Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
-1-
Olá!
Você está na unidade Psicologia Social: passado, presente e futuro. Conheça aqui o conceito proposto pela
psicologia social e a sua diferença em relação à psicologia propriamente dita. Compreenda também as nuances
Bons estudos!
-2-
1 Psicologia social: o social
A psicologia possui um campo vasto e diverso de correntes de pensamento. No entanto, há duas matrizes que
podem resumir essas inúmeras teorias das ciências psicológicas, segundo Guareschi (2009):
Matriz de ordemcomportamentalista
sociedade que está aí posta, de modo que as pessoas transitam nela, conhecendo-a ou não. Isto significa que
conhecer sobre ela denota uma perspectiva em que procedem quantificações e mensurações. Em que um dado
saber é transmissível, em sua integridade e finitude, de “boca em boca”, de “ação em ação”. Logo os indivíduos
que nela transitam e existem, são indivíduos concebidos enquanto “semelhantes, uniformes, semelhantes a
máquinas de processamento, robôs, seres humanos praticamente iguais” (GUARESCHI, 2009, p. 41).
Enquanto “objetos” desta sociedade, as pessoas são treinadas, reproduzidas e assemelhadas a grupos de
referência (como equipes de trabalho, classe e gênero sexual) para aprender formas de ser no contexto que o
circunda. A dinâmica social é entendida, sob esta perspectiva, como passíveis de serem educadas, ou seja,
Já ao que se refere à perspectiva dialógica, Guareschi (2009), a premissa é a de que os seres humanos
interagem uns os outros e com o mundo e, por meio dessas interações, constroem espaços representacionais,
psíquicos e simbólicos. As teorias alinhadas à esta matriz concebem que, a todo tempo, são produzidos saberes,
novos conhecimentos (caracterizadamente singulares) que só podem ser adquiridos por meio de um processo
É notório que ações, posições e conhecimentos pressupõem práticas peculiares e únicas. Não reproduzidas em
série, mas, sim, a partir da realização de tarefas diferentes. O modo como apreendem o mundo é sempre
particular. Assim, esses sujeitos, para produzir conhecimentos e saberes, “procuram, investigam, refletem,
buscam razões” (GUARESCHI, 2009, p.42). A vida em sociedade, nesta perspectiva, se traduz em um constante
descobrimento, fazendo intenso uso de práticas de reflexão, do diálogo, e de se produzir respostas a algum
problema.
-3-
Figura 1 - Sociedade
Fonte: Macrovector, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: A imagem mostra um coletivo de diferentes pessoas, profissões e papéis sociais, pois o social
designa um conjunto um coletivo de pessoas que funcionam e se organizam de modo a dinamizarem a vida.
Para falar de um social faz-se necessário pensá-lo a partir de uma concepção de mundo. Ou seja: é preciso
estabelecer um modelo explicativo que o conceba. É neste sentido que foram apresentadas estas duas
perspectivas. Uma que concebe o social como algo posto, dado, natural, o que leva o indivíduo a apenas extrair
Neste modelo, as pessoas têm uma relação mais objetiva com a vida, transmitindo informações para outras
pessoas. Já no modelo explanativo, a atuação humana é concebida como algo mais complexo: mais do que
transmitir informações e captá-las, a ação humana é entendida como um ato de criação, constante. Em um
permanente movimento de estabilidade e instabilidade, pergunta-resposta, nova pergunta e nova resposta. Sob
Se, na primeira matriz, a existência do indivíduo é predeterminada pelo social e as informações e experiências
catalisam sua condição humana e social, na segunda é o indivíduo que produz e, ao mesmo tempo, é produzido
pelo que fez no social, não como resultado da ação de outrem mas como efeito de sua própria ação.
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/f8e66e29774d08687370b93e7e16efd9
-4-
1.1 Mas como ser psicologia e social?
Ao nascer, o ser humano é um só com a mãe, não importa qual. O psicanalista Winnicott já apontava que a
relação mãe-bebê é o que dá início à existência do ser humano, mesmo que a figura materna seja um totem ou
um objeto figurativo.
Se no início somos um com nossas mães, pouco a pouco no desgarramos dela, com vistas a ficarmos, apenas, com
nós mesmos. E é este movimento, como afirma Guareschi (2009), que nos dá a percepção da existência de um
“outro”.
Fique de olho
O filme I am mother faz uma série de provocações sobre a existência humana, sua criação e os
aspectos que mobilizam questionamentos sob a ótica das duas matrizes teóricas acerca do
social. Está disponível na rede Netflix.
Ao nos tornarmos indivíduos compreendemos que outros nos interferem e que, sobre eles, também interferimos.
É esta toada que mobiliza e constrói o ser humano enquanto ser social. O mundo é sempre social e, mesmo
quando físico e exato, ele é contextual onde o ser humano vai construindo sentidos e significados, num
lugar, por suas voltas: vamos e voltamos, inúmeras vezes (nunca ao mesmo ponto), mas sempre o tendo como
referência.
Neste sentido, o ser humano não é social por conta do social (ou do ambiente ou do contexto) em si, mas,
À medida que adentramos (“helicoidalmente”) neste universo social, o ser humano vai construindo novos
circunscreve). O ser humano é um ser enquanto espécie, tanto quanto um ser social. É humano, por sua condição
homo sapiens sapiens, tanto quanto por sua condição “homo socialis”.
E é neste espectro que Guareschi (2009) salienta o range psicológico, um espaço tanto material quanto imaterial,
uma moeda que, de um lado parte do âmbito biológico e, de outro, será provido (a duras e intensas “penas”) de
autonomia própria. A despeito de suas limitações biológicas, neurológicas, orgânicas. O autor enfatiza que o
caráter
-5-
representacional que é a morada do psíquico, do psicológico. O espaço da reflexão, da consciência, o
outros seres vivos pelo fato de darem sentido às realidades, de poderem refletir, isto é, dobrar-se
sobre si mesmos e fazer a pergunta: Quem sou eu? Que são as coisas que nos rodeiam? (GUARESCHI,
2009, p.43).
Lane (1984) destaca que toda a psicologia é social, não por que as outras psicologias (clínica, psicofisiologia,
psicologia do esporte, psicologia do trabalho, psicologia jurídica, etc) não tenham suas especificidades, mas
porque elas são produzidas e emergem em um dado contexto histórico-social ao analisar os fenômenos
Desde os entendimentos sobre tais fenômenos às técnicas interventivas, o homem encontra-se circunscrito
numa dada realidade. Logo, os comportamentos não ocorrem de modo isolado e esterilizados de seus contextos
e momentos históricos. Logo, o homem é um ser social: aquele do esporte, dos dissídios judiciais, do ensino, do
processo de aprendizagem, do sofrimento e do trabalho. Portanto, ele tem seus comportamentos e fenômenos
Assim, falar de uma psicologia social é referir-se a um ramo científico que estuda e tece compreensões sobre
relações sociais. Alguns como Figueiredo (2008), Gersen (2008); Guareschi (2009) e Nascimento (2009) ainda
fazem alguma ponte com outras ciências, como a sociologia e a antropologia, por exemplo, uma vez que é
possível vislumbrar a agregação de valores da psicologia com essas duas áreas científicas.
Assim sendo, este ramo considera o indivíduo como influenciado pelo meio que o forma e também o
sujeito como elemento que altera o ambiente em que vive. A necessidade da atuação desse ramo está
no fato de que as relações sociais influenciam a conduta e os estados mentais dos indivíduos. Por
outro lado, a consciência coletiva de uma sociedade é um campo fértil para (seus) estudos, (...) a
Psicologia Social não observa apenas as influências do meio, mas também estuda as percepções
desse meio, tratando-o como uma entidade, visando compreender o comportamento social; e analisa
Neste sentido, a psicologia, no que concerne a vertente social, é erigida e se presta a estudar o cotidiano. Logo,
seu interesse primeiro se triangula na construção de entendimentos sobre “o impacto dos ambientes sociais e
interações sobre atitudes e comportamentos” (CARVALHO; COSTA JUNIOR, p. 3). Ou seja, envolve compreender
como as instituições, as culturas e a própria sociedade interferem e são interferidas nos e pelos seres humanos.
-6-
2 Breve histórico da psicologia social
A psicologia social precisa ser abordada sob suas perspectivas: uma de movimento mais global (que remonta aos
primórdios de suas articulações enquanto ramo científico) e outra que remete às discussões e práticas no
cenário brasileiro.
-7-
2.1 Os primórdios da psicologia social
Segundo Lane (1981), a psicologia social reflete um movimento (uma corrente de pensamento) que reverbera
desde o século XIX e tem como patrono o filósofo francês Augusto Conte, que marcou um início simbólico desta
lógica. Conte concebia a psicologia social como subproduto da sobreposição de duas outras ciências: a sociologia
e a moral. Assim, o indivíduo era, para ele, a causa e a consequência da sociedade em que vivia.
Entretanto, durante todo o século XIX, estas questões orbitaram apenas no plano do etéreo e não passavam de
discussões teóricas (LANE, 1981). Com a emergência da Primeira Guerra Mundial é que se tem um marco
especialmente a partir do assolamento de crises e catástrofes, conflitos que se tornaram um terreno fértil e
O foco, portanto, era erigir compreensões de entendimentos sobre temas como modos de manutenção de valores
e da liberdade, principalmente dentro de um cenário de tensão e sofrimento onde as pessoas oscilavam em suas
condições sociais, físicas e humanas, segurança e total esfacelamento social. Assim, eram traçadas questões como:
Inicialmente discussões assim, sobre a consciência, tornam-se hegemônicas: o que é e como se cria e em que
-8-
Figura 2 - Consciência
Fonte: patrice6000, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: A imagem mostra a silhueta da cabeça de uma pessoa com um túnel sem fim, representando que,
em seus primórdios, a psicologia social já iniciava os debates sobre temas como moral e a consciência.
Lane (1981) destaca que, neste período, vários estudos foram empreendidos em temas que versavam sobre
liderança, preconceito, propaganda, conflitos de valores e como (por quê e para quê) os indivíduos se
Não houve, no entanto, uma fundação inicial da psicologia social, mas permitiu-se que as ciências psicológicas
problemas como uma melhora de vida dos sujeitos em seus contextos. Nas duas grandes guerras mundiais, por
exemplo, o objeto de estudo da psicologia social era a própria sociedade, principalmente as percepções, as
enfim, tudo que demonstrasse a dicotomia existente entre o ser e a sociedade” (CARVALHO; COSTA JÚNIOR,
2017, p.4).
Por outro lado, ao fim deste período de guerras, os resultados apresentados pelos pesquisadores mostraram
mais contradições e incertezas do que entendimentos e compreensões assertivas mostrando pouca praticidade e
-9-
aplicabilidade, sem que houvesse soluções exequíveis e para os problemas vigentes à época. Por este motivo,
Lane (1981) entende que houve aí um momento de crise da psicologia social, no qual se instaurou um declínio
dessa compreensão
Foi apenas após um fluxo de inquietações de psicólogos fora do eixo América do Norte-Europa, que a psicologia
social começou a alçar um novo ar de efetiva aplicabilidade e relevância. Psicólogos latino-americanos (em
especial do México, Peru e Brasil) deram início a novas pesquisas, desta vez mais contextualizadas e críticas
(LANE, 1984).
Menos preocupado em fomentar alguma unicidade em suas deliberações e elucubrações, os psicólogos deste
movimento realçavam a condição plural em que novos espaços eram discutidos e problematizados (entre
conjunções e disjunções). Velhas premissas eram colocadas em foco para, devidamente criticadas, mantivessem
ou refizessem, suas teses. O trabalho investigativo da psicologia social, neste instante, assume um carácter
mais interdisciplinar e de conjunções mais refinadas. Não se trata mais de imputar um viés positivista à
psicologia. Evidenciam-se dinâmicas e valorizações sob a ótica de uma ecologia social e cognitiva,
caracterizadamente, amalgamada e engendrada, no tecido social, e não mais identificado de maneira isolada e
fragmentada.
Fique de olho
Uma discussão mais aprofundada sobre esta trajetória histórica da psicologia social é traçada
na obra de Robert M. Farr, intitulada “As raízes da psicologia social moderna”.
A principal característica desta época, segundo Gersen (2008), é a emergência de redes de saberes, propostas
para promover interconexões entre diferentes atores e pesquisadores. Isso fez com que houvesse uma
amplificação de possibilidades e temas a serem problematizados na mesma medida em que se enfatiza o caráter
prático e conectado com as realidades que eles se prestam a compreender e intervir. Assim, surge, de modo mais
enfático, a postura investigativa e, principalmente, de intervenção numa premissa impositiva mas coadunada
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/16972aa5089793053642310cc8038b65
- 10 -
- 11 -
2.2 Psicologia social à brasileira
Pacheco Filho (2006) destaca que o cenário em que a psicologia social toma corpo no contexto brasileiro é
demarcado e caracterizado pela intensa crítica ao modelo americano de psicologia social estruturado no período
entre guerras - mesmo recebendo grande influência desta vertente até meados dos anos 1960. Sem se esquecer
que no entorno global, pululavam movimentos sociais e críticos à ordem geral, como
que, em contrapartida, refletiu-se em uma certa unificação das críticas ao regime militar (PACHECO
Segundo o autor, esta época se caracteriza pela efervescência nos meios acadêmicos e pelas duras críticas ao
modelo de ciência da psicologia social vigente (leia-se: a Escola Americana). É nesta seara oscilante, ora entre o
pragmatismo norte-americano, ora uma visão mais abstrata do homem, que começam os primeiros
posicionamentos críticos e intensos, que, segundo Lane (1984), evidenciavam o anseio de uma psicologia social
Esses movimentos culminam, em 1979 (SIP - Lima, Peru), com propostas concretas de uma
com a participação de psicólogos peruanos, mexicanos e outros (LANE, 1984 apud PACHECO FILHO,
2006, p. 57).
Novas concepções teóricas, de cunho mais crítico, começam, então, a ser erigidas. Na década de 1970 há,
segundo Pacheco Filho (2006), uma intensificação na busca por concepções e postulações mais alinhadas com a
realidade social brasileira (em consonância com outros movimentos de países latino-americanos).
Vemos no Brasil um desenvolvimento de uma nova postura em relação à Psicologia social surgida
com a crise que a perspectiva até então vigente sofreu nos anos 70. No entanto, podemos observar
dois momentos especiais para a Psicologia social que antecedem o surgimento da ABRAPSO
- 12 -
Psicologia socio-histórica: os cursos de Psicologia social ministrados e seus livros correspondentes
na década de 30-40, de Ramos e Bricquet, que mostravam uma perspectiva sociológica inspirada na
Já em 1979 há um marco que delimita e consolida uma nova forma de se pensar a psicologia social brasileira: a
intercâmbios dos cientistas brasileiros e cientistas que compartilhavam problemas análogos à realidade
brasileira.
Para Lane (1984), as publicações que advém deste movimento dotam a psicologia social brasileira de melhor
(2012) salienta a principal diferenciação entre a psicologia social norte-americana e a construída nesta
empreitada brasileira.
2012, p.131).
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/cad820ef13a8cf22cbdadc11aa5e1f14
- 13 -
3 Cognição social
Segundo Garrido et al (2011), a teoria denominada cognição social refere-se mais à uma abordagem conceptual
e empírica genérica do que a uma subdisciplina da psicologia. De forte influência filosófica do elementarismo e
do holismo, esta corrente teórica surgiu fortemente em meados dos anos 1970. No cerne de seus objetivos foca
na construção de compreensões e explicações sobre a percepção humana (do indivíduo sobre si mesmo e sobre
os outros).
Assim, parte-se da premissa de que é a partir destas percepções que se explica, prevê e orienta o comportamento
social. Para seus teóricos, os fenômenos sociais devem ser investigados por meio das estruturas e processos
cognitivos pelos quais operam. Daí a nomenclatura cognição social. Trata-se de uma corrente de pensamento
teórico que se alicerça sob uma perspectiva cognitiva, ou seja, o paradigma fundante é do processamento de
informação. Isto significa que para seus teóricos existem modelos de processamento que orientam funções
Neste sentido, esta abordagem contribui para reforçar a importância dos processos cognitivos como viés para
explicar o comportamento social. Segundo os autores, muitos pesquisadores desta abordagem buscaram
personalidade (...), atribuição social, comunicação, afeto, processos de julgamento e o self (GARRIDO,
et al., p. 116).
O ponto central desta teoria reside, segundo os autores, em sua tentativa de explicar a proposição de modelos
cognitivos voltados ao aspecto social e a maneira detalhada com que seus teóricos descrevem processos como
aprendizagem e pensamento, aplicados à uma vasta gama de áreas. Inicialmente, os primeiros trabalhos se
dedicavam a investigar os fenômenos sociais em seus fundamentos cognitivos, tendo como meio os modelos do
processamento da informação.
Estes modelos apregoavam um indivíduo envolto em um contexto social, “virtualmente embrenhado nalguma
forma de processamento de informação” (GARRIDO, et al., p. 117). Neste sentido, toda a situação social
pressupões alguma necessidade de processar informações: na fila do banco, no ato de realizar uma compra, na
maneira de ser atendido no posto de saúde. As pessoas produzem impressões sobre suas experiências:
- 14 -
interpretando e elaborando tais informações;
Assim, em algum momento, mais à frente, tais conhecimentos serão recuperados (ou não) e podem ser utilizados
por meio de processos como o pensamento e o julgamento e com vistas a nortear o comportamento social
humano.
Para Garrido et al (2011), o elementarismo e o holismo são as duas principais correntes filosóficas que
A perspectiva elementarista, que remonta aos filósofos britânicos dos séculos XVII e XVIII (Hume,
1739/1978; Locke, 1690/1979), caracteriza-se pela segmentação e análise dos problemas científicos
nos seus vários componentes, que só posteriormente serão combinados. Segundo esta abordagem da
mente, as ideias surgem da sensação e percepção e constituem elementos que podem ser associados
entre si. (...) a abordagem elementarista, (procura) analisar a experiência nos seus vários elementos,
determinando como estes se ligam, e identificar as leis que presidem a tais associações.
tradicional da cognição social onde se procura isolar e explorar os elementos estruturais e as regras
subjacentes aos processos cognitivos. No entanto, a ideia de que o isolamento dos elementos
adequada compreensão não se encontra isenta de críticas como veremos mais à frente.
A abordagem holística caracteriza-se pela análise dos fenómenos no seu contexto, incidindo
sobretudo na configuração global de relações entre eles. Esta abordagem da mente tem origem nas
teorias do filósofo alemão Emanuel Kant (1781/1969) que, numa crítica às posições filosóficas
vigentes, defende que os fenómenos mentais são inerentemente subjetivos e sugere que a mente
constrói ativamente a realidade, indo além do estímulo original. Kant atribui, assim, um papel mais
(...) se foca na experiência imediata da percepção (...) procura descrever de forma sistemática as
indivíduos fazem do seu mundo social. (...) seria necessário considerar o equilíbrio dinâmico da
pessoa (com as suas necessidades, crenças, capacidades perceptivas) e da situação, para perceber
como este conjunto de fatores atua na construção da realidade social. Para além disso, havia que
considerar a cognição, ou seja, a interpretação que o percepiente faz do mundo, e a motivação, que
- 15 -
constituiria o motor do seu comportamento. (...) estas ideias convergem com concepções mais
situadas da cognição, isto é, com a ideia de que a cognição emerge da interação entre o indivíduo e o
No entanto, a abordagem da cognição social não se limitou apenas a estas duas correntes filosóficas. É possível
citar, ainda, pelo menos outras quatro teorias que, em alguma medida, influenciaram a presente corrente:
informação.
compreende o indivíduo não como alguém que percebe seu contexto de forma
passiva, mas sim, como alguém que constrói seus conhecimentos, ativamente.
Construtivismo que representam eventos que orientam o funcionamento psicológico, e que mudam
personalidade, por exemplo, é definida como cognição social, ou seja, trata-se “de
do tempo no indivíduo, que são utilizados pelas pessoas para interpretar a sua
- 16 -
Processamento de principal referência na abordagem da cognição social, traz metaforicamente a
O estudo sobre os processos cognitivos e sua aplicabilidade diante aos fenômenos sociais é o cerne da
abordagem da cognição social. Neste sentido, o comportamento humano precisa ser entendido a partir da
identificação do conteúdo e formato que as representações mentais assumem e, em função dos respectivos
presumivelmente, intervinham entre a apresentação do estímulo e a resposta observada (GARRIDO et al., 2011,
p. 125).
Fica evidente, assim, a valorização da concepção de que a mente funciona tal qual um computador: processando
informações. Uma crítica contundente à esta perspectiva é o modo reducionista que considera o contexto social e
- 17 -
4 Percepção de pessoas
Para Veríssimo (2019), a chamada percepção não designa algo estrito à atividade física de um determinado
sujeito. Ela se estende para além da dinâmica sensorial e envolve o contexto que circunda o indivíduo.
Trata-se, portanto, de um fenômeno social, uma atividade das pessoas em razão de sua socialidade. Assim, faz-se
necessário, neste sentido, evidenciar e compreender, principalmente, a sua dimensão social, haja vista sua
condição de intencionalidade. Assim, a percepção das pessoas está situada num contexto de compreensão das
implicações das capacidades do sujeito que percebe no estudo da intersubjetividade (ou seja, entre as pessoas:
social).
A percepção social por ser definida como um processo psicológico que é produzido no entremeio das relações
sociais. Segundo Veríssimo (2019), a maioria das teorias parte do pressuposto de que existem fatores inatistas
(genéticos) e fenomenológicos (experenciais), que se estruturam em contraponto aos fatores cognitivos e afetivo-
emocionais.
A experiência humana é, essencialmente, intersubjetiva e depende das interações sociais. Neste sentido, a
A espacialidade;
A profundidade;
A iluminação;
Tais aspectos demarcam, segundo Veríssimo (2019), a vivência do ser humano no mundo físico e na porção
objetiva do mundo. Entretanto, sob esta lógica, poderíamos dizer que o mundo físico não passa de um recorte
abstrato da nossa experiência, pois a sua existência transcorre por um mundo cultural.
Você se veste, se movimenta, sente calor, passa frio, cozinha, vai ao cinema, fica em casa (estirado no sofá),
situações que são demarcadas pela ação humana de outras pessoas sobre nossa experiência. Logo, somos
circunscritos pela presença de outras pessoas em nossa vivência cotidiana. Assim, nossa percepção é construída
em torno de práticas de outras pessoas sobre nós, e nossas práticas sobre elas.
A percepção é erigida de modo a tornar “possível identificar, portanto, dois problemas básicos referentes à
intersubjetividade: a questão da percepção do outro e a questão do vetor social que marca a nossa relação com
as coisas” (VERÍSSIMO, 2019, p. 303). E é aqui que reside a dimensão social, pois a percepção só existe por
- 18 -
conta da ação de outro humano (mesmo que mediada por aparatos sociais: celular, tablet, notebook, as roupas
#PraCegoVer: A imagem mostra as mãos de homem segurando uma folha de papel branco com dois recortes
diferentes da cabeça de um personagem de perfil sobre um fundo de rua lotado, o que representa perfeitamente
Logo, a percepção é aquele processo psicológico que institui a forma e o significado a ser atribuído às coisas e às
nossas posturas e ações no contexto. Cabe ressaltar que ela está alicerçada no conjunto de artefatos culturais
(signos, símbolos, valores e crenças) que compõe nosso contexto social. Analise, por exemplo, o símbolo a seguir:
- 19 -
Figura 4 - Exercício prático de percepções humanas
Fonte: Kriangx1234, Shutterstock (2020).
#PraCegoVer: A imagem mostra uma suástica em cor negra e fundo branco, símbolo associado ao nazismo de
Hitler.
Quando vê esse símbolo, a maioria das pessoas a associam ao nazismo, à maldade e a Hitler, por exemplo. No
entanto, ao verificar a história é possível perceber que esse símbolo já foi utilizado por diversas culturas sob
diferentes pretextos e significações: celtas, astecas, hispânicos, islâmicos, gregos, até entre os judeus.
Assim, a dimensão social da percepção pode ser evidenciada, uma vez que a atividade perceptiva opera,
continuamente, selecionando significados e valores que embasam nossos julgamentos e nossas ações. “Não é
possível ouvir ou ver tudo ao mesmo tempo” (VERÍSSIMO, 2019, p.303). Logo, há uma restrição que foca nossa
Não se trata, no entanto, de um movimento solitário. Ao contrário, é uma organização sociocultural que
estabelece nossa volição e nosso interesse, como acontece no exemplo da suástica, que orienta os indivíduos a
uma dada interpretação sobre o símbolo e, por conseguinte, as ações daí decorrentes.
- 20 -
5 Atitude social e formação das atitudes
Num desdobramento do conceito de percepção, o processo denominado atitude pode ser definido como
Fique de olho
uma orientação do nosso pensamento, das nossas disposições profundas e do nosso estado de
espírito diante de determinado objeto (situação, ideia, pessoa); ou seja, atitude é uma
disposição interna que orienta a nossa conduta diante dos fatos e acontecimentos da vida,
sejam eles reais (concretos) ou simbólicos (ALVES, 2008, p. 57).
Cognição
Afetividade
Comportamento
Mas o que produz uma determinada atitude? Segundo Pimentel et al (2016), os processos concernentes à
produção de uma atitude resultam da própria coletiva do indivíduo, tendo como base as atividades perceptivas
que o governam. Assim, se o comportamento é a ação propriamente dita, a atitude se traduz como sua intenção.
Os autores destacam que a atitude está ancorada nas representações avaliativas de que se expressam em
equivalendo a um posicionamento diante às situações vividas, que pode ser ou não consumada. Tudo se
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender que a psicologia social é uma área de produção de conhecimentos na ciência psicológica;
• refletir sobre a prática da psicologia social como submetida a duas correntes teóricas, sendo a
- 21 -
• refletir sobre a prática da psicologia social como submetida a duas correntes teóricas, sendo a
perspectiva americana experimentalista e a perspectiva europeia social-histórica-crítica;
• conhecer as principais teorias e concepções da psicologia social;
• pensar algumas temáticas atuais à luz destes marcos teóricos.
Referências
ALVES, M. R. Reflexões sobre atitude, comportamento e Oftalmologia. Revista Brasileira de Oftalmologia, Rio
de Janeiro, v.67, n.2, p.57-58, abr. 2008. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2020.
ALMEIDA, L. P. Para uma caracterização da Ppsicologia social brasileira. Psicologia: Ciência e Profissão,
Brasília, v.32, n.spe, p.124-137, 2012. Disponível em: . Acesso em: 18 abr. 2020.
CARVALHO, T. S. V.; COSTA JÚNIOR, I. C. A. Psicologia social: conceitos, história e atualidade. Psicologia.PT, 10
GARRIDO, M. V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T. Cognição social: fundamentos, formulações actuais e perspectivas
futuras. Psicologia, Lisboa, v.25, n.1, p.113-157, jun. 2011. Disponível em: . Acesso em: 19 abr. 2020.
GERGEN, K. J. A psicologia social como história. Psicologia Social, Florianópolis, v.20, n.3, p.475-484, dez. 2008.
GUARESCHI, P. O ensino da psicologia social. In: BERNARDES, J.; MEDRADO, B. Psicologia social e políticas de
In: BERNARDES, J.; MEDRADO, B. Psicologia social e políticas de existência: fronteiras e conflitos. Maceió:
Abrapso, 2009.
campo fragmentado. Mental, Barbacena, v.4, n.7, p.47-66, nov. 2006. Disponível em: . Acesso em: 18 abr. 2020.
PIMENTEL, C. E. et al. Psicologia da era virtual: estrutura das atitudes frente ao Facebook. Pesquisas Práticas
Psicossociais, São João del-Rei, v.11, n.2, p.310-324, dez. 2016. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2020.
Abordagem Gestástica, Goiânia, v.25, n.3, p.302-312, dez. 2019. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2020.
- 22 -