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por

@camilatorriani
Possui Graduação em Fisioterapia pela
Universidade Cidade de São Paulo (2000),
especialização em Fisioterapia Neurológica
pela UNIFESP EPM (2001) e doutorado em
Ciências Educação Física, Biodinâmica do
Movimento Humano pela Escola de Educação
Física e Esporte da USP (2010).

Realizou estágio pós-doutoral na University


of Southern California - USC nos EUA (2019-2020).
É docente na Escola de Educação Física e Esporte
da Universidade de São Paulo, EEFE-USP.

É pesquisadora na área de Comportamento


Motor (Controle Motor e Aprendizagem Motora
aplicados às pessoas com lesões neurológicas),
Atividade Física Adaptada e Fisioterapia
Neurofuncional no adulto e idoso.

É coordenadora do Grupo de Estudos


e Pesquisa em Comportamento Motor e
Neuroreabilitação GEPENEURO. Tem experiência
clínica na área de Fisioterapia Neurofuncional
no Adulto e idoso há 21 anos.

É instrutora oficial de cursos básicos no


Conceito Bobath pelo IBITA (International
Bobath Instructors Training Association).

É delegada da ABRAFIN representando


o Estado de São Paulo e membro da diretoria
da Sociedade Brasileira de Comportamento
Motor - SOCIBRACOM.
O modelo de Raciocínio Clínico
que proponho está baseado nos
conhecimentos mais atuais sobre o modelo
biopsicossocial, análise de movimento,
modelo dos Sistemas e elaboração de
hipóteses para traçar o planejamento da
intervenção em neurofuncional. Ele é a
base sólida que você precisa para, de fato,
fazer prática baseada em evidências.

Nesse passo-a-passo, te ensino a seguir


as 8 etapas que vão nortear e organizar
seu raciocínio desde a avaliação até
a realização de suas sessões com
pacientes na neurofuncional.

Figura 1: Mapa do Raciocínio clínico elaborado


e compilado pela Profa Dra Camila Torriani-Pasin.
A etapa 1 (Figura 2) refere-se ao uso
da Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(CIF) como base do raciocínio clínico.

1 CIF Condição de saúde

Estrutura e funções Atividade Participação


corporais

Fatores ambientais Fatores pessoais

Figura 2: A CIF em sua versão originalmente proposta pela OMS em 2001.

A CIF descreve a funcionalidade


e a incapacidade relacionadas às
condições de saúde, identificando
o que uma pessoa “pode ou não
pode fazer na sua vida diária”.
Seus componentes envolvem as
funções dos órgãos e estruturas do
corpo, assim como as atividades e a
participação no meio em que a pessoa
vive (Battistella e Brito, 2002).

Para essa classificação, totalmente


baseada no modelo biopsicossocial,
o termo funcionalidade substitui termos
usados no passado, como incapacidade,
deficiência, invalidez e desvantagem,
para incluir experiências positivas e
a potencialidade dos seres humanos.
A classificação mede a capacidade da
pessoa com alguma condição de saúde
específica em superar diferentes
níveis de dificuldades relacionadas
às tarefas do cotidiano.

O termo chave do modelo da


CIF é funcionalidade, envolvendo
componentes relacionados a funções
e estruturas do corpo, atividade e
participação social. Segundo este
modelo (Etapa 1), a incapacidade
é resultante da interação entre os
seguintes aspectos: (a). disfunção
apresentada pelo indivíduo; (b)
limitação de suas atividades; (c)
restrição na participação social; (d)
fatores ambientais que podem atuar
como facilitadores ou barreiras para
o desempenho dessas atividades
e da participação (OMS, 2003).

No vídeo, que pode ser visto nesse link,


eu te explico sobre os componentes
da CIF e como ela pode dar suporte
para nosso raciocínio acerca da
funcionalidade do paciente neurológico

Borg (2018) apresenta novas


perspectivas para esquematizar
a CIF, colocando a participação
no centro desse modelo (veja a
Figura 3 na próxima página).
Fatores
Figura 3: Participação pessoais
como papel central no
modelo tridimensional
contemporâneo da CIF.

Fonte: Borg (2017). The


Participation Pyramid:
a response to “Reconsideration
ICF Scheme” by Heerkens
et al, 2017, Dis Rehabil.
Participação
Atividades

Fatores
ambientais

Funcões
do corpo e
estruturas

Há, nesse sentido, um movimento


para repensar a CIF nos dias atuais
descrevendo a funcionalidade como
resultado da interação entre Participação,
Atividades e Estruturas e Funções
corporais. Castro et al (2019) ilustram essa
possibilidade para que seja integrada na
prática clínica, na educação e na pesquisa,
conforme ilustra a Figura 4.

Participação

Funcionalidade Fatores
Fatores Fatores
CIF médicos
ambientais pessoais
CID
Funcões e
Atividades estruturas

Integração de perspectivas
para prática clínica, educação e pesquisa

Figura 4: Funcionalidade como resultante da interação dos componentes da CIF.


O início do raciocínio clínico,
portanto, deve estar pautado no
modelo biopsicossocial da CIF. Minha
recomendação é que você tenha um
esquema, como esse descrito abaixo
(Figura 5), para completar com as
informações extraídas durante a
anamnese e avaliação do paciente.

Caso clínico
CID-10

Figura 5: Esquema ilustrativo para preenchimento


durante a anamnese e avaliação inicial.

Para saber mais sobre a CIF, clique aqui


e assista esse vídeo que eu preparei.

A anamnese é um momento de muita


importância para guiar a avaliação.
Nela, você deve extrair informações
pessoais valiosas que refletem o histórico
particular da vida do paciente e seu
estilo de vida. São aspectos importantes:
idade, escolaridade, dominância manual,
profissão, condição física, hábitos,
antecedentes sociais, experiências
passadas e presentes, características
psicológicas, entre outros. Nos aspectos
ambientais, vale destacar o ambiente
físico, social e atitudinal do indivíduo em
relação à sua forma de conduzir a vida.
Assim, é necessário coletar informações
como: ambiente domiciliar, trabalho,
escola, relações interpessoais, serviços
e acesso à produtos, entre outros.

Lembre-se: avaliação é processo


continuado! Você não precisa (e nem
deve desejar) coletar todas essas
informações em uma primeira consulta.
Tome seu tempo e vá, devagar, construindo
o mapa de seu paciente ao longo
de um conjunto de sessões.

IMPORTANTE: As informações coletadas


são dinâmicas e mudam com o passar
do tempo. Então, lembre-se de olhar,
de forma dinâmica e longitudinal,
a interação entre essas informações.

Em seguida, questione sobre a queixa


de funcionalidade de seu paciente.
Lembre-se que ela pode estar em
qualquer componente da CIF. Por
exemplo: se o paciente se queixa de dor
no ombro, essa queixa está na “estrutura
ombro” e na função corporal “Funções
neuromusculoesqueléticas e funções
relacionadas com o movimento”. Se
a queixa do paciente for a limitação
em vestir-se de forma independende
(principalmente a parte de cima do
corpo), a queixa estará no componente
“atividade relacionada ao auto-cuidado”.
Se a queixa de funcionalidade do
paciente for relacionada à restrição
para caminhar e frequentar o clube para
atividades esportivas, ela estará alocada
na “participação relacionada à vida
comunitária, social e cívica”.

Desse modo, te recomendo a listar


algumas das queixas de seu paciente e
colocá-las em um dos componentes da
CIF abaixo (Figura 6) para te guiar na
escolha dos instrumentos de avaliação.

DICA DE OURO:
Para obter a(s) queixa(s) de
funcionalidade mais precisamente
do seu paciente pergunte a ele:

Quais atividades você consegue


1
fazer, mas gostaria de melhorar?

Quais atividades você deixou de fazer


2
por causa de sua condição de saúde?

Quais atividades que, se você


3 pudesse voltar a fazer, fariam
sua vida mais feliz?

Na sua percepção, por que você


está com essa dificuldade?
4 (por exemplo: Você sente que falta
força muscular? Você sente que
falta confiança e segurança?)
2 Anamnese detalhada

Atividade
Deficiências Participação

Figura 6: A coleta de informações na anamnese deve ser alocada nos


componentes da CIF para facilitar a escolha dos instrumentos de avaliação
a serem selecionados para serem aplicados na avaliação do paciente.

Essa estratégia de definição da queixa


de funcionalidade vai te ajudar a definir
o objetivo com seu paciente.

Assista o vídeo 1 e o vídeo 2 para aplicar


esse conhecimento na prática.

A escolha dos instrumentos de avaliação


será baseada nos itens que você
preencheu no quadro acima. Você vai
escolher qual a relevância da aplicação
dos itens provenientes das medidas:

Da avaliação neurológica
1
(propedêutica)

Dos testes físicos de


2
desempenho observado

Dos questionários a serem


3
aplicados baseados em auto-relato

Para a escolha dos instrumentos


específicos, sejam eles de desempenho
ou auto-relatados, eu te recomendo
usar esse website.
Para saber como usar esse website, clique
nesse link e aprenda como usá-lo nesse
vídeo que eu preparei para você.

Adicionalmente, para selecionar


os instrumentos de avaliação eu te
recomendo usar as propriedades de
medida dos instrumentos de avaliação
descritas no COSMIN. Para saber mais
sobre ele, acesse esse website.

As principais propriedades de medida


dos instrumentos de avaliação são:

3
1
Confiabilidade
2 Responsividade 4

Validade Interpretabilidade

No vídeo, que pode ser visto nos links


abaixo, eu te explico o que são esses itens
e como usar essas informações em
um exemplo de paciente pós-AVC.

Parte 1 Parte 2 Parte 3


NÃO SE ESQUEÇA
Para escolher os instrumentos de
avaliação que vão compor a avaliação
do seu paciente leve em conta:
A relação entre a informação que
1 essa medida vai te fornecer e a queixa
de funcionalidade do paciente;

2 Tempo de aplicação do instrumento;

Propriedades de medida do
3
instrumento: É válido? É confiável?

4 Ele existe em português? Foi traduzido


e adaptado para a nossa língua?

Em seguida, no nosso raciocínio


clínico, você fará a análise da queixa
de funcionalidade do paciente
(Etapa 3), registrando-a de modo integral.
Esse registro pode ser por meio de um
vídeo do paciente desempenhando
a atividade em sua condição mais
similar ao seu cotidiano.

Daí, você vai assistir esse vídeo e


observar quais tarefas CORE estão
embutidas nessa atividade. As tarefas
CORE foram propostas por Quinn et al
(2021) e são descritas como as tarefas
mais comumente repetidas no cotidiano
do ser humano e que compõem a grande
parte da funcionalidade.
São elas:
1 Sentado

2 Sentado para em pé

3 Em pé

4 Andar

5 Degrau

6 Alcance, preensão e manipulação

Queixa de funcionalidade
3
Análise do movimento funcional

Sentado

4 Sentado Em pé

Tarefas Em pé
CORE
Marcha
Subir degrau

Alcance/preensão/manipulação

Figura 7: A análise da queixa de funcionalidade (Etapa 3) deve ser feita


desmembrando as tarefas CORE (Etapa 4) que estão inseridas nela.
Os autores descrevem a posição inicial da
avaliação, a instrução verbal e os atributos
do movimento que devem ser analisados
nessas atividades, conforme você vai
observar no quadro abaixo (Figura 8):

Descrição Instruções
Tarefa
da tarefa da tarefa

O indivíduo vai
sentar-se sem suporte Por favor, sente-se
em superfície firme (altura de forma ereta
Sentado cabeça da fíbula) com com os pés no
a base de suporte auto- chão por 30
selecionada e as mãos segundos.
descansando no colo.

O indivíduo vai
levantar-se de
uma superfície firme
Sentado Por favor, fique
(altura cabeça da fíbula)
para o em pé. Tente não
com a base de suporte
em pé usar as mãos.
auto-selecionada.
Veja critério do em
pé para o término.

O indivíduo vai ficar em Por favor,


pé em superfície firme, fique em pé
Em pé
em base de suporte confortavelmente
auto-selecionada. por 30 segundos.

O indivíduo vai andar


Por favor, ande
pelo menos 20 metros.
na sua velocidade
O percurso deve incluir
confortável até a
virada de 180 graus.
Andar marca no chão
O alvo deve ser
(marca indicando
marcado com fita
10 metros), vire-se
crepe no chão que seja
e retorne.
visível para o indivíduo.
Descrição Instruções
Tarefa
da tarefa da tarefa

Em pé, em frente Por favor, suba


a um degrau de nesse banquinho
18 cm, o indivíduo com um pé,
deverá subir um iniciando pela
degrau e descer perna direita.
com a mesma Tente não usar
Subir perna. Prefira usar as mãos (caso
degrau um degrau ou haja corrimão).
banquinho. Escadas Agora, desça de
devem ser usadas costas, iniciando
somente se não pela perna
houver o banquinho. direita. Repita o
Repita com a movimento com
outra perna. a perna esquerda.

O indivíduo
começa sentado
em uma cadeira
sem suporte nas Sente-se com os
costas e é solicitado olhos focados
que alcance com no copo em
apenas um braço sua frente, com
um copo de plástico suas mãos
(localizado 16 descansando no
cm para além do seu colo embaixo
Alcance/ comprimento do da mesa. Levante
Preensão/ braço) e pegue-o. seu braço,
Manipulação Em seguida, deve retirando-o de
levantar o copo da seu colo, levante
mesa e despejar o o copo e derrame
conteúdo do copo o seu conteúdo
em um recipiente nesse recipiente,
localizado perto do sem derramar e
copo e retornar o retorne o copo
copo para a mesa, à mesa.
sem derramar.
Deve repetir com
o outro braço.

Figura 8: Descrição das CORE tarefas e as instruções a serem


dadas ao paciente, conforme descreve Quinn et al (2021).
A Etapa 5 do raciocínio clínico inclui
a avaliação das CORE tarefas e nos dá
um passo-a-passo sobre os atributos
do movimento que devemos analisar.
Esse Modelo foi descrito por Hedman e
está detalhado no artigo de Quinn et al
(2021). Ao iniciar a avaliação de uma CORE
tarefa, você deve estar atento a condição
inicial do paciente antes de executar a
ação. Deve avaliar o início, a execução
e o término observando os atributos
do movimento: simetria, velocidade,
amplitude, alinhamento, verticalidade,
estabilidade, suavidade, sequência, timing,
acurácia e quais sintomas seu paciente
relata durante a execução.

5 Modelo de Hedman
Início
Condição inicial Preparação Execução

Simetria Término

Velocidade
Construtos
Amplitude
Alinhamento

Controle Verticalidade
postural Estabilidade

Suavidade
Sequência
Coordenação Timing
Acurácia
Sintomas
Figura 9: Modelo de Hedman para guiar a análise das tarefas
realizadas pelo paciente, conforme descreve Quinn et al (2021).
O modelo de Hedman para análise do
movimento completo está descrito abaixo
e vai te ajudar nesse processo, conforme
ilustra a figura 10.
Movimento contínuo
Defina as condições
iniciais para o desempenho
da tarefa e observe
a posição inicial.
As condições iniciais podem
ser sistematicamente
variadas nas repetições
Tarefas CORE subsequentes
Sentado Condição inicial
Sentado - em pé
Em pé
Avalie se o indivíduo
Andar entendeu as instruções
e requisitos da tarefa
Subir e descer
Alcance/Preensão/ Preparação
Manipulação

Observe os padrões de
movimento e as estratégias

Início > Execução > Término

RESULTADO ALCANÇADO?
SIM
Repita a tarefa pelo
menos uma vez com
a progressão requerida

NÃO
Repita a tarefa com
regressão da tarefa

Figura 10: Modelo de Hedman para guiar a análise das tarefas


realizadas pelo paciente, conforme descreve Quinn et al (2021).
A Figura 11 descreve, em detalhes,
a definição dos atributos a serem
analisados e como essa mensuração
pode ser feita, tanto em ambiente de
pesquisa, quanto em ambiente clínico.

Construtos Exemplos de
Definição
observáveis mensuração

Concordância
perfeita entre
cinética externa Índice de simetria,
Simetria
e cinemática do razão simetria.
movimento (ex:
direita x esquerda).

Taxa de mudança
ou velocidade de um
Velocidade
segmento corporal
Velocidade ou tempo de
ou deslocamento do
movimento.
corpo desde o início
até final da tarefa.

Extensão ou
ADM,
amplitude de
comprimento
Amplitude movimento usada
passo e passada,
para completar
distância.
a tarefa.

Relação
biomecânica entre
os segmentos Orientação
corporais uns com dos segmentos
Alinhamento relação aos outros e corporais
com relação à base (ex: anterior,
de suporte e ao posterior, lateral).
meio ambiente
para atingir tarefa.
Construtos Exemplos de
Definição
observáveis mensuração

Controle Postural

Segmentos
corporais
Habilidade de
(anterior, posterior
orientar o corpo
Verticalidade e lateral) com
com relação à linha
relação à linha
de gravidade.
de prumo (linha
de gravidade).

Habilidade de
controlar o centro
de massa em
relação à base Balanço corporal e
Estabilidade
de suporte em centro de pressão.
situações estáticas
(quase estáticas)
e dinâmicas.

Coordenação

Um movimento é
considerado suave
Medidas
quando ocorre de
derivadas da
Suavidade um modo contínuo
análise cinemática,
sem interrupção
como aceleração.
na velocidade
ou na trajetória.

Ordem específica
da resposta motora Coordenação
Sequência requerida para articular (cinética
atingir o objetivo e cinemática).
de uma ação.

A estrutura
temporal total do
movimento que
inclui: porcentagem Tempo de reação,
Timing do tempo relativa medidas de
ocorrida nos timing relativo.
segmentos corporais;
inclui iniciação,
execução e término.
Construtos Exemplos de
Definição
observáveis mensuração

Coordenação

O valor mais
próximo de uma
determinada Erro espacial
Acurácia
medida padrão, e variável.
ou valor conhecido
como típico.

Uma observação ou
Mudança
relato do paciente
na SatO2,
sobre sintomas;
Provocação FC, medidas
movimentos que
de sintomas relatadas
evocam uma
pelo paciente,
resposta em
tontura, medo.
particular.

Figura 11: Definição dos atributos do movimento


e exemplos de mensuração dos mesmos.

As Etapas 6 e 7 do nosso raciocínio


clínico (Figura 12) vão envolver o
processo de busca de hipóteses para as
limitações na atividade e restrições na
participação encontradas no desempenho
do nosso paciente. Elas estão baseadas
no uso do Modelo dos Sistemas de
Movimento, proposto pela Associação
Americana de Fisioterapia (APTA).
O movimento é resultado da interação
de múltiplos sistemas.

Ocorre sob o guarda-chuva fisiológico,


portanto, compreender as estruturas
e funções do corpo nessa perspectiva
auxiliará no raciocínio clínico objetivando
melhora da funcionalidade.
Nesse modelo, entende-se que as
razões das dificuldades apresentadas
pelo paciente podem estar em diversos
sistemas, tais como o nervoso, cardio-
vascular, pulmonar, tegumentar, músculo-
esquelético e endócrino, por exemplo.

Portanto, uma visão ampliada e


biopsicossocial se faz necessária e é
aplicada aqui. Para entender essa visão,
assista um vídeo clicando aqui.

Nervoso
Cardio
Hipóteses nos Endócrino
vascular
sistemas de Sistemas de
movimento movimento
Músculo Pulmonar
esquelético
Tegumentar

Cognitivo
Sensorial Perceptual

Funcionalidade Músculo Controle


esquelético Funcionalidade postural

Figura 12: Etapa 6 e 7


do raciocínio clínico que Neuro Emocional
envolve o uso dos Sistemas muscular Cardio
de Movimento de forma respiratório
ampliada e dos 4 elementos
descritos por McClure (2020).
Em 2020, McClure separou os 4 elementos
mais importantes que compõem o sistema
de movimento (Figura 13). Esses elementos
são: mobilidade, força muscular, controle
motor e energia e podem te auxiliar a
encontrar onde estão os motivos que
explicam a dificuldade do seu paciente
na execução das tarefas.

Nesse vídeo, explico sobre esses sistemas.

Esse modelo incorpora um guia específico


para o exame visual e qualitativo de
tarefas funcionais que podem ser utilizadas
para desenvolver hipóteses sobre as
disfunções e serve como um precursor
para medidas e testes mais quantitativos.

Fatores ambientais
e pessoais

Mobilidade

Energia Força

Controle
motor

Figura 13: Modelo dos 4 elementos do Sistema de Movimento.


Seu raciocínio, então, vai ser guiado por
esse ciclo resumido na figura 14. Inicia-se
na avaliação da queixa de funcionalidade,
fazendo uma observação qualitativa
e quantitativa das CORE tarefas e dos
atributos do movimento. Elaboram-se
hipóteses que se encontram nos diferentes
sistemas, nos fatores contextuais e nos
demais componentes da CIF para explicar
as limitações encontradas. Selecionam-
se os testes e medidas específicos para
dar suporte à construção do diagnóstico
do movimento. Daí, você estará pronto
para definir os objetivos da intervenção
e selecionar as principais ferramentas a
serem usadas. Esse processo é dinâmico e
deve ser reavaliado constantemente para
adequações, conforme a necessidade.

Tarefa - movimento funcional


• Controle
Observação • Quantidade Observação
Qualitativa • Velocidade Qualitativa
Alvos • Simetria Alvos
• Sintomas

Fatores ambientais Hipóteses sobre


e pessoais a disfunção

Mobilidade

Força
Testes
Energia
Intervenções específicos e
mensurações
Controle
motor

Avaliação e diagnóstico do movimento


Figura 14: Definição dos atributos do movimento e exemplos de mensuração dos
mesmos, os quais guiam o seu raciocínio para definir as estratégias de intervenção.
Vamos aplicar esse processo de
raciocínio em um exemplo prático?
Paciente relata dificuldade para atravessar
a rua, sentindo medo e insegurança.

Ao observar a marcha (CORE tarefa)


notamos: assimetria entre os hemicorpos,
falta de alinhamento no membro inferior
esquerdo, aumento do tônus nos membros
superiores, muita dependência da visão
para andar (olha para o chão), suavidade
do movimento comprometida, baixa
velocidade e perda da estabilidade.
Assim, levantamos algumas hipóteses
que podem explicar tais dificuldades:

Déficit sensorial nos pés (exterocepção)


Déficit proprioceptivo nos MMII
Disfunção no controle postural
Fraqueza muscular em glúteos,
quadríceps, eretores coluna
Falta de ajustes posturais
antecipatórios (APAs)
Limitação na mobilidade quadril e tornozelo
Déficit na coordenação
Déficit visual
Medo de cair
Déficit perceptual
Déficit no planejamento motor (apraxia)
Como testes específicos e
mensurações para esclarecer tais
hipóteses temos como possibilidades:

Déficit sensorial nos pés (exterocepção)


• Propedêutica neurológica – tato, pressão

Déficit proprioceptivo nos MMII


• Propedêutica neurológica – teste espelhamento

Disfunção controle postural


• MiniBest Test
• CTSIB – Teste integração sensorial Balance

Fraqueza muscular
• Medical research Councill
• Teste esfigmomanômetro
• Dinamometria

Falta APAs
• EMGs

Limitações mobilidade quadril e tornozelo


• Goniometria
• Inclinômetro

Déficit coordenação
• Propedêutica neurológica: calcanhar-joelho
-tíbia; disdiadococinesia, dismetria
• Fugl-Meyer – parte de MI

Medo de cair
• Escala de eficácia de quedas (FES)
• ABC Equilíbrio
• Questionário de auto-eficácia
Como testes específicos e
mensurações para esclarecer tais
hipóteses temos como possibilidades:

Déficit perceptual
• Teste negligência, lateralidade, linha média

Déficit no planejamento motor


• Testes apraxia

A aplicação dos instrumentos e


medidas específicas estará organizada
de acordo com os componentes da CIF
mencionados na etapa 2. Aqui, nesse
momento do raciocínio clínico, unimos
a etapa 2 com a 6 e 7, conforme ilustra
a Figura 15. Precisamos refletir sobre
os achados e como esses resultados
de testes e avaliações juntos, explicam
as dificuldades do paciente. Após essa
reflexão, você está pronto para elaborar
os objetivos de intervenção.

Instrumentos Instrumentos
de avaliação Atividade de avaliação
Instrumentos
Deficiências de avaliação Participação

Figura 15: Seleção dos instrumentos e aplicação dos mesmos em cada


componente da CIF, representando a inter-relação entre os resultados
de cada medida e os componentes da CIF.
Por fim, chegamos à etapa 8 do
raciocínio clínico. Nela você estará apto a
aplicar a sua atuação profissional fazendo
Prática baseada em evidências (PBE).
Nessa filosofia de trabalho, o propósito é
oferecer ao paciente as melhores opções
de tratamento baseadas em 3 pilares
centrais (Figura 16): a melhor qualidade
das evidências disponíveis, a sua
experiência profissional e as preferências
e valores do paciente (Sacket, 2000).
Para isso, você deverá saber fazer as
perguntas mais adequadas para responder
suas dúvidas clínicas. Em seguida, ler e
analisar criticamente os estudos existentes
e unir sua experiência com as evidências
existentes. Levar em conta as preferências
do paciente é fundamental. Nesse sentido,
colocar o paciente ativo no processo de
escolha das possibilidades de intervenções
existentes é fundamental.
Nesse vídeo, eu te ensino sobre como fazer
perguntas clínicas adequadas e como
buscar as evidências disponíveis nas bases
de dados, como PubMed, por exemplo:

Experiência
do clínico
Prática baseada
8 em evidências
PBE
Melhor Preferência
evidência do paciente
científica
Figura 16: O tripé da PBE.
Para conhecer a aplicação desse
raciocínio em situações práticas, assista o
vídeo (clicando aqui) que eu preparei sobre
o entendimento de disfunções de marcha
em pacientes neurológicos, especialmente
hiperextensão de joelho.

Assista, também, esse vídeo para entender


esse raciocínio quanto à dificuldade de
flexão plantar durante a marcha. Nesse
mesmo link, você verá outro exemplo
de raciocínio em paciente acamado.

Referências Bibliográficas:
WHO. World Health Organization. International Classification
of Functioning, Disability and Health (ICF). New York: WHO, 2001.

Battistella, L. R. Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) International


Classification of Functioning Disability and. Acta Fisiátrica, 8(1), 0–3, 2001.

Borg, J. The Participation Pyramid: a response to “Reconsideration ICF scheme”


by Heerkens et al. 2017. Disability and Rehabilitation, 40(1), 123–124, 2018.

Heerkens, Y. F. et al. Reconsideration of the scheme of the international


classification of functioning, disability and health: incentives from the Netherlands
for a global debate. Disability and Rehabilitation, 40(5), 603–611, 2018.

Castro, S. S., Almeida Filho, P. S. B., Bonates, M. F., Silva, M. C., & Ribeiro,
L. C. Thoughts on the discussion about the revision of the International
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Hedman, L. D., Quinn, L., Gill-Body, K., Brown, D. A., Quiben, M., Riley, N.,
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Mcclure, P., Tevald, M., Zarzycki, R., Kantak, S., Malloy, P., Day, K.,
Shah, K., Miller, A., & Mangione, K. The 4-Element Movement System
Model to Guide Physical Therapist Education, Practice, and Movement-
Related Research, Journal of Neurologic Physical Therapy, 2021.

Sackett DL, Rosenburg WMC, Gray JAM, et al. Evidence based


medicine: what is it and what it isn’t. BMJ 1996;312:71–3.
Para atualização científica e profissional
diária, siga-me nas redes sociais
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