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Introdução ao Direito

1º Semestre
Comissão de Curso de 1º ano 2018/2019
Esta sebenta de Introdução ao Direito, disponibilizada pela
Comissão de Curso aos alunos do 1º ano da licenciatura em Direito,
foi elaborada pelos estudantes Diana Cruz e Nuno Meca Castro,
tendo por base os apontamentos trados por estes e pelas
estudantes Mariana Valladares e Raquel Thedim nas aulas teóricas
e teórico-prátcas, no 1º semestre do ano letio 2118 2119. Como
auxiliar de estudo, a sebenta não dispensa a leitura da bibliografa
obrigatória e da bibliografa complementar da unidade curricular de
Introdução ao Direito.

Bom estudo!

A Comissão de Curso de 1º Ano


O que é o Direito?
Pode-se caracterizar o Direito como um fenómeno humano; implica um fator
espiritual e é criado de humanos para humanos, regulando, portanto,
comportamentos.
É, além disso, uma norma social, só se compreendendo no homem em relação.
UBI HOMO IBI SOCIETAS
Onde existe homem existe sociedade
UBI SOCIETAS IBI JUS
Onde existe sociedade existe Direito

No Homem isolado não há direito. Assim, podemos determinar que a vida em


sociedade exige ordem, podendo, neste contexto, ser distinguidas 2 tipos de
ordem:
Natural:
-Subjacente a uma lógica de necessidade;
-Existe tal e qual como é e as suas leis são inalteráveis (funcionam na
sociedade como na natureza). Quando estas normas são violadas, perdem
validade e são substituídas;
-Descreve fenómenos da Natureza.
ex: lei heliocêntrica.
Social:
-Ordem de cultura e liberdade e não uma ordem de necessidade;
-Pressupõe a vontade do homem;
-Pode justificar-se pela racionalidade (não se impondo inelutavelmente);
-Não perdem validade se forem violadas e podem ser alteradas

A ordem social tem 2 componentes:


● Fáctica
o Descreve condutas, ou seja, não as orienta;
o Centra-se nos factos;
▪ ex.: História, Economia.
● Normativa
o Orientada por regras de conduta, pertence à dimensão do “dever ser”;
o Visam, diretamente, orientar o comportamento do ser humano e da
sociedade;
o Normas violáveis (não afetando a sua vigência, na medida em que não se
estenda ao todo social. Ou seja, o que está em causa é a posição social
face à norma, é a censurabilidade social associada à norma

O que são instituições (na sociedade ocidental)?


São “padrões de conduta socialmente sancionados que cada cultura destaca
da multiplicidade possível de modos de conduta humana, elevando-os a
padrões vinculantes para todos os membros do grupo” - Dr. Oliveira Ascensão
Ou seja, variam de povo para povo, de cultura para cultura.
ex: família, escola, sociedades comerciais, tribunais.
Muitas destas instituições foram juridificadas, resultando num número imenso
de normas jurídicas. Essa juridificação é tanto mais necessária quanto mais
volátil for a sociedade.
Os factos/vivência fáctica têm força jurídica? – Teoria da Força Normativa
dos Factos
Aqueles que defendem a Teoria da Força Normativa dos Factos acreditam
que todo o Direito deriva do facto social. Assim, a crença alarga-se ainda para
a constatação de que o Direito se situa plenamente ao nível do ser (ôntico) e
não do dever-ser (deôntico).
Para esta teoria, um facto que se torna generalizado entre os membros da
sociedade gera, por isso, normatividade, ou seja, o Direito vem de factos
sociais, retirando-lhe, assim, a perceção metafisica.
Critica à Teoria: de facto, o Direito não pode funcionar em constante oposição
social, contudo, o que altera uma norma não é a violação generalizada de um
facto, mas sim a reação da sociedade à violação desse mesmo facto. O peso
normativo vem da convicção de aceitação ou rejeição do juízo associado ao
facto.
Ou seja, o Direito vai ainda para além disso, tem um papel orientador, um
papel dinamizador das mudanças sociais e move-se por um ideal de justiça.
Ao aceitar esta teoria, nega-se ao Direito o seu papel enquanto normalizador
da vida social e a sua tentativa de implementação da justiça e da mudança na
sociedade.

Ordem Social, na sua componente normativa, enquanto ordem de


racionalidade e cultura, que se prende com a conduta dos Homens, pode-se
dividir em normas religiosas, de trato social, morais e jurídicas.
Fáctica Normativa
Normas religiosas
Normas de trato social
Normas morais
Normas jurídicas

● Normas Religiosas
o Regulam conduta do homem tendo em vista a sua relação com Deus;
o Destinam-se a preparar o que não pertence ao mundo terreno, sendo,
por isso, normas instrumentais;
o Assentam numa lógica de transcendência;
o São intra-individuais, uma vez que se destinam ao intimo de cada
homem (podendo, no entanto, ter forte impacto social).
● Normas de Trato Social
o Tornam a convivência em sociedade mais agradável;
o Não são tidas como necessárias ao progresso social nem à
conservação da sociedade, não gozando, assim, de coercibilidade;
o A sua violação gera reprovação social, e, em casos extremos, a
marginalização.
● Normas Morais
o Ordem de conduta que visa o aperfeiçoamento da pessoa, dirigindo-a
para o bem;
o Partilha dimensão intra-individual com as normas religiosas, já que se
destinam à consciência de cada um e ao seu aperfeiçoamento;
o Mas têm um fortíssimo impacto social, uma vez que o aperfeiçoamento
do Homem passa pelo seu aperfeiçoamento em sociedade.
Entre as normas morais e as normas jurídicas existe alguma sobreposição e
dificuldade, por isso, em distingui-las. É nesse contexto eu surgem vários
critérios de distinção.
Critério do Mínimo Ético - Entende que normas jurídicas são meras normas
morais (não havendo, assim, uma verdadeira distinção) que, devido à sua
importância, merecem proteção acrescida.
Este critério falha ao ignorar que a aplicação de certas normas jurídicas pode
ofender a consciência moral de um sujeito (ex.: eutanásia, aborto).
Porque há normas moralmente neutras;
Critério da Heteronomia- O Direito distingue-se da moral na medida em que
é uma criação exterior ao próprio sujeito, enquanto que a moral é uma criação
interna. Porém, a moral não é uma criação autónoma, é construída em
contexto social, possuindo, cada sociedade, uma moral dominante.
Critério da Coercibilidade- O Direito caracteriza-se pela suscetibilidade
para a imposição de sanção pela força no caso da violação de uma norma
jurídica; a moral carece de coercibilidade.
Falha: há certos ramos do direito que carecem a capacidade de exercer
sanções (ex: Direito Internacional Público);
Há normas jurídicas imperfeitas, ou seja, que não são sancionáveis.
Critério da Exterioridade Na sua versão radical, defende que as normas
morais incidem sobre a interioridade dos atos, o lado interno da conduta, sobre
a intenção do sujeito; enquanto que as normas jurídicas incidem sobre o lado
externo, sobre o ato exteriormente manifestado, não invadindo o foro intimo (ou
seja, se o sujeito quisesse violar uma norma, mas, por algum motivo, acabasse
por não o fazer, não seria possível haver censura jurídica).
Contudo, é falso dizer que, para o Direito, é irrelevante o estado onímico do
sujeito; a intenção tem importância na condução da conduta jurídica;
Também interessa à moral o lado externo das condutas, uma vez que a ação
moralmente reprovada é a ação (mais do que a intenção) e ainda porque as
boas intenções, por si só, não são suficientes para cumprir a regra moral.
CONCLUSÃO:
O direito, como ponto de partida preocupa-se com a conduta, enquanto que a
moral se preocupa com a intenção;
O direito visa projetar uma ordem assente na relação externa, enquanto que a
moral parte do intimo do sujeito, sendo que os aspetos exteriores são reflexos
da dimensão espiritual da conduta.
Como procura, então, o Direito tratar do confronto entre direito e
moral?
Princípio da Não Litigância/Beligerância: Direito procura evitar conflitos com
a moral, admitindo até um ato imoral, mas não impondo um ato imoral. O ato
pode ser imoral e não gozar de dignidade jurídica, ou seja, não interfere
com o Direito, não tem reflexo na convivência pacífica do sujeito em sociedade
(exemplos da manifestação deste principio: artigo 128º CC, artigo 41.º n. 6,
CRP).
Objeção de Consciência: (Art.º 41, nº6 CRP): é uma posição subjetiva
protegida constitucionalmente, que se traduz no não cumprimento de
obrigações e no não praticar de atos impostos legalmente, em virtude de as
próprias convicções do sujeito o impedirem de as cumprir, sendo que estes
atos e incumprimentos estão isentos de quaisquer sanções- Dr. Francisco
Pereira Coutinho.
Requisitos cumulativos para que possa haver direito à objeção de
consciência:
1.Não cumprimento de uma norma jurídica impositiva (ou seja, uma norma
que obrigue ou proíba um determinado comportamento).
2.Motivado por razões de consciência (religiosas, ideológicas, morais,
filosóficas, políticas).
3.Individual (não pode ser exercido em grupo ou em instituições. ex: todos os
médicos de uma unidade hospitalar podem ser objetores de consciência, mas a
instituição não se pode declarar objetor de consciência).
4.Caráter pacífico
5.Não pode prejudicar gravemente terceiros.
6.Este comportamento de incumprimento é tolerado pela ordem jurídica
isentando o sujeito de qualquer sanção.

Fundamento do direito à objeção de consciência:


A dignidade de consciência/liberdade de consciência.
Características do direito à objeção de consciência:
● Consagrado constitucionalmente;
● Norma precetiva: norma com eficácia imediata, atribuída diretamente pela
Constituição. Dirige-se diretamente aos cidadãos e não ao Estado; confere
um direito a cada cidadão.
● Norma de eficácia indireta. Nos termos da Constituição, o exercício desse
direito depende de lei infraconstitucional. É preciso que haja uma lei que, a
propósito de cada situação, diga em que situações se pode usar esse
direito;
(Exemplos de direitos à objeção de consciência consagrados na lei: a
propósito do aborto, pelos profissionais de saúde; serviço militar obrigatório;
reprodução medicamente assistida; diretivas antecipadas de vontade).
De onde vem este condicionamento do direito à objeção de
consciência?
O direito à objeção de consciência confere o direito de não cumprir direito. É
insustentável o direito à objeção de consciência ilimitado, daí ele ser limitado
pela lei infraconstitucional que também o consagra. Estando em causa, de
outra forma, a seriedade do Direito e a própria convivência pacífica em
sociedade.
Há autores que têm posições diferentes, como Nuno Miguel Cruz: há casos
em que mesmo que não haja direito à objeção de consciência, mesmo que
não exista lei ordinária, podemos invocar o Direito à Objeção de
Consciência quando os interesses e os valores em causa assim o
justificam. Nesse caso cabe ao juiz avaliar se o interesse em causa
fundamenta o exercício autónomo do direito à objeção de consciência.
É preciso ter consciência que o uso deste direito tem consequências a nível
macrossocial e é necessário, por isso mesmo, avaliar os prós e os contras.
-Artigo 8º nr2 CC: Dever de obediência à lei não pode ser afastado sob
pretexto de ser injusto ou imoral o conteúdo do preceito legislativo.
– Alerta para o facto de normas como Art.º 41 n.6 serem uma exceção.
O que é a ordem jurídica?
Não há uma noção unânime sobre a sua classificação.
Para os normativistas a ordem jurídica seria o somatório de todas as
normas jurídicas, existentes numa dada sociedade e num dado momento
histórico. Estudar direito seria estudar normas jurídicas, uma por uma.
Contudo, o direito é mais do que um mero aglomerado de normas. É possível
identificar uma unidade de sentido associada a esse aglomerado de
normas.
3 perspetivas sobre ordem jurídica:
● Oliveira Ascensão: a ordem jurídica “é uma noção englobante em que se
inscrevem as instituições, os órgãos, as fontes do direito, a vida jurídica ou
atividade jurídica e as situações jurídicas”. Normas jurídicas não são parte
da ordem jurídica, são uma expressão da ordem jurídica. Através das
normas, a ordem jurídica faz-se conhecer.
● Cabral de Moncada: define a ordem jurídica como “um conjunto de
normas, princípios, instituições e institutos jurídicos (direito positivo)
trabalhados pela especulação científica (ciência jurídica)”.
● Castanheira Neves: a ordem jurídica é a “institucionalização histórica do
direito”.
Existe, de facto, uma ideia nuclear que a ordem jurídica se identifica como um
conjunto relativamente estável de normas correlacionadas e harmónicas
entre si. A este conjunto dá-se o nome de Direito Objetivo.
3 principais sentidos da palavra “Direito”:
● “Vou ter Direito Civil”: Direito como Ciência Jurídica, uma ciência que
estuda a ordem normativa como método próprio.
● “O Direito Civil regula as relações entre os particulares da sociedade”:
Direito Objetivo (law)- “conjunto relativamente estável de normas, princípios,
instituições e institutos jurídicos correlacionados e harmónicos entre si”.
Cronologicamente anterior ao direito subjetivo porque é geral e abstrato. É
ele que confere os direitos subjetivos. É no direito objetivo que se encontra
a fonte dos direitos subjetivos.
● “Eu tenho direito ao chocolate, porque o paguei!”: Direito Subjetivo (right)-
Poder ou faculdade de que se encontra investido um dado sujeito jurídico.
Maioria dos autores vêm o direito objetivo como sinónimo de ordem
jurídica. Mas há outros que defendem que o sentido de ordem jurídica é
mais amplo (como Oliveira Ascensão, que diz que as situações jurídicas
são Direito Subjetivo).
Características da Ordem Jurídica:
● Necessidade: é uma ordem imprescindível à vida em sociedade, não é
possível a manutenção da sociedade sem direito. Numa sociedade sem
direito, existiria ou despotismo puro ou anarquia pura. – Não se intromete
nas relações afetivas, mas há exceções, como o casamento.
● Imperatividade: Ordens que pertencem ao dever ser e exprimem uma
exigência categórica de aplicação, não são de livre escolha. Traduzem um
dever ser necessário à pacífica convivência em sociedade. Contudo, há
normas jurídicas que não gozam de imperatividade. Algumas são
facultativas (art.º 405 CC), que permitem, ou as supletivas, que só se
aplicam se as partes não estabelecerem uma coisa diferente. Não é por
haver normas jurídicas que não são imperativas que a ordem jurídica não é.
Como um todo, é imperativa.
Contudo, há autores que negam a imperatividade, já que um indivíduo é
livre de escolher entre cumprir a norma ou sujeitar-se à sanção (imperativo
hipotético). O imperativo hipotético falha no sentido em que a sanção não
é uma escolha, é uma censura. O direito não é confiável à escolha dos
destinatários.
● Estatalidade: A característica da estatalidade parte de uma convicção de
que o direito é uma criação do estado. O direito é uma criação do estado
aplicado por órgãos que se integram no estado. O que falha na
estatalidade é, por um lado, o facto de que, se essas declarações
normativas da parte do estado não se integrarem na sociedade, não são
direito, porque este visa a vigência na sociedade, e, por outro lado, há
normas jurídicas que não têm fonte estadual, não provêm do estado (as
normas jurídicas infra estatais, como um regulamento municipal, e as supra
estatais, como o Direito Internacional Público). A vantagem de apresentar
este critério é porque a grande maioria das criações jurídicas são estatais, e
o facto de na ordem jurídica internacional coexistirem diversas ordens
jurídicas em pé de igualdade e identificadas pela sua unificação pelo
mesmo poder político estadual. As fronteiras destas ordens jurídicas são
delimitadas pelas fronteiras do Estado que as cria.
● Coercibilidade: consiste na suscetibilidade de aplicação pela força da
sanção associada à violação da regra jurídica, sendo exclusiva do Direito.
Nem todas as normas jurídicas gozam de coercibilidade, ou seja, não é uma
característica necessária de cada norma jurídica especificamente
considerada. Porque, primeiramente, há ordens jurídicas que não gozam de
coercibilidade (as infra estatais, geralmente). As ordens infra estatais
precisam de pedir emprestados os mecanismos de coercibilidade das
ordens estaduais, se tiverem dignidade jurídica. É também frequente que as
ordens supraestaduais não tenham coercibilidade, como o direito canónico.
Apesar de haver mecanismos especializados para a aplicação de sanções,
no Direito Internacional Público, estas são feitas pelos Estados. E é o poder
do infrator que determina se esta vai ou não ser aplicada, faltando, portanto,
os órgãos institucionalizados para aplicar as sanções.
-Não só há ordens jurídicas com coercibilidade fragilizada, como mesmo no
âmbito da ordem jurídica estatal há normas jurídicas carecidas de sanção –
normas jurídicas imperfeitas- e. Por exemplo, no casamento, há deveres
como assistência, coabitação, fidelidade, mas a sua violação não
desencadeia sanções jurídicas, porque se entende que o direito deve evitar
interferir na dinâmica familiar, de modo constante: deve apenas interferir em
casos particularmente graves, como a falha na questão da alimentação de
filhos.
● Há ainda outras cujas sanções são insuscetíveis de aplicação pela força:
uma multa que o Estado deva pagar. Além disso existe um tipo de
obrigações (uma obrigação é o objeto de uma relação jurídica e tem por
base uma prestação) - as obrigações naturais (Art.º402- CC) - que se
caracterizam pelo facto de o credor não poder exigir coativamente o seu
cumprimento. Se o devedor cumprir voluntariamente, não pode exigir a
restituição do que cumpriu. Apesar destas exceções, a coercibilidade é, de
facto, uma característica tendencial da ordem jurídica.
● Alteridade/Heteronomia: A ordem jurídica é uma condição externa ao
sujeito, mas pode ser uma criação da comunidade.
● Exterioridade: O ponto de partida da ordem jurídica é a conduta, o
comportamento, o lado externo da existência. Daí que a mera intenção não
traduzida em atos não tenha relevância jurídica.

O papel da Coação no Direito


-Para Max Weber “existe Direito quando a validade da ordem é garantida
exteriormente pela probabilidade de uma coação (física ou psíquica) que,
aplicada por uma instância humana, especialmente instituída para este efeito,
force ao respeito e puna a violação daquela ordem”.
De acordo com esta definição, a essência do direito é a coercibilidade, ou seja,
estamos perante uma norma jurídica sempre que esta está dotada de
coercibilidade.
-Outra posição, em confronto com Weber, é de Larenz: Não é possível
avançar uma noção de direito sem justiça. Para Larenz: “O direito é uma
ordem de convivência humana, orientada pela ideia de uma ordem justa, ideia
essa a que pelo seu próprio sentido, tal ordem vai referida”. Para esta posição
o direito encontra a sua validade na ligação à justiça, caso contrário não se
distinguiria de qualquer ordem de pura força. Para esta posição a coercibilidade
não faz parte da essência do direito, já que não o determina no seu conteúdo,
no seu ser.
A coercibilidade é uma condição de vigência do direito.
-Dr. Batista Machado diz que numa sociedade de homens imperfeitos, o
Direito é necessário para estabelecer a ordem.
-Falamos em vigência do direito quando falamos na sua existência na realidade
histórica, que se traduz na efetiva observância das normas pelos seus
destinatários, bem como na efetiva aplicação das mesmas ou das sanções por
elas culminadas por órgãos instituídos.
-Uma ordem informada pela ideia de justiça, mas que careça de vigência, não é
direito. Daí que a coercibilidade, apesar de não pertencer à essência do direito,
é-lhe indispensável, é necessária à sua existência. Para quem defende esta
posição a legitimidade do uso da força é dada pela própria essência do direito,
assente na justiça. Isto implica negar natureza jurídica às normas injustas.

Finalidades do Direito
Relações do Direito com Justiça e Segurança
-Quid Iuris se uma norma pretensamente jurídica é contrária à justiça?
Existe validade no Direito Injusto?
-Justiça E Segurança: A justificação última da ordem jurídica tem sido
procurada nos valores próprios do direito. De entre esses valores, há dois que
se destacam: justiça e segurança.
Justiça: Numa definição clássica de Ulpiano, a justiça é a constante e
perpétua vontade de atribuir a cada um aquilo que é seu.
3 preceitos de Ulpiano: viver honestamente, não lesar/prejudicar o outro e dar
a cada um o que é seu.
-Fala-se em justiça a nível social, influenciada pelo mundo cultural e que,
como tal, goza de variabilidade.

O que legitima o uso da força pelo Direito? O que fazer perante uma lei
injusta?
Elementos lógicos da justiça:
-O primeiro elemento lógico é a proporcionalidade: a justiça, enquanto
virtude social, implica a promoção da proporcionalidade entre os sujeitos da
comunidade (preceito de Ulpiano: atribuir a cada um o que é seu).
-O segundo elemento é a igualdade: tratar o que é igual de modo igual, tratar
o que é diferente o que é diferente, na medida dessa diferença. A grande
manifestação do princípio da igualdade é a abstração e a generalidade das
normas jurídicas.
-O terceiro elemento é a alteridade: a justiça valora as condutas adotadas
pelo homem em relação. É da alteridade que deriva o princípio de que todos os
seres humanos têm o mesmo valor- está na base do princípio da dignidade da
pessoa humana.
Para Dr. Castanheira Neves, em termos materiais, a justiça assenta em dois
princípios fundamentais: o princípio da solidariedade e da
corresponsabilidade- e com base nesses o Direito deve dividir direitos e
deveres, bens e encargos, benefícios e obrigações. Diz que “o princípio ou
intenção da justiça aponta para o ponto ótimo da dialética entre a pessoa
(autonomia pessoal) e a comunidade.” - Aquele ponto em que eles coincidem
em que o proprium e o commune, próprio e comum, que a cada um
respetivamente compete e é exigido se correspondem como o verso e o
anverso.
Segundo uma lógica aristotélica e tomista há 3 tipos de justiça:
 Distributiva: A justiça distributiva tem como finalidade a repartição dos
bens comuns pelos membros da sociedade segundo um critério de
proporcionalidade que atenta à finalidade da distribuição e à situação dos
sujeitos, ou seja, aos seus méritos e necessidades. É a justiça típica das
relações de subordinação e pertence ao direito público.
● Comutativa ou sinalagmática: (O sinalagma é um nexo de
correspetividade, ou seja, uma coisa não se entende sem a outra). Rege o
intercâmbio entre pessoas iguais, visando corrigir os desequilíbrios que
ocorrem no seio das relações contratuais e por força da prática de atos
ilícitos. É o que assegura a equivalência entre prestações e entre danos e
indemnizações. Quem define a justiça comutativa nas relações contratuais
são as partes.
● Geral ou Legal: rege a participação dos membros da sociedade nos
encargos comuns segundo o critério da igualdade proporcional
Segurança:
Se o objetivo do Direito é promover a convivência pacífica da sociedade, então
é essencial que os sujeitos saibam quais são as condutas que devem adotar e
que os outros vão adotar para que haja estabilidade e previsibilidade de
condutas, (sendo também essencial ao tráfico económico), ou seja, para que
haja uma convivência pacífica na sociedade. O objetivo é a confiança,
elemento essencial na vida social – ou seja, em último ponto, traz a certeza do
direito, ou seja, sei a que normas estou sujeito e o juízo feito pelo julgador é
previsível.
Manifestações:
● Direito é legislado por autoridades competentes segundo procedimentos
devidamente regulamentados.
● Normas jurídicas são gerais e abstratas aplicadas a todas as pessoas que
se encontram naquela situação
● A formulação das normas jurídicas é, em grande medida, feita em termos
precisos e claros, com recurso a conceitos técnicos
● As normas jurídicas são garantidas pelo funcionamento do aparelho
judicial e pelo poder coativo do Estado
● O sistema jurídico goza de plenitude, ou seja, regula todos os aspetos da
vida social que sejam merecedores de tutela jurídica, seja através de
normas jurídicas próprias, seja através da integração de lacunas. (Art.º 10
e 11 do CC).
Pode acontecer que entre a justiça e a segurança haja uma tensão
dialética.

Segurança sem justiça é só força, mas uma justiça sem segurança é vazia de
eficácia.
Justiça é um valor de hierarquia superior, porque a segurança legitima-se
perante ela, mas, na prática, a prevalência da segurança é uma exigência da
própria justiça, porque lhe dá operacionalidade prática.
Institutos onde prevalece a segurança perante a justiça:
● Norma que fixa a maioridade aos 18 anos.
● Prazos de prescrição e caducidade para exercício de direitos.
● A usucapião
● A não retroatividade da lei: uma lei nova não pode agir sobre um ato que
aconteceu antes da entrada em vigor.
● Caso julgado: quando a sentença é insuscetível de recurso ordinário
● Ignorância de lei (não aproveita a ninguém).
Institutos que consagram manifestação de justiça perante a segurança:
● O ius strictum corresponde a normas formuladas com base em conceitos
precisos e determinados, favorece a previsibilidade e a segurança.
● O ius aequum, normas assentes em cláusulas gerais e conceitos
indeterminados, que permite ao julgador uma maior flexibilidade à norma,
de maneira a que o julgador possa melhor adequar a decisão à justiça do
caso concreto.
(Exemplos: boa fé, ordem pública, abuso de direito, alteração
superveniente das circunstâncias, bom pai de família, bons costumes.)

Ou seja, em muitos casos, num caso de conflito, o próprio sistema


jurídico diz se deve prevalecer a segurança ou a justiça.

Pergunta limite:
E se a resposta dada pelo ordenamento jurídico for injusta? É lícito ao sujeito
rejeitar o cumprimento da lei, pondo em causa a segurança, com fundamento
na sua natureza injusta?
Radbruch diz que deve prevalecer o respeito pela norma jurídica, mas
“sempre que a injustiça do direito positivo atinja um tão alto grau que a
segurança jurídica deixe de representar algo de positivo em confronto com
esse grau de violação da justiça, nesse caso não poderá duvidar-se que o
direito positivo injusto deve ceder perante a justiça”.
Nota: A segurança, a justiça, a dignidade da pessoa humana assumem-se
como valores do Direito.

Direito Natural
Problema da existência do Direito Natural
● O direito natural opõe-se ao direito positivo, que inclui as normas jurídicas
que nascem do precedente, do costume, pelos órgãos competentes, ou
seja, as normas que são criadas em contexto de comunidade histórica e
cultural. Fala-se em normas jurídicas que emanam do povo soberano ou
dos seus legítimos representantes.
● No direito português, são as normas jurídicas postas em vigor pelas
autoridades oficiais – as leis – ou pela vontade coletiva de uma
comunidade – o costume.

Qual o problema associado ao direito natural? É o de saber se acima do


direito positivo haverá um direito natural superior ao direito positivo, de onde
este retira o fundamento da sua validade e que permite aferir a legitimidade ou
ilegitimidade do direito positivo. - Ou seja, existe um direito que é superior às
normas jurídicas criadas por cada comunidade num contexto cultural num certo
espaço de tempo?
● Na Antiguidade Clássica, Aristóteles defende que o Direito Natural vem da
essência humana.
● Na Idade Média, o direito natural assentaria nos princípios da natureza
humana vindos da vontade de Deus.
● No iluminismo, assenta na Razão.
● Hoje em dia, Marcello Caetano, Freitas do Amaral, Jorge Miranda,
defendem o jus naturalismo judaico-cristão, ou seja, vão buscar o direito
natural a Deus.

A corrente que admite a existência do direito natural é o jus naturalismo.


Diz que há um direito natural que fundamenta e legitima o direito positivo.
Jus positivismo recusa o direito natural, afirmando que não existe direito
natural, sendo o único existente o direito positivo.
No séc. XIX houve uma grande sobreposição das correntes juspositivistas.
No séc. XX e na atualidade cresceu novamente o jusnaturalismo, devido, em
parte, à Segunda Guerra Natural.

Contudo, o problema está a perder a importância, em Portugal, porque hoje em


dia a maioria dos princípios de direito natural foram positivados, estando
presentes na Constituição, Declaração dos Direitos do Homem, Direito Penal,
Convenção sobre proteção das mulheres, dos menores.
Utilidade da problemática: faz sentido continuar a colocar-se esta
problemática dado que, dependendo do regime político de cada país e do seu
contexto histórico-cultural, os direitos fundamentais continuam a ser
desrespeitados (por ex.: regimes totalitaristas) e aí falar-se-á de Direito Natural,
em defesa dos direitos fundamentais do homem.
● Crítica dos positivistas: se houvesse direito natural haveria um direito
extensível a todos os homens, que garantia os direitos fundamentais, e não
haveria pena de morte, escravatura, etc...
● Defende-se então, desde o séc. XX, que o Direito Natural não é imutável,
variando ao longo do tempo e espaço, de cultura para cultura, existindo, no
entanto, um núcleo de direito imutável de princípios fundamentais,
constantes em todo o tempo e em toda a histórica, assentando na dignidade
da pessoa humana.
● Diferença entre aceitar ou rejeitar o Direito Natural: para os
juspositivistas, qualquer conflito entre justiça e segurança deve ser a política
a resolver. Um jusnaturalista diz que esse conflito se resolve através do
direito, invocando o direito natural.

Início do Ponto 2: Teoria Geral da Norma Jurídica


Ramos do Direito:
● Ramos do Direito são conjuntos de normas jurídicas.
● O sistema jurídico, enquanto conjunto das normas jurídicas, tem uma
pretensão de plenitude, isto é, pretensão de regulação de todas as
realidades sociais dotadas de dignidade jurídica. Por um lado, fá-lo através
de uma multiplicação quase infinita de ordens jurídicas e, por outro lado,
criando mecanismos jurídicos, para colmatar lacunas de regulamentação.
(art.º 10 e 11 CC)

1ª Realidade: Multiplicação de normas jurídicas.


● Como não é possível que os destinatários das normas as conheçam todas,
pedagogicamente (a divisão não existe em termos normativos, só facilita a
exposição) optou-se por se dividir este conjunto de normas jurídicas em
grupos que têm por base as suas finalidades e os seus destinatários: estes
grupos são os Ramos de Direito.
● A primeira grande divisão que é feita, anterior aos ramos do direito, é a que
opõe o Direito Público ao Direito Privado.

o Critérios de distinção:
▪ Critério do Interesse: as normas de direito púublico visam a proteção
do interesse público e as de direito privado visam a proteção do
interesse privado.
● FALHA: os interesses públicos e privados salvaguardam-se
mutuamente. Não existe uma divisão rígida entre eles. O interesse
público promove, pelo menos indiretamente, interesses
particulares e estes são protegidos porque existe interesse público
nesse sentido.
● Contra-argumento: Interesse predominante: as normas do
direito público promoveriam predominantemente interesses
públicos, assim como o direito privado.
o Contudo, isto introduz um elemento de incerteza e
insegurança que afeta a própria utilidade da distinção
(podemos quantificar o que é “predominantemente”?).

▪ Critério da qualidade dos sujeitos: as normas são de direito público


quando regulam situações em que intervenha o Estado ou qualquer
outro ente público e são de direito privado quando regulam as
situações entre os particulares.
● FALHA: muitas vezes entes públicos atuam em condições de
paridade com qualquer outro particular.

▪ Critério da Posição dos Sujeitos: o direito público é aquele que,


primeiro, constitui e organiza o estado e outros entes públicos e,
segundo, regula a atividade do estado e outros entes públicos na sua
atuação dotada de ius imperii (poder de império), ou seja, regula a
relação dos entes públicos entre si e a relação dos entes públicos com
os particulares quando aqueles atuam no exercício do seu poder de
autoridade.
Cabe ao Direito Privado regular as relações entre os particulares e
entre os particulares e entes públicos quando estes atuam despojados
do seu poder de império, atuando, assim, em posição de paridade.

O princípio fundamental do Direito Privado é o princípio da liberdade


jurídica, tudo o que não é proibido é permitido, dando uma margem de
atuação, em termos jurídicos, que mais nenhuma área do direito dá.

Em Direito Público, o princípio fundamental é a legalidade . Ou seja, o ente


público tem que atuar dentro dos contornos ou possibilidades oferecidas pela
lei.

Oliveira Ascensão diz que não são nem públicos nem privados alguns ramos:
diz que a distinção entre direito público e privado assenta na figura do Estado,
e, portanto, qualquer ramo do Direito que não seja de origem estatal falha na
sua integração em direito privado ou público:

o Direito Internacional Público, que regularia as relações entre estados


soberanos, suscita um problema: é nele que também se regulam as
relações com organizações internacionais. Mas também regula relações
com grupos terroristas. – Ou seja, as fronteiras do direito internacional
público têm dilatado a sua afetação para o sujeito, o individual.
Daí que “o Direito Internacional Público é constituído pelo conjunto das
normas jurídicas que se aplicam a todos os membros da comunidade
internacional, para regular os assuntos específicos desta, a fim de
garantir os fins próprios da referida comunidade, nas matérias da sua
competência” - Freitas do Amaral.

o Direito da União Europeia: também tem uma natureza supra estatal.


Citando Freitas do Amaral: “O Direito da EU corresponde ao conjunto das
normas jurídicas que regulam a organização e o funcionamento da união
europeia, bem como os direitos fundamentais dos cidadãos europeus, a
fim de prosseguir a gradual integração política, económica e monetária
dos países membros, os quais convencionam para o efeito o exercício
em comum dos poderes necessários à construção da unidade europeia”.
As principais fontes do direito da união europeia são o Direito Originário
(tratados) e o Direito Derivado (regulamentos e diretivas, normas
jurídicas produzidas pelos órgãos da união europeia, dotados de poder
normativo).

o Direito dos Organismos Intermédios: é reconhecido pelo Direito


Corporativo. São normas infra estaduais, criadas por entidades que têm
uma vida jurídica autónoma face ao Estado (Ordens profissionais,
federações desportivas, organizações culturais). Ainda existem normas
que são criadas por organismos representativos de diferentes categorias
morais, culturais, económicas, profissionais. Logo, este ramo abrange as
normas que regulam a constituição, estrutura e funcionamento dos
organismos corporativos, bem como as normas criadas por esses
organismos no âmbito do seu poder normativo.
O melhor exemplo é o Direito Desportivo, cujas federações surgiram
espontaneamente, ditam a disciplina do setor, gozam de uma estrutura
jurídica complexa, tem sanções próprias.

Ramos do Direito Público:


● Direito Constitucional: é o ramo do direito que ocupa um lugar central,
porque é o que caracteriza o Estado como o detentor do poder soberano. A
maioria das normas do Direito Constitucional encontra-se na Constituição.
Regula:
o Organização e funcionamento dos poderes do estado
o Assegura a proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos
o Define as tarefas essenciais do Estado
o Traça os principais objetivos da governação pública.

● Direito Administrativo: regula a organização e atividade dos órgãos da


administração pública, enquanto tal, na persecução de interesses coletivos.
Regula também a atividade de outros entes públicos, incumbidos da
persecução interesses coletivos.

● Direito Tributário e Fiscal: Direito Tributário regula a obtenção coativa de


receitas públicas pelo Estado, através de taxas e impostos.
O Direito Fiscal é o sub-ramo do direito tributário, regulando a obtenção
coativa de receitas públicas através de impostos.

● Direito Penal: composto pelas normas jurídicas que qualificam os factos


ilícitos de maior gravidade social como crimes e estabelecem para eles as
penas e medidas de segurança, tidas como adequadas.
-Dr. Oliveira Ascensão defende que o Direito Penal é um ramo do Direito
Privado, já que regula relações entre particulares – maioria das opiniões
defendem que é Direito Público porque o que está em causa é a relação do
particular com a comunidade como um todo, que não é uma relação de
paridade. Tanto não o é que as sanções do Direito Penal provêm de um
elemento de autoridade.

o No direito penal, o princípio da legalidade é o princípio fundamental:

Não há crime sem lei


Não há pena sem lei
● Ninguém pode ser condenado por um crime ou por uma pena que não
estejam tipificados na lei à data do facto.
● Nos termos do Art.º 29 da CRP, não há normas penais incriminadoras
ou penas estabelecidas em Direito Penal.
● Principais penas são: prisão e multa.
● Medida de segurança é colocada a um agente que, por força de perícia
psiquiátrica, não consegue avaliar a ilicitude da conduta ou determinar-
se de acordo com essa avaliação- chamado sujeito inimputável.

● Direito de Mera Ordenação Social: Próximo do Direito Penal, mas


regula atos ilícitos de menor gravidade que o DP, qualificando-os como
contraordenações e estabelece para eles sanções pecuniárias, que se
denominam de coimas.

Ramos do Direito Privado


Direito Privado Comum (direito civil) e Direito Privado Especial
● Direito Civil:
o Obrigações: rege relações jurídicas obrigacionais.
o Direito das coisas: direito de aquisição das coisas
o Direito da família
o Direito das sucessões
● Direito Comercial: fala dos atos objetivamente comerciais por si mesmo, ou
subjetivamente comerciais (um comerciante compra um computador para o seu
filho).
o Direito Marítimo
o Direito Bancário
o Direito dos seguros
● Direito do Trabalho: disciplina relações entre trabalhadores e empregadores.
Autonomizou-se do código civil porque não faz sentido tratar as partes em
paridade, quando elas não estão.
● Direito Internacional Privado: relações entre sujeitos de diferentes
nacionalidades. Formado por normas de conflitos que determinam qual lei deve ser
aplicada, de que país.
● Direito Agrário: é o direito da agricultura. Aquisição de contrários, credito que visa
a produção de culturas.
● Direito de Autor: protegem o génio artístico. Criação literária, cinematográfica,
etc.
● Propriedade industrial: direitos sobre bens que significam representações do
comércio (patentes, marcas, conhecimento -know-how).
● Outros direitos:
o Direito do consumo
o Direito da publicidade
o Direito da Comunicação social
o Direitos de personalidade (art.º 70 do CC).

A norma jurídica
● Podemos dizer que uma norma jurídica é uma norma de conduta? Não
necessariamente. Muitas normas jurídicas não são normas de conduta.
● Uma norma de conduta visa orientar uma conduta, mas muitas jurídicas
não orientam condutas
o Normas retroativas: aplica-se para o futuro, mas também para o
passado. Se fala do passado, não pode orientar condutas.
o Normas qualificativas- artigo 201º, b do CC, que define o que é um
animal; Artigo 204ºCC que fala de coisas imóveis. Aqui, um terreno,
para o direito é um prédio rústico.
o Normas de aplicação automática: a personalidade jurídica é atribuída
após o nascimento completo e com vida. - Art.º 66º, 1 CC
o Normas sobre normas: são normas que regulam a vida das outras
normas.
o Normas que disciplinam a organização e funcionamento de órgãos
e processos técnicos de aplicação de normas

● Ou seja, uma norma jurídica não tem que ser uma norma de conduta.

Estrutura da Norma: “se… então…”


● Se: Previsão é a realidade que se deve verificar para que se verifiquem
as consequências jurídicas prevista na norma.
▪ Previsão não tem que existir sempre. O Édito de Caracala não teve,
por exemplo, uma previsão. Há apenas estatuição.

● Então: Estatuição: consequência jurídica da norma. A estatuição ou


obriga, ou faculta ou confere um direito subjetivo:
o Faculta quando atribui uma qualidade (se tenho 17 anos e 365 dias,
com a passagem de mais 1 dia, adquiro uma qualidade diferente: maior
de idade)
o Confere um direito quando atribui à pessoa um poder (se me riscarem
o carro, tenho o direito a uma indemnização)
o Obriga quando cria um dever jurídico (se vender o meu carro, pagarei
impostos pela venda).
▪ Exemplo: artigo 483º CC.
▪ Exemplo: artigo 169º Código Penal

● Normas não autónomas: não contém as duas partes da norma, ou falta a


previsão ou a estatuição.

● Facto jurídico: um evento juridicamente relevante e suscetível de produzir


efeitos de Direito; aparecendo na previsão dá lugar à estatuição.
o Puros factos jurídicos: factos que acontecem sem intervenção da
vontade do sujeito. (ex.: terramoto, incêndio).

o Atos jurídicos: modos de conduta dirigidos pela vontade


▪ Declarações negociais: declarações dirigidas à produção de um
determinado efeito jurídico modelado pela vontade.
▪ Declarações quase-negociais: declarações dirigidas à produção de
um determinado efeito jurídico predeterminado (o direito regula as
consequências jurídicas, ou seja, o facto jurídico é quase negociado).
▪ Simples atos jurídicos: condutas dirigidas pela vontade, que produz
uma consequência que não é desejada pelo sujeito (ex.: se um
sujeito riscar o carro a alguém, deseja apenas riscar o carro e não a
sanção que isso acarreta).
● Situação jurídica: posição em que o sujeito se encontra perante o direito.

O silogismo Judiciário:
● Premissa maior: a regra - a norma jurídica - “quem matar deve ter 5
anos de prisão”.
● Premissa menor a situação jurídica - caso concreto - “O António
matou um amigo”
● Conclusão: a aplicação da estatuição à situação - a sentença final -
“O António vai preso 5 anos, porque matou”.
Características da Norma Jurídica
● Imperatividade: nem todas as normas gozam de imperatividade, isto é,
nem todas têm como objetivo obrigar a um comportamento, mas sim,
atribuir um poder ou faculdade. - Art.72º CC
● Generalidade: uma norma deve ser feita de forma geral, de forma a ser
aplicada ao número mais abrangente de pessoas, sendo que este
número de pessoas deve ser indeterminado.
o Generalidade sucessiva: uma norma que se aplique ao Presidente
da República – existe generalidade porque não conseguimos
determinar quem serão os próximos Presidentes da República.
(Artigo 130º CRP)
● Abstração: a norma deve ser aplicável a um número amplo e
indeterminado de situações.
● Hipoteticidade: se nunca se verificar o acontecimento previsto na
previsão, a norma não se aplica. É hipotética porque só se aplica se a
situação prevista (a previsão) acontecer.
● Violabilidade: as normas jurídicas, em princípio, são violáveis.
● Bilateralidade: relação entre duas partes. Em princípio, existe sempre
um direito para um e um dever para outro, mas nem sempre acontece.
(ex: se um sujeito de uma comunidade tem o direito à vida, isso implica
um dever para a restante comunidade de não o matar.)
● Coercibilidade: Suscetibilidade de aplicação da sanção pela força.
o Há normas que não são aplicáveis pela força e outras que não têm
sanção na eventualidade da sua violação (normas qualificativas.)
Classificação das normas jurídicas
➢ Âmbito da sua aplicação: nacionais/universais, regionais, locais.
● Nacionais: Todo o território
● Regionais: determinadas regiões (ex: Açores/Madeira)
● Locais: Território de uma autarquia local

NOTA: Lacuna Jurídica: situação que o legislador não previu e que, por isso,
ficou por legislar.

➢ Âmbito da abstração:
○ Gerais: constituem o regime regra para o setor da vida que regulam.
Aplica-se, em princípio, a todo o conjunto de situações.
○ Excecionais: vai contra a regra geral e aplica-se a uma área
recortada desse setor da vida em sociedade.
○ Especiais: não indo contra a norma geral, aprofundam a norma geral
a situações específicas.
■ Direito Comercial
■ Direito do Trabalho

Estes dois ramos apareceram pela criação de regras excecionais


e especiais sobre eles. Ganharam tal importância que se
separaram e criaram ramos do Direito à parte.

➢ Quanto à vontade dos destinatários relativamente à norma:


○ Normas imperativas: a vontade das pessoas não interfere na
aplicação da própria norma.
■ Percetivas: impõe uma determinada conduta.
■ Proibitivas: proíbe uma determinada conduta.

○ Normas permissivas ou dispositivas: normas em que a sua


aplicação depende (ou não) da vontade do sujeito.
● Facultativas: dão direitos a uma determinada pessoa
● Interpretativas: determinam o alcance das decisões que
fazemos
● Supletivas: suprem a falta de manifestação da vontade das
partes– visam sobretudo interesses privados.
● Quanto à sanção a aplicar:
o Leges plus quam perfectae: A sanção desta norma tem 2
consequências: a invalidade do ato e a sanção para a pessoa que o
praticou. (o contrato pelo qual o pai o negocia com outrem os “favores”
de uma filha: o negócio é nulo - artigo 280.º, 2 CC e além disso, é
passível de uma sanção penal (Art.º 405 do Código Penal).
o Leges perfectae: São aquelas cuja violação implica a invalidade do
próprio ato. (ex.: art. 875º)
o Leges minus quam perfectae: uma norma cuja consequência não é a
inviolabilidade do ato, mas sim uma sanção. (ex.: art 129º).
o Leges imperfectae: A prática de um ato não tem qualquer
consequência para quem as pratica.

● Quanto à plenitude:
o Autónomas: por si só define o regime jurídico de uma situação ou
facto jurídico.
o Não autónomas: por si só, não tem um sentido completo (falta-lhe
toda ou parte da previsão, toda ou parte da estatuição), só o obtendo
por remissão para outras normas.
Normas não autónomas remissíveis:
● De forma expressa: quando a norma discrimina as
remissões.
● De forma implícita:
o Ficção jurídica: Legislador considera que
determinado facto ou situação (não previstos
juridicamente) é igual a um facto ou situação
previstos noutra disposição legal. Trata-se da
assimilação fictícia de realidades factuais
Presunções são muito importantes em tribunal. distintas, de modo a sujeitá-las ao mesmo
regime jurídico.
Há situações em que é complicado provar o
facto e, aqui, a presunção legal inverte o “ónus”
o Presunção jurídica: - artigo 349º, 350º e 351º
da prova, não tendo que se provar efetvamente
a situação, tendo antes a outra pessoa que CC
provar que não aconteceu, ajudando as pessoas o Presume-se que a partir do momento em que
a aproximarem-se o máximo possível daquilo um ato se verificou, outro também se terá
que é o facto que se tenta provar. verificado. Pode ser judicial ou legal. Exemplos:
▪ Presunção judicial: são chamas
Feita esta presunção, a outra pessoa é que tem presunções naturais, simples ou de
que provar que o que diz a presunção é mentra.
experiência. Estas ultimas só são
admitidas nos casos e termos em que é
admitida a prova testemunhal e podem
ser anuladas por simples contraprova, o
que significa que basta a apresentação
de provas que abalem a convicção do
juiz e criem um estado de incerteza.
▪ Presunção legal (com maior
importância): estão estabelecidas na lei
e relacionam-se com o regime do ónus
da prova. Ou seja, havendo presunção
legal, inverte-se o ónus da prova (artigo
344ºCC). Estas só podem ser ilididas
(quando o possam ser) através da prova
em contrário (artigo 350º,2). Por ultimo,
as presunções legais podem ser
presunções iuris tantum ou iuris et de
iure
Ex.: Artigo 1826º do CC.
● Presunções iuris et de iure:
absolutas e irrefutáveis, não
admitem prova em contrário (ex.:
art.º 243, 3 ou art.º 1260,3 CC)
● Presunções iuris tantum: podem
ser ilididas mediante prova em
contrário. Ex: art.º 441, 491 e 493
CC

● Normas inovadoras e normas interpretativas:


o Normas inovadoras: alteram o ordenamento jurídico, criando ou
extinguindo normas
o Norma interpretativa: clarificam, ajudando a interpretar, o
ordenamento jurídico.

● Normas percetivas e programáticas:


o Determinadas normas constitucionais têm uma aplicação imediata,
enquanto que outras não.
o Normas percetivas: são de aplicação imediata.
o Normas programáticas: são normas que determinam os fins, mas
esses fins não podem ser concretizados só pela existência na norma,
mas sim de outros fatores, externos à norma.

● Normas materiais, orgânicas e formais:


o Normas orgânicas: regulam a organização de uma determinada
pessoa coletiva.
o Normas formais: estabelecem determinados procedimentos a adotar
para alcançar determinados fins.
o Normas materiais: são as restantes (o que conseguimos entender
como ‘normas normais’)

● Normas comuns e singulares:


o Normas comuns: aplicam-se a todos os cidadãos
o Normas singulares: aplicam-se a alguns cidadãos

● Normas substantivas e adjetivas:


o Normas adjetivas: regulam o funcionamento dos tribunais (direito
processual).
o Normas substantivas: regulam as relações sociais, atribuindo direitos
e deveres, contendo a solução do caso concreto.

Personalidade Jurídica e Capacidade


● Personalidade jurídica: qualidade que uma pessoa tem de ser titular de
direitos e obrigações (art.º 66 CC)
● Capacidade de gozo: quantidade de direitos e obrigações que uma
pessoa (a personalidade jurídica) pode ter.
● Capacidade de exercício: quantidade de direitos que uma pessoa pode
exercer
o Capacidade de exercício limitado: não tem a capacidade de
exercer por si só todos os direitos
Direitos subjetivos e potestativos
● Direitos subjetivos: faculdades que temos de exigir de outrem
determinado facto positivo (quando exigimos que faça algo) ou
negativo (quando exigimos que não faça algo).
o De crédito ou relativos: direito que temos face a uma determinada
pessoa
o De domínio ou absolutos: faculdade que temos, não sobre uma
determinada pessoa, mas de todos à nossa volta.
Para um direito subjetivo está, do outro lado, uma obrigação.
● Direitos potestativos: capacidade que temos de, mediante uma
declaração unilateral, criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica.
Para um direito potestativo está do outro lado uma sujeição, ou seja, a
pessoa fica sujeita àquilo que, pela nossa vontade, determinamos.
Técnicas Legislativas
● O legislador, desde que começou a fazer leis, foi aprendendo como as
fazer, criando regras que ajudam a aplicar o direito na prática:

● Sistematização das normas: os códigos e as leis devem estar


organizados segundo matérias, de modo a chegar à legislação mais
facilmente.
o Livros
o Títulos
o Capítulos
o Secções
o Subsecções

Parte geral: conjunto de normas que se aplicam a todas as situações (aqui


especificam-se todos os conceitos, para não terem que ser repetidos).

● Conceitos jurídicos:
o Conceitos determinados: dão segurança jurídica. Utilizamos e sabemos
exatamente o que significa. (art.º 212 CC)
o Conceitos indeterminado: só vai ser determinado pelo julgador, ou seja,
uma expressão aberta que é determinada no caso concreto (ex.: bons
costumes). São utilizados em determinadas áreas, de modo a que o
direito acompanhe a evolução do pensamento e da vida humana,
utilizam-se normas indeterminadas. (art.º 1218º CC)
o Conceito gradativo: é um conceito indeterminado, que gradua o próprio
conceito – escassa importância.
o Regulamentação casuística: especifica tudo o que é permitido e
proibido. Este método confere segurança jurídica e previsibilidade,
mas é infeliz no aspeto de deixar sempre algo de fora.
o Cláusula geral: previsão que o legislador dá da forma mais geral que
consegue de modo a não individualizar as situações. Não é concreto,
usa conceitos indeterminados e fórmulas genéricas para abranger o
maior número de casos possíveis.

o Conceitos extrajurídicos: conceitos determinados por outras ciências


(ex: surdez, cegueira.)

Concretização dos conceitos indeterminados:


o Proposta objetivista: olha para algo objetivo na sociedade (o
ordenamento jurídico)
o Proposta subjetivista: olha para os sujeitos da sociedade
o Uma proposta finalista: olha para os fins desse conteúdo

Codificação:
● Um código é uma lei que, sendo sintética, científica e sistemática, regula
no todo uma determinada realidade da vida social
● Lei avulsa: visa alterar, por exemplo, um código, mas não tem dignidade
para ser um código ou um estatuto.
● No séc. XVIII nascem os códigos, que eram a junção de todas as normas
relativas a determinada parte – influenciados pelo caráter científico da
época, são organizados da forma como os conhecemos hoje.
● Nas revoluções liberais os códigos ganharam ainda mais importância.

Formas de codificação:

● Republicação: quando os códigos estão desatualizados, faz-se uma lei


avulsa. Mas, quando são muitas alterações, teríamos que ver todas as leis
que vieram a alterar a lei em questão, por isso, faz-se uma republicação,
em que a lei já é publicada com todas as alterações feitas.
o Estão previstas na lei Formulária (por exemplo, quando é que uma lei
dá entrada em vigor).

● Compilação: Conjunto dos vários diplomas que já existem num só


documento (pode ser feita por vários critérios, por exemplo, por data do
diploma).

● Consolidação: na consolidação, junta-se o conteúdo dos vários diplomas,


mas corta-se as partes que já estão desatualizadas ou que não precisam de
ali estar, ao contrário da compilação.

● A codificação, apesar de ter sido uma importante evolução jurídica,


considera-se que se encontra em crise porque:
o Fazer um código é trabalhoso e dispendioso e governos sentem que não
beneficiam deles (porque provavelmente o governo que inicia a sua
elaboração pode não ser o que o acaba).

o Cada vez mais a regulamentação vai ao pormenor, criando-se


microssistemas.

Regulamentação casuística: enumera os pressupostos para uma


consequência jurídica. É, muitas vezes, inadequada, pela própria natureza
complexa, por se tratar de relações sociais sujeitas a uma mutação rápida e
corre sempre o risco de cometer omissões.
Podem ser lacunas de regulamentação, quando o legislador não compreende
todas as situações possíveis, ou de exceção, quando o legislador abrange
casos inadvertidamente, dado que compreende casos que exigem um
tratamento especial, de exceção.
● Regulamentação casuística taxativa: quando o legislador descreve ou
lista os factos que dão lugar a estatuição, estes factos são os únicos que
dão lugar a estatuição (Art. 351º1)
● Regulamentação casuística exemplificativa: estes factos não dão lugar à
estatuição. Quando o legislador descreve os factos como estes são. (Art.
351º 2, “nomeadamente, designadamente”)
o Ex: Art. 82º

Técnicas Legislativas:
● Ficções
● Presunções
● Remissões:
o Simples: A aplica-se a B
o Duplas: A aplica-se a B, B aplica-se a C, C aplica-se a D (…)

Fontes do Direito
● O direito não é o mesmo desde há 5 anos. Está sempre em evolução. Para
isso é necessário que existam factos que mudem o Direito – Fontes do
Direito
Fundamento da obrigatoriedade da norma – Nós seguimos o Direito
porque ele tem um fundamento da obrigatoriedade.

● Causas que criam e modificam o Direito (Cultural, Histórica, Económica e


Política)
o Cultural – a cultura de cada país influencia o Direito; cada cultura tem um
sistema jurídico próprio, que o distingue dos demais. A civilização é, assim,
fonte do seu próprio direito.
o Histórica – A história, os factos históricos, assumem-se como fonte de
Direito, ou seja, o Direito evolui com o evoluir da história.
o Económico-social – a situação económico-social de cada época, de cada
pais, afeta aquilo que é o ordenamento jurídico do mesmo pais, logo muitas
normas jurídicas têm como causa fatores de ordem económico-social.
o Política – Grandes transformações politicas operam sempre
transformações jurídicas. Pode confundir com a causa histórica, mas, a
curto prazo, a criação, modificação ou extinção de normas jurídicas pode
resultar, diretamente, de fenómenos políticos (lobbies, pressões
diplomáticas, são fontes de direito em sentido politico).
Por exemplo, consoante o partido que está no poder, o direito também se
altera ex.: educação; arrendamento (está em constante mutação – a
esquerda defende os arrendatários e tenta a manutenção das rendas num
valor justificável; a direita tenta flexibilizar o mercado e deixar ao critério dos
senhorios aumentar ou não as rendas, expulsar ou não os inquilinos)

O conhecimento destes fatores é essencial para a interpretação da lei,


já que permitem saber em que circunstâncias, por que razão e em que
condições foi elaborada determinada lei.

● Instrumento da sua revelação – Instrumento onde as normas jurídicas


estão –quando se aprova uma lei, a fonte jurídica, em termos materiais, é
o próprio documento jurídico onde está a lei.

● Influência – As nossas leis são influenciadas por leis de outros países; a


legislação francesa após a revolução francesa foi uma fonte de direito em
termos de influência do CC português;

● Podem ter ainda outras classificações:


o Imediatas – têm força/poder normativo por si só - lei
o Mediatas – só têm a força (jurídica) que as fontes imediatas lhes
deram/emprestam

o Fontes produtoras – fontes que criam, modificam ou extinguem normas


jurídicas
o Fontes reveladoras – clarificam o sentido das normas jurídicas

o Fontes voluntárias – por vontade expressa, criam, modificam ou


extinguem normas jurídicas - lei
o Fontes involuntárias - não há uma vontade expressa de criar, modificar
ou extinguir normas jurídicas – costume

Teoria Clássica
● 4 fontes de direito – lei, costume, jurisprudência e doutrina - mas só uma
é fonte imediata: a lei
● O costume, a jurisprudência e a doutrina são só fontes de direito quando a
lei o permite.
Esta Teoria não é aquela que atualmente se defende.
Porquê?
1 – Terá a lei a função de determinar o elenco e o regime das fontes de
Direito? A lei não tem legitimidade suficiente para dizer quais são as fontes de
direito de um determinado ordenamento.
2 – Lei como única fonte de Direito?
A legitimidade que se dá à lei é uma: porque é a vontade expressa do povo –
tem a legitimidade de ser criada pelo Governo e pela Assembleia da República
que são órgãos escolhidos pelo povo – legitimidade do princípio democrático
Mas o costume também tem a legitimidade do princípio democrático – ou seja a
lei e o costume estão ao mesmo nível porque têm exatamente o mesmo
fundamento jurídico
3 - A idolatria da lei como resultado de concepções estatizantes e
legalistas do Direito – Direito como fruto do Estado. Mas nem todo o Direito
vem do Estado. Temos normas infra institucionais e supranacionais.
4 – A específica incongruência do nosso Código Civil
O nosso próprio CC é incongruente – Art.1º e Art.348º.
5 - O papel dos usos e costumes em certos ramos
Determinados ramos do direito têm como fonte de direito específica os usos –
são fontes de direito sem que a lei o diga.

Teoria do Pluralismo Jurídico


● São fontes de direito qualquer facto da sociedade que, por si só, crie,
modifique ou extinga normas jurídicas
● Lei, costume, doutrina, jurisprudência, guerra, declarações políticas,
revoluções, princípios de direito, normas corporativas, etc. – todos são
fontes de direito.
Costume
● Prática uniforme no tempo, geral e reiterada com convicção da sua
juridicidade.
● Divide-se num corpus – prática reiterada (no tempo), uniforme (não pode
haver práticas contrárias ao costume) e geral (seguida por toda a gente que
o pode seguir) de determinado comportamento – e num animus (convicção
da sua juridicidade quer quando é obrigatório, quer quando é meramente
permissivo)
● Uso – prática reiterada de um determinado ato, mas sem a convicção da
sua obrigatoriedade.
o Internacional – aplicam-se a toda a comunidade internacional
o Nacional – aplicam-se a nível nacional, dentro do país.
o Regional –aplicam-se apenas em determinadas regiões ou a uma, em
especifico.
o Institucional – aplicam-se a algumas instituições (p. ex.: o quarto de
hora académico).
O Costume tem uma evolução histórica – é sempre circular – começa sempre
por ter muita força quando não existe um poder político que a tenha; começam
a aparecer as leis e o costume perde força e importância. Lei chega ao seu
expoente máximo a partir do jusracionalismo – o Homem pela razão consegue
escrever o conjunto de normas que deve regular o ordenamento jurídico - e das
revoluções liberais – tudo o que está para trás, para o bem ou para o mal, está
ligado ao absolutismo ou ao poder monárquico – apagar qualquer vestígio – lei
deve ser aplicada como a única fonte de direito, aplicada a toda a gente.

● Costume tende a perder importância:


o Não é suficientemente dinâmico – demora muito tempo a
aparecer/modificar-se
o É impreciso e indeterminado– Nós nunca sabemos quando é que um
costume é efetivamente costume ou ainda não
● Vantagens:
o Forma mais direta de vontade popular
o É aplicado automaticamente
o Foge àquilo que é a arbitrariedade do poder político

A relação entre o costume e a lei


● Secundum legem – Está de acordo com a lei.
● Praeter legem – Vai para além daquilo que é a lei, não contraria a lei, mas
acrescenta-lhe algo.
● Contra legem – Vai contra a lei

Doutrina
● Conjunto de opiniões ou teorias formadas por aquilo que são os
jurisconsultos mais conhecidos (professores de direito, advogados e juízes
mais conhecidos)
● Durante muito tempo era considerada fonte de Direito
● Atualmente será fonte de direito?
o Segundo Freitas do Amaral, a doutrina ainda hoje em dia é fonte de
direito – cria os princípios de direito, cria ou redige as leis que depois
são aprovadas pela AR e pelo Governo, e integra aquilo que são os
conceitos indeterminados

o De acordo com a perspetiva adotada em aula, a doutrina já não é


fonte de direito – a doutrina efetivamente revela os princípios de
direito, mas não os cria; a doutrina preenche conceitos
indeterminados, mas admitir a essa função o papel como fonte de
direito seria admitir esse mesmo papel à medicina, por ex. Ou seja,
não é nunca fonte de direito.
Jurisprudência
● Jurisprudência representa o conjunto das decisões de todos os tribunais
(sentença se for uma decisão tomada por um juiz; acórdão se for por um
órgão coletivo do tribunal.)

● Para a Teoria Clássica, a Jurisprudência não é fonte de Direito.


● Depois surge a via da Common Law, segundo a qual a jurisprudência não
só é fonte de Direito, como é a única fonte de Direito - as decisões do
tribunal criam o precedente, que se segue como lei.
● Perspetiva adotada em aula – jurisprudência não é toda a fonte de direito
– determinadas situações existem que tornam a jurisprudência fonte de
direito (decisões do tribunal constitucional) –contudo, regra geral não é
fonte de direito.
● Em Portugal, a jurisprudência, geralmente, não é fonte de direito. Apenas
aplicam ao caso concreto as normas existentes (não criando ou extinguindo
normas) e os tribunais não estão vinculados às decisões dos tribunais
anteriores.
o Mas quando o Tribunal Constitucional, por acórdão, declara que uma
norma é inconstitucional, está a extinguir uma norma, logo, nessa
situação, é fonte de direito (artigo 282º da CRP).

o O Supremo Tribunal Administrativo pode também declarar a


ilegalidade de várias normas.

o Assentos: são um instituto que apareceu na Idade Média, que diz que,
se a mesma lei criar conflito quanto à interpretação certa, deve haver um
conjunto de juízes que a interprete de forma coerente. Seria uma
sentença tida como precedente para todos os tribunais seguintes.
▪ Os assentos foram declarados, nos anos 80/90, inconstitucionais,
porque punham em causa a separação de poderes (poder judicial e
poder legislativo).
▪ Assim, criam-se os acórdãos uniformizadores de jurisprudência-
não são vinculativos nem obrigatórios, ou seja, não é uma
verdadeira fonte de direito, já que não alteram ou extinguem normas
jurídicas. Contudo, são fortes o suficiente para que todos os
tribunais acabem por segui-los. Se não o fizerem tem que justificá-
lo, e a sua justificação deve ser avaliada pelo Supremo Tribunal de
Justiça.
o Decisões Uniformes: são a mesma coisa que falar em costume
judicial. Se todos os tribunais chegarem a consenso sobre a única
interpretação possível a dar a uma norma, acontece uma decisão
uniforme. – ou seja, se preencherem as mesmas características que o
costume, é fonte de direito.

Lei

❖ Lei é o ato unilateral emanado pelo Estado ou pelas Regiões Autónomas,


com forma escrita e solene, que cria, modifica ou extingue normas jurídicas.
❖ Em sentido lato, nem todas as leis são fontes de direito.
❖ Leis formais e materiais:
➢ Lei em sentido formal: documento aprovado seguindo determinados
formalismos.
➢ Lei em sentido material: como fonte de direito- documento que cria,
extingue ou modifica normas jurídicas.

❖ Declínio da Lei devido a:


➢ Produção de normas a nível internacional é cada vez maior
➢ Descentralização: faz com que haja mais poderes locais a poder criar,
extinguir ou modificar normas jurídicas, ou seja, há outras fontes de
direito
❖ Importância:
➢ É de rápida criação e aplicação, ao contrário de outras fontes, como o
costume.
➢ A lei, aplicando-se, em princípio, a todo o território, tem uniformidade
➢ Há questões que só a lei pode responder – produção económica e
distribuição de riqueza.

❖ Entrada em vigor da lei:


➢ A lei, quando é publicada, não entra logo em vigor, uma vez que há um
espaço de tempo entre a sua publicação e a sua entrada em vigor -
chamado vacatio leges, com o fim de possibilitar o conhecimento
dessa lei pelos seus destinatários.

■ Encontramos 3 hipóteses:
● A lei especifica quando entra em vigor (Ex: passado um mês, um
ano, a uma data específica, etc…)
● A lei entra em vigor imediatamente - o que implica que entre em
vigor no dia seguinte à sua publicação.
● Não afirmando nada em relação a este aspeto, a lei entra em
vigor passado 5 dias da sua publicação.
■ Nota 1: estas 3 opções constam na lei 54/98- Lei Formulária.
■ Nota 2: O tempo conta-se a partir do dia seguinte à sua publicação.

❖ Cessação da Vigência das leis:


➢ Lei deixa de vigorar:
■ Quando é suspensa: deixa de vigorar por um tempo limitado
(alturas de seca, por exemplo).
● Suspensão pelo período certo: estabelece-se um fim de
suspensão.
● Suspensão sine die: não se estabelece um fim de suspensão.

■ Quando caduca: deixa de vigorar quando os pressupostos em que a


lei foi feita deixam de acontecer ou porque era uma lei temporária.

■ Quando surge um costume contra a lei: se aparece um costume


contra legem, as normas são revogadas pelo costume.

■ Quando é revogada: quando aparece uma lei que revoga outra lei.

● Revogação total ou parcial:


◆ Total: quando toda a lei é revogada pela lei posterior.
◆ Parcial: nem toda a lei é revogada pela lei posterior.

● Revogação expressa, tácita ou tácita global


◆ Expressa: quando a lei nova diz expressamente que a lei
antiga vai deixar de vigorar
◆ Tácita: quando a lei não diz nada, mas as duas leis, nova e
velha, não podem coexistir no mesmo ordenamento jurídico,
prevalecendo assim a lei nova (uma vez que este tem que ser
coeso).
◆ Tácita global: quando a nova lei regula todo o conjunto de
situações que a lei anterior regulava. O código novo não tem
que ser o contrário ao antigo, pode ser parecido. Mas como o
novo código regula todo um ramo do direito, a outra será
revogada.

NOTAS ● Em princípio, a norma não é retroativa, por questões de segurança


Art.º 7, CC jurídica.
● Lei geral não revoga a lei parcial/especial.
● Lei hierarquicamente superior prevalece sobre a inferior.
● Lei nova prevalece sobre a lei velha
● A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei
que esta revogar – Princípio da Não Repristinação das Normas
Exemplo: L2 revoga L1. L3 revoga L2. Mas, de acordo com o CC,
L3 não quer repristinar (colocar em vigor novamente) L1.
◆ Exceções: quando legislador quer repristinar, expressamente,
L1, OU quando Tribunal Constitucional diz que L3 é
inconstitucional. Neste caso, L1 fica em vigor, de modo a não
haver um vazio na lei.
Outras fontes de Direito
● Tratados e Acordos internacionais: serão, e de acordo com Diogo Freitas
do Amaral “os acordos de vontades celebrados entre Estados Soberanos,
devidamente aprovados pelos parlamentos nacionais e ratificados pelos
respetivos Chefes de Estado, e que, de forma escrita e solene, criam,
modificam ou extinguem normas jurídicas” (cf. pp 486-487 “Manual de
Introdução ao Direito”). Neste contexto, serão fonte de Direito, no sentido
em que criam, modificam ou extinguem normas de Direito Internacional.
● Regulamentos: são as leis emitidas pela União Europeia e são fontes de
direito porque, quando aparece um regulamento, existe uma criação,
modificação ou extinção de normas jurídicas.
● Diretivas: já não temos uma forma acabada das normas. São fontes de
direito, mas é preciso algo mais do legislador. Dá os caminhos que os
estados devem seguir, mas os estados, de acordo com a sua situação
interna, criam normas de acordo com essas diretivas.
o Os regulamentos dizem que todos os estados devem seguir as mesmas
normas. As diretivas têm em conta as diferenças económicas, culturais
dos vários estados, funcionando como um “guia”, que cada Estado deve
seguir, tendo em conta as suas características.
● Pareceres: não são fontes de direito porque não criam, extinguem,
modificam normas jurídicas.
● Princípios de Direito: São “traves mestras” daquilo que são as normas,
são positivadas, existem de forma anterior as normas jurídicas, mesmo que
estas não existam, os princípios de direito existem e criam normas de
direito.
o São, portanto, ideias gerais que temos da vida em sociedade que
criam, extinguem ou modificam normas jurídicas.
● Normas Corporativas: Conjuntos de pessoas coletivas que podem criar,
extinguir ou modificar as normas. (FIFA, UEFA)
● A guerra: quando um país é invadido, esse país adota o ordenamento
jurídico do país invasor.
● Revolução: uma revolução também é fonte de direito, uma vez que
modifica o ordenamento jurídico.
● As declarações políticas são também fonte de direito quando:
o Se dá uma alteração do ordenamento jurídico de um estado
o Quando um país declara guerra com um país, um grupo de pessoas.

Hierarquias das Fontes


● As fontes estão organizadas de acordo com a sua relevância, dependendo
isso da perspetiva pessoal de cada indivíduo.

O problema da aplicação da lei no tempo /da sucessão das leis


● Tendo sido a lei antiga revogada, até quando é que ela pode produzir
efeitos?
● Surgem problemas quando:
o Entre a ocorrência do facto e o julgamento se opera uma modificação
legislativa, com uma nova lei a revogar a antiga (lei essa que julgava o
facto ocorrido).
o Leis que estabelecem regimes específicos para relações jurídicas
duradouras são alteradas.
● Isto só acontece porque no Direito prevalecem 2 grandes elementos,
muitas vezes antagónicos:
o O seu elemento estabilizador da realidade (visa proteger as
expectativas das pessoas, ordenar a sociedade)
o O seu elemento dinamizador da realidade (deve alterar e acompanhar
a sociedade, guiá-la num determinado sentido)
● É considerada uma garantia saber que uma lei não vai penalizar algo que
fizemos no passado – princípio da não retroatividade das leis – ou seja,
em princípio, uma norma não deve ser retroativa.
● O princípio da não retroatividade aparece como resultado da função
estabilizadora do Direito
Formas de Solução:
● Disposições transitórias:
o Uma disposição criada na lei nova que estabelece como se vai regular a
passagem da aplicação da lei antiga para a nova (por exemplo, quando se
permite que uma renda suba, de ano em ano, determinada percentagem)
▪ Disposição transitória material: o legislador, em vez de escolher a
aplicação imediata de L1 para L2, estabelece um regime de transição
▪ Disposição transitória formal: o legislador, em vez de criar um 3º
regime, estabelece se se vai aplicar sempre L1 ou L2 ou em que
situações é que se vai aplicar L1 ou L2.

● A consagração Constitucional:
o A Constituição Portuguesa não tem um princípio geral de regulação, mas
regula até certo ponto (artigo 282º):

▪ Leis penais: artigo 29º: aplica-se a lei que existia à data da verificação
do facto. Contudo, existe a retroatividade in mitrus: quando uma lei
despenaliza um ato praticado enquanto era crime, o ato não é
considerado crime. – Aplica-se o que é mais vantajoso para o arguido,
porque se considera que o legislador mudou a lei para melhor.

▪ Leis fiscais: artigo 103º, nº3 da CRP: um imposto não pode visar
regular ou impor determinados custos para questões anteriores ao seu
estabelecimento, por questões de segurança.

Proibição da retroatividade máxima:


Há 3 níveis de retroatividade:
● Máxima: quando L2 aparece e é aplicada a todas as situações do
futuro e do passado, incluído o caso julgado. – Proibida pela
Constituição devido ao princípio da separação de poderes (se o
legislador alterasse o caso julgado, alterava o poder judicial).

● Médio: A lei nova é retroativa porque regula o mesmo que a mínima e


também os efeitos dos factos verificados antes da entrada em vigor da
lei. A diferença da média para a máxima, é que a média ainda respeita
o caso julgado.

● Mínima: uma norma pode ser retroativa, na sua forma mínima, quando
regula situações para o futuro e regula os efeitos para o futuro de um
facto passado. – Ou seja, vamos regular os efeitos de um facto
passado, mas não regulamos o próprio facto, à luz de uma lei nova. A
nova lei, quando entra em vigor, vai-se aplicar aos efeitos de um facto
passado, mas os efeitos que se verificaram desde a entrada em vigor
da nova lei.

Regulação das leis relativas a direitos, liberdades e garantias


● A regra poderia ser aplicar a lei nova a todas as situações, mas isso
violaria os princípios de confiança e a justiça.
● A regra poderia ser, ainda, a aplicação da lei antiga a toda e qualquer
situação que tenha no passado a sua origem – mas isto traria imobilismo
jurídico.

Soluções para o Princípio da Não Retroatividade das Leis

● Teoria dos Direitos adquiridos: A lei, em princípio, não deve violar aquilo
que são os direitos já adquiridos, só devendo valer para os que vão ser
adquiridos. – cria imobilismo jurídico (se não pudéssemos alterar os direitos,
não havia progresso.)
● Teoria das situações objetivas e subjetivas: podemos distinguir as
relações criadas pela lei e as criadas pelas partes. A nova lei pode alterar
as relações criadas pela lei antiga, mas não as situações criadas pelas
partes. Para esta teoria, deveria-se submeter as situações subjetivas (as
das partes) à lei vigente na época em que a situação ocorreu.
● Doutrina do facto passado: diz-nos que a lei nova só se aplica para os
factos futuros, em princípio, sendo possível, contudo, que efeitos futuros
sejam regulados pela lei nova.
● Doutrina das situações jurídicas de exceção duradoura e instantânea:
para as situações duradouras, a partir da entrada da nova lei, esses factos
podem ser regulados pela nova lei. Os factos instantâneos devem ser
regulados pela lei vigente na época. É no fundo a extensão da doutrina
anterior.

● Artigo 12º do Código Civil: diz-nos que, em princípio, a lei só se aplica


para factos futuros, sendo, em princípio, não retroativa.
o Mas pode ter retroatividade, presumindo-se, aí, que ficam protegidos os
efeitos passados, ou seja, quando existe, a retroatividade só se aplica a
efeitos futuros de um facto passado – retroatividade mínima. (a não ser
que estabeleça a retroatividade média).
o Número 2: em princípio, a lei só se aplica para os factos futuros. A lei
distingue as condições de validade dos contratos, que não podem ser
alterados, mas o conteúdo das relações que nasce do contrato é que pode
ser alterado pela nova lei (por exemplo, quando a violência doméstica se
torna crime:o casamento não deixa de ser válido, mas as partes deixam de
poder agredir-se).
o Estatuto das pessoas, ex.: se uma lei estabelecer a maioridade nos 25
anos, a uma pessoa que já tem 18 não é aplicada essa lei, porque a
maioridade já tinha sido adquirida. Mas se essa lei alterar os direitos da
maioridade, essa lei já era aplicada a quem tinha 18 anos antes da sua
entrada em vigor, nos termos do número 2 do artigo 12 do Código Civil.
o Estatuto dos contratos ex.: normas supletivas vs. Normas imperativas.
As normas imperativas querem proteger interesses públicos, que são
protegidos pelo dinamismo do Direito, logo alteram o passado. Às normas
supletivas não são aplicados.

o Estatuto sucessório: A forma dos testamentos regula-se pela lei antiga.


A lei da sucessão é a lei em vigor no momento da sucessão.

Outras regras de alteração da lei no tempo:


Prazos: artigo 297º do CC:

● Se a Lei Nova encurtar um prazo: estabelece-se que a LN se aplica aos


prazos em curso, mas o novo prazo só se conta a partir do momento de
entrada em vigor desta lei, salvo quando, segundo a LA, falta menos tempo
para o prazo se completar.
● Se a Lei Nova vier alongar um prazo: estabelece-se que a LN é
igualmente aplicável aos prazos em curso, mas se contará todo o prazo
decorrido desde o momento inicial.
(A lei muitas vezes estabelece outras regras de situações de lei do tempo.)

● Leis interpretativas: é uma lei que não é inovadora, apenas esclarece uma
lei anterior.
o Artigo 13º CC: Diz que a lei interpretativa se integra na lei interpretada,
ficando a salvo os casos julgados, as sentenças dadas.
o Uma lei interpretativa considera-se, assim, desde a lei interpretada, logo
há uma retroatividade média, porque se aplica aos factos e efeitos
anteriores e posteriores à sua vigência, menos ao caso julgado.

● E se uma lei vier aligeirar formalidades havidas por demasiados pesadas


exigidas pela lei antiga?
o Regra geral: a lei da validade dos factos é a lei vigente no momento da
sua prática –por isso em regra uma lei que aligeira formalidade não é
confirmativa

● Lei confirmativa: é uma lei posterior ao facto, que confirma a sua validade.
o Normalmente as normas não são confirmativas – ou seja, a lei não
confirma os factos passados, mas sim aos futuros, aplicando-se a regra
normal da posteridade, porém, se a lei disser que é confirmativa, então é.

o Alguns autores, como Batista Machado, defendem que, mesmo que não
digam que são confirmativas, não faz sentido que não o sejam. Diz que
os interesses que normalmente existem para aplicar a norma apenas
para o futuro, como a segurança, nestas situações não se aplicam ao
caso concreto, porque se fossem confirmativas, não punham em causa a
segurança e a confiança das pessoas, porque, se, por exemplo, se tratar
dos contratos de casamento ou arrendamento, as pessoas estão a contar
com a sua validade, não sendo prejudicadas. Logo podemos aqui aplicar
a retroatividade in mitius, ou seja, o que melhor convier ao sujeito.

● A retroconexão da lei: a lei pode não ser retroativa e ter retroconexão, ou


seja, regula factos anteriores à sua vigência, mas esses são acessórios e
não principais. O que interessa para a determinação da lei aplicável são os
factos ditos principais.

o Os factos não precisam de ser momentâneos, podem ser duradouros.


Ex:
o Se eu tenho um contrato onde recebo o salário mínimo e este aumenta,
passo a receber o salário mínimo que a nova lei estabeleceu. A lei nova
alterou o conteúdo da relação jurídica, logo aplica-se ao futuro

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