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PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA

Os três grandes grupos

NEUROSE E SUA TIPOLOGIA ® ©

As doenças mentais, como é sabido, foram e continuam sendo objeto de


muita investigação, com tentativas nosográficas (tratados com a descrição ou a
explicação das doenças) sob constante alteração.
Nota-se que qualificar as doenças mentais corresponde, em última
análise, a classificar o que os seres humanos sentem ou entorno de certo
fenômeno de origem psíquica fazem representar determinado sintoma (ou
sintomas) e que, de qualquer modo, considerando a unicidade do que cada um
expressa, considerando a singularidade em cada homem ou mulher existente,
trata-se de uma tarefa hercúlea (dificílima, em português mais direto).
A Medicina ou o arcabouço do que viria a um dia se tornar a Medicina vem,
há milênios, trabalhando por melhor compreender as doenças afeitas aos seres
humanos, perpassando-se, aqui em peculiar, pelos males de cunho emocional,
ou, dito de outro modo, que habitam — temporária ou definitivamente — a psique
da nossa espécie. Quando falamos em lapso temporal tão extenso, é porque
levamos em conta sua genealogia marcada pelas práticas medicinais da Idade
Antiga (4.000 a.C. a 476 d.C.) e ainda das vivências registradas na Pré-história,
mais pretéritas.
Com origem mais recente, distante, portanto, das medicinas egípcias,
semíticas, chinesas ou védicas (com datações de até 6.000 a.C., por exemplo),
nos referenciamos agora à Inglaterra do século XVI, período em que os jornais
passaram a reproduzir as causas das mortes do povo bretão, com dizeres dos
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mais absurdos e inventivos possíveis, notadamente se compararmos com o que


se sabe e como nos referimos às doenças na atualidade. Além disso, muitas
doenças tipicamente medievais, como o escorbuto (falta de vitamina C),
persistiam ocupando os obituários desta época (apesar da multiplicidade de
males existentes), algo a alongar-se até o século XIX e começo do século XX —
e com a Medicina ainda muito rudimentar, registra-se.
Em novo salto temporal, temos a figura de Florence Nightingale, verdadeira
fundadora da Enfermagem Moderna, mulher esta que, em boa parte de seus 90
anos de vida (Florença, 1820 – Londres, 1910), dedicou-se aos cuidados e à
cura de muitas pessoas, além de compor importantíssima classificação das
doenças até então conhecidas. Pioneira nesta seara, ela se valeu inclusive de
infográficos para sua grande produção literária sobre nosologia (o estudo da
classificação das doenças, como referido), não mais se conformando com
diagnósticos repetitivos e pouco esclarecedores de sua época e dos tempos
alhures referidos.
Chamada de “anjo da misericórdia”, fazemos questão de aqui realçar
novamente a contribuição de Florence1 para o trabalho de coletar informações
sobre sintomas, meios curativos, etiologia etc. e sua correspondente nominação
no campo medicinal, ela que, em verdade, foi, junto a Jacques Bertillon, o
estopim para o que hoje conhecemos por CID-10 (Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde em sua
décima versão).
Nascido em 1851 e falecido em 1922, o estatístico e demógrafo francês
Jacque Bertillon também foi fundamental para que houvesse melhores
mapeamentos sobre as causas das doenças a afetar a espécie humana, com

1
Vale muito a pena pesquisar sobre sua biografia. Recomendamos a obra intitulada “Florence Nightingale — a Dama da
Lâmpada”, de Mery Aidar Bassi, bem como “Florence Nightingale”, de Sue M. Goldie.

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Autor: Márcio Marastoni (2021)


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sua contribuição igualmente culminando no referido sistema conhecido


internacionalmente sobe a sigla CID-10.
Registra-se que, no nosso campo de interesse, o CID-10 relaciona cerca
de mil doenças de ordem psíquica, sendo que seu norte é e sempre foi relacionar
todos os males existentes, não somente os de ordem mental. Assim, no CID-10
encontramos fraturas, infecções... Mas também encontramos as neuroses (lá
denominadas de transtornos), psicoses e psicopatologias das mais diversas.
Ainda falando sob o olhar da Medicina, tem-se ainda o catálogo
denominado DSM-52 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
em sua quinta versão), documento este que, elaborado pela Associação
Americana de Psiquiatria, apenasmente classifica os problemas (males,
transtornos) de ordem mental.
Assim, para os médicos, em todo o mundo, pode e deve o profissional se
valer ou do CID-10 (muito mais utilizado) ou do DSM-5 (no caso somente dos
problemas de ordem mental) para dar nome ao que o paciente sofre, mais
comumente sendo utilizada as classificações para efeitos burocráticos (como
para atestados médicos ou afastamentos laborais) ou mesmo, em consonância
com a primeira utilidade, buscar-se mais explicações sobre esta ou aquela
doença a partir do nome e de sua catalogação.
De qualquer maneira, os problemas psicopatológicos (doenças da mente,
ou “doenças na mente”), esclarecemos, são pelos dois grandes catálogos vistos
de modo muito similar, não acontecendo deste modo para a Psicanálise.
A Psicanálise tem seu próprio modo de encarar a tipologia dos problemas
na mente encontrados que, como sabemos, se divide em três grandes grupos:
Neurose, Psicose e Perversão. Vamos aos seus esclarecimentos iniciais para,
finalmente, ousarmos elaborar uma lista bastante abrangente dos tipos de
neuroses existentes.

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O CID-10 e o DSM-5 são gratuitamente disponibilizados pelo Instituto Oráculo de Psicanálise em sua página
https://www.oraculopsicanalise.com.

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A) A NEUROSE
A neurose é um quadro clínico atípico marcado por emoções e sentimentos
negativos. Há muitos tipos de neurose que podem acometer um indivíduo, mais
à frente relatados. Em linhas gerais, metaforicamente3 poderíamos dizer que há
uma “inflamação do pensamento”, com algo a nos perturbar.
Os indivíduos sob neurose possuem grandes apreensões sobre algumas
coisas da vida (por vezes por somente uma coisa, como no caso de uma fobia
específica), ficando vulneráveis em determinadas situações. De qualquer modo,
cuida-se de uma preocupação excessiva, mas que não impede a pessoa de
“tocar a sua vida”.
Modernamente, neurose é sinônimo de psiconeurose ou distúrbio
neurótico, dizendo respeito a qualquer dos transtornos mentais que, embora
cause tensão, não interfira no pensamento racional ou na capacidade funcional
da pessoa. O neurótico geralmente consegue trabalhar, estudar, manter
relacionamentos estáveis etc. — conquanto alguns graus podem comprometer
um ou outro aspecto de sua vida.
Para a Psicanálise, a neurose é fruto da tentativa inefetiva de se lidar com
traumas e conflitos inconscientes, fazendo-a diferir da “normalidade” em função
da intensidade do comportamento e da incapacidade de resolver tais conflitos
de modo satisfatório.
B) A PSICOSE
Na psicose já ocorre certa perda (ou boa perda) de se lidar com a
realidade, de entrar em contato com a realidade. Na psicose, há certa falta de
autocrítica ou de insight, não se reconhecendo o caráter estranho ou bizarro do
comportamento. Há dificuldade de interação social e em cumprir normalmente
as atividades diárias, ou parte delas.

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Figura de linguagem constante em dizer algo de expressão mais forte ou clara para poder representar o significado de
outra coisa. Uma palavra ou frase a designar, em realidade, outro objeto ou coisa.

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Em um dito mais “radical”, por assim dizer, mas muito interessante para
compreender a diferença entre neurose e psicose, poderíamos conjecturar que
“o neurótico constrói um castelo no ar e o psicótico mora nele” (Jerome
Lawrence).
Ainda para a Psicanálise, a psicose se dividiria em esquizofrenia, autismo
e paranoia (sendo este último grupo o de maior expressão e o de mais “fácil”
compreensão), lembrando que há distinções importantes do ponto de vista das
classificações dentro da própria Psicanálise.
Muitos estados neuróticos podem se fazer caminhar para a psicose, como
no caso de não serem sequer tratados, ou, ainda, a terem fatores neurais de
ordem fisiológico-química sem a devida atenção e que colaboram na indução
de pacientes neuróticos para as paranoias (como o caso do neurótico fóbico que
passa a crer ou a muito fortemente fantasiar que está sendo perseguido pelo
estressor — objeto — a promover determinada fobia, sem que concretamente
isto esteja no tempo atual acontecendo).
O pensamento paranoide (lembrando que os paranoicos são, repete-se, o
maior público dos psicóticos) é o pensamento desorganizado, ou que vai se
desorganizando em função do estado do problema. Há, na psicose marcada
pelas paranoias, certo delírio. A esquizofrenia e o autismo não serão aqui
comentados por preferência didática, podendo-se argumentar que são
psicopatologias complexas e de origem endógena, congênere, muito mais afeita
à Medicina explicá-las, crê-se.
Por fim, ainda do ponto de vista estatístico e muito superficialmente
falando, a maioria dos humanos é neurótica (em menor ou maior grau de
intensidade), com um percentual muito mais reduzido dos outros dois grandes
grupos: o psicótico, tratado neste item, e o perverso, no item seguinte visto).

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C) A PERVERSÃO
A Perversão tem por origem o termo italiano per vertere, ou seja, põe-se
de lado, põe-se à parte a realidade. Há, aqui, um corromper, um desmoralizar,
com recusa da castração edipiana, não aceitando, o perverso, as leis, as normas
sociais, a ética.
Ocorre aqui uma questão ainda bastante debatida. E o psicopata típico?
Bem, ele se encaixa também no grande campo da perversão (para a
Psicanálise), sendo que a relação agora descrita parece bem elucidar essa
proximidade conceitual e, também, sua diferenciação:
“O perverso sabe do superego — da lei, das normas, do que é “correto”,
do que é ético etc. — e faz o contrário.” “O psicopata sequer tem em si o
superego e, portanto, desconhece que seja errado, no exemplo clássico dos
serial killers, matar”.
Portanto, perversidade e psicopatia são semelhantes e são abarcados,
para a Psicanálise, no grupo dos perversos; todavia, há diferenciação que
acreditamos ser bem elucidada pela propositura acima.

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NEUROSE E SUA TIPOLOGIA

Vamos, enfim, à tipologia das neuroses, lembrando que esta é uma relação de (quase) todos
os termos possíveis de terem sido, até então, coletados, tendo por base sessenta obras essenciais para
a Psicanálise. Registra-se que essa tipologia mais exatamente precisa ser vista como uma listagem de
termos utilizados, até porque enquadramentos terminológicos hão que abrigam outros tipos; além
disso, há termos que pela literatura especializada são sinôminos, conquanto, ppara outros, denotam
dessemelhanças significativas. Veja-se, como exemplo, a chamada “neurose atual”. Ela segue listada
adiante, mas pode, evidentemente, “de fato não tendo origem nas primeiras fases da vida” (o que se
chamaria de psiconeurose, conforme Freud), abrigar outras tantas neuroses mais especificamente
nomeadas, como uma neurose maníaco-depressiva. Ou seja, ainda sob tal exemplo, uma neurose
maníaco-depressiva é, também, uma neurose atual.
Não se trata, repete-se, de uma nosologia, de uma classificação científica acerca das
neuroses, mas, novamente há de se dizer, de uma listagem de termos usados que podem nos auxiliar
quanto ao diagnóstico e prognóstico de nossos pacientes, conquanto o conjunto técnico e
principiológico da Psicanálise seja praticamente a todos utilizados do mesmo modo e que, de outra
maneira ponderado, cada ser há de ser realmente visto como absolutamente único.
Em tempo, é de se reforçar, o aludido CID-10 fala de transtornos NO LUGAR DAS NEUROSES,
valendo lá também conferir essa importante listagem dos transtornos, estes capitulados dentre os
códigos F-40 ao F-59 — conquanto muito destes transtornos também estão abaixo descritos (mas
valendo-se da palavra neurose).
(Recomenda-se, para maiores estudos — o que vale para toda a listagem aqui disposta —,
consultar as grandes obras da Psicanálise, recorrendo-se incialmente aos dicionários desta ciência,
como no caso dos léxicos de Laplanche e Pontalis e, ainda, de Roudinesco.

• NEUROSE DE ABANDONO

Predomina-se, aqui, a angústia do abandono e a necessidade de segurança. Não diz


respeito obrigatoriamente a um abandono sofrido na infância e que tenha sido de
ordem física (sem a presença do pai ou da mãe, por exemplo). A ausência de carinho
pode também conduzir ao entendimento do que vem a compor esta neurose. A
procura pelo denominado “objeto perdido”, na fase adulta, é algo bastante
significativo como uma das possíveis pistas para se fazer transparecer tal neurose.
Ratifica-se que, mesmo presente pai e mãe, a ausência de afeto pode fazer o

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indivíduo recair nessa neurose de abandono, com carências a serem sempre


expostas ou mesmo uma posição narcisista como meio dela se defender.

• NEUROSE DE CARÁTER

Trata-se, aqui, de neurose em que o conflito defensivo não se traduz pela formação
de sintomas nitidamente isoláveis, mas de comportamento marcado por iludir,
mentir, enganar, isto se dando em níveis diversos.

• NEUROSE DE ANGÚSTIA

É o excesso da angústia que faz caracterizar esta neurose; é a espera ansiosa crônica,
com acessos significativos da própria angústia ou com sintomas ligados ao medo
vago, inibições, mal-estares, inquietação incômoda, tormentosas expectativas
negativas etc. Muitos psicanalistas equiparam seu nome e descrição à ansiedade
propriamente.

• NEUROSE DE FRACASSO

Por razões a princípio desconhecidas ou conhecidas (como uma sequência


traumática vivenciada ao longo de certo tempo), o sujeito se diz “fadado” ao
fracasso, à injustiça; é a popular “vitimização” que, enfim, não corresponde ao
encadeamento real do que se dá na vida da pessoa por esta neurose afetada. A
superproteção dada nos primeiros anos de vida ou mesmo em fase imediatamente
ulterior pode dar lugar para que, já na vida adulta, o indivíduo não tolere os
“defeitos” ou incertezas da vida.

Ou seja, sem ninguém mais a protegê-lo (leia-se, pais ou responsáveis) ele encontra
dificuldade em lidar com o que não funciona, digamos assim.

• NEUROSE DE DESTINO

Muito semelhante à neurose anterior, na neurose do destino o indivíduo afetado


acredita que o destino é a causa-motor de seus problemas, incomodando-se
sobremaneira com isto. Aqui aparece frases como “comigo é sempre assim”, ou
mesmo, “sempre foi assim” etc.

• NEUROSE DE TRANSFERÊNCIA

Neurose caracterizada pelo fato de a libido ser sempre deslocada para objetos reais
ou imaginários, em lugar de se retirar sobre o ego. Disso resulta serem mais
acessíveis ao tratamento psicanalítico, uma vez que prestam à constituição de uma

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neurose de transferência no sentido que a transferência tem para a Psicanálise. Pode


também dizer respeito, dito de outro modo, a uma neurose artificial.

• NEUROSE HISTÉRICA

Termo pouco utilizado na utilidade (mais se utiliza da histeria de conversão), diz


respeito a sintomas muito próximos ou idênticos à neurose de angústia para alguns,
desde que haja a conversão (com sintomas emocionais ou físicos expostos). Assim,
há um quadro clínico generalizado de conflito psíquico marcante e não precisamente
localizado. Para outros (a maioria), reforça-se, tem-se aqui a clássica histeria de
conversão (de fato se mostrando sinônima a ela) em que o conflito psíquico vem a
ser simbolizado em sintomas corporais diversos, sendo tradicionalmente ligada à
crise emocional somada a alguma atuação ou teatralidade.

Mas também essa histeria de conversão pode se pautar por sintomas paroxísticos
(como acima relatados) ou mais duradouros, como o caso de paralisia de algum
membro ou perda de determinada função (como a surdez a se alongar por certo
tempo).

• NEUROSE FAMILIAR

Concentra-se no fato de que, em certo núcleo familiar, as neuroses individualmente


localizadas se completam e se condicionam reciprocamente, evidenciando as
influências atávicas e patogênicas de tal estrutura coletiva.

• NEUROSE FÓBICA

A neurose fóbica diz respeito ao medo motivado ou projetado em um ou mais


objetos, ou a uma situação em peculiar. É o medo excessivo de algo, como se dá em
face de determinados insetos ou animais, medo de certa condição climática (como a
chuva de grande monta), medo de palhaços, medo de altura, de lugares fechados
(claustrofobia) etc.

• NEUROSE DE DISSOCIAÇÃO

Transtorno mental em que a pessoa sofre desequilíbrio psicológico em que o


indivíduo suporta alterações da memória, consciência, identidade e percepção do
ambiente, além de poder apresentar descontrole dos movimentos e
comportamentos.

Outras definições abarcam as pessoas que dizem “ouvir vozes” ou “receber


espíritos”, dificultando em muito, quando a comunicação com os espíritos FOR DE
FATO VERDADEIRA (o que é patentemente possível), a vida em si, ou a vida do ponto
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de vista estruturante-religioso (ou seja, é preciso apartar de modo claro o que é


mediunidade e o que é neurose dissociativa).

• NEUROSE NARCÍSICA

Expressão que diz respeito a uma doença mental marcada pela retirada da libido
sobre o ego, ou, mais clara e didaticamente, modernamente vista como a pessoa que
se coloca como centro das atenções, com carências que, para serem protegidas, se
valem de uma autoconfiança excessiva, deixando de lado a empatia e por vezes sem
considerar a importância da presença do outro.

Atualmente, as pessoas muito assim são percebidas pelo número de postagens nas
redes sociais marcadas pelas denominadas selfies: só ele aparece, só ele tem
importância.

• NEUROSE OBSESSIVA

Forma fundamental de neurose, a neurose obsessiva é identificada a partir de um


conflito psíquico de origem infantil e uma etimologia de ordem sexual caracterizada
por uma fixação da libido no estágio anal (segundo Freud).

Mais hodiernamente, pode-se dizer que se traduz nos ritos conjuratórios,


repetitivos, com o sintoma central caracterizado por uma ruminação mental
permanente — em parte inibindo o pensamento e a ação, podendo muito bem se
constituir em uma neurose atual, ou seja, não se ligando à infância da pessoa.

A neurose obsessiva é por muitos utilizada como sinônimo da neurose obsessivo-


compulsiva, o que discordamos.

• NEUROSE TRAUMÁTICA

Tipo de neurose em que o aparecimento dos sintomas é consecutivo a um choque


emotivo geralmente ligado a uma situação em que o sujeito percebeu sua vida
ameaçada. Manifesta-se no momento ou logo após o choque, com uma crise ansiosa
paroxística.

• NEUROSE PROFISSIONAL

Cuida-se, aqui, de alguma condição profissional a, obviamente, promover ou fazer


nascer certa neurose.

• NEUROSE DE ANSIEDADE

Aqui há acessos de ansiedade (qualidade de quem se vê perturbado ou que se vê em


determinados momentos excessivamente preocupado). Explica-se que a palavra

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preocupação diz respeito a “ação de ocupar-se previamente com algo”. Ou seja, cria-
se um estado perturbador acerca de algo normalmente no futuro existente (e que,
em realidade, se está no futuro, nem se sabe se de fato ocorrerá). Geralmente, assim,
cuida-se de uma antecipação de sofrimento que, ocorrendo ou não no futuro,
argumenta-se, retira da pessoa o conforto mental do que se teria por “normal”.

Para muitos, é sinônimo de “neurose de angústia”.

• NEUROSE HISTÉRICA DE CONVERSÃO

Nesta neurose há contraste entre o quadro clínico e o teor afetivo e emocional


expressado; ou seja, esta neurose consiste numa transposição de um conflito
psíquico e numa tentativa de resolvê-lo em termos de “sintomas sintomáticos”, com
o perdão da aliteração e redundância.

A somatização, nota-se, pode ser de caráter motor ou sensitivo, como são as


parestesias, alterações olfativas, táteis, crises pseudoanginosas, hipoestesias e
outros.

A doutrina diz, “muito majoritariamente” ser esta sinônimo da “neurose histérica”.


Assim, neurose histérica ou histérica de conversão seria a mesmíssima coisa, o que
concordamos.

• NEURASTENIA

Afecção descrita por George Beard a compreender um quadro clínico centrado em


uma fadiga física de origem nervosa, com sintomas dos mais diversos registros. Vale
também a interpretação desta classificação como sendo uma somatória de neuroses
distintas.

Assim, o neurastênico seria o indivíduo detentor de várias neuroses.

• NEUROSE ALIMENTAR

A compulsão por alimento ou pela sua falta é a que trata a neurose alimentar. Ou
seja, o alimento a ser o objeto de controle/descontrole, ou amor/desamor que,
enfim, pode conduzir a pessoa a estados patológicos conexos à obesidade
(hiperorexia) ou à anorexia (falta de apetite — falando-se dos dois extremos,
conquanto outras conexões com o alimento podem ser maleficamente feitas pelo
indivíduo).

Registra-se a dinâmica muito comum do sujeito carente alimentar-se


excessivamente para acumular ou postergar as sensações degustativas prazerosas
oriundas de cada refeição.
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• NEUROSE ATUAL

Trata-se de uma neurose que NÃO tem sua origem ligada à infância e ao respectivo
trauma nessa fase possivelmente ocorrida (de ordem sexual, conforme Freud
defende).

• NEUROSE DEPRESSIVA

A neurose depressiva não é termo popular para a Psicanálise; de fato, historicamente


(até o presente), a Psicanálise prefere referir-se à melancolia ou à angústia, ou, ainda,
partindo (o que é mais comum) para o termo da neurose maníaco-depressiva. Assim,
para a Psicanálise — com o perdão da repetição — depressão mais se encaixa na
neurose maníaco-depressiva, o que, de certo modo, é curioso: isto porque fala a
neurose maníaco-depressiva de alterações de humor (para “cima” e para “baixo”).

E agora?

Preferimos pensar que a melancolia (ver terminologia adiante) é uma depressão


prostrativa (a derrubar, por assim dizer, o indivíduo, deixando-o “de cama”)...

Preferimos também pensar que a neurose maníaco-depressiva é aquela condição de


alternância de humor: positivo e negativo, e, de novo, positivo negativo, compondo-
se o que se chama de indivíduo bipolar. Portanto, a neurose maníaco-depressiva
equivale-se, aqui, à bipolaridade.

E, por fim, de que neurose depressiva é, claro, a depressão em si: esta marcada por
desânimo, falta de perspectiva, tristeza prolongada e outros sintomas similares.

Tem-se, em tempo, dentro do conceito de depressão, a depressão menor ou a


depressão maior, a primeira de curta duração e, a segunda, alongada.

Pode-se ainda dizer da depressão endógena, qual seja, da depressão que já “nasce
com a pessoa”, de ordem biológica, fisiológica, atávica e, para nós do IOP, ainda, de
natureza espiritual.4

• NEUROSE MELANCÓLICA

Outra “invenção” do Instituto Oráculo e especialmente de um de seus fundadores.


Isto porque o termo MELANCOLIA é consagrado, o de neurose melancólica, não. É
nossa criação.

Aqui haveria a depressão em estágio mais avançado, com o indivíduo prostrando-se,


deixando-se levar pela depressão extremada, paralisante em verdade.

4
Tudo pode se originar, acreditamos, em problemas de fundo espiritual. É sempre de se investigar igualmente.
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• NEUROSE MISTA

Forma de neurose caracterizada pela coexistência de sintomas provenientes,


segundo Freud, de neuroses etimologicamente distintas.

• NEUROSE DE GUERRA

Certamente é mais uma neurose a nominar especificamente um tipo de evento que,


no caso, é a experiência da guerra. O neurótico de guerra é, registra-se, “candidato”
à neurastenia e “candidato” a desenvolver paranoias ligadas aos enfrentamentos e
a toda sorte de estresse oriundo do guerrear.

• NEUROSE MANÍACO-DEPRESSIVA

A psicose maníaco-depressiva em sua fase ou estado maníaco se traduz pelo humor


alegre ou simplesmente “normal”, estável, associação rápida de ideias e
movimentação exagerada, ao passo que na melancolia o contrário se observa, isto é,
humor triste, ideação lenta e movimentação diminuída.

Sob o ponto de vista intelectual, o elemento mais característico da fase excitação é


a instabilidade de atenção — que, embora presente, é extremamente móvel e
incapaz de uma concentração delongada. Nela os laços lógicos do pensamento são
rompidos a cada instante por novas excitações sensoriais, surpresas e percepções
incompletas, que se aperfeiçoam pelas ilusões.

Para o deprimido, domina a inércia motora que pode atingir aos paroxismos do
estupor. Muitos, atualmente, chamam-na de transtorno bipolar. Aliás, esta neurose
(maníaco-depressiva) serve ora para o depressivo em si (que oscila entre a
normalidade e as digressões depressivas) e para o bipolar, não havendo exato
consenso entre os estudiosos da temática; daí a novidade trazida pelo Instituto
Oráculo de Psicanálise em propor novas divisões epistemológicas. De qualquer
modo, fiquemos aqui, preferencialmente, com a bipolaridade — com alterações de
humor que podem se dar em questão de horas, como em questão de meses (meses
estáveis, meses muito depressivos).

• NEUROSE OBSSESSIVO-COMPULSIVA

O transtorno obsessivo-compulsivo é um dos principais quadros da clínica


psicanalítica. Na forma mais típica, o conflito é realmente o da compulsão (com
fixação de pensamento, com repetição de pensamentos, ideias), realizando-se
compulsivamente atos indesejáveis, além da luta contra esses pensamentos e
tendências. Há ritos conjuratórios nas neuroses obssessivo-compulsivas, com

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ruminação mental de forma mais intensa do que somente o neurótico obsessivo. Por
vezes, o neurótico obsessivo e o obsessivo-compulsivo são sinônimos. Registra-se,
de qualquer modo, as inibições de pensamentos e ações ditas repetitivas e
angustiantes.

• PSICONEUROSE

Esta seria uma neurose clássica, digamos assim... Seria uma neurose de fundo sexual
(como todas seriam para Freud em linhas gerais) lastreada por esse tipo de problema
(sexual) na infância experimentado. Não é terminologia muito empregada, mas vale
citá-la, até para diferenciá-la da neurose dita ATUAL.

Assim, com relação ao “tempo” em que se dá a neurose ela e ou ATUAL, ou esta, a


PSICONEUROSE.

• NEUROSE TOXICÔMONA

Aqui se trata da típica adicção somada obrigatoriamente — por mais óbvio que para
alguns possa se mostrar — à dependência e a todos os dissabores neurais causados
por tal dependência. É essa autoindução nervosa, diga-se para melhor clarificar,
direcionada para o consumo de drogas (das mais diversas).

• NEUROSE DE COMPULSÃO

Também chamada de neurose da compulsão à repetição, trata-se de instituto basilar


da Psicanálise, dizendo respeito à insistência de se reproduzir os mesmos atos e
pensamentos que no passado nos proporcionaram algum desprazer. Na tentativa de
corrigir algo que perpassamos, produzimos, repetidamente, em ciclo de
autossabotagem, comportamentos que surtirão efeito negativo. É o caso que segue,
por exemplo, desde o roer as unhas, até o de ter muito sucesso amoroso ou
financeiro e, inconscientemente, compulsivamente, em dado momento sabotar tal
sucesso.

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Autor: Márcio Marastoni (2021)

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