ego pra Freud (ego ideal), corresponde a um afastamento
progressivo do narcisismo primário, mas por outro lado, dá espaço para uma tentativa do ego
de recuperar este estado. O ego ideal é a projeção do que ele considera ser ideal, o qual é o
substituto do narcisismo perdido em sua infância quando o indivíduo se torna adulto . Freud
então fala sobre “auto-estima”, onde uma primeira parte dela é primária, resíduo do
narcisismo infantil; uma segunda parte é fruto da onipotência adquirida através da satisfação
na realidade do ideal de ego e uma terceira que advém da satisfação da libido objetal. O
problema está no fato de que o ideal de ego, funcionando como um sensor, dificulta a
satisfação da libido por meio de objetos, sendo que podem ser rejeitados ao não
corresponderem ao ideal que se formou.

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¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.
Ao explicar que o homem inicia sua vida mental imerso no narcisismo para seu destino
natural, o das relações objetais, Freud (1914) estabelece uma linha de desenvolvimento que
vai de Narciso a Édipo. Dentro desta sequência natural, ele descreve a patologia mental em
dois níveis (edípico e narcisista), considerando que um seria analisável e o outro não.
Posteriormente, o desenvolvimento da teoria e da técnica analítica, com uma diferente
concepção acerca destes indivíduos, e o reconhecimento de outras potencialidades que
transpõem suas limitações estruturais, propiciou uma modificação substancial na maneira de
enfocar as patologias de origem narcisista, assim como a perspectiva terapêutica com estes
pacientes.
De acordo com Deretti (2008), Freud considerava a neurose narcísica como inacessível
a qualquer esforço terapêutico, considerando o narcisismo não evoluído como uma barreira
contra a possibilidade de influência pela melhor técnica analítica. Para ele, estes pacientes
não teriam capacidade para a transferência ou apenas possuiriam traços insuficientes da
mesma; a revivência do conflito patogênico e a superação da resistência devido à regressão
neles não poderia ser executado.
Segundo Hornstein (2005 apud DERETTI, 2008) o narcisismo é uma etapa da história
libidinal, de constituição do ego e das relações com os objetos , a qual integra diversas
tendências: a de fazer convergir sobre si as satisfações sem levar em conta as exigências da
realidade; a busca de autonomia e auto-suficiência com relação aos outros; o intento ativo de
dominar e negar a alteridade, assim como o predomínio do fantasmático sobre a r ealidade.
Sendo assim, o narcisismo patológico não consiste em excesso de amor próprio, mas sim em
sua falta crônica, o que origina no indivíduo o realizar esforços insaciáveis para substituir o
amor próprio pela admiração externa. O déficit narcisista produz assim um ego ameaçado
pela desintegração e por uma sensação de vazio interior.
Com tais afirmações, indagamos sobre o que leva possivelmente, uma pessoa a ficar
aprisionada na fase em que era tomada como ideal? O que deve ocorrer para que o bebê saia
deste lugar de ideal é a dor da castração. “O narcisismo é reestruturado pelo Édipo”, afirma
Hornstein (1989a, p. 156 apud GOBBI, 2008). O Eu deve sofrer uma grande modificação na
vivência edípica: transformar o Eu-ideal em Ideal-de-Eu. Um movimento psíquico que abre
possibilidades de saída da relação dual que se, por um lado, é o protótipo da completude, por
outro, também aprisiona.
Já para Melanie Klein (1952 apud BORGES, 2007), ao contrário de Freud, o ego é
uma estrutura que está presente de forma arcaica desde o nascimento do homem e está
sujeito desde muito cedo a ansiedades primitivas, sendo por esta razão, capaz de a cionar

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¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.
mecanismos de defesa e de estabelecer relações de objeto tanto na fantasia quanto na
realidade. Diferentemente de Freud, que acreditava que as relações de objeto começavam
apenas após uma fase auto-erótica anobjetal da libido e que estas aconteciam apenas dentro
dos limites do interjogo libidinal do organismo humano, para Klein (1952 apud BORGES,
2007) uma relação de objeto inclui uma gama de afetos como amor, ódio, fantasias,
ansiedades e defesas, e acontecem entre o bebê e sua mãe (ou o seio dela), desde os
primórdios da vida pós-natal. Segundo Klein (1952 apud BORGES, 2007), o narcisismo é
um fenômeno secundário e defensivo, que tem origem em uma fase primitiva do
desenvolvimento psíquico quando o ego arcaico, para se proteger de ameaças internas e
externas (reais e imaginárias), necessitava acionar poderosos mecanismos psíquicos de cisão
e projeção.
Ela afirma que isso se dá quando a criança se volta para os bons objetos internos, ao
mesmo tempo em que projeta para dentro do objeto externo seus maus objetos, anulando
assim sua existência, podendo desta forma se sentir, mesmo que na fantasia, e pelo menos
por algum tempo, protegida e independente. O narcisismo é um fenômeno psíquico que pode
ser percebido dentro de um largo espectro, que vai desde a normalidade à patologia,
dependendo em que pauta psíquica (depressiva ou esquizoparanóide) uma mente permanece
na maior parte do tempo. O narcisismo, dependendo do grau, pode tanto proteger o ego de
angústias sentidas como intoleráveis, quanto no outro extremo, dificultar o desenvolvimento
do ego, visto que este vai se desenvolvendo na medida em que consegue elaborar e lidar com
conflitos, frustrações e angústias que emergem dentro dos relacionamentos humanos.
Melanie Klein, discorre sobre a Posição Narcisista, após elucidações sobre as
passagens e oscilações existentes entre as posições esquizoparanóide e depressiva, para
melhor compreender o seu surgimento. Para ela, há duas posições, as quais estão
indissociadas da noção de objetos, podendo ser parciais com predominância na posição
esquizoparanóide e totais, que caracterizam a posição depressiva. Tais objetos também
aparecem descritos e dissociados entre “bons” (idealizados, e que, até certo ponto, exercem
uma importante função estruturante) e “maus” (figuras temidas, que exercem uma função
persecutória) como relata Zimerman (2009).

Segundo Baranger (1971 apud ZIMERMAN 2009), o conceito de


“posição”, na obra de M. Klein, alude a uma constelação de fenômenos inter-
relacionados, como: o tipo de angústia predominante em uma determinada
situação (a paranóide ou a depressiva); os mecanismos defensivos utilizados
para dominá-las; as pulsões que estão em jogo; as características dos objetos
que estão envolvidos nessa constelação; a qualidade e a intensidade das

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fantasias inconscientes ativadas; o estado das instâncias psíquicas do ego e do
superego; os sentimentos e os pensamentos do sujeito – tudo isso configurando
uma totalidade em movimento na qual nenhum fator pode ser considerado de
forma independente de todos os demais.

Segundo o autor, na clínica, os objetos internalizados nunca aparecem diretamente,


mas, sim, eles surgem intermediados mediante imagens, conceitos, recordações, angústias ou
desejos que variam indeterminadamente e que tanto estão ligados às “representações” no ego
do sujeito, como também estão embutidos nas diversas configurações das duas referidas
“posições. Também relata a importância do reconhecimento da posição narcisista na prática
clínica, visto que não é unicamente uma importante etapa no desenvolvimento de todo ser
humano; antes, ela comporta-se como uma estrutura, um modelo de relacionamento e de
vínculo, que opera ao longo de toda a vida. Ela é caracterizada por uma total indiferenciação
tanto entre o “eu” e o “outro”, como também entre os diferentes estímulos procedentes das
distintas partes do seu próprio self – ela precede a posição esquizoparanóide. De acordo com
Zimerman (2009), o principal fator diferenciador entre PEP e PN é o fato de que, na
primeira, já há um rudimento de ego a defender-se ativamente contra a vigência das pulsões
destrutivas e do pavor de aniquilamento, decorrentes da pulsão de morte (ou inveja
primária), enquanto que a PN não se constitui originalmente a partir da agressão, mas, sim,
como uma forma de assegurar e perpetuar a unidade simbiótica, indiscriminada e fusionada
com a mãe.

Características clínicas da posição narcisista

A partir da ideia de unidade simbiótica e fusionada com a mãe, pode-se imaginar um


eixo relacional, no qual, em uma extremidade há uma relação diádica enquanto na outra
extremidade há uma triagularidade na qual os indivíduos estão discriminados entre si.
Quanto mais próximo estiver o sujeito do primeiro polo, mais enrijecida estará sendo a sua
PN e, nesses casos, na situação analítica, sobressaem algumas características típica desta
posição, as quais irei discorrer de forma breve, a seguir.
Ocorre a presença de uma condição de indiferenciação, onde o indivíduo continua em
um estado de fixação ou regressão à etapa evolutiva de indiferenciação com os demais; um
permanente estado de ilusão, em busca de uma completude imaginária; uma negação das
diferenças, onde o indivíduo faz uso maciço do recurso defensivo da negação, tanto no que
se refere às diferenças do indivíduo em relação com os outros (porquanto a sua óptica é a do

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egocentrismo), como também em relação à necessidade de negar todos aspectos da realidade
que afrontem a sua imaginária completude narcísica; a presença da, assim chamada, parte
psicótica da personalidade que Bion relata estar presente em todo indivíduo em maior ou
menor grau; a persistência de núcleos de simbiose e ambiguidade nos quais existe alguma
fusão e indiferenciação com o outro, porém o sujeito pode substituir a sua insegurança e
dependência por meio de uma auto suficiência e onipotência; uma lógica do tipo binária,
onde o insucesso de uma tarefa é vivenciado na PN como sendo um fracasso na totalidade de
suas capacidades; uma escala de valores centrada no ego ideal e no ideal do ego; a existência
de identificações defeituosas, as quais são formadas por uma adesividade (o indivíduo fica
sendo uma “sombra” de um outro, não mais do que “grudado” nesse), ou por uma mera
imitação que gera um total esvaziamento do seu self ou, ainda, mais adiante no processo
evolutivo, por uma excessiva idealização, ou o denegrir do modelo introjetado; uma afanosa
busca por fetiches e objetos que assegurem indeterminadas vezes suas ilusões narcísicas; um
permanente jogo de comparações, assim como uma frequente presença de uma “gangue
narcisista”, a qual ataca e boicota o restante do self do sujeito, que , embora dependente e
frágil, está desejoso de um crescimento verdadeiro; inter-relações entre Narciso e Édipo,
onde clinicamente falando, antes do que uma disjunção alternativa, tipo Narciso ou Édipo, é
muito mais útil considerar a conjunção copulativa, tipo Narciso e Édipo, sendo que cada um
deles pode funcionar como refúgio do outro. (ZIMERMAN, 2009).
Klein (1946, p. 25 apud BORGES, 2007) observou que o ego é incapaz de cindir o
objeto, interno e externo, sem a ocorrência de uma cisão correspondente dentro dele. Deste
modo, as fantasias e sentimentos sobre o estado do objeto interno influenciam vitalmente a
estrutura do ego. Quanto mais o sadismo prevalece no processo de incorporação do objeto e
quanto mais o objeto é sentido como estando em pedaços, mais o ego corre perigo de cindir -
se em correspondência aos fragmentos do objeto internalizado.

Manejo clínico de Pacientes Narcisistas

Zimerman (2009) afirma que é mais recorrente a cada dia, o fato da Cada vez mais, a
psicanálise contemporânea conferir uma extraordinária importância à análise dos aspectos
narcisistas da personalidade de qualquer paciente, sempre levando em consideração que
todos somos portadores dos referidos aspectos em maior ou menor graus como afirma Bion
ao explanar sobre a Parte da Personalidade Psicótica, ainda que tais aspectos estejam ocultos,
dissimulados ou francamente manifestos, apresentando natureza benigna e sadia, ou maligna

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e destrutiva. Logo, por estar e demais razões discorridas até o presente momento, o manejo
técnico do psicanalista diante de alguma forma de transtorno narcisista requer uma atenção
especial, que na visão do autor, podem ser dados os enfoques abaixo listados.
No obstante ao perfil de tais pacientes, eles apresentam uma história genética com
precoces fracassos ambientais em relação às necessidades de apego da criança, quer pela
privação materna, quer por uma realimentação patológica da mesma. Em outras palavras, ou
foram mães indiferentes ou foram mães intrusivas, com uma possessividade nar cisista, de
modo que usaram seus filhos com fins exibicionistas e, em muitos casos, confor me é
observado de forma cristalina nos casos de perversões, contribuíram para que a figura do pai
ficasse sendo denegrida e em um papel de terceiro excluído, como numa espécie de
alienação parental. De forma geral, houve uma grave falha de empatia, continência materna e
da capacidade de frustrar adequadamente o sujeito em questão. Resultando assim, na
formação de um prejuízo na construção da confiança básica, da constância objetal, da
passagem da indiferenciação para a de separação e individuação e da internalização de
objetos bons, com largos “vazios” no espaço psíquico.
Também é recorrente no processo terapêutico, a percepção da existência de uma
acentuada dificuldade em distinguir entre as frustrações necessárias e estruturantes, que são
impostas por um ato de amor, daquelas que realmente foram desnecessárias e inadequadas.
Quando decepcionados segue-se o sentimento de indignação, com planos de vingança, e,
após, repetindo o modelo da época da sua infância, surge o sentimento de desânimo e de
vazio, às vezes um vazio de morte, que assume a forma clínica de um estado de
“desistência”, a qual consiste tanto em uma literal desistên cia da análise ou em uma
continuidade da mesma, porém com uma descrença na recupe ração, uma abolição dos
desejos (sendo o único desejo, o nada desejar) e um acirrado engajamento com a ideia de
morte, física e/ou psíquica (ZIMERMAN,2009).
Vale ressaltar também, que os pacientes narcisistas muito regressivos exercem pressões
de toda ordem, no sentido de desvirtuar o setting instituído e de levar o terapeuta a cometer
transgressões técnicas, fazendo uso de usar uma série de táticas conscientes e inconscientes,
tais como a coerção, ameaças, sedução, chantagem, desafios, alegação de desamparo e
ideação suicida, provocações várias, além de um sutil convite para o analista exercer um
determinado papel, que pode ir ao extremo de retirá-lo do seu lugar na situação analítica,
como que num teste de onipotência.
Em relação aos aspectos resistenciais e contra-resistenciais, Zimmerman(2009) afirma
que de forma geral, as resistências manifestas pelos pacientes são bem-vindas na análise,

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pois representam uma clara indicação de como funciona o seu self diante da vida real;
porém, com pacientes fortemente narcisistas (os portadores de uma excessiva “pele grossa” ,
aqueles que fazem uso da arrogância e agressividade), as resistências podem atingir um grau
que obstrui um acesso ao inconsciente, a ponto de tornar a análise estéril. Nesses casos, mais
freqüentemente as resistências adquirem tanto a forma de uma inversão dos papéis e lugares
que naturalmente são designados respectivamente ao analista e ao paciente, quanto dos
fenômenos que Bion (1967 apud ZIMERMAM 2009) denominou “reversão da perspectiva”
(onde o analisando desvitaliza a ação analítica porque reverte para as suas próprias premissas
tudo aquilo que o analista interpreta) e “ataque aos elos”, onde o paciente desperta
sentimentos contra transferenciais que podem deixar o analista de certo modo confuso, ou
irritado, ou impotente, etc., o que vai reduzir sensivelmente a sua capacidade interpretativa.
Segundo Hornstein (2000 apud DERETTI, 2008), para a análise de pacientes
fronteiriços e de organizações narcisistas teria que se estender o campo da psicanálise,
modificando o enquadre e o estilo interpretativo para adequar-se ao paciente, criando
condições mínimas de simbolização através da elasticidade do enquadre analítico. A
potencialidade simbolizante, além de atribuir disponibilidade afetiva e de escuta, que se faz
necessário ao analista, a qual não aponta somente para a recuperação de algo existente, mas a
produção de algo que nunca esteve, cuidando assim não só de conflitos, mas também de
carências (déficit).
É importante o analista também não se deixar envolver pelo paciente narcisista e com
ele contrair “conluios inconscientes”, de múltiplas formas, sendo as mais comuns aquelas
que estruturam um pacto de “recíproca fascinação narcisística”; o estabelecimento de uma –
disfarçada – ligação de natureza sadomasoquista; um conluio de “acomodação”, não sendo
rara a possibilidade de que algum paciente, em um alto grau de narcisismo, seja “especialista
em não mudar” e procure uma análise para provar que nem o processo analítico e, tampouco,
o analista podem com ele.
Faz-se imperativo ao analista também, possuir muito boa capacidade de continência
para poder conter, tolerar e transformar os sentimentos negativos do paciente, e contra-
transferencialmente, os dele próprio no setting terapêutico. Há momento em que o paciente
sente o analista concretamente como um objeto externo de sua fantasia e desen volve uma
transferência negativa, às vezes extremamente hostil, enquanto elege como o self-objeto bom
um cônjuge, um filho, uma carreira, uma droga, o próprio self ou qualquer outro alguém, ou
coisa, que ele possa idealizar. É fundamental que o analista estabeleça uma distinção entre
encarar o fenômeno da transferência como significando uma compulsória “necessidade de

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repetição” (conforme Freud) ou como uma “repetição da necessidade”. Partindo desse último
vértice, o analista mudará significativamente a sua atitude analítica interna, o que lhe
possibilitará perceber que, por mais turbulentas que sejam as manifestações transferenciais,
elas representam uma nova chance que o paciente lhe concede de repetir com ele – à espera
de uma resolução sadia – as suas velhas e malsucedidas experiências emocionais vividas
precocemente com seus pais. O terapeuta deverá então assumir tanto a transferência materna
–servindo, sobretudo, como um adequado continente – como também uma transferência
paterna, em cujo caso deverá impor os necessários limites e obediência às leis. Como relata
Deretti (2008), sobre a análise transferencial realizada pelo analista:

Killingmo (1989) aponta que, nestes pacientes, não só o conteúdo da


transferência é de interesse clínico, mas também aspectos formais como
coerência, diferenciação, rigidez e estabilidade da transferência são altamente
relevantes. Embora Kohut tenha trabalhado bastante a transferência narcísica,
não enfocou aspectos ao nível da organização estrutural e, ao dar ênfase em seu
trabalho ao desenvolvimento da transferência self-objeto, acabou não
explorando a questão dos impulsos e afetos, o que remete ao analista servir de
modelo para uma variação de funções do ego. Na patologia do déficit, a
conduta terapêutica não será primariamente de revelar significados reprimidos,
mas antes de assistir o ego experienciar significados em si mesmo. Não se trata
de descobrir alguma coisa, mas de sentir que alguma coisa tem qualidade de
existir (ser).

Percebe-se também, um elevado grau de desvirtuamento dos vínculos do amor, ódio,


conhecimento e reconhecimento, o qual sempre está presente nos transtornos narcisistas. No
manejo terapêutico destes pacientes em relação ao vínculo do ódio, é indispensável que o
analista localize as antigas feridas narcisísticas que estão sendo relatadas e revividas na
situação analítica, como e contra quem elas se formaram e que tipo de soluções a criança
encontrou para enfrentar as precoces frustrações, privações, perdas, abandonos e humilhações,
com o respectivo sentimento acompanhante, o ódio. Sobretudo, Zimerman (2009) crer ser
importante que o terapeuta ajude o paciente a estabelecer uma distin ção entre uma
“agressividade boa”, construtiva, que lhe permita ter ambições e desejos de avançar na vida, e
uma “agressão má”, destrutiva, resultante de uma inveja excessiva, um secreto desejo de
vingança eterna, uma imensurável volúpia pelo poder, aspectos que incrementam as pulsões
sádico-destrutivas e o levam a atropelar a tudo e a todos.
No referente aos frequentes actings proferidos pelos pacientes narcísicos, os quais são
desencadeados por problemas de separações que, embora transitórias, são vivenciadas pela
“pele fina” dos narcisistas como uma perda real, definitiva. O analista deve estar atento para
valorizar a faceta positiva, estruturante, da dor de solidão que acompanha a angústia de

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separação, já que ela propicia ao paciente uma tomada de conhecimento consciente de que ele
é uma pessoa única, separada e diferenciada dos demais, e que isso é matéria -prima para a
formação do sentimento de identidade.
De forma análoga, segundo relata Zimerman (2009), cabe ao analista apresentar ao
paciente adulto a sua parte infantil, de sorte a possibilitar um permanente diálo go entre essas
partes tão diferentes que convivem em uma mesma pessoa, sem contudo permitir os ataques
ao setting e por vezes, a aceitação de que , durante um período transitório, embora esse possa
ser de média ou longa duração, o paciente possa manter uma idealização excessiva de si
próprio, ou dele, analista, porque devido à sua necessidade vital de reassegurar a coesão do
self e de que não está desamparado, o analisando narcisista se ampara, respectivamente, no
seu self grandioso e na sua “imago parental idealizada”, transferida para o terapeuta. Isto deve
ser estabelecido sempre visando uma sucessiva e indispensável “desilusão das ilusões”, porém
a mesma deve ser gradual, com a atividade interpretativa integrando a dissolução das ilusões,
com o assinalamento concomitante de seus aspectos verdadeiramente sadios, fortificando o
ego real em detrimento do ego ideal (confronto entre o que é necessário e o que é possíve l de
ser alcançado) e, sobretudo, com o reconhecimento de seus eventuais progressos, mesmo que
esses pareçam ser mínimos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cada vez mais, na atualidade, o conceito de narcisismo e a compreensão de suas defesas


psíquicas presentes no processo terapêutico, passa a ter maior enfoque, talvez isto deva-se à
demanda de pacientes com problemáticas muito relacionadas a este território. Entretanto, como
afirma Bion, em maior ou menor graus, todos apresentamos algum grau de Personalidade
Psicótica, onde o narcisismo se manifesta e precisamos compreendê-lo não só nas chamadas
patologias narcisistas, mas também nas implicações no tratamento psicoterápico e na relação
terapêutica.
Na evolução teórica, salta-me aos olhos a genialidade e brilhantismo de Freud em
desafiar uma geração e propor novos enfoques e olhares para o que se apresentava na época.
Ainda que com alguns conceitos dignos de serem revisitados e reconfigurados para que a
correlação do termo “perversão”, “homossessualismo” e “narcisismo libidinal” não gere
segregação na sociedade, continuo admirando a flexibilidade de reformular seu posicionamento
teórico e comprometimento com a clínica psicanalítica na época.

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¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.
Os paciente na posição narcisista, por ter uma formação egóica incipiente, exigem um
analista com alta capacidade de continência, que seja firme na manutenção do setting, alta
capacidade interpretativa e que diante dos aspectos transferenciais e contra transferenciais,
possa estar “terapeutizado” pra perceber as identificações projetivas e não ser confundido pela
reação terapêutica negativa. Tal terapeuta, realizará o papel de “ambiente” como relata
Winnicott, e portanto, viverá junto com o paciente, se este caso permanecer e se permitir ser
permeado pela angústia de revisitar cenários de falhas precoces ambientais e pouco a pouco,
mesmo diante de regressões, se permitir ter expansão psíquicas e transformar elementos
totalmente betas, em alfa, através do emprestar da capacidade de pensar do analista.
Diante deste grande desafio para a clínica psicanalítica, de ajudar o paciente a transitar da
posição esquizoparanóide para a depressiva e não se envolver nos conluios mentais que serão
propostos pelo mesmo, auxiliando-o no desenvolver de mecanismos psíquicos que sabotem as
gangues narcísicas que tão avidamente, querem que o falso self se expanda mais e mais,
aniquilando qualquer menção de aflorar o verdadeiro self e percepção de objeto total no
paciente.
Acredito que colaborar com o processo de amadurecimento psíquico destes pacientes,
seja de extrema relevância e o papel que o analista assume, é fator primordial neste processo,
visto que como já foi mencionado, tais paciente apresentam uma inabilidade de formar vínculos
afetivos verdadeiros e lidar com suas frustações do cotidiano. O analista então apresenta o
“ambiente” pelo qual tal indivíduo poderá experimentar pela primeira vez satisfação ao
reconhecer e aceitar o fato de que estes aspectos mais dolorosos e desprazerosos da vida
existem e sempre o acompanharão, podendo através do processo terapêutico, vir a descobrir
que junto tais cenários trágicos também vêm outros sentimentos gratificantes como o amor, o
companheirismo, a realização e a esperança.
Como pontua Hornstein (1989b apud GOBBI,2008) temos que “fazer a psicanálise
trabalhar” através de um retorno aos autores clássicos e da leitura dos autores contemporâneos .
E ouso acrescentar, também através de grupos estudos estabelecidos pelo país, onde o discorrer
sobre a prática clínica é uma constante, além de uma boa supervisão da prática terapêutica no
intuito de com novos olhares, novos horizontes serem trilhados e com isso, pensar o
pensamento com pensador.

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¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.
REFERÊNCIAS

BORGES, Adriana Chaves; MIGLIAVACCA, Eva Maria. Sobre o narcisismo: um estudo


teórico clínico numa perspectiva psicanalítica. 2003 .

BORGES, Adriana Chaves; MIGLIAVACCA, Eva Maria. O narcisismo e a interferência deste


fenômeno psíquico nos processos mentais. Mudanças-Psicologia da Saúde, v. 15, n. 1, p. 32-
40, 2007.

BOTELLA, César; BOTELLA, Sára. O inacabamento de toda a análise–o processual: introdução


à noção de irreversibilidade psíquica. Psicanálise–Revista da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 17-43, 2000.

DERETTI, Luciana. A transferência no paciente narcisista. Contemporânea-Psicanálise e


Transdisciplinaridade, p. 212-223, 2008.

FREUD, Sigmund. Sobre o narcisismo: uma introdução. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 14, p. 85-119, 1914.

GOBBI, Adriana Silveira. O narcisismo na clínica contemporânea. Contemporânea, Psicanálise


e Transdisciplinaridade, v. 6, n. 1, p. 24-35, 2008.

HORNSTEIN, Luis. Intersubjetividad y clínica. In: Intersubjetividad y clínica. 2005. p. 272 p.-
272 p.

MALVA, Maria de Fátima Rebouças. O narcisismo na relação analítica: experiência básica de


ruptura. Revista Brasileira de Psicanálise, p. 47-58, 2005.

ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica, clínica–uma


abordagem didática: teoria, técnica, clínica–uma abordagem didática. Artmed Editora,
2009.

ZIMERMAN, David E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Artmed Editora,


2009.

14
¹ Discente do Curso de Psicologia da UFAM.

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