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PSICOLOGIA SOCIAL

Psicologia Crítica II: Psicologia Crítica e Saber Psicológico


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PSICOLOGIA CRÍTICA II: PSICOLOGIA CRÍTICA E SABER PSICOLÓGICO

A Psicologia Crítica vem da crise da Psicologia Social, por volta da década de 60, em que,
por conta da efervescência dos movimentos sociais e de alguns posicionamentos na Psico-
logia Social europeia, algumas concepções hegemônicas empíricas americanas começam
a ser questionadas, como as universalizações do comportamento e atitudes. Isso traz um
posicionamento muito mais crítico da Psicologia Social que passa a ser mais voltada a uma
realidade próxima e internacional, em que o conhecimento passa a não ser mais um produto
que é feito sobre um objeto passivo, para ser um constructo entre o estudioso, pesquisador
ou psicólogo e as pessoas que compõem essa realidade. Há uma relação de construção
dialética, um movimento em que há um compartilhamento, existe uma interação, uma troca,
na construção de uma realidade que é extremamente dinâmica e representativa no contexto
sócio-histórico em que se está interagindo.

A Psicologia Tradicional e o Determinismo Psicológico

A Psicologia Tradicional é criticada por ser considerada “psicologizante”, ou seja, as expli-


cações das questões sociais são compreendidas a partir do sujeito. No entanto, o sujeito
está deslocado em seu espaço-temporal. É um sujeito atemporal, fora da sua cultura e que
simplesmente reage. As suas cognições e entendimentos pessoais irão explicar como inte-
rage com as questões sociais. É uma Psicologia voltada para o indivíduo, que é, na verdade,
produto e produtor de uma realidade social e não apenas que reage.
Ao desconsiderar os aspectos sócio-históricos e culturais, a Psicologia Tradicional padro-
niza o funcionamento humano sob uma norma constituída socialmente por aqueles que detém
o monopólio do poder. Ao entender uma universalização do comportamento humano, ignora-
-se que o padrão segue uma norma, que é constituída socialmente por donos do monopólio
do poder.
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A Psicologia Social parte de um determinismo de que o sujeito é importante e o seu con-
texto é menos importante do que como ele faz ou reage. Isso é reflexo do próprio contexto
histórico em que essa psicologia se constitui – Estados Unidos, em uma cultura que valoriza
muito o sujeito e a sua capacidade de ultrapassar desafios, de enfrentar e alcançar sucessos.
Os princípios dessa psicologia retratam uma ideologia norte-americana, o que faz com que
se universalize o sujeito a partir de uma visão norte-americana. Logo, todos os outros com-
portamentos passam a ser regidos por uma determinada norma, predeterminada. A norma
não é o manual de instruções, um fazer humano que é determinado como certo e errado,
mas é estabelecido por alguém, em um contexto e a partir de certas necessidades e concep-
ções. Quando se estabelece o que é certo, ele é o certo naquele contexto histórico, naquele
momento histórico e dentro daquela cultura específica.

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Essa posição individualista é norte-americana. É questionada a sua validade em outros


países e contextos. A conclusão é que alguns preceitos podem ser aplicados em outros luga-
res e outros não. É preciso entender essa dinâmica ao invés de tentar forçar uma realidade
a um conceito. Por isso, é preciso saber em que lugar o conceito irá se adequar e em que
lugar não irá. Nesse último caso, é preciso construir conceitos novos. Isso é parte da ciência
crítica. A ciência serve a um propósito e não um elemento acima de tudo. Ela tem um sentido
e um propósito. Não é preestabelecida ou verdade absoluta, pelo contrário questiona verda-
des absolutas. A ciência surge para mostrar que é preciso entender os fatos para avançar e
trazer mais conhecimentos. A ciência é conhecimento dinâmico e não dogmático.
A difusão do saber psicológico tradicional se converte em uma forma de “manual de ins-
truções”, no qual se busca estabelecer a “melhor maneira” de se comportar, relacionar, tra-
balhar, ser feliz faz parte de um determinismo psicológico.
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Os livros de autoajuda e as palestras motivacionais, por exemplo, se baseiam neste
entendimento de um fazer correto universalizado (normatizado), no qual, ao seguir (correta-
mente) um roteiro estabelecido, o resultado de sucesso será obtido. Esta postura determi-
nista e individualizante imputa sempre ao sujeito a falha ou a incapacidade de se adequar
às demandas e às exigências da vida social. O fracasso é visto como um atributo do sujeito.
Caso não se tenha sucesso, a explicação é o não seguimento correto do roteiro.
Esse princípio ainda é muito presente hoje. Há uma série de movimentos e ações que
são estabelecidas. Isso não está completamente errado. Porém, não se pode simplesmente
ignorar que o sujeito “inadequado” existe dentro de um contexto. É preciso entender a sua
realidade, de onde vem, como pensa, o que existe por detrás dele, qual é sua história e da
sociedade, assim como estabelece as relações de sucesso e fracasso e oportunidades para
que se consiga, realmente, compreender. De certa forma, é cômodo para a estrutura social
estabelecida quando se atribui ao indivíduo os erros e fracassos, porque não se cria um
processo de crítica à estrutura social. Não se questiona se a estrutura é justa, acolhedora,
criadora de oportunidades, entendendo que todos teriam chances de fazer e quem não con-
segue não estaria aproveitando essas oportunidades e potencial.
Quando se sai desse entendimento individualizante do sujeito e se começa a entender
que o sujeito faz parte de toda uma outra estrutura, começa-se a questionar o sujeito e a
dinâmica, funcionamento, estrutura social ou a própria norma. As coisas não são porque têm
que ser, mas porque foram determinadas a ser. Não são verdades absolutas, mas construtos
sociais estabelecidos.
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Esse determinismo (indivíduo) psicológico não significa que devamos assumir um deter-
minismo sociológico (social). É preciso fazer a ruptura, sem trocar um determinismo por
outro. Existe uma integração, interação, dialética entre o sujeito e a sociedade.
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Afinal, o social é também constituído, sendo, portanto, produto e produtor da realidade,
sendo seu funcionamento e princípios definidos por uma norma dominante. Desta maneira,
tanto o reducionismo psicológico quanto o reducionismo sociológico restringem a compreen-
são da dialética presente na construção conjunta e contínua da realidade.
Não há uma forma correta de se trabalhar em cima de “o sujeito é o responsável” ou “a
sociedade é a responsável”. Não se trabalha com a imputação de culpa a um ou outro ente,
porque eles não são entendidos como indissociáveis. O sujeito só é sujeito dentro do seu
contexto social. A sociedade só existe a partir do momento em que se constitui de pessoas.
Não faz sentido culpar o sujeito, sem considerar que existe algo social por trás dele. Tam-
pouco se pode questionar a sociedade sem questionar as pessoas que fazem parte dela. A
sociedade não é um ente com vida própria, independente das pessoas que a constituem. Por
isso, parte-se da dialética, da ideia em que a integração é permanente, constante. A cons-
trução da realidade é dada por sujeito – social e social – sujeito. Eles se retroalimentam. O
sujeito influencia o social e vice-versa.
Em tudo o que acontece, sujeito e sociedade estão integrados. Eles fazem parte de uma
estrutura compartilhada. Não há segregação entre indivíduo e social. O indivíduo traz o social
em si, ele internaliza o social, que faz parte da sua constituição, valores, crenças, moralida-
des, éticas. A sociedade é constituída dessas pessoas que falam sobre a realidade, se posi-
cionam sobre a realidade, que têm algum poder de decisão ou político de escolha. O sentido
social que segue parte de escolhas. Essas escolhas são feitas por pessoas, por isso não se
pode trabalhar com um sentido único voltado para o social ou individual. Eles acontecem ao
mesmo tempo, estando unidos simbioticamente.

Psicologia Social Crítica e o Saber Psicológico

Para a Psicologia Social Crítica, o saber psicológico vai além do estabelecido pelo meio
científico e acadêmico. Esse saber não se prende, simplesmente, em uma observação neutra
ou distante.
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Está interessada na forma como a vida cotidiana se estrutura, organicamente, e da


maneira como podemos estabelecer um entendimento de seus funcionamentos, regulamen-
tações, compartilhamentos e consolidações. Há necessidade em repensar caminhos e possi-
bilidades para o fazer psicológico. É um saber que não explica somente, mas que consegue
interagir, dialogar e construir junto.
Se o saber psicológico não pode estar distante da realidade concreta, o fazer também
não pode. O fazer psicológico não pode estar fora da realidade em que se está interessado.
Ele deve ter um sentido dentro dessa estrutura social constituída de forma orgânica, com
suas regras, necessidades, possibilidades, princípios. É preciso entendê-la para poder expli-
car e interagir. Não se pode chegar com conhecimento prévio que não se adequa, corres-
ponda ou explique a realidade específica.
A Psicologia Social Crítica se propõe ser instrumento no combate às questões da vida
social cotidiana, como preconceito, desigualdade, opressão, indo além de uma construção
teórica para um fazer político e participativo. Ela precisa se posicionar e criar condições para
que a estrutura, comunidade, sociedade ou grupo passe a se compreender, entender, identi-
ficar, posicionar e ter uma participação direta na construção da própria realidade. Por isso, é
um fazer político, com um propósito, uma vontade, um direcionamento.
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É através da análise empírica da realidade estudada que se determinam as teorias que
se aplicam àquele contexto específico. Há uma mudança de lógica. Sai-se de um sentido em
que se explica o problema a partir de uma teoria pré-existente. Passa-se a sair da teoria, bus-
cando o problema para tentar compreendê-lo e ver até onde a teoria consegue dar suporte
e entendimento, porque é preciso ter um ponto de partida para entender a lógica. A partir do
momento em que se percebe que há uma insuficiência, é preciso estar pronto para construir
um novo saber. Não é desapegar ou ignorar a teoria, que dará a base para os princípios
que guiam o olhar e o fazer. A observação é participante, um olhar com um propósito, que
não é neutro.
A Psicologia Social Crítica não se isenta de ser participativa e contributiva. Ela tem o pro-
pósito político claro de melhorar a situação e dar melhores condições para a construção de
uma sociedade melhor. Por trás de toda ação existe um interesse e a teoria permitirá a cons-
trução de um entendimento. A partir do momento em que a teoria é insuficiente, é preciso
buscar mais conhecimentos, seja em outras teorias da psicologia ou ciência social, seja na
própria vivência da realidade.
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A ação humana é o objeto de estudo da Psicologia Social, mas esta ação está inserida
em um contexto social e histórico, sendo diretamente influenciado pela ação dos outros. É a
interação dialética entre os sujeitos e destes com a sociedade.
Se o objeto é a ação humana e ela acontece dentro de um contexto, é preciso entender
o contexto para explicar essa ação humana: onde, como, de que forma ela acontece. É pre-
ciso compreender que existe uma dialética entre sujeitos e sociedades. Não existe um poder
superior entre sujeito, sociedade e cultura. A interação é constante, permanente e equilibrada
entre esses entes. A ação humana só faz sentido, porque acontece em um determinado
momento, de uma determinada forma, dentro de uma determinada estrutura cultural, social,
econômica, política.
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Não se desconsidera a importância fundamental das teorias e do saber acadêmico, mas
da utilização destes na dinâmica específica (sócio-histórica) trabalhada. Trata-se de uma
Psicologia Social contextualizada, na qual o conhecimento serve ao problema e não há uma
conceituação prévia. Não existem leis universais.
A Psicologia Social Crítica traz a ideia de que a teoria atende, mas é o instrumento de
ação. Não se é refém da teoria. Se ela não é suficiente ou tem limitação, é preciso buscar
novas teorias e conhecimentos. Não se pode restringir e limitar o conhecimento à teoria. As
teorias são limitadas e construídas dentro de contextos e conhecimentos determinados. Por
isso, elas vão se aperfeiçoando, desenvolvendo e melhorando. A Psicologia Social Crítica
não é uma teoria, mas uma reflexão sobre a necessidade de entender que, para que se cons-
titua um conhecimento útil, engajado, funcional, é preciso estar preparado para questionar,
duvidar, desconstruir e reconstruir o que se precisa dentro da ciência.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Concursos, de acordo com a aula pre-
parada e ministrada pelo professor Rafael Rodrigues Vieira.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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