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5 SAÚDE MENTAL

Esta disciplina tem o objetivo de desenvolver competências, a fim de compreender


as interações humanas e os elementos relacionados à manutenção da saúde mental das
pessoas.

5.1 História e Evolução da Saúde Mental no Brasil

Em grande parte da história da psiquiatria no Brasil os ditos "Alienados Mentais"


recebiam um tratamento mais moral do que científico, eram castigados, presos a grilhões de
ferro, sem tomar sol e muitas vezes espancados. O cuidado, ou a assistência ficava a cargo
das freiras, tanto na Santa Casa de Misericórdia, quanto no tal primeiro hospício da Praia
Vermelha. Até então, não existiam psiquiatras, só os médicos "alienistas", os médicos gerais
do asilo, só a partir de meados do século XX é que os médicos conseguiram assumir o poder
da assistência, que pertencia a Igreja e tinha um cunho caritativo e misericordioso.

Os primeiros psiquiatras brasileiros se formaram na França e na Alemanha. Os


grandes passos na Reforma Psiquiátrica Brasileira na seguinte ordem:

▪ Construção do hospício na Praia Vermelha, na primeira metade do século XIX;


▪ Transformação, na primeira metade do século XX, dos asilos e hospícios em
manicômios sob total responsabilidade dos psiquiatras;
▪ Revolução da psicofarmacologia, com a introdução de neurolépticos e dos
tricíclicos, possibilitando a redução do tempo de internação;
▪ Reunião de outros profissionais, que se deu nos anos 60/70, quando iniciou o
movimento da antipsiquiatria;
▪ Mobilização de setores sociedade, nos anos 80 para desenvolver uma ação
conjunta visando uma legislação no campo da Saúde Mental que só
veio a acontecer 21 anos depois.
▪ Assinatura da Lei 10216 de 2001. Este foi, de fato, o principal marco da Reforma
Psiquiátrica Brasileira, pois defende os direitos de cidadania dos portadores de
Transtornos Mentais e redireciona as ações no campo da assistência.

5.1.1 Transtornos Mentais e de Comportamentos

Há uma tendência natural em julgar a sanidade das pessoas de acordo com seu
comportamento, de acordo com sua adequação às conveniências socioculturais como, por
exemplo, a obediência aos familiares, o sucesso no sistema de produção, a postura sexual,
etc. Medicamente, entretanto, Doença Mental pode ser entendida como uma variação
mórbida do normal, variação esta capaz de produzir prejuízo na performance global da
pessoa (social, ocupacional, familiar e pessoal) e/ou das pessoas com quem convive.

Organização Mundial de Saúde diz que o estado de completo bem estar físico,
mental e social define o que é saúde, portanto, tal conceito implica num critério de valores,
já que, lida com a ideia de bem-estar e mal-estar.

Existem vários sistemas de classificação das psicopatologias, que são

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periodicamente revistos. Cada um deles atende a distintos sistemas fenomenológicos e a
diversas escolas ou tendências teóricas. A classificação mais difundida é a proposta pela
Associação Psiquiátrica Americana. Outras de influência são a britânica e a da Organização
Mundial de Saúde. A maioria dessas classificações coincide em distinguir alterações
provocadas por deterioração das funções cerebrais e alterações psicogênicas. As de origem
cerebral podem ser agudas -- provocadas por infecções, intoxicações, traumatismos,
perturbações circulatórias, perturbações do metabolismo etc. ou crônicas, causadas por
fatores constitucionais inatos ou de causas semelhantes às que provocam as perturbações
agudas. Também se incluem nesse grupo as alterações provocadas por tumores cerebrais e
as oligofrenias ou deficiências mentais. Dentro das alterações psicogênicas, costuma-se
distinguir entre alterações psicóticas (psicose maníaco-depressiva, esquizofrenia, paranoia),
viscerais, psiconeuróticas (fobias, estados de ansiedade, etc.) alterações prolongadas da
personalidade (compulsão, inadaptação, vício e dependências de drogas) e alterações
transitórias (como a provocada pelo estresse).

 Diferença entre Neurose e Psicose:

▪ Neuroses:

Qualquer que seja o fato ou acontecimento introduzido em nossa consciência


receberá sempre uma maquiagem pessoal oferecida por nossa afetividade. Portanto, os
fatos de nossa vida, sejam presentes, passados ou perspectivas futuras, serão sempre
coloridos por ela e a estes chamamos de Vivências, que terão sempre caráter individual e
particular em cada um de nós, de acordo com as particularidades de nossos traços afetivos.
Os fatos podem ser os mesmos para várias pessoas, as vivências desses fatos, porém, serão
sempre diferentes.

Tais vivências são capazes de determinar uma resposta emocional na pessoa sob a
forma de sentimento e aos sentimentos produzidos pelas vivências podemos chamar de
Reações Vivenciais. Para que uma reação vivencial possa ser considerada normal, deve-se
observar ter 3 elementos:

▪ uma relação causal;


▪ uma relação proporcional;
▪ uma relação temporal.

Devido à complexidade do ser humano, nem sempre uma ação determina uma
reação previsível e pré-estabelecida. Cada pessoa pode manifestar uma sensibilidade
bastante individual aos fatos vividos, portanto a valorização de sua vida será sempre
concordante com sua sensibilidade afetiva. Como a afetividade é um atributo da
personalidade, então os fatos e seus valores dependerão sempre da personalidade de cada
um, mais que dos fatos em si.

Para compreendermos bem nossas reações, bem como as reações de nossos


semelhantes diante da vida e dos fatos vividos, é indispensável termos a ideia segundo a
qual cada um reage exclusivamente à sua maneira diante da realidade dos fatos.

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 Reação Neurótica Aguda:

Fosse permitido construir uma analogia didática para compreender a Reação


Neurótica Aguda e diferenciá-la da Personalidade Neurótica, citaria, por exemplo, o caso da
alergia. Há indivíduos que, em contato com um determinado alérgeno, como por exemplo o
mofo, reagem espirrando, com coriza e lacrimejando. Depois de algum tempo e distante do
alérgeno, tudo volta ao normal. Isto é o que acontece com quase todas as pessoas mas, por
outro lado, há indivíduos que vivem cronicamente com alergia e de maneira inespecífica.
Estão sempre com coriza, espirrando ou lacrimejando, nas mais variadas situações e diante
dos mais insuspeitados alérgenos. No primeiro caso temos um exemplo da Reação Aguda e
no segundo de uma configuração da Personalidade.

No primeiro caso da analogia descrita acima, podemos dizer que o indivíduo teve
uma alergia e, no segundo, que ele é alérgico. Pois bem, tendo em vista a conceituação
tradicional de Neurose, que fala em doenças da personalidade como um estado permanente
e duradouro, será fácil deduzir que apenas a Personalidade Neurótica representa,
realmente, aquilo que queremos dizer como Neurose. Já a denominação de Reação
Neurótica Aguda poderia ser entendida como, um tropeço emocional na vida do indivíduo.

Insistimos na denominação de Reações Neuróticas Agudas, devido, apenas, à


similaridade sintomática e etiológica com as neuroses em geral, assim como em benefício da
compreensão sobre o psicofisiologismo das reações emocionais às vivências. Entretanto,
deve ficar claro que o neurótico, propriamente dito, é aquele portador da Personalidade
Neurótica.

▪ Reação a Estresse Grave e Transtorno de Ajustamento:

A CID-10 fala da Reação a Estresse Grave e Transtorno de Ajustamento como sendo


um transtorno transitório que ocorre em indivíduos de qualquer idade e sem nenhum
transtorno emocional pré-existente. A condição básica para a classificação deste quadro é
que, supostamente, tenha surgido como reação direta a estresse agudo ou a um trauma
continuado. Portanto, estes transtornos podem ser considerados como respostas mal
adaptadas às exigências ambientais estressoras e, por interferirem nos mecanismos
adaptativos, tais situações acabam interferindo no funcionamento social.

Estas atitudes neuróticas agudas, reativas a estressores vivenciais, são


relativamente circunscritas ou específicas à determinadas situações e geralmente são
reversíveis. Comumente elas se relacionam de perto, no tempo e no conteúdo, a estados de
estresse, como por exemplo, à perda de ente querido, outras perdas, migração ou
separação.

O termo de Ajustamento é muito sugestivo, tendo em vista o fato da Reação


Neurótica representar uma espécie de falência emocional diante de uma circunstância
vivencial que exige uma atitude adaptativa. Não existem razões clínicas para diferenciar
estas Reações de Ajustamento das Reações Vivenciais Anormais, uma vez que ambas dizem
respeito às dificuldades de ajustamento a alguma vivência e que resultam em atitudes mal
adaptadas. Vem daí a importância em compreender-se o conceito das Reações Vivenciais

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para melhor entendimento das neuroses.

Nas Reações Neuróticas Agudas figuram, em primeiro plano, as situações conflitivas


atuais, relacionadas aos estados que se seguem a traumatismos psíquicos mais evidentes e
recentes. Nestes casos, a baixa tolerância às frustrações e às vivências percebidas como
desagradáveis determinam uma falência da capacidade de ajustamento à vida. Esta condição
é suficiente para o surgimento de verdadeiras tempestades emocionais. Conforme
comentários da CID-10, a vulnerabilidade individual e a capacidade de adaptação de cada
um desempenham um papel muito relevante na ocorrência e na gravidade destes
rompantes emocionais. Portanto, embora a vivência traumática seja indispensável para a
Reação Neurótica Aguda, por si só não é suficiente sem uma predisposição pessoal.

Existem três situações clínicas englobadas pelo quadro de Reação a Estresse Grave e
Transtorno de Ajustamento segundo a CID-10:

▪ Reação Aguda a Estresse - Os sintomas emocionais aparecem dentro de minutos


ou horas após a vivência causadora e desaparecem, também, em questão de
alguns dias ou mesmo horas. Há como uma espécie de atordoamento,
diminuição da atenção, incapacidade para integrar todos os estímulos e até um
estado de desorientação. Para que se caracterize uma Reação Aguda ao Estresse,
é indispensável haver uma conexão temporal entre os sintomas emocionais e o
impacto do estressor psicossocial. Nesta espécie de choque psíquico pode haver,
concomitante ao atordoamento e desorientação, um quadro de depressão,
angústia, ansiedade, raiva e desespero.

▪ Transtorno de Estresse Pós-Traumático - A resposta é mais tardia ou protraída a


um evento ou situação estressante. Poderá ser de longa ou curta duração. Há um
certo embotamento emocional, afastamento social, sonhos frequentes com a
situação causadora, diminuição do interesse para com o ambiente, diminuição
do prazer ou sua abolição total (anedonia) e evitação de situações recordativas
do trauma. Com frequência há também uma hiperexitação, hipervigilância e
insônia, ansiedade e depressão. Como complicação podemos encontrar, nestes
casos, um abuso excessivo de bebidas alcoólicas. Para o diagnóstico do
Transtorno de Estresse pós-Traumático há necessidade de que o quadro tenha
surgido dentro de até 6 meses após um evento traumático de excepcional
gravidade. O curso deste transtorno é flutuante, porém, seu prognóstico
costuma ser favorável para a grande maioria dos casos.

▪ Transtorno de Ajustamento - É cogitado quando existe uma angústia ou


perturbação emocional interferindo com o funcionamento e desempenho
sociais, a qual tenha surgido como consequência aos esforços adaptativos a uma
mudança significativa na vida da pessoa. A característica essencial de um
Transtorno de Ajustamento é o desenvolvimento de um quadro psicoemocional
significativo em resposta a um ou mais estressores psicossociais identificáveis.
No Transtorno de Ajustamento os sintomas desenvolvem-se, normalmente,
dentro de um período de 3 meses após o início do estressor ou estressores.

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A Reação Vivencial no Transtorno de Ajustamento é caracterizada por um
acentuado sofrimento, o qual excede o que seria estatisticamente esperado pela natureza
do estressor e resulta em prejuízo significativo no funcionamento social ou profissional. Os
sintomas principais são: humor deprimido, ansiedade, preocupação, sentimentos de
incapacidade em adaptar-se, sensação de perspectivas sombrias do futuro, dificuldade no
desempenho da rotina diária. Em crianças podemos observar comportamentos regressivos.

Os sintomas podem persistir por um período de até mais de 6 meses,


principalmente se são em resposta a um estressor crônico, como por exemplo, uma doença
crônica ou a um estressor breve mas de consequências prolongadas, como por exemplo as
dificuldades sociais, financeiras, separações conjugais, etc.

O estressor pode ainda ser um evento isolado (fim de um relacionamento


romântico) ou pode haver múltiplos estressores (dificuldades acentuadas nos negócios e
problemas conjugais). Os estressores podem ser recorrentes (associados com crises
profissionais cíclicas) ou contínuos (viver em uma área de alta criminalidade). Os estressores
podem afetar um único indivíduo, toda uma família, um grupo maior ou uma comunidade
(em um desastre natural). Alguns estressores podem acompanhar eventos evolutivos
específicos (ingresso na escola, deixar a casa paterna, casar-se, tornar-se pai/mãe, fracasso
em atingir objetivos profissionais, aposentadoria).

A organização da Personalidade e os valores culturais do grupo contribuem para


estas respostas desproporcionais, assim como também podem advir de uma somatória de
pequenos estressores menos importantes. Como exemplo disso observamos um
relacionamento familiar conflitivo, o qual, depois de algum tempo, poderá comprometer
progressivamente o limiar de tolerância da pessoa tornando-a mais vulnerável às
solicitações existenciais, ou seja, reagindo neuroticamente às vivências.

 Personalidade Neurótica:

O entendimento da Personalidade Neurótica depende dos seguintes aspectos:

▪ Das disposições pessoais;


▪ Do arranjo peculiar dos traços no interior do eu;
▪ Da modelagem afetiva no desenvolvimento da personalidade;
▪ Da história biológica e existencial do indivíduo e
▪ Das exigências adaptativas que a vida solicita.

Podemos dizer que o indivíduo possui uma Personalidade Neurótica quando ele
reage neuroticamente diante dos eventos de uma forma habitual e isto passa a caracterizar
sua maneira de existir. Podemos dizer ainda que ele é neurótico quando sucumbe
cronicamente diante de seus conflitos, sucumbe não apenas aos conflitos atuais mas,
também e sobretudo, aos conflitos remanescentes do passado. Podemos ainda arriscar a
considerar neurótico quando suas pulsões inconscientes dominam suas atitudes conscientes,
quando constatamos uma falha crônica em seus mecanismos de defesa, enfim, quando sua
adaptação emocional à vida é constantemente problemática.

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Sempre que as Reações Vivenciais Anormais ou os Distúrbios Adaptativos, ou ainda
e também sinônimo, as Reações de Ajustamento não são acontecimentos fortuitos e
ocasionais, mas constituem uma maneira perene e constante de relacionar-se com a
realidade, estamos diante de uma Personalidade Neurótica.

A grande polêmica entre as diversas tendências da psicologia, da psiquiatria e da


psicopatologia diz respeito à etiologia desta miopia existencial ou emocional. Nós sabemos,
por exemplo, que a introdução de adrenalina no organismo resulta sempre num estado de
franca ansiedade, da mesma forma como a cocaína, sabidamente uma droga capaz de
aumentar a concentração de neurotransmissores (dopamina) na fenda sináptica, produz um
estado afetivo euforizante. Há inúmeras condições bioquímicas igualmente demonstrativas
do relacionamento entre a neurofisiologia e os estados afetivos e que serviram de
sustentação para uma maior compreensão dos efeitos das drogas psicotrópicas utilizadas na
atualidade.

Em relação à Personalidade Neurótica, bem como na atividade emocional global do


ser humano, o bom senso recomenda que a disposição peculiar do indivíduo em relacionar-
se com o mundo objetual não deve ser considerada exclusivamente um produto dos eventos
sinápticos, nem tampouco um produto exclusivo da história de vida.

5.1.2 Classificação das Neuroses

Reconhecer que o indivíduo é um neurótico implica numa visão conceitual,


estatística e valorativa, onde o relacionamento sujeito-objeto (pessoa-mundo) está
prejudicado e o observador, quase intuitivamente, percebe esta não-normalidade até sem
muita dificuldade. Classificar este tipo de relacionamento neurótico, entretanto, exige uma
atitude clínica criteriosa. Os procedimentos de diagnóstico, cada vez mais
internacionalizados, favorecem uma maior homogeneidade denominativa e uma maior
especificidade de diagnóstico nosográfico.

A tendência classificatória atual é de especificar minuciosamente cada expressão


sintomática, proporcionando umas visões mais abrangentes de estados mórbidos básicos.
Vejamos a questão da ansiedade, por exemplo, considerada uma ocorrência psíquica
universalmente experimentada pelos seres humanos. Do ponto de vista clínico e
psicopatológico, não interessa muito saber se o indivíduo experimenta ansiedade ou não,
mas interessa, sobretudo, o que ele faz exatamente com sua ansiedade, ou seja, se ele
apresenta sintomas de pânico, se seu distúrbio é fóbico, generalizado, somatizado e assim
por diante.

Entretanto, as crescentes sistematizações propostas pela psiquiatria e


psicopatologia modernas não dispensam, em absoluto, os conhecimentos conceituais e as
linhas gerais de conhecimento psicopatológico propostas pelos grandes tratadistas.

O conceito de neurose, apesar da substituição desejável deste termo por


Transtorno e apesar da complexa classificação atual, deve permanecer fundamentada em
conhecimentos psicopatológicos tradicionais, de forma a fornecer a base de entendimento
necessária para todos eventuais avanços de classificação futuros. Seria muito difícil

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compreender o significado do termo agorafobia sem distúrbio do pânico, se não
conhecêssemos, antes, as concepções tradicionais do acontecimento neurótico concebidas
progressivamente pela psiquiatria formal.

A classificação dos Transtornos Neuróticos pela CID.10 (Classificação Internacional


de Doenças) é a seguinte:

▪ Transtornos Neuróticos.
▪ Transtornos Relacionados com o Estresse.
▪ Transtornos Somatoformes.

Este agrupamento contém as seguintes categorias:


▪ Transtornos Fóbico-Ansiosos.
▪ Transtornos Ansiosos.
▪ Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
▪ Reações ao Estresse Grave e Transtornos de Adaptação.
▪ Transtornos Dissociativos [de Conversão].
▪ Transtornos Somatoformes.
▪ Transtornos Neuróticos.

 Transtornos Fóbico-ansiosos:

Há autores que define a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a este
acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade
industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante. Diz-se que a
simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já preenche, por si só, um
requisito suficiente para o surgimento da ansiedade. Portanto, viver ansiosamente passou a
ser considerado uma condição do homem moderno ou um destino comum ao qual todos
nós estamos, de alguma maneira, atrelados.

Com certeza, até por uma questão biológica, podemos dizer que a ansiedade
sempre esteve presente na jornada humana desde a caverna até a nave espacial. A novidade
é que só agora estamos dando atenção à quantidade, tipos e efeitos dessa ansiedade sobre
o organismo e sobre o psiquismo humanos, de acordo com as concepções da prática clínica,
da medicina psicossomática e da psiquiatria.

A fobia é um sentimento de medo, injustificado e desproporcional, que se


intromete persistentemente no campo da consciência e se mantém ali, independentemente
do reconhecimento de seu caráter absurdo. A característica essencial da fobia consiste num
temor patológico que escapa à razão e resiste a qualquer espécie de objeção, temor este
dirigido a um objeto (ou situação) específico.

O medo fóbico é específico e, na maioria das vezes, se projeta para o exterior


através de manifestações próprias do organismo, as quais, normalmente, tocam ao Sistema
Nervoso Autônomo (neurovegetativo), tais como: vertigens, pânico, palpitações, distúrbios
gastrintestinais, sudorese e perda da consciência (lipotímia). Esses sintomas vegetativos e
autossômicos determinados pela fobia surgem sempre que o paciente se depara com o

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objeto (ou situação) fóbico.

O pensamento fóbico é tão automático quanto o pensamento obsessivo e o


paciente tem plena consciência do absurdo de seus temores ou, ao menos, sabe que são
completamente infundados na intensidade que se manifestam. Resistem, esses temores, a
qualquer argumentação sensata e lógica, aliás, o medo só será fóbico em duas
circunstâncias; quando for considerado injustificável e absurdo pelo próprio paciente e, em
segundo, quando for capaz de produzir sintomas comandados pelo sistema nervoso
autônomo.

O medo na fobia ataca de modo incontrolável diante de objetos e circunstâncias de


todo naturais e, diante das quais, mesmo o paciente reconhecendo como ridículas, não
poderá dominar-se. A denominação das fobias diversas guarda uma relação etimológica com
as situações desencadeadoras: Agorafobia (espaços abertos ou sair de casa); Claustrofobia
(lugares fechados); Acrofobia (alturas); Ailerofobia (gatos); Antropofobia (gente); Zoofobia
(animais); Xenofobia (estranhos); e assim por diante.

As fobias podem ocorrer juntamente com qualquer outro sintoma psiquiátrico,


podem fazer parte de variados graus de ansiedade e de depressão ou ainda, em várias
neuroses e psicoses. De fato, não se trata de nenhum sintoma patognomônico de algum
quadro psicopatológico específico.

 Características dos Transtornos Fóbico-ansiosos:

Grupo de transtornos nos quais uma ansiedade é desencadeada exclusiva ou


essencialmente por situações nitidamente determinadas que não apresentam atualmente
nenhum perigo real. Estas situações são, por esse motivo, evitadas ou suportadas com
temor. As preocupações do sujeito podem estar centradas sobre sintomas individuais tais
como palpitações ou uma impressão de desmaio, e frequentemente se associam com medo
de morrer, perda do autocontrole ou de ficar louco. A simples evocação de uma situação
fóbica desencadeia em geral ansiedade antecipatória.

A ansiedade fóbica frequentemente se associa a uma depressão. Para determinar se


convém fazer dois diagnósticos (ansiedade fóbica e episódio depressivo) ou um só
(ansiedade fóbica ou episódio depressivo), é preciso levar em conta a ordem de ocorrência
dos transtornos e as medidas terapêuticas que são consideradas no momento do exame.

 Agorafobia:

Grupo relativamente bem definido de fobias relativas ao medo de deixar seu


domicílio, medo de lojas, de multidões e de locais públicos, ou medo de viajar sozinho em
trem, ônibus ou avião. A presença de um transtorno de pânico é frequente no curso dos
episódios atuais ou anteriores de agorafobia. Entre as características associadas, acham-se
frequentemente sintomas depressivos ou obsessivos, assim como fobias sociais. As condutas
de evitação comumente são proeminentes na sintomatologia e certos agorafóbicos
manifestam pouca ansiedade dado que chegam a evitar as situações geradoras de fobia. Ela
pode se apresentar de duas maneiras: Agorafobia sem antecedentes de transtorno de

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pânico ou Transtorno de pânico com agorafobia.

 Fobias Sociais:

Medo de ser exposto à observação atenta de outrem e que leva a evitar situações
sociais. As fobias sociais graves se acompanham habitualmente de uma perda da autoestima
e de um medo de ser criticado. As fobias sociais podem se manifestar por rubor, tremor das
mãos, náuseas ou desejo urgente de urinar, sendo que o paciente por vezes está convencido
que uma ou outra destas manifestações secundárias constitui seu problema primário. Os
sintomas podem evoluir para um ataque de pânico. Exemplo: Antropofobia

 Fobias Específicas (Isoladas):

Fobias limitadas à situação altamente específicas tais como a proximidade de


determinados animais, locais elevados, trovões, escuridão, viagens de avião, espaços
fechados, utilização de banheiros públicos, ingestão de determinados alimentos, cuidados
odontológicos, ver sangue ou ferimentos. Ainda que a situação desencadeante seja
inofensiva, o contato com ela pode desencadear um estado de pânico como na agorafobia
ou fobia social. Exemplo: Acrofobia, Claustrofobia, Fobia(s) (de): Animais Simples

 Transtornos do Espectro Histérico (Histriônico):

O termo histeria escapou, há tempos, do âmbito da medicina e passou ao uso


popular. Na realidade xinga-se de histérico e não se diagnostica histérico. Essa postura
cultural descaracteriza a histeria doença, influindo inclusive no médico não psiquiatra, o qual
também acaba vendo o histérico como o “malandro” da medicina.

Surpreendo tanto aos médicos quanto aos leigos, essa misteriosa “doença” pode
apresentar sintomas sem qualquer substrato físico, sintomas que mudam segundo a época,
os costumes e as conveniências, sintomas que podem desaparecer como em um passe de
mágica. E se procurarmos os motivos pelos quais os histéricos recorrem a esses sintomas,
bem como o sucesso que se consegue com eles, é bem possível nos deparamos com uma
inquietante dúvida: “teremos todos somos um quê de histéricos?”.

 A Personalidade Histérica:

Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade se reportam,


principalmente, à possibilidade que se tem de classificar determinada personalidade como
sendo desta ou daquela maneira de existir. Desta forma, diante da possibilidade de se
destacar um traço marcante, específico e característico numa determinada pessoa, ou seja,
diante do fato desta personalidade ser caracterizada por um determinado traço, torna-se
possível sua classificação.

Caso ainda esta característica responsável por sua classificação (traço), subtraia
desta pessoa (personalidade) a liberdade necessária para que ela seja livre e desimpedida de
qualquer estigma limitador de sua maneira de reagir ao mundo (prejuízo), aí então, ao invés
de estarmos apenas diante de um certo tipo de personalidade, estaremos diante de um

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Transtorno de Personalidade.

No histérico, o traço prevalente e mais unanimemente reconhecido entre diversos


investigadores é o “histrionismo”. A palavra, que significa teatralidade, surge na Roma antiga
para designar como histrião o comediante que representava papeis.

Portanto, o histrionismo do histérico é representado por seu caráter afetado,


exagerado, exuberante como se estivesse fingindo. Sua representação sempre varia de
acordo com as expectativas da plateia. É um comportamento caracterizado por colorido
dramático, extrovertido e eloquente, com notável tendência em buscar contínua atenção.
Trata-se dos únicos distúrbios de personalidade mais frequentes no sexo feminino.

Os pacientes histriônicos tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos,


apresentam acessos de mau humor, lágrimas e acusações sempre que percebem não serem
o centro das atenções ou quando não recebem elogios e aprovações. São pessoas
frequentemente animadas e dramáticas, tendendo sempre a chamar atenção sobre si
mesmas. De início elas costumam encantar as pessoas com quem travam conhecimento,
principalmente devido ao seu entusiasmo, à aparente franqueza e fragilidade ou,
simplesmente, devido à exímia capacidade de sedução. Tais qualidades, contudo, perdem
sua força à medida que esses indivíduos passam a exigir continuamente o papel de "dono da
festa". Representar papéis é a especialidade mais meritosa da histérica, assim, com muita
propriedade ela representa a mulher. Vem daí a ideia de que essas pacientes costumam ser
pseudo-hiper-sexuais, retrato superficial de sua pseudo-hiperfeminilidade.

 A Histeria nos Homens:

A análise etimológica da palavra histeria nos traz ecos das superstições do passado.
Como vimos, não foram poucos os que disseram que só mulheres poderiam ser histéricas e
que era rematado absurdo falar-se em histeria masculina, uma vez que, etimologicamente, o
vocábulo vem de "hyster", Grego para "útero".

Durante muitos séculos, a histeria não era somente uma queixa feminina. Ela foi
atribuída a uma espécie de manifestação da fraqueza moral da mulher, como parte de sua
habilidade em mentir, sua imaturidade, seus caprichos e lágrimas e necessidade de chamar a
atenção.

Prefere-se estudar a histeria na esfera da mente, independente do gênero,


podendo, assim, falar de homens histéricos. O vocábulo claramente perdeu qualquer relação
com o significado etimológico de seus componentes e, embora o caráter histérico seja mais
frequente nas mulheres, os homens também podem ser acometidos pelo histrionismo.

Por estar atrelada ao sexo frágil, passou a ser um verdadeiro insulto rotular um
homem de histérico. Assim sendo, o chamado sexo forte passou a esconder sua histeria em
sintomas diferente da teatralidade feminoide. Para os homens, parece que a necessidade de
alguma vivência desencadeadora do rompante histérico é imprescindível. Quanto mais
traumática for à vivência pré-surto histriônico, mais aliviado o histérico se sente em seus
pruridos masculinos.

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A etiqueta diagnóstica do Transtorno de Estresse Pós-Traumático parece atender
alguns casos de histeria masculina, onde os sintomas podem ser muito parecidos aos da
histeria feminina, incluindo as paralisias, anestesias, etc. Estes sintomas masculinos seriam
ainda acrescidos de honrosas preocupações hipocondríacas, com medos de afecções
cardíacas, palpitações, dores diversas e vertigens.

Há também no histérico masculino uma preocupação pela boa aparência, um zelo


especial para com os gestos, com o modo de falar, comportamento, roupas, penteados, da
mesma forma que na mulher. O desejo de agradar a todos domina sua vida e é inconsciente.
Isso o torna tão sedutor como a histérica mulher.

 Transtornos Somatomorfos x Doenças Psicossomáticas:

A diferença entre os Transtornos Somatomorfos e as Doenças Psicossomáticas está


não fato dessas últimas comportarem, junto com a queixa, realmente alguma alteração
orgânica constatável clinicamente, enquanto a somatização, não. Assim sendo, havendo
confirmação de alterações orgânicas e, sendo a doença em pauta influenciável (determinada
ou agravada) por razões emocionais, estamos diante de Doenças Psicossomáticas. Alguns
poucos exemplos desses transtornos podem ser: asma brônquica, hipertensão arterial
essencial, psoríase, retocolite ulcerativa, entre muitas outras.

 Histeria e Depressão:

A associação dos quadros histéricos com a depressão é cada vez mais contundente.
A depressão é um dos diagnósticos psiquiátricos mais comumente associados à histeria nas
últimas pesquisas. Estima-se em que seja em torno de 38% o número de pacientes histéricos
do tipo conversivo que sofrem de depressão.

Esta relação é ainda maior quando o transtorno histérico é do tipo somatização.


Chega em torno de 90% o número de pacientes com esse quadro que desenvolverão um
episódio de depressão maior ao longo da vida.

Para entender melhor como ocorre à concordância entre depressão e histeria,


vamos considerar o seguinte: os quadros do espectro histérico (conversão, dissociação,
somatização, etc.) podem ser todos considerados como tendo origem reativa, ou seja,
aparecem como uma reação a eventos, sentimentos e emoções. Mas, para se manifestar, a
histeria necessita previamente de um marcante traço histriônico de personalidade.

Um ingrediente para a histeria seria um traço histriônico de personalidade,


juntamente com uma reação emocional exuberante a alguma vivência. Isso significa que não
basta o traço histriônico para fazer aparecer o quadro histérico, se não houver uma reação
vivencial exuberante, se não houver uma vivência emocional exageradamente significativa
(para a pessoa).

A pessoa não terá uma crise histérica se não reagir exageradamente ao estímulo,
ela não reagirá exageradamente ao estímulo se não tiver uma grande sensibilidade afetiva a
esse estímulo e não terá uma crise histérica se não tiver um traço histriônico em sua

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personalidade. Assim sendo, podemos considerar a histeria como uma das manifestações
depressivas em personalidades cujo traço histriônico seja proeminente.

 Quadro Clínico da Histeria:

A histeria tem, ao longo dos tempos, colocado em questão saberes e instituições. É


conhecida a forma como eram tratadas as "feiticeiras" e "possuídas" nos tempos medievais.
Desafiavam a religião constituída, ousavam desobedecer os preceitos divinos, davam vazão à
sexualidade, etc. As punições por ser histérica eram terríveis, culminando, em geral, na
morte, após muito sofrimento.

A expansão do saber médico acabou retirando a natureza demoníaca da histeria,


mas não conseguiu integrá-la adequadamente em suas classificações nem em sua seriedade
clínica. A histeria desafiou e continua desafiando a semiologia médica: seus sinais e sintomas
não respeitam sequer a fisiologia da medicina, quanto mais a patologia.

Do ponto de vista descritivo e psicopatológico, a histeria é vista como uma neurose.


Manifesta-se por sintomas variados, incomuns, bizarros e, muitas vezes, transitórios. Mais
comumente é representada por perturbações sensoriais, como a cegueira, surdez, afonia,
dores ou anestesias localizadas, enxaquecas, contraturas musculares, e alterações motoras,
através de dificuldades para andar, paralisias variadas, etc.

A Histeria, em suas variadíssimas formas de expressão, pode se manifestar através


de traços (histriônicos) marcantes de personalidade, através de Transtornos Histéricos da
Personalidade e através dos Transtornos Histéricos propriamente ditos, como por exemplo,
Transtornos Conversivos, Dissociativos, Hipocondria, etc. De modo geral as classificações
internacionais de doenças mentais consideram incluídos nos Transtornos Histéricos ou
Histriônicos os seguintes quadros: Amnésia Psicogênica, Fuga Psicogênica, Personalidade
Múltipla, Despersonalização, Síndrome de Ganser, Transtorno de Somatização ou
Somatoforme, Transtorno Conversivo, Transtorno Doloroso, Transtorno Dismórfico e
Personalidade Histriônica.

Um dado muito curioso no quadro clínico da histeria é que a cultura tem um papel
extremamente importante no aparecimento e na forma dos sintomas. O histérico, por ser
muito sugestionável, idealiza sintomas de acordo com aquilo que representa de verdadeiro.
Isso significa que a doença é intencional e involuntária ao mesmo tempo; há algum
planejamento (inconsciente), mas a pessoa não consegue libertar-se dele voluntariamente.

Há muito tempo se conhecem as dificuldades encontradas pelos médicos no


manejo clínico com essa clientela curiosa; os pacientes não doentes. Essas dificuldades se
expressam de diferentes formas, com um traço comum relacionado à sensação de
impotência, de desafio, de má fé e manipulação que eles despertam nos médicos.

Uma característica quase universal do paciente histérico é sua dificuldade e


relutância em reconhecer a participação do componente emocional no processo de seu
adoecimento. Sua tendência natural, assim como ocorre com uma parte expressiva dos
médicos clínicos, é localizar a doença no corpo.

Módulo 3 Enfermagem
111
Nos serviços de saúde os histéricos tendem a se tornar dependentes de
psicofármacos e analgésicos, bem como responderem parcialmente às abordagens
psicoterápicas usuais. Parece que quando eles sentem que podem, de fato, se curarem,
insistem em abandonar o tratamento para manter presentes seus sintomas.

Essa característica de relutância em entenderem-se emocionalmente adoecidos faz


com que muitos profissionais os consideram inabordáveis. Normalmente eles sentem o
encaminhamento para a saúde mental como uma desistência por parte dos médicos clínicos,
como se a equipe não acreditasse na veracidade de suas queixas e lhes dificultassem a
permanência no sistema de saúde.

Muitas vezes, diante da constatação clínica de que esses pacientes não têm nada
medicamente palpável, o encaminhamento para a saúde mental funciona como uma espécie
de “vingança” do clínico contra o “corruptor” da ordem médica. Esse encaminhamento é
como se o profissional se libertasse do sentimento desagradável de impotência despertado
pelo paciente. Na prática clínica estes pacientes são encaminhados aos ambulatórios de
saúde mental sob o diagnóstico de poliqueixosos, somatizadores crônicos, portadores de
queixas múltiplas ou doentes psicossomáticos.

Outro sintoma que pode acompanhar pacientes histéricos, notadamente


conversivos e dissociativos, e responsável pela antipatia que eles causam nos médicos e em
funcionários da saúde, é a Mitomania. Trata-se de ficções criadas pelos histéricos, muitas
vezes facilmente percebidas pelos outros, nas quais eles próprios podem acreditar.

Ainda dentro das características dos histéricos que contribuem para a reserva com
que são recebidos pelos serviços de saúde, está a sensação que eles transmitem de
perturbarem a ordem dos serviços. Não é incomum que façam complôs com outros
enfermos, que promovam intrigas e semeiem discórdia entre o pessoal do serviço de saúde.
De fato, a personalidade histérica ameaça e provoca e, apesar de sedutora, não se pode
confiar, pois mente e frustra as expectativas dos médicos, do cônjuge, do amante, dos
parentes, etc.

A dificuldade de classificação médica desses pacientes começou desde que o


diagnóstico de neurose histérica, onde se inclui a maioria desses pacientes, foi
desmembrado pelas classificações internacionais (CID.10 e DSM.IV). Desde então, ainda não
se obteve uma uniformidade quanto á classificação desses casos.

 O Lucro (Emocional) da Histeria:

O fenômeno do benefício emocional, primário e secundário, observado em todas as


neuroses, é particularmente notável na histeria. Portanto o meio cultural mais
exuberantemente impregnado de superstições, crenças mágicas, possessões e demônios,
pecados e castigos, e toda sorte de elementos sobrenaturais irá influenciar enormemente na
proliferação dos sintomas da histeria.

Na histeria, sempre que o sintoma servir para o alívio da ansiedade há um


mecanismo ao qual chamamos de Lucro Emocional Primário. Diante de um conflito,

Enfermagem Módulo 3
112
normalmente proporcionado pela discrepância entre aquilo que o histérico quer fazer com
aquilo que ele deve fazer, ou ainda, com aquilo que ele consegue fazer ou com a situação
que está acontecendo, o sintoma histérico aparece para proporcionar algum alívio.

Uma adolescente conversiva, por exemplo, diante de uma situação vivencial


potencialmente ansiosa, como pode ser o caso de uma briga entre seus pais, recorre à uma
síncope conversiva (desmaio). Com isso, certamente estará se afastando da situação
traumática e se protegendo da ansiedade provocada pela briga. Também um soldado com
Transtorno Conversivo, diante da ansiedade produzida pelo conflito entre o medo do
combate e a vergonha da fuga, poderá apresentar uma paralisia ou qualquer outra limitação
neuromuscular; sendo um deficiente físico, não terá que experimentar a ansiedade de
saber-se um covarde já que, infelizmente, a natureza impediu sua participação no combate
através de uma doença limitante de sua mobilidade.

Num outro mecanismo, a pessoa histérica obtém um Lucro Emocional Secundário,


ou seja, conquista um suporte de aprovação, complacência ou compaixão do ambiente para
com sua eventual falha ou para a não realização da atividade que lhe é avessa. A mesma
adolescente que manifestou uma síncope ao presenciar a briga de seus pais, citada no
exemplo anterior, despertará sentimentos de remorso nas pessoas responsáveis pela sua
crise, juntamente com uma compaixão pelo seu estado deplorável e, inevitavelmente,
receberá uma boa dose de carinho em seguida.

 Dependência Emocional e Centro das Atenções:

Observa-se em algumas pessoas histéricas uma acentuada dependência emocional


de outra(s) pessoa(s) íntimas, seja do companheiro(a), do(s) filho(s) ou dos pais. Por causa
dessa característica a pessoa histérica condiciona seus sintomas, crises e queixas ao estado
da pessoa de quem dependem emocionalmente.

Percebendo que existem riscos da pessoa de quem dependem envolver-se com


outras preocupações que não a pessoa do histérico, essa pode entrar em crise. É o que
acontece com muitas mães histéricas ao perceberem que não estão sendo os alvos
principais de atenção dos filhos, quando esses planejam sair de casa, casar-se, viajar, etc.
Acontece também quando percebem que o(a) esposo(a) não tem-lhes dado a atenção
pleiteada.

Notamos também essa característica de dependência das pessoas histéricas em


relação aos outros, quando elas parecem despojar-se de qualquer pensamento ou decisão
pessoal. O discurso dessas pessoas dá-nos a impressão que elas são marionetes nas mãos
dos demais (quando na realidade é exatamente o contrário); “...eles acharam que eu deveria
procurar um médico...”, “...eles me levaram ao pronto socorro...”, “...eles me acharam
doentes...”. Sempre são “eles” quem tomam decisões, parecendo que o histérico está
imune e à margem de seu destino.

 Sugestionabilidade e Teatralidade:

Sem dúvida, a sugestionabilidade é um dos traços mais marcantes da personalidade

Módulo 3 Enfermagem
113
histérica. É sobejamente sabido da atração que as profissões médicas ou paramédicas
exercem sobre os histéricos. Muitas vezes ouvimos de pessoas histéricas frases do tipo:
“...doutor, o senhor tem uma das profissões mais bonitas. Eu sempre quis estudar
medicina...”, “... doutor, só de falar com o senhor já sinto alívio...”

Os histéricos, de um modo geral, são extremamente sugestionáveis, demonstrando


com isso seu clássico infantilismo e falta de maturidade da personalidade. Eles têm os afetos
e as relações interpessoais pueris, com predomínio da vida em fantasia como tentativa de
negar uma realidade frustrante e penosa.

No campo terapêutico, essa característica pode ser benéfica, já que esses pacientes
se tornam dependentes de seu médico e sujeitos a verdadeiras curas milagrosas que
ocorrem por pura sugestão. O lado ruim, é que podem sentir todos os efeitos colaterais dos
medicamentos, complicando a adesão ao tratamento.

A marcante teatralidade e sugestionabilidade dos histéricos, juntamente com a


divulgação frequente feita pela literatura e pelo cinema sobre temas médicos, fazem com
que a medicina ofereça sempre um valioso suporte alternativo para os fracassos, angústias,
carências e fantasias da histeria. Essa teatralidade é muito marcante, fazendo com que eles
estejam sempre ensaiando e interpretando papéis que acreditam adequados à si próprios.
Por mais que lhe sejam dispensados carinhos a atenções, estes nunca são suficientes.
Insistentemente as pessoas histéricas estão a reclamar que ninguém as entende.

 A Indiferença aos Sintomas:

Nesta indiferença o histérico pode relatar, tranquilamente, que está cego. A


intencionalidade do histérico com essa indiferença sobre seu estado é no sentido de, sendo
vítima, aceitar placidamente esse destino cruel.

O paciente se comporta, às vezes, como se falasse dos sintomas de outra pessoa.


Após queixar-se deles com veemência passa a abordar outros acontecimentos de sua vida
atual ou passada, como se tivesse esquecido o início da conversa e de seu sintoma principal.

Quanto mais o médico se desvia dos sintomas físicos mais a pessoa histérica o
acompanhará e, ao contrário, quando retorna a abordar os sintomas e lhes damos muita
atenção, observa-se um agravamento dos mesmos.

Um dos propósitos desse sintoma na histeria é fazer com que a pessoa assuma o
papel de vítima indefesa diante da situação, provocando sentimentos de dó, pena e
complacência dos outros. De fato, um dos males viciosos da histeria é o fato da pessoa ir
incorporando este sentimento de fragilidade interior, o qual fará com que vá se sentindo
cada vez mais fraca e incapaz.

 Conversão, Dissociação, Somatização e Outros Nomes Complicados:

Há uma grande dificuldade de nomenclatura e classificação dos quadros onde o


componente histérico é evidente. Para facilitar, didaticamente vamos considerar essas

Enfermagem Módulo 3
114
situações todas como fazendo parte dos quadros do espectro histérico.

Tanto os transtornos somatoformes, quanto os fenômenos dissociativos e


conversivos, podem ser considerados transtornos psicorreativos, ou seja, aparecem sempre
em resposta ou reação a algum evento de vida, a alguma emoção. Trata-se de uma resposta
emocional a uma vivência traumática.

De modo geral, o transtorno de somatização se caracteriza pelo salto do psíquico


para o orgânico, com predominância de queixas relacionadas aos órgãos e sistemas
(cardiovascular, digestivo, respiratório, etc.), na conversão existe igualmente um salto do
psíquico para o orgânico, mas, com repercussão no “sistema de comunicação” da pessoa
com o mundo, ou seja, em sua mímica, seus cinco sentidos, sua mobilidade e coordenação
motora.

Nos distúrbios de dissociação há um salto do psíquico, porém, um salto do psíquico


para o próprio psíquico. Aqui são afetadas a consciência e integração da pessoa com a
realidade.

Todos esses sintomas do espectro histérico são reversíveis e não obedecem à


realidade orgânica ou fisiologia médica conhecida. Eles obedecem sim, a uma representação
emocional que o sujeito tem de seus conflitos, de seu corpo e de seu funcionamento. Assim
podemos observar uma perda total da visão em paciente histérico, sem que o reflexo foto-
motor se encontre alterado. Vale acrescentar que não se trata de simulação, os sintomas
simbolizam a nível corporal, um conflito inconsciente.

Enquanto o transtorno de somatização se caracteriza pela predominância de


queixas relacionadas aos órgãos e sistemas (cardiovascular, digestivo, respiratório, etc.), no
distúrbio de conversão estão comprometidas a funcionalidade dos órgãos e a capacidade de
comunicação corporal social. Os problemas de somatização normalmente envolvem a clínica
médica devido ao comprometimento dos diversos órgãos, enquanto os transtornos
conversivos guardam uma grande semelhança com os problemas neurológicos.

Assim sendo, na conversão os sintomas aparecem sob a forma de perda da função


de um ou de vários atributos necessários à vida de relação. Isso significa que a musculatura
estriada e os órgãos sensoriais são afetados, podendo fazer surgir paralisias, anestesias,
afonias, cegueira, crises convulsiformes, contraturas, desmaios, etc. Há uma perda parcial ou
completa da integração normal da consciência.

Esta perda do controle da consciência foi anteriormente denominada de Histeria de


Conversão. Atualmente prefere-se a denominação de Conversão e Dissociação (CID.10) para
os fenômenos onde o indivíduo fica, repentinamente, dissociado dos estímulos internos e
externos. Trata-se da expressão de um conflito ou necessidade psicológica, onde os
sintomas da perturbação não são voluntariamente produzidos e não podem ser explicados,
após investigação apropriada, por qualquer mecanismo clínico conhecido.

Classicamente o transtorno conversivo se manifesta por sintomas que sugerem uma


doença neurológica, tais como paralisias, afonia, convulsões, perturbações da coordenação,

Módulo 3 Enfermagem
115
acinesias, discinesias, cegueira, anestesias e parestesias. Como principal característica
psíquica associada ao distúrbio de conversão, funcionando como uma espécie de
personalidade pré-mórbida ou pré-requisito para a doença, está o transtorno histriônico (ou
Histérico) da personalidade.

É muito importante fazermos uma boa diferenciação entre sintomas conversivos e


sintomas psicossomáticos, embora seja bom sabermos que essas duas manifestações
também podem ocorrer num mesmo paciente histérico. Quando vivenciamos algum
acontecimento, nossa percepção da realidade vem sempre acompanhada de um
determinado afeto. Posteriormente, a evocação do ocorrido em nossa memória
(representação) virá sempre acrescida do afeto que lhe foi peculiar à época da vivência.

Na conversão e somatização, a representação da realidade vivenciada, quando


penosa, desagradável ou traumática é reprimida para o inconsciente e seu afeto, ou sua
energia psíquica, é deslocado para uma zona do corpo, geralmente implicada na cena
traumática, convertendo-se em sintoma.

Isso pode ser o que acontece, por exemplo, numa paciente que chega torta
(contratura) ao consultório, após ter participado de algumas práticas sexuais com o
namorado, caso essa situação estivesse em choque com seus valores morais. Nesses casos
não existem lesões orgânicas, embora sempre exista a queixa do sofrimento.

Essas queixas conversivas, ou alterações funcionais, independem da anatomia real


do corpo, ao contrário dos casos psicossomáticos, onde há sempre uma correspondência
física. Na doença psicossomática existe, de fato, alteração orgânica, embora seja
desencadeada, determinada ou agravada por razões emocionais.

Outra diferença se refere aos órgãos implicados quando se trata de fenômeno


conversivo. Na Doença Psicossomática o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é que seria mais
atingido. Alguns autores aceitam a ideia de que, na Doença Psicossomática, o afeto seria
suprimido devido alguma dificuldade para reconhecer e verbalizar sentimentos e emoções
(alexitimia). Resumindo, a maneira mais didática de entender essa sucessão de termos
parecidos e confusos pode ser assim:

Quadro 1 (5) - Termos e seus significados

TERMO SIGNIFICADO
Toda patologia psíquica que se faz representar
Somatiforme ou Somatoforme
no orgânico ou físico
Quando a parte física envolvida diz respeito aos
Somatização órgãos e sistemas (coração, muscular,
respiratório, vagina...)
Quando a parte física envolvida diz respeito à
Conversão comunicação corporal da pessoa (cinco sentidos,
musculatura, coordenação...)
Quando a parte envolvida diz respeito ao
Dissociação
próprio psiquismo (confusão mental, delírios,
Enfermagem Módulo 3
116
TERMO SIGNIFICADO
desorientação...)
Doenças determinadas, agravadas ou
desencadeadas por razões emocionais com
Psicossomática
alterações orgânicas constatáveis (asma,
hipertensão, dermatites, diabetes...)
Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

▪ Critérios de Diagnóstico para Transtornos Conversivos DSM-IV;


▪ Um ou mais sintomas ou déficits afetando a função motora ou sensorial
voluntária, que sugerem uma condição neurológica ou outra condição médica
geral;
▪ Fatores psicológicos são julgados como associados com o sintoma ou déficit, uma
vez que o início ou a exacerbação do sintoma ou déficit é precedido por conflitos
ou outros estressores;
▪ O sintoma ou déficit não é intencionalmente produzido ou simulado (como no
Transtorno Factício ou na Simulação);
▪ O sintoma ou déficit não pode, após investigação apropriada, ser completamente
explicado por uma condição médica geral, pelos efeitos diretos de uma
substância ou por um comportamento ou experiência culturalmente
sancionados;
▪ O sintoma ou déficit causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo, ou indica avaliação médica;
▪ O sintoma ou déficit não se limita a dor ou disfunção sexual, não ocorre
exclusivamente durante o curso de um Transtorno de Somatização, nem é mais
bem explicado por outro transtorno mental.
▪ Especificar tipo de sintoma ou déficit:
▪ Com Sintoma ou Déficit Motor;
▪ Com Sintoma ou Déficit Sensorial;
▪ Com Ataques ou Convulsões;
▪ Com Apresentação Mista.

 Transtorno Doloroso e Hipocondria:

O diagnóstico de Transtorno Doloroso veio satisfazer a necessidade de classificar os


pacientes com queixas dolorosas inconsistentes e de difícil entendimento médico,
relacionadas a estados emocionais. De fato, é como se fosse uma somatização mais
específica, ou seja, enquanto na somatização as queixas são muitas e variadas, no
Transtorno Doloroso a dor costuma ser uma só.

Para o diagnóstico de Transtorno Doloroso a dor deve causar sofrimento


significativo e algum prejuízo sócio-ocupacional, sendo suficientemente severa para indicar
uma atenção médica. A dor pode perturbar severamente vários aspectos da vida diária,
como por exemplo, no emprego ou na escola, assim como causar problemas de
relacionamento, tais como desajuste conjugal e mudanças no estilo de vida (desemprego,
isolamento social, problemas financeiros, etc.).
Módulo 3 Enfermagem
117
Esses pacientes costumam usar frequentemente o sistema de saúde, transformar a
dor em um foco importante de sua vida, usar exageradamente medicamentos analgésicos e
anti-inflamatórios. Não é raro, portanto, que tais pacientes desenvolvam dependência ou
abuso de opioides e/ou benzodiazepínicos.

Os fatores psicológicos, para esse diagnóstico, devem exercer um papel importante


no início, na gravidade, na exacerbação ou na manutenção da dor e, nunca é demais
ressaltar que a dor não é voluntariamente produzida ou simulada, como culturalmente se
acredita, e esse aspecto involuntário é que diferencia o Transtorno Doloroso do Transtorno
Factício ou da Simulação.

O longo itinerário médico das pessoas com transtorno doloroso deve-se à convicção
que eles têm de que deve existir, em algum local, um médico que tenha a "cura" para sua
dor. Eles podem gastar tempo e dinheiro na busca de um árduo objetivo.

Muitíssimo semelhante é o Transtorno Hipocondríaco. Aqui existe uma


preocupação, medo ou crença persistente de estar com algum transtorno somático grave e
progressivo. De modo geral a atenção do paciente se concentra em um ou dois órgãos ou
sistemas.

Pode acontecer também dos pacientes manifestarem queixas somáticas


persistentes ou preocupação duradoura com a aparência física. Sensações e sinais físicos
normais ou triviais são frequentemente interpretados pelo sujeito como anormais ou
perturbadores.

De um modo geral, tanto o Transtorno Doloroso quanto o Hipocondríaco, parecem


estar associados com outros transtornos emocionais, especialmente a Transtornos
Depressivos e de Ansiedade. Pacientes cuja dor está associada à severa depressão e aqueles
cuja dor se relaciona a uma doença terminal, mais notadamente câncer, parecem estar em
risco aumentado de suicídio.

 Transtorno Neurovegetativo:

No transtorno neurovegetativo o paciente atribui seus sintomas a um transtorno


somático de um órgão ou sistema controlado pelo sistema nervoso autônomo (ou
neurovegetativo). A diferença, se é que existe e vale a pena fazer, entre o transtorno
neurovegetativo e o transtorno de somatização é que nesse último existem as queixas mas
não existem alterações clinicamente constatáveis, como seria o broncoespasmo da asma ou
a vasoconstricção arterial da hipertensão. No transtorno neurovegetativo, por sua vez,
existem alterações funcionais sem lesão ou alteração morfológica, como ocorre no
transtorno psicossomático.

Normalmente as queixas neurovegetativas dizem respeito de um funcionamento


alterado, a um hiper ou hipofuncionamento, como por exemplo palpitações, transpiração,
ondas de calor ou de frio, tremores, assim como por expressão de medo e perturbação com
a possibilidade de uma doença física.

Enfermagem Módulo 3
118
No sistema cardiovascular, por exemplo, pode haver aceleração da frequência sem
nenhuma correspondência clínica. Para ilustrar melhor as diferenças de classificação
podemos dizer que, se fosse uma Somatização no sistema cardiovascular, teríamos uma
palpitação sem aumento da frequência ou uma dor sem alterações orgânicas. Se fosse um
Transtorno Psicossomático do sistema cardiovascular teríamos uma extrassistolia de fundo
emocional eletrocardiologicamente constatável. No transtorno neurovegetativo, por sua
vez, teríamos um aumento da frequência sem causa clínica aparente.

No sistema gastrintestinal o transtorno psicossomático pode se manifestar como


aerofagia, flatulência, cólon irritável, diarreia, dispepsia, piloroespasmo, etc. Se fosse um
Transtorno Psicossomático teríamos a úlcera digestiva, a retocolite ulcerativa, etc. No
sistema respiratório costuma haver hiperventilação, suspiração, soluços, tosse persistente. O
transtorno psicossomático nesse sistema seria representado pela asma brônquica (com
broncoespasmo constatável).

Na parte urogenital os sintomas neurovegetativos dizem respeito à disúria,


polaciúria, nictúria, urgência miccional, etc.

 Transtorno Dismórfico Corporal:

O transtorno dismórfico corporal é definido como uma preocupação com algum


defeito imaginário na aparência física numa pessoa com aparência normal. O DSM.IV diz que
a característica essencial do transtorno dismórfico corporal (historicamente conhecido como
Dismorfofobia) é uma preocupação com um defeito na aparência, sendo este defeito
imaginado ou, se houver uma ligeira anomalia física de fato, a preocupação do indivíduo é
acentuadamente excessiva e desproporcional.

Entretanto, para ser doença, essa preocupação deve causar sofrimento significativo
ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida
do indivíduo.

Os quadros mais comuns envolvem, principalmente, preocupações com defeitos


faciais, mas pode também incluir preocupações com outras partes do corpo, cheiro corporal
e aspectos da aparência. Essa preocupação é, em geral, uma crença que não assume
proporções delirantes. Quando isso ocorre o quadro pode ser de Esquizofrenia.

As queixas do paciente com transtorno dismórfico corporal geralmente envolvem


falhas imaginadas ou leves na face ou na cabeça, tais como perda de cabelos, acne, rugas,
cicatrizes, marcas vasculares, palidez ou rubor, inchação, assimetria ou desproporção facial,
ou pelos faciais excessivos. Outras preocupações comuns incluem o tamanho, a forma ou
algum outro aspecto do nariz, olhos, pálpebras, sobrancelhas, orelhas, boca, lábios, dentes,
mandíbula, queixo, bochechas ou cabeça.

De um modo geral, qualquer outra parte do corpo pode ser o foco de preocupação,
notadamente os genitais, seios, nádegas, abdômen, braços, mãos, pés, pernas, quadris,
ombros, espinha, regiões corporais maiores, ou tamanho geral do corpo. A preocupação
pode concentrar-se simultaneamente em diversas partes do corpo.

Módulo 3 Enfermagem
119
O mais comum é que a queixa do paciente com transtorno dismórfico corporal seja
específica, como por exemplo, lábio "torto" ou nariz "chato". Por vezes essa queixa pode ser
vaga, do tipo "face caída" ou olhos "inadequadamente fixos". Em vista do seu embaraço com
essas preocupações, algumas pessoas com esse transtorno evitam descrever seus "defeitos"
em detalhes, podendo referir-se apenas à sua "feiúra" geral.

A maior parte das pessoas com transtorno dismórfico corporal experimenta


acentuado sofrimento por sua suposta deformidade, em geral descrevendo suas
preocupações como "extremamente dolorosas", como "um tormento pior que a morte" ou
"devastadoras". Em consequência dessa supervalorização, frequentemente elas passam
horas por dia pensando em seus "defeitos", a ponto de esses pensamentos poderem vir a
dominar suas vidas.

Um prejuízo significativo em muitas áreas do funcionamento geralmente ocorre. Os


sentimentos de desconforto com seu "defeito" podem levá-los a evitar o trabalho ou
situações públicas. As cansativas verificações no espelho e exames do "defeito" em outras
superfícies refletoras disponíveis, como vitrines de lojas, para-brisas de automóveis, vidros
dos mostradores de relógios, etc., acabam consumindo horas intermináveis.
Consequentemente, alguns pacientes evitam espelhos, às vezes cobrindo-os ou removendo-
os de seu ambiente. Uma situação clínica que frequentemente acompanha o transtorno
dismórfico corporal em homens é a Vigorexia.

As pessoas com este transtorno frequentemente pensam que os outros podem


estar observando (ou certamente estão) com especial atenção sua suposta deficiência,
talvez falando dela ou ridicularizando-a. Essa postura caracteriza ideias de referência, ou
persecutórias que elas podem apresentar concomitante ao transtorno dismórfico corporal.

Esses pacientes podem estar sempre tentando disfarçar ou camuflar seu "horrendo
defeito", e fazem isso deixando crescer a barba para encobrir cicatrizes faciais imaginadas,
por exemplo, ou usando chapéu para esconder uma imaginada perda de cabelos, ou ainda
colocar enchimentos em cuecas para aumentar um pênis "pequeno".
O sofrimento e a disfunção frequentemente associados a este transtorno, podem
provocar repetidas hospitalizações e ideação suicida, tentativas ou suicídio completo. O
transtorno dismórfico corporal pode estar associado com Transtorno Depressivo Maior,
Transtorno Delirante Persistente, Fobia Social e Transtorno Obsessivo-Compulsivo

 Transtorno Dissociativo:

O Transtorno Dissociativo se caracteriza, principalmente, por uma perturbação das


funções integrativas da identidade, memória e consciência de origem psicorreativa,
normalmente de forma súbita e transitória. De origem psicorreativa significa um quadro que
aparece como reação à alguma vivência.

Semelhante ao quadro de conversão, onde há um salto das emoções para o


orgânico ou físico, na forma de sintomas que afetam órgãos e sistemas corpóreos, na
dissociação também há um salto, entretanto, trata-se de um salto do psíquico para o próprio
psíquico. É como se fosse um enlouquecer psicológico. Anteriormente tal transtorno era

Enfermagem Módulo 3
120
denominado de Neurose Histérica do Tipo Dissociativo. A Amnésia Psicogênica é uma das
apresentações desta neurose, assim como a Fuga Psicogênica, o Distúrbio de Personalidade
Múltipla e o Distúrbio de Despersonalização.

Neste distúrbio, como dissemos, ao invés do arremesso das emoções para o


orgânico, elas são refletidas no próprio psiquismo por meio de uma ruptura efervescente
com a realidade. Conceitualmente, como os afetos podem se traduzir por sintomas em
praticamente todos os órgãos e sistemas, no caso em pauta o sistema afetado é o próprio
sistema psíquico. Ao invés de considerarmos os cinco subtipos de Dissociação como se
fossem doenças próprias, preferimos entender esses subtipos como sendo sintomas
diferentes de uma mesma doença.

Juntamos aqui a classificação da CID.10 e do DSM.IV, com intenção de tornar a


questão mais completa e didática. A classificação dos Transtornos Dissociativos pode ser
feita da seguinte forma:
▪ Amnésia;
▪ Fuga;
▪ Person.
▪ Múltipla;
▪ Despersonalização;
▪ Síndrome de Ganser.

 Amnésia Psicogênica ou Dissociativa:

Define-se Amnésia Psicogênica (CID.10) ou Dissociativa (DSM.IV) como sendo uma


súbita incapacidade para lembrar informações pessoais importantes e anteriormente
armazenadas na memória. Trata-se de algo muito mais profundo que um esquecimento
simples e, para que possamos dar esse diagnóstico, deve ocorrer na ausência de outro
transtorno cerebral concomitante, como por exemplo, traumatismos cranianos, estados pós-
convulsivos, etc.

Não podemos afastar a possibilidade deste sintoma tratar-se de uma exacerbação


patológica do Mecanismo de Defesa denominado Negação. Na Amnésia Psicogênica há
angústia patológica suficiente para produzir o Transtorno Dissociativo sob a forma de
esquecimento (lacunar) daquilo que “precisa” ser esquecido. De fato, pode ser o próprio
Mecanismo de Defesa (Negação) exibido de maneira patológica.

Na prática, a Amnésia Psicogênica pode seguir-se aos acidentes catastróficos, como


por exemplo, a guerra, acidentes aéreos, etc., ou a fatos vivenciais traumáticos e/ou
moralmente muito condenáveis. Há uma incapacidade de recordar informações pessoais
importantes, em geral de natureza traumática ou estressante, demasiadamente extensa e
delimitada para ser explicada pelo esquecimento normal.

Nesse transtorno o prejuízo da memória pode ser de natureza reversível.


Normalmente a amnésia tem início súbito e o paciente tem boa noção de que perdeu parte
de sua memória, isso quando não há outro comprometimento da consciência superposto. A
Amnésia Histérica se apresenta como uma lacuna bem delimitada no tempo, normalmente

Módulo 3 Enfermagem
121
referida como acontecendo a partir de tal momento e durando até tal instante.

Algumas pessoas com esse tipo de histeria podem ter amnésia para episódios, por
exemplo, de automutilação, de ataques violentos ou de tentativas de suicídio. Outras vezes a
amnésia se apresenta de modo bastante súbito em tempos de guerra ou em resposta a um
desastre natural.

Quando a amnésia é bem definida e localizada no tempo, a pessoa não consegue


recordar eventos que ocorreram durante um período limitado de tempo, em geral durante
as primeiras horas (de 2 a 36, em média) após um evento perturbador. Isso é o que pode
acontecer, por exemplo, com sobreviventes de sérios acidentes automobilísticos,
principalmente quando houver perda de algum membro da família.

Pode haver ainda, uma espécie de amnésia seletiva, quando então a pessoa
consegue recordar alguns, mas não todos, eventos durante um período limitado de tempo. É
o que pode acontecer, por exemplo, com um veterano de guerra capaz de recordar apenas
algumas partes de uma série de experiências de um episódio de combate violento.

Há ainda três outros tipos de amnésia, menos comuns que as duas anteriores; a
generalizada, contínua e a sistematizada. Na amnésia generalizada, o fracasso em recordar
abrange toda a vida da pessoa. Os indivíduos com este raro transtorno em geral se
apresentam à polícia, às salas de emergência ou aos serviços de psiquiatria de hospitais
gerais.

A amnésia contínua é definida como uma incapacidade de recordar eventos


subsequentes a um momento específico (inclusive) até o presente. Finalmente, a amnésia
sistematizada representa a perda de memória para certas categorias de informações, tais
como todas as recordações envolvendo a própria família ou uma determinada pessoa. Os
indivíduos que exibem esses últimos três tipos de Amnésia Dissociativa ou Psicogênica
podem por fim receber um diagnóstico de uma forma mais complexa de Transtorno
Dissociativo (por ex., Transtorno Dissociativo de Identidade).

Além dos sintomas relacionados à memória, na Amnésia Dissociativa podem existir


também sintomas depressivos, despersonalização, estados de transe, anestesias e regressão
etária espontânea. É uma condição muito propícia às encenações das “vidas passadas”.
Outros problemas que ocasionalmente acompanham este transtorno incluem disfunção
sexual, prejuízo no trabalho ou nos relacionamentos interpessoais, automutilação, impulsos
agressivos, impulsos e atos suicidas. Os indivíduos com Amnésia Dissociativa também podem
ter sintomas que satisfazem os critérios para Transtorno Conversivo, Transtorno do Humor
ou Transtorno da Personalidade.

 Fuga Psicogênica:

Neste tipo de alteração o distúrbio predominante consiste num afastamento súbito


e inesperado de casa ou do local de trabalho e a incapacidade de se recordar de seu
passado, portanto, é um sintoma superposto à Amnésia Psicogênica.

Enfermagem Módulo 3
122
Há, na Fuga Dissociativa ou Psicogênica, essencialmente, um desejo incontido de se
afastar de experiências emocionalmente dolorosas mas, durante o período em que o
paciente está foragido, pode se comportar de modo aparentemente normal ao julgamento
dos outros. O principal diagnóstico diferencial para a Fuga Psicogênica é o comportamento
do Estado Crepuscular, que pode acontecer na epilepsia do lobo temporal.

Normalmente a Fuga Dissociativa é acompanhada por confusão acerca da


identidade pessoal ou mesmo adoção de uma nova identidade. Essa “viagem” pode variar
desde breves afastamentos, por períodos relativamente curtos de horas ou poucos dias, até
roteiros complexos, geralmente discretos, por períodos mais longos de semanas ou meses.

Há relatos de casos onde pessoas com Fuga Dissociativa cruzam fronteiras e viajam
milhares de quilômetros. Durante uma fuga, os indivíduos em geral parecem não ter
psicopatologia e não despertam atenções. Em algum momento o indivíduo é levado ao
atendimento médico, geralmente por causa de amnésia para eventos recentes, estado
confusional ou falta de consciência da identidade pessoal. Retornando ao estado pré-fuga, a
pessoa pode não recordar o que ocorreu durante a fuga.
A maioria das fugas não envolve a formação de uma nova identidade mas, quando
isso ocorre, a nova identidade assumida durante a fuga é caracterizada por traços mais
gregários e desinibidos do que aqueles que caracterizavam a identidade anterior.

A pessoa com esse quadro pode assumir um novo nome, uma nova residência e
envolver-se em atividades sociais complexas e bem integradas, que não sugerem a presença
de um transtorno mental. Juntamente com o quadro de Fuga Dissociativa pode haver
sintomas de depressão, disforia, tristeza, culpa, estresse, conflitos, impulsos suicidas e
agressivos.

 Síndrome de Personalidade Múltipla:

O Transtornos de Personalidade Múltipla ou Transtorno Dissociativo de Identidade


é outro sintoma que também pode estar presente no Transtorno Dissociativo. Alguns
autores consideram a personalidade múltipla mais frequente que se imaginava antes,
principalmente em adolescentes do sexo feminino.

Esse quadro se caracteriza pela existência de duas ou mais personalidades distintas


e separadas numa mesma pessoa, e cada uma delas determinando comportamentos,
atitudes e sentimentos próprios. Quando o paciente manifesta uma determinada
personalidade, há amnésia em relação à outra. A transição de uma personalidade para outra
é, frequentemente, súbita e dramática. As personalidades assumidas podem representar
identidades criadas subjetivamente e que atendem anseios subterrâneos do indivíduo, bem
como entidades sobrenaturais e possessivas.

Normalmente o Transtorno Dissociativo de Identidade, ou de Personalidade


Múltipla, reflete um fracasso psíquico em integrar vários aspectos da identidade, memória e
consciência. Cada estado de personalidade pode ser vivenciado como se possuísse uma
história pessoal distinta e própria, autoimagem e identidade próprias, inclusive com nomes
diferentes.

Módulo 3 Enfermagem
123
Segundo o DSM.IV, nos casos de Personalidade Múltipla existe em geral uma
identidade primária, portadora do nome correto do indivíduo. Com frequência essa
identidade costuma ser passiva, dependente, culpada e depressiva.

As identidades alternativas, ao contrário, têm nomes e características que


contrastam com a identidade primária, como por exemplo, hostilidade, participação ativa e
controle dos outros, etc. Outras identidades particulares podem emergir quando a pessoa se
vê em circunstâncias específicas e altamente exigentes em termos emocionais.

As pessoas com este transtorno experimentam frequentes falhas de memória para


a história pessoal, tanto remota quanto recente. As evidências desses episódios de amnésia
podem ser reveladas por relatos de outras pessoas que testemunharam o comportamento
negado pelo paciente, como por exemplo, compras realizadas e não recordadas pela pessoa.

As transições entre identidades frequentemente são ativadas pela tensão


emocional e estresse, e o tempo necessário para a mudança de uma para outra identidade é
uma questão de segundos. O número de identidades relatadas varia de 2 a mais de 100.
Metade dos casos relatados inclui indivíduos com 10 ou menos identidades.

Os indivíduos com Transtorno Dissociativo de Identidade frequentemente relatam a


experiência de severo abuso físico e sexual, especialmente durante a infância. Kaplan refere
estudos que apontam uma incidência de 80% em vítimas de abusos sexuais na infância em
pacientes com Transtornos de Personalidade Múltipla, e 25% dos casos com esse quadro
apresenta epilepsia concomitante.

 Transtorno de Despersonalização e Desrealização:

Muito semelhante à Personalidade Múltipla é a forma de histeria denominada


Despersonalização, caracterizada por alteração persistente ou recorrente na percepção de si
mesmo, como a experiência de sentir-se separado do próprio corpo, de agir mecanicamente
ou de estar num sonho.

Ao invés de sentir-se “possuído” por uma outra personalidade há, aqui, uma
sensação de irrealidade para com o próprio corpo. Entre as causas orgânicas que mais
apresentam o sintoma da Despersonalização está a Epilepsia, a qual deve ser prontamente
distinguida do Transtorno Dissociativo. Normalmente a despersonalização é acompanhada
de grande sensação de ansiedade.

As características essenciais do Transtorno de Despersonalização consistem de


episódios persistentes ou recorrentes de sensação de distanciamento ou estranhamento de
si próprio. A pessoa pode se sentir como um autômato ou como se estivesse num sonho ou
filme.
Pode haver uma sensação de ser um observador externo de si próprio, dos próprios
processos mentais, do próprio corpo ou de partes do próprio corpo. Vários tipos de
anestesia sensorial, falta de resposta afetiva e uma sensação de não ter o controle das
próprias ações, incluindo a fala, frequentemente estão presentes. Pacientes com Transtorno
de Despersonalização mantêm um bom juízo de realidade, ou seja, têm consciência de que

Enfermagem Módulo 3
124
isto é apenas uma sensação e de não ser realmente um autômato.

A Despersonalização costuma ser uma experiência comum na psiquiatria, devendo-


se fazer este diagnóstico apenas se os sintomas forem suficientemente severos para causar
sofrimento acentuado ou prejuízo no funcionamento. Uma vez que o sintoma
despersonalização é um fenômeno associado a muitos outros transtornos emocionais, e não
apenas à histeria, o diagnóstico de Transtorno de Despersonalização não deve ser
considerado se houver qualquer outro transtorno mental, como por exemplo, Esquizofrenia,
Transtorno de Pânico, Transtorno de Estresse Agudo ou outro estado não histérico.

As pessoas com despersonalização mas que não sejam histéricas, frequentemente


podem ter dificuldade em descrever seus sintomas, bem como temer e recear que essas
sensações possam ser interpretadas como sinais de loucura.

A Desrealização também pode estar presente, sendo vivenciada como um


sentimento de que o mundo externo é estranho ou irreal. A pessoa com desrealização pode
perceber também uma alteração insólita no tamanho ou forma dos objetos, percebendo-os
maiores do que são (macropsia) ou menores (micropsia), assim como podem parecer
estranhas ou mecânicas as pessoas à sua volta.

Tanto a Despersonalização quanto a Desrealização podem estar associadas à


quadros de intensa ansiedade, à episódios depressivos, principalmente do tipo grave (ou
maior) e à transtornos relacionados ao uso de substâncias. Também é comum encontrar
nesses pacientes quadros de ruminação obsessiva de ideias, preocupações somáticas
exageradas e Hipocondria. Os sintomas de Despersonalização e a Desrealização são
muitíssimo frequentes durante os Ataques de Pânico.

 Síndrome de Ganser:

A Síndrome de Ganser pode ser considerada a apoteose das histerias. Nesse caso,
se fosse nominalmente possível, o termo mais correto seria Loucura Histérica. Trata-se de
um Transtorno Dissociativo que se manifesta por uma produção voluntária de
sintomatologia psiquiátrica muito severa, exuberante e inusitada. No exame desses
pacientes podemos perceber respostas incoerentes e discurso despropositado, cujo objetivo
é convencer solidamente o observador de que o paciente, de fato, está louco.

Perguntando-se há essas pessoas quanto é dois mais um, costumam responder


quatro, ou a cor de uma parede verde ele diz ser preta. São elementos da realidade
intelectual e sensoperceptiva que não se alteram em nenhuma espécie de loucura. Caso
esse paciente estivesse desorientado de fato, diria não sei para as duas perguntas.

A Síndrome de Ganser pode fazer parte de um quadro dissociativo, juntamente com


os demais sintomas histéricos. Há aqui, evidentemente, uma perturbação nas funções
habitualmente integradas da consciência, memória, identidade ou percepção do ambiente.

Módulo 3 Enfermagem
125
 Transtornos Somatoformes:

A característica principal dos Transtornos Somatoformes é a presença de sintomas


físicos que sugerem alguma doença orgânica ou física. A base do quadro clínico diz respeito
à presença repetida de sintomas físicos associados à busca persistente de assistência
médica.

Apesar dos médicos nada encontrarem de anormal nos pacientes com Transtorno
Somatoforme, as queixas persistem. E quando há alguma alteração orgânica, esta
normalmente não justifica a queixa.

Mas, para que haja um diagnóstico de Transtorno Somatoforme deve haver,


juntamente com as queixas, algum sofrimento ou prejuízo no funcionamento social ou
ocupacional. Caso isso não ocorra estaremos diante apenas de um traço histérico de
personalidade.

A pergunta que sempre está presente diante de casos histéricos com somatização é
quanto à intencionalidade consciente dos sintomas. Nos Transtornos Somatoformes a
intencionalidade é inconsciente, ou seja, pode haver uma espécie de “planejamento”
inconsciente da sintomatologia, a qual passa a se manifestar involuntariamente. Esse quadro
difere dos Transtornos Factícios e da Simulação, onde os sintomas físicos não são
conscientemente intencionais, isto é, voluntários.

 Transtorno de Somatização:

Somatização a rigor, significa passar para o somático, físico ou corpóreo, somatizar.


Normalmente essa expressão não deve ser tomada exclusivamente como se tratasse de
alguma categoria diagnóstica específica. A somatização aparece na medicina em geral e na
psiquiatria, em particular, muito mais como um sintoma, encontradiço em muitos estados
emocionais, do que como uma doença específica.

Quem trabalha em saúde está familiarizado com aquele tipo de paciente que
apresenta queixas múltiplas, imprecisas, confusas e difusas. Normalmente começam dizendo
“... não sei nem por onde começar doutor.” Essas pessoas costumam se sentir
inconformadas com resultados negativos dos muitos exames que se submetem.

Com frequência essas pessoas somatiformes procuram vários especialistas e em


diversos serviços e hospitais, sem que se sintam efetivamente melhoradas. Em resumo,
somatizar significa expressar o sofrimento emocional sobre forma de queixas físicas,
portanto, somatização é uma forma de histeria, embora não seja a única.

A categoria diagnóstica dos Transtornos Somatoformes e suas subdivisões


(Transtorno de Somatização, Somatoforme de Dor, Disfunções Neurovegetativas, etc.)
abrangem uma série de pacientes cujos sintomas correspondem a respostas somáticas,
indicadoras de alterações emocionais e super valorizadas através de ampliações das
sensações corporais.

Enfermagem Módulo 3
126
A característica principal do Transtorno de Somatização é a elaboração de múltiplas
queixas somáticas pelo paciente, queixas essas recorrentes e clinicamente significativas.
Uma queixa é considerada clinicamente significativa quando resulta ou acaba determinando
algum tratamento médico. Também pode ser considerada clinicamente significativa quando
é capaz de causar algum prejuízo no funcionamento social ou ocupacional da pessoa.

No Transtorno de Somatização normalmente há uma história de dor incaracterística


e de difícil explicação médica que acomete, predominantemente a cabeça, as costas,
articulações, extremidades, tórax, e/ou uma história de comprometimento nas funções de
órgãos, como por exemplo, em relação às menstruações, ao intercurso sexual, digestão,
funcionamento intestinal, etc.

As queixas do Transtorno de Somatização usualmente levam o paciente a


frequentes exames médicos, radiográficos, tomográficos e mesmo a cirurgias exploratórias
desnecessárias. Como as pessoas portadoras do Transtorno de Somatização são
previamente histeriformes, em geral elas descrevem suas queixas em termos dramáticos,
eloquentes e exagerados ou, curiosamente, ao extremo contrário, ou seja, completamente
indiferentes à sugerida gravidade do problema.

Frequentemente as pessoas portadoras do Transtorno de Somatização têm um


longo histórico de hospitalizações e extensa trajetória médica, muitas vezes buscando
tratamento com vários médicos ao mesmo tempo.
Concomitantemente, sintomas proeminentes de ansiedade e humor depressivo são
muito comuns, podendo ser até a razão principal para o atendimento médico. Os
Transtornos Depressivo e de Pânico podem estar associados, assim como os Transtornos de
Personalidade dos tipos Histriônica e Borderline.

Existem numerosos sintomas físicos e variados, contínuos e queixados no dia-a-dia


que caracterizam mais a maneira desse paciente ser do que uma maneira nervosa dele estar.
Assim sendo, os somatoformes são pacientes poliqueixosos, com sintomas sugestivos de
muitos problemas de saúde, mas que não se confirmam pelos exames médicos habituais.

Os sintomas da somatização podem aparecer como quadros dolorosos


incaracterísticos, transtornos cardíacos e circulatórios que não se confirmam por exames
especializados, distúrbios digestivos e respiratórios, enfim, por queixas que refletem
alterações em qualquer sistema funcional, mas raramente se confirmam por exames clínicos
ou de laboratório. Nota-se sempre, inclusive com reconhecimento pelo próprio paciente, de
variação na intensidade das queixas conforme alterações emocionais, embora a maioria
deles insista em discordar do ponto de vista médico que aponta para a possibilidade psíquica
dos sintomas.

Nas características psicológicas associadas ao Distúrbio de Somatização


encontramos com frequência o humor depressivo e, em segundo lugar, o Transtorno
Histriônico da Personalidade. Habitualmente os sintomas iniciam-se entre os 10 e 20 anos e,
nas mulheres, é comum que os problemas menstruais (Dismenorreia) seja a primeira queixa.

Mesmo diante da suspeita do Transtorno de Somatização o médico deve,

Módulo 3 Enfermagem
127
obrigatoriamente, excluir a existência de alguma doença orgânica real. Não deve ser
negligenciada a possibilidade, mais que comum, dos pacientes somatizados clássicos
portarem, simultaneamente, algum outro transtorno clínico orgânico.

Desta forma, ressalta-se para o diagnóstico do Transtorno de Somatização puro a


existência de alguma patologia orgânica real. Depois deste procedimento clínico podemos
observar uma extensa lista de sintomas possíveis de refletir uma somatização:

 Sintomas do Transtorno de Somatização:

▪ Vômitos ▪ Dor durante o ato sexual


▪ Palpitações ▪ Dor nas extremidades
▪ Dor abdominal ▪ Impotência
▪ Dor torácica ▪ Dor lombar
▪ Náuseas ▪ Dismenorreia
▪ Tonturas ▪ Dor articular
▪ Flatulência ▪ Outras queixas menstruais
▪ Ardência nos órgãos genitais ▪ Dor miccional
▪ Diarreia ▪ Vômitos durante a gravidez
▪ Indiferença sexual ▪ Dor inespecífica
▪ Intolerância alimentar ▪ Falta de ar

Para o diagnóstico do Transtorno Somatização é importante que os sintomas


causem sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em
outras áreas importantes.

A representação subjetiva e psíquica dos sintomas sentidos pelo paciente refletem


sempre seu perfil sociocultural. Em camadas menos diferenciadas da população notamos
queixa de sintomas muito simples, como por exemplo, a menstruação que sobe para a
cabeça, o sangue sujo, uma dieta pós-parto mal conduzida, a consequência desastrosa de
olhar no espelho depois da refeição, uma mistura fatal de manga com leite, sustos capazes
de provocar paralisias e assim por diante.

A manifestação emocional somatizada não respeita a posição sociocultural do


paciente, como podem suspeitar alguns, não guarda também relação com o nível intelectual,
pois, como se sabe, a emoção é senhora e não serva da razão. O único fator capaz de
atenuar as queixas é a capacidade da pessoa expressar melhor seus sentimentos
verbalmente.

Quanto maior a capacidade do indivíduo se ao referir seu mal-estar através de


discurso sobre suas emoções, como por exemplo, relatando sua angústia, sua frustração,
depressão, falta de perspectiva, insegurança, negativismo, pessimismo, carência de carinho
e coisas assim, menor será a chance de representar tudo isso através de palpitações,
pontadas, dores, falta de ar, etc.

Um dos primeiros passos para o tratamento dos pacientes com somatização deve
ser conscientizá-los sobre a importante participação dos fatores emocionais na

Enfermagem Módulo 3
128
sintomatologia queixada, tentar uma mudança no significado cultural de suas doenças e
incentivar maior honestidade pessoal sobre sua natureza emocional. O inimigo natural desta
iniciativa tem sido sempre o aspecto depreciativo das ocorrências histéricas, ou o caráter
ficcioso que a sociedade empresta aos componentes psicogênicos dos sintomas, ou ainda, à
falsa ideia de que toda ocorrência psíquica depende da boa vontade do paciente.

Entre os próprios médicos ainda é muito forte a ideia de que o paciente


somatizador tenta enganá-los ou procede de má-fé. Às vezes e intimamente, o médico se
aborrece porque as queixas somatiformes não obedecerem o que ele aprendeu nos livros
tradicionais de medicina e, tão diferentes assim eles passam a representar um desafio a seus
conhecimentos científicos e fisiopatológicos.

O Transtorno Somatização é um transtorno crônico e flutuante mas raramente


apresenta remissão ou cura completa. É raro passar um ano sem que o indivíduo busque
algum atendimento médico, normalmente levado por queixas somáticas medicamente
inexplicáveis. Os critérios de diagnóstico tipicamente são satisfeitos antes dos 25 anos mas
os sintomas iniciais frequentemente estão presentes desde adolescência. Os sintomas
sexuais frequentemente estão associados com desajuste conjugal.

O DSM-IV recomenda como critérios para o diagnóstico dos Transtornos de


Somatização o seguinte:

Uma história de muitas queixas físicas com início antes dos 30 anos, que ocorrem
por um período de vários anos e resultam em busca de tratamento ou prejuízo significativo
no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes de funcionamento
do indivíduo. Cada um dos seguintes critérios deve ter sido satisfeito, com os sintomas
individuais ocorrendo em qualquer momento durante o curso do distúrbio:

▪ Quatro sintomas dolorosos: uma história de dor relacionada a pelo menos


quatro locais ou funções diferentes (cabeça, abdômen, costas, articulações,
extremidades, tórax, reto, menstruação, intercurso sexual ou micção).
▪ Dois sintomas gastrintestinais: uma história de pelo menos dois sintomas
gastrintestinais outros que não dor (náusea, inchação, vômito outro que não
durante a gravidez, diarreia ou intolerância a diversos alimentos).
▪ Um sintoma sexual: uma história de pelo menos um sintoma sexual ou
reprodutivo outro que não dor (indiferença sexual, disfunção erétil ou
ejaculatória, irregularidades menstruais, sangramento menstrual excessivo,
vômitos durante toda a gravidez).
▪ Um sintoma pseudoneurológico: uma história de pelo menos um sintoma ou
déficit sugerindo uma condição neurológica não limitada a dor (sintomas
conversivos tais como prejuízo de coordenação ou equilíbrio, paralisia ou
fraqueza localizada, dificuldade para engolir ou nó na garganta, afonia, retenção
urinária, alucinações, perda da sensação de tato ou dor, diplopia, cegueira,
surdez, convulsões; sintomas dissociativos tais como amnésia ou perda da
consciência outra que não por desmaio).

Após investigação apropriada, nenhum dos sintomas pode ser completamente

Módulo 3 Enfermagem
129
explicado por uma condição médica geral conhecida ou pelos efeitos diretos de uma
substância (droga de abuso, medicamento).

Quando existe uma condição médica geral relacionada, as queixas físicas ou o


prejuízo social ou ocupacional resultante excedem o que seria esperado a partir da história,
exame físico ou achados laboratoriais. Os sintomas não são intencionalmente produzidos ou
simulados (como no transtorno factício ou na simulação).

5.2 Transtornos Psicóticos

Uma psicose (ou transtornos psicóticos) é definida como a incapacidade de


distinguir entre a experiência subjetiva e a realidade externa, ou seja, existe uma perda de
contato com a realidade. Existem vários subtipos de psicoses, no entanto, de uma forma
geral a pessoa que atravessa uma crise psicótica pode ter alucinações, delírios, mudanças
comportamentais e pensamento confuso. O grau desta perda de contato com a realidade
depende da intensidade da psicose.

5.2.1 Esquizofrenia

Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam em geral por distorções


fundamentais e características do pensamento e da percepção, e por afetos inapropriados
ou embotados. Usualmente mantém-se clara a consciência e a capacidade intelectual,
embora certos déficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo. Os fenômenos
psicopatológicos mais importantes incluem o eco do pensamento, a imposição ou o roubo
do pensamento, a divulgação do pensamento, a percepção delirante, ideias delirantes de
controle, de influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou discutem
com o paciente na terceira pessoa, transtornos do pensamento e sintomas negativos.

A evolução dos transtornos esquizofrênicos pode ser contínua, episódica com


ocorrência de um déficit progressivo ou estável, ou comportar um ou vários episódios
seguidos de uma remissão completa ou incompleta. Não se deve fazer um diagnóstico de
esquizofrenia quando o quadro clínico comporta sintomas depressivos ou maníacos no
primeiro plano, a menos que se possa estabelecer sem equívoco que a ocorrência dos
sintomas esquizofrênicos fosse anterior à dos transtornos afetivos.

Além disto, não se deve fazer um diagnóstico de esquizofrenia quando existe uma
doença cerebral manifesta, intoxicação por droga ou abstinência de droga. Os transtornos
que se assemelham à esquizofrenia, mas que ocorrem no curso de uma epilepsia ou de
outra afecção cerebral deve ser codificado; os transtornos que se assemelham à
esquizofrenia, mas que são induzidos por drogas psicoativas devem ser classificados em com
quarto caractere comum.

 Esquizofrenia Paranoide:

A esquizofrenia paranoide se caracteriza essencialmente pela presença de ideias


delirantes relativamente estáveis, frequentemente de perseguição, em geral acompanhadas
de alucinações, particularmente auditivas e de perturbações das percepções. As

Enfermagem Módulo 3
130
perturbações do afeto, da vontade, da linguagem e os sintomas catatônicos, estão ausentes,
ou são relativamente discretos.

 Esquizofrenia Hebefrênica:

Forma de esquizofrenia caracterizada pela presença proeminente de uma


perturbação dos afetos; as ideias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias, o
comportamento é irresponsável e imprevisível; existem frequentemente maneirismos. O
afeto é superficial e inapropriado. O pensamento é desorganizado e o discurso incoerente.
Há uma tendência ao isolamento social. Geralmente o prognóstico é desfavorável devido ao
rápido desenvolvimento de sintomas "negativos", particularmente um embotamento do
afeto e perda da volição. A hebefrenia deveria normalmente ser somente diagnosticada em
adolescentes e em adultos jovens.

 Esquizofrenia Catatônica:

A esquizofrenia catatônica é dominada por distúrbios psicomotores proeminentes


que podem alternar entre extremos tais como hipercinesia e estupor, ou entre a obediência
automática e o negativismo. Atitudes e posturas a que os pacientes foram compelidos a
tomar podem ser mantidas por longos períodos. Um padrão marcante da afecção pode ser
constituído por episódios de excitação violenta. O fenômeno catatônico pode estar
combinado com um estado oniroide com alucinações cênicas vívidas, quadro este
caracterizado na fase aguda geralmente em regime de internação hospitalar. Caracterizada
pela ocorrência de Catalepsia, Catatonia, Flexibilidade Cérea, Estupor Catatônico.

 Esquizofrenia Indiferenciada:

Afecções psicóticas que preenchem os critérios diagnósticos gerais para a


esquizofrenia mas que não correspondem a nenhum dos subtipos incluídos na classificação
ou que exibam padrões de mais de um deles sem uma clara predominância de um conjunto
particular de características diagnósticas. Caracterizada por uma Esquizofrenia atípica.

 Depressão Pós-esquizofrênica:

Episódio depressivo eventualmente prolongado que ocorre ao fim de uma afecção


esquizofrênica. Ao menos alguns sintomas esquizofrênicos "positivos" ou "negativos" devem
ainda estar presentes mas não dominam mais o quadro clínico. Este tipo de estado
depressivo acompanha um maior risco de suicídio. Se o paciente não apresenta mais
nenhum sintoma esquizofrênico, deve-se fazer um diagnóstico de episódio depressivo. Se os
sintomas esquizofrênicos ainda são aparentes e proeminentes, deve-se manter o diagnóstico
da forma clínica apropriada da esquizofrenia.

 Esquizofrenia Residual:

Estágio crônico da evolução de uma doença esquizofrênica, com uma progressão


nítida de um estágio precoce para um estágio tardio, o qual se caracteriza pela presença
persistente de sintomas "negativos" embora não forçosamente irreversíveis, tais como

Módulo 3 Enfermagem
131
lentidão psicomotora; hipoatividade; embotamento afetivo; passividade e falta de iniciativa;
pobreza da quantidade e do conteúdo do discurso; pouca comunicação não-verbal
(expressão facial, contato ocular, modulação da voz e gestos), falta de cuidados pessoais e
desempenho social medíocre.

 Esquizofrenia Simples:

Transtorno caracterizado pela ocorrência insidiosa e progressiva de excentricidade


de comportamento, incapacidade de responder às exigências da sociedade, e um declínio
global do desempenho. Os padrões negativos característicos da esquizofrenia residual (por
exemplo: embotamento do afeto e perda da volição) se desenvolvem sem serem precedidos
por quaisquer sintomas psicóticos manifestos.

 Outras Esquizofrenias:

▪ Ataque Esquizofreniforme.
▪ Esquizofrenia Cenestopática.
▪ Psicose Esquizofreniforme.
▪ Transtorno Esquizofreniforme.

5.2.2 Episódio Maníaco

Todas as subdivisões desta categoria se aplicam exclusivamente a um episódio


isolado. Um episódio hipomaníaco ou maníaco em indivíduo que já tenha apresentado um
ou mais episódios afetivos prévios (depressivo, hipomaníaco, maníaco, ou misto) deve
conduzir a um diagnóstico de transtorno afetivo bipolar.

 Hipomania:

Transtorno caracterizado pela presença de uma elevação ligeira mas persistente do


humor, da energia e da atividade, associada em geral a um sentimento intenso de bem-estar
e de eficácia física e psíquica. Existe frequentemente um aumento da sociabilidade, do
desejo de falar, da familiaridade e da energia sexual, e uma redução da necessidade de sono;
estes sintomas não são, entretanto, tão graves de modo a entravar o funcionamento
profissional ou levar a uma rejeição social. A euforia e a sociabilidade são por vezes
substituídas por irritabilidade, atitude pretensiosa ou comportamento grosseiro. As
perturbações do humor e do comportamento não são acompanhadas de alucinações ou de
ideias delirantes.

 Mania sem Sintomas Psicóticos:

Presença de uma elevação do humor fora de proporção com a situação do sujeito,


podendo variar de uma jovialidade descuidada a uma agitação praticamente incontrolável.
Esta elação acompanha um aumento da energia, levando à hiperatividade, um desejo de
falar e uma redução da necessidade de sono. A atenção não pode ser mantida, e existe
frequentemente uma grande distração. O sujeito apresenta frequentemente um aumento
do autoestima com ideias de grandeza e superestimativa de suas capacidades. A perda das

Enfermagem Módulo 3
132
inibições sociais pode levar a condutas imprudentes, irrazoáveis, inapropriadas ou
deslocadas.

 Mania com Sintomas Psicóticos:

Presença, além do quadro clínico descrito, de ideias delirantes (em geral de


grandeza) ou de alucinações (em geral do tipo de voz que fala diretamente ao sujeito) ou de
agitação, de atividade motora excessiva e de fuga de ideias de uma gravidade tal que o
sujeito se torna incompreensível ou inacessível a toda comunicação normal.

5.2.3 Transtornos da Alimentação

Os Transtornos Alimentares caracterizam-se por severas perturbações no


comportamento alimentar. Estas podem ser causadas por fatores metabólicos ou
psicológicos.

 Anorexia Nervosa:

Anorexia nervosa é um transtorno caracterizado por perda de peso intencional,


induzida e mantida pelo paciente. O transtorno ocorre comumente em mulheres
adolescentes ou jovens, mas pode igualmente ocorrer em homens adolescentes ou jovens,
em crianças próximas à puberdade ou em mulheres de mais idade até na menopausa. A
doença está associada a uma psicopatologia específica, compreendendo um medo de
engordar e de ter uma silhueta arredondada, intrusão persistente de uma ideia
supervalorizada. Os pacientes se impõem a si mesmos um baixo peso. Existe comumente
desnutrição de grau variável que acompanha modificações endócrinas e metabólicas
secundárias, e perturbações das funções fisiológicas. Os sintomas compreendem uma
restrição das escolhas alimentares, a prática excessiva de exercícios físicos, vômitos
provocados e a utilização de laxantes, de anorexígenos e de diuréticos.

 Anorexia Nervosa Atípica:

Transtornos que apresentam algumas das características da anorexia nervosa mas


cujo quadro clínico global não justifica tal diagnóstico. Por exemplo, um dos sintomas-chave,
o temor acentuado de ser gordo ou a amenorreia, pode estar ausente apesar de uma
acentuada perda de peso e de um comportamento para emagrecer. Este diagnóstico não
deve ser feito na presença de transtornos físicos conhecidos associados à perda de peso.

 Bulimia Nervosa:

A bulimia é uma síndrome caracterizada por acessos repetidos de hiperfagia


(exacerbada ingestão de alimentos) e uma preocupação excessiva com relação ao controle
do peso corporal conduzindo a uma alternância de hiperfagia e vômitos ou uso de
purgativos. Este transtorno partilha diversas características psicológicas com a anorexia
nervosa, dentre as quais uma preocupação exagerada com a forma e peso corporais. Os
vômitos repetidos podem provocar perturbações eletrolíticas e complicações somáticas. Nos
antecedentes encontra-se frequentemente, mas nem sempre, um episódio de anorexia

Módulo 3 Enfermagem
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nervosa ocorrido de alguns meses a vários anos antes.

 Bulimia Nervosa Atípica:

Transtornos que apresentam algumas características da bulimia nervosa mas cujo


quadro clínico global não justifica tal diagnóstico. Por exemplo, pode haver acessos
repetidos de hiperfagia e de uso exagerado de laxativos sem uma alteração significativa de
peso ou então a preocupação típica e exagerada com a forma e peso corporais pode estar
ausente.

 Hiperfagia psicogênica:

O comer excessivo como uma reação a eventos estressantes tais como


luto/acidente, parto, que pode ser associado a outras perturbações psicológicas.

 Vômitos Associados a Outros Distúrbios Psicológicos:

Vômitos repetidos que podem ocorrer nos transtornos dissociativos e


hipocondríacos e que não são exclusivamente imputáveis a uma das afecções classificadas.
Pode-se também empregar este código em suplemento a (hiperemese na gravidez) quando
fatores emocionais predominam entre as causas das náuseas e vômitos recorrentes no curso
da gravidez.

5.2.4 Transtornos Específicos da Personalidade

Trata-se de distúrbios graves da constituição caracterológica e das tendências


comportamentais do indivíduo, não diretamente imputáveis a uma doença, lesão ou outra
afecção cerebral ou a um outro transtorno psiquiátrico. Estes distúrbios compreendem
habitualmente vários elementos da personalidade, acompanham-se em geral de angústia
pessoal e desorganização social; aparecem habitualmente durante a infância ou a
adolescência e persistem de modo duradouro na idade adulta.

 Personalidade Paranoica:

Transtorno da personalidade caracterizado por uma sensibilidade excessiva face às


contrariedades, recusa de perdoar os insultos, caráter desconfiado, tendência a distorcer os
fatos interpretando as ações imparciais ou amigáveis dos outros como hostis ou de
desprezo; suspeitas recidivantes, injustificadas, a respeito da fidelidade sexual do parceiro; e
um sentimento combativo e obstinado de seus próprios direitos. Pode existir uma
superavaliação de sua autoimportância, havendo frequentemente autorreferência excessiva.

Características da personalidade paranoide:

▪ Expansiva paranoide.
▪ Fanática.
▪ Paranoide.
▪ Querelante.

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▪ Sensitiva paranoide.

 Personalidade Esquizoide:

Transtorno da personalidade caracterizado por um retraimento dos contatos


sociais, afetivos ou outros, preferência pela fantasia, atividades solitárias e a reserva
introspectiva, e uma incapacidade de expressar seus sentimentos e a experimentar prazer.

 Personalidade Dissocial:

Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais,


falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e
as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas
experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e
um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a
culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento
que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade.

Características da personalidade dissocial:

▪ Amoral.
▪ Antissocial.
▪ Associal.
▪ Psicopática.
▪ Sociopática.

 Transtorno de Personalidade com Instabilidade Emocional:

Transtorno de personalidade caracterizado por tendência nítida a agir de modo


imprevisível sem consideração pelas consequências; humor imprevisível e caprichoso;
tendência a acessos de cólera e uma incapacidade de controlar os comportamentos
impulsivos; tendência a adotar um comportamento briguento e a entrar em conflito com os
outros, particularmente quando os atos impulsivos são contrariados ou censurados. Dois
tipos podem ser distintos: o tipo impulsivo, caracterizado principalmente por uma
instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos; e o tipo Borderline, conhecido por
transtorno de personalidade limítrofe, é uma doença psicológica grave que provoca
oscilação de humor, medo de ser abandonado pelos amigos e comportamentos impulsivos,
como gastar dinheiro de forma descontrolada ou consumo exagerado de comida, por
exemplo. Caracterizado além disto por perturbações da autoimagem, do estabelecimento de
projetos e das preferências pessoais, por uma sensação crônica de vacuidade, por relações
interpessoais intensas e instáveis e por uma tendência a adotar um comportamento
autodestrutivo, compreendendo tentativas de suicídio e gestos suicidas.

Características da personalidade com instabilidade emocional:

▪ Agressiva.
▪ Borderline.

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▪ Explosiva.

 Personalidade Histriônica:

Transtorno da personalidade caracterizado por uma afetividade superficial e lábil,


dramatização, teatralidade, expressão exagerada das emoções, sugestibilidade,
egocentrismo, autocomplacência, falta de consideração para com o outro, desejo
permanente de ser apreciado e de estar no centro das atenções e tendência a se sentir
facilmente ferido.

Características da personalidade histriônica:

▪ Histérica.
▪ Psicoinfantil.

 Personalidade Anancástica:

Transtorno da personalidade caracterizado por um sentimento de dúvida,


perfeccionismo, escrupulosidade, verificações, e preocupação com pormenores, obstinação,
prudência e rigidez excessivas. O transtorno pode se acompanhar de pensamentos ou de
impulsos repetitivos e intrusivos não atingindo a gravidade de um transtorno obsessivo-
compulsivo.

Características da personalidade anancástica:

▪ Compulsiva.
▪ Obsessiva.
▪ Obsessiva-compulsiva.

 Personalidade Ansiosa:

Transtorno da personalidade caracterizado por sentimento de tensão e de


apreensão, insegurança e inferioridade. Existe um desejo permanente de ser amado e
aceito, hipersensibilidade à crítica e à rejeição, reticência a se relacionar pessoalmente, e
tendência a evitar certas atividades que saem da rotina com um exagero dos perigos ou dos
riscos potenciais em situações banais.

 Personalidade Dependente:

Transtorno da personalidade caracterizado por: tendência sistemática a deixar a


outrem a tomada de decisões, importantes ou menores; medo de ser abandonado;
percepção de si como fraco e incompetente; submissão passiva à vontade do outro (por
exemplo, de pessoas mais idosas) e uma dificuldade de fazer face às exigências da vida
cotidiana; falta de energia que se traduz por alteração das funções intelectuais ou
perturbação das emoções; tendência frequente a transferir a responsabilidade para outros.

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Características da personalidade dependente:

▪ Astênica.
▪ Inadequada.
▪ Passiva.

 Outros Transtornos Específicos da Personalidade:

Eles representam desvios extremos ou significativos das percepções, dos


pensamentos, das sensações e particularmente das relações com os outros em relação
àquelas de um indivíduo médio de uma dada cultura.

Características da personalidade:

▪ Excêntrica.
▪ Imatura.
▪ Narcísica.
▪ Passivo-agressiva.
▪ Psiconeurótica.
▪ Haltlose (egoístas, irresponsáveis e hedonista).

Como já foi visto na disciplina Saúde Coletiva, o atendimento às pessoas portadoras


de transtornos mentais no Brasil é feito em CAPS – Centros de Atenção Psicossocial -
Residências Terapêuticas, Ambulatórios, Hospitais Gerais, Centros de Convivência; As
internações, quando necessárias, são feitas em hospitais gerais ou nos CAPS/24 horas. Os
hospitais psiquiátricos de grande porte estão sendo progressivamente substituídos.

5.3 Álcool e Drogas

De um modo geral, as ações de enfermagem desenvolvidas junto a usuários de


álcool e outras drogas caracterizam-se pela recepção e identificação da clientela,
desenvolvimento de ações educativas, busca de alianças junto à comunidade e
encaminhamentos a outros locais de tratamento. Constatou-se que poucos enfermeiros
prestam orientações a estes usuário durante a consulta de enfermagem, costumam abordá-
los durante as atividades dos demais programas do Ministério da Saúde na atenção básica,
realizam busca ativa na comunidade, prestam esclarecimentos com a finalidade de redução
de danos decorrentes do uso abusivo de drogas, orientam e direcionam o usuário para o
tratamento.

No que se refere à porta de entrada nos serviços de saúde, os enfermeiros


apontaram a necessidade de um redirecionamento, devendo ser realizado por captação da
clientela na área adstrita e por meio da conscientização dos profissionais médicos e
enfermeiros do pronto atendimento.

5.3.1 Dependência Química: Adicção, Drogadicção, Drogadicto

A dependência química não é uma doença aguda. Trata-se de um distúrbio crônico

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e recorrente. E essa recorrência é tão contundente, que raramente ocorre abstinência pelo
resto da vida depois de uma única tentativa de tratamento. As recaídas da drogadicção são a
norma. Portanto, a adicção deve ser abordada mais como uma doença crônica, como se
fosse diabetes ou hipertensão arterial.

Considerando a dependência química como um distúrbio recorrente e crônico,


alguns autores mais realistas consideram como um bom resultado terapêutico, tal como se
deseja no tratamento da hipertensão arterial, asma brônquica, reumatismo, diabetes, etc.,
uma redução significativa do consumo da droga, e longos períodos de abstinência, supondo
a ocorrência de recaídas ocasionalmente. Muitos acham que este seria um padrão razoável
de sucesso terapêutico, da mesma forma que em outras doenças crônicas, ou seja, o
controle da doença, mas não a sua cura definitiva.

Vamos chamar de psicoativas as drogas psicotrópicas, portanto, com efeito sobre o


Sistema Nervoso Central. Convencionalmente, vamos chamar ainda de psicoativas as drogas
de caráter ilícito, cujo efeito por ela produzido é de alguma forma agradável ao usuário. Pois
bem. Quando se usa uma droga psicoativa, o efeito proporcionado por ela adquire para a
pessoa um caráter de recompensa prazerosa.

A maioria das definições de adicção a drogas ou dependência de substâncias inclui


descrições do tipo "indivíduo completamente dominado pelo uso de uma droga (uso
compulsivo)" e vários sintomas ou critérios que refletem a perda de controle sobre o
consumo de drogas.

As pesquisas, hoje em dia, caminham através da Psiquiatria e da Psicologia


Experimental, juntamente com a Neurobiologia. Todas estas áreas se esforçam para
identificar os elementos emocionais e biológicos que contribuem para alterar o equilíbrio do
prazer (homeostase hedonista), alterações esta que dá origem àquilo que se conhece como
drogadicção (droga-adicção). A palavra "adicção", em português, é um neologismo técnico
que quer dizer, de fato, "drogadicção".

Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no


organismo modifica suas funções. As drogas naturais são obtidas através de determinadas
plantas, de animais e de alguns minerais. Exemplo a cafeína (do café), a nicotina (presente
no tabaco), o ópio (na papoula) e o THC tetrahidrocanabiol (da maconha). As drogas
sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas especiais. O termo
droga, presta-se a várias interpretações, mas comumente suscita a ideia de uma substância
proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando as suas funções, sensações, humor
e comportamento. As drogas estão classificadas em três categorias: as estimulantes, os
depressores e os perturbadores das atividades mentais. O termo droga envolve os
analgésicos, estimulantes, alucinógenos, tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e
substâncias voláteis. As psicotrópicas, são as drogas que tem tropismo e afetam o Sistema
Nervoso Central, modificando as atividades psíquicas e o comportamento. Essas drogas
podem ser absorvidas de várias formas: por injeção, por inalação, via oral, injeção
intravenosa ou aplicadas via retal (supositório).

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 Intoxicação Aguda:

É uma condição transitória seguindo-se a administração de álcool ou outra


substância psicoativa, resultando em perturbações no nível de consciência, cognição,
percepção, afeto ou comportamento, ou outras funções ou respostas psicofisiológicas.

 Uso Nocivo:

É um padrão de uso de substância psicoativa que causa danos à saúde. O dano pode
ser físico (como no caso de hepatite decorrente da administração de drogas injetáveis) ou
mental (episódio depressivo secundário a um grande consumo de álcool).

5.3.2 Toxicomania

A toxicomania é um estado de intoxicação periódica ou crônica, nociva ao indivíduo


e à sociedade, determinada pelo consumo repetido de uma droga, (natural ou sintética).
Suas características são:

▪ Irresistível desejo causado pela falta que obriga a continuar a usar droga.
▪ Tendência a aumentar a dose.
▪ Dependência de ordem psíquica (psicológica), às vezes física acerca dos efeitos
das drogas.

5.3.3 Síndrome de Dependência

É um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o


uso de uma substância ou uma classe de substâncias alcança uma prioridade muito maior
para um determinado indivíduo, do que outros comportamentos que antes tinham mais
valor. Uma característica central da síndrome da dependência é o desejo (frequentemente
forte e algumas vezes irresistível) de consumir drogas psicoativas as quais podem ou não
terem sido prescritas por médicos.

 As primeiras 4 horas de abstinência:

▪ Ansiedade, comportamento de procura da droga.

 As primeiras 8 horas de abstinência:

▪ Ansiedade, procura da droga, lacrimejamento, coriza intensa, bocejos


frequentes, sudorese excessiva, adinamia (fraqueza muscular), fraqueza geral.

 As primeiras 12 horas de abstinência:

▪ Ansiedade, procura da droga, lacrimejamento, coriza intensa, bocejos


frequentes, sudorese excessiva, adinamia, fraqueza geral, dilatação das pupilas,
tremores musculares, ondas de frio, ondas de calor, ereção dos pelos cutâneos,
dores ósseas, dores musculares.

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 As primeiras 18-24 horas de abstinência:

▪ Ansiedade, procura da droga, lacrimejamento, coriza intensa, bocejos


frequentes, sudorese excessiva, adinamia, fraqueza geral, dilatação das pupilas,
tremores musculares, ondas de frio, ondas de calor, ereção dos pelos cutâneos,
dores ósseas, dores musculares, insônia, náusea, vômitos, muita inquietação,
aumento da frequência respiratória, pulso rápido, aumento da profundidade da
respiração, aumento da pressão arterial, hipertermia (febre), dor abdominal:

 As primeiras 24-36 horas de abstinência:

▪ Ansiedade, procura da droga, lacrimejamento, coriza intensa, bocejos


frequentes, sudorese excessiva, adinamia, fraqueza geral, dilatação das pupilas,
tremores musculares, ondas de frio, ondas de calor, ereção dos pelos cutâneos,
dores ósseas, dores musculares, insônia, náusea, vômitos, muita inquietação,
aumento da frequência respiratória, pulso rápido, aumento da profundidade da
respiração, aumento da pressão arterial, hipertermia (febre), dor abdominal,
diarreia, ejaculação espontânea, perda de peso, orgasmo espontâneo, sinais de
desidratação clínica, aumento dos leucócitos sanguíneos, aumento da glicose
sanguínea, acidose sanguínea, distúrbio do metabolismo ácido-base

 Síndrome de Abstinência no Recém-nascido:

Costuma ocorrer após 48 horas do parto de uma gestante viciada em narcóticos


com as características: Febre, tremor, irritabilidade, vômitos, hipertonicidade muscular,
insuficiência respiratória, convulsão, choro agudíssimo, muitas vezes pode ocorrer à morte
do recém-nascido

5.4.4 A Dependência Química e o Transtorno Mental

Consideramos a dependência de qualquer substância química, lícita ou ilícita, como


um transtorno mental. Hoje praticamente todos os adolescentes são expostos às drogas mas
os que se tornarão dependentes são uma minoria. Podemos afirmar que a diferença entre os
que se tornam dependentes e os que não se tornam está na personalidade, nas condições
mentais da pessoa. Uma vez estabelecido o hábito do uso de drogas, estas se tornarão
causas de outros transtornos mentais, pela destruição das células do cérebro, os neurônios.
Mesmo com esta destruição e todos os prejuízos causados à vida familiar, social, de estudos,
de trabalho o indivíduo afetado pela dependência não para o uso da droga, uma vez que
perdeu a liberdade de escolha. É muito difícil que ele saia sozinho desta situação sem um
tratamento, sem o apoio de um grupo.

A droga mais comum em nosso país é o álcool e constitui o maior problema de


saúde pública que temos. Mais da metade dos leitos dos nossos hospitais estão ocupados
por alcoolistas, seja pelas consequências diretas ou indiretas do álcool (doenças físicas,
acidentes de trabalho, acidentes automobilísticos, atropelamentos, etc.).

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REFERÊNCIAS

AMARANTE, P. Psiquiatria social e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro, FIOCRUZ, 1994.

ANGERAMI, Camon. E a Psicologia Entrou no Hospital. São Paulo: Pioneira, 1995. p.147

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FREIRE COSTA, Jurandir. História da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro, Campus, 1980.

FICHTNER, N. Transtornos mentais da infância e da adolescência: um enfoque


desenvolvimental. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

GAUDERER, E. Cristian. Abordagem Prática da Pessoa Cronicamente Doente. In: Revista


Alergia Pediátrica. V. 1, n. 3, abril/junho, 1997.

IÇAMI TIBA. Anjos Caídos. 6ª edição, Editora Gente, 2008.

NEMIAH, John C. Fundamentos da Psicopatologia. 2ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. P.253

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ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
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