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INSTITUTO BRASILEIRO DE COACHING

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA POSITIVA E COACHING

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)


MODALIDADE: ARTIGO DE REVISÃO
DISCENTE: NADIR RADOLL CORDEIRO

2019
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Aplicação da Psicologia Positiva e Comunicação não Violenta


(CVV) no processo de coaching

RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar uma breve revisão bibliográfica da Psicologia
Positiva e Comunicação Não Violenta, bem como identificar estratégias de aplicação da
Psicologia Positiva e Comunicação Não Violenta no Processo de Coaching. Neste estudo foi
utilizada a pesquisa de abordagem qualitativa, bibliográfica voltada para a construção de
conceitos, com intuito de levar a integração da Psicologia Positiva e a Comunicação não
Violenta na Metodologia de Coaching. Decidiu-se em aplicar a pesquisa em estudo de caso,
aplicando nas sessões o jogo Grok e organizando atividades específicas para serem feitas pelo
coachee. Ao se dedicar ao estudo dos aspectos saudáveis de seres humanos e comunidades, o
movimento da Psicologia Positiva tem contribuído para uma visão mais equilibrada e
completa da vivência humana e a Comunicação não Violenta objetiva resolver conflitos por
meio de técnicas que estimulam a compaixão e a empatia, reduzindo assim o estresse e a
frustração do dia a dia.
Tanto a Psicologia Positiva quanto a Comunicação não Violenta refletem vivências de
emoções e envolvem processos de reflexão, planejamento e ações. A união de ambas
metodologias no processo de coaching contribuiu fortemente para a eficiência e eficácia dos
resultados,

PALAVRAS-CHAVE: Coaching. Psicologia Positiva. Comunicação não Violenta.

1 INTRODUÇÃO
A origem do termo COACH pouco tem a ver com o sentido utilizado nos dais atuais. O termo
deriva de um tipo de carruagem, com o sentido de condução. Passou a ser identificado como
tutor – pessoa que auxiliava os estudantes universitários a se prepararem para os exames e por
último, o coach surgiu para designar treinadores de equipes esportivas, tendo como Timothy
Gallwey o impulsionador do termo COACH atual, com o livro The Inner Game of Tennis,
editado em 1986 e que utiliza o método de fazer perguntas para que os atletas tomassem
consciência de como jogavam e mudassem sua postura. Para Timothy Gallwey o maior
obstáculo de um indivíduo é ele mesmo, e não o oponente que está do outro lado da rede
(Gallwey, 1986). Considerando que o maior obstáculo é o próprio indivíduo, quais são as
questões que podem melhorar de forma significativa o desempenho e a felicidade? Diante
dessas questões, despertou-se o interesse em estudar Psicologia Positiva - que busca enfatizar
o que há de bom, valores e virtudes pessoais; bem como a Comunicação Não Violenta -
técnicas que estimulam a compaixão e empatia, reduzindo conflitos.

Tendo como base os cursos de Coaching (Professional e Self Coaching, Ericksoniano e o


Curso de Formação de Psicologia Positiva) do Instituto Brasileiro de Coaching seria possível
conciliar tais métodos para que as sessões de coaching possam ser mais eficazes?
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Neste artigo, será apresentado a integração da Psicologia Positiva e da Comunicação Não


Violenta (CNV) para processos de coaching.

2. PSICOLOGIA POSITIVA

A Psicologia Positiva emerge no final dos anos 90 como uma área de estudo científico
própria, que diferentemente da psicologia tradicional - centrada nos problemas e nas
patologias – para a psicologia voltada à construção das melhores qualidades da vida, no
âmbito subjetivo, individual e grupal conforme comentam Csikszentmhihalyi &
Csikszentmhihalyi, 2006.

A Psicologia Positiva já se encontrava presente nos escritos e pensamentos de grandes


pensadores na antiguidade, com questionamentos como os de filósofos e líderes religiosos,
como Jesus, Buddha, Mohammed e Thomás de Aquino sobre o significado de uma boa vida e
sua realização (CORRÊA 2016).

CINTRA (2017) comenta que a Psicologia Positiva não pretende criticar as tradicionais
correntes da psicologia ou negar a patologia, o sofrimento humano e os aspectos ‘negativos’
de suas experiências, características e instituições. Propõe, sim, que também seja abordado o
outro lado, os seus aspectos positivos, proporcionando um equilíbrio na abordagem
psicológica da experiência humana. Nas palavras de Seligman e Csikszentmihalyi (2000), “o
objetivo da Psicologia Positiva é começar a catalisar uma mudança no foco da psicologia da
preocupação somente com o reparo das piores coisas da vida para a construção, também, de
qualidades positivas”.

O Movimento da Psicologia Positiva aponta para a importância de se estudar cientificamente


os aspectos positivos do indivíduo, como propósito de “compreender e cultivar as forças e
virtudes humanas (recursos pessoais), o bem-estar, a saúde mental e o funcionamento positivo
tanto de indivíduos, como de grupos e instituições” (Peterson, 2003). Com base na teoria do
bem-estar, a Psicologia Positiva tem por principal objetivo “aumentar a quantidade de
florescimento na vida das pessoas e do planeta” (Seligman, 2011), o que envolve a elevação
nos níveis de emoções positivas, engajamento, propósito, realização, relacionamentos
positivos e otimismo. Florescimento (flourishing) se refere à experiência de que ‘a vida está
indo bem’, uma combinação de sentir-se bem e funcionar de forma eficaz, conotando um
elevado nível de bem-estar psicológico, o que indica saúde mental. Assim, pode-se dizer que
uma pessoa está florescendo quando percebe que sua vida está indo bem: ela está se sentindo
bem (mais emoções positivas do que emoções negativas), funcionando bem (realização de seu
potencial individual) e vivendo uma vida com propósito (fazer o bem). Cintia e Guerra (2017)
citam o modelo PERMA de Seligman que mostra que o florescimento inclui os seguintes
domínios: emoções positivas (alegria, gratidão), engajamento positivo (interesse,
curiosidade), realização positiva (buscar e alcançar resultados significativos), propósito
positivo (contribuir com a comunidade, ajudar outras pessoas) e relações positivas
(habilidades sociais e emocionais).
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Ao se dedicar ao estudo dos aspectos saudáveis de seres humanos e comunidades, o


movimento da Psicologia Positiva tem contribuído para uma visão mais equilibrada e
completa da vivência humana, e para a compreensão de como e em que condições as
emoções, características e instituições positivas promovem o florescimento.

Uma consequência prática do poder ampliador do cognitivo da positividade é o aumento da


criatividade. Foi demonstrado por uma equipe de cientistas da Universidade de Toronto que
induziram voluntários em três momentos (com positividade, negatividade e neutro) e
aplicavam duas diferentes tarefas. Os pesquisadores descobriram que ao sentir emoções
positivas, os indivíduos apresentavam uma melhora significativa na atenção visual e
criatividade. (IBC:2019)

Achor (2012) afirma que as pessoas e maior sucesso, não consideram felicidade como sendo
alguma recompensa distante pelo empenho, nem passam os dias com uma postura neutra ou
negativa, elas capitalizam os aspectos positivos e seguem colhendo as recompensas no seu
dia.

Segundo Marques (2018) muitos confundem pensamento positivo com ser um


lunático que não consegue enxergar a realidade. Mas a verdade é que aqueles que
pensam positivo possuem uma visão que vai além e, assim, conseguem ver
oportunidade onde muitos acreditam ser o fim. Uma demissão, por exemplo, pode
ser a chance para se reinventar a carreira, fazer novos curso, de abrir um negócio ou
mudar de área.

Para Tony Robbins (2018) “cada sentimento que você tem - bom ou mau – baseia-se em sua
interpretação do que as coisas significam. Sempre que começar a se sentir mail, faça essa
pergunta: “ o que mais isso pode significar? É o primeiro passo para assumir o controle de
suas emoções”. A base da Comunicação não violenta é identificar os sentimentos e
necessidades (autoconhecimento) para então conseguir verbalizar de maneira gentil e eficaz.

3. COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA - CNV

O termo criado por Marshall B. Rosenberg, também identificado em seus escritos com a sigla
CNV, surge a partir de suas experiências pessoais vivenciadas na infância em Detroit, nos
Estados Unidos, e na carreira profissional. A CNV atua como um norteador na resolução de
conflitos. Segundo Rosenberg (2006) é justamente na forma como nos comunicamos, ou seja,
como falamos e ouvimos os outros e também como somos ouvidos pelos outros, que reside os
motivos dos conflitos e, portanto, entendendo este processo e alterando a forma da
comunicação compreenderemos como solucionar ou num momento mais avançado em
iniciarmos situações conflituosas. Rosenberg observou que certas formas de comunicação
afastam do estado natural de compaixão – o que o autor designou como “ comunicação
alienante da vida”, sendo na sua maioria, julgamentos moralizadores, como: “ela é
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preguiçosa, egoísta, grosseira, mentirosa” – ou seja expressões de culpa, insulto, depreciação,


rotulação, crítica, comparação são formas de julgamento e bloqueiam a comunicação.

Outro tipo de comunicação alienante é a negação de responsabilidade. Rosenberg (2006)


afirma que “cada um de nós é responsável por seus próprios pensamentos, sentimentos e
atos”. Rosenberg comenta sobre o uso corriqueiro da expressão “ter que”, deixando a
responsabilidade obscurecida nesse tipo de linguagem. Exemplificando: “Bati no meu filho
porque ele correu para a rua. Menti para o cliente porque meu chefe mandou”.

A maioria da humanidade cresceu usando uma linguagem que, em vez


encorajar a perceber os sentimentos e necessidades, estimula a rotular,
comparar, exigir e proferir julgamentos. Assim, outra forma de
comunicação alienante se origina de sociedades baseadas na
hierarquia ou dominação onde a linguagem é do “errado”, o “deveria”,
“tenho de” é aprendido a isolar quais as reais necessidades e
sentimentos e mais são treinadas a consultar as autoridades para
definir o que é certo, errado, bom ou mau. (Rosenberg: 2006)

O processo da Comunicação não Violenta, apresenta quatro componentes:

a. Observação: Olhar para uma situação e simplesmente observar o que o outro está dizendo
ou fazendo e o que pode ser acrescentado de bom ou não para nossa vida, um indício que se
está apenas observando é não fazer neste momento julgamentos de juízos e valores.

b. Sentimento: Busca-se identificar, quais foram os sentimentos vivenciados a partir desta


observação, o de raiva, frustração, alegria, alívio, magoa, rejeição, indiferença e tantos outros
que podem inclusive não serem os mais conhecidos.

c. Necessidade: Reconhecer honestamente qual necessidade está ligada ao sentimento


observado e que não está sendo atendida, tais como: a necessidade de ser ouvido, aceito,
obedecido, de viver em ambientes com organização, de expressar-se com liberdade, de se
atingir metas profissionais e etc.

d. Pedido: Após ter conscientes as três etapas anteriores formular um pedido com clareza e
objetividade.

Para Connor (2012), o elemento-chave de um pedido não é a forma


que ele assume, nem seu conteúdo, mas sua intenção. Um pedido vem
de um lugar de abertura, curiosidade e uma preocupação genuína com
as preocupações de ambas as partes. Por trás das palavras ditas sempre
há um pedido, mesmo que seja uma conexão de empatia, ou
simplesmente saber qual a reação sincera do ouvinte.

4. A CONGRUÊNCIA E INTEGRAÇÃO DA PSICOLOGIA POSITIVA E


COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NO PROCESSO DE COACHING
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MARQUES (2018) afirma que a originalidade do Coaching é precisamente o fato de não se


referir a nenhuma teoria específica como um modelo completo, o Coaching não busca
defender qual teoria é a mais verdadeira ou completa, mas, antes, qual teoria é a mais eficaz, a
que produz resultados mais rápidos e duradouros em determinados contextos.

No processo de coaching da cliente aqui denominada Alice (para preservar sua identidade),
foi aplicado metodologias do PSC, CEC, PP e CNV. Logo na primeira sessão, Alice estipulou
como objetivo “melhorar o relacionamento amoroso”, mas demorou para identificar sua
necessidade real. Muitas vezes o descontentamento nas relações está em justamente não
conhecer as necessidades do outro. O que está bom e que pode melhorar, quais ações positivas
poderiam ser feitas em relação ao relacionamento - já que não é possível mudar o outro. Foi
utilizado o jogo de cartas Grok (cartas de sentimentos e necessidades baseado na CNV), para
o autoconhecimento e identificação clara de sentimentos e necessidades.

Entre as atividades das sessões, foi solicitado leitura de partes do livro Comunicação não
Violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais bem como ações
práticas (assumir a responsabilidade por seus sentimentos e ações), além das já conhecidas no
PSC e CEK. Observou-se ao longo das sessões, quais linguagens alienantes utilizava;
rotulagens e julgamentos – utilizando CNV e em paralelo, a Psicologia Positiva ao destacar
habilidades, virtudes, fortalezas, ao invés das dificuldades e fracassos. Nas atividades, o
Diário de Bordo com as bênçãos diárias, carta da gratidão e do perdão, foram altamente
eficazes.

5 CONCLUSÃO

Quando o coachee assume a responsabilidade por aquilo que sente, bem como a
responsabilidade de poder mudar o pensamento, permite diminuir ou até mesmo acabar com
mágoas, ressignificar e transmutar. O perdão envolve a prática de estender os momentos de
serenidade, inclui a decisão a respeito do que é apresentado na sua imagem mental. A
Psicologia Positiva auxilia nas relações amorosas, com a família, amigos, colegas de trabalho.
A CNV ajuda na observação concreta das ações que afetam o bem-estar; análise dos sentimos
em relação ao que foi observado - as necessidades, valores que estão gerando tais
sentimentos e as ações concretas que serão expressas para atender as necessidades.
Utilizando a Psicologia Positiva e CNV nas sessões de coaching, as necessidades intrínsecas
do coachee são mais facilmente detectadas; com a Psicologia Positiva, cada ação/história de
vida é levada para um nível de consciência de forma que traga a positividade (vendo o lado
bom do que aconteceu – até mesmo no que naquilo que não foi bom, mas que gerou um
aprendizado).

Um dos princípios absolutos do coaching é a suspensão de julgamentos que também é a


premissa da CNV. È através da lógica do cliente, de suas crenças, valores, experiências de
sucesso e fracasso e de suas resistências que o processo de coaching se desenvolve,
observando quais métodos, quais ferramentas podem ser úteis para o alcance de resultados.
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O desenvolvimento de estudos no campo da Psicologia Positiva continua avançando


proporcionando, assim, diversas possibilidades de intervenções que, em diferentes contextos,
potencializam aspectos positivos dos coachees e dos grupos com quem convivem.

6 REFERÊNCIAS

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instituições educacionais. Psicol. Esc. Educ. [online]. 2017, vol.21, n.3.
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CSIKSZENTMIHALYI, M., & CSIKSZENTMIHALYI, I. S. (Eds.) (2006). A life worth


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CORREA, Andrea Perez. Psicologia Positiva: Teoria e Prática. São Paulo: Leader, 2016.

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GALLWEY, Timothy. The Inner Game of Tennis, Londres: Pan Books, 1986.

INSTITUTO BRASILEIRO DE COACHING – IBC. Psicologia Positiva: a Nova Ciência da


Felicidade. São Paulo:IBC, 2019. (Apostila do Curso).

LUSKIN, Frederic. O Poder do Perdão. São Paulo: Novo Paradigma, 2002

MARQUES, José Roberto. Mudar é Extraordinário. Goiânia: Editora IBC, 2019.

MARQUES, José Roberto. Coaching Diário, 60 dias de Imersão com Mensagens e Tarefas de
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MELO, L. H. A. BASTOS, A.T. BIZARRIA, F. P.A. Coaching como Processo Inovador de


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v.
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4 acesso em 10/11/19.

PETERSON, Christopher. Pursuning the Good Life: 100 Reflections on Positive Psychology.
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7

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SCORSOLINI-COMIN, F. Por uma nova compreensão do conceito de bem-estar: Martin


Seligman e a Psicologia Positiva. Paidéia (Ribeirão Preto) 2012.

SELIGMAN, M. & CSIKSZENTMIHALYI, M. (2000) Positive psychology: An


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