Você está na página 1de 265

as

J. MANUEL NAZARETH
| : J. MANUEL NAZARETH

DEMOGRAFIA
A CIÊNCIA DA POPULAÇÃO

nd EDITORIAL PRESENCA |
INDICE

CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS .......... riem neeererreeereaseracarieeeerreeeeterreares 11

CAPÍTULO I — A CIÊNCIA DA POPULAÇÃO: A PROGRESSIVA MATURAÇÃO


DA COMPLEXIDADE DO SEU OBJECTO DE ESTUDO........................... 15

é Introdução ............. e rerereeeeeerenerenareneecenaeneanaicacaaananenacaeanenanananeaana 15


, 1.1. As primeiras reflexões sobre a população 16
1.2. A questão da população no século xvII e a emergência da Demografia como ciência 22
1.3. A importância do pensamento de Malthus na emergência da ciência da população... 26
1.4. Malthusianismo, neomalthusianismo e as reacções ao pensamento malthusiano ........ 34
1.5. A transição demográfica... cerercecererrererercereeracearerean sanar cenesanee eee sao nenasaraenes 40
i 1.6. O objecto de estudo da Demografia ........ . 43
1.7. Unidade e diversidade da Demografia . . . . . . . . er erereeereerererererenta 47
A Demografia Histórica ................crereeseetereearereseesenemeaserenerearasasacaacaereatacacrananacaerenananios 49
Os Estudos de População ou Demografia Social ................... eres 54
As Políticas Demográficas.......... eremeerearerereeeaeneeraceraenas certenereerereeaeaanes 57
A Ecologia Humana... reeeeeeeeerecreenarerearerenaateanneo 60
1.8. A metodologia da Demografia ................ ir rrreeireareecereenearaences 66

à CAPÍTULO HI — A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA: UM VELHO PROBLEMA


COM NOVAS DIMENSÕES .............. eme ereeeeeremeareremmeereremeeererreseerermnenees 70
Introdução............. rr reee core arecacareneacenarea ceara racanereneeeneaeasererencereerersereresansa 70
2.1. A população antes do aparecimento da escrita ............cceeeesemeereneeerenreerareaeaereeseeeeo A
| 2.2. Os primeiros dados numéricos de interesse demográfico ......................., 73
| 2.3. A Antiguidade: do crescimento ao primeiro «mundo cheio» ........... 75
| 2.4. O nascimento do Ocidente Medieval e o declínio da população 78
2.5. A recuperação demográfica do Ocidente Medieval e o aparecimento
de um segundo «mundo cheio»... eereeeerereeeeeencerereantaead 80
2.6 A peste Negra... seeseseereserasaeeeneerentas .. 85
2.7 O modelo demográfico do Antigo Regime 86
2.8 O crescimento da população na Europa Ocidental e o terceiro «mundo cheio» ......... 90
2.9 A evolução da população nas restantes partes do mundo .................... 96
2.10 A explosão demográfica: um fenómeno novo ou um velho problema
98
com novas características? .............ieereeerereeeereresecerececaecacenereeeresancerecaarnnentencereneenenso

“ CAPÍTULO II — ASPECTOS INICIAIS DE UMA INVESTIGAÇÃO


EM ANÁLISE DEMOGRÁFICA: OS RITMOS DE CRESCIMENTO
101
E A ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DEMOGRÁFICAS ..............ueesemeeseseseeeeemees

iereeeseeeemaaeeeareserenee eme atenerarerreoeneceraesenroaeeeseanerereesrteceaeenmarermasencteremsenass 101


Introdução .......... nr
102
3.1. Volumes, ritmos de crescimento de uma população e densidades
população . eternas 105
1.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: volumes € ritmos de crescimento da
nanensasanenass 108
3.2. As estruturas demográficas ..............eeeeeeeererrerenecerereceecerererreracacacarenreseretenrarare
109
As pirâmides de idades ..............
eee 3
. As relações de masculinidade............
ernmro 114
Os grupos funcionais & os índices-resumo .............umeemeeeercemeeeeenenereeseceeeereneoesemee
O envelhecimento demográfico ................ume rereemermerereseeerereranaa equerameereeeeereearereerns 118

2.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: pirâmides de idades, relações de masculinidade


anso 121
e Índices-resumo ........ciciiteer errar cereneerererreraneererecacaonacereeraseresracacaorenenenaraaancarreneneenan

CAPÍTULO IV— OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA


126
E A ANÁLISE DA QUALIDADE DOS DADOS ...............ereeremermeneeerenerensaseesereeremense
ems 126
Introdução .........eeeemeerremeeremarascereserctmeeetereseereeteseseeameneeereraaneaeareseerermsersamecermmmeseroemeneeren
. . . ecm esa cer emsnaesre n ce so 128
4.1. Os sistemas de informação demográfica
....
essere tenso ....
reneereceeperees ncanennenoo
ensesensenenseme.e 128
Os recenseamentos da população ........
neemeecereceereareencaenmento 133
As estatísticas demográficas de estado Civil ............. eee
eos 136
Outros sistemas de informação demográfica ...............cereneeerenseneeceneerecasereecacaremenen
138
42. A análise da qualidade da informação ............. eres ereeseersenterceemteneenceemeasenseets
138
A Relação de Masculinidade dos Nascimentos ................emeneereeereseeseereeeaeeereneeeeteeo
O Índice de Whipple ............i eereerercessemsesteserererememeneaeereteeeremaasaseeserrermeamasees 140
O Índice de Irregularidade .................. rrenan etaetereremeereatarearea asa mame re e saremeras 142
O Índice Combinado das Nações Unidas ............. ....ememeesee mecmeeeeneren eeseereeesens ereremes 142
ten 143
A Equação de Concordância ................. us seeeeereeeeereeeereseeeeeaeemeerereneeeneeoneeemnseneean
dados imperfeitos rrernaeeneanara reaneeeecenecne canacentrerarer ercoanerennenen ansaneesaase 145
4.3. O ajustamento dos
145
O método das médias móveis .............ciseereererereneerecarteneracaeaeraneerereraneereneesorennaneneaesas
146
O método das Nações Unidas para ajuste de grupos quinquenais .............eeeemes
O método das Nações Unidas para a passagem de grupos decenais
a grupos quinquenais.................... e tre reeaeeeareesmeneraneceareemerereerterracemeneseasseneeencenness 146
O método de Sprague para estimar os efectivos por idade a partir
dos grupos quinquenais ............... eres remeereesereeecoeentenentencencartereerenenconententenes 147

3.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: análise da qualidade dos dados dos sistemas
de informação demográfica ..............erestaememerseereeseeneascenoecanteaeeesreneneeemearrenmcantentammos 149

CAPÍTULO V — OS PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DEMOGRÁFICA............ eee. 160

rt eeeeeeserereeaererren cor erteesereeacesanesearenmconerantreneeaneeasarenseanaeenneso 160


Introdução...
ererea
cama rsereeentosamsene
ee caeeremertertecren cs
eeenneentencteos 161
5.1. O Diagrama de Lexis..........
5.2. Princípios Gerais de Análise Demográfica..............seneereseerereresaeneraseraesesareasecenaa 163
O «estado puro» e o «estado perturbado»................... ii cicereseenerresa 163
Acontecimentos renováveis e acontecimentos não renováveis .. 164
Análise transversal e análise longitudinal ............................ 164
5.3. Princípios de análise longitudinal................ 165
5.4. Princípios de análise em transversal...............s ss eereerenemeseeerererererereresceeesereeneneeos e IN
5.5. Conclusão .............. rr eeerereroeerararaanneanearaneanaeaararera
aerea caacee eras eneraracanes 178

4.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: os princípios de análise demográfica ...................... 179

CAPÍTULO VI — ANÁLISE DA MORTALIDADE ............... memos 188


Introdução... ieeeeseeanereesereacestnereneneaceneneareneeras
es cacer encara ca cans rea oraererssaseceameenneaes 188
6.1. As Taxas Brutas de Mortalidade enquanto medidas elementares da mortalidade geral 190
6.2. O princípio da estandardização: o método da população-tipo .......... Reeeeeeeecenerereesaraneea 194
6.3. As medidas de mortalidade em grupos específicos ................... - 197
As medidas de mortalidade infantil.................cc. «197
A mortalidade por meses ..................... .. 201
A mortalidade por causas de morte ..............seesseerereereresresererreserestos 203
6.4. O princípio da translação: a construção das tábuas de mortalidade .......................... 203
6.5. Métodos indirectos de medida da mortalidade — o caso específico das tábuas-tipo
de mortalidade... recorrer rereranerarareneneecaraesaeeranseraneneaneresa 210
6.6. Conclusão ................ nen rerrerererererecacerencrertennestacaaseonasanaraa
sa caransantenareatencerercaransares 213

5.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: análise da mortalidade .................. Deeeneenencrenaareneaneerarares 214

CAPÍTULO VII — ANÁLISE DA NATALIDADE, FECUNDIDADE E NUPCIALIDADE 222


Introdução ............ ii rrreeereeeneereacereearanenerenearereneaeoreararereneersecas
casa ereeaseneceecesaceerareada 222
7.1. As taxas brutas enquanto medidas elementares de análise da natalidade
e da fecundidade... rrecerreeeraeraraerenserresanarenaneenereeerera 223
7.2. Tipos particulares de natalidade e fecundidade ....... 229
A fecundidade por idades e por grupos de idades .................sceeresereneseearaaeeseranrenesasa 230
A fecundidade dentro do casamento ................. rr ieereereeeeneecereesancecrereerenreranrese 230
A fecundidade fora do casamento ....... 231
A natalidade por meses..................... 231
7.3. O princípio da estandardização .... .. 232
74. O princípio da translação... lente crrecerereenereceraraecacarasarecananararacaas 237
7.5. Análise da nupcialidade e do divórcio: as taxas brutas enquanto medidas
elementares de análise .............. rc rreereranearensenaeraceaearesacecacenereceo 238
7.6. Processo de superação das limitações das taxas brutas na análise do fenómeno
nupcialidade .................... reerarecereraresceneracraenerataaaaaaararenareeerercecentacener
core ree res ra can eas can cacesanaa 241
O princípio da estandardização .... 241
O princípio da translação ................. ss siesesesererererererererereanaeos 241
A estimativa indirecta da nupcialidade pelo método de Hajnal...... ... 244
7.7. Conclusão .............. rei rrerereerereneeanacaraanacaraeraeranecrarecrereraeeeeeserass
cresce reneracasencaseraa 245

6.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: análise da natalidade, da fecundidade


e da nupcialidade ............... reis eeesenencicrererererenecareeeeeeterererererecase
sara saasasacacanararasanana 246

9
CAPÍTULO VII — ANÁLISE DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS ......... 253
Introdução .......... rr rrerannanereracereeseraraereanenares
cane sereaneseerecrcaraasecenara ca canorenae asas canesneaaces
8.1. Os métodos directos de análise dos movimentos migratórios .......
8.2. Os métodos indirectos de análise dos movimentos migratórios ....
A equação de concordância... eeeeeeeerereeserereeeerereereaeserreresemrenacenerearesereenar
Os métodos da população esperada

7.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: análise dos movimentos migratórios ............smeses 262

BIBLIOGRAFIA... ereeteeresterrtarteereereeertettttten ne
CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

A Demografia evoluiu de uma problemática inicial bastante simples e fácil de


delimitar, uma resposta científica a um conjunto de questões-relacionadas.comà
descrição das populações humanas — demos (o povo ou a população) e graphein
(escrever) — para uma crescente diversidade e .complexidade..de-áreas-temáticass
cujos limites são cada vez mais difíceis de precisar.
As técnicas e os métodos multiplicaram-se, em particular na segunda metade
do século XX, o objecto alargou-se a questões que ultrapassam a simples descrição-
de uma dinâmica de populações humanas, a intervenção no funcionamento do
sistema económico e social deixou de limitar-se apenas à execução de determina-
dos aspectos das políticas demográficas.
Caracterizar, projectar e sistematizar o ordenamento espacial da população,
analisar as modificações nas estruturas familiares, identificar as consequên:
envelhecimento demos
envelhecimento demográfico, ass consequências « doENA crescimento, da.populaçãose-da
sua distribuição espacial, avaliar o efeito da dinâmica populacional. no.ambiente.são
alguns dos inúmeros aspectos em que se pede à Demografia
uma resposta ou, no
mínimo, uma colaboração.
Esta diversidade de problemas de que se ocupa actualmente a ciência da popu-
lação não teve como consequência, como seria de esperar, a quebra da sua unidade
inicial. A Demografia é uma só. apesar das diferentes especialidades, ou seja, todos
os ramos perdem a sua originalidade sem a referência constante a um núcleo de
base. Não pode haver uma perspectiva demográfica de análise de um determinado
problema social sem o domínio das suas técnicas fundamentais, sem o conheci-
mento da sua forma específica de olhar o sistema social. É do núcleo básico de
conhecimentos identificadores da especificidade da Demografia que se ocupa o
presente trabalho, ao procurar um equilíbrio entre a componente teórica da ciência
da população e a componente instrumental e técnica.
É verdade que com a evolução observada nas últimas dezenas de anos, em
particular no meio universitário, o campo problemático aumentou consideravel-

: 11
mente, o que teve como consequência mais visível a procura de uma fundamen-
tação teórica e factual das diversas componentes que integram o seu objecto de
estudo. Os trabalhos sobre o pensamento demográfico, a história da população e a
sua distribuição espacial, a diversidade da demografia em geral e as políticas
demográficas e familiares passaram de raros a abundantes. Porém, a Demografia
ao procurar dar resposta, no seu complexo processo de investigação, a alguns
dos grandes problemas sociais contemporâneos, ultrapassou as limitações do sis-
tema social, procurou ter em consideração a dinâmica das interacções bio-
-culturais e passou a tomar em consideração, de uma forma progressiva, a noção
de ambiente quer em termos de causas quer em termos de consequências dos
fenómenos, aproximando-se assim de uma visão ecológica e sistémica dos pro-
blemas.
Sabemos que não é possível. traçar com precisão as fronteiras existentes. entre.
as diversas ciências sociais, pois todas têm em comum. o.homem.como. objecto. de.
estudo, estando necessariamente interligadas. Para o especialista numa determina-
da ciência social, as outras têm uma função auxiliar. Elas fornecem informações
que podem ser úteis no tratamento de problemas que são objecto específico da sua
disciplina. Nesta óptica, a Demografia não difere das outras. ciências sociais. O seu.
objecto de estudo tambémé o comportamento. do Homem em sociedade-e. igual.
mente necessita de todas as outras ciências sociais.
Saber se pelo facto de ser uma ciência social instrumental, de reflexão e de
acção faz dela uma ciência social originalé algo a que é difícil dar resposta. Numa
certa perspectiva, a Demografia é igual a todas as outras ciências sociais, visto ter
um objecto específico de estudo definido e distinto das outras ciências (se bem que
em termos globais, o seu objecto seja igual ao das outras ciências sociais — o
estudo do comportamento do Homem em sociedade) e tal como todas as outras
ciências sociais, tem uma importante componente de acção e de reflexão.
Mas, numa outra perspectiva,a Demografia tem o seu objecto de estudoespe.
<íficos demasiadamente-bem.definido, facilmente. quantificável, -sobretudo-quando-a
tomamos na suaacepção mai ita — o efeito da mortalidade, da natalidade
das
“e migrações no estado da população
Não admira, assim, que a componente instrumental se tenha tornado de tal
forma importante que nenhum dos ramos faz sentido sem o seu conhecimento.
4
Também fez com que esta ciência passasse a ter, para muitas áreas científicas;-o
alor de utensílio — a família, por exemplo, é estudada por várias disciplinas, mas
êxiste apenas uma forma de se analisar a família numa perspectiva demográfica e
essa forma passa necessariamente pelo conhecimento mais ou menos aprofundado
da análise demográfica.
«A importância do. contributo. da base demográfica naanálise dos. grandes.pre-
blemas sociais contemporâneos. ultrapassa o sistema social, eatinge..várias-áreas
científicas que vão desde as ciências económicas e as ciências da conduta às ciên-
“cias da vida, passando pelos recentes domínios directa e indirectamente ligadosà
gestão da informação e do conhecimento.
Para que a Demografia continue.a progredir como disciplina científica torna-se.
necessário que ela consolide-e aprofunde.o domínio dos instrumentos. científicos. de
análise, pois só assim teremos uma constante re ção científica dos proble-
mas demográficos. Porém, este aprofundamento só tem sentido se for acompa-
nhado do rigor na medição que caracteriza a prática desta disciplina científica, mas
necessita também que os horizontes das suas preocupações sejam alargados a no-
vos domínios.
Em todo o caso tem-se passado muitas. vezes para o extremo oposto, ou seja,
confunde-se a parte instrumental com o todo, demográfico. Todo. o. fechamento.
de
campo é perigoso. O rigor dos métodos não deve fazer passar para segundo plano
a natureza autêntica da Demografia: ser uma ciência social de raiz biológica-e.
tendendo para uma visão ecológica dos comportamentos. Os dois grandes fenómenos
demográficos — a natalidade e a mortalidade — são, antes de mais,.processes
biológicos que existem em todos os seres. vivos, £.as.migrações.também,exisfemna
maiorparte das sociedades animais.
Iniciâmos a experiência pedagógica destas matérias no. início dos anos 70
e publicámos o primeiro trabalho fruto dessa experiência em 1988 — Princípios e
Métodos de Análise Demográfica.
Quase dez anos depois, procedemos a uma primeira grande revisão de fundo
e publicámos um novo trabalho mais teórico e menos técnico — Introdução à
Demografia — Teoria e Prática.
Pelo caminho, ocupámo-nos de alguns temas específicos — Envelhecimento da
População Portuguesa e Explosão Demográfica e Planeamento Familiar — e par-
ticipámos em dois grandes projectos colectivos de carácter prospectivo — Por-
tugal: o desafio dos anos noventa e Portugal: os próximos vinte anos.
A formação académica e as publicações científicas em Demografia, em Portu-
gal bem como na maior parte dos países do mundo, passaram de raras a abun-
dantes. Porém, nos anos 90, integrados numa rede europeia (Certificado Internacional
de Ecologia Humana) surgiram os primeiros Mestrados em Ecologia Humana na
Universidade de Évora e na Universidade Nova de Lisboa. No Instituto Superior
de
Estatística e Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa, em particular
no Mestrado em Gestão de Informação, foi criada uma variante em Sistemas de
Informação Geográfica, Demográfica e Ambiental também integrada no Certifica-
do Internacional de Ecologia Humana.
Novas gentes, oriundas das mais diversas áreas científicas, apareceram para
debater e investigar novos temas, aproveitando as técnicas da dinâmica das popula-
ções humanas. A sua experiência profissional e a integração das perspectivas da
Demografia, Gestão de Informação, Sistemas de Informação Geográfica, Ambiente
e Ecologia Humana encontraram neste cruzamento de saberes uma nova resposta
às suas preocupações científicas, profissionais e pessoais.
O trabalho que agora se apresenta pretende dar continuidade ao projecto ensino
e investigação sobre a dinâmica das populações humanas, iniciado nos anos 70,
sistematizando os conhecimentos adquiridos no estudo dos fenómenos que, sendo
biológicos na origem, sofrem profundas modificações quando inseridos na socie-
dade e no, ambiente mais vasto. que a rodeia.
A experiência “adquirida, o estudo continuado da aplicação de um modelo de
aprendizagem a diversos níveis e tipos de ensino, a acumulação de teses de dou-

13
toramento e de mestrado, a influência estratégica da Ecologia Humana e dos mo-
dernos Sistemas de Informação Demográfica, bem como as sugestões recebidas,
levaram-nos, quase dez anos depois, a proceder à segunda grande revisão de fundo
e a publicar, assim, um novo trabalho intitulado: Demografia — A Ciência da
População.

14
CAPÍTULO I

A CIÊNCIA DA POPULAÇÃO:
A PROGRESSIVA MATURAÇÃO DA COMPLEXIDADE
DO SEU OBJECTO DE ESTUDO

Introdução

Apesar de a preocupação com os problemas da população remontar à Antigui-


dade, aDemografiacomo, ciência apenas. aparece na segunda metade do século
XVII. Até esta altura, as preocupações com a problemática populacional surgem
quase sempre sob uma perspectiva filosófico-doutrinal. Do ideal de estacionarida
à defesa intransigente do crescimentoo populacional, .eXIsE um conjunto mui! .
Yersificado e interessante de ideias« que nos ajuda a compreender, aemergência
da
ciência da população.
No presente capítulo apresentamos, de forma sintética, o modo como foi ama-
durecendo ao longo dos séculos a consciência das grandes questões directa ou
indirectamente ligadas aos aspectos quantitativos da dinâmica populacional. Du-
rante os séculos XVII e XVIII ocorre progressivamente uma viragem importante na
forma de tratar os problemas da população: a Demografia emerge como ciência.
Quem foram e o que disseram os homens que transformaram em ciência um
conjunto de problemas que nos aparecem relatados nos primeiros documentos es-
critos? Qual é realmente o objecto de estudo da Demografia? Por que não existem
escolas de pensamento demográfico à semelhança do que se passa nas ciências
económicas e sociais? Quais são as grandes teorias e os grandes problemas de
Demografia na época contemporânea? Por que é que a Demografia é simultanea-
mente una e diversa? Quais são as grandes divisões da ciência da população actual”?
Estas são algumas das questões que iremos analisar neste capítulo introdutório.

Objectivos do capítulo TI

* Identificar as principais fases da constituição da Demografia como ciência


e Conhecer o pensamento dos primeiros demógrafos

15
. Conhecer as principais características do pensamento malthusiano
e Identificar as principais fases e a importância da teoria da transição demográfica
* Identificar os aspectos fundamentais do objecto de estudo da Demografia
* Compreender a razão pela qual a Demografia actual é simultaneamente una é
diversa
* Identificar as principais etapas da metodologia da Demografia

1.1. As primeiras reflexões sobre a população

Os primeiros escritos onde encontramos alguns| rudimentos “daquilo a que hoje


chamamos pensamento demográfico remontam à Antiguidade, e revelam a existên-
cia de uma certa preocupação com o crescimento da população. A Ilíada e a Odis-
seia apresentam-nos, em geral, os deuses com famílias numerosas. O Antigo
Testamento fala-nos na necessidade de um aumento da população — crescei e
multiplicai-vos (Génesis 1.22).
A passagem desta preocupação populacionista, a uma reflexão mais coerentee
da Época Clássica
na GrGrécia
sistemática só a1 vamos encontrar na e. na Civilização
Romana. "Dois grandes filósofos (Platão e Aristóteles) e um historiador (Políbio)
concederam particular atenção ao problema da população na antiga Grécia. ideal
O
demográfico de Platão (428-348 a. C.), por razões de carácter político e social, é.0
Êo.Ou
de uma. “população, estacionária, ou seja,o. de uma população com. crescimento.
igual a.zero, onde o número de fogos seria de 5040. Tendo em conta àa dimensão
média familiar estimada para a época, acrescida do número de escravos, a popula-

Aquele número não foi escolhido por -a acaso.


so. Corresponde, em primeiro lugar. a
uma atitude pitagórica de encontrar um número. que resulta. de..sete factorial, au
seja, o produto dos sete primeiros números inteiros. Em segundo lugar, trata-se.de.
um número com 50 divisores, número particularmente indicado para assegurar a
igualdade entre os cidadãos nas operações administrativas. de,- partilha (Chaunu, 1990).
“Para tornar . possível este ideal de estacionaridade, Platão defende a existência.
de um.conjunto.de Das e siisam.proteger.a.família,.assegurar..a.transmissão»
da terra a um único herdeiro, dar aos magistrados o. poder..de.. aumentar. ou. de,
número de. casamentos, « ne.da. população. e €..as. condi
nómicas, €..sociais.do-momento. Acredita, assim, que é possível ao poder
legislativo intervir, no sentido de procurar manter constante o volume da população
da sua cidade ideal. O risco do excessivo. crescimento..da.. população tesolyia-se

através da fixação de uma idade mínima parao casamento (30 anos para os homens
e 18 anos para as mulheres), e da limitação « a idade..da. procriação (apenas os
primeiros 10 a 14 anos de casamento); o risco inverso, ou seja, o de a população
gn

diminuir, resolver-se-ia através de legislação que punisse os que. não queriam ou


não podiam t ter filhos, os.celibatários e .os casais estérei s. Se o poder de regulação
do casamento se revelasse insuficiente, seria ainda possível o recurso à emigração.
ou à naturalização para. fazer diminuir óu. aumentar.a população. Paralelamenteà
preocupação com a quantidade, existe também uma preocupação com a qualidade.

16
O direito à vida é apenas reservado às crianças belas e saudáveis. Para os que não
pertenciam a esta categoria, Platão defende o recurso à exposição e até mesmo à
eliminação dos recém-nascidos deficientes, o que faz com que este filósofo seja
considerado, para alguns especialistas da História da População,como o verdadeiro
pai do eugenismo (Russel, 1979).
“TT Ás idideiass «de. Aristóteles (384-322 a. C.) estão muito próximas do seu mestre
Platão.
ão.É mais realista ao pensar que a preocupaçã al é a de encontrar
um número estável de habitantes. Esta procura de estabilidade não implica a exis-
tência de um número fixo de habitantes, como acontecia no pensamento
de Platão.
Pelo contrário, ao aperceber-se que a mortalidade e a natalidade. fazem. xariar.o,
volume populacional, defende o princípio da justa dimensão a fim de exitaaL que
uma população numerosa seja fonte de pobreza, c i
fal como Piatão, defende O recurso ao aborto, ao infanticídio, ao “abandono. ei
exposição de crianças como forma. de..controlar..os. nascimentos, e de assegurar
a qualid; ade dos.cidadãos.
Em síntese, podemos dizer que o aspecto fundamental do pensamento. destes,
dois filósofosé o da defesa de uma população com um crescimento. próximo. de,
zero, de forma a tornar possível a existência de um equilíbrio social, político €
económico. Todas as medidas preconizadas têm esse objectivo. Contudo,sPT

rística urbana do ideal estacionário que e, a percepção da existência de


um declínio demográfico, o qual seria fatal para a continuidade temporal desta
importante civilização.
Já muito próximo do final da civilização grega, o historiador Políbio (200-
-120 a. C.), contemporâneo de um período dedeclínioda população, constata que o
país está em decadência. Atribui essa decadênciaà deterioração
dos.costumes (vai-
dade, amor pelos bens materiais, recusa do casamento, indiferença pela criança).
Demonstra possuir uma excelente capacidade de observação. ao. afirmar que quando
existem dois filhos por agregado familiar basta que a guerra mate um e que a doença
mate o outro para que os lares fiquem vazios. | É particularmente interessante esta
observação: «A Grécia sofre de uma diminuição de procriação e de uma faita de
homens tal que as cidades estão despovoadas; as pessoas hoje gostam do fausto, do
dinheiro e da preguiça a um nível tal que não se querem casar, ou quando se casam
não querem família; no máximo têm dois filhos a fim de os deixar ricos e de os
educar no luxo.» (Chaunu, 1990).
Os romanos não são filósofos como os gregos. São militares e juristas que
analisam os problemas populacionais numa óptica peítica, ao sabor dos aconteci-
mentos. Q poder militar de Roma, a extensão do seu Império, exigem uma atitude,
populacionista. Na prática, os legisladores romanos Lmitaram-se à elaboração.
ode
leis
leis que procuravam atingir esse objectivo (distribuição gratuita de terras às famí-
Tias com mais de três filhos, punição do adultério, limitações em matéria de herança
para os celibatários). Apesar desta abundante legislação os resultados positivos
alcançados foram bastante magros, porque nem sempre ao rigor formal das leis
corresponde um rigor nos costumes.

17
Globalmente, podemos afirmar que na Antiguidade as questões relacionadas
com a população foramfl mentalment nalisadas numa perspectiva política e
social. Na Idade Média,
|] dominada pelo pensamento cristão, a perspectiva foi bem
diferente. Foi dominantemente teológica e moral.
Três grandes pensadores destacaram-se por entre os demais na análise de pro-
blemas que, nos dias de hoje, são o objecto de estudo da História da População ou
da História do Pensamento Demográfico: Santo Agostinho (345-430), São Gregório
(540-604) e São Tomás de Aquino (1235-1274).
No início, o cristianismo não se preocupou com os interesses da cidade terres-
tre. Preocupado com a salvação individual, limita-se a privilegiar. as virtudes da,
castidade e do celibato. Contudo, o extremar, “das posições entre os maniqueístas
“(que faziam a apologia da castidade absoluta) « e os gnósticos (que defendiam algu-
ma tolerância sexual) obrigaram. a lgreja.a. clarificar a sua posição. Esta clarificação
consistiu na defesa do valor do celibato e da vida contemplativa. Porém, ao admi-
“tirem que a maioria das.pessoas. é incapaz de.praticar-semelhante.ascetismo,.defen-
dem igu. alor do casamento, desde que este seja Jndissohúvel.e, fecundo,
São Jerónimo sintetiza, numa pequena e magnífica frase, esta posição ao afirmar:
«Se a contemplação povoa o paraíso, o casamento povoa a terra.» (Russel, 1979).
É nesta linha de pensamento que é preciso situar as atitudes de Santo Agostinho
(345-430) e de São Gregório (540-604) ao defenderem que o casamento une marido
e mulher para gerar filhos. Apoiando-se no princípio cristão da igualdade fundamen:-
tal das pessoas, recusam a visão grega de uma civilização qualitativa (eugenismo).
O respeito pela vida humana, conjugado com a recusa de uma civilização qualitativa,
leva-os a defender o carácter sagrado do casamento, a encorajar ra sua função proctlas
dora, a condenar o mtanticídio, o aborto, bem como. qual Jer.açt
os nascimentos. Retoma-se, assim, a atitude populacionista dos primeiros tempos,
havendo a preocupação de afastar as motivações de ordem económica. A fome, a
guerra, ou qualquer outro cataclismo que se abata sobre a humanidadeé considerado
um acidente que não pode pôr em causa a confiança na providência divina.
No fim da Idade Média, uma mudança intelectual começa a operar-se. São Tomás.
de Aguino defende a submissão da actividade, h al, teforça a condenar
ção do infanticídio ee do aborto, reconhece o. valor do. celibato religioso, O pensamen-
to de São Tomásé retomado e desenvolvido pelos escolásticos que procuram subordinar
a própria vida económica e socialà doutrina. Cada indivíduo tem direitos e deveres,
é preciso dar ao trabalho a sua dignidade, o crescimento da população é um favor
divino, o casamento é sagrado e o celibato (com excepção do religioso) é condenável.
O grande mérito de São Tomás de Aquino e dos escolásticos reside no facto de
terem rompido com a indiferença relativa às questões económicas e sociais que
tinham adoptado os teólogos da Alta Idade Média. Porém, a existência de um
compromisso entre a doutrina cristã e a ordem material irá ser posto em causa com
o Renascimento.
Assim, numa primeira fase, a doutrina cristã é bastante indiferente às questões
relacionadas com a população — o crescei e “multiplicai- -vos é entendido como ide
“e ensinai todas as nações. Numa segunda fase, com a defesa explícita do valor do,
casamento, desde que tenha.como
RasaAg finalidade a procriação,
ação, podemos admitir a exis.

18
tência de uma atitude implícita lação.. ROpulação,, à qual pode ser conside-
.rada como moderadamente populacionista,
Com o início dos tempos modernos, as.ideias.tespeitantes. à população emanci-
pam-se das concepções morais e religiosas e passam progressivamente a dependem
de preocupações políticas e económicas. Uma série de grandes transformações está
âssociada à emergência dos tempos modernos: a intelectual do Renascimento, a
geográfica das Descobertas, a material da aparição do livro, a política do apareci-
mento dos estados modernos. As atenções passam a concentrar-se menos no trans-
cendente e mais no imanente. Procura descobrir-se a forma mais adequada de
organizar as sociedades e de viver melhor a vida terrena.
E nesta linha de ideias e acontecimentos que se deve interpretar oculto do ideal
mercantilista pela riqueza, âssociado à valorização do Estado. À fortuna dos neo.
ciantes, ao depender do volume de exportações, implica a necessidade de um. Estas,
do forte | para proteger a economia. A existência de um Estado forte implica, 4
aexistência
Gm populaçãodeÉ um
a cito | num m e: é É De DO: ad ss

“* Neste contexto, não é de admirar que a doutrina de inspiração mercantilistas


seja considerada, no seu conjunto, explicitamente populacionista. Este populacio-
nismo é defendido por um conjunto variado de pensadores que explicitam várias
reflexões interessantes sobre a população, acelerando. assim. um. processo, QUE Ifá.
conduzir ao aparecimento da Demografia como ciência.
No mercantilismo italiano existem três grandes pensadores com reflexões par-
ticularmente relevantes sobre a população: Maquiavel (1467-1527), Campanela
(1568-1639) e Botero (1540-1617).
Maquiavel, apesar de o seu pensamento ser globalmente considerado como
mercantilista, não aceita todas as ideias que caracterizam esta corrente de pensa-
mento, nomeadamente no que diz respeito ao princípio de que o Estado é forte
quando favorece o enriquecimento dos cidadãos. Porém, ao defender o ponto de
vista de que uma população numerosa reforça o poder. do. príncipe, adopta uma
“atitude claramente populacionista.
Campanela elabora os fundamentos filosóficos de um comunismo utópico,
desenvolvendo ideias eugénicas muito próximas. das. de Platão. Em certa medida,
Tetoma a discussão-dos. aspectos-qualitativos.da população, ao afirmar que as rela-
ções sexuais consistem em unir mulheres belas com homens robustos. Lastima
igualmente que se tenha tido tanto cuidado na melhoria das espécies.canina, Ee
Cavalar e tanta negligência no desenvolvimento da espécie | humana. Elza
“ Para Botero, uma..população. -Dumerosa..deye. ser. a. primeira preocupação do
Estado, Para que tal seja “possível, defende o desenvolvimento. da-agricultura,.da
indústria ca diversificação dos ofícios. Mostra-se contrário às ideias que defendem
“anecessidade da exportação de matérias-primas, porque com elas partem os artífices.
Defende um populacionismo moderado, advogando, como Maquiavel. HESO. ds
ara. evitar o excesso de população em relação aos recursos
No
«No mercantilis smo. francês existem du s correntes diferenciadas:.a.Qque defende
m. populacionismo. intransigente (Bodin, Montchrestien). e a que defende um
“populaci ionismo mais racional. (Vauban).

19
do rei. Elabora
Bodin (1530-1596) é um adepto de um reforço da autoridade
lvendo uma
algumas análises interessantes sobre a população do seu país, desenvo
do que-os hos.
tese que se resume numa simples frase: Não existe maior riqueza j
s.e
numa
valorização de um. paí terra,
mens. Uma população numerosa permitea
artesãos, que na
| bem explorada não existe perigo de fome. É hostil àemigração dos
ece o poder
' época iam em grande número trabalhar para Espanha, porque enfraqu
da França.
ivo do que O
| Montchrestien (1575-1621) tem um populacionismo mais qualitat
a inesgo-
| de Bodin: Defende o ponto de vista de quea grande riqueza da Françaé um grupo
seus homens, mas a abundância em causa
dos.ia é a de
| “tável abundânc
de evitar a.
| específico — o dos artesãos. A sua multiplicação seria uma forma
assegu
entrada em massa de estrangeirós, ar édia ran
0 funcio namentoada economia, aju-
ir. uma classe forte, de forma a entr
evitar o confronto entre
a à constitu
dama
“grupos económicos muito desiguais.
“6 mercantilismo. de Bodin. e Montchrestien foi na prática materializado. .por
das finanças de Luís XIV, no período 1661 -a 1683. Este político
Colbert, ministro
“defende u da. pop!
o aumento com o argumento de que este é favorável.a
| “palança de pagamentos, favorece ndo as famílias numero saso.
e a imigraçã
Para estimular a imigraçã o, facilita as naturaliz ações, “dá privilég ios aos imi-
|| das famílias
| grantes e toma difícil a emigração. No que diz respeito ao estímulo
casam antes dos 20
| numerosas, publica leis importantes: Os contribuintes que se
aos 21 anos são isen-
anos são isentos de impostos até aos 25 anos, os que se casam
ficam isentos
tos de impostos até aos 24 anos, os pais de 12 filhos vivos legítimos
tenham mais de 10
para sempre de qualquer imposto, os membros da nobreza que
filhos têm direito a uma pensão.
preconiza um populacionismo. mais racional. É um
Vauban (1633-1707)
ao, precisar que a
antecessor das ideias que se irão desenvolver no século XVII,
seus súbditos . É popu:
grandeza de um monarca não se mede pelo número dos
Jacionista"ad. defender que-a falia-de população € a maior desgraça. que pode,
acontecer ao reino. Revela mode ao. precisar
ra que.
do 9 volume não é suficiente,
* queé sejam felizes,
súbditos anos
necessário queNososúltimos em particular os que pertencera
àsclasses inferiores. do reinado de Luís XIV, tendo a consciên-
ades
“cia do desequilíbrio que existe entre o montante dos impostos € as necessid
das pessoas, prop a criação de forma à,»
õe de impostos gue atenuem as injustiças, ficou
ade de trabalk a aum a
ent ar
populaçã o. Vauban conhe-
mel a
hor ar
capacid
que elabo-
cido na história do pensamento demográfico não só pelas estimativas
França pode ter),
rou (estima em 25 mil o número máximo de habitantes que a
por ser O inventor dos recenseamentos, ao chamar a atenção paraa Sua.
como
ão:é pos
importância e grande utilidade. para a .adminisiraçnão -]. gerir uma.
religião..e...
“mação sem se saber9 número-exacto-de. habitantes, -a..sua. profissão,
condições de vida...
= Na Inglaterra,o mercanti toma.
lism o. diferente do. mereantilismo
um. aspecto,
ao longo do
francês E “do mercantilismo. italiano. É menos homogéneo e evolui
Existem questões de
tempo. Nesta evolução não existem apenas aspectos formais.
distintas: no princípio,
fundo que deram origem ao aparecimento de duas correntes

20
a população é considerada como uma variável, entre tantas outras, do sistema. sos
cial; posteriormente, a população aparece como interessante em. si.própria...São-os
Primórdios da lemosrafia científica.
Na primeira corrente não encontramos um. populacionismo, intransigente, mas
autores que de fendem :E existência. de um equilíbrio. entre a população.e.0S.Lecursoss

Thomas More (1478- 1535), ao


ao estudar as causas s da miséria do seu país, pensa, aerea
que esta é devida a três. factores fundamentais: o. luxo. da nobreza,
a existência de. —
muitos domésticos improdutivos e a extensão das pastagens em prejuízo.das.fterras
cultivadas. Denuncia as reservas dos proprietários da terra, ergue-se com vigor
contra a extensão da criação de cameiros (cameiros camívoros que devoram os
homens, ao reduzirem as superfícies das terras cultivadas), considera que a base
das cidades são as famílias e desenvolve. ideias. de. estacionaridade. muito próxi-
espe
endidas por, Platão...
rancis Bacon (1561- -1626) preconiza um. crescimento. da população dedominan-.
temente.qualitativo,. e Thomas. Hobbes. (15 88- 1679), concentra as. suas. atençã ES NO
equilíbrio entre a populas ão. €.08.)
sário um esforço produtivo, contenção: no1O CONÍMO, recurso. à emigração DEE
e. €1 Caso.
extremo, o recursoà guerra. A linha fundamental do seu pensamento pode ser
resumida na sua famosa frase: O homem é lobo do homem.
Contudo, se estes três filósofos ingleses estão fundamentalmente preocupados
com o equilíbrio entre o crescimento. da população. e.os.zecursos, no século XVI,
algo « de novo ocorre em
em
Inglaterra: a Demografia.começa.a dar. os seus. primeiros.
passos «como-ciência.
Aparecem nomes como William Petty, dr John
rir para
Graunt
eee
e Edmund Halley, que
começam a considerar que os problemas da, população. devem. ser. analisados..e
medidos independentemente das questões doutrinais e das relações.que,possam.ter
com “quaisquer outros problemas económic . Estes autores
serão “objecto de análise no ponto seguinte.
Nos países de língua alemã, na época mercantilista, domina
a ideia da neces-
sidade de uma população. numerosa. Lutero, que começou a sua acção em 1517,
pe ai arames

mostra-se hostil: ao, £elibato ma


eee fayorável. ao..casamento. generalizado. ÉS
a.todos
a AA os

lação sobretudo depois da Guerra dos Trinta Anos: Veit von Seck
1692) deseja um estado cristão. com uma população numerosa, onde a agricultura
e a indústria se desenvolvam; Ernst Carl (1682-1743) talvez seja o.único a põr.o
acento tónico, à maneira inglesa, no equilíbrio. entre..a pepmação 6 OS. TECUISOS,
ad defender 0 princípi
todo o caso, o pensamento mercantilista alemão é é bastante mais moderado do que
o francês e o italiano.
Em síntese, a época mercantilista — época do absolutismo dos príncipes — é
uma época dominada pela ideia do crescimento dapopulação.ser-um-bem. precioso
a defender. Não é de admirar tal facto. À população progredia muito lentamente,
era constantemente ameaçada pelas crises e era necessário proteger o comércio dos
te

: 21
príncipes com um exército numeroso, o qual só seria possível com uma população
numerosa. Só no século XVII o crescimento da população, demasiado rápido em
alguns países, começou a inquietar os diferentes pensadores.

1.2. A questão da população no século xVWX e a emergência da Demografia como


ciência

Os primeiros anos do século XvII são caracterizados por.uma, diminuição da


| população. na. maior.parte dos países europeus. Este declínio teve-como efeito o
| revigorar da atitude populacionista. Na segunda metade deste século, as condições
de existência melhoram e o número de habitantes aumenta em quase todos os.
países europeus. Na França, por exemplo, a população passa de 18 ou 19 milhões
de habitantes para 26 ou 27 milhões no momento da Revolução.
Na ausência de informação estatística suficiente e de boa qualidade, alguns
| autores da época sobrestimaram a relativa e provisória diminuição da população que
| se observou, em particular na França, no início do século xvIII, devido à guerra e à
| miséria nos campos. É verdade que o inquérito mandado elaborar por Orry em 1745
revela a existência de uma perda de dois milhões de habitantes..em. relação. .às.
| “estimativas de Vauban em, 1707. Contudo, a opinião de Montesquieu (1689-1755) de
“que a França no seu tempo não tinha mais do que seis milhões de habitantes é
errónea. Montesquieu
julgava que o universo.tendia a. despovoar-se desde.a Antigui-
| dade. As causas deste despovoamento são várias: epidemias, guerras, celibato ecle-
siástico, divórcio, causas políticas e sociais decorrentes de um mau governo. Ao

do Império Romano, entre.cristãos e muçulmanos. Ataca violentamente.o celibato,


| ao afirmar que este mata mais homens do que as pestes e as guerras mais sangrentas.
| É contra o divórcio e as colónias são igualmente alvo da sua crítica, quando afirma.
| que estas despovoam o país de origem sem povoar os países de destino, apontando
| y tuições. pode. melhorar 0.
destino dos homens e uma.. população é em expansão.é sinal de prosperidade. Este
último ponto de vista foi também defendido por Wallace (1694-1771) na Inglaterra.
O filósofo inglês David Hume.(1711-1776).opõe-se à tese.do. despovoamento
defendida na França por Montesquieu. e na. Inglaterra, por Wallace. Pensamm pr
quent,a

| “um poder 1 no instinto de, procriação que : faz duplicar. a. espécie. humana. EM. cada
geração. Nestes termos, as catástrofes não despovoam um país .tanto quanto se.
voar de novo. A população regula-se.
pelo nível e de subsistência.
trono
1 uição da produção só por si reduz de uma
| “maneira decisiva o número de habitantes, enquanto que cataclismos, tais como as
|| guerras e as epidemias, têm apenas uma incidência limitada. Este ponto de vista, ou
seja, o de que qualquer população tende para um máximo. que.é. determinado. pela
| | quantidade de alimentos, foi também defendido.por.outros.autores durante.o.século.
XVII, em particular por Townsend (1739-1816).
|
|
|| 22
Com o economista de origem irlandesa Richard Cantillon (1680-1734), esta,
tese vai ser consideravelmente alargada ao defender o ponto de vista do que

“Porém, o que torna este autor original éé o facto de tomar em consideração factores
a que hoje chamamos de sociológicos. É verdade que a população é.condicionada.,
pela produção de meios, de. subsistência, mas. também.. É. preciso. ter em conta0.
/ ais: OS homens de alimentação frugal podem mul-

sociais. Condena o luxo, visto ser necessário tanto trabalho para produzir um bem
de luxo como para produzir grandes quantidades de alimentação. É mercantilista
em alguns aspectos do seu pensamento, mas a sua condenação do luxo inspirou os
fisiocratas. Curiosamente, aponta o facto de que. a natalidade
se regula pela,
nupcialidade e não pela mortalidade, como. pensava. Townsend.
Quanto a Mirabeau (1715-1789), um é dos principais Epa
representante da escola,
fisiocrática. A fisiocracia, ou O governo
no da nat
natureza, é um:
que 1marca O diinício do pensamento liberal no século XVII. O.einípio no1 qual e
apoiam os fisiocratas é éo do SSin

ra permitirá valorizar as terras é aumentar a população. Esta visão verda-


deiramente optimista da Telação entre à população e a subsistência, subjacente ao
pensamento de Mirabeau, como aliás ao de todos os outros fisiocratas como Quesnay
(1694-1774) e Necker (1732-1804), resume-se na seguinte frase: O maior bem são
os homens e, em seguida, a terra.
Finalmente, sem procurarmos ser exaustivos, existe um conjunto de autores
que durante o século XVII, ao explicitarem a ideia da progressão aritmética, da
progressão geométrica, do equilíbrio entre a população e os recursos, como é o
caso de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), William Godwin (1756-1836), Adam
Smith (1732-1790), Benjamin Franklin (1706-1790), Stewart (1712-1780), Young
(1741-1820), anunciam o aparecimento de Malthus e da Demografia como ciência.
A paternidade da palavra Demografia é, em geral, atribuída a Achille
Guillard. Em 18551 publicou uma obra intitulada Elementos de Estatística Huma-
na ou Demografia Comparada (Guillard, 1855). Curiosamente, no prefácio, o
autor pede desculpa ao leitor pela fraqueza de ter cedido às exigências do seu

: 23
editor. As exigências consistiram em Achille Guillard, por razões comerciais, ter
sido obrigado a alterar o título inicialmente previsto para esta obra — - Estudos de

de uma forma.atribulada, em meados do século XIX, e associada àà Estatística.


“Porém, muito antes deste curioso acontecimento já a ciência da população
tinha dado os seus primeiros passos. Estes primeiros passos consistiram em consi-
derar os temas populacionais como interessantes em si, sendo por isso passíveis de
tratamento científico. O acento tónico começa a deixar de ser exclusivamente posto
na discussão das vantagens e inconvenientes.do crescimento da população, no equi:
Jíbrio entre. a população -Os.recursos, ou ainda na discussão das consequências de
certos. aspectos, qualitativos e quantitativos. de uma. popidação. O que passou. a ser.

«O método que emprego ainda não é muito vulgar... consiste em “exprimir em


termos numéricos, pesos e medidas, em servir-me unicamente dos argumentos
dados pelos sentidos, em considerar exclusivamente as causas que têm bases visí-
veis na natureza...» (Dupâquier, 1985). Através da aplicação. deste. método,.NW..Betty
procura conhecer objectivamente os movimentos da população.
Porém, foi John Graunt (1620-1674) quem verdadeiramente escreveu o primei-
IO livro de Aritmética Política intitulado Observações naturais e políticas feitas

científica do ponto de vista demográfico: constrôi tábuas de mortalidade com base


nos arrolamentos publicados semanalmente, a partir do século XVI, arquitecta di-
versos índices interessantes como, por exemplo, a relação entre os nascimentos e os
óbitos. Procura investigar as causas dos óbitos e estima o volume da população de
Londres em cerca de 384 mil habitantes, enquanto a maior parte dos seus contem-
porâneos pensa que esta cidade teria uma população de vários milhões de habi-
tantes.
Edmund Halley (1656-1742), astrónomo e matemático, foi igualmente um. dos
primeiros cientistas da população..Constrói tábuas de mortalidade a partir dos arro-
lamentos das paróquias de Breslau. Os seus trabalhos são bastante interessantes,
devidoà análise que faz da qualidade dos “dados ex
Na
es nos £ rolamentos. utili
zados:
Esta visão do mundo e das coisas iniciada por W. Petty, J. Graunt e E. Halley,
aos quais podemos juntar outros nomes como Mathew Hale (1609-1676), Gregory
King (1648-1712), Charles Davenant (1656-1714), John Arbuthnot (1667-1735),
William Kersseboom (1691-1771), vai desenvolver-se muito rapidamente.durante-o..
século XVII. No entanto, os trabalhos realizados por Buffon, Sussmilch, Bernnoulli,
Simon e Moheau consolidam de uma forma decisiva o trabalho pioneiro de W. Petty,
J. Graunt e E. Halley.
Buffon (1707-1788), matemático e estatístico, traduz os trabalhos matemáticos
de Newton (1643-1727) e, enquanto director dos jardins do rei, interessa-se pela
biologia e pelo desenvolvimento das espécies. Explicita três leis fundamentais
da

24
fecundidade. aanimal: a fecundidade é inversamente proporcional à dimensão do
animal, o número de nasci tos masculinos, excede o número de nascimentos
femininos 6e a domesticação das espécies aumenta.a fecundidade. Contudo, é na
história natural do homem que encontramos vários ensinamentos importantes para
a consolidação do pensamento demográfico numa perspectiva científica. A obser-
vação mais curiosa reside na Telação entre a duração do crescimento de um 1 animal,
Ea sua longevidade: o cão desenvolve-se durante dois ou três anos e vive cerca de
- dóze anos; 6 homem desenvolve-se fisicamente durante cerca de dezoito anos e
pode viver até aos cem anos. É precisamente a partir deste último aspecto, ou seja,
da verificação que o homem morre em qualquer idade, que lhe surge a ideia de
construir uma tábua de mortalidade em termos científicos. Como, na época, os
seguros eram elaborados a partir das tábuas dos óbitos dos clientes, Buffon apercebe-
-se da existência de uma veracidade duvidosa por dizer respeito a uma população
muito particular — a população dos rendeiros. Como alternativa constrói tábuas
a partir de uma amostra mais ampla (várias paróquias de Paris e da Borgonha) e
utiliza uma metodologia bastante próxima da actual. Consegue mostrar que se tem
uma san em duas, de morrer antes dos é8deanos Di anos es que a esperança

infantil ( (Dupâquier 1985).


Johann Peter Sussmilch (1707-1767), em a Ordem Divina (Hecht, 1984), levou
a efeito um conjunto de análises demográficas notáveis. Partindo dos Tegistos paro-
quiais de Brandeboutg, elabora. estimati
uma tábuaa de mortalidade. calcula v vári entre. nascimentos, “casamentos Ec
e óbitos. Elabora várias observações interessantes como, por exemplo, o facto de os
óbitos passarem por um mínimo cerca dos 15 anos. Porém, o seu objectivo é
claramente teológico, ao afirmar queo povoamento da ferra está sempre conforme,
a vontade do criador e que, a Ordem. Divina. se manifesta de várias formas, nomea-
damente através da. relação. entre.os.nascimentos, ET
e.9s. óbitos.
a
Z
“Daniel Bemnoulli (1700-1782), médico e matemático, é o autor do teorema
sobre a lei dos pequenos “números. No caso específico da emergente ciência da
população dá uma 1importante con
contribuição aoao estudar os, efeitos
da vacina da varío:
la na mortalidade e nos efectivos sobreviventes,
Pierre Simon, marquês de
de L:Laplace (1749-1827), matemáticoe astrónomo..estuz
da a relação existente entre a estrutura por1 idades e. a mortalidade, tendo construído
úma tábua de mortalidade semelhanteà de Buffon.
Finalmente, Moheau (1745-1794) publicou em 1788 uma obra intitulada Inves-
tigações e Considerações sobre a População da França. Se Pett Graunt e asi FE

método
ulação. Confiante no» PIOSTESS da técnica.
e no
metia
trabalho, pensa que «a população. pode ser
superior à fecundidade do solo, desde que se encontrem na indústria os meios de
suprir as suas neces: » Condena o luxo, a desigual repartição da riqueza e é

: 25
bastante c crítico em relação aos costumes da sua época. Consciente do poder dos

dos nascimentos e denuncia a sua generalização nas classes dirigentes.


Porém, em finais do século XvII, na sequência de todo este conjunto de ideias
e métodos, que surgiram em torno da problemática populacional, um aconte-
cimento particularmente importante vai marcar o desenvolvimento da Demografia
como ciência da população — Malthus publica o seu Ensaio sobre o Princípio da
População.

1.3. A importância do pensamento de Malthus na emergência da ciência da popu-


lação

Thomas-Robert Malthus nasceu em 17 de Fevereiro de 1766, perto de Guilford


(Surrey). Era filho de Daniel Malthus, espírito culto que aderiu às ideias de Godwin,
Voltaire, Rousseau e Condorcet. Fez os seus estudos em Claverton, Nottingham, e
depois em Cambridge. Após os estudos, recebeu as ordens e tornou-se vigário da
Igreja Anglicana de Albury, em 1796. É nesta altura que reage violentamente con-
traas ideias do seu pai ao. não acreditar que. os. governos, mesmo. os iluminados,
io St profunda da.: espécie
possam mudar alguma coisa à. natureza humana. Se Se existe
miséria, .9 único remédio é é der a limitação do crescimento da população e a melhoria
rt ri

“ Em 1798, “Publ a um livro que não tem o nome do seu autor e que a posteri-
dade irá conhecer pelo nome de Ensai jo da População. Em 1803,
aparece uma segunda edição, já as me do autor, na qual algumas
das conclusões da primeira edição são abandonadas. As edições sucedem-se, o que
demonstra o interesse por esta obra. A 3.º edição surge em 1806, a 4.º edição em
1807, a 5.º edição em 1817 e que foi a última revista pelo autor. Em 1805 é
nomeado professor de História e de Economia Política no Colégio da Companhia
das Índias Orientais. Durante o resto da sua vida continuou a trabalhar nas sucessi-
vas edições do seu ensaio e publicou outras obras, nomeadamente os Princípios de
Economia Política. Morreu com uma crise cardíaca em 1834.
Tal como dissemos anteriormente, em 1798, Malthus publica, sem mencionar o
nome, um livro intitulado Ensaio sobre o Princípio da População — como afecta
o futuro progresso da Humanidade, com notas sobre as especulações do senhor
Godwin, do senhor Condorcet e de outros escritores. Trata-se de um livro polémico.
baseado emassadocumentação. muito. sumária e teórica e que pj
éscândalo. O livro faz escândalo devido a uma das suas teses:. a assistência, aos.
pobres não serve senão pata os multiplicar sem os consolar. Também escandaliza
devido à formacomo a tese é apresentada. Um simples parágrafo desencadeia uma
grande indignação num mundo onde emergiam os ideais da igualdade, do socialis-
mo e da solidariedade entre as classes oprimidas: «Um homem. que..nasce..num
mundo ocupado, se.não.. lhe. + possível. obter-dos..seus..pais. os.meios de subsistên-
cia... esea sociedade, não. tem necessidade, do, Seu. trabalho, não tem direito. a
Md mA PER map Ci rr rev rtrersm A RASA A RR ni
natureza, não existe talher disponível para ele, a natureza diz para ele se ir embora
e não tardará a executar esta ordem salvo se recorrer à compaixão de alguns convi-
vas do banquete. Se estes se apertam para dar lugar, outros intrusos se apresentarão
reclamando os mesmos favores. A notícia de que existem alimentos para todos
enche a sala de numerosas pessoas. A ordem e a harmonia da festa são perturbadas,
a abundância que reinava anteriormente transforma-se em fome, a alegria dos con-
vivas é aniquilada pelo espectáculo da miséria e da penúria que reinarão em todas
as partes da sala e pelos clamores inoportunos daqueles que estão furiosos por não
encontrarem os alimentos que lhes tinham prometido.» (Vilquin, 1980).
A controvérsia que o parágrafo do banquete gerou nos salões elegantes da
época foi de tal forma importante que fez passar para segundo plano os aspectos
mais interessantes da sua obra. Indiferente ao sucesso do seu livro, Malthus conti-
nua a fazer novas investigações de forma a aprofundar as teses principais do seu
Princípio da População.
“Em 1803, publica uma nova edição desse. ensaio, assinado com o seu nome,
mas” queé difícil afirmar que se trata de uma nova edição. Em termos formais, a
comparação entre as duas edições mostra-nos a existência de algumas diferenças
significativas:

* o título mudou e passou a chamar-se Ensaio sobre o Princípio da População,


ou uma análise sobre os seus efeitos passados e presentes na felicidade hu-
mana, com um inquérito sobre as perspectivas que temos de suprimir ou de
atenuar no futuro os males que ocasiona;
* o volume aumentou consideravelmente — enquanto que na primeira edição
tínhamos um volume de 396 páginas, contendo cerca de 50 mil palavras, na
segunda edição temos um volume de 604 páginas com cerca de 200 mil
palavras; ,
* como a mudança do título indica, já não se trata apenas de uma simples
exposição da lei da infelicidade, mas de propor soluções "a limitação dos
nascimentos é através
repre ns
do casamento tardio e da abstinência sexual até ao casa;

As edições margem
sucedem-se, o que demonstra ATE
o interesse pela.obra (3.º em 1806,
4ºem 1807,5 em 1817, “6:em 1826. ) mas, a partir da 2.º? edição o texto é muito
ntre os vários ensaios, é fundamentalme: ntre.
ões. Esta diferença é mais do que uma simples questão
formal. Foi »O tipo “de trabalho efectuado e o tom com que foi escrito que foi
profundamente modificado na viragem do século. Aprimeira ediçãoé teórica, onde,
o princípio da população funciona como argumento principal na polémica que erse
Malthus a Godwin e a Condorcet. A segunda edição é umaptcernçõeas
autêntico.
es tratado,.c
natureza científica, bem fundamentado em. | numerosas, observações quantificadas

“ Talvez toda a polémica gerada em torno do conteúdo e do verdadeiro sentido


das diferentes edições estivesse resolvida se, como sugere J. Dupâquier (Vilquin,
1980), Malthus tivesse chamado Ensaio apenas à primeira edição, uma vez que a

: 27
partir da segunda edição o que se tem é um Tratado do Princípio da População
com pequenas variações formais entre esta última e as quatro seguintes revistas em
vida por Malthus.
Em todo o século XVII, tanto na Inglaterra como na França, existe um autên- ”
tico turbilhão de ideias sobre toda a espécie de questões: população, cereais, po-
breza, luxo, igualdade, liberdade. Não é assim difícil encontrar precursores do seu
pensamento mas, uma vez que o próprio autor reconheceu a sua dependência em
relação a determinados nomes, é interessante apreciarmos o conteúdo dessas
ideias. Os autores que influenciaram Malthus intervêm em momentos diferentes
do tempo:

* existem autores que provocaram o ensaio — Godwin e Condorcet — a tal


ponto que, na 1.º edição, os seus nomes são mencionados;
* no prefácio da 2.º edição Malthus esclarece que, na 1.º? edição (1798), utilizou
apenas os materiais que tinha à sua disposição no campo, ou seja, as obras de
David Hume, Robert Wallace, Adam Smith e Richard-Price; |
* na 2.º edição, utiliza as obras fundamentais de Montesquieu, Franklin, Stewart, |
Young e Yownsend.

Analisemos, em primeiro lugar, o pensamento dos autores que provocaram o


ensaio:

* Godwin (1756-1836) — asideias deste filósofo, tal como as de Condorcet,


constituem um acto de fé mana peperfeição humana, no progresso da igualdade,
“no “destino pacífico da nossa espécie; para Godwin, a igualdade fará desapa-
“recer a a, à brutalidade, a ignorância e.a duração. da vida. aumentará
“fazendo sim com que o homem, tenda para.a felicidade; nesta linha de .
!
raciocínio, uma questão necessariamente emerge: não haverá um crescimen-
to excessivo da população inerente a este estado de felicidade? Godwin, pen- |
sou no problema e responde antecipadamente a eventuais críticas dizendo
que, em primeiro lugar, a população se adapta aos meios de subsistência |
de que dispõe e que, em segundo lugar, numa sociedade igual tária, O equilí- |
brio émmais fácil porque os homens apenas procriarão quando devem; final |
mente, Godwin pensa que é ridículo temer no presente problemas que apenas 1

irão ocorrer no futuro.


* Condorcet (1743-1794) — este filósofo procura elaborar uma síntese históri-
|
!

ca dos progressos do espírito humano; nele encontramos a mesma fé numa |


À

sociedade igualitária, ição humana, no progresso da ciência.e. interes: |


o da expansão demográfica porque pode criar |
problemas. ao seu sistema igualitário: Condorcet, acredita que a questão po- |
pulacional é um problema longínguo. porque a espécie humana encontrará,
«luzes» que no momento não são imagináveis, prevendo assim, O progresso
da agricultura: a perspectiva dever. limute.dos.meios
de subsistência não o assusta porque
população.

28 :
Para responder a estes dois autores que provocaram o Ensaio, Malthus, na
1.º edição, inspira-se fundamentalmente em quatro autores:

* David Hume (1711-1776) — para este filósofo existe uma enorme capaci;
dade“prolífica nas populações devido ao. rápido crescimento. da- população,
nas colónias é à capacidade de recuperação a seguir a u re; a quanti-
dade de meios de subsistência é um obstáculo. no.qual. ai embater a capa-
cidade
idade, prolífica ddoshomens; D. Hume é optimista ao pensar que um bom
governo é É capazd de faz
fazer é aumentar os meios de subsistência, não defendendo
oponto to de vista de que é É preciso travar o instinto de Teprodução e que O
crescimento da populaçãoé a origem de todos os males, ao contrário de
Malthus, queé pessimista ao afirmar que o único remédio, é.o domínio, do
instinto, uma vez queo melhor dos governos nada, pode fazer;
Robert
rt Wallace (1694-1 IT defende ideias . contrárias. às. de. D.. Hume ao,
no, assado, porque bstár

nos “tempos, “modermos;


mode procura igualmente demonstrar qual : seria O cresci-
mento da população s se ela dependesse unicamente da sua tendência para a
multiplicação, ou seja, se os governos afastassem todos os obstáculos; explicita
assim, a ideia da progressão geométrica gue será um dos pilares do pensa-

que este problema só S ocorrerá: num futuro ao


Adam Smith (1723-1790)"a6 observar a! dinâmica do instinto reprodutor in-
terroga-se acerca da existência de uma duplicação da popula: ão cada 25 anos
na América, “quando na. Europa tal .não acontece; a explicação só poderéreste
dir
ti
na existência de, meios. de.subsistência abundantes; para Adam Smith a

de melhoria. das. condições. de. vida (obstáculo preventivo de Malthus); Malthus


aprendeu com Adam.Smith. a ideia, de. duplicação da população a um ritmo
rápid uando. Os. recursos, são abundantes, a ideia Je que a expansão
demográfic
d áficaé mais lenta. quando. existe. uma insuficiência de meios.€..
ea ideia
dede equilíbrio. £nÍre.. população. £-IMEIOS.. de. subsistência;
« Richard Price (1723-1791)é importante não pelas ideias mas pela informa-
ção numérica sobre o crescimento da população americana que Malthus utili-
zará em diversas passagens do seu Ensaio.

Nas edições posteriores do seu Ensaio, Malthus serve-se de outros, a


aca cani ajudo
comoMontesquieu. .B.. Franklin, J. Stewart, A. Young, J. Townsend para fundamen-
tar as suas, posições.
Em síntese, antes de Malthus já se pensava que uma população, submetidaà
influência única, do instinto de reprodução, duplica «cada 25, 20 ou 15 anos, e.

É neste contexto que é justo reconhecer a importância de Malthus, não só em


ter chamado a atenção para a importância da população no funcionamento da socie-
dade como por ter dado um contributo decisivoà consolidação de uma ciência da,
população. É verdade que o pensamento de Malthus é rico, variado é polémico,
mas que existe explicitamente uma clara atitude cien à população
é um ménito que"tódos temos de The reconhecer, concordemo com as suas
ideias. Por ironia do destino aconteceu a Malthus o mesmo que aconteceu a Karl
Marx, ou seja, a maior parte dos seus críticos nunca leram as suas obras, mas
apenas as ideias explicitadas pelos movimentos que se construíram posteriormente
em volta das suas ideias.
O seu ensaio sobre o princípio da população teve, conforme vimos anterior-
mente, várias edições, sendo a primeira bastante diferente de todas as outras.
A 5.º edição foi a última revista pelo autor, razão pela qual pensamos ser interes-
sante saber qual o tipo de assuntos nela tratados.
O plano geral da obra é o seguinte:

Livro I — Obstáculos que se opuseram ao crescimento da população no mundo


menos civilizado e nos tempos passados
Cap. 1 Exposição do tema; relação entre o crescimento da população
e a alimentação
Cap. Obstáculos gerais à população
Cap. HI Obstáculos à população em estado menos elevado na socieda-
de humana
Caps. IV a XIV Obstáculos em vários povos mais primitivos

Livro 1H — Obstáculos à população nos diferentes estados da Europa moderna


Caps. Ia X Obstáculos em diversos estados
Cap. XI A fecundidade dos casamentos
Cap. XII Efeitos das epidemias nos registos de nascimentos, óbitos e
casamentos
Cap. XII Consequências gerais inerentes a este estado de coisas

Livro II— Os diferentes sistemas ou expedientes que foram propostos ou que


influenciam os males produzidos pelo Princípio da População
Cap. Ia NI Os sistemas igualitários
Cap. IV A emigração

30 :
Caps. VaVIl A lei dos pobres
Cap. VHL O sistema agrícola
Cap. IX O sistema comercial
Cap. X Os sistemas agrícola e comercial combinados
Cap. Xla XI Questões de exportação e importação
Cap. XII Como o crescimento da riqueza nacional influencia o destino
dos pobres
Cap. XIV Observações gerais

Livro IV— Esperança para o futuro de curar ou atenuar os males consequentes


do Princípio da População
Cap. 1 A obrigação moral e a obrigação imposta de praticar esta vir-
tude
Cap. A influência que a obrigação moral teria na sociedade
Cap. HI O único meio possível de melhorar a situação dos pobres
Cap. IV Exame de algumas objecções .
Cap. V Consequências do sistema proposto
Cap. Via VII Efeito sobre a liberdade civil do conhecimento da principal
causa da pobreza
Cap. VII Plano proposto para abolir gradualmente as leis dos pobres
Cap. IX Que fazer para corrigir as opiniões erradas sobre a população
Cap. X A caridade
Caps. XI a XII Exame dos diversos planos propostos para melhorar o destino
dos pobres; planos de Owen e Curven; a influência das caixas
de poupança
Cap. XI Necessidade de elaborar os princípios gerais do assunto que
temos vindo a tratar
Cap. XIV Esperanças razoáveis que se podem conceber para melhoria
da situação social

Livro V — Apêndice contendo a refutação das principais objecções e resumo


da obra

Se ordenarmos de outra forma o conteúdo desta obra, simplificando a lingua-


gem, temos as seguintes áreas temáticas:

* Inquérito sobre os obstáculos ao crescimento da população


* Teoria do Princípio da População e problemas dela derivados
| * Solução do problema
* Crítica das falsas soluções

Destas quatro grandes áreas temáticas apenas nos interessam hoje c os últimos
três
atos pontos, visto o primeiro aspecto ter apenas um interesse histórico (nas
que ajuda, no entanto, a compreender melhor o rico e variado pensamento de
Malthus).
Assim, o fundamental sobre a atitude científica de Malthus em relação à popu-
lação encontra-se concentrado nos capítulos 1 e A do Livro 1 e no capítulo I do

e subsistência, obstáculos e remédios.


- Quanto ao primeiro dos eixos temáticos da obra de Malthus — população, Ls

cresce em progressão geométrica (1 2,4,8,16, 32. ) e a dá subsistência que: res

esreasà visão simples e catastrófica necessita de uma resposta a duas questões


fundamentais que estão intimamente associadas: o que é uma população não con-
trolada?..Qual é o ritmo malthusiano. de crescimento?
Em relaçãoà primeira questão, o pensamento do autor é muito pouco claro
na 1.º edição. É necessário aparecerem as edições posteriores para se perceber um
pouco mais. Só a partir da 2: eição, Malthus explica quais são.
orgaoas,
rt três condições

morte tende a aumentar devido ao. aumento da duração média


Em relação à segunda questão, o crescimento malthusiano. significa. QUE.a.pO-
pulação duplicacada 25 anos, como é o caso da população americana. Qualquer
população com base no mesmo instinto tende igualmente a crescer a este ritmo, se
bem que em muitos casos os obstáculos o tornem impossível... a Progressão. Seo,
métrica não é algo de real mas uma tendência,
“Nãojo deixa de ser admirável, neste início do “século. XXI, constatarm
armos. como
da dinâmi.
ca “das Pp pulações |humanas e as suas consequências - — a, percepção do fim do do
modelo do casamento. “tardio, o efeito geração, as consequências do aumento. da
duração )“média devida.
Por outro lado, e em relação aos meios de subsistência, Malthus não fez nenhu-
ma investigação preliminar sobre a agricultura antes de exprimir àa sua. Jei de cres-
,;a produção de
meios de subsistência pode, no máximo, aumentar uma quantidade igualà produ-
zida na época inicial ou seja, se em 1700 se produz 1 (e a população é igual a 1),
em 1725 produz-se 2 (a população é igual a 2), em 1750 produz-se 3 (a população
é igual a 4), em 1775 produz-se 4 (a população é igual a 8), em 1800 produz-se 5
(a populaçãoé igual a 16)... trata-se
ama de uma tendência a que. quanto mais o tempo
passa, mais afasta o volume da população do volume dos recursos.
Malthus admite que possam.existir.factores.que contrariem,
a lei da população,
tais como a utilização de novas terras, a importação de produtos alimentares e o
progresso técnico, mas, são factores que não tesolvem, o. problema, do. equilíbrio
entre, a população e OS TeCUISOS, apenas..0. adiam, não acreditando por isso que
sejam uma solução... e passado o século xIx e olhando para o século xx sabemos
hoje como Malthus não se enganou.
Quanto ao segundo dos eixos temáticos — os obstáculos ao crescimento da.
população — coexistem dois tipos de classificação nas sucessivas edições do en-
“saio.
Na edição de 1798, Malthus apenas admite ovício
e a miséria: a partir de
1803, junta um terceiro obstáculo — a obrigação moral.
Quanto ao vício,é difícil compreender o seu pensamento. Em todo o caso,
Malthus distingue dois.tipos.de.vícios: o vício no celibato (celibato sem respeitar as
regras da castidade) e o vício. no, casamento (infanticídio, aborto, métodos anticon-
cepcionais, instabilidade das uniões e adultério).
Quantoà miséria, este, obstáculo.e engloba um. <Sonjunto, de, factores «que levam à

ciência dosmeioss de subsistência — maus climas, trabalhos penosos, suerra.


vntiiiianto ido E
Por último, a obrigação. moral, Malthus “entende que se trata do. celibato-em
conjunto com a castidade prolongada, até ao momento em. que.se é.capaz de alis,
entar 1 uma família. Em 1798, Malthus afirma que o celibato conduz necessaria-
mente ao vício.Em 1803, já o reconhece como um obstáculo preventivo que não
conduz necessariamente ao vício. À que seria devido esta mudança? Talvez porque
na primeira edição do ensaio procurasse desacreditar Godwin e só a partir da se-
gunda edição do ensaio começa a ter preocupações verdadeiramente científicas.
Mais ainda, deseja para todos os homens, em nome da moral, o cumprimento desta
obrigação moral porque o vício conduzà infelicidade.
Contudo, Malthus.não acredita que os homens. sejam.: suficientemente VILtUOSOS,,
para praticar a obrigação moral. Esta falta de convicção tem uma influência
determinante na atitude de Malthus em relação aos remédios que preconiza. Colo-
cado d diante de, duas opções — procurar o equilíbrio entre a população e a. subsise
mentos « ou pela limitação dos nascimentos.
no> interior ddo, “casamento - — opta pela primeira. Somente em 1817 compreende o
remédio preconizado por Condorcet, ou seja, a limitação dos nascimentos por mé-
todos contraceptivos e adopta uma nova classificação: obstáculos preventivos (os
que se opõem a novos nascimentos — obrigação moral e vício) eos Sbstáculos
positivos que eliminam as crianças já poseidas, (miséria).
Quanto ao terceiro dos eixos temáticos — os remédios — Malthus
não hesita em
afirmar que o único remédio.que.não. prejudica nenem idade 1 moral nem
a felici=
ate: ial éé a obrigação moral. Mas, antes de analisarmos este remédio, vejamos
o que é que se entende por «falsos remédios» que só servem para agravar a situação:

* os sistemas igualitários — são os preconizados por Godwin e Condorcet, os


quais, Malthus critica severamente por não resolverem o problema funda-
mental;
* a emigração — em 1798 não acredita nesta solução mas, em 1817, já afirma
que pode trazer algum consolo sem, contudo, resolver a questão formulada
no seu princípio da população;
* a lei dos pobres — que Malthus considera como um factor
Sande expansão. da,
miséria; um aumento na procura sem que aumente em paralelo a produção

33
provoca necessariamente uma alta de preços... esta alta de preços vai fazer
com que muitos que viviam do seu trabalho sejam obrigados a recorrer à
assistência... o que representa um factor de multiplicação dos pobres; acresce
ainda o facto de esta lei encorajar a proliferação dos mais necessitados, uma
vez que estes não encontrarão razões para retardar o casamento... é neste
contexto que é escrita uma frase que provoca um escândalo quase igual à
frase do banquete — «os pobres não têm o direito a viver» não por culpa.das
classes mais abastadas, n
nr eram neo
o à falta de clarividência. do governo mas.
“devido
ES ai
purae simplesmente à escassez. dos meios; no entanto, à medida que
as edições vão sendo revistas, Malthus atenua a sua posição inicial admitindo
até, na última edição, alguma caridade pública e privada;
* crescimento dos meios de subsistência — Malthus admite que um.país.rico.e,it e

idustrializado, possa, graças. aos seus produtos mennfacturados, comprarmeios,


rã cd

apenas se está aÀ adiar : a resolução do problema, porque o> desenvolvimento


económico dos países exportadores pode alterar o. equilíbrio existenite.

Émn:neste contexto.que.emerge-a- -solução.da.obrigação.moral.como sendo


a única
so
solução,“possível. A riqueza do pensamento de Malthus não reside assim nas suas
expressões provocatórias, nem tão pouco na originalidade das suas ideias, nomea-
A
damente na solução do casamento tardio que preconiza. riqueza. do. seu, pensa-
mento reside na forma como soube sintetizar e articular um conjunto de ideias que
estavam dispersas € sem articulação entre si, bem como na análise da dinâmica das,
humanas,
populações hun anunciando assim a € a Demo grafia « com: iência.
Ta

1.4. Malthusianismo, neomalthusianismo e as reacções ao pensamento malthusiano

Nos últimos anos da vida de Malthus, ou mais precisamente em 1822, Francis


Place publica um livro intitulado Ilustrações e Provas do Princípio da, População.
(Russel, 1979) no qual defende uma posição intermédia nas teses que opõem.Godwin.
a Malthus.
Francis Place é malthusiano ao aceitar o Princípio da População: «Quando os
trabalhadores da indústria e do comércio se tornam demasiado numerosos, os salá-
rios serão reduzidos e a condição desses trabalhadores não será melhor do que a dos
escravos. » (Russel, 1979). Mas não étotalmente PRADO: na medida em que sor
não.

tado de contracepção.

34
Progressivamente aceite pelos intelectuais, o neomalthusianismo irá beneficiar
de uma grande publicidade na sequência do processo contra Charles Bradlaugh e
Annie Besault, em 1877, acusados de terem encorajado a edição em Londres dos
Frutos da Filosofia. Em três meses venderam-se 125 mil exemplares, o que de-
monstra o grande interesse que esta obra suscitou.
Tal como apareceu, a doutrina malthusiana era essencialmente conservadora,
na medida ex
em que defendia explicitamente o ponto de vista que os poderes públi-
cos e a sociedade não eram. responsáveis pela miséria existente nas classes, tra-
Dalhadoras. A miséria era uma consequência da tendência destas classes a uma
multiplicação sem controlo. Talvez por esta razão um certo tipo de pensamento
conservador se tenha apropriado destas ideias. Ao ser apoiado pelo liberalismo

tes tinham interesse em que a classe operária fosse numerosa para poderem recrutar
trabalhadores a baixo preço, por outro lado, uma população demasiado abundante
implica a existência de um grande número de proletários que-poderia pôr em causa
o equilíbrio existente.
Esta contradição de interesses foi particularmente desenvolvida nos meios anar-
quistas e anarco-sindicalistas onde o pensamento neomalthusiano penetrou. comum
certo sucesso. Em 1 geral, acusavam a burguesia de querer «carne. para canhão» e.
encorajaram a «greve dos ventres». Mas Rosa Luxemburgo e Clara Zatkine defen-
deram ideias opostas ao afirmarem que «o número é um factor decisivo na vitória
do proletariado porque só sendo numerosos é que se toma o poder». (Russel, 1979).
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, seguido da crise económica dos anos
trinta, este debate de ideias entra em esquecimento na Europa ou, mais propriamen-
te, no eixo entre Paris e Londres e passa para os Estados Unidos onde é bem aceite.

Control perdesse a sua componente ideológica ese transformas: N


num direito fundamental das pessoas a terem os fil s que querem e.quando-quise-
rem. o) Birth, Control transforma-se em Family. Planning... Da Limitação dos
Nascimentos passou-se para o Planeamento Familiar.
Porém, enquanto a maturidade das ideias em torno da sequência Malthus-
-Malthusianismo-Neomalthusianismo-Limitação dos Nascimentos-Planeamento Fa-
miliar não chegou ao fim, ou seja, enquanto não se generalizou a ideia de que O
Z2
direito ao Planeamento Familiar é um direito fundamental que está para além, das
opiniões de caracter ideológico, as reacções ao pensamento malthusiano. sucede;
ram-se durante os séculos XIX e x5
O pensamento liberal de tendência malthusiana tem em 1. Baptiste Say (1767-
-1832) o seu principal representante ao constatar que, a natureza multiplicou os
germens da vida com uma e tal que, quai sejani OS acidentes
subsiste Sempre si + número de pe cie.
Ns caad

excessiva dos seres vivos e o homem não escapa a esta lei universal. Porém, o
instinto da previdência que o caracteriza dá-lhe a possibilidade de escapar aos
males que atingem os animais. O homem tem possibilidade de regular o número de

: 35
nascimentos em função dos recursos disponíveis, o que faz imperfeitamente, visto
que todos os anos, mesmo nas nações mais prósperas, uma parte da população
morre devido a carências várias. Para J. B. Say a solução consiste em encorajaros
Fomene. a poupar | mais ea ter menos filhos. Partilha com Malhas a opinião dede que

ue. o. sistema social detes fasta-se doao criar a desigualdadena.


as,. Jimita o número de habitantes. A maior originalidade. de 1.B. Say re:
reside
j o da noção malthusiana de meios de subsistência pelo conceito de
xistência, onde se inclui para “além dos e Tintas a

condições, básicas “de existência.


A tese malthusiana encontra-se assim alargada, e até mesmo ultrapassada, o
que leva alguns autores a pensar que Cantillon inspirou:: Say, embora este último
nunca o cite. Na realidade, ambos defendem c o “ponto « de vista de que o volume da
população depende, numa certa medida, da capacidade que esta tem em trocar bens.
manufacturados por bens alimentares. Outro exgé reta-.
ção cultural das necessidades — o meio social faz variar a intensidade das neces-
sidades, os membros de certos grupos sociais contentam-se em viver com A pouco,
enquanto que outros, pelo contrário, são mais exigentes, sendo por isso o número
de habitantes uma função dependente do modo de vida.
Joseph de Maistre (1753- 1821) éé adepto da ori ina d ledade, admira |
a solução proposta por Malthus paraa resolver O p população incluindo 0.
recurso ao celibato como forma para controlar a população.
Em Inglaterra, as idéiás malthusianas expandem-se muito rapidamente e foi
neste país que se rea
realizou a primeira campanha a a favo limitação dos nascimen-

de Malthus na sua variante neomalthusiana nos quais se destaca Stuart, Mill


(1806-1876). Para este economista, o progresso económico produz resultados con:
con:
traditórios: por um lado, favorece. a população diminuindo o custo dos objectos
manufacturados mas,
mas, pi um travão na medida em que a expan-
são dEMOS faz subiro custo de produção dos produtos do solo. Assim, a
solução do problema da população não se pode encontrar no aumento permanente
da riqueza, mas no regresso ao ideal da estabilidade dos filósofos gregos. Retoma,
assim o ideal estacionário de Platão cuja construção será possível através: do indivi-
ismo, do gosto pela independência e pelo desenvolvimento das responsabilida-
des. É dos primeiros. àautores
a pensar que a seneralização do trabalho femininoterá.
como consequência o declínio da, natalidade.
Durante o século XxX a escola liberal francesa afasta-se progressivamente das,
tes smalthusianas, e no fim do século está consumada a separação com os restan-
tes pensadores liberais. Dois grandes pensadores destacam-se por entre os demais
— Dumont e Durkheim.
A. Dumont (1849-1902) constata a existência de uma oposição entre.o cre
mento da pôj
população e o desenvolviment
dos ou servem] para o consumo individual ou para
nte si der

36 .
homem ao aspirar a subir na escala social, segundo um processo que necessaria-
mente exige despesas e sacrifícios, só o pode fazer com manifesto prejuízo das
famílias numerosas. As crianças não podem Subir Socialmente ses pais.. não Son
“ságrarem uma parte importante O seu rendimento a inst ução e.
A imitação d TSE ASSI
os adultos possam ascender socialmente é Para que, “simultaneamente, as crianças
tenham uma educação melhor. Dumont chama a este processo de movimentação na
estrutura social a capilaridade social, que se manifesta particularmente 1 nas socie-
dades democráticas que combinam a igualdade social com a igualdade económica.
Para Emile Durkheim (1858- 1917), um dos fundadores da sociologia cientifi-
ca, à expansão « da população é“acompa! da por uma. mudança.qualitativa la socle-
dade. o: aumento. do volume ade da população traduzem-se, geralmente,
na
ja extensão,
o das cidades favorecendo: assim a divisão do trabalho. À competição
ea luta “pela vida no seio de uma sociedade são tanto mais vivas quanto mais a
população se toma densa. As pessoas só encontram solução para as suas dificulda-.
/ S si relações.s
mentando O seu “nível de, cultura. A solidariedade de mecânica passa a orgânica. sete
Esta necessidade. m aumentaro nível. culturale. em. participar. numa. rede social,
densa
densa aca
acaba,.na.prática, por. se transformar. num factor.Jimitativo.dos.nascimentos.
Malthus procura resolver o problema social do seu tempo, o problema da misé-
ria das classes populares, no quadro da ordem liberal, a qual se baseia na proprie-
dade privada e na desigualdade social. A solução só pode ser encontrada intervindo
directamente na população, ou seja, incitar os trabalhadores a trabalharem mais € a,
terem menos filhos. Os autores socialistas, pelo contrário, defendem em globalmente.
o ponto de Vista que uma acção directa sobre a população deve passar para segundo
plano,>,porquesó com uma. modificação.profunda, das. estruturas capitalistas é pos-
trazer uma solução durável aos problemas com que se debatem os
dores.
Charles Fourier (1772-1837)é contra as ideias malthusianas por pensar quea
sociedade deve cri dições de. crescimento harmônico, e que uma mudança nos
costumes o alimentar, no trabalho das mulheres ou na educação física é.
suficiente para, disciplinar 1 naturalmente, E fecundidade.
“ Proudhon (1809-1865) procura provar gue a ameaça malthusiana é falsae alar-
mistaa contrapondo um conjunto de cálculos que têm como. objectivo demonstrar
qu Princípio . da. População. assenta. em cá ulos. irrealistas. São cálculos sem
fundamentação e de qualidade duvidosa. No entanto, é interessante salientar que o
principal teórico das ideias anarquistas chame a atenção para a acção moderadora
da civilização no instinto de reprodução.
Marx (1818-1883).« Malthus por ter concebido a sua lei da população no
contexto de uma sociedade. natural composta-por. seresAumanos.isolad!
Z
gues à livre concorrência e ienorando 0. facto de os fen sp opulacionais, tal
como todos Os outros fenómenos sociais, estarem.s submetidoss àà evolução histórica.
Para Marx, cada ) período “da hhistória Oobedece a uma Jei específica da população.
Admite que no século XIX existe um excesso de população, mas tal não se pode
generalizar a outros momentos da história, porque estes excedentes são devidosà

. 37
estrutura económica da sociedade liberal e não à penúria de bens alimentares. Em
última análise,é o sistema capitalista que é responsável. pelo elevado número de
| desempregados, porque obriga os empresários a aumentarem o capital fixo em
| detrimento do capital circulante que serve para remunerar os trabalhadores.
Engels (1820-1895) e Lenine (1870-1924) também defendem ideias muito pró-
ximas de Marx, não acres centando praticamente nada de novo ao afirmarem
na ía
que o
| “malthusianismo é uma doutrina de classe dirigida contra os trabalhadores. Talvez
| o aspecto mais interessante do seu pensamento resida na associação do pessimismo
| malthusiano à decadência da burguesia, que está inquieta em relação ao futuro
IR porque sabe que a sua posição de classe dominante tem os dias contados.
A posição dos anarquistas em relação ao problema da população varia com os
diversos autores. A maior parte julga que os recursos alimentares são suficiente-

| ções festamente “neomalthusianas. São posições muito pouco fundamentadas,


| | | quer cientificamente quer doutrinalmente, e não apresentam, em geral, argumentos
| com elementos novos.
William Vogt introduz as primeiras preocupações. de carácter ecológico de uma

j faz, de, forma anárquica é y


| sistematicamente e sem precaução, “fazendo com que os recursos alimentares come-
i cem a ser insuficientes face a uma população que não pára de crescer. Foi com base
nas suas investigações sobre este tema que anunciou o fim do mundo pela fome no
mundo. A posição do agrónomo francês. René Dumontéé muito semelhante, apenas
| diferindo da anterior pela inclusão mais explícita da componente ambiental. Recusa
| uma civilização baseada no consumo e é contra o crescimento descontrolado da
| população por aumentar a poluição e delapidar as riquezas existentes.
Na mesma linha de preocupações temos Josué de Castro, que.é.considerado um.
antimalthusiano por defender a ideia que não é o excesso. de população que gera a,
|| fome mas O inverso. Às carências alimentares-estimulam o-instinto-sexual-e-aupaca-
| tam à fecundidade .das.. populações: «Os bens alimentares na mesa do pobre são
lo escassos mas o seu leito é fecundo.» Josué de Castro verificou que os países de
maior fecundidade são os de menor consumo de proteínas e que inversamente os
de menor fecundidade são os de maior consumo de proteínas. Consequentemente,
o excessivo crescimento da população não se resolve com a limitação dos nasci-
| , mentos, mas com o aumento do consumo de proteínas nos países pobres, o que
implica um maior desenvolvimento económico e social (Russel, 1979).
| O debate sobre as questões do excessivo crescimento da população é, no entan-
to, admiravelmente enriquecido e sistematizado durante o século xx com Alfred,bros
| ' Sauyy. As dezenas de obras importantes que publicou, em particular na segunda
renri
metade do século, não permitem reduzir a riqueza do seu pensamento a meia dúzia
| de frases simplistas nem tão pouco é possível examinar a importância de todo o seu
legado científico. Escolhemos apenas as temáticas que, em nosso entender, são as
à| mais relevantes não só pela pela p profundidade com q que foram tratadas nas sucessivas
obras que foram publicadas como pela actualidade que ainda hoje têm.

38 :
O primeiro grande tema está relacionado com o complexo de análises feito
acerca do tema o óptimo da população. O problema da população que até ao
aparecimento de Sauyy tinha sido sempre discutido numa perspeci tela
entre
atento oeenptimst
a população e os recursos passa a ter uma configuração muito diferente.
pra emática: qual deve ser o número óptimo « de habitantes de um dado território,
para que.o nível de vida seja, .o-mais. elevado. possível? Esta formulação inicial
do problema teve consequências assinaláveis a todos os níveis de pensamento e da
administração, na medida em que não se trata de saber se existe gente a mais ou
gente a menos, mas de saber num determinado país (ou uma determinada região)
qual é o equilíbrio óptimo entre a população e os recursos. Como não podia deixar
de ser surgiram muitas críticas acerca da possibilidade de encontrar um óptimo da
população para cada unidade espacial o que levou Sauvy a, numa segunda fase,
fixar dois números exactos, determinados através de uma complexa formulação
matemática, entre os quais podia variar a população. O seu óptimo de população
não é um número rígido, porque entre os dois limites superior e inferioré possível.
fixar várias hipóteses intermédias que asseguram. ot bem-estar: generalizado da por,
pulação. Este ponto de equ.
de produção, das necessidades do con
com “que este óptimo populacional. seja, variável. no tempo. e no espaço e que possa -
pe

ser ultrapassado pela população Teal sem que1 nenhum, problema especial. ocorra. Na”
fase final da sua vida e da sua investigação Sauvy substitui a ideia de óptimo da
população pela ideia de crescimento óptimo da população. Constatando que se

d o.na. população. que permita at


específi os, objectivos e:esses que nunca podem pôr em causa a
, social e económica em que se insere a população.
Outra grande temática deRE é a inserção da temática pepetaçional nos. seus,
rem
avo ns
va
o

os lobos não gostam de pastagem porque, se assim fosse, sendo mais fortes, come-
riam a pastagem toda e as cabras não poderiam existir. Com base nesta análise, que
ae

pode ser alargada a sistemas mais vastos e complexos, resultam duas coisas: as.
cabras devem avida a quem as Sil
come. e o interesse dos as lobos É. o de que no terreno.
1

existam montanhas1
2Jedi
ã

é plano, os lobos.
mm

sÍVEIS,.OS Jobos vão. . PRN


comendo.
a
apenas. Q «rendimento». “sem,or o sap, Eno
vo

sa prednicom não forem.extermina Os.e. OS onsumidores. secundá .


rios só podem existir se não houver consumo excessivo dos consumidores pri-
mários. NO fundo, o que Sauvy nos transmite é que a questão da população éé muito
C simples equilíbrio entre população e i

censo os Civersos
Finalmente, o nome de Sauvy ficou para sempre ligado à explicação de um dos
maiores dilemas com que nos debatemos no momento actual — crescer

Is para que tal aconteça. Logo, se um.


paíst não pode crescer mais tem dese preparar para o envelhecimento demográfico,”
ou seja, ver diminuir progressivamente a importância da sua juventude e aumentar
em contrapartida a importância das pessoas com mais idade.
Por várias vezes Sauvy demonstrou até que ponto as sociedades mais. desen;
volvidas.seriam todas atingidas por este processo de envelhecimento, mas mais do
que as suas demonstrações matemáticas foi a «festa» que ficou para todo o sempre
para ilustrar o sentido das grandes opções a tomar..Se numa festa existirem 18
rapazes e 10 raparigas, existem duas maneiras de encontrar o equilíbrio: ou se
mandam para casa 8 rapazes ou se convidam 8 raparigas. No primeiro caso,
denuncia-se o excesso, restabelece- -se O. equilíbrio antigo e prepara-se
a sociedade
<

“equilíbrio « e prepara- se a “soci


to aro e 1976). É neste contexto que todos os povos
“estão confrontados com um dos maiores dilemas da história da humânidade: cres-
cer ou envelhecer? É

1.5. A transição demográfica

Sem termos procurado ser exaustivos na análise que elaborámos nos pontos
anteriores, julgámos ter demonstrado a existência de uma grande riqueza de ideias
na história do pensamento demográfico. No entanto, na época contemporânea, dois
grandes conjuntos teóricos agrupam a maior parte das principais correntes de pen-
samento. O primeiro conjunto é o malthusianismo em sentido lato. O segundo
“é a teoria da transição demográfica.
No espírito dos defensores desta teoria, o conceito de transição demográfica
significa a passagem de um, estado de equilíbrio, em que a mortalidade e a |
fecundidade têm elevados níveis, para um outro estado de equilíbrio, em que
a mortalidade e a fecundidade apresentam baixos níveis, na sequência ou paralela-.
mente a um processo de modernização:
Foi Léon Rabinowicz em 1929 e Warren Thompson em 1930 que empregaram,
pela primeira vez, a expressão «revolução demográfica». Em 1934, Landry desen-
volve as ideias fundamentais desta teoria no seu livro 4 Revolução Demográfica
que é hoje considerado como um clássico. Com Frank Notestein, a «revolução
demográfica» transforma-se em «transição demográficas, | “expressão. que hoje é a.
mais correntemente utilizada.

40 .
A transição demográfica é um modelo de leitura das grandes transformações
demográficas que ocorreram ou que estão a ocorrer na época Contemporânea. Co.

“mas rapidamente ui uma, vocação “Planetária. “Apesar de existirem “Variantes


interessantes de autor para autor e de existirem algumas críticas a determinados
aspectos da teoria (sobretudo quando esta é formulada numa linguagem muito
dogmática e detalhada), a transição demográfica é considerada como um dos mos.
delos teóricos mais importantes da Demografia. É
“Segundo à a teoria da transição demográfica, todos os países já passaram ou
terão de passar por quatro fases de evolução:

1º fase — do «quase- equilíbrio» antigo ou de «pré-transição» caracterizada.


No É “pela existênci a mortalidade elevada e uma fecundidade igual.
mente elevada; a necessidade de uma descendência numerosa é uma
consequência da existência de más condições sanitárias, o que im-
plica a existência de uma mortalidade elevada; o crescimento nat
tal.da população é muito reduzido;
2.º fase — do declínio da mortalidade como consequência de uma melhoria
ide . generalizada das condições de higiene e de saúde; o nível de fecun-
didade mantém-se inalterado e existe uma consequente aceleração do
crescimento natural da população; o
vos
3.º fase — do declínio da fecundidade como consequência de uma nova atitude
'€s-
face àvida apoiada por meios modemos deiintervenção na fecundidade;
a mortalidade continua a declinar embora a um ritmo mais moderado
e o crescimento natural da população diminuiu de intensidade;
4.º fase — do «quase-equilíbrio» 3moderno entre uma. mortalidade com baixos
sa
níveis e uma fecundidade igualmente baixa; o crescimento natural
da população tende para zero.
ntos
leias
dois
pen- A totalidade do alte em . viass de.
são face ao eo
undo pela segunda fase (declínio da1mortalidad Da
(declínio d fecundidade).

áfica derográfica é em alguris país


3€ 4a.
1 que começou a chamar-se de pós-transição, devido àaoo facto deo o seu nível de fecundidade, e
alela-. não garantir a substituição das gerações e de o número “dos, Óbitos ser. supeno:
número dos nascimentos.
ara,
O século XX, sob o ponto de vista demográfico, foi um século onde o homem.
jesen- aprendeu” a controlar O seu destino. O fatalismo milenário que se abatia sobre a sua
ráfica vida biológica foi dando lugarà acção humana e à livre escolha. O homem, depois
de ter conseguido dominar a morte, a qual foi atirada para as idades mais avan-
olução çadas, acabou por dominar a vida escolhendo o número de filhos segundo os seus
je éa.
desejos (Chesnais, 1995).

41
z

de a se a “todos Os países Eee e aos ooo nantes tendo como


consequência mais visível o aumento da população: a população mundialé estima-
da em cerca de 461 milhões de habitantes em 1500, atinge o primeiro milhar de
milhão em 1804, o segundo milhar de milhão 123 anos mais tarde (1927). A partir
desta data a aceleração não pára de aumentar: em pouco mais de um quarto de
século (1960) atinge-se o terceiro milhar de milhão, em 14 anos (1974) atinge-se o
quarto milhar de milhão, em 13 anos (1987) chegou-se ao quinto milhar de milhão,
em 12 anos (1999) chega-se ao sexto milhar de milhão e em apenas 11 anos (2010)
atingir-se-á o sétimo milhar de milhão.

Natalidade
p
Mortalidade
1º Fase

Figura 1 — A transição demográfica

No entanto, apesar desta evolução, as Nações Unidas trabalham no presente


momento com um cenário de estabilização da população à volta de dez a doze
milhares de milhão de habitantesà superfície da terra em meados do próximos século
(em' vez dos quinze ou vinte milhares de milhão admitidos em cenários anteriores).

mente para1 uma situação em que, a partir dde meados do século, se admite o início
tin anic mes
“de um | processo que«conduzirá a um declínio progressivo da população: o número
total de nascimentos, que era de 110 milhões em 1960- 1965, atingiu 140 milhões em
1990-1995 e diminuirá para 120 milhões no período entre 2010-2015.
A modernização demográfica, impulsionada pelo declínio da mortalidade, come-
çou nos países mais desenvolvidos do mundo europeu e teve, posteriormente, a sua
£
difusão nos países menos desenvolvidos. O efeito global d jo da mortalidade,
só se tornou claramente perceptível entreas duas £“grandes. g s mundiais: global-
mente, a taxa de crescimento da população nas regiões menos desenvolvidas duplica
ao passar de + 0,5% no período de 1900-1920 para + 1,0% no período entre 1920-
-1940; nas regiões mais desenvolvidas, apesar da sangria provocada pelas duas
guerras mundiais, o mundo industrializado ainda tem no período 1900-1920 uma taxa
de crescimento anual média ligeiramente superior (+ 0,89%) e, no período de 1920-
-1940 o ritmo de crescimento é igual ao das regiões menos desenvolvidas (+ 1,0%).

42
oa
Éa partir
aee
de 1940 que a transição, demográfica inicia globalmente. 0-Seu:proce Sa.
so nos países menos desenvolvidos: + 1,3% no período 1940-1950, valores de cres-
“cimento anual médio superiores a 2% até 1990, início da redução do crescimento
populacional a partir de 1990 com valores já inferiores a 2%. Nos países desenvol-
vidos, depois do crescimento motivado pelo «baby-boom» no período de” 1950-
“1970 (valores ligeiramente superiores a.1%), a evolução das taxas de. crescimento
“anual médias caminha AA para valores próximos. de. Zero.

generalizar-se e o ritmo de crescimento. começa éa diminuir. No caso de existir 1um a.


rápida difusão do modelo moderno de baixa fecundidade, característica dos países
mais desenvolvidos, o crescimento demográfico. diminui substancialmente num curto q
espaço de meio século. É
“Em síntése, aideiac ! dal |
istência dos efeitos. modem ção mnos.s comportamentos, demográficos, pate-
ce estar mais do que “demonstrada pelos factos. A revolução sanitária fez com que
no mundo, nos anos 90, não existam praticamente países com uma esperança de
vidaà nascença inferior a 50 anos. Os raros países que se encontram nessa situação
pertencem todosà África sub-sariana. A revolução contraceptiva fez também gene-
ralizar a ideia de que um baixo nível de fecundidade é um símbolo de modernidade,
seja à escala de um país seja à escala dos indivíduos e dos casais.

1.6. O objecto de estudo da Demografia

Depois desta breve análise teórica sobre a evolução da problemática popula-


cional através dos tempos chegou o momento de precisar o conteúdo do objecto 'e
da prática da demografia científica nos dias de hoje. Já dissemos que apesar de
a preocupação com os problemas da população remontarem à Antiguidade, a
Demografia como ciência apenas aparece na segunda metade. do século XVII. Até
esta altura, as preocupações com a problemática populacional aparecem numa
perspectiva mais...filosófica..e. doutrinal..do. -«que-.científicar- A esta perspectiva
correspondem, conforme vimos anteriormente, diversos conteúdos. Do.ideal.de.
ma população estacionária (ou docrescimento..zero)..à.. defesa..intransigente-de.
re imento populacional, encontramos um pouco-de.tudo..
Foi Achille Guillard que, na sequência de.uma-tendência-de.. pensamento que.
os. problemas-.ligados. à população COMO. inte ssantes..em.
consistiu em considerar.

“Si, que inventouo nome «Demografia Comparada». Neste autor, encontramos à


seguinte definição,
defini de Demografia: «Em sentido. amplo. abrange. a história. natural
e social da espécie. humana;.em sentido. restrito, abrange. o.conhecimento matemá-
p çõe . dosseus movimentos gerais, do. seu. estado.físico, intelectual.e
mooral,» (Guillard, 1855). Este autor teve o cuidado de fixar, logoà partida, com
relativa precisão, o conteúdo fundamental da. Demografia:-«O.conhecimento. mate
Jmático das populações, dos seus movimentos...» Mas também abriu o caminhoà

43
Demografia Social ao falar em «... intelectual e moral...» e à Demografia Histórica
ao falar em «... história natural da espécie humana...».
Várias definições apareceram posteriormente. Pensamos ser inútil inventariar
essas definições porque, embora variando em alguns pormenores, evoluíram até à
Segunda Guerra Mundial para uma óptica mais restritiva. A definição de Huber no
seu Curso de Demografia e de Estatística Sanitária (Chevalier, 1951) culmina esta
tendência: «Demografiaé a aplicação dos métodos estatísticos ao estudo das popu
lações ou, mais genericamente, ao estudo das colectividades humanas.» Talvez esta.
preocupação de rigor quantitativo tenha feito com que a Demografia rapidamente
se afirmasse como ciência. Mas o facto de se ter desenvolvido fora das universida-
des, também fez com que a sua problemática tenha sido substancialmente reduzida.
Landry, em 1945, no seu Tratado de Demografia, é dos primeiros demógrafos a
tomar consciência desta questão: «Estamos de acordo em pedir à Demografia que
considere, em primeiro lugar, os aspectos quantitativos; existe assim uma Demografia
quantitativa cujo objectivo essencial é o estudo dos movimentos que se produzem
numa população, acompanhado dos resultados desses movimentos: más também
existe uma Demografia qualitativa que se ocupa das qualidades dos seres huma-
nos... esforçando-se, no entanto, por submetê-los à medida.»
Retoma-se, assim, a dimensão qualitativa, dimensão essa que não mais deixará
de se desenvolver e que vai ter como consequência o aparecimento de diversos
ramos em Demografia. Consciente desta situação, Mouchez, no seu livro Demo-
grafia publicado em 1964, afirma: «Não existe uma Demografia, mas demografias
que têm emcomum.certas..preocupações, o. que. dá.ao. seu. estudo. um mínimo.de.
unidade.»
O desenvolvimento da Demografia como ciência fez com que nas últimas deze-
nas de anos se multiplicasse o número de obras publicadas. Infelizmente, nem em
todos os trabalhos existem preocupações de carácter epistemológico. É com imensa
dificuldade que encontramos, em autores responsáveis pela publicação de impor-
tantes manuais universitários, um capítulo dedicado à questão do objecto e do
método da Demografia. Sem pretendermos ser exaustivos, vejamos as principais
definições de Demografia que encontramos nos manuais e dicionários especia-
lizados:

* no Dicionário Demográfico da União Internacional para o Estudo Científico


da População encontramos a seguinte definição: «Demografia é a ciência que
tem por objectivo o estudo científico das populações humanas no que diz
Jespeito.
à sua dimensão. estrutura, evolução e características gerais, analisa-
das principalmente do. ponto. de. vista quantitativo.» (Henry, 1981);
* no Dicionário de Demografia de W. Petersen (4 volumes) aparece-nos a se-
guinte definição: «A Demografia pode. ser definida-em-sentido-restrito-e-em
sentido lato; a Demografia Formal consiste na colheita, na-análise.estatística
e na apresentação técnica dos dados da população:baseia-se-no. ponto de
vista, de que, den 7 imento. da população é vm
processo auto-contro ado, com uma interligação 1 mais ou menos fixa entre
fecundidade, mortalidade e estrutura por idades; a Demografia Social, on

44 Te
Estudos de População, inclui análises onde a população tem em conta facto-
res sociais, económicos, políticos, seográficos e biológicos.» (Petersen, 1986);
* para G. Wunsche M. Termote: «Demografia é o estudo da população, do.sem
aumento através dos nascimentos e Amigran s. daestan sua
ps aodiminuição. através.dos
“Óbitos e dosemigrantes: num contexto mais vasto, a Demografiaé igualmen-
“te o estudo das diferentes determinantes da mudança populacional e dos.efeis
tos s da população. no.mundo..que nos.rodeia.» (Wunsch e Termote, 1978);
* em
em Shryock e J. Siegel encontramos a seguinte definição: «Como na maior
parte das ciências, a Demografia pode ser definida em sentido restrito e em
sentido lato; o sentido restrito é a Demografia Formal, que se preocupa com
questões como a dimensão, a distribuição, a estrutura e a mudança das popu-
lações; em sentido amplo, inclui outras características.tais.como.as étnicas..as
sociais e as económicas.» (Shryock e Siegel, 1976);
« em Sauvy existem igualmente duas definições de Demografia: «A Demografia
Pura ou Análise Demográfica, que é uma contabilidade de homens... ga
Demografia alargada, que est
estuda os hómens nas suas atitudes,.€ omportamens:
fenómenos,»
Posteriormente, na mesma “obra, , explicita duas observações muito interessan-
a sólidosque, as,
pessoas inspiradas n nas mais diversa alhar em conjunto.
na mesma ciência tal como nas, ciências. físicas.ou,. naturais; inversamente, O
“alargamento do campo faz intervir factores subjectivos, ou pelo menos sufi-
cientemente imprecisos para dar lugar ao aparecimento de importantes diver-
gências, tal como acontece com o estudo dos fenómenos económicos e
sociais...; «... se levarmos a distinção ao limite, a DemografiaPura pertences
ria ao grupo das Ciências Exactas enquanto a Demografia. alargada, pertenceria,.
ao grupo das Ciências Sociais.» (Sauvy, 1976);
* em Poulalion também encontramos uma definição bastante interessante:
«A ciência da população estuda a as colectividades humanas enquanto tal: não.
consideraapenas. O aspecto. estáticoe mensurável (Demografia Quantitativa),
mas também o aspecto causal e relacional (Demografia, Qualitativa);. L
- não considera apenas a sua estrutura numa determinada época (Demografia
Estática), mas também as leis de evolução passada, presente, futura. (Demo-
grafia Dinâmica), Aparecenço, sim como uma.ciência-transdiseiplinar-tantos
na vocaçãocomo nos métodos,» (Poulalion, 1984);
* em Catherine » Rollet também encontramos algumas reflexões interessantes
sobre o objecto da Demografia: «O objecto da Demografia é a sucessão das.
“gerações, a duração da vida humana, as relações do homem com a natureza-e.
as relações entre os homens; apoiada numa metodologia própria ocupa-se-dos
problemas mais importantes da vida em sociedade. — areprodução. a.
longevidade, as disparidades sociais e o ambiente.» (Rollet, 1995);
* Lassonde formula o objecto de estudo da Demografia em termos completa-
mente originais: «A problemática da Demografia.tem.de..sex.completamente
reformulada;
ra ar raneçoso
já não se trata de precisar com exactidão nr
o impacto
pa da evolução
da. população. nos recursos, mas de reflectir sobre..as-consequências,éticas=dex

45
|

IRA um ilhares de milhão de habitantes.»


Po (Lassonde, 1996);
| * Vinuesa retoma a linha das definições exaustivas ao afirmar que a Demo-
i grafia tem como objecto o estudo da população entendendo por população
| «um conjunto de indi íduos que têm uma dimensão temporal e que ocupam
um
mdeterminado espaço A

Po duzir + : agrupar: a dimensão. espacial. é umn eleme: amena para


] se " compreender. a. £volução..das..estruturas. sociais, económicas, urbanas».
| né?

| | (Vinuesa, 1994);
| * finalmente em Weinstein encontramos o retomar de uma antiga tradição de
| acento tónico no rigor técnico ao afirmar «a crescente complexidade da so-
ciedade. actual tornou..indispensável a necessidade de m dição de todos
ii
os
aspectos ligados à dimensão e à composição«da população. . Os de grafos
| encarregam-se deste trabalho». (Hlinde, 1998. )
|
| | || Em face do exposto, verificamos sem dificuldade que, neste conjunto de defini-
| | ções, com uma maior ou menor variação formal, existem muitos elementos conver-
Ja gentes. Numa óptica restrita é inequívoca a sua área de trabalho: a Demografia tem
| por objecto o esturdo científico da população. Mas como clarificar com objectividade
| Ca O quese entende por um «estudo científico da população»? Em nosso entender, uma.
od
|
definição aprofundada de Demografia. comporta. cinco.elementos-fundamentaiais:
mia

| * em primeiro lugar, não se analisam pessoas isoladas mas. conjuntos de pes:


soas delimitadas espacialmente e com um significado social (um continente, -
um país, um distrito, uma Nut, um concelho). Esta análiseé feita observando,
| medindo e descrevendo. a dimensão, a estrutura e a distribuição espacial desse
| conjunto de pessoas. A dimensão significa o volume da população (x milhões-
| de habitantes); a estrutura significa a sua repartição por subconjuntos especí-
|
| ficos (x solteiros, y casados, z viúvos e divorciados ou ainda x jovens, y adultos
| |
Ezez idosos); a distribuição diz respeito. à sua repartição. no.espaço. Ao.conjun-
| to destes três elementos chama-se o estado da população:
| * em segundo lugar, este estudo científico da população-nãe-se-pede-seupar
| apenas doaspecto.estático, ou seja, descrever os aspectos específicos mencio-
| nados num determinado momento do tempo; também se deve preocupar em
| saber quais são as mudanças ocorridas nos elementos. que. caracterizam. q
|
estado da população e qual a intensidade e direcção dessas mudanças;
* em terceiro lugar, analisa os factores, ou as variáveis. demográficas que são
i
| responsáveis pelas variações ocorridas no estado da população; essas variá-
| | veis são de três tipos: natalidade, mortalidade e mi ações; esta última Vas
| Niável demográfica abrange. três situaçõ ação
| migrações internas: a nupcialidade não é uma variável “demográfica autêntica,
porque o seu aumento ou a sua diminuição não contribuem directamente para.
| a modificação do estado da população, actuando dominantemente através da,
| | | natalidade; em síntese, o estado.da população-tem-uma-determinada dimen-
|
46
são, estrutura e distribuição espacial, porque nesse conjunto de pessoas acon-
tecem nascimentos, óbitos e migrações;
* em quarto lugar, à | Demografia| também se ocupa dos efeitos que cada uma.
das variáveis demográficas tem nos “aspectos globais e estruturais da popula.
ção,
o, bem como. dos efeitos iminversos; por exemplo, interessa-se
que ponto uum aumento na natalidade modifica estruturalmente
ou em que1 medida Uuma “mudança estrt
estrutural « da população sese reflecte. n à mod.
ficação da evolução
ão da natalidade; ”
« finalmente, emquinto lugar, a Demografia também se preocupa com.questões
relacionadas com as determinantes dos comportamentos demográficos.e.com
consequências da evolução do estado da população.

1.7. Unidade e diversidade da Demografia

Atendendo à natureza do seu objecto de estudo, certos aspectos da Demogra-


fia passaram a ter denominações específicas. Com o desenvolvimento da investi-
gação e da interdisciplinaridade, certas temáticas passaram também a ter um
desenvolvimento relativamente autónomo, sem deixarem de pertencer à ciência
demográfica.
Começou assim, a existir uma Demografia Formal ou Análise Demográfica,
onde se analisam apenas as variáveis demográficas
ara dependentes (volume, estrutura
- e distribuição espacial) e as variáveis demográficas independentes (natalidade, mor-
“talidade e migrações). Atendendo, porém, à crescente complexidade dos métodos e
das técnicas empregues pela Análise Demográfica, várias. disciplinas. foram. ea-
nhando autonomia dentro deste ramo da Demografia: Colheita dos Dados Dema-
gráficos, Análise Demográfica com dados incompletos, Projecções Demográficas,
Análise
das Migrações, Análise da. Fecundidade, Análise da Nupcialidade.
“" “Quando se consideram as relações entre as variáveis demográficas e as outras
variáveis. económicas. sociais. culturais, biológicas, ..ambientais, num determinado,
momento. do tempo... Surgem. os. Estudos. de População. ou a. De mografia. Social.
Também o seu desenvolvimento.começou a fazer aparecer. disciplinas como a.80-.
ciologia dos.comportamentos. demográficos, .a Economia da. População... a. Antropo:
To gia da População. a Psicologia. da P.População,.a Ecologia, Hu emana,
q Prospectiva,
as quais rapidamente ganharam uma certa autonomia.
Qutro ramo que depressa. ganhou. .autonomia,..a..partit. do. fim. da Segunda,
Guerra Mundial, “foi. a Demogra fia Histórica, que tem como objectivo funda-
mental aplicar os métodose as.técnicas
da. Análise. Demográfica-ao-estudo-das
populações do passado. Também as Teorias Demográficas se desenvolveram ao
procurarem analisar e sistematizar os fundamentos teóricos da ciência, da popu:
Tação, dando especial relevo ao pensamento demográfico. Finalmente, temos as
Políticas Demográficas que procuram orientar a evolução dos comportamentos
demográficos.
Nem todos os ramos têm um desenvolvimento igual nem nos parecem ser de
igual importância. São raros os países que atingiram um nível de desenvolvimento

47
| Aná ise. Demográfica, ass Projecções Demográficas «eaà Prospectiva, a nan
; Hi istórica, os Estudos de População ou Demografia Social, as Políticas s Demográficas
“a Ecologia Humana,
o A Demografia caminhou, assim, da unidade inicial, onde a sua problemática
| era formulada em termos simples e fundamentalmente técnicos, para uma crescente
diversidade e complexidade. As técnicas e os métodos multiplicaram-se.a.tal ponto.
| que
omeridorr
começaram a surgir especializações em técnicas de. análise. da, mortalidade. da.
e, das projecções. demográficas.
A Demografia tem.a vantagem. de.ser simultaneamente a.mais.exacta. das.ciên-
| cias sociais e de ser o ponto de encontro das ciências sociais e humanas com a
| “Biologia, o direito, a economia e as ciências políticas. É uma «ciência dura» no seio
das «ciências moles», oferecendo um sólido ponto de apoio para a. observação da
sociedade. Os fenómenos demográficos. prestam-se. a medidas. exactas.e.a um. co-
| nhecimento objectivo, ao mesmo tempo que são dotados de uma inércia bastante
E grande: uma pirâmide de idades, por exemplo, é antes de mais uma justaposição de
| gerações que acumula os principais acontecimentos do passado durante um século.
Num
mundo em movimento, cada vez mais difícil de descodificar, possui a rara
qualidade de fornecer um guião de leitura muito importante do passado,
do presen,
| te e do futuro.
Em sentido lato, a Demografia é uma autêntica biologia. social aq. estudar os .
movimentos profundos que afectam a sociedade: a vida, o amor, a morte, as migra-
ções. Contudo, é errado pensar que o desenvolvimento da Demografia quebrou a
sua unidade inicial. A Demografia uma
é só, apesar das diferentes especialidades,
ou seja, todos os ramos perdem por completoo sentido sem a referência constante
a um núcleo de base: a Análise Demográfica
| Assim, em primeiro lugar, a Demografia estuda conjuntos de pessoas. tendo em
| conta apenas elementos. demográficos (Análise Demográfica). Posteriormente inse-
rimos outros elementos mais abrangentes: o social em sentido lato (Estudos de
| População ouou Demografia Social), as populações do passado (Demografia Históri-
ca), o ambiente (Ecologia Humana), o futuro (Projecções Demográficas),a refles
“xão (Doutrinas. Demográficas) e a acção (Políticas Demográficas).
A Demografia é assim uma. ciência social instrumental, de reflexão-e.de-acção.
Saber se pelo facto de a Demografia ser uma ciência social instrumental, de refle-
ih xão e de acção teremos uma ciência social original é algo a que é difícil dar uma
| resposta. Numa certa perspectiva,
a Demografia é igual a todas as quiras ciências.
sociais, EEE TErum objecto específico de estudo, se gue. em. termos. globais.o.
seu objecto seja igual ao das outras ciências sociais: o estudo. do comportamento do
a Homem. em..sociedade.
"1 Mas, numa outra perspectiva, a Demografia tem o seu objecto de estudoespe-
| cífico demasiado bem definido, facilmente qu VE,
E mos na sua acepção restrita. A “componente instrumental tornou-se de tal forma
importante que não só nenhum dos ramos tem sentido sem o seu conhecimento
como também fez com que esta ciência passasse a ter o valor de utensílio para

' 48
todas as outras. Pierre Chaunu, privilegiando as relações entre a Demografia e a
História escreve: «Quer se trate de duração quer se trate de espaço, é evidente que
é o Homem que procuramos, o Homem que a Demografia nos oferece face a si
próprio, face à sucessão das gerações; de todos os casamentos entre as ciências
humanas e a História, nenhum é tão importante. A Demografia é a mais central, a
mais importante das ciências do Homem. Qualquer ciência humana sem uma pode-
rosa base demográfica não é mais do que um frágil castelo de cartas. A História se
não recorre à Demografia priva-se do melhor instrumento..de. análise.» (Chaunu,
TO TT
Para que a Demografia continue a progredir como disciplina científica, torna-se
necessário que ela consolide e aprofunde o domínio dos instrumentos científicos
de análise, que os utilize para fins explicativos. Só assim teremos uma constante
reformulação científica dos problemas demográficos de ontem e de hoje. Em todo
o caso, muitas vezes, passa-se para o extremo oposto, ou seja, confundir a parte
instrumental com o todo demográfico. Todo o fechamento de campo é perigoso.e.a
Demografia não se pode redueir
à Anflise Demográfica. O rigor dos sens méioros
Siência social de raiz biológica. Os dois grandes fenómenos demográfi icos. — à,
“natalidade e a mortalidade — são antes de mais manifestações
de. processos bioló-
gicos. Ora, em nosso entender, é no estudo dos fenómenos, que sendo biológicos na
origem sofrem profundas modificações quando inseridos na sociedade e no am-
biente, que assenta a maior originalidade da Demografia.
Deixando os métodos e as técnicas de Análise Demográfica e das Projecções
Demográficas para os capítulos seguintes, vejamos ainda neste capítulo de introdu-
ção à ciência da população, numa forma sucinta, quais são os principais problemas
tratados pela Demografia Histórica, pelos Estudos de População ou Demografia
Social, pelas Políticas Demográficas e pela Ecologia Humana.

A Demografia Histórica

Apesar de não existirem dificuldades em definir Demografia, o mesmo. não,


acontece com a Demografia.Histórica. Krantow e Van de Walle (Guillaume e Possou,
1970) definem Demografia Histórica como a «aplicação dos métodos da análise
demográfica a dados recolhidos no passado com fins não demográficos ou, pelo
menos, com objectivos diferentes dos que tem a Demografia nos dias de hoje». Em
L. Henry encontramos uma definição menos metodológica: «Em sentido lato, a
Demografia Histórica estuda as populações do passado, próximo ou longínquo, em
relação às quais não dispomos de informações estatísticas, ou então dispomos de
uma informação insuficiente.» O mesmo autor precisa posteriormente o seu racio-
cínio: «A Demografia Histórica ocupa-se das populações do passado em relação às
quais dispomos de fontes escritas; quando estas fontes faltam, o estudo das popula-
ções antigas toma o nome de Paleodemografia.» (Henry, 1981).
Poderíamos apresentar outras definições. No fundamental não se afastam subs-
tancialmente das que apresentámos anteriormente. Todas elas são bastante incom-

49
pletas por não responderem a várias questões importantes como, por exemplo: até |
onde vão as populações do passado? Não existirão métodos específicos da Demo- |
, grafia Histórica que sejam diferentes dos da Demografia e da História? |
mn Estas e outras objecções têm sido sistematicamente levantadas às principais |
definições existentes. A grande dificuldade em encontrar uma definiçãoexaustiva é |
| uma consequência de a sua problemática estar sempre em expansão. A multiplica.
ção das investigações faz emergir constantemente novas questões passíveis de se- |

| |
:
Tem tratadas numa perspectiva de Demografia Histórica. Não admira, pois, o facto
de se ter abandonado a procura de novas definições e de se ter optado por clarificar
| 1 o sentido da sua originalidade. Assim, a originalidade da Demografia Histórica
(0 Jeside no seguinte:
] | |
| * não ter estatísticas feitas;
0 | . = . o. ,
| V * as fontes que utiliza não terem sido elaboradas com objectivos demográficCos;

“dos e de noy:
novas técnicas.

| | Antes de precisarmos o conteúdo da Demografia Histórica, através da análise


dos debates que deram origem à sua crescente autonomia, achámos que era impor-
tante proceder à distinção entre Demografia Histórica, História da População e
| Paleodemografia.
| A História da População não é um ramo. da Demografia. É um ramo da Histó-
| dk ria. Enquanto a História da População procura reflectir sobre os dados existentes
| “acerca do estado e dos movimentos das populações do passado, a De ografia
| Hi órica define-se. .sobretudo,
ESET ii a.ai ent
partir das. fontes. que Em utiliza
ai Spare e da, “metodologia
q desenvolve para investigar o passado. A História da População limita-se.à.
| utilização dos dados demográficos. para explicar o passado numa perspectiva
de.
dinâmica social.
aro Sempre foi uma preocupação dos historiadores, desde que a His-
| | tória se afirmou como disciplina autónoma, conhecer o estado das populações e
, dos seus movimentos ao longo do tempo de forma a compreender certos aconteci-
mentos e as suas consequências económicas e sociais. Antes do aparecimento da
| Demografia Histórica, a História da População utilizava dominantemente dados
| brutos recolhidos directamente nas fontes manuscritas ou indirectamente nas fon-
, tes impressas. Posteriormente,-com o desenvolvimento dos resultados.obtides
pela Demografia. Histórica,-a-História-da
População passqu.a. utilizar indicadores.
li mais sofisticados.
| A Paleodemografia é um ramo da Demografia Histórica, Apesar da sua
| heterogeneidade, constitui um campo bem delimitado, com um volume crescente.
| L de informação e de literatura especializada. A Paleodemografia distingue-se da
Es Demografia Histórica pelas fontes e pelos métodos específicos que utiliza. Na prá-
| f tica, quando. a.investigação.em Demografia Histórica se torna impossível devido à
:| carência de fontes escritas (registos paroquiais, listas nominativas, genealogias, róis
E de confessados), começa
omeça a Paleodemosrafia. Portanto, por Paleodemografia entende-
| -se o estudo das populações do. passado, através. de uma metodologia específica que
permite analisar fontes diferentes das escritas. Estas fontes são, em geral, constituí-

50
das por material antropológico e arqueológico (esqueletos e epitáfios), material
toponímico (nomes de lugares) e por informações paleogeográficas (condições cli-
máticas).
Os primeiros estudos paleodemográficos foram realizados na antiguidade uti-
lizando-se para o efeito material arqueológico. Alguns epitáfios que chegaram até
nós conservam ainda informações respeitantes ao sexo e à idade. Karl Beloch
(Ross, 1982), em 1886, começou por explorar a informação de 1831 em epitáfios
de três regiões italianas e construiu indicadores de esperança de vida. Vários inves-
tigadores seguiram o seu exemplo. Harkness (Ross, 1982), em 1896, alargou a
investigação à idade no casamento. Posteriormente, os demógrafos começaram
a interessar-se por estes problemas e a reconhecer a sua importância para uma
correcta elaboração da história da população. Willcox, em 1937, escreve um en-
saio metodológico respeitante ao cálculo da esperança de vida no Império Roma-
no. Valaoras publica, no ano seguinte, um estudo sobre a esperança de vida na
Grécia Clássica. Porém, à medida que outras investigações se realizam, o acento
tónico começa a deslocar-se da análise dos epitáfios para a análise dos esqueletos,
“na linha do trabalho pioneiro de Pearsos, em 1902, sobre as múmias do Egipto.
Em 1950, Dublin, Lotka e Spiegelman resumem as primeiras grandes conclusões
obtidas. Em 1960, os arqueólogos passam a reconhecer em pleno a existência da
Paleodemografia através da publicação de dois capítulos sobre este tema, escritos
por Howelis e Valois em Aplicação. dos. Métodos. Quantitativos.A Arqueologia,
(Ross, 1982). As monografias, os artigos e os capítulos multiplicam-se. Em 1976
e em 1983 aparecem dois importantes livros que consagram definitivamente este
ramo da Demografia Histórica: Demografia Antropológica e Demografia Arqueo-
lógica (Hassan, 1981).
Retomemos a questão da evolução da autonomia da Demografia Histórica en-
quanto ramo da Demografia. A preocupação em quantificar as questões relaciona-
das com as populações do passado já vem de longa data. A História da População
era uma espécie de ciência auxiliar abandonada aos eruditos locais e aos curiosos.
P. Goubert fornece-nos uma excelente descrição dessa situação: «De vez em quan-
do um historiador interrogava-se sobre quantos habitantes teriam existido em tal
cidade ou em tal país, consultava uma fonte impressa, raramente o arquivo, recolhia
ao acaso um ou outro número; na província, os registos paroquiais serviam domi-
nantemente para elaborar genealogias.» (Dupâquier, 1985).
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, um conjunto de vários factores.co-
meçam a convergir para o aparecimento da Demografia Histórica como ramo au-
tónomo da Demografia: Landry publica, em 1945, o seu Tratado de Demografia;
em 1946, A. Sauvy lança a revista Population; um ano depois aparece em Ingla-
terra uma outra revista intitulada Population Studies; ainda em 1946, Meuvret
publica um trabalho que virá a ficar famoso, As crises de Subsistência e a
Demografia da França no Antigo Regime (Dupâquier, 1984); P. Ariés começa a
explorar as novas vias da História das Mentalidades ao publicar História das Po-
pulações Francesas e das suas Atitudes perante a Vida desde o Século XVII
(P. Ariés, 1948); M. Reinhard, em 1949, publica a sua História da População
Mundial de 1700 a 1948 (Reinhard, 1949).

51
o Mas o que verdadeiramente se passou de novo foi o aparecimento. do método
o científico, baseado na «reconstituição das famílias». inventado. quase simultanea-
mente por P Gouberte L. Henry:

; * P. Goubert, ao estudar a população de Armeuil, entre 1656 e 1735, elabora


| uma ficha para cada casamento, completa-a com a análise dos registos dos
| Vs óbitos; em cada ficha indica o sexo, data de baptismo, nome, data da sepultu-
ra e data do casamento;
“L. Heny, onda E trabalhos de P. Goubert publica em: Abril de 1953.

| rig eza. demográfica. em exploração: «os5 registos paroquiais, 1no.


Í
: sérias dúvidas acerca das possibilidades dos dados e considera. o.» método
utó) pico.

|
(RE Dois anos depois, L. Henry e M. Fleury publicam Dos Registos Paroquiais à
| Poih História, da População e Manual de Análise e de Exploração do. Estado. Civil
Ântigo (Fleury e Henry, 1956). Trata-se de um guia prático e não de um tratado de.
Demografia Histórica. Na sua essência, o método da reconstituição. de. famílias,
apresentado por estes dois autores, consiste no seguinte:

| * primeira etapa — classificam-se em separado os três tipos de fichas (nasci-


mentos, casamentos e Óbitos) € repetem-se as fichas dos casamentos a verme-
lho, pondo no cimo da ficha as indicações referentes à mulher;
|
* segunda etapa — constituem-se os dossiers das pessoas casadas na paróquia,
[RR juntando-se as fichas de baptismo e de sepultura: ,
4 * ferceira etapa — transcreve-se, na parte superior de cada ficha de: família,
| E todas as informações respeitantes a cada homem casado e respectiva mulher
o: no caso de ser um novo casamento deve abrir-se uma ficha distinta para a
I união anterior);
| Vo * quarta etapa — preenchimento da parte inferior direita da ficha de família
o com as informações respeitantes aos filhos, começando-se pel. mentos
Já anteriormente tratados; procura-se essa informação, em prim: ugar, nas
| fichas “de nascimento
efe ro e, posteriormente, nas de casamento e de sepultura.
veneno

| ! A precisão, o detalhe, a forma prática como foi redigido este manual, facilita-
1 ram a leitura e a compreensão.deste.noxo. método. No entanto, era insuficiente, uma
vez que os índices estatísticos que se podiam construir entraram em colisão com o
que era tradicional fazer em História da População. Na época predominava a análi-
| se transversal, ou seja, indicadores que resultam da combinação dos dados dos
H recenseamentos com os dados do estado civil. Como raramente se dispõe destas
| duas fontes em simultâneo, os investigadores começaram a preferir a análise longi-
tudinal. ET da metodologia de exp oração dos registos paroquiais ter ficado
com A população de Crulai, paróquia normanda; estudo histórico. Foi com este
exemplo prático que, se, generalizou o método da reconstituição das famílias.
A vantagem da clareza e da uniformidade impediram-nos de ver alguns defei-
tos do método e não permitiu o desenvolvimento de outros caminhos, caminhos
esses que existiam em potência. Na sua tese sobre Beauvais e os Beauvaisis, P. Gou-
bert, juntou capítulos de Demografia Histórica com capítulos de História Económi-
ca e Social. Como teve um sucesso considerável, esperava-se que servisse de modelo
aos historiadores. Tal não aconteceu. O método de L. Henry impôs-se de tal forma
que o próprio P. Goubert acabou por recomendá-lo aos seus alunos. Foi em vão que
P. Chaunu e P. Goubert tentaram alargar a curiosidade dos seus alunos para novos
horizontes. Em síntese, o grande sucesso do «método de Henry» deve-se a três
factores fundamentais:

* ao caminho traçado pelo método — os dividendos são. grandes e o risco é


bastante limitado;
“àà estandardiza iais que. se.utilizara,.
garantindo a,

“à “Organização da investigação que permitiu ultrapassar as querelas pessoais.

Em 1973, P. Goubert fez uma notável síntese dos progressos obtidos em 25


anos de investigação: «A segurança que nos dão as listagens intermináveis de nú-
meros... deram uma imagem de rigor científico como não acontece em outros
domínios da História.» Indica ainda aquilo que virá a ser um dos grandes desenvol-
vimentos posteriores: «... nem sempre as monografias se preocupam com a quali-
dade dos dados... por exemplo, várias vezes tem sido afirmado que a mortalidade
infantil aumentou no século XVIII quando o que aconteceu foi a melhoria no registo
dos óbitos infantis.» (Dupâquier, 1985). Mas este problema também não escapou a
Louis Henry. O Manual de Demografia Histórica, aparecido em 1967, ocupa-se
dessa questão apresentando, pela primeira vez, um manual de técnicas de análise
em Demografia Histórica.
Foi assim que a Demografia Histórica, mais do que qualquer. outra. ciência
social, se tornou particularmente atenta à qualidade dos dados. A Demografia His-
tórica deixou de ser uma ciência auxiliar, residual, para passar aser uma ciência,
que se autonomiza com.m métodos E etécnicas
t as PI róprias, diferentes
di das
das outi
outras ciências,
inclusive da própriaDemografia. Esta 4 grande especificidade da Demografia Histó-
rica muitas vezes é ignorada pelos investigadores que se dedicam a este ramo
científico. Em muitos trabalhos abundam simples listagens de dados brutos, ou
conclusões de carácter duvidoso, conduzindo necessariamente a conclusões muitas
vezes precipitadas e até mesmo erradas.
Um exemplo muito conhecido desta situação é a questão das «crises de subsis-
tência». Foi uma teoria particularmente divulgada por P. Goubert em Beauvais e
Beauvaisis: «A verdadeira crise demográfica resulta de acidentes meteorológicos
(em geral um Verão pluvioso) num determinado contexto económico e social; as
colheitas foram medíocres e o preço dos cereais (em particular do pão) aumenta;
os rendimentos, não acompanhando os preços, fazem com que os pobres procurem

. 53

i
|
!|
alimentos de qualidade duvidosa e aparecem as epidemias, sobretudo de carácter
digestivo, que se propagam através dos mendigos e dos viajantes...» meme

Em 1963, P. Chaunu e R. Baehrel começam a levantar sérias reservas a esta


interpretação dos factos: «... muitas vezes observamos o aumento simultâneo dos
preços e da mortalidade por razões que se ignoram.» (Dupâquier, 1984). Com o
grande número de investigações realizadas o sucesso da equação «crises de subsis-
tência = crises de mortalidade» entrou em declínio. Existem crises de mortalidade
sem que tenham existido crises de. subsistência.e.vice-versa. Porém, toda esta po-
lémica teve o mérito de chamar a atenção para a problemática da Demografia
Histórica. Historiadores tornaram-se demógrafos, demógrafos tornaram-se histo-
riadores, economistas e sociólogos também se tornaram historiadores e demógrafos.
Destes cruzamentos nasceram várias obras de inegável interesse e que abriram
novos caminhos. Em 1972, quando a Sociedade de Demografia Histórica comemo-
rou o seu 10.º aniversário, algo estava incontestavelmente comprovado — uma
nova disciplina e um novo ramo da Demografia tinha nascido.
Para que fosse possível. o desenvolvimento da Demografia Histórica. num tão
curtc 2 espaço de tempo, dois factores foramc decisivos: o desenvolvimento da Análi-
se Demográfica eo aparecimento da chamada Nova História. A Análise Demográfica
forneceu a componente técnica, a Nova. História contribuiu Com os frutos da vaga
neopositivista, como, por, “exemplo, o retomar das fontes. Infelizmente, nos anos 70,
passou-se para o extremo oposto. Por exemplo, procurou determinar-se o objecto
de estudo de uma investigação em função das facilidades em quantificar ou em
informatizar. A resposta não se fez esperar. Começaram a aparecer acusações de
que se quer reduzir o campo da História ao utilizar fontes que são estruturalmente
qualitativas. Descobre-se, assim, o interesse do qualitativo: das médias passa-se ao
tipológico, das adições às equações, dos sistemas aos modelos.
P. Ariés foi o grande pioneiro desta nova maneira de pensar: «... parti dos
dados demográficos para passar às realidades que eles ocultam; destas realidades
das atitudes perantea vida, a idade, a doença, a morte, os homens de outros tempos
não gostavam de falar, ou até não eram deles conscientes; a análise das séries
numéricas fazem aparecer modelos de comportamento até agora inacessíveis e
clandestinos; assim, a mentalidade aparece sempre no fim de uma análise das esta-
tísticas demográficas.» (Ariês, 1991). Foi neste contexto que emergiram alguns dos
novos caminhos da Demografia Histórica actual: analisar o progresso da instrução
através da frequência das assinaturas: compreender 3 a sexualidade, .a. liberdade... dos
costumes e a ilegitimidade explorando as fichas dos, casamentos é e dos nascimentos:
reexaminar a prática religiosa através, da exploração do movimento sazonal. jal dos
casamentos e dos nascimentos; explorar a existência de crises de mortalidade : atrá-
vés “de uma simplés contagem dos óbitos.

Os Estudos de População ou Demografia Social


Conforme dissemos anteriormente, existe uma total convergência de opiniões
em relação ao objecto de estudo da Demografia. Quando passamos deste nível
global para o nível dos diversos ramos surgem algumas dificuldades. Na Demografia

54
Formalou Análisee Demográfica, ponto de passagem obrigatório para se poder
“estudar r qualquer
qu um. dos. outros. tamos,..temos..a, essência. do..saber-demográfico.
E ste ramo básico da Demografia tem. contornos..claramente. definidos. devido. ao.
variado e sofisticado conjunto de, métodos e técnicas que desenvolveu ter permitido
obter resultados com grande solidez c jentífica,
O mesmo não acontece com a Demografia Histórica. Se, à partida, parecia que
o seu campo seria de fácil delimitação (talvez por se confundir com a História da
População), à medida que a investigação progrediu, surgiram dificuldades em deli-
mitar esse campo com precisão. A Demografia Social, numa visão mais aprofundada,
tem o mesmo tipo de problemas que a Demografia Histórica. O incremento da
investigação também alargou progressivamente a sua problemática, fazendo com
que os seus limites estivessem longe de estar claramente definidos.
Foi Kingsley Davis que, em 1964, num trabalho intitulado Demografia Social,
procurou definir o seu objecto de estudo: «Estuda as causas do comportamento
demográfico.» Estamos perante um ponto de vista muito mais preciso do que O
aparecido, em 1959, com Hauser e Duncan na sua obra Estudos de População «é
um conjunto de assuntos que interessam às disciplinas teóricas que desejam aplicar
as técnicas da análise demográfica».
Em 1970, Ford e Young no seu livro Demografia Social precisaram o seu
conteúdo: «Existem duas vias para se estudar as relações entre os factores sociais e
culturais e as variáveis populacionais: os factores sociais e culturais podem ser
encarados como variáveis independentes que explicam a estrutura e a dinâmica
populacional; por outro lado, questões como a de saber em que medida a dinâmi-
ca populacional afecta os diferentes problemas da sociedade são igualmente impor-
tantes.» Depois dos anos 70 são raras as obras publicadas com o nome de Demografia
Social. A multiplicidade de investigações que esta perspectiva de análise proporcio-
nou fez com que a especialização se consolidasse muito rapidamente: começou a
falar-se de Antropologia da População, Economia da População, Sociologia dos
Comportamentos Demográficos.
Na Análise Demográfica utilizam-se apenas variáveis demográficas que são
utilizadas como variáveis independentes ee corcomo variáveis dependentes. Na Nas 1 novas
disciplinas que integram.a Demografia in Social,
a rei o. acento tónico
e da análise desloca-se
a Aco Sci EN

para as variáveis não demográficas que são utilizadas como causas. ou como conse-.
ee
quências. Adiferença reside, assim, no facto menos “demográficoos pode.
rem ser explicados.por. factores. diferentes “dos. emográficos,. ou. seja, factores sociais,
psicológicos económicos. culturais, históricos, . ambientais
A escolha do tipo de variáveis depende da óptica em que se quer elaborar o
estudo. Um sociólogo. .por exemplo,
vai naturalmente. dar ênfaseà importância da
estruturaÀsocial e das variáveis sociológicas, tais como as classes sociais, Os grupos
minoritários, as normas, os valores, os papéis sociais. Inversamente, os biólogos.
vão pôr o acento tó ónico.nos aspectos fisiológicos, como, por exemplo, a incidência
de certas doenças na mortalidade ou a identificação das variáveis responsáveis pelo
aumento da esterilidade.
Em função do exposto, podemos afirmar que em Estudos de População, os fac-
tores não demográficos. são. utilizados..para.explicar.os.problemas demográficos: a

: 55
influência dos níveis de rendimento ou dos estilos de vida no nível de fecundidade;
a influência do tabagismo e da situação profissional no nível de esperança de vida.
o Mas, também é possível uma segunda aproximação, Os.factores demográficos se-
NH rem variáveis independentes ou explicativas de variáveis não demográficas ou de
| problemas sociais contemporâneos: explicar a influência da estrutura por idades na
votação partidária ou nos hábitos de consumo; o efeito do aumento da duração
média de vida no aumento do número de pensionistas.
Inicialmente defendeu-se o ponto de vista que apenas o primeiro tipo de ques-
tões (variáveis não demográficas explicarem variáveis demográficas) era objecto de
estudo da Demografia Social. Argumentava-se que no segundo tipo-de estudos os
objectivos eram exógenos à problemática da Demografia Social. Contudo, como
muitas vezes acontece, é a prática que determina o conteúdo e não as questões de
carácter epistemológico. Ora, a prática veio demonstrar que, muitas vezes, eram os
demógrafos que chamavam a atenção para a importância da componente demográfica
Va na explicação de certos problemas práticos com que se debatem as sociedades
| o! complexas dos dias de hoje.
| Na realidade, vivemos actualmente no seio de grandes. transformações-deme-
gráficas. O declínio, “do volume... populacional. +em..todo..o..mundo.. desenvolvido

| “filhos por “mulher em todos. os ; países - desenvolvidos t tem tendência para esta-
bilizar com valores que são claramente insuficientes para que as gerações se
renovem. Simultaneamente, o declínio secular da mortalidade abrandou. conside:
ravelmente em todos os países mas, como aconteceu no passado, --EM. Vez dos
progressos, observados. beneficiarem essencialmente. os jo ens, beneficiam. desta
vez: as pessoas mais idosas. Estas duas evoluções, quando se cruzam, provocam
dl uma aceleração do envelhecimentodemográfico ou, mais precisamente, uma di-
minuição da importância relativa dos jovens na sociedade e um aumento pro-
gressivo da importância da terceira Idade, da quarta Idade, da quinta Idade...
colocando a sociedade perante delicados problemas económicos e sociais difí-
ceis de resolver. As migrações podem atenuar ou aumentar ainda mais estes. pro:
blemas. Numa Outra perspectiva, a actual situação demográfica
dos países
desenvolvidos provoca um acentuado desequilíbrio.
Norte-Sul; -gquando-sabemos
que do lado sul do Mediterrâneo encontramos
as maiores. taxas-de.-creseimento
observadas no momento actual. 77”
Porém, os efeitos da evolução demográfica do mundo actual não têm apenas.
d aspectos quantitativos. Novos problemas qualitativos começaram a aparecer. O pro-

as ar “das suas raízes biológicas, dando- se cada vez mais.importância


ao parentesco social do gue aos laços de.. sangue. A multiplicação de diversos tipos
de filhos. fora. do casamento.
eupações dos
é Estudos. dee População nos.dias. de.e. hoje-.s são

cas causas e as consequências do declínio da natalidade: |l


* os efeitos das migrações internas e externas no sistema demográfico e social;
* as consequências demográfic sociais. da luta contr:
* a desigualdade sexual, sociale espacial face à morte:
À
* os efeitos do progresso científico no equilíbrio demográfico;
* a problemática da defesa, da segurança e da. estrat gia face às mutações
Í demográficas;
: sas desigualdades regionais e 9 ordenamento do território;

* O efeito dos comportamentos demográficos . no. sistema, escolar:


“a 1 demografia. face” ao processo. de. urbanização

As Políticas Demográficas

O crescimento ou a diminuição de uma população. São consequência directa


dos movimentos natural.e. migratório. nela. existentes. 0 u seja, são a consequênci 1a
da evolução da natalidade, da mortalidade e dos movimentos migratórios. O objec-
tivo. teórico de qualquer política demográfica consiste, fundamentalmente, na orien-
tação desses fnovimentos, ou seja, em actuar sobre os modelos (ou sobre os efectivos)
tendo em conta determinados objectivos económicos e sociais. Se queremos. acele-
Tar O crescime nto. da população, procurar-se- á fazer diminuir. as saídas (óbitos,

queremos diminuir o ntmo de crescimento. procurar-se- á. aumentar. as saídas ob


tos, emigrantes) 0ou diminuir as entradas, (nascimentos, imigrantes).
Esta ideia de actuar sobre o movimento demográfico, a fim de que este se
adapte aos imperativos económicos e sociais, é uma preocupação de muitos países.
Mas, até que ponto esta preocupação se traduziu na existência de autênticas políti-
cas demográficas?
Quando examinamos o conteúdo das grandes conferências internacionais
que,
desde o fim da Segunda Guerra Mundial, reúnem em cada dez anos os diversos
estados que integram a ONU
ONU para analisar, jestões. relacionadas. com a popu:
Iação, ficarmos impressionado
onados com a permanência dos temas e a evolução. das
posições assumidas.
A Conferência de Bucareste. de. 1974.teve.a.originalidade. de um grupo. impor-
tante de paí obres, apoiad la China e pela Argélia, ter defendido o. ponto de
qui sc a popt lação e à existência de uma estrutura jovem são
Este “grupo “defendeu à tese na “qual, em primeiro lugar, é necessária à existência de
«uma nova ordem económica internacional». No extremo oposto, encontravam-se
os representantes dos. países. desenvolvidos-que..defendiam.
a ideia. do controlo.
do

57
crescimento demográfico, através de uma maior difusão das técnicas de planea-.
metas
mentofamiliar como
mo condição Essencial para haver desenvolvimento. Estávamos
assim perante duas posições claramente distintas onde a fundamentação de carácter
político dominava: os «neomalthusianos» entendiam que o controlo da populaçãoé
o factor essencial para um processo de desenvolvimento; os «antimalthusianos»
defendiam o ponto de vista inverso, ou seja, primeiro “Tem de] haver o desenvolyi-.
mento e só posteriormente se regulam as questões relacionadas com a população.
“Dez anos mais tarde, no México, os termos do debate não mudaram substan-
cialmente. A questão central continuava a ser a mesma: é necessário, actuar, e)em

Porém, apesar de politicamente não ter havido alterações substanciais, houve novos
elementos que foram alterando gradativamente os termos do debate. Em primeiro
lugar, os demógrafos puderam demonstrar a existência de uma mudança real na
tendência do crescimento demográfico mundial a partir de 1970. Essa mudança foi
devida fundamentalmente ao declínio da fecundidade na China. Por outro lado, o
grupo de * países dderados pela China, e pela Argélia, que tinham tomado em 1974

Sonido mais
m radical ao oporem-se : a todas as medidas que encorajassem o aborto.
em larga escala e a esterilização forçada. Em todo o caso, foi possível estabelecer
um acordo em torno do princípio de que a componente demográficaé um factor
importante em qualquer processo de desenvolvimento.
- A terceira e última conferência ocorreu no..Cairo-emm..1994...Pela primeira. ez,
os responsáveis dos diferentes |Estados- membros admitiram por unanimidade, que
2
o controlo do crescimento demográfi uma necessidade fundamental de. qual;
q er país, seja qual for o seu nível de desenvolvimento. Até os delegados dos países
africanos, que normalmente se opunham a este princípio básico de intervenção
devidoà baixa densidade demográfica de alguns países, subscreveram este ponto
de vista. O debate concentrou-se mais em saber.por que. é que certos países conse-
guiram controlar comn eficácia o seu crescimento demográfico enquanto noutros
países tem avido 1 maior dificuldade. Compreende-se, assim, porque é que as dis-
cussões e o documento aprovado abandonaram os «velhos termos» deste tipo de
debates e as atenções se concentraram no papel da educação, no lugar da mulher
na sociedade e e né
no» mercado de trabalho, nos problemas de saúde, “das migrações €,.

Os debates ideológicos do passado perderam o tom agressivo e emocional que


os caracterizavam. Procurou passar-se, a uma. análise rigorosa dos.factos. As posi-
ções irredutíveis dos anos 70 deram lugar a um diálogo aberto entre o Norte e o Sul
e, em Setembro de 1994, pela primeira vez neste tipo de conferências. internacio-
nais, os 179 delegados participantes e os 7 observadores. da, Conferência.Oficial,
subscreveram um Programa de Acção com 15 princípios e 16 capítulos onde.se
-eXplicitam um conjunto. de recomendações concretas que devem orientar os futuros.
programas políticos em matéria de população. É be
bem possível que ; a adopção.de.um
documento com estas características trave a tendên tinha observado .nos
Neste contexto, achámos que seria importante apresentar resumidamente o con-
teúdo do Plano de Acção, aproyado.em. 1994. no Cairo (Populi, 1994):

* o Capítulo I faz o historial das Conferências Internacionais de População e


dos grandes temas analisados;
* o Capítulo II enuncia os princípios directores do documento, clarificando que
cada país aplica o Plano de Acção de acordo com a sua legislação, as suas
prioridades em matéria de desenvolvimento, as suas convicções religiosas, os
seus valores éticos, o património cultural da sua população e também confor-
me aos Direitos do Homem universalmente reconhecidos:
o princípio nº 1 declara-que-todos-os..seres. humanos nascem livres e.
erdade e à segu
x
iguais em dignidade e.direitos.e.que.têm direito. à vid:
ssa eat
0 princípio nn.º 2 afirma que todos têm direito a desenvolver ao máximo as...
suas. potencialidades,
o princípio n.º 3 declara que O direito ao desenvolvimentoé um direito
universal e inalienável e que a pessoa humana deve estar no centro do desen-.
volvimento
formas. deaaasolda de. que. as. -mulheres.ssão, vítimas:
ivos em matéria de população,
vimento cultural, económico e-social:,

fação das necessidades. das actuais. gerações. que não.


n jo pode, hipotecar o futuro
das novas gecrações:.
o princípio n.º 7 preconiza a cooperação internacional. para. eliminar, a.
pobreza:
o princípio n.º 8 defende o direitoà saúde física e mental e que os Esta-
dos “deviam assegurar o acesso universal aos serviços de saúde;
o princípio n.º 9 declara que a família, através das suas múltiplas formas,
é a célula de base da sociedade;
o princípio.n.2-L0 defende o direitoà educação;
o
eprincípion. n.2.1.1 pede ao Estado e às famílias para darem grande priori-
dade às crianças, em particular no que diz respeito à saúde eà educação;
o pri .
para lhes oferecerem serviços de saúde e de protecção social condignos;
eprincípio n.º 13 consagra o direito ao asilo nos termos da Convenção de
Genebra;
o princípio.n.2.14 pede aos Estados para protegerem os direitos das mino-
rias étnicas;
“o princípio n.º 15 clarifica que um crescimento económico durável implica
a existência de uma igualdade de oportunidades entre pessoas e entre países;

. 59
I

| * o Capítulo III reconhece que a persistência da pobreza generalizadae a exis-


: tência de graves desigualdades entre grupos sociais e entre sexos têm uma
grande influência nos comportamentos demográficos; faz-se apelo a um apoio
“económico específico para os países em desenvolvimento e aos países em
transição;
l * o Capítulo IV pede aos, países. para eliminar as desigualdades existentes en-.
j Tre Os homens e as mulheres;
“o Capítulo V pede para que sejam elaboradas políticas familiares que contri-
|
| buam para a estabilidade da família, tendo em conta o seu | carácter
er polimórfico,
1] em particular o número crescente de famílias monoparentais;
| o * o Capítulo VI está dividido. em cinco secções: fecundidade, mortali
crescimento da população; crianças e adolescentes; q envelhecimento, demo-
, | gráfico; as culturas regionais; os deficientes — pedindo aos governos que
| 1 tenham em consideração a incidência dos factores demográficos no desen-
|| | volvimento da protecção da saúde e da educação dos jovens, que elaborem
RE sistemas de segurança social que assegurem uma maior solidariedade en-
É tre as gerações e que defendam os direitos dos deficientes e das minorias
étnicas;
| * o Capítulo VII também..está. dividi
| | planeamento familiar; doenças. sexualmente t ansmissíveis
| | lescentes;
| ão Capítulo VIII diz respeito à saúde e à sobrevivência das crianças;
IRRN “o Capítulo IX encara o. fenómeno urbano como sendo inerente ao desenvolvi.
| | mento económico. e social. e convida os países a adoptarem estratégias que
favoreçam o crescimento das pequenas e médias aglomerações urbanas, bem
como das regiões rurais, —

É “aos govemos “para estudarem as causas profundas das migrações, para coope-
E rarem entre si no sentido de melhorarema integração, combaterem a xenofo-
biae o racismo; CT a
“o
o Capítulo *XI afirma que 0, factor mais Araportente, no desenvolvimento.
durá-

“os Capítulos 2XI aXVI tratam. de, “questões: mais. genéricas, como. a cooperação:
tecnológica, a cooperação internacional e alguns outros aspectos práticos de
implementação « do Plano de Acção.

E A Ecologia Humana
o
E
ú Já dissemos que a Demografiaé uma ciência social com algumas dualidades
“oi interessantes. Antes de mais é uma ciência social de raiz biológica: os dois grandes fe-
nómenos demográficos — a natalidade e a mortalidade — são manifestações SÓCIQ-.....
“culturais de processos biológicos, ou seja, a Demografia estuda fenómenos. que,
| “sendo biológicos na origem, sofrem profundas modificações quando inseridos na..
| ij sociedade. Em sentido estrito, a 1 Demografia procura compreender como é que o

60
estado da população se modifica através de dois tipos de movimentos (o natural
e o migratório), mas, numa perspectiva. mais dbrangento, preocupa-se « com as. au,
sas E d5 Consegui nciz
mentos
da população. |
Ora, na análise destas causas e consequências mais abrangentes, encontramos |
um e muito diversificado de variáveis: económicas, sociais, Pricolóeicas, |

Ee com uma.ma sendo diversidade de. ciências e que muitas dessas ciências não são
as ciências sociais. No seu complexo processo de investigação, a Demografia | pre-=
cisa de ultrapassar as limitações do poder explicativo do sistema social. É neste
contexto que se tem passado, progressivamente, de uma perspectiva analítica para
uma pers ectiva sistémica, aproximando-se assim do. ponto de vista que caracteriza,
mode Ecologia Humana.
O termo «ecologia» foi utilizado pela primeira vez pelo biólogo alemão Ernest
Haeckel, em 1869, e deriva da palavra grega «Oikos» que significa «casa» ou
«lugar onde se vive», mas só nos princípios do século XX aparecem os primeiros
manuais de índole científica.
Por definição, Ecologia
a é uma ciência. que..se. ocupa. do, estudo, das relações
dos seres vivos com o seu meio. Investiga. a inter-relação do organismo, tanto com |
o ambiente físico como com o ambiente. humano e tem uma percepção do mundo,
“sistema « dei iependências dinâmicas, significando isto que. qualquer

idipiação | em relação a um, meio que. é exterior a gii próprio.


“À sua evolução científica tem vindo a alterar-se ao longo das décadas. De uma,.
perspectiva inicial. centrada exclusivamente na Biologia, começou a passar-se para,
a ideia de ambiente. Actualmente, é uma ciência que utiliza técnicas e materiais
retirados de outras áreas
cas científicas nomeadamente da Biologia, da Geografia,
Climatologia, Hidrografia, Oceanografia, Geologia. O estudodesta ciência..é
centrado no sistema constituído pelo..conjunto... de..seres.-vivos- e. nos .diferentes
componentes. do..seu ambiente: físico- (água; atmosfera... solo), bem como nas suas
inter-relações.
São conhecidas actualmente no globo terrestre cerca de um milhão e meio de
espécies animais e 500 mil espécie vegetais. Na Biosfera vivem os animais e os
vegetais e esta compreende a atmosfera até uma altitude de cerca de 15 mil metros,
o solo ou à litosfera até a algumas dezenas de metros de profundidade, as águas
doces e as camadas superficiais das águas marinhas formam a hidrosfera.
Na sua evolução conceptual surgem três ramos da Ecologia.científica: a vege.
tal, a animal e a humana. Embora com desenvolvimento em momentos distintos, a
identidade de pontos de vista, a utilização de um vocabulário comum e de
metodologias semelhantes dão lugar à emergência da Ecologia Geral; -na-gual-é-
identificado
ese rnana
um conjunto. de. ideias. fundamentais.que. estruturam todo. o.pensamen-
o, sendo comuns a todas as divisões que foram surgindo du-
rante todo o século XxX. (Acot, 1988):
, | * cada ser vivo ocupa um espaço no gual encontra tudo aquilo de que necessita
o — este espaço éé designado por. Biótopo (bios de vida, e topos de lugar);
, : . cada animal não ocupas senão. uma paes do dido em.que. vive visto. Scupar

! err rea
o de animais, vegetais € microorganismos chama-se Biocenose;
* o conjunto de Biocenoses e de Biótopos constituem O Ecossistema. cujos Jimi;
| | tes são mais ou menos arbitrários, fazendo-se normalmente coincidir com
o grandes alterações do meio como, por exemplo, da floresta para o prado, da
água para a terra firme;
* um Ecossistema implica a circulação de matérias e de energia para as activi-
dades dos organismos, cadeias tróficas, vulgarmente. conhecidas por cadeias
.àS quais são constituídas por produtores (vegetais ou organismos
Po autotróficos, capazes de fabricar alimento a partir de substâncias inorgânicas
| a | simples), consumidores (animais ou organismos heterotróficos que ingerem
| Ei outros organismos ou partículas de matéria orgânica) e decom, npositores ( (bac-
i térias e fungos, também eles organismos heterotróficos); um
| apresenta-se como um organismo vivo que respira, alimenta-se, cresce, ama;
a. durece, morre, desequilibra-se, especializa-se (muitos indivíduos de - poucas,
l | espécies) generaliza-se (muitas espécies com poucos indivíduos);
dl | ao ecossistema total terrestre denomina-se Biosfera:
o 0 Ecossistema t tem uma estrutura cujos parâmetros princ; 3
ou quantidade de matéria orgânica que compõe o Ecossistema eFluxo o de.
|] Energia que O Ecossistema recebe; o primeiro
o
escalão.
é “constituído E pelos
produtores primários (plantas), que captam a a energiasolar,
s a partir. dos. quais
| se estabelecem diversos níveis tróficos consecutivos (herbívoros e carnívo-
| ros); O fluxo de energia comporta fluxos de matéi ia, — a energia captada pelo
o Ecossistema dissipa-se nos diversos níveis tróficos, de maneira irrecuperável,
| |I o fluxo de matéria, pelo contrário, descreve um ciclo mais ou menos fechado;
E| istema constitui
por último, a evolução do Ecossistema constitui a sucessão ecológica; os
Ecossi jascevolueni formas mais primárias, com pouca diversidade e
E grande produção por unidade de Biomassa, para sistemas mais maduros, mais
E organizados, de grande diversidade e pouca produção primária; ao conjunto
de ecossistemas, à escala mundial, chamam-se Biomas.
|
| | Apesar de, nos nossos dias, a Ecologia ter um objecto de estudo claro e preciso,
| continua a ser uma das ciências mais. complexas e abrangentes pelo.qu se recorre,
| à sua divisão em ramos mais especializados no sentido de tornar o seu estudo mais
simples E operativo. Das muitas formas que existem para considerar a Ecologia, ”
sobrevivem, desde o início do seu estabelecimento como ciência, duas divisões
| ERA clássicas: to-ecologia e a sineecologia. Naturalmente que esta, como todas as
! outras tentativas de dividir a Ecologia em sectores (o primeiro critério de divisão
foi o topográfico, ao dividi-la em ecologia da floresta húmida, ecologia do deserto,

o ST
ecologia dos lagos...) é apenas uma separação teórica, como um meio útil para
facilitar a análise e a compreensão de cada campo de estudo.
Foi Shroter (Acot, 1988) que em 1896 criou o termo auto-ecologia para desig-
nar à parte da Ecologia que estuda a influência, dos factores externos “sobre os seres

felações fisiológicas existentes entre uma espécie e O.seu, meio ambiente. O grande
interesse da, auto-ecologia é, pois, o de nos permitir conhecer as adaptações. dos..
Seres Vivos ao meio que habitam e as suas necessidades. Posteriormente, em 1902,
o mesmo autor distinguia a sineecologia « que diz respeito às comunidades de espés, |
cies, isto é, ao estudo das relações existentes entre uma comunidade e. o ambiente |
em que se insere, “especialmente no que respeita à sucessão ecológica. Qualquer

Oà homem “ocupa uma. posição, de. destaque. -Jelativamente aos outros seres,
A ininfluência de
do anambiente é

única que tanto vive no Equador. como no n


meios muito diversos. Mais ainda, o Homem é! uma. espécie biológica.
bi beterotrófica,
capaz de comunicar com grande eficácia, capaz “de riar um amt struíde
Este ambiente construídoé de grande complexidade porque nele se integram ele-
mentos muito diversos como a habitação, os transportes, as comunicações, o traba-
lho, a organização social, os valores.
Moran (Lamy, 1996) classifica as relações Homem/ Ambiente. de imperfeitas-e-
incorrectas. Imperfeitas porque as mesmas se caracterizam por uma mistura de uso
e conservação. Pouco correctas, pela evidência manifesta a cada dia, de fenómenos
como a poluição do ar, da água, dos solos... dos crimes, das doenças sociais e
degenerativas, da desigualdade na distribuição da riqueza.
Estas e muitas outras questões, até então pertença das ciências sociais, foram
ganhando uma crescente importância no pensamento ecológico nas últimas déca-
das do século XxX, emergindo assim a Ecologia Humana, uma nova e ainda recente
área do saber, que perspectiva o estudo do Homem, agrupado « em populações, numa
constante interacção com o ambiente que o rodeia.

Mas 0 Homem, pelas s suas ; características únicas, “assume uma conduta distinta
do comportamento animal. A Ecologia Humana não pode ser apenas um ramo da.
ecologia, como-é-o-caso-da-ecologia.. animal.ou.. da ecologia. vegetal, uma vez que,
nas populações humanas existem outros elementos como a cons ência do tempo,a |
livre escolha e os valores. é Í e |
No início dos anos 20, o estudo da sociedade humana, agrupou sociólogos,
a

antropólogos, geógrafos, ecólogos, entre outros, de modo a que fosse possível


sa

encontrar um campo de contacto e de interdisciplinaridade entre si, tendo surgido ,


assim a NT AsasHumana.
de dm
OT nova perspectiva para t todas as áreas da aeactividade,
o

temas. “2 SÃSÊEras

63
Na Ecologia Humana intervêm todos os factores bióticos e abióticos que inter-
ferem na ecologia das plantas e dos animais, no entanto as dualidades | Homem/
“animal e.cultura/natureza defrontam-se com o facto de o Homem não ser apenas
“um indivíduo biológico ou psicossocial, mas uma t totalidade «bio-psico-social».
“Como refere Buttel (Kormondy, 1998): «Há na existência humana uma 1 dualidade,
que levou ao surgimento de uma ciência social dedicada a questões ambientais.
Esta dualidade traduz-se em, por um lado, o homem pertencer à reserva viva da
biosfera terrestre e, por outro lado, ser o criador de ambientes sociais únicos. Desta
dualidade ressalta a necessidade das relações entre Biologia e Sociologia, pelo que
a Ecossociologia vem pesquisar todas as questões que surgem desta dualidade.»
1921,
Em a diversidade dos comportamentos humanos no espaço e as diferen-
tes respostas sociais e culturais ao meio é que interessam” aos primeiros ecólogos,
“humanos. Barrows identifica à Ecologia Humana como uma componente da Geo-
grafia e, em 1925, Bernhard apresenta uma classificação de ecossistemas, onde se
distinguem factores biossociais e psicossociais, iniciando a visão actual da Ecolo-
gia Humana. Na década de 30, a «escola de Chicago» centra as preocupações na
interacção dos grupos humanos em meios geográficos distintos e subestima a im-
portância do ambiente físico, dando mais relevo ao ambiente social. Em 1936 com
o trabalho de Ezra Park, «Ecologia | mando: cresceu 0 entusiasmo por esta área.

é regulador da vida, através do qual s se regula. o númeroo de organismos vivos, sese


controla a sua distribuição e se mantém o equilíbrio da natureza, atribuindo àA SOCI£sa
dade humana dois níveis básicos, o biótico Deo cultural. Park, Burgess e Mackensie
fóram Os primeiros a aplicarem ao estudo das comunidades humanas os esquemas
teóricos básicos da ecologia vegetal e animal (Young, 1983).
Na perspectiva de Park e dos seus colegas da escola de Chicago, a Ecologia,
Humana era um método ée um conjunto de conhecimentos essenciais para.o.:
“científico dos problemas sociais e uma disciplina básica para todas as ciências.
sociais: A Ecologia Humana fica reduzidaà condição de uma componente da So-
Giológia.
A partir dos anos 50 dá-se um novo impulso teórico na Ecologia Humana para
o qual contribuíram decisivamente os trabalhos de Quinn e Hawley.
“Segundo Quinn, a Feologia Humana é um campo especializado de. análise

funcionais, que surgem da interacção entre o Homem eo meio ambiente; a. nature.


za e forma dos processos, através dos. quais. surge. e. se..altera .a estrutura social...
Neste sentido, uma estrutura ecológicaé a comunidade com uma determinada. dis-
tribuição no espaço e com uma divisão. funcional do trabalho.
ao,

ao nívein macro do estudo das organizações humanas. Parte do pressuposto darwiniano


da «luta pela existência», da necessidade de adaptação ao meio. Esta luta tem de ser
colectiva e não individual fazendo, assim, do conceito “de “comunidade, “O conceitos
chave da teoria. À estruturada” comunidade é concebida como -organização.. de
actividades de subsistência, como a forma em “que a população se organiza para
subsistir 1 num determinado habitat. A Ecologia Humana.. assenta em .três vectores
ae

64
fundamentais operativos: a adaptação, o crescimento e a evolução. Salienta aim-.
f portância do meio ambientee, da sua interacção com a população, “surge a, ideia de.
de.
“organização.
” Não existe Ecologia Humana sem. população, dado quedeite a adaptação se realiza
, mediante uma organização, e nesta o que conta “são “as propriedades de sm
A importância da Organização pode 1 ser Considerada. em duas perspec tivas:

te) que correspondem ààs perspectivas da. organização social e à importância


: do equilíbrio, equilíbrio esse.que.é. sempre. instável, dado que.a população está,
sempre aberta ao. meio,
- Na mesma linha de Hawley está D uçan. Para este, o Conceitojo mais important e
nus

- População, Meio.
cio Ambiente, Tecnologia.e. Organização. Ducan estuda detalhadamente
as inter-relações entre eles. Na sua perspectiva, a população tem sempre de viver
NA

- nurn meio ambiente determinado, na sua interacção com O. meio, a p ulação.adop-


1 ta uma determinada organização. social (familiar, económica, política, religiosa);.€..
- como produto dessa interacção surge.a. tecnologia. o ajustamento de uma popula-
1 ção ao seu meio. 1 não é. um. modo..de. equilíbrio... estático, “mas sim1 um processo
contínuo aee dinâmico. Desta interacção
aa mer rei
surge a cultura que pode ser material;
e imo ee
“Tecnológica e. né material-organização.
Er

A evolução da Ecologia através dos tempos, ora identificada com a Biologia,


HP

ora com a Geografia e finalmente com a Sociologia, conduziu à necessidade de


z

situar o seu objecto de estudo. Na actualidade, a Ecologia Humanaé considerada


«v

como um novo nível de pensamento-ao-aleance.dasdifexentes.disciplinas, deixando |


w

de ser vista como umn capítulo de uma ciência ou 4 síntese de todas as ciências ou º
à,
2.
8.

a sociale cultural.
” Ao definir-se Ecologia Humana, como o conjunto da interacções entre as po-
e pulações e o ambiente, torna-se evidente a necessidade de. uma..maior.. precisão
2 sobre o conceito de ambiente, visto que a percepção que o. Homem tem sobre o que,
a é oambienteé. considerada fundamental, representando. assim. o. principal ponto de.
Li partida, para qualquer análise sobre as relações Homem-Ambiente.
- Historicamente, o conceito de ambiente, tem vindo lentamente a ser mais am-
plo e abrangente. Desde o conceito primário de ambiente sinónimo de natureza e de
> protecção natural, no qual o Homem era considerado um ser independente do am-
9 biente que o rodeava, até ao conceito que inclui outros aspectos do ambiente huma-
! no, tais como factores sociais, naturais, culturais, económicos... foi percorrido um
a longo caminho evolutivo, resultando desta mudança, a emergência de uma perspec-
e tiva holística que integra estas características num todo.
a A Ecologia desempenhou um papel chave ao reabilitar a noção de ambiente/
's natureza, na qual inseriu.o. homem e mostrou que o. ambiente não era só desordem

65
e passividade. o ambiente tomou-se uma totalidade complexa e o Homem, me
de
- “com relações de “autonomia €e.
dependência organizadoras face a esse ambiente. conferência de Estocolmo,
de 1972, considerou o conceito de ambiente valorizado pela componente humana do
património histórico e cultural, quando se refere «... à dupla dimensão do meio,
compreendendo, tanto as componentes naturais do planeta, como os espaços modi-
ficados pelo homem». (Lamy, 1996).
OQ conceito de ambiente passou assim a abranger os elementos físicos, quí-
micos, biológicos, tanto naturais como “artificiais, bem como Os orgânicos e, os
inorgânicos. Mais ainda, passou à incluir. também .o Homem, nas suas formas
de orga ização da sociedade, nas “inter-relações existentes e. na sua capaci-

gica do Homem, beneficiando da, sua capacidade cultural, alterou o “original


nicho humano, sendo pertinente, interrogar-se. sobre a capacidade de adaptação
física e comportamental às novas condições ambientais. Ora, é justamente no
desafioà capacidade da adaptação que se pode situar a problemática do desen-
volvimento sustentável. Perspectivando o seu estudo de uma forma global e
interactiva com os diferentes ambientes que interagem com o Homem, desde
o ambiente físico, químico ou biológico, até aos ambientes sociológico, ecoló-
gico, cultural, técnico e espiritual.
É neste contexto que Duçan (Kormondy, 1998) define Ecologia Humana como
“O estudo das interacções entre as populações humanas e os. «ambientes»..por. meio.
“de uma tecnologia regulada pela organização social. Não podemos deixar de reco-
nhecer
que semelhante evolução no pensamento ecológico vem ao encontro das
novas tendências que se têm manifestado nos últimos anos na ciência da população.

1.8. A metodologia « da
la Demografia
ODdif

A Demografia t tem como objecto fundamental o estudo científico da população


tendo em conta os cinco parâmetros de análise explicitados anteriormente: estuda
conjuntos « de pessoas em vez de pessoas isoladas, preocupa-se. com os aspectos

mudanças ocorridas noo estado da população, estuda as ligações existentes entre as


diversas variáveis demográficas, preocupa-se com as causas e com as consequên-
cias da evolução d do sistema demográfico.
- Os quatro primeiros aspectos situam-se claramente no âmbito da Análise
Demográfica por se concentrar apenas nos problemas técnicos inerentes. à com-
preensão do funcionamento da dinã s populações. humanas. O último ele...
nto da definição | abre ao social (Estudos. de População ou Demografia &Social), à
dimensão histórica (Demografia Histórica), à à acção social (Políticas Demográficas)
e ao ambiente (Ecologia Humana). É verdade que o progresso da Demografia teve
“como consequência a emergência de várias disciplinas cuja unidade, é assegurada
pela Análise Demográfica. Porém, pelo facto de existir uma certa unidade assegu-
rada pela Análise Demográfica, não se evitou que se desenvolvessem vários níveis

66
de explicação, quer nos diversos ramos da Demografia quer na atitude global que
gar

este tipo de problemas implica.


Have

Em termos práticos existe, assim, uma metodologia específica da Análise


AR)

Demográfica, comum a todos os problemas directa ou indirectamente relacionados


com a Ciência da População, e um conjunto. de níveis explicativo . É dos métodos
“E das técnicas da Análise Demográfica que n nos ocuparemos a partir do capítulo HI
mas não deixa de ser importante salientar que existem vários níveis de aprofun-
damento das questões relacionadas com a problemática populacional. Assim, te-
mos, em primeiro lugar, a metodologia geral da Análise Demográfica seguida de
vários níveis de explicação.

pç Lea a
I 1
t[Metodologia Geral da Análise Demográfica)
cespe

QUESTÃO DE P, »
Volumes e Densidades
Ritmos de Crescimento
Estruturas Demográficas
j
A EXPLORAÇÃO ,
Análise dos Sistemass dede Informação Demográfica
Análise da Qualidade da Informação
ps ar io y

a
3 ETAPA» ) .A PROBLEMÁTICA
ns
na “Diagrama “de Lexis
css

ANÁLISE DA NATALIDADE,.
- FECUNDIDADE E NI
ETAPAN . y
ETAP, A
CE ANÁLISE DOS MOVIMENTOS. MIGRATÓRIO
boa
'CONCLUSÃO |
pecases ad mn mama
time

id .º Nível de Explicação em
a mr em Demografia;
NATALIDADE
MORTALIDADE [> [ CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
MIGRAÇÕES

CRESCIMENTO TOTAL
POPULAÇÃO NO FIM DO PERÍODO - POPULAÇÃO NO INÍCIO DO PERÍODO

CRESCIMENTO ENTRE RECENSEAMENTOS


(NASCIMENTOS — ÓBITOS) + (IMIGRANTES — EMIGRANTES)

CRESCIMENTO ENTRE RECENSEAMENTOS


CRESCIMENTO NATURAL + CRESCIMENTO MIGRATÓRIO

mn im Me gm

2 Nível de Explicação em Demografia

DIMENSÃO
NÍVEL | NATALIDADE |»
SO

ESTRUTURA
LLIS

DIMENSÃO
NÍVEL | MORTALIDADE |» | CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
ESTRUTURA:
LIS)

DIMENSÃO
NÍVEL | MIGRAÇÕES |»
ESTRUTURA

CADA FENÓMENO DEMOGRÁFICO PODE VARIAR DEVIDO A TRÊS TIPOS DE


FACTORES: A DIMENSÃO (ex.: quanto maior a população, mais óbitos), O NÍVEL (ex.:
quanto melhores forem as condições sanitárias, menos óbitos) E À ESTRUTURA (ex.: quanto
mais envelhecida é uma população, mais óbitos)
3.º Nível de ESDISSTÃO em Demos)
Rd
> NATALIDADE |-> | CRESCIMENTO
=> | MORTALIDADE |» NATURAL [? VOLUME
ESTRUTURA
AMBIENTE +5 | EMIGRAÇÃO |» DISTRIBUIÇÃO |» | AMBIENTE
=» | IMIGRAÇÃO |5 | CRESCIMENTO ESPACIAL
. , | MIGRAÇÕES |» | MIGRATÓRIO ”
ERÍODO INTERNAS

O AMBIENTE ACTUA A MONTANTE DO SISTEMA DEMOGRÁFICO


O SISTEMA DEMOGRÁFICO ACTUA NO AMBIENTE

pe Ei tt te
4.º Nível de Explicação em Demografia

DINÂMICA DAS POPULAÇÕES


4 4 b
Caracterização Social PROSPECTIVA Caracterização
e Histórica DEMOGRÁFICA Ecológica
j 4 L
PLANEAMENTO ESTRATÉGICO

GRÁFICO

:ÊS TIPOS DE
O NÍVEL (ex.:
RA (ex.: quanto
CAPÍTULO II

A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA: o
UM VELHO PROBLEMA COM NOVAS DIMENSÕES

Introdução

A primeira História da População Mundial foi elaborada por Marcel Reinhard


em finais dos anos 50. Este livro pioneiro é totalmente refundido e desenvolvido
cerca de vinte anos depois num trabalho conjunto do autor com André Armengaud
e Jacques Dupâquier. Esta última versão da História da População Mundial,
publicada pela primeira vez em 1968, apesarr de “ter tido várias edições sem modi-
ficações substanciais, continua a ser a obra mais completa que se conhece sobre a
evolução da população mundial desde as primeiras civilizações até ao século XX,
Posteriormente, nos últimos vinte anos, outros trabalhos importantes foram
realizados na dupla perspectiva da longa duração e da globalização da informação.
Alguns autores prosseguiram na linha de investigação original, continuando preo-
cupados com a evolução numérica da população mundial, integrando os novos
conhecimentos obtidos pela Paleodemografia e pela Demografia Histórica em di-
versas regiões do mundo. Pierre Chaunu, em Un Futur sans Avenir — Histoire et
Population (1979) e, posteriormente, em Trois millions d'années: quatre-vingts
milliards de destins (1990) elabora, numa óptica de longa duração, um complexo
modelo interpretativo da evolução da população mundial com particular incidência
na população da Europa; Colin McEvedy e Richard Jones em Atlas of World
Population History (1978) apresentam, por países e regiões, estimativas de evolu-
ção da população desde as origens até ao século xx; Jean-Noel Biraben, em 1979,
escreve um importante ensaio intitulado Essai sur 'évolution du nombre des hommes;
Massimo Livi-Bacci, em 1992, na linha de investigação interpretativa de Pierre
Chaunu, publica A Concise History of World Population.
Nestes últimos anos, a abundância de informação acumulada pela investigação
foi. detal forma importante (em particular em França e Inglaterra) que começou a.
“optar-se pela elaboração de histórias de população por países. As duas obras funda-
mentais nesta linha de pensamento são, no presente momento, The Population

70 +
History of England, 1541-1871 — À Reconstruction publicado, em 1981, por E. A.
Wrigley e R. S. Schofield e a Histoire de Ia Population Française, publicada em
quatro volumes por Jacques Dupâquier, em 1988. Noutros países europeus vários
trabalhos deste tipo já foram publicados ou estão em vias de publicação, parecendo
que cada vez mais se opta por um caminho que se baseia em conhecer em profun-
“didade os diferentes países, regiões ou épocas para posteriormente se retomar o
caminho.da globalidade e da longa duração. Um bom exemploé o recente trabalho
sobre a Europa elaborado por Jean-Pierre Bardet e Jacques Dupâquier, intitulado
Histoire de la Population de Europe.
Qualquer destas duas perspectivas tem vantagens e inconvenientes. Apresentar
uma evolução global da população, sem exemplificar : a realidade. de um país € sem
identificar ; Ss causas das diversas. dinâmicas populacionais encontradas, tem o risco
de retirar à prática demográfica uma das suas características essenciais —º o rigor.

demográficas específicas «de, um país, com manifesto prejuízo da compreensão « e da


interpretação das grandes etapasde evolução da população. mundial, corremos o
risco de dar a entender que a Demografia é uma simples questão de quantificação.
que prescinde de um adequado enquadramento histórico, espacial, económico, so-
cial e cultural.
Sem negarmos a necessidade de elaborar uma história da população portugue-
tu

sa, projecto esse que se encontra em fase adiantada de execução, optámos por não
q

incluir neste capítulo informações respeitantes aos resultados obtidos pela investi-
eu

gação demográfica em Portugal. Limitámo-nos a apresentar os grandes traços de


evolução da população mundial.
E

Objectivos do Capítulo II

* Conhecer os principais dados quantificados da evolução da população mun-


dial; .
* Conhecer as principais características da evolução demográfica da Europa;
* Compreender o modo de funcionamento do modelo demográfico do Antigo
Regime e as razões do seu desaparecimento;
* Conhecer os grandes modelos de evolução da população;
« Identificar as razões que fazem da «Explosão Demográfica» um problema
antigo com novas dimensões.

2.1. A população antes do aparecimento da escrita

Se o processo da hominização é mais longo do que inicialmente se julgava, o


Homem acabado tem quase a origem imaginada pelos nossos antepassados. Para
que exista o Homem verdadeiramente acabado não basta o aparecimento da posi-
ção vertical, da vida em acampamentos, da utilização do fogo. O Homem verdadei-
- ramente acabado surge com a consciência de si, dos outros, da duração, no seio de

. A
uma «vivência urbana». Por outras palavras, 2 Homem verdadeiramente Homem,

Va “duração vvive-se e esta consciência. da duração. terá aparecido. no Sapiens. Sapiens.e,


no Sapiens Neanderthal. cerca de 30 mil a 40 mil anos antes da nossa era (Chaunu,
1990). O Homem totalmente Homem está ligado ao cultivo do primeiro grão de
trigo e ao aparecimento das primeiras cidades: Cerca de 30 mil anos separam o
primeiro túmulo da primeira cidade, o primeiro Homem verdadeiramente Homem,
faceà anão e à morte, do primeiro Homem totalmente Homem numa rede de

o ta consciência de que o Homem tem as pra a biológica (que se inscreve


pil na dupla espiral do código genético) e a cultural (que o distingue
de todos os outros
animais). Todos os progressos fundamentais são aqueles que tendem a aumentar o
rendimento da transmissão da memória cultural e esta transmissão do saber faz-se
| através dos longos contactos entre pais e filhos.

| [E historiadores especializados neste período falam da exi tência de Pequenos grupos:


E “os Australopithecus não teriam ultrapassado um total de 100 mil a viver em conjun-
a to (Chaunu, 1979); para Mc Evedy e Jones não teriam ultrapassado os 70 mil e é
com o aparecimento do Homo Erectus que se inicia a grande expansão espacialda
ooo população (Mc Evedy e Jones, 1978).
: . Uma das características mais importantes desta época é a dispersão, A veloci-
dade e a extensão dessa dispersão eram condicionadas por dois factores fundamen-
| tais: o clima, e a aptidão. do. Homem. em explorar as Vantagens e em superar. os

caçadores- colectores nómadas foi limitada pelas condições climatéricas. Enquanto


não souberam fabricar utensílios, construir abrigos ou fazer vestuário estavam à
mercê dos elementos. O fogo, inventado ou descoberto pelo Homo Erectus, foi um
dos elementos mais importantes na luta do Homem pela sobrevivência. A sobrevi-
vência do Homem de Neanderthal testemunha essa capacidade do pré- ré-histórico em
se adaptar, mas também atesta a importância do fogo na sua vida quotidiana. O Ho-
mem de Neanderthal sabia fazer vestuário com peles de animais, utilizava o fogo
para se aquecer e para a iluminação, inventou formas engenhosas de apanhar ani-
mais. Numa palavra, ao contrário dos seus antecessores, sabia fazer.
ambiente hostil...
Com o início do Paleolítico Superior começam as. grandes migrações da, Ásia
para à Europa. Éstas migrações foram interrompidas, quando um novo avanço do
gelo se produziu, mas esses seres, que já se sabiam adaptar a tal situação, foram -
capazes de sobreviver nestas condições desfavoráveis. Com o último recuo do gelo,
retomam-se as migrações em direcção
ao norte. Supôs-se, durante muito tempo,
que os caçadores que seguiam os animais em direcção ao norte tinham deixado a

“mesolíticas. Com a perseguição da.caça terá ocorrido a passagem para o continente,

| | 72 .

|
|
americano em diversas vagas, o..que explica, em princípio, a grande densidade
qo

“populacional dos índios americanos,


No Mesolítico, as enormes florestas obrigam o homem a procurar as regiões à
ue

beira dos lagos, dos rios e do mar. Os utensílios são adaptados a novas utilizações:
aparece o machado de pedra para abater árvores e trabalhar a madeira, a caça passa a
vu

) ser feita com o arco e a flecha, aprende-se a pescar. A vegetação era rica em frutos
eraízes, e os mares, agora sem gelo, possibilitam a sua exploração. Troncos de árvores
foram transformados em canoas e o peixe começa a fazer parte da alimentação.
o
q

A passagem, em 30mememilraçãoanos,
inn do aquase
NS Dae ; nada o RC
do era enero paratiro o Homem acabado, > atingindo,
nm

is

acabado começa à primeira lei “da emografia — 0 crescimento. Em relação ao.


e RE er
7

período anterior —. a “primeira sepultura — é já1 uma. humanidade que, emerge. Mas,
uu

o Homem acabado não começa verdadeiramente senão quando .a memória cultural


“atinge 0 o seu pleno, ao dominar o ambiente que o cerca, dome
vo Ns

animais. Esta mutação terá ocorrido no Médio. Oriente


altura em que começam também a aparecer as primeiras cidades: têm 5 mil anos de
va

existência na China, e 7 mil de existência na extremidade ocidental do Mediterrã-


Loves

neo (Chaunu, 1979). Se o primeiro milhão se atinge em 12 000 anos a. C.. entre
9000 e 8000 a. C. a humanidade seria já de 2 a3 milhões. No milénio seguinte, O
pr

trigo passa à cobrir à Mesopotâmia e o Egipto, estendendo-se por 1 milhão de km?,


o que implica um aumento muito importante da população. É certo que com o
qu

Mesolítico e o fim da última glaciação, a alimentação abundante favoreceu o cres-


cimento da. população, mas a verdadeira «explosão demográfica». só ocorre com. q
Homem acabado. No fim da mutaçãoneolítica, (1000 a. € t tirem.
va

cerca de 30 milhões de habitantes na bacia do Mediterr: 10 (Livi- -Bacci, 1992).


es

A explosão da China é bastante mais tardia. Dispomos de uma única informa-


NS

ção: o recenseamento do ano 2 da nossa era que nos indica existirem cerca de 70
milhões de habitantes (Livi-Bacci, 1992). É a China do trigo antes do arroz. Nessa
altura, a população do Império Romano é estimada em cerca de 54 milhões de
habitantes (Reinhard, Armengaud, Dupâquier, 1968).
o

A grande revolução. do, Neolítico. consistiu, fundamentalmente, em «fabricar


homens», reprogramar a memória, cultural.e onservar co Homem VIVO tanto tempo
es

quanto poss el. O que impediu o Homem do Paleolítico de crescer foi.a obrigação
deerrância das tribos.em. território. de. caça. Quando esta começava a rarear ocor-
a
qu

riam grandes migrações que faziam aumentar a mortalidade dos grupos populacio-
nais mais vulneráveis. A vitória da agro -pastorícia é.:
é antes de mais a. estabilidade do,
prio
SS
mos

à pri meira dinastia,


ppeo

cgrinssõem
€e”
“provas sobre. “a existência de. Tecenseamentos. “bienais. na “segunda, dinastia nte pata

73
anuais na sexta, décima segunda, décima terceira e décima oitava dina . Toda,
esta documentação tinha objecti ilitares e “desapareceu, existindo
apenasalgumas indicações de c que possibilitam estimativas. Es-
tas estimativas, apontando para a existência de uma população de 7 a 8 milhões
es (ao que corresponde uma dênsidade de mais de 200 habitantes por
km?) indicam- -nos que o vale do Nilo era fortemente povoado e sujeito a algu-
mas crises de alimentação. o
O Egipto deixou-nos inúmeras descrições de fomes seguidas de doenças que
provocavam um aumento da mortalidade e também um declínio. da fecundidade.
Estedeclínio da fecundidade pode encontrar uma primeira explicação na.esterilio.
dade devido ão esgotamento fisiológico. Também pode estar associado aouso da,
contracepção” “que já era conhecida nesta importante civilização (goma ará
arábica,
amuletos, aleitamento prolongado).
Na Mesopotâmia, apesar de se ter. desenvolvido. a ciência dos números e.de..
existirem fragmentos de lista, e famílias, não se tem conhecimento da existêns
ja dê um recenseamento aplicado à à globalidade do espaço ocupado por ésta Ciyia.
io. O conhecimento da dimensão numérica de alguns exércitos, as listagens de
prisioneiros confrontadas com o rendimento do solo cultivado (uma das técnicas
mais utilizadas pela Paleodemografia), tem conduzidoà elaboração de. estimativas
de população na Mesopotâmia que variam entre 4 e 5. milhões.de habitantes
(Reinhard, Armengaud, Dupâquier, 1968). As famílias eram de reduzida dimensão
e, tal como no Egipto, dispomos de uma documentação pouco numerosa, em épo-
cas muito distintas e que dizem respeito a uma minoria da população muito pouço
representativa. o
O papel demográfico
da guerra é exaltado nesta civilizaçãoo. À arte mostra as
técnicas
de guerra e os seus resultados. À Arqueologia e a Paleodemografia têm-
-nos confirmado a frequência e a amplitude das destruições. Não é possível medir
as repercussões demográficas das guerras nestas duas civilizações mas, para além
da destruição da agricultura e das cidades, havia outras consequências demográfi
importantes: escravatura, massacres | migrações forçadas. Os vencidos eram mas-
sacrados, capturados, Teduzidosà escravatura, separados e, por vezes, eram obriga-
dos a grandes migrações colectivas.

trando . que..os. Hebreus. também sabiam contar. Porém, apesar da abundância de


informações numéricas respeitantes ao volume da população (cerca de 600 mil
homens com mais de 20 anos,.um ano depois da saída do Egipto e um milhão e
trezentos mil no tempo de David), os números na Bíblia têm apenas um significado
simbólico. Na realidade, a existência de uma população de 5 milhões no tempo de
David (igual à população da Mesopotâmia) é difícil de admitir, tendo em conta a
dimensão do espaço e a riqueza do solo. À característica mais interessante deste
povo, sob o ponto de vista demográfico, é a de ser um povo essencialmente migrante
(nómadanas primeiras idades, conduzido à Terra Prometida, condenadoà dispersão).
Em síntese, estas
stas pri ci ili ações £ acerca das quais dispomos de algumas
eso

74
ainda das investigações em curso. Porém, apesar da sua diversidade, existem aleuns.,
elementos comuns: d de motivadas Polos fomes, conheci-

civilizações.

2.3. A Antiguidade: do crescimento ao primeiro «mundo cheio»

O facto de as ciências matemáticas terem tido um dese: rolvimento. quito. gran-

estimativas : aÀ partir de informações dispersas.


A importância da escravatura na, população. total. «aumenta, a probabilidade de

mento de 310 qui se > refere aà um total de 400 mil) ée tinham umm regime. demográfico,
muito particular (o casamento e a procriação raramente eram autorizados). As con-
sequências de uma crise de mortalidade podiam ser compensadas por uma guerra
bem sucedida e dar a ilusão que os efeitos do movimento natural da população não
eram importantes. Na realidade, um aumento do número de escravos pode compen-
sar a diminuição do volume da população causada pela. mortalidade sem ser neces-
sárioum aumento. significativo. do número de nascimentos.
“Um outro elemento fundamental, para se comprs como. funcionava O.
sistema demográfico da Grécia sã es (imigração no período pré-
-helénico e emigração do século VIII ao sé vi a. C.), se bem que o volume
desses movimentos migratórios e as causas que os motivaram sejam muito difi-
ceis de explicar.
Em Atenas, o número máximo de cidadãos do sexo masculino, com mais de 18
anos, teria sido de 30 mil no início do século v a. C. e de 21 mil em 310. Esta
diminuição da população teria sido uma consequência dos efeitos da peste de 430-
-427a.€C., da emigração e da guerra. Atenas começa, assim, por ter um crescimen-

Grécia teria atingido um máximo de 2 milhões de habitantes, 0 que “significa ter


existido uma densidade global de 35 habitantes por km?.
Também dispomos, nas diversas fontes escritas que chegaram até aos nossos
dias, de algumas informações sobre as estruturas familiares da Gré ia (Reinhard,
Armengaud, Dupâquier, 1968):

* a concubinagem
era autorizada para o marido que não tivesse filhos ou que
duesso apenso LapeTizas; —
* o casamento tinha

de é a existência de um pai com muitos filhos»);

75
* a contracepção não era ignorada;
. o aborto, O abandono e a exposição de crianças eram. autorizados (um poeta
“cómico diz-nos que «um filho educa-se sempre, mesmo quando se é pobre,
uma filha expõe-se mesmo quando se é rico»);
* em Esparta, O eugenismo regia a educação dos filhos, o casamento e a pro-
criação (segundo Plutarco um homem de mérito pode pedir a um marido a
sua mulher «para semear como num terreno fértil e ter belos filhos»).

Os romanos eram muito orgulhosos dos. seus conhecimentos sobre a popula-.


“ção. O termo Tecenseamento é-lhes devido e a sua realização. começou no século V
antes da nossa era é prolongou- -se até ao ano 73. Os recenseamentos + 40 serem
essencialmente concebidos para fins fiscais e militares, são dirigidos a grupos « espe-
cíficos da. população. Tal. facto, associado3a grande. variação do território, tem difi-
do as estimativas da, evolução, da po; ulação total (Reinhard, Armengaud,
Dupâquier, 1968). Beloch elaborou uma estimativa de repartição da população para
o Império Romano no início da era cristã: 23 milhões na Europa, 19 milhões e
meio na Ásia e 11 milhões e meio na África. Bourdon distingue três períodos.na
História da população romana: o período da conquista (264-31 anos a. C.), que
teria despovoado o mundo mediterrâneo. sem trazer. o. aumento equivalente:a OX,
C ado | pelas « conquistas. de Augusto.e posteriormente por
ep demias longas e, mortíferas: o período das perturbações (192 a 476) caracter;
do pelas lutas internas, devastações, crises de mortalidade e guerras. —
“Apesar de dispormos de abundantes informações, que permitiram elaborar es-
timativas sobre a evolução do total da população nas diversas regiões do Império,
a —
grande dificuldade em interpretar os resultadosé fundamentalmente
a mesma: as
variações espaciais de c:cada uma das regiões no tempo. Apesar desta dificuldade,
ha a população começou a diminuir significativamente a.
partir do. século o da nossa era. devido Efeito cor ado de vários . factores
(Chaunu, 1990):

*as crises de mortalidade (a «peste antonina» é a mais bem conhecida —


apareceu em 166, atinge Roma em 172 e fez-se sentir até 180 deixando atrás
de si um assinalável rasto de destruição);
* as fomes (entre 250 e 270 dispomos de descrições de sucessivas fomes com
efeitos importantes no aumento da mortalidade);
* alimitação dos nascimentos; não é possível encontrar informações quantifi-
cadas mas, ao explorarmos os autores clássicos que descreveram os costumes
desta civilização, encontramos autores como Petronius onde se afirma que
«ninguém quer família nem educar crianças, porque se alguém tem a infeliz
ideia de ter herdeiros legítimos não será nunca convidado para os banquetes e
festas, não tem nenhum dos prazeres da vida e viverá na obscuridade vergo-
nhosa; pelo contrário, aqueles que não são casados e não têm parentes próxi-
mos são acumulados de honras»;

metidos (não lhes era permitido o casamentoe a a reprodução).

76
Na Grécia, a população cresce a e depois declina até quase ao seu,
utorizados (um poeta total “desaparecimento. enguanto.civilização:-Por-razões: aparentemente diferentes.e.
o quando se é pobre, num espaço temporal mais longo, 'o mesmo acontece ao Império Romano a partir.
do. século II da nossa era. o .
o casamento e a pro: O declínio destas civilizações não pode ser exclusivamente justificado pelas
pedir a um marido à pestes, | fomes, guerras e invasões (Chaunu, 1979). “Assegurar aprotecção da mulher
belos filhos»). grávida e da criança constitui um dos objectivos fundamentais de qualquer civiliza-
ção que procura sob;
sobreviver. | Uma das razões do reduzido crescimento demográfico
mtos sobre a popula. do período Paleolítico foi a necessidade de errância das tribos. As grandes errâncias
começou no século v a que eram obrigadas as tribos faziam aumentar a mortalidade, em particular a dos
seamentos, ao serem recém-nascidos. O aparecimento da agro-pastorícia fez diminuir as grandes migra-
igidos a grupos espe. ções. Uma maior sedentarização tem como efeito imediato poupar vidas humanas,
lo território, tem difi; em particular as da mulher grávida e da criança, criando-se, assim, condições para
sinhard, Armengaud, a existência de um grande crescimento da população.
:ão da população para Durante umn grande. período.de. tempo. a. Antiguidade. é neolítica no seu modo,
iuropa, 19 milhões e de vida.vi No mundo do agora e do forum o Homem é suficientemente numeroso
ague três períodos.na e sem risco de ruptura. A transmissão da vida estava de tal forma feio me
41-31 anos a. C.), que que
to equivalente; a pax
Le. Pp eriormente por Q desejo. «
2a 476) caracteriza- facilidades em se compensar - com escravos a diminuição do número “de nas-”
guerras. *
Cimentos ou a “ocorrência de mortalidades anormalmente elevadas são elementos,
rmitiram elaborar es- que aparecem “abundantemente nos, textos dos, autores. clássico que. che Crea ram.
regiões do Império,a até nós.
copied . .

almente a mesma: as Roma está no centro de um «mundo cheio» onde os homens, que as guerras
sar desta dificuldade,reduzem à escravatura, existem em abundância na periferia do Império e não neces-
sitam de estar preocupados com a transmissão da vida. Q Império Romano
I significativamente a a está.no
do de vários factores é ro de uma ilusão.
fel acaaa:oriunda des da. comunicação. e.da dominação: quase todo o au-

is bem conhecida — do a não se tivesse lentamente transformado, as fomes, as guerras, as pestes


té 180 deixando atrás e, posteriormente, as invasões bárbaras teriam talvez encontrado uma resposta na
mudança de atitudes.
sucessivas fomes com Mas é precisamente neste momento que a ilusão de «mundo cheio» está no seu
apogeu (Chaunu, 1990):
informações quantifi-
creveram os costumes * Tertuliano afirma: «Somos um fardo para o mundo; os elementos não nos
s onde se afirma que bastam; as nossas necessidades são prementes; todo o mundo se queixa por-
: alguém tem a infeliz que a natureza não satisfaz as nossas necessidades; a peste, a fome, as guerras
lo para os banquetes e e o desaparecimento das cidades são enviadas como remédios para o cresci-
1a obscuridade vergo- mento da raça humana.»;
to têm parentes próxi- * S. Jerónimo em 380, num momento de inequívoco declínio demográfico,
afirma que «o mundo está cheio e já não existem mais lugares à superfície da
: se encontravam sub- terra».
dução).

1
Partindo
por ar
da consciência de que.o. «mundo está cheio».
Cent

-sição do pa mismopara. O cristi anismo, coloc


se pela. continuação da aventura humana.

2.4. O nascimento do Ocidente Medieval e o declínio da população

As invasões bárbaras acabam por desmantelar o já frágil mundo da Antiguida-


de, dando progressivamente origem ao aparecimento do Ocidente Medieval. É de
novo um acontecimento demográfico que determina e define, durante uma lenta
transição, a passagem do período antigo para 0. período ; medieval: as migrações.
Estas migrações ocorrem em vagas su: e os invasores misturam-se, com.os
invadidos. Movimentos migratórios “de grande amplitude já tinham ocorrido no
passado. A novidade consiste na possibilidade de se poder estudar melhor este tipo
de movimentos.
Os massacres foram numerosos, o pânico provocou o êxodo rural, algumas
cidades foram pilhadas e arruinadas, grande parte da população do norte de Itália
foge para o sul devido à invasão lombarda mas, ao contrário do que inicialmente se
julgou, o volume total destas migrações foi bastante reduzido.
A Europa do Norte e a Europa Central não poderiam ter tido, no período
anterior às invasões, territórios densamente povoados, porque as zonas cultivadas
eram limitadas e de fraco rendimento agrícola. Ê possível que pressões demográficas
motivadas por más colheitas, alterações climáticas ou outro motivo qualquer, tives-
sem incitado os povos a deslocarem-se. Ao estudar os cemitérios, a Paleodemografia
veio confirmar o reduzido volume destas. migrações, apesar da grande amplitude
espacial e temporal que tiveram: os Visigodos não teriam sido mais de 100 mil, os
Vândalos quando chegaram à África seriam cerca de 80 mil, os Ostrogodos são
estimados também em cerca de 100 mil, os Lombardos teriam tido no máximo um
total de 70 mil pessoas (Fossier, 1982).
Não ocorreu, assim, nenhuma «invasão étnica», arrasando tudo à sua pas-
sagem. Nalguns casos, os bárbaros não passaram de pequenos grupos isolados
no meio dos vencidos, desenraizados por terem perdido a pátria de origem e
com medo de desaparecerem. Provavelmente, teria sido o receio de desapareci-
mento que levou os Ostrogodos e os Lombardos a proibirem. o uso de. armas. aas
Romanos e os Visigodos. a aplicarem, em. proveito. próprio, uma. lei.romana.que
proibia os casamentos.mistos. No. entanto, houve. povos como os Francos, Báva-
ros, Anglo-Saxões e Celtas que, ao conservar contactos com a região de origem
normalmente por via marítima, renovaram permanentemente os seus efectivos e
permaneceram no espaço ocupado misturando-se com os povos nele existentes
(Possier, 1982).
Estas migrações não estão assim ligadas a um excesso de população na região
de origem mas, pelo contrário, ao declínio populacional existente no mundo antigo.
O papa Zósimo afirma, no século v, que «a população baixou de tal forma em
tantas províncias que os Bárbaros foram chamados... a tal ponto que os nomes dos
lugares mudaram». (Reinhard, Armengaud, Dupâquier, 1968).

78
Dispomos hoje de bastantes elementos sobre as consequências deste longo
rocesso: as redes de comunicação, a. organização monetária e comercial foram
totalmente destruídas, os campos foram abandonados,a fuga das populações pro-
-Nocou a escassez de. mão-de-obra.
“” Para além da desorganização da economia e da administração, um outro factor
veio acelerar o declínio da população: as pestes. O choque epidémico dos séculos.
1.
e II actuou localmente nas populações concentradas nos grandes centros urbanos
ela Aamplidãooque
PEA, que tiveram.
Uiveram acabaram.

apareceu em 66, 166 e 180-192. O segundo ciclo começa com a peste justiniana
no ano de 542 e termina em 767. O terceiro ciclo durará de 1346 até ao fim do
século XVIII.
O segundo ciclo de pestes, já melhor conhecido e estudado, acelera ainda mais
oc declínio. demográfico. A peste é assinalada, em primeiro lugar, na Etiópia, em
341, “atinge a Alexandria, a Palestina e a Síria em 542. No ano de 543 atinge a bacia
do Mediterrâneo e em cerca de dois séculos (541-767) foram identificados 20
grandes fluxos de pestes, 18 dos quais atingiram o Oriente e 11 o Ocidente (Biraben,
1975):

* o primeiro fluxo de peste. (a justiniana).foi -de..tal, importância. que. muitos.


historiadores vêem nest Q..a. causa. principal do fracass
justiniana;
ppsemisetáa] este fluxo de peste actua no interior do oriente e na orla costeira do
ocidente:
* o segundo fluxo (558-561) parte de Constantinopla, não ultrapassa.o. Oeste.da.
Itália e está muito associadoà rede de comunicações:
* O terceiro fluxo (570- -574) parte de um epicentro.o « ocidental; a Itália e.a-Gália.
são as regiões mais afectadas;
* Q quarto e o quinto fluxos (580-582 e 588-591) são quase exclusivamente
ocidentais: centro da Itália, Gália e Espanha; RE
* o.sexto.» Toa,
fluxo (599-600) atinge simultaneamente
o dn
o Hentais O ocidente:
* o sétimo. fluxo (608) atinge simultaneamente Constantine opla.e- Roma:
* o oitavo. fluxo, (618). é.Jimitado. a. Constantinopla;
« do nono fluxo até ao. vigésimo (628a 633; 639 a 640; 654; 669 a 673; 684 a
688: 694 a 700; 704 a 706; 716 a 718; 725; 733 à 734; 740 a 751 é 763 a 767)
im novo ciclo,.essencialmente. oriental, Uma. /8%.QUE-O
acidente foi
atingido
Poe cerpipan
apenas esporadicamente.
CE e pç

“A trajectória das pestes segue as redes de comunicações e não admira assim que
tenha partido do oriente. E com o acentuar do declínio populacional que os espaços
vazios criados fazem diminuir a intensidade da peste. Mas, não são ape
- como aà resortantcação peeconómica e o aparecimento das pestes, responsáxeis.por.
os.
ão do « Espaço agrícola. ade eso
inuidade na ocupaçãodo
2.5. A recuperação demográfica do Ocidente Medieval e o aparecimento de um
segundo «mundo cheio»

O século VII marca, para a maior parte dos historiadores da população, o ponto
mais baixo do declínio demográfico europeu (Biraben, 1979):

e 31 milhões de habitantes em a. D. 1
* 44 milhões de habitantes em 200
* 30 milhões de habitantes em 500
* 22 milhões de habitantes em 600
* 22 milhões de habitantes em 700
* 28 milhões de habitantes em 900
* 30 milhões de habitantes em 1000
* 49 milhões de habitantes em 1200
* 74 milhões de habitantes em 1340.

A rede de comunicações encontrava-se completamente destruída, os. campos,


abandonados, a fome e a miséria reinavam por toda a parte. Porém, neste mundo
mediterrânico arruinado, onde existem duas zonas de relativa prosperidade (o Im-
pério Bizantino a Este e o mundo controlado pelos árabes a Sul), a ocorrência de
alguns acontecimentos importantes vão dar origem a um lento processo de recupe-
ração:
* a interpenetração entre o Mediterrâneo e o mundo bárbaro tem como resulta-
do uma melhor alimentação;
* os Germanos, têm uma agricultura muito itinerante, com. grandes rotações e
com a utilização. dos. terrenos. incultos, vão..proporcionar
as. condis
permitem. reforçar-a-melhoria-da-alimentação:
* o aparecimento da charrua medieval.e.da rotação trienal das culturas difun-
dem-se rapidamente em todo o mundo cristão; o
« a existência de uma oscilação climática favorável.

Esta alteração da tendência da evolução da população começada numa região


com uma extensão com cerca de 200 mil km”, situada entre o Reno e a Flandres,
estende-se a todos os espaços verdes do mundo cristão. De um mundo em ruínas,
com um povoamento em descontínuo, começa à surgir um novo mundo de povoa-
mento contíngo. Não se trata de um repovoamento dos pequenos espaços próximos
das montanhas, como tinha acontecido no passado com a Grécia e a Itália, mas de
uma nova ocupação do espaço em centenas de milhar de km”, em povoamento
contínuo.
Depois de um máximo, que se estima em 44 milhões de habitantes no início
da era cristã (atingido num espaço localizado fundamentalmente a sul e a este), da
depressão nos séculos VII e VII, a população europeia, num espaço de. quatro. a
cinco séculos, começa.a.recuperar.os.efectivos.perdidos.durante.o.período
eme
de. declínio
populacional.
ii ind Esta tendência para o crescimento. demográfico vai-se afirmando,

80 :
To.
1 gradualmente, à medida que se começam a consolidar as estruturas medievaise
acelera-se a partir do século x1. Em 1086, em Inglaterra, quando Guilherme, o
Conquistador, encomenda o «Domesday Book», a população ultrapassa já um mi-
lhão de habitantes. Houve, portanto, um triplicar da população num espaço de
e

cinco séculos (Wrigley, Schofield, 1982), apesar de ter existido uma História vio-
lenta e perturbada. A este triplicar, em cinco séculos, sucede-se um triplicar em
dois séculos e meio. No século xIv. a populaçãoatinge os.três milhões. de.habitan:
tese em cerca de 150 mil km”, o que implica uma densidade de 20 a 25 habitantes
por km? (valor muito próximo do observado no continente europeu — 30235
habitantes por km?).
Reinhard estima que a cristandade latina tivesse em 1300, um, total de.
de. 60.101-
lhões.de.almas (Chaunu, 1990). E uma população superior à do Império. Romano
em
apenas.
40%. do.território e que está distribuída da seguinte forma:

“França 15 milhões de habitantes


Ttália 8.5 milhões de habitantes
> Península Ibérica 8,3 milhões de habitantes
» Holanda 1,1 milhões de habitantes
- Inglaterra 3,3 milhões de habitantes
3 Suíça 0,6 milhões de habitantes
- Países escandinavos 0,6 milhões de habitantes
Alemanha 6 a 8 milhões de habitantes
Polónia 1,3 milhões de habitantes

O centro deste mundo começa a estar de novo bloqueado, enquanto a periferia


continua a crescer devido a reduzidos contingentes populacionais. Só a França tem
qr

30% da população em 5% do território das duas cristandades (a latina e a oriental).


po

Neste período de «transição. bárbara». é..de..admitir..que..a..contracepção.. 0


aborto, largamente. difundidos.na.sociedade.romana,-tivessem.
desaparecido lenta-
mente ou fossem de reduzida utilização. Beda, no século vII, afirma: «Uma mãe
que mata o filho antes do quadragésimo dia de gravidez fará uma penitência de
quatro anos; se o mata depois de ter nascido fará uma penitência de criminosa.»
) (Reinhard, Arrmnengaud, Dupâquier, 1968). No período de «transição, bárbara mea
x casamento é pubertário. o infanticídio.é.condenado,-.o..abandono..das..crianças (gm.
, particular
à porta-da-igreja)-é-tolerado.
- Porém, à medida que nos aproximamos
do século XIL
XII começa a consolidar-se
5 uma nova situação que tem. como características. fundamentais. OS. seguintes. aspeca.
: tos: (Chaunu, 1990):

* existe uma oposição entre uma e lite. que..pratica


a ascese. sexual. e. a.grande.
) massa de população a quem era exigido pouco;
l * o celibato vai-se alargando progressivamente a todos os sacerdotes;
L * O casamento começa a deixar de ser generalizado, deixa de ser dominante-
, mente pubertánio para passar a ser progressivamente pós-pubertário (a classe
, modal passa a situar-se aos 18 anos);
QUADRO 1
Evolução da população mundial, por regiões,
desde o início da Era Cristã até 1850 (em milhões de habitantes)
400 200 O 200 400 500 600 700 300 900 1000 1100
China 19 40 7) 60 25 3 49 4 56 48 56 83
Índia/Paquistão/Bangladesh 30 55 46 45 32 3 37-50 43 38 40 48
SW Asiático 2 52 47 46 45 41 32 25 29 33 33 98
Japão LL 24 SS 4 4 4 4/5
Resto Ásia 3 4 5 5 TR 12/14 16/19/74
Europa (s/ URSS) 19 25 31 4 36 30 2 2/25 28 30 35
«URSS» 3 4 2 3 2/1 11/10 10 11 13 15
Norte de África 10 14 14 16 13 1 7/6 9/8 9/8
Resto de África TO 9 1 14 18 20 17/15 16 20 30 30
América do Norte 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
América Central
e Sul 7 8 10 9 1 13 14 15 15 13.16 19
Oceânia o 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2
Total mundial 153 225 252 257 206--207--:208:-206--224 222 253 299

1200 1250 1300 1340 1400 1500 1600 1700 1750 1800 1850 1900
China , 124 112 83 70 70 84 110 150 220 330 435 415
Índia/Paquistão/Bangladesh 69 83 100 107 74 95 145 175 165 180 216 290
SW Asiático NRO II RIR aIAÃã
Japão 7 9 10 10 9 10-11 25 2% 25 30 45
Resto Ásia 31 31 29 292 29 29 3 42 53 6 68 78
Europa (s/ URSS) 49 57 7) MW 5 6Ãã%ÃIÃIII46 20 295
«URSS» 7 14 16 16 13 17 2 3 35 49 7 127
Norte de África 8.9 8 9 8 9/9/1010 10 12 43
Resto de África 49 49 60 71 60 RIM IAÃõIML IO O
América do Norte 3 333393 39/2/3/5:259%
América Central e Sul 3 26 29 29 36 39 10 10 15 19 3 75
Oceânia 2222723343 32/26
Total mundial 400 417 431 442 375 461 578 680 771 954 1241 1634
Fonte: (Biraben, 1979); (LeBrass, 1985).

* a moral do casal foi formulada em termos muito rigorosos por Santo Agosti-
nho mas, ao nível dos comportamentos concretos, a pressão social exige ape-
nas a observância de um mínimo de regras: as relações sexuais devem ser no
interiorsara
do. casamento, todos têm direito ao casamento mesmo.os.mais humil:
des, o casal deve evitar práticas que afastam
o casamento da sua função
procriadora,
* as regras mais restritivas que procuraram regular as relações.sexuais em fun.
ção do calendário litúrgico nunca foram rigorosamente aplicadas.

É neste contexto que Dubois, ao. constatar.a existência.de um aumento signifi-


<cativo-da população.a partir. do, ano. 1000, julga estarem criadas ear
as condições para.o

82
Po
aparecimento de uma nova atitude face à vida, ou seja, dementalidade.
uma nova
que se traduz na existênciada. segunda consciência de-um. «mundo cheio» (Dupâquier,
1988):

* João XXIH na Gallia Christiana escreve, a propósito da criação das dioceses


de Lavaur, Mirepoix, Rieux e Sarlat, « tendo em conta o facto de o número de
habitantes crescer desmesuradamente... a diocese de Toulouse tem tanta gen-
te que já não é suficiente um único pastor...»;
* os pais nascidos no ano 1000 têm por agregado familiar uma média de 3,5
filhos, enquanto que os pais nascidos em 1075 têm 5 ou 6 filhos,

Também Pierre Chaunu (Chaunu, 1990) defende a ideia de que se está perante
um «segundo mundo cheio», uma vez que o «primeiro mundo cheio» já tinha
ocorrido na Antiguidade. Seja qual for o ponto de vista, não restam hoje dúvidas
que houve um. grande. crescimento .da, população..até..ao. aparecimento da, Peste.
Negra, em 1347, Este crescimento da população, ao preencher os espaços vazios,
conduziu à impossibilidade física de criar novas unidades familiares de exploração
agrícola. Como a exploração agrícola se confunde com o agregado. familiar...9.
casamento pressupõe, simultaneamente, a existência de um lar e de uma explora-
ção agrícola disponíveis. E preciso esperar por «sapatos de defunto» para se ter
uma casa e uma exploração. Um lar matrimonial só se funda em substitução. de.
outro lar desfeito pela morte.
Existe já uma numerosa documentação sobre este período em diferentes países
europeus, mas a grande referência continua a ser o trabalho pioneiro de Hajnal
(Chaunu, 1990) sobre os «English Poll Tax Records», de 1377, que nos fornece
uma análise bem documentada sobre este período de transição:

* existem no século XIV muitos sacerdotes e. poucas. freiras. (a inversão desta


situação só se dá no século XVII e sobretudo no século XIX);

Milhões de
habitantes
300

250

200

150

100

800 gm

Figura 2 — Evolução da população mundial (400 a. C. a 1100)

83
* a população feminina no período pubertário. com. mais..de..1.5..anos. xonda, os
10% (nos séculos XVII e XIX estes valores chegarão aos 50%);
* q retardar da idade média no casamento, associado à observância da conti-
| pe Z asso
| nência, tornam-se fenómenos interiorizados e praticados por quase todos.
| | Esta diferença entre gerações provocada pelo casamento tardio substitui lenta-
| mente a escolha de linhagem pela escolha individual. O retardar da idade do casa-
| “mento foi uma Téresposta única é original de um mundo que se julgava cheio e que
| tinha na memória colectiva a recessão demográfica ocorrida a partir do século II.
| : A espera do casamento deixa de ser um tempo morto de frustração para passar. a ser

Uma vez aceite a difícil aventura da continência fora do casamento, os laicos


| cristãos mostram-se mais exigentes em relação aos clérigos e em relação a si pró-
o prios. Por outro lado, foi possível observar que existe uma estreita à correlaçãoentre...
| ú o recuo da idade do casamento e o declínio da ilegitimidade. A continência tornar-
| -se-á um valor tão fundamental que sé chega ao ponto de ser devorante e obsessiva.
| à A pedagogia do controlo dos impulsos sexuais passa a estar ligada a uma espécie
| | ca! de pastoral da vida como preparação para a morte. Só com o século XIX, conforme
4 iremos ver, embora respeitando a continuidade das ideias surgidas no século XIV, se
| encontrará um modelo menos ascético, modelo esse que ainda comanda a nossa
| maneira de viver no presente.

Milhões de
habitantes

1800: TT e

1600

1300 434
SD 4400 4500 1600 1700
Anos
1750 1800 1850 4900

Figura 3 — Evolução da população mundial (1200 a 1900)

Lo 84
2.6. A peste negra

Após vários séculos de ausência (não existiam pestes na Europa Ocidental


desde o ano 767), este novo ciclo de pestes aparece com uma força tal. a partir de
1347. que à Europa, entre 1340 e 1400, passa de 74 milhões. para. 52. milhões
de habitantes.
OQ crescimento demográfico, tendo passado por um máximo. no. século. XI
-continua.a bastante imp
a ser inda e até. 1230,. .começa-.a sofrer uma-grande
redução no período 1230-1250, até que em..1280.se observa uma.completa.estabis
escimento. A grande prosperidade observada nos séculos XII e XI teve
como consequência uma ocupação do solo levada ao extremo e os primeiros «efei-
tos contraceptivos» do retardar da. idade média do casamento começama produzir
os.seus efeitos. Também se começa a observar um recuonos valores daesperança
de vida — diversos estudos têm demonstrado que as esperanças de Yvida, que. se
puderam calcular para'o século XIV, estão distantes dos valores encontrados nos
fins do século XII e princípios do século xnH.
A tudo isto acresce um outro factor: começa a operar-se uma mutação climáti-
<a, Esta mutação, que provoca invernos maiores com verões secos e frios, põe em
risco a produção agrícola e origina más colheitas (existem, em média, três vezes
mais colheitas más no século xIV do que no século xi). A primeira fome é ade.
1315-1317, mas não foi a única.
É neste contexto que um novo, ciclo de pestes.começa. Esta. noxa peste. 1 vem. da

de hhabitantes no ano de 1200, baixou para 70 milhões em 1340 e em 1400.


Parece, assim, que-a-peste-tem-como-origem.a.fome. Em 1340 as estepes da Ásia
cena

Central já estão contaminadas. neste


É mundo dass grandes. caravanas. que.o. bacilo
deve ter sido transp ortado.através.do. chamado. caminho. da seda. Em 1346 percorre
as estepes da Ucrânia até que Khan Djanibeck, ao sitiar o aglomerado genovês de
Caífa, catapulta para dentro da cidade cadáveres com peste. A partir desse momento,
os barcos passam a transportar o bacilo: em 1347, está em Constantinopla, em 1348,
todos os portos do Mediterrâneo estão praticamente contaminados e as comunica-
ções terrestres encarregam-se de espalhar a peste pelas regiões interiores dos dife-
rentes países. Em 1348, um Inverno húmido. e. frio. transforma, a. peste. bubónica.na.
sua
xariante.pulmonar, ou seja, «a doença do bafo que mata».
Esta peste
dar decompõe=se.em-
re oito-fases (Biraben, 1975):

* no ano 1347 e início de 1348 é a fase marítima, do Mar Negro a Constantinopla,


de Constantinopla à Itália e daí para todos os portos;
* no Inverno e na Primavera de 1348, as zonas costeiras são atingidas e a peste.
bubónica transforma-se na variante pulmonar:
* em meados de 1348, todos os portos do Atlântico estão. contaminados,
atin-
gindo todo o mundo cristão:
* no fim de 1348, toda a França.e.Inglaterra.estão.contaminadas;
* em 1349 são os portos do mar. do. Norte:
* no fim de 1349 penetra no interior das terras da Europa do Norte:
E | * em 1350 atinge os portos do Báltico;
- em 1351 e 1352 também atinge as terras povoadas da Polóni e da Rússia.

De 1347 a 1352, 98 4 milhões de. km2.da.cristandade Jatina. ficam contamina-

e “EE anos. “Praticamente 1 um térço da população do mundo. cristão foi aniguilado.


à À peste instala-se na Europa Ocidental até 1670, com um último aparecimento
| isolado de 1/20 a 1722. A segunda metade do século XIV é particularmente
“sombria:

em 1348 a peste fez desaparecer 25% da população da Europa Ocidental;


4 * quando a população começava a recuperar, em 1360, aparece
outro. surto. que,
| É tão. severo como o primeiro (23% de perdas);
pois * em 1369 surge outro surto, embora menos forte (13% de perdas);
pos * em 1375 também se estima existirem, cerca de 13% de perdas.

A peste tem, em primeiro. lugar, o. efeito global de eliminar um grande número


“de vidas humanas, mas, em segundo lugar, mata de uma forma muito particular:
los “actua principalmente nas cidades e, em geral, só. 'ó aban na m. lugar depois. de.ter
| ] dizimado. metade..da.papulação. Em século e meio passou-se de uma densidade
! que rondava os 35 a 40 habitantes por km? para uma densidade de 20 a 25 habitan-
tes por km?
Em geral, sem entrarmos nos aspectos específicos dos diferentes países, pode-
mos afirmar que o século XIV. e a primeira metade. do. século. xY-.foram-épocas-de
i
,
claro
oco
declíniopacpopul: eeedogsional. A possibilidade da dinâmica populacional voltar a ser
| | '
de sinal positivo ficou severamente afectada. Porém, depois destas vagas epidémi:

Antigo Regime OSHO àssim, à eficácia do seu “Tuncionamento.

Fº 2.7. O modelo demográfico do Antigo Regime

|| |à Três traços essenciais caracterizam a evolução global da população.


do conti-
Po nente europeu durante o Antigo Regime: o crescimento moderado da população de
70. milhõess.no. início do século XIV para 111 milhões em meados. do. século, XY EL
midit

ho crises. de, subsistência (Livi- -Bacci, 1992).


| | As crises de mortalidade têm duas fases: a fase da. peste (embora iniciada no
|
o i
século XIV é particularmente intensa nos séculos XV e XvI) e a fase das epidemias
|
Lat sociais, que se estende até ao início da época contemporânea.
pos Vários surtos de peste, epidemias, «xises.de. subsistência e guerras produziram
| recuos consideráveis.no.xolume.populacional, mas, passado o momento da crise de,
i opulações repunham. os.efectivos. perdidos através.de um. cresci-
mo moderado. A mortalidade seria, assim, simultançamente um fac-
| tor regulador e um. factor..destruidor-das-populações..desta
«pc normas
época. Logo que.a

= 86
|
|
população ultrapassasse 1 um determinado limite, a subalimentação e a degradação
das relações sociais ocasionavam a miséria e a violência. O caminho ficava natural-
- mente aberto para as fomes, epidemias e guerras.
Alguns historiadores da população tiveram uma visão mecanicista das socieda-
des humanas nesta época, ao pensarem que 0 verdadeiro elemento regulador era o
fenómeno mortalidade (LeRoy Ladurie, 1966: Pierre Goubert, 1960): «A grande
culpada é a morte; já não se está no tempo em que uma população, ainda pouco
numerosa, possa aumentar as suas formas de subsistência e crescer rapidamente; o
aumento progressivo da população vai saturando pouco a pouco os territórios,
a subsistência e o emprego; o progresso demográfico vira-se contra si próprio e
devora os seus próprios filhos.»
Porém, esta visão mecanicista não resistiu à vaga de investigações sobre o sis-
tema demográfico dó Antigo Regime, que caracteriza os nossos dias com
o, desen
Yolvimento. dda Demografia. Ustórica nas un les. upâguier foi grande
pioneiro, no final dos anos 70, ao levantar a seguinte questão: «Como é que 18
milhões de súbditos de Luís XIV. mal alimentados... aumentaram. num. século. .pára
27 milhões vivendo numa relativa abundância e reagindoà oscilação dos preços?»
(Dupáquier, 1979). e
A hipótese de um aumento dos meios de subsistência não foiconfirmada e a
hipótese. da existência.
de pequenos, progressos. técnicos,.como
a melhori
dições de armazenamento dos produt
não foram ainda demonstrados. Por outr lado, Se a mortalidade desempenhasse
um papelregulador na França de Luís XIV, as
cia as regiões densamente p al facto foi ainda possível de-
monstrar em todos os trabalhos feitos nos diversos países europeus.
As crises de subsistência não parecem. estar, aptas. a.desempenhar..o..papel. de
mecanismo regulador no caso de haver excesso de população. Tal mecanismo supo-
ria ainda a existência de uma periodicidade cíclica, de que também ninguém ainda,
demonstrou a existência. Mais ainda, se as crises fossem realmente o processo
brutal de adaptação do nível da população aos recursos, só actuariam no fim de um
grande período de crescimento. Também neste caso “a investigação 1 tem encontrado
os mais diversos tipos de situações (por exemplo, na França, as maiores crises de
mortalidade actuaram em populações cujo ritmo de crescimento vinha a diminuir).
Q gue surpreendeé a capacidade de recuperação das populações a seguir a uma
crise. Observemos, como exemplo, o movimento da população rural na bacia pari-
siense nos finais do século xvY (Dupâquier, 1979):

Anos Óbitos Baptismos Casamentos


1691 223 000 188 700 40 200
1692 208 500 192 200 43 500
1693 247 100 186 600 33 600
| 1694 396 100 142 900 31 900 |
1695 176 600 176 300 50 400
1696 151 500 214 200 49 900

87
O ano de 1694 é um ano de crise. de. mortalidade (aliás, já começada nos

anos anteriores, enquanto os nascimentos e os casamentos se reduzem. consideras


velmente. Passado o ano de crise, o número de nascimentos aumenta progressiva-
mente e os efectivos perdidos são recuperados. Este aumento não é devido a uma
alteração dos comportamentos procriadores, mas sim a uma alteração dos níveis de
nupcialidade. Apesar do desaparecimento de uma parte importante das pessoas em
idade de casar, a crise de mortalidade tem um efeito positivo: sobre a nupcialidade:
em vez de enfraquecer o dinamismo da população, pelo contrário, estimulaio na
“medida em que rejuvenesce a estrutura.
E verdade que estes casamentos não têm todos o mesmo significado. AA crise,
de mortalidade, ao separar muitos casais. vai multiplicar.o.número.de.xiúvos.e sede
viúvas e proporcionar a existência de vários segundos.casamentos. É um factor que
não é de o porque uma viúva quando casa apenas renova, em geral, a sua

parte, dos trabalhos ata àa percentagem . de casamentos. de viúvas


úvas raramente
ultrapassa.Senado98.107%.ara
Consequentemente, para se compreender.o rejuvenescimento
seja, esta recuperação dos nascimentos depois de uma crise,
analisar c o significadoOdemográfico e social do casamento no Antigo Re
Existem três aspectos fundamentais, caracterizadores do. casamento. nas socie-
dades de Antigo Regime: não existem relações sexuais fora do casamento, não
- Ee ciciata
. existe coabitação de casais e não existe casamento sem casa.
A confirmação da primeira destas regras tem sido objecto de bastantes inves-
tigações as quais têm vindo a demonstrar que a ilegitimidade era bastante baixa.
Nos séculos XVII e xVII oscila entre os 40 e os 50 por mil, apesar de não ser um
fenómeno homogéneo: as cidades têm. maior-ilegitimidade.do
TE ra rm

no campo, ailegitimidade. varia com o rigor do controlo social. De qualquer forma,


devido ao. facto de.a ilegitimidade ser pouco expressiva, não se pode deduzir apres-
sadamente. que eram inexistentesas relações sexuais fora do, casamento. Através da
reconstituição das famílias tem sido possível analisar os intervalos protogenésicos
(distância entre o casamento e o primeiro nascimento). Os resultados obtidos têm
demonstrado que a ilegitimidade e a ausência de relações sexuais fora do casamen-
to deram origem a todo o tipo de variações: existem regiões onde as relações
sexuais fora d do Casamento e à ilegitimidade são frequentes (embora seja importante
verificar o que se entende por ilegitimidade) e existem regiões onde a importância

io numérica da ilegitimidade.
A segunda e terceira regras implicam que o casamento só seria possível quando
o casalera capaz. de.assegurar..a. sua, independência económica, ou seja, capaz de
«fundar um lar». Esta situação reduz..os.. jovens, enquanto..os. pais. estão. vivos,.a
ermanecerem numa, posição.subalterna, ou seja, a ocuparem o seu tempo como
empregados no campo ou na cidade, a fim de juntarem um pecúlio que lhes permita
estabelecerem-se por conta própria. Mais.do.que.
o. casamento tardio, seria melhor

88
falar em gelibato for adoe temporário: os jovens eram privados do direito a ter
Telações sexuais enquanto não tivessem um pecúlio suficiente para se estabelece-
rem. Se os pais fossem dizimados.por. uma crise de mortalidade, a «herança» ficava
imediatamente disponível e osjovens, podiam casar-se.
Éar
- morte dos
d pais que desencadeia todo o processo de dinamização. da popu:
é substituído por um
Jovem casal que noutras circunstâncias teria de esperar mais uns anos. Uma crise
de mortalidade faz diminuir a idade média do casamento, aumenta o número de
nascimentos e rejuvenesce a população.
Na ausência de crises, constitui-se um «exército de reserva» de rapazes e rapa:
Tigas que e estão à espera da primeira oportunidade para se casarem, Logo que surge
uma crise de mortalidade, ficam disponíveis alguns lugares e os elementos do
«exército de reserva» avançam em primeiro lugar. Os jovens celibatários consti-
tuíam assim um verdade iro stock, matrimonial, ci q nção era a de. permitir. àà

aumentaa Tecundidade sem revolucionar os costumes. 3 SeSeaa aci


criação «dennovas. xplo-
rações fosse livre (ou a sua divisão possível) a expansão demo ca d de
ser momentânea e controlada. Porém, nas estruturas económicas é sociais do Anti-
go Regime, o número de explorações variava muito lentamente:

* uma grande parte das terras era alugada e estava nas mãos da nobreza e do
“clero; esta concentração assegurava aos proprietários rendimento, tranquilida-
de e segurança;
a grande maioria dos camponeses era proprietária de terras minúsculas cons.
tituídas por uma casa e um pequeno terreno muito. difíceis de dividir;
a construção de uma nova casa não estava ao alcance de um assalariado, por,
mais económica que fossese e, mesmo que tal fosse possível, as terras disponí-
veis eram poucas..

A estagnação do. número de casas não era mais do que o reflexo da estagnação
da vida económicae social. Se numa família diversos filhos conseguissem chegarà
idade adulta, eradifícil, ou até mesmo impossível, estabelecerem-se todos. Se
a família fosse pobre, os filhos normalmente partiam para a cidade para encontrar
trabalho. Se a família fosse mais abastada, o pai tentava estabelecer alguns como
comerciantes ou em pequenos ofícios mas, a longo prazo, o património tenderia a
pulverizar-se caso as descendências continuassem a ser grandes.
A sociedade rural do Antigo Regime tinha, assim, uma tendência a produzir,
através do mecanismo auto-regulador, cinco consequências. importantes: criadagera;
Celibato forçado, errância, mendicidade e emigração. Compreende-se, deste modo,
como o número de fogos variava lentamente. É ao nível dos agregados familiares
que funciona, efectivamente, este mecanismo auto-regulador e se articulam a eco-
nomia, a sociedade e a população.
O povoamento é função não somente das aptidões naturais e das condições de
subsistência, mas também das estruturas agr E das relações de produção
cuja
origem se perde no tempo e cuja variação é muito lenta. Esta consciência de perma-
Dênccia € exclui inseicd
a de progresso sob o ponto de vista “demográfico e daí a pouca

lugar, no caso de haver uma catástrofe, a população pode reduzir-se. 30. 40 ou. 509%;
normaimente 0 o mecanismo auto- regulador funcionava e repunha a situação ante-
“TIOI, 1 mas, “em certo tipo de catástrofes, como é o caso das guerras, a passagem dos
nte a população mas a própria organização. económica.

o que tomava difícil, senão impossível, a recuperação.


Em segundo lugar, podia
podia tambem
também ocorrer a. situação. 1 a, quando,na se-
quência E mutações económicas, senvolvimento no artesanato e O

corporações funcionando. com n regras. rígidas . era “muito “difícil. a um Jovem | esta-
esta
belecer-se sem uma longa.aprendizagem (o que lhe retardava .O case o), mas,
mais Jivres, a sua instalaçã .era mais.smápida
rato e.
e

turas,.
Neste contexto, nos campos já meio. industrializados, o problema das flutua-
ções económicas e demográficas não se punha nos mesmos termos que num. «país.
ágrícola puro». Economia, sociedade e população articulam-se a um nível. diferen-..
te. É na sequência da emergência deste tipo de acontecimentos que se vai registan-
do em toda a Europa Ocidental, nos séculos XVII e XIx, a destruição do mecanismo
auto-regulador que tinha funcionado durante séculos e que é o principal elemento
caracterizador da demografia do Antigo Regime.

2.8. O crescimento da população na Europa Ocidental e o terceiro «mundo cheio»

europeu “quee ultrapassa. O. quadro. “das. oo nduealisadas e que. não. pode. ser
explicado por uma revolução agrícola. A revolução económica foi uma hipótese
de trabalho que não sé confirmou. O mesmo não aconteceu com a existência de
progressos lentos, mas significativos, na luta contra a morte: a esperança.
de. vida.
aumenta, a mortalidade infantil diminui, a mortalidade.estival. das. -crianças.também.
diminui.
Também nos podemos interrogar por que razão o mecanismo .tegulador.que
funcionava. com.eficácia.na recuperação.dos.efectivos-perdidos, não. funcionou. em
sentido inverso. Porque não foi ele capaz de limitar o crescimento do século XVIII,
depois de ter sido acelerador na crise dos séculos XVI, XVII e primeira parte do
século XVUI? Porque o funcionamento deste sistema baseava-se na constância,
do número de fogos e não na estabilidade da população total.

90 .
As crises de mortalidade,.
nreamrensnsaniaea
ao. estimularem.
unsAsadiaa
o crescimento, levam a substituir
os casais mais velhos por casais mais. jovens,.em.. plena. pujan:nça de. fecundidade.
“Arestrutura demográfica dos fogos deixa de ser a mesma... a fecundidade au-
A
menta e a crise acaba por se transformar num autêntico «baby-boom» prolonga- -
do. A longo prazo, este «baby- “boom» pode tomar proporções importantes com a
“entrada no mercado matrimonial de efectivos, cada vez mais numerosos. Se uma
crise de mortalidade não vem atenuar estes efeitos, o sistema auto-regulador não |
Ecapaz de funcionar como travão. porque. apenas funciona como acelerador,
Com a inércia própria dos fenómenos demográficos será preciso esperar muitas
dezenas de anos para que uma população reencontre um novo processo de equi-
líbrio.
Assim, é possível esquematizar o arranque demográfico da Europa Ocidental.
da seguinte forma (Dupâquier, 1979):

! 1.º etapa (1650-1750): as populações submetidas a. crises.periódicas. de. mortas


lidade põem, a fur jár em. pleno.o.mecanismo.auto-tegulador; este meca-
nismo, ao fazer aumentar de intensidade a nupcialidade, proporciona a
existência de estruturas de idades muito jovens;
: | 2.º etapa (segunda metade do.século.XVIN): os acidentes, sendo menos frequen-
e tes, associados a um certo progresso técnico da medicina, diminuem a, :
| mortalidadee a popu
“Aha funcionado bem numa direcção, inver
sa; mais ainda, este mecanismo tem um peso desagradável.nos destinos
Ee

Too |
é individuais — os quocientes de nupcialidade diminuem, a idade média.ARA enSes do

casamento aumenta,.os jovens têm cada vez mais dificuldades em estabe-


, | lecer-se; a indústria nascente passa a dispor de uma reserva de|
abundante e a baixo. preço; as tensões sociais aumentam. e.aparecem.s confli-
-

tos de Serações;
3.-* etapa (primeira. metade-do,século.XIX): a industrialização, ao persaitir fazer.
é o; aemigra-
omando.. cada vez. mais-impor-

4. etapa, (segunda metade do século XIx): o recuo da mortalidade, associado.a


po

um grande progresso. da. medicina..e das.“condições de. higiene. e saúde,


acaba de vez com o mecanismo auto-regulador: com o aumento da duração
ay

de vida dos pais, as jovens gerações camponesas perdem a esperança de se


Wo

estabelecerem com uma idade razoável; não lhes resta mais do que esco-
p

lher entre o celibato definitivo ou o êxodo para sítios mais ou menos lon-
=

gínquos (como operários, funcionários, militares ou colonos).


sv

O sistema auto-regulador do Antigo Regime demográfico preparou os cami-


l
|
nhos do crescimento e, Simultaneamente,
ceia
dadestruição parcial do meio social.que.
oo fez
fe nascer. Tal aconteceu, porque as suas capacidades de travagemeram, inferio-
o

!
Jes, as
is de aceleração. A sociedade, na sequência de diversas crises de mortalidade,
do

“tinha fabricado uma estrutura apta a reagir a essas crises. Quando as crises come- |
|
|
| 91
I
1 çam a ser mais espaçadas e menor a sua intensidade, começou a manifestar-se O
| problema inverso. Mas, as sociedades não tinham experiência deste novo problema.
A inércia específica dos fenómenos demográficos, conjugada com ainércia. própria.
E damentalidade, tornaram inevitável a destruição de um sistema.notável. que permi-.
E tiucemiimmm
àà civilização ocidental viver em, equilíbrio durante vários séculos..

o aModelo
ij
| | simplificado

o INDUSTRIALIZAÇÃO
No: , y

| ER x PROGRESSO TÉCNICO E SOCIAL


or IAS
À pos E o O MELHORIA DAS CONDIÇÕES
Rolo . ME DE HIGIENE E SAÚDE
4 y L
o DIMINUIÇÃO
DO NÍVEL
| DE MORTALIDADE
| T
|

oo EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

Figura 4 — A destruição do modelo demográfico do Antigo Regime e a explosão demográfica

| Em síntese, a grande mutação não resultou de um modelo. simplista, que.apenas


considera os efeitos.directos.e. indirectos das ps
condições
O A de saúde
lã (modelo simplifi-
Ii | cado na figura 4), mas de um modelo.mais.complexo.que integra diversas. compas
| | nentes (modelo Dupáquier, na figura 5).
Lo | ” A revolução industrial, a consequente destruição do mecanismo auto-resulador
à : das sociedades do Ântigo Regime. demográfico, a melhoria. das .probabilidades.de.
o sobrevivência, vão. criar condições para a existên um grande crescimento
|| “demográfico ) na Bl opa. Os cerca de 110 milhões de europeus existentes em mea-
| | ' dos do século XVII multiplicam-se em dois séculos e meio de tal forma que, só na
| Hp «velha Europa», passam para cerca de 500 milhões no final dos anos 80.
| di Em síntese, nos Quadros 1 e 2 e em particular nas figuras 6 e 7 podemos
| | 7 observar, numa óptica de longa duração, as grandes fases de evolução da população
no continente europeu:

li E * do «quase nada» a 44 milhões de habitantes no ano 200 da nossa era (primei-


| | ro «mundo cheio»);
* o declínio até ao ano 700, em que se atinge um volume populacional pratica-
mente idêntico a 400 a. €. (22 milhões de habitantes);
* um novo período de crescimento populacional, lento numa primeira fase,
mais acelerado numa segunda fase, que se inicia no século VI (22 milhões de

| 92 ,
odelo Dupâquier
| À
g ALGUM PROGRESSO
. | TÉCNICO |
| y y |
TROS FACTORE ESTRUTURAS DE POPULAÇÃO
OUTROS ORES CADA VEZ MAIS JOVENS
y y
ARRANQUE INDUSTRIAL
, , |
j

. . PROGRESSO TÉCNICO E SOCIAL: |


- DECL E -
D O CASA o MELHORIA DAS CONDIÇÕES |
AME DE HIGIENE E SAÚDE

AUMENTO DOS NASCIMENTOS DIMINUIÇÃO DOS ÓBITOS


y J

EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

Figura 5 — A destruição do modelo demográfico do Antigo Regime e a explosão demográfica

habitantes) e termina no século xIv (74 milhões de habitantes); a população


quase quadruplica — novo «mundo cheio»;
* o período das grandes crises de mortalidade, em que as populações europeias
sofrem algumas oscilações no volume populacional, onde o mecanismo auto-
rr

-regulador que caracteriza o sistema demográfico do Antigo Regime está a


funcionar em pleno; globalmente, a população europeia tem um crescimento
ae

moderado (entre 1340 e 1800 o total de habitantes duplica ao passar de 74


1 milhões para 146 milhões de habitantes);
* a partir de 1750, à medida que a destruição do sistema demográfico do Antigo |
5 | Regime se consolida, destruição essa que variou significativamente de país
) para país, começa o grande crescimento da população europeia (146 milhões
em 1800, 295 milhões em 1900, 341 milhões em 1920, 385 milhões em 1940,
448 milhões em 1960, 484 milhões em 1980); vistoà escala de séculoe meio,
a população europeia..triplicon apesar. de estar. no. centro. de duas, grandes,
“guerras mundiais.e.da.grande-crise.económica
dos.anos. 30; este crescimento
“da população no continente europeu foi de tal ordem que ultrapassou os |
limites da própria Europa; a Europa voltou, pela terceira vez na sua história, |
, a estar confrontada com. um.«mundo.cheio»; graças a circunstâncias históri;
cas excepcionais, uma.vaga.de.emigração,
com. uma amplidão. sem precedem:
av

. 93
QUADRO 2
Evolução da população mundial no período 1900-2025
Milhões de habitantes 1900 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1994 1995 2000 2025
China 415 444 493 558 578 606 774 923 1192 1219 1288 1455
Índia/Paquistão/Bangaladesh 290 309 343 388 443 573 699 871 1155 1180 1365 1821
SW Asiático 38 39 43 48 55 110 198 359 484 485 54 697
Japão 4 48 54 61 69 84 9 102 125 125 128 121
Resto Ásia 78 126 139 157 239 311 320 388 436 442 505 682
Europa 295 341 372 385 395 448 462 484 728 799 1
«URSS» 127 146 160 188 180 192 243 266... — — — o —
Norte de África 3 4 49 51 52 64 87 118 157 162 188 267
- Resto de África 95 97 108 125 167 193 266 354 543 558 673 1022
América do Norte 90 117 135 146 167 200 228 247 290 293 323 387
América Central e Sul 75 91 100 131 164 212 283 360 470 481 540 690
Oceânia . 6 8 9/1 13 15 19 4 28 28032 42
Total mundial 1634 1809 2014 2249 2522. 3008 3675 4496 5607 5702-6314 7907

Nota: A dissolução da URSS em 15 estados independentes, em 1991, teve importantes


consequências na publicação dos dados dos principais organismos internacionais. As Nações
Unidas, numa primeira fase, adoptaram a designação «former URSS», atendendo ao facto de a
URSS ser uma região com 34 do espaço em território asiático e com uma população predominan-
temente europeia. Posteriormente, em 1994, as Nações Unidas criaram a «nova ordem geográfi-
ca», repartindo os 15 países da «former URSS» por quatro grandes regiões:
* ÁSIA OCIDENTAL (Arménia, Azerbeijão, Geórgia)
* ÁSIA DO SUL CENTRAL (Casaquistão, Turquemenistão, Quirgizstão, Uzbequistão,
Tajiquistão)
* EUROPA DO NORTE (Estónia, Látvia, Lituânia)
* EUROPA DE LESTE (Bielorrúsia, Rússia, Moldávia, Ucrânia)
Fonte: (Biraben, 1979); (LeBrass, 1985); Population Reference Bureau.

tes,
tes ocorreu principalmente didurante o século xIx, em direcção à América do.
Norte, cuja população passou de 5 milhões em 1800 para 90 milhões em
1900 e para, praticamente, 325 milhões de habitantes no final do século XX;
e finalmente, a última fase do crescimento europeu é a que ocorre a partir de
1994; a população europeia, que estava com tendência para estabilizar à volta
dos 500 milhões de habitantes, devido à integração da quase totalidade da
população da «URSS» na Europa, aumenta entre 1994 e 1995 para cerca de
730 milhões de habitantes; as novas projecções, corrigidas por este importan-
te acontecimento, apontam para uma estabilização da sua população, no final
dos primeiros vinte e cinco anos do século xx1, à volta de 722 milhões de
habitantes.

Esta expansão privilegiada foi a expressão numérica de uma dupla revolução,


cujos benefícios foram, durante muito tempo, reservados apenas a menos de um
terço da humanidade: explosão ou revolução demográfica, numa primeira fase,
devido ao.efeito-conjunto.
do. aumento, do.número de nascimentos
e da diminuição

94
Milhões de
habitantes

Figura 6— Evolução da população mundial (1800 a 2025)

do número de óbitos; numa segunda fase, a revolução económica tornou possível


wo a

uma nova ruptura do equilíbrio população/recursos (o progresso. científico. e.técnico


»

O Tescimento económico que acompanhou. e até ultrapassou


pra
0 cres-
écie.) duas grandes guerras. mundiais e a crise económica.
dos anos 30, abrandararo,. .significati vamente,. o crescimento entre 1920 e 1940. A begadem

Posteriormente a esta data, apesar do «baby-boom» que se seguiu ao fim da


Segunda Guerra Mundial, a maturidade do sistema demográfico europeu, caracteri-
zado fundamentalmente pelo declínio da natalidade e “pelo. envelhecimento, eae mma
demográfico, fizeram com que Md a Europa,
de fosse, xeduzindo, «gradativamente, .0- SEU.
crescimento. A partir dos anos. Rê a 80,. 2..sua..população tenderia a estabiliza
dissolução da URSS não viesse. fazer empolar.de.novo.o.total. da população. Foium

Milhões de
habitantes
BjO
>“
o
B
E”

Figura 7 — Evolução da população da Europa (1800 a 2025)


Jo

95
aumento pontual que em nada parece vir alterar a ideia de estabilidade de uma
população que, no próximo milénio, terá cerca de 740 milhões de habitantes.

2.9. A evolução da população nas restantes partes do mundo

O continente asiático, que no início da PATAS


nossa RS era
SUAtinha
a rc uma população estimada

em cérca de 170 milhões de habitantes, só consegue duplicar a sua poputação por


volta, do “Século xl, altura em que,“atinge + cerça de 260. milhões de habitantes.
O ritmo de evolução foi bastante lento. Quando tudo indicava. que se iria ter uma
evolução muito semelhanteà observada no continente europeu, observa-se uma gran-
de quebra no ritmo de crescimento da população que dura sensivelmente três séculos.
Sabemos que este declínio não pode deixar de estar associado ao apogeu do
maior império criado pelos nómadas da Ásia Central — o Império de Gengis Khan
ou o Império Mongol, que atinge, o seu apogeu em 1300. As características deste
Império desempenham um papel, importante na evolução demogr ja Á
Enquanto nómadas que eram, procuram exterminar a Classe dos agricultores,
sacrando"a população é “destruindo os seus trabalhos de i irrigação. dos campos, | bem.
como a maior parte das grandes cidades e.dos mercados.
— O declínio da população foi, portanto, devido ao efeito das guerras, mas tam-
bém uma consequência da passagem de uma situação de elevada densidade de
ocupação agrícola para uma baixa densidade populacional, normalmente associada
a situações onde predomina a pastorícia. Com o fim do Império Mongol e com o
início dos impérios Ming (1500).e.Manchu.(1650),. tetoma:se. de.novo.o.caminho.....
“do crescimento populacional...
As regiões mais determinantes na evolução do continente asiático são a China
e o conjunto Índia/Paquistão/Bangladesh. No entanto, atendendoà grande impor-
tância numérica da Ásia no contexto da população mundial, explicitámos também
a evolução do Sudoeste Asiático (que engloba países como a Indonésia, as Filipi-
nas, a Tailândia e o Vietname) e o Japão.
Na China, sabemos que o desenvolvimento da agricultura ocorreu muitomais.
tarde do que na Bacia do Mediterrâneo. O aparecimento de arrozais inundados,
com selecção de espécies e colheitas múltiplas nos séculos XI e XII, são verdadeiros
sinais de mutação. Até esta data, a China, tal como aconteceu na Europa, sofreu
grandes oscilações populacionais: diminuiu de 60 milhões no século Im para 25
milhões de habitantes no século v.
Quando comparamos a evolução numérica da China com a da Europa..a dimi-.
nuição O servada, em, termos..relativos-não-é-aauito, diferente. Porém, enquanto a

da peste negra, a China evolui de forma mais, irregular. Ototalde 60.milhões, de


habitantes, que já tinha atingido no ano 200, só volta a aparecer por..volta do ano
1000. “Enire 0 ano "1000. e o ano 1200 aumenta para 124 milhões « de habitantes,
iniciando posteriormente um longo processo de declínio popul -ional. Noininício
o do
século xv, a prio
China tem um volume, populacional igual.ao.que, tinhanoinícioA
» das aea,

96
cristã (70 milhões de habitantes), e só no início do século XvIL a.sua população,
“ultrapassa o volume atingido em 1200.
A partir desta data, inicia-se o grande crescimento populacional da China: 415
milhões em 1000, 378 milhões em 1950, 1289 milhões em 2000, cerca de 1450 mi-
lhões no fim dos primeiros 25 anos do próximo século.
O subcontinente indiano (Índia, Paquistão, Bangladesh) tem uma evolução bas-
tanté“fienos irregular do que à China. Estes dois grandes conjuntos populacionais
EPEIS

da Asia alternam, numa perspectiva de longa duração, a supremacia populacional:


no início da era cristã a China tinha quase o dobro da população; entre o ano 400 e
o ano 1000 as diferenças são pouco significativas; do ano 1000 a 1250 a China
quase duplica a população em relação ao subcontinente indiano; entre 1300 e o
+

início do século XVII o subcontinente indiano tem sempre mais população do que
2

a China; segue-se depois um período, que vai até aos nossos dias, em que a popu-
[e Is le Bjo

lação da China é sempre mais importante. Nos últimos anos, as. projecções,
demográficas apontam de novo para a supremacia populacional do subcontinente.
indiano. .
O resto da Ásia, em particular 0. Japão, -Só..ganha..uma.. expressão. numérica
significativa, 1no.contexto, asiático,
o. durante ai
o, século
o rot XX. Assim, em 1995, dos cerca
IB

de 3500 milhões de habitantes da Ásia 125 milhões pertencem ao Japão, 485 mi-
lhões pertencem ao Sudoeste Asiático, 2400 milhões pertencem aos dois grandes
conjuntos populacionais anteriormente comentados e 442 milhões de habitantes
pertencem ao resto da Ásia.
jo ER

Quanto ao continente africano, podemos afirmar que coexistiram sempre dois:


eme mundos distintos: o do Norte de Africa e o mundo ao Sul do Sahara. A agricultura
difunde-se neste continente cerca de 7000 anos a. C. no Egipto, o que faz com que
3000 anos a. €. existisse uma população estimada em um milhão de habitantes,
centrada praticamente no Nilo e praticando a agricultura, enquanto que, no resto do
continente, não existem mais do que bandos de caçadores-colectores sem conheci-
mentos agrícolas.
O crescimento lento da população observado até ao século XVI não é mais do
que uma consequência de ser praticamenteddesconhecida « de quase todos os povos
do continente africano. a agrícola (noi início da era cristã, a África tinha
x
- 26 milhões de habitantes e em 1500 tinha apenas 87 milhões). A partir desta data,
o tráfico de escravos, que até então tinha pouca expansão, comeca a intensificar-se,
[ãzão polá qual a população apenas cresce d de 87 milhões em 1500 para |102 mi
lhões em 1850. E com o fim desta saneria populacional, causada pelo tráfico de
escravos ecom aprogressiva libertação
da tutela colonial que, já em pleno século
xx, a África« começa a crescer: “138 milhões em 1900, 1 176 milhões em 1940, “353
milhões em 1970, 861 milhões em 2000, 1289 milhões no ano 2025.
tes Quanto ao continente americano do centro e do sul, até ao século XVI, a sua
de população tem um lento é progressivo crescimento, não ultrapassando umas escás-
nO sas dezenas dé milhões de habitantes exclusivamente ameríndios (10 milhões de
es, habitantes no início da era cristã, 15 milhões no ano 800 e 39 milhões em 1500).
do Nas vésperas da conquista espanhola, a população era relativamentereduzida em
aa. número. O impacto do processo da conquista. neste.continente. foi. de.tal
t É
quase total.
t de inporantos”
s civilizizações
como£adJos | Íncas . e a dos Aoiecas (0: mi-
Thões de habitantes em 1600, 15 milhões em 1750, 19 milhões em 1800).
As populações ameríndias não estavam, ao contrário das europeias, imunes a
certos micróbios e sofreram uma aniquilação quase total, principalmente através da |
varíola. “Só em meados do século xIX se atinge um valor de 34 milhões de habitan-
tes (valor praticamente igual ao atingido em 1500). A partir desta data, o modelo de
crescimento é muito idêntico ao africano (75 milhões em 1900, 131 milhões em
1940, 212 milhões em 1960, 540 milhões em 2000) prevendo-se, no entanto, que a
diminuição do ritmo de crescimento, «observado nos últimos. anos, Jeve a.uma.esta-
-bilização
da « que pouco ultrapassará 05,700 milhões de habitantes em
2025..
2.10. A explosão demográfica: um fenómeno novo ou um velho problema com
novas características? —
A
a

Que ensinamentos podemos tirar desta caminhada, através do tempo e do espa-


go, levada a efeito neste capítulo?
A primeira grande conclusão a que chegámos é a de que a preocupação
«excessivo número de habitantes» não é um fenó
porânea, e n POUCO < a explosão demográfica 9 rvada a nos dias de hoje éé um
um
fenómeno inteiramente novo.
A grande revolução do Teolítico é, antes de mais, uma invenção do. homem:
«fabricar homens» à me “e conservar o Homem..o, maior.
tempo possível em V impediu os homens do Paleolítico de crescerem foi
a obrigação de errância das tribos em território de caça. A implantação da agri-
cultura e da pastorícia tem como consequência mais visível uma melhor protecção
da mulher grávida e da criança.
O predomínio da memória cultural sobre a memória biológica permitiu ao
Honiém tomar-se. numeroso, .atalp e entre O início e o fim do Ne
ara 0.30
passa de 1 para milhões. Ma ntiguidade, durante grande parte
tempo, é neolítica no seu modo de viver, à medida que as civilizações camink ;
para a maturidade, algo começaa modificar-se. No mundo do «agora» e do «fórum»,
com o Homem já numeroso e sem risco de ruptura, a transmissão da vida estava de
tal forma assegurada que, é bem possível que tenha havido um esquecimento do
tempo dos predadores hostis, no qual o Homem era frágil. Com o esquecimento,
uma certa inversão de valores começou a operar-se. A exaltação do valor supremo
que era a transmissão da vida, começa a ser substituída por uma atitude, de recusa,
em relaçãoà mesma. Apárece a “ilusão de um «mundo cheio» e a sua renovação não.
pertence. aos. que. 0. hãbitam. A Antiguidade, em transição do paganismo para..o.
cristianismo, num mundo já. em declínio. demográfico, começa a acreditar na.exis-.
tência de um «mundo cheio» e coloca-se, talvez de. uma forma .inconsciente,.no
extremo limite do desinteresse pela continuação .da-aventura humana...
É Asiinvasões “bárbaras, “acabam. por. desmantelar .o, seu. frágil mu:

98 .
o século VII a população declina acentuadamente. À medida que se consolidam as,
- estruturas medievais, a população volta de novo Créiomar
à « os caminhos do cresci
mento, apesar de ter existido uma história violenta
€ | perturbada. Em 1300, o oci-
dente cristão já tem um total de 60 milhões de almas, ou seja, uma população
2 superior à do Império Romano em apenas 40% do território. O centro deste mundo,
E começa, de novo, a estar bloqueado e emerge um novo «mundo cheio». Mas,.a
e e - sta VEZ foi de natureza diferente: retarda-se a idade do casamento,
n o Este. sistema, a que a escola inglesa chama «new pattem», funcionou até à |
a, revolução industrial, tendo sobrevivido às mais duras provas. Durante as mais di-
o versas crises de mortalidade, este sistema soube recuperar os efectivos: perdidos e
n depois evitar a a continuação do crescimento populacional. É com a revolução.
trial que « O sistema. demográfico. .do, An É destruído, “provocando um
aumento no número de nascimentos, uma diminuição no número de óbitos e,
consequentemente, um erande crescimento populacional.no.continente europeu.
n Estamos agora em condições de responderà questão que formulámos no início,
ou seja, a de saber se a explosão demográfica actual é ou não-um fenómeno novo.
A resposta não pode deixar de ser r negativa. Em dois momentos-da aventura. huma. -

via. lugar ; para. tanta. gente. à superfície- daterra.


Di CAs respostas dadas foram diferentes: a Antiguidade desenvolveu progressiva-
L mente uma atitude hostil à vida que teve como consequência um longo período de
n declínio populacional; o mundo cristão, em transição da época medieval para a
época moderna, respondeu através de um sistema único e original que permitiu
x a estabilização do crescimento demográfico (ou a existência de um crescimento
e. : populacional moderado), que só foi destruído pelo complexo de factores normal-
2 mente associados à revolução industrial.
I- - Se a explosão demográfica não é um fenómeno inteiramente novo, que caracte-
o Íísticas diferentes apresenta nos dias de hoje? o
A primeira grande diferença reside no facto de, Slobalmente, a humanidade nos
O. aparecer no século
2 dútro: o bloco dos países 'subdesenvolvidos onde s se concentra 80% da população
u mundial, com um crescimento natural anual médio ue che a quase. aos. 2%, uma

>, de |idosos . e um PNB per. capita que; raramente. ultrapassa os- 3 mil dólares; pelo
le contrário, no bloco dos países desenvolvidos. temos. 20%. da. população mundial, um...
lo | a zero, uma mortalidade. infantil reduzida;
o, de jovens, elevadas percentagens..de-idosos-e-um-PNB--per
IO capita que é quase vinte vezes.superior.
ja, A existência destes dois grandes conjuntos populacionais, de características opos-
o) tas e de convergência lenta, mostra ser impossível falarmos, nos dias de hoje, de um
Da problema chamado «população mundial». A população mundial, actualmente, é o
Sã resultado de uma adição sem. interesse, que tende.a ocultar a realidade concreta a que
1Q se chegou no século xx: num mundo teoricamente.elobal existem.dois.grupos popu-
is completamente. distintos, tendo cada um os seus próprios problemas.
10. ' “Sea primeira grande diferença deste novo. «mundo. cheio».é-a-divisão.em dois
| Dt.

. 99
grandes blocos, a segunda grande diferença é a unidade de contagem:-..no primeiro-
«mundo cheio» a unidade de contagem é. o milhão (do início ao fim do Neolítico
passou-se de 1 à 30 milhões); no segundo «mundo cheio», a unidade de contagem
passou a ser as centenas de milhão (do século vil ao século XIV, a população
mundial passou de 208 para 442 milhões); no terceiro «mundo cheio», a unidade de
contagem passou a ser o milhar de milhão (o primeiro | milhar de milhão. atinge-se.
em meados do século XIX, o segundo em 1930, o terceiro em 1960, o quarto na
década de 70, o quinto na década de 80, o sexto no final da década de 90.. +).
A terceira diferença consiste na unidade de tempo utilizada na análise, Nas
primeiras duas situações, a contagem é feita em séculos (se a população mundial é
estimada em 252 milhões no início da nossa era e 578 milhões em 1600 foram
precisos dezassete séculos para que a população duplicasse), mas, nos dias de hoje
a contagem é.feita.por.anos (entre o penúltimo milhar de milhão e o último media-
ram cerca de 10 anos).
Finalmente, a última dimensão ééa capacidade c de +previsão. A ciência demográfica

fica, consegue explicitar | as “grandes características. demográficas da. sociedade.e.de


amanhã. Ninguém pode ficar indiferente aos grandes cenários demográficos que se
desenham — 7097 milhares de milhão em 2025 e 9198 milhares de milhão em
2050.
Será possível encontrar um dinamismo económico e um contexto ecológico
que sustente este dinamismo e responda à permanência da situação actual, ou seja,
uma população que cresce diariamente quase 200 mil habitantes e anualmente
cerca de 100 milhões de habitantes (tanto como o total da população da Europa em
meados do século XVI)?
Sendo o mundo constituído por dois blotos com características demográficas
totalmente diferentes, e havendo necessidade de uma certa unidade na acção como
traçar uma estratégia comum para a «aldeia global» se 80% da população mundial
tem «crianças a mais» (e os consequentes problemas relacionados com o cresci-
mento da população e 20% dessa população) tem «crianças a menos», problemas
de envelhecimento e de não renovação das gerações?
É na procura de uma resposta a este tipo de grandes questões que constatamos
estar confrontados não com um fenómeno novo mas, pelo contrário, com proble-
mas e factos que já ocorreram em momentos diferentes da aventura humana.

100 :
CAPÍTULO HI

ASPECTOS INICIAIS DE UMA INVESTIGAÇÃO EM ANÁLISE


DEMOGRÁFICA: OS RITMOS DE CRESCIMENTO
E A ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DEMOGRÁFICAS

Introdução

O desenvolvimento da Demografia enquanto Ciência da População está funda-


mentalmente ligado à diversidade. dos seus métodos e.técnicas. Existem1 técnicas
específicas para cada uma das variáveis. que. integram. o.moyximento. da, -POpU lação
(mortalidade, natalidade e moxvimentos. nieratórios) técnicas essas que variam con-

:as
no
tal as RE do passado. (Demografia. Histórica) e para. a
ol- jectar as populações a curt e. Jongo. prazo (Projecções|Demográficas).
as -—Niúfha obra fundamentalmente destinada a pessoas que se iniciam na prática da
Demografia não quisemos tornar essa iniciação demasiado pesada sem, no entanto,
os cair numa vulgarização que é sempre redutora. Tivemos de proceder a um conjunto
le- de escolhas, escolhas essas que obedeceram a dois tipos de critérios: a natureza dos
dados existentes em Portugal e o público a que se destina. Assim, não apresentamos
as técnicas e os métodos de análise que implicam a existência de dados que não
estão disponíveis nos sistemas de informação de Portugal, e seguimos a sequência
de capítulos que mais nos parece indicada para quem pretende iniciar um pro-
cesso de investigação que implique directa ou indirectamente o tratamento cientí-
fico da população portuguesa.
Também excluímos deste trabalho as técnicas de análise específicas da
Demografia Histórica, da Análise Demográfica com Dados Incompletos, das Popu-
lações Estáveis e da Prospectiva Demográfica por entendermos que a sua especifi-
cidade aconselha um tratamento autónomo.
Se a questão do ensino da prática demográfica começou por satisfazer uma
necessidade académica, no momento actual existe um crescente número de perfis

. 101
profissionais que necessitam saber o que fazer aos dados demográficos. Ajudar a
transformar dados brutos, tal como são apresentados pelo sistema estatístico na-
cional, em informação e conhecimento, é o objectivo fundamental dos capítulos
que se seguem, seguindo uma sequência que a nossa prática pedagógica e de
investigação nos tem aconselhado.
Em cada um dos capítulos, para melhor controlo do processo de aprendizagem,
apresentamos trabalhos práticos resolvidos. A parte teórica foi reduzida ao essencial
e evitámos o recurso sistemático a notas e a grandes demonstrações. Procurámos,
deste modo, facilitar a leitura de um texto, por vezes com alguma complexidade
técnica, sem cair na vulgarização científica e procurando atingir o objectivo essen-
cial: ajudar todos os que, pelas mais diversas razões, se pretendem iniciar na prática
da Demografia.
“Começaremos com os aspectos iniciais de uma investigação em análise. de-
mográfica, ou seja, com a análise dos ritmos. de.crescimento.. das.estruturas.demo-
, gráficas e dos sistemas de informação « existentes,
“ Existem autores que começam directamente.com a análise das variáveis
demográficas. No nosso caso, entendemos que, antes de analisarmos as questões
técnicas inerentes e estes problemas, é muito importante conhecer a população no
seu todo, enquanto um processo dinâmico e possuidor de uma determinada estrutura.
As hipóteses de trabalho que vão orientar todo o processo de análise da dinâmi-
ca das populações humanas surgem, em geral, da análise destes aspectos iniciais
que têm de ser acompanhados por análise quer dos sistemas de informação dispo-
níveis quer da qualidade da informação existente.

Objectivos do capítulo HI

* Conhecer as diversas formas de calcular o ritmo de crescimento de uma po-


pulação.
* Elaborar análise regressivas e prospectivas com dados agregados
* Conhecer as diversas técnicas de análise das estruturas demográficas
e Saber o que se entende por envelhecimento demográfico
* Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de problemas concretos

3.1. Volumes, ritmos de crescimento de uma população e densidades

Quando dispomos, ao longo do tempo, de diversas informações acerca do volu-


nte se executa é a do cálculo
do nt [ o de crescimento. Esse ritmo de crescimento deve proporcionar um resultado
anual médio, por forma a se poder comparar períodos de diferentee amplitude.

Suponhamos uma população que num momento O é Po, num momento 1 é P,,
num momento 2 é P, ... num momento n é P, e que cresce a uma taxa”a.

102 :
-Para se medir o ritmo de crescimento de uma população existem. fundamental-..
La- mefte três.processos.em
análise. demográfica: o contínuo, o aritmético e o geomé-
ÍrICO. . . ,
No caso do ritmo. de.crescimento..contínuo, +emos:
use

P=Per. (e = 2,718282),
tm P/P)=an a=[n(P/Po]/n
de No caso do.ritmo.de..crescimento.aritmético, temos:
*n-
ica a=(P,-Po)/(Poxmn)

No caso. do. ritmo. de.crescimento geométrico, temos:

Pr=Po(L+a
eis log (P,/Pj)=nlog (1 + a)
ses
Vejamos os seguintes exemplos:

A América do Norte, entre 1970 e 1980, passou de 228 para 247 milhões de
habitantes.
Em Portugal, em 1821, a população era de 3 276 203 habitantes e em 1835 era
de 3 371 704 habitantes.
Quais são os ritmos de crescimento?

América do Norte
Contínuo Aritmético Geométrico .
20- a=h(P,/P)/n a=(P,-P)/P,xmn log (P,/ P)=nlog
(1 + a)
a=ln (247/228)/10 “ a=(247-228)/228x10 log (247/228) = 10 log (1 + a)
a=ln 1,08333/10 a= 19/2280 . log 1,08333 = 10 log (1 + a)
a = 0,00800 = 0,80% a = 0,00833 = 0,83% 0,03476 = 10 log (1 + a)
0,00348 = log (1 + a)
1,00805=1+a
a = 0,00805 = 0,81%

Portugal
Contínuo Aritmético Geométrico
Ju- a=In(P,/P9)/n a=(P,-P)/P,xn log (P,/Py=nlog(l+a)

ulo a=1n(3371704/3276203)/14 a=(3371704-3 276203) / log (3 371 704 / 3 276 203) = 14 Jog
ado a=n 1,02915/14 [3 27% 203 x 14 — (l+a)
a=0,02873/ 14 a=95 501/45 866 842 log 1,02915 = 14 log (1 + a)
a = 0,00205 = 0,21% a = 0,0020821 = 0,21% 0,01248 = 14 log (1 + a)
0,00089 = log (1 + a)
1,00205=1+a
a = 0,00205 = 0,21%

. 103
No período 1970-1980, por cada ano e por cada 100 pessoas, a população da
América do Norte aumenta 0,8.
No período 1821-1835, por cada ano e por cada 100 pessoas, a população de
Portugal aumenta 0,21.
Com base no cálculo do ritmo de crescimento seométrico podemos fazer algu-
mas apl cações
és interessantes: calcular o tempo de duplicação em anos; calcular à”
es Fegressivas.. embora. sumárias; fazer. “análises.
tivas. também. sumárias.
“Assim, se a é uma taxa de crescimento constante, ao fim de quantos anos n
duplicará a população?
aro c= Po (a + a)”
2=(1+af'oulog=nlog (1 +a)n=1og2/1og (1 +4)

n=log2/log(l+a) = log 2 og (U-+a)


n = 0,30103 / log (1 + 0,00805) n=0,30103/Jog (1 + 0 0020545)
n = 0,30103 / 0,0034821 n = 0,30103 /0,0008894
n = 86,450705 n=338,46413
n = 87 anos n = 339 anos
R: A população da América do Norte R: À população de Portugal duplica
duplica cada 87 anos. ao fim de 339 anos.

A Taxa de Variação é a seguinte:


a=(P,-Po/ Po) x 100

a = (247 — 228 / 228) x 100 a=3371704 — 3 276 203


a = (19/228) x 100 3276203 X100
a = 8,3% a = (95501/3276 203) x 100
R: Em cada 10 anos a população da a = 2,9%
América do Norte aumenta 8,3%. R: Em cada 10 anos a população de Por-
A dividir por 10 é de 0,83%. tugal aumenta 2,9%.
A dividir por 14 é de 0,21%.

Se admitirmos que o ritmo de crescimento se mantém constante, qual seria a


população da América do Norte em 1950?
Com um ritmo de crescimento sensivelmente idêntico na 1.º metade do século
XIX, qual seria a população de Portugal em 1801?

América do Norte Portugal


1970 — 1950 = 20 anos 1821 — 1801 = 20 anos
log 228 / Po = 20.log (1 + 0,00805) log 3 276 203 / Po = 20 log (1 + 0,00205)
log 228 / Po= 0,06964 log 3 276 203 / Po= 0,01779
228 ! Po = 1,17392 3 276 203 / Po = 1,04181
228 = 1,17392 x Po 3 276 203 = 1,04181 x Po
Po=228/ 1,17392 Po= 3 276 203 / 1,04181
P,= 194 milhões de habitantes P,= 3 144 722 habitantes

104 :
A Análise Prospectiva teria o mesmo tipo de aplicação, com a diferença de ser
Fer
»

desta vez o numerador da fracção a incógnita.

Quanto ao cálculo das densidades populacionais, trata-se de um cálculo bas-


tante elementar: consiste vrr dividir o total de habitantes existentes numa determi-
tada unidade espacial, pela Superfície dessa mesma umidade. E uma medida simples,
sem complicações técnicas € bastante grosseira por não ter em conta as caracterís-
ticas físicas do espaço onde se insere a população que estamos a analisar.A Geo-
grafia desenvolveu um conjunto sofisticado de metodologias e técnicas que permitem
analisar com precisão os diversos tipos de ocupação do espaço, nomeadamente
através dos modernos sistemas de informação geográfica, que não desenvolvere-
mos por entendermos que se situam no âmbito da Geografia Humana e não da
Análise Demográfica.

1.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO:


VOLUMES E RITMOS DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO

Observe o seguinte cenário de evolução da população mundial no período


2010-2025: .
Regiões (em milhões) 2010 2025 a a/2 2050 %
Norte de África 219 219
Resto de África 850 1231
América do Norte 334 375
América Central e do Sul 601 706
Oceânia 34 39
Sudoeste Asiático o 601 704
India, Bangladesh e Paquistão 1531 1831
China 1386 1523
Japão 130 126
Resto da Ásia 594 755
aa Europa 743 743
Total 7023 8312 — — 100
ulo
Calcule a taxa de crescimento anual médio das diferentes regiões do mundo
(ritmo geométrico) no período de 2010-2025, e determine a importância relativa de
cada região em 2050 se o ritmo de crescimento se reduzir a metade.

Observe com atenção o seguinte quadro onde se apresenta a evolução da popu-


lação portuguesa em milhares entre 1900 e 2001:

. 105

=
E Recenseamentos Portugal Continente Açores Madeira
| 01/12/1900 5447 5 040 257 150
j 01/12/1911 5999 5586 243 170
|; 01/12/1920 6080 5 668 232 180
| 01/12/1930 6 802 6335 255 212
7 12/12/1940 7755 7219 287 249
| 15/12/1950 8510 7921 319 270
| 15/12/1960 8 889 8293 327 269
15/12/1970 8 663 8 123 288 247
16/03/1981 9 833 9337 243. 253
15/04/1991 9 963 9470 239 254
12/03/2001 10 282 9 805 236 241
a) Calcule a taxa de crescimento anual médio, da população de Portugal, entre
1960 e 1970, através dos ritmos de crescimento contínuo, geométrico; aritmético e
da taxa de variação.
Interprete os resultados.

: | b) Para os períodos de 1970-1981, 1981-1991 e de 1991-2001 calcule com


| precisão as taxas de crescimento anual médio de Portugal, através do ritmo de
| crescimento geométrico e o tempo de duplicação em anos.
Interprete os resultados.

| Resolução do 1.º Trabalho Prático Resolvido

| | Regiões (em milhões) 2010 2025 a a/2 2050 %o


po Norte de África 219 279 0016277 0,00814 342 35
io Resto de África " 850 1231 0,02500 0,01250 1679 174
| Ro! América do Norte 334 375 000775 0,00387 413 4,3
| NR América Central e do Sul 601 706 001079 0,0005400 808 84
Oceânia 34 39 000919 000459 44 0,5
Sudoeste Asiático 601 704 0,01060 0,00530 803 8,3
Índia, Bangladesh
e Paquistão 1531 1831 0,01200 0,00600 2126 220
China 1386 1523 0,00630 0,00315 1648 17,1
| Japão 130 126 -0,00208 -0,00104 123 1,3
o IR Resto da Ásia 594 755 001612 000806 923 9,6
[ | Europa 743 743 0 0 743 71
| | Total 7023 8312 — — 9 652 100
IN

a)
Ritmo de Crescimento Geométrico Ritmo de Crescimento Aritmético
log (8 663 /8 889) = 10 log (1 + a) a=(8663-8889)/8889x 10
log 0,97458 = 10 log (1 + a) a=- 226/88 890
— 0,01118 = 10 log (1 + a) a =— 0,00254
— 0,00112 = log (1 + a) a=- 0,25%
0,099743 = 1 + a
a = — 0,00257 a = — 0,26%
Ritmo de Crescimento Contínuo Taxa de Variação
a=In (8663 /8889)/10 a=(8663-38889)/8 889) x 100
a = In 0,97458 / 10 a=(- 226/8889) x 100
re a =-— 0,02542
a=- 0, 02575
re a ='— 0,002575 a=-— 2,54%
a =-— 0,26% A dividir por 10 anos é de — 0,25%.

Em Portugal, no período de 1960-1970, por ano e por cada 100 pessoas, a


população diminuiu 0,25 ou 0,26; as diferenças entre os tipos de crescimento não
de são significativas.

b)
Período 1970-1981

Crescimento Geométrico (1970-1981) Duplicação em Anos


log (9 833 / 8 663) = 10,25 log (1 + a) n=log2/log (l+a)
log 1,13506 = 10,25 log (1 + a) n = 0,30103 / log (1 + 0,01244)
0,05502 = 10,25 log (1 + a) n = 0,30103 / log 1,01244
0,00537 = log (1 + a) n = 0,30103 / 0,00537
1,01244=1 +a n = 56 anos
a = 0,01244
a = 1,24%

Em Portugal, no período de 1970-1981, por ano e por cada 100 pessoas a


população cresceu 1,24, e duplica cada 56 anos.

Período 1981-1991

Crescimento Geométrico (1981-1991) Duplicação em Anos


log (9 963 / 9 833) = 10,08 log (1 + a) n=log2/log(l+a)
log 1,01322 = 10,08 log (1 + a) n = 0,30103 / log (1 + 0,00131)
0,00570 = 10,08 log (1 + a) n = 0,30103 / log 1,00131
0,00057 = log (1 + a) n = 0,30103 / 0,00057
1,00131=1+a n = 528 anos
a = 0,00131
a = 0,13%

Em Portugal, no período de 1981-1991, por ano e por cada 100 pessoas a


população cresceu 0,13, e duplica cada 528 anos.

107
Período 1991-2001
Crescimento Geométrico (1991-2001) Duplicação em Anos
log (10 282 /9 963) = 9,92 log (1 + a) n=log2/log(l+a)
log 1,03202 = 9,92 log (1 + a) n = 0,30103 /log (1 + 0,00318)
0,01369 = 9,92 log (1 + a) n = 0,30103 / log 1,00318
0,00138 = log (1 + a) n = 0,30103 / 0,00433
1,00318=1 +a n = 69 anos
a = 0,00318
a = 0,32%

Em Portugal, no período de 1991-2001, por ano e por cada 100 pessoas a


população cresceu 0,32 e duplica cada 69 anos.

3.2. As estruturas demográficas

No ponto anterior, fizemos uma análise dos aspectos globais da população


através dos ritmos de crescimento anual médio. Por aspectos gl
entende, em Análise Demográfica, o conhecimento das estruturas demográficas.
Éstas estruturas são sempre analisadas em “sentido restrito, ou seja, são uma sub-
divisão em grupos. a de determinadas ada $ demográfica. PPode-..
mos, desta. forma, obte:

meiros dois tipos de a Uiesa interessam verdadeiramente à “Análise Demográ-


fica. Na prática, a aprendizagem metodológica concentra-se fundamentalmente
no primeiro tipo de estruturas. E uma consequência do facto de. em todas as
estruturas demográficas,se. aplicarem. Os princípio s.concebidos. para. a análise da.
repartição
po

feminina desempenh:
de factores biológicos, sociais, , culturais. À. rep Ç o pori idades é importante por.
duas razões fundamentais:

vida ((início da socialização, « ensinoo básico, puberdade, “entrada na universida-


de, primeiro emprego, primeiro casamento...) em. pessoas. com. diferentes
idades; assim, se por volta do ano 2000, num indivíduo com 60 anos, o
período de adolescência se situa entre 1940 e 1960, num homem com 30
anos, nesta mesma data de referência, o mesmo período situa-se entre 1970 e
1990... os acontecimentos ocorridos neste período vital da formação de um
homem. adulto foram diferentes, condicionando assim, numa certa perspecti-
va, O seu comportamento.

108
Em Análise Demográfica, costuma-se chamar ao primeiro aspecto o efeito ida-
“de e a6 segundo o efeito geração. Éstes efeitos, como é óbvio, podem é “devem ser
“analisados em cada um dos sexos.
Sob o ponto de vista técnico, a melhor forma de analisarmos a distribuição de
uma população por Sexos é idadesé através. de: uma representação gráfica muito
particular, conhe CIC a pelo nome de pirâmide «de idades. Dela nos ocuparemos em
primeiro lugar. Em seguida, analisaremos as diferenças existentes entre os sexos
nas idades ou grupos de idades através de um outro instrumento de análise que se
chama relações de masculinidade. Finalmente, iremos apresentar os principais gru-
pos funcionais e índices-resumo.

As pirâmides de idades

€ idades. As idades são sepresentades gata


no. eixo

— Quo ao seu processo de construção, existem, dois, tipos. fundamentais:


as
not. idades.e.
an ea
as. pirâmides por. ru os. de “idades. Tanto num caso como

relativos. Deixemos por ora à esta questão da transformação das estruturas absolutas
em relativas e das vantagens e inconvenientes que resultam de uma tal transforma-
ção, para nos ocuparmos dos princípios básicos a respeitar na sua construção.
Numa pirâmide de idades, as populações em. cada idade (ou grupo de. idades)
são representadas porrectângulos, cuja superfícieé proporcional ao efectivo consi-
derado (a largura é constante e o comprimento é proporcional
ao. volume.
cional). Por outras palavras, no eixo das ordenadas marcam-se as idades com uma
amplitude fixa; no eixo das abcissas, marcam-se os efectivos observados através de
'or
ret
uma escala, cuja escolha vai. determinar .a.opção. na. escala. das. ordenadas. Esta
interdependência de escalas deriva do facto de se procurar1manter a forma dde uma
pirâmide, não a deixando alongar ou achatar em demasia. Para que tal seja 1 possível,
to, recomenda-se uma altura de 2/3 em relaçãoà largura total. Não se trata de um
princípio a aplicar rigorosamente, mas algo que se deve respeitar tanto quanto
da, possível, de modo a obter uma forma próxima da triangular.
la- Tal não significa que seja sempre esta forma triangular que encontram
do analisamos as estruturas populacionais do tes pé do
formas são possíveis de ser encontradas, sobretudo quando trabalhamos a uma
escala muito reduzida.
No entanto, em relação.à forma, os, dois grandes tipos de pirâmides de idades.
como, referência
são OS segi

* Pirâmide em.acento circunflexo — é uma pirâmide de idades típica dos paí-


ses em desenvolvimento, das populações do Antigo Regime ou das socieda-

109
| âno de nascimento Idade âno de nascimento

! T q T T T T T T T T T T T T T T t

po E % 2,34 8,30 725 6225/19415311207104 0 O 104207 3/1 4155198227268,30934 %


Figura 8 — Pirâmide de idades de Cabo Verde, por grupos de idades, em 1991
(Tipo acento circunflexo)

des tradicionais; a natalidade ea mortalidade são muito le Sonia


it o

| | exemplo de pirâmide de idades tipo acento circunflexo, que apesar do efeito


das migrações reduzir substancialmente alguns grupos etários (em particular
entre os 30 e os 50 anos) não altera a sua configuração triangular.
Pirâmide em uma — é uma pirâmide típica dos países desenvolvidos, que se
po | encontram na última fase da transição demográfica; os níveis de natalidade
E e de mortalidade são muito baixos, o que implica a existência de uma pirâ-
| bi mide de idades com uma base muito reduzida (baixas proporções de jovens)
| e um topo bastante empolado (elevadas proporções de pessoas idosas); na |
figura que apresentamos temos um bom exemplo de pirâmide em urna onde |
| os movimentos migratórios perturbam de forma pouco significativa a sua
“H configuração.

: As modernas folhas de cálculo possibilitam hoje a construção de pirâmides de


| idades de uma forma rápida, sobretudo, quando pensamos no tempo que levaria
| uma construção manual em papel milimétrico.
| Esta facilidade e rapidez de construção não invalidam a aplicação de um con-
il junto de regras fundamentais, a respeitar na construção de uma pirâmide de idades:

º Colocam-se, sempre os efectivos masculinosà esquerda.e os.efectixos-femini-


nos à direita (em números absolutos ou em percentagens); mesmo que seja

110

|
a Bno de nascimento Idade âno de nascimento

fia lia dos dos doa


T T T T T T T T T T T T T T T T

% 480409357 308255204153102051 0 0 0,51 1,02153204 255306 357 409480 %


Figura 9 — Pirâmide de idades de Portugal, por grupos de idades, em 1991
(Tipo urna)

|-
omitida a referência H/M, ou esteja escrito numa outra língua, uma pirâmide
s de idades respeita sempre esta regra inicial fundamental, pois só assim se
= toma possível proceder a comparações no tempo e no espaço;
n .

O Ano de nascimento Idade Ano de nascimento

e
e
-

a
e
a

e
a

E
T 1 T T T 1 t T t 1 r T T T T T F t T

% 088076 0,88 0,58 0490329 029019010 O 0 010012029 029 049058088 072088 %

a Figura 10 — Pirâmide de idades de Portugal em 2001, idade a idade, em 2001

111
E * no eixo das ordenadas marcam-se as idades com uma amplitude fixa e no
“Eixo das abc sas. seOs efectivos; a superfície de cada rectângulo.é.
TOF s efect vos populacionais;
“as “decisões tomadas anteriormente devem permitir a aplicação. do. princípio
i da relação altura-largura (por exemplo, uma base de 15 cm a multiplicar por
“2/3 deve dar 10 cm para a altura da pirâmide);
* aplica-se o princípio da repartição proporcional no grupo terminal, ou seja,
1 muitas vezes acontece estarmos perante uma informação do tipo «70 e mais»,
«80 e mais» ou «90 e mais»; pará não se deformar a pirê idades no
' topo, várias soluções têm sido apontadas, mas a mais utilizada é éagqu e. Consis-
| te em repartir proporcionalmênte ôs efectivos até ao momento em, que é sig-

1 tivermos 4 mil pessoas, teremos 2 mil no grupo 70-74 anos, mil no grupo
75-79 anos, 500 no grupo 80-84 anos e 500 no grupo 85-89 anos, cortando-se
| | a pirâmide 'aos 90 anos, visto já não ser visível a continçiação da repartição
proporcional até aos 100 anos;
EE

Do.
Es

1 jude
jarps
po.

[72]
O.
B.

fo)

10


BD

O
"o

ia
e

io

“as
»
| 65

iG
O
É: 189

o
»

o
O

8
is
º

O
E

E
num n dos lados. (ou 1 nos. dois) do rectângulo que enquadra : a pirâmide de ida- .

ER

É
!

KH
RN des, « os anos de nascimento das pessoas que integram os diferentes grupos de
| | idades (por exemplo, as pessoas que em 31 de Dezembro de 1990 têm
| À 60 anos, fizeram o seu 60.º aniversário em 1990 e nasceram em 1930
hoo (1990— 60= 1930);
j * qu do trabalhamos com grupos de idades, a largura do rectângulo é propor-..
po número de anos existentes em cada um. deles; normalmente é um
| problema que não se põe “quando trabalhamos com grupos de idades
Lo quinquenais, pois basta fixar uma amplitude para o primeiro grupo em função
Ea | da relação altura-largura e aplicá-la a todos os outros; quando os grupos têm
o uma amplitude desigual a solução é transformá-los em grupos de igual ampli-
o tude;
| “O comprimento é do rectângulo é proporcional aos efectivos (em números ab-
ou em percentagem).
“solutos

Finalmente, resta-nos tecer algumas considerações sobre a construção de pirá-


miúdes de idades com efectivos absolutos ou com efectivos relativos.
doi É verdade que uma repres com efectivos absolutos nos dá uma leitura,
o | directa da importância de cada idade. Se queremos analisar apenas uma .região,
A numa determinada época, de forma a reflectirmos sobre as conseguências.sociais.e,
| . económicas de uma estrutura demográfica específica, a representação com efecti-.
«vos absolutos é, em princípio, a mais aconselhada.
na maior parte dos casos, é necessário procedermos.a.comparações.no,.
Espaço. Quando tal acontece, as vantagens. de uma representação em,
| números absolutos transformam-se e em inconvenientes. Como comparar, por exem-
plo, às. pirâmides. deidades... de Portugal. (com..cerca.de..)
O. milhões-de-habitantes)..
com as da Alemanha (com mais de 80 milhões
de habitantes)?

112
O recurso a uma representação com estruturas Telativas resolve a dificuldade,
na medida
m em! relativas dos diferentes.
grupos s € etários.

As relações de masculinidade

As pirâmides de idades nunca são simétricas. Em primeiro lugar, nascem mais


rapazes. do que raparigas (como veremos posteriormente, por cada 100 raparigas
nascem, quando estamos perante grandes volumes de informação, 105 rapazes)
fazendo com que a base da uma pirâmide de idades seja sempre maior do lado.
masculino do que do lado feminino. Em segundo lugar, a mortalidade, que é o
factor mais relevante na explicação da redução dos efectivos, é sempre mais.precos
ce no sexo masculino do que no sexo feminino.
Consequentemente, à medida que avançamos na idade, a superioridade . dos,
efectivos masculinos começa a dimi normalmente entre 08.20 e os 30 anos de
idade a importância dos. SEXOS é igual e, nos últimos “grupos € tários, O.SEXO. femini;
no tem sempre um maior volume populacional do que o ma sculino.
Este modelo natural, que é formado apenas pela evolução e pelos níveis de
mortalidade e de natalidade, pode no entanto ser perturbado por outros factores,
tais como: as migrações, por serem movimentos que normalmente incidem mais
em determinados grupos etários.
Em função do exposto, Chegamos à à conclusão que se torna necessário completar
a informação obtida através “das |pu: CC m.outro instrument
análise: as relações de masculinidade ) por.r. idades c ou
UL STUDOS O de idades. O gráfico das
relações de masculinidade mostra como é que os efectivos existentes. num determinado,
grupo de idade são partilhados | entre o sexo. masculino.e 0.sexo, feminino,
O seu cálculo é bastante simples: basta dividir em cada idade (ou grupo de
tivos masculinos-pelosefectivos femininos, multiplicar o Jesultado

tação.
ação das Telações de masculinidade, toma a forma de uma curva que começa ccom
valores superiores. a 100. e. acaba, com valores. bastante inferiores. Ássim. natural-

femininos «os primeiros valores são, em gera , “superiores 2 a 100. Em seguida, à


medida que se avança na idade o efeito natural do excesso de óbitos do sexo
inásculino faz com que o valordas relações «de masculinidade
vá |diminuindo pro-
gressivamente.
No entanto, convém sempre lembrar que cada, geração tem a sua história prós,
pia, marcada por diferentes situações sanitárias, por migrações diferenciais segun-
do O sexo, o que pode implicar o aparecimento de. profundas modificações no.
modelo natural. deste.gráfico..==é.o.efeito..geração.

113
No exemplo apresentado na figura 11, as relações de masculinidade de Portu-
gal e de Cabo Verde obedecem ao modelo natural de tendência para o declínio à
medida que nos deslocamos dos grupos etários mais jovens para os grupos etários
mais velhos. No entanto, o efeito das migrações produz em Cabo Verde um signi-
ficativo declínio das relações de masculinidade nos grupos etários 25-29 anos a
40-44 anos, seguido de um retomar dos valores dessas relações, que só pode ser
explicado pelo retorno de muitos dos cabo-verdianos. Em Cabo Verde, tal como
aconteceu com Portugal nos anos 60 e 70 a emigração é mais masculina do que
feminina.

Os grupos funcionais e os índices-resumo

Quando analisámos as diversas alternativas para se construir uma pirâmide de


idades, afirmámos que para se elaborar uma análise rigorosa da estrutura de uma
população, num determinado momento. do tempo, a pirâmide. por idades em núme-.
ros absolutos é a mais aconselhada. Também dissemos que, quando pretendemos
fazer comparações no tempo e no espaço, a pirâmide por grupos de idades, em
percentagem, oferece-nos mais vantagens. comparativas.
"” Suponhamos agora que queremos comparar não duas ou três estruturas popula-
cionais mas um número consideravelmente maior. Por exemplo, suponhamos que
queremos observar a evolução estrutural da população portuguesa durante todo o
século xx. Nada nos impede de construir 11 pirâmides de idades com o auxílio de
uma folha de cálculo, mas não corremos o risco de nos perder com tanta informa-
ção gráfica? A resposta a esta questão não pode deixar de ser afirmativa.

RM*100
12 r

EC.Verde 91 E Portugal 91

Figura 11] — Relações de masculinidade em Portugal e Cabo Verde em 1991

114
Em análise demográfica, quando se quer ter uma visão rápida da evolução ou
da diversidade das estruturas populacionais,opta-se por compactar a informação
segundo determinados critérios. O critério mais importante é.o.da.idade, ou seja,
concentra-se num reduzido número de. grupos a totalidade da. informação, de-modo

| E indiferente ;utilizar um ou | outro critério uma vez que os resultados, para


efeitos de análise, são os mesmos. Podemos ter em conta.2 ambos os-sexas.ou.cada

com Os sexos separados e também se costuma, por vezes, dividir um ouu outro grupo
funcional para profunda a análise.

bes ommais. velha ((46. 39 anos).


der inda sor utilizados em função.de determinados objee-
tivos específicos.como, por exemplo,.9.€ da escolaridade. Os grupos funcionais pas-
| sariam a ser: população em idade pré-escolar (0-5 anos), população em idade escolar
(5-18 anos) e população em idade de frequentar o ensino superior (18-24 anos).
Uma vez decomposta uma estrutura demográfica-erm-grupos-funcionais-pode-
mos procéderà sua manipulação, no sentido de os transformarem. indicadores. que.
| abundância de informação é ex
a abt
resumam r
ma repartição por sex idades:
sexos eida
O
são os índices-resumo. Na construção destes índices tanto faz utilizar critério de
agrupamento 0-14 anos/65+ anos, como o critério 0-19 anos/60+ anos. Porém,
como cada vez mais no que diz respeito aos grandes sistemas de informação
| demográfica a nível internacional se utiliza o primeiro critério, é aconselhável a sua
utilização para facilitar as comparações.
Sem pretendermos ser exaustivos os índices-resumo mais utilizados em análise
demográfica são os que agrupam q informação respeitante à população potencial-
mente activa, os que aprofundam a análise do processo de envelhecimento e os que
procuram proceder qa estimativas indirectas de determinados parâmetros
demográficas.
“Os principais índices-resumo das estruturas demográficas.são.os.seguintes:

Percentagem de «Jovens» .

Fórmula: (População com 0-14 anos / População Total) x 100

Definição: | Divide-se a população com menos de 14 anos pela população


total e obtém-se um indicador que mede a importância da juven-
tude na população. É também um indicador de medida do «enve-
lhecimento demográfico» na base da pirâmide de idades.

115
Percentagem de «Potencialmente Activos»

Fórmula: (População com 15-64 anos / População Total) x 100

Definição: Divide-se a população «potencialmente activa», ou seja, a que se


situa entre o fim da escolaridade obrigatória e o início da «refor-
ma» pela população total e obtém-se um indicador do potencial
demográfico dos activos.

Percentagem de «Idosos»

Fórmula: (População com 65 e + anos / População Total) x 100

Definição: Divide-se a população idosa com mais de 65 anos pela popula-


“ção total e obtém-se,um indicador que mede a importância dos
idosos na sociedade, sendo também úm indicador de medida do
«envelhecimento demográfico» no topo da pirâmide de idades.

Índice de Juventude

Fórmula: (População com 0-14 anos / População com 65 e + anos) x 100

| poi Definição: Compara directamente a população jovem com a população ido-


sa. Por cada 100 idosos existem x jovens. E também um indica-
dor utilizado na medida do «envelhecimento demográfico».

Índice de Envelhecimento ou Índice de Vitalidade

| : Fórmula: (População com 65 e + anos / População com 0-14 anos) x 100

| | Definição: Tem a lógica inversa do índice anterior, ou seja, compara directa-


mente a população idosa com a população jovem. Por cada 100
jovens existem x idosos. É também um indicador utilizado na
medida do «envelhecimento demográfico».

Índice de Longevidade
| :

Fórmula: (População com 75 e + anos / População com 65 e + anos) x 100

Definição: Compara o peso dos idosos mais jovens com o peso dos idosos
menos jovens. E também um indicador de medida do «envelheci-
mento demográfico».

(| 116
Índice de Dependência dos Jovens

] Fórmula: | (População com 0-14 anos / População com 15-64 anos) x 100

Definição: | Compara o peso dos jovens com o peso da população potencial-


mente activa. Por cada 100 potencialmente activos existem x jo-
vens.

Índice de Dependência dos Idosos

] Fórmula: (População com 65 e + anos / População 15-64 anos) x 100

Definição: | Compara o peso dos idosos com o peso da população poten-


cialmente activa. Por cada 100 potencialmente activos existem
x idosos.

Índice de Dependência Total

Fórmula: (População com 0-14 anos + 65 e + anos) '


x 100
População com 15-64 anos |

Definição: | Mede o peso conjunto dos jovens e dos idosos na população


potencialmente activa. Por cada 100 potencialmente activos exis-
tem x jovens e idosos. É a soma dos dois índices anteriores (Índi-
ce de Dependência dos Jovens + Índice de Dependência dos
Idosos)

] Índice de Juventude da População Activa

Fórmula: | (População com 15-39 anos / População com 40-64 anos) x 100

Definição: | Mede o grau de envelhecimento da população potencialmente


activa. Relaciona a metade mais jovem da população potencial-
mente activa com a metade mais velha.

Índice de Renovação da População Activa '

| Fórmula: | (População com 20-29 anos / População com 55-64 anos) x 100 |

Definição: | Relaciona o volume potencial da população que está a entrar em


actividade com o volume potencial da população que está a sair
da actividade.

7 |
Índice de Maternidade

Fórmula: “(População com 0-4 anos /População com 15-49 anos) x 100

Definição: | É um indicador que relaciona a população com menos de 5 anos


de idade com a população feminina em período fértil. Funciona
como indicador da evolução da fecundidade quando não dispo-
mos de informações sobre os nascimentos.

Índice de Tendência

Fórmula: (População com 0-4 anos / População com 5-9 anos) x 100

Definição: | É um indicador de tendência da dinâmica demográfica de uma


população. Quando apresenta valores inferiores a 100 significa
que está em curso um processo de declínio da natalidade e de
envelhecimento.

Índice de Potencialidade

Fórmula: | (População com 20-34 anos / População com 35-49 anos) x 100

Definição: | E um indicador que relaciona as duas metades da população fe-


minina no período fértil onde, em princípio, ocorrem mais nasci-
mentos.

O envelhecimento demográfico

A partir da segunda metade do século xx, um novo fenómeno surgiu nas socie-
dades desenvolvidas — envelhecimento
o demográfico. Não se trata de uma nova.
epidemia ou de uma nova doença (não existe nenhuma doença chamada envelheci-
mento), mas de uma simples. constatação. quantitativa: a p: e
nas idades mais avançadas estar a aumentar. A procura de uma melhor c caracteriza-
ção deste fenômeno, a determinação das duas causas e consequências, a identifi-
cação de assimetrias espaciais importantes, o estabelecimento da cronologia do
processo, a determinação de envelhecimentos diferenciados por sexo e classe so-
cial, a tentativa de encontrar soluções e de prever a evolução futura, levaram a que
numerosos investigadores, de todas as áreas científicas, começassem a interessar-se
pela problemática do envelhecimento.
Já em finais dos anos 70 analisámos a problemática do envelhecimento em
Portugal e explicámos tecnicamente a sua origem e diversidade regional. Retome-
mos de novo esta questão no contexto do presente trabalho.

118
4
Em primeiro lugar, em termos demográficos, existem dois tipos de envelheei
mento — o envelhecimento na. base e o envelhecimento no-tapo. O primeiro tipo. de.
envelhecimento ocorre quando a percentagem de jovens começa a diminuir de tal
forma que a base da pirâmide de idades fica bastante reduzida. O segundo tipo de
“envelhecimento ocorre quando a percentagem de idosos aumenta, fazendo assim com
“que a parte superior da pirâmide de idades comece a alargar, em vez de se alongar,
como acontece nas sociedadestípicas
erre
dos países em vias
de desenvolvimento.
“Estes dois pos envelhecimento
de estão ligados entre. si: a diminuição percentual
do grupo dos jovens implica um aumento, proporcional dos. outros. dois. grupos. de.
idades, em particular no grupo de pessoas. com idades mais avançadas.
Em segundo lugar, a nível das causas, durante S
explosão demográfica da terceira idade era nsequ directa do aumentoo.
da| eesperança de vida. Por outras palavras, existiam mais pessoas idosas pela sim.
ples razão de se morrer cada vez mais tarde.
À investigação empírica não confirmou esta hipótese de trabalho. Na realidade,
a mortalidade, ao declinar, actua dominantemente nos primeiros grupos de idades.
Os jovens passam à sobreviver cada vez em maior número, em particular a partir do
primeiro ano de vida (devido ao declínio da. mortalidade infantil), fazendo assim
com que, mais tarde, os efectivos da. populaç em. idade. fértil aumentem. “Os
nascimentos tendem sempre a aumentar durante o processo de declínio.da mortali-
dade,a não ser que uma nova Ent
atitude. face 3à. vida comece. igualmente. a. surgir.
Não foi, pois, O declínio da mortalidade. o principal factor responsável pela
mer bservado nas socieda-
ES, 0084
des de. transição “acabada. O.
O “principal factor natural responsável pelo envelheci.
mento demográfico foi o declínio da natalidade. Uma redução no número de
“nascimentos produz na estrutura etária de.uma. população uma diMINUIÇÃO.PrOSTES-...

1960
H1970
[31980
1990
E 2000

Env. Base Env. Topo

Figura 12 — O «envelhecimento na base» e o «envelhecimento no topo».


Portugal no período 1960-2000

119
= H siva dos efectivos mais jovens — o envelhecimento na base — e consequentemente.
N um aumento da importância relativa dos mais idosos — o envelhecimento-no-topo
O envelhecimento demográfico do continente europeu é assim uma consequência
vi directa do acentuado declínio da fecundidade nas últimas dezenas de anos.
É verdade que o fenómeno do envelhecimento demográfico não é um processo
exclusivamente explicado por factores naturais. Embora seja a dinâmica das rela-
ções entre a mortalidade é à natalidade que transmite uma certa unidade ao proces-
so, não é possível ignorarmos que a dinâmica das populações humanas é movida
| também por outros factores.
dd O homem é um s ado de uma grandemobilidade. As migrações, sendo
Ê selectivas, produzem necessariamente efeitos estruturais importantes.
"Se, um país, ou uma região, é recebedor de população, os potencialmente acti-
vos
sean st
aumentam. Este aumento implica à existência. de uma diminuição. nos, outros
|: : dois grupos de idades — os jovens diminuem proporcionalmente (logo temos um
= | envelhecimento na base) e os idosos também diminuem proporcionalmente (o que
| implica um rejuvenescimento no topo). Consequentemente, num país. recebedor de.
mão-de-obra, o aumento da importância dos idosos pode diminuir sensivelmente.
Inversamente, num país ou numa região exportadora de mão-de-obra, a tendên-
cia natural para o aumento da importância da população idosa é acentuada pelos
movimentos migratórios. Encontramo-nos, assim, “perante o paradoxo. de uma pos

In! | | “ Um outro aspecto do envelhecimento demográfico consiste nas diferenças rela-


| | LA tivas entre os sexos. O excedente de óbitos masculinos em relação.
aos. femininos.
existente nos primeiros grupos etários produz um acentuado ed entre. os
Sexos, sobretudo no fim da pirâmide de idades. Numa populaçã.

idosos do sexo masculino. Esta situação pode, “conforme vimos anteriormente, ser
agravada ou atenuada com o efeito dos movimentos migratórios.
' , | Finalmente, o último aspecto do> envelhecime ento. demográfico.
diz. respeito ao
pot, progressivo aumento dos. efectivos nas, idades. mais. avançadas. Este fenómeno é
particularmente visível nos países onde a esperança de vidaé bastante elevada.
Parece uma contradição em relação ao que dissemos anteriormente mas, na
realidade, nos países em que a fecundidade atingiu valores muito baixos e ondeo
processo do seu declínio parece ter chegado ao seu termo, o. ef to € au-
sado por este declínio começa a atenuar-se., consideravelmente. A existência de
4 progressos na esperança de vida reforça necessariamente o processo do envelheci-
| RE mento e torna-o universal e irreversível para todos os países do mundo «os países
e que não crescem, envelhecem». (Sauvy, 1966).
| Em síntese, a causa fundamental do envelhecimento demográfico é o declínio
da
fecundidade. Quando
os países começam a chegar a níveis de não renovação das
| | gerações, o efeito da melhoria das condições serais. de saúde. reforça O. processo.
D “de envelhecimento. ÀAS migrações podem reforçar ou atenuar a tendência natural da
| evolução do processo de envelhecimento,
| À universalidade do processo de envelhecimento demográfico obriga-nos a
i repensar o conceito de velho na sociedade actual (uma coisa são os problemas

120
económicos que resultam de se parar a actividade aos 60 ou 65 anos, e outra os
problemas relacionados com a velhice e a dependência que ocorre muito mais
o
tarde) econcei políti
deto terceira. idade... não será antes uma política
global da idade que se torna urgente implementar em vez de políticas destinadas a
grupos específicos?

2.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO:


PIRÂMIDES DE IDADES, RELAÇÕES DE MASCULINIDADE E ÍNDICES-RESUMO

a) Elabore as pirâmides de idades de Portugal e de Cabo Verde em 1990 com


base na informação apresentada no quadro. Interprete os resultados.
b) Elabore os gráficos das relações de masculinidade para Portugal e Cabo
“Verde em 1990. Interprete os resultados.
mas c) Calcule os grupos funcionais e os índices-resumo para Portugal e Cabo Vér-
de em 1990. Interprete comparativamente os resultados.

Grupo de Portugal 1970 Portugal 1990 Cabo Verde 1990


Idades Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
0-4 anos 402 170 387185 278583 265 544 30 054 29 951
5-9 anos 432 445 417 340 331 224 314724 25660 25 455 |
10-14 anos 410 865 401 845 398 442 383 142 21 143 21260
15-19 anos 355 490 375 410 428 071 417 148 17 288 17012 a
20-24 anos 297 945 330 095 386 466 378 404 15 833 16 643
25-29 anos 241 340 2771395 359385 366 912 12 465 13 888
30-34 anos 250 355 283 630 340 847 353 452 8 283 10 809
35-39 anos 262 665 293 075 321 655 339 126 5 148 7919 -
40-44 anos 261040 - 290345 307 487 326 671 2697 4176
º 45-49 anos 242.785 270 445 271 516 297 781 2654 4470
50-54 anos 209 280 235 320 265 457 293 551 3953 6370
55-59 anos 206 185 233 565 263 120 298 610 4017 5685
60-64 anos 184 055 226 095 245 000 287991 3951 4850
65-69 anos 140 065 186 185 211903 257931 2 405 2984
70-74 anos 94 250 139 470 149 179 195 459 5 943% 8 641*
75 + anos 98 230 174 560 196 287 331 462
Total 4089165 4521960 4754632 5107908 161494 180 113
* 70 e + anos.

IN

a) Elabore as pirâmides de idades de Portugal em 1970 e 1991. Interprete


e comente os resultados.
b) Elabore os gráficos das relações de masculinidade para Portugal em 1970 e
1991. Interprete comparativamente os resultados.

, 121
c) Calcule os grupos funcionais e os índices — resumo para Portugal nos pe-
ríodos de 1970 e 1991. Interprete comparativamente os resultados.

Resolução do Trabalho Prático

I
a)eb)
Cálculos auxiliares .
Portugal 1990 Cabo Verde 1990
Grupos Homens Mulheres Homens Mulheres
de Idades (%) (%) RMx100 (%) (%) RMx100

0-4 anos 2,8 2,7 104,9 8,8. 8,8 100,3


5-9 anos “34 3,2 105,2 7,5 7,5 100,8
10-14 anos 4,0 3,9 “104,0 6,2, 6,2 " 99,4
15-19 anos 4,3 4,2 102,6 5,1 5,0 101,6
20-24 anos 3,9 3,8 102,1 4,6 4,9 95,1
25-29 anos 3,6 3,7 98,0 3,6 4,1 89,8
30-34 anos 3,5 3,6 96,4 2,4 3,;2 76,6
35-39 anos 3,3 3,4 94,8 1,5 2,3 65,0
40-44 anos 3,1 3,3 94,1 0,8 12 64,6
45-49 anos 2,8 3,0 91,2 0,8 1,3 59,4
50-54 anos 2,7 3,0 90,4 1,2 1,9 62,1
55-59 anos 2,7 3,0 88,1 1,2 1,7 70,7
60-64 anos 2,5 2,9 85,1 1,2 1,4 81,5
65-69 anos 21 2,6 82,2 0,7 0,9 80,6
70-74 anos 1,5 2,0 76,3 1,7 2,5 68,8
75 + anos 2,0 3,4 59,2 :
Total 48,2 51,7 93,1 47,3 52,9 89,7

Gráficos e comentários na parte teórica


2)
Grupos Funcionais e I. Resumo Portugal 1990 Cabo Verde 1990
Jovens 1971877 153 523
Potencialmente Activos 6 548 442 168 111
Idosos 1342221 - 19973
Total da População 9 854 540 341 607
% Jovens 20,0 44,9
% Potencialmente Activos 66,4 49,3
% Idosos 13,6 5,8
I. Juventude 146,9 768,7
I. Envelhecimento 68,1 13,0
I Longevidade 39 —
I. Dependência Jovens 30,1 91,3

122
- Grupos Funcionais e I. Resumo Portugal 1990 Cabo Verde 1990 -
I. Dependência Idosos 20,5 11,9
I. Dependência Total 50,6 - 103,2
I. Juventude População Activa 129 293
I Renovação População Activa 136 318

Em Portugal, por cada 100 pessoas temos, em 1990, 20 jovens, 66 potencial- ,


mente activos e 14 idosos, enquanto que em Cabo Verde, na mesma data temos 45 |
jovens, 49 potencialmente activos e 6 idosos.
- Os outros índices têm uma leitura de ratio, ou seja, por cada 100 do denomina-
- dor, temos x do numerador.
Exemplo: no Índice de Juventude — por cada 100 pessoas com mais de 65
- anos temos 147 jovens em Portugal e 769 em Cabo Verde;
“Exemplo: no Índice de Dependência Total — por cada 100 potencialmente
activos temos 30 jovens e 21 idosos em Portugal enquanto que em Cabo Verde por
cada 100 potencialmente activos temos 91 jovens e 12 idosos;

a)eb)
Cálculos auxiliares . V

Grupos mens
Home a er o mens
Homen: e o
uinheres | Í|
de Idades (%) (%) RMx100 (%) (%) RMx100

0-4 anos 4,7 4,5 103,9 2,8 2,1 104,9


5-9 anos 5,0 4,8 103,6 3,4 3,2 105,2
- 10-14 anos 4,8 4,7 102,2 4,0 3,9 104,0
- 15-19 anos 4,1. 44 94,7 4,3 4,2 102,6
20-24 anos 3,5 3,8 90,3 3,9 3,8 102,1 |
25-29 anos 2,8 3,2 87,0 3,6 3,1 98,0 |
30-34 anos 2,9 3,3 88,3 3,5 3,6 96,4 |
35-39 anos 31 34 89,6 3,3 34 94,8
. 40-44 anos 3,0 34 89,9 3,1 3,3 94,1
- 45-49 anos 2,8 3,1 89,8 2,8 3,0 91,2
50-54 anos 24 2,7 889 . 27 3,0 90,4
55-59 anos 24 2,7 88,3 21 3,0 88,1
- 60-64 anos 2,1 2,6 81,4 2,5 2,9 85,1
º 65-69 anos 1,6 2,2 75,2 2,1 2,6 82,2
70-74 anos 11 1,6 67,6 1,5 2,0 76,3
75 + anos 1,1 2,0 56,3 2,0 34 59,2
Total 41,4 52,4 90,4 48,2 51,7 93,1%

Uma alternativa interessante para a representação gráfica das pirâmides de ida- |


des é a que consiste em fazer a representação dos sexos separados conforme se

: 123
| PIRÂMIDES DE IDADES DE PORTUGAL
Í EM 1970 E 1991
0935-928 anos
0 90-94 anos
1 4991) 0 85-89 anos
E 80-84 anos
0 75-79 anos
ETOo-fd anos
EH 65-69 anos
4991(H)
a 60-64 anos
055-59 anos
0 50-54 anos
8 45-49 anos

1970) nm 90-44 anos


35-39 anos
30-34 anos
25-29 anos
W 20-24 anos
| 4970 (MH) 215-19 anos
010-14anos
E5-9 anos
9 1 2 3 4 5 Hb-danos

RELAÇÕES DE MASCULINIDADE DE PORTUGAL


EM 1970 E 1991
10-14 anos

15-19 anos

20-24 anos

25-29 anos

30-34 anos

35-39 anos

70-748nos ES
40-44 anos

45-49 anos

50-54 anos

60-64 anos

65-69 anos

EIRM 1970

124 ,
nd | 1
apresenta na resolução. Fica claramente evidenciado o processo do duplo envelhe-
cimento da população portuguesa no período 1970-1991.
Também os gráficos das relações de masculinidade mostram o efeito das mi-
grações no padrão natural de evolução.

c) Grupos Funcionais e Índices-Resumo

Grupos Funcionais e T. Resumo Portugal 1970 Cabo Verde 1991


Jovens 2451 850 1971659 -
Potencialmente Activos 5 326515 6 548 650
Idosos 832 760 1342221
Total da População 8 611 125 9 862 530
% de Jovens . 28,5 “20,0
% de Potencialmente Activos 61,8 . 66,4
% de Idosos 9,7 “13,6
IT. de Juventude 294,4 146,9
I. de Envelhecimento 34,0 68,1
I de Longevidade 33 39
I de Dependência Jovens 46,0 30,1
I de Dependência Idosos 15,6 20,5
IL de Dependência Total 61,6 . 50,6
L de Juventude Pop. Activa 126 129
I de Renovação Pop. Activa 135 136

No período de 1970-1991, em Portugal, a importância relativa dos jovens dimi- |


nuiu de 28,5% para 20,0% (envelhecimento na base), e a importância relativa da
população idosos aumentou de 9,7% para 13,6% (envelhecimento no topo); a popu- |
lação potencialmente activa.aumentou moderadamente de 61,8% para 66,4%.
Os restantes indicadores de envelhecimento têm uma leitura semelhante à rea-
lizada anteriormente. |
Exemplo: por cada 100 potencialmente activos existiam 46 jovens e 16 idosos
em 1970, enquanto que em 1991 por cada 100 potencialmente activos existiam 30
jovens e 21 idosos.

| 125
| CAPÍTULO IV
OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA
E A ANÁLISE DA QUALIDADE DOS DADOS
|
À
| Introdução

| é No capítulo anterior, identificámos os problemas iniciais de uma investigação


| em análise demográfica. or exemplo, um con-
: celho)

re ERR

E * estamos perante uma região em expansão demográfica ou em recessão?


| * o crescimento observado é devido ao crescimento natural ou migratório?
fot: * como evoluem as estruturas demográficas?
| * quais as suas consequências da evolução das estruturas demográficas na po-
|
| pulação escolar e na população potencialmente activa?
lo
o bo Porém, antes de procurarmos uma resposta. a este.tipo. de questões, ou, seja,
- antes de analisarmos a evolução das variáveis microdemográficas. é muito impor-
! : tante resolver dois aspectos Si
fundamentais:
na SRU

sistemas. de informação existentes e.que. tipo. de. dados estão


| qual níveis?
é a qualidade da informação existente?

| Ássim, em primeiro lugar, iremos apresentar os pri


dando uma atenção particular aos sistemas de
Hi informação utilizados numa investigação de análise demográfica em Portugal:
RR * Os Recenseamentos da População
a | * As Estatísticas Demosgráficas do Estado Civil.

Il 126 .
« As Estatísticas da Saúde e os Anuários Estatísticos
e As Estatísticas das Nações Unidas
* As Estatísticas do Population Reference Bureau
« Às Estatísticas do Eurostat e do Conselho da Europa
* Os Inquéritos e os Ficheiros Permanentes
* Os principais sites de informação. demográfica

Em segundo lugar, apresentaremos aleumas n

“A Relação e Masculinidade. dos Nascimentos.

“ o Indice de irregularidade
* O Índice Combinado das Nações.Unidas. .
«e A Equação de Concordância |

A preocupação com o rigor que caracteriza a Demografia fez com que se


tornasse usual, antes de procedermos a qualquer análise mais sofisticada, testar o
mérito dos dados disponíveis. De tal forma se desenvolveu esta área da Demografia
que existe uma especialização com o nome de «Análise Demográfica com Dados
Incompletos e Incorrectos».
Não pretendemos esgotar o tema. Apenas achámos pertinente fazer uma breve
introdução à análise da qualidade dos dados através da aprendizagem de algumas
técnicas de simples execução, e que podem ser utilizadas no caso específico dos
dados existentes em Portugal. FE
Para finalizar, apresentamos algumas das técnicas mais utilizadas para corrigir =
os dados disponíveis. |

Objectivos do capítulo IV

* Conhecer as características fundamentais e o conteúdo dos principais: siste-


mas de informação existentes em Portugal, na Europa e no mundo
* Identificar as vantagens e os inconvenientes de cada um dos sistemas de
informação demográfica, tendo em consideração as necessidades de dados
de uma investigação em análise demográfica
* Conhecer e praticar a utilização dos principais sites de informação demográfica
* Conhecer as principais técnicas de análise da qualidade dos dados demográfi-
cos, e aprender a escolher essas técnicas em função dos sistemas de informa-
ção utilizados |
* Conhecer os métodos mais importantes de correcção dos dados |
* Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemas con-
cretos

127
4.1. Os sistemas de informação demográfica

Os recenseamentos da população

O Departamento de Demografia das Nações Unidas define recenseamento


de |

país parapaís, as Nações Unidas recomendam a existência de um


conjunto mínimo de informações porseresconsideradas como piundarmentaissa
* informações sobre a localização (inventariação exaustiva dos indivíduos, agre-
gados familiares, lugares, vilas e cidades existentes no momento do recensea-
mento);
. e os recenseamentos devem conhecer com
exactidão a Idade, O sexo, o estado civil da população bem como a composi-
ção dos diversos tipos de famílias);
* informações socioculturais (dados relativosà instrução, nacionalidade, per-
tença a uma etnia e religião);
ci Õ ai ómicas (dados respeitantes à actividade económi-
ca e profissão);
* informações
sobre a habitação (elementos diversos, que variam de país para
país e ao longo do tempo sobre as condições de habitação).

É um sistema de informação que tem uma lógica transversal, ou seja, uma


espécie de fotografia do estado da população num determinado momento do tem:
po, Consequentemente, a simultaneidade da recolha é uma das características prin-
cipais dos recenseamentos — estes devem ser realizados num determinado ano e
por referência a um determinado dia do mês. A quira característica fundamental
dos recenseamentos
é q exaustividade, ou seja, é sempre. o.total.da popilação.que.
se procura conhecer e caracterizar.
Os primeiros recenseamentos modernos datam de finais do século xvIII: Suécia
(1749), Dinamarca e a Noruega (1769); no século XFX seguem-se a Inglaterra (1801),
a França (1801), a Prússia (1810) e os Países Baixos (1829).

oRecenseamento
Ot1.º Mecen Geral da-População, atendendo ao facto de terem sido se-
guidas as orientações das reuniões dos Congressos Internacionais de Estatística de
Bruxelas (1853) e Paris (1855). Apesar desta data marcar.o. início-dos.zecenseas
mentos modernos em Portugal, tal.não..quer. dizer que anteriormente não tenha
havido outros recenseamentos. Pelo contrário, houve inúmeras contagens da po-
pulação com as características dos actuais recenseamentos, de qualidade e ampli-
tude muito variáveis, de cuja análise não nos ocuparemos neste trabalho por
entendermos que pertence mais à Demografia Histórica do que à Análise Demo-
gráfica. No censo de 1864, os indivíduos foram recenseados através dos boletins
de família, cuja distribuição assentou na lista dos fogos, com recurso ao método
directo e nominal. Os dados publicados são apresentados por distritos, por conce-

128
iria
lhos e freguesias, sempre com o mesmo tipo de informação: idades, sexos, estado
civil, ausentes, população flutuante e fogos. No fim do volume, antes do censo
das Ilhas Adjacentes, a informação está agrupada por distritos. As principais difi-
culdades encontradas foram fundamentalmente de três tipos: identificação dos
fogos, devido a ser pouco frequente a existência de números de polícia; a impreci-
são nas respostas à profissão (o que impediu o seu apuramento), e a dificuldade
SE
um

em separar a população urbana da população rural (eram urbanas todas as pessoas


w

que viviam nas capitais de distrito e em mais algumas cidades de interesse histó-
rico ou político).
O 2º Recenseamento da População ocorreu em 1 de Janeiro de 1878, Fol.
ao
ol.
publicado em 1881 e tem praticamenteas mesmas características do censo anterior,
ca- Além de pequenas alterações formais na disposição das colunas, as grandes altera-
ções dizem respeito ao grau de instrução (pela primeira vez aparece uma informa-
om ção sobre «os que sabem ler e escrever», «os que sabem ler» e «os que não sabem
)SI- ler nem escrever») e ao apuramento das idades (grupos quinquenais, com excepção
do grupo 21 aos 25 anos onde as idades aparecem ano a ano). Estas características,
Jer- bem como as apresentadas no censo de 1864, são publicadas a nível de distrito,
concelho e freguesia. As profissões voltaram a não ser apuradas e persistiram as
dificuldades na aplicação dos conceitos de população rural e população urbana (no
essencial, adoptaram-se as definições do recenseamento anterior). Saliente-se ainda
que, no fim do volume, foram introduzidos quatro mapas que facilitam a visualização
espacial dos resultados obtidos.
O 3.º Recenseamento da População teve lugar em 1 de Dezembro de 1890. Este
censo estava marcado para 1888 mas, para se ter em conta as directrizes do Con-
gresso Internacional de Estatística de 1872, o qual preconizou a realização dos
censos nos anos terminados em zero, houve um adiamento de dois anos. No que diz
respeito à forma-de. publicação. abandona-se o volume único de grandes dimensões
(como foi o caso dos dois censos anteriores) e passa-se para um formato idêntico
ao dos dias de hoje, em volumes
de. formato A.4.. O momento censitário
jsitário foi anteci-
pado para o 1.º de Dezembro, para evitar a data de 31 de Dezembro/1.º de Janeiro
cia onde ocorrem muitos movimentos migratórios. Quanto às novidades, temos funda-
1, mentalmente as seguintes: uma introdução bastante desenvolvida, procedendo-se a
comparações com os resultados obtidos anteriormente: a informação sobre. os.es-
trangeiros é mais detalhada; aparecem as profissões até ao nível de concelho: os
se- grupos etários voltam a ser modificados uer na fixação dos limites do apuramento,
de quer no nível de desagregação, as.€ SÓS são Publicadas até ao nível
eas de concelho.
0 4.º Recenseamento da População teve lugar em 1 de Dezembro de L200. No
20- que diz respeito à forma, trata-se de uma publicação muito semelhanteà do censo
ali- de 1890, tendo a particularidade de ter quatro volumes. A informação publicadaé
20r também muito semelhanteà do censo anterior, com excepção daprofissão (os
grandes grupos profissionais são desenvolvidos e cruzados com a variável idade) e.
ins da religião (aparece publicada pela primeira vez este tipo de informação agrupando
do os indivíduos em católicos, protestantes, ortodoxos, israelitas, maometanos, sem
ce- religião e de religião ignorada).

129
O 5.º Recenseamento da População ocorreu em 1 de Dezembro de9dd. Era
para ter sido realizado em 1910, mas a alteração do regime político fez adiar esta
operação para um ano mais tarde. Também foi publicado em 4 volumes e é muito
semelhante, no tratamento da informação, ao censo anterior. Na IV Parte, são apre-
sentados dados sobre a longevidade (pessoas com mais de 80 anos) até ao nível de
freguesia. Também na última parte, a população de facto de cada freguesia é distri-
buída pelos núcleos de população que a constituem.
O 6.º Recenseamento da População teve lugar em 1 de Dezembro de 1920. Os
resultados foram publicados em apenas dois volumes e apresentam as mesmas
características do censo anterior. Não se encontram mudanças relevantes a assina-
lar, a não ser a de uma melhor precisão do conceito de profissão, que é identificada
como ofício exercido.
“Em 1925 publicou-se um censo extraordinário das populações de Lisboa e do
Porto, com informações tão detalhadas como as do censo. de 1920, por vezes até ao
nível do bairro, com figuras ilustrativas muito pitorescas.
OQ 7.º Recenseamento da População teve lugar em 1 de Dezembro de 1930. Os
resultados foram publicados em três volumese dois folhetos. As profissões ocupam
por inteiro o terceiro volume, se bem que a confusão entre profissões e actividades
continue a ser grande. De resto, é em tudo igual aos censos anteriores mais próximos.
O 8.º Recenseamento da População ocorreu em 12 de Dezembro de 1940. Foi,
o primeiro censo realizado. pelo. Instituto. Nacional..de. Estatística. Os resultados
“foram publicados em 25 volumes e 2 folhetos (Memória Descritiva, Relatório, um
volume para cada distrito e um volume com a informação total do país). Surgem
novos conceitos e outros são clarificados: aparece, pela primeira vez, 9 conceito de
prédio (toda a construção permanente que possa ser destinada a habitação, aloja-
mento ou abrigo de pessoas); precisa-se o.conceito-de-família (grupo de pessoas.
unidas por parentesco. legítimo. ou ilegítimo..que. residiam. na. mesma habitação e.
cujas refeições eram normalmente tomadas em conjunto: a pessoa só em habitação
separada); foi criado o conceito de casal e de convivência. |
Ó 5º Recenseamento da População teve lugar em 15 de Dezembro de 1950.
Foi publicado em cinco volumes, e apresenta algumas inovações metodológicas.
Pela primeira vez os recenseados são questionados (com a técnica de pergunta com
resposta fechada) sobre as condições de habitação, .e.intraduzem-se novos concei-
tos relacionados com as características económicas. A população activa surge divi-
dida em activos com profissão e activos sem profissão e aparece pela primeira vez
a expressão «camponesas» para identificar as mulheres que se dedicavam aos tra-
balhos inerentes à casa ocupando-se simultaneamente da agricultura e da pecuária.
O 10.º Recenseamento da População.ocorren
em 1.5 de Dezembro de 1969. Foi
publicado em seis tomos, alguns deles com vários volumes. A população residente
passa a ser a base do apuramento das, diversas características. publicadas. A ingui-
rição sobre a residência anterior (em 15/12/1959) permite conhecer melhor os.
movimentos migratórios e, na instrução, a informação aparece bastante mais deta-
lhada (identificam-se os estudantes e a especialização dos cursos). No último vo-
lume, são apresentados dados retrospectivos até ao nível de freguesia que são
muito úteis.

130
OI? Recenseamento,
CER Rainer
A daa Poj pulação foi. realizado em. 15 de Dezembro de
estintona,

“de vária ordem impediram a publicação dos resultados definitivos. Ai nformação


“apresentada não é rica, variada e de qualidade como nos censos anteriores. Feliz:
mente, fundamental
o foi “publicado: a população total até ao nível de freguesia, as
“estruturas
ras populacionais até ao nível de concelho, a composição das famílias e a
população activa.
O 12º Recenseamento da População foi realizado em 16 de Marco de 1981.
No que diz respeito à forma de apresentação retoma-se a tradição “do recensea-.
mento. de 1940, ou seja, existe um volume para cada distrito, um para cada re-
gião autónoma e um volume com o total do país. A inquirição foi extensiva a
toda a população e a todas as unidades de alojamento. A informação respeitante
à residência anterior (particularmente útil para o estudo das migrações) é desen-
volvida ao introduzir dois momentos temporais — o 31 de Dezembro de 1979 e
o 31 de Dezembro de 1973. Também, pela primeira vez, se introduz o ano de
nascimento permitindo. assim..o..desenvolvimento..das.. análises. em 1 longitudinal.
A apresentação geral melhorou substancialmente ao agrupar-se toda a informação
em cinco grandes temas: edifícios, alojamentos, famílias, núcleos familiar
divíduos.
O 13.º Recenseamento.da. População. texe.Jugar em. 15 de Abril de 1991, Este
censo, tal como os dois anteriores, ocorreu em simultâneo com o Recenseamento.
Geral da Habitação e foi realizado em colaboração..com as. autarquias locais.
A disponibilidade dos dados foi efectuada ao longo de quatro fases (dados prelimi-
nares, provisórios, pré-definitivos e definitivos). Os resultados finais foram apre-
sentados em oito publicações (uma para cada uma das sete NUTS II e uma para o
total de Portugal) agrupados de acordo com o seguinte critério: quadros de síntese
(1.01 a 1.04), quadros sobre os edifícios (2.01 a 2.04), quadros sobre os alojamen-
tos (3.01 a 3.28), quadros sobre as famílias (4.01 a 4.24), quadros sobre núcleos
(5.01 a 5.05) e quadros sobre o indivíduo (6.01 a 6.83). Os Censos-91 foram

mília Clássica, Família Institucional, Indivíduo.e.Colectivo)e definiu a seguinte


estrutura de unidades estatísticas primárias e de variáveis a observar:

.. localização com código postal, época de construção, número de


pavimentos, número de alojamentos, tipo de utilização, elementos resistentes,
constituição das paredes exteriores, tipo de cobertura);
* Alojamento-(tipo de alojamento, forma de ocupação, número de ocupantes,
electricidade, abastecimento de água, instalações sanitárias, instalações de
banho ou duche, sistema de esgotos, cozinha, número de divisões, escalões
de encargo mensal por compra de casa própria ou de renda, tipo de arrenda-
mento e entidade proprietária);
* Família Clássica (identificação dos indivíduos que a compõem, indicação do
representante, relação de parentesco com o representante, número de ordem
3ãO do cônjuge para as pessoas casadas, número de ordem do pai e da mãe para as
pessoas solteiras);

: 131
E * Família Institucional (identificação dos indivíduos que a compõem);
| po * Indivíduo (situação perante a residência, sexo, data de nascimento, estado
civil, naturalidade, nacionalidade, frequência de ensino e nível de instrução,
| E residência em 85/12/31 e 89/12/31, local de trabalho ou estudo, duração do
I trajecto e principal meio de transporte utilizado, principal meio de vida, situa-
] ção perante a actividade económica, situação na profissão, profissão princi-
pal, ramo de actividade económica, dimensão da empresa, religião; para as
mulheres, datas do primeiro e último casamentos e número de filhos nascidos
vivos).

Foram ainda definidas as seguintes variáveis. derivadas:

* Dimensão do lugar (com dez escalões, em que o escalão mais baixo corres-
Vo ponde a lugares com menos de 100 habitantes e o mais elevado a lugares com
| na 50 mil ou mais habitantes); |
a * Tipo de lugar (que corresponde à distinção dos lugares em urbanos e rurais;
E em 1991, de acordo com as recomendações internacionais, consideraram-se
| urbanos todos os lugares com 2 mil ou mais habitantes);
| * Isolado (edifício ou alojamento situado fora dos limites de um lugar — o
E conceito de lugar mantém-se igual ao de 1981, ou seja, um aglomerado popu-
lacional com 10 ou mais alojamentos, com continuidade no terreno, designa-
ção própria e reconhecida como tal pela respectiva autarquia local);
2 | * Grupo socioeconómico (constituído por 15 grupos e cujo cálculo é feito atra-
= vês do cruzamento da profissão com a situação na profissão);
: * Família clássica (baseada em dois modelos: relação de parentesco entre os
seus elementos, desagregada segundo a existência de núcleos e respectiva
“caracterização; estrutura etária e dimensão, definida de acordo com o número
de pessoas que a compõem e idade respectiva, aliada à existência ou não de
crianças):
* Núcleo familiar (definido de acordo com a seguinte estrutura — casal sem
filhos, casal com filhos solteiros, pai com filhos solteiros, mãe com filhos sol-
teiros, avós com netos solteiros, avô com netos solteiros, avó com netos
| solteiros).

Finalmente, resta-nos referir que os Censos-91 foram objecto de um inquérito


| de qualidade realizado na base de uma amostra aureolar, a seguir à conclusão dos
respectivos trabalhos de campo. De acordo com os resultados apurados, as taxas de
E cobertura, a nível nacional, variaram entre 99,04% (no caso dos indivíduos) e 99,60%
o (no caso dos edifícios).
Rj IN O 14.º Recenseamento Geral da População e o. IV Recenseamento-Geraid
foi realizado pelo Instituto. Nado:
1.e.
| li Habitação teve
romano mania lugar em. 12. de.Março.de.200
x . .
| nal de Estatística, em colaboração com as autarquias locais, aprofundando uma
|) | ! cooperação timidamente iniciada no recenseamento anterior. Os resultados definiti-
vos foram publicados através de oito publicações específicas: uma para Portugal,
| contendo a maioria dos quadros no máximo até NUTS IH, e uma por cada NUTS ,

132 :
contendo a maioria dos quadros desagregados até NUTS II e município, conforme
nova nomenclatura territorial. A utilização de novas tecnologias, nomeadamente de
leitura óptica, reconhecimento inteligente de caracteres (ICR) e tratamento automá-
tico de erros e incoerências, permitiu ganhos temporais extremamente significativos
no processo de recolha e tratamento dos dados, traduzido na disponibilização dos
resultados definitivos cerca de dezanove meses depois do momento censitário.
Outro aspecto importante é a produção e a inserção na publicação de indicado-
res de qualidade no sentido de habilitar os seus utilizadores com dados que permi-
tam perceber melhor a consistência dos resultados obtidos, bem como comparar,
até a nível de NUTS HI, os dados respeitantes ao total da população corrigidos.
De resto, o tipo e a numeração dos quadros, a definição das unidades estatísti-
cas primárias, as variáveis primárias e derivadas é muito semelhante ao recensea- |
mento anterior, o que se revela de grande utilidade para as análises comparativas na |
última década do século XX.

As estatísticas demográficas de estado civil |

Estado Civil, se bem que a sua finalidade científica nem sempre seja evidente.

tos. No entanto,

“Hal como acontece com o Recenseamento, as Estatísticas Demográficas de


Estado Civil baseiam-se no princípio da declaração. Tem o mesmo carácter exaus-
tivo, obrigatório e de localização espacial. A qualidade dos dados depende da
eficiência dos serviços encarregues. da recolha e da veracidade das informações
prestadas.
srs

Antes do aparecimento
do registo
civil existiu uma forma de registo, a cargo da,
Jegistos paroquiais. É costume ir buscar ao
Concílio de Trento os começos deste tipo de registos por este Concílio alargar a
todo o mundo católico a obrigatoriedade do registo dos principais acontecimentos
naturais do ciclo de vida — nascimentos, casamentos e óbitos.
Q registo paroquial perdurou, em Portugal, quase sem alterações até 1859..
Nesse ano, por decreto de 19 de Agosto, o Govemno pretendeiw"tiniformiz 5
formulários dos diferentes bispados, de modo a tomar os registos mais eficazes. Em
1867, o Código Civil confirmou a instituição do registo civil e autorizou o casa-
mento civil para os não católicos. Esta clara interferência do Estado nos registos
paroquiais parecia indicar que se ia dar uma transferência rápida de poderes das
autoridades eclesiásticas para as autoridades administrativas. Tal não aconteceu.
-Apenas em Fevereiro de 1911 se determinou a obrigatoriedade do registo civil,
retirando-se aos assentos paroquiais lavrados, a partir daquela data, os efeitos civis

. 133
que até ali tinham tido e ordenou-se que os assentos paroquiais anteriores a 1911
fossem recolhidos nas Conservatórias do Registo Civil.
Assim, se excluirmos os registos paroquiais, os dados respeitantes ao movi-
mento da população publicados em Portugal são os seguintes:

* Mapas Estatísticos dos baptismos, casamentos e óbitos que houve no Reino


de Portugal e Ilhas Adjacentes — ano de 1862 (1 volume);
* Movimento da População. Estado Civil. Emigração — anos de 1887, 1888,
1889, 1890, 1891-1892-1893 e 1894-1895-1896 (6 volumes);
* Tabelas do movimento fisiológico da população de Portugal — 1901-1910
(1 volume);
* Emigração Portuguesa — anos de 1901 a 1912 (12 volumes);
* Movimento da População. Resumo — anos de 1907 a 1911 (1 folheto); anos
de 1908 a 1912 (1 folheto);
* Estatística Demográfica. Movimento da População — anos 1909- 1913, 1910-
-1914, 1911-1915, 1912-1916, 1913-1917, 1914-1918, 1915-1919, 1916-1920
e 1917-1921 (9 volumes);
« Estatística do movimento fisiológico da população de Portugal — anos 1913
a 1925 (13 volumes);
* Anuário Demográfico (Estatística do movimento fisiológico da população de
Portugal) — anos de 1929 a 1940 (12 volumes);
* Anuário Demográfico (Estatística do movimento da população de Portugal)
— anos de 1941 a 1966 (26 volumes);
« Estatísticas Demográficas — anos 1967 a 1974 (8 volumes);
* Estatísticas Demográficas — anos 1976-1979 e 1980-1982 (2 volumes);
* Estatísticas Demográficas — anualmente a partir de 1983.

No que diz respeito ao conteúdo destas fontes seria fastidioso estar a analisar o
conteúdo de cada uma. Limitamo-nos a salientar o facto de que, no início do

mentos, casamentos e divórcios começaram a. ganhar. espaço. -na-informação


disponibilizada Trata-se de uma situação comum a todos os países desenvolvidos.
est | na estrutura dos dados recolhidos.e apresentar

cespe
não tinha no início da publicação das estatísticas de estado civil.
No que diz respeito às grandes alterações ocorridas nos últimos anos salienta-
mos apenas o facto de, a

como acontecia desde


o século XIX) TU: A primeira classificação foi a
seguinte:

134 :
11 NUTS 1
* Continente
vi- * Região Autónoma dos Açores
* Região Autónoma da Madeira

no NUTS E.
* Norte
38, * Centro
* Lisboa e Vale do Tejo
10 « Alentejo
e Algarve
* Região Autónoma dos Açores
OS * Região Autónoma da Madeira

O NUTS
20 * Minho-Lima, Cávado, Ave, Grande Porto, Tâmega, Entre Douro e Vouga,
Douro, Alto Trás-os-Montes (no Norte);
13 * Baixo Vouga, Baixo Mondego, Pinhal Litoral, Pinhal Interior Norte, Pinhal
Interior Sul, Dão-Lafões, Serra da Estrela, Beira Interior Norte, Beira Interior
de Sul, Cova da Beira (no Centro);
* Oeste, Grande Lisboa, Península de Setúbal, Médio Tejo, Lezíria do Tejo (em
Lisboa e Vale do Tejo);
* Alentejo Litoral, Alto Alentejo, Alentejo Central e Baixo Alentejo (no Alentejo);
* Algarve;
* Região Autónoma dos Açores;
* Região Autónoma da Madeira.

É verdade que foram interrompidas as séries temporais. distutais, mas-tal atifis


da adesão .de
do. cumprimento de normas resultantes
de por parte do INE resultou
Portugal à Comunidade Econór ica Europeia, e que foi regulamentada inicialmente
pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 34/86 de 5 de Maio e posteriormen-
te pelo decreto-lei n.º 46189 de 15 de Fevereiro.
Posteriormente, de acordo com o decreto-lei n.º 244/2002 de 5 de Novembro, a
delimitação das NUTS H Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo, tal como as
NUTS HI Grande Lisboa, Oeste e Pinhal Litoral foram alteradas, em relação à deli-
mitação que tinham quando foram publicados os resultados preliminares e provisó-
rios dos Censos 2001:

* as NUTS 1 Oeste e Médio Tejo foram de Lisboa e Vale do Tejo para o Centro;
* a NUT IN Lezíria do Tejo passou para o Alentejo;
* a anterior NUT H Lisboa e Vale do Tejo deu origem à NUT II Lisboa;
* o município de Mafra foi transferido da NUT IM Oeste para a da Grande Lisboa.

Finalmente, nas Estatísticas Demográficas de 1989, a abolição do passaporte


de emigrante, impediu a recolha de dados referentes ao movimento emigratório

, 135
pelo que a partir dessa data deixámos de dispor dos dados sobre a emigração. No
entanto, para ultrapassar esta lacuna, a partir de 1993, o Instituto Nacional de
Estatística passou a realizar inquéritos por amostragem aos alojamentos familiares
para detectar a emigração.

Outros sistemas de informação demográfica

Apesar dos Recenseamentos da População e das Estatísticas Demográficas de


Estado Civil serem as principais fontes utilizadas em Demografia existem, no en-
tanto, outras fontes importantes que a investigação não pode ignorar.
i
a: Em primeiro lugar,é cony: ja
| periódicas e não periódic do Institu Nacion: e Estatística. que contêm impor-
tantes informações complementares:
sas Estatísticas da Saúde do Instituto Nacional de Estatística, onde encontra-
mos informações complementares muito importântes sobre a mortalidade (com
particular relevo para as causas de morte) e sobre as circunstâncias, «ambien-
tais» (assistência médica, equipamentos sanitários, apoio especializado de
enfermagem)) emem que ocorrem.os.) nascimentos;
o Anuário Estatístico do. Instituto | Nacional de.
Estatística, onde se sintetiza
toda a informação disponível. nos. diversos. sistemas. de informação (normal-
mente até nível de NUTS 1) é com uma remissão, no fim de cada capítulo, para
as diversas estatísticas da especialidade;
as Estatísticas de Protecção Social, Associações Sindicais e Patronais, que,
são particularmente importantes para à análise. das.questões.relacionadas,com..
o envelhecimento das populações;
as Estatísticas, do Emprego, para completar a informação sobre a população
activa;
as
as Estatísticas do Ambiente, devido à crescente importância.
da, componente
ecológica nos estudos demográficos:
as Estatísticas da Educação, pela importância que o nível de instrução tem
em todos os comportamentos demográficos;
os Anuários Estatísticos Regionais, pelo tratamento regional dado a algumas
das variáveis microdemográficas;
as publicações do Gabinete deEstudos Demográficos,
sta ao pela análise aprofundada.
que normalmente é feita a diversas questões teóricas. e. metodológicas
Vi "Demografia, € ainda pela reali;realização sistemática, de. “análises-de-comjuntata
doido demográfica e“de. projecções's «da população p

| | E Em segundo lugar, existem os diversos, inquéritos... directos..e. indirectamente


Po || ligados à Demografia, feitos por organismos públicos e privados, tais como os In-
| | “quéritos ao Emprego e às Receitas e Despesas Familiares, assim como tantos ou-
tros, realizados poramostragem, onde encontramos sempre informações importantes.

|
|
anos. Seria uma fonte preciosa para os anos intermédios dos recenseamentos da
população se não fosse o caso de existir um significativo «empolamento». dos. cfeC.
tivos estimados devido fundamentalmente a dois factores: o não abatimento ime;
diato
dos óbitos e as. saí
Na déc por estas. razões que se.teve..a.ilusão
foi fundamentalmente.
ue a população portuguesa. estava a aumentar..sign e. que. já.tinha
ificativamente .
“ultra assado abarreira dos..10. milhões. de habitantes...o.que na, realidade não.
aconteceu. Não houve assim uma avaliação incorrecta dos efectivos populacio-
nais em 1991, mas uma ilusão de crescimento motivada pelo Recenseamento
Eleitoral que obrigou a ter de se proceder a alguns ajustes nas estimativas ofi-
ciais da população entre 1991 e 2001. Foi preciso esperar pelos resultados de-
finitivos de 2001 para nos certificarmos daquilo que o movimento da população
já nos indicava — o Recenseamento de 1991 foi de muito boa qualidade, con-
forme podemos verificar quando comparámos a consistência dos dados entre
1991 e 2001.
Nestas circunstâncias, o

Finalmente, gostaríamos de s
mação internacionais que permitem, integra
no contexto europeu e mundial:

* O Anuário Demográfico das Nações Unidas, que contém com grande detalhe

a informação demográfica de base em todos os países do mundo tendo, no


entanto, o inconveniente de ter uma actualização dos dados muito lenta;
E to

* O World Population Data Sheet, publicado pelo Population Reference Bureau,


onde se apresentam, anualmente e numa única folha, uma estimativa dos
principais indicadores demográficos para todos os países do mundo; é a infor-'
io

mação mais rápida que se conhece, quer em suporte papel quer em suporte
informático; .
* os relatórios anuais do United Nations Development. Programme, também
publicado anualmente, mais moroso na publicação do que a fonte anterior
mas com a vantagem de, para todos os países do mundo, apresentar além dos
indicadores demográficos.mais.conhecidos,
dezenas. de indicadores de natu-,
reza económicae social:
* as conjunturas demográficas publicadas anualmente pelo Conselho da Euro-
pa para todos os países que integram este importante organismo internacio-
nal; tem uma informação demográfica detalhada para cada país, é publicado
com relativa rapidez e possui no início soda
uma análise comparativa.dos. país
ses com apoio de quadros. e mapas de. grande, qualidade;
“as Estatísticas Demográficas do Eurostat, que publicam a informação,
com
parada para todos os, países. que intesram a União Europeia; embora limitada
aos países da UE, possibilita todo o tipo de análises e comparações ao publi-
car, não só os indicadores mais utilizados em qualquer estudo de dinâmica
populacional, como os dados brutos que serviram de suporte aos cálculos; em

137
alguns indicadores a informação é apresentada a nível de NUTS II; nos últimos
volumes publicados também se passou a incluir mapas e gráficos de grande
qualidade;
* em alguns países existe, com uma forma mais ou menos completa, uma
espécie de Ficheiro Permanente que procurater uma informação sempre
actualizada “do movime, “demográfico, registando-se, para cada pessoa,
todos. os aspectos considerados relevantes para o conhecimento da popu.
lação
omni:
« finalmente temos os modernos meios de informação possibilitados pela
internet:

http://popindex.princeton.edu/
http://www.prb.org/prb/
http://www.undp.org/popin/wtrends/wtrends.htm
http://www.europa.eu.int/
http://www.popnet.org/

4.2. A análise da qualidade da informação

À preocupação com o rigor que caracteriza a Demografia faz com que seja
usual, antes de procedermos a qualquer análise mais sofisticada, testar o mérito dos
dados disponíveis. De tal forma se desenvolveu esta área da Demografia, que existe
uma especialização com o nome de «Análise Demográfica com Dados Incompletos
e Incorrectos», assim como em algumas universidades estrangeiras se leccionam
cursos anuais sobre as fontes e a qualidade dos dados. Daí a necessidade da apren-
dizagem de algumas técnicas elementares de simples execução.

A Relação de Masculinidade dos Nascimentos

Este indicador relaciona.o 1

nas
Não nos permite apreciar a qualidade
geral das estatísticas dos nascimentos, uma vez que podemos estar em presença de
um equilíbrio entre os sexos e de uma acentuada omissão de acontecimentos. Em
todo o caso, t

do..que. quando. existe. uma..má..qualidade..no..tegisto.. dog “nascimentos. também


existe uma má. qualidade. no. xegisto.dos..é óbitos. Semelhante constatação empírica

138

faz com que um teste, que em princípio foi concebido para a análise da qualidade
dos nascimentos, se transforme num teste indicativo da qualidade dos dados do
estado civil em geral.
Como funciona este teste?
Sabemos que nos países com boa qualidade de dados, a relaçãodemasculinir
dade dos CT
nascimentos “anda àvolta.de. 05 (ou seja, por cada 100 raparigas nascem
105 rapazes), desde que se excluam as variações ale;
aos pequenos números. A existência de desvios acentuados, em relação. a este valor
médio, não pode ser senão, a consequência de erros observados, nomeadamente |
omissões. mais àacentuadas 1 num sexo
tar caardo que Es
noutro.
Tr Olê
Porém, : se O número de nasccimentos.ob
alguns desvios observados podem ser a conse (
Ilas, mesmo no. caso de estarmos, em presen: ça é je uma “observação. perfeita. “Assim,
em função. do.número.de.nascimentos.obserya
intervalo de variação deste-erro, que
é devi
numerosas.
* para um total de 1000 nascimentos temos, em teoria, 512 nascimentos mas-
culinos e 488 nascimentos femininos, ou seja, uma proporção de rapazes de
0,512;
* os limites do intervalo de confiança a 95% são determinados por

0,512 + 1,96 N (0,512 x 0,488) /n

onde

0,512 é a probabilidade de nascimentos masculinos


0,488 é a probabilidade de nascimentos femininos |
1,96 é uma constante do teste para uma margem de erro de 5% |
n é o total de nascimentos;

e para se passar dos limites estatísticos aos limites de confiança das relações de
masculmidade, dividem-se os limites estatísticos,caleulados.
pela fórmula pela
diferença à unidade desses mesmos Jimites.e multiplicara-se. os resultados por
100.
Se a relação de masculinidade observada se si lo. in
confiança
podemos,
em princípio, afirmar. que, aqualidade de;
de re
Iecgi isto dos nascimen-
tos é boa (mesmo que essa relação seja diferente de 105). Em função do que
dissemos anteriormente, podemos até admitir, embora com reservas, que aà genera-
lidade das estatísticas de estado civil respeitantes aos acontecimentos naturais é de
qualidade
sasatisfatória. Se a relação de masculinidade observada se situa fora do
intervalo de.
de confiançaa, podemos admutir que existe uma declaração
qu 1 um registo.
com deficiências, mais acentuado num sexo do que no outro. A qualidade dos
dados é assim bastante duvidosa.

139
Seja qual for a conclusão a que cheguemos, sobretudo no caso em que as
relações de masculinidade se situam no interior do intervalo de confiança, devemos
sempre evitar afirmações peremptórias. O recurso a expressões do tipo «em princí-
pio» ou «provavelmente» é aconselhável, dado que se trata de um índice único que
estamos a empregar. Convém não esquecer que se pode estar perante omissões de
igual importância nos dois sexos, se bem que tais casos raramente tenham sido
observados.

Vejamos um exemplo:
Numa determinada região houve 80 907 nascimentos masculinos e 74 908 nas-
cimentos femininos. Qual será a qualidade dos dados?

R. M. Nascimentos = (80 907 / 74 908) x 100 = 108,0

Conforme se pode verificar, a relação obtida é diferente de 105. Porém, como


estamos em presença de uma população pouco numerosa, temos de 'calcular os
limites no interior do qual se podem admitir variações, para se poder considerar
os dados como sendo de boa qualidade.
Os limites de confiança são:

0,512 + 1,96 N (0,512 x 0,488) / 155 815


0,512 + 0,002 j
Limite estatístico superior — 0,514
Limite estatístico inferior — 0,510

Logo, os intervalos são:

[0,514 / (1 — 0,514) ] x 100 = 105,8


[0,510 / (1 — 0,510) ] x 100 = 104,1

Como a relação observada está fora do intervalo de confiança, em princípio, é


de admitir uma má qualidade no registo dos nascimentos, ou até de todo o estado
civil. Neste caso concreto, como a relação está acima do limite superior do interva-
lo de confiança, existe provavelmente uma falta nos nascimentos femininos.

ai
El
de estado civil, este método em como objectivo alisar a qualidade dos secensea|
Se o método anterior se destina a analisar a qualidade dos dados das estatísticas

Não se trata de um teste que tenha como finalidade a análise global da quali-
dade de um Recenseamento. Apenas

140
18 É um fenómeno bem conhecido emDemografia, o facto de muitas vezes as
Rs pç

E) pessoas terem dificuldade em “declararem com exactidão a sua idade. Por exemplo,
as pessoas com 49 ou 51 anos têm tendência a dizer que têm «cerca de 50 anos», o
|
1-

1e | que faz com que nesta idade os efectivos apareçam empolados. Consequentemente,
le
I
existe um esvaziamento das idades limites.
Têm, sido identificados. diversos. tipos..de. atracções (pelos números O e 5 em
nto dos Stros mmeros ou,» pelos m números. pares, em detrimento dos fímpa-
Q
as atracções por .€.J.
OQ cálculo do Índice de Whipple piprocessa-se da Seguinte forma.

* somam-se as pessoas recenseadas entre 23 e 62 anos (inclusive);


* somam-se as pessoas que, no intervalo considerado, têm idades que terminam
| em0es;
| * o índiceé obtido fazendo a relação entre esta segunda soma e 1/5 da primeira
8 : soma (ou multiplica-se a segunda soma por 5 e divide-se. pelo total da primei-
ra); nos dois casos multiplica-se, em geral, o resultado obtido por 100.

PR
Neem

Este índice pode variar entre 100 (ausência total de concentração) e 500 (caso
limite em que todas as pessoas se declaram em idades terminadas em 0 e 5).
Para facilitar a análise, as Nações Unidas, com base nos sistemas de informa-
ção de que dispõe a nível mundial, elaborou uma tabela de base empírica que nos
permite interpretar a validade dos resultados obtidos:

* Dados muito exactos < 105


* Dados relativamente exactos 105 — 110
* Dados aproximados 110 — 125
* Dados grosseiros 125 — 175
y
* Dados muito grosseiros > 175 É
eme É
Vejamos um exemplo: É
oa

Suponhamos que num determinado recenseamento a população total de 23 a 62


anos (inclusive) é de 1 774 524 no sexo masculino e de 2 024 972 no sexo femi-
nino. Sabemos ainda que a população com 25, 30... 60 anos no sexo masculino é
de 364 498 e no sexo feminino é de 412 637 pessoas.

Cálculo dos Índices de Whipple:

IW (H) = [364 498/(1774524/5) = 103


IW (M) = [412 637/(2024972/5) = 102

Comparando os resultados obtidos com a grelha de interpretação apresentada


pelas Nações Unidas, facilmente concluímos aa ausência de concentração nas.idades.
terminadas eme em ce 0 e 5, “tanto num. sexo. como. noutro,..devido..ao.. facto. .de..sexem.
inferiores a 105. Os. dados. são, em princípio, muito. exactos,

141
SE SEER
SP
“Na realidade, a investigação empírica tem demonstrado que não existe apenas a
atracção conjunta por O e 5. É mais vulgar haver uma atracção pelo O do que pelo
5 e, noutros casos, são os números pares que têm maior poder de atracção. A sua
H elaboração é bastante simples:

| o merador (por exemplo, se pretendemosmedira atracção pelo 4 os numerado-


res serão os efectivos com 4, 14, 2, 34, 4, 54, 64, 74,... anos);

s (por exemplo, no caso dos 4 anos, soma-se


a população com 2, 3, 4, 5, 6 anos e divide-se por cinco, no caso dos 14 anos,
soma-se a população com 12, 13, 14, 15, 16 e divide-se por cinco e assim
| sucessivamente);
il * partindo do princípio que as idades. centrais, correspondem à média.dos.efec-
| “tivos de 5 anos que enquadram essas idades, divide-se o numerador pelo
denominador em cada caso é multiplica- seo resultado por 100:
* obtêm-se assim diversos índices (no nosso exemplo, I (4), I (14), 1 (24), ...)
que são representados eraficamente: quando os índices. obtidos.têm.
am. xalox.
superior a 100 existe atracção: quando os índi obtidos.
têm um. valor.infe:
rigor.a 100 existe Pouma repulsão.
rob dont

Ver o 3.º Trabalho Prático Resolvido que tem um exemplo prático.

As Nações Unidas elaboraram um


determinadas idades, |
índice que combina dois indicadores de regularidade das idades (um para cada
sexo) e um indicador de regularidade
dos sexos. Trata-se de um instrumento de
| análise muito cómodo de calcular e que possibilita a realização de comparações
| muito interessantes no tempo e no espaço. Deve, no entanto, ser utilizado. com.
| Po bastante prudência visto que a existência.de. modificações anormais nas variáveis
hs: microdemográficas (crises de mortalidade, migrações acentuadas) podem produzir
Ei do distorções consideráveis e misturarem-se assim distorções. reais. com erros do.te-
a li: censeamento.
| Em termos práticos, o ICNU calcula-se da seguinte forma:
| .

polo
Na 142
preparam-se os dados para dispormos de uma distribuição da população.por.
sexos e grupos, de idades. quingquenais; as Nações Unidas recomendam ão
ultrapassar.os.
80. anos. deidades:
« calculam-se as relações de masculinidade, em. cada, grupo de idades dividin-
do os efectivos masculinos pelos efectivos femininos, .e multiplicando u|-
tad 100; fazem-se as diferenças sucessivas entre. as. diversas relações
de
EE masculinidade
DAS obtidas, somamose.em. módulo e calcula-se. a diferença mé-
diaa para se obter o ludicede. regularidade doSSExOS;
« para cada sexo calcula-se um índice de regularidade. das.idades; este indice
obtém-se calculando, em primeiro lugar, as relações de regularidade dividin-
do cada grupo de idades pela média aritmética dos dois grupos que 9 enqua-

“difsrenças aabsolutas;
* o ICNU obtém-se dando um coeficiente 3.90. índice de regularidade..das
sexos e um coeficiente 1 aos dois indices de regu ularidade das à idades.

De forma a facilitar a interpretação as Nações Unidas, tal como acontece com


o índice de Whipple, sugere uma grelha de análise:
RTa

<20 — Bom
20-40 —- Mau
> 40 — Muito Mau

Ver o 3.º Trabalho Prático Resolvido que tem um exemplo prático.

A Equação de Concordância

Até ao presente momento já vimos um índice de qualidade do estado civil e três


índices de qualidade dos recenseamentos. Equação
A de Concordância procura,
como o próprio nome indica, verificar se existe ou não uma concordância entre os
diversos sistemas de informação disponíveis.
O princípio que presideà sua construção é bastante simples: dean um deter
minado período (normalmente entre dois recenseament
região aumenta ou diminui devido a nela existirem dois. ti
natural e O migratório,
Se> dispu ORra
sermos do quantitativodehabitantes,
nesses. dois. nomentos.€.Se, além
disso, conhecermos o número “de nascimentos, óbitos e migrantes, a equação que,
fazer concordar exactamente os seus dois membros,

Noutros termos, podemos elaborar


a seguinte equação:

Pn=P+N-O+I-E
ou,
Pan = P, + Crescimento Natural + Crescimento Migratório

143
ou ainda:
SEE Da a Ac

Crescimento ent
entre Recenscamentos ==C. Natural + C. Misratório )

- Segue-se um exemplo elhor se compreender a lógica do funcionamento da


Equação de Concordância.
Num determinado país desenvolvido a população no período. 1960-1970 passou
de 56 180 000 para 60 650 599 habitantes. Os recenseamentos foram ambos em
31 de Dezembro; houve, no período 1961-1970, 8 936 332 nascimentos, 6 226 565
óbitos, 316 950 emigrantes e 2 043 882 imigrantes.
OÓbtemos a seguinte equação:

60 650 599 = 56 180 000 + 8 936 332 — 6 226 565+ 2 043 882 — 316 950
60 650 599 = 60 616 699 + (diferença não expirada = 33 900)

Costuma dar-se ao segundo termo da equação, ou. seja, ao número que-resulta


deP.+N-O+I- E, o nome de população esperada. Este nome provém do
facto de se esperar que ao se juntar à população inicial os movimentos natural e
migratório, se encontre a população recenseada no momento x + n.
Voltemos ao nosso exemplo. Existe assim uma pequena diferença a ser explicada:
Saltam 333.90
500 PESSOAS rc
Três “grandes hipóteses podem ser formuladas na explicação desta não con-
cordância dos termos: ou as parcelas de sinal positivo (nascimentos e imigran-
tes) não estão correctamente avaliadas, ou Se
as de sinal menos (óbitos e
2.08. Tecenseamentos. não são de .
boa qualidade...
Tratando-se de um país dos mais desenvolvidos do mundo (neste caso é a
Alemanha) acerca"do qual sabemos de antemão existirem estatísticas de boa quali-
dade, não é de admitir a existência de um registo deficiente nos óbitos e nascimen-
tos. Pelas mesmas razões, não deve ser fácil encontrar distorções assinaláveis nos
recenseamentos. A explicação só pode vir dos movimentos migratórios. eu.paxti-
cular de um mau resisto dos imigrantes. Na realidade, tendo em conta o tipo.de
país de que se trata, dificilmente. se admitirá a hipótese de existir um fluxo > de emas
“Sração clandestina. Sendo a Alemanha um país recebedor de mão-de-obraé per
tamento normal que alguns milhares de imigrantes tenham entrado clande
no, país.
É um tipo de análise semelhante que temos sempre de elaborar para cada caso.
Porém, a análise nem sempre é fácil. Como recomendação de carácter prático
sugerimos a observância das seguintes fases no raciocínio:

* face às diferenças que não conseguimos explicar devem sempre ser formula-
das todas as hipóteses possíveis em função do sinal obtido;

144
| * em seguida, em função dos outros tipos de informação sobre a qualidade dos
dados, excluímos as hipóteses pouco plausíveis; assim, se os recenseamentos
forem de qualidade aceitável afasta-se a hipótese de recenseamentos de má
qualidade; se a qualidade do estado civil for boa também se afasta essa hipó-
: ! tese; fica, então, residualmente a hipótese dos movimentos migratórios, que
À são enquadrados no tipo de movimentos dominantes (emigração, imigração
ou migrações internas);
À « finalmente, como princípio geral, deve admitir-se que é mais frequente uma
ausência no registo da informação do que o fenómeno contrário, ou seja,
existiram registos a mais no sistema em análise.
mer pod

4.3. O ajustamento dos dados imperfeitos

“O reconhecimento da existência de. dados. com. má qualidade, teve.. Como


consequência o aparecimento de um conjunto de técnicas de análise destinadas à,
correcção dos mesmos. Seleccionámos aquelas que nos pareceram mais úteis aos
sistemas de informação existentes em Portugal nos dias de hoje.
e
neo

O método das médias móveis

É um método muito utilizado para ajustar a informação por idades não só


quánido os dados são imperfeitos, mas quando apresentam grandes ilutuações alea-
tórias devidoà existência de pequenos núme:
- certos oncelhos, em “Portugal, ou. ainda quando, levamos..a nossa.análise..até-ao.
a | nível da fr eguesia.
par

Em geral utiliza-se três anos... mas pode ser um número superior:


ger

A | De (9) = (Nei + Dx + Da )/3

Exemplo:

Idade Efectivos Observados Ajustamento (soma) Ajustamento (média)


é 78 65 045
: 79 58 066 176 623 58 874
. 80 53512 149 885 49 962
: 81 38 307 127 835 42 612
82 36 016 104 647 34 882
83 30 324 92337 30 779
, 84 25 997 77267 25 756
! 85 20 947 62881 20 960

145
O método das Nações Unidas para ajuste de grupos quinquenais...

Este método é também muito útil quando trabalhamos com informação com
grupos. een
etários quinquenais com bastantes flutuações:

0 ()=apr. Nox tda. No to + ão. Ne +. + dr. Nei + dx. Nú

Os coeficientes propostos pelas Nações Unidas são os seguintes:

ag= 10/16 aa=a/=4/16a,=aç=-1/16

Exemplo:

Ajuste do grupo 25-29 anos

0-4 1348 - 20-24 1338


5-9 1403 25-29 1119
10-14 1250 30-34 1086
15-19 1308 35-39 1051

025.29 (*) = —1308 + 4 (1338) + 10 (1119) + 4 (1086) — 1051


16

nos.29 (*) = 1158 = 1119

O método das Naçõesmi


Unidasanima para a passagem
mms ms Ee mt de grupos decenais a grupos
ninar aim
quinguenais

Método muito útil não apenas para os. balhos em Demografia Histórica ou
para países com dados incompletos
"A
im
Eai mimo mas Sp
1 ara s a uma
an Ari escala muito.
reduzida, onde por vezes é necessário agrupar a informação, ou por não existirem
dados ou por existirem dados a um dígito com grandes flutuações.
Os factores de correcção são os seguintes:

Nº = [N+ 1/8 (N4-N.)]


N” — ya [N — 1/8 (Ny = Ney]

Exemplo:

10-19 80390
20-29 51250
30-39 39 200 (N) => 30 — 34 (Nº) /35 — 39 (N”)
40-49 28400
50-59 17160

146
Nao-34= Va [N3039 + 1/8 (No0.00 — N40-49)] = 21 028
Nss-39 = Ya [N30-39— 1/8 (No0-29— N4o-49)] = 18 172

O método de Sprague para estimar. os efectivos.


Um,

ise Demográfica.somos.confrontados
Frequentemente em trabalhos de Análni com
o problema de não ser possível trabalhar com as informações por idade por terem.
muitas flutuações e tornarem os dados pouco fiáveis. Por exemplo, como executar
um exercício prospectivo num concelho do Alentejo com poucos milhares de habi-
tantes, quando tal exercício implica uma divisão por sexos e idades?
A melhor forma de resolver este problema é agrupar
STD
a informação
me
disponível NOS ET ATE

em grupos quing menais. Posteriormente podemos proceder à decomposição ca dos.


vi Es
erre apr een TS e TD e q at e

nc

efectivos agrupad os por, idades, através. dos. multiplicadores,


de. Sprague..
Existem vários tipos de multiplicadores:

e Caso do grupo quinquenal 0-4 anos de idade


+0,3616 —0,2768 +0,1488 —0,0336 5No Do
+0,2640 —-0,0960 +0,0400 —0,0080 5N5 ny
+0,1840 +0,0400 -—0,0320 +0,0080 sNão no
+0,1200 +0,1360 —-0,0720 +0,0160 5Nis ns
+0,0704 +0,1968 —0,0848 +0,0176 5Noo D4

* Caso do grupo quinquenal 5-9 anos de idade


+0,0336 0,2272 -0,0752 0,0144 sNo Ds
+0,0080 0,2320 -0,0480 0,0080 sNs 6
-0,0080 0,2160 -0,0080 0,0000 sNio n7
-0,0160 0,1840 -0,0400 -—0,0080 5Nis Ng
—-0,00176 0,1408 0,0912 —0,0144 sNoo Dog

* Todos os outros, excepto os dois últimos


-0,0128 0,0848 0,1504 -0,0240 0,0016 | | sNx1o Nx
-0,0016 0,0144 0,2224 -0,0416 0,0064 | | 5Nys Dl
0,0064 -0,0336 0,2544 -0,0336 0,0064 | | sNx Dys2
0,0064 -0,0416 0,2224 0,0144 -0,0016 | | 5Nys Nas
0,0016 -0,0240 0,1504 0,0848 -—0,0128 | | 5Nyo Dx+4

* Caso do penúltimo grupo quinquenal (exemplo: 60-64 anos)


-0,0912 0,0912 0,1408 -—0,0176 sNgs Ngo
-0,0080 0,0400 0,1840 —0,0160 sN5o Dé
0,0000 -0,0080 0,2160 0,0080 5Nss Ne2
0,0080 -0,0480 0,2360 0,0080 sNgo D63
0,0144 -0,0752 0,2272 0,0336 5Nós Dg4

147
* Caso do último grupo quinquenal (exemplo: 65-69 anos)
0,0176 -—0,0848 0,1968 0,0704 sNas D6s
0,0160 -0,0720 0,1360 0,1200 sNso 66
0,0080 —0,0320 0,0400 0,1840 sNss |=| ng
—0,0080 0,0400 —0,0960 0,2640 sNéo Deg
—0,0336 0,1488 —0,2768 0,3616 Nós D6g

Como proceder em termos práticos?

Vejamos o exemplo do grupo 0-4 anos de idade:

0-4 333 330


5-9 378 792
10-14 418582
15-19 409880
20-24 410435
25-29 370856
30-34 335059

no = (5No x 0,3616) + (5N5 x —0,2768) + (Nio x 0, 1488) + (sNis x —0,0336) +


+ (sNoo x 0)

Ho = (333330 x 0,3616) + (378792 x —0,2768) + (418582 x 0,1488) +


+ (409880 x —0,0336) + (410435 x 0)
no = 64195

ny = (333330 x 0,2640) + (378792 x —0,0960) + (418582 x 0,0400) +


+ (409880 x —0,0080) + (410455 x 0)
= 65099

np = 66 369
n5 = 67 936
n4 = 69 730

Verificação: 64195 + 65099 + 66369 + 67936 + 69730 = 333330

Todos os outros têm um idêntico tratamento da informação.

148
3.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO:
ANÁLISE DA QUALIDADE DOS DADOS DOS SISTEMAS
DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA

Nascimentos no concelho de Coruche entre 1789 e 1990:

| 1789 = 113 nascimentos (65 masculinos; 48 femininos)


1890 = 270 nascimentos (155 masculinos; 115 femininos)
1990 = 339 nascimentos (172 masculinos; 167 femininos)

Estrutura por idades no concelho de Coruche em 1789


Idades H M Idades H M Idades - H M.
0 47 44 23 3... 2W 46 15 16,
1 39 37 24 13 21 47.: 9 2
2 32 26 25 30 43 48 21 12
3 40 34 26 23 21 49 7 3
4 35 21 27 13 18 50 75 43
5 28 21 28 18 22 51 3 2
6 23 23 29 8 5 52 6 6
7 21 15 30 79 76 53 2 2
| 8 24 19 31 4 9 54 5 1
9 15 12 32 16 31 55 13 7
10 34 33 33 10 1 56 11 12
1 9 11 34 16 19 57 4 2
12 48 28 35 “20 18 58 5 4
13 16 28 36 35 21 59 4 4
14 21 19 37 1 7 60 41 35
15 19 23 38 18 13 61 1 0
16 31 26 39 5 10 62 6 2
17 11 14 40 91 13 63 3 1
18 30 38 41 2 7 64 4 3
19 13 18 42 19 17 65 1 6
20 4 53 43 8 8 66 1 2
21 5 8 44 10 8 67 0 0
22 15 32 45 23 12 68 3 2

a) Aprecie a qualidade das estatísticas do estado civil em Coruche entre 1789 e


1990.
b) Aprecie a qualidade dos dados do sexo masculino através do Índice de
Whipple em Coruche (1789).
c) Aprecie os diferentes tipos de atracção no sexo masculino em Coruche (1789). |
Represente os resultados obtidos graficamente e comente os resultados. |
d) Analise a qualidade dos dados em Coruche através do Índice Combinado
das Nações Unidas.

: 149
l

a) Numa região do interior de Portugal dispomos da seguinte informação:


* população no recenseamento de 1970: 120 440
* população no recenseamento de 1981: 120 960
* nascimentos no período 1970-1981: 12 600
* óbitos no período 1970-1981: 11 300
* emigrantes no período 1970-1981: 720
* imigrantes no período 1970-1981: 710

Analise a qualidade dos dados através da Equação de Concordância. Aprecie


comparativamente as dinâmicas de crescimento total, natural e migratórias.

b) Numa região do litoral de Portugal dispomos da seguinte informação:


* população no recenseamento de 1970: 260 820
* população no recenseamento de 1981: 296 700...
* nascimentos no período 1970-1981: 25 300
* óbitos no período 1970-1981: 22 850
* emigrantes no período 1970-1981: 1430
* imigrantes no período 1970-1981: 1200

Analise a qualidade dos dados através da Equação de Concordância. Aprecie


Í comparativamente as dinâmicas de crescimento total, natural e migratórias.

NI

a) Observe com atenção os seguintes dados respeitantes aos nascimentos em


Portugal e apreciea qualidade dos dados:

1930 1949 1960


Distritos
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Porto 13 510 12881 16 623 15 453 18 145 17 082
Lisboa 10931 10392 10 720 9 500 12 890 12 095
Beja 3289 3222 3451 3167 2739 2542
Vila Real 4502 4273 5 136 4 698 4900 4619
Horta 581 546 643 606 475 432

b) Observe com atenção os seguintes dados:

150
Estrutura da População Portuguesa por Grupos Etários e Sexo. 1930
Grupo de Idades Homens Mulheres
0-4 anos 388 898 380 729
5-9 anos 387 764 374 444
10-14 anos 329 901 316 366
15-19 anos 338 290 344 489
20-24 anos 303 461 322 174
25-29 anos 247252, 287 879
30-34 anos 202 688 239 092:
35-39 anos 189 979 220 078
40-44 anos 172 401 204 964
45-49 anos 150 846 181 026
50-54 anos 143 997 173 833
55-59 anos 117213 141 652
60-64 anos 101 940 - 128179
65-69 anos Ê 71 878 94 306
70 e + anos 109 368 160796
Total 3255 876 3570 007

Calcule o ICNU em Portugal no ano de 1930.

Resolução do 3.º Trabalho Prático Resolvido


I
a) A relação de masculinidade dos nascimentos

1789 | RMN=65/48x 100=135,4

IC = 0,512 + 1,96 N (0,512 x 0,488) / 113


IC = 0,512 + 0,092 ,
=> 0,604 ... 0,604 / 0,396 x 100 = 152,5
= 0,420 ... 0,420 / 0,580 x 100 = 72,4

Diagnóstico: Boa qualidade dos dados

1890 | RMN = 155/115 x 100 =134,8

IC = 0,512 + 1,96 N (0,512 x 0,488) / 270


IC = 0,512 + 0,060
= 0,572... 0,572 / 0,428 x 100 = 133,6
= 0,452... 0,452. / 0,548 x 100 = 82,5

Diagnóstico: Má qualidade dos dados

151
1990 | RMN =172/167 x 100 = 103,0

IC = 0,512 + 1,96 N (0,512 x 0,488) / 339


IC = 0,512 + 0,053
= 0,565 ... 0,565 / 0,435 x 100 = 129,9
= 0,459 ... 0,459 / 0,541 x 100 = 84,8

Diagnóstico: Boa qualidade dos dados

b) Índice de Whipple (Homens)

(1) total da população masculina entre 23 e 62 anos inclusive: 703 -


(ii) total da população masculina no intervalo com O e 5 anos: 372 .
(ui) IW = (5) / (1) a dividir por 5 x (100) = IW (H)= 372. / (703/5) x 100 = 265
(iv) Diagnóstico: Dados muito grosseiros

c) Diferentes tipos de atracção no sexo masculino em Coruche

* Atracção pelo O (Homens)


100)=34/004+15+34+9+48)/5x 100= 131
1IQ0)=64/(30+13+64+5+15)/5x 100=252
1(G0)=79/(18+8+79+4+16)/5x 100=316
I(40)=91/(18+5+91+2+19/5x100=337
1(50)=75/(201+7+75+3+6/5x 100=335
1(60)=41/(5+4+41+1+6)/5x 100 =360

400

300

200

100

1(10) (20) I(30) 1(40) (50) (60)

152
e Atracção pelo 1 (Homens) |
ID) =9/(15+34+9+48+16)/5x100=37
IQ1)=5/(13+64+5+15+3)/5x100=25
IGD)=4/(8+79+4+16+10)/5x 100=17
I(4)=2/(5+9+2+19+8)/5x100=8
1(5)=3/(7+75+3+6+2)/5x 100=16 |
I(6D)=1/(4+41+1+6+3)/5x100=10 '

GD ACD IS) I(4D I(51) 1(01) |

* Atracção pelo 2 (Homens)


1(02)=32/(47+39+32+40+35)/5x 100=83
1(12)=48/(34+9+48+416+21)/5x 100= 188
1(02)=15/(64+5+15+3+13)/5x 100=75
1(02)=16/(09+4+16+10+16/5x100=64
I(4)=19/(914+2+19+8+410)/5x 100=68
1(50)=6/(05+3+64+2+5)/5x 100=33
1(6)=6/(41+1+6+3+4)/5x100=55

200

150

100

50

HO) (12) 122) 1(32) 1(42) 1652) 1(62)

: 153
| * Atracção pelo 3 (Homens)
[| 1(03)=40/(39+32+40+35+28)/5x 100=115
" 1(13)=16/(0+48+16+21+19/5x 100=71
| 123)=3/(5+15+3+13+30)/5x 100=23
1IG3)=10/(4+16+10+16+20)/5x 100=76
1(43)=8/(2+19+8+10+23)/5x 100=65
| 163)=2/(3+6+2+5+13)/5x100=34
1(63)=3/(1+6+3+4+1)/5x 100=100
|

Vo 120
| 100
80
60
Proc 40
; I 20
E E
| | 0
E (08) I (13) 1 (23) I (83) 1(43) o 1(53) 1 (63)

o * Atracção pelo 4 (Homens)


Ê
| | 1(04)=35/(32+40+35+28+23)/5x 100=111
| I(14)=21/(48+ 16+21+19+31)/5x 100=78
|
| 1Q4)=13/(15+3+13+30+23)/5x 100=77
| 1(34) = 16/(16+ 10+ 16+20+35)/5x 100=82
1(44)=10/(19+8+10+23+15)/5x 100=67
1(64)=5/(6+2+5+13+11)/5x 100=68
1(64)=4/(6+3+4+1+1)/5x 100=133

|
;

Vo (04) (14) I(24) (34) 1(44) 1(59) (69)

| 154 | |
|
|
* Atracção pelo 5 (Homens)
1(05)=28/(40+35+28+23+27)/5x 100=92
1(15)=19/(16+21+194+31+11)/5x 100=97
1(25)=30/(3+13+30+23+13)/5x 100= 183
1(35)=20/(10+ 16+20+35+11)/5x 100 = 109
1(45)=23/(8+10+23+15+9/5x100=177
16)=13/0+5+13+11+4)/5x 100= 186
I(65)=1/(3+4+1+1+0)/5x100=56

200

150

100

50

OS) (15) (25) 1(35) 1(45) 155) 1(65)

* Atracção pelo 6 (Homens)


1(06)=23/(35+28+23+27+24)/5x 100=84
I(169)=31/(21+19+31+11+30)/5x 100= 138
1I269)=23/(13+30+23+13+18)/5x 100=119
1(36)=35/(16+20+35+11+18)/5x 100= 175
I(46)=15/(10+23+15+9+21)/5x 100 =96
I(660)=11/(5+13+11+4+5)/5x 100= 145
I(60)=1/(4+1+1+0+3)/5x100=56

200

150

100

50

(06) 1(10) 1(26) 1(30) 1(49) 1666) 1(60)

. 155
! * Atracção pelo 7 (Homens)
| 1(07)=27/(08+23+27+24+15)/5x 100=115
| 1ION=11/(19+31+11+30+13)/5x 100=53
! IQN)=13/(000+23+13+184+8)/5x100=71
E IG)=11/(00+35+11+18+5)/5x 100 =62
to 1(4)=9/03+15+9+21+7)/5x 100=60
1(5)=4/(13+11+4+5+4)/5x 100=54

| | 120
| 100
80 |
| 60

bj 20

(O) 107 IE) 87) (47) 1(57

HR * Atracção pelo 8 (Homens)


| io 1(08)=24/(203+27+24+15+34)/5x100=98
o] 1(18)=30/(31+11+30+13+64)/5x100=101
| 1028)=18/(03+13+18+8+7 9)/5x 100=64
pit 1(38)=11/(00+35+11+18+5)/5x 100=56
flo I(48)=21/(15+9+21+7+7 5)/5x 100=83
RE I(58)=5/(11+4+5+4+41)/5x 100=38

É | 1201
| 100 |

: (08) (18) 1028) (39) 1(49) 1658)

|| 156 .
* Atracção pelo 9 (Homens)
1(09)=15/(27+24+15+34+9/5x100=69
1(19)=13/(11+30+13+69+5)/5x100=53
109)=8/(13+18+8+79+4)/5x100=33
1(39)=5/(35+11+18+5+91)/5x 100=20
1(4)=7/(9+21+74+75+3)/5x 100=30
1(59)=4/(4+5+4+41+1)/5x 100=36

(09) (9) (29) (39) 1(49) (59)

e) Índice Combinado das Nações Unidas. Coruche. 1789

GI H M RM DS IRIH D10 IRIM D100


0-4 193 162 119,1 — — — — —
5-9 117 90 1300 109 729 211 641 359
10-14 128 119 107,6 224 1158 158 1139 139
15-19 104 119 874 202 912 88 919 8,1
20-24 100 140 714 160 1020 20 119,7 197
25-29 92 115 800 86 8L8 182 804 196
30-34 125 146 85,6 56 1381 381 1537 537
35-39 89 75 1187 331 69,8 302 579 421
40-44 130 113 1150 37 1585 585 1883 883
45-49 75 45 1667 517 67,9 324,1 539 461
50-54 91 54 1687 L8 1625 62,5 1459 459
55-59 37 22 12716 409 507 493 611 389
60-64 55 41 1341 65 255,8 1558 1952 952
65-69 6 13 — — — — — —
Total 1342 1261 — 2DI4 — 4984 — 5074
Média 18,5 41,5 42,3
ICNU = (3) IRS + IRI (h) + IRI (m)
ICNU = 3 (18,5) + 41,5 + 42,3 = 139,3
Diagnóstico: Muito má qualidade dos dados

. 157
H
a) Equação de Concordância. Região do Interior de Portugal

Dados censitários de 1970 = 120 440


Dados censitários de 1981 = 120 960

| | log (120 960 / 120 440) = 10,25 log (1 + a)


| | log 1,00432 = 10,25 log (1 + a)
| 0,00187 = 10,25 log (1 + a)
| 0,00018 = log (1 + a)
| 100042 =1+a
o a = 0,00042
n á a = 0,04%
o i 120 440 + 12 600 — 11 300 + 710 — 720 = 121 730 (P. estimada)

| P. real = 120 960 ... P. estimada = (121 730 — 120 960) = — 770
|

| 0,04% (tcam) = 0,11% (tenam) — 0,07 (temam)


|
| O crescimento total ligeiramente positivo (0,04%) é explicado pelo significa-
tá tivo crescimento natural (0,11%) que consegue anular o crescimento migratório
| E negativo (-0,07%).

| | | j b) Equação de Concordância. Região do Litoral de Portugal


DR
Nh| Dados censitários de 1970 = 260 820
Dados censitários de 1981 = 296 700

| I 1 NE log (296 700 / 260 820) = 10,25 log (1 + a)


|
| |: | : log 1,13757 = 10,25 log (1 + à)
po: 0,05598 = 10,25 log (1 + a)
“dl, 0,00546 = log (1 + a)
| o) 101265 =1+a
1a | a = 0,01265
pk a= 1,26%
pi a= 1,3%

260 820 + 25 300 — 22 850 + 1200 — 1430 = 263 040 (P. estimada)

P. real = 296 700 ... P. estimada = (296 700 — 263 040) = + 33 660
l 1,30% (tcam) = 0,09% (tenam) + 1,21 (temam)

EN 158
O crescimento total positivo (1,3%) é explicado pelo crescimento natural posi-
tivo (0,09%) e pelo crescimento migratório positivo (1,21%).

HW
a)
o 1930 1949 1960
Distritos
RM IC RM IC RM IC
Porto 105 102/ 108 108 103 / 107 106 103/107
Lisboa 105 102/ 108 113 102/ 108 107 102/ 108
Beja 102 100/ 110 109 100/ 110 108 100/111
Vila Real 105 101/109 109 101/109 106 101 / 109
Horta 106 93/118 106 94/117 110 92/ 120

b)
Idades RM DS IRI (H) Dif a 100 IRI (M) Dif. a 100
0-4 anos 102,1 — — — — —
5-9 anos 103,6 1,5 107,9 7,9 107,4 7,4
10-14 anos 104,3 0,7 90,9 9,1 88,0 12,0
15-19 anos 98,2 6,1 106,8 6,8 107,9 7,9
- 20-24 anos 94,2 4,0 103,7 37 101,9 1,9
o 25-29 anos 85,9 8,3 97,7 2,3 102,6 2,6
30-34 anos 84,8 1,1 92,7 7,3 94,1 5,9
35-39 anos 86,3 1,5 101,3 1,3 99,1 0,9
40-44 anos 84,1 22 . 1012 12 102,2 2,2
45-49 anos 83,3 0,8 95,4 4,6 95,6 4,4
50-54 anos 82,8 0,5 107,4 74 107,7 73
55-59 anos 82,7 0,1 95,3 47 93,8 6,2
60-64 anos 795 32 107,8 7,8 108,6 8,6
65-69 anos 76,2 — = — — —
Somatório 30,0 64,1 611
/12 2,5 5,3 5,6

ICNU =(3x2,5)+5,3+5,6
ICNU = 18,4

. 159
CAPÍTULO V

OS PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DEMOGRÁFICA |

Introdução

“Os sistemas de informação demográfica recolhem apenas dados brutos (nasci-


cum;
2 classificados
por diversas categorias (ida-
S ados esses que resultamda jnfluência de diversos factores.
Compete à Análise Demográfica encontrar os. fios condutores desta meada de in-
fluências que aparecem misturadas. nos acontecimentos que..são.zecolhides. Assim,

cimentos, óbitos, migrantes). A análise destes fenómenosé feita através de. um


4
conjunto
princípios.
de que. .é..comum..a, todas. as. varláveis:..são..os.-Princípios. de.
Análise Demográfica.
Antes de explicitarmos os Princípios da Análise Demográfica começaremos
por apresentar um tipo de representação gráfica, que embora tenha originalmente
sido específico da Demografia, acabou por ser utilizado por outros domínios cien-
tíficos e, sem o qual se torna difícil compreender o funcionamento da lógica da
análise demográfica: o Diagrama de Lexis.

Objectivos do capítulo V

* Compreender o funcionamento do Diagrama de Lexis:


regras gerais de funcionamento;
anos exactos e anos completos;
as três dimensões do Diagrama de Lexis;
os principais modelos figurativos;
“a determinação dos acontecimentos de origem.

160
« Identificar os Princípios Gerais da Análise Demográfica:
coortes, gerações e promoções;
o estado puro e o estado perturbado;
os acontecimentos renováveis e não renováveis;
intensidade e calendário;
acontecimentos reduzidos, taxas e quocientes.
* Aplicar os Princípios Fundamentais de Análise Longitudinal
* Aplicar os Princípios Fundamentais de Análise Transversal

5.1. O Diagrama de Lexis

O Diagrama de Lexis é um precioso instrumento da Análise Demográfica, na.


medida em que permite repartir os acontecimentos demográficos por anos de ob-
servação e por gerações. Deve o seu nome ao estatístico alemão do século XIX que
elaborou, pela primeira vez, este tipo de representação gráfica:
Trata-se de um diagrama onde no eixo OX (abcissas).se marcam. os.anos.cixis
“eng eixo OY (ordenadas) se marcam.asidades.dos.indixíduos. No eixo OX, traçam-se
linhas verticais, paralelas ao eixo OY, que marcam simultaneamente o fim de um
ano civil e o início do próximo — são as rectas do 31 de Dezembro ou do Jo de
Janeiro. No eixo OY, tracam-se. linhas horizontais. paralelas, ao, eixo. OX. — são
as rectas. das idades exactas. A escala escolhida para marcar a amplitude entre as
rectas do 31 de Dezembro é a mesma das rectas que marcam as idades exactas
permitindo assim o aparecimento de um conjunto de quadrados.
Vejamos agora a lógica de funcionamento inerente a uma representação gráfica
assim obtida (figura 13):

* uma pessoa nascida em 1 de Janeiro de 1940 (A) terá o seu primeiro aniver-
sário (um ano exacto) em 1 de Janeiro de 1941 (B), o seu segundo aniversário
(dois anos exactos) em 1 de Janeiro.de 1942 (E) e assim sucessivamente;
* uma pessoa nascida em 31 de Dezembro de 1940 (C) terá o seu primeiro ani-
versário (um ano exacto) em 31 de Dezembro de 1941 (D), o seu segundo
aniversário (dois anos exactos) em 31 de Dezembro de 1942 (F) e assim
sucessivamente;
* uma vez que a Demografia não se ocupa de pessoas isoladas mas, pelo con-
trário, estuda conjuntos de pessoas, as linhas de vida de todas as pessoas
nascidas em AC (100 000) vão passando sucessivamente por BD (97 087),
EF (96 807), GH (96 682) até ao seu total desaparecimento;
* o Diagrama de Lexis permite-nos assim ler os acontecimentos através de dois
tipos de duração — em idades exactas, ou seja, a duração expressa em unida-
des de tempo e em fracções deste (segmentos de recta AC, BD, EF, GH, DJ,
LM) e em anos completos, ou seja, as idades no último aniversário (segmen-
tos de recta CB, DE, FG, HI, JL);
* quando estamos a observar. os acontecimentos. numa. geração, durante um ano,
civil, temos sempre dois anos completos — por exemplo, se observarmos a

. 161
96 520 M

39
40:35
96 599:J

41

a
165:S
97 087,D

Sl 93
0005
100 000/€ 0 X
1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945

Figura 13 — O funcionamento do Diagrama de Lexis

geração de 1940 no ano civil de 1943 (FGIH), os acontecimentos repartem-se


por dois anos completos (FGH) e três anos completos (GHI);
* quando estamos a observar acontecimentos durante um ano completo e du-
rante um ano civil, tal implica a existência de duas gerações — por exemplo,
os acontecimentos observados aos três anos completos e no ano civil de 1944
(HIJN) repartem-se pelas gerações de 1940 (HI) e de 1941 (HNJ);
* os acontecimentos observados numa geração, durante um ano completo, implica
ser necessária a observação durante dois anos civis — por exemplo, na geração
de 1940, para observarmos os acontecimentos aos quatro anos completos
(IML) precisamos de o fazer durante os anos civis de 1944 (JL) e 1945 JLM);
* é sempre possível determinar o acontecimento
de origem da geração apartir
doobservação
período
de e da classificação
em anos completos: assim, por
exemplo, na figura HIJN, que diz respeito ao ano de observação de 1944 e:a
três anos completos, implica a existência de duas gerações; em vez de traçar-
mos a figura para determinar graficamente as gerações que estão envolvidas,
podemos fazer as diferenças directamente: 1944 — 3 = 1941 e 1944 — 4 = 1940;

162
| * também é possível determinar o número de gerações observadas durante. 7
anos civis, entre as Idades.exacias. x Cx + qsen=Jea=a] temos duas
gerações, ou seja, o total
de coortes (neste caso gerações) é igual a n + a (por
exemplo, se o grupo 0-4 anos completos, for observado nos anos 1944 e
1945 temos a=5en=2 logon + a=7 coortes, ou seja, as gerações de
1939, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1945 as quais podemos confirmar na
figura 13).

5.2. Princípios Gerais de Análise Demográfica

Demografia.
Nem todos os autores explicitam estes princípios atendendo ao carác-
ter abstracto de que se revestem. Nas diversas edições dos Princípios e Métodos de
Análise da Demografia Portuguesa optámos por dar um grande desenvolvimento
ao tema. A experiência, no entanto, ensinou-nos que tal desenvolvimento não se
justifica a não ser já numa fase muito avançada de investigação em Demografia.
Como com este trabalho pretendemos atingir um público predominantemente uni-
versitário, de formação muito diversificada, optámos por, sem quebra de rigor cien-
tífico, simplificar a apresentação nomeadamente na sua componente demonstrativa.
— Veremos, em primeiro lugar, os princípios gerais da
patio erotica

emas rapa SET


X Em seguida, atendendo à sua
importância, veremos mais em profundidade. os. princípios de análise transversal e
ios deze mianáliserp longitudinal.
RAE
sim, temos os seguintes princípios gerais em análise demográfica:

e eu
. O «estado puro» e o «estado perturbado»)
>, Um dos princípios gerais da análise demográfica-é-a-possibilidade. de analisar
4 os fenómenos demográficos tendo em conta dois tipos de efeitos ou interferências.
Podemos ter em conta cada um dos fenómenos isoladamente, ou seja, analisar |
a :
o
(por exemplo, podemos estudar a mortalidade sem a interferência da imigração).
; Chama-se a este princípio, que consiste em analisar 9s fenómenos demográficas
Acontece, porém, que no mundo real raramente os fenómenos se encontram.
a nessa situação. Porexemplo,o estudo E
da
mente perturbado pela inte: erência da mortali ações. Em termos de

: 163
Ao princípio que consiste em analisar os fenómenos demográficos com intexferên-
cias chama-se uma análise demográfica em «estado perturbado».

Acontecimentos renováveis e acontecimentos não renováveis

Outro princípio geral de análiseé a possibilidade de classificar os fenó-


menos demográficos. em não. renoyáxeis..e.cenoxáxeis Osacontecimentos
não
| renováveis são os que só podem ocorrer uma só vez (a mortalidade.
É o.ínico
| fenómeno verdadeiramente. não. renovável, porque. só.se morre uma vez). Os
| acontecimentos renováveis são os que podem ocorrer mais do que uma vez (a
natalidade, a nupcialidade, o divórcio e as migrações podem ocorrer mais do
| que uma Vez). Acontece, porém, que mediante a introdução de alguns eelementos
i | de carácter analítico, é possível transformar acontecimentos. renoxáxeis.em não
| renováveis.
bai
Por exemplo, podemos casar mais do que uma-vez mas O primeiro e
|: di
o o segundo
ca mma
casa: ão-acontecimentos. não renoxáveis porque. só ocorrem
ÚÚ uma vez.
uma vez.

Análise transversal e análise longitudinal

A análise transversal ou análise do momento consiste fundamentalmente em


observar os acontecimentos demográficos num determinado período de tempo (nor-
malmente um ano civil). Por outras palavras, procura-se com este tipo de análise
observar um conjunto de coortes durante um período. de. tempo. Se nos servimos
dos dados apresentados na figura 13 e se considerarmos apenas a informação até
aos 4 anos exactos em 1944, proceder a uma análise do momento significa observar
A as gerações incluídas no rectângulo IJOP.
o: Pelo contrário, proceder a uma análise longitudinal. ou.por-coortes,siguifica.
pl observar os acontecimentos ao longo da vida dos indivíduos, o que envolve neces-
En sariamente vários anos de calendário. No caso apresentado na figura 12, uma aná-
Pl lise longitudinal da geração de 1940, até aos 5 anos exactos, significa proceder-se
E R a uma observação no interior da figura ALMC.
Assim precisada a distinção entre estes dois tipos de análise, cujos princípios
: fundamentais aprofundaremos posteriormente, vejamos agora o que se entende por
o coorte.
| Coorteé um conjunto de pessoas que são submetidas a um mesmo aconte-
<imento.de origem, durante. um mesmo. período. de. tempo. Seacontecimento
esse
! de origem é o nascimento, a coorte toma o nome de Ta ção: se o acontecimento.de
DR Ri origem for o casamento (ou outro acontecimento. qualquer), a coorte passa a cha-
at mar-se promoção.,
| No entanto, apesar de haver em análise demográfica fundamentalmente estes
dois tipos de coortes, os acontecimentos de origem podem sofrer algumas adapta-
ções consoante o fenómeno em estudo. Assim, por exemplo, se queremos estudar a

164
natalidade, temos de o fazer numa geração cujo início é marcado pelo nascimento.
F

Mas, como raramente as mães têm filhos antes dos 15 anos, o limite inferior do
período de observação (acontecimento de origem) são as mulheres que sobrevive-
ram até aquela idade.

5.3. Princípios de análise longitudinal


BhSSBRRESIo

Consideremos, em primeiro lugar, o caso dos acontecimentos renováveis na


ausência de perturbações, ou seja, no «estado puro». De forma a facilitar a nossa
exposição, vamos servir-nos do exemplo representado na figura 14, onde se apre-
senta numa coorte de 1000 mulheres, os nascimentos vivos ocorridos, sem se ter
em conta a interferência de outros fenómenos e sem distinção da ordem de nasci-
mento. Como os nascimentos raramente ocorrem antes dos 15 anos e depois dos 50
anos, fixam-se os limites de observação entre os 15 e os 50 anos. Trata-se de um
acontecimento renovável, visto cada mulher poder dar origem a-mais do que um nas-
cimento.

(no exemplo apresen-


tado — os nascimentos) por. pessoa (no exemplo apresentado — a mulher), ou seja,
se N é o número de pessoas submetidas a um mesmo acontecimento de origem
(neste caso as mulheres que sobreviveram até aos 15 anos de idade) N é igual a
1000 mulheres e temos:

Intensidade - I=(1/N) Das

Calendário C=(Cxa)/Da

Se nos servirmos do exemplo apresentado na figura 14 constatamos que ocor-


reram:

* 205 nascimentos entre as idades 15 e 20 anos exactos


td 280 nascimentos entre as idades 20 e 25 anos exactos
«| 1545 nascimentos entre as idades 25 e 30 anos exacio)
« 805 nascimentos entre as idades 30 e 35 anos exactos
* 340) nascimentos entre as idades 40 e 45 anos exactos
« DO nascimentos entre as idades 45 e 50 anos exactos!

“a 165
IN
240

405

780

20) 1000

105
100

1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966

Figura 14 — Nascimentos e efectivos femininos numa geração

O número total de nascimentos é igual a:

205 + 1280 + 1545 + 805 + 340 + 130 + 20 = 4325

A intensidade (número médio.de nascimentos por mulher) é igual a:

I = (4325 / 1000) = 4,325

Quanto ao calendário, obtém-se ponderando as idades dos efectivos no nasci-


mento pelo número dos nascimentos: 205 nascimentos ocorrem entre 15 e 20 anos
exactos (17,5 em média), 1280 ocorrem entre 20 e 25 (22,5 em média)... 20 nasci-
mentos ocorreram entre 45 e 50 anos exactos (47,5 em média). A idade média na
maternidade (calendário) será pois igual a:

C = [(17,5) (205) + (22,5) (1280) + ... + (47,5) 20) ]/ 4325


C=27,8 anos

Os dois indicadores que acabámos de descrever (I e C) podem..ser.calculados


de uma outra forma: em vez de nós servirmos das frequências. absolutas (a.) pode-
mos utilizar as frequências relativas (a, / N). E ) têmo nome de

166 ,
acontecimentos reduzidos por reduzirem o número de acontecimentos. com. a duras,
ção x à população inicial.
A intensidade passará a ser igual a:

[=D (ac/N)

E o calendário igual a:

C=[x(a/N/1

No caso concreto do exemplo temos:

I = 0,205 + 1,280 + .... + 0,020 = 4,325

C = [(17,5) (0,205) + (22,5) (1,280) + ....+ (47,5) (0,020)] / 4,325


C=27,8 anos º

Vejamos agora o caso dos acontecimentos não renováveis, na ausência de per-


"Aurbações, excluam eles, ou. não.as.pessoas.do.
campo. de observação...

5 0
1
1
as 12
1
2
ao 15

2
2
as 19

d- 6
10
8 30) 35
'd-
36
aa 100
25 171

218
200
” seo
2
200
98. 15 1000
Em
e-
'
1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966

de Figura 15 — Primeiros casamentos e celibatárias numa geração

t 167
Tal como fizemos para o caso dos acontecimentos renováveis, vamos servir-
-nos de um exemplo de forma a facilitar o nosso raciocínio. Assim, representámos
uma coorte de 1000 mulheres, e os primeiros casamentos ocorridos entre as ida-
des de 15 e 50 anos. A única diferença em relação ao exemplo anterior reside no
facto de os efectivos irem diminuindo à medida que nos deslocamos dos 15 para os
50 anos, visto as mulheres celibatárias «irem desaparecendo» à medida que se
casam. Assim, por exemplo, tendo havido 411 primeiros casamentos entre 15 e 20
anos exactos, não resta na última idade senão 1000 — 411 = 589 mulheres celibatá-
rias. Por outro lado, como é muito provável que as 10 «celibatárias sobreviventes»
aos 50 anos não se casem, o celibato definitivo é igual a 10 / 1000 = 0,01 (ou 1%).
Assim temos:

E I=1/NLaoul=E (a,/N)oul=0,99
Vo C=(Lxa)/LaouC=[5x(a/N)]/IouC=21,44

Como os acontecimentos são não renováveis, podemios exprimir o resultado em


percentagem, ou seja, que nesta coorte 1% das mulheres ficam definitivamente
celibatárias e que as 99% que se casam pela primeira vez (intensidade) são subme-
| tidas a este acontecimento em média aos 21,44 anos de idade (calendário).
Se, em vez de termos apresentado um exemplo com base na nupcialidade,
Pro tivéssemos optado pela mortalidade (acontecimentos não renováveis com a única
dp o diferença de excluir as pessoas do campo de observação), o cálculo -da intensidade
| não era necessário, visto esta ser igual à unidade no fim da geração (todas as
| | pessoas, cedo ou tarde, têm de morrer).
RE | Porém, tal como dissemos anteriormente, lado os movimei
| tórios. (que saem ou entram do campo de observação),
Os acontecimentos.xenoxáyeis:
| (nascimentos, casamentos) p 1 transformados ..em..não.. renováveis. quando
int ã« ssim, em vez de termos os nascimentos no seu
Ny conjunto passamos a ter o primeiro nascimento, o segundo nascimento... ou O
E NE Ri primeiro casamento, o segundo casamento... A mortalidade não tem divisão pos-
Ei sível porque é sempre um acontecimento não renovável.
Eli | Uma questão emerge naturalmente desta possível transformação de. aconteci-
| | mentos renováveis em não. renováveis:.será possível-obter-a.intensidade.e.o. e Calen-

Í dário dos primeiros a partir dos. segundos? A resposta é afirmativa procedendo-se


| da seguinte maneira:
let
| 1=10412 +... +18
NOR: C=1/DdAVCD. ICO... + IO CO)

168 +
No caso dos acontecimentos não renováveis, é possível ainda encontrar outras
características
ESPE distribuição.
da sua ton so A probabilidade de ocorrência de um aconteci-
CNÍVE AS. idadesexaciasAL. XHEM, tem. o nome de auociente ce ioual A.
MENÃO.

x = ax / Nx

Este conceito pode ser generalizado para durações de x a x + n.


A extrapolação é imediata:

ndx= nàx/ Ny onde na, São Os acontecimentos entre xe x + ne Nx os «sobreviventes


até à idade x».
Os quocientes mais usados em análise. demográfica. são..o. .quocientede
nupcialidade (nx) que mede o «risco» dos celibatários.se. casarem, num deterral:
nado intervalo de idades, e o quociente de mortalidade (nqx) que mede O «risco»
das pessoas morrerem "também. num determinado intervalo de idades. A partir
destes quocientes podemos determinar mais duas. distribuições... s..a DÍCCIMER=
tos não. enováveis a entre ..as idades exactas; e os efectivos de indivíduos que
ainda não foram submetidos ao fenómeno, partindo de um determinado efectivo
inicial...
INICIAL...
Assim temos:

dy = Nx Gx Ne = Nx — dx
nãx = Nk nx Nem = Nx - nãx

Conforme iremos ver nos capítulos seguintes, no caso da mortalidade é usual


representar:

ax Ny € nx

por,

ndx (Óbitos entre as idades x e x + 11)


1, (sobreviventes na idade x)
nQx (probabilidade de morte entre x e x + 11)

No caso da nupcialidade é usual representar por:

am, (primeiros casamentos entre x e x + 11)


C, (celibatários na idade x)
nx (probabilidade de primeiro casamento entre x e x + n)
tais como os nascimentos pela ordem, divórcio pela ordem.
| Servindo-nos do exemplo apresentado anteriormente temos os seguintes quo-
cientes:

no sq1s = 411/1000 = 0,41100


i “ 500 = 418/ 589 = 0,70968
| sQs = 136/ 171 = 0,79532
sGo = 16/ 35= 045714
5Q35 = 4/ 19= 0,21053

| | so = 3/ 15= 0,20000
sds = 2/ 12= 0,16667
! E a seguinte tábua de nupcialidade:
|
Í Idade exacta x sd ss e Cx
| 15 411 0,41100 1000
: 20 418 0,70968 589
I 25 136 0,79532 171
30 16 0,45714 35
35 4 0,21053 19
o 40 3 0,20000 . 15
E 45 2 0,16667 12
| 50 ' — — 10

| Dissemos anteriormente que no caso dos acontecimentos não renováveis era


No possível encontrar outras características da sua distribuição sem ser a intensidade, o
NE calendário. EDS, acontecimentos. reduzidos. Acaracterísticas.
primeira dessas apre-.
NE sentadasfoiaa noção de quociente, ponto de partida para a.elaboração
de uma tábua.
E Vejamos agora uma outra característica da Jistribuição dos acontecimentos
não
| IR Jenováveis: a noção« de taxa.
Wo A taxa é definida. como A dinisão dos acontecimentos pela população média:
E:

| ! ll
|
be = 4x/ [(NK + Nin) / 2]
|
ou,

Eli: Cote= aê) (0/2) (Ne


+ Nos)
No exemplo apresentado temos:

| sys =411/ (5/2) (1000 + 589) = 0,10346


ii sto = 418 / (5/2) (589 + 171) = 0,22000
El sos = 136 /(5 19 (171 + 35) = 0,26408
ol sto= 16/(5/2D( 35+ 19=0,11852
a ds= 4/(5/D( 19+ 15) = 004706

170
sto=..3/(5/DC 15+ 12) = 0,04444
ds= 2/(5/D( 12+ 10)=0,03636

Estas taxas que apresentamos entre idades exactas. podem. igualmente. ser.cals
culadas entre anos,com] pletos. A adaptação das fórmulas não oferece nenhuma di-
“fcuidade, não) requerendo mais considerações.
Tambémé possível a partir das taxas, estimar os quocientesalatravés das sesuintes
fórmulas:
eIA A

qw =2t/(Q+t)
A =QCnt)/Q+nto)

O que, se aplicarmos ao exemplo que temos vindo a seguir, nos dá:

“stys = 0,10346
sqis = 0,41100
sq1s* = (2.5. 0,10346) / (2 + 5 . 0,10346) = 0,41100

sto = 0,22000
são = 0,70968
sq2o* = (2. 5. 0,22000) / (2 + 5 . 0,22000) = 0,70968

E assim sucessivamente... mostrando-se assim que é possível calcular directa.


apoie

5.4. Princípios de análise em transversal

Tal como acabámos de ver, a análise por coortes diz respeito a aconte,
gue se distribuem entre os limites dessas. coortes. Nenhuma atenção foi prestada à
ep

população em si (a não ser no caso das taxas).

quais nascimento, morte, migração) para oss processos ocorridos : nas coortes
(fecundidade, mortalidade, migrações) que são ão normalmente-classil ificados, e-analiz
gados em função da duração ocorrida a partir do acontecimento. de origem. O resul-
tado da ocorrência destes processos pode ser visualizado num determinad O ANQMENÃO
do tempo quando observamos, em iLansuersal, O COMunto daS«CaOrieS,aOUsSEjAO-
“volume e a estrutura de uma população...
A análise em transversal preocupa-se pois, em princípio, com o volume e a
estrutura da população num determinado momento do 1 empo (bem como com as
não com as coortes. Mas,
e não
mudanças ocorridas ao longo do tempo) para se co,
é
preender a a « existência de uma determinada | estrutura populacional (ou de uma muta-
ção ocorrida no volume populacional), tem de se te nta que os acontecimentos,
gue integram a dinâmica DO pulacional. são. » tesultantes da interacção. entre.
turas e os fenómenos demográficos.

171
Considerando um determinado período de calendário A (normalmente umano),
em cada duração x podemos calcular uma das Axé. medidas básicas, (acontecimentos
anee rã
Á, a, ao número. de” ontecimentos observados no ano A entre os anos completos
x-l exe P,à «população média» da coorte durante o ano A.
O número total de acontecimentos durante o ano A é igual a:-

Da=P,t

duração. Ô conjunto . Pp; (Po. P,. Bb. e Po). é a estrutura “populacional. eo » conjunto t,te
são as frequências taxas ou acontecimentos “Teduzidos) a que também. costuma

“"Ássim, precisados os acontecimentos observados durante um ano determinado,


já podemos redefinir os objectivos da análise transversal ao responder a duas im-
portantes questões:

* Qual é o impacto de cada um dos factores P, e t, no número total


de aconte-
cimentos observados durante um determinado período?
O objectivo da análise demográfica será, neste caso.concreto.. separar Q
impacto, na dinâmica populacional. que é devidoà estrutura populacional,
“do impacto que
que É, devido ààs frequências (taxas, acontecimentos reduzidos)
ou
nos demográficos.
ÃO prix de análise. que.concretiza.este.objectivo-er-análise-transyer-
sal cnama-se estandardização:,
* Em que medida as frequências observadas num determinado período reflec-
“tem o comportamento das coortes?
O objectivo da análise demográfica, neste.caso, será o de procurar medir
intensidade
A e o calendário.
Ao princípio de análise que concretiza este
objectivo. em. análise transversal, chama-se translação.

Antes de analisarmos os diversos métodos usados em cada um destes princí-


pios, vejamos um pouco mais em detalhe as várias precauções a ter em conta no
cálculo das frequências (taxas ou acontecimentos reduzidos) cujo cálculo é essen-
cial numa análise em transversal. Embora no ponto anterior já tenhamos introdu-
zido estes instrumentos de análise, entendemos só agora esclarecer alguns aspectos
técnicos, dada a particular utilidade de que se revestem neste tipo de análise.
Existem diversos tipos de taxas: taxas brutas, taxas definidas em. função das
idades ou dos..grupos..de idades, . e. taxas. definidas.
em. função..da população de
Teferência.
172
2 A taxa bruta é uma medida grosseira que relaciona o total de acontecimentos
2a observados. num. determinado. período (normalmente um ano). com a população.
3ã nesse mesmo.período.
Assim, por exemplo, se num determinado país a população em 1 de Janeiro
é de 41 928 200, em 31 de Dezembro desse mesmo ano é de 42 683 400 e se o
número de óbitos observados nesse ano é de 503 228, a Taxa Bruta de Mortalidade
wu

é igual a:
o
Vs

TB.M. = 503 228 1 [(41 928 200 + 42 683 400) / 2] x 1000 = 11,9 por mil

sendo a população média, ou seja, a população estimada em 30 de Junho, igual a


42 305 800.
qr
qe

sb de a a roms corar to de
pps

Em todo o caso, apesar da sua simplicidade de cálculo, algumas precauções


devem ser tomadas:

e evi í Õ j eve procurar-se fazer


coincidir a população média com a população de um recenseamento;
. Ó pois pode haver erros
ou até mesmo flutuações aleatórias quando lidamos com pequenos números;
a solução consiste em calcular taxas respeitantes aos pares de anos que en-
quadram um recenseamento dividindo os acontecimentos por dois, quatro,
seis ou mais anos.

t
se
Na figura apresentamos os casamentos de celibatários e os efectivos submeti-
dos a um mesmo acontecimento de origem.
“wa

Vejamos como se calculam as diversas taxas:

* Taxas entre duas idades exactas:

toa = (8 422. + 11 947) / [(97 700 + 104 000) / 2] x 1000


toa = 201,9 por mil

* Taxas entre dois anos completos (ou numa geração):


aus

tos = (11434 + 11 947) / [(125 100 + 104 000) / 2] x 1000


In”

tas = 204,1 por mil

173
* Taxas por grupos de idades exactas (quinquenal):

| too = (18991 + 14982 +... + 11947 + 8422) / [(207,3 + 189,4 +... +


| + 125,1 + 104,0)]/2
boo = 197,71 por mil

* Taxas por grupos de idades exactas (quinquenal):

to = (14111 + 18991 +... + 11434 + 11947) / [(248,1 + 207,3 +... +


+ 125,1 + 104,0)]/2
t 20-24 — 186,92 por mil

taxasNasportaxas definid as em defunção popula


idades,daonde sãocia,
ção. de referên calculam-se as
e| | " idades, ou grupos os numeradores os mesmos do caso
m , anterior. No denominador, ou se coloca a população média ou o efectivo, submeti-
Eh o do a um mesmo acontecimento..de..origem. Se optarmos. pela primeira. solução,
, : | caímos inevitavelmente no caso anteriormente apresentado. Se optarmos pela se-
Hi |
Ri |
,
|

25
422
o olo
SIE 2|5
24 11947
Tam
| la le |
rsrsrs

“Is Es
23 15111
14 724

JEN 215 &|B


com ato

Palo d -
Ed 22 18841
16947
| + | al
2 &|s 8|8
! Do = S e

: | 21 22001
“) 14982
/ di , o l— alo
li | m lo v|o
Ri S/a da | &
E 20 18994
na 1411

: ; : i “ N

| a 19
ERR 1964 1965 1966 1967
E | | Figura 16 — Casamentos de celibatários e efectivos,
po submetidos a um mesmo acontecimento de origem
o |
=Il 174
S.calculados
no. «estado,
puro» ou PESE de. segundaja «c; goriap.
Servindo-nosjsda mesma figura, podemos calcular as seguintes taxas para as
mesmas idades ou grupos de idades:

tos = (8 422 + 11 947) / [(300 000 + 319 000) / 2 ] x 1000


ta = 65,81 por mil

tos = (11 434 +11 947) / [(319 000 + 319 000) / 2 1] x 1000
ta = 73,29 por mil

too24 = 153 400 / [(288,1 + 304,5 + ... + 311,7 + 319,0) / 2] x 1000


too.24 = 100,73 por mil

“too = 159 089 / [(299,3 + 288,1 +... + 311,7 + 319,0) / 2] x 1000


too = 104,5 por mil

Depois de precisadas as várias precauções e variantes a ter em conta no cálculo


cípi
da estandardizaç
das diversas taxas, concentremo-nos agora no prin mQues
ão o
Por
“outras palavras, procura saber-se -qual
é o impact é
devidoà estrutura e o impacto que é devido..ao.. modelo. do. fenómeno. € em 1 sanálise.
Quando temos possibilidade de calcular as frequências por idades ou grupos
de idades (ou seja, quando os acontecimentos estão disponíveis nas estatísticas de
| estado civil por idades e as estruturas populacionais são conhecidas), podemos
| directa. médias de
recorrer. é aos seguintes métodos: estandardização fre UÊNCIAS Lorem
análise por componentes. principais. o
| Quando os acontecimentos não estão disponíveis no estado civil, mas as estru-
| turas populacionais são conhecidas, podemos recorrer ao método da estandardização
indirecta. Na pior das hipóteses, quando dispomos apenas do total de acontecimen.
tos e da população total podemos. tal como vimos anteriormente, utilizar as taxas,
brutas.
Vejamos como funcionam estes métodos numa perspectiva teórica (as aplica-
ções práticas ficam para os capítulos seguintes).
Dissemos anteriormente que o número de acontecimentos observados numa
determinada população, durante um período de tempo (normalmente um ano) é
igual à soma dos produtos de cada população média na duração x pela taxa nessa
mesma duração. Por outras palavras, temos:

DS as= 5 Prts

Quando a natureza dos dados o permite, o método da estandardização.dixecta.

Os resultados obtidos não têm em si nenhum

: 175
o

valor, servindo apenas para fins comparativos. Na medida em que se mantém cons-
tante o efeito das estruturas, os diferentes resultados reflectem apenas os efeitos
dos diferentes modelos. Por exemplo, se queremos comparar duas populações A e
B onde:

o Ea(A) =D P(A) (A)


| | 2 ax (B) =X P.(B) t; (B)
Va
e se escolhermos como tipo a população A teremos:

La(A)=L P(A) te(A)


La(B)=DP;(A) tr (B)
ou seja, X a (B”) indica-nos o número de acontecimentos que teríamos na popula-
Õ ção B se em vez da sua estrutura tivesse a estrutura populacional do país 4.
E LH Obtemos assim um índice que apenas tem um significado comparativo. É evi-
Vo | dente que diferentes modelos produzem diferentes resultados e em princípio a sua
o escolha é arbitrária. Porém, a prática tem demonstrado que

|
| | | | lado, quando procedemos a comparações no espaço, é usual escolher-se.a.estrutura
| Ri correspondente ao grupo que integra os subgruposei lise. Assim, se estamos a
PE comparar concelhos no interior de um distrito ou de uma NUT, escolhe-se a estru-
Pio tura desse distrito ou da NUT, se estamos a comparar países da União Europeia
ro escolhemos a estrutura da União Europeia.
Mil Quanto ao método da
| | NOR mente as médias das frequênciassem se recorrer a uma populaçãÃO-tipOs.à,a média
| o mais usualmente empregue é a média at tmética.
|

| ol frequências. |
E : | Finalmente, resta-nos o método da estandardização indirecta ou o método das.
Prior taxas-tipo, quando a natureza dos dados não nos permite calcular as frequências
nas diferentes.idades. Ao invés da estandardização directa. o método consiste em
|| escolher uma série de taxas como modelo ou como tipo e aplicar-lhe as diversas
estruturas das populações que se querem comparar. Neste método associa-se às
i duas taxas uma série de taxas-tipo (por exemplo da população A) e obtemos as se-
| guintes novas taxas:
|

| NE
o
TB.(A)=D P(A)
TB.(B) = > P,(B)
ti(A)
t, (B)
ah TB.(A) =D P(A) tr (A)
TB.(B)=DP,(B) t;(A)

io Tal como no caso da população-tipo, estes índices não têm em si nenhum valor.
ad apenas valendo.como.comparação.

176
Alguns autores defendem que os métodos da estandardização têm, interesse na
“análise dos fenômenos. não, demográficos. Pensamos que semelhante tomada de
posição só é admissível no caso dos países que, tendo dados muito completos,
podem aplicar outros métodos, nomeadamente os inerentes à análise longitudinal.
Na realidade, estes métodos revelam-se bastante úteis quando existe carência de
dados ou quando estes não são.de confiança. Mais ainda, quando se trata de proce-
der a comparações entre populações de reduzida dimensão, mesmo que os dados
“estejam disponíveis, a existência de pequenos números pode produzir flutuações
erráticas. Neste caso, as medidas obtidas através da estandardização devem até ser
“preferidas aos outros índices passíveis de serem calculadi
Quanto ao segundo princípio susceptível de ser aplicado numa análise em trans-
versal —
Procura responder a duas importantes questões:

da coorte.
A resposta a estas duas importantes questões. é afizmativa. Q método
fictícia consiste justamente em transpor os fenómenos que se observam em trans-
versal. para uma coorte imaginária. NO o
a
Semelhante artifício permite-nos calcular, tal como na análise longitudinal,
i intensidade, o calendário, os acontecimentos reduzidos, as taxas e os quocientes.
Se estivermos a trabalhar com intervalos anuais e se ascoortes não. diferirem
umas das outras, podemos admitir que as frequências calculadas em transversal,
entre idades exactas, são idênticas às frequências que se calculam nas coortes entre
idades exactas.
Como normalmente o que calculamos em transversal são taxas (sobretudo nos
países onde não existe a dupla classificação) a adopção deste artifício, implica que

Figura 17 — O método da coorte fictícia

177
se admite serem estas iguais às taxas ou acontecimentos. reduzidos. passíveis..de
serem calculados em longitudinal. Quando se trabalha com grupos de idades é
necessário proceder a algumas adaptações, que veremos à medida que analisarmos
as diferentes variáveis microdemográficas.
A utilização do método da coorte fictícia é passível de alsumas. críticas. Em
: primeiro lugar, período
o de tempo que serve de construção. à. coorte pode.ser-mal
escolhido (por exemplo, um período de guerra)e tomar-se como comportamento
“de uma geração o que na realidade é uma perturbação. momentânea-e-que-afecta
todas : as gerações. Em segundo lugar, mesmo que tal não aconteça, existem sem-
õ uramos, Jesumir. desta. forma. Des comportamento-das

5.5. Conclusão

Depois de termos precisado alguns conceitos, distinguimos os princípios de


análise em longitudinal dos princípios de análise em transversal. Como vimos, os
Lo objectivos de um e outro tipo de análise são diferentes. A análise demográfica parte
| dos acontecimentos para a análise de fenómenos observados em coortes, daí a
o particular atenção dada às noções de calendário e intensidade bem como às três
[o medidas básicas — acontecimentos reduzidos, quocientes e taxas. Num, país com
dupia clas ão,citeOS aparecem classificados. por, idad
álise transversal e da análise longitudinal. complementares
O -de.Portugal, a dupla. classificação começou a dar os seus
j , os. ar necessário esperar ainda bastantes anos para termos elemen-
tos suficientes para uma análise completa por gerações. Nesse caso resta-nos o
recurso à análise em transversal. Por outro lado, devido às. Jimitações.quee temos em
| aplicar a análise em longitudinal em Portugal. apenas consideramos o «estado puro»
A imtrodução do «estado perturbado» ir-nos-ia alongar em considerações teóricas
io que são por ora inaplicáveis aos dados portugueses.
ua Poderíamos ter simplificado ainda mais se apenas apresentássemos os métodos
da análise transversal. Não o fizemos por duas ordens de razões: em primeiro lugar,
d porque pensámos ser fundamental saber como funciona uma análise demográfica
| | completa; em segundo, porque os princípios da análise longitudinal são parti-
n cularmente importantes na compreensão do método da coorte fictícia.
A natureza dos nossos dados limita-nos a discussão das opções entre os diver-
| sos métodos e por isso achámos inútil, nos capítulos que se seguem, separar os dois
princípios de análise. Atendendo a-.que este trabalho visa uma iniciação à investiga-
| ção em Demografia, tendo como base a demografia portuguesa, utilizaremos ape-
| ul nas a análise transversal.

dl 178
4.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO:
“OS PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DEMOGRÁFICA

Coloque no Diagrama de Lexis a seguinte informação:


a) Pessoas nascidas em 1990: 10 000
b) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1990, com O anos completos: 100
c) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1991, com O anos completos: 30
d) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1991, com 1 ano completo: 28
e) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1992, com 1 ano completo: 26
f) Pessoas nascidas em 1989, falecidas em 1989, com O anos completos: 95
g) Pessoas nascidas em 1989, falecidas em 1990, com O anos completos: 35
h) Pessoas nascidas em 1989, falecidas em 1990, com 1 ano completo: 25 -
1) Pessoas nascidas em 1989, falecidas em 1991, com 1 ano completo: 23 .
j) Pessoas nascidas em 1991, falecidas em 1992, com 1 ano completo: 24
k) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1992, com 2 anos completos: 20
1) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1993, com 2 anos completos: 16
m) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1993, com 3 anos completos: 14
n) Pessoas nascidas em 1990, falecidas em 1994, com 3 anos completos: 12
o) Pessoas com O anos completos em 31/12/1990: 9900
p) Pessoas com 1 ano completo em 31/12/1990: 9800
;
9) Pessoas com 2 anos completos em 31/12/1990: 9820
F
|
|1 Calcular:
'
i a) Na geração de 1990, a população com 1, 2, 3 e 4 anos exactos.
b) Na geração de 1990, a população com 0, 1, 2 e 3 anos completos.
c) O número de pessoas nascidas em 1989.
“—-d) Em que anos nasceram as pessoas observadas em 1992 com 1 ano comple-
to. Verifique os resultados.
e) Em que anós nasceram as pessoas observadas em 1992 com 85 anos com-
pletos. Verifique os resultados.
f) Em que anos nasceram as pessoas observadas nos anos de 1991 e 1992 com
1 ano completo. Verifique os resultados.
g) Em que anos nasceram as pessoas observadas nos anos de 1991, 1992 e
1993 pertencentes ao grupo 50-54 anos completos. Verifique os resultados.
h) A Intensidade e o Calendário até aos 4 anos exactos, na geração de 1990.
1) ro, fi, tp € r3 na geração de 1990.
j) Verifique se os resultados calculados na alínea h estão correctamente cal-
culados, utilizando a fórmula dos acontecimentos reduzidos.
k) to, tr at; e sto na geração de 1990.
D qo qu 30 e 2g2 na geração de 1990.
m) Verifique se os resultados calculados nas alíneas k e 1 estão correctamente
calculados.

179
IN

Coloque no Diagrama de Lexis a seguinte informação:

LE a) Pessoas nascidas em 1960: 4000


| | b) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1960, aos O anos completos: 200
' c) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1961, aos O anos completos: 100
| d) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1961, ao 1 ano completo: 40
e) Pessoas nascidas em 1959, falecidas em 1961, ao 1 ano completo: 30
f) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1962, ao 1 ano completo: 25
| g) Pessoas nascidas em 1961, falecidas em 1962, ao 1 ano completo: 20
| h) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1962, aos 2 anos completos: 28
i) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1963, aos 2 anos completos: 25
n j) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1963, aos 3 anos completos: 17
| | k) Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1964, aos 3 anos completos: 16
EEN 1) Pessoas nascidas em 1961, falecidas em 1961, aos O anos completos: 210
o m) Pessoas nascidas em 1961: 4200
Vo n) Pessoas nascidas em 1961, falecidas em 1962, aos O anos completos: 105

| | Responda às seguintes questões:

it | a) Qual será a população com O anos completos na geração de 1960, em 31 de


PELO Dezembro de 1960?
l| b) Qual será a população com 1 ano completo, na geração de 1960, em 31
de Dezembro de 1961?
c) Quantos são os sobreviventes da geração de 1960 no primeiro ano exacto?
d) A que gerações pertencem as pessoas falecidas com 1 ano completo em
1961?
Rio e) A que gerações pertencem as pessoas falecidas aos 45 anos completos
REE em 1962? .
f) A que gerações pertencem as pessoas falecidas em 1965 no grupo 0-4 anos
completos?
g) E no grupo 5-9 anos completos?
h) A que gerações pertencem as pessoas falecidas em 1962, 1963, 1964 e 1965
pertencentes ao grupo 0-1 anos completos?
i) A que gerações pertencem as pessoas falecidas em 1962, 1963 e 1964 per-
tencentes ao grupo 50-54 anos completos?
3) Qual a intensidade da mortalidade até aos 4 anos exactos? E o calendário?
k) Proceda aos mesmos cálculos através dos acontecimentos reduzidos.
D Calcule to, t;, to e ts, ou seja, as taxas anuais entre idades exactas.
m) Calcule go, q q e q3, ou seja, os quocientes anuais entre idades exactas.
n) Calcule t, entre anos completos.
o) Calcule +t; e st, entre anos exactos.
p) Calcule 9; e 5qn.

180
Resolução do 4.º Trabalho Prático

5 |

20
|

4
a |
1

40 s8
50 30 m
3

0 40
7 50
2

so 0
90 7
1 |
1

| 150 140 :
840 720
0 10000
1980 1981 1982 1983 1984 1985

Figura 18

a) 10.000 — 640 = 9360


b) 10000 — 640 — 150 = 9210
c) 7890 + 30 + 40 + 50 + 60 + 70 + 140 + 720 = 9000 .
Hipóteses: Estamos perante uma população fechada não sujeita a migrações. |

d)
4 n (anos) = 1; a (idades) = 1
n+a=1+1=2 gerações. Quais? |

1984 — 4 = 1980 |
1984
— 3 = 1981 º
3 1984

R: Nasceram nos anos de 1980 e 1981.

181
a e)
| n n (anos) = 1; a (idades) = 1
n+a=1+1=2 gerações. Quais?

1984 — 71 = 1913
1984 — 70 = 1914
70 1984

R: Nasceram nos anos de 1913 e 1914.

5 n (anos) = 1; a (idades) = 5
na n+a=1+5=6 gerações. Quais?
od)
1! 1985 — 5 = 1980
| 1985 — O = 1985
| | O 1985

| foi R: Nasceram nos anos de 1980, 1981, 1982, 1983, 1984 e 1985.
E | -

| 8)
55 n (anos) = 1; a (idades) = 5
| n+a=1+5=ó6 gerações Quais?

| 1985 — 55 = 1930
1985 — 50 = 1935
50 1985

R: Nasceram nos anos de 1930, 1931, 1932, 1933, 1934 e 1935.

|
| b)
| 45 n (anos) = 3; a (idades) = 5
| n+a=3+5=8 gerações. Quais?

NE 1983 -45= 1938 198545 = 1940


| 1983 - 40 = 1943 1985 —- 40 = 1945
| 40 DE TM TE
[| R: Nasceram nos anos de 1938, 1939, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944 e 1945.

182
Í)
1 = 640 + 150 + 90 + 80 + 70 + 60 / 10 000 = 1090 / 10 000 = 0,109 =
=0,11=11%

C = (790 x 0,5) + (170 x 1,5) + (130 x 2,5)/ 1090 =


= 395 + 255 + 325 / 1090 = 0,89 anos

5
to = 640 + 150 / 10 000 = 790 / 10 000 = 0,079
r, = 90 + 80/10 000 = 170/ 10 000 = 0,017
12 = 70 + 60/10 000 = 130 / 10 000 = 0,013

k)
1 = 0,079 + 0,017 + 0,0013 = 0,109 = 0,11 = 11%
Este resultado confirma os valores da alínea 1.

C = (0,5 x 0,079) + (1,5 x 0,017) + (2,5 x 0,013) / 0,11


C = 0,0395 + 0,0255 + 0,0325 / 0,11 = 0,0975 / 0,11 = 0;89 anos
Este resultado confirma os valores da alínea 1.

1)
to = 640 + 150 / (10 000 — 640) = 790 / 9360 = 0,0844017 = 0,084
ty = 90 + 80 / (9360.— 150) = 170 / 9210 = 0,0184582 = 0,019

to = 640+ 150 / (10 000 + 9210) /2 = 790/19210/2=


= 790 / 9605 = 0,0822488 = 0,082
ty = 90+ 80 / (9210 + 9040) /2 = 170/18 250/2 =
= 170/9125 = 0,0186301 = 0,019

m)
ati = 90 + 80 + 70 + 60 + 50 + 40 / 9210 + (9210 — 90 — 80 — 70 — 60 — 50 —
— 40) x (3/2) = 390 / 9210 + 8820 x (3/2) = 390/ 18 030 x 1,5 =
= 390/27 045 = 0,01442041 = 0,014

ato = 70 + 60 + 50 + 40 / 9040+ (9040 — 70 — 60 — 50 — 40) x (2/2)=


= 220 / 9040 + 8820 x (2/2) = 220/ 17 860 x 1= 220/17 860 =
= 0,012318029 = 0,012

183
n)

3q1 = 90 + 80 + 70 + 60 + 50/9210 = 390 / 9210 = 0,0423453 = 0,042


292 = 70 + 60 + 50 + 40 / 9040 = 220 / 9040 = 0,0243363 = 0,024

0)
ao! srt = (2 x 3) x 0,014 / 2 + (3 x 0,014) = 0,084
/ 2 + 0,042 = 0,084 12,042 =
= 0,0411361 = 0,041
: 2q2* = (2 x 2) x 0,012/2 + (2x 0,012) = 0,048 / 2 + 0,024 = 0,048 / 2,024 =
| | : = 0,023715415 = 0,024
7 Estes valores confirmam os resultados das alíneas anteriores.

| | Di
| a) 4000 — 200 = 3800

] b) 4000 — 200 — 100 — 40 = 3660

| c) 4000 — 200 — 100 = 3700

d)
2 n (anos) = 1; a (idades) = 1
n+a=1l+1=2 gerações. Quais?

1961 —- 2 = 1959
1961 — 1 = 1960
1 1961

R: Pertencem às gerações de 1959 e 1960.

184 :
16
17

25
28

30 25
40 20
1

100 105
200 210
0 4000 4200
1959 1960 1961 1962 1963 1964

Figura 19

e)
46 -n (anos) = 1; a (idades) = 1
n+a=1+1=2 gerações. Quais?

1962 — 46 = 1916
1962 — 45 = 1917
45 1962

R: Pertencem às gerações de 1916 e 1917.

f)
5 n (anos) = 1;a (idades) =5
n+a=1+5=ó6 gerações. Quais?

1965 — 5 = 1960
1965 — O = 1965
0 1965

R: Pertencem às gerações de 1960, 1961,1962, 1963, 1964 e 1965.

185
g)
REEF 10 n (anos) = 1 ; a (idades) = 5
| n+a=1+5=ó6 gerações. Quais?

a! 1965 — 10= 1955


nº 1965 — 5 = 1960
5 1965

o R: Pertencem às gerações de 1955, 1956, 1957, 1958, 1959 e 1960.

h)
| : 2 . n (anos) = 4; a (idades) =
od n+a=4+2=6 gerações. Quais?

Vo 1962 — 2 = 1960 1965 — 2 = 1963


od 1962 — O = 1962 1965 — O = 1965
o O 1962 1963 1964 1965
| | y R: Pertencem às gerações de 1960, 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965.

Ho | |
ali 55 n(anos)=3; a (idades) = 5
od n+a=3+5=8 gerações. Quais?
|
SE 1962 — 55 = 1907 1964-55 = 1909
1962 - 50= 1912 1964 -50= 1914
|
| 50 TH DO 1568
| | R: Pertencem às gerações de 1907, 1908, 1909, 1910, 1911, 1912, 1913 e
i
Ni! 1914.
| I

| j)

|| I= 200 + 100 + 40 + 25 + 28 425 + 17 + 16/4000 = 451


/ 4000 =
E = 0,1128
= 11,28%
IE | C=(300x 0,5) + (65 x 1,5) + (53x 2,5) + (33 x 3,5)/451 =
Ri = 495,5 / 451 = 1,099 anos

1 RE 186
R: A intensidade é o número médio de acontecimentos por pessoas. No caso da
mortalidade (acontecimentos não renováveis que excluem as pessoas do campo de
observação), no fim da geração a intensidade seria igual à unidade. Como neste
exemplo didáctico estamos apenas a fazer uma observação até aos 4 anos exactos
(= 4), então podemos dizer que até essa idade já morreram 11% de pessoas e que
esses óbitos ocorreram em média aos 1,1 anos.

k)
to = 200 + 100 / 4000 = 300 / 4000 = 0,0750
ty = 40 + 25 / 4000 = 65 / 4000 = 0,0163
to = 28 + 25 / 4000 = 53 / 4000 = 0,0133
t3 = 17 + 16/4000 = 33 / 4000 = 0,0083
I = 0,0750 + 0,0163 + 0,0133 + 0,0083 = 0,1129 = 11,29% |
Este resultado conficma o valor da alínea anterior.
C=(0,5 x 0,0750) + (1,5 x 0,0163) + (2,5 x 0,0133) + (3,5:x 0,0083) / 0,1129
C = 0,0375 + 0,02445 + 0,03325 + 0,02905 / 0,1129
C = 0,1243 / 0,1129 = 1,1005 anos
Este resultado também confirma o valor da alínea anterior.

1
to = 200 + 100 / (4000 + 3700) / 2 = 300 / 3850 = 0,07792
t; = 40 + 25 / (3700 + 3635) /2 = 65 / 3667,5 = 0,01772
tp =28+ 25/(3635 + 3582)/2 =53/3608,5 = 0,01469
ta =17+ 16/(3582 + 3549)/2 =33/3565,5 = 0,00926

m)
go = 200 + 100 / 4000 = 300 / 4000 = 0,07500
qr = 40 + 25 / 3700 = 65 / 3700 = 0,01757
qo =28+ 25/3635 =53/3635 = 0,01458
q = 17 + 16/3582 = 33/3582 = 0,00921

n)
ty = 100 + 40 / (3800 + 3660) / 2 = 140 / 3730 = 0,03753

0)
ty = 40 + 25 + 28 + 25 / (3700 + 3582) x (2/2) = 118/7282 = 0,01620
st4=40+25+28+25+17+ 16/(3700 + 3549) x (3/2) = 0,01389

Pp)
2qy = 40 + 25 + 28 + 25 / 3700 = 118 / 3700 = 0,03189
sq =40 +25 + 28+25+17+ 16/3700 = 151/3700 = 0,04081
ndx=2.0ntk/2 + DM kk
241) = 4 x 0,01620 / 2 + 0,03240 = 0,03188
sqi(*) = 6 x 0,01389 / 2 + 0,04167 = 0,04082

187
CAPÍTULO VI

| ANÁLISE DA MORTALIDADE

Ê 4 l Introdução

| i i O avanço metodológico que se verificou nos últimos dez a vinte anos na forma
| dl: de medir a mortalidade permitiu precisar com bastante clareza a sua diversidade no
| q!
tempo e no espaço. Esta diversidade deriva do facto de.a.sua.característica-principal
- 2. me
I | D| durante o século xx ser o seu declínio, Este declínio não se fez observar em tados
os países ao mesmo tempo e, nos países em que tal aconteceu, não declinou com a
eo: mesma velocidade nos diversos tipos de grupos que integram as estruturas sociode-
Biro mográficas.
|
[| As investigações sobre a mortalidade enquanto fenómeno social gravitam em
tomo de três eixos fundamentais: o
|
| * caracterização do declínio observado na época contemporânea:
| * estudo dos factores responsáveis por esse declínio;
| * identificação das diferenças observadas entre determinados srupos.

Quanto ao primeiro eixo — a caracterização do declínio da mortalidade —, os


mais recentes trabalhos de investigação têm demonstrado que o declínio da morta-
| lidade é diferencial segundo a época, os grupos de idades.e a áreageográfica. Na
realidade,se antes do século XIX existiam elevados níveis. de mortalidade (taxas de
mortalidade infantil acima dos 250 por mil e uma duração média de vida próxima. |
[4 dos 40 anos), uma das características mais importantes das condições sanitárias dos |
| . Ill países desenvolvidos foi a transição, durante Os Séculos XIX e XX, para níveis bai- |
| | Il xos de mortalidade (taxas de mortalidade infantil inferiores a 10 por mil e uma
| | ' duração média de vida que se aproxima dos 80 anos).
Í Contudo, este modelo geral de declínio, observado nos países desenvolvidos,
PE | não se processou ao mesmo tempo em todos.os.países.nem. atingiu igualmente todos
I

|Pp os grupos. de idades. Grande parte dos países apenas conheceram


um declínio sig=

188 :
nificativo a partir do fim daSegundaGuerra Mundial e os primeiros.grupos deidades
de, vida.
a serem beneficiados foram os primeiros, em.particular.o.primeiro.ano,
A procura das causas do declínio da mortalidade levou ao desenvolvimento da
investigação da Demografia Histórica nesta área temática, e os resultados não se
fizeram esperar. AA exi
existência, de elevados. níveis
de mortalidade no passado parece
ser devido õ
z
« existência de frequentes períodos de fome associados à ausência de. técnicas.
de armazenamento e de uma rede de transportes eficaz;
* subnutrição nas classes sociais menos abastadas:
* USAS
* epidemias (cólera, varíola, tifo);
* pestes;
* ausência de condições sanitárias.

A identificação destes factores permitiu explicar as causas do declínio da mor-


talidade nos países desenvolvidos e também identificar os factores que neste mo-
mento actuam no recente processo de declínio da mortalidade nos países menos
desenvolvidos.
Assim, sem pretendermos : ser exaustivos, podemos. hoje. globalizar a explicação
io da1 mortalidade | no. mundo. Os
factores mais relevantes parecem “ser Osos seguintes:

* factores educacionais (melhores conhecimentos sobre vestuário, alimentação);


« factores sanitários (melhores condições sanitárias e de higiene, nomeadamen-
te a canalização da água, a abertura de esgotos, a modificação dos condições
de habitação);
« factores ligados à medicina (melhores conhecimentos sobre prevenção, diag-
nóstico e cura de certas doenças);
« factores económicos (o desenvolvimento económico transformou as economias
de subsistência em economias de mercado, desenvolveu as redes de comuni-
cação e aumentou os níveis de bem-estar económico e social):
« factores sociais (melhoria nas condições de habitação e das condições de
trabalho).
Em síntese, a melhoria do nível de vida, das. condições gerais de..saúde.e..a
rapidez das comunicações criaram condições para que a mortalidade declinasse. de..
tal forma que a esperança de vida tem vindo sempre a.
do. mundo. Mas, tal como dissemos anteriormente, esse “declínio não se produziu
com a mesma intensidade no espaço planetário. Daí a diversidade de situações que
encontramos. Essa divergência ainda se acentua mais quando constatamos que nos
países desenvolvidos todos os factores enunciados anteriormente concorreram para
o declínio da mortalidade. Nos países não desenvolvidos. pelo.contrário,.o.declínio
obsexyado tem sido maior devido à.ajuda internacional.e.à xapidez.na-cireulação-da
informação do que devido. a.um. processo endógeno de. desenvolvimento.

. 189
Para além das diferenças espaciais e temporais nos níveis de mortalidade, nos
países desenvolvidos é sobretudo a eliminação da mortalidade diferencial o prin-
cipal objectivo a atingir nas. modernas. políticas sanitárias e da saúde pública.
A exploração dos dados disponibilizados pelos actuais sistemas de informação tem
demonstrado que a mortalidade varia com o nível socioeconómico, com a profis-
são, com o lugar de residência. e. com. certas. características..étnicas..e religiosas
A eliminação das diferenças entre países. ricos. e..países. pobres. é um. objectivo a
atingir à escala mundial, mas a sua eliminação implica um melhor conhecimento
dos comportamentos demográficos. o
É verdade que é preciso ter um melhor conhecimento dos factores sociais e
ambientais que intervêm na manutenção destas diferenças, mas também é neces-
sário aprofundar as técnicas de medição e caracterização da mortalidade enquanto
variável demográfica. É deste último aspecto que se ocupa a análise demográfica e
do qual nos iremos ocupar no presente capítulo.

Objectivos do capítulo VI:

conhecer a lógica e o processo de cálculo das Taxas Brutas de Mortalidade


enquanto medida elementar da mortalidade geral e compreender as razões
das suas limitações enquanto instrumento de análise
conhecer as precauções a ter em conta na utilização dos sistemas de informa-
ção demográfica disponíveis em Portugal e na Europa
* aplicar o princípio da estandardização directa, ou o método da população-
-tipo
conhecer e saber calcular as medidas de mortalidade infantil, mortalidade por
meses e por causas
* saber construir as tábuas de mortalidade e analisar o significado das diversas
funções que integram este sofisticado instrumento de medida da mortalidade
geral
conhecer a lógica dos métodos indirectos de medida da mortalidade geral
com particular enfoque no caso particular das tábuas-tipo de mortalidade

6.1. As Taxas Brutas de Mortalidade enquanto medidas elementares da mortali-


dade geral

O processo mais simples que existe para 10 edirmos.o-níxel.da mortalidade geral


consiste em dividir. o total. de..óhitos. observados. num. determinado. período. pela
população.média. Assim, por exemplo, em Portugal, em 1950, tivemos 102 915
óbitos e 8 441 315 habitantes como população média e, em 1990, tivemos
103 115 óbitos e 9 883 400 habitantes como população média. As Taxas Brutas de
Mortalidade são as seguintes:

TB.M. (1950) = 102915 /8 441 315 x 1000 = 12,19 por mil


TB.M. (1990) = 103 115 /9 883 400 x 1000 = 10,43 por mil

190 :
Não podemos deixar de ficar insatisfeitos perante os resultados obtidos. Como
é que Portugal tem uma taxa em 1990 de 10,43 por mil, quando em 1950 tinha uma
taxa de 12,19 por mil? Será possível ter havido, num período de 40 anos, apenas
um declínio de 14%” Se o nível de mortalidade mede, em geral, o nível das condi-
ções gerais de higiene e saúde, podemos dizer que em 40 anos as condições gerais
de saúde aumentaram apenas 14%? no
Certamente que tal não aconteceu. À Taxa Bruta de Mortalidade é um instru-
mento grosseiro que isola muito rudimentarmente. os. efeitos. de estrutura. Daí a
“necessidade de recorrer a outros métodos que isolem de uma forma menos s elemen.
tar o verdadeiro modelo do fenómeno. “
Para melhor compreendermos a forma de superar os inconvenientes de uma
taxa bruta vejamos um pouco mais em detalhe os seus elementos constitutivos. Tal
como precisámos anteriormente, podemos definir uma taxa bruta como sendo uma
soma de produtos das estruturas relativas em cada idade pelas taxas nessas mesmas,
idades. Como ao conjunto das taxas por idades se chama o modelo do fenómeno
mortalidade, a taxa bruta de mortalidade pode ser redefinidacomo uma F ultante.
da interacção entre o modelo e a estrutura da mortalidade,
Eloa Ai

QUADRO 3
Evolução dos óbitos e da população portuguesa no período 1950-1990
Óbitos População Óbitos . População
G. Idades 1949-52 31/12/1950 1990 31/06/1990
0 19277 174 855 1279 112 000
1-4 anos 9426 714 859 338 485 900
5-9 anos 1528 - 798678 255 698 100
10-14 anos 928 799 693 321 799 700
15-19 anos 1551 810 964 823 828 300
20-24 anos 2279 761 703 986 823 200
25-29 anos 2256 681 256 966 800 900
30-34 anos 1905 541 099 1038 704 600
35-39 anos 2301 567 333 1241 637 600
40-44 anos 2721 524 737 1572 588 700
45-49 anos 3 148 460 041 2060 526 300
50-54 anos 3 628 390 566 3212 549 100
55-59 anos 4412 331777 4873 538 900
60-64 anos 5 985 294 239 6929 504 400 .
65-69 anos 7408 229 976 9908 438 500
70+anos 34 162 359 539 67314 847 200
Total 102915 8 441315 103 115 9 883 400

Em linguagem de análise demográfica temos:

TBM. (1950) = X px (1950) tx (1950)


T.B.M. (1990) = 3 px (1990) tx (1990)

. 191
Quer calculando as taxas brutas de. mortalidade. pelo. processo - mais simples,
ass
lando por esta
| forma mais complexa, o resultadoé o mesmo. Porém, Rare

neste último caso, ficam perfeitamente visíveis OSs dois. factores.


trioii intervenientes: o
modelo e as estruturas.
“As diferenças obs observadas na evolução da mortalidade em Portugal no período
1950-1990 tanto podem provir dos ty (modelos da mortalidade). como.dos.pyestra-
turas da população). Essas Variações têm significados completamente diferentes:
steacameneias

te consequentemente E diferenças nas condições . gerais de saúde e higiene); diferen


er n-
ças entre estruturas (maior ou menor envelhecimento demográfico) são. alheias à

QUADRO 4
Níveis de mortalidade e estruturas demográficas de Portugal no período 1950-1990
G. Idades Tx (1950) Px (1950) Px.Tx (1950) Tx (1990) Px (1990) Px.Tx (1990)
0 110,25 0,0207 2,28 11;42 0,0113 0,13
1-4 anos 13,19 0,0847 112 0,70 0,0492 0,03
5-9 anos 1,91 0,0946 0,18 0,37 0,0706 0,03
10-14 anos 1,16 0,0947 0,11 0,40 0,0809 0,03
15-19 anos 1,91 0,0961 0,18 0,99 0,0838 0,08
20-24 anos 2.99 0,0902 0,27 1,20 0,0833 0,10
25-29 anos 3,31 0,0807 0,27 1,21 0,0810 0,10
30-34 anos 3,52 0,0641 0,23 1,47 0,0713 0,10
35-39 anos 4,06 0,0672 0,27 1,95 0,0645 0,13
40-44 anos 5,19 0,0622 0,32 2,67 0,0596 0,16
45-49 anos 6,84 0,0545 0,37 3,91 0,0533 0,21
50-54 anos 9,29 0,0463 0,43 5,85 0,0556 0,33
55-59 anos 13,30 0,0393 0,52 9,04 0,00545 0,49
60-64 anos 20,34 0,0349 0,71 13,74 0,0510 0,70
65-69 anos - 32,21 0,0272 0,88 22,60 0,0444 1,00
70-+anos 95,02 0,0426 4,05 79,45 0,0857 6,81
Total 12,19 1 12,19 10,43 1 10,43

Os modelos de mortalidade devem ser representados graficamente para melhor


se poder visualizar a evolução e a forma do modelo da mortalidade por grupos de
idade de Portugal em 1950 e 1990.
Independentemente das variações de intensidade nos diferentes grupos de ida-
de, os modelos são muito semelhantes. Se representássemos outros países (nos dias
de hoje ou em épocas mais recuadas) chegaríamos à mesma conclusão: q mortali-.
dade tem um modelo único que tem a forma de um «U». Neste modelo o lado
esquerdo tem, no início, valores elevados (devido à importância da mortalidade
infantil); em seguida, os valores começam a diminuir até atingirem um mínimo que
se situa entre os 10 e os 20 anos; entre os 20 e os 40 anos os valores são muito
idênticos (ou com uma ligeira subida); a partir desta idade (cujo limite é variável)
a mortalidade aumenta em ritmo acelerado formando o lado direito do «U».

192 .
Algumas excepções neste modelo geral de mortalidade têm sido, no entanto,
observadas: quando a tuberculose é uma importante causa de morte, encontra-se,
na maior parte dos casos, uma pequena elevação na curva, que exprime o modelo
de mortalidade entre os 20 e os 40 anos; quando é a diarreia ou a enterite uma das
principais causas de morte, o declínio rápido, que é normalmente observado. nos.
primeiros anos de vida, é em geral mais suave.

taxas. 1000 60

40

20

w Taxas 1990
Taxas 1950

. H Taxas 1950 ElTaxas 1 990 É

Figura 20 — Evolução dos modelos de mortalidade em Portugal


no período 1950-1990

A partir destes princípios gerais, se observarmos com atenção os valores numé-'


ricos das taxas de mortalidade por grupos de idades em 1950 e em 1990, podemos,
identificar as diferenças típicas, entre. os modelos . da «mortalidade. antiga». (das.
sociedades de Antigo Regime. ou. dos países não desenvolvidos) e os modelos da.
«mortalidade moderna» (das sociedades desenvolvidas actuais):

* nos modelos de «mortalidade antiga», a mortalidade no primeiro


é bastante elexado (quanto mais subdesenvolvido é um país, ou quanto mais
recuamos no tempo, maior é a elevação do braço esquerdo do «U»); a base do
«U» raramente tem valores idênticos entre os 20 e os 40 anos observando-se,
pelo contrário, uma ligeira subida nos valores (em 1950 varia entre 2,99 e
4,06); depois dos 40 anos começa a subida acentuada das taxas;
« nos modelos de «mortalidade moderna»...a.mortalidade.no-primeiro-ano-de.
vidaé bastante baixo e o braco esquerdo
do «U» é pouco elevado; a base do
«U» têm uma grande estabilidade de valores entre os 20 e os 40 anos (em
1990 varia entre 1,20 e 1,95); a formação do braço direito do «U» tem dois
momentos — uma ligeira subida das taxas entre os 40 e os 60 anos e, poste-
riormente, um aumento significativo dos valores.

193
Esta semelhança de modelos que encontramos em países quer com baixo quer
com elevado nível de mortalidade mostra claramente a relação que existe entre a
idade e os riscos de morte nas diferentes populações. “Quando comparamos duas
populações, ou duas épocas temporais diferentes, se num determinado grupo de
idades a mortalidade é cinco vezes maior numa população do que noutra, tal facto
implica que, em princípio, iremos encontrar sempre uma maior mortalidade nessa
população em todos os grupos de idades (excepto, por vezes, nos últimos). Tal.
Jelação é é devida ao facto de as pessoas que pertencem a uma determinada popula-
m : as mesmas condições de saúde. a
m face do exposto, podemos agora compreender porqueé que as.taxas brutas
drutas
de mortalidade são muito sensíveis, , e
população serem diferentes nos grupos em que aa mortalidade é mais intensa para,
termos importantes efeitos d fura que. nos impossibilita a comparação, entre,
“Vejamos o exemplo apresentado anteriormente: no grupo 70 e + anos, as taxas
(ou modelos) têm os valores mais elevados (superiores a 75 por mil) nas duas
épocas; mas a população portuguesa nesse grupo etário tem, em 1950, 4% do total
da população enquanto, em 1990, tem 9% do total da população. Consequentemente,
a intersecção entre as duas componentes da taxa tem resultados interessantes — em
1950, a taxa é de 95 por mil, a percentagem da população é de 4%, a interacção tem
um resultado final de 4,05. Em 1990, a taxa tem um valor menor (79 por mil), a
percentagem da população é maior (9%), mas a interacção final é maior (6,81). Em
síntese, a menor taxa de mortalidade no grupo etário 70 e + anos produz um
resultado final mais elevado. A diferença é uma consequência das estruturas e não
dos modelos.
Neste contexto, podemos afirmar que a validade de uma análise feita através
das taxas brutas de mortalidade. é.tanto.menor.quanto. mais diversificadas forem.as,
estruturas das regiões ou das épocas que se querem comparar. Inversamente, a
validade aumenta com a homoogeneização das estruturas. populacionais.
o “Compreende- -se, deste modo, como é que, apesar das grandes limitações apon-
tadas, numa perspectiva tetem
mporal, são frequentemente1 utilizadas as taxas brutas.
I emelhança dide
estruturas das. populações no. passado. torna possível aExistência de comparações
com um mínimo de segurança. Ao invés, à medida que nos aproximamos dos
nossos dias, a diversidade de estruturas existentes no mundo, entre épocas e entre
regiões num mesmo país, em particular a diversidade provocada | pelo envelheci-
mento demográfico, impossibilita as comparações. Daí a necessidade de nos socor-
rermos de outros métodos que mantenham.o. efeito das estruturas constantes.

6.240 princípio da estandardização: o método da população-tipo 1

Depois de termos analisado as taxas brutas de mortalidade, enquanto medida


elementar de análise da mortalidade geral, e de termos chegado à conclusão de que
se trata de um índice grosseiro que isola muito rudimentarmente os modelos das

194
estruturas, vejamos que outros processos de medição da mortalidade geral podem
ser utilizados em análise demográfica transversal.
Separaremos, na nossa exposição, os dois princípios fundamentais da análise
transversal que, conforme vimos no capítulo anterior, correspondem a dois objecti-
vos diferenciados, embora complementares. Começaremos por ver como se ablica
à mortalidade o princípio da estandardização (que tem como objectivo separar O
impacte das estruturas das frequências). Posteriormente veremos como se mede
a intensidade e o calendário.
Para se aplicar o princípio da estandardização podemos socorrer-nos de vários
métodos:estandardização directa, estandardização indirecta, médias das frequên-
cias e análise por componentes principais. Como, em geral, o método mais utiliza-
do.é.o primeiro, não desenvolveremos a aplicação dos outros. Tal não significa que
não possam ser aplicados. Apenas significa que não sendo vulgar a sua utilização
(e quando se utilizam nada de novo se acrescenta às informações obtidas pela
estandardização directa) entendemos ser inútil acrescentar mais do que já foi dito
anteriormente.
Antes de desenvolvermos a aplicaçãoà mortalidade do método da estandardi-

to cálculo de taxas por idades (ou grupos de idade) entre idades exactas.
Semelhante constatação implica que convém ter sempre presente as Precauções

de forma a eliminar as flutuações aleatórias e os. erros.


Depois de relembradas as principais precauções a ter no cálculo das taxas por
todo dda estandardização

ção, ervindo-nos do a popu ioga hs “iponhamos que queremos comparar à a


evolução da mortalidade em Portugal, cujas taxas são as seguintes:

T.B.M. (1950) = z Dx (1950) t; (1950)


T.B.M. (1990) = 3 pr (1990) t, (1990)

Se escolhermos como tipo a população de 1950, ou seja, se admitirmos que as


novas taxas obtidas para 1990 (1990' utilizam a mesma estrutura de 1950, temos:

T.B.M. (1950) = 3 px (1950) t, (1950)


T.B.M. (1990') = 5 px (1950) t, (1990)

Se escolhermos como tipo a população de 1990, ou seja, se admitirmos que as


novas taxas obtidas para 1950 (1950' utilizam a mesma estrutura de 1990, temos:

T.B.M. (1950') = px (1990) tz (1950)


T.B.M. (1990) = X ps (1990) t, (1990)
avo

Se analisarmos o declínio da mortalidade observado em Portugal, no perío-


do 1950-1990, através das taxas brutas de mortalidade temos um declínio de
VI

. 195
RT
| |
Pol
if

(10,43— 12,19) / 12,19 = —14%; se utilizarmos o método da população-tipo com |


a população de 1950 temos (6,39— 12,19) / 12,19 = —48%; se utilizarmos o.
: método da população-tipo com a população de 1990 obtemos o seguinte valor: ”
o (10,43 — 15,83) / 15,83 = —34%.

QUADRO 5
Aplicação do método da população-tipo a Portugal
Í : Método da População-Tipo Método da População-Tipo
Ria G. Idades Tipo 1950 Tipo 1990
o Tx (1990) Px (1950) Px. Tx Tx (1950) Px (1990) Px. Tx
| | 0 11,42 0,0207 0,24 110,25 0,0113 1,25
| Vl E 1-4 anos 0,70 0,0847 0,06 13,19 0,0492 0,65
Fo | 5-9 anos 0,37 0,0946 0,04 1,91 0,0706 0,13
o | E 10-14 anos 0,40 0,0947 0,04 LIi6 0,0809 0,09
ELO 15-19 anos . 0,99 0,0961 0,10 1,91 0,0838 " 0,16
| no 20-24 anos 1,20 0,0902 :-. 0,11 2,99 0,0833 - 0,25
É 25-29 anos 1,21 0,0807 0,10 331 0,0810 0,27
] Vs 30-34 anos 1,47 0,0641 0,09 3,52 0,0713 0,25
| Pi 35-39 anos 1,95 0,0672 0,13 4,06 0,0645 0,26
ao 40-44 anos 2,67 0,0622 0,17 5,19 0,0596 0,31:
Ebro 45-49 anos 3,91 0,0545 0,21 6,84 0,0533 0,36
oco 50-54 anos 5,85 — 0,0463 0,27 9,29 — 0,0556 0,52
nho: | 55-59 anos - 9,04 0,0393 0,36 13,30 0,0545 0,72
| | 60-64 anos 13,74 0,0349 0,48 20,34 0,0510 1,04
Uj | 65-69 anos 22,60 0,0272 0,61 32,21 0,0444 143
| 70+anos 79,45 0,0426 3,38 95,02 0,0857 8,14
j : Total 10,43 1 6,39 12,19 1 15,83
Et TBM (1950) = 12,19 por mil TBM (1990) = 10,43 por mil
Declínio = (10,43 — 12,19)/ 12,19 x 100 = 14,4%

População-Tipo de 1950
Declínio = (6,39 — 12,19) / 12,19 x 100 = —47,6%

População-Tipo de 1990
Declínio = (10,43 — 15,83)/ 15,83 x 100 = -34,1%

Diagnóstico final do declínio no período 1950-1990: (—- 47,6% — 34,1%) / 2 = —40,9%

| Em síntese, o declínio real da mortalidade não foi de 14% mas de 41% (a


média dos dois métodos).
| O princípio da estandardização pode ser aplicado através de outros métodos,
que não desenvolveremos, por serem pouco utilizados em Demografia. O método
da mortalidade-tipo merece, no entanto, algumas considerações adicionais.
Em função do que foi dito a propósito da população-tipo apenas referimos o
facto de que, neste caso, quando comparamos duas épocas ou regiões, est
perante uma única série de.taxas. de mortalidade, à.qual.aplicamos. as. populações a.a

196
a ser comparado
comparar. Consequentemente, é o total de óbitos reais que passa
com os «óbitos esperados» e obtemos assim novos. índices estandardizados
Tal como no método da população-tipo. apenas. se.obtêm.índices.compazatixos
que só são utilizados em análise demográfica nos casos em que se estudam popula-
ções de pequena dimensão.

6.3. As medidas de mortalidade em grupos específicos

As media
Às medidas deEnciro amet
seem mortalidade. infantil

As medidas de mortalidade infantil são frequentemente utilizadas como indica-


dores do nível de desenvolvimento da. sociedade, atendendo ao facto do seu nível
estar relacionado a algumas variáveis socioeconómicas fundamentais, tais como o
nível de educação dos pais, as condições de higiene, a acessibilidade e a qualidade,
da assistência médico-sanitária. Nos dias de hoje, nos países ocidentais, a mortali-
dade infantil está cada vez menos associada
a este tipo de indicadores e está cada
vez mais dependente do que sociais, tais como os facto-
de causas mais biológicas
res congénitos e os riscos no. parto. Em todo o caso, continua a ser muito importan-
te oestudo
da mortalidade infantil nas suas múltiplas. vertentes. |
O indicador
de mortalidade infantil. mais. conhecido.é.a.Taxa. de.Mortalidade
Infantil.
Se, numa perspectiva de análise demográfica, aplicarmos a noção de taxa
teríamos apenas de dividir o total de óbitos observados entre os O e 1 anos exactos
pela população média existente
nesse intervalo de idades. Por exemplo, se em
Portugal, houve 174 685 nascimentos em 1972, 172 324 nascimentos em 1973,
7726 óbitos com menos de um ano de vida em 1973, e a população calculada para
o meio do ano de 1973, com menos de um ano, foi de 165 300 pessoas, ao aplicar-
mos a noção de taxa teríamos:

1.º versão do cálculo da TMI (aplicação da noção de taxa)


TMI = (Óbitos com menos de 1 anos / População Média) x 1000
TMI (1973) = (7726 / 165 300) x 1000 = 46,74 por mil

Porém, quando se fala de taxa de mortalidade infantil, chama-se.taxa


a algo que
é UM
quociente,
na realidade ou seja, quando dividimos os óbitos com menos.de
um ano de vida pelo efectivo
de nascimentos observados.nesse.ano. Estamos assim.
perante um indicador que se obtém através da ge: ão da noção de. te
e não aplicando a noção de taxa. Se aplicarmos este raciocínio aos dados do exem-
plo apresentado anteriormente, temos:

2.º versão do cálculo da TMI (aplicação da noção de quociente)


TMI = (Óbitos com menos de 1 anos / Nascimentos) x 1000
TMI (1973) = (7726 / 172 324) x 1000 = 44,83 por mil

À taxa de mortalidade infantil, que resulta


da aplicação da generalização
da,
noção de quociente, é-usual.chamar-se. Taxa de.Mortalidade Infantil Clássica, Tem

197
Aa incontestável
conicaá vantagem de
ve: vantagem de relacionar dice.
relacionar directamente
os. óbitos no primeiro
Oiano de
| | vida com os nascimentos, em vez de os relacionar com a população média, como é
| ú O caso da aplicação da noção de taxa.
|| Porém, esta forma de calcular a “mortalidade infantil também não é inteiramen-
1
porque. os óbitos observados. num ano civil

ano de vida resultam dos 172 324 nascimentos observados em 1973 e dos 174 685
nascimentos observados em 1972.
Uj Nos países onde existe a dupla classificação, resolve-se facilmente. esta situa-
| ção fazendo a soma das duas relações. Suponhamos que em Portugal os 7726
Vl óbitos se repartem da seguinte forma: 5563 no primeiro triângulo pertencente à
geração de 1973 e 2163 no segundo triângulo, pertencente à geração de 1972. Para
resolver o problema bastaria dividir os óbitos pelos nascimentos e somar [(5563 /
/ 172 324) + (2163/ 174 685)] x 1000 = 44,66 por mil..
É evidente que este novo valor é tanto mais di rgente. do. calculado anterior
s. gerações. Se os efectivos
forem i iguais, | basta calcularmos a Taxa de Mortalidade Infantil Clássica. No entan-
to, conforme já dissemos anteriormente, a dupla classificação é recente em Portu-
gal e quando trabalhamos a uma escala mais reduzida, esta informação não está
disponível. A única solução é imputar os óbitos infantis a uma média ponderada
dos, dois efectiv ntos em causa. Chama-se a este processo de cálculo
) taxa de mort lidade, infantil passa a chamar- -sea
Verdai leira Taxa de Morta. ic lade Infantil e que tem a seguinte fórmula de.cálculo:

3.2 versão do cálculo da TMI (a verdadeira taxa infantil)


TMI = (Óbitos com menos de 1 anos / (k" No+ kK' Ni) x 1000
TMI (1973) = 7726 / [(0,20) 174 685) + (0,80) 172 324)] x 1000 = 44,71 por mil

Conforme se pode verificar, a diferença entre as duas taxas,é.praticamente-nula-


devido. aos efectivos de nascimentos em 1972 e 1973 serem quase iguais. Mas,|
atendendo é ao facto de que nem sempre assim, acontece, mesmo nos casos de mor
talidade infantilabaixo dos cinquenta por milé sempre prudente calcular a taxa de
mortalidade infantil, verdadeira.
Os ponderadores utilizados são os calculados por Shryock e Siegel e que vie-
ram substituir os da escola francesa de Reed e Merrel (Shryock e Siegel, 1976):

QUADRO 6
Ponderadores para o cálculo da mortalidade infantil
190 K' Kº
200 0,60 0,40
150 0,67 0,33
100 0,75 0,25
50 0,80 0,20
25 0,85 0,15
15 0,95 0,05

198 .
As causas que originam a mortalidade infantil podem ser agrupadas em duas
grandes categorias: as endógenas e as exógenas. As primeiras são a consequência
de “deformações congénitas (que nascem com o indivíduo), de taras hereditárias
ou d“de tr:
traumatismos causados pelo parto. Estes óbitos ocorrem normalmente> duran-
te o primeiro mês, em particular nos primeiros dias. Quanto aos óbitos exógenos,
estão9ligados
figad a causas exteriores (doençasiiinfecciosas, subalimentação, .cuidados
hospitalares.
sinsuficientes é acidentes diversos).
A separação dos óbitos infantis em endógenos e exógenos supõe, em princípio,
a existência de estatísticas de óbitos por causas de morte. Existe,porém, |um méto-
do simples, gue, dispensa. o. conhecimento. dos óbitos. por dias e.e. idades. Em termos
práticos, para se obter 9 total dos óbitos exógenos no primeiro ano de vida, basta
ão 4 ntervalo 31-365 dias, ou ainda, aumen-
tass e 224 8%.0s. do intervalo 28-365 dias, - Admite-se
Ad assim a hipótese « de que. os
Orrem. nO “primeiro mês de. vida, enquanto os exógenos. se. pro-.

endógenos, calcula-se a| percentagem de óbitos exógenos através das regras ante-


riormente mencionadas.
No caso concreto de Portugal, como dispomos de informação para o período de
28-365 dias, calculam-se os óbitos exógenos aumentando os óbitos observados nesse.
períodoem 22,8%. Os óbitos endógenos são obtidos fazendo a diferença entre o total
de óbitos infantis € os óbitos exógenos. À Taxa de Mortalidade Infantil Endógena
obtém-se dividindoo total de óbitos endógenos pelos nascimentos £A Taxa de
Mortalidade Infantil É Exógena obtém-se dividindo o totaldde óbi os
nascimentos. Consequentemente, a Taxa de Mortalidade Infantil Clássica é igi
Taxa de Mortalidade Infantil Endógena mais a Taxa de. Mortalidade, Infantil Exógena.
—"*Retomemos o exemplo apresentado. Os 7726 óbitos com menos de um ano
observados em Portugal, se consultarmos as Estatísticas Demográficas, repartem-se
da seguinte forma:

óbitos com menos de 28 dias 3647


óbitos com menos de 7 dias 2502
óbitos com 7-13 dias 483
óbitos com 14-20 dias 397
óbitos com 21-27 dias 265
fetos-mortos com 28 e +semanas 3319
óbitos com 28-59 dias 852
óbitos com 2 meses 716
óbitos com 3 meses 518
óbitos com 4 meses 426
óbitos com 5 meses 370
óbitos com 6 meses 319
óbitos com 7 meses 239
óbitos com 8 meses 186
óbitos com 9 meses 175
óbitos com 10 meses 146
óbitos com 11 meses 132

. 199
Assim, temos 3647 óbitos com menos de 28 dias e 4079 com mais de 28 dias.
Em função do que dissemos, para obter o total de óbitos exógenos temos de acres-
centar aos 4079 óbitos com mais de 28 dias os óbitos exógenos com menos de 28
dias, ou seja 4079 x 0,0228 = 930; logo:

óbitos exógenos = 930 + 4079 = 5009


óbitos endógenos = 7726 + 5009 = 2717

O que permite o cálculo das seguintes taxas:

Taxa de Mortalidade Endógena 2717 / 172 324 x 1000 15,77 por mil
Taxa de Mortalidade Exógena 5009 / 172 324 x 1000 29,07 por mil

E, consequentemente:

T. M. Infantil Clássica = T. M. Infantil Endógena + T M. Infantil Exógena


44,84 = 15,77 + 29,07

Em análise demográfica, a decomposição da mortalidade infantil em endógena


e exógena é incontestavelmente o tipo de “análise. mais utilizado. Porém, dada a
“importância da mortalidade nos primeiros anos de vida, existem outros tipos de
taxas que são muito utilizados como indicadores do estado sanitário de uma popu-
lação.
As principais são as seguintes:

* A Taxa de Mortalidade Neonatal — obtém-se dividindo os óbitos de crianças


com menos de 28 dias de ida pelos. nados- -VÍVOS; no no exemplo.temos:

T. M. Neonatal = 3 647 / 172 324 x 1000 = 21,16 por mil

deeça o

“Tardia— — atendendo ao peso no período Neonatal dos óbitos de crianças com


menos de 7 dias (ou do grupo 0-6 anos completos) costuma ..separar-se--a.
mortalidade Neonatal precoce da tardia; na mortalidade Neonatal precoce,
divide-se O total, de óbitos com menos, de 7 dias. pelos. nascimentos. e.na
"mortalidade Neonatal tardia divide-se o total dos óbitos no grupo 7- 27 dias
no nosso. exemplo temos:
também pelos nascimentos;
T. M. Neonatal Precoce = 2502 / 172 324 x 1000 = 14,52 por mil
T. M. Neonatal Tardia = 1145 / 172 324 x 1000 = 6,64 por mil

A Taxa de Mortalidade Neonatal (21,16 por mil) é igual à soma da Taxa de


Mortalidade Neonatal Precoce (14,52 por mil) e da Taxa de Mortalidade
Neonatal Tardia (6,64 por mil).

200
*« A Taxa de Mortalidade Pós-Neonatal — obtém-se dividindo os.óbitos com.
28-365 dias pelos nascimentos;
no nosso exemplo temos:

T. M. Pós-Neonatal = 4079 / 172 324 x 1000 = 23,67 por mil

Se somarmosa Taxa de Mortalidade. Pós:Neonatal. (23,67 por mil). comsirenea


Taxa de Mortalidade Neonatal (21,16 por mil).obtemos de novo aTaxa
Mortalidade Infantil Clássica (44,83 por mil).
* A Taxa de Mortalidade Fetal Tardia ou Mortinatalidade — obtém-se dividins
do o número de fetos-mortos.
em Em mr SPSS com. 28 ou. mais. semanas. de. gestação. pelos
nascimentos; no nosso exemplo temos:

T. M. Fetal Tardia = 3319 / 172 324 x 1000 = 19,26 por mil

e A Taxa de Mortalidade Pré-Natal — obtém-se dividindo os óbitos pré-natais


(óbitos fetais tardios e óbitos neonatais precoces) pelos nascimentos; no nos-
so exemplo temos: A

T.M. Pré-Natal = (3319 + 2502) / 172 324 x 1000 = 33,78 por mil

* A Taxa de Mortalidade Fetoslnfantil — obtém-se dividindo. os. óbitos.fetais


tardios mais os óbitos com menos. de um ano pelos nascimentos: no nosso
exemplo temos:

T.M. Feto-Infantil = (3319 + 7726) / 172 324 x 1000 = 64,09 por mil

Conforme se pode verificar a Taxa de Mortalidade. Feto=Infantil (64,09 por


mil) é igual à soma da Taxa de Mortalidade. Infantil Clássica. (44,83 por mil)
com a Taxa de Mortalidade Fetal Tardia, (19,26 por mil).

A mortalidade por meses

Em análise demográfica é vulgar acontecer haver a necessidade de examinar.


as variações da mortalidade eeral (ou da mortalidade infantil) por meses, para
melhor se compreender as relações desta variável demográfica com o meio
envolvente. Vejamos o conteúdo de cada um dos métodos
de cálculo mais usual-
mente empregues:

co método das proporções (ou percentagens) consiste em, como o próprio.


nome indica, dividir os óbitos observados em cada mês pelo total anual e
multiplicar o resultado. por. 100. para se. obter.o. resultado em. percentagem,
este método produz importantes distorções na análise por não ter em conside:
ração a diferente. amplitude: des FReSes

201

a
| | * o método das taxas mensais reduz as taxas aos efectivos anuais multiplicando
| o número médio de óbitos mensais pelo número de dias do: an idos pela
pela

(Óbitos mensais / dias do mês) x (365 ou 366 / P. média) x 1000

| ou
SN
| | [(365 ou 366 / dias do mês) x óbitos mensais)] x P. média x 1000
|
* o método dos números proporcionais tem a mesma lógica do anterior e ASA
grande vantagem reside no melhor poder de comparação, sobretudo quando

o sais pelo número de dias do mês. “Estes números médios. de-óbitos.por. dia.são
| em seguida substituídos por números proporcionais.de modo.a.que.o.seu. total
| E seja igual ada mês fica assim seprecentado. por um número, inde-
| pendente “da duração do mês em dias, e de forma a que o seu desvio (positivo
i
| ou negativo) em relação a 100 indique o carácter particular do mês. Se não
| o houvesse diferença entre os meses teríamos 100 em cada um dos meses.
JEM |
do Se compararmos os resultados obtidos pelos três métodos facilmente verifica-
E| | mos, no exemplo apresentado, que os dois últimos conduzem a uma hierarquia
to entre os meses muito idêntica: o mês de Janeiro é o de maior intensidade; seguindo-
|
all -se os meses de Fevereiro, Dezembro e Março. No primeiro método, por não ter em
| conta as desigualdades existentes entre os meses, indica-nos que a seguir ao mês de
Bo Janeiro o mês de maior mortalidade é o de Dezembro quando, na realidade, é o mês
na! de Fevereiro.

QUADRO 7
Os métodos de cálculo da mortalidade por meses
| A Métodos
| | | | Meses Obitos Percentagens Taxas N.º Proporcionais
| E : | Janeiro 11925 12,50 16,39 31 384,68 147
ki Fevereiro 9339 9,79 14,09 28,25 330,58 126
| | dl Março 8 348 8,75 11,48 31 269,29 103
| Pd Abril 7073 741 10,05 30 235,77 90
ORE Maio 6 864 7,19 9,44 31 221,42 85
| NE | Junho 6613 6,93 9,39 30 220,43 84
É Il j Julho 6 613 6,93 9,09 31 213,32 82
E í Agosto 6 958 7,29 9,57 31 224,45 86
|| Setembro 6 689 7,01 9,50 30 222,97 85
[ | Outubro 7525 7,88 10,35 -31 242,74 93
| | | Novembro 7664 8,03 10,89 30 255,47 98
Il O Dezembro 9 824 10,29 13,51 31 316,90 121
| | Total 95 435 3138,02 1200
| Nota: População média = 8 564 200.
|

202
A mortalidade
por causas de morte.
Um outro aspecto respeitante à análise da mortalidade diz respeito ao seu estu-
do por causas de morte. Para que uma análise deste tipo possa ser levada a efeitoé
necessário que se disponha a « de uma, divisão dos óbitos anuais por causas de morte,
e que essa divisão possa ser comparável no tempo € no espaço. Na realidade, as
causas tm de1morte são um « excelente “caminho para. se relacionar a mortalidade com
as ; condições “sanitárias, sociais € económicas. existentes num. determinado espaço.

“ounum determinado período de tempo,


“AS causas de morte encontram-se tipificadas numa classificação válida interna-
cionalmente cuja primeira versão foi elaborada em finais do século XIX. Posterior-
mente tem havido sucessivas revisões que se encontram descritas nas Estatísticas
Demográficas e, posteriormente, nas Estatísticas da Saúde publicadas pelo Instituto
Nacional de Estatística.
No estudo da mo ortalidade por causas podem 1 utilizar-se os. mesmos, indicadores.
: taxas brutas, taxas por, idades, taxas estandardizadas. Em
geral, os resul apresentados multiplicando. os.resultados obtidos.por.cem,
mil ou1 por por dez mil para dar mais visibilidade. aos. xesultados.obtidos.
No que diz respeito à construção de tábuas de mortalidade por causas de morte
a sua utilidade é muito relativa. Pelo contrário, o cálculo de. tábuas. de mortalida:
de na ausência de uma determinada causa de morte já é bastante mais, frequente.
“Neste cure último
inn
caso, podemos apreciar « o efeito de - uma causa concreta de mortali-.
dade ) numa a populaçã quando comparamos o os resultados obtidos. com.a.tábua de.
de geral. Por exemplo, que esperança de vidaà nascença teríamos em
“mortalidade
Portugal s se desaparecessem todas as mortes provocadas pelo cancro?
De qualquer forma, julgamos ser importante assinalar que este tipo de análise
se baseia num pressuposto fictício, ou seja, que existe uma, total independência.
entre as causas de morte. Na realidade, o que se passa é que as consequências das
variações de uma determinada causa de morte não são apenas a nível da mortalida-
de geral, mas também no comportamento das outras causas. mortalidadeA e geral
não é resultante de uma simples soma das diferentes causas de morte morte, mass de uma
conjugação muito específica entre essas causas.
Destas considerações resulta que por vezes se revela inútil sofisticar em demasia.
a análise da mortalidade por causas. É preferívelexplicitar, ou analisar em profundida-
de, em cada fase do ciclo de vida, a causa de morte mais importante: as causas
congénitas e os problemas perinatais nos mais pequenos; as causas externas. nas crian-
ças, adolescentes e jovens; os tumores e as doenças cardiovasculares nos adultos: as
circulatórias nas pessoas idosas. “Este modelo simplificado é o mais utilizado nos
países com umá esperança de vida elevada, como é o caso da população portuguesa.

6.4. O princípio da translação: a construção das tábuas de mortalidade

Se.com a aplicação do princípio da estandardização se procura manter O efeito


das estruturas Hp. .o, princípio da
constante te. encontrar. indices.5 comparativos), £om.o,

203
-calculadas em transversal. Aplica-se, assim, o método da coorte fictícia, que con-
“siste em transpor os fenómenos que se observam num determinado “momento “do,
tempo para uma coorte imaginária. .
| Antes de vermos como é que isto se processa no caso concreto da mortalidade
|
(que lida com acontecimentos não renováveis que excluem as pessoas do campo de
4
| observação) lembremos que a intensidade mede o número..de. acontecimentos. por
pessoa e que “o calendário mede a sua repartição. no tempo..
Quantoà intensidade total, no caso da mortalidade, trata-se. de. .uma.medida.
sem interesse visto esta ser. sempre igual à unidade (todos somos mortais). O.mes-,
o acontece com o calendário. Ao ser resumido pelo índice de tendência
central mais vulgar — a média — - possibilita o conhecimento. da duração. de. vida
média das. pessoas.
Podemos ir até mais longe numa óptica longitudinal. Conforme vimos, no.
caso dos acontecimentos não renováveis, é possível encontrar ou
ticas da distribuição, nomeadamente os riscos de morte, ou seja mocientes.
à partir destes quocientes podemos. construir uma. tábua de mortalidade. POr SE
eme
tação.
di Já sabemos que os nossos dados não nos possibilitam o cálculo de tábuas de
| mortalidade em longitudinal. Mas, mesmo que tal fosse possível, convém salientar
| que, na maioria dos casos, interessa-nos muito mais observar as condições de mor-
o talidade existentes num determinado momento do que seguir uma geração durante
umas largas dezenas de anos. Por outras palavras, mesmo que os. dados estejam
disponíveis, é sempre aconselhável construir uma tábua de mortalidade do momen-
1aN to ou emtransversal.
HER Ão utilizarmoso método da coorte fictícia, vamos supor que uma determinada
e. geração (ou grupo de gerações).terá em cada, idade, ao longo da vida,
a. mortalidade
CR ee

SEE observada durante


um curto período de tempo em transversal. Na maior parte dos
EI casos, este tipo de tábuas é aplicado a uma população com uma lógica de probabi-
lidade. O significado será o seguinte: se a mortalidade por idades for a mesma .
durante a vida (cerca de um século de Observação) a geração que acaba
de nascer
| terá o.modelo.
de mortalidade descrito.na tábua,
| | | Também já vimos anteriormente que o ponto de partida de
|
)
f
| | talidade são as probabilidades de morte, e que estas pro de
| | obtidas através. das taxas, mediante a aplicação . de uma fórmula de transformação
| | linear. Nestes termos, não é difícil concluir que a aplicação do método da coorte
| fictícia.consiste.em.admitir.que.as.taxas, que se calculam em transversal, são iguais,
Ma
| |
| |
RE
às taxas existentes numa coorte fictícia.
Assim, vamos construir uma geração imaginária cujas.taxas entre idades exactas
| são
são iguais às taxas existentes num determinado momento do tempo. Ba
| | dl transto “essas taxas em quocientes e calcular as restantes. funções. de uma tál
tábua
| Ut de
de mortalidade.
| * Mas as coisas não são tão simples como parecem ser à primeira vista. Em
primeiro lugar, existem
erre com
por vezes nas estruturas populacionais (e também nos óbi-
RR tos) efectivos de idade 1ignorada. Em s segundo lugar, podemos optar entre construir
|
umatá tábua
da ( de mortalidade. por. idades ou por grupos, de idades. Finalmente, em

204
1
análise demográfica torna-se necessário co hecer, para além das funções anterior-
mente mencionadas
ee
outras funções. que x litar. cálculos. mais. sofisticados,
carrasco tunel

a é“de fácil solução. Se estivermos perante um número


significativo de pessoasde idade ignorada, temos de encontrar um critério de e Tepar., ento

tição dessas pessoas, Essa. solução consiste em calcular-um-factor-de. correcção:


en aii nino

População Total / (Pop. Total — Pop. de idade desconhecida)

e multiplicar cada idade (ou grupo de idade) por esse factor de correcção...
Quantoà solução dos outros dois problemas, optámos.pelo seguintecritério: ao
apresentarmos as diversas funções que integram uma tábua de mortalid lidade.separa-
remos, sempre que tal for necessário, a forma que sas Junções. tomam. no.c:caso.de

conhêcimentos teóricos e evitar uma excessiva abstracção na Exposição.


Existe, no entanto, um outro aspecto que convém ser salientado no caso con-
creto de Portugal. Se,à escala regional, é possível calcularmos uma tábua de mor-
talidade completa, quando pretendemos proceder a análises a nível de distrito, de
NUTS ou de concelhos, apenas encontramos disponíveis os óbitos por grupos
de idades. Mesmo que seja possível obter os dados para unidades espaciais de
pequena dimensão, subsiste sempre o problema da flutuação dos pequenos núme-
ros. Tal facto implica que, em geral, se calcule apenas tábuas de mortalidade. abre-
Viadas, sexos separados.
Por outro lado,a partir dos 70 ou dos 80 anos a informação. aparece-nos.agru-
pada ou, de qualidade duvidosa atendendo, entre. outros. aspectos, .ao..facto de..a,
maior parte do analfabetismo se concentrar nas pessoas mais idosas. Tal facto vai
obrigar-nos não só a ter de terminar a nossa tábua aos 70 ou aos 80 anos, como a
proceder a adaptações em algumas fórmulas.
Finalmente, convém salientar que no caso de uma tábua de mortalidade. abre-
viada, asas diversas funções são calculadas por grupos c de idades quingquenais, excepto,
peiro £ po, onde devido éà “importância da mortalidade infantil se costuma
dividir o grupo 0-4 “anos “completos em dois grupos:. menos de 1 ano e 1-4 anos
completos.
Neste contexto, para apresentarmos as diversas funções de uma tábua de mor-
talidade optámos por complementar essa apresentação com um exemplo, de modo
a evitar uma excessiva abstracção. O exemplo escolhido é a tábua de mortalidade
de Portugal, sexos reunidos, no período 1980-1981.

As funções de uma tábua de mortalidade são as seguintes:

* na primeira coluna de uma tábua de mortalidade são apresentadas as idades;


as idades não são apresentadas com a classificação dos grupos de recolha da
informação (0, 1-4, 5-9, ...), mas com os números terminais das idades exac:
tas (0, 1,5, 10, 15, 20...);

. 205
* a segunda coluna é constituída pelas as. taxas de mortalidade entre a idade x
ji|
“e x+n
cin mer te

Ê Í | «= Total de óbitos / População média

| (no exemplo já aparecem calculadas)


| * a segunda função aparece na terceira coluna é é constituída pelos, guocientes...
| de mortalidade, ou seja, as probabilidades. de morte. entr dade exacta x e.
a idade exacta x+n; é a passagem da recolha de informação em transversal
| para o início da construção da coorte fictícia, que se processa através da
fórmula de transformação linear já apresentada anteriormente:

| GQ =(2.0.Mo)/(Q2+n5m)

| Pode tomar diversas formas mas, as mais vulgares são:

Ro .
go =2.1.0m09)/(2+1nm)
| q=(2.4.0m)/(2+4. 0)
sq =(2.5.M)/(2+5. mo)

| | No exemplo:

| | | 1ão = é a verdadeira taxa de mortalidade infantil= 0,02300


| | sm =(2.4.0,00121) / (2 + 4. 0,00121)= 0,00482
sq = (2.5. 0,00053) / (2 + 5. 0,00053)= 0,00265
| | squo= (2. 5 . 0,00296) / (2 + 5 . 0,00296)= 0,01469
| são= (2. 5 . 0,01469) / (2 + 5 . 0,01469)= 0,07210
| | qo = 1

a terceira função aparece na quarta coluna e é constituída pela probabilidade


| “de sobrevivência entre as idades exactas xe x+n e que se obtém a partir da
| coluna anterior:

| | | | nDx = 1 — nQx

it No exemplo:

RN spas = 1 — 0,00648 = 0,99352


Pr = 0

À | | * na quinta coluna temos os sobreviventes em cada idade exacta x. para tornar


“possível ascomparações temporais € espaciais, aplica-se a um mesmo, efecti-
| à voà nascença
nico (normalmente a raiz de uma tábua de mortalidade lo= 100 000)
] alei de mortalidade definida pela série dos nqx ou dos px

Lan = l - nPx
No exemplo:
Lo
= 94 219 x 0,99040 = 93 314

na sexta coluna temos a distribuição dos óbitos entre idades exactas (tendo
em conta o efectivo inicial de 100 000) por idades ou grupos de idades;
obtém-se da seguinte forma:

nã = l— Len ou nx = Le - nQx

No exemplo:
sds =97229 - 96971 = 258
sdo = 96 155 — 95 513 = 642
sdas = 94 219 — 93 314 = 905

* a sexta função aparece na sétima coluna —— o número.


de. anos vividos pelos.
sobreviventes 1, entre as idades exactas x e x + n Qu seja, OS sobreviventes
Mm
anos completos; obtém-se da seguinte forma:
cit

Tábua de mortalidade completa: L, = 0,5 (1x + nh)

Tábua de mortalidade abreviada: = (1 + nl) .n/2 -

Mas, como nos primeiros anos de vida não se verifica a linearidade da função
de sobrevivência, obtém-se uma aproximação mais exacta através das seguin-
tes expressões:

Lo=(kº. do) + (k.h)


aly=4k'l+4kls

Onde k' e k" são os ponderadores utilizados na mortalidade infantil; saliente-


mos, no entanto, que os diversos nL, assim calculados, ao serem considerados
como o número de anos vividos pelos sobreviventes entre as idades x e x+n,
podem também ser considerados como os sobreviventes em anos completos;
por outras palavras, seria a população a que daria origem o nascimento anual
contínuo de 100 000 pessoas constantemente sujeitas ao modelo de mortali-
dade da terceira coluna da tábua; quanto ao último qL, (no nosso concreto
Ljo,) obtém-se através da seguinte expressão:

Lu = Ta

No exemplo:
Lo= (0,15) 100 000 + (0,85) 97 700 = 98 045
aLy = (4) (0,15) 97 700 + (4) (0,85) 97 229 = 389 199

207
sLs = (97 229 + 96971) (5 / 2) = 485 500
sLss= (04 219 + 93314) (5/2) = 468 833
Lo. = Ty, = 68 083 / 0,07755 = 877 924

* na oitava coluna temos a probabilidade de sobrevivência entre dois anos com


pletos ouentre dois grupos de anos-completos; tem a mesma lógica de cálculo

culada entre anos completos, enquanto anteriormente era entre idades exactas:

nPx = nLxmn / al

No primeiro grupo de idades teremos:

P,= sLo/ 5 . h

|
| No segundo grupo de idades teremos: .
|

o sPo= 5Ls/ (Lo+ 4L1)

O último ,P, calcula-se dividindo o último T, pelo penúltimo:

di | No exemplo:

oito P,= (98 045 + 389 199) / 500 000 = 0,97449


NiERa sPo = 485 500 / (98 045 + 389 199) = 0,99642
| | sPas = 463 143 / 468 833 = 0,98786
El o sPas = 442 323 / 454 668 = 0,97285
AR sPso= 362 470 / 399 465 = 0,90739
|; Poo, = 877 924/ 1 240 394 = 0,70778

IN * a coluna nove é o total de anos vividos pela coorte (fictícia) depois da idade x:
li como nl é o número de anos vividos entre as idades exactas x e x+n, para
| Ii obter o total de anos vividos basta somar os nL.,; assim temos:

Ts = z nLx

Jo] | O último T; = Ly, = he/ My


mp. taxa de mortalidade no último grupo idades:

No exemplo: ;

| Tes = 877 924 / 362 470 = 1 240 394


EE Tas = 3 424 708 / 468 833 = 3 893 541
| To=7 162671
/ 98 045 = 7260716

208
* finalmente, na coluna dez, temos a última função da tábua e a mais conhecida.
— esperança de vida naidade
x, ou seja, o número médio de.anos.que
resta
para viver às pessoas que atingiram
a idade x e obtém-se:
ex= T;/1

Quando x = 0, temos a esperança de vida à nascença, ou seja, o número total


de anos que as pessoas, em média, esperam viver (calendário) e que é igual a

Co = To/ kh

No exemplo:

eo= 7 260716 / 100 000 = 72,61


ex= 3 424 708 / 93 314 = 36,70

No Quadro 8 apresentamos a tábua de mortalidade para Portugal no período


1980/81, sexos reunidos.

QUADRO 8
Tábua de mortalidade de Portugal, sexos reunidos, em 1980-1981
Idades nl; nx nPx L nã nLx nPx T E,

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0 02451 .02300 .97700 100000 2300 98045 .97449 7260716 72.61
1 00121 00482 .99518 97700 471 389199 .99642 7162671 73.31
5 00053 .00265 .99735 97229 258 485500 .99743 6773472 69.67
10 00050 .00250 .99750 96971 242 484250 .99579 6287972 64.84
t 15 00119 00593 .99407 96729 574. 482210 .99370 5803722 60.00.
20 00134 .00668 99332 96155 642 479170 99342 5321512 55.34
25 00130 .00648 .99352 95513 619 476018 .99320 4842342 50.70
30 00143 .00712 .99288 94894. 675 472783 99165 4366324 46.01
35 00193 .00960 .99040 94209 905 468833 .98786 3893541 41.32
40 00296 01469 .98531 93314 137] 463143 98170 3424708 36.70
45 00444 02196 .97804 91943 2019 454668 .97285 2961565 3221
50 00660 .03246 .96754 89924 2919 442323 96019 2506897 27.88
55 00971 .04740 .95260 87005 4124 424715 94055 2064574 23.73
60 01496 07210 92790 82881 5976 399465 .90739 1639859 19.79
65 02434 11472 88528 76905 8822 362470 .70778 1240394 16.13
70+ .07755 1 0 68083 — 877924 — STA 1289

Embora todas as funções de uma tábua de mortalidade tenham o seu papela


desempenhar,
cane,
as mais importantes são as seguintes:

, ; e o
a forma de um
TENTO
«U»;

209
no! |

* a função 1,, por representar os sobreviventes na idade exacta x, ser muito fácil
de interpretar, revelando ser muito útil nas análises comparativas;
* àfunçã ão nPx, as probabilidades de sobrevivência entre anos completos, pela
nportân tem elaboração das projecções demográficas:
“a função es à esperança de vida nas diferentes idades, pela facilidade da sua
interpretação e por ser a mais conhecida de uma tábua de mortalidade,

120

100

so

60
Eqx . 1000
40
mex
20

5 40 45 20 25e 30 35 40 45
E
so qx.1000
55 60
85

Figura 21 — Evolução.da função ,q, e ex em Portugal, no período 1980-1981

6.5. Métodos indirectos de medida da mortalidade — o caso específico das tábuas-


-tipo de mortalidade

Nem sempre se dispõe da informação necessária para estimar os indicadores de


mortalidade que apresentamos neste capítulo. A existência de dados incompletos
nas populações do passado e na maior parte dos países não desenvolvidos levou a
análise demográfica a desenvolver um conjunto de técnicas que tem como objectivo
suprir este tipo de lacunas. Um dos métodos indirectos mais utilizadosno estudo da
mortalidade é o das tábuas-fir
-tipode mortalidade. Curiosamente, estes métodos que
foram concebidos para as duas situações1 mencionadas, “acabaram
> por ter uma gran;
de, aplicação 1 no caso dos países. com.
momento : actual, amplamente aplicados nas “proj ecções demográficas, . “sobretudo
em reegiões cujo efectivo populacional é reduzido.
Para seprojectar a mortalidade no futuro, O método das componentes necessita
de estimar o efeito da mortalidade. Em, todas as gerações que. compõem a po a do

mortalidade. | Um. dos métodos utilizados, consiste. emm extrapolar. algumas d


AS.. guocientes). das. últimas tábuas de mortalidade conhecidas. Este métos,
do. de. prolongamento de tendências, com técnicas mais ou menos sofisticadas, tem.
o inconveniente de fazer desaparecer a lógica interna da estrutura da. mortalidade
resultante de-uma tábua.
Uma das opções alternativas é o recurso à utilização .das.tábuas-tipo-de mortas,
lidade. A discussão da evolução da mortalidade no futuro passa a concentrar-se em
torno da melhor escolha de uma sequência de tábuas-tipo.

210
Os quatro modelos de mortalidade mais utilizados são os seguintes:

* as tábuas-tipo de mortalidade das Nações Unidas;


* as tábuas-tipo de Ledermann;
* as tábuas-tipo de de Brass;
de Princet on (3 versões).

As tábuas-tipo das Nações Unidas dependem de um único parâmetro. São insu-


ficientes porque para uma mesma Taxa de Mortalidade Infantil podem ex tir Vá
rios modelos. Têm o mérito de terem sido as primeiras, mas actualmente sésão muito
“Pouco utilizadas.
As tábuas-tipo de Ledermann são mais complexas: têm uma ou duas entradas:
(eo, sgo, 1do» 1570, 2030, 20945 € T.M..s0+ anos) OU, NO caso das duas entradas (são + 20045,
1590 + 20030» 1540 + T.M.so + amos). OS resultados das estimativas são melhores com
duas entradas, mas a investigação que se seguiu ao. seu aparecimento re
práticas.
E s-tipo de Brass foram concebidas para o os países africanos, mas mesmo
nesta região do mundo são actualmente pouco utilizadas.
As tábuas-tipo de Princeton foram elaboradas em 1966 (1.º versão) por Coale e
Demeny, mas recentemente, em 1990 G. àversão), foram reformuladas e actualizadas,

bastante exactas e Tigorosas, em especial nos países. europeus.


As tábuas-tipo de Princeton têm dois parâmetros. São constituídas por quatro
modelos regionais de mortalidade, identificados com uma. zona geográfica precisa:
modelo norte (baseado no modelo de mortalidade da Suécia, Noruega, Irlanda e
aplicam-se aos países com elevados níveis sanitários); modelo sul (com base no
modelo de mortalidade da Itália, Espanha, Portugal e Sicília e aplicam-se aos paí-
ses com muito boas condições sanitárias); modelo este (baseado no modelo de
mortalidade da Europa Central); modelo oeste (baseado num modelo residual e que
se aplica a todos os países em vias de desenvolvimento).
Cada uma das famílias é composta por um conjunto de níveis. de mortalidade
TN dad

par:
saga
1 ambos os sexos. Para cada nível de mortalidade estão.calculadas. as. popula-
-ções estáveis “associadas a diferentes nitmos de crescimento.
A utilização prática das tábuas é feita da seguinte maneira:

º escolhe- -se à família que mais se aproxima do modelo de mortalidade da

Para cada nível de mortalidade escolhido encontram-se já calculadas, por sexos


e grupos etários, às probabilidades proóspectivas « de sobrevivência em anos comple-
tos GP...
de mortalidade (HM). Desde 1920 a sua utilidade reside na comparação da evolu-

211
7 ir It

ção dos modelos. Porém, a nível regional o problema é diferente: ou não existem
dados de sexos separados ou a reduzida intensidade do fenómeno em certos grupos
de idade torna difícil o cálculo de uma tábua de mortalidade directa ou até, em
muitos casos, impossível.
Por outro lado, a observação das modernas tendências da mortalidade mostra a
existência de uma grande tendência para a homogeneização das estruturas da mor-
talidade, não só a nível nacional, mas também europeu. As grandes assimetrias
antes observadas entre as regiões estão a desapa e
fico de Portugal, a oposição entre o norte eos Estãoo assim cri da: as condições
para, a adopção de um modelo único.de. mortalidade; o modelo oeste, caracterizado
“por! baixos níveis de mortalidade e elevada esperança de vida.
“TÁs tábuas-tipo de Princeton na sua 2.º versão foram publicadas em 1983, sob o
formato de um novo manual, com mais um nível em cada família. Foi a última
publicação em forma de livro, com as funções de mortalidade todas calculadas e
"com as populações estáveis associadas. A versão de 1989 é publicada com o título
«Revised Regional Model Life Tables at Very Low Levels of Mortality», mas em
1990 surge uma nova versão devido a existirem alguns erros na edição de 1989.
Assim, o modelo sul passa, a partir do nível 20 a ter as seguintes caracterís-
ticas:

Níveis Mulheres Homens


20 1ão = 62,51 1ão = 69,91
€ = 67,50 Co = 63,69
21 1ão = 48,85 1ão = 54,78
eo = 70,00 co = 66,05
22 10 = 35,65 1d = 40,11
€& = 72,50 e = 68,24
23 1ão = 23,65 1ão = 23,64
eo = 75,00 e = 70,33
24 1ão = 13,49 1ão = 16,62
€& = 77,50 Co =71,53

O modelo oeste passa a ter 27 níveis de mortalidade e nele convergem todos os


outros; no caso específico do modelo sul a partir do nível 24 passa para oeste. As
suas principais características são:

Níveis Mulheres Homens


4 1 = 31,38 190 = 41,60
€ = 70,00 e = 66,01
22 1ão = 22,82 1ão = 31,01
e = 72,50 eo = 68,57
23 1ão = 15,33 1ão = 21,67
eo = 75,00 eo = 70,96
34 1ão = 9,46 1ão = 13,07
e = 77,50 € = 72,15

212 :
Níveis Mulheres Homens
25 1ão = 6,01 1ão = 7,67

eo = 80,00 eo = 73,88
26 1ão = 4,03 1ão = 5,10
€ = 82,50 e = 76,19
27 1 = 2,83 1ão = 3,56

. € = 85,00 eo = 78,98

O futuro dirá se esta opção de adoptar uma única variante de convergência foi
uma boa opção, mas estamos sem dúvida perante um modelo muito elaborado,
baseado na observação empírica, de tábuas-tipo de mortalidade.

6.6. Conclusão

Quando analisamos o fenómeno da mortalidade, a primeira coisa em que temos


de pensar é que as probabilidades de morte de cada indivíduo dependem das suas
caracteristicas Biológicas é das condições em que ocorre a sua existência, ou seja,
do seu modo de vida. Numa probabilidade de morte existem factores. intrínsecos.e-.x
“factores derivados dó. meio.
— Antes de mais temos de ter em conta os Reco biológicos relacionados com

mas também quando a relação de masculinidade “aument! a.


A mortalidade também varia com as condições de vida das pessoas não só
durante o ano de observação como durante toda a sua vida. Às principais compo-
nentes destas condições de vida são normalmente 4 TR condições de
a NO CODES AE
em, relação « a9 ii
meioda

a pe
pouca rn numérica, em termos absolutos e Telativos.
Contudo, na totalidad
1 otalidade dos países. desenvolvidos,
gar. Torna-se, assim, f damental a investigação. dos factores ambient: Is

ento são baixos); 9 nível cultural (por influenciar os hábitos alimentares e a


prevenção sanitária nas; classes mais instruídas);. o clima (em particular nos grupos
de idades mais avançadas a existência de condições climáticas favoráveis pode
aumentar a esperança de vida); a actividade. profissional (não por causa das dife-
renças de rendimento, mas por diferenças realizadas com maior ou menor esforço

, 213
o]
ar

intelectual — as profissões com maior esforço físico têm uma menor esperança de
vida do que as profissões com maior esforço intelectual).
Por último, convém salientar que o aumento da esperança de vida associadoà,
sobremortalidade masculina torna a problemáticac do envelhecimento um , proble mg
essencialmente feminino. A solidão nos últimos anos de vidaé um fenómeno que
afecta particularmente as mulheres. O aumento da esperança de vida também pro-
duz outros efeitos ainda mal estudados entre nós como, por exemplo, o retardar dos
processos de rotação dos patrimónios familiares, com consequências bem visíveis
nos centros urbanos das grandes cidades.

5.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO:


ANÁLISE DA MORTALIDADE

Observe os seguintes dados:

Óbitos e a População das NUTS IX — Norte e Alentejo no período 1990-1991


G. Idades Pop. 1991 Pop. 1991 Óbitos 90 Óbitos 91 Óbitos 90 Óbitos 91
Norte Alentejo Norte Norte Alentejo Alentejo
0 42 823 4957 604 577 47 45
1-4 anos 173 067 20525 158 142 17 17
5-9 anos 253 014 31 692 93 102 15 14
10-14 anos 298 513 37 873 126 135 1 20
15-19 anos 326 044 38 040 320 371 28 41
20-24 anos 300 369 34 908 373 340 39 60
25-29 anos 282 035 34 080 335 353 48 43
30-34 anos 257 302 34 449 353 355 61 69
35-39 anos 235 798 32 499 400 434 58 82
40-44 anos 211937 30 401 - 525 529 74 73
45-49 anos 181 184 28 616 663 674 98 89
50-54 anos 175 051 34 354 1045 968 185 197
55-59 anos 173 800 38 455 1577 1539 315 311
60-64 anos 164 758 37 598 2244 2299 431 462
65-69 anos 141 262 35 360 3 158 3 138 705 77
70 + anos 255 758 69 635 20 270 19 903 5301 5 454
Total 3472715 543442 32244 31 859 7433 7694

a) Calcule as Taxas Brutas de Mortalidade do Norte e do Alentejo no período


1990-1991 através do «processo clássico», admitindo a hipótese que a popu-
lação do recenseamento é a «população média».
b) Calcule as mesmas taxas de forma a poder comparar os efeitos de estrutura.
c) Represente graficamente os dois modelos e comente o gráfico obtido.

214
d) Aprecie as diferenças reais existentes entre as «condições gerais de saúde»
do Norte e do Alentejo através do método da população-tipo, escolhendo
uma única população-tipo.

IH

Observe os seguintes dados da nascimentos e óbitos respeitantes a Portugal no


ano de 1994:

Nascimentos 142 805


Fetos-mortos 28 e + semanas 1405
Óbitos com menos de 1 ano 2389
Óbitos com menos de 28 dias 1616
“Óbitos com menos de 7 dias 1363
Óbitos entre 7-13 dias 126
Óbitos entre 14-20 dias 79
| Óbitos entre 21-27 dias 48
| Óbitos entre 28-59 dias 184
Óbitos com 2 meses 116
Óbitos com 3 meses 122
Óbitos com 4 meses 90
Óbitos com 5 meses 51
Óbitos com 6 meses 50
Óbitos com 7 meses 49
Óbitos com 8 meses 46
Óbitos com 9 meses 22
Óbitos com 10 meses 25
| Óbitos com 1 meses 18
Nascimentos em 1993 182 600

Calcule para 1994:

a) A verdadeira taxa de mortalidade infantil.


b) As taxas de mortalidade endógena e exógena.
c) A taxa de mortalidade neonatal.
| d) As taxas de mortalidade neonatal precoce e neonatal tardia.
e) A taxa de mortalidade pós-neonatal.
| f) A taxa de mortalidade fetal tardia ou mortinatalidade.
£g) A taxa de mortalidade pré-natal.
h) A taxa de mortalidade feto-infantil.

215
cial dio.

NI

Observe os óbitos infantis, por meses, em Beja e Braga em 1960.

Meses Óbitos Beja Óbitos Braga Meses Óbitos Beja Óbitos Braga
Janeiro 35 140 Julho 28 251
Fevereiro 30 89 Agosto 22 301
Março 36 131 Setembro 17 245
Abril 22 145 Outubro 26 “18
Maio 28 132 Novembro 42... 169
Junho 30 149 Dezembro 30 140
Total 346 2073

Analise a mortalidade infantil por meses.

Iv

Com base nos dados a seguir apresentados calcule a tábua de mortalidade de


Portugal em 1950.

G. Idades Óbitos População


1949-1952 31/12/1950
0 19277 174 855
1-4 anos 9 426 714 859
5-9 anos 1528 798 678
10-14 anos 928 799 693
15-19 anos 1551 810 964
20-24 anos 2219 761703
25-29 anos . 2256 681 256
30-34 anos 1905 541 099
35-39 anos 2301 567 333
40-44 anos 2721 524737
45-49 anos 3 148 460 041
50-54 anos 3 628 390 566
55-59 anos 4412 331777
60-64 anos "5985 294 239
65-69 anos . 7408 229 976
70 + anos 34 162 359 539
Total 102915 8441315

216
Resolução do 5.º Trabalho Prático

a)
Norte
Obitos médios = (32 244 + 31859)/2=32052
TBM = 32052/3 472715 x 1000 = 9,23 por mil

Alentejo
Óbitos médios = (7433 + 7694) /2 = 7564
TBM = 7564 / 543 442 x 1000 = 13,92 por mil

Portugal |
TBM = 10,43 por mil

Através das taxas brutas de mortalidade, o Alentejo apresenta as piores condi-


ções sanitárias, quando comparadas com as do Norte do país e com os dados totais
de Portugal.

| b)
G. Idades Tx Px — TxPx Tx Px Tx.Px Px
(Norte) (Norte) (Norte) (Alentejo) (Alentejo) (Alentejo) (Portugal)
0 13,79 0,0123 0,17 9,28 0,0091 0,08 0,0113
1-4 anos 0,87 0,0498 0,04 0,83 0,0378 0,03 0,0492. .
5-9 anos 0,39 0,0729 0,03 0,47 0,0583 0,03 0,0706
10-14 anos 0,43 (,0860 0,04 0,41 0,0697 0,03 0,0809
15-19 anos 1.06 0,0939 0,10 - 0,91 0,0700 0,06 0,0838
20-24 anos 119 0,0865 0,10 1,42 0,0642 0,09 0,0833
25-29 anos 1,22 0,0812 0,10 1,34 0,0627 0,08 0,0810
30-34 anos 1,38 0,0741 0,10 1,89 0,0634 0,12 0,0713
35-39 anos 177 0,0679 0,12 2,15 0,0598 0,13 0,0645
40-44 anos 2,49 0,0610 0,15 2,43 0,0559 0,14 0,0596
45-49 anos 3,69 0,0522 0,19 3,217 0,0527 0,17 0,0533
50-54 anos 5,15 0,0504 0,29 5,56 0,0632 0,35 0,0556
55-59 anos 8,96 0,0500 0,45 8,14 0,0708 0,58 0,0545
60-64 anos 13,79 0,0474 0,65 11,88 0,0692 0,82 0,0510
65-69 anos 22,28 0,0407 0,91 20,11 0,0651 1,31 0,0444
70 + anos 78,54 0,0736 5,78 77,22 0,1281 9,89 0,0857
Total 9,23 1 9,22 13,92 1 13,91 1

, 217
c) Modelos de Mortalidade do Norte e do Alentejo em 1991

2 3

V/4 |
204

104

54

"20-24 '25-29 '30-34 '35-39 '40-44 45-49 “50-54 “58.59 150.64 165.60
o 4 '5.9 10-14 15-19

d) : À
Tx Px Tx.Px Tx Px Tx.Px
G. Idades
(Norte) (Portugal) (Norte) (Alentejo) (Portugal) (Alentejo)

13,79 0,0113 0,16 9,28 0,0113 0,10


0
0,87 0,0492 0,04 0,83 0,0492 0,04
1-4 anos
0,39 0,0706 0,03 0,47 0,0706 0,03
5-9 anos
0,43 0,0809 0,03 0,41 0,0809 0,03
10-14 anos
1,06 0,0838 0,09 0,91 - 0,0838 0,08
15-19 anos
1,19 0,0833 0,10 1,42 0,0833 0,12
20-24 anos
1,22 0,0810 0,10 1.34 0,0810 0,11
25-29 anos
1,38 0,0713 0,10 1,89 0,0713 0,13
30-34 anos
1,77 0,0645 0,11 2,15 0,0645 0,14
35-39 anos
2,49 0,0596 0,15 2,43 0,0596 0,14
40-44 anos
3,69 0,0533 0,20 3,27 0,0533 0,17
45-49 anos
5,15 0,0556 0,32 5,56 0,0556 0,31
50-54 anos
8,96 0,0545 0,49 8,14 0,0545 0,44
55-59 anos
13,79 0,0510 * 0,70 11,88 0,0510 0,61
60-64 anos
22,28 0,0444 0,99 20,11 0,0444 0,89
65-69 anos
78,54 0,0857 6,73 77,22 0,0857 6,62
70 + anos
9,23 1 10,34 13,92 1 9,96
Total

TBM reais Taxas estandardizadas


Norte = 9,23 por mil Norte = 10,24 por mil
Alentejo = 13,92 por mil Alentejo = 9,96 por mil

a) Taxa de mortalidade infantil

TMI (Clássica) = 2389 / 142 805 x 1000 = 16,7 por mil

218 '
TMI (Verdadeira) = 2389 / (k" No + k' N1) x 1000 = ,
= 2389 / (0,05 x 182 600) + (0,95 x 142 805) x 1000 = 16,5 por mil

b) Taxa de mortalidade infantil exógena e endógena

Óbitos exógenos:
Doenças infecciosas, alimentação, cuidados hospitalares = aumentar em
22,8% os óbitos no período 28-365 dias
Óbitos endógenos: -
Deformações congénitas, taras hereditárias, traumatismos do parto = óbitos
infantis — óbitos exógenos

Óbitos 28-365 dias = 2389 — 1616 = 773


Óbitos exógenos = 773 x 0,228 = 176 + 773 = 949
Óbitos endógenos = 2389 — 949 = 1440

TMI Exógena = 949 / 142 805 x 1000 = 6,65 por mil


TMI Endógena = 1440 / 142 805 x 1000 = 10,08 por mil
TMI Clássica = TM Exógena + TM Endógena ou 16,7 = 6,65 + 10,08

c) Taxa de mortalidade neonatal e pós-neonatal

Óbitos neonatais = —28 dias


Precoce = —7 dias
Tardia = 7 — 27 dias
Óbitos pós-neonatais = 28 — 365 dias
TM Neonatal = 1616 / 142 805 x 1000 = 11,32 por mil
TMN Precoce = 1363 / 142 805 x 1000 = 9,54 por mil
TMN Tardia = 253 / 142 805 x 1000 = 1,77 por mil
TM Pós-Neonatal = 773 / 142 805 x 1000 = 5,41 por mil
TM Neonatal (11,32) = TMN Precoce (9,54) + TMN Tardia (1,77)
TMIC (11,7) = TMNeonatal (11,32) + TMPós-Neonatal (5,41)

d) Taxa de mortalidade fetal tardia ou mortinatalidade

Óbitos fetais tardios = óbitos com 28 e + semanas


TM Fetal Tardia = 1405 / 142 805 x 1000 = 9,84 por mil

219
e) Taxa de mortalidade pré-natal

Óbitos pré-natais (2768) = óbitos fetais tardios (1405) + óbitos neonatais


precoces (1363)

TMPN = 2768 / 142 805 x 1000 = 19,38 por mil

f) Taxa de Mortalidade Feto-Infantil

Óbitos feto-infantis = óbitos fetais tardios (1405) + óbitos c/ menos de


1 ano (2389) = 3794

TMEI = 3794 / 142 805 x 1000 = 26,56 p. mil


TM Feto-Infantil = TM Fetal Tardia + TMIC
26,56 = 9,84 + 16,73

HI

Meses Div. Beja Beja Beja Braga Braga Braga


Óbitos N.M. N.P. Óbitos N.M. N.P.
Janeiro 31 35 1,13 119 140 4,52 80
Fevereiro 28,2 30 1,06 112 89 3,15 56
Março 31 36 1,16 122 131 4,23 75
Abril 30 22 0,73 717 145 4,83 85
Maio 31 28 0,90 95 132 4,26 175
Junho 30 30 1,00 106 149 4,97 88
Julho 31 28 0,90 95 251 8,10 143
Agosto 31 22 0,71 -75 301 9,71 171
Setembro 30 17 0,57 60 245 8,17 144
Outubro 31 26 0,84 89 181 5,84 103
Novembro 30 42 1,40 148 169 5,63 99
Dezembro 31 30 0,97 102 140 4,52 80
Total — 346 11,37 1200 2073 67,93 1200

220
IV

Tábua de mortalidade de Portugal, sexos reunidos, em 1949-1952


Idades nx nOx nPx l, nd Lx nPx T, E,

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0 11025 .09355 .90645 100000 9355 92984 88317 5921445 59,21
1 01319 05140 94860 90645 4659 348603 .96898 5828471 64,30
5 00191 00950 99050 85986 817 427888 .99235 5479868 63,73
10 00116 .00578 .99422 85160 492 424615 .99237 5051980 59,32
15 00191 .00950 .99050 84677 804 421375 .98784 4627365 . 54,65
20 00299 01484 98516 83873 1245 416253 .98438 4205990 50,15
25 00331 0164] 98359 82628 1356 409750 .98308 3789737 45,87
30 00352 01745 98255 81272 1418 402815 .98124 3379987 41,59
35 00406 02010 .97990 79854 1605 395258 97717 2977172 37,28
40 00519 02562 97438 78249 2005 386233 .97042 2581914 33,00
45 00684 03363 96637 76244 2564 | 374810 .96059 2195681 28,80
50 00929 04540 95460 73680 3345 360038 .94534.-1820871 24,71
55 01330 06436 93564 70335 4527 340358 .91997 1460833 20,77
60 02034 09678 90322 65808 6369 313118 87842 1120475 17,03
65 03221 14905 .85005 59439 8859 275048 .65932 807357 13,58
70+ .09502 1 0 50580 — — 532309 — 532309 10,52

, 2241
CAPÍTULO VII

ANÁLISE DA NATALIDADE, FECUNDIDADE


| E NUPCIALIDADE

Introdução

no século XX é O seu declínio, declínio esse


A principal característica da natalidade
que É, em geral, posterior ao da mortalidade. Se a diminuição dos níveis de mortalidade
não
na maior parte dos países desenvolvidos é anterior ao nosso século, o mesmo
acontece com a natalidade, cujo declínio ocorre pratica mente.n XX.
o.sécul o
Em alguns países em desenvolviomento declínio da natalidade. ainda.está-no
iníc io de iransição. Pelo contrá
do processo rio
na maior parte,dos países desenvol:
e as gerações já não 5
vidos a transição da natalidade já acabouespecífic am. Não
o desta variável demográfica uma
2
admira, assim, que encontremos no caso
da
diversidade de situações, no tempo e no espaço, muito maior do que no caso
mortalidade.
As investigações sobre a análise demográfica da fecundidade concentram-se
em tomo de quatro grandes temáticas:

a caracterização da diversidade e da evolução dos diversos factores responsá-


« nenem
veis
e pela evolução da natalida .de e da fecundidade;
O estudo das causas e das consequê ncias do declínio da fecundidade:
» a ligação com a nupciali dade e com os diversos tipos de estruturas familiares;
“a fecundid ade diferenci al.
mesa

Os factores responsáveis pela evolução da fecundidade..são..de. diferente. na-


tureza-,
15
. factores biológicos — a fecundidade começa a ser significativa cerca dos
anos. declinando em
anos de idade, atinge um máximo entre os 20 e os 35 filhos depois
seguida até aos 50 anos (apenas uma minoria de mulheres tem
desta idade);

222 t
* relações sexuais. OU seja i ênei õ ais entre
pessoas férteis;
* leis e costumes, (que determinam o momento em que a mulher começa a ter

Finalmente, nestes aspectos introdutórios, achamos importante chamar a aten-


ção para a eventualidade de poderem existir na literatura portuguesa algumas con-
fusões de linguagem, que serão consequência de traduções apressadas,. sem os
devidos cuidados técnicos. .
Em primeiro lugar, a natalidade e a fecundidade aparecem muitas. vezes.empre-
gues como sendo palavras sinónimas, quando têm um significado completamente

Em segundo lugar, em inglês a palavra «fecundity» não significa fecundidade


mas fertilidade («fertilité» em francês), ou seja, a capacidade biológica de procriar.
É a palavra «fertility» que significa em português «fecundidade» («fécondité» em
francês).

Objectivos do capítulo VI

* Conhecer a lógica do cálculo das Taxas Brutas de Natalidade, enquanto medi-


das elementares de análise
* Conhecer as precauções a ter em conta no cálculo das Taxas Brutas de Nata-
lidade, bem como as limitações deste instrumento de medida
* Aplicar o conceito de taxa às as Taxas de Fecundidade Geral
* Aplicar o método da população-tipo |.
* Conhecer alguns tipos particulares de fecundidade
* Saber aplicar as principais técnicas de análise da fecundidade: a Descendên-
cia Média, a Taxa Bruta de Reprodução, a Idade Média da Fecundidade e a
Variância
* Saber aplicar as técnicas de análise da nupcialidade

7.1. As taxas brutas enquanto medidas elementares de análise da natalidade e da


fecundidade

O processo mais simples que existe para medirmos o nível da natalidade con-
siste em dividir o total de nascimentos num determinado período pela população
“média existente nesse mesmo período.
Assim, por exemplo, se num país A (desenvolvido) tivermos 778 526 nasci-
mentos e 61 283 600 habitantes como população média, e se num país B (não

223
desenvolvido) tivermos 54 043 nascimentos e 1 428 082 habitantes como popula-
ção média, as Taxas Brutas de Natalidade são as seguintes:

TBN (A) = 778 526 / 61 283 600 x 1000 = 12,70 por mil
TBN (B)= 54043/ 1428082 x 1000 = 37,84 por mil

Se o nível do fenómeno fosse correctamente medido através das taxas brutas


poderíamos dizer que a diferença de nível entre os dois países seria de 198%. Mas,
tal como aconteceu com a mortalidade, a Taxa Bruta de Natalidade é um instru-
mento de análise muito grosseiro que isola muito rudimentarmente os efeitos de
estrutura. Daí a necessidade de se recorrer a outros métodos que isolem numa
forma menos elementar o verdadeiro modelo da natalidade.
Foi o que fizemos quando analisámos a mortalidade. Porém, no caso concreto
desta variável demográfica, podemos introduzir, ainda a nível dos indicadores gros-
seiros, uma correcção adicional. Essa correcção consiste em relacionar Os nasci-
mentos directamente com a parte da população em que eles ocorrem: a população
feminina no período fértil (por convenção, dos. 15.405.50 anos).
Assim, se nos países 4 e B as populações femininas no período fértil forem
respectivamente de 14 309 800 e de 319 084 mulheres, as Taxas de Fecundidade
Geral são as seguintes:

TEG (A) = 778 526 / 14 309 800 x 1000 = 54,41 por mil
TEG (B)= 54043/ 319084 x 1000 = 169,37 por mil

Se o nível de fecundidade fosse correctamente medido através destes indicado-


res de fecundidade geral poderíamos dizer que a diferença de nível entre os dois
países era de 211% em vez de 198%.
Ao compararmos as diferenças de nível entre os dois países, se utilizarmos as
TBN estamos a subestimar a diferença em 13%.
A que se deve tal diferença?
Ao facto de o país A ter uma maior proporção de mulheres no período fértil
(23%) do que no país B (22%):

TEG x (Mulheres 15-49 anos / População Total) = TBN

0,05441 x 0,23335 = 0,01270 em 4


0,16937 x 0,22343 = 0,03784 em B

Quando analisámos a mortalidade decompusemos as taxas brutas nos seus ele-


mentos constitutivos. Podemos proceder de idêntica forma no caso da natalidade,
mas atendendo ao facto de não ocorrerem nascimentos em todos os grupos popula-
cionais, é aconselhável servirmo-nos das taxas de fecundidade por idades ou por
grupos de idades. No caso de existirem nascimentos em que as mães têm menos de
15 anos a melhor solução é integrar esses nascimentos no grupo 15-19 anos; no
caso de existirem nascimentos em mães com mais de 50 anos procede-se de idên-
tica forma, ou seja, integram-se no grupo de idades anterior.

224 .
Assim, tal como aconteceu com a análise das taxas brutas de mortalidade,
podemos redefinir as taxas de fecundidade geral como sendo uma soma dos produ-
tos das estruturas relativas em cada grupo de idades do período fértil das mulheres
pelas taxas nesses mesmos grupos de idades:

TFG (A) = D px (A) tx (A)


TEG (B) = > px (B) tx (B)
Quer calculando as taxas de fecundidade pelo processo mais simples, quer por
esta forma mais complexa, tal como aconteceu com a mortalidade, o resultado é
sempre o mesmo. A idêntica conclusão chegaríamos se, em vez de trabalharmos
com a população feminina, trabalhássemos com a população total para obter as
taxas de natalidade.
QUADRO 9 :
Níveis de fecundidade e estrutura da população no país A (desenvolvido)
Grupos Total de População no
de Idades Nascimentos Feminina tx - 1000 Px Px - tx
1 2 3 4=2/3 5 6=4.5
15-19 71 096 1985 000 35,8 0,1387 4,97
20-24 237 116 1961 600 120,9 0,1371 16,58
25-29 204 722 1901 500 107,7 0,1329 14,31
30-34 171 326 2 423 700 70,7 0,1694 11,98
35-39 72327 1962 700 36,9 0,1372 5,06
40-44 20 374 1942 600 10,5 0,1358 1,43
45-49 1565 “2132700 0,7 0,1490 0,10
Total 778 526 14 309 800 54,43 1 54,43

As diferenças observadas entre os dois países tanto podem provir dos t, (mode-
los) como dos p, (estruturas). Essas diferenças têm necessariamente significados
totalmente diferentes: variações entre modelos significam a existência de diferentes
modelos de natalidade; diferenças entre estruturas são, em princípio, alheias ao
fenómeno
Ss em análise.

QUADRO 10
Níveis de fecundidade e estrutura da população no país A (desenvolvido)
Grupos Total de População :
de Idades Nascimentos Feminina x - 1000 Px Px dx
1 2 3 4=2/3 5 6=4.5
15-19 10 297 73381 140,3 0,2300 32,27
20-24 17 494 63 010 271,6 0,1975 54,83
25-29 12 894 50 924 253,2 0,1596 40,41
30-34 7472 40 885 182,8 0,1281 23,42
35-39 4326 36 115 119,8 0,1132 13,56
40-44 1340 29 409 45,6 0,0922 4,20 |
45-49 220 25 360 8,7 0,0795 0,69 |
Total 54 043 319 084 169,38 1 169,38 |

. 225
Quando analisámos a mortalidade chegámos à conclusão que esta variável tem
um modelo único em «U>. No caso da fecundidade, apesar. das. diferenças existen-
tes entre os diversos países do mundo, também existe um modelo,-único que tem a
de um «chapéu»:
forma
* os valores partem de O no grupo 0-15 anos de idades;
*a partir dos 15 anos, a fecundidade é crescente até atingir um máximo entre
Os 206 '6s/35 anos;” o
* a part este máximo, a fecundidade diminui até atingir de novo o valor O por
volta dos50 anos (é praticamente inexistente a ocorrência de nascimentos a
partir desta última idade).

De forma a facilitar a comparação dos modelos de fecundidade é aconselhável


ajustar as taxas de fecundidade a 100 (no valor máximo) para uma melhor visuali-
zação eráfica. Ao analisarmos as duas representações gráficas (figuras 22 e 23)
damo-nos facilmente conta das vantagens e dos inconvenientes de cada uma.
A representação não ajustada das taxas permite precisár a amplitude das diferen-
ças da intensidade em cada grupo de idades (por exemplo, no grupo 20-24 anos, a taxa
é de 120,9 por mil, no país desenvolvido e de 277,6 por mil, no país não desenvolvi-
do). A representação com ajustamento a 100 permite demonstrar que existe um único
modelo de fecundidade e que esse modelo pode ter diversas variantes.

ue existem, no limite, duas variantes possíveis:


monstrado qque variante (no nosso
a vê
exemploo representada por B) que é caracterizada pela existência cia deelevadas tax.
de fecundidade. em todas as idades, típica dos países em que. contracepção está.
pouco difundida; e a variante (no nosso exemplo representada pelo país À) típica de
uma população que utiliza a contracepção.
too em larga escala. e. que. concentra-a sua
fecundidade entre. os /20 e os 35.anos,
A fecundida: e máxima é “obtida. quando. uma..população. combina uma
de do t po
fecundidade. “país à (reduzida | utilização.da.contracepção)-com.uro início.

300

250

200
taxas.1000

150-

100

50
País B (não des.)
BEM País
A (des.)
15-19 2024 2529. s084 2599.
1044 4549
|BPaís A (des.) Bl País B (não des.)

Figura 22 — Taxas de fecundidade num país desenvolvido (A)


e num país não desenvolvido (B)

226 . +
“Á Tepresentação gráfica é : muito importante neste tipo de análises, mas nem
sempre é suficiente. Esta informação deve ser completada com o cálculo do calendá-
no, ou a idade média da fecundidade (IMF) e com a variância das taxas de
s fe-
cundidade (VIF).
VTF).Noo exemplo que temos vindo a seguir obtemos os seguintess valores:
| no país A (desenvolvido)
| IME = 273
VTF = 38,36

no país B (não desenvolvido)


IME = 27,7
VIF=49,80. | aeee temiam eram
O mma testis
A Os resultados obtidos pela investigação têm, demonstrado até -AO presente mo-
' mento que a IMF tem variado entre os 25.e.0s 35.anos,e.que a VTF tem variado,
| entre os 15 e os 60 anos
Em que circunstâncias ocorre a existência de valores de IMF baixos?
Em populações que combinam um casamento, precoce (ou o início de relações
sexuais regulares) com uma elevada àpr
prática, contraceptiva. Consequentemente, quanto.

Quanto à variância, é baixa quando o casamento tardio é associado a uma


elevada prática contraceptiva,Inversamente..a. variância é elevada quandc
uando o casa-
| ": mento precoce está associado à à ausência de práticas contraceptivas. A existência de .
uma grande variânciaé uma necessidade lógica para se obter uma fecundidade
elevada e uma fecundidade baixa é, em princípio, obtida com uma variância baixa.

e DT eme meão sao |

4
nas qi
80
Taxas Fecundidade
ajustadas a 100
ti]
So

País B (não des.)


15-19 20-24 25-29 ' 30-34 25.39 ai a0-44 q 45.48 E 7 País A (des.)

||
Es: País A (des.) EPaís B (não des.)

Figura 23 — Taxas de fecundidade (ajustadas a 100) num país desenvolvido (A)


e num país não desenvolvido (B)
Para facilitar a compreensão deste tipo de análises vamos servir-nos de um
exemplo concreto, que em vez de comparar duas situações no tempo ou no espaço,
compara a fecundidade diferencial, segundo o nível de instrução, das mulheres de
Cabo Verde em 1990.
Julgamos ser importante assinalar que a IMF (calendário) obtém-se dividindo
o total das colunas (6), ou seja, o somatório das multiplicações das taxas de fecundidade
por grupos de idades, pelos pontos médios, pelo total das <olunas 4 (somatório das das
taxas de fecundidade e por “grupos de ; id a.
das colunas 7, Ou seja, os somatórios da multiplicação, dastaxas pelos quadrados das
diferenças entre os pontos médios e as IMF pelo total das colunas4. 77777
QUADRO 11
Análise da fecundidade das mulheres sem instrução em Cabo Verde, 1990
Grupos . População Taxas : - Taxasx ni. 2
Idades Nascimentos Feminina Fecundidade Aj. a 100 P. Médio Fi. — IMP)
(1) (2) (3) (4) (5) (6) DM
15-19 161 1445 0,111 50 1,94 17,07
20-24 506 2687 0,188 84 4,23 10,29
25-29 820 3676 0,223 100 6,13 1,28
30-34 983 4769 0,206 92 6,70 1,39
35-39 729 4252 0,171 77 6,41 9,88
40-44 194 2397 0,081 36 3,44 12,86
45-49 74 3011 0,025 1 1,19 7,14
Total 3 467 22 237 1,005 — 30,04 60,51
Taxa de Fecundidade Geral: 155,9 por mil
Idade Média da Fecundidade: 29,9
Variância da Fecundidade: 60,2

—&
QUADRO 12

.
Análise da fecundidade das mulheres com formação do secundário e superior
em Cabo Verde, 1990
Grupos . População Taxas s Taxas x e 2
Idades Nascimentos Feminina Fecundidade A à 100 P. Médio Fi(x — IMP)
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
15-19 a 3 350 0,021 16 0,37 2,87
20-24 134 1598 0,084 65 1,89 3,77
25-29 138 1058 0,130 100 3,58 0,38
30-34 81 947 0,086 66 2,80 0,94
35-39 23 510 0,045 35 1,69 3,10
40-44 7 252 0,028 22 1,19 4,95
45-49 0 158 0,000 0 0,00 0,00
Total 454 7873 0,394 — 11,52 16,01
Taxa de Fecundidade Geral: 57,7 por mil
Idade Média da Fecundidade: 29,2
Variância da Fecundidade: 40,6

228 .
Estamos perante um exemplo particularmente interessante na medida em
que nos mostra uma grande diferença de comportamentos dentro de um mesmo
país.
As mulheres «sem instrução» têm taxas de fecundidade bastante elevadas e
com n valores significativos em todos os grupos de idades, o que se traduz na existên-.,
cia “de uma Taxa de Fecundidade
mero Geral e de uma “variância elevadas.

100
80 |
so |-
70 |
60 +
T.aj. a 100

“so
40
so |”
20
10 -[7

Mul. C/ Instrução
35-39 Mul. S/ Instrução
40-44
45-49

ElMul. S/ Instrução EiMul. C/ Instrução

Figura 24 — Taxas de fecundidade das mulheres de Cabo verde em 1990


! ajustadas a 100

Nas mulheres com «ensino secundário e superior» é o inverso que se observa.


Estamos assim perante um grupo (o das mulheres «sem instrução») que tem
“uma prática de contracepção muito reduzida enquanto
ara brasa SE ali o outro erupo tem um com-
a ea rm

“portamento quase idêntico ao “observado em qualquer país desenvolvido. Em todo


O caso, também é interessante salientar que nas duas situações a fecundidade
máxima ocorre numa idade relativamente tardia, ou seja, no grupo 25-29 anos de
idade.

| 7.2. Tipos particulares de natalidade e fecundidade


I

No ponto anterior apresentámos e criticâmos as formas mais elementares de


medirmos a natalidade e a fecundidade. Antes de procedermos ao estudo de méto-
dos mais sofisticados, que permitam medir o nível real e a evolução do fenómeno
em análise, vejamos alguns tipos particulares de natalidade e fecundidade.

, 229
A fecundidade por ide
idades e por grupos de idades

Tal como vimos anteriormente, para se calcular as taxas por idades ou por
grupos de idades, dividem-se os acontecimentos.entre.as.idades exactas pela. popu-
“Jação média existente entre essas. mesmas idades. Como os nascimentos ocorrem .
rminada parte da população, não é vulgar calcular taxas de naiali
des "ou grupos de idades, mas sim taxas de fecundidadepor idades qu,
grupos. de idades.
O cálculo deste tipo de taxas vai permitir encontrar índices libertos de efeitos
de estrutura e que superam as limitações das taxas brutas, como veremos nos pon-
tos que se seguem.

A fecundidade dentro do casamento

Este tipo de fecundidade relaciona os nascimentos dentro do casamento com as


mulheres casadas no período fértil, ou seja, admitindo como período de observação
Jo grupo 15- -49 ) anoB:

TFC = (Nascimentos dentro do casamento / Mulheres casadas 15-49 anos) x 1000

Assim, por exemplo, se num determinado país temos 1.460 917 mulheres casa-
das no grupo 15-49 anos e 151 799 nascimentos dentro do casamento, temos:

TFC = (151 799/ 1 460 917) x 1000 = 103,91 por mil

-Este-indicador, apesar de ser bastante simples de calcular, tem no entanto algu- “


mese dificuldades que resultam de três tipos de problemas.
m primeiro lugar, temos de nos informar acerca, do. correcto entendimento.da
noçãoo de «mulher casada». Nalguns países, tal como aconteceu em Portugal até
1974, emprega-se a expressão «legítima». É uma expressão que tende a desapare-
cer de todos os sistemas de informação, em particular nos países desenvolvidos,
mas se pretendemos proceder a uma análise temporal mais ampla, ou se preten-
demos comparar diversos países, convém estarmos atentos à forma como este tipo
de nascimentos é identificado.
Em segundo lugar, existem sociedades em que.o casamento, tal como.ele.é
entendido nos países desenvolvidos, praticamente não existe. O que existe são
certas formas de união que são aceites nessa cultura e que são as dominantes. Os
nascimentos ocorridos nestas circunstâncias estão naturalmente «dentro do casa-
mento» e as mulheres que vivem nesse tipo de uniões são naturalmente «casadas».
Acresce ainda o facto de, muitas vezes, estarmos perante situações que não são de
casamento, mas que são uniões estáveis (exemplo Alentejo) o que torna difícil a
utilização deste tipo de separação dos nascimentos.
Finalmente, importa saber que a2 fecundidade dentro.e fora do casamento pode
ser medida globalmente, ou medida por idades. ongrupos.-de-idades-e-que.o
pe-

230 .
ríodo de observação (no nosso exemplo 15-49 anos) pode variar em função dos
dados observados ou disponíveis, o que torna as comparações temporais e espaciais
ainda mais difíceis.
A rat

A fecundidade fora do casamento

Relaciona os nascimentos fora do casamento com as mulheres não casadas em


geral no período fértil (embora possa abranger um período maior), ou seja:

TEFC = (Nascimentos fora do casamento /


/ Mulheres não casadas com 15-49 anos) x 1000

Assim, por exemplo, se num determinado país temos 614 9:13 mulheres não
casadas e 3262 nascimentos ilegítimos, temos:

TFFC = (3262 / 614913) x 1000 = 5,30 por mil

No cálculo desta taxa devemos tomar precauções idênticas às da fecundidade


dentro do casamento. No entanto, convém dar particular atenção ao facto de as
mulheres não casadas não ter o mesmo signif cado. que-assulhexes.solteiras.
Além
destas últimas, inclui igualmente as mulheres viúvas e as mulheres divorciadas.

A natalidade por meses

y Os métodos a aplicar são os mesmos que apresentamos na análise da mortali-


dade. A única diferença reside no facto de, neste caso, nos interessar muito mais
analisar os meses de concepção do que os meses de nascimento.
Na realidade, se a existência de uma mortalidade diferencial segundo os meses
nos fornece indicações preciosas para a compreensão social da mortalidade, o mes-
mo não acontece com os nascimentos. O que nos interessa saber é a atracção e a
repulsão da concepção por determinados meses. Temos assim de proceder a uma
reconversão segundo a seguinte tabela:

Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Nascimento . '

Mês
Concepção
abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov De Jal Fe Ma

O processo de cálculo e o tipo de representação gráfica é o mesmo da mortali-


dade.

. 231
7.3. O princípio da estandardização

Depois de termos analisado as taxas brutas, enquanto medidas elementares de


análise da natalidade e da fecundidade, e de termos chegado à conclusão que são
índices grosseiros, que isolam muito rudimentarmente os efeitos de estrutura, veja-
mos que outros índices podem ser calculados.
Separaremos os dois princípios fundamentais de análise. Tal como fizemos no
caso da análise da mortalidade, vejamos como se aplica o método da população-
-tipo ao estudo da fecundidade,
Suponhamos que queremos comparar duas populações A e B. As Taxas de
Fecundidade Geral são as seguintes:

TFG (A) = 5 px (A) tx (A)


TFG (B) = À px (B) tx (B)

Se utilizarmos como tipo a população A temos:

TEG (A) =D px(A) tx (A)


TFG (B) => px(A) tx (B)

Se utilizarmos como tipo a população do país B temos:

TFG (A) =D px(B) tx(A)


TEG (B) = > px (B) tx (B)

QUADRO 13
O método da população-tipo aplicado à fecundidade (tipo A)
G. de Idades Px (B) tx (B) px (B). tx (B) Px (A) px (A). tx(A)
1 2 3 . 4 5 6
15-19 0,2300 140,3 32,27 0,1387 19,46
20-24 0,1975 271,6 54,83 0,1371 38,06
25-29 0,1596 253,2 40,41 0,1329 33,65
30-34 0,1281 182,8 23,42 0,1694 30,97
35-39 0,1132 119,8 13,56 0,1372 16,44
40-44 0,0922 45,6 4,20 0,1358 6,19
45-49 0,0795 8,7 0,69 0,1490 1,30
Total 1 169,37 169,38 1 146,07

Conforme se pode observar, o país B se em vez da repartição de mulheres que


tem no interior do período fértil tivesse a repartição do país 4, teria uma Taxa de
Fecundidade Geral de 146,07 por mil em vez de 169,38 por mil.
A diferença entre os níveis de fecundidade nos dois países passaria para 168%.

232
Por outro lado, se o país A, em vez da repartição de mulheres que tem no
interior do período fértil tivesse a repartição do país B, teria uma Taxa de Fecundidade
Geral de 63,57 por mil em vez de 54,43 por mil.
A diferença entre os níveis de fecundidade nos dois países passaria para 166%.

QUADRO 14
O método da população-tipo aplicado à fecundidade (tipo B)
G. de Idades px (A) ts (A) Px (A) . tx (A) px (B) px(B).tx(A)
1 2 3 4 5 6
15-19 0,1387 35,8 4,97 0,2300 “8,23
20-24 0,1371 120,9 16,58 0,1975 23,88
25-29 0,1329 107,7 14,31 0,1596 17,19
30-34 0,1694 70,7 11,98 0,1281 9,06
35-39 0,1372 36,9 5,06 0,1132 4,18
40-44 0,1358 10,5 1,43 0,0922 0,97
45-49 0,1490 0,7 0,10 0,0795 0,06
Total 1 54,41 54,43 1 63,57

Se, tal como fizemos com a mortalidade, calcularmos a média aritmética das
diferenças obtidas pela aplicação das duas populações-tipo encontramos um valor
de 167%. A diferença, neste caso, não é muito significativa, mas, como é lógico,
nem sempre assim acontece.
Uma síntese de todos os resultados obtidos até ao presente momento, de forma
a que se possa visualizar os diversos efeitos de estrutura, é apresentada no Qua-
dro 15.

QUADRO 15
As taxas brutas e o método da população-tipo
Prop. Mulheres
TBN : TFG P. Tipo (A) P. Tipo (B)
. 15-49 anos
País A 12,70 54,41 54,43 63,57 0,23350
País B 37,84 169,37 146,07 169,37 0,22344
diferença 198% 211% 168% 166% —

Se estivermos a comparar os dois países, através das Taxas Brutas de Natali-


dade a diferença de nível é de 198%. Se os compararmos através da Taxa de
Fecundidade Geral, a diferença aumenta para 211% devido ao facto de o país À ter
23% de mulheres no período fértil e o país B ter 22%. Este último indicador, ao
neutralizar uma parte dos efeitos de estrutura subestimava a diferença em 13%.
Porém, apesar do país A ter uma proporção de mulheres no período fértil mais
favorável tem, no entanto, uma repartição das mulheres no interior desse período
fértil menos favorável. O método da população-tipo reduz a diferença para 167%.
Tal como acontece com a mortalidade, o método da população-tipo é o mais
aplicado.

: 233
o
No entanto, no caso específico da natalidade e da fecundidade, uma aplicaçã
particular do método das taxas-tipo é muito utilizada, não só em Demogralia His-

tórica,. como..em todos.0s..casos. em. que. os. dados são. escassos, ==. 0s..Ándices de
Coale... de uma
Este autor, em 1972, escolheu como modelo as taxas de fecundidade
de ter as taxas de
seita religiosa (as mulheres Hutterite), que tinha a particularidade
óptica
fecundidade mais elevadas que se tinham encontrado no mundo, quer numa
temporal quer numa óptica espacial.
muito
As taxas das mulheres Hutterite, também conhecidas como as taxas
próimas do amodelo natural», passaram a partir dos anos 70 a ser consideradas
-omo uma referência de comparação na evolução dos modelos. de fecundidade e.
são as seguintes:

0,300 no grupo 15-19 anos


0,550 no grupo 20-24 anos
0,502 no grupo 25-29 anos
0,447 no grupo 30-34 anos
0,406 no grupo 35-39 anos
0,222 no grupo 40-44 anos
0,061 no grupo 45-49 anos.

sucesso em todo o mundo, na


Este modelo de fecundidade teve um enorme
medida em. que..se.passou..a ter. um. modelo de referência. a. parti. do. qual.se pode
deliberada no controle idaque
da fecundainda essa.
de,
visualizar a intervenção
intervenção possa ser feita sem consciência.

600

500

400
taxas por mil

300 |

200

100

o les «Natural»
Cabo Verde
15-19
20-24 25-29
40-44 45-49

ElCabo Verde El «Natural»

de Cabo Verde
Figura 25 — Modelo de fecundidade das mulheres «sem instrução»
e modelo de «fecundidade natural» das mulheres Hutterite

234 '
Na figura 25 apresentamos a comparação dos modelos de fecundidade das
mulheres Hutterite e das mulheres em Cabo Verde «sem instrução».
Apesar de termos afirmado que, neste último caso, a utilização da contracepção
era muito reduzida, não deixa de ser muito expressiva a diferença entre os dois
modelos.
Os índices de Coale têm a grande vantagem de precisarem de poucos dados.
Necessitam apenas do total de nascimentos no interior do casamento e fora do
“casamento, bem como das estruturas da população por idades, sexo e estado civil,
Foi fundamentalmente devido ao facto de não necessitarem do conhecimento dos
nascimentos por grupos de idades, que estes índices tiveram um grande-sucesso.

O primeiro índice é o 1 um indicador de nupcialidade,.

a = (O From) / (À Frwr)
F;= taxas de fecundidade das mulheres Hutterite
m;= efectivos de mulheres casadas, no intervalo de idades i, na população em
análise
wr= efectivos de mulheres, no intervalo de i, na população em análise

O numerador, ao multiplicar as taxas de fecundidade das mulheres Hutterite


pelos efectivos de mulheres casadas da população em estudo, indica-nos o total de
nascimentos no interior do casamento que uma população teria se as mulheres
tivessem a fecundidade das mulheres Hutterite. No denominador, aplicando o mes-
mo raciocínio, teríamos o total de nascimentos.
Assim, o índice I, indica-nos em que medida..o.. casamento contribui. para..a,
realização do potencial máximo de fecundidade,
Quanto maior for o número de mulheres casadas, maior será o numerador, ou
seja, mais próximo fica do denominador. Logo, quanto mais 0 Im se a de 1.

é tardia.
O: segundo índice apresentado por Coale é o 1 um indicador de fecundidade
no interior do casamento (antiga fecundidade legítima)

L=Cgm)/ O Fm)
gi= taxas de fecundidade no interior do casamento, no intervalo de idades i,
na população em análise
Fr= o mesmo que em Im
my;= no mesmo que em IL

O numerador, ao multiplicar as taxas de fecundidade no interior do casamento


da população em análise pelos efectivos de mulheres casadas nessa mesma popula-
ção, dá-nos o total de nascimentos observados no interior do casamento. O denomi-
. nador, como já dissemos anteriormente, dá-nos o total de nascimentos no interior
do casamento que a população teria se tivesse uma fecundidade como a das mulhe-
res Hutterite.

. 235
di El il

Consequentemente, quanto maior for I,, maior é a fecundidade no interior do


casamento (no limite será1 gual'à 1),€ quanto menor for 6 valor de 1, menor é. a
fecundidade no interior do casamento (no limite será igual a 0)..
«cama tais gt + enina

O terceiro índice apresentado por Coale é o 1, um indicador de fecundidade,


fora do casamento (antiga fecundidade ilegítima J:

1 = (E hru9) /(E Fr)


hy= taxas de fecundidade fora do casamento, no intervalo de idades1, na popu-
lação em análise “
F;= o mesmo que em In
; |: u= efectivos de mulheres não casadas, no intervalo de idades 1, na população
ANRIRE em análise
A lógica é a mesma do indicador anterior, ou seja, quanto maior for I, mais
“importante é o peso dos nascimentos fora do casamento. e, quanto. menor for É,
menos importante é o peso dos nascimentos fora do casamento.

Finalmente, o quarto índice apresentado por Coale é o 1; um indicador de.


fecundidade geral:
L=(Lhyu)/ (O Fw)
fi= taxas de fecundidade geral, no intervalo de idades i, na população em
análise
wr= O mesmo que em Im
F;= o mesmo que em Im

A lógica volta a ser a mesma dos dois últimos índices, com a diferença de que
o autor demonstrou ser possível obter directamente.este-índice.apartir dos índices.
anteriores:

k=1,.In+ (1-1)
Vejamos através de um exemplo como se calculam estes índices.
Numa determinada região temos 692 nascimentos dentro do casamento, 36
WD] nascimentos fora do casamento e sabemos que as 5067 mulheres existentes no
| | período fértil e as 2361 mulheres casadas distribuem-se da seguinte forma: 940
com 7 casadas no grupo 15-19 anos; 868 com 136 casadas no grupo 20-24 anos;
795 com 398 casadas no grupo 25-29 anos; 721 com 494 casadas no grupo 30-34
anos; 649 com 492 casadas no grupo 35-39 anos; 580 com 447 casadas no grupo
40-44 anos; 514 com 387 casadas no grupo 45- 49 anos.
Assim, temos:

Im = (E Frmy / (À Fw)
| = [(0,300 x 7) + (0,550 x 136) + ... + (0,061 x 387) / [(0,300 x 940) +
a +... + (0,061 x 519)]

- | 236
Im = 820,107 / 1904,385 = 0,431
L = (E gm / (E Fim
1, = 692 / 820,107 = 0,844
= (Lhu)/(E Fu)
L, = 36/ [(0,300 x 933) + (0,550 x 732) ... (0,061 x 127]
1, = 36 / 1084,278 = 0,034
Ie= 1. Im+ In (1 — Im)
Ir= 0,844 . 0,431 + 0,034 (1 — 0,431)
Ir= 0,383

74. O princípio da translação

Se com a aplicação do princípio da estandardização se procura manter o efeito.


das estruturas constante, com o princípio da translação procura-se estimar a inten-
sidade eeo cal partir c das frequências calculadas emt transversal. Aplica-se

vam num determinado momento do tempo. para uma coorte imaginária.


A primeira operação a efectuar é calcular as taxas de fecundidade geral por.
grupos de idades em transversai e imaginar que clãs se aplicam a uma geração
observada entre Os T5"€ os 50 anos exactos.
Se somarmos estas taxas € multiplicarmos essa soma pela amplitude do inter-
valo, obtemos a intensidade do fenómeno em análise ou a Descendência Média
- (também conhecido por índice Sintético de Fecundidade), ou seja, o número médio
de filhos, de ambos os sexos, por mulher.
Se multiplicarmos este último indicador pela relação de masculinidade dos
nascimentos, ou seja, por 0,488 obtemos a Taxa Bruta de Reprodução, ou seja, o
número médio de filhas por mulher.
Finalmente, se tivermos em consideração o facto de alguns nascimentos não
chegarem a. ocorrer.dexido-2. interferênci corrigirmos.o indicador
anteriormente calculado, temos a Taxa Líquida de Reprodução. Atendendo a que na
grande maioria dos países da época actual o efeito da mortalidadeé muito reduzido
no período fértil muitos autores optam por não apresentar este índice.
Retomemos o exemplo dos países 4 e B apresentados.
No país 4:

Descendência Média = 0,3832 x 5 = 1,92


Taxa Bruta de Reprodução = 1,92 x 0,488 = 0,94
Taxa Líquida de Reprodução = 0,3612 x 5 x 0,488 = 0,88

No país B:

Descendência Média = 1,0280 x 5 = 5,14


Taxa Bruta de Reprodução = 5,14 x 0,488 = 2,51
Taxa Líquida de Reprodução = 0,8735 x 5 x 0,488 = 2,13

. 237
QUADRO 16
Descendência média, Taxa Bruta e Taxa Líquida de Reprodução
país A (desenvolvido)
População te - 1000 nD'x te. nP'
Grupos Total de
de Idades Nascimentos Feminina
2 3 4 5 6
1
71 096 1985 000 0,0358 0,9479 0,0339
15-19
237 116 1961 600 0,1209 0,9458 0,1143
20-24
204 722 1901 500 0,1077 0,9432 0,1016
25-29
171 326 2 423 700 0,0707 0,9400 -- 0,0665
30-34
72321 1962 700 0,0369 0,9359 0,0345
35-39
20 374 1942 600 0,0105 0,9297 0,0098
40-44
1565 2 132700 0,0007 0,9208 0,0006
45-49
778 526 14 309 800 0,3832 — 0,3612
Total

QUADRO 17
Descendência média, Taxa Bruta e Taxa Líquida de Reprodução
país B (não desenvolvido)
População t; - 1000 px px-tx
Grupos Total de
de Idades Nascimentos Feminina
2 3 4=2/3 e: 6=4.5
1
10 297 73 381 0,1403 0,8668 0,1216
15-19
17 494 63 010 0,2776 0,8602 0,2388
20-24
12 894 50 924 0,2532 0,8513 0,2155
25-29
74 40 885 0,1828 0,8412 0,1538
30-34
4326 36 115 0,1198 0,8303 0,0995
35-39
1340 29 409 0,0456 0,8178 0,0373
40-44
“220 25 360 0,0087 0,8024 0,0070
45-49
54 043 319 084 1,0280 — 0,8735
Total

enquanto medidas ele-


7.5. Análise da nupcialidade e do divórcio: as taxas brutas
mentares de análise
medida em que o
A nupcialidade não é uma variável demográfica autêntica, na,
directa mente a dinâmic a populacio-
seu aumento ou a sua diminuição não afectam
â ca populac ional. m directamente
nal. E uma variável que apenas intervém n
através da fec
através da fecund 1 que, ulo, é cada vez mais acen-
tuada e generalizada a tendência, em particular nos países d
os comportam
separação entre acontece da mupejali
ent da feci
dade e,os
“Tal como com as duas outras variáveis analisadas
dade consiste
processo mais simples que existe para medirmos o nível da nupciali
média.
em diyidir o total de.casamentos.observados-pela-população

238 Í
Assim, por exemplo, se num determinado país tivermos 72 330 casamentos
e 9675 573 habitantes como população média, a Taxa Bruta de Nupcialidade é a
seguinte:

TB Nupcialidade = 72 330 /9 675 573 x 1000 = 7,48 por mil

Se utilizarmos o mesmo procedimento que adoptámos para a análise da


fecundidade e da mortalidade chegamos à conclusão que a Taxa Bruta de Nupcia-
lidade também pode ser considerada como o resultado da interacção entre o modelo
do fenômeno € a estrutura por idades. O processo de cálculo é o mesmo. Apenas
temos de distinguir entre as diversas variantes possíveis que existem no caso da
nupcialidade: primeiros casamentos, segundos casamentos, casamentos de soltei-
ros,
[os, casamentos de. viúvos.e. casamentos. de, divorciados.
”" Retenhamos apenas dois aspectos fundamentais antes de passarmos às medidas.
mais sofisticadas.
O primeiro aspecto diz respeito ao modelo da nupcialidade. É muito. semelhan-
te ao da fecundidade: parte de O6 no grupo 0-14 anos completos.. atinge. um Máximo,
entre c Os 25.8.08 35.anos € depois va nuindo gradualmente. A grande diferença
em relação à fecundidade éé que, para além dos 50 anos, podem continuar a.ocorrer

reduzida
O segundo aspecto a reter é que, utilizando a lógica das taxas, podem calcular-
-se vários outros indicadores, que analisam aspectos particulares deste fenómeno.
Não seremos exaustivos nem os desenvolveremos. Apenas nos limitaremos a apre-
sentar os diversos tipos de taxas que nos parecem ser os mais importantes no
perspectiva de análise demográfica:

“Taxa de Nupcialidade Geral


relaciona os casamentos com as pessoas «casáveis»

Taxa Nupcialidade Geral = Casamentos / Pop. com + 15 anos x 1000

Taxa de Nupcialidade Geral dos Solteiros


relaciona os casamentos com as pessoas «casáveis», excluindo
os viúvos e os divorciados

T. Nupcialidade Geral dos Solteiros = Casamentos / Pop. solteira


com mais de 15 anos x 1000

. 239
Taxa de Nupcialidade por idades ou grupos de idades e sexos
relaciona os casamentos num determinado grupo de idades
com a população nesse mesmo grupo
por exemplo temos no grupo de idades 25-29 anos

Taxa Nupcialidade no grupo 25-29 anos = Casamentos H (25-29 anos) / |


/ Pop. H (25-29 anos) x 1000

e que é a taxa de nupcialidade do sexo masculino no grupo 25-29 anos


de idade co

Taxa de Nupcialidade por ordem


quando se tem em conta a ordem .
por exemplo, a taxa do primeiro casamento é igual a:

Taxa Nupcialidade (1.º ordem) = Casamentos de ordem 1/ Solteiros


+ 15 anos x 1000

Também é vulgar calcular esta taxa por grupos de idades,


sexos separados; assim, aos 20-24 anos temos:

Taxa Nupcialidade (1.º Ordem aos 20-24 anos) = Casamentos


de Solteiros c/ 20-24 anos / Solteiros c/ 20-24 anos x 1000

Taxa de Nupcialidade de 2.º Ordem (exemplo)


relaciona os segundos casamentos com as pessoas «casáveis»,

T. Nupcialidade (2.º ordem) = Casamentos de ordem 2 /


/ (Viúvos + Divorciados) x 1000

Taxa Bruta de Divórcio


relaciona o número de divórcios com o total da população

Taxa Bruta Divórcio = Divórcios / População x 1000

Várias sofisticações podem ser introduzidas:

| Taxa Bruta de Divórcio Geral = Divórcios / Pop. c/ +15 anos x 1000 |

Taxa Bruta de Divórcio Geral (H) = Divórcios /


/ Pop. (H) c/ +15 anos x 1000

240
Taxa Bruta de Divórcio Geral (M) = Divórcios /
! Pop. (M) c/ +15 anos x 1000

Taxa Bruta de Divórcio Casados = Divórcios /


/ Pop. Casada (H ou M) x 1000

Taxa de divórcio por grupos de idades (exemplo: 20-24 anos):

T.B.D. 20-24 anos = Div. (H ou M 20-24 anos) /


/ Pop. (H ou M 20-24 anos) x 1000

Taxa de divórcio por duração de casamento (exemplo: 10 anos):

T.B.D. dur. 10 anos = Div. (H ou M c/10 anos) /


£ Pop. (H ou M casada c/10 anos) x 1000

Taxa Bruta de Viuvez


relaciona o número de viúvos com o total da população

Taxa Bruta de Viuvez = Viúvos / População x 1000

7.6. Processo de superação das limitações das taxas brutas na análise do fenómeno
nupcialidade

O princípio da estandardização

Tal como vimos anteriormente, podemos estandardizar, directa ou indirectamente,


os dados. No primeiro caso, escolhe-se uma população-tipo e procedemos como
nos casos que serviram de exemplo. No segundo caso, também podemos escolher
uma série de taxas-tipo. O método de estandardização indirecta mais utilizado é o
In de Coale e é também o mais vulgarmente empregue.
anacom

2 princípio da translação

Desde que se disponha de informação sobre o número de casamentos por gru-


pos de idades, e sobre as estruturas populacionais por estado civil, é possível cal-
“cular uma tábua de nupcialidade. A partir da tábua de nupcialidade calcula-se a
intensidade
resete
eo calendário.

241
(Ta

Raciocinando em termos de primeiro casamento e aplicando o prneimio da

ao percorrer : as “idades, da vida, Éé submetida em.cada idade àAs “condiçõesinseri rereaisssa

“Neste caso, trata-se de i imaginar u uma 1 geração de, solteiross que


a partir. dos 15
anos (idade mínima significativa) €e até aos 50.anos. (idade a partir da qual o primei-
ro casamento é pouco relevante) irá ser submetida ao. casamento. Tal não quer dizer
que não seja possível admitir outros intervalos de idades... a mudança nos costu-
mes, associada a um aumento da duração média de vida tem tido como consequência,
em matéria de nupcialidade, a existência de um aumento significativo dos segundos
casamentos, e da idade em que tal ocorre, fazendo assim com que em alguns países
a tendência comece a ser no sentido de se alargar o período de observação do
fenómeno.
Os óbitos de uma ae de mortalidade passam a ser Os primeiros casamentos

uma tábua de ERR passam : aser os celibatários. de uma tábua


(«os sobreviventes ao casamento»).
Existe, no entanto, uma diferença fundamental: no caso da mortalidade, no fim
da geração, ninguém sobrevive ao. fenómeno (a intensidade é igual a 1); no caso da
nupcialidade, existem sempre sobreviventes. ao.casamento.que..são. designados por
«celibatários. definitivos».
PREGA

“Assim, tendo em conta os princípios e métodos explicitados anteriormente; à

de nupcialidade:
sN, = taxas de nupcialidade por grupos-de.idade.quinquenais
sn;= probabilidades de 1.º casamento (grupos quinquenais)
calcula-se da mesma forma que na tábua de mortalidade
nc= (10. 5N) / (OQ + 5.5N9

= probabilidades de sobreviver ao 1.º casamento


ci=1-snyou Cus/ €,
onde C, são os celibatários nas diferentes idades exactas

sm, = casamentos entre idades exactas


sm = Cy sNx
ou

C + Cos

C, = celibatários na idade exacta


Con = Cr sm (Cis = 100 000)

Vejamos o exemplo do país A:

242 .
QUADRO 18
Primeiros casamentos, celibatárias e taxas de nupcialidade no país A
G. Idades Primeiros casamentos Celibatárias Taxas nupcialidade
15-19 47 636 839 812 0,05672
20-24 72 058 324 762 0,22188
25-29 14337 97 738 0,14669
30-34 3875 56 940 0,06805
35-39 1802 50 355 0,03579
40-44 1019 48 073 0,02120
45-49 583 43 227 0,01349

Com base nos dados deste exemplo podemos construir a tábua de nupcialidade
apresentada no Quadro 19

QUADRO 19
Tábua de nupcialidade do país A
Grupos de Idades C, My sy
15 100 000 24 838 0,24838
20 75 162 53 634 0,71358
25 21528 11553 0,53665
30 9975 2901 . 0,29078
35 7074 1162 0,16425
40 5 912 595 0,10066
45 5317 347 0,06525
50 4970 — —

Intensidade

I= (24838 + 53634 + 11553 + 2901 + 1162 + 595 + 347) / 100 000


I = 0,9503
oul= (Cis — Cso) / Cis I= 0,9503
oul=1—(Cso/ Cs) I= 1 — (4970 / 100 000) = 0,9503
Ou seja, 95% casam-se entre os 15 e os 50 anos.

Celibato Definitivo

CD = 4970 / 100 000 = 0,0497


ou
CD=1-1 CD = 1 — 0,9503 = 0,0497
Ou seja, 5% das mulheres ficam celibatárias.

243
Idade Média no Primeiro Casamento

IMC = [(17,5 x 24 838) + (22,5 x 53 634) + ... + (47,5 x 347) / 95 030


IMC = 22,5 anos
Ou seja, as que se casam fazem-no, em média, aos 22,5 anos.

A estimativa indirecta da nupcialidade pelo método de Hajnal

Quando não dispomos de dados respeitantes ao estado civil podemos estimar as


IMC, I e CD utilizando apenas as estruturas de população de um recenseamento.
| Hajnal desenvolveu um método, muito utilizado em Demografia Histórica e em
Ma pequenas populações que necessita apenas do conhecimento,.por.sexos e idades, do
estado civil
das. pessoas.
| | O Celibato Definitivo é estimado por:

EI | Tso= (sLus+ sTs9) /2


onde sT, = proporções de celibatários nos grupos de idades

] | A Intensidade é estimada por:


| 1 1=1-Ts
| | A Idade Média no Casamento é estimada por:
| IMC = 15 + [5. > 5T, (menos T,) — 35 Tso)]J/1 — Tso
|
|
| Vejamos um exemplo:
] A: Grupos Idades Proporções Celibatárias
| | 15-19 0,98686
IH 20-24 0,69962
|| | | 25-29 0,29336
II 30-34 0,16171
| | 35-39 0,12741
| | 40-44 0,10584
Il | 45-49 0,09480
| | 50-54 0,09113
Ep

Ri; > = 2,56073 — 0,09113 = 2,4696


di | CD = (0,09480 — 0,09113) /2
t

| | CD = 0,09297 (9%)
o L=1— Ts = 0,90703 (91%)
| | IMC = 15 + [(12,34800 — 3,25395) / 0, 90703
| IMC = 25,03 anos

244
7.7. Conclusão

Tal como acontece com a mortalidade, a existência de diferentes níveis de


fecundidade nas populações humanas
a Seo é mid
o resultado : da confluência «de um « diversifi-
Emite

Em primeiro lugar, temos de considerar a importância dos factores biológicos,


na explicação das atitudes das pessoas, em relação ao seu desejo em regular a
fecundidade. A fecundidade é, antes de mais, um fenómeno exclusivamente femini-
no, com um modelo próprio em forma de «chapéu» que é. praticamente. determinado
por 1 razões biológicas (parte de O por volta dos 15 anos de idade, atinge um máximo
entre os 20 e os 35 anos e termina de novo em O por volta dos 50 anos de idade).
Por outro lado, existem situações de esterilidade 1, permanente ou devido
doença,
a existem «tem os mortos» entre os partos devido ao facto de o. aleitamen-
toto poder ser
Ser 1 mais « ou ml prolongado, « e existem. ainda diversos factores biológi.

“os estados carenciais da mais diversa. natureza.


A importância destes factores biológicos não invalida a importância dos facto-
res sociais, culturaise económicos. As atitudes e os comportamentos em relação à
fecundidade interferem na base biológica da mesma. Estas atitudes e comporta-
mentos resultam do ambiente em que se inserem.
As componentes sociológicas, culturais e económicas desse ambiente são com-
plexas, variadas e, teoricamente, devem ser tratadas em separado, razão pela qual
se fala cada vez mais em Sociologia da Fecundidade, Antropologia da Fecundidade
ou de Economia da Fecundidade ou da População.
Porém, o ponto de vista a adoptar deve ser cada vez mais o integrador, sistémico
na
ou seja, o de procurar. os diversos tipos de. factores. que. interferem.
e ecológico,
fecundidade, na medida em que influenciam o comportamento das pessoas e dos
casais, ou do sistema-Homem.
Sem procurarmos ser exaustivos, há um conjunto de factores de natureza mais
social que interfere nas atitudes face à vida e à procriação. Existem diferentes
atitudes (e normativas legais) em relação ao aborto e à contracepção. Em “seguida,
temosa influência dos valores, nomeadamente dos. que estão ligadosà cultura,à
idade de início das relações sexuais e ao maior ou menor grau de aceitabilidade das
relações sexuais fora do casamento. Depois,SRT
t set ância do papel da mu-
lher na sociedade, a influência. da. educação, da instrução. da. religião..e..0,.nÍye]

” Finalmente, gostaríamos de chamar a atenção para a importância do. ciclo de


vida, «ou seja, para a sequência de etapas que atravessa a família desde a sua cons-
itui o seu d saparecimento *£ que tem n grande influência na análise deste
neno. As etapas mais importantes do ciclo de vida familiar segundo. Vinuesa-
são. as seguintes (Vinuesa, 1994):

“Fase da. criação: começa com


e E
o casamento (ou, mais genericamente, com a
união de dois indivíduos de sexo oposto)e acaba com o nascimento do
primeiro filho:

. 245
Fase da expansão: vai desde o nascimento do primeiro filho até ao nascimento.
do último;
Fase da estabilidade: vai desdeo nascimento
do último.filho.até à saída do,
primeiro filho.de.casa;
Fase do declínio: começa com a saída do prime
filho. de. iro.
casa. e acaba com

A utilização do modelo teórico de análise chamado «ciclo de vida familiar» é


criticada por não tomar em consideração uma série de elementos que limitam o seu
poder operativo. Na realidade, as metodologias do «ciclo de vida familiar» rara-
“mente tomam em consideração a existência da interferência de fenómenos comple-
xos e em grande expansão nos últimos anos como, por exemplo, o divórcio, o
monoparentalismo, os casamentos com filhos de casamentos anteriores, os casais
sem filhos.
No entanto, apesar destas limitações, o conceito de «ciclo de vida» tem-se
revelado um conceito importante de análise na ecologia da fecundidade, na medida
em que introduz na análise longitudinal elementos de natureza diferente dos que
nos habituamos até ao presente momento em análise demográfica.

6.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO: ANÁLISE DA NATALIDADE,


DA FECUNDIDADE E DA NUPCIALIDADE

Observe os dados respeitantes a Portugal em 1980-1981 e 1990-1991


Grupos Idades Nascimentos População Nascimentos População
1980-1981 Feminina 31/12/80 1990-1991 Feminina 31/12/90
15-19 16907 426 087 9925 405 500
20-24 51114 382 511 33 373 402 900
25-29 43 620 342 787 40 339 402 100
30-34 24021 322 267 22 635 356 800
35-39 10 444 296 464 8 095 325 200
40-44 4042 300 886 1883 308 000
45-49 514 308 883 151 2771 100
Total 150 662 2379 885 116 401 2 477 600

Calcule para o período 1980-1981 e 1990-1991:

a) Taxa Bruta de Natalidade.


b) Taxa de Fecundidade Geral.

246 .
c) Descendência Média.
d) Taxa Bruta de Reprodução.
e) Idade Média da Fecundidade.
f) Variância das Taxas de Fecundidade.

e represente graficamente os modelos de fecundidade obtidos nos anos de 1980 e


1990.

Sabendo que, no distrito de Bragança, em 1950, o total de nascimentos dentro


do casamento (legítimos) foi de 6043, que o total de nascimentos fora do casamen-
to (ilegítimos) foi de 792 e que no recenseamento de 1950 dispomos da seguinte
informação:

P. Total PTotal P Total Solteiros Solteiros Casados Casados Viúvos Viúvos Outros Outros
G. Idades EM H M H M H M H M H M
15-19 22808 11602 11206 11550 10705 51 498 1 2 — 1
20-24 19597 0982 973 8507 6331 1298 3416 16 24 3 2
25-29 17450 8671 8689 4284 2985 4447 5612 30 87 — 5
30-34 13380 6736 6644 1907 149 47,66 5022 58. 124 5 7
35-39 14250 7392 6858 1473 117] 5784 5415 14 258 1 14
40-44 13557 6979 6578 1108 1057 5674 5135 184 310 13 16
45-49 11506 5612 589 730 862 4617 4470 253 543 12 19

! - Aplique o método da estandardização indirecta através do cálculo dos diversos


| Índices de Coale.

m
| Observe com atenção os seguintes dados de Portugal em 1980:

| Casamentos (M) 66 334


C. solteiras 64 836
C. viúvas 434
| C. divorciadas 1064
Casamentos (H) 66 334
| C. solteiros 62 835
C. viúvos 1045
C. divorciados 2454
Divórcios 9022
Sep. judiciais 164

. 247
l o
| Casamentos Femininos, População Solteira e População Total Feminina
| G. Idades Casamentos Pop. Solteira Pop. Total
-15 anos — 1258 703 1258 945
| 15-19 anos 21389 358 023 396 087
| 20-24 anos 31 624 180 424 382 511
| 25-29 anos 7910 58 395 342 787
| 30-34 anos 1850 33 785 322 267
| 35-39 anos 758 25 504 296 464
it] 40-44 anos 401 24 190 300 886
45-49 anos 312 25 447 -. 308 883
n 50-54 anos 230 27 396 302 080
| 55 e + anos 362 135 774 1184389
Total 64 836 2127 641 5 095 039

| Calcule:
a) As principais taxas de nupcialidade. :
b) À tábua de nupcialidade e as principais medidas de nupcialidade.
c) As estimativas das mesmas medidas através do método de Hajnal.

Resolução do 6.º Trabalho Prático

A natalidade e a fecundidade em Portugal — 1980-1981


Grupos Nascimentos População
Taxas IMC VTF VTF VTF A 100
Idades 1980-1981 Feminina
15-19 16 907 426 087 .03968 6944 —-98 96.04 3.81 30
20-24 51114. 382511 .13363 3.0067 —4.8 23.04 3.08 100
25-29 43 620 342787 12725 3.499 2 04 .01 95
30-34 24021 322267 07454 24226 52 27.04 2.02 56
35-39 10 444 296464 .03523 1.321] 10.2 104.04 3.67 26
40-44 4 042 300 886 .01343 5708 15.2 231.04 3.10 10
45-49 514 308 883 .00166 0789 202 408.04 .68 1
Total 150662 2379885 42542 11.5939 16.37
População Total = 9 833 014.

TBN = (150 662 /9 833 014) x 1000 = 15,32 por mil


TFG = (150 662 / 2 379 885) x 1000 = 63,31 por mil
Descendência Média = 0,42542 x 5 = 2,13 filhos por mulher
T. Bruta de Reprodução = 2,13 x 0,488 = 1,04 filhas por mulher
Idade Média da Fecundidade = 11,5939 / 0,42542 = 27,3
Variância da Fecundidade = 16,37 / 0,42542 = 38,48
6 = 6,20
o” = 38,44

248 :
A natalidade e a fecundidade em Portugal — 1990-1991
Grupos Nascimentos População Taxas IMC VIF VTF VTF A100
Idades 1980-1981 Feminina
15-19 9925 405 500 .02448 4284 —10.00 100 245 24
20-24 33 373 402900 .08283 1.8637 -5.00 25 2.07 83
25-29 40 339 402 100 .10032 27588 0.00 Ô O 100
30-34 22635 356800 .06344 2.0618 5.00 25 1.59 63
35-39 8 095 325 200 .02489 9334 10.00 100 2.49 25
t 40-44 1883 308 000 .00611 2597 15.00 225 1.37. 6
45-49 151 277 100 .00054 0257 20.00 400 22 1
Total 116401 2477600 .30261 8.3315 10.19
População Total = 9 858 600.

TBN = (116 401 /9 858 600) x 1000 = 11,81 por mil


- TFG = (116401 / 2 477 600) x 1000 = 46,98 por mil
Descendência Média = 0,3026186 x 5 ='1,51 filhos por mulher
T. Bruta de Reprodução = 1,51 x 0,488 = 0,74 filhas por mulher
Idade Média da Fecundidade = 8,3318129 / 0,3026186 = 27,5
Variância da Fecundidade = 10,187133 / 0,3026186 = 33,66
o = 5,80
o” = 33,6

Análise comparativa
Medidas 1980-1981 1990-1991 variação %
TBN 15,32. 11,81 — 22,9
TFG 63,31 46,98 — 25,8
DM 2,13 1,51 — 29,1
TBR 1,04 0,74 — 28,8
IMF 27,3 21,5 + 0,73
VTF 38,44 . 33,60 — 12,59
1990

15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49


1980

Taxas de Fecundidade de Portugal em 1980 e 1990

249
q no o 1990
15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 4549 1980
Taxas de Fecundidade de Portugal em 1980 e 1990 ajustadas a 100

ii
In = (E Firm) /(E Frwy)
Im = (0,300 x 498) + (0,550 x 3416) + (0,502 x 5612) + (0,447 x 5022) +
+ (0,406 x 5415) + (0,222 x 5135) + (0,061 x 4470) / (0,300 x 11 206) +
+ (0,550 x 9773) + (0,502 x 8689) + (0,447 x 6644) + (0,406 x 6858) +
+ (0,222 x 6578) + (0,061 x 514)
Im = 10701,388 / 20672,894
Im = 0,518

I = (E gm) / (E Fm
I, = 6043 / 10701,388
IL. = 0,565
bi,

L = (E hu)/(E Fu
1, = 792 / (300 x 10708) + (0,550 x 6357) + (0,502 x 3077) +
+... + (0,061 x 1424)
Ii = 792 / 9971,500
Ii = 0,079

k=L.Ia+k(1- Lo)
I-= 0,565 . 0,518 + 0,079 (1 - 0,518)
Ir= 0,331
HI
T. B. Nupcialidade = (66 334 / 9 833 014) x 1000 = 6,75 por mil
Taxa de Nupcialidade Geral (sexo feminino):

T.N. G. = (66 334 /3 836 094) x 1000 = 17,29 por mil

250
Taxa de Nupcialidade Geral das Solteiras:

T.N.G.S. = (64 836/3 836 094) x 1000 = 16,90 por mil

Taxa de Nupcialidade Geral das Viúvas:

T.N. G. V. = (434 /3 836 094) x 1000 = 0,11 por mil

Taxa de Nupcialidade Geral das Divorciadas:

T.N.G.D.= (1064 /3 836 094) x 1000 = 0,28 por mil

Taxa Bruta de Divórcio:

T. B. Div. = (9022 + 164/9833 014) x 1000 = 0,93 por mil

Taxa Bruta de Viuvez: .

T. B. Viuvez = (434 + 1045 /9 833 014) x 1000 = 0,15 por mil

b) A Tábua de nupcialidade

sN; = Taxa de nupcialidade por grupos de idade quinquenais

sn, = probabilidade de 1.º casamento


Calcula-se da seguinte forma: sn; = (2.5 .5N9)/2+(5.5Ny

= probabilidade de sobreviver ao 1.º casamento


Calcula-se da seguinte forma: sc, = 1 — sn, ou Cs / Cx

Caes = €, . se» São os celibatários nas diferentes idades exactas


Raiz da tábua (C;5) = 100 000

sm, = casamentos entre idades exactas


Calcula-se da seguinte forma: sm, = €, . sn OU Cy — Cass

G. Idades sNk 5Hy 5€x C sy

15-19 anos 05974 .25989 74011 100 000 25 989


20-24 anos 17528 .60937 .39063 74011 45 100
25-29 anos 13546 .50596 49404 28911 14 628
30-34 anos 05476 24083 15917 14 283 3 440
35-39 anos 02972 13832 86168 10 843 1500
40-44 anos 01658 07960 .92040 9343 743
45-49 anos 01226 05948 94052 8 600 512
50-54 anos 8 088

251
1 = (Cuis — Csso) / Cas
I=1-Csso/
Cys

I = (100 000 — 8088) / 100 000 = 0,91912

ou ainda

1=(25989 +... + 512)/ 100000


1=91912/ 100000 = 0, 91912
91,9% das mulheres casaram entre os 15 e os 50 anos.

Celibato Definitivo

CD. = Css / Cys


C.D. = 1 — Intensidade
C.D.= 8 088 / 100 000 = 0,08088
CD.=1-0,91912 = 0,08088
8,1% das mulheres não se casam até aos 50 anos.

Idade Média no 1.º Casamento

49
IMC = x (x. nx) / Cais = Css0
X= 15

IMC = (17,5. 25 989) + ... + (47,5 . 512)/ 100 000 — 8088


IMC =2.095775/91912=22,8

As mulheres que casam fazem-no, em média, aos 22,8 anos.

252
pa

CAPÍTULO VII

ANÁLISE DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

Introdução

Até aqui analisámos as duas variáveis demográficas responsáveis pelo movi-


mento natural da população é úma Variável indirectamente demográfica muito. par-
“icular, a nupcialidade, que não influenciando directamente o movimento. natural,
actua nele indirectamente. através da. fecundidade.
“Os movimentos migratórios são de natureza diferente e integram a outra com-

Õ SPSS CTnENTo “migratório abrange três aan distintas:

* a emigração (saída da unidade espacial de observação para um país diferente):


Paste rem
* a imigração (entrada na unidade espacial de observação de pessoas de um
pais diferente);
* as migraçõesinternas (entradas e saídas na unidade espacial de observação,
orovenientes de outras unidades espaciais de um mesmo país).

espaço dependem de fact ss sóciais e económicos EDS de natureza interna


.£ externa, em relaçãoà unidade espacial em estudo.
Por outras palavras, quando analisamos a mortalidade temos como referência
a compreensão das condições gerais de saúde existentes, e quando analisamos a
fecundidade temos como referência os modelos culturais e económicos existentes
também na unidade espacial em análise, |
No caso dos movimentos migratórios, estes podem ser justificados por razões
internas
ao sistemarenmrobservação, mas, muitas vezes, são os factores exógenos os
mais relevantes, o que implica a procura das.causas.do. -fenómeno (e, consequente-
mente, os «riscos») | fora do. campo. de. observação de um país.

253
Finalmente, outro problema importante é 9 dos sistemas de informação dispo-

ce com o.os s movimentos migratórios.


sistemas de informação actualmente existentes em Portugal, como na gene-
ralidade dos países desenvolvidos, não estão preparados para um mundo. dominan-
temente comandado, na sua dinâmica actual, pelos movimentos migratórios. Oseu
registo e a sua declaração, quer a nível interno quer a nível infernacional, não. são.
obrigatórios e o recurso a modelos probabilísticos . com base na metodologia da
translação, torna-se, na maior parte dos casos, muito difícil de aplicar.
Nascer'e morrer, independentemente dos. “dispositivos legais, são actos assu-
midos culturalmente pela maior parte dos países como declaração obrigatória. O mes-
mo não acontece com as migrações:

* quem está consciente da importância do registo real das migrações internas?


* que importância tem mudar de residência de Lisboa para o Algarve, sem
alterar o lugar de residência?
* quem vive em Leiria e trabalha em Lisboa, a que região pertence?
* um casal onde o homem trabalha em Sintra, a mulher em Setúbal e o único
filho estuda no Porto é referenciado, em termos reais, a que espaço?
* os trabalhadores portugueses em Espanha, que «residem» em Portugal, são
emigrantes ou não?

Talvez devido a este complexo de dúvidas e dificuldades no registo verificamos


que se o interesse pelas migrações, enquanto fenómeno social, data da segunda
metade do século xIx, em análise demográfica, durante muito tempo, os fenómenos
migratórios foram praticamente ignorados. A grande maioria dos demógrafos con-
siderava as migrações um fenómeno perturbador, que interfere nos dois fenómenos
demográficos «autênticos» — a mortalidade e a fecundidade.
Apesar do crescente interesse pelas técnicas de medição das migrações, sobre-
tudo a partir da década de 70, e de toda a bibliografia sobre o tema ter aumentado
substancialmente, a análise propriamente dita continua a encontrar algumas dificul-
dades que derivam da sua complexidade não poder ser directamente recolhida pelos
sistemas de informação oficiais da maior parte dos países, mesmo no caso de
estarmos perante países desenvolvidos. Os princípios e métodos de análise
demográfica que apresentamos têm-se.revelado, na maior parte.
tamente inadequados para analisar em profundidade as migrações.
—— A interdependência existente. entre os diversos tipos. de mobilidade..espacial,
tanto definitiva como temporária, bem como.a. existência, de E endulares,

das, introduzem dificuldades adicionais, na me ig:


Acresce ainda o facto de, no caso de estarmos a comparar as migrações com os
outros fenómenos demográficos, aparecerem muitos problemas de carácter concep-
tual que não existem nas outras variáveis demográficas.

254
Existem autores que adoptam uma atitude normativa ao definirem migrações
como «o conjunto de deslocações no espaço físico de indivíduos, seja qual for a
duração e a distância entre as deslocações». É verdade que uma definição ampla
é como esta abrange todos os tipos de mobilidade espacial, todavia em análise
demográfica, não é a mobilidade espacial o objecto de estudo mas sim as migra-
ções. Não estamos perante palavras sinónimas, mas perante conceitos com conteú-
casasmo forest ta tan a E dted de LA
ho espaço, as inigrações implicam a mudança do lugar de residência.
“As” migrações internas são, “assim, um, “subconjunto. da. mobilidade espacial
Quando se analisa, a totalidade « das moyimentações. quotidianas. dos indivíduos no
espaço, estamos a falar de um conjunto. finito. de, movimentos. que. são.em .geral
identificados como as deslocações entre a residência e o local de trabalho, de
“estudo, compras, de lazer e outras características semelhantes. Estamos a falar
| do
«espaço de vida» ou.do «centro de gravidade» onde têm origem os movimentos.
| A Geografia Humana 'ou a Geografia da População Seupart-se, em profundididade,
da problem: ática da medição destes movimentos.
|
|
º As migrações implicam uma modificação. da residência habitual. Essa modifi-.
cação pode ocorrer dentro do país (migrações internas)ou, para.fora.do.país (emi-
sração e imigração). É deste tipo de problemas que se ocupa a análise demográfica.
Temos, deste modo, um conjunto de métodos e técnicas comuns aos diversos
tipos de movimentos migratórios. Procuraremos apresentar aqueles que nos pare-
cem ser os mais importantes, tendo em conta a natureza dos dados disponíveis em
Portugal. Foi também a natureza dos dados que motivou o nosso critério de agrupa-
mento dos métodos: existem técnicas que se baseiam na utilização directa da infor-
mação (métodos directos) e técnicas indirectas que procuram «construir a
informação», ou seja, já não são sistemas de informação das migrações, mas uma
autêntica «produção de conhecimento migratório».

Objectivos do capítulo VIII

* Identificar a especificidade dos movimentos migratórios enquanto elemento


fundamental da dinâmica de crescimento das sociedades contemporâneas
* Conhecer e aplicar os métodos directos de análise dos movimentos migrató-
rios
* Conhecer e aplicar os métodos indirectos de análise dos movimentos migra-
tórios

2
8.1. Os métodos directos
de análi dos movimentos migratórios
Serro

Estes actodas como o próprio nome indica, São os que. nilizam eirectamente
era

“ Vejamos quais são as diversas possibilidades:

T. Bruta Emigração = (Emigrantes / População) x 1000

. 255
T. Bruta Imigração = (Imigrantes / População) x 1000

T.B. Migração Total = [(Emigrantes + Imigrantes) / População)] x 1000

Assim, se numa determinada região, dispusermos da seguinte informação:

População 1960 276 895


População 1970 205 197
Nascimentos 1961-1970 41053 Í
| Óbitos 1961-1970 25 760
| Emigrantes 1961-1970 9009
| Imigrantes 1961-1970 18
|
|| Temos:

| Taxa Bruta Emigração = (9009 / 10) / [(276 895 + 205 197) / 2] x 1000 =
= 3,74 por mil
ij Taxa Bruta Imigração = (18 / 10) / [(276 895 + 205 197) / 2] x 1000 =
| = 0,01 por mil
||] T. B. Migração Total = [(9009 + 18/ 10)] / [(276 895 + 205 197) / 2] x
à x 1000 = 3,75 por mil
|
|! | a

di
|
| Ê
Nos últimos recenseamentos da população portuguesa têm. sido. publicadas.
in- E
x
|
]
I
formações respeitantes à residência anterior. Tecnicamente não existe nada de
especial a assinalar a não ser o trabalho de se construir uma matriz onde os dados
| de entradas e saídas são combinados. É mais um problema de fontes de informação
ou de sistemas de informação em Demografia, do que um problema da análise
demográfica. No entanto, não deixa de ser importante salientar o facto de que este.
| tipo de informação permite conhecer as migrações internas até ao nível de concelho
| e toma possível o cálculo das taxas indicadas aplicadas a este fenómeno.demográfico
II | específico.
|| | |
|| | QUADRO 20
I | | j Migrações internas em Portugal no período 1995-2001
| Hi] População q Emi Saldo Total Total Total %Pop.R. %Pop.R. %Pop.R.
| | NUTS TE . Residente Inte Ds Eros Migratório Imigrantes Emigrantes Saldo Imigrantes Emigrantes Saldo
| | | || 2001 Interno Internos Intemos Migratório Internos Internos Migratório
| | | Portugal 10356 117 679894 679 894 00 — — — — — —
| || | Norte 3687293 197055 200348 -3293 290 29,5 — 53 54 - 0,09
E | | Centro 1%8217%8 85049 84161 888 125 D4 — 48 47 0,05
|) Lisboa 3468901 319858 320750 -82 40 412 — 92 92 - 0,03
| | | | Alentejo 535753 26715 28975 -2260 39 43 — 50 54 - 0,42
RU] Algarve 395218 29900 23057 684 44 34 — 76 58 1,73
à di Açores 2417%3 10500 108582 —-35 15 16 — 43 45 -0,15
| || Madeira 245011 10817 11751 -93%4 L6 17 — 44 48 - 0,38
|

256
Assim, no exemplo apresentado no Quadro 20 temos para o caso específico da
NUT Norte:

1 % Imigrantes Internos (Norte) = Total Imigrantes (Norte) / Total Imigrantes


= 197 055 / 679 894 = 28,98%

% Emigrantes Internos (Norte) = Total Emigrantes (Norte) / Total Emigrantes


= 200 348 / 679 894 = 28,46%

% Saldo Migratório Interno (Norte) — não se pode calcular

% Imigrantes Internos (Norte) na População Residente


Total Imigrantes (Norte) / Total População (Norte)
197 055 /3 687 293 = 5,34%

% Emigrantes Internos (Norte) na População Residente..


Total Emigrantes (Norte) / Total População (Norte)
200 348 / 3 687 293 = 5,43%

% Saldo Migratório Interno (Norte) na População Residente


Total Saldo migratório (Norte) / Total População (Norte)
=-3293/3 687 293 = — 0,00%

Os sistemas de informação existentes em Portugal não nos oferecem outras


possibili álculo, a não ser tratar este tipo de informação por. sexos-e-ida-
desou grupos de idades.
Não temos nada de novo a acrescentar ao que já dissemos anteriormente, a
não ser o facto de, em termos teóricos, a população emigrante de uma unidade
espacial qualquer ter de ser igualà soma das entradas nas outras unidades espa-
ciais de destino. Na prática, semelhante controlo tem-se revelado impossível de
realizar, razão pela qual se sofistica muito pouco a análise desta variável demo-
gráfica.
Depois de calculadas as Taxas Brutas, na maior parte dos casos, apenas se
exploram as informações existentes de carácter económico e social (instrução, idade
por grandes grupos, profissão, destino dos migrantes) que ultrapassam o âmbito da
análise demográfica e se situam mais no campo dos Estudos de População ou
Demografia Social.

8.2. Os métodos indirectos de análise dos movimentos migratórios

Através dos métodos, directos de análise, limitámo- -nos a calcular algumas ta-
as brutas. Nada dissemos acerca das migrações clandestinas dentro e fora do
o de observação pelo. simples. facto.de, como.o.próprio.nome-indica, estas.não,
seremnobjectode um registo directo. Também as migrações internas, nas suas múl-

. 257
tiplas variantes, só são conhecidas numa forma exaustiva de dez em dez anos,
através da exploração «das questões. retrospectivas- existentes. -Nos.recenseamentos da
população...

intensidade e a direcção dos movimentos. migratórios. quando estes não são pas-
síveis de ser medidos directamente.

A equação de concordância |

O mais conhecido dos métodos indirectos já foi por nós apresentado anterior-
mente: ométodo da equação de concordância.
Vejamos, de novo, a lógica deste instrumento de análise adaptado à resolução
deste tipo de problemas:

Pan=P.+N-O+I-E
Pan P=N-O+I-E

ou

Crescimento entre recenseamentos = Cr. Natural + Cr. Migratório


Crescimento migratório = Cr. entre recenscamentos — Cr. Natural

Se.a.qualidade dos dadosé boa, a equação de concordância. serve-para-estimar


o.crescimento migratório.
Apliquemos a lógica da equação de concordância ao dados de uma região de
Portugal no período 1960-1970:

Po . 276 895
Po . 205 197
Pro — Pg 71 698
Nsoro 41053
Obsomo 25 760
Nsoro — Osoro +15 293

Saldos Migratórios — 86 991


Emigrantes Oficiais 9 009
Imigrantes Oficiais 18
I-E Oficiais — 8991

A resolução desta equação, em termos precisos, não é tão simples como parece
à primeira vista, sobretudo quando queremos distinguir entre saldos migratórios
internos e externos.
O primeiro problema a resolveré estimar o peso dos clandestinos, ou seja, aten-
der ao facto de! nem todas as migrações serem oficiais.É um problema que não é fácil

258
e para o qual várias soluções.empíricas são apresentadas: considerar as migrações
clandestinas como 1/3 ou 1/2 das oficiais, ignorar os clandestinos e outras “soluções
empíricas ddesta natureza, que podem ser pertinente um determina o. momento
“temporal, mas completamente isentas de validade no período seguinte.
Em nosso entender, são perigosas todas as soluções que procurem encontrar
uma solução uniforme no tempo. É conveniente optar, em « cada decénio, por encon-
trar o peso da clandestinidade a nível de cada país e depois aplicar essa ponderação
as diversas regiões, nesse período, se não tivermos outras informações, normalmen-
te(EMtEGeC
dea tandocarácter
mn ca ste rg
qualitativo.
UA Ci ciano

tempo do que. no. espaço.


Retomemos o nosso exemplo.
Em Portugal, sabemos que houve, no período 1960-1970, 681 004 emigrantes
oficiais e 517 385 emigrantes clandestinos (estes valores foram calculados com
base na aplicação da equação de concordância ao total do país). Assim, a relação
dos clandestinos em relação aos oficiais é a seguinte:

% da clandestinidade = Emigrantes Clandestinos / Total Emigrantes


=517385/1 198389
= 43,17%

Se aplicarmos esta relação à região em análise temos:

9009 x 0,4317 = 3889 emigrantes clandestinos

Ou seja:

9009 (oficiais) + 3889 (clandestinos) = 12 898 (emigrantes reais)

O que possibilita o cálculo dos saldos migratórios reais:

Saldo Migratório Externo

I-E=18-12898=-
12880

Saldo Migratório Inteno = Saldo Migratório Total — Saldo Migratório Externo


— 86991 + 12880 =- 74111

E as respectivas taxas:

T. B. Emigração (real) = (12 880 / 10) / 241 046 x 1000 = 5,34 por mil
T. B. Imigração = (18 / 10) / 241 046 x 1000 = 0,01 por mil
T. B. Migração Externa Líquida = + 0,01%o — 5,34%o = — 5,33 por mil
T. B. Migração Interna Líquida = (74 111/10) /241 046 x 1000 = 30,75 por mil
T. B. Migração Total Líquida = — 5,33%o — 30,75% = — 36,08 por mil

259
Como é lógico, no caso de a imigração clandestina também ser importante,
como passou a acontecer em Portugal a partir da década de 90, procede-se de
idêntica forma.

tos métodos da população esperada 1

Estes métodos assentam numa lógica simples, se bem que a sua aplicação tenha
algumas complicações técnicas: comparar os grupos de idades dos efectivos recen-
seados em dois momentos do tempo, normalmente dois recenseamentos em t e t + n.
Para se estimar o saldo migratório no período intercensitário, multiplica-se.o
efectivo da população no momento 7 pela probabilidade. que..essa população tem
viver à morte no intervalo. n considerado. Em 4 + n obtemos um efectivo de
população. que «seria de esperar», se a população apenas. estivesse. sujeita..ao.
fenómeno da mortalidade.

2299 2173) 1753 1405


2000;
forward

- 20
0,99797 0,99836 0,99836 0,99878

2176, 1756, 1407 1376


2304)

15 /
0,99869 0,99889 0,99889 0,99932

1758, 1408 1377 1334


2179] :

10
0,99895 0,99923 0,99923 0,99961

1409 1 a78 1335 1348


1760

Si véverse
0,99820 0,99874 0,99874 0,99915

1380 1337 1350 1293


1412
0,98938 0,99301 0,99301 0,99511

0
1980 1985 1990 1995 2000
1395 1346 1359 1299

Figura 26 — Os métodos da população esperada

260 ,
To

Quando comparamos este «efectivo esperado» com o «efectivo realmente re-


<enseado», obtido no momento. 1. +.n, verificamos haver uma diferença que só pode
$
“ser. explicada pelos movimentos migratórios...
* A diferença entre os efectivos «reais» € os «esperados», possibilita uma avalia-
são “do saldo migratório nos diferentes grupos.de idades.
Para resolver.o-preblema-dos.nascimentos. ocorridos entretet+na lógica é a
mesma. Ao número de nascimentos observ ados no período aplica-se a probabilida-
de que « eles têm de sobreviver até ao próximo Tecenseamento e compara-se o «efec-.
com o «efectivo recenseado».
tivo esperado» com
, Assim, por exemplo, suponhamos que queremos estimar o saldo ínigratório no
grupo de idades 5-10 anos.
Temos de partir do grupo de idades 5-10 anos de idades em 1980 (com um
efectivo recenseado de 1760 pessoas) no momento t e multiplicar pelas duas proba-
bilidades de sobrevivência entre anos completos (,4P, de 1980 — 1985 e nPk
1985 — 1990) tiradas de uma tábua de mortalidade por grupos de idades ou de uma
tábua-tipo de mortalidade e calcular a «população esperada»:

P45.20 anos = Ps.10 anos X nPx de 1980 — 1985 x «P, 1985 — 1990
= 1760 x 0,99896 x 0,99889
= 1756 (População esperada)

Se a população recenseada em 1990, no grupo de idades 15-20 anos, em 1990,


foi de 2380 pessoas, temos uma diferença de mais 624 pessoas recenseadas do que
esperadas, ou seja:

Saldo migratórios.10 anos = população observada — população esperada


Saldo migratórios.10 anos = 2380 — 1756
= 624

Trata-se de uma estimativa que é feita no sentido de t (5 — 10 anos) para t + n


(15 — 20 anos), que é conhecida na terminologia anglo-saxónica pelo nome de
método de estimação «forward» e que é sempre referenciada em relação ao grupo

“Do mesmo modo, podemos fazer a operação inversa, isto é, a partir de t + n


(grupo de idades 15-20 anos em 1990) e estimar a população no momento + (grupo
de idades 5-10 anos em 1980) desde que se utilize a população recenseada no
momento t + n (2380 pessoas) e se utilize o inverso das probabilidades de sobrevi-
vência (,P, de 1980 — 1985 e ,P, 1985 — 1990) anteriormente descritas.
No exemplo, temos:

Ps.10 anos = P15.20 anos X inverso das probabilidades de sobrevivência


= 2380 x (1 / 0,99889) x (1 / 0,99896)
= 2380 x 1,00111 x 1,00104
= 2385 (População esperada)

, 261
Como a população recenseada em 1980, no grupo de idades 5-10 anos foi de
1760 pessoas temos:

Saldo migratórios.10 anos = população esperada — população observada


Saldo migratórios.10 anos = 2385 — 1760
= 625

Trata-se de uma estimativa que é feita no sentido de t + n (15-20 anos) para


t (5-10 anos), que é conhecida na terminologia anglo-saxónica pelo nome demé-..
todo
aa
de estimação,
ai e RR ge «reverse».e. que, é sempre. referenciada em. relação. ao grupo

de idades de chegada. .
O sentido das diferenças é sempre explicitado pelo método. «forward». Neste
caso concreto, como estávamos à espera de 1756 pessoas no recenseamento de
1990 e encontrámos apenas 2380, estamos, pelo menos neste grupo de idades,
numa clara situação de atracção, de imigração ou de saldos migratórios internos
com sinal positivo.
- Como os dois métodos não dão o mesmo resultado, apresentam

“determinado tipo. de atracçã A na! s


“grupos de idades tenham o esmo comportamento. Pode acontecer existirem. gru-
pos de idades que alternam sinais mais com sinais menos.

7.º TRABALHO PRÁTICO RESOLVIDO:


ANÁLISE DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

Observe os seguintes dados:


Portalegre Braga
População (HM) em 1960 188 395 596 768
População (AM) em 1970 145 197 612 748
Nascimentos 1961-1970 31053 200 045
Óbitos 1961-1970 19 760 67 669
Emigrantes 1961-1970 8 114 64 125
Imigrantes 1961-1970 48 867

E calcule:

a) As taxas brutas de emigração, de imigração e de migração total.


b) Compare os saldos migratórios obtidos pela equação de concordância com
os dados dos emigrantes e imigrantes oficiais.

262 :
c) Procure corrigir os dados da alínea anterior tendo em conta o fenómeno da
clandestinidade, sabendo que neste período a nível do país houve 681 004 emigran-
tes oficiais e se estima que os clandestinos foram 517 385. Apure o saldo migrató-
1 rio intemo real e interprete o resultado.
d) Com base nos dados obtidos na alínea c) calcule a taxa bruta de emigração
real, de migração externa líquida, de migração interna líquida e de migração total
líquida.
e) Calcule as taxas de crescimento anual médio total, natural e migratório.

Em Portugal, no período 1960-1970 dispomos da seguinte informação para o


sexo feminino:
Grupos Idades População 1960 População 1970 «P, de 1960-1965 P, de 1965-1970
0-4 439 449 445 541 0,99142 0,99192
5-9 417 246 475 397 0,99600 0,99728
10-14 415 786 427 481 0,99686 0,99773
15-19 381 122 414 634 0,99591 0,99705
20-24 368 532 413 258 0,99425 0,99596
25-29 348 830 378 030 0,99266 0,99494
30-34 332 025 366 414 0,99094 0,99301
35-39 306 524 343 849 0,98854 0,98986
40-44 259714 325 681 0,98471 0,98574
45-49 267 173 298 705 0,97746 0,98193
50-54 257 202 251 122 0,96696 0,97164
55-59 224 632 253 745 0,94897 0,95125
60-64 188 657 236 580 0,91191 0,91604

Calcule a estrutura por grupos de idades dos saldos migratórios.

Resolução do Trabalho Prático n.º 7

a) Taxas Brutas de Emigração


Portalegre = (8114/ 10) / [(188 395 + 145 197) / 2] x 1000
= 811,4/ 166 796 = 4,86 por mil
Braga = (64 125 / 10) / [(596 768 + 612.748) / 2] x 1000
= 6412,5 / 604 758 = 10,60 por mil

Taxas Brutas de Imigração


Portalegre = (48 / 10) / 166 796 x 1000
= 0,03 por mil

: 263
Braga = (867/10) / 604 758 x 1000
= 0,14 por mil

Taxas Brutas de Migração Total

Portalegre = 4,86 por mil + 0,03 por mil


= 4,89 por mil
Braga = 10,60 por mil + 0,14 por mil
= 10,74 por mil

b)
Portalegre Braga
P (1960) 1 188 395 596 768
P (1970) 2 145 197 612 748 -
P (1970) — P (1960) 3=2-1 — 43 198 + 15 980
Nascimentos (60-70) 4 31053 200 045
Óbitos (60-70) 5 19 760 67 669
Nasc. (60-70) — Ób. (60-70) 6=4-5 + 11 293 + 132 376
Saldo Migratório 7=3-6 — 54 491 — 116 396
Emigrantes Oficiais 8 8 114 64 125
Imigrantes Oficiais 9 48 867
I-E 10=9-8 — 8 066 — 63 258

Pan=P+N-O+I-E
Pan P,.=N-O+I-E

ou

Crescimento entre recenseamentos = C. Natural + C. Migratório


Crescimento migratório = C. entre recenseamentos — C. Natural

No distrito de Portalegre verificamos que o excesso de emigrantes oficiais em


relação aos imigrantes oficiais é de 8066, logo 1— E = — 8 066.
Porém, quando nos servimos da equação de concordância, verificamos que o
excedente das saídas do distrito em relação às entradas foi de 54 491, logo o Saldo
Migratório = — 86 991.
A diferença entre I — E e o Saldo Migratório indica-nos claramente que neste
distrito, para além da emigração e da imigração oficiais, existiram outros movimen-
tos — migrações internas, clandestinidade — e que esses movimentos são os mais
importantes.
No distrito de Braga verificamos que o excesso de emigrantes oficiais em rela-
ção aos imigrantes oficiais é de 63 258, logo I— E = — 63 258.
Porém, quando nos servimos da equação de concordância, observamos que o
excedente das saídas do distrito em relação às entradas foi de 116 396, logo o Saldo
Migratório = — 116 396.

264 .
A diferença entre 1 — E e o Saldo Migratório indica-nos claramente que neste
distrito, para além da emigração e da imigração oficiais, existiram outros movimen-
tos — migrações internas, clandestinidade — e que esses movimentos são os mais
! importantes.

c)
Sabemos que a nível do país houve 681 004 emigrantes oficiais e que os clandes-
tinos são, a nível nacional 517 385 sem se conhecer a sua região de origem.
Também sabemos que a clandestinidade varia mais no tempo do que no espaço,
logo, importa, antes de mais, para uma determinada época determinar o peso da
clandestinidade:

% Clandestinidade (1960-70) = 517 385 / (681 004 + 517 385) = 43,17%

Assim, admitindo a igual repartição do fenómeno podemos corrigir a equação


de concordância: ”

Portalegre Braga
Emigrantes Oficiais 8 114 64 125
Imigrantes Oficiais 48 867
Emigrantes Clandestinos 3503 27 683
Total Emigrantes 11 617 : 91 808
I- E (saldo migratório externo) — 11569 — 90941
Saldo Migratório Total — 54491 — 116 396
Saldo Migratório Interno — 42.922 — 25 455

Nota:
S. Migratório Total.-= S. Migratório Externo + S. Migratório Interno
S. Migratório Interno = S. Migratório Total — S. Migratório Externo

Em termos absolutos, o distrito de Braga tem uma maior repulsão do que o


distrito de Portalegre.
Porém, se no distrito de Portalegre a maior componente da repulsão são as
migrações internas, no distrito de Braga é o inverso que se observa.

d)
Portalegre
T.B. Emigração (real) =(-11617/10)/ 166 796 x 1000
= — 6,96 por mil
T.B. Imigração = + 0,1 por mil
T.B. Migração Externa Líquida — 6,96 + 0,1 = — 6,95 por mil
T.B. Migração Interna Líquida (42 922/10) / 166 796 x 1000
— 25,73 por mil
T.B. Migração Total Líquida =x 6,95 — 25,73 = — 32,68 por mil

+
265
Braga
T.B. Emigração (real) = (—- 91808 /10)/ 604758 x 1000
=- 15,18 por mil
T.B. Imigração = + 0,14 por mil
T.B. Migração Externa Líquida = — 15,18 + 0,14 = — 15,04 por mil
T.B. Migração Interna Líquida = (25 455 / 10) / 604 758 x 1000
=- 4,21 por mil
T.B. Migração Total Líquida =- 15,04 - 4,21] =— 19,25 por mil,

e)
Portalegre
T.C.A.M. Total log (145 197 / 188 395) = 10 log (l+a)
O a=-2,57%
d] 1: TC.AM. Natural log (199 688 / 188 395) = 10 log (l+a)
a = 0,58%
T.C.AM. Migratório a = — 3,15%

Braga
T.C.A.M. Total log (612 748 / 596 768) = 10 log (l+a)
a = 0,27%
T.C.A.M. Natural Jog (729 144 / 596 768) = 10 log (l+a)
a = 2,02% -
T.C.A.M. Migratório a = — 1,75%

Grupo População | População Diferença P, P, População População Diferença


Esperada PE - P(60) Esperada P(70) - PE
Idades 1960 1960 «reverso de 1960/65 de 1965/70 1970 1970 «orward»

0-4 439449 453058 +13609 099142 0,99192 44554 432158 +13383


5-9 417246 478608 +61362 0,99600 099728 475397 414427 + 60970
10-14 415786 429803 +14017 099686 099773 42748] 413548 + 13933
15-19 381122 417569 +36447 0,99591 099705 414634 378443 +36191
20-24 368532 417334 +48802 099425 099596 413258 364933 +48325
25-29 348830 382762 +3393 099266 0,949 378030 345517 +32513
30-34 332025 372367 +40342 099094 09930] 366414 326717 +3969
35-39 306524 351398 +44874 098854 0,98986 343840 299938 + 43911
40-44 259714 335523 +75809 09847] 098574 325681 252096 +73585
45-49 267173 311217 +44044 097746 0,98193 298705 256432 +42273
H 50-54 257202 267283 +10081 0,96696 097164 251122 2165] +94.
| 55-59 224632 281093 +5646] 094897 095125 253745 20277 +50968 À

266 :
Método Método Método
Grupo Idades Jo
«forward» «reverse» Média
0-4 + 13 383 + 13 609 + 13496 2,9
5-9 + 60 970 + 61362 + 61 166 12,9
10-14 + 13933 + 14017 + 13 975 3,0
15-19 + 36 191 + 36 447 + 36319 11
20-24 + 48325 + 48 802 + 48 564 10,3
25-29 + 32513 + 33 932 + 33223 7,0
30-34 + 39 697 + 40 342 + 40 020 85
35-39 + 43911 + 44 874 + 44 393 . 94
40-44 + 73 585 + 75 809 + 74 697 15,7
45-49 + 42273 + 44 044 + 43 159 9,1
50-54 + 9471 + 10081 + 9776 2,1
55-59 + 50968 + 56 461 + 53715 11,4
Total . + 472503 100

Exemplo
Grupo 0-4 anos
«forward»
439 449 x 0,99142 x 0,99192 = 432 158
saldo migratório = 445 541 — 432 158 = + 13 383

«reverse»
445 541 x (1 / 0,99142) x (1 / 0,99192) = 453 058
saldo migratório = 453 058 — 439 449 = + 13 609
média

(«forward» + «reverse») / 2
(13 383 + 13609)/2 =+ 13496
importância relativa do grupo 0-4 anos = 2,9%

Grupo 20-24 anos


«forward»
368 532 x 0,99425 x 0,99596 = 364 933
saldo migratório = 413 258 — 364 933 = + 48 325

«reverse»
413 258 x (1 / 0,99596) x (1 / 0,99425) = 417 334
saldo migratório = 417 334 — 368 532 = + 48 802
média

(«forward»> + «reverse») / 2
(48 325 + 48 802) /2 =+ 48 564
importância relativa do grupo 20-24 anos = 10,3%

267
BIBLIOGRAFIA

ARIÉS, P., Histoire des populations françaises, Ed. du Seuil, Paris, 1971.
ARROTEIA, J., Portugal: Perfil Geográfico e Social, Livros Horizonte, Lisboa, 1985.
BANDEIRA, M., Demografia e Modernidade, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa,
1996. :
BARATA, O., Introdução à Demografia, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas,
Lisboa, 1968.
BIRABEN, J. N., «Essai sur 1'évolution du nombre des hommes» in Population n.º 1, 1979,
Ed. INED, Paris, 1979.
BIRABEN, J. N., Les hommes et la peste, Ed: Mouton, Paris, 1975.
BOGUE, D., ARRIAGA, E. e ANDERTON, D., Readings in Population Research Methodology,
8 vols., UNFPA, Chicago, 1993.
BUTTEL, F., Sociologie et Environement: la lente maturation de 1 “Ecologie Humaine, Revue
Internationale des Sciences Sociales, Unesco, vol. 38, 1986.
CARRILHO, M. J. e PEIXOTO, J., « A evolução demográfica em Portugal entre 1981 e 1992»
in Estudos Demográficos n.º 31, INE, Lisboa, 1993.
CASELI, G., VALLIN, J. e WUNSCH, G., Démographie: analyse et synthêse, 5 vols., INED,
Paris, 2001.
CHAUNU, P., Un Futur sans avenir — Histoire et Population, Ed. Calmann-Levy, Paris,
1979.
CHAUNU, P., Trois millions d'années: quaire-vingts milliards de destins, Ed. Robert Laffont,
Paris, 1990.
CHESNAIS, J. C., La transition démographique — trente ans de bouleversements, Les Dossiers
du CEPED, n.º 34, Paris, 1995.
CHEVALIER, L., Démographie générale, Ed. Dalloz, Paris, 1951.
COALE A., The growth and the structure of human populations, Princeton University Press,
Princeton, 1972.
COALE, A. e DEMENY, P., Regional model life tables and stable populations, Academic
Press, Nova lorque, 1983.
CoALE, A. e GUO, G., «Revised Regional Model Life Tables at very low levels of mortality»,
Population Index n.º 55(4), Princeton University Press, 1990.

. 269
bastante simples e fácil de
A Demografia evoluiu de uma problemática inicial
es relacionadas com
delimitar: uma resposta científica a um conjunto de questõ
ou a população) e graphein
| a descrição das populações humanas — demos (o povo
exidade de áreas temáticas
| (escrever)—, para uma crescente diversidade e compl
r. Caracterizar, projectar e
cujos limites são cada vez mais difíceis de precisa
ar as modificações nas
sistematizar o ordenamento espacial da população, analis
do envelhecimento demográfico,
Bo estruturas familiares, identificar as consequências
da sua distribuição espacial,
| | as consequências do crescimento da população e
no ambiente são alguns dos inúmeros
no avaliar o efeito da dinâmica populacional
ta ou, no mínimo, uma
aspectos em que se pede à Demografia uma respos
que se ocupa actualmente a
colaboração. Esta diversidade de problemas de
a quebra da sua unidade
ciência da população não teve como consequência
só apesar das diferentes
inicial, muito pelo contrário. A Demografia é uma
perdem a sua originalidade sem a
especialidades, ou seja, todos os ramos
básico de conhecimentos
referência constante a um núcleo de base. É do núcleo
se ocupa O presente livro,
identificadores da especificidade da Demografia que
da ciência da população
ao procurar um equilíbrio entre a componente teórica
e a componente instrumental e técnica.

to Superior de Estatística
J. Manuel Nazareth é Professor Catedrático do Institu
Lisboa. Está ligado a projectos
e Gestão da Informação da Universidade Nova de
ctiva e Ecologia Humana.
nacionais e intemacionais na área da Demografia, Prospe
publicados nesta Editora e
As suas principais obras e trabalhos encontram-se
especialidade. Presentemente
em diversas revistas nacionais e estrangeiras da
ráfica e Análise Prospectiva
lecciona as cadeiras de Sistemas de Informação Demog
a de Informação Geográfica,
no Mestrado de Gestão de Informação (variante, Sistem
Demográfica e Ambiental).
1 [|]Ly |
978-972-23-3153-1

rã EDITORIAL PRESENCA
ISBN

Você também pode gostar