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Adaptado de:TIEPPO, S. F.; CARBONARA, V . Fundamentos da educação: sociologia e filosofia. 2. ed.
Caxias do Sul: Editora da Universidade de Caxias do Sul, 2005. v. 1. 240p
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Diz-se, então, que uma lei é científica, ou uma teoria é tanto mais científica, quanto
mais fatos, ou quanto mais do fato, ela explicar.” (p. 16).
Cada um dos teóricos da Sociologia aplica um método (para conhecer e explicar
a sociedade) e define o objeto de estudo (os elementos que possibilitam conhecer e
explicar a sociedade) da Sociologia. Segundo Martins (1988), "a sociologia constitui um
projeto intelectual tenso e contraditório. Para alguns ela representa uma poderosa arma a
serviço dos interesses dominantes, para outros ela é a expressão teórica dos movimentos
revolucionários.” (p. 7).
É um projeto tenso e contraditório porque não existe consenso na Sociologia. As
formas de ver a sociedade, o ser humano e a Educação são diferentes, antagônicas
muitas vezes. Quando muito, podemos falar em correntes teóricas do pensamento
sociológico. Guareschi (1999) fala em duas grandes teorias: a positivista-funcionalista e
a histórico-crítica. Cada uma delas é formada por diversos teóricos, ainda que possamos
ver como representantes máximos dessas duas teorias Emile Durkheim e Karl Marx,
respectivamente.
A Teoria Positivista-Funcionalista
Guareschi (1999) nos lembra que para essa teoria o equilíbrio, a ordem e a
harmonia são objetivos a atingir. A função das instituições sociais é manter a ordem, o
equilíbrio e a harmonia da sociedade. Essa teoria bane o conflito. Para o positivismo-
funcionalismo o conflito é uma disfunção: devemos evitá-lo. A única função do conflito
é nos trazer a falta, nos lembrar da importância da harmonia, do equilíbrio e da ordem.
A mudança, para os adeptos dessa teoria, não é bem-vinda. Para eles a sociedade
atingiu seu ápice na sociedade capitalista. Para haver mudanças só se mudar tudo, só se
surgir uma nova sociedade com outros valores, com outra organização, com outra
estrutura.
Já que Durkheim é o principal teórico dessa teoria e é um autor clássico da
Sociologia, vamos ver como ele vê a sociedade, o ser humano e a Educação.
Primeiro temos que entender, como ele, que o objeto de estudo da Sociologia
são os fatos sociais que se caracterizam por ser coercitivos (se impõem ao indivíduo),
generalizados (se aplicam a todos os indivíduos de uma dada sociedade) e exteriores
(eles estão fora do indivíduo). Os fatos sociais pré-existem a nós. Quando nascemos, já
os encontramos postos na sociedade. Eles são externos a nós, nos obrigam assim como
obrigam a todos a observá-los. Podemos dizer que eles compõem a consciência coletiva
da sociedade.
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Por exemplo: quando nascemos, a língua falada no nosso país já existe, as pessoas já
falam o português, se quisermos fazer parte da sociedade teremos que falar a mesma
língua, em muitas situações, na escola por exemplo, aprendemos como falar
corretamente, ou seja, as pessoas em muitas situações são incluídas ou excluídas se
dominam bem ou não a língua falada e escrita do país.
Podemos dizer que a última grande efervescência aconteceu nas duas grandes
revoluções do século XVIII: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Muitos dos
nossos ideais religiosos, morais e intelectuais têm sua origem nessas duas revoluções: o
materialismo; a razão; o pensamento científico como fonte do conhecimento; a
liberdade; a igualdade; a fraternidade; o indivíduo com direitos e deveres; o capital; o
salário; o lucro; as empresas; a competição; etc.
Para Durkheim as transformações, introduzidas pelas duas revoluções,
transformaram a sociedade, fizeram surgir um novo tipo de solidariedade. Para ele
existem dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. Cada uma delas é regida
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por duas forças: uma que leva à dependência e a outra que leva à independência do ser
humano. Na solidariedade mecânica, a dependência se dá pela visão de mundo, pela
forma como se conhece e se explica o mundo. A independência se dá na sobrevivência,
o ser humano não depende do Outro para encontrar sua sobrevivência física.
A Revolução Industrial e a Revolução Francesa vão inverter essa relação. O ser
humano torna-se independente em relação à visão de mundo; muitas formas de
conhecer e explicar o mundo vão se desenvolver, ainda que exista um certo respeito à
forma científica de conhecer e explicar o mundo. O ser humano é livre para aceitar ou
não esta ou aquela forma de conhecer e explicar o mundo. Isso não é um problema para
a sociedade. Desde que o ser humano respeite as leis, somos livres para acreditar no que
bem-entendermos, mas em compensação somos dependentes no que se refere à
sobrevivência. A divisão do trabalho intensificada com a industrialização tornou-nos
dependentes uns dos outros para obtermos nossa sobrevivência física. A autoprodução
ficou quase impossível na atualidade. Todos dependemos de todos. Praticamente todos
dependem da produção de produtos e de serviços feitos pelos outros. Nesse sentido, a
solidariedade orgânica é mais evoluída, pois a dependência física gera uma
solidariedade mais sólida do que a dependência psíquica da solidariedade mecânica.
Durkheim (1967) é um pensador conservador porque ele acredita que a função
da Educação é reproduzir a sociedade. Como vive numa sociedade capitalista, onde
impera a solidariedade orgânica, ele vai defender que o papel da Educação é o de
reproduzir essa sociedade instituída. Para ele a Educação é
a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se
encontrem ainda preparadas para a vida social: tem por objeto suscitar
e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais
e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo
meio especial a que a criança, particularmente, se destine. (p. 41).
A Teoria Histórico-Crítica
Nisso tudo está implícita a idéia de mudança. O mundo não é estanque, ele
muda, e a crítica é um grande instrumento de mudança. Karl Marx é o grande teórico
dessa teoria. Ele é outro dos autores clássicos da Sociologia.
O conceito-chave para Marx compreender e explicar a sociedade é o de modo-
de-produção, pois todas as sociedades têm que produzir bens e serviços que as
sociedades necessitam para seu desenvolvimento histórico. Uma sociedade que não
produz aquilo de que os seres humanos que a compõem necessitam, não se reproduz,
desaparece. Assim, o modo-de-produção é para onde se volta o olhar de Marx para
compreender, explicar e para elaborar sua teoria sobre a sociedade. Como diz Marx
(1991) em Para a Crítica da Economia Política,
o resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de
fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado em poucas
palavras: na produção social da própria vida, os homens contraem
relações determinadas, necessárias e independentes da sua vontade,
relações de produção estas que correspondem a uma etapa
determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais.
A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica
da sociedade, base real sobre a qual se levanta uma superestrutura
jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas
de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o
processo em geral da vida social, política e espiritual. Não é a
consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é
o seu ser social que determina sua consciência. Em uma certa etapa de
seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade
entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o
que nada mais é do que a sua expressão jurídica, com as relações de
propriedade dentro das quais aquelas até então se tinham movido. (p.
29-30).
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Veja se é possível viver num mundo com tanta desigualdade, onde 200 pessoas
têm mais riqueza do que ganham 2,7 bilhões pessoas em um ano. Frente a esses dados,
como negar a má distribuição da renda existente na sociedade capitalista?
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Tabela 1384 - Pessoas de 10 anos ou mais de idade, por classes de rendimento nominal
mensal - Universo
Ano = 2010
Classes de Variável
Brasil e
rendimento nominal Pessoas de 10 anos ou Pessoas de 10 anos ou
Município
mensal mais de idade (Pessoas) mais de idade (Percentual)
Total 161.990.266 100,00
Até 1/2 salário
10.255.788 6,33
mínimo
Mais de 1/2 a 1 salário
34.229.023 21,13
mínimo
Mais de 1 a 2 salários
30.588.598 18,88
mínimos
Mais de 2 a 5 salários
18.315.778 11,31
Brasil mínimos
Mais de 5 a 10
5.825.033 3,60
salários mínimos
Mais de 10 a 20
1.958.773 1,21
salários mínimos
Mais de 20 salários
727.936 0,45
mínimos
Sem rendimento 60.089.337 37,09
Sem declaração - -
Fonte: IBGE - Censo Demográfico – 2010.
Bibliografia
GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia crítica. 46. ed. Porto Alegre: Mundo Jovem, 1999.
MARTINS, Carlos. O que é Sociologia? 20. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.
MARX, Karl. Para a crítica da Economia Política. In: MARX, Karl. Manuscritos
econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
(Coleção Os Pensadores).
MARX, Karl. O Capital. crítica da Economia Política. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1971. v. 1.
MATURANA, Humberto. Emoções e Linguagem na Educação e na política. Belo
Horizonte: Ed.UFMG, 2002.