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EBOOK – PSICOSSOMÁTICA

Psicossomática, que conceito é este?

A psicossomática é uma ciência transdisciplinar que estuda os fatores que


determinam a dimensão integral do ser humano: biopsicossociais, histórico,
espiritual e ecológico.

É um instrumental para tratar o doente e não a doença, pois o doente é único.

Tem reforçado a humanização no atendimento buscando resgatar a prática


fragmentada e reducionista que ainda em muitos momentos se faz representar
nas relações da saúde.

A psicossomática não é uma propriedade específica de uma área da saúde;


mas sim transita em todas elas.

A “leitura” do terapeuta psicossomático deve ser ampla. Busca um


entendimento da relação mente-corpo e dos processos que decorrem um
adoecimento.
O ponto de partida e observação são os distúrbios físicos os quais os processos
emocionais ocupam sua parcela e papel importantes a serem entendidos pelo
terapeuta.

Mesmo as situações clínicas nas quais o indivíduo apresenta perturbações


psicológicas; aumenta o risco de desenvolver ou mesmo agravar determinada
doença física.

O que são Manifestações Psicossomáticas?

O conceito de manifestações psicossomáticas diz respeito a relação mente


(psique) e corpo (soma). Para muitos quer dizer que a doença é originada da
mente, dos aspectos emocionais.

Hoje já há uma nova conceituação sobre isto, e é o que veremos a seguir.


Quem primeiro falou este termo foi um médico alemão Heinroth em 1808,
quando falava de uma paciente com insônia.

Ele queria dizer que em função de aspectos emocionais esta paciente não
conseguia dormir.
Assim, por muito tempo na medicina, o termo foi usado para referir-se a
distúrbios sem base orgânica claramente diagnosticada, (apesar dos exames
de laboratório apresentassem alterações clínicas), e, por isso sempre foram
considerados mais “imaginários” ou "psicológicos" do que reais e com isso, sem
dar a devida importância à queixa que a pessoa trazia. Havia uma
valorização clara dos aspectos físicos, em detrimento dos aspectos emocionais.

Só mais recentemente a medicina começa a considerar os afetos, emoções,


como importantes também no diagnóstico do adoecimento.

Assim, o conceito “manifestações psicossomáticos” passa a ter uma visão mais


ampla, onde são considerados os aspectos emocionais também no processo
saúde/doença. Como refere a psicóloga Denise Ramos no seu livro, A Psique
do Corpo, afirmar que um distúrbio tem causas puramente psicológicas seria
tão reducionista quanto acreditar que existam doenças puramente orgânicas
sem quaisquer componentes psicológicos.

Na realidade não há hoje mais condições de se separar mente e corpo, corpo


e psique, pois são aspectos inseparáveis.

Poderíamos acrescentar também, o ambiente familiar e social como aspectos


importantes a serem considerados na enfermidade.

A própria Organização Mundial da Saúde, define Saúde, como um estado de


completo bem-estar físico, mental, e social, e não apenas ausência de
doença.

Não podemos deixar de lembrar que Hipócrates - 460 a.C. – 370 a.C., médico
de Cós na Grécia, considerado o pai da medicina, relacionou sintomas com
as doenças, que há 2500 anos já definia o homem, como um sistema integrado
constando de corpo, alma (psiquismo) e ambiente, estruturando pois seus
pensamentos e sua obra sobre esta base.
Fazia prescrições de cura e de prevenção de doenças através de dietas.
Iniciou a literatura médica e os registros clínicos.

A prescrição do Código de ética, cujos preceitos estão contidos no juramento


que até hoje todo médico faz ao se formar vem desde esta época.

Onde quer que a arte da medicina seja amada, há também um amor pela
humanidade.

Portanto, nós não somos partidos, fragmentados, muito pelo contrário somos
um só, assim um aspecto pode influenciar o outro.

Por isso que hoje dizemos que todas as doenças são psicossomáticas, no
sentido que sempre estará envolvido o corpo e as emoções.

Algumas vezes é a doença física que


traz muita angústia, medo,
preocupação, outras vezes é a
ansiedade, a depressão, que vai
causar um dano físico, como uma
gastrite, enxaqueca, colite, etc.

Assim, o profissional da saúde hoje busca um entendimento integral, holístico


do adoecimento.
Ninguém mais duvida da enorme influência que os fatores, econômicos,
sociais, emocionais, familiares, espirituais exercem na resposta do organismo
como um todo. O binômio tão somente corpo e mente é muito escasso para
explicar toda a complexidade do ser humano; necessariamente precisamos ter
um olhar amplo para entender o processo saúde-doença.

Hoje há a consciência de que toda doença é psicossomática, isto, por não


haver doença puramente “somática”, livre de influência psíquica, e vice versa.
Isto implica que ao sentirmos alguma dor, uma indisposição, uma tristeza, que
possamos pensar e sentir o que está nos afligindo? O que aconteceu
recentemente e que não foi legal? Como isto está repercutindo em mim?

Desta forma, estaremos fazendo um processo de reconhecimento interno, de


nos olharmos e entender o que o corpo está expressando, o que o nosso
sentimento está dizendo... Não podemos esquecer que o corpo fala das nossas
aflições, aquilo que não está claro para nós ou que não queremos entrar “em
contato”, o corpo vai mostrar através de algum sintoma. É como se ele
dissesse: olha para o que estás fazendo e que não está legal!

A Medicina Tradicional Chinesa há


5000 mil anos atrás; já assinalava que
todo sintoma é consequência de uma
desarmonia na vida da pessoa.

Além do tratamento médico, a pessoa


precisava examinar a sua vida e
reconhecer os aspectos necessários a
serem modificados. Só isso garantiria a
cura.

Várias pesquisas realizadas no Brasil e em outros países, demonstraram que


doenças como: do trato gastrointestinal: (úlcera, gastrite, síndrome do intestino
irritável, retocolite, distúrbio esofágicos); aparelho respiratório (asma, bronquite,
rinite alergia); sistema cardiovascular (hipertensão, taquicardia, infarto, angina);
afecções dermatológicas (vitiligo, psoríase, dermatite, herpes, urticária,
eczema); endócrino e metabólico (diabetes tipo 2, hipo ou hipertireoidismo);
distúrbios imunológicos (artrite reumatóide, lúpus, artrose, tendinite,
reumatismos) têm um forte conteúdo de origem emocional.
Muller (2005) em um estudo realizado com mulheres com vitiligo constatou que
todas relacionavam o aparecimento das manchas após ter vivenciado um
período de sofrimento, como: luto por morte, separação, doença na família,
etc. Assim fica evidente que situações de estresse emocional podem
desencadear doenças, por descompensação do organismo.

É como se o mundo psíquico não pudesse dar conta de todo o sofrimento e a


dor então vaza pelo corpo. Por exemplo, a depressão pode alterar a ação do
sistema imunológico, predispondo a pessoa a uma simples gripe ou
contribuindo para uma enfermidade mais séria, como as doenças autoimunes,
quando as células de defesa passam a atacar outras células do organismo.

Por isso o profissional de saúde que trabalha a partir da abordagem


psicossomática, vai ter um procedimento diferencial: ele vai ouvir a queixa
inicial – o sintoma – mas vai também buscar conhecer mais sobre a vida da
pessoa, saber como vive, com quem se vive; como é seu trabalho, que tensões
a pessoa sofre, para poder entender o sintoma e seu significado. É como se o
sintoma fosse um símbolo de algo maior, que não é percebido pela própria
pessoa.

Para o médio alemão DahlKe, doença e saúde se referem a um estado da


pessoa, e não como se costuma dizer hoje, a órgãos ou partes do corpo. O
corpo nada faz por si mesmo, mas reflete e recebe as informações da
consciência (mundo interno).

Para este médico, tudo o que acontece no corpo é a expressão da


consciência da pessoa.

Assim, quando há uma harmonia na consciência, ela se reflete nas várias


funções corporais e recebe o nome de saúde.

Já a doença significa a perda da harmonia da consciência.


Por isso não é correto dizer que o corpo está doente, só o ser humano pode
estar doente, e isto se mostra no corpo como sintoma.
Logo, o sintoma necessita ser interpretado para uma compreensão do seu
significado.

Desta forma, na abordagem psicossomática, o paciente é convidado a refletir


que situações podem ter contribuindo para o adoecimento.

Isto compreende desde situações familiares conflituosas, mágoas,


ressentimentos de situações passadas não elaboradas, perdas as mais diversas,
tensões no trabalho, quando “engolimos” muitas coisas, preocupações com
dívidas, quando perdemos nossa alma, e outras tantas.

Não se trata de culpar a pessoa, mas que ela perceba o quanto as emoções
contidas, não expressas, são danosas ao organismo e podem contribuir para a
enfermidade.

E no momento que toma conhecimento a pessoa pode mudar seu


comportamento.

É importante ressaltar que o adoecimento se dá por vários aspectos


interligados: aspecto genético, situação de vida, característica de
personalidade, história de vida, estresse que esteja vivendo.
Os estudos realizados sobre os efeitos do estresse no organismo demonstraram
que, o que realmente afeta é o significado que a pessoa dá à situação e não
tanto o fato em si.

Assim, a interpretação que é dada à situação, é que determina o grau de


dano.

Hoje sabe se que todo o pensamento cria um estado bioquímico no organismo,


e dependendo do que se pensa, o corpo vai reagir porque todas as células
tomam conhecimento de qualquer pensamento.

Se pensarmos algo agradável, uma emoção positiva será ativada e todo


organismo responde, podendo estimular inclusive o sistema imunológico.

Da mesma forma, se nos identificarmos com pensamentos pesados, maléficos,


isto pode inibir o sistema imunológico.

Isto exemplifica bem a inter-relação mente/corpo constante.

Estes aspectos todos assinalados, têm que ser clareados e trabalhados por um
psicólogo para que a pessoa perceba como está administrando seu viver e
como pode buscar alternativas para mudar e tomar outras atitudes mais
saudáveis.
Possibilidades de Tratamento

As possibilidades de tratamento são várias: como já descrito acima, levar a


pessoa a se tornar consciente dos aspectos não saudáveis do seu viver e o
quanto isto pode prejudicar a harmonia do seu organismo, criando um
desequilíbrio que pode levar ao adoecimento.

Desenvolver sentimentos benéficos de gratidão, alegria, generosidade,


coragem, como forma de criar novos padrões de pensamentos e sentimentos.

Estimular junto a estas pessoas a reflexão sobre o sentido e significado da vida,


a necessidade de crescimento como pessoa, de refletir o mistério da vida e da
morte, ou seja; oportunizar um caminho de autoconhecimento e
autodesenvolvimento, valorizando os sabores reais da vida.

O adoecimento sempre clama para que se entre em contato com as nossas


verdades, com nossa alma e que se faça a mudança necessária.
É um momento de coragem e fé em si, mas que traz transformações
importantes e necessárias.

Trás muita gratificação.

Também existem técnicas de relaxamento e visualização, que consiste num


breve relaxamento e a pessoa imagina um lugar que goste e procure se sentir
lá, absorvendo todas as características deste lugar e permanecer assim por 10
minutos.

Estudos mostram que a mudança clínica é muito significativa: o corpo entra


num estado de maior tranquilidade, criando uma sensação de bem estar,
diminuindo o estresse e situações de ansiedade.

O psicólogo também pode utilizar técnicas: Cognitivo – Comportamentais;


desenho simbólico da doença e outras.

É importante que em tais situações de adoecimento, o tratamento médico e


psicológico seja realizado simultaneamente, oportunizando uma aproximação
destas duas áreas em favor de um modelo multiprofissional e integrativo do ser
humano, onde o tratamento é individual e único para cada paciente.
Só uma visão biopsicossocial e espiritual dá sustentação a esta atual
consciência da relação saúde e doença, onde o paciente é chamado a um
comportamento ativo e consciente, para que haja o resgate da alma.

Referências:
Dethlefsen, T., Dahlke R. A Doença como Caminho, São Paulo, Cultris; Muller. M. C.
Psicossomática, uma visão simbólica do vitiligo, São Paulo, Vetor; Ramos, D. A Psique
do Corpo, São Paulo, Cultris. Site: www.abmp-rs.com.br

Autoras:
Marisa Campio Müller, Psicóloga, Dra. em Psicologia Clínica, Psicoterapeuta,
Presidente Associação Brasileira de Medicina Psicossomática Regional RS, Autora de
vários livros de Psicossomática e Espiritualidade.
Maria Raymunda Ribeiro, mestre em Psicossomática e Psicologia Hospitalar,
Psicoterapeuta, autora do livro: Prevenção e Saúde do Hipertenso.
contato@institutofreedom.com.br
Tel.: 11 2275-6424

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