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A UNIÃO ENTRE O AUTOCONHECIMENTO E A REFLEXÃO ESTÃO

DIRETAMENTE LIGADOS A CONQUISTA DA FELICIDADE E A SUPERAÇÃO EM


SITUAÇÕES ADVERSAS

THE UNION BETWEEN SELF-KNOWLEDGE AND REFLECTION ARE DIRECTLY


LINKED TO ACHIEVING HAPPINESS AND OVERCOMING ADVERSE SITUATIONS

CORREIA, Bárbara Souza


Graduanda em Biomedicina
Instituição: Universidade Paranaense (UNIPAR)
E-mail: barbarahued@gmail.com

TEGONI, Andréia Cristina


Mestra em Administração em Negócios
Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
E-mail: andreia@fag.edu.br

"Só há um problema filosófico verdadeiramente


sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser
vivida é responder uma questão fundamental da
filosofia."
Albert Camus

RESUMO
Em diversos momentos, as atitudes e escolhas de cada indivíduo tendem a ocorrer de maneira
inconsciente a ser projetada ao ambiente externo de acordo com o que seus sentimentos
predizem, com o objetivo de dialogar com a forma como o indivíduo se coloca perante as
situações de insatisfação, o educador Mihaly Csikszentmihalyi desenvolveu um estudo chamado
ESM (Experience Sampling Method) que tem por finalidade mostrar ao indivíduo a forma como
se sente em cada ação e decisão tomada em seu dia a dia, e os sentimentos expressos a cada
momento em seus afazeres. Os resultados de diversos estudos baseados nesse mesmo método
demonstram que os indivíduos, além de não saberem o que os faziam felizes, também não
tomavam as decisões de forma consciente, e com isso acabavam por não agregar valores ou
importância ao que faziam, chegando a certo momento de passarem passivamente por diversas
situações e por fim não conseguirem mais dar sentido e propósito às suas próprias vidas, o
estudioso Mihaly apresenta respostas e meios para que se possa obter sucesso, satisfação e
superação a tudo o que se faz, por meio da Psicologia Moderna, da Sociologia, da Psicanálise e
da Filosofia.

Palavras-chave: Mihaly, Descoberta do Fluxo, ESM, Psicanálise.

ABSTRACT
At different times, the attitudes and choices of each individual tend to occur unconsciously and
be projected to the external environment, with the aim of dialoguing with the way the individual
is faced with situations of dissatisfaction, the educator Mihaly Csikszentmihalyi developed a
study called of ESM (Experience Sampling Method) whose purpose is to show the individual
how he feels in every action and decision taken in his day-to-day life, and the feelings expressed
at every moment in his tasks. The results of several studies based on this same method
demonstrate that individuals, in addition to not knowing what made them happy, also did not
consciously make decisions, and thus ended up not adding value or importance to what they did,
reaching a certain point. When they passively go through different situations and finally are no
longer able to give meaning and purpose to their own lives, the scholar Mihaly presents answers
and means for success, satisfaction and overcoming everything that one does, through
Psychology Modern, Sociology, Psychoanalysis and Philosophy.

Keywords: Mihaly, Experience Sample Method, Psychology, Philosophy.

INTRODUÇÃO
Utilizando como base teórica o livro sobre a descoberta do fluxo de Mihaly
Csikszentmihalyi, e com os acréscimos de citações de indivíduos de diferentes sociedades e
épocas, é possível compreender que todos se convergem numa mesma questão: a da importância
sobre ser consciente a respeito do que se produz e do que se pensa a respeito disso.
Neste contexto, torna-se intencional a forma como cada atividade é feita e onde é feita,
não mais de maneira inconsciente ou de forma passiva, termo que Mihaly usa para denotar as
atividades das quais temos pouco gasto de energia e normalmente não nos levam a evolução ou a
satisfação plena e tão pouco a conquista de algo. Nos mostra como é possível obter sucesso e
gratificação por diversos caminhos na prática, até mesmo das atividades mais difíceis e
complexas durante os momentos mais difíceis da vida, usando de algumas pequenas ferramentas
que já temos em nosso self e respondendo a poucas perguntas antes de decidir sobre aceitar ou
não, fazer qualquer atividade. Mihaly nos mostra que dessa forma é possível traçar metas e
conquistar vitórias, superando a ansiedade e até mesmo estabilizando transtornos mentais para
que se possa viver em sociedade de forma plena e satisfatória. Referente a isso, ele também
publicou um grande estudo que fez onde separou jovens autotélicos e não-autotélicos, o qual
pode evidenciar descobertas que mudariam a forma de entender o que é o prazer ao fazer as
nossas atividades ou o que realmente é necessário para se atingir o estado de fluxo ou como é
mais conhecido, o estado de atenção plena.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Csikszentmihalyi (1999) em seu livro “A Descoberta do Fluxo: A
Psicologia do envolvimento com a vida cotidiana”, o autor apresenta estudos sobre maneiras de
viver em um modo que se apoia o máximo possível em descobertas da psicologia contemporânea,
assim como na sabedoria do passado e nas formas como elas foram registradas no decorrer do
tempo em diversas culturas, surgindo assim o primeiro questionamento: “O que é uma boa
vida?”. O autor explica a resolução dessa pergunta de forma que se limita ao máximo as
evidências racionais com foco nos eventos cotidianos que geralmente encontramos durante um
dia de nossa vida.
Para exemplificar melhor este estudo, o autor desenvolveu uma técnica chamada ESM -
Método de Amostragem e Experiência (Experience Sampling Method), na cidade de Chicago, no
início dos anos 70. Esta técnica usa um pager ou relógio programável que avisa as pessoas a cada
duas horas para preencherem um livreto correspondendo onde elas estão, o que estão fazendo, no
que estão pensando, com quem estão e como estão se sentindo. A partir disso é possível
classificar o estado de consciência naquele momento de acordo com as várias escalas numéricas,
que mostra o quão feliz está, quão concentrada, quão fortemente a pessoa está motivada e o nível
da sua autoestima. Ao final de uma semana, cada pessoa terá preenchido 56 páginas do livreto,
foram analisadas cerca de 70.000 páginas de 2.300 indivíduos em seu laboratório em Chicago,
para fornecer o estudo do livro citado e usado como base para este artigo.
Com relação à resolução da primeira questão “O que é uma boa vida?”, esta trata sobre
indivíduos que trabalham de uma forma tão produtiva e significativa em tudo o que fazem que
acabam por meio dessa atitude, tornando-se indivíduos chaves em fábricas, culturas, tribos,
grupos de amizade dentre outros, são pessoas que não fazem bem feito as atividades que gostam
ou que lhes dão prazer mas sim pessoas que fazem com dedicação qualquer coisa que lhes é
dirigida a fazer, e, sobre isso, se propõe uma segunda pergunta: O que torna uma vida como a
desse indivíduo serena, útil e digna de ser vivida mais do que a de qualquer outro que trabalhava
junto a ele, mesmo em cargos mais altos?
A abordagem que se faz para solucionar esta questão revela três pressupostos principais.
O primeiro é que profetas, poetas e filósofos “vislumbraram verdades importantes no passado,
que são essenciais para a continuidade da nossa sobrevivência”, (CSIKSZENTMIHALYI, 1999,
p.13), porém que foram expressas em um vocabulário conceitual da época no qual foi escrito,
como os livros sagrados do judaísmo, cristianismo, islamismo, budismo e dos livros sagrados dos
Vedas, que são alguns exemplos de repositórios de ideias importantes no qual Mihaly acredita
que seria um ato arrogante ignorá-los, porém igualmente ingênuo acreditar que tudo que foi
escrito contém uma verdade absoluta e imutável. Pois o tempo transforma tudo e tudo o que é
transformado precisa ser revisto e adquirido de formas diferentes de acordo com cada indivíduo
por meio de sua individualidade.
Partindo desta visão, Jung (2017, p.15) traz em seu tratado um ponto de vista Freudiano
segundo o qual todos os conteúdos inconscientes acabam por se reduzirem a tendências infantis
reprimidas devido a falta de compatibilidade entre um assunto e o ser, e acrescenta que além
deste, o subconsciente possui outros aspectos que não somente conteúdos reprimidos, mas todo
um material psíquico que está por de baixo ao limiar da consciência.
Indo um pouco mais a fundo e acessando a psicanálise, Moraes em a teoria das
representações sociais et al.(2014. p. 18), diz que:

[...] são o conjunto de explicações, pensamentos e ideias que nos possibilita


evocar um dado, um acontecimento, uma pessoa ou mesmo um objeto.
Configuram sistemas de valores e práticas que têm vida própria; são
prescritivas, pois surgem no meio social, depois se esvaem reaparecendo sob a forma de
novas representações em um processo que não tem fim. Essas representações
resultam da própria interação social sendo comuns a um grupo social em determinado
tempo e espaço, ou seja, em determinado contexto.
Assim como no fluxo, acessar a consciência para poder descobrir o que se está fazendo e
com isso sair do piloto automático atingindo o estado de plenitude é uma prática recorrente em
meio a cada processo e atividade que se é feito, junto a analise pessoas a respeito das mudanças
com que tudo acontece e se modifica perante o indivíduo. É a consciência do que se faz que
constrói o valor daquilo que se é feito e praticado, colocando então de lado a indiferença e a
infelicidade nos afazeres e na conquista de novas atividades. Todos se conversam a respeito do
que é um indivíduo que sabe o que se está fazendo e portanto cria e constrói preciosidades para a
humanidade, não precisando ser necessariamente alguém reconhecido mas sim alguém que se
reconhece como parte daquilo que se pratica e se constrói, feito que só pode ser atingido ao se
perceber como observador consciente de sua própria atividade.
O inevitável de não se questionar do porquê de tudo e sim do porque de si mesmo em suas
decisões é que acaba-se por atingir um estado filosófico de consciência onde o indivíduo se
interroga se tal atitude que incita suas ações é de fato importante ou pertinente a si mesmo mais
que qualquer outra, tal questionamento se encontra no livro de O Mito de Sísifo por Albert
Camus, mesmo primeiro capítulo de onde vem a epígrafe. Mas como tal pensamento se converge
ao de Mihaly? Sabendo que para Camus o homem vive sua existência em busca de sentido, em
busca de sua essência, e confirma o pensamento de Mihaly já antepassado a ele que o valor de
tudo o que existe é dado pelo próprio indivíduo e não pelo fato de existir tal coisa ou objeto, e
que seria sufocante viver sob dogmas religiosos sufocantes e ideologias políticas. Dessa forma
poderíamos considerar que se o valor de nossas escolhas e do que nos rodeia são dados por nós;
de acordo com a união de pensamentos de Mihaly e Camus, um idealista suicida poderia deixar
de ser um indivíduo incapaz em suas estigmas tornando-se capaz e próspero se caso tornasse sua
mente consciente e mudasse o sentidos de sua existência? Sem precisar se questionar do porquê
de tudo, ou de todos já que tal questionamento só é válido na filosofia de Mihaly se centrado a
um único afazer ou pensamento, mantendo dessa forma o indivíduo apto a ser dono de si mesmo.
O segundo pressuposto que Csikszentmihalyi (1999) apresenta é de que a ciência oferece
informações essenciais para a humanidade, mas ambos expressam-se de acordo com a visão de
mundo de cada época, portanto elas são eventualmente renovadas, a sua percepção para a questão
científica é complexa se estando no momento em que ela ocorre, sendo possível assim, que num
futuro, a percepção extrassensorial e autoconsciência nos levem a verdade sem a necessidade de
teorias e laboratórios, o autor acrescenta que apesar disso a ciência, na atualidade, é o único
estudo confiável e que ignorá-la é pôr nosso conhecimento em risco.
Um estudioso e bacharel em ciências Estatísticas, Argollo (2004, p. 120), traz em um de seus
livros sua elaboração a respeito do que Jung diz sobre a ciência e a espiritualidade, bem como
Mihaly também nos traz, para o autor que a:

“Concepção científica do mundo sempre se baseou no princípio da causalidade que, em


última análise implica no determinismo de todo efeito ter uma causa.” E acrescenta a
essa mesma afirmativa de que “existem fenômenos que parecem acontecer fora da
complexa rede das conexões causais, ou do acaso”

E acrescento a este uma fala do livro de Nassim Nicholas Taleb:


"Temos a tendência de acreditar que eventos não acontecem ao acaso e, por isso, tentamos
encontrar razões quando nenhuma razão existe"(Taleb, 2020, contracapa). Esta fala pode parecer
um tanto crítica a respeito de toda a discussão sobre a consciência, mas ela representa com
maestria a nossa necessidade de se desviar da atenção plena e nos questionarmos
consistentemente do porquê das coisas e dos acontecimentos, porém para se alcançar o fluxo
necessitamos nos desfazer de questionamentos e aprender a sentir e viver o momento existente
em plenitude.
O terceiro e último pressuposto que Csikszentmihalyi (1999) nos mostra, é que se
desejamos fazer a compreensão do que acarreta viver de verdade, devemos interagir com o nosso
passado e as mensagens que a ciência está acumulando no decorrer do tempo. Ele cita gestos
ideológicos de Rousseau, que foi um precursor da fé Freudiana “que são apenas atitudes vazias e
sem significado se ninguém tem a ideia do que é a natureza humana”, portanto ele conclui que o
termo “vida”, em seu próprio estudo, é o experimentar da manhã até a noite, sete dias por
semana, durante os anos dos quais durarem nossas vidas.
Um filósofo escritor e educador indiano Krishnamurti (2017) proferiu em um de seus
discursos a seguinte frase: “A história da humanidade está dentro de vocês: a vasta experiência,
os medos profundamente enraizados, as ansiedades, as mágoas, o prazer e todas as crenças que o
homem vem acumulando há milênios. Este é o verdadeiro livro da vida”.
Apesar de toda a individualidade que sugere o conhecimento estar dentro de cada
indivíduo em seu livro a respeito do Fluxo, ele descreve a vida de alguns personagens, em
situações completamente diferentes, coexistindo em uma mesma época por volta de 200 anos
atrás e conclui que apesar de seus afazeres serem distintos um dos outros, ambos provavelmente
sucumbiriam a morte muito precocemente, ele traz essas histórias para nos conceituar de que
apesar da individualidade todos em uma cultura ou várias, e se forem comparadas possuem um
roteiro muito parecido, onde inclui: levantar, fazer suas atividades, se alimentar e descansar, tudo
isso de uma maneira natural e interessante envolvendo a socialização dos indivíduos em meio a
sua sociedade.
Saber todas as questões exteriores, não nos torna possível delimitar a forma que cada um
viverá sua vida, pois o acaso pode anular ou modificar os parâmetros, mas, principalmente,
sugere que cada um possui uma mente própria “com a qual pode decidir desperdiçar suas
oportunidades ou vencer algumas das desvantagens do seu nascimento”(CSIKSZENTMIHALYI,
1999, p.17) e atingir o sucesso. Ele descreve a importância de experimentar o que passa pelos
olhos de uma maneira mais ativa, e que o tempo é o recurso mais escasso de cada um, ele cita
como manejar o tempo e com isso decidir o que fazer com ele, sobre perceber que isso não está
ligado somente à vontade individual, mas é também traçada por questões exteriores, como raça,
trabalho, cultura, limitações financeiras, e vários fatores externos que podem moldar o que se
pode ou não fazer com o tempo.
É citado E. P. Thompson que traz uma observação sobre trabalhadores de uma fábrica na
época da revolução industrial, onde por mais de 80 horas, trabalhadores usavam seu tempo em
trabalho árduo braçal nesta fábrica, mas que o que diferenciava um indivíduo do outro era que
nas poucas horas de lazer, enquanto a maioria usufruía de bares, poucos dos trabalhadores
estudavam e liam livros, e como isso moldava o meio em que eles viviam, numa sociedade como
um todo, e como essa atitude torna-se fundamental na diferença entre pessoas que obtém
significado à sua vida e àquelas das quais não conseguem obter significado ao fazerem algo.
Tudo o que se lê e se estuda por um indivíduo é exteriorizado, e dessa forma se torna um
compilado de ideias heterogêneas e, portanto, muda-se o meio em que se vive através de um só
indivíduo (LEMINSKI, 2016).
Em outro estudo Csikszentmihalyi (1999) mostra que o que sobra das atividades de
produção e manutenção (trabalho e cuidados básicos) é descrito como tempo livre, ou lazer, cerca
de um quarto do nosso tempo total, e que na sociedade atual, o tempo é ocupado por três tipos
principais de atividades, o primeiro é o consumo de mídia por televisão ou jornal/revista, o
segundo, conversação e o terceiro é o mais ativo do tempo livre, que seria ouvir música, praticar
esportes e exercícios, cada um desses três tipos principais de lazer tomam no nosso tempo pelo
menos quatro horas por semana, podendo chegar a muito mais tempo.
Essas funções de produção, manutenção e lazer, absorvem nossas energias psíquicas.
Segundo Krishnamurti (2017, p.97), “sem relacionamento não há existência: ser é relacionar-se”.
Em paralelo com o que Mihaly descreve, a vida cotidiana não é definida apenas pelo que
fazemos, mas pelas pessoas com quem convivemos que nos influenciam, ou o contexto definido
pela ausência de outras pessoas, a solidão. Na sociedade tecnológica, atualmente as pessoas
passam um terço do dia sozinhas ou mais, uma produção muito maior do que uma sociedade
tribal, onde estar sozinho muito tempo é considerado perigoso, pessoas costumam evitar esta
experiência, mesmo que seja possível aprender e apreciar a solidão, é um gosto bem raro de ser
adquirido, pois quando o indivíduo é restringido a situações adversas ou de confinamento, se
negam a aceitar a solidão. Em uma de suas pesquisas ele mostra que pessoas com ansiedade,
depressão ou doenças crônicas só obteve resultado diferente do parâmetro das pessoas saudáveis
nos momentos em que estavam sozinhas.
A todo o momento o indivíduo produz emoções e “o modo como experimentamos o que
fazemos é ainda mais importante” (CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p.25) já que “o entendimento
do self (o eu interior) requer muita inteligência, muita vigilância, prontidão, observação
incessante, para ele não escapar” (KRISHNAMURTI, 2017, p.52). Os sentimentos são elementos
mais subjetivos da consciência, ele sugere que o indivíduo seja mais fenomenologista, que leve
em conta os seus sentimentos mais íntimos, julgando seriamente e pensando racionalmente sobre
eles, do que sendo psicólogos behavioristas, quando olhamos para outras pessoas.
Os psicólogos identificam emoções básicas, mas que dentre as emoções,
Csikszentmihalyi, (1999) os separa em uma dualidade básica, que são positivas e atraentes, e
repulsivas e negativas e que devido a isso nós escolhemos o que é bom para fazermos e o que não
é bom, também aponta que anteriormente, os sentimentos serviam de sinais sobre o mundo
externo, mas agora, muitas vezes, são separados de qualquer objeto real e desfrutados por si
mesmo, onde se pode perceber o que está sentindo e, a partir disso se propor fazer algo.
Para os indivíduos que possuem uma dificuldade maior em perceber o que se sente, pode-
se usar uma tabela para encontrar o que se sente no presente momento, e a partir disso procurar
qual seria o sentimento mais próximo caso houvesse insatisfação e então, se colocar em
movimento para que se atinja a satisfação, por outros meios que não o atual no qual o
inconsciente mostrou, que no presente momento não seja possível, podendo manifestar a mesma
sensação de prazer e atenção plena, mesmo que não evitando assim a frustração e muitas vezes o
desconforto e mau humor. Esta tabela chama-se Inventário de Sentimentos (Feelings Inventory)
criado pelo centro de comunicação não violenta (Center for Nonviolent Communication) a fim de
comunicar-se com os outros de uma melhor forma por meio do auto esclarecimento sentimental
(Figura 01).

Figura 01 - Inventário de Sentimentos

Fonte: Adaptação feita por Vera Regina Klein - Terapeuta - Versão em Português

Outro questionamento de Csikszentmihalyi, (1999) é “Se a felicidade é realmente o


objetivo da vida, o que sabemos sobre ela?” ele acredita que se um indivíduo pretende melhorar a
qualidade de vida, aponta-se somente para a felicidade pode ser o ponto de partida errado,
principalmente por meio da crença de que se precisam possuir mais bens materiais para poder
atingi-la, sem levar em consideração os meios para isso, assim como será explicado como o
índice de felicidade não aumenta nos indivíduos de acordo com o que eles conquistam na vida, o
sucesso tendo como um de seus significados a palavra “acontecimento” pressupõe todo o
contexto que Mihaly nos apresenta sobre estar atento e pleno ao que se faz em cada momento e
dessa forma se atingir a atenção plena, o momento de fluxo onde o indivíduo consegue de fato
desfrutar e ser feliz naquele instante, o sucesso por si então de acordo com sua analogia é o
momento em que se faz algo de forma plena e não o momento em que se alcança algo ou algum
lugar.

Figura 02 – Felicidade baseada em questões financeiras

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=BAljbVf-HXA&t=465s

Jung (2017, p. 27) traz à tona a questão de como no processo de assimilação do


inconsciente produzimos extremos de confiança ocultando a nossa realidade, ou vice versa, e por
meio deste processo poderíamos explicar o que foi percebido nas respostas desta pesquisa onda
as pessoas não diriam serem infelizes mesmo que fossem, uma vez que o inconsciente atua por
meio de uma compensação “malograda”. O gráfico mostra que as pessoas continuavam dizendo
ser felizes em uma porcentagem de 30% mesmo que o seu índice de faturamento praticamente
triplicou, o que mostra que os indivíduos na pesquisa questionados não eram mais felizes por
terem mais dinheiro, Mihaly também coloca perante este gráfico que a falta de recursos básicos
materiais contribuem sim para a infelicidade mas que o aumento deles não altera os deixando
mais felizes.
A felicidade pode ser refletida por várias questões, como por exemplo, onde se está, com
quem se está, o que se está fazendo e como nos sentimos, porém depende muito se estamos
conscientes sobre isso tornando o sentimento mais atenuado ou não.
Quando se produz uma decisão de dar atenção a uma tarefa, se forma uma intenção e
estabelece-se uma meta ao próprio indivíduo, o tempo que se utiliza para chegar a esta meta, e o
grau de intensidade que depende da nossa motivação, são intenções que também são meios de
gasto de energia psíquica, e sem ela os sentimentos acabam se deteriorando rapidamente, pois
não é colocado atenção no objetivo, e sem um sólido conjunto de metas é difícil desenvolver um
bom trabalho, pois é a partir das metas que se manifestam as formas de ações, e as emoções
consequentemente, que com o tempo são reconhecidas como Self, que virá a ser algo único de
cada indivíduo.
Um grande esforço e demasiada energia psíquica também são gastos para saber o que se
deve escolher, o que traz importância ao pensamento sobre tal escolha, já que pelo pensamento
ocorre um processo pelo qual a energia psíquica é ordenada, e a partir disso o corpo libera tudo o
que precisa para que possa trazer emoções que te aproxime ou afaste, de suas escolhas. Por
produzir-se um gasto muito alto somente nas decisões de escolhas é aconselhável que se tenha
um planejamento prévio ou planilhas sobre os afazeres, como cita Csikszentmihalyi (1999)
grandes empresários mantêm-se ativos durante todo o dia a partir de suas já preparadas listas de
tarefas, ao contrário deste caso, pode-se despertar a ansiedade pelo meio de ter que escolher entre
as atividades em momentos de turbulência durante o dia, Bauman (2006) traz em seu livro uma
citação de Freud a respeito da ansiedade, onde é dito que “o sofrimento proveniente dessa última
fonte (ansiedade) talvez seja mais doloroso que qualquer outro” (FREUD, 1930, p.264).
E o que sentimos quando fazemos coisas diferentes? Outro questionamento de
Csikszentmihalyi (1999), na qual a resposta esclarece que a qualidade de vida que temos depende
do que fazendo no nosso dia a dia durante toda a nossa vida, e acrescenta que lazeres passivos
como assistir a televisão raramente nos trazem a experiência de Fluxo, mas que para melhorar a
qualidade de vida propõe estratégias, dentre elas a primeira seria organizar as tarefas diárias, que
parece simples, mas junto ao hábito e a pressão social é quase impossível que seja facilmente
feita. Outra estratégia é a reflexão ao cair da noite sobre tudo o que ocorreu em seu dia e
descrevê-los em quais momentos foram estressantes e/ou felizes. Outra estratégia é mudar o
ambiente em que se está, a fim de deixá-lo com uma aparência mais confortável para sua psique,
e mudar também os móveis e tudo mais o que possa vir a tornar o lugar confortável e receptivo
para aquele que permanece ali, todas essas estratégias têm por objetivo colaborar com a melhor
produção e desenvolvimento do indivíduo, em suas tarefas do dia a dia.
Existem também outros atenuantes que podem se apropriar de um indivíduo de maneira
negativa, onde podem ser acometidos por dores nas costas, dores de cabeça, dentre outros
problemas, e em seu livro sobre o fluxo ele demonstra que pessoas que estão altamente focadas e
concentradas no que se está fazendo, raramente percebem essas dores durante este período pois a
atenção está tão direcionada a algo específico que falta energia para monitorar outros processos,
vindo a percebê-las somente após o término de suas práticas, e também quando as têm, e que
pessoas que não fazem uso de suas habilidades para se manterem em foco normalmente recorrem
a televisão, vídeos, jogos obsessivos, bebidas ou drogas, para se desligarem do momento de
desconforto ao tentarem se dedicar a uma tarefa que exija um pouco mais de habilidade e
atenção, enquanto que por um lado as atividades podem ser vagas demais te levando a lazeres
passivos, o excesso de atividades podem vir a levar o indivíduo a ter um grau elevado de
ansiedade, por isso e por outros resultados não agradáveis é que se estudou o que seria o estado
de fluxo ou conhecido como estado de concentração plena. Ao contrário do que se parece, este
estado não usa energia demasiada, na verdade é um estado de suavidade e completude onde o
indivíduo se sente completamente imerso naquilo a que se dedica no momento.
Csikszentmihalyi (1999) destaca a preocupação em perceber que um lazer passivo se
usufruído de forma contínua e sem controle pode vir a ser um problema, já que os lazeres
passivos são muito interessantes por nos privar em maioria do descontrole e da ansiedade, mas
também são desprovidos de realização. Uma sociedade que se atém mais ao entretenimento de
baixo gasto de energia cria pessoas incapazes de lidar cada vez mais com os desafios do dia a dia.
Leminski (2016, p. 339) traz em seu livro a frase de Trotsky: “A democracia não se estabeleceu
com métodos democráticos”. Isso demonstra que nem tudo que se é oferecido na sociedade fará
bem ao indivíduo.
Ainda em sua obra, Csikszentmihalyi (1999) rememora o termo “pão e circo” que surgiu
durante os eventos que ocorriam no coliseu onde o império da Roma antiga utilizava de comida e
o entretenimento passivo para apaziguar a população, podendo-se comparar dessa forma com o
país do futebol, e por isso a importância de se ter momentos de lazer de alto gasto de energia para
poder se moldar o meio em que se vive. Portanto, é importante que se mantenha a consciência
equilibrada para que possa se compreender como as interações afetam o indivíduo e aprender a
transformá-las em experiências positivas mesmo que cheguem do meio exterior como negativas,
mas para isso é necessário que se gaste maior energia, mas que se não o fizermos
Csikszentmihalyi (1999, p.95) cita que nos encontramos na mesma posição que o personagem de
Sartre em “Entre quatro paredes” onde concluiu-se que o inferno são os outros. Para que não
sejamos radicais como o personagem de Sartre, o autor apresenta um cientista de destaque
chamado Freeman Dyson que expressou de maneira sutil as opostas nuances desta dicotomia,
onde ele diz:

A ciência é muito gregária. Ela é essencialmente a diferença entre manter essa porta
aberta ou fechada. Quando estou fazendo ciência, mantenho a porta aberta…. Você quer
estar o tempo todo falando com as pessoas… porque só interagindo com outras pessoas é
possível fazer alguma coisa interessante. É uma atividade essencialmente comunitária.
Existem coisas novas acontecendo o tempo todo, e é preciso manter-se à frente e
conscientizar-se do que está acontecendo. É preciso falar constantemente. Mas,
naturalmente escrever é diferente. Quando estou escrevendo, tenho de fechar a porta, e
mesmo assim entram sons demais, de modo que quando escrevo, muitas vezes me
escondo na biblioteca. É um jogo solitário. (CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p. 95).

Esta declaração demonstra a real importância do ambiente em que se está fazendo algo,
como reagir de acordo com o que lhe acontece, e como estar consciente do que se faz para que
propicie a obtenção do sucesso, por isso o preparo do ambiente e tudo o que envolve a
organização, bem como a listagem de tarefas é tão importante, a fim de ser capaz de estipular se
alguém conseguirá ou não fazer o que precisa ser feito, mas que também pela impossibilidade de
controlar fatores externos, é preciso entender a importância do que o outro também faz, e das
prováveis variáveis de seu ambiente e suas atitudes.
A questão que dá sentido a todos os estudos de Csikszentmihalyi (1999) num âmbito geral
é então feita, “Como mudar os padrões de vida?” ele conta que se quinze por cento da população
dos EUA nunca tiverem tido a experiência de fluxo, então pelo menos milhares e milhares de
pessoas estariam se privando daquilo que torna a vida mais digna de ser vivida, e isso pode vir a
ocorrer de forma natural seja por situações com pessoas abusivas, privações, questões sociais e
também financeiras que os atinja, e pela questão de não se estar consciente de quando se pratica
algo que leva ao bem-estar, dessa forma dificilmente vindo a praticar novamente aquela ação,
mesmo que sendo benéfica.
A crença que determina que a qualidade de vida é determinada pelo ambiente externo é
inconsistente para Mihaly, e para contradizer isso ele traz o exemplo de Antonio Gramsci,
filósofo socialista humanista, que desde sua infância sofreu fortes pressões até que quando adulto
foi preso por Mussolini, e ainda assim continuou a escrever belos discursos entonados de luz e
apaixonantes. Acrescenta também Linus Pauling, que simplesmente viveu fazendo o que gostava
de fazer sempre inspirado de boa energia e vontade, e esclarece que isso não quer dizer que Linus
não faria o que fosse de obrigação caso não gostasse, mas sim que ele experimentara e
aproveitara de todas as situações e trabalhos a ele direcionados de uma maneira consciente,
fazendo com que qualquer coisa que se propusesse fazer fosse de extrema importância, sendo
algo simples ou complexo.
Durante o período de dois anos Csikszentmihalyi (1999) aplicou em adolescentes um
estudo onde dividia esses jovens em dois grupos, um deles com os que mais desfrutam de
experiências de fluxo e os outros menos, no decorrer do estudo pelo menos quarenta por cento
restante dos adolescentes que não desfrutavam tanto do movimento de fluxo, aumentaram este
movimento, e com isso mostrou-se possível traçar uma mudança na qualidade de vida.
Deve-se levar em consideração que a maior parte de nosso tempo é gasto com trabalho, e
fazer com que este trabalho seja benéfico ou não, é de nossa responsabilidade, caso não seja ele
considera que pelo menos quarenta por cento de nossa vida em vigília é descartada, e que para
descobrir se o trabalho de fato nos faz infeliz, é necessário três motivos principais: o primeiro
deles é saber se o emprego possui um sentido, para ser feito, o segundo é se ele é tedioso ou
rotineiro demais para o trabalhador, e o terceiro é se ele produz estresse e má relação com a
equipe ou com o chefe que se tem. Entretanto, mesmo que se observe que o emprego seja um
motivo de sua infelicidade é difícil agir perante ele, já que ao se demitir como num exemplo
apresentado na obra, o indivíduo pode vir a sofrer sérios problemas financeiros, porém devemos
levar em consideração um ponto importante, e para explicar isso ele traz um questionamento de
Hanna Arendt que mostrou em relação a Adolf Eichmann sobre os trabalhadores de campos de
extermínio nazista, que ao questionar sobre os assassinatos, eles facilmente alegaram não terem
culpa já que responderam dizendo “Eu apenas trabalho aqui.” (CSIKSZENTMIHALYI, 1999,
p.101), e portanto a importância de se tornar consciente de tudo o que se faz e produz.
Existem diversas formas de se fazer um bom trabalho por meio de se tornar consciente
sobre o mesmo, como exemplo de funcionários que realmente são atenciosos com seus clientes, e
médicos que se preocupam com o bem-estar de seus pacientes mais do que com os diagnósticos,
exemplos claros que o autor nos traz, e para ter toda essa estimada ação é preciso agir para além
do que somente as ordens que nos rege o cargo, o que requer um alto gasto de energia, e apesar
do trabalho ser a atividade que mais nos toma o tempo em sociedade, ele acrescenta que o mais
importante é o que se faz em seu tempo livre, e nos evidencia com exemplos, primeiramente de
Alexander Fleming que “descobriu a penicilina quando observou que culturas bacterianas eram
menos densas em placas que não haviam sido limpas e estavam emboloradas” e também de
Rosalyn Yalow “que descobriu a técnica da radioterapia depois de ter notado que os diabéticos
tipo II eram mais resistentes que os diabéticos normais”, e “Wilhelm C. Roentgen que descobriu
a radiação quando notou que alguns registros fotográficos mostravam sinais de exposição mesmo
na ausência de luz”(p.103) nestes casos e em outros casos de registro da ciência, temos
importantes descobertas feitas por meio de eventos rotineiros que mudaram a maneira como viam
algo por estarem com toda a sua atenção no momento em que estavam vivendo, não passando
pelo lazer de forma passiva.
Outro questionamento de Csikszentmihalyi (1999) é que em situações de “Crises
inesperadas, expectativas elevadas, problemas insolúveis de todos os tipos, como impedi-las de se
tornarem estressantes? ” A resposta que ele encontrou nos mostra que o primeiro passo consiste
em estabelecer as prioridades, dentre as exigências que se acumulam na consciência, e procurar
dar atenção e decidir o que realmente é importante e o que não é, mas que para isso é sugerido o
uso de cronogramas, para que se retire o peso dessa atribuição da mente e a passe para o papel.
Indiferentemente de como irão fazer, seja começar pelas atividades mais extensas ou
exigentes ou pelas mais fáceis é preciso descobrir qual a melhor forma para se exercer as
atividades durante o dia a dia, de acordo com cada indivíduo e para ajudar nesta questão
Csikszentmihalyi (1999) nos traz algumas perguntas que ao serem respondidas auxiliam nessa
resolução de forma simples e prática, sendo elas: “As tarefas podem ser delegadas por outra
pessoa?”; “Você pode conseguir ajudar?”; “Você pode aprender as habilidades necessárias a
tempo?”; “A tarefa pode ser transformada ou dividida em partes mais simples?”. O que parece
muito óbvio, porém as pessoas não se questionam antes de acrescentarem mais tarefas ao seu
horário, e assim acabam sobrecarregadas. Ao responder estas questões você traça um parâmetro
de provável produção, podendo organizar suas atividades da melhor forma possível de acordo
com seu tempo e suas habilidades para que possam ser feitas e concluídas, de maneira mais
gratificante., mas deve-se responder as questões sempre de forma consciente e trazendo para si a
real importância de fazer ou não cada atividade, já que em vez de ser um observador passivo, e
que “o entendimento de si mesmo surge de momento a momento”(KRISHNAMURTI, 2017,
p.294) assim como o livro da descoberta do fluxo que foi estudado a partir de questionamentos, e
não acerca de atividades passivas, o indivíduo agora pode decidir conscientemente.
Em outro estudo, Csikszentmihalyi (1999) define uma pesquisa em indivíduos auto-
télicos, e não-autotélicos. Autotélico é uma palavra composta de dois radicais gregos, auto (que é
relativo ao indivíduo) e telos (que é meta ou finalidade), autotélico é um indivíduo que tem uma
meta ou uma finalidade para si próprio, como retorno, e não para o outro, já um ser não-
autotélico é aquele no qual faz o que faz com finalidades e metas para outrem.
Durante uma semana ele geriu um estudo com duzentos adolescentes muito talentosos,
porém divididos em dois grupos, um de autotélicos, e outro de não-autotélicos, os resultados
mostraram que cinquenta deles cuja frequência em suas respostas requerem um nível mais alto de
desafio e habilidades, praticavam mais tarefas como hobbies e estudos do que lazeres passivos.
Mas com isso o autor traz o questionamento se os dois grupos estariam usando seu tempo de
maneiras diferentes.

Figura 03 – Gráfico de tempo gasto por adolescente autotélicos e não-autotélicos


Os quadros mostram que ser autotélico está relacionado ao que a pessoa faz com o seu
tempo, diferente dos não-autotélicos que faziam por afinidade. Após este estudo ele se questionou
se a experiência de jovens autotélicos é melhor do que a de seus colegas, foi visto que o ser
autotélico se coloca sempre em situações desafiadoras e isso realmente produz mais situações de
fluxo que melhora a experiência subjetiva, porém não fazia com que eles se sentissem mais
satisfeitos.
Para ilustrar estes resultados um outro gráfico é apresentado (Figura 04) esses dois
quadros demonstram que no lazer todos os adolescentes relatam uma felicidade e satisfação
maior do que quando estão envolvidos em atividades produtivas.

Figura 04 – Qualidade da experiência de uma semana de amostragem em adolescentes


autotélicos e não-autotélicos

Após anos de estudo com o ESM, Csikszentmihalyi (1999) percebeu que a felicidade
declarada não indica a qualidade de vida de uma pessoa, por muitas vezes os indivíduos dizem
estar felizes quando não estão, ele traz uma observação novamente a respeito da vida que Linus
Pauling levava, e que não demonstrava ser um menino prodígio que assombrava os adultos à sua
volta com sua excelente e incrível inteligência, mas que ao contrário disso, apenas fazia tudo o
que precisava com um grande uso de estímulos e determinação a fim de dar significado a tudo a
sua volta.
Dessa forma, o autor acrescenta que nossas vidas deixaram uma marca no universo, em
irmãos, pais, amigos e todos à nossa volta, e as pessoas que têm a vida de forma autotélica
ajudam a reduzir a entropia na consciência daqueles com quem entram em contato. Sendo assim,
não é possível que uma pessoa seja realmente feliz se não sentir que pertence a algo maior ou a
um motivo maior de existência, mas é difícil não sobrecarregar a consciência e reduzir a
desordem que podemos causar sem nos tornarmos conscientes, para solucionar isso ele traz a
mensagem de Budistas que diz: “Aja sempre como se o futuro do universo dependesse daquilo
que você faz, enquanto ri de si mesmo por pensar que o que quer que você faça fará realmente
alguma diferença”(CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p.129), mas de fato essa mistura entre
humildade e preocupação é o que nos faz ter boas atitudes, e nos sentirmos satisfeitos.
Outro grande passo seria compreender de forma mais clara o nosso self, a imagem que
cada um possui de si mesmo, nos faz ir mais longe, porém a sua desvantagem é que ela pode vir a
controlar a consciência de uma forma talvez prejudicial, por isso a importância de se manter
sempre muito consciente e reflexivo sobre tudo.
De maneira conclusiva um psicólogo chamado Carl Rogers endossou uma perspectiva
muito similar a de Mihaly a respeito de uma pessoa totalmente funcional, ele diz que “ela decide
ou escolhe seguir o curso de ação que é o vetor mais econômico em relação a todos os estímulos
internos e externos, porque esse é o comportamento mais profundamente satisfatório […]. A
pessoa completamente funcional, não só experimenta, mas utiliza a mais absoluta liberdade
quando espontânea, livre e voluntariamente escolhe e decide aquilo que é absolutamente
determinado” e acrescenta que: “o amor ao destino corresponde a uma disposição de aceitar a
responsabilidade pelas próprias ações, sejam elas espontâneas ou impostas pelo mundo externo”
(CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p.130).
Nesse caso que vem a servir principalmente em momentos de confinamento ou crise,
onde o indivíduo tem a falsa impressão de que perderá seu poder de escolha e livre arbítrio,
quando na verdade, se feito de forma consciente até o simples escolher de tomar chá ou café, o
trará experiências de fluxo e de satisfação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo trazido por meio deste trabalho foi tentar encontrar respostas, ou meios por
onde um indivíduo em situações adversas do dia a dia pudesse por meio destas descobertas
melhorar a sua qualidade de vida, o seu bem-estar, e conseguir consequentemente de uma forma
mais fluida com a energia que é gasta em afazeres, concluí-los, não ficando somente nas
demasiadas tentativas, sem chegar a seus objetivos finais.
Os resultados encontrados por meio das conclusões de pesquisas e estudos de
Csikszentmihalyi (1999) através de sua técnica de ESM desenvolvida por ele mesmo, e suas
reflexões sobre o prazer da vida e o autoconhecimento, nos mostra como é possível obter
satisfação e sucesso nas atividades mais simples, mais exaustivas, e complexas que possamos vir
a vivenciar em nosso cotidiano, por meio de atitudes simples, e decisões conscientes, todas as
respostas são mostradas de forma assertivas por meio dos resultados de seus estudos através de
gráficos e dados que foram apresentados neste artigo.
Também ficou claro e é importante salientar que a psicologia anda junto a sociologia,
filosofia e teologia, mostrando que um indivíduo é altamente complexo e cheio de vertentes, mas
que isso não afasta nenhum destes de conseguir conquistar o que se deseja, seja em questões
práticas ou até mesmo de estabilidade mental ou psicológica, basta atentar-se ao simples e ao
mais básico questionamento que esteja mais próximo de si mesmo, e dessa forma se obterá o que
é necessário a cada um de forma específica para se obter o sucesso.

REFERÊNCIAS
ARGOLLO, Djalma. Jung e a Mediunidade, 1ª Edição. Fundação Lar Harmonia. Salvador, BA,
Brasil 2004.

ARAÚJO, Eleno Marques de. VIEIRA, Vânia Maria de Oliveira. BORGES, Hitalo Vieira. A
experiência de vida como um sistema dinâmico e aberto: um diálogo entre merleau-ponty e
moscovici / The life experience as a dynamic and open system: a dialogue between merleau-
ponty and moscovici. Brazilian Journal of Development. 2021.

CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo: Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares
Rodrigues. Editora Livros do Brasil, 2016.

CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. A Descoberta do Fluxo: A psicologia do envolvimento com a


vida cotidiana. Tradução de Pedro Ribeiro. Rio de Janeiro: Editora Rocco LTDA, 1999.
JUNG, C. G. Dois escritos sobre psicologia analítica. O eu e o inconsciente. 27º Edição.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes Ltda., 2017.

KRISHNAMURTI, Jiddu, O Livro da Vida: 365 meditações diárias. São Paulo: Editora
Planeta do Brasil LTDA, 2017.

LEMINSKI, Paulo. Vida. São Paulo: Editora SCHWARCZ S.A., 2016.

SIGMUND, Freud. Civilization and its discontents, in Freud, Civilization, Society and
Religion, Internationaler Psychoanalytischer Verlag Wien, 1930.

TALEB, Nassim Nicholas. Iludidos pelo acaso: A influência da sorte nos mercados da vida.
Editora Objetiva 6º reimpressão, 2020

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