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COORDENAÇÃO
Tereza Dubeux
“Se não somos capazes de perceber que há um certo
grau, não arcaico devendo ser posto em algum lugar
no nível do nascimento, mas estrutural, no nível do
qual os desejos são, propriamente falando, loucos, se
para nós o sujeito não inclui em sua definição, em
sua articulação primeira, a possibilidade da estrutura
psicótica, então não passaremos nunca de alienistas.”
2 de maio de 1962
“Não é louco quem quer”. Lacan
escreveu este enunciado na sala
de plantão e, ele pode ser lido
como “Só é louco quem pode”.
Introdução
•Estas frases lacanianas prenunciam a postura
psicanalítica diante da loucura: abordar a psicose
como algo específico e determinado, que tem sua
lógica e seu rigor.
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§ Segundo Freud, a esquizofrenia é uma entidade
clínica que se distingue, no interior do grupo das
psicoses, por uma fixação numa fase muito precoce
do desenvolvimento da libido; por caracterizar-se por
uma desarticulação das diversas funções psíquicas e
por um mecanismo particular de formação dos
sintomas:
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§A esquizofrenia não é um
conjunto de sintomas. Ser
esquizofrênico é mais do que ter
esquizofrenia. A esquizofrenia
se mantém um passo adiante do
esquizofrênico, que se sente
vítima passiva do que lhe
acontece, os seus sofrimentos
lhe parecem vir do exterior.
Alguns tipos de Psicose - Esquizofrenia
§ A esquizofrenia não é um estado de coisas, é a irrupção de um dizer que
se mantém sempre um passo adiante de tudo o que o esquizofrênico
exprime, e sempre marca um passo adiante de tudo que dele pode ser
dito. Esse passo adiante é, nesse caso, a própria estrutura: a
esquizofrenia é um distúrbio da emergência, um excesso incontrolável
de um dizer anárquico, que não pode se apoiar num dito.
•É também um “não foraclusivo” que furta a superfície de inscrição sob
cada inscrição a vir. Esse não antecipado é a recusa de Freud ou a
foraclusão de Lacan. Trata-se de uma incapacidade de impor um não
pensamento no lugar do pensamento.
Alguns de Psicose - Esquizofrenia
Esses cinco traços definem o que Lacan vai chamar de relação imaginária,
nem simbólica, nem real. No entanto, acontece que o último traço é
deficiente: há inclusão com captura da imagem do outro, mas a exclusão
recíproca está ausente. Psicose sem delírio ou pré-psicose?
Paranoia - Perspectiva Lacaniana
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● Para Lacan, a mania é um pecado mortal, uma
covardia, no sentido de significar ceder em seu
desejo de saber, de saber sobre o inconsciente
que determina o sujeito.
● É um pecado contra “o dever de bem dizer, ou
de referenciar o inconsciente, na estrutura”; é
pecado contra o dever freudiano que convida o
sujeito à coragem da verdade, segundo este seu
enunciado: “Ali onde isso era, o eu deve advir”.
● A mania é mortal no sentido estrito da palavra já
que pode levar à morte.
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Psicose Maníaco-Depressiva
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● É, com frequência, questionado se a melancolia seria
uma psicose autônoma ou uma fixação na fase
depressiva de uma PMD.
● • Na mania, o sujeito lida com a exigência paterna no
Real. O encontro com esta exigência vale para produzir
significação para o sujeito tanto mais quanto mais a
exigência se manifesta como implacável. Este encontro
pode ser pensado como a busca de um referencial que
lhe dê sustentação.
● Na melancolia, o sujeito se identifica ao objeto da
demanda do Outro, mas sua entrega ao gozo do Outro
é identificatória e não alucinatória.
● A mania foi abordada pela psicanálise em suas relações com a
melancolia: uma e outra dependeriam de “ um mesmo processo ao
qual o eu sucumbiu às pressões do superego na melancolia, ao passo
que, na mania, o dominou ou o afastou.” (Freud, “Luto e
Melancolia”).
● Ele considerava a mania como uma defesa contra a melancolia, em
que confluíram o eu e o ideal do eu, ocasionando uma imagem de
triunfo do ego sobre o superego.
● Freud descreve o estado de humor maníaco, no plano do afeto, como
uma alegria e um júbilo aparentemente não motivados e, no plano
da conduta, como uma suspensão de qualquer inibição.
● A tese freudiana faz da mania o simétrico da
melancolia: o luto, referindo-se à tristeza
melancólica e a festa, à euforia maníaca. Assim, o
júbilo da transgressão torna-se a chave da
mania, tal como a dor da perda, a da melancolia.
● A festividade maníaca é concebida pela a
exclusão da censura, em prol da afirmação
narcísica e triunfante das exigências pulsionais.
● O toque jubilatório da alegria maníaca não pode
ser explicado apenas pela satisfação pulsional.
Por exemplo, a transgressão metódica de Sade
não é alegre, é sombria,
● Para Freud, o júbilo maníaco seria efeito da
eliminação do gasto psíquico exigido pelo
recalque, convertendo-se em afeto a energia
liberada.
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Histórico
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● Essa fala só parece festiva e despreocupada,
assim como desorientada, por estar livre das
restrições da semântica, emancipada do real
que entra em jogo na gramática.
● No seu seminário sobre a angústia, Lacan
falou na não função do objeto a que está
implícito na constituição de qualquer
mensagem. Ele é o real que está em jogo na
gramática. Se a língua é a condição do sentido,
o objeto é a sua causa.
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● A linguagem humana implica um movimento de retroação para o
encontro da significação. A linguagem maníaca baseia-se na
antecipação sem voltar para uma formulação do sentido.
● Há uma diferença entre esse tipo de retorno no real e o que se
passa no modelo usado na alucinação.
● Na mania, não é possível dizer que, o nome do seu ser de gozo lhe
retorna no real do xingamento ouvido, nem tampouco, por outro
lado, que ele dispersa no delírio. Esse nome se dispersa no infinito
da linguagem que o perpassa, no automatismo dos signos do qual
ele é marionete. Falta-lhe o significante mestre, como referência, e
a metonímia, como lugar da deriva do mais-de-gozar.
● O ataque no nível do discurso também é um ataque da regulação do
gozo. A excitação maníaca é um exemplo disso, pois ela não é apenas
um desenfrear da fala e uma desordem da historicidade, mas
também o abalo da homeostase do ser vivo, que reduz as
necessidades vitais do corpo, que o torna infatigável, insone, movido
por uma vida paradoxal que o leva à morte, com tanta certeza
quanto o suicídio melancólico.
● A linguagem certamente perturba o corpo vivo, afetando o seu gozo,
negativizando-o, mas o discurso também o regula, sobretudo
quando o Nome-do-Pai está no seu lugar.
● A excitação maníaca é o gozo que não é regulado pela função fálica
e, no qual, o um do corpo é obsedado pelos múltiplos uns da
linguagem no real, até que, depois da morte do sujeito, siga-se a
morte do ser vivo.
● É possível reconhecer no maníaco o afeto fronteiriço que surge
para um sujeito reduzido a seu vazio pelo destacamento das
identificações na articulação de afastamento com um objeto, que é
reduzido pelo processo de idealização, e em processo de ser
evacuado.
● Diferentemente das condições normais do humor, o maníaco vive
um triunfo completo sobre a castração, ignorando os
constrangimentos do imaginário (o sentido), e do real (o
impossível).
● Cumpriria, assim, na ordem simbólica, uma relação
bem sucedida com o Outro, por meio de uma
consumação desenfreada, tornada possível pela
riqueza inesgotável de sua nova realidade. No entanto,
esta relação surge mais como uma devoração pela
ordem simbólica do que uma apropriação das
satisfações de um festim.
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Histórico
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▪ A psicose de Schreber desencadeou-se em 1893
quando ele foi nomeado presidente da Corte de
Apelação, apesar de sua doença ter começado nove
anos antes, quando foi hospitalizado pela primeira
vez. Esta crise foi diagnosticada como hipocondria
grave. Recuperado, demonstrou imensa gratidão
pelo Doutor Flechsig, que o havia tratado.
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▪Schreber ficou internado numa casa de saúde até
1902, quando entrou na justiça para não ser
interditado a escrever seu livro. O julgamento que
lhe deu liberdade contém o resumo de seu sistema
delirante: “Ele se considerava como chamado a
salvar o mundo, devolvendo-lhe a felicidade perdida,
mas só poderia fazê-lo, depois de se transformar em
mulher.”
141
▪Observando que o perseguidor apontado, o doutor
Flechsig, tinha sido antes objeto de amor de
Schreber e de sua esposa, Freud situa, na origem da
doença, a hipótese de uma crise de
homossexualidade. Apóia-se no fato de que o doutor
Flechsig fôra, para o paciente, um substituto de seus
objetos de amor infantis: o pai e o irmão, ambos
falecidos.
▪ Na explosão do delírio, o fantasma dos desejos por
esses objetos infantis, transformaram-se em
conteúdo de perseguição.
142
▪Os desenvolvimentos teóricos de Freud definem o
ponto fraco dos paranóicos na fixação na fase do
auto-erotismo, do narcisismo e da
homossexualidade.
143
▪Para Freud, os psicóticos possuem uma libido
voltada essencialmente para o próprio corpo. De
modo geral, a libido é sublimada nas relações
sociais, mas é algo perigoso para o psicótico que,
sempre fora de si, não tem de lidar senão com uma
duplicação de si mesmo, que ele desconhece.
144
▪A análise lingüística que Freud fez sobre o caso,
mostra três formas de contradizer a proposição: a
contradição do sujeito, do verbo, e do objeto.
▪ Por exemplo, o delírio de perseguição opera uma
inversão do verbo: “eu não o amo, ele me odeia, eu o
odeio porque ele me persegue”;
▪ Na erotomania, o objeto é recusado :” não é ele que
eu amo , eu amo ela”, que se transforma em “ é ela
que eu amo porque ela me ama”;
▪No ciúme delirante, o sujeito não é reconhecido,
transformando a proposta em “não sou eu que amo
o homem, é ela que o ama”.
145
▪Freud acrescenta ainda que a proposição pode ser
rejeitada em bloco: “eu não amo ninguém, eu amo
apenas a mim”, tratando-se, então, de um delírio de
grandeza, típicos tanto da paranóia quanto da mania.
▪Foi neste contexto que Freud fez uma observação
extremamente importante de que aquilo que havia
sido abolido do dentro, retorna de fora.
146
▪A perda da realidade, observada em ambos os
quadros, seria um dado de partida da psicose, sendo
melhor dizer que um substituto da realidade ocupou
o lugar de alguma coisa foracluída, ao passo que na
neurose, a realidade é reorganizada em um registro
simbólico.
▪É possível pensar um fio condutor que impulsionava
Schreber e que define a função da doença:
tratava-se, para ele, de atingir 3 objetivos correlatos:
1. dar sentido a uma experiência de
desmoronamento que, a princípio, deixou-o
aniquilado;
147
2. descobrir um vínculo possível com o outro, alí
onde este parecia ter desaparecido; e
▪3. restabelecer uma forma de temporalidade, ali onde
o abismo extra temporal o deixara como morto.
148
▪O problema teórico a ser resolvido por Freud é
esclarecer os vínculos entre os mecanismos de
projeção e recalcamento, pois, para Freud, na
economia da paranóia, é recalcada uma percepção
interna, chegando em seu lugar uma percepção
vinda do exterior.
▪ A questão do mecanismo específico da psicose fica
ainda em aberto.
▪ Apoiando-se na convicção delirante de Schreber da
iminência do fim do mundo, convicção freqüente na
paranóia, Freud julga que o recalque consistiria
numa retirada dos investimentos libidinais feitos
sobre objetos antes amados e que a produção
mórbida delirante seria uma tentativa de
reconstrução desses mesmos investimentos, espécie
de tentativa de cura.
149
▪Esses foram os principais mecanismos identificados por
Freud na paranóia: a projeção, em que uma percepção
interna vem de fora como percepção externa, mas
também deturpada, o recalcamento e o narcisismo.
▪ Embora, num primeiro momento, Freud considerasse a
projeção como o mecanismo formador da paranóia, este
mecanismo não tem como ser suficiente para
especificar o campo das psicoses.
▪ Na verdade, os mecanismos projetivos encontram-se
em todas as configurações, patológicas ou não, ainda
que seja possível perceber na paranóia um caráter
particularmente cego na imputação ao outro do que é
próprio.
150
▪Freud pôs à prova o mecanismo central das neuroses, o
recalcamento. No entanto, sua teoria do recalcamento
não se aplicava do mesmo modo à paranóia. Ele
construiu uma teoria que misturava recalcamento e
narcisismo.
▪ Na paranóia, o recalcamento consistiria num
desligamento da libido e no retorno dessa libido para o
eu. Freud insistiu na fixação narcísica, que
desempenharia o papel de um movimento que atrairia a
libido que ficou livre para o eu. É esta fixação narcisista,
aliada ao seu retorno da libido para o eu, que daria
lugar à ampliação ilimitada do eu. O delírio
megalomaníaco seria uma se suas expressões clínicas.
▪ Trata-se, nesse caso, de um eu que não leva em conta a
realidade, o outro, de uma espécie de eu auto-gerado.
151
▪ A catástrofe que rompe o vínculo com o outro, que
obriga a responder, a encontrar um sentido, é a
retirada da libido. Freud esclarece que essa retirada
não elimina o mundo externo, mas o despoja de
interesse libidinal. Schreber continua a ver os
outros, mas eles já não passam de sombras de
homens “feitos às pressas”.
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O tratamento das Psicoses
O TRATAMENTO DAS PSICOSES