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PLANEJAMENTO
SUGESTÕES DE TEMAS
4. A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
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29. EFEITOS DA CULTURA ORGANIZACIONAL SOBRE O FUNCIONAMENTO DA
ESCOLA
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65. ELEIÇÃO DE DIRETORES: reflexões e questionamento de uma experiência.
estudos em avaliação educacional
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85. CRISE DO CAPITAL E METAMORFOSE CONCEITUAL NO CAMPO
EDUCACIONAL
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126. DIDÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: percursos e perspectivas no
brasil e em portugal
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146. PROJETO HISTÓRICO, CIÊNCIA PEDAGÓGICA E DIDÁTICA
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ARTIGOS PARA LEITURA, ANÁLISE E UTILIZAÇÃO COMO
FONTE OU REFERENCIA
Anísio S. Teixeira
Diretor do I.N.E.P.
Quando recebi o convite com que fui distinguido para participar deste Simpósio e a
solicitação que me foi feita de apoio a esta feliz iniciativa, disse ao membro da
Comissão Organizadora que me abordava que não faltaria de modo algum. Vem de
longa data o meu grande respeito e admiração ao Prof. José Querino Ribeiro,
catedrático de Administração Escolar e Educação Comparada, e creio que sei julgar
a dificuldade que tem enfrentado, e que hoje também enfrento, regendo que estou
esta mesma cadeira na Universidade do Brasil, dificuldade essa que é a de lançar
estudos que estão longe de ter precedentes entre nós.
A explicação está em que tem ele poder um pouco maior do que o do Administrador
Público. E, como não posso administrar sem poder, sendo maior na escola particular
o poder do administrador, aí pode ele administrar. Administra porque se fez
administrador e tem as qualidades pessoais para isto. Não que se prepare. Como é
muito difícil administrar, não se crê que possa aprender fazê-lo. O administrador faz-
se, não se prepara.
Mas, que é o administrador? O administrador é homem que dispõe dos meios e dos
recursos necessários para obter alguns resultados. Resultados certos, e isto é um
administrador. Logo, determinados, propositais, estabelecidos pela ação intentada.
Não há função mais constante nem mais geral. A vida está completamente saturada
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dela. Sem administração, a vida não se processaria. Mas há dois tipos de
administração: e daí é que parte a dificuldade toda. Há uma administração que seria,
digamos, mecânica, em que planejo muito bem o produto que desejo obter, analiso
tudo que é necessário para elaborá-lo, divido as parcelas de trabalho envolvidas
nessa elaboração e dispondo de boa mão-de-obra e boa organização, entro em
produção. É a administração da fábrica. É a administração, por conseguinte, em que
a função de planejar é suprema e a função de executar, mínima. E há outra
administração - à qual pertence o caso da Administração Escolar - muito mais difícil.
Seu melhor exemplo é o da Administração dos hospitais, em que a grande figura é,
digamos, a do cirurgião; o administrador é apenas o homem que dispõe o hospital
nas condições mais favoráveis possíveis para que o cirurgião exerça com a maior
perfeição possível a sua função. Este é também o caso da educação.
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Porque, se podíamos antigamente ter o grande professor primário que sozinho
dirigia a sua classe, hoje, tendo que dar educação à população inteira, sou forçado a
buscar um magistério em camadas intelectuais mais modestas. Quanto mais
imperfeito for o magistério, mais preciso de melhorar as condições de Administração.
Quer dizer: entre os dois grandes tipos de Administração - a fabril ou material e a do
tipo humano em que o Administrador é apenas um auxiliar de pessoas
supremamente competentes – a Administração Escolar se situa como caso
intermediário, sendo a função administrativa tanto mais importante, quanto menos
preparado for o professor. Por que insinuo a tendência de que o professor está a
ficar cada vez menos preparado? Porque somente quando o ensino é reduzido em
quantidade posso eu fazer uma alta seleção dos educadores. Como tenho de educar
toda a população, terei de escolher os professores em todas as camadas sociais e
intelectuais e, a despeito de todo o esforço de prepará-los, trazê-los para a escola
ainda sem o preparo necessário para que dispensem eles administração. Esta se
terá de fazer altamente desenvolvida, a fim de ajudá-los a realizar aquilo que faziam
se fossem excepcionalmente competentes. A ingratidão de nossa cadeira, Professor
Querino, é que temos de criar tais conceitos todos novos. Por que somos hoje tão
necessários, e antigamente não o éramos? Por que antes não se cogitava de
preparar o Administrador Escolar, e hoje precisamos fazê-lo? Porque o problema se
fez agora extremamente complexo, sobretudo nesta civilização paulista, que está
celeremente atingindo níveis avançados, sem passar gradual e lentamente pelas
fases por que deveria passar, o que a obriga a esforço maior e especial. São
sobretudo aqui especialmente importantes os estudos de Administração Escolar.
Tais estudos e o preparo do administrador é que irão permitir organizar o ensino em
rápido desenvolvimento e criar a consciência profissional necessária, pela qual
aquele antigo pequeno sistema escolar, com o professor onicompetente, precisando
apenas de um guardião para sua escola, hoje transformado no grande sistema
moderno, no qual não se encontra mais aquele tipo de professor e as escolas
complexas e fluidas não dispõem sequer de estabilidade do magistério, possa
conservar as condições equivalentes àquelas anteriores e produzir ensino com a
mesma eficácia. O novo administrador terá pois de
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substituir algumas funções daquele antigo professor, ou melhor fazer o necessário
para que o novo professor, tanto quanto possível, tenha a mesma eficiência daquele
antigo professor. Quando no começo dizia que o grande professor administra a sua
classe, ensina e guia o aluno, estava a indicar as três grandes funções que agora
deverão ser selecionadas, para constituir as grandes funções da administração da
escola. Aquele professor que revele maior capacidade administrativa deverá
orientar-se naturalmente para a especialização de administrador da escola. Aquele
que tem grandes qualidades de magistério, isto é, as de sobretudo saber ensinar,
transmitir a matéria, deve especializar-se para ser o supervisor, ou seja o professor
de professores, que, no staff da administração da escola, trabalha para que métodos
e processos de ensino melhorem cada vez mais. E aquele outro professor, que
revele singular aptidão para guiar alunos, para compreender alunos, para entender
os problemas de alunos, vai transformar-se no futuro orientador.
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Está acabando de sair agora, em língua portuguesa, a tradução do "Educação
Comparada" de Nicholas Hans. A Cadeira de Administração Escolar e Educação
Comparada existe no Brasil já há mais de vinte anos. Entretanto, os seus próprios
livros de texto estão apenas começando a existir, e os livros de Administração
Escolar não existem aqui na abundância com que florescem na América do Norte. E
por quê? Porque a América do Norte empreendeu um trabalho como este que o
Brasil está empreendendo agora: o de generalizar o sistema educacional a uma
população enorme sem ter gente devidamente preparada para isto. Também eles
atravessaram fases de desenvolvimento econômico rápido. Também êles sofreram
singular mobilidade de magistério. O professor primário americano conservava-se no
magistério em média quatro anos, até 1920. Hoje, é um pouco mais prolongado o
período em que a moça se conserva professora primária. Ora, podemos imaginar o
que seria organizar uma escola primária em que nenhum professor chega a ter
quatro anos de experiência. Todas as atividades de administração aumentaram
enormemente para permitir que este trabalho se fizesse sem inevitável prejuízo para
a escola. A escola americana ganhou um pouco o jeito, o feitio de fábrica, de
organização muito bem planejada no centro e deflagrada para ser executada. Tal
situação não ocorreu na Europa, onde a escola se fez o resultado de longa
sedimentação histórica, produto do saber adquirido por longa experiência. Não
devemos repetir aqui o caso dos Estados Unidos. Temos que aproveitar a
experiência americana, que foi a experiência de intensa organização administrativa e
certa pobreza de magistério, sem negligenciarmos a experiência européia,
caracterizada pela alta qualidade do magistério e certa pobreza administrativa.
Temos que fazer as duas coisas. Já começa a não haver os grandes professores
que podem dispensar Administração. Estamos atravessando fase algo parecida com
a dos Estados Unidos. Ou nos organizamos a ponto de criar uma espécie de cérebro
coletivo das organizações, ou as iremos mecanizar num grau que talvez nem a
América do Norte as tenha mecanizado.
As influências européias ainda presentes entre nós é que nos irão defender desse
perigo, desenvolvendo o tipo de administração brasileira que o nosso gênio há de
saber criar.
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AS PUBLICAÇÕES DA ANPAE E A TRAJETÓRIA DO CONHECIMENTO EM
ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
Resumo:
INTRODUÇÃO
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Quanto à primeira pressuposição deve-se destacar a particularidade da organização
escolar e sua especificidade. É o caso, por exemplo, da impossibilidade de se medir
com precisão os resultados obtidos, como se faz nas organizações empresariais; o
fato de a escola trabalhar com seres humanos que podem gerar divergências,
conflitos, construção de consensos e crescimento pessoal, dentre outros (LIMA,
1998).
Para a autora, o sistema escolar na sociedade capitalista tem funções definidas pela
estrutura econômica, mediatizada pelo Estado intervencionista. Sendo assim, o
aperfeiçoamento burocrático e a especialização no interior da escola assumem a
função de neutralizar forças antagônicas, ou seja, o controle exercido pela
administração da educação, de modo geral, e pelo administrador escolar, de modo
específico, ―[...] indica um processo de descaracterização da Educação, tornando-a
cada vez mais adequada ao modo de produção da sociedade capitalista‖ (FÉLIX,
1989, p. 33). A escola, portanto, é descaracterizada enquanto atividade humana
específica e submetida a uma avaliação cujo critério é a produtividade no sentido
que a sociedade capitalista lhe atribui.
Sander (1982), de forma mais abrangente, faz uma revisão histórica do estado de
conhecimento da administração da educação no Brasil, no contexto da trajetória
teórica da administração pública brasileira. O autor detecta a importação de receitas
de administração de outras realidades e a tentativa de aplicação na nossa realidade,
ressaltando a administração enquanto ―[...] processo universal, um instrumento
neutro, uma tecnologia mecânica para resolver problemas com pesada carga
cultural e política‖ (SANDER, 1982, p. 8).
O enfoque jurídico marcou os estudos até a década de 1930 e estes tiveram como
referência a tradição do direito administrativo romano, além dos valores do
cristianismo e dos ideais do positivismo. Adotou-se o legalismo, uma das
características básicas do direito romano, na análise administrativa, que enfatiza o
sistema fechado de conhecimento da administração, a ordem e ―[...] prega a
legislação antecipatória em oposição à legislação baseada na experimentação. A lei
torna-se, então, um ideal a ser atingido em vez de um parâmetro a ser aplicado a
circunstâncias concretas‖ (SANDER, 1982, p. 12). O autor evidencia a continuidade
dos moldes coloniais, vinculados aos centros internacionais, após a Independência e
a República.
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O enfoque organizacional, por sua vez, marcou o período de 1932 (Manifesto dos
Pioneiros da Escola Nova) a 1960. A administração da educação baseou-se nos
princípios da administração clássica e ―[...] na predominância dos técnicos que
adotam soluções racionais para resolver problemas administrativos, em detrimento
de seus aspectos humanos e sociopolíticos‖ (SANDER, 1982, p. 15). Dessa fase,
segundo o autor, surgiram os trabalhos de autores mais influentes de administração
da educação no Brasil: Anísio Teixeira, José Querino Ribeiro, Antônio Carneiro
Leão, dentre outros.
Para Sander (1982), mais importante do que destacar autores é revelar a presença
de dois fatos que marcaram essa fase: a fundação e fortalecimento da Associação
Nacional de Professores de Administração Escolar (ANPAE), denominação inicial da
associação; e o estabelecimento dos cursos de pós-graduação.
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Num primeiro momento, o compromisso dos integrantes estaria com a ―eficiência‖ na
organização do trabalho pedagógico, ao definirem, no I Simpósio Brasileiro de
Administração Escolar, fevereiro de 1961, que A administração escolar supõe uma
filosofia e uma política diretoras pré-estabelecidas; consiste no complexo de
processos criadores de condições adequadas às atividades dos grupos que operam
na escola em divisão de trabalho; visa a unidade e economia de ação, bem como o
progresso do empreendimento. O complexo de processos engloba atividades
específicas – planejamento, organização, assistência à execução (gerência),
avaliação de resultados (medidas), prestação de contas (relatório) – e se aplica a
todos os setores da empresa – pessoal, material, serviços e financiamento
(SANDER, 1986, p. 15).
O autor destaca que, entre a década de 1960 e 1970, houve uma rejeição aos
princípios da administração clássica e a ênfase no lado humano da organização e no
lado psicossociológico da escola como instituição social. A relação entre o
compromisso da ANPAE e a administração da educação no Brasil é um
compromisso com a ―eficácia‖ comportamental para a consecução dos objetivos
educacionais.
O estudo referiu-se aos quatro primeiros textos publicados pela ANPAE nos
Cadernos de Administração Escolar (1964-1968): ―Natureza e função da
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Administração Escolar‖ (Anísio Teixeira); ―Introdução à Administração Escolar
(Alguns pontos de vista)‖ (J. Querino Ribeiro); ―Alguns aspectos da formação de
Administradores Escolares‖ (Moysés Brejon); ―A Administração Escolar na América
Latina‖ (Carlos Correa Mascaro).
Se alguma vez a função de direção faz-se uma função de serviço e não de mando,
esse é o caso do administrador escolar. (Anísio Teixeira) [...] Administração deve ser
considerada apenas como atividade, dominantemente técnica, modesta em seu
alcance e limitada em suas pretensões. (Querino Ribeiro)
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[...] na educação o processo é absolutamente humano e a correção um certo esforço
relativo pela aceitação de condições organizatórias e coletivas inevitáveis
(TEIXEIRA, 1968, p. 15).
Quanto à função do administrador escolar, o autor deixa evidente que, pela relação
de subordinação, à atividade concerne mediar ou coordenar a equipe de professores
(denomina-os peritos), que é verdadeiramente a responsável pelo ensino.
No III Simpósio, Moysés Brejon (1968) tem como objeto principal de reflexão a
Formação dos Administradores Escolares, entretanto não deixa de contemplar
elementos que podem ser incorporados na análise referente à concepção e função
da administração escolar. Dessa forma, ao referir-se à situação do sistema
educacional e à formação dos administradores escolares no Brasil, destaca que é
imprescindível uma reorganização das estruturas administrativas básicas do sistema
porque, sem ela, [...] estes (administradores escolares) passariam a agir num
sistema inadequado ao bom desempenho das suas atividades, pois é verdade que
grande parte dos administradores escolares estão reduzidos a meros executantes
do que emana dos poderes políticos e a instituição escolar, presa e submissa como
está à administração pública geral, sofre com esta as vicissitudes dos interesses
político-partidário-eleitorais, que se fazem prevalecer aos de ordem técnica
(BREJON, 1968, p. 45).
O autor também aponta que, nos raros estudos e reuniões realizados com o intuito
de se discutir a Formação dos Administradores Escolares, é reconhecida a
necessidade de aperfeiçoamento dos planos para a preparação dos profissionais.
Carlos Correa Mascaro (1968) desenvolve sua tese baseada em um dos artigos de
Ribeiro6 e aprofunda alguns pontos quando da publicação do II Simpósio.
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[...] não são problemas da Administração Escolar, por exemplo, as técnicas de
alfabetização, a opção entre sistemas de ação centralizados ou descentralizados,
entre o monopólio de Estado ou a participação das entidades privadas, no campo da
educação, ou a decisão pela educação democrática ou aristocrática (MASCARO,
1968, p. 78).
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participação‖ (10); ―administração e planejamento‖ (04); ―organização do trabalho na
escola‖ (05). Em relação à primeira subcategoria, a trajetória do conhecimento foi
marcada por três períodos principais: o primeiro (início da década de 1980) contou
com o resgate do pensamento em administração da educação, com a não
separação entre o pensar e o agir nas suas atividades e com a ênfase no papel
político desempenhado por ela, destacando as conseqüências de suas práticas a
favor ou contra as classes menos favorecidas. O segundo período inseriu o termo
―Gestão‖ nos textos e teve como marco a realização do simpósio com o tema ―A
democratização da educação e a gestão democrática da educação‖ (1986); além
disso, os autores contemplaram algumas características necessárias para a
existência da escola democrática, entre elas: novas formas de provimento do cargo
de diretor; investimento na formação de professores; maior flexibilidade e autonomia
para as escolas; planejamento dinâmico e participativo; tomada de decisões coletiva.
O terceiro período prosseguiu com a utilização paralela dos termos ―Administração‖
e ―Gestão‖, mas o primeiro foi associado às formas antidemocráticas de trabalho, ao
individualismo, à hierarquia e à centralização das decisões; ao segundo designou-se
a possibilidade de horizontalidade das relações, da coletividade, da participação e
da descentralização das ações no sistema educacional e nas unidades escolares.
Nesse período também foi contemplada a relação entre
educação/administração/qualidade, sendo criticado o sentido de qualidade
estabelecido pelo modelo político neoliberal e destacada a importância de se buscar
a especificidade da qualidade para a educação.
Desde os primeiros textos publicados pela ANPAE, esteve presente uma confusão
terminológica. Inicialmente, nos Cadernos de Administração Escolar, ela foi
detectada na utilização dos adjetivos que procederam ao substantivo administração,
podendo ser escolar e/ou da educação. Futuramente, quando do estudo da RBPAE,
esta confusão ganhou uma complexidade maior, ou seja, houve uma utilização
conjunta de dois substantivos, ―Administração‖ e ―Gestão‖, procedidos também por
dois adjetivos, já identificados. Dos diferentes artigos publicados na Revista, apenas
dois procuraram explicar a alteração dos termos e atribuíram à ―Gestão‖ um caráter
mais abrangente, holístico e estratégico, englobando em um só termo o
planejamento, a formulação e a implementação de projetos educacionais. Com a
intenção de refletir um pouco mais sobre esse embate terminológico, a pesquisa
realizou um último capítulo, caracterizado pelo debate necessário entre os termos
―Gestão‖ e ―Administração‖.
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educação e gestão democrática da educação‖, os textos publicados na RBPAE
passaram a utilizá-los paralelamente. Ao primeiro, atribuiu-se, geralmente, a
necessidade de ruptura com sua prática centralizadora e tradicional e ao segundo
associou-se os adjetivos: democrática, inovadora e estratégica. O grande
questionamento que permeou a análise conceitual foi exatamente se a adoção de
um ou outro substantivo seria responsável pelas atribuições das qualidades ou
defeitos de suas práticas. Como primeiro argumento negativo, o estudo identificou
que desde 1961, passando pela primeira década de 1980, quando ainda os autores
não utilizavam o termo ―Gestão‖, houve a preocupação em conceber a
―Administração‖ enquanto atividade política, comprometida com os meios e com os
fins, com o pensar e com o agir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se o termo original estiver sendo entendido como ―inicial‖, aquele que ―deu origem‖,
é possível afirmar que sim, do encontro inicial dos professores de administração
escolar (1961) e das primeiras publicações da ANPAE, os Cadernos de
Administração Escolar, originou-se, no Brasil, uma reflexão acadêmica bastante
profícua por congregar posições divergentes sobre a natureza e função da
administração escolar e também pela preocupação em constituir e delimitar um
campo de estudos ainda não contemplado no país.
Se o termo ―original‖ for considerado como atributo do que ―tem caráter próprio‖ ou
que ―apresenta características singulares‖, detecta-se, novamente, que nas
publicações da ANPAE houve o desenvolvimento de um pensamento administrativo
original. Assim, num primeiro momento (década de 1980), constou a preocupação
com o resgate do pensamento e a indicação da necessidade de desenvolvimento de
um paradigma alternativo para a administração da educação, capaz de integrar as
posições até então existentes. Nesse primeiro período de existência da revista foi
abandonada a posição inicial que adotava muitos elementos da teoria administrativa
empresarial. No final dessa década e início da seguinte (1990), os textos
desenvolveram uma postura bastante crítica em relação ao sistema educacional, à
importação dos elementos da administração empresarial e enfatizaram o ato político
da atividade administrativa, comprometido com a sociedade e com sua
transformação. A partir daí, apesar da fragilidade detectada, às críticas foram
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acrescentados processos e formas de concretização do compromisso político
defendido anteriormente, sendo que eles ganham força no olhar voltado para as
especificidades e culturas de cada escola e de cada comunidade.
Cumpre ressaltar também que muitos autores das publicações da ANPAE, além de
líderes e/ou participantes ativos da entidade (RIBEIRO, 1968; TEIXEIRA, 1968;
MASCARO, 1968; SANDER, 1982) são reconhecidos intérpretes das perspectivas
de administração da educação no Brasil (FÉLIX, 1989; PARO, 1986a; WITTMANN,
1993; GRACINDO, 1997; CURY, 1993; MACHADO, 1998; GADOTTI e ROMÃO,
2001; TEIXEIRA, 2000; BRZEZINSKI, 2003; CATANI e GILIOLI, 2004). Pode-se
dizer, finalmente, que a contribuição das publicações da ANPAE residiu em sua
postura crítica em relação aos temas analisados e na resistência à aceitação de atos
e práticas antidemocráticos, que excluem os protagonistas das decisões de suas
práticas. Além disso, o grande mérito da trajetória do conhecimento esteve no
abandono da necessidade de se formular uma teoria generalizável de administração
da educação e na adoção de uma postura flexível, que contempla a diversidade de
realidades presentes em nosso contexto social e educacional.
REFERÊNCIAS
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_____. Edição Comemorativa do Simpósio Interamericano de Administração
Escolar. Salvador: ANPAE, 1968.
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_____. A Administração Escolar e seus desafios atuais. Revista Brasileira de
Administração da Educação. Brasília, v. 7, n. 1/2, p. 140-144, 1991.
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LINDAHL, Neusa Zapponi. Necessidades versus recursos: um dilema real. Revista
Brasileira de Administração da Educação. Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 64-71, 1985.
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MOURA, Lenice B.; PERROTTA, Carmen. O planejamento da educação tecnológica
no CEFET – RJ. Revista Brasileira de Administração da Educação, v. 7, n. 1 e 2,
1991.
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PORTO, Rondon. A construção da qualidade na escola: uma experiência. Revista
Brasileira de Administração da Educação. Brasília, v. 12, n. 1, p. 87-93, 1996.
_____. A ANPAE celebra sua trajetória histórica. Depoimento. New York, nov. 2001.
Disponível em <http://www.anpae.org.br/anpae/depoimento_benno.php>. Acesso em
1/ago/2003.
SOUSA, José Newton Alves de. Breve comentário sobre a contribuição da ANPAE
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Administração da Educação. Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 33-35, 1986.
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VIEIRA, Paulo Reis. Em busca da gestão estratégia da educação: notas para uma
ruptura da perspectiva tradicional. Revista Brasileira de Política e Administração da
Educação. Brasília, v. 13, n. 2, p. 247-259, 1997.
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A ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR DO REGIME MISTO NA ESCOLA
PRIMÁRIA
CLAUDE ZATDMAN
Nestes últimos anos surgiu um interesse novo pela educação das meninas, quando
os sociólogos puderam constatar, graças às estatísticas escolares, que as meninas
tinham "melhor êxito" que os meninos, quando das primeiras etapas da escolaridade
e em certos cursos de formação geral'.
Esse "maior êxito" inicial na verdade recobre realidades distintas: por um lado há
maior número de meninas nas "cabeças de turma", ou seja, entre os melhores
alunos, no primário e no ginásio; mas, à medida que avança o processo escolar de
orientação e seleção através de certas matérias, as meninas se tornam minoritárias
nos cursos escolares considerados como os de maior prestígio. Por outro lado, as
"más" alunas e "maus" alunos não encontram os mesmos tipos de dificuldade. Há
mais meninos em dificuldade escolar que largam tudo e causam problemas aos
docentes. Eles serão portanto mais rápida e amplamente relegados aos "desvios" ou
aos cursos considerados como tais.
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Já as meninas, mais discretas no processo de seleção escolar, mais de acordo com
as expectativas comportamentais da instituição, serão toleradas por mais tempo nos
cursos gerais.
A partir daí, não é em termos de êxito ou fracasso que se tem que analisar as
diferenças, mas em termos de escolhas sucessivas de orientação, de escolha de
continuação ou de parada dos estudos e finalmente de uma relação diferente com o
estudo e a profissionalização.
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que as meninas não rentabilizam escolar e socialmente suas competências
escolares iniciais. Qual será, nesse processo, o papel que cabe à instituição escolar
e a seu funcionamento?
Assim é que chegaremos a falar do "falso êxito escolar" das meninas, retomando
aqui o título de uma pesquisa de Le Monde de l'Éducation (julho-agosto de 1990).
Todos os estudos estatísticos e sociológicos chegam a uma mesma conclusão: as
meninas partem vencedoras e chegam perdedoras na competição escolar
meninas/meninos; eis o fato a ser interrogado. Essa abordagem tem de interessante
o fato de evidenciar a existência até então ignorada ou ocultada de uma competição,
de uma concorrência; em outros termos, a existência de interesses contraditórios
entre as meninas e os meninos como grupos de sexo. A análise então se desloca da
diferença para as relações de sexo.
- As moças estão se aventurando nos guetos masculinos: mais nenhum setor lhes é
juridicamente proibido.
- Elas vêm a se encontrar maciçamente nos cursos que levam ao terciário e ao setor
médico-social.
O fio condutor então é a análise, para os diversos aspectos da vida escolar, das
modalidades de intervenção do gênero como elemento de definição da situação.
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- Uma "mistura" dos indivíduos, modelo dominante na sala de aula, onde as
atividades pedagógicas se desenrolam sem - em princípio - levar em conta a
diferença de sexos dos indivíduos-alunos em questão.
Sendo nosso objetivo analisar a reprodução social das desigualdades, não a partir
do êxito escolar, porém a partir dos mecanismos próprios às relações de sexo, tem-
se que inverter os pontos de vista.
A "cultura futebol" trazida pela maioria dos meninos os autoriza a dominar o espaço
do pátio com suas brincadeiras, suas brigas etc. Aqui caberia novamente a análise
de C. Guillaumin sobre a "construção social do corpo como corpo sexuado", com os
jogos entre iguais dos meninos e o aprendizado de uma relação com o espaço
dominado por parte das meninas".
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personalidade própria, um coletivo, o "grupo-turma", também por seu lado dotado de
características próprias variáveis de uma turma para a outra.
A relação com a tomada da palavra, se, está longe de ser sempre significativa no
plano da eficácia pedagógica, ganha sentido quando dentro de uma análise em
termos de relações de sexo: impor-se em um grupo.
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O GLOBAL E O LOCAL: os desafios para o educador gestor do
século XXI
Rivo Gianini
Recife, 2000.
Anísio Teixeira (William James - John Dewey) José Querino Ribeiro (Fayol)
Emile Durkhein - Katz e Kahn, Jacob Cetzels, Talcot Parsons, Robert Merton.
- o Enfoque Sociológico:
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Os meios de conhecimento estão em constante mutação. No campo do ensino, as
faculdades, departamentos e disciplinas existentes não são apropriados por muito
tempo. Logicamente, poucas são antigas, para começar.
Não havia, há cem anos, a bioquímica, a genética e até mesmo a biologia era
incipiente. Havia a geologia e a botânica.
Não deve admirar, portanto, que a distinção entre química orgânica e química
inorgânica não seja mais significativa. Já se projetam polímeros inorgânicos em que
o conhecimento do químico orgânico é aplicado nas substâncias inorgânicas, como
os silicônios. Inversamente já se está projetando "cristais orgânicos" em que tanto a
química inorgânica quanto a física estão produzindo substâncias orgânicas. A antiga
distinção entre química orgânica e inorgânica está se tomando, por isso,
rapidamente, em obstáculo ao conhecimento e ao desempenho.
Por analogia, as antigas linhas entre a fisiologia e a psicologia têm cada vez menos
sentido, bem como as que separam o processo da economia, a sociologia das
ciências do comportamento, a lógica matemática e estatística da lingüística, e assim
por diante.
A hipótese mais provável é que cada uma das antigas demarcações, disciplinas e
faculdades tomar-se-ão obsoletas e uma barreira para o aprendizado e para o
entendimento. Em realidade está se abandonando rapidamente uma visão
cartesiana do universo, segundo a qual a ênfase tem recaído nas partes e nos
elementos, dentro de uma visão global destacando o todo e os padrões, desafiando
toda a linha divisória entre as áreas de estudo e o conhecimento.
Morin identifica sete valores fundamentais com os quais toda a cultura e toda a
sociedade deveriam trabalhar segundo suas especificidades. Esses valores são
respectivamente as Cegueiras Paradigmáticas, o Conhecimento Pertinente, o
Ensino da Condição Humana, o Ensino das Incertezas, a Identidade Terrena, o
Ensino da Compreensão Humana e a Ética do Gênero Humano.
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É necessário educar para os obstáculos à compreensão humana, combatendo o
egocentrismo, o etnocentrismo e o sociocentrismo, que procuram colocar em
posição subalterna questões relevantes para a vida das pessoas e da sociedade.
Calvino, escritor ítalo-cubano, elaborou em vida, uma proposta para o próximo
milênio, em conferências que havia preparado para a Universidade de Harvard e que
nunca foram proferidas, pela sua morte súbita em 1985. As seis propostas que vão
de Virgilio a Queneau, de Dante a Joyce, em cima de uma concepção de literatura
como transparência e lucidez, e como respeito aos próprios instrumentos e aos
próprios objetos.
No momento, encontramos uma nova visão na construção das conexões que ligam
modificações do capitalismo contemporâneo e seus reflexos excludentes nas formas
de trabalho e nos eixos fundamentais que organizam as culturas. De um lado, a
globalização da economia estabelece regras comuns pois difunde uma mesma
matriz produtiva, baseada nas novas tecnologias que eliminam a distância mas, por
outro lado, criam reações locais que surgem marcadas pela ampliação dos meios de
comunicação e pelas novas práticas sociais. As transformações das bases materiais
dá vida deixam marcas locais não visíveis (porque virtuais), mas que mudam as
formas de ação e as orientações básicas das culturas.
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Muitas se traduzem em resistência à mudança e outras, em projetos de futuro.
Exatamente porque a construção das identidades se desenvolve em contextos
vincados por relações de poder, onde é necessário distinguir entre essas formas e
as diferentes origens que estão na base do processo de sua criação.
- Identidade de projeto, produzida por atores sociais que partem dos materiais
culturais a que tem acesso, para redefinir sua posição na sociedade".
A globalização não apagou a presença de atores políticos. Criou para eles novos
espaços pelos quais se inicia um processo histórico que não tem direção prevista. A
criatividade, a negociação e a capacidade de mobilização serão os mais importantes
instrumentos para conquistar um lugar na nova sociedade que está se constituindo
em rede.
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A era da globalização pode ser considerada também a era do ressurgimento do
nacionalismo, manifestado tanto pelo desafio que impõe a Estados-Nação
estabelecidos, como pela (re)construção da identidade com base na nacionalidade
invariavelmente definida por oposição ao estrangeiro. Sem dúvida, essa tendência
histórica tem surpreendido alguns observadores, após a morte do nacionalismo ter
sido anunciada por uma causa tripla: a globalização da economia e a
intercionalização das instituições políticas; universalismo de uma cultura
compartilhada, difundida pela mídia eletrônica, educação, alfabetização, urbanização
modernização; e os ataques desfechados por acadêmicos contra o conceito de
nações consideradas comunidades imaginadas" numa versão menos agressiva da
teoria antinacionalista, ou "criações históricas arbitrárias", advindas de movimentos
nacionalistas controlados pela elite em seu projeto de estabelecimento do Estado-
Nação moderno.
A parte central da aprendizagem ainda é feita dentro da escola, mas envolta dela
aglutinam-se as atividades significativas dentro da comunidade em que a escola
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está inserida com a aquisição de conhecimentos relevantes sobre o mundo em
geral.
Dessa forma, será possível preparar melhor as novas gerações para suas vidas
como seres individuais e atores sociais responsáveis, permitindo encontrarem o seu
lugar no mundo do trabalho e tornando-os cidadãos de pleno direito nas
comunidades a que pertencem, nos seus países e num mundo do futuro.
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que dela dão perante a sociedade. A responsabilidade global recai no corpo de
gestores da escola.
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referidas, deve levar em conta sobretudo a sensibilidade, atributo fundamental da
razão humana.
REFERÊNCIAS:
CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Cia das
Letras, 1999.
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PARADIGMAS CONTEMPORÂNEOS DA GESTÃO EDUCACIONAL:
UMA VISÃO INCLUSIVA (uma abordagem do projeto desenvolvido
com profissionais da educação da cidade de São Paulo)
INTRODUÇÃO
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coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais e diretores de escolas
públicas e particulares quatro (4) módulos (um em cada semestre), aos sábados -
com a duração de oito (8) horas em cada módulo.
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Desta maneira, por meio deste projeto, procurou-se, desta forma, colaborar com as
iniciativas já tomadas pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em
relação às questões apresentadas neste estudo, com o intuito de definir um caminho
confiável e factível para avaliarem-se as atividades desenvolvidas por estes
profissionais.
A integração tinha como pressuposto que o problema residia nas características das
crianças excepcionais, na medida em que centrava toda a sua argumentação na
perspectiva da detecção mais precisa dessas características e no estabelecimento
de critérios baseados nessa detecção para a incorporação ou não no ensino regular,
expresso pela afirmação "(...) sempre que suas condições pessoais permitirem (...)".
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A inclusão coloca a questão da incorporação dessas crianças pelo ensino regular
sob outra óptica, reconhecendo a existência das mais variadas diferenças. Estas
diferenças entre essas duas concepções de educação especial são produto de uma
diferenciação básica em relação à escola na sociedade atual.
O ensino regular tem excluído sistematicamente larga parcela de sua população sob
a justificativa de que esta não reúne condições para usufruir o processo escolar,
porque apresenta problemas pessoais (distúrbios os mais diversos), problemas
familiares (desagregação ou desorganização da família) ou "carências culturais"
(provenientes de um meio social pobre).
É interessante, mas trágico, verificar que, por um lado, o sistema seriado tem
servido, na escola regular, como uma forma de retenção de grande massa de alunos
nos níveis iniciais de escolaridade, e, mesmo assim, sem que os conteúdos
correspondentes a esses níveis sejam minimamente atingidos.
Por outro lado, a não seriação oficial do ensino especial, tem servido para a
manutenção de grande massa de deficientes em níveis inferiores de escolarização,
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sem qualquer avaliação do processo pedagógico desenvolvido e com a justificativa
centrada nas dificuldades dessa população.
Entre essas políticas de largo alcance deve ser incluída a de formação docente, pois
a qualidade do professorado tem papel fundamental, embora não único, nesse
processo de qualificação do ensino.
- dos professores do ensino regular para uma formação básica, já que a expectativa
é da inclusão dos alunos com deficiência;
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- e dos professores especializados nas diferentes deficiências, quer seja para
atendimento direto a essa população, quer seja para apoio ao trabalho realizado por
professores de classes regulares que integrem esses alunos.
A LDBN 9394/96 em seu artigo 62 define que a formação para o ensino básico deve
ser realizada por meio de licenciatura de graduação plena, mas permite que a
formação de professores para a educação infantil e para as quatro primeiras séries
do ensino fundamental seja oferecida "(...) em nível médio, na modalidade Normal".
Portanto não basta incluir nos currículos de formação de professores "conteúdos
disciplinares que permitam uma capacitação básica para o atendimento de
portadores de necessidades especiais".
Nesse sentido, senão fizer parte integrante de uma política efetiva de diminuição do
fracasso escolar e de uma educação inclusiva com qualidade, a inserção de uma
disciplina ou a preocupação com conteúdos sobre crianças com necessidades
educativas especiais pode redundar em práticas exatamente contrárias aos
princípios e fundamentos da educação inclusiva: a distinção abstrata entre crianças
que possuem condições para se inserirem no ensino regular e as que não possuem,
e a manutenção de uma escola que, através de suas práticas, tem ratificado os
processos de exclusão e de marginalização de amplas parcelas da população
escolar brasileira.
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conhecimentos e desenvolvam práticas específicas necessárias para a absorção de
crianças com deficiências evidentes.
É difícil incluir crianças com deficiências no ensino regular sem apoio especializado,
que ofereça aos professores dessas classes, orientação, assistência, na perspectiva
da adequação do trabalho pedagógico ali desenvolvido, e que demande a ampliação
da visão, das potencialidades e das dificuldades destes alunos incluídos.
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" Em função das condições específicas dos alunos, sempre que não for possível sua
integração em classes comuns da rede escolar, a classe especial deve ser mantida
na rede regular ou, ainda, quando necessário, deverá ser oferecido atendimento por
meio de parcerias com instituições privadas especializadas sem fins lucrativos.
" A rede estadual já possui formas diversificadas para atendimento dos alunos
portadores de necessidades especiais e que os paradigmas atuais da inclusão
escolar desses alunos vêm exigindo a reorganização da educação especial visando
à ampliação dos serviços de apoio especializado e à renovação dos projetos
pedagógicos e metodologia de trabalho das classes especiais.
- oferecer formação como docente do ensino fundamental, quer seja no que tange a
uma formação teórica sólida ou a uma formação adequada no que se refere aos
diferentes processos e procedimentos pedagógicos que envolvam tanto o "saber"
como o "saber fazer" pedagógicos;
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necessidades e procedimentos pedagógicos específicos para as diversas
deficiências, para:
a) que sirva de agente para a incorporação com qualidade pelos sistemas regulares
de ensino;
b) o atendimento direto em aspectos específicos que não possam ser supridos pelo
professor do ensino regular;
c) que possibilitem o atendimento direto à parcela dessa população que, por razões
pessoais, educacionais ou sociais, não possa ser absorvida pelo ensino regular.
Do exposto, pode-se inferir que uma educação para todos precisa valorizar a
heterogeneidade, que dinamiza os grupos, que lhes oferece funcionalidade e
propicia resultados bem sucedidos, de qualidade. Assim, a escola passa ser um
lugar privilegiado de encontro com o outro, onde há respeito por pessoas diferentes.
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Estudos realizados com crianças com necessidades educacionais especiais
salientam que os atrasos na aprendizagem são sinônimos de uma limitação na
capacidade de generalização ou transferência, o que é conseqüência das
dificuldades que estes indivíduos apresentam para planejar e regular seus
processos de conhecimento.
A interação social do grupo de sala de aula e /ou outros espaços são fundamentais
para que a aprendizagem significativa circule, movida pelas relações afetivas, para
que haja comprometimento dos envolvidos, porque percebem e reconhecem que
são respeitados como cidadãos, levando-se em consideração os seus interesses,
necessidades e expectativas.
Nesse sentido, é pertinente (re) pensar nas razões que desafiam os agentes
curriculares buscarem a mudança curricular necessária para o século XXI:
" era da pós-modernidade: lógica dialética; a luta pela igualdade de direitos; pela
supremacia da liberdade; pelo resgate da democracia; revisão do conceito de poder;
Destaca-se que todo indivíduo tem alguma experiência e participação grupal que no
seu cotidiano que trazem experiências, e deixam marcas profundas dependendo da
forma como aconteceram aquelas relações.
Até aqui nos referimos aos grupos espontâneos ou naturais, mas é necessário
também considerar os grupos organizados pela sociedade com finalidades
específicas. Esses grupos se formam por indivíduos com objetivos comuns ou por
interesses de origens variadas, como profissionais, sociais, religiosos, familiares,
entre outros, e que promovem a organização, a manutenção e a transformação
social.
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Não podemos afirmar que existe um modelo ideal de grupo, mas todos eles se
constroem no processo cotidiano de interação, empatia e respeito às diferenças
individuais. É utópico pensar que em um grupo não existem conflitos, pois os
participantes são indivíduos que trazem consigo experiências, personalidades,
inteligências, percepções, valores próprios, enfim, toda uma identidade que exercerá
alguma interferência na sua dinâmica. Esses conflitos são inerentes as relações
interpessoais, pois onde há uma convivência plural existirão as divergências e, ou
confronto das idéias.
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b) aprender a fazer- a fim de adquirir não somente uma qualificação profissional,
mas de uma forma mais ampla , competências que tornem a pessoa apta a enfrentar
variadas situações e a trabalhar em equipe , transferindo essa competência para as
vivências sociais ou de trabalho;
Isto vem trazer à educação uma nova perspectiva: incorporar à rotina do currículo
uma proposta de desenvolvimento de relações interpessoais, oportunizando aos
componentes dos diferentes grupos da escola, atividades e situações que,
organizadas, tragam aos envolvidos um aprendizado das habilidades sociais. O que
significa o resgate da condição humana - onde autenticidade, afetividade, e respeito
à individualidade são aspectos marcantes para a redução do desgaste emocional -
estabelecendo relações de cumplicidade, em uma perspectiva ética, solidária, digna
e justa nos grupos de convivência.
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES
Pesquisadores têm apresentado como desafios o (re) pensar, o sentir e o agir nas
questões relacionadas à gestão democrática, participativa. Nesse sentido, destaca-
se a contribuição da equipe organizada por GOULART (1995) por meio de algumas
recomendações:
" 1º passo: mudança do paradigma de escola e da postura dos professores: desafios
para os educadores - A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO - que será alcançada por
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meio de mecanismos que superam o modelo individualista, fragmentado e
centralizador de administração e de produção do saber, aceitando a gestão
participativa, o trabalho em equipe e a proposta de um currículo interdisciplinar.
Definir uma base teórica única como eixo norteador de todo o trabalho
educacional:
" trabalhar com a pedagogia de projetos para: aproximar a escola da vida real,
estimular a iniciativa, a criatividade, a cooperação, a solidariedade, a valorização da
diversidade e a co-responsabilidade (garantindo a integração dos conteúdos com
base no currículo como construção social e cultural).
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3. 4 DESAFIO APRENDER A APRENDER
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Trata-se de um processo interativo, em que é imprescindível que certas variáveis
sejam reunidas por parte do profissional da educação, de maneira que ajude, em
última instância, estes educandos também a desenvolverem a sua inteligência, ou
seja, a serem capazes de aprender sem a necessidade de que, em todo momento,
outra pessoa realize por eles todos os passos do processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se espera: que nós, profissionais da educação, busquemos cada vez mais a
compreensão de referenciais para a gestão educacional que auxiliem na construção,
formação e gerenciamento do ambiente escolar em uma perspectiva includente-
como algo mais abrangente que inclui entre outras abordagens a cultura que é
multidimensional - envolvendo linguagens, representações de espaço, poder,
ideologia entre outros - que estão conectadas à promoção do crescimento do ser
humano integral em sua essência.
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acordo com sentimentos nobres, permitindo a si próprio e aos outros serem o que
realmente são: cidadãos que precisam de educação - que zelem por sua
integridade, identidade e inserção na sociedade.
REFERÊNCIAS
MACHADO, L.M. (coord.). Questões para o Novo Milênio. - São Paulo: Pioneira,
2000.
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MONEZI, Mary R.C. Competência interpessoal: o papel do Diretor junto ao Conselho
de Escola Deliberativo na Rede Pública do Estado de São Paulo. - Dissertação de
Mestrado. São Paulo: Universidade Mackenzie, 1996.
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Revista Portuguesa de Educação, 2008, 21(1), pp. 59-81
© 2008, CIEd - Universidade do Minho
Resumo
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Conhecendo "por dentro" o quotidiano da escola portuguesa
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para repensar criticamente outros modos de operacionalizar o seu desenvolvimento
democrático. Neste artigo, pretendemos debater a relevância dos factores culturais e
simbólicos no processo de desenvolvimento democrático das escolas, começando
por realçar os lugares e os espaços mais significativos na construção da cultura
organizacional.
Nesta óptica, a questão nuclear não será a de saber se a organização tem ou não
uma cultura, estritamente no sentido integrador do termo, mas, sobretudo, de
conseguir identificar diferentes manifestações culturais num determinado contexto
organizacional, compreender os múltiplos processos que presidem à sua construção
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e o seu real impacto ao nível do desenvolvimento estratégico, designadamente ao
nível das (micro)políticas e das práticas quotidianamente postas em marcha nos
mais diversos contextos de interacção social.
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Sendo declarado o nosso interesse em compreender o funcionamento da
organização escolar, mais concretamente sob orientação de um modelo analítico
inspirado nas dimensões culturais e referenciado à realidade educativa portuguesa,
assumimos à partida o pressuposto básico que a escola é em si mesma um
fenómeno cultural, seja a um nível institucional mais lato, seja a um nível local e
comunitário mais restrito. Ao assumirmos esta premissa, empregando um cunho
cultural ao funcionamento do sistema educativo, não poderíamos deixar de
considerar também as dinâmicas de interacção como produto cultural. Dificilmente
encontraremos entre as mais relevantes instituições da modernidade um espaço tão
intenso de produção cultural, de interacção social e de trocas simbólicas como a
organização escolar, um espaço onde o trabalho humano recobre todo o seu sentido
antropológico. O dinamismo institucional ilustrado pela rotatividade de um número
considerável de professores e pela permanência limitada dos alunos nos anos
específicos de escolaridade, transforma a escola num laboratório de sínteses
culturais, um entreposto cultural como já tivemos oportunidade de a
designar (Torres, 2004). Por mais que concebamos esta instituição como uma mera
periferia de um centro de controlo escolar, que admitamos o seu carácter
eminentemente reprodutor, ficariam, no entanto, por esclarecer os distintos modos
de ser e de fazer, subjectivos e/ou colectivos, que se oferecem ao investigador no
âmbito do seu labor sociológico.
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A imagem de escola como entreposto cultural serviu simultaneamente para
complementar e pôr à prova a nossa proposta de análise, na medida em que as
organizações escolares se tendem a caracterizar por elevados fluxos de informação
e de conhecimento, de objectivos e finalidades diferenciados, de orientações e de
regras de diversa índole, de racionalidades e de interesses diversos, de actores
sociais com distintos papéis e funções, de interferências múltiplas, provenientes das
diversas rotas do fora político e do multifacetado fora comunitário (cf. figura 2). Mas
mais importante é notar o tempo relativamente longo proporcionado pela convivência
e pela interacção dos actores no contexto escolar, com as implicações que estes
processos acarretam na socialização e na construção e reconstrução de redes de
significados individuais e colectivos, assim como na aprendizagem dos artefactos
simbólicos que sedimentam a identidade organizacional.
A figura 2 procura ilustrar a ideia de escola como entreposto cultural, posto entre
lógicas culturais em trânsito entre os vários espaço-tempos do fora politico —
situados e sobrepostos na complexa hierarquia da administração pública da
educação (central, regional e local) — e do fora comunitário, perpassado por
racionalidades, interesses e lógicas de poder distintas e, por vezes, contraditórias.
Na figura 2, realçamos algumas instâncias que consideramos mais significativas do
ponto de vista da natureza e da intensidade com que estabelecem relações (de
poder, de colaboração e de negociação) com o espaço escolar: a autarquia, os pais
e encarregados de educação, a comunicação social, os interesses económicos,
sociais e políticos da região, os contextos de educação não-formal (Actividades de
Tempos Livres, Centros de Estudo, Clubes Desportivos, Escolas de Música ...).
Situada numa espécie de centro de confluência cultural, a organização escolar é,
sem dúvida, um contexto propício e propiciador do desenvolvimento de complexas
metamorfoses culturais construídas e sedimentadas no tempo e na memória
colectiva da instituição.
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à organização escolar um estatuto crítico no aprofundamento dos valores
democráticos. Tendo a escola capacidades autoregenadoras e acreditando que
qualquer processo de democratização política não pode dispensar a mobilização
local dos actores, nem tão pouco as esferas estruturantes da vida social, a
organização escolar terá que cinzelar de forma mais vincada no seu património
simbólico e cultural os traços igualmente culturais da Democracia como
desenvolvimento humano e educativo. E é neste quadro de fundo que as funções da
assessoria em educação devem ser interrogadas e discutidas.
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mesmo pelo paradigma de reinvenção do governo (Osborn & Gaebler, 1992) — a
procura da performance, a avaliação dos resultados, o controlo da qualidade, enfim,
o reino dos três "E": Economia, Eficácia e Eficiência (Urio, 1998: 97). (Ver o quadro
em: www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0871).
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Face aos proclamados efeitos de desestruturação e fragmentação sociais e culturais
inerentes ao processo de globalização económica e cultural, defende-se uma
inflexão dos padrões culturais dominantes, retomando-se a (velha) ideia de que as
organizações, enquanto células vitais de vida social, poderiam criar mecanismos
compensatórios, gerando no seu interior culturas colaborativas e/ou colegiais
susceptíveis de reporem a estabilidade e o equilíbrio social. Embora configurando
um cenário assente em preocupações sociais de natureza aparentemente humanista
e democrática, grande parte destes estudos denunciam, contudo, a subjugação (ou
mesmo a instrumentalização técnica) daqueles valores às lógicas mais produtivistas
ditadas no âmbito do mercado.
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várias que procuravam evidenciar o carácter interactivo entre as diversas variáveis
em jogo, umas mais internas à organização, outras de cariz mais exógeno à escola,
explorando agora os contextos da acção concreta, os processos de negociação
entre os actores, os palcos onde decorrem os conflitos, enfim, os domínios onde a
construção do simbólico tem lugar.
Referências
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Publications.
CORREIA, José A.; STOLEROFF, Alan D. & STOER, Stephen (1993). A ideologia
da modernização no sistema educativo em Portugal. Cadernos de Ciências Sociais,
nº 12/13, pp. 25-51.
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Publications.
OSBORN, David & GAEBLER, Ted (1992). Reinventing Governement: How the
Entrepreneurial Spirit is Transformating the Public Sector. Reading MA: Addison-
Wesley.
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TORRES, Leonor (2004). Cultura Organizacional em Contexto Educativo.
Sedimentos Culturais e Processos de Construção do Simbólico Numa Escola
Secundária. Braga: Centro de Investigação em Educação e Psicologia da
Universidade do Minho.
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REGULAÇÃO EDUCATIVA NA AMÉRICA LATINA: repercussões
sobre a identidade dos trabalhadores docentes
RESUMO
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solucionar a questão da expansão da educação básica para grande parte de sua
população. Apesar de a década de 1960 ter sido um marco nas conquistas de
alguns direitos sociais neste subcontinente, foram também anos que deram
emergência a um longo ciclo de autoritarismo, o que pode explicar, em certa medida,
as grandes crises econômicas e políticas que os países latino-americanos se
encontraram no início dos anos 1990 e, sobretudo, com população majoritariamente
pobre. As reformas educacionais dos anos 1990 tiveram como principal orientação à
eqüidade social, o que pode ser interpretado como a formação para o emprego
formal e regulamentado permanece como um imperativo para os sistemas escolares,
ao mesmo tempo em que estes devem desempenhar papel preponderante na
condução de políticas sociais de cunho compensatório que visem à contenção da
pobreza. As recentes mudanças nas políticas públicas educacionais no Brasil,
especificamente aquelas que tiveram início no primeiro mandato de Fernando
Henrique Cardoso e que prosseguem no atual governo do Presidente Luis Inácio
Lula da Silva, ilustram bem a referida orientação. O argumento central dessas
reformas poderia ser sintetizado na expressão largamente utilizada nos documentos
produzidos pelos organismos internacionais pertencentes a ONU como orientação
dos governos latino-americanos para a educação: ―transformação produtiva com
eqüidade social‖ (CEPAL, 1992).
Essas reformas, no Brasil, trazem uma nova regulação das políticas educacionais.
Muitos são os fatores que evidenciam isso, dentre eles, destacam-se a centralidade
atribuída à administração escolar nos programas de reforma, situando a escola
como núcleo do planejamento e da gestão; o financiamento per capita, com a
criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magistério – FUNDEF, por meio da lei n. 9.424/96; a regularidade e a
ampliação dos exames nacionais de avaliação, bem como a avaliação institucional e
os mecanismos de gestão escolares que pressupõem a participação da
comunidade. Esses aspectos, apesar de concernentes à realidade brasileira,
encontram similitudes com programas implantados em outros contextos nacionais
latino-americanos, tais como Chile (MEDINA; KELLY, 2001) e Argentina (BIRGIN,
2000; FELDFEBER, 2004).
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A nova regulação repercute diretamente na composição, estrutura e gestão das
redes públicas de ensino. Trazem medidas que altera, nos aspectos físicos e
organizacionais, a configuração das redes, forjando adequações segundo os
critérios de produtividade, eficácia e excelência presentes nos programas de
reforma. A compreensão das interferências que as reformas exerceram sobre as
relações de trabalho na escola, sobre os procedimentos normativos que determinam
a carreira e a remuneração docente, bem como sobre as implicações sobre a
profissão e a identidade docente, precisa ser analisada à luz da especificidade
latino-americana.
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Assim, essas reformas são marcadas pela padronização de processos
administrativos e pedagógicos, os quais possibilitam baixar custos e redefinir gastos,
sem, contudo, abrir mão do controle central das políticas.
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Este quadro de nova regulação educativa no contexto latino-americano resulta em
significativa intensificação do trabalho; precarização das relações de emprego,
mudanças consideráveis nas relações de trabalho que repercutem sobre a
identidade e condição docente (FANFANI, 2005; OLIVEIRA, 2005). No presente
trabalho, tentaremos discutir como tais repercussões vêm sendo percebidas a partir
de pesquisas realizadas no contexto escolar público latino-americano.
A INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO
Tendo sido tratada em alguns trabalhos que tiveram como referência o contexto
europeu ou norte-americano (APPLE, 1995; HARGREAVES, 1998; CONTRERAS,
2002), a intensificação do trabalho, assume características específicas na realidade
latino-americana atual. Podemos observar a intensificação do trabalho docente
resultante de ampliação da jornada de trabalho e do aumento considerável de
responsabilidades que os docentes tiveram com as reformas mais recentes.
Apesar de ser a minoria que assume outro emprego que não a docência (FANFANI,
2005; CNTE, 2003), os professores que trabalham em escolas públicas costumam
assumir mais de uma jornada de trabalho como docente em diferentes
estabelecimentos. Um mesmo professor leciona em dois ou até três
estabelecimentos distintos, em geral, por necessidade de complementação de
renda, tendo em vista que os salários do magistério, na América Latina, são baixos,
comparativamente a outras funções exigentes de formação profissional similar.
Nesses casos, o professor não se identifica com uma escola em particular. Por
assumir número considerável de aulas, esses professores acabam por não
conhecerem bem a maioria de seus alunos, e não encontram tempo para atividades
que julgam importantes para o bom desempenho profissional, como: preparar aulas,
estudar, atualizar-se (NORONHA, 2001). Segundo pesquisa realizada pela CNTE
(2003), os professores gastam, em média, 22 horas mensais em casa com trabalhos
de preparação de aulas.
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Uma forma de intensificação do trabalho docente é aquela decorrente também da
extensão da jornada de trabalho, porém dentro do próprio estabelecimento escolar
em que atua. Trata-se de um aumento das horas e carga de trabalho sem qualquer
remuneração adicional.
Esta rede era composta, à época, por 179 escolas, a pesquisa contou com 127
entrevistados, de um conjunto de 358 diretores e vice-diretores (OLIVEIRA;
GONÇALVES, 2002).
Sendo apresentadas como novidade ou inovação, tais exigências são tomadas pelos
docentes, muitas vezes, como naturais e indispensáveis.
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Uma das principais mazelas da flexibilidade contida nos processos de reformas é a
precarização do trabalho. As mudanças ocorridas nas relações de trabalho e de
emprego têm sido caracterizadas, na atualidade, pela ameaça de um fenômeno
considerado por alguns autores como precarização das relações de trabalho. Esse
movimento, contudo, não se circunscreve às relações de trabalho caracterizadas
como intrínsecas ao processo de trabalho, mas compreende, principalmente, as
relações de emprego, apresentando tentativa de flexibilização, e até mesmo
desregulamentação da legislação trabalhista.
Podemos considerar que, como o trabalho em geral, o trabalho docente tem sofrido
relativa precarização nos aspectos concernentes às relações de emprego. O
aumento dos contratos temporários nas redes públicas de ensino, chegando, em
alguns casos, a número correspondente ao de trabalhadores efetivos; o arrocho
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salarial; ausência de piso salarial; inadequação ou mesmo ausência, em alguns
casos, de planos de cargos e salários; a perda de garantias trabalhistas e
previdenciárias oriunda dos processos de reforma do Estado têm tornado cada vez
mais agudo o quadro de instabilidade e precariedade do emprego no magistério
público.
A discussão sobre a identidade docente é pautada no Brasil a partir dos anos 1980,
tanto do ponto de vista político quanto acadêmico. É no final da ditadura militar
(1964/1985), especificamente nos últimos anos do regime, que o movimento sindical
ganha proeminência na cena política brasileira (SADER, 1981). Dentre as categorias
em manifestação, o magistério público teve papel preponderante na condução das
greves que emergiram naquele momento. Estava na base das discussões dos
trabalhadores docentes, naquele momento, a questão da identidade e do
profissionalismo. Foram muitos estudos que nesse período levantaram
questionamentos e reflexões sobre a relação tênue entre o espaço doméstico e a
escola como local de trabalho, a negação da identificação do magistério com a
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tarefa de guia espiritual e moral, as dificuldades de reconhecimento social e
profissional desses trabalhadores (ARROYO, 1985).
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Tal separação é explicada, sobretudo, pelo argumento da identidade, definida pelo
critério de interesse econômico e de status profissional. Além de possuírem maior
titulação e ter maior remuneração, os professores são os responsáveis pela
atividade fim da escola. Dessa maneira, encarnam, pelo menos formalmente, a
responsabilidade por fazer cumprir a missão da escola. Por parte dos funcionários é
possível encontrar um comportamento que expresse menos compromisso com as
atividades fins, não estabelecendo vínculos mais estreitos com a tarefa educativa.
Isso, em parte, se explica pelo caráter instável do contrato de trabalho, ou mesmo
pela rotatividade dos trabalhadores terceirizados, que ainda que mantenham seus
contratos com a empresa contratante, podem, muitas vezes, mudarem seu local de
trabalho. Isso impede que esses empregados tenham vínculos mais duradouros ou
estáveis com a escola, o que pode determinar o nível de comprometimento deles
com as finalidades do estabelecimento de ensino em que atuam. Mas essa não é
uma relação que pode ser explicada pelo desinteresse ou falta de motivação dos
empregados terceirizados, pois, mesmo em escolas que ainda conservam razoável
número de funcionários de apoio efetivos, é possível observar essa divisão entre os
professores, ou pessoal responsável pelo que definimos como ensino ou docência, e
os demais trabalhadores da escola.
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conteúdo dessas tensões possa ser de natureza distinta, revelam muita similaridade
quanto à forma. A superioridade dos professores sobre os funcionários de apoio,
resultando, na maioria das vezes, em subordinação dos segundos aos primeiros, se
justifica pela competência técnica e profissional, por exemplo. Ainda que
formalmente todos estejam a serviço de uma mesma finalidade, para com os
professores parece haver uma relação direta de responsabilização pelo sucesso ou
fracasso dos fins perseguidos.
As reformas educacionais mais recentes trazem uma forte retórica que valoriza
aspectos da luta por uma educação mais democrática que se faz com e para
sujeitos autônomos e emancipados. As noções de coletividade, autonomia e
participação são fortemente evocadas nos documentos das reformas educativas
atuais (PREAL, 2004; CEPAL, 1990), porém compreendidas em uma abordagem
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que privilegia o elemento da flexibilidade. É possível observar que essa maior
flexibilidade, tanto nas estruturas curriculares quanto nos processos de avaliação,
corrobora com a idéia de que estamos diante de novos padrões de organização,
inclusive, do trabalho escolar, que podem estar forjando um novo perfil de
trabalhadores docentes e uma nova identidade. Ocorre, porém, que esses novos
modelos de organização escolar expressam muito mais um discurso sobre a prática
do que a própria realidade. Nesse sentido, as observações sobre o trabalho em si,
no momento da sua realização, nos parecem vitais.
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que tem gerado um aumento da heterogeneidade. Nesse caso, torna-se necessário
adaptar as metodologias de ensino às realidades locais e eventualmente gerar
respostas imediatas. E um segundo grupo que se refere àquelas concernentes às
demandas socioculturais externas aos sistemas escolares em que se exige o
domínio de certas competências e códigos de linguagem, vitais aos processos de
formação de cidadania coerente às demandas do mundo complexo e dinâmico de
hoje. Identificam, assim, que as demandas trazidas pelas mudanças curriculares e
pedagógicas mais recentes expressam uma forma de exercício profissional
caracterizado por duas dimensões: um modo de fazer fundado sobre a reflexão, a
autonomia, a flexibilidade e a capacidade de gerar – individual e coletivamente –
respostas adequadas às situações particulares; e uma relação com o conhecimento
que permite o desenvolvimento de aprendizagens significativas.
Poderíamos considerar que grande parte das escolas públicas brasileiras (ou quem
sabe latino-americanas?) poderia ser descrita utilizando-se a tipologia de escolas
difíceis de Kerroubi e Zanten (2002), criadas a partir da realidade francesa: escolas
que se desenvolvem em um contexto de pobreza, de precariedade material, cujos
alunos apresentam significativo déficit cultural. Para o contexto latino-americano
essa não é a exceção, mas a regra. Soma-se a isso o desencantamento desses
jovens diante da baixa expectativa de futuro, a incerteza quanto às suas
possibilidades de ingresso no mercado de trabalho. Nesse contexto, os alunos estão
distantes do que seria o modelo de aluno ideal, trazem para a escola problemas de
naturezas diversas, contribuindo para um ambiente tenso em que a violência
ameaça a todos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa maneira, podemos perceber que o movimento de reformas que toma corpo
nos países da América Latina a partir dos anos 1990, demarcando uma nova
regulação educacional, traz conseqüências significativas para a organização e
gestão escolares, resultando em uma reestruturação do trabalho docente, podendo
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alterar, inclusive, sua natureza e definição. O trabalho docente não é definido
apenas como atividade em sala de aula, devendo compreender a gestão da escola.
As teses sobre a desvalorização e desqualificação do trabalho docente que foram
amplamente aceitas nas décadas passadas têm sido revistas à luz dessas
mudanças. As discussões sobre a profissionalização e ―desprofissionalização‖, bem
como as pesquisas sobre identidade docente, tentam interpretar essas mudanças a
partir de referências que levem em conta não só as relações de trabalho. Contudo,
consideramos que um processo de desvalorização e precarização do trabalho
docente tem se agravado nos últimos anos com as mudanças mais recentes
introduzidas nas escolas latino-americanas. Essas mudanças trazem novos desafios
para os trabalhadores docentes e para os que fazem desses seus objetos de
investigação e análise.
REFERÊNCIAS
DECLARAÇÃO mundial sobre educação para todos e plano de ação para satisfazer
as necessidades básicas de aprendizagem. Nova York: UNICEF, 1990.
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FANFANI, E. T. La condición docente. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2005.
LAS REFORMAS EDUCATIVAS en los países del cono sur: un balance crítico.
Buenos Aires: CLACSO, 2005.
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OLIVEIRA, D. A.; GONÇALVES, G. B. B. A gestão democrática da educação e o
trabalho do diretor escolar (Apresentação de trabalho). V Encontro da
ANPED/Sudeste, Águas de Líndóia, 2002.
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A GESTÃO DA ESCOLA BÁSICA: conhecimento e reflexão sobre a
prática cotidiana da diretora de escola municipal
Este trabalho está fundamentado numa pesquisa realizada com diretoras de escola
municipal do Estado do Rio Grande do Sul. 1 Na primeira fase do trabalho foi
aplicado um questionário para as diretoras, o que permitiu a construção de seu perfil
sócio-educacional, identificou como foram selecionadas para o cargo, bem como sua
opinião sobre qual deveria ser a formação e as suas necessidades de
desenvolvimento profissional. O instrumento também questionou sobre o que
implicava ser diretora de escola. Este levantamento, além de permitir a construção
do perfil da diretora de escola, também evidenciou uma falta de clareza sobre as
dimensões do papel da diretora de escola entre as respondentes.
O perfil construído na primeira fase do trabalho (Castro et. al., 1997) indicou que a
diretora de escola municipal do Estado do Rio Grande do Sul é uma mulher com
idade média de 35 anos, casada, com dois filhos. Foi selecionada para o cargo por
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eleição (49, 3%), mas uma porcentagem significativa foi indicada (40%). A maioria
das respondentes não possuía o curso superior (60%).
A diretora de escola, ou a equipe diretiva, vai realizar esta mediação, ou pelo menos
facilitar o processo de participação.
Uma terceira forma de olhar os mesmos dados foi o que nós chamamos de
preparação para uma possível teorização, no sentido de mapear as diferentes
formas de expressão e de variação do fenômeno no contexto da realidade, no
sentido proposto por Yin (1989). Este autor, discutindo o estudo de caso, fala da
generalização analítica em oposição à generalização estatística. Os dados devem
ser uma expressão da variação natural do fenômeno e neste sentido têm sérias
implicações teóricas e analíticas (Yin, 1989, p. 38).
É a mesma idéia que aparece em Guba e Lincoln (1988), quando discutem o círculo
hermenêutico-dialético da coleta de dados, em que o pesquisador qualitativo busca
construir a sua interpretação sobre a realidade, e quando começa a haver
redundância, acredita que a variação básica do fenômeno foi identificada.
Tendo em vista os três tipos de olhares lançados sobre a prática cotidiana das
diretoras de escola, organizamos este artigo da seguinte forma: inicialmente,
apresentamos a organização dos temas emergentes em quatro quadros, o que
corresponderia ao primeiro olhar analítico e teórico, que busca levantar o que é
necessário saber para entender a prática das diretoras, a partir do colocado nas
entrevistas. Organizamos um quadro explicitando os fatores diretamente ligados à
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ação da diretora, outro explicitando a dimensão institucional da escola, um terceiro
trabalhando as relações interinstitucionais que dão forma às ações e processos no
interior da escola. E o quarto quadro identifica questões mais amplas, históricas,
sociais e culturais que afetam a vida escolar.
Apresentamos, posteriormente, uma análise dos temas que apareceram com maior
freqüência na análise macro e micro, e comentaremos em maior profundidade temas
que foram comuns às duas dimensões e que revelam os dilemas do dia-a-dia da
diretora. Os dados coletados indicam uma complexidade de fatores afetando e
interagindo na realidade escolar e a própria dinâmica de transformação.
A forma de seleção para o cargo de diretora de escola, por meio de eleição, reveste-
se, em algumas escolas, de um papel inovador e de transformação da realidade e
práticas escolares. Mas em geral, assumir a função de diretora de escola parece vir
carregada de muito peso e responsabilidade. Várias diretoras falam que a assumem
numa situação de pressão. São poucas as educadoras que desejam assumir esta
função, pois ela exige responsabilidade, maior carga de trabalho e as
compensações não são claramente visíveis. Nas comunidades menores, observa-se
que a diretora tem um papel importante como líder comunitária e este papel parece
tornar-se mais relevante, quanto mais pobre for a comunidade. Observou-se que as
diretoras conseguem perceber a importância e o valor de seu trabalho, mas esta
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percepção não parece ocorrer na mesma dimensão social. Uma diretora indicou que
conseguiu tocar a vida de um aluno, de modo que ele agora está trabalhando,
formou-se, e está encaminhado. Outra diretora de uma escola rural mostrou ter
plena consciência da importância de seu trabalho na comunidade, ela atende a 21
alunos de diferentes séries, prepara a merenda, faz a limpeza e manutenção da
escola. Ela disse que poderia ficar em casa, pois não precisa trabalhar por
necessidade econômica, mas sabe que seu trabalho é importante e gosta dele. No
dia em que estivemos entrevistando a diretora, havia vários alunos visitando a
escola, pois como já tivessem saído dela, sentiam muita saudade da professora.
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Esta falta de clareza sobre qual deve ser o papel da diretora em termos de funções e
atividades específicas já identificada na 1 a fase do trabalho (Castro et al., 1997) e
em estudo anterior (Castro, 1995) no qual se constatou o baixo nível de
profissionalismo das diretoras de escolas estudadas. Estes dados dificultam a maior
valorização e avaliação do trabalho da diretora de escola. Sua necessidade de
formação e desenvolvimento profissional vão depender de todo este processo, bem
como a definição e valorização social do processo educativo. Como o trabalho do
professor e do educador não recebem as mesmas recompensas obtidas em outras
atividades profissionais, tais como recursos financeiros e prestígio, o da diretora de
escola tenderá a ser um trabalho não valorizado e recompensado socialmente.
Apesar disto, observou-se que existe uma dimensão muito rica, humana e afetiva no
trabalho da diretora da escola, o que faz com que ele seja estimulante e permita que
a diretora enfrente os desafios cotidianos com esperança e perseverança.
A Figura 2 apresenta a visão da escola como instituição, apontando o que vai ser
administrado pela diretora e quais são as dimensões desta instituição. O primeiro
tema emergente foi a questão da identidade da escola, e como esta se articula com
o seu trabalho pedagógico. A identidade pode ser construída com base nas raízes
históricas. Uma escola municipal da amostra tinha uma história que datava do
século XIX, na época da colonização alemã.
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O tamanho da escola, como ocorreu o processo de municipalização na localidade
pesquisada, a forma como foi selecionado a diretora, como está sendo construído o
trabalho de equipe, as questões pedagógicas, o nível educacional oferecido pela
escola, como está sendo considerada a qualidade da educação neste município em
particular, todas estas questões específicas da escola como instituição auxiliam a
entender e a dar forma ao processo de gestão.
Como se dão as relações entre a escola pública municipal e a escola estadual, como
se dão as relações com as escolas particulares? Nas escolas municipais estudadas,
apareceu uma relação de superioridade em relação às escolas estaduais. As
escolas municipais, em geral, parecem apresentar melhores condições, tanto em
termos de salários como em termos de perspectivas. As relações com as escolas
particulares podem ser de plena oposição e diferenciação com as escolas
municipais, atendendo aos alunos mais carentes, ou de similaridade com escolas
municipais localizadas na zona urbana e atendendo aos alunos de classe média.
Nas comunidades mais carentes, a escola aparece como uma instituição mediadora
que faz a ligação com outros recursos e serviços oferecidos pela sociedade.
Enfatizamos aqui o papel de assistência social da escola, a questão da merenda, o
fato de a escola ter de atender ao aluno em sua totalidade, tal como ele se
apresenta na realidade, com toda sua diversidade e carência (Codo, 1999). Aparece,
aqui, o problema do burnout e da preparação dos professores para lidar com a
questão social, tal como ela se expressa no interior da escola. São questões
fundamentais, para a gestão escolar, discutir e lidar com a diversidade da clientela.
Questiona-se a prática assistencialista da escola que mantém o aluno em um
ambiente de cuidado: por um determinado período de tempo, talvez tenhamos que
concordar com o professor José Camilo dos Santos Filho, 3 quando ele diz que se a
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merenda escolar atrai alunos, devemos oferecer o máximo deste caráter
assistencialista para garantir que as crianças venham para a escola. Assim, em vez
de questionar o caráter assistencialista da escola, que se sobrepõe ao seu papel
educacional, ele parece ser uma condição necessária e anterior à questão
educacional.
A nossa sociedade com sua distribuição de renda desigual, e com contrastes sociais
exacerbados, trata de forma não comprometida a questão social, que parece ser um
problema de todos, e um problema de ninguém. Os educadores têm dificuldade de
lidar com problemas sociais tão grandes, com carências alimentares, afetivas,
cognitivas e sociais.
Tais dificuldades são muito grandes para serem enfrentadas. O professor não se
responsabiliza: o aluno não vai aprender porque está com fome, com carências
afetivas, etc., assim não é um problema dele.
As relações com o conselho escolar, quando ele existe pois a maioria das escolas
estudadas em âmbito municipal não havia estruturado ainda o seu conselho, são
novas e estão em processo de definição. Como indicou Werle (1997) em seu estudo
sobre conselhos escolares estaduais do Rio Grande do Sul, estamos construindo,
através da prática, um espaço de participação que nem sempre é bem aproveitado.
As relações com o Conselho de Pais e Mestres e com as novas propostas futuras de
Conselho Escolar são uma preocupação constante das diretoras entrevistadas:
como agilizar o Conselho de Pais e Mestres de forma autônoma e criativa, no interior
da escola. A relação com a comunidade é um fator importante de
redimensionamento da gestão escolar, expresso em algumas escolas onde
encontramos parcerias inesperadas entre empresas locais e escolas. A empresa,
com uma contribuição mínima em termos de recursos, tornava a escola tão
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equipada, como a escola central, que atendia aos alunos de classe média e recebia
bastante apoio dos pais. A diretora solicitava à empresa recursos para o que se fazia
necessário, e a empresa complementava os recursos. A escola possuía som, um
auditório com cortinas e condições de realizar reuniões, formaturas e encontros.
As relações com os pais parecem ser a questão mais importante, pois elas
aparecem na análise macro, assim como na micro, indicando que a participação dos
pais é fundamental para que a tarefa educativa se realize plenamente. Caberia ainda
comentar as relações com o Conselho Municipal de Educação, que está em
processo de construção, pois muitos dos municípios estão ainda definindo seu
Conselho Municipal de Educação. Um ponto comentado foi que os líderes
comunitários tendem a se repetir em vários contextos e aparecem na direção das
escolas, no Conselho Municipal e em diferentes atividades na comunidade.
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cotidiano da escola. Os professores e muitas vezes as próprias diretoras não
identificam, como sua, a tarefa de lidar com a criança com todos os seus problemas
e carências e desistem mesmo sem tentar. Se o problema é de fome,
desestruturação familiar, o professor diz que o aluno não aprende por causa de suas
condições sociais. Este fato cria uma dificuldade e torna o trabalho do professor
muito penoso, levando ao burnoute à síndrome de desistência do educador
identificada por Codo (1999). Em termos
Em uma visão mais ampla, a crise de valores está relacionada com a própria
desvalorização social da educação, em uma sociedade que valoriza as aparências,
o dinheiro e se preocupa pouco com o humano, com o essencial. Esta crise de
valores torna a ação sem fundamento, pois vamos educar de que forma, para que
fins? A clareza sobre quais são os objetivos que se deseja alcançar com a escola é
fundamental para a direção buscada pela gestão.
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Dentro de recursos financeiros colocamos todas as questões referentes a recursos
materiais e fontes de financiamento.
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Outra dimensão da tecnologia na gestão da escola foi a inclusão de duas escolas
cujas diretoras foram entrevistadas no programa do MEC, que equipava a escola
com uma sala com vários computadores. Estes programas estavam atraindo alunos
que buscavam a escola, em razão dos recursos oferecidos, antes ainda de sua real
implementação.
Na segunda parte deste artigo, vamos apresentar, de forma sintética, os temas que
apareceram com mais força e significação no conjunto da análise realizada. Na
análise macro, foram identificadas as categorias comuns no conjunto das entrevistas
realizadas. Os dez temas que apareceram com maior freqüência foram: relações
com os pais, com a Smed, práticas democráticas, papel da diretora, condições
físicas da escola, liderança, assunção da direção em situação de pressão, relação
do trabalho da escola com o trabalho doméstico, problemas e dificuldades com os
alunos e características de assistência social da escola.
Pelos limites deste artigo, discutiremos os temas comuns nos dois tipos de análise:
as relações com os pais e com a Smed, eo papel e liderança da diretora. A análise
destas categorias deverá servir como exemplo da complexidade, riqueza e interface
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entre os diferentes fatores, afetando e dando forma a práticas administrativas das
escolas municipais do Estado do Rio Grande do Sul.
O papel do pai e da mãe é dentro da escola, também até em relação aos meus filhos
eu sou xarope, estou sempre lá. Pai e mãe têm que estar dentro da escola. É como
com a empregada.
Tu tens que acompanhar o que ela está fazendo. O que ela está dando de comer,
que horas está trocando a fralda, a mesma coisa deve ser feita em relação à escola
(Entr. 2, p. 11).
Os pais tendem a se preocupar com o que ocorre com seus filhos e não com o que
acontece na escola, querem conhecer e saber sobre o trabalho dos seus filhos na
escola. A diretora coloca esta perspectiva dizendo:
É, a maioria dos nossos pais, 70% dos nossos pais, eles são mais preocupados em
ser bem recebidos na escola, que o professor ou que a diretora sentem com eles e
conversem, do que saber se o professor ou a diretora tem pedagogia.
Para o pai, isso não é primordial, ele quer saber do filho dele e do trabalho na escola
e, de preferência, da forma mais simples que tu puderes passar (Entr. 4, p. 6).
Nas comunidades mais carentes, as relações com os pais parecem ser mais
importantes no sentido de garantir o acesso à escola e contar com a colaboração
dos pais para o trabalho da escola. Mas como a maioria dos pais trabalha, é muito
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difícil esta participação. As diretoras comentam a dificuldade de conseguir que os
pais participem:
... Se é uma reunião do geral, dos problemas da escola, é mais difícil... eles são
mesmo pobres, o nível não é muito alto. Eles trabalham muito, então para sair, às
vezes o trabalho não é nem aqui perto, é longe, têm de faltar ao serviço (Entr. 8, p.
4).
Agora encaminhamos para a primeira consulta para fazer avaliação, ela não levou.
Agora para ela levar, vamos dizer: Olha, amanhã tem consulta, se a senhora não
levar ele não pode entrar na aula no outro dia na aula. A Secretaria de Educação
está exigindo que a senhora leve. É preciso fazer uma ameaça. Daí, ela levou.
Levou, porque sabia que ele não poderia mais entrar na escola se ela não levasse
(Entr. 6, p. 19).
Os pais vêm quando tu ligas e chamas: Olha, teu filho está se sentindo mal, ou ele
está com dor de cabeça, ou ele precisa.... Os pais vão buscar. Agora, aqui se nós
fizéssemos isso, seria uma ofensa. Aqui é conosco, não importa o cargo, diretora ou
supervisora, alguém tem de tomar as devidas providências. E também não pergunta
se tem gasto ou não tem gasto. Isso é problema que a escola tem de resolver (Entr.
5, p. 11).
Em alguns casos, os pais solicitam que a escola assuma um papel disciplinador que
seria próprio dos pais ou da família:
O adolescente é diferente, mas aqui nós estamos falando de menores e daí o pai
chega aqui e diz assim: A senhora faz o que quiser com ele, eu não sei o que vou
fazer com ele. Mas não é assim, a escola não tem essa função. Eu acho que isso
daqui é de casa, a gente dá instrução, também dá educação, mas não é nesse
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sentido, porque eles realmente permitem uma abertura tão grande que depois não
tem como...(Entr. 10, p. 2 e 3).
Outro tipo de problema que ocorre é do relacionamento com aqueles pais que não
auxiliam a escola e brigam para garantir os direitos de seus filhos de forma
inadequada. Desde a mãe que queria agredir a diretora, até aquelas que querem
controlar o que ocorre no recreio, as que trazem e buscam os filhos na escola. O
acesso à escola destas mães, as formas de relacionamento com a escola foram
também encontrados nos dados coletados.
Esta situação é um exemplo de que nem sempre a participação dos pais na escola é
positiva. A mesma diretora comenta que o afastamento dos pais, especialmente das
mães, facilitou a adaptação de algumas crianças no ambiente da escola, pois
quando a mãe ficava esperando do lado de fora da sala a criança chorava mais ela:
Este ano não teve esses problemas assim de criança chorando, não teve porque as
mães não puderam ficar aqui. Até o ano passado tinha criança, que chorou assim,
três, quatro meses e a mãe sempre na porta (Entr. 18, p. 6).
O relacionamento com os pais pode assumir um outro caráter à medida que a rotina
da escola é afetada por novos programas e horários. Em um município visitado,
havia sido adotado um sistema de dias alternados de funcionamento da escola,
visando ao melhor uso dos recursos, diminuindo em 50% as despesas com
transporte e resolvendo de alguma forma o problema de vagas, pois esta política
duplicava o número de espaços disponíveis. Como isto afetava diretamente a vida
familiar, parece ter ocorrido uma certa resistência. A secretária da escola coloca: De
início, a diretora fez reunião com os pais, antes de começar o turno integral. Eles
estavam assim, também achando muito difícil, que não ia dar certo, com
pensamento negativo (Entr. 19, p. 3). A secretária comenta que depois de um certo
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tempo de funcionamento, os pais estão mudando de opinião: Mas agora, na reunião
do segundo bimestre, já tem pais que estão gostando. Sempre tem uns que ainda
ficam assim meio em dúvida.
Os dados analisados sobre o relacionamento dos pais com a escola parecem estar
marcados por uma série de fatores, desde o cuidado natural dos pais com a criança,
preocupação com o que ocorre com a criança no ambiente escolar, até as questões
relacionadas com a classe social de origem e o caráter de assistência social da
escola, problemas de carências e de saúde que afetam os alunos e sua
aprendizagem. A participação dos pais precisa ser construída dentro da gestão da
escola, de forma a criar um ambiente positivo, uma comunicação e cooperação entre
a escola e os pais para o alcance dos objetivos educativos.
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A gente faz os projetos, mas a gente tem que levar ao conhecimento para trabalhar
junto. Não é a escola isolada, são as escolas do município, então tudo que tem de
novidade elas passam para as escolas e a gente sempre tem um novo projeto e
quer implantar na escola. Mas é tudo em conjunto (Entr. 3, p. 4).
A proximidade entre a Smed e as escolas da rede faz com que exista uma boa
comunicação, as diretoras em geral conheciam os projetos do município e não havia
projetos desconhecidos.
Quanto à questão do quadro, este ano posso me declarar bem satisfeita, de manhã
eu estou sozinha, sem supervisora, sem orientadora e hoje a auxiliar está de folga.
Então faltou um professor, outro morreu um familiar, então o que eu tive de fazer
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hoje de manhã, eu adiantei o período de uma professora e ela foi dar aula em outra
turma, quem ficou na sala de aula foi uma das funcionárias da merenda. Então
assim funciona o quadro de professores de funcionários, na situação de prestar
ajuda (Entr. 18, p. 7).
A gente sabe que a gente se esgota e não se dá conta. Nós estamos em setembro...
Eu ainda tenho dois filhos que são adolescentes, o meu marido é uma pessoa
compreensiva, é calmo, mas eu vivo mais pra escola do que pra minha família.
Porque eu me envolvo muito com a comunidade, sabe.
Então, eu não quero deixar nenhum dos setores ficarem desamparados, e aí então
isso ocorre com todos nós diretoras... porque a gente trabalha num conjunto (Entr.
AS, p. 7).
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uma administração colegiada dificultam ainda mais a definição do papel e de
critérios para avaliação de sua performance.
Dentro desse papel de direção, uma outra coisa de que se tem falado muito é essa
questão do relacionamento. Tu vais lidar com pessoas diferentes, tu vais lidar com
anseios diferentes, objetivos e propostas diferentes, tu vais ter que gerenciar tudo
isso e, às vezes, nem todo mundo vai estar satisfeito com aquelas atitudes que tu
vais tomar, mas é aí que eu acho que está a questão da administração do
profissionalismo, à medida que tu fazes aquilo não de forma pessoal, mas de forma
profissional, as pessoas tendem a aceitar (Entr. 16, p. 3).
A diretora é aquela pessoa que tem de ter jogo de cintura, que sabe dançar
conforme a música, que é capaz de fazer a ligação entre os diversos membros da
escola. Uma das diretoras coloca que ela foi escolhida exatamente por sua
habilidade de mediatizar:
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como coloca uma diretora: É uma responsabilidade diferente. Todos os documentos
que saem dali é com a assinatura dela, é responsabilidade dela (Entr. 2, p. 5).
Assim, partimos da premissa de que a participação não deve ser confinada apenas à
dimensão política do voto, mas a esta deve associar-se o constructo da participação
coletiva por meio da criação e/ou aperfeiçoamento de instrumentos que impliquem a
superação dos vícios clientelísticos e das práticas autoritárias que permeiam as
práticas sociais.
Observamos uma tendência, nos contextos de maior qualidade, de uma opção por
práticas democráticas de construção coletiva, mas bastante marcadas pelas
contradições do dia-a-dia, e também do conhecimento e responsabilidade, que são
frutos de um desenvolvimento profissional acentuado na área educacional. As
diretoras fazem depoimentos atestando sua contribuição para o trabalho coletivo:
Nessa comunicação nessa coisa de se conhecer melhor, de se dar espaço para o
ser humano botar suas idéias para fora. Então a gente começou um trabalho melhor.
Não é mais tão ditatorial, não vem de cima. Eu não sou a diretora, nós somos um
grupo na minha escola (Entr. 6, p. 1).
Hoje a diretora de escola não é aquele que senta lá dentro da sala dele e comanda
uma escola. Se ele não souber trabalhar o grupo, dividir as tarefas com o grupo,
delimitar poderes: Você faz isso, Você faz aquilo, ele não consegue administrar uma
escola. O momento, hoje, eu acho que o ser humano não está para ser mandado.
Acho que não cabe mais na nossa época de uma diretora dizer: Não, eu mando
dentro dessa escola eu faço isso. O trabalho nosso na escola é bem como o da
Elaine, se divide tudo, se resolve junto e se arca com as conseqüências, as boas e
as ruins junto com o grupo (Entr. 6, p. 2).
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Várias diretoras comentam o trabalho da diretora de escola é pesado e fragmentado:
Muitas vezes a gente acaba sobrecarregada, o primeiro ano para mim foi bem mais
fácil, o ano passado foi bem mais difícil. Faltou funcionário e tu tens que limpar
banheiro, fazer merenda, então acaba acumulando muita coisa, eu atendia na
biblioteca, não tinha supervisora na escola, nem apoio pedagógico. Eu me
preocupava com isso, em auxiliar os professores; realmente é muita coisa; quando
tu vai te dedicar para aquilo ali parece que tu nem tem mais resposta, mas tu acabas
deixando coisa por fazer. Mas os de fora não sabem, eles vão te julgar pela tua
função e não pelo que tu fazes a mais, eu imagino assim (Entr. 2, p. 10).
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naquele aluno que era assim. Pense naquele outro que era assim e que mudou
(Entr. 6, p. 14).
Este artigo realizou uma análise preliminar dos resultados de pesquisa com as
diretoras de escola municipal, apresentou quatro dimensões que dão forma ao
processo administrativo nas escolas estudadas. A dimensão do papel da diretora,
associada à dimensão da escola como instituição, suas relações interinstitucionais e
as relações com o contexto social mais amplo, de forma dinâmica, complexa e
interativa. Na segunda parte, analisou alguns dos temas emergentes nestas
dimensões como as relações com os pais, as relações com a SMED e o papel e
liderança da diretora.
REFERÊNCIAS
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York: Basic Books, 1983.
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AUTONOMIA DA ESCOLA E DEMOCRATIZAÇÃO DE SUA GESTÃO:
novas demandas para o gestor
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educadores e, em especial os gestores cumpram sua função nesta nova realidade
socioeducativa.
Esta radical reestruturação econômica e social exige uma reestruturação radical das
perspectivas de análise e das políticas educacionais. O liberalismo já tomou
consciência destas mudanças e procura se beneficiar delas. Enquanto isto, o
pensamento educacional brasileiro, considerado progressista, parece ainda muito
distante deste novo e continua atado à velha ordem, que se está expurgando diante
de seus olhos.
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A nova base material das relações sociais
Por muito tempo, a base dominante das relações entre as pessoas foi a força física.
As relações fundadas na força física fazem com que as pessoas imponham sua
vontade a outros com base na ameaça, respaldadas no poder de castigar, porque
detêm a força.
Embora a força ainda seja a base das relações, em muitos casos ela não é mais a
base dominante. A riqueza foi se impondo como base mais avançada para fundar as
relações sociais. Primeiro, porque a riqueza pode potencializar a força, pode
comprá-la e pô-la a seu serviço. Segundo, porque a riqueza é uma base
qualitativamente superior. Enquanto a força somente pode ameaçar e castigar, a
riqueza pode também premiar e recompensar. Os comportamentos são forjados pelo
poder de castigar, retirando ou diminuindo os bens de quem não age segundo as
pessoas que detêm o poder da riqueza.
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A riqueza, mais do que a força, continua determinando as relações, em muitos
casos. Entretanto, progressivamente vem se instituindo uma nova base material, que
é o conhecimento. Como a força pode ser potencializada pela riqueza, a riqueza e a
força podem ser potencializadas pelo conhecimento. Em outras palavras, uma base
material qualitativamente superior pode recrudescer os vícios e perversidades
decorrentes de bases qualitativamente inferiores. O conhecimento é uma base
radicalmente superior para fundar as relações. Ele não é soma zero. O
conhecimento não se (des) gasta quando usado. Enquanto a força ea riqueza se
esvaem no seu uso, o conhecimento cresce e aumenta, quando usado; multiplica-se
quando dividido. Além disto, o conhecimento não é privatizável. Os mecanismos que
procuram privatizá-lo apenas retardam sua socialização. O conhecimento pode
humanizar e emancipar.
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está sendo construída no interior das escolas, e ressignificando o ato pedagógico-
educativo.
a) Aprendência e intersubjetividade
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Os sistemas de educação passam, em níveis e graus diferentes, por uma
reestruturação e tomam nova configuração, em decorrência da crescente afirmação
teórico-prática da centralidade da escola no sistema educativo. Esta centralidade
vem impondo a necessária ampliação da autonomia da escola e da democratização
de sua gestão.
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construtivista, constituem importantes apoios para a universalização da aprendência
e da prática educativa emancipadora.
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aparente, pelo desvendamento conceitual buscando as determinações, os aspectos
essenciais.
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social do que se faz na educação e com ela, é outro aspecto da dimensão educativa
que corresponde à sua administração.
Não é a administração que tem a função de dar sentido social à educação, através
de sua função sociopolítica. Não é a administração que tem a função de construir a
totalidade do projeto educativo, através de sua função pedagógica. É a prática
educativa que se totaliza e tem repercussão social pela sua dimensão
administrativa. É um processo análogo ao corpo e pensamento. Não é o
pensamento que se hospeda no corpo, não é o pensamento que dá sentido à
existência humana. É o corpo que se tornou pensante e se tornou ex-sistência. O
corpo reconheceu que existia e rompeu com o inatamente predeterminado,
introduzindo o novo, a surpresa e o inesperado no mundo. Da mesma forma, a
prática social da educação constrói-se totalidade e significação histórica, que é sua
dimensão administrativa.
Competência necessária
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O segundo eixo de sua formação é a competência de interlocução. A competência
lingüística e comunicativa são indispensáveis no processo de coordenação da
elaboração, execução e avaliação do projeto político-pedagógico. É fundamental a
competência para a obtenção e sistematização de contribuições, para que, no
processo educativo escolar, a participação seja efetiva pela inclusão das
contribuições dos envolvidos, inclusive, em documentos (re) escritos.
Conclusão
Para coordenar este processo, zelando pela percussão social e pelo conjunto da
prática educativa, os gestores das unidades escolares têm necessidade de
conhecimentos específicos, de tirocínio lingüístico-comunicativo e competência para
inscrição histórica.
REFERÊNCIAS
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ALÉM, MUITO ALÉM DAS CONVERGÊNCIAS ENTRE A
ADMINISTRAÇÃO E A GESTÃO DA EDUCAÇÃO
Antonio Semeraro Rito Cardoso
Paulo Reis Vieira
Introdução
Foi proposto modelo de gestão libertária com suas dimensões básicas - integração,
qualidade e valores -, visualizando-se como indispensável a liberdade em
organizações/espaços educacionais. Também foram utilizados depoimentos verbais
e escritos de participantes de cursos ministrados pelos pesquisadores em 2001/02 e
pesquisa feita em espaço educacional, no caso a Secretaria Municipal de Educação
do Rio de Janeiro (SME/RJ). O trabalho demonstra, em grande parte, que os pontos
de encontro entre administração e educação vão muito além de simples
convergências entre elas, já que a liberdade pertence à essência dos processos
administrativos e educacionais.
Iniciando a Reflexão
Começamos pela afirmativa categórica de que resulta o fio condutor para este
trabalho: administração é ciência social aplicada. Esse entendimento justifica, em
primeiro lugar, o próprio título deste estudo. Traduz, também, o esforço necessário
para tratamento antifragmentário das diversas áreas de conhecimento que cuidam
da condição humana e das práticas delas conseqüentes e atenta para o instrumental
e, sobretudo, para o substantivo. O singular – ciência social – em substituição ao
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contumaz plural – ciências sociais – sinaliza compreensão mais abrangente e
integradora do fenômeno administrativo.
Já não basta explicitar que administrar significa adequar meios a fins para garantir
eficiência de procedimentos e eficácia de resultados.
Construindo a Interrogação
Muitos autores o têm apontado como valor universal em todos os tempos e em todas
as sociedades [Alberoni (2000), Capalbo (1990), Fraga (1994), Hessen (1974),
Kidder (1994), Rescher (1968), Rokeach (1981)].
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Vários autores da área de gestão têm chamado atenção para a liberdade nas
práticas gerenciais. Galbraith(1995) tem enfatizado a prática da liberdade através
dos conceitos de ―envolvimento empregátício e organizações de alto envolvimento‖,
que significam a possibilidade de implementação de práticas conducentes à
participação efetiva dos indivíduos na gestão das organizações.
Explicitando a Relevância
Ao final de vários cursos, por iniciativa destes autores, têm-se realizado avaliações
através de depoimentos verbais e escritos dos alunos. Assim, os procedimentos
metodológicos seguidos para a elaboração deste trabalho incluíram algumas
observações dos participantes de cursos ministrados pelos autores nos anos
2001/02, as quais foram, em parte, transcritas e inseridas no texto conforme os
conteúdos revisados na bibliografia, com isso estabelecendo a ponte necessária
entre teoria e prática.
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Para construir essa ponte torna-se necessário uma imersão nos conteúdos
libertários da educação e da administração para, em seguida, destacar-lhes as
convergências óbvias e não óbvias.
A educação, em qualquer nível ou espaço em que ocorra, tem sua essência com
base em um tripé que, combinados os seus três eixos fundamentais, é capaz de
manter de pé e com a cabeça erguida indivíduos, organizações, sociedades e
nações.
Sintamos um educando:
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O segundo eixo do tripé diz respeito à definição do centro de ação educativa.
―O estilo das aulas apresentadas pelo professor foge dos padrões e para melhor. A
constante interação entre o professor e a turma proporcionou que os participantes
refletissem com muita propriedade sobre os temas. A atenção do conteúdo das
aulas foi muito grande.‖
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A fala, através das manifestações a seguir, fortalece o exposto:
Construtivismo em Resumo
Até aqui olhamos para o profissional da educação que, convicto de ideais libertários,
prega e age consoante suas convicções. Não lhe pode bastar, porém, seu ideário se
houver a passividade daqueles com quem pretende se comunicar por meio do
processo educacional.
Administração e Educação
Esse palco, como no teatro, pode ocorrer em espaço aberto sem arquitetura
sofisticada, não dispensando, porém, definição de papéis, direção, correção de
desvios e inadequações, iluminação e transparência de atuação, scripts criativos e
inovadores e, contundentemente, interação com públicos, clientes e usuários.
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manutenção de valores que, alicerçados no bem comum, assegurarão participação e
liberdade na vida social.
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Gestão Libertária e Gestão Opressora
Com base nisso, tomemos como exemplo o crescente interesse pelo que se tem
denominado universidade/educação corporativa, como instrumento capaz de formar
indivíduos aptos a intervir em sua realidade de trabalho. Tal interesse tem se
justificado a partir da própria crítica ao sistema universitário existente.
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Esse sistema de ensino visa reforçar valores das elites corporativas de forma a
extrair maior produtividade de seus colaboradores, visando unicamente ao lucro,
como assim o fizeram quando da aplicação das teorias das escolas
comportamentais e de relações humanas [Morgan (1996)]. Assim, amplia-se a
alienação impedindo-os de serem sujeitos de sua própria história [Sartre (1997)].
O mesmo tem ocorrido nas universidades públicas ou particulares. Isso, porém, não
constitui barreira às práticas educacionais libertária, desde que venham a
predominar no processo educacional, nas relações educador-educando dentro e fora
dos espaços formais de aula, e nos valores inerentes à condição humana: liberdade,
solidariedade e autonomia.
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antidiscriminatória em todos os sentidos. A educação libertária deve ser entendida a
partir do desejo de solidariedade em todos os seres humanos, já que qualquer tipo
de preconceito e diferenciação no processo educacional acentua a falta de
liberdade, solidariedade entre os membros da sociedade e, conseqüentemente,
dentro das organizações.
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É importante frisar que o modelo aqui proposto poderá correr o risco, como tantos
outros, de ser implementado de modo mecanicista. Para que isso não ocorra,
múltiplos atores do processo educacional e de gestão terão de construir e preservar
continuamente valores essenciais ao ser humano. Assim, assegurando o essencial
do humano do ser.
O Caso da SME
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e de acordo com a ótica de seus idealizadores, não é compartilhada pelos que
atuam na ponta do sistema.
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predominantemente autoritária da sociedade brasileira, fruto das poucas
experiências democráticas vividas pela sociedade, mesmo em unidades escolares
onde já se instala processo eleitoral democrático, nas quais ainda se observam
comportamentos semelhantes aos do processo eleitoral brasileiro.
ecem da
ausência de autonomia financeira, administrativa e até mesmo pedagógica.
ísicas de trabalho.
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que qualquer modelo previamente construído representa algum reducionismo no
universo de variáveis que compõem a organização.
Neste trabalho, o óbvio torna-se ainda mais óbvio: mais difícil que construir o
presente é desconstruir o passado. Perpetua-se a indagação: Por que essa
dificuldade? Que múltiplas causas levam a esse obstáculo? Que estratégias têm
sido utilizadas para superá-la?
Ainda mais, e quiçá, principalmente, não é ele quem se comunica com seus
subordinados, dando-lhes ordens sem se aperceber da importância do impacto ao
fazê-lo ou ao contrário orientando-os e influenciando-os em seu crescimento
profissional e pessoal? Por tudo isso, não há como se dissociar a administração da
educação.
Torna-se, porém, muito difícil ir além dessa compreensão porque o cognitivo não
basta ao educador e ao gestor para transformar sociedades, comunidades e o
coletivo. É preciso ir além das convergências.
REFERËNCIAS
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PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.
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Educação & Sociedade
Print version ISSN 0101-7330
doi: 10.1590/S0101-73301999000300012
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Leda Scheibe
**
Márcia Ângela Aguiar
Introdução
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O quadro a destacar inicialmente é o da reconfiguração mais geral da educação
superior brasileira, no qual se encontra em curso uma reforma que se efetiva de
modo bastante fragmentário, por meio de múltiplos instrumentos legais, como leis
ordinárias, decretos, emendas constitucionais e mesmo medidas provisórias. Reis
Silva Jr. e Sguissardi (1999) apontam como principais agentes desse movimento,
entre outros, os seguintes: o Estado – especialmente o Poder Executivo, na figura
dos Ministérios da Administração Federal e da Reforma do Estado (Mare) da
Educação e Cultura (MEC) –, a Associação Brasileira das Mantenedoras (Abmes), a
Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), a Associação Brasileira
das Universidades Comunitárias (Abruc), o Conselho dos Reitores da Universidades
Brasileiras (Crub), a Associação de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino
Superior (Andifes) e a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior
(Andes). Esses autores destacam, no entanto, que as alterações formuladas no
âmbito do governo tendem a seguir as orientações de organismos multilaterais,
como é o caso do Bird/Banco Mundial, do que de se pautar por amplas discussões
com os segmentos envolvidos no processo. Diante da iniciativa hegemônica oficial,
as entidades da sociedade civil que representam segmentos da educação superior
brasileira com interesses diferenciados, e muitas vezes inclusive antagônicos entre
si, encontram-se, portanto, em "posição mais reativa do que propositiva" (p. 34).
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disciplinas de conteúdo, com duração de três anos. Formava-se então o bacharel
nos primeiros três anos do curso e, posteriormente, após concluído o curso de
didática, conferia-se-lhe o diploma de licenciado no grupo de disciplinas que
compunham o curso de bacharelado.
Apesar de alguns retoques feitos na sua estrutura em 1962, esse quadro do curso
de pedagogia perdurou até 1969, quando este foi reorganizado, sendo então abolida
a distinção entre bacharelado e licenciatura, e criadas as "habilitações", cumprindo o
que acabava de determinar a lei no 5540/68. A concepção dicotômica presente no
modelo anterior permaneceu na nova estrutura, assumindo apenas uma feição
diversa: o curso foi dividido em dois blocos distintos e autônomos, desta feita,
colocando de um lado as disciplinas dos chamados fundamentos da educação e, de
outro, as disciplinas das habilitações específicas. O curso de pedagogia passou
então a ser predominantemente formador dos denominados "especialistas" em
educação (supervisor escolar, orientador educacional, administrador escolar,
inspetor escolar, etc.), continuando a ofertar, agora na forma de habilitação, a
licenciatura "Ensino das disciplinas e atividades práticas dos cursos normais", com
possibilidade ainda de uma formação alternativa para a docência nos primeiros anos
do ensino fundamental.
A legislação anteriormente referida fixou que o título único a ser conferido pelo curso
de pedagogia passava a ser o de licenciado, por entender que todos os diplomados
poderiam ser, em princípio, professores do curso normal. O direito ao magistério
primário já se apresentou então como um impasse: "quem pode mais pode também
menos"? Quem prepara o professor primário também pode ser professor desse nível
de ensino? A formação indispensável ao exercício desse magistério não ficava
garantida. Fixaram-se então algumas exigências para a aquisição desse direito.
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O percurso apresentado de forma muito breve é importante para entender o debate
que se aprofundou nas décadas seguintes a respeito da identidade do pedagogo no
Brasil, identidade esta fragmentada por um currículo e por uma profissionalização
insatisfatórios para realizar uma tarefa efetivamente educativa:
Nos debates sobre o curso de pedagogia que vêm ocorrendo desde o final da
década de 1970, uma temática central sempre esteve em foco: a questão da base
comum nacional. Essa expressão foi cunhada pelo Movimento Nacional de
Formação do Educador, e explicitada pela primeira vez no Encontro Nacional para a
"Reformulação dos Cursos de Preparação de Recursos Humanos para a Educação",
realizado em Belo Horizonte, em novembro de 1983, 1 justo no momento em que as
forças sociais empenhadas na luta pela redemocratização do país estavam se
organizando em todos os campos, inclusive no campo educacional. Aliás, é bom
lembrar que, após as eleições de 1982, alargava-se o anseio por participação entre
os educadores, e diversas experiências de participação passaram a ocorrer em
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vários estados e municípios, a exemplo do I Congresso Mineiro de Educação, do I
Encontro de Professores de Primeiro Grau do Estado do Rio de Janeiro e do Fórum
de Educação do Estado de São Paulo. No plano nacional, os educadores
engajavam-se na luta pela reformulação do curso de pedagogia e das licenciaturas,
contrapondo-se à imposição de reformas definidas nas instâncias oficiais.
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Registre-se que nessa mesa-redonda foi pela primeira vez expresso esse princípio
norteador da formação do educador através da Conarcfe, tendo sido objeto da
seguinte manifestação:
Essa questão foi retomada na primeira avaliação pública feita pela Conarfce
concernente ao movimento, durante a 36a Reunião da SBPC, em 1994, ocasião em
que se apontavam os diversos entendimentos sobre a base comum nacional:
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a sua avaliação, já que a base comum é construída durante o processo tendo,
portanto, caráter histórico e evolutivo.
b) A base comum seria considerada como uma diretriz que envolve uma concepção
básica de formação do educador e que se concretiza através da definição de um
corpo de conhecimento fundamental. Essa concepção básica de formação do
educador deve traduzir uma visão de homem situado historicamente, uma
concepção de educador comprometido com a realidade do seu tempo e com o
projeto de uma sociedade justa e democrática.
Nesse movimento nacional sempre esteve presente a idéia de que não seria
possível reformular os cursos de pedagogia independentemente das licenciaturas, e
que tal reformulação implicava profunda mudança no próprio sistema educacional.
Tal compreensão levou o movimento a uma formulação que desde então não só tem
norteado a ação da Anfope, como constitui um fator aglutinador de educadores e
instituições de ensino que se posicionam nessa perspectiva: a defesa de uma
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política global de formação dos profissionais da educação que contemple formação
inicial, carreira, salário e formação continuada.
Com isso, foram dadas as condições para uma nova formatação dos cursos de
licenciatura e de pedagogia, com sérias implicações para a formação qualificada de
professores e demais profissionais da educação. No caso do curso de pedagogia,
rompe-se, na prática, com a visão orgânica da formação docente que vinha sendo
construída no país nas últimas décadas. Acentua-se, por imposição legislativa, a
dicotomia entre a formação para atuar na educação infantil e séries iniciais do
ensino fundamental e a destinada às séries finais desse nível de ensino e do ensino
médio. Impõe-se tal dicotomia no interior do locus de formação dos profissionais da
educação, além de se atribuir aos institutos a prerrogativa da formação dos
professores no setor privado. Com isso, aplaina-se o caminho para o esvaziamento
do curso de pedagogia e para o sucesso das propostas que visam dele retirar a
base da docência, transformando-o na prática em um bacharelado.
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Em relação às outras licenciaturas, o movimento é similar: interrompem-se as
experiências de formação de professores compartilhadas pelos institutos e
faculdades de educação em curso no país, e forçam-se as instituições de ensino
superior privadas a criar os Institutos Superiores de Educação, caso optem por
oferecer cursos de licenciatura. Essa medida também cerceia as experiências e as
novas propostas de cursos de licenciaturas que estão sendo conduzidas por aquelas
instituições privadas que têm compromisso com a qualidade da formação e com a
cidadania dos estudantes.
Por outro lado, a crítica produzida nos últimos anos bem como as experiências
curriculares implementadas contribuíram decisivamente para a reformulação de
muitos cursos, atualizando-se conteúdos e introduzindo-se novas perspectivas.
Certamente, esse é um dado importante para qualquer avaliação ampliada que se
faça a respeito. Vale também ressaltar que são vários os projetos de novos cursos
de pedagogia encaminhados a SESu/MEC que apresentam componentes
curriculares inovadores e contemporâneos. No entanto, tal tendência, que começou
a se configurar nas propostas de abertura de novos cursos ou mesmo no processo
de reconhecimento, corre o risco de ser descaracterizada por iniciativa do próprio
MEC e do CNE, em decorrência da nova situação criada pelos Institutos Superiores
de Educação e da suspensão da análise dos processos dos cursos de pedagogia
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voltados para a docência. Observadas as conseqüências dessas medidas, verifica-
se que as instituições de ensino superior foram induzidas a apresentar propostas
curriculares que contemplem as antigas habilitações em detrimento da formação
docente, como forma única de obter aprovação de seus cursos nas instâncias
oficiais.
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curricular, as diferentes modalidades podem ser concomitantes, complexificando-se
e verticalizando-se de acordo com o desenvolvimento do curso.
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observada gera problematizações e projetos de pesquisa entendidos como formas
de iniciação à pesquisa educacional.
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Para concluir...
Quais são as forças que é preciso conciliar? Aprovou-se na nova LDB duas
proposições fundamentais para o atual embate: a primeira diz respeito à necessária
formação do professor em nível superior; a segunda refere-se à criação dos cursos
normais superiores. A primeira proposição, sem dúvida, atende a reivindicações do
movimento dos educadores por melhor nível e qualidade na escolarização brasileira.
A segunda proposição baseia-se numa indicação vinculada à distinção inédita
estabelecida para o ensino superior brasileiro, já referenciada nesse texto, quanto à
organização acadêmica desse ensino. O ensino superior estrutura-se
hierarquicamente; vamos conviver com diferentes categorias de ensino superior,
certamente vinculadas à valorização profissional. A formação de professores através
dos Institutos Superiores de Educação e do Curso Normal Superior como curso
fundamental destes Institutos estrutura-se num patamar de menor valorização. À
intenção de melhor qualificação do professor, tornando-a competência do ensino
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superior, acoplou-se a possibilidade de redução desse nível de ensino não apenas
no seu tempo de integralização, mas também nas qualificações para a sua
realização.
Uma posição propositiva, neste momento, deve ser também reativa: é importante
recolocar o papel da universidade na formação dos professores. Entender o curso
de pedagogia desvinculado da formação de professores, num entendimento que
vem sendo assumido por acadêmicos e por representantes do Conselho Nacional de
Educação, é deixar de contemplar a complexidade da história do curso e da
formação de professores no país. A trajetória peculiar que assumiu o curso de
pedagogia no Brasil, como espaço também de formação de professores para a
educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, não apenas tem o papel de
vincular essa formação ao ensino universitário, mas principalmente e ainda o de
superar a dicotomia que desvincula teoria e prática, pensar e fazer, conteúdo e
forma na área do conhecimento e da prática educacional.
Notas:
ABSTRACT: The aim of this paper is to contribute for a better understanding of the
Pedagogy Course present situation, in the realm of the undergraduate teaching level,
and of the difficulties for the implantation of the new curriculum directives for this
Course. Initially, we contextualize the debate concerning the directives, considered
the alterations which are being proposed for the whole level, giving also a brief
history of the Pedagogy Course in Brazil. The process of identity affirmation of the
education professional and the building of the teaching practice as a basic ground for
his formation are followed by some directives, which are indicated by the present
Brazilian historical moment for the formation of the pedagogue.
Bibliografia
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Educação & Sociedade
Print version ISSN 0101-7330
Educ. Soc. vol.20 n.68 Campinas Dec. 1999
doi: 10.1590/S0101-73301999000300004
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de alfabetização, centros de educação infantil, centros de recreação, casas de
infância, entre outras – que convivem neste país continental com profissionais que
dispõem, ainda, de precária formação, com grande contingente de leigos, desnuda a
premência de reformas institucionais e preparo dos profissionais.
Historicamente essa formação vinha sendo ofertada pelos cursos de pedagogia e o
exercício profissional, estendido aos egressos dos cursos de magistério, de nível
médio e a leigos.
As estatísticas demonstram a precariedade da formação profissional nesse nível de
ensino.
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o nível médio não prevê a qualificação dos leigos e estará eliminando de 13% a 18%
dos profissionais de seus postos.
A situação nas creches é mais complicada. O tradicional abandono e descaso, fruto
de uma política de exclusão desses profissionais no campo da educação, reflete-se
no contingente de leigos que não se pode precisar pela falta de estatísticas. Mesmo
nos grandes centros urbanos, a qualificação requerida é, ainda, de ensino
fundamental. Há, certamente, um grande contingente que sequer completou o
ensino fundamental. Que soluções serão adotadas? Expulsá-los do sistema ou
aproveitá-los por meio de programas de qualificação em parceria com organizações
diversas? Infelizmente a desativação precoce do magistério de nível médio parece
indicar a primeira opção.
A formação de profissionais de educação infantil começa a ser discutida, com maior
vigor, neste final de milênio, em virtude das especificações da lei 9394/96, que
propõe em seu artigo 87, § 4o: "Até o final da Década da Educação somente serão
admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em
serviço".
Durante a Década da Educação – de 1997 a 2007 –, políticas de formação
profissional para a educação básica deverão prever a formação dos quadros
docentes em nível superior. Certamente para agilizar essa formação, a mesma lei
cria uma nova modalidade de curso – normal superior – que, no interior dos
Institutos Superiores de Educação, encarregar-se-ia da formação do profissional de
educação infantil.
Regulamentados os Institutos Superiores de Educação, criou-se a polêmica
estampada pelo artigo do jornal O Estado de S. Paulo: "Pedagogia não vai mais
formar professores"3, discutindo o fato de que somente ao normal superior caberia a
formação do profissional de educação infantil. Diante desse quadro algumas
questões serão discutidas:
Devemos adotar um modelo único de formação profissional ou conviver com a
diversidade de propostas no sentido de atender à variabilidade regional?
A qualidade da formação profissional está sendo garantida
concomitantemente à necessidade de expansão dessa formação?
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Há valorização do profissional de educação infantil, com a oferta de uma
carreira que permita sua profissionalização, com ascensão na escolaridade?
Há respeito pelas novas concepções construídas ao longo da constituição do
campo da educação infantil, como o respeito à especificidade da criança de 0 a 6
anos, a integração da educação da criança de 0 a 6 anos ou até 10 anos, a oferta de
competências necessárias ao educador no interior do quadro curricular, além da
premência em romper práticas tradicionais que separam a teoria da prática?
A vocação pedagógica do curso de pedagogia aliada à formação docente é
um fenômeno recente ou surge desde sua origem atendendo à formação do
profissional de educação infantil em nível superior?
Diante da situação criada pela LDB, com os cursos normais superiores
convivendo com a pedagogia, que perspectivas temos para a formação do
profissional de educação infantil em nível superior?
Tais questões merecerão destaque nos subtemas:
1. curso de pedagogia e seu projeto pedagógico de formação do professor;
2. a formação do professor de educação infantil no curso normal superior;
3. política de formação do profissional de educação infantil em nível superior.
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séries iniciais e educação infantil no interior dos cursos de pedagogia. Essa ótica
tem sido utilizada para justificar a formação profissional para educação infantil nas
últimas décadas.
Os dados estatísticos sobre os cursos de formação profissional, em nível superior,
colhidos no MEC/SESu/Cosin/Dain,5 trazem outros elementos que referendam a
vocação histórica do curso de pedagogia que, desde os anos 30, forma professores
de educação infantil (pré-escola), como se pode observar pelo quadro 1.
Quadro 1
Habilitação em educação pré-escolar em Instituições de Ensino
Superior
Desde os anos 30, duas universidades já ofereciam cursos em nível superior para
profissionais de educação infantil: a Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a
licenciatura em educação pré-escolar em 1931, e a Universidade Federal do Paraná,
em 1938.6
Que razões teriam levado duas instituições públicas a instalar cursos, em nível
superior, destinados a formar professores de educação infantil? Qual o projeto
pedagógico que as orientava?
A aspiração pela formação de professores em nível superior é antiga, pois desde a
proclamação da República, a lei estadual no 88 previa a criação, junto à Escola
Normal da capital, em São Paulo, de um curso superior para formar professores de
escolas normais e ginásios. Entretanto, foi a criação das faculdades de educação,
em 1931, que permitiu a oferta desses cursos. Cabia à Faculdade de Educação a
formação universitária geral, concomitante ao preparo do magistério (Chamlian
1996, p. 132).
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Na Universidade de São Paulo, criada em 1934, em São Paulo, prevaleceu outra
organização, com a instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, um
centro de altos estudos, sem caráter profissional, que dispunha de cursos
profissionalizantes que gravitavam a seu redor. Um deles foi o Instituto de
Educação, instalado em 1933 e incorporado à Universidade de São Paulo em 1934.
Somente em 1938, o Instituto de Educação foi transformado em curso de pedagogia.
A Faculdade de Educação só foi instalada posteriormente (idem, ibid.).
Que razões teriam levado os legisladores do passado a abandonar a estrutura
proposta pelos Institutos Superiores de Educação e normal superior, para a adoção
de cursos de pedagogia, anexos às universidades ou no interior de faculdades de
educação? Certamente, ao integrar o bacharelado à licenciatura, configura-se um
novo modelo de formação profissional, que unifica a formação universitária e
profissionalizante, referendando os cursos de pedagogia no seio das faculdades de
educação.
Biarnès (1998), professor titular de ciências da educação da Universidade Paris-
Norte justifica a necessidade desse modelo de formação que relaciona a cultura
geral à profissional, ou seja, o bacharelado à licenciatura, que propicia diversidade e
construção conjunta de saberes entre especialistas e generalistas. Entende que
dentro de estruturas universais do pensamento somente a multiplicidade de
estratégias de apreensão de saberes, subsidiada pela diversidade do espaço
pedagógico, poderá garantir ações criativas e a qualidade do processo ensino-
aprendizagem. A interdisciplinaridade das ciências da educação, típica da
pedagogia, instala a diversidade necessária ao espaço pedagógico, caracterizando a
ligação indissolúvel entre o aprender e o ensinar, referência que não pode ficar
ausente do processo de formação profissional (Biarnés 1999, p. 323).
A polêmica reforma da formação de professores na França, ao criar os Institutos
Universitários de Formação de Professores (IUFM), estimula governantes brasileiros
a instalar um modelo análogo ao francês na forma dos Institutos Superiores de
Educação e curso normal superior. Cabe destacar que, mesmo criticado, o modelo
francês é superior ao brasileiro, pois permite ao profissional de educação infantil
cursar três anos no interior de uma universidade, para depois encaminhar-se para o
curso profissionalizante (IUFM), por um período de mais dois anos. Entre nós, o
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futuro profissional já ingressa diretamente de seu curso médio para o
profissionalizante (normal superior), sem passar pela universidade, não se
beneficiando da diversidade e da pluralidade de formação que caracteriza a cultura
universitária.
Idéias gestadas e abandonadas no início deste século são recuperadas pela
legislação atual, pela assimilação inadequada de modelos estrangeiros com reflexos
na formação profissional.
O contexto atual é bem diverso dos primeiros tempos da República e requer
propostas de formação diferenciadas de acordo com o público e as condições
presentes. Naquela época, poucas instituições ofereciam cursos para crianças
pequenas. O jardim-de-infância anexo à Escola Normal Caetano de Campos, em
São Paulo, criado em 1896 como escola-modelo destinada ao estágio, permaneceu
modelo de si própria pelo menos durante três décadas pela inexistência de similares
(Kishimoto 1988). Nas duas décadas posteriores, instituições públicas e particulares
asseguram a formação profissional em nível superior.
A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul instala em Porto Alegre a
licenciatura em educação pré-escolar, em 1942. Nos anos 50 surgem seis cursos
similares: Universidade da Região da Campanha em Bagé, RS (1958) e em Santana
do Livramento (1958), Universidade de Sorocaba, SP (1955) e Universidade do
Sagrado Coração de Bauru, SP (1954), tendo uma única pública, a Universidade
Estadual Mesquita Filho – Unesp de Marília (1959).
O aumento dos cursos de formação profissional acompanha a precária expansão da
rede de escolas infantis. Nos anos 50, no estado de São Paulo, as 500 pré-escolas
existentes eram fiscalizadas por um serviço pré-primário que não tinha estatuto
oficial, composto por um grupo de professores emprestados de outros setores. Nos
anos 60, dobra a oferta de cursos, tendo o governo federal e a iniciativa particular na
vanguarda.
A década de 1970 alimenta a discussão ancorada na ideologia da privação cultural,
da municipalização da educação infantil, e o setor de educação infantil passa a
contar com serviços de controle e fiscalização nas três esferas: federal, estadual e
municipal. Esse clima pressiona a formação de profissionais, contribuindo para o
aumento no número de cursos, com grande participação da iniciativa privada.
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A explosão das escolas de nível superior mantidas pela iniciativa particular inicia-se
nessa década, repercutindo na oferta de 10 cursos destinados à educação pré-
escolar. Os anos 80, a "década perdida", sofrem os efeitos das dificuldades
financeiras do país, com intensa recessão econômica, e arrefece a criação de
cursos pela iniciativa particular. O setor público, notadamente o estadual e o federal,
continua a aumentar a oferta. O crescimento é retomado na década seguinte, com
15 novos cursos sob a responsabilidade de setores privados.
O crescimento significativo na instalação de cursos por parte das universidades
federais, à semelhança das estaduais, perde o vigor nos anos 90. A política de
sucateamento das instituições federais e o crescente número de aposentadorias no
seio de uma política neoliberal que vem privatizando os serviços públicos
certamente constituem fatores que explicam o esvaziamento de instituições públicas
e sua incapacidade para manter e gerir novos cursos.
Se é interessante verificar a longevidade dos cursos de formação para a educação
infantil, na pedagogia, é extraordinário verificar a presença da habilitação integrada
de educação infantil e séries iniciais já nos anos 50. O quadro 2 registra sua
presença ao longo das décadas.
Quadro 2
Habilitação pré-escola à 4ª série do Ensino Fundamental em
Instituições de Ensino Superior
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infância (3 a 6 anos), escolas maternais (2 a 3 anos), classes pré-escolares (6 anos)
anexas a grupos escolares e também nas creches (0 a 6 ou até 10 anos ou mais).
Nessa época, embora com justificativas que precisam ser mais bem investigadas e
com projetos pedagógicos desconhecidos, já tínhamos o profissional destinado a
atuar na faixa etária de 4 a 10 anos.
As pioneiras a oferecer formação em nível superior para a faixa etária de 4 a 10
anos foram as instituições particulares: Universidades Católicas do Paraná (1952) e
de Pelotas (1956), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul, de Ijuí (1957); Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul, de Ijuí (1973), Universidade da Região de Campanha, RS (1974) e Universidade
da Amazônia (1980). Entre as públicas, destacam-se a Universidade Estadual de
Ponta Grossa, PR (1962) e Universidade Federal de Brasília, DF (1962).
É necessário investigar as razões aventadas para a criação desses cursos para
formar profissionais de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, em
nível superior, nessas localidades desde os anos 50.
O substancial avanço na instalação dessa nova modalidade de curso ocorre na
década de 1990, sendo conduzido pelas universidades municipais (11), seguidas
pelas particulares (5), depois a estadual (3) e, por último, a federal (1). Nessa
década foram criados 20 cursos desse tipo, de um total de 34. Um terço dos novos
cursos ficou sob a responsabilidade dos municípios, demonstrando que a
municipalização da educação infantil e do ensino fundamental, processo
amplamente divulgado no Brasil, incluiu, também, a formação desses profissionais.
Certamente, as experiências de países nórdicos – nos quais o desenvolvimento
infantil, a socialização da criança pequena e as múltiplas relações propiciadas pela
diversidade de faixas etárias integram o cuidar e o educar – constituem outros
fatores estimulantes para a instalação de tais cursos.
A evolução, ao longo desses 60 anos, dos cursos de formação de professores de
pré-escola e habilitação integrada de pré-escola a séries iniciais pode ser sintetizada
no quadro 3:
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Quadro 3
Total de cursos de pedagogia com licenciatura em educação infantil
Até hoje, foram criados 113 cursos de formação de professores de educação infantil.
Nota-se o substancial crescimento dos anos 90, com 41 cursos, ou seja, um terço do
total. Ao longo das décadas, coube à iniciativa privada a oferta de maior quantidade
de cursos (60). Entre as oficiais, nota-se atualmente o vigor das instituições
municipais, com 12 cursos novos.
É preciso destacar que esse levantamento não é completo, requer
complementações, pois o ano de 1999 ainda está em curso e não consta, no banco
de dados utilizado, a nova proposta de formação profissional para a faixa etária de 0
a 10 anos (educação infantil a séries iniciais do ensino fundamental), já em vigor,
desde 1999, no curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo.
A listagem de cursos do Banco de Dados utilizado menciona sempre licenciatura em
magistério do pré-escolar à 4a série do 1o grau, indicando que a faixa etária de 0 a 3
anos ficou marginalizada nesse processo de formação profissional, em analogia às
creches que só recentemente foram incorporadas ao setor da educação.
A discussão que acompanha a pedagogia desde os anos 60, que insiste na falta de
identidade do curso, desconhece suas raízes voltadas para a formação docente.
O modelo pedagógico e institucional que integra o bacharelado e a licenciatura pode
ser visto desde as origens da instalação desses cursos. As universidades federais e
estaduais, desde os anos 30, formavam de modo integrado o licenciado para atuar
em alguma modalidade de magistério juntamente com atividades de gestão escolar,
como administração escolar, supervisão escolar e orientação educacional.
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Desde 11/4/1931, a Universidade Federal do Rio de Janeiro oferecia as licenciaturas
em pré-escola, magistério das matérias pedagógicas do 2 o grau, juntamente com
orientação educacional, supervisão escolar de 1o e 2o graus, e administração escolar
de 1o e 2o graus.
A Universidade de São Paulo oferecia, em 25/1/1934, as licenciaturas em magistério
das matérias pedagógicas do 2o grau e em educação especial, juntamente com
orientação educacional de 1o e 2o graus, administração escolar de 1o e 2o graus e
supervisão escolar de 1o e 2o graus.
É essa perspectiva que caracteriza o projeto pedagógico do curso de pedagogia,
que integra a licenciatura e o bacharelado e define o perfil do pedagogo voltado para
ações docentes e outras atividades inerentes ao trabalho pedagógico.
Não se pode dizer que o curso de pedagogia não tem uma identidade. Essa
identidade que assegura a formação docente paralelamente às outras funções do
campo pedagógico foi construída desde sua origem e reafirmada hoje pelas
Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia, de maio de 1999. A própria LDB, no
artigo 67, parágrafo único, referenda esse pressuposto: "A experiência docente é
pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras funções de magistério,
nos termos das normas de cada sistema de ensino". A legislação em vigor
estabelece que a experiência docente é pré-requisito para qualquer função no
magistério, ou seja, sem a experiência docente nenhum especialista em educação
pode exercer sua profissão.
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curso pelo Conselho Nacional de Educação ocorreu em 10/8/99 e sua homologação
em 10/9/99.
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O tempo de duração do curso, somado à pouca exigência na contratação do corpo
docente, geram conseqüências de várias naturezas: preconceitos, baixos salários,
baixa identidade do profissional, poucas expectativas de profissionalização, entre
outras.
Hoje, a educação infantil luta para garantir um processo de profissionalização que
respeite o acesso ao ensino superior e seu gradual aperfeiçoamento, em cursos de
especialização e pós-graduação. Ora, o normal superior, análogo às licenciaturas
curtas, dificulta o acesso a outros patamares de escolaridade superior.
O curso Normal Superior também não respeita as conquistas efetuadas pelo avanço
das discussões no campo da educação infantil: não separar as crianças de 0 a 6
anos em períodos distintos: creches e pré-escolas, tradição instalada em nosso país
e que estimula práticas antigas de fragmentar o cuidar e o educar. Esse pecado é
cometido também pela lei 9394/96. O que a Constituição de 1988 conquistou ao
referendar a educação da criança de 0 a 6 anos, a lei 9394 anulou, ao separar
creche de pré-escola. O normal superior referenda essa fragmentação, adotando a
prática dos tempos passados.
A continuidade da educação e da integração das crianças de diferentes faixas
etárias são requisitos hoje vistos como fundamentais para o desenvolvimento da
criança. As múltiplas relações que podem ser estabelecidas em ambientes
educativos nos quais convivem crianças de faixas etárias diversas, juntamente com
profissionais de várias áreas, além de pais e membros da comunidade, constituem
portas de entrada para a construção do conhecimento que se processa quando se
respeita a diversidade social e cultural, a multiplicidade de manifestações da
inteligência e a riqueza dos contatos com personagens e situações. Ao respeitar tais
pressupostos, a escola infantil do norte da Itália, na região pobre da Reggio Emilia,
recebe o título de melhor escola do mundo.
No que se refere à segunda justificativa, a separação teoria e prática parece bem
situada, pois os cursos vigentes estão tentando superar essa fragmentação. O que
chama a atenção é o aproveitamento das 800 horas de prática de ensino no trabalho
do aluno. Ora, se a unidade formadora não dispõe de um projeto de prática de
ensino que integre escolas da rede aos trabalhos acadêmicos, em convênios com
escolas previamente definidas e com acompanhamento, mais uma vez estamos
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minando o sistema de formação teórico-prática dos alunos. Se todo aluno faz a
prática de ensino na própria escola para aproveitar as horas que a lei oferece,
instalamos, mais uma vez, a caótica situação do individualismo, do espontaneísmo e
da prática abandonada. Torna-se inviável acompanhar cada aluno em sua
respectiva escola, em locais diferentes, com perspectivas distintas de trabalho.
Para viabilizar um sistema que integre teoria à prática é preciso delimitar escolas,
prazos, tipos de práticas e formas de envolvimento de ambos os lados: instituição
formadora e escolas que acolhem os alunos. É preciso firmar esse vínculo em torno
da discussão e da condução do projeto pedagógico da instituição que oferece o
espaço para o estágio. Dessa forma, configura-se a parceira, um fluxo de duas
mãos, no qual ganham a instituição formadora e a escola que recebe os estagiários,
tornando possível o acompanhamento dos alunos e sua supervisão. Essa prática só
será possível quando a unidade formadora dispuser de um grande contingente de
docentes em tempo integral. Sabemos que a tradição da maioria das instituições de
ensino superior particular é, ainda, o contrato de horistas.
Somente o envolvimento dos docentes da unidade formadora nas questões
institucionais, na discussão do projeto pedagógico da escola qualifica o trabalho
realizado e propicia melhores condições para a formação do aluno.
Outro aspecto que inquieta é a separação entre a formação profissional e a
universitária. O curso normal superior fora do contexto universitário deixa de
oferecer a diversidade, essencial para a formação docente, não se beneficia do
caldo cultural propiciado pelas reflexões sobre as ciências da educação aliadas ao
tratamento dos conteúdos, em um espaço que se torna pedagógico, transformando-
se em campo fértil de flexibilidade, ações criativas e estratégias de aprendizagem.
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alegre e que goste de crianças", e a idéia de que não há necessidade de muitas
especificações para instalar escolas infantis para os pequenos. Essa parece ser
também a forma de pensar que reina entre membros do atual Conselho Nacional de
Educação, refletida nas propostas oficiais que se distanciam de uma formação
profissional qualificada.
A educação infantil foi inserida na educação básica, portanto, seus profissionais
requerem o mesmo tratamento dos outros que nela atuam. É preciso eliminar
preconceitos arraigados da tradição brasileira, como o de que o profissional que atua
com crianças de 0 a 6 anos não requer preparo acurado equivalente ao de seus
pares de outros níveis escolares, o que demonstra o desconhecimento da natureza
humana e de sua complexidade, especialmente do potencial de desenvolvimento da
faixa etária de 0 a 6 anos.
Pensar em uma política de formação profissional para a educação infantil requer,
antes de tudo, a garantia de um processo democrático que permita a ascensão na
escolaridade, em todos os níveis, e a valorização dessa formação no patamar de
outros cursos. Portanto, é preciso pensar também nos leigos, não expulsar os
recursos humanos que atuam no sistema.
A diversidade brasileira requer propostas que atendam às especificidades do país.
Se o contexto social requer uma formação mais ágil para essa faixa etária, uma
política de formação profissional deve estimular o convívio de propostas diferentes,
sem que a faina da quantidade obscureça a qualidade dessa formação, sem que a
discriminação anule a identidade do profissional.
Notas
1. Sinopse Estatística da Educação Básica. Censo escolar 98/Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisa Educacionais. Brasília: O Instituto, 1999, p. 96.
2. Id., ibid., p. 98.
3. Entrevista concedida pelo conselheiro Francisco Aparecido Cordão ao jornal O
Estado de S. Paulo, de 10 de agosto de 1999.
4. Ver sobre a questão Bissolli 1999, que destaca as principais questões
relacionadas à identidade do curso e contém ampla bibliografia sobre o tema.
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5. O Banco de Dados MEC/SESu/Consin/Dain, de cadastro de instituições de ensino
superior que oferecem curso de pedagogia, de agosto de 1999, contém informações
sobre as IES, endereços, mantenedoras, localidade dos cursos (estados e
municípios), tipo de licenciatura (plena, com habilitações), data de funcionamento,
credenciamento, entre outras. Para o presente trabalho foram selecionadas as
informações pertinentes à educação infantil.
6. Ver a listagem de instituições de ensino superior no anexo.
7. Parecer 115/99 – Diretrizes Gerais para os Institutos Superiores de Educação.
8. Padrões de qualidade para qualificação docente:
conceito A = (excelente) mínimo de 50% de doutores ou mestres;
conceito B = (bom) mínimo de 40% de doutores ou mestres;
conceito C = (regular) mínimo de 20% de doutores ou mestres ou 30% de
especialistas;
conceito D = (insuficiente) abaixo do índice do conceito anterior ou sem indicação.
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Anexo**
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* Essas insituições aparecem duas vezes na listagem, com as
mesmas informações. Foi eliminada a repetição.
REFERËNCIAS
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BRASIL/MEC/CNE. Parecer CP 115/99, aprovado em 10/08/99, sobre Diretrizes
Gerais para os Institutos Superiores de Educação. [ Links ]
Nora Krawczyk**
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propostas de reforma da gestão escolar foi pautada pelo questionamento que fazem
à democracia, ao centralismo, à qualidade do ensino e ao papel dos professores e
dos outros atores educativos.
Palavras-chave: Reforma educativa, gestão escolar, governabilidade
Introdução
Desde o início da década de 1980 o tema da gestão da escola e sua autonomia vem
ganhando destaque merecido nos debates políticos e pedagógicos sobre a escola
pública. No quadro da luta pela construção de uma sociedade democrática, uma das
grandes vitórias das escolas no campo político-educativo foi a conquista da
liberdade de ação e de decisão em relação aos órgãos superiores da administração
e a maior participação da comunidade escolar nos espaços de poder da escola, por
meio de instâncias como os conselhos de escola.
No decorrer da década de 1980 aprofundou-se o processo de democratização
política da sociedade brasileira e aumentou a pressão para que o diretor revelasse
sua face de educador, chegando-se a questionar a direção da escola por um só
indivíduo. Ao longo desse processo, foi ganhando força a proposta de direção
colegiada, formada por representantes de todos os membros envolvidos no
processo educativo (Warde 1992).
Mas o processo de reconstrução democrática não foi o único nem o primeiro
momento em que o tema da gestão da escola foi ponto relevante no debate político-
educacional. Em décadas anteriores, durante a ditadura militar, quando a escola
pública era dominada, em quase todos os estados e municípios, por estruturas
administrativas centralizadas e burocratizadas, ganhou força a reivindicação dos
educadores pela autonomia escolar vinculada à necessidade de experimentar
alternativas pedagógicas - curriculares e didáticas - que diminuíssem os altos
índices de evasão e repetência na escola primária e a deterioração da qualidade da
escola pública em geral, sujeita a rituais, arcaísmos e burocratismos das medidas
administrativas. Nas décadas de 1950 e 1960, ganhou espaço a idéia da autonomia
escolar e da liberdade dos educadores para rebater a dominância de ações
administrativas e intervenções políticas com projetos alheios à realidade escolar.
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Os argumentos que defendiam a necessidade de uma gestão escolar autônoma
como condição para melhorar a qualidade do ensino supunham, segundo estudos
realizados por Warde, a unidade escolar como o locus dessa melhoria: "é a unidade
escolar que comporta as possibilidades de aperfeiçoamento qualitativo do ensino,
porque é nela que podem ser realizadas experiências pedagógicas alternativas"
(Warde 1992).
Interrompidas essas iniciativas na década de 1970, os sistemas de ensino viveram o
apogeu do processo de centralização administrativa, apesar de protegidos pela Lei
no 5.692/71, que propugnava a autonomia da escola e a descentralização
administrativa no âmbito da educação, princípios já registrados na Lei n o 4.024/61.
A partir da década de 1980, como dissemos, a gestão escolar volta à cena do
debate político, mas agora no contexto de reforma do Estado, tendo como um dos
pontos principais a descentralização. Supunha-se, por razões distintas, que as
formas descentralizadas de prestação de serviços públicos seriam mais
democráticas, fortalecendo e consolidando a democracia. Ao mesmo tempo,
elevariam os níveis reais de bem-estar da população. As reformas do Estado nessa
direção seriam, portanto, desejáveis, pois viabilizariam a concretização de idéias
progressistas como eqüidade, justiça social, redução do clientelismo e aumento do
controle social sobre o Estado.
Nos últimos 15 anos, a discussão educacional no continente latino-americano vem
sofrendo deslocamentos importantes na direção do reforço à educação básica e, em
especial, à sua qualidade. As razões disso devem ser buscadas dentro da própria
evolução dos sistemas de educação em nível mundial, nas novas exigências que o
sistema produtivo impõe ao setor educacional e na forma como a discussão
desencadeada nos países centrais, nos últimos 20 anos, reflete-se nos periféricos. É
nesse contexto que, em meados da década de 1980, se apresentaram as novas
tendências relativas especialmente à gestão escolar e às medidas para assegurar a
qualidade do ensino.
As tendências atuais do debate educacional expressam de maneira bem clara a
mudança do cenário socioeconômico dos últimos anos. Nesta última década do
século a educação ganha centralidade por estar diretamente associada ao processo
de reconversão e participação dos diferentes países em uma economia em
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crescente globalização. Nesse quadro, a primazia da qualidade do ensino passou a
integrar a agenda dos políticos como meio para alcançar a competitividade da
produção nacional no mercado mundial e o desenvolvimento de uma cidadania apta
a operar no mundo globalizado.
Essas novas preocupações implicam, entre outras coisas, a proposta de rearticular o
sistema educativo com os sistemas político e produtivo. A globalização dos
mercados e o desenvolvimento de novas tecnologias criaram a necessidade de dar
um novo significado à organização escolar para que a escola seja eficiente e
democrática no processo de formação do novo cidadão, o cidadão da era
globalizada.
Dessa forma, a redefinição do papel do Estado na educação, sem suas funções
dirigistas e centralizadoras, tem buscado, segundo o discurso político-educacional
mais visível, a criação de condições para que as práticas inovadoras não sejam
impedidas ou condenadas ao fracasso pela burocratização nem pela tendência à
rotina do aparelho estatal, ao favorecimento da regulação à distância e ao incentivo
à autonomia e avaliação dos resultados. Uma vez redefinido o papel do Estado, as
políticas educativas devem voltar-se para a gestão institucional responsável - a
descentralização -, a profissionalização e o desempenho dos educadores, o
compromisso financeiro da sociedade com a educação, a capacidade e o esforço
científico-tecnológico e a cooperação regional e internacional.
Segundo essa perspectiva, as mudanças propostas poderiam colocar o sistema
público sob a pressão da competição e encorajar sua reestruturação, diferenciação,
flexibilização e especialização. Essa solução apresenta-se como mais democrática
do que a utilização de recursos para promover a educação formal que, em virtude de
sua ineficiência em termos de aprendizagem real, aprofunda as desigualdades.
No interior do debate político-educacional, intelectuais e políticos críticos alertam
para as inconsistências e suposições do potencial democrático das tendências que o
Estado tem demonstrado neste fim de século em relação à educação e às
conseqüentes implicações dessas tendências nos modelos de gestão escolar em
curso. Nesse sentido, a década de 1990, fase em que a lógica de mercado e seu
caráter de seletividade tendem a ser institucionalizados, omite uma realidade social
na qual a desigualdade está profundamente arraigada. Em contrapartida, gerou-se
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um debate sobre a necessidade de se firmar um acordo amplo entre os vários
setores sociais para que sejam efetuadas reformas estruturais nas instituições
sociais e políticas. No caso da educação pública, isso implica um novo modelo de
gestão que tem como proposta reestruturar o sistema por intermédio da
descentralização financeira e administrativa, dar autonomia às instituições escolares
e responsabilizá-las pelos resultados educativos. A inovação vem acompanhada de
políticas voltadas para a compensação das desigualdades extremas.
Esse embate se expressou, entre outros espaços, nos longos debates entre diversos
setores e entidades da sociedade civil e em negociações com o Congresso Nacional
que antecederam à promulgação, em 1996, da Lei de Diretrizes e Bases, Lei n o
9394/96 - LDB. As mudanças propostas e definidas na legislação acompanham a
tendência hegemônica mundial anteriormente explicitada e destacam três aspectos
principais: descentralização administrativa, participação da sociedade civil e
autonomia crescente dos sistemas e das escolas públicas.
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Mas quando falamos de gestão da escola, não estamos pensando apenas em uma
determinada organização e na racionalização do trabalho escolar para alcançar
determinados resultados, ou seja, na produção institucional da escola (Paro 1997).
Referimo-nos também a uma renovação dos dispositivos de controle que garantam
níveis mais altos de governabilidade. Em outras palavras, estamos nos referindo às
relações de poder no interior do sistema educativo e da instituição escolar e ao
caráter regulador do Estado e da sociedade no âmbito educacional. As expectativas
oficiais em relação às mudanças da gestão do sistema e da instituição escolar, para
o conjunto de estratégias de desenvolvimento e governabilidade social e
educacional, evidenciam as relações contidas na gestão escolar.
Queremos chamar a atenção para o importante papel articulador da gestão escolar
entre as metas e os delineamentos político-educacionais e sua concretização na
atividade escolar. Portanto, é possível pensar a gestão escolar como um espaço
privilegiado de encontro entre o Estado e a sociedade civil na escola.
Assim, é limitado compreender a gestão escolar apenas como responsável pela
realização eficiente dos objetivos institucionais da escola. Sua decomposição em
diferentes âmbitos de atuação, o financeiro, o administrativo e o pedagógico, pode
ser útil do ponto de vista analítico, mas fragmenta o complexo processo dessa
gestão. Corre-se o risco de não visualizar a influência da gestão escolar nos
diferentes aspectos que constituem o cotidiano da escola e a instituição em sua
totalidade.
Há uma vasta literatura que discute a estreiteza da visão economicista da gestão
escolar que a reduz a uma atividade administrativa. Das diferentes perspectivas de
análise, tenta-se resgatar a especificidade da instituição escolar e a necessidade de
entender a gestão escolar com base em seus fins pedagógicos. No campo da
pesquisa sobre a administração escolar - sendo administração definida como a
utilização racional dos recursos para a realização de determinados fins -, destaca-se
a necessidade de fazer penetrar os objetivos pedagógicos nas formas de alcançá-
los.
No campo da sociologia da educação e das análises do cotidiano escolar aparece,
de forma cada vez mais clara, o caráter primordial da trama organizativa da escola -
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tradicionalmente localizada no âmbito administrativo - na gestão pedagógica e nas
condições do trabalho docente (Ezpeleta 1992, Ball 1993).
"Ainda que a distância entre toda norma e sua possibilidade de realização seja
previsível, no devenir cotidiano da escola participam, também, prescrições de
diferentes ordens (no mínimo de origem administrativa, laboral e curricular) que
operam simultaneamente" (Ezpeleta 1992, p. 105). Em outras palavras, as escolas
não são uma continuação natural da ordem normativa na prática, mas realidades
complexas organizadas em torno dessa ordem.
Além disso, a gestão escolar não se esgota no âmbito da escola. Ela está
estreitamente vinculada à gestão do sistema educativo. A instituição escolar, através
de sua prática, "traduz" a norma que define uma modalidade político-institucional a
ser adotada para o trabalho na escola. Essa norma - que afeta a prática escolar e,
ao mesmo tempo, é afetada por ela - faz parte de uma definição político-educativa
mais ampla de organização e financiamento do sistema educativo. Essa perspectiva
de análise nos permite diferenciar, pelo menos, três instâncias na constituição da
gestão escolar: a normativa, as relações e práticas na escola e a gestão escolar
concreta.
Vimos que a posição hegemônica nas reformas educativas em curso nas últimas
décadas, em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, defende o início de uma
mudança radical na maneira de pensar e implementar a gestão dos sistemas
educativos concentrada, principalmente, na instituição escolar e sua autonomia. O
discurso da reforma elege a escola como o espaço central das políticas para
melhorar a qualidade do ensino. A importância outorgada à escola faz referência a
uma identidade institucional como unidade de ensino e trabalho.
Acredita-se que o estreito vínculo entre os objetivos escolares e a produtividade
empresarial faz com que a escola se assemelhe à empresa: os fatores do processo
educativo são vistos como insumos, e a eficiência e as taxas de retorno, como
critérios fundamentais de decisão. O processo educativo e a tarefa do professor
submetem-se cada vez mais à lógica de produção material e de competição do
mercado (Mezomo 1997).
O novo modelo de gestão escolar faz questão de propor a construção de instituições
autônomas com capacidade de tomar decisões, elaborar projetos institucionais
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vinculados às necessidades e aos interesses de sua comunidade, administrar de
forma adequada os recursos materiais e escolher as estratégias que lhe permitam
chegar aos resultados desejados e que, em seguida, serão avaliados pelas
autoridades centrais.1 De fato, o dado mais intrincado da proposta é a avaliação
externa dos resultados por meio de testes, em vez dos mecanismos burocráticos do
sistema, como o mecanismo de integração e unidade do sistema educativo.
A busca da autonomia escolar é fundamentada em duas perspectivas distintas que
expressam problemas diferentes que se pretende solucionar (Tiramonti 1997, Furlán
et al. 1992). A primeira delas recupera a racionalidade proveniente do liberalismo
clássico e associa autonomia com liberdade. Ou seja, a gestão autônoma é aquela
que está isenta da intervenção e do controle do poder político, sendo dirigida pela
consciência individual ou da instituição. A gestão escolar, entendida como sinônimo
de administração de uma organização que persegue determinados fins, associa-se
imediatamente à imagem de uma empresa e evoca a figura do diretor,
principalmente, como gestor do funcionamento da escola.
A segunda é uma perspectiva ecológica cuja idéia de autonomia se constrói como
sinônimo de auto-organização, indissociável da idéia de dependência ecológica do
meio ambiente. Nesse caso, convoca-se a participação coletiva dos diferentes
atores educativos nos processos de planejamento e na avaliação do funcionamento
da escola.
A construção da identidade institucional de cada escola será, então, resultado da
organização autônoma do corpo burocrático estreitamente vinculado aos interesses
da comunidade. Por exemplo, ao discutir a influência ou não do caráter público ou
privado das instituições de ensino na aprendizagem de alunos dos setores "menos
favorecidos economicamente", Tedesco afirma que o bom desempenho desses
alunos não depende do caráter das instituições, mas da dinâmica delas. Ou seja, da
maior ou menor identidade institucional, associada ao grau de autonomia dos
estabelecimentos para definir os estilos de ação pedagógica (Tedesco 1998). 2
A tendência atual das reformas educativas, que têm na gestão um de seus pilares,
muda a natureza da escola como organização. Uma série de questões próprias do
âmbito da cultura passa a ser formulada e tratada com a mesma teoria e a mesma
metodologia da economia de mercado. A preocupação com a identidade moral e
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cultural passa a ser substituída pelo imperativo da eficácia. Faz-se um tratamento
desse conceito como integrante de um conjunto de questões neutras e técnicas, em
vez de vinculá-lo a interesses concretos (Ball 1993).
Essas reformulações tornam-se ainda mais controvertidas quando se leva em conta
que são produzidas sobre as bases de uma crise estrutural do sistema educativo.
Nas últimas décadas, os sistemas educativos de vários países sofreram um excesso
de burocratização e rotinização da prática escolar e deixaram de responder às
demandas sociais. Inversamente à educação formal, os meios de comunicação de
massa e as instituições de formação particulares ganham prestígio cada vez maior
como portadores de conteúdos significativos para a socialização.
É possível que a instituição escolar venha a ser uma "empresa escolar" e o sistema
educativo, uma rede de escolas. Nesse caso, temos de estar cientes do processo de
transformação da identidade institucional da escola que atinge também seu caráter
público e democrático. Pesquisas sobre as reformas educacionais feitas em vários
países indicam uma tendência à fragmentação do sistema educativo decorrente das
políticas de gestão em curso, sustentadas pelos conceitos de autonomia,
descentralização, flexibilidade, individualização, poder local etc. (Frigotto 1995,
Pereyra et al. 1996).
A construção de uma nova institucionalização democrática da escola não se perfila
como desafio ao novo modelo hegemônico de gestão educacional. Pelo contrário,
seu desafio define-se como a construção de uma nova governabilidade - entendida
de forma instrumental e, portanto, com um conteúdo eminentemente normativo e
pragmático (Fiori 1995) -, no interior do sistema educativo, e a contribuição da
escola para a governabilidade de toda a sociedade. Os conceitos de
"governabilidade" e "reformas estruturais" são definidos cada vez mais, como diz
Fiori, de forma circular (1995). Ambos passaram a ser categorias estratégicas
destinadas à consolidação de uma nova forma de articulação, ancorada na
demanda, entre o sistema educativo e os sistemas produtivo e político.
A preocupação com a governabilidade e sua associação com modernização e
desenvolvimento econômico substituiu o otimismo desenvolvimentista dos anos 50,
que acreditava na associação necessária e irreversível do desenvolvimento
econômico com a construção democrática dos países em desenvolvimento. 3 "(...) a
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idéia de desenvolvimento político deixa de ter um signo necessariamente positivo e
o foco central das preocupações práticas passa do problema da 'construção
democrática' para o da 'estabilidade política' ou, mais precisamente, da 'preservação
da ordem' ou da 'governabilidade'" (Fiori 1995, p. 158). Sem dúvida, o tema da
gestão escolar no atual debate educativo no Brasil traz à cena diferentes aspectos
das velhas e das novas reivindicações pela autonomia escolar. É melhor supor um
quadro de embate entre as diferentes concepções de educação.
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instituição escolar dentro do sistema educativo; por outro, a organização da
instituição escolar.
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que enquadrem as medidas político-educativas. Nesse sentido, encontramos nesses
municípios as diretrizes gerais e explicativas do conjunto de medidas político-
educativas para o modelo de gestão escolar proposto.
A Secretaria de Educação de Belo Horizonte pretendeu elaborar, através do Projeto
Escola Plural, "as diretrizes gerais da política para toda a rede municipal", definiu
estratégias que introduziram uma nova concepção de educação voltada para a
modificação da cultura escolar e para minimizar comportamentos institucionais que
levem à exclusão das classes populares.
De sua parte, a Secretaria de Educação de Cuiabá teve como objetivo criar uma
nova "cultura escolar e organizacional", baseada nos princípios do modelo de
Qualidade Total. Nessa nova cultura organizacional, o aluno é o centro das atenções
na escola, ou seja, a escola existe para que o aluno aprenda. Portanto, se o aluno
não está aprendendo, certamente o problema está na escola, em seus processos,
organização e funcionamento. É importante que todos os que trabalham na escola -
do vigia ao diretor - saibam que o sucesso do aluno depende da escola e o sucesso
da escola depende das propostas e dos projetos que ela identifica como necessários
para operacionalizar uma proposta pedagógica.
No caso de Itabuna encontramos o projeto Zerando a repetência, apresentado pela
Secretaria de Educação como um projeto articulador da nova concepção educativa,
que propunha, a partir de diferentes ações de capacitação profissional, do
envolvimento da sociedade civil e dos programas educativos, eliminar o problema do
fracasso escolar. Em Porto Alegre, o projeto Escola Cidadã propunha a valorização
da escola como instituição pública, democrática, de direito universal e promotora de
um ensino de qualidade. O projeto desenvolveu-se em três linhas de atuação: a
democratização do acesso ao ensino, a democratização da gestão e a
democratização do conhecimento. Em Recife, o projeto Pedagogia Instituinte
convocou a comunidade escolar e a sociedade para o debate das prioridades e das
ações educativas.
Nessa rápida exposição dos quatro projetos, podemos observar que as propostas de
gestão escolar desses municípios partem de pontos diferentes. As propostas de
Belo Horizonte, Porto Alegre e Cuiabá envolvem claramente uma importante
mudança na cultura escolar. Em Belo Horizonte e Porto Alegre as propostas de
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educação enfatizam a necessidade de um projeto político-educativo para todo o
sistema e identificam o conteúdo desse projeto como um espaço privilegiado para se
repensar a prática pedagógica. Ou seja, as diretrizes gerais político-educativas do
sistema educativo devem orientar os comportamentos institucionais e, portanto, a
democratização da gestão escolar.
Em contrapartida, em Cuiabá, o sucesso da educação - e, portanto, da política
educacional do governo - parece estar sob a responsabilidade dos atores envolvidos
no trabalho escolar e em sua capacidade de gerir adequadamente a instituição.
Nesse caso, a gestão da escola é o elo unificador do conjunto de medidas e de
estratégias político-educativas, ao passo que no caso anterior é a concepção
político-educacional que dá unidade ao conjunto de medidas e estratégias
governamentais.
O projeto de Itabuna é bem menos ambicioso. Propõe a discussão dos princípios e
das práticas educativas a partir do sintoma mais significativo de seu fracasso, ou
seja, a repetência e a discussão das estratégias de solução. Por último, a nova
concepção educacional do projeto de Recife está ancorada na possibilidade de uma
construção coletiva com a sociedade das prioridades educacionais do município.
A leitura dos objetivos da política educacional do período 1993-96, enunciados pelas
respectivas administrações, permitiu-nos observar uma unanimidade no que se
refere à necessidade de investir esforços na universalização do ensino fundamental,
valorizar o magistério e democratizar a gestão escolar. Esses objetivos são
claramente privilegiados na nova LDB; eles fazem parte das diretrizes divulgadas
pelo governo federal e contam com o consenso dos diferentes setores da sociedade.
No entanto, o objetivo de eqüidade no sistema educacional, citado por somente duas
prefeituras da amostra, está quase ausente no discurso político consensual, que
privilegia, apenas, a qualidade do ensino.
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Princípios norteadores da gestão político-educativa dos governos municipais
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Em Recife foi criado um evento anual, a Conferência Municipal de Educação
(Comude), que reunia representantes de escolas e movimentos populares, poder
público e iniciativa privada. Esse evento foi o principal fórum de participação
organizada da população. Houve também outros eventos e reuniões regulares das
lideranças de diferentes regiões político-administrativas da cidade para promover o
envolvimento da população com a educação pública.
Em Cuiabá, um dos princípios que orientaram a ação educativa daquela
administração foi a metodologia de gestão da Qualidade Total. Nesse contexto,
ampliaram-se as funções e os espaços de decisão da escola. As metas educativas e
as ações para alcançá-las foram compromissos dos atores que atuam na escola.
Esta passa a ser responsável pelo que ocorre em seu espaço, não podendo mais
atribuir à Secretaria a responsabilidade pelo fracasso de seus alunos e pelas
dificuldades de administrar o próprio dia-a-dia.
Aqui, o princípio de "experiência de produção coletiva" está intimamente vinculado
ao princípio da participação. Pressupõe-se que a criação de estruturas diretivas
colegiadas, nas diferentes instâncias do sistema educativo, permitam que os
objetivos educacionais propostos pela administração governamental sejam atingidos
mais facilmente.
Outro aspecto importante a se destacar entre os princípios norteadores das
diferentes gestões político-educativas é que o objetivo - de Belo Horizonte, Porto
Alegre e Cuiabá - de definir uma nova concepção de educação para o município
ganha conteúdo, nos dois primeiros casos, no princípio de "sensibilidade pela
formação humana em sua totalidade" e, em Cuiabá, na "filosofia da Qualidade
Total".
Tanto a proposta de Belo Horizonte quanto a de Porto Alegre estão voltadas para
que a escola se sintonize com a pluralidade sociocultural dos alunos. Por isso
defendem que a escola transcenda os limites dos conteúdos curriculares e
desenvolva trabalhos interdisciplinares. Nesse sentido, o currículo não se constitui
somente das oportunidades que a escola possa promover, mas também das
vivências que elas venham a oferecer ao educando para ampliar sua visão de
mundo.
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A política educativa da Secretaria de Educação de Cuiabá, baseada na filosofia da
Qualidade Total, teve a intenção de mudar a escola e sua relação com os alunos, os
pais e a comunidade. O princípio básico de tal filosofia é que a escola deve se
organizar e se reestruturar para prestar serviços de qualidade, pois os alunos são
clientes que têm direito a uma escola e a um ensino de qualidade. Se a escola, em
seu conjunto, não estiver consciente de seu papel e não se organizar, não será a
Secretaria que conseguirá mudar sua maneira de agir, sua cultura.
É interessante observar nesta análise que, nos municípios em que foi possível
identificar os princípios norteadores de suas gestões político-educativas,6 alguns
buscaram uma aproximação entre administração central e comunidade e entre
escola e comunidade. Esses princípios foram identificados como participação,
transparência administrativa e consolidação dos órgãos colegiados. Em
contrapartida, somente em Belo Horizonte, Porto Alegre e Cuiabá observamos que a
ação governamental também esteve orientada para a mudança da cultura escolar.
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Colegiado Superior da Secretaria Municipal de Educação. Icapuí, Cuiabá, Jucás,
Iguatu, Porto Alegre, Jaboatão e Ijuí constituíram um Conselho Municipal de
Educação. Em ambos os casos, as atribuições são as mesmas.
Algumas inovações na administração da gestão educacional dos municípios
aconteceram no interior dessas mesmas estruturas. O exemplo mais claro de
reformulação de funções das estruturas já existentes aconteceu em Belo Horizonte,
cujo Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação, antes responsável
pela formação dos professores, passou a assumir também o apoio técnico-
pedagógico às escolas para a elaboração e a implementação dos projetos
pedagógicos. Em Recife, a Secretaria Municipal de Educação reorganizou suas
equipes para reduzir os níveis hierárquicos e as instâncias intermediárias entre a
Secretaria e as escolas. Supervisores e coordenadores passaram a atuar sediados
nas escolas e estiveram diretamente vinculados à Secretaria.
Em todos os municípios pesquisados, a descentralização administrativa e
pedagógica foi vista como um pré-requisito para o sucesso de vários objetivos
propostos pelos respectivos governos. Esta parece ser a expressão de uma gestão
moderna, que procura racionalizar ações e torná-las eficientes, eficazes e de
qualidade. Mas também é comum em quase todos os municípios que são referência
neste estudo uma política de apoio técnico às escolas - especialmente à capacitação
de professores - e de controle da prática escolar - pela elaboração de sistemas de
avaliação das escolas -, centralizada na Secretaria de Educação dos municípios.
Os espaços de assistência e controle escolar das secretarias de Educação dos
municípios em questão apresentaram características bem diferentes, segundo suas
prioridades. No caso de Cuiabá, foi criado o "Escritório de Qualidade Total", que
prestou assistência técnica às escolas na implantação da metodologia de gestão da
Qualidade Total. No município de Jucás, a criação do "agente pedagógico" foi
considerada uma das principais inovações no âmbito educativo. Esse agente foi
definido como "o elo viajante" entre a Secretaria de Educação, as escolas, os
professores e a comunidade. Suas funções estiveram vinculadas ao apoio
profissional a professores, acompanhamento do desempenho dos alunos e
orientação às escolas, distribuição de material didático e aproximação da população
para que os pais fossem incentivados a mandar filhos para a escola e, se
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necessário, ajudá-los a resolver pequenos problemas que poderiam inibir as
crianças de freqüentá-las. Segundo os entrevistados, o agente pedagógico tornou-se
uma figura conhecida e muito querida da população local e das escolas por seu
trabalho na comunidade, com os professores e na escola em geral.
No município de Iguatu foi criado o Núcleo de Ativação Pedagógica (Napi), formado
por supervisores do município e diretores eleitos na rede estadual. Teve como
finalidade acompanhar, dar assessoria pedagógica aos professores e avaliar as
escolas públicas do município. A unificação do trabalho dos supervisores municipais
com as diretorias da rede estadual teve o propósito de integrar as duas redes e, com
o tempo, constituir uma única rede de ensino.
O acompanhamento do comportamento da população escolar foi feito por um
sistema de informação recentemente criado. Esse sistema permitiu manter um
registro mensal atualizado de matrículas, evasões, transferências e desempenho de
cada escola. Um dos motivos da criação desse sistema de informação foi o
Convênio de Municipalização estabelecido entre o município de Iguatu e o governo
do estado do Ceará, que garantiu ao município o custo mensal/aluno de R$15,00,
exigindo, em contrapartida, a aplicação de 30% da arrecadação municipal em
educação e o controle rigoroso de freqüência e desempenho dos alunos.
No município de Porto Alegre, a Secretaria de Educação reorganizou suas equipes
em duas supervisões: a Supervisão de Educação, responsável pela implementação
de programas de formação, pela formação das equipes diretivas e pela promoção de
debates sobre o papel da escola, e a Supervisão Administrativa, responsável pelas
políticas vinculadas às condições de trabalho dos docentes e à contratação de
funcionários para as escolas.
Em Recife, foi observada a presença do Grupo Permanente nas unidades escolares.
Esse grupo, formado pelo supervisor escolar e pelo orientador educacional das
unidades escolares, participou do cotidiano da escola e organizou atividades de
capacitação. Por estarem presentes no dia-a-dia da escola, os membros desse
grupo funcionaram como coordenadores pedagógicos, auxiliando os diretores na
organização e implementação do Projeto Pedagógico.
Encontramos municípios nos quais os recursos são repassados às escolas para que
elas definam suas prioridades, como veremos adiante. Em outros, como os casos de
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Jucás e Itabuna, a prioridade orçamentária das prefeituras é elaborar estratégias
para reter os alunos. No município de Itabuna ocorreram várias ações para melhorar
a aprendizagem dos alunos e diminuir a evasão. Entre as ações implementadas
podemos indicar as classes de aceleração, cursos de férias, classes de reforço,
distribuição de material escolar e transporte gratuito. Vale ainda mencionar a
iniciativa do Projeto Fundação Sítio do Menor Trabalhador, cujo objetivo foi diminuir
a evasão dos alunos, o qual contemplava, entre as estratégias, uma bolsa-auxílio
para a família dos estudantes.
Em Jucás, as principais medidas para reter os alunos foram o estabelecimento de
um padrão mínimo necessário para o funcionamento das escolas e a implementação
do programa de merenda escolar e transporte gratuito para professores e alunos.
Estabeleceu-se também um sistema de premiação aos professores em cuja(s)
classe(s) não houvesse nenhuma evasão de alunos durante todo o ano letivo.
Em Jaboatão a situação é um pouco diferente. A Secretaria de Educação
estabeleceu convênios com as escolas comunitárias de empresas, entidades
religiosas, associações comunitárias e com a rede particular de ensino. Foram 128
convênios que, segundo os depoimentos, permitiram ampliar o atendimento na
escola fundamental.
Em síntese, podemos observar que tanto as inovações que encontramos no âmbito
das administrações centrais dos municípios quanto as atribuições e
responsabilidades da gestão das mesmas seguem a delimitação da competência
das três esferas administrativas da Federação estipuladas pela LDB e a tendência
evidenciada na Lei de mudar o perfil dessas instâncias.
Também é fácil visualizar que em quase todas as experiências citadas os novos
espaços institucionais de assistência e controle escolar têm o propósito de mudar o
perfil tradicional da inspeção escolar para um trabalho coletivo de formação e
execução das políticas educativas que tendam a melhorar a qualidade do ensino e o
rendimento dos alunos.
Outro elemento importante dessas experiências é que o conteúdo das medidas de
apoio e de controle institucional das prefeituras está atrelado às condições exigidas
dos municípios para que tenham direito ao apoio financeiro estadual e federal. Essa
situação se repete na definição das prioridades orçamentárias dos municípios.
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Referimo-nos, especificamente, ao financiamento vinculado à matrícula e ao
aproveitamento do aluno do ensino fundamental.
A esse respeito podemos citar o depoimento sincero de um dos prefeitos
entrevistados quando diz que a política de universalização do ensino é
sistematicamente abalada por restrições orçamentárias. E que as ações para criar
convênios e, principalmente, para formular projetos de municipalização que fossem
contemplados com o apoio financeiro do Estado aliviaram um pouco a situação. Isso
obrigou o controle da permanência das crianças nas escolas por intermédio de um
censo escolar quinzenal, para saber quantos alunos há na escola, o índice de
repetência etc., já que a participação financeira do Estado está definida pelo número
de alunos que freqüenta a escola.
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escolas - professores, diretores e coordenadores - para o intercâmbio de
experiências.
Em Cuiabá, as Oficinas Pedagógicas foram responsáveis por essa articulação,
promovendo reuniões sistemáticas entre diretores, supervisores e professores de
uma ou várias escolas para a elaboração do planejamento. Daí resultaram os planos
de desenvolvimento das escolas que foram submetidos ao debate e à aprovação
dos Conselhos Escolares Comunitários. As redes de ensino de Icapuí e Belo
Horizonte foram organizadas por regiões. As diferentes regionais, juntamente com o
Conselho Municipal, foram espaços privilegiados de discussão da política educativa
e suas estratégias.
As informações disponíveis sobre a relação entre as instituições escolares nesses
municípios não fornecem elementos suficientes para uma análise das diferentes
propostas. Contudo, é possível inferir que o desafio em questão - às vezes para o
governo, outras, para os próprios educadores - é definir estratégias que respeitem e
incentivem a diversidade das escolas e, ao mesmo tempo, consolidem a unidade do
sistema educativo. Nos casos de Iguatu e Cuiabá, por exemplo, o papel da
instituição escolar na consolidação da unidade do sistema educativo foi manter a
ação coletiva interinstitucional. Já em Porto Alegre, Icapuí e Belo Horizonte, o papel
da instituição escolar foi o de se articular com as diferentes esferas da gestão
político-educacional e, desse modo, promover a consolidação da unidade do sistema
educativo.
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Principais características da proposta de gestão escolar
O processo de mudança de gestão escolar está vinculado à política mais ampla dos
municípios de descentralizar a gestão educacional e, portanto, consolidar a
autonomia cada vez maior da instituição escolar. Em todos os municípios estudados,
o argumento das secretarias de Educação para essa mudança foi a necessidade de
diminuir a burocratização dos processos de decisão e aproximar as instituições
escolares dos interesses da comunidade. Em ambos os casos, a tendência é
melhorar a qualidade do ensino fundamental.
Mas a descentralização da gestão escolar apresenta-se com forma e conteúdo
diferentes nos diversos municípios da amostra. Por um lado, existem áreas distintas
nas propostas de cada prefeitura e, por outro, as estratégias de gestão dessas áreas
também variam de acordo com o grau de autonomia pretendido para a instituição
escolar.
Em todos os municípios analisados, salvo Icapuí e Resende, as secretárias de
educação pretenderam descentralizar a gestão pedagógica e administrativa das
escolas. Belo Horizonte, Cuiabá, Iguatu e Porto Alegre propuseram também
descentralizar a gestão financeira. Porto Alegre teve a proposta de gestão escolar
mais complexa, pois atingiu todas as áreas da escola.
O material documentado e os depoimentos indicam que a mudança da gestão
pedagógica das escolas envolveu, em algumas prefeituras, atribuições e
responsabilidades de seus organismos colegiados de gestão na definição dos
aspectos pedagógicos da prática escolar. Mas sua expressão mais clara foi a
exigência de que as escolas elaborassem um projeto pedagógico próprio. Pudemos
observar também que, na maioria das propostas, a elaboração de um projeto
pedagógico significou definir as atividades e metodologias de ensino, estipular o
orçamento necessário e a responsabilidade institucional pela execução do projeto.
No entanto, o alcance da descentralização da gestão pedagógica da escola varia
entre os municípios e está vinculado ao grau de autonomia escolar, tanto na área
pedagógica quanto na financeira.
A proposta da Secretaria de Educação de Cuiabá, por exemplo, teve como
enunciado em suas diretrizes a autonomia escolar, mas uma análise mais minuciosa
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nos permite observar suas características e a margem real de autonomia de suas
escolas: o tema gerador que organizou os conteúdos de ensino foi definido pela
Secretaria e os recursos financeiros que foram repassados às escolas estiveram
vinculados à aprovação dos projetos pela mesma Secretaria. No entanto, recai
exclusivamente sobre a escola a responsabilidade pela execução do projeto e pelo
rendimento dos alunos. Dessa forma, o elemento que define a autonomia das
escolas nas diretrizes da secretaria é, de fato, a condição de gerir os recursos
financeiros repassados diretamente para alcançar os objetivos previamente
estabelecidos pelas autoridades competentes.
Em outros casos, o grau de autonomia escolar é bastante abrangente, incluindo-se a
obrigatoriedade de definir um projeto pedagógico próprio, como em Porto Alegre,
Belo Horizonte e Recife. Na proposta de Porto Alegre, as escolas possuíam
regimentos individualizados que lhes permitiam realizar experiências inéditas e
diferenciadas na rede; em Belo Horizonte, o repasse de recursos financeiros para a
gestão direta das escolas e a elaboração de projetos de trabalho permitiram que
cada escola delineasse seu próprio perfil de atuação.
Como indicamos anteriormente, Porto Alegre é o único município que contemplou a
descentralização da gestão escolar nas áreas curricular, financeira, administrativa e
pedagógica. Trata-se de um projeto bastante complexo que supõe um modo de
organização e trabalho coletivo que inicia com um diagnóstico dos interesses da
comunidade escolar e prossegue com a definição dos princípios de cada área de
conhecimento; a articulação entre ambos permite elaborar uma proposta
pedagógica.
Somente em Porto Alegre e Belo Horizonte a mudança de gestão pedagógica
ultrapassa o âmbito administrativo, incorporando uma determinada concepção de
organização do trabalho pedagógico escolar, articulada com uma proposta curricular
para todo o sistema educativo. No caso de Belo Horizonte, essa articulação fica
ainda mais clara na sua proposta de organização do trabalho dos professores que
veremos mais adiante. Em Recife, encontramos uma proposta menos pretensiosa,
mas que envolveu a universidade no processo de consolidação da gestão escolar
autônoma, no auxílio às escolas para a definição de um perfil próprio.
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Uma gestão pedagógica com ampla margem de autonomia, mas sem uma
articulação clara com um projeto político-educativo para todo o sistema, pode deixar
espaços institucionais "desamparados" e comportamentos não previstos de atuação
da comunidade. Foi o caso do município de Ijuí, cuja autonomia de gestão
pedagógica escolar foi exercida, de fato, pela Igreja local. Um exemplo ilustrativo foi
a resposta das escolas à proposta de que cada instituição definisse seus próprios
temas geradores segundo as características e os interesses da comunidade escolar.
O resultado foi surpreendente; todas as escolas escolheram como tema gerador a
campanha de fraternidade da CNBB.
Na maioria dos municípios citados encontramos mudanças da gestão escolar na
área administrativa, mas foram poucos os casos que registraram mudanças na área
financeira. Nos casos em que as escolas tiveram autonomia financeira - Belo
Horizonte, Cuiabá, Iguatu e Porto Alegre -, a prefeitura repassou os recursos
financeiros estipulados por lei à instituição escolar, e esta, por sua vez, foi
responsável pela gerência do orçamento e pelo êxito ou fracasso do seu projeto
pedagógico.
A análise das propostas dos vários municípios nos permite observar que, além das
características básicas da gestão de recursos públicos, o conteúdo e as
conseqüências da autonomia financeira e administrativa das escolas estão
diretamente vinculados à política de alocação de recursos de cada município. Nesse
sentido, encontramos algumas particularidades interessantes. Por exemplo, dentre
os municípios que adotaram a política de repassar às escolas os recursos públicos,
eles estiveram, em geral, condicionados à apresentação e à aprovação de um
projeto elaborado pela unidade escolar e à prestação de contas do que já havia sido
recebido. Dessa forma, a política de financiamento expressa-se como um sistema de
premiação, no qual os recursos materiais financeiros de cada escola estão atrelados
a seu desempenho.
Uma situação diferente foi encontrada no município de Belo Horizonte, cuja política
de distribuição de recursos públicos privilegiou as escolas de regiões e população
carentes; ou seja, a alocação de recursos foi diretamente proporcional ao grau de
pobreza de cada região e cada escola. A justificativa para essa política, que visou
equilibrar financeiramente as escolas, esteve ancorada no reconhecimento por parte
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das autoridades de que as receitas das escolas variam muito de acordo com a renda
familiar das crianças que as freqüentam.
Isso faz com que as escolas busquem novas fontes de recursos na comunidade,
além do auxílio fornecido pelas APMs. É o caso dos convênios e de parcerias entre
escolas e ONGs, organismos internacionais e organizações comunitárias locais.
Essas organizações comunitárias têm como objetivo ajudar a arrecadar fundos e
subvenções para atividades específicas que possam melhorar o orçamento e os
serviços das escolas.
A nova organização escolar, a partir da descentralização de sua gestão, foi
acompanhada, na maioria dos casos, pela organização coletiva do trabalho do
professor. Por exemplo, no município de Jucás, a organização coletiva do trabalho
do professor previu um planejamento administrativo e pedagógico que envolveu
diretor, professores, representantes de classes e agente pedagógico. A função
principal dessa equipe foi desenvolver o projeto pedagógico da escola.
No caso de Belo Horizonte, a proposta de trabalho coletivo foi mais complexa.
Respondeu a uma organização por ciclos de ensino fundamental e à mudança de
organização e função de supervisão, para uma gestão pedagógica colegiada na
escola articulada com o sistema educativo. A supervisão escolar ou coordenação
pedagógica era composta pelo diretor ou vice-diretor, pelos supervisores e
orientadores do turno e por um professor eleito por seus pares. Essa equipe foi
responsável pela coordenação dos trabalhos e pela articulação com as instâncias da
Secretaria de Educação e do Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da
Educação (Cape).
Em Iguatu, o Núcleo de Ativação Pedagógica (Napi) foi responsável pela
organização e pela articulação do trabalho coletivo dos educadores. Além de prestar
assessoria pedagógica, o Napi reuniu sistematicamente os professores para
planejamento e avaliação conjunta do trabalho. Em Jucás, o planejamento
administrativo e pedagógico foi realizado mensalmente por cada escola, pelo diretor,
pelo agente pedagógico, por todos os professores e por representantes dos alunos
de cada classe.
Por último, gostaríamos de retomar a idéia hoje consensual da necessidade de
romper com o centralismo burocrático e suas conseqüências, que caracterizou a
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gestão nas diferentes instâncias de governo nos últimos 30 anos aproximadamente.
O processo tem sido bastante estudado e debatido no âmbito acadêmico e político.
No entanto, a cultura antiburocratizante que nos últimos anos vem ganhando espaço
nas diferentes instâncias e áreas de governo parece chegar, em alguns casos, às
últimas conseqüências. Foi o caso de Ijuí, cuja prefeitura decidiu não documentar a
política educativa nem seus projetos por recear a burocratização e a cristalização da
prática pedagógica. Segundo os entrevistados, a documentação da prática
pedagógica poderia cristalizá-la e, portanto, impedir o debate e o desenvolvimento
do processo de ensino/aprendizagem que deveria acompanhar as mudanças sociais
e comunitárias. É interessante destacar como o "pânico da burocratização" pode
gerar efeitos perversos como o que acabamos de citar: em nome da
desburocratização, nega-se a construção social e histórica da prática educativa.
Em alguns dos municípios da amostra - Icapuí, Belo Horizonte, Cuiabá, Porto Alegre
e Jaboatão -, as estruturas diretivas das escolas foram afetadas pelo novo modelo
de gestão, na busca da coletivização das responsabilidades e da autonomia
institucional.
Isso significa que a responsabilidade da direção escolar nas mãos de um ou dois
profissionais - diretor e vice-diretor - é agora compartilhada com a comunidade
escolar por meio de um órgão dirigente cujos membros têm poderes idênticos. No
entanto, essa estrutura colegiada de gestão escolar assume diferentes formas,
atribuições e responsabilidades, e envolve diferentes atores em cada um dos
municípios citados.
No município de Icapuí, a estrutura diretiva das escolas esteve organizada na forma
de um conselho que interveio nos aspectos administrativos e pedagógicos e esteve
constituído por pais, professores, diretores, representantes de alunos e da
comunidade.
Em Belo Horizonte, cada escola teve uma coordenação pedagógica responsável
pela coordenação escolar e pelas articulações necessárias com as equipes
regionais, o Cape e a Secretaria da Educação. A Coordenação Pedagógica era
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composta por diretores, supervisores e orientadores de turno ou professores eleitos
por seus pares. No caso de Jaboatão, os depoimentos indicam que a proposta
municipal de organização escolar previu a existência do Conselho Escolar, mas que
este, em geral, só funcionava nos períodos de eleição de diretores.
As escolas de Porto Alegre contavam, além do Conselho Escolar com caráter
deliberativo, com uma equipe diretiva formada pelo diretor, pelo vice-diretor e pela
coordenação pedagógica. Essa equipe articulava as ações da Secretaria com o
Conselho. A equipe diretiva, como organismo mediador entre os segmentos da
escola e entre o Conselho e a Secretaria de Educação, teve muita influência nas
decisões do Conselho. A criação da equipe diretiva visou reforçar a autonomia das
respectivas escolas, atribuindo mais responsabilidades à unidade e promovendo
melhor articulação entre o setores pedagógico e administrativo.
O cargo do diretor manteve-se em todos os casos, mas com estratégias de eleição e
atribuições diferentes. Belo Horizonte, Cuiabá, Iguatu, Porto Alegre, Itabuna,
Jaboatão e Ijuí adotaram como estratégia de democratização da gestão a mudança
do processo de escolha do diretor por sua eleição direta na comunidade escolar.
Outros atores envolvidos na gestão escolar são professores e pais. Em alguns
municípios participam também alunos e membros da comunidade. É bastante
comum hoje em dia falar-se da necessidade de participação dos pais na gestão da
escola. Porém, os argumentos que sustentam essa necessidade são muito
genéricos e confusos.
Nos municípios em que a direção da escola é compartilhada com o Conselho de
Escola, pretendeu-se, em geral, estimular a presença dos pais na gestão
administrativa e pedagógica da instituição. Buscou-se também a participação dos
pais como um mecanismo de fiscalização do cumprimento do serviço educativo. Por
exemplo, em Iguatu promoveram-se encontros com os pais das crianças para
informá-los sobre os critérios de administração da merenda escolar, de modo que
eles pudessem avaliar a qualidade da merenda.
É interessante atentar para as dificuldades que os pais enfrentam para se envolver
na gestão da escola. Os entrevistados do município de Belo Horizonte salientaram a
dificuldade de participar, em particular, da gestão dos assuntos pedagógicos, porque
não se reconhecem como interlocutores instruídos o suficiente para intervir nesse
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tipo de questões. No entanto, na maioria dos casos analisados, a participação dos
pais fica clara quando se trata de acompanhar as atividades escolares dos filhos ou
arrecadar fundos, e pelo interesse manifestado de conhecer o rendimento de seus
filhos.
Os argumentos sobre as dificuldades ou a falta de interesse dos pais em participar
dos assuntos coletivos da escola, comumente usados por professores e diretores,
são bastante temerários e parecem revelar uma visão distorcida da comunidade. As
pesquisas que nos últimos anos têm procurado estudar esse tema tendem a
desmentir que a comunidade não queira participar. E indicam que, além dos fatores
ligados às condições de trabalho e de vida da população, há também uma
resistência da escola a essa participação.7
Numa das pesquisas realizadas por Vítor Paro em escolas públicas de primeiro grau
nota-se que um dos aspectos mais importantes dessa resistência é o fato de que
não existe quase nenhuma identidade da escola pública com os problemas de sua
comunidade. Segundo o autor, a crítica dos membros da comunidade às escolas
analisadas é que a reciprocidade de atuação pode ser sintetizada na pergunta: "Se a
escola não participa da comunidade, por que a comunidade vai participar da
escola?" (Paro 1997).
Por sua parte, o argumento de que a comunidade escolar não participa porque tem
baixa escolaridade - e, portanto, não possui os conhecimentos técnicos necessários
- supõe apenas o aspecto técnico ou profissional da gestão escolar. Esse
pressuposto, muito presente entre professores e pais, desconsidera a natureza
política da participação da comunidade escolar como mecanismo de controle
democrático da atuação do Estado.
A participação dos alunos na gestão da escola, ainda que citada em vários
municípios, não é comentada em quase nenhum dos casos analisados, salvo em
Porto Alegre, onde foi reconhecida como parte do processo de formação do
educando. Esse é um exemplo da importância que a administração central outorga
às experiências escolares que enriqueçam a vivência dos alunos em sua proposta
educativa.
É sabido que não existe instituição democrática sem práticas e comportamentos
democráticos; mas também não existem práticas e comportamentos democráticos
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sem relações sociais democráticas. E a escola, em seu cotidiano, está permeada
pelo autoritarismo de professores, diretor, alunos, funcionários e pais. As relações
autoritárias sustentam-se em condicionantes ideológicos que se expressam em
determinadas concepções e crenças sobre a criança pobre, a escola, a comunidade,
o ensino, a aprendizagem etc. Por isso, é importante que se admitam, que se
explicitem e se reconsiderem esses pressupostos para reformular as relações no
interior da instituição escolar.
A democratização das relações intra-escolares é um tema-chave da gestão escolar,
pois, como demonstram vários estudos sobre o currículo escolar (Sacristán e Péres
Gómez 1994, Apple 1987), a escola educa tanto pela conduta que se expressa nas
relações cotidianas, que é exigida também dos alunos, quanto pela via do conteúdo
formal. Nesse sentido, a gestão escolar como espaço de socialização e os valores
que estão em jogo nesse processo vêm ganhando cada vez mais atenção nos
debates sobre política educativa e estratégias de desenvolvimento.
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Também pudemos observar que, na maioria dos municípios, a comunidade escolar
e outros setores da sociedade participaram de alguma maneira da política educativa
global, ainda que com significados bastante diferentes. Nos municípios de Icapuí e
Recife, a articulação entre a política educacional e a comunidade foi expressa pelo
direito da população de ser informada das ações educativas e, por sua vez, de
controlar a gestão governamental.
Em Icapuí, a comunidade esteve presente no Conselho Municipal através de seus
representantes. Mas também os conselhos comunitários e as associações de
moradores participaram de forma sistemática da gestão das escolas, enviando seus
representantes aos conselhos escolar e municipal e promovendo, dessa forma, a
integração entre escola e comunidade.
A prefeitura de Recife implementou um programa de regionalização do planejamento
educacional e promoveu as Conferências Municipais de Educação (Comudes), para
que a comunidade participasse da formulação das diretrizes básicas do Plano
Municipal de Educação. Prevista na Lei Orgânica Municipal, a Comude realizava-se
uma vez por ano com a participação de pais, alunos, professores, administradores,
funcionários, representantes dos poderes públicos e da iniciativa privada. O
município foi dividido em seis regiões político-administrativas, cujas comunidades e
lideranças locais se reuniam regularmente para definir as propostas que seriam
encaminhadas às Comudes e eleger os delegados regionais que formariam o grupo
gestor do orçamento municipal.
Após a realização da primeira Comude, foram constituídos três grupos de trabalho, o
GT Profissionalização do Magistério, o GT Financiamento da Educação e o GT
Gestão Democrática, que acompanharam a implementação das resoluções tomadas
na conferência.
No município de Ijuí a situação foi diferente. A comunidade local esteve
representada pelas instituições sociais de maior presença para a população, tanto
na definição da política educacional como no próprio cotidiano das escolas. Algumas
instituições desenvolveram trabalhos de assessoria, como a Universidade de Ijuí,
cuja presença se destaca há mais de dez anos na elaboração e na gestão da
política educativa do município. A Federação das Associações de Municípios do Rio
Grande do Sul (Famurs) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação
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(Undime/RS) são instituições que desenvolvem projetos de assessoria na área da
educação e congregam vários municípios nessa ação. Ao mesmo tempo, várias
associações comunitárias utilizaram o espaço físico das escolas para promover
atividades, convertendo-as num ponto de encontro das pessoas do bairro.
Algumas administrações municipais - de Jucás, Itabuna, Icapuí e Recife -
convocaram a mobilização da população e de professores para garantir a freqüência
e a permanência das crianças na escola, como parte das estratégias administrativas
para consolidar a universalização do ensino. Em Recife existiu também uma
Comissão Regional de Educação que reuniu membros do Movimento Popular e da
Comunidade Escolar para discutir temas relacionados à educação em cada bairro.
Encontramos uma situação particular em Porto Alegre, onde o envolvimento da
comunidade na formulação da política educativa do município encontrou canais
institucionais. A própria concepção de Orçamento Participativo exigiu a participação
organizada da comunidade. Um exemplo ilustrativo da força e da legitimidade da
participação da comunidade escolar na gestão institucional foi o processo de
constituição de ciclos numa das escolas da cidade. Os pais e alunos dessa escola
eram favoráveis à implantação da proposta e os professores, contrários. O consenso
entre pais e professores resultou de um prolongado processo de discussão coletiva
e só então a organização curricular em ciclos foi implementada.
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poder público. Isso vale tanto para a gestão do sistema educativo quanto para a da
escola.
A proposta pedagógica identificada como de "Qualidade Total", posta em prática em
Cuiabá, contemplou entre seus princípios um modelo de gestão escolar autônoma
que concebeu a escola como instituição prestadora de serviços que precisa
organizar-se para oferecer um serviço de qualidade. Os alunos são os clientes que
têm direito à escola e ao ensino de qualidade.
Há municípios em que a gestão escolar esteve atrelada ao propósito de universalizar
o ensino e aumentar o tempo de permanência das crianças na escola. Foram os
casos de Jucás e Iguatu, onde pressupunha-se que a participação e a mobilização
de pais e professores na escola ajudasse a "conscientizar os pais da importância da
escola".
Há outros casos em que a capacitação de professores vai além de uma estratégia.
Essa capacitação é, em suas diferentes formas, a base de sustentação de uma
gestão autônoma das instituições escolares; ao mesmo tempo, a qualidade da
autonomia escolar possibilita os caminhos necessários para ter professores bem
formados. Um claro exemplo é a prefeitura de Recife que elaborou mecanismos bem
diversificados de apoio aos professores, contemplando processos coletivos entre os
docentes, processos institucionais de trabalho cuja unidade é a escola e processos
de orientação com professores mais experientes. Essas estratégias cruzam os
novos espaços de gestão escolar.
Em Belo Horizonte, o eixo das mudanças propostas para a gestão escolar foi a
constituição de uma nova cultura escolar, baseada nos princípios da Escola Plural,
que privilegiou a mudança dos comportamentos institucionais, como vimos nos
objetivos da política educacional dos municípios.
Em Itabuna, a política educativa do município esteve formulada no Projeto Zerando
a repetência. Procurou-se entender o fracasso escolar e a repetência como um
fracasso da instituição escolar e não do aluno. As medidas político-educativas da
administração refletiram várias frentes de trabalho nessa direção, entre elas
mudanças na gestão escolar.
Nos pontos anteriores arrolamos as principais características das propostas de
mudança da gestão escolar. No entanto, é possível indicar no conjunto das ações a
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estratégia que, por seu tratamento, aparece como prioritária na implementação da
nova política de gestão escolar.
Nos objetivos da política educacional nos municípios encontramos uma preocupação
de capacitar os profissionais da escola. A mudança na maneira de pensar e agir dos
professores é vista como imprescindível para viabilizar uma gestão escolar mais
democrática e autônoma. Para analisar o perfil dessas mudanças de
comportamento, necessitaríamos fazer um estudo aprofundado dos processos de
capacitação dos professores e da prática escolar cotidiana.8 Mas é possível inferir,
das informações obtidas, que o perfil das mudanças desejadas no comportamento
dos professores difere muito segundo as propostas de gestão escolar em jogo.
Talvez o caso mais claro seja o de Cuiabá, que traçou em suas diretrizes o perfil dos
profissionais que participaram ativamente de uma organização escolar flexível, ágil e
autônoma. Nesse contexto, ainda que a administração municipal reconhecesse a
importância do trabalho com os profissionais da escola, considerava indispensável
uma mudança na atitude do diretor, que lhe permitisse liderar o processo de
mudança institucional e gerir uma escola flexível, ágil e autônoma.
A preocupação da administração de Recife foi bastante original. Considerando
imprescindível para o êxito de uma gestão democrática o bom funcionamento dos
conselhos escolares, elaborou uma estratégia de capacitação permanente dos
conselheiros das escolas, sob a responsabilidade da Secretaria de Educação. Os
entrevistados destacaram o resultado positivo mais evidente dessa estratégia: das
156 escolas municipais, 107 possuem conselhos escolares atuantes.
Icapuí estabeleceu em seu plano de ação o aperfeiçoamento dos processos de
democratização por meio da efetivação das várias instâncias de participação da
comunidade escolar na condução da política educativa do município. São elas: o
Conselho Municipal de Educação, o Conselho de Diretores e Professores
Coordenadores das Escolas e o Conselho Escolar.
A importância que a prefeitura de Porto Alegre outorgou à gestão política
compartilhada com os vários setores sociais já apareceu em vários momentos da
análise; isso representou não só uma das principais estratégias de democratização
da gestão escolar, mas também da administração do município em sua totalidade.
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O município de Jucás escolheu como principal estratégia de mudança da gestão
escolar, bem como para os outros propósitos de sua política educativa, identificar as
carências institucionais e definir o que foi chamado de "mínimo necessário nas
escolas". A partir daí, definiram-se as ações imprescindíveis para responder a tais
necessidades.
Considerações finais
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e no burocratismo das administrações centrais -, mas à redistribuição de
responsabilidades entre os vários órgãos do sistema educativo e a instituição
escolar, colocando a escola no centro de todas as políticas.
Até aqui, vimos como as atribuições da gestão escolar estão divididas entre governo
e escola. E vimos também como esse novo modelo de gestão, que pretende manter
o sistema educativo articulado unicamente por mecanismos de controle, tende, na
realidade, a acarretar políticas de fragmentação do sistema educativo pelo
deslocamento das responsabilidades entre os diferentes órgãos do sistema, a
individualização institucional e o abandono da instituição escolar a seu próprio
destino.
Por isso, diante do novo modelo de gestão escolar e das novas formas de controle
do Estado, a diversidade das propostas estudadas nos alerta para a necessidade de
uma política de gestão escolar voltada para a consolidação de um sistema educativo
articulado entre as proposições da política educativa e sua concretização na
atividade escolar. Só assim será possível aproximar as intenções democratizantes
enunciadas das práticas político-educativas.
Nesse campo podemos salientar alguns aspectos fundamentais que devem ser
levados em conta pela política de consolidação de uma gestão escolar democrática.
Em primeiro lugar, ainda no âmbito normativo, algumas das principais definições
políticas para a democratização da escola são:
o conteúdo das metas e os delineamentos propostos pelos órgãos centrais - a
política educativa;
as estratégias para lidar e superar a heterogeneidade das condições
institucionais e sociais do conjunto das escolas do sistema;
a distribuição das responsabilidades educacionais e dos espaços de poder de
decisão e as expectativas implícitas no conceito de autonomia.
Em segundo lugar, já no âmbito do cotidiano escolar, as propostas de gestão escolar
devem admitir que a organização escolar é marcada por uma pluralidade de
orientações e práticas que dificilmente se esgotam nas disposições formais/legais.
Isso permitiria propor um modelo de gestão que reconheça e, ao mesmo tempo,
contemple um processo de criação e recriação a que ela se submeterá em sua
existência empírica.
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Nesse sentido, também é possível perceber nas propostas analisadas duas
tendências básicas de compreensão da escola como organização que têm
importantes implicações na construção de uma concepção democrática de gestão
escolar.
Uma das tendências é conceber a organização e a gestão escolar com base em
modelos transladados de âmbitos como o da empresa privada e passar a ver a
escola gerida como tal. Assim, com argumentos reducionistas e simplificadores, a
gestão escolar passa a ser sobretudo "administração", porém, não muito "escolar",
sendo apresentada como apolítica, porque faz parte da tecnologia moderna e
racional. Por outro lado, é possível encontrar propostas de gestão escolar que
atingem a análise da organização do trabalho no interior da escola, ou seja, o
processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, as questões pedagógicas passam
a fazer parte da gestão escolar e as questões administrativas são pensadas em
relação a elas, e não o inverso.
Diz uma conhecida estudiosa do cotidiano escolar:
a trama organizativa da escola - essa trama pouco visível e pouco questionada
como "natural" - é um componente essencial da gestão pedagógica. Ainda que
tradicionalmente localizada no campo administrativo, não pode ser pensada como
uma "forma" independente de seu conteúdo, posto que a estruturação e a
conformação institucionais das escolas constituem o primeiro condicionante do
trabalho educativo. Naquilo que ainda se pensa como dimensão estritamente
administrativa há comprometidas opções cuja natureza, para o fazer docente,
adquire a forma de decisões técnico-pedagógicas. (Ezpeleta 1992)
Sem dúvida, a gestão escolar é uma peça fundamental do processo de
transformação educativa. Constitui um espaço de interação com os alunos e o local
onde se constroem as condições objetivas e subjetivas do trabalho docente - ainda
que sob as múltiplas determinações do sistema educacional e da própria sociedade.
As reformas educacionais aqui analisadas apresentam uma forte tendência de
mudança da organização institucional do sistema educativo por meio do
fortalecimento e da autonomia da escola. Mas o propósito de tornar o sistema
educativo menos burocrático e mais dinâmico deve vir acompanhado de uma política
educativa de articulação e unidade do sistema educativo, para não provocar sua
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fragmentação e, assim, legitimar os mecanismos de diferenciação e segmentação
institucional.
Com base nessas reflexões podemos afirmar que, ao pensar a gestão escolar,
estamos necessariamente erguendo uma ponte entre a gestão política, a
administrativa e a pedagógica. Ou seja, a gestão escolar não começa nem termina
nos estabelecimentos escolares, tanto que não se trata de unidades auto-suficientes
para promover uma educação de qualidade com eqüidade.
Notas
1. Os principais delineamentos do novo modelo de gestão na América Latina são
analisados em Tiramonti 1997.
2. Encontramos reflexões no mesmo sentido em Melo 1993.
3. Em Fiori 1995 encontramos uma interessante análise desse processo e dos
diferentes significados que o conceito de "governabilidade" foi ganhando na teoria
política.
4. No momento do estudo, Belo Horizonte, Itabuna, Icapuí e Porto Alegre eram
administrados pelo PT; Cuiabá, Resende e Ijuí, pelo PDT; Jucás e Iguatu, pelo
PSDB; Jaboatão dos Guarapes, pelo PSB; Recife pelo PMDB e Juaguaré, pela
coalizão PMDB-PTB.
5. Os objetivos da política educacional de cada um dos municípios foram levantados
nos relatórios de estudos de casos. Isso não significa que o município não possa ter
outros objetivos dos quais não temos informação.
6. Em todos os municípios, com exceção de Resende, foi possível extrair do
conjunto do material disponível os princípios norteadores da gestão.
7. Veja-se a respeito, por exemplo, Avancine 1990, Malta Campos 1983, Campos
1985, Paro 1997.
8. Ver Cenpec - Formação em Serviço: Guia de apoio às ações do Secretário de
Educação, 1997.
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The School Management: A mined field... Analysis of the Proposals from 11
Brazilian cities.
ABSTRACT:The current tendency of the educational reforms, underway during the
last decades, in several countries all over the world, has the education and school
management as one of their pillars of transformation. The hegemonic position of this
reforms defends the beginning of a radical change in the way the management of
educational systems are thought of and implemented. Thus, one of the main
educational policies in Brazil is the decentralization of both the educational system
and the school. The latter promotes the institutional self-management. Researches
on educational reforms conducted in several countries indicate a tendency of
fragmentation of the educational system as a result of the management policies
being applied, sustained by the concepts of autonomy, decentralization, flexibility,
individualization, local power, etc. Thus, the construction of a new democratic
institutionalization of the school is not taken as a challenge to the new hegemonic
model of educational management. On the contrary, the challenge for this new model
is defined as the construction of a new way of governing - instrumentally understood
and, therefore, seen as having eminently normative and pragmatic contents (Fiori,
1995) - within the educational system and the school contribution for the way of
governing of society as a whole.This article intends to analyze the educational policy
proposals for school management set forth by government of 11 cities from different
areas of Brazil; and to discuss the rationality of these new forms of organization and
management. The analysis of proposals involving the school management reforms
has been guided by the questions they arise about democracy, centralism, teaching
quality and the role of teachers and other agents taking part in the educational
process.
REFERËNCIAS
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* Este artigo é o resultado de um estudo realizado no Cenpec em novembro de
1997 e faz parte do Projeto Gestão e Políticas Públicas, coordenado por Raquel
Brunstain.
** Doutora em Educação. Faculdade de Educação, Unicamp.
Professora no Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: História, Política
e Sociedade, Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP.
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ORIENTAÇÕES PARA BUSCA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS NO
SCIELO.
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Para iniciar sua pesquisa, digite o site do SciELO no campo endereço da
internet e, depois de aberta a página, observe os principais pontos de pesquisa: por
artigos; por periódicos e periódicos por assunto (marcações em círculo).
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Lembre-se de que as palavras-chave dirigirão a pesquisa, portanto, escolha-
as com atenção. Várias podem ser testadas. Quanto mais próximas ao tema
escolhido, mais refinada será sua busca. Por exemplo, se o tema escolhido for
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relacionado à degradação ambiental na cidade de Ipatinga, as palavras-chave
poderiam ser: degradação; ambiental; Ipatinga. Ou algo mais detalhado. Se nada
aparecer, tente outras palavras.
Isso feito, uma nova página aparecerá, com os resultados da pesquisa para
aquelas palavras que você forneceu. Observe o número de referências às palavras
fornecidas e o número de páginas em que elas se encontram (indicado abaixo).
A seguir, estará a lista com os títulos dos artigos encontrados, onde constam:
nome dos autores (Sobrenome, nome), título, nome do periódico, ano de publicação,
volume, número, páginas e número de indexação. Logo abaixo, têm-se as opções
de visualização do resumo do artigo em português/inglês e do artigo na íntegra, em
português. Avalie os títulos e leia o resumo primeiro, para ver se vale à pena ler todo
o artigo.
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Ao abrir o resumo, tem-se o nome dos autores bem evidente, no início da
página (indicado abaixo). No final, tem-se, ainda, a opção de obter o arquivo do
artigo em PDF, que é um tipo de arquivo compactado e, por isso, mais leve, Caso
queria, você pode fazer download e salvá-lo em seu computador.
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sendo proibida a cópia de trechos, sem a devida indicação do nome do autor do
texto original (ver na apostila tipos de citação) e/ou o texto na íntegra. Tais atitudes
podem ser facilmente verificadas por nossos professores, que farão a correção do
artigo.
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