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Eliane Mussel da Silva

Pontuações sobre a psicose atual


Eliane Mussel da Silva

Resumo
Proponho neste artigo estabelecer alguns elementos teóricos que permitam pensar nas psicoses
atuais com suas experiências discretas e certezas comuns contrapondo-se às psicoses extraordiná-
rias com suas experiências de invasão do Outro. Para tanto, recorremos ao texto De uma questão
preliminar a todo tratamento possível da psicose, de Lacan, para dar conta dessa clínica diferencial.

Palavras-chave: Psicose extraordinária, Psicose atual, Foraclusão do significante Nome-do-Pai,


Ausência da significação fálica.

Primeira pontuação: psicoses atuais desencadeamento da crise psicótica, não


Não podemos nos furtar à constatação de sucumbem à dissolução imaginária, à vi-
que as mudanças sofridas na atualidade vência de fim de mundo por conseguirem
e verificadas a partir de seus efeitos no rapidamente alcançar um reequilíbrio me-
sujeito contemporâneo devem ser con- diante as estabilizações ou suplências; há
textualizadas no âmbito da psicose, que aqueles cujas crises passam despercebidas
também sofreu alterações. por serem muito atenuadas e breves; há
No território das psicoses convivem outros que fazem bom uso da dissimulação
sujeitos muito transtornados com suas e da ocultação, lançando mão de uma
experiências de invasão do Outro, com defesa voluntária que os coloca longe dos
vivências de fim do mundo e suas certezas dispositivos de atenção à saúde mental; há
ao lado de sujeitos mais normalizados, os que são medicados; há os que apresen-
com experiências discretas e certezas co- tam estados clínicos superpostos como os
muns. Se não temos tantas dificuldades transtornos do apetite, a toxicomania, os
no estabelecimento do diagnóstico dos fenômenos psicossomáticos.
psicóticos clássicos, temos que reconhecer Enfim, são sujeitos que encontraram
as dificuldades para o diagnóstico das psi- mesmo que de forma precária uma saída,
coses atuais. Primeiro, porque as psicoses uma solução que permite um apazigua-
normalizadas ou atuais constituem um mento frente à invasão do Outro, seja por
grupo muito heterogêneo na literatura causa das identificações imaginárias, das
psicanalítica e depois pela confusão nas passagens ao ato, da obra, seja por causa
nomeações. do trabalho de construção simbólica,
A partir da literatura existente e da como proposto pelas leituras freudiana e
nossa clínica, podemos trabalhar com lacaniana acerca da metáfora delirante do
a hipótese da existência de dois grupos presidente Schreber. O que existe em co-
de manifestações clínicas da psicose na mum no grupo é o fato de que todos esses
atualidade. sujeitos poderão apresentar uma psicose
No primeiro grupo incluímos os su- declarada e devem ser pensados a partir da
jeitos psicóticos que nos chegam e que primeira formalização a respeito da psicose
ainda não apresentaram uma crise psicó- em Lacan, que tem como paradigma o
tica (pré-psicose); outros que, apesar do caso Schreber.
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Pontuações sobre a psicose atual

No segundo grupo observamos qua- uma desordem na maneira como o sujeito


dros decorrentes das transformações do sente o mundo que o rodeia, vivido ou
discurso do mestre na contemporaneidade como uma desconexão social, um desliga-
com a promoção de novos laços sociais que mento do mundo dos negócios, trabalho
implicam novas composições psíquicas e ou outros, ou através de uma identificação
com a formação de novos sintomas. Pode- social, de uma identificação intensa com
mos aqui destacar a modalidade de apre- o ofício do sujeito, onde este significaria
sentação da psicose denominada psicose “[...] bem mais que um trabalho ou uma
ordinária por autores ligados ao campo maneira de viver”; a desordem em rela-
freudiano, a saber, formas normalizadas ção ao corpo que é vivido como o Outro
da psicose. para o sujeito e a externalidade subjetiva
Querelas à parte, apostamos com que traz a “[...] experiência do vazio, da
Graciela Brodsky ([2009] 2011, p. 47) que vacuidade”.
são psicoses que diferem completamente Dois grupos distintos de manifestações
das psicoses anteriormente descritas por da psicose que nos remetem a diagnósticos
serem caracterizadas pela ausência de diferenciais, e principalmente a direções
desencadeamento. de tratamento diferentes.
Dentro dessa mesma perspectiva Jac-
ques-Alain Miller nos diz que Segunda pontuação:
o sujeito contemporâneo
[...] há psicoses adormecidas, como O sujeito contemporâneo chega ao nosso
existem espiões adormecidos, que jamais consultório com uma pergunta muito
acordarão. Há diferenças entre as psicoses clara: quer saber o que ele é: bipolar,
que podem ser desencadeadas e as que depressivo, ansioso, fóbico, etc. É uma
não podem (Miller, [2009] 2010, p. 23). pergunta relativa ao que eu sou a partir
de um transtorno, de uma norma. As
O que podemos dizer das psicoses na perguntas fundamentais do sujeito ao
atualidade, que denotam uma nova moda- Outro, que nos remetem à falta-a-ser, dei-
lidade de apresentação clínica na qual os xam de existir, colocando em evidência a
sintomas clássicos não se fazem presentes inconsistência do Outro e a mutabilidade
como as alucinações e os delírios? Não do simbólico.
apresentam o desencadeamento clássico O sujeito se vê, dessa forma, desorien-
das psicoses? Se entendermos que a apre- tado frente à multiplicidade de serviços e
sentação dos sintomas é fruto de cada produtos que se apresentam a ele. E na
época, podemos interrogar quais foram ausência de significantes norteadores, o
as mudanças socioeconômicas e ideoló- sujeito aparece dirigindo suas próprias
gicas ocorridas na contemporaneidade identificações. Identificações imaginárias,
que contribuíram para o surgimento de que operam muitas vezes de forma pre-
novas modalidades de subjetivação, bem cária, outras vezes restituindo o sentido.
como podemos teorizar novos elementos Prova disso é o Movimento Pós-Psi-
orientadores para o diagnóstico da psicose. quiátrico, que surgiu na Holanda há cerca
A sintomatologia presente nas psi- de duas décadas e que vem sendo levado
coses atuais é discreta, caracterizada por adiante por um grupo de pacientes que
uma desordem provocada na junção mais apresentam quadro alucinatório e não ob-
íntima do sentimento de vida do sujeito, tiveram resultado algum com a terapêutica
a partir de uma tripla externalidade, de medicamentosa e psicoterápica, bem como
acordo com Miller ([2009] 2010): a social, pessoas que nunca buscaram tratamento
corporal e a subjetiva, ou seja, observamos psiquiátrico.
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O que há em comum nesse grupo Se o discurso do mestre moderno


é o fato de que todos os indivíduos são sustentava a prevalência da solução psi-
incrédulos em relação aos possíveis bene- cótica pela metáfora delirante, o discurso
fícios que poderiam obter com o uso de do mestre contemporâneo, a saber, o dis-
medicações, e incrédulos em relação às curso da ciência divide a figura do Outro
explicações dadas pela psiquiatria sobre o em uma diversidade de insígnias. Logo, a
funcionamento do sistema nervoso central resposta que constatamos na clínica é que
(SNC) e dos neurotransmissores. os psicóticos contemporâneos tratam esse
Um dos primeiros grupos surgiu com S1 isolado em seus efeitos de gozo e não
uma mulher que tinha alucinações verbais mais buscando rearticulá-lo a uma cadeia
e não respondia a neurolépticos, e pediu a partir da criação de um S2, de uma me-
a uma jornalista amiga que comentasse táfora delirante.
na televisão a sua experiência. Logo após De um trabalho com a psicose tendo
a entrevista mais de cinquenta pacientes como horizonte a construção da metáfora
que alucinavam se manifestaram por te- delirante nas psicoses clássicas ou extraor-
lefone, levando à formação de um grupo dinárias, hoje vemos o trabalho do sujeito
denominado Ressonância. na busca de construir uma referência para
Hoje em dia há mais de 180 desses si, ao recolher algo do Outro social que lhe
grupos em países como Holanda, Escócia, permita uma nomeação, tornando mais
Gales, Inglaterra, Estados Unidos, etc., to- relativizada sua relação com o Outro.
dos ligados em rede (na internet com o site
<www. hearing-voices.org>), onde tro- Terceira pontuação: um pequeno
cam e discutem suas experiências de ouvir percurso histórico clínico da psicose
vozes e ter visões, usando um enquadre A preocupação em delimitar as fronteiras
não médico, com grupos de autoapoio. Os da loucura ocorre desde o nascimento da
grupos realizam suas próprias explicações a psiquiatria no século XIX, na França. Com
partir do intercâmbio de suas experiências Kraepelin surgem as primeiras descrições
singulares, o que permite, segundo os auto- e classificações das doenças mentais, utili-
res, que os pacientes obtenham um sentido zando o critério evolutivo como elemento
a partir de uma identificação imaginária: ordenador de sua classificação.
a Rede dos Escutadores de Vozes. Desde a sua primeira nosografia,
Sem dúvida, são casos únicos que Kraepelin esteve às voltas com uma gran-
expressam a resistência dos sujeitos aos en- de questão: Como incluir determinados
quadramentos e às classificações comuns quadros clínicos da psicose que diferiam
no discurso dominante da ciência, que es- sobremaneira dos quadros clássicos como
craviza o sujeito a um saber que ex-siste a a esquizofrenia, a paranoia e a melancolia
ele mesmo. Diante do impossível de tratar, ou por questões etiológicas, ou pelas ma-
encontraram uma solução contingente, nifestações sintomatológicas, ou pelo tipo
a Rede dos Escutadores de Vozes, que de evolução?
funciona como um aparelho suplementar Tratava-se de psicoses de formas
à foraclusão, para alguns. atenuadas, rudimentares e parciais da
As psicoses discretas ou normalizadas loucura já descritas por autores clássicos
encontradas na atualidade se caracterizam como o delírio parcial de Esquirol e Pinel,
segundo Laurent (apud Brousse, [2008] também denominado loucura racional
2009, p. 5) pela não resposta aos signifi- ou loucura parcial dos autores alemães; a
cantes mestres tradicionais, manifestando forma simples e a latente da esquizofrenia
o fim do poder do Nome-do-Pai enquanto bleuleriana e a loucura lúcida de Trélat
único significante da lei simbólica. citada por Alvarez (Alvarez, 2008, p. 53).
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Frente ao impasse duas foram as posi- nomes para as novas modalidades de apre-
ções assumidas pelos diversos autores da sentação das psicoses, que estão cada vez
psicopatologia clássica: uns como Falret mais frequentes em nossos consultórios.
negaram a existência das psicoses com O que existe em comum nessa plu-
sintomatologia discreta; outros como ralidade de nomeações presentes nas
Bleuler as incluíram em alguma das gran- publicações as mais heterogêneas possí-
des categorias existentes de forma a não veis é o fato de novamente podermos nos
desmantelar os modelos psicopatológicos perguntar sobre os limites, as fronteiras
existentes. que separam a loucura da normalidade, a
Talvez por terem sido rejeitadas por psicose da neurose.
diversos autores, encontramos uma escas- Como no passado, os analistas na
sez de referências bibliográficas em relação atualidade também se dividem em duas
às psicoses normalizadas, ou seja, esses posições: de um lado, os partidários de
sujeitos cuja vida “[...] corre por caminhos um continuum, do delírio universal, dos
mais movimentados e caminham com núcleos psicóticos presentes em estágios
um passo semelhante à maioria de seus arcaicos da constituição subjetiva e, de
contemporâneos” (Alvarez, 2008, p. 53). outro lado, os que afirmam as diferenças
Nas duas últimas décadas, nos diver- estruturais irredutíveis.
sos cenários seja da clínica psiquiátrica, Sabemos que, independentemente
seja da clínica da clínica psicanalítica, a do campo teórico em que se está traba-
antiga problemática retorna: quais seriam lhando, quando se trata de um sistema
os limites, as fronteiras que separam a classificatório, é necessário incluir a classe
loucura da normalidade? O que distingue dos inclassificáveis como uma exigência
a psicose da neurose? Existem fronteiras? lógica. Porém, Bogochvol (2007, p. 41)
Como diagnosticar os loucos normaliza- adverte que o inclassificável resulta de
dos? Como classificá-los? uma dificuldade de classificar – que pode
A psicofarmacologia tenta ampliar o decorrer tanto do fato de se operar com
número de consumidores de neurolépticos determinado sistema classificatório quanto
e de outros psicofármacos abrindo a possi- de limitações inerentes ao próprio sistema.
bilidade de que pacientes jovens e supos- As dificuldades encontradas na
tamente candidatos ao desencadeamento atualidade para o estabelecimento do
de uma psicose utilizem precocemente diagnóstico desses quadros psicóticos com
medicamentos com o objetivo de prevenir sintomatologia discreta decorrem – a nos-
possíveis loucuras no futuro. so ver – de limitações inerentes ao próprio
Do ponto de vista dos manuais como sistema classificatório do ponto de vista
o DSM e do CID, onde se busca uma do campo psiquiátrico e da necessidade
classificação dos transtornos mentais de de trabalharmos com novos elementos
forma teorética, segundo seus autores, que possam nos orientar para o estabeleci-
nos deparamos com os diagnósticos de mento do diagnóstico da psicose na teoria
transtorno de personalidade borderline, psicanalítica.
transtornos psicóticos não especificados A clínica da psicose em Lacan pode
utilizados para determinados pacientes ser teorizada a partir de três momentos:
que apresentam uma sintomatologia que • A teoria da foraclusão do Nome-
foge aos critérios para diagnóstico das do-Pai. Nos anos 1950, com o Seminário 3:
categorias nosológicas clássicas dentro do as psicoses ([1956] 1985) e o texto De uma
campo da psicose. questão preliminar a todo tratamento possível
Na literatura psicanalítica, desde a dé- da psicose ([1957-1958] 1998). Aqui, nesta
cada de 1990, proliferam os mais variados primeira formalização, o objeto de inves-
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tigação teórica é a psicose desencadeada. Nesse paradigma trabalhado por Lacan no


Parte do axioma do inconsciente estrutu- Seminário 22: RSI (1974-1975) e no Semi-
rado como uma linguagem e tendo como nário 23: o sinthoma (1975-1976), trata-se
paradigma as formações do inconsciente de uma clínica da suplência, ou não, à falta
na neurose, constrói uma clínica binária, do Outro. Trata-se de uma clínica conti-
descontinuísta, pautada na presença nuísta ou borromeana, caracterizada pela
(Behajung) ou ausência (Verwerfung) foraclusão generalizada e pelas diferentes
do significante Nome-do-Pai. Após o formas de suplência, isto é, os arranjos
desencadeamento da psicose teríamos singulares de cada sujeito com seu gozo,
que pensar as estabilizações possíveis de como o sujeito é capaz de fixar o gozo.
também denominadas saídas ou soluções, Partindo desses elementos ordena-
a saber, formas de apaziguamento frente dores da clínica, admitimos de forma
à invasão do gozo, como a passagem ao consensual que a fragmentação corporal
ato, um trabalho de construção simbólica, da esquizofrenia, a indignidade do melan-
como proposto pelas leituras freudiana e cólico e a autorreferência do paranoico são
lacaniana acerca da metáfora delirante dimensões de experiências singulares, que
do presidente Schreber, e uma estabili- convencionamos chamar de psicose, nos
zação precária a partir da identificação alertando para a maneira como a loucura
imaginária que forja um eu imaginário compromete a linguagem, o corpo, o gozo
para o psicótico. Momento clínico de e o vinculo social. Mais quais seriam os
um trabalho com a psicose que podemos elementos indicativos na clínica de um
denominar ‘a construção de uma ficção quadro de psicose ordinária?
o delírio’.
• A formalização do objeto a e os me- Tempo de concluir:
canismos de sua extração. No Seminário instante de compreender
11 Lacan ([1964] 2008) conclui que, na Acredito que teríamos que pensar as psi-
constituição da realidade além do imagi- coses atuais a partir da leitura do texto De
nário e do simbólico, intervém o registro uma questão preliminar a todo tratamento
real. É no jogo dialético com o Outro da possível da psicose em que Lacan ([1957-
linguagem, que o sujeito vai se constituin- 1958] 1998, p. 564) nos aponta duas
do através de distintas operações. Porém, articulações:
há um resto não especular que não é nem
simbólico, nem imaginário, que ele cha- A Verwerfung será tida por nós, portan-
ma de objeto a e tem uma consistência de to, como foraclusão do significante. No
vazio ligado ao que Freud denomina de ponto em que, veremos de que maneira,
objeto pulsional. A extração do objeto a é chamado o Nome-do-Pai, pode, pois,
sustenta o campo da realidade. Em 1966 responder no Outro um puro e simples
já menciona algo sobre a oposição entre o furo, o qual, pela carência do efeito meta-
sujeito do significante e o sujeito do gozo. fórico, provocará um furo correspondente
O sujeito do significante é exatamente no lugar da significação fálica.
aquele representado por um significante
para outro significante; e o sujeito do gozo Ou seja, estabelece que o transtorno
aparece com um significante apenas. no nível imaginário (significação fálica=-
• Teoria dos nós e o sinthoma. Com zero) é efeito da foraclusão do Nome-do
a introdução do conceito de objeto a e do -Pai (Po).
sujeito do gozo Lacan retoma a clínica da Mais adiante Lacan rompe com a
psicose para pensá-la incluindo o registro relação causal entre a significação fálica
do real ao registro simbólico e imaginário. e a foraclusão do Nome-do-Pai ao dizer:
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Terá esse outro abismo sido formado pelo


simples efeito, no imaginário, do vão ape- Referências
lo feito no simbólico à metáfora paterna? ALVAREZ, J. M. Las otras psicosis. A partir
Ou deveremos concebê-lo como produzi- de cuándo se está loco? In: VASCHETTO, E.
do num segundo grau pela elisão do falo, (Comp.). Psicosis actuales. Hacia un programa de
que o sujeito reduziria, para resolvê-la, à investigación acerca de las psicosis ordinarias. Buenos
hiância mortífera do estádio do espelho? Aires: Grama, 2008. p. 51-64.
(Lacan, [1957-1958] 1998, p. 577). BOGOCHVOL, A. Borderline. In: ALVARENGA,
E.; FAVRET, E.; CÁRDENAS, M. H. (Orgs.). A va-
Assim, podemos supor que nas psi- riedade da prática: do tipo clínico ao caso único em psica-
coses extraordinárias encontramos a fo- nálise. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2007. p. 41-49.
raclusão do Nome do Pai acompanhada
BRODSKY, G. Loucuras discretas: um seminário
da ausência de significação fálica numa sobre as chamadas psicoses ordinárias (2009). Belo
relação causal, enquanto as apresentações Horizonte: Scriptum, 2011.
atuais da psicose, partindo da leitura do
texto citado, denotam que o furo da signi- LACAN, J. De uma questão preliminar a todo
ficação fálica se mantém de forma latente, tratamento possível da psicose (1957-1958).
In: ______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro.
mesmo com o Nome-do-Pai foracluído, o Revisão técnica de Antonio Quinet e Angelina
que permite a inserção do sujeito no Outro Harari. Preparação de texto de André Telles.
social de forma operativa. Não haveria, Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 537-590. (Campo
dessa forma, manifestações clínicas da Freudiano no Brasil).
ausência da significação fálica. Logo, o
LACAN, J. O seminário, livro 11: os quatro conceitos
sujeito psicótico pode atrelar o incurável fundamentais da psicanálise (1964). Texto estabele-
do sinthoma às ofertas de sentido feitas cido por Jacques-Alain Miller. Tradução de M. D.
pelo Outro da cultura. j Magno. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. (Campo
Freudiano no Brasil).

LACAN, J. O seminário, livro 3: as psicoses (1955-


SCORES ON 1956). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller.
THE CURRENT PSYCHOSIS Tradução de Aluísio Menezes. Rio de Janeiro:
Zahar, 1985. (Campo Freudiano no Brasil).
Abstract
I propose in this article to establish some MILLER, J.-A. Efeito do retorno à psicose ordinária
(2009). Opção Lacaniana online nova série, São
theoretical elements that allow to think of Paulo, ano 1, n. 3, nov. 2010. ISSN: 2177-2673.
the current psychosis with their discrete expe- Disponível em: <www.opcaolacaniana.com.br>.
riences and common certainties opposing the Acesso em: dez. 2016.
extraordinary psychosis with their experiences
of invasion of the Other. To do so, we turn Recebido em: 13/03/2017
Aprovado em: 20/03/2017
to the text The preliminary question to any
possible treatment of psychoses (Lacan) to
account for this differential clinic.
Endereço para correspondência

Keywords: Extraordinary psychosis, Cur- E-mail: <e.mussel@globo.com>.


rent psychosis, Foraclusion of the signifier
Father Name, Absence of phallic significa- Sobre a autora
tion.
Eliane Mussel da Silva
Psiquiatra. Psicanalista. Sócia do Círculo
Psicanalítico de Minas Gerais. Professora
da Faculdade de Psicologia da PUC Minas.

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