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1º Semestre
Comissão de Curso de 1º ano 2018/2019
Esta sebenta de Introdução ao Direito, disponibilizada pela
Comissão de Curso aos alunos do 1º ano da licenciatura em Direito,
foi elaborada pelos estudantes Diana Cruz e Nuno Meca Castro,
tendo por base os apontamentos trados por estes e pelas
estudantes Mariana Valladares e Raquel Thedim nas aulas teóricas
e teórico-prátcas, no 1º semestre do ano letio 2118 2119. Como
auxiliar de estudo, a sebenta não dispensa a leitura da bibliografa
obrigatória e da bibliografa complementar da unidade curricular de
Introdução ao Direito.
Bom estudo!
● Normas Religiosas
o Regulam conduta do homem tendo em vista a sua relação com Deus;
o Destinam-se a preparar o que não pertence ao mundo terreno, sendo,
por isso, normas instrumentais;
o Assentam numa lógica de transcendência;
o São intra-individuais, uma vez que se destinam ao intimo de cada
homem (podendo, no entanto, ter forte impacto social).
● Normas de Trato Social
o Tornam a convivência em sociedade mais agradável;
o Não são tidas como necessárias ao progresso social nem à
conservação da sociedade, não gozando, assim, de coercibilidade;
o A sua violação gera reprovação social, e, em casos extremos, a
marginalização.
● Normas Morais
o Ordem de conduta que visa o aperfeiçoamento da pessoa, dirigindo-a
para o bem;
o Partilha dimensão intra-individual com as normas religiosas, já que se
destinam à consciência de cada um e ao seu aperfeiçoamento;
o Mas têm um fortíssimo impacto social, uma vez que o aperfeiçoamento
do Homem passa pelo seu aperfeiçoamento em sociedade.
Entre as normas morais e as normas jurídicas existe alguma sobreposição e
dificuldade, por isso, em distingui-las. É nesse contexto eu surgem vários
critérios de distinção.
Critério do Mínimo Ético - Entende que normas jurídicas são meras normas
morais (não havendo, assim, uma verdadeira distinção) que, devido à sua
importância, merecem proteção acrescida.
Este critério falha ao ignorar que a aplicação de certas normas jurídicas pode
ofender a consciência moral de um sujeito (ex.: eutanásia, aborto).
Porque há normas moralmente neutras;
Critério da Heteronomia- O Direito distingue-se da moral na medida em que
é uma criação exterior ao próprio sujeito, enquanto que a moral é uma criação
interna. Porém, a moral não é uma criação autónoma, é construída em
contexto social, possuindo, cada sociedade, uma moral dominante.
Critério da Coercibilidade- O Direito caracteriza-se pela suscetibilidade
para a imposição de sanção pela força no caso da violação de uma norma
jurídica; a moral carece de coercibilidade.
Falha: há certos ramos do direito que carecem a capacidade de exercer
sanções (ex: Direito Internacional Público);
Há normas jurídicas imperfeitas, ou seja, que não são sancionáveis.
Critério da Exterioridade Na sua versão radical, defende que as normas
morais incidem sobre a interioridade dos atos, o lado interno da conduta, sobre
a intenção do sujeito; enquanto que as normas jurídicas incidem sobre o lado
externo, sobre o ato exteriormente manifestado, não invadindo o foro intimo (ou
seja, se o sujeito quisesse violar uma norma, mas, por algum motivo, acabasse
por não o fazer, não seria possível haver censura jurídica).
Contudo, é falso dizer que, para o Direito, é irrelevante o estado onímico do
sujeito; a intenção tem importância na condução da conduta jurídica;
Também interessa à moral o lado externo das condutas, uma vez que a ação
moralmente reprovada é a ação (mais do que a intenção) e ainda porque as
boas intenções, por si só, não são suficientes para cumprir a regra moral.
CONCLUSÃO:
O direito, como ponto de partida preocupa-se com a conduta, enquanto que a
moral se preocupa com a intenção;
O direito visa projetar uma ordem assente na relação externa, enquanto que a
moral parte do intimo do sujeito, sendo que os aspetos exteriores são reflexos
da dimensão espiritual da conduta.
Como procura, então, o Direito tratar do confronto entre direito e
moral?
Princípio da Não Litigância/Beligerância: Direito procura evitar conflitos com
a moral, admitindo até um ato imoral, mas não impondo um ato imoral. O ato
pode ser imoral e não gozar de dignidade jurídica, ou seja, não interfere
com o Direito, não tem reflexo na convivência pacífica do sujeito em sociedade
(exemplos da manifestação deste principio: artigo 128º CC, artigo 41.º n. 6,
CRP).
Objeção de Consciência: (Art.º 41, nº6 CRP): é uma posição subjetiva
protegida constitucionalmente, que se traduz no não cumprimento de
obrigações e no não praticar de atos impostos legalmente, em virtude de as
próprias convicções do sujeito o impedirem de as cumprir, sendo que estes
atos e incumprimentos estão isentos de quaisquer sanções- Dr. Francisco
Pereira Coutinho.
Requisitos cumulativos para que possa haver direito à objeção de
consciência:
1.Não cumprimento de uma norma jurídica impositiva (ou seja, uma norma
que obrigue ou proíba um determinado comportamento).
2.Motivado por razões de consciência (religiosas, ideológicas, morais,
filosóficas, políticas).
3.Individual (não pode ser exercido em grupo ou em instituições. ex: todos os
médicos de uma unidade hospitalar podem ser objetores de consciência, mas a
instituição não se pode declarar objetor de consciência).
4.Caráter pacífico
5.Não pode prejudicar gravemente terceiros.
6.Este comportamento de incumprimento é tolerado pela ordem jurídica
isentando o sujeito de qualquer sanção.
Finalidades do Direito
Relações do Direito com Justiça e Segurança
-Quid Iuris se uma norma pretensamente jurídica é contrária à justiça?
Existe validade no Direito Injusto?
-Justiça E Segurança: A justificação última da ordem jurídica tem sido
procurada nos valores próprios do direito. De entre esses valores, há dois que
se destacam: justiça e segurança.
Justiça: Numa definição clássica de Ulpiano, a justiça é a constante e
perpétua vontade de atribuir a cada um aquilo que é seu.
3 preceitos de Ulpiano: viver honestamente, não lesar/prejudicar o outro e dar
a cada um o que é seu.
-Fala-se em justiça a nível social, influenciada pelo mundo cultural e que,
como tal, goza de variabilidade.
O que legitima o uso da força pelo Direito? O que fazer perante uma lei
injusta?
Elementos lógicos da justiça:
-O primeiro elemento lógico é a proporcionalidade: a justiça, enquanto
virtude social, implica a promoção da proporcionalidade entre os sujeitos da
comunidade (preceito de Ulpiano: atribuir a cada um o que é seu).
-O segundo elemento é a igualdade: tratar o que é igual de modo igual, tratar
o que é diferente o que é diferente, na medida dessa diferença. A grande
manifestação do princípio da igualdade é a abstração e a generalidade das
normas jurídicas.
-O terceiro elemento é a alteridade: a justiça valora as condutas adotadas
pelo homem em relação. É da alteridade que deriva o princípio de que todos os
seres humanos têm o mesmo valor- está na base do princípio da dignidade da
pessoa humana.
Para Dr. Castanheira Neves, em termos materiais, a justiça assenta em dois
princípios fundamentais: o princípio da solidariedade e da
corresponsabilidade- e com base nesses o Direito deve dividir direitos e
deveres, bens e encargos, benefícios e obrigações. Diz que “o princípio ou
intenção da justiça aponta para o ponto ótimo da dialética entre a pessoa
(autonomia pessoal) e a comunidade.” - Aquele ponto em que eles coincidem
em que o proprium e o commune, próprio e comum, que a cada um
respetivamente compete e é exigido se correspondem como o verso e o
anverso.
Segundo uma lógica aristotélica e tomista há 3 tipos de justiça:
Distributiva: A justiça distributiva tem como finalidade a repartição dos
bens comuns pelos membros da sociedade segundo um critério de
proporcionalidade que atenta à finalidade da distribuição e à situação dos
sujeitos, ou seja, aos seus méritos e necessidades. É a justiça típica das
relações de subordinação e pertence ao direito público.
● Comutativa ou sinalagmática: (O sinalagma é um nexo de
correspetividade, ou seja, uma coisa não se entende sem a outra). Rege o
intercâmbio entre pessoas iguais, visando corrigir os desequilíbrios que
ocorrem no seio das relações contratuais e por força da prática de atos
ilícitos. É o que assegura a equivalência entre prestações e entre danos e
indemnizações. Quem define a justiça comutativa nas relações contratuais
são as partes.
● Geral ou Legal: rege a participação dos membros da sociedade nos
encargos comuns segundo o critério da igualdade proporcional
Segurança:
Se o objetivo do Direito é promover a convivência pacífica da sociedade, então
é essencial que os sujeitos saibam quais são as condutas que devem adotar e
que os outros vão adotar para que haja estabilidade e previsibilidade de
condutas, (sendo também essencial ao tráfico económico), ou seja, para que
haja uma convivência pacífica na sociedade. O objetivo é a confiança,
elemento essencial na vida social – ou seja, em último ponto, traz a certeza do
direito, ou seja, sei a que normas estou sujeito e o juízo feito pelo julgador é
previsível.
Manifestações:
● Direito é legislado por autoridades competentes segundo procedimentos
devidamente regulamentados.
● Normas jurídicas são gerais e abstratas aplicadas a todas as pessoas que
se encontram naquela situação
● A formulação das normas jurídicas é, em grande medida, feita em termos
precisos e claros, com recurso a conceitos técnicos
● As normas jurídicas são garantidas pelo funcionamento do aparelho
judicial e pelo poder coativo do Estado
● O sistema jurídico goza de plenitude, ou seja, regula todos os aspetos da
vida social que sejam merecedores de tutela jurídica, seja através de
normas jurídicas próprias, seja através da integração de lacunas. (Art.º 10
e 11 do CC).
Pode acontecer que entre a justiça e a segurança haja uma tensão
dialética.
Segurança sem justiça é só força, mas uma justiça sem segurança é vazia de
eficácia.
Justiça é um valor de hierarquia superior, porque a segurança legitima-se
perante ela, mas, na prática, a prevalência da segurança é uma exigência da
própria justiça, porque lhe dá operacionalidade prática.
Institutos onde prevalece a segurança perante a justiça:
● Norma que fixa a maioridade aos 18 anos.
● Prazos de prescrição e caducidade para exercício de direitos.
● A usucapião
● A não retroatividade da lei: uma lei nova não pode agir sobre um ato que
aconteceu antes da entrada em vigor.
● Caso julgado: quando a sentença é insuscetível de recurso ordinário
● Ignorância de lei (não aproveita a ninguém).
Institutos que consagram manifestação de justiça perante a segurança:
● O ius strictum corresponde a normas formuladas com base em conceitos
precisos e determinados, favorece a previsibilidade e a segurança.
● O ius aequum, normas assentes em cláusulas gerais e conceitos
indeterminados, que permite ao julgador uma maior flexibilidade à norma,
de maneira a que o julgador possa melhor adequar a decisão à justiça do
caso concreto.
(Exemplos: boa fé, ordem pública, abuso de direito, alteração
superveniente das circunstâncias, bom pai de família, bons costumes.)
Pergunta limite:
E se a resposta dada pelo ordenamento jurídico for injusta? É lícito ao sujeito
rejeitar o cumprimento da lei, pondo em causa a segurança, com fundamento
na sua natureza injusta?
Radbruch diz que deve prevalecer o respeito pela norma jurídica, mas
“sempre que a injustiça do direito positivo atinja um tão alto grau que a
segurança jurídica deixe de representar algo de positivo em confronto com
esse grau de violação da justiça, nesse caso não poderá duvidar-se que o
direito positivo injusto deve ceder perante a justiça”.
Nota: A segurança, a justiça, a dignidade da pessoa humana assumem-se
como valores do Direito.
Direito Natural
Problema da existência do Direito Natural
● O direito natural opõe-se ao direito positivo, que inclui as normas jurídicas
que nascem do precedente, do costume, pelos órgãos competentes, ou
seja, as normas que são criadas em contexto de comunidade histórica e
cultural. Fala-se em normas jurídicas que emanam do povo soberano ou
dos seus legítimos representantes.
● No direito português, são as normas jurídicas postas em vigor pelas
autoridades oficiais – as leis – ou pela vontade coletiva de uma
comunidade – o costume.
o Critérios de distinção:
▪ Critério do Interesse: as normas de direito púublico visam a proteção
do interesse público e as de direito privado visam a proteção do
interesse privado.
● FALHA: os interesses públicos e privados salvaguardam-se
mutuamente. Não existe uma divisão rígida entre eles. O interesse
público promove, pelo menos indiretamente, interesses
particulares e estes são protegidos porque existe interesse público
nesse sentido.
● Contra-argumento: Interesse predominante: as normas do
direito público promoveriam predominantemente interesses
públicos, assim como o direito privado.
o Contudo, isto introduz um elemento de incerteza e
insegurança que afeta a própria utilidade da distinção
(podemos quantificar o que é “predominantemente”?).
Oliveira Ascensão diz que não são nem públicos nem privados alguns ramos:
diz que a distinção entre direito público e privado assenta na figura do Estado,
e, portanto, qualquer ramo do Direito que não seja de origem estatal falha na
sua integração em direito privado ou público:
A norma jurídica
● Podemos dizer que uma norma jurídica é uma norma de conduta? Não
necessariamente. Muitas normas jurídicas não são normas de conduta.
● Uma norma de conduta visa orientar uma conduta, mas muitas jurídicas
não orientam condutas
o Normas retroativas: aplica-se para o futuro, mas também para o
passado. Se fala do passado, não pode orientar condutas.
o Normas qualificativas- artigo 201º, b do CC, que define o que é um
animal; Artigo 204ºCC que fala de coisas imóveis. Aqui, um terreno,
para o direito é um prédio rústico.
o Normas de aplicação automática: a personalidade jurídica é atribuída
após o nascimento completo e com vida. - Art.º 66º, 1 CC
o Normas sobre normas: são normas que regulam a vida das outras
normas.
o Normas que disciplinam a organização e funcionamento de órgãos
e processos técnicos de aplicação de normas
● Ou seja, uma norma jurídica não tem que ser uma norma de conduta.
O silogismo Judiciário:
● Premissa maior: a regra - a norma jurídica - “quem matar deve ter 5
anos de prisão”.
● Premissa menor a situação jurídica - caso concreto - “O António
matou um amigo”
● Conclusão: a aplicação da estatuição à situação - a sentença final -
“O António vai preso 5 anos, porque matou”.
Características da Norma Jurídica
● Imperatividade: nem todas as normas gozam de imperatividade, isto é,
nem todas têm como objetivo obrigar a um comportamento, mas sim,
atribuir um poder ou faculdade. - Art.72º CC
● Generalidade: uma norma deve ser feita de forma geral, de forma a ser
aplicada ao número mais abrangente de pessoas, sendo que este
número de pessoas deve ser indeterminado.
o Generalidade sucessiva: uma norma que se aplique ao Presidente
da República – existe generalidade porque não conseguimos
determinar quem serão os próximos Presidentes da República.
(Artigo 130º CRP)
● Abstração: a norma deve ser aplicável a um número amplo e
indeterminado de situações.
● Hipoteticidade: se nunca se verificar o acontecimento previsto na
previsão, a norma não se aplica. É hipotética porque só se aplica se a
situação prevista (a previsão) acontecer.
● Violabilidade: as normas jurídicas, em princípio, são violáveis.
● Bilateralidade: relação entre duas partes. Em princípio, existe sempre
um direito para um e um dever para outro, mas nem sempre acontece.
(ex: se um sujeito de uma comunidade tem o direito à vida, isso implica
um dever para a restante comunidade de não o matar.)
● Coercibilidade: Suscetibilidade de aplicação da sanção pela força.
o Há normas que não são aplicáveis pela força e outras que não têm
sanção na eventualidade da sua violação (normas qualificativas.)
Classificação das normas jurídicas
➢ Âmbito da sua aplicação: nacionais/universais, regionais, locais.
● Nacionais: Todo o território
● Regionais: determinadas regiões (ex: Açores/Madeira)
● Locais: Território de uma autarquia local
NOTA: Lacuna Jurídica: situação que o legislador não previu e que, por isso,
ficou por legislar.
➢ Âmbito da abstração:
○ Gerais: constituem o regime regra para o setor da vida que regulam.
Aplica-se, em princípio, a todo o conjunto de situações.
○ Excecionais: vai contra a regra geral e aplica-se a uma área
recortada desse setor da vida em sociedade.
○ Especiais: não indo contra a norma geral, aprofundam a norma geral
a situações específicas.
■ Direito Comercial
■ Direito do Trabalho
● Quanto à plenitude:
o Autónomas: por si só define o regime jurídico de uma situação ou
facto jurídico.
o Não autónomas: por si só, não tem um sentido completo (falta-lhe
toda ou parte da previsão, toda ou parte da estatuição), só o obtendo
por remissão para outras normas.
Normas não autónomas remissíveis:
● De forma expressa: quando a norma discrimina as
remissões.
● De forma implícita:
o Ficção jurídica: Legislador considera que
determinado facto ou situação (não previstos
juridicamente) é igual a um facto ou situação
previstos noutra disposição legal. Trata-se da
assimilação fictícia de realidades factuais
Presunções são muito importantes em tribunal. distintas, de modo a sujeitá-las ao mesmo
regime jurídico.
Há situações em que é complicado provar o
facto e, aqui, a presunção legal inverte o “ónus”
o Presunção jurídica: - artigo 349º, 350º e 351º
da prova, não tendo que se provar efetvamente
a situação, tendo antes a outra pessoa que CC
provar que não aconteceu, ajudando as pessoas o Presume-se que a partir do momento em que
a aproximarem-se o máximo possível daquilo um ato se verificou, outro também se terá
que é o facto que se tenta provar. verificado. Pode ser judicial ou legal. Exemplos:
▪ Presunção judicial: são chamas
Feita esta presunção, a outra pessoa é que tem presunções naturais, simples ou de
que provar que o que diz a presunção é mentra.
experiência. Estas ultimas só são
admitidas nos casos e termos em que é
admitida a prova testemunhal e podem
ser anuladas por simples contraprova, o
que significa que basta a apresentação
de provas que abalem a convicção do
juiz e criem um estado de incerteza.
▪ Presunção legal (com maior
importância): estão estabelecidas na lei
e relacionam-se com o regime do ónus
da prova. Ou seja, havendo presunção
legal, inverte-se o ónus da prova (artigo
344ºCC). Estas só podem ser ilididas
(quando o possam ser) através da prova
em contrário (artigo 350º,2). Por ultimo,
as presunções legais podem ser
presunções iuris tantum ou iuris et de
iure
Ex.: Artigo 1826º do CC.
● Presunções iuris et de iure:
absolutas e irrefutáveis, não
admitem prova em contrário (ex.:
art.º 243, 3 ou art.º 1260,3 CC)
● Presunções iuris tantum: podem
ser ilididas mediante prova em
contrário. Ex: art.º 441, 491 e 493
CC
● Conceitos jurídicos:
o Conceitos determinados: dão segurança jurídica. Utilizamos e sabemos
exatamente o que significa. (art.º 212 CC)
o Conceitos indeterminado: só vai ser determinado pelo julgador, ou seja,
uma expressão aberta que é determinada no caso concreto (ex.: bons
costumes). São utilizados em determinadas áreas, de modo a que o
direito acompanhe a evolução do pensamento e da vida humana,
utilizam-se normas indeterminadas. (art.º 1218º CC)
o Conceito gradativo: é um conceito indeterminado, que gradua o próprio
conceito – escassa importância.
o Regulamentação casuística: especifica tudo o que é permitido e
proibido. Este método confere segurança jurídica e previsibilidade,
mas é infeliz no aspeto de deixar sempre algo de fora.
o Cláusula geral: previsão que o legislador dá da forma mais geral que
consegue de modo a não individualizar as situações. Não é concreto,
usa conceitos indeterminados e fórmulas genéricas para abranger o
maior número de casos possíveis.
Codificação:
● Um código é uma lei que, sendo sintética, científica e sistemática, regula
no todo uma determinada realidade da vida social
● Lei avulsa: visa alterar, por exemplo, um código, mas não tem dignidade
para ser um código ou um estatuto.
● No séc. XVIII nascem os códigos, que eram a junção de todas as normas
relativas a determinada parte – influenciados pelo caráter científico da
época, são organizados da forma como os conhecemos hoje.
● Nas revoluções liberais os códigos ganharam ainda mais importância.
Formas de codificação:
Técnicas Legislativas:
● Ficções
● Presunções
● Remissões:
o Simples: A aplica-se a B
o Duplas: A aplica-se a B, B aplica-se a C, C aplica-se a D (…)
Fontes do Direito
● O direito não é o mesmo desde há 5 anos. Está sempre em evolução. Para
isso é necessário que existam factos que mudem o Direito – Fontes do
Direito
Fundamento da obrigatoriedade da norma – Nós seguimos o Direito
porque ele tem um fundamento da obrigatoriedade.
Teoria Clássica
● 4 fontes de direito – lei, costume, jurisprudência e doutrina - mas só uma
é fonte imediata: a lei
● O costume, a jurisprudência e a doutrina são só fontes de direito quando a
lei o permite.
Esta Teoria não é aquela que atualmente se defende.
Porquê?
1 – Terá a lei a função de determinar o elenco e o regime das fontes de
Direito? A lei não tem legitimidade suficiente para dizer quais são as fontes de
direito de um determinado ordenamento.
2 – Lei como única fonte de Direito?
A legitimidade que se dá à lei é uma: porque é a vontade expressa do povo –
tem a legitimidade de ser criada pelo Governo e pela Assembleia da República
que são órgãos escolhidos pelo povo – legitimidade do princípio democrático
Mas o costume também tem a legitimidade do princípio democrático – ou seja a
lei e o costume estão ao mesmo nível porque têm exatamente o mesmo
fundamento jurídico
3 - A idolatria da lei como resultado de concepções estatizantes e
legalistas do Direito – Direito como fruto do Estado. Mas nem todo o Direito
vem do Estado. Temos normas infra institucionais e supranacionais.
4 – A específica incongruência do nosso Código Civil
O nosso próprio CC é incongruente – Art.1º e Art.348º.
5 - O papel dos usos e costumes em certos ramos
Determinados ramos do direito têm como fonte de direito específica os usos –
são fontes de direito sem que a lei o diga.
Doutrina
● Conjunto de opiniões ou teorias formadas por aquilo que são os
jurisconsultos mais conhecidos (professores de direito, advogados e juízes
mais conhecidos)
● Durante muito tempo era considerada fonte de Direito
● Atualmente será fonte de direito?
o Segundo Freitas do Amaral, a doutrina ainda hoje em dia é fonte de
direito – cria os princípios de direito, cria ou redige as leis que depois
são aprovadas pela AR e pelo Governo, e integra aquilo que são os
conceitos indeterminados
o Assentos: são um instituto que apareceu na Idade Média, que diz que,
se a mesma lei criar conflito quanto à interpretação certa, deve haver um
conjunto de juízes que a interprete de forma coerente. Seria uma
sentença tida como precedente para todos os tribunais seguintes.
▪ Os assentos foram declarados, nos anos 80/90, inconstitucionais,
porque punham em causa a separação de poderes (poder judicial e
poder legislativo).
▪ Assim, criam-se os acórdãos uniformizadores de jurisprudência-
não são vinculativos nem obrigatórios, ou seja, não é uma
verdadeira fonte de direito, já que não alteram ou extinguem normas
jurídicas. Contudo, são fortes o suficiente para que todos os
tribunais acabem por segui-los. Se não o fizerem tem que justificá-
lo, e a sua justificação deve ser avaliada pelo Supremo Tribunal de
Justiça.
o Decisões Uniformes: são a mesma coisa que falar em costume
judicial. Se todos os tribunais chegarem a consenso sobre a única
interpretação possível a dar a uma norma, acontece uma decisão
uniforme. – ou seja, se preencherem as mesmas características que o
costume, é fonte de direito.
Lei
■ Encontramos 3 hipóteses:
● A lei especifica quando entra em vigor (Ex: passado um mês, um
ano, a uma data específica, etc…)
● A lei entra em vigor imediatamente - o que implica que entre em
vigor no dia seguinte à sua publicação.
● Não afirmando nada em relação a este aspeto, a lei entra em
vigor passado 5 dias da sua publicação.
■ Nota 1: estas 3 opções constam na lei 54/98- Lei Formulária.
■ Nota 2: O tempo conta-se a partir do dia seguinte à sua publicação.
■ Quando é revogada: quando aparece uma lei que revoga outra lei.
● A consagração Constitucional:
o A Constituição Portuguesa não tem um princípio geral de regulação, mas
regula até certo ponto (artigo 282º):
▪ Leis penais: artigo 29º: aplica-se a lei que existia à data da verificação
do facto. Contudo, existe a retroatividade in mitrus: quando uma lei
despenaliza um ato praticado enquanto era crime, o ato não é
considerado crime. – Aplica-se o que é mais vantajoso para o arguido,
porque se considera que o legislador mudou a lei para melhor.
▪ Leis fiscais: artigo 103º, nº3 da CRP: um imposto não pode visar
regular ou impor determinados custos para questões anteriores ao seu
estabelecimento, por questões de segurança.
● Mínima: uma norma pode ser retroativa, na sua forma mínima, quando
regula situações para o futuro e regula os efeitos para o futuro de um
facto passado. – Ou seja, vamos regular os efeitos de um facto
passado, mas não regulamos o próprio facto, à luz de uma lei nova. A
nova lei, quando entra em vigor, vai-se aplicar aos efeitos de um facto
passado, mas os efeitos que se verificaram desde a entrada em vigor
da nova lei.
● Teoria dos Direitos adquiridos: A lei, em princípio, não deve violar aquilo
que são os direitos já adquiridos, só devendo valer para os que vão ser
adquiridos. – cria imobilismo jurídico (se não pudéssemos alterar os direitos,
não havia progresso.)
● Teoria das situações objetivas e subjetivas: podemos distinguir as
relações criadas pela lei e as criadas pelas partes. A nova lei pode alterar
as relações criadas pela lei antiga, mas não as situações criadas pelas
partes. Para esta teoria, deveria-se submeter as situações subjetivas (as
das partes) à lei vigente na época em que a situação ocorreu.
● Doutrina do facto passado: diz-nos que a lei nova só se aplica para os
factos futuros, em princípio, sendo possível, contudo, que efeitos futuros
sejam regulados pela lei nova.
● Doutrina das situações jurídicas de exceção duradoura e instantânea:
para as situações duradouras, a partir da entrada da nova lei, esses factos
podem ser regulados pela nova lei. Os factos instantâneos devem ser
regulados pela lei vigente na época. É no fundo a extensão da doutrina
anterior.
● Leis interpretativas: é uma lei que não é inovadora, apenas esclarece uma
lei anterior.
o Artigo 13º CC: Diz que a lei interpretativa se integra na lei interpretada,
ficando a salvo os casos julgados, as sentenças dadas.
o Uma lei interpretativa considera-se, assim, desde a lei interpretada, logo
há uma retroatividade média, porque se aplica aos factos e efeitos
anteriores e posteriores à sua vigência, menos ao caso julgado.
● Lei confirmativa: é uma lei posterior ao facto, que confirma a sua validade.
o Normalmente as normas não são confirmativas – ou seja, a lei não
confirma os factos passados, mas sim aos futuros, aplicando-se a regra
normal da posteridade, porém, se a lei disser que é confirmativa, então é.
o Alguns autores, como Batista Machado, defendem que, mesmo que não
digam que são confirmativas, não faz sentido que não o sejam. Diz que
os interesses que normalmente existem para aplicar a norma apenas
para o futuro, como a segurança, nestas situações não se aplicam ao
caso concreto, porque se fossem confirmativas, não punham em causa a
segurança e a confiança das pessoas, porque, se, por exemplo, se tratar
dos contratos de casamento ou arrendamento, as pessoas estão a contar
com a sua validade, não sendo prejudicadas. Logo podemos aqui aplicar
a retroatividade in mitius, ou seja, o que melhor convier ao sujeito.