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PROGRAMA (disponível no Sigarra):
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I. Noção e sentido de Direito
Bibliografia do ponto 1:
- Oliveira Ascensão – páginas 13 a 50; 56 a 64; 80 a 89; 96 a 103; 193 a 223
- Batista Machado – 31 a 49; 55 a 59
- Freitas do Amaral – 165 a 211
- Objeção de consciência – artigos disponíveis no Sigarra
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Toda a sociedade necessita de uma ordem. Segundo Oliveira Ascensão, a
ordem é “uma realidade não material, mas nem por isso é menos um dado objetivo”.
Isto porque a sociedade não constitui apenas uma soma de indivíduos, uma vez que
há ligações espirituais entre eles que lhes são essenciais.
Há 2 conjuntos de regras que organizam a vida em sociedade:
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A importância das instituições
Segundo Oliveira Ascensão, “a ordem, conformadora da posição relativa
dos membros, é constituinte de todas as sociedades. Mas o que representa o
elemento essencial de toda a sociedade, e constitui o fundamento profundo da
ordem existente, são as instituições que lhe são próprias”. Isto porque uma
sociedade não pode ser vista como uma mera justaposição de pessoas. O que
caracteriza e distingue cada sociedade são as ligações estabelecidas entre os seus
membros.
Isto justifica-se pelo facto de o Homem não possuir um instinto e serem-lhe
apresentadas múltiplas opções no que diz respeito à sua ação, o que dificulta o
estabelecimento de relações entre nós. Por isso, o ser humano precisa de padrões
de conduta socialmente sancionados que cada cultura destaca da multiplicidade
possível de modos de conduta humana, elevando-os a padrões vinculantes para
todos os membros do grupo.
É neste contexto que nascem as instituições. São realidades objetivas e
supra-individuais, pois perduram no tempo, independentemente de mudarem as
pessoas, mas não têm existência própria, ou seja, “vivem enquanto essas
significações objetivas encarnam nos indivíduos que são a matéria da sociedade e
através da sua adesão as mantêm em vida” (Oliveira Ascensão).
● Variam de povo para povo e surgem nos fatores mais estratégicos da vida
em sociedade;
● São criações sociais e culturais, mas tendem para a juridificação, ou seja, a
serem absorvidas pelas normas jurídicas.
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Segundo Batista Machado, a eficácia dos factos na constituição e
modificação de normas é indiscutível. Temos exemplos na História de que uma
conduta aceite universalmente por grande parte dos membros de uma sociedade
acaba por se impor como norma válida.
No entanto, o que efetivamente se verifica é que uma conduta social que se
afasta de uma norma vigente só adquire caráter normativo quando se generaliza a
convicção de que é justa e correta, ou seja, quando se afirma como legítima e
vinculante.
Batista Machado ainda acrescenta que “muitas vezes acontece que a
conduta de facto mais frequente diverge da conduta normativamente imposta como
desejável e correta sem que por isso a norma seja destruída por revogação”.
Exemplo: o facto de muita gente violar a norma que proíbe o aborto não quer
dizer que essa norma seja substituída por outra.
Posto isto, Batista Machado aponta 3 reservas a esta teoria:
1. “Uma conduta de facto generalizada só conduz a uma modificação normativa
quando é acompanhada da convicção da correção e validade da máxima que
preside a essa conduta”.
2. Não é função do Direito limitar-se a assumir como seu o conteúdo de condutas
socialmente praticadas. O Direito pertence à ordem do “dever ser” e tem uma
dimensão orientadora da conduta social.
3. “Uma conduta de facto observada pela generalidade dos membros de uma
sociedade só institui uma nova norma quando seja compatível com o sistema
valorativo global (com o universo cultural) dessa sociedade ou, então, quando
provoque uma modificação nesse sistema valorativo global”. Se a conduta conflituar
com esse universo valorativo, não pode ser tornada norma jurídica.
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um facto, precedendo outro facto futuro”), ou seja, a jurisprudência é a principal
fonte de Direito.
Nota:
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cultura em que cada indivíduo se insere, o que torna falso dizer que a moral é
individual e subjetiva.
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ampla da moral representa um núcleo que é acolhido e garantido pelo direito,
porque é imprescindível à vida social.”
Críticas:
Teoria dos círculos secantes → Há uma parte das normas jurídicas e das normas
morais cujo conteúdo se sobrepõe, ou seja, é comum (sobretudo no domínio penal).
No entanto, há normas morais que não são jurídicas e há normas jurídicas que não
são morais.
Críticas:
Críticas:
● Como vamos ver mais à frente, há normas jurídicas que não gozam de
coercibilidade e não deixam, por isso, de ser normas jurídicas.
Exemplo: Direito Internacional Público
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interno, ou seja, à consciência/intenção, enquanto o Direito incidiria sobre o
lado externo, isto é, o ato externamente manifestado, não invadindo o foro
íntimo de cada um.
Crítica:
● Oliveira Ascensão afirma que é falso que a intenção seja irrelevante para o
Direito e que a conduta seja irrelevante para a Moral (“é falsa a demarcação
de compartimentos estanques e a caracterização operada, quer do Direito,
quer da Moral”).
Exemplo: Legítima defesa, uma vez que, se o lado externo fosse suficiente para a
atuação jurídica, a pessoa que mata outra em legítima defesa iria ser julgada pelo
ato de matar outrem. No entanto, o facto de a conduta adotada ter sido em legítima
defesa (lado interno) faz com que a consequência jurídica seja completamente
diferente. Deste modo, o lado interno interessa e muito ao Direito.
Nota: Sem comportamento (ou seja, sem ato/conduta), o Direito não atua, ou seja, a
mera vontade, se não for traduzida em atos, carece de relevância jurídica.
Exemplo: Um funcionário público que queira fugir ao fisco não consegue, pois o
dinheiro fica automaticamente retido mal o salário lhe cai na conta. Tem intenção,
mas não o faz e, por isso, o Direito não intervém.
Relação entre normas jurídicas e normas morais
O princípio que regula a relação entre as normas jurídicas e as normas
morais é um princípio a que se dá o nome de princípio da não-litigância /
princípio da não-beligerância.
Segundo este princípio, o Direito pode permitir um ato tido como imoral, mas,
por princípio, não deve impor um ato tido como imoral.
Duas manifestações deste princípio:
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incumprimentos estão isentos de quaisquer sanções”. Resulta no incumprimento de
uma norma/lei.
● Está prevista no artigo 41º nº6 da CRP, inserindo-se na parte dos DLG;
● É uma norma precetiva (que se dirige diretamente aos cidadãos) e não
pragmática (que se dirige ao Estado – ex: direito à habitação);
● No entanto, é uma norma de eficácia indireta, ou seja, a sua aplicação aos
casos concretos depende da lei ordinária – é preciso uma lei que concretize,
para cada caso, o modo de execução da objeção de consciência.
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judeu e o patrão o obrigue a fabricar armas para o exército nazi matar os judeus na
2ª GM, pode-se recusar a fazê-lo por razões de consciência.
A Ordem Jurídica
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“right”.
Exemplo: O senhorio tem direito ao dinheiro da renda; o arrendatário te o
direito de usufruir do espaço.
Nota: Partindo desta distinção, o autor conclui que ordem jurídica e Direito não são
a mesma coisa, pelo que a primeira é mais ampla, porque inclui também os direitos
subjetivos.
Características da ordem jurídica
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Nenhuma destas soluções é suscetível de perpetuação e, portanto, a
ausência de Direito conduziria necessariamente à dissolução da sociedade.
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Em suma, apesar de nem todo o Direito ter fonte estadual, a maior parte das
normas jurídicas tem, de facto, origem no Estado e o seu âmbito de aplicação está
delimitado por esse Estado. Podemos dizer, portanto, que a estatalidade não é uma
característica absoluta, mas tendencial.
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modo, é insuficiente definir coercibilidade dessa maneira, mas sim a suscetibilidade
de aplicação coativa (pela força) da sanção associada à violação da norma jurídica.
É uma característica exclusiva da ordem jurídica e que a faz afastar-se e
autonomizar-se das restantes ordens.
Apesar de tendencialmente a coercibilidade vir sempre associada à norma jurídica,
de facto, há normas jurídicas que não gozam de coercibilidade ou têm essa
coercibilidade muito mitigada, como:
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há possibilidade de imposição de uma sanção pela força, pois é o próprio
Estado quem detém o “monopólio da coação” (Oliveira Ascensão).
- Prazos de decisão dos juízes – caso os juízes ultrapassem os prazos não
têm qualquer sanção.
- Obrigações familiares – há normas que, pela sua natureza, não justificam a
intervenção do Estado na vida privada. No artigo 1672º do Código Civil,
estabelecem-se as responsabilidades mútuas dos cônjuges mas, apesar de
estes aspetos serem essenciais para a ordem jurídica, a sanção de eventuais
violações é praticamente inexistente, só se aplicando apenas em casos
extremos.
- Obrigações naturais (artigo 403º do CC) – são obrigações cujo
cumprimento o credor não pode exigir coativamente, mas, se o devedor
cumprir voluntariamente, o credor pode reter a prestação, não estando
obrigado a devolvê-la. Vejamos os seguintes exemplos:
Exemplos:
- Trabalho prestado pelos filhos em auxílio dos pais;
- Dívidas de jogo (tolerado) e aposta que não sejam reconhecidas juridicamente
(como um jogo de cartas em recinto familiar);
- Prescrição (quando passou um determinado período de tempo e a dívida deixa de
ser exigível em tribunal).
IMPORTA DESTACAR QUE TUDO ISTO SÃO EXCEÇÕES – A GRANDE
MAIORIA DAS NORMAS JURÍDICAS GOZAM DE COERCIBILIDADE!
Como já vimos, a coercibilidade corresponde à possibilidade de aplicação da
sanção pela força, ou seja, possibilidade de aplicação coativa de uma sanção.
Qual o papel da coação no Direito?
De uma maneira geral, o Direito é visto por todos os sociólogos como um
instrumento de controlo social particularmente eficaz, uma vez que consiste num
conjunto de normas assistidas de uma sanção socialmente organizada. É
exatamente esta característica (coercibilidade), como vimos anteriormente, que
distingue a ordem jurídica das restantes ordens sociais.
Destacam-se 2 correntes doutrinárias:
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ordem de pura força. Para Larenz, a coercibilidade não pertence à essência
do Direito, mas sim à sua eficácia.
Batista Machado partilha da mesma opinião, dizendo que “a coação ou a
coercibilidade não especifica o Direito no plano do ser, não o determina no
seu conteúdo e, portanto, não faz parte da sua essência”. No entanto, apesar
de o Direito não se definir pela coercibilidade, esta é uma característica
resultante da própria natureza do Direito e, por isso, o autor afirma que “num
mundo de homens imperfeitos, a coercibilidade é essencial para assegurar,
não a essência, mas a vigência do Direito e essa coercibilidade é legitimada
pela justiça, procurada pela ordem jurídica”. Daí que o recurso a meios de
coação para repor a justiça seja, na sua opinião, legítimo e exigível.
● Viver honestamente
● Não prejudicar ninguém
● Atribuir a cada um aquilo que é seu
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Para o Direito, a justiça é uma cultura naturalmente enraizada, influenciada
pelo tempo e pelo espaço e assenta no velho vocábulo latino de Ulpiano “suum
cuique tribuendi” (dar a cada um aquilo que é seu).
Cabe ao Direito a justa distribuição entre o que o indivíduo dá e o que recebe
da sociedade.
Oliveira Ascensão aponta ainda para o facto de que não se pode identificar
o Direito e a justiça, uma vez que “o Direito ultrapassa muito o domínio do justo”.
Isto porque, se assim fosse, poucas ordens jurídicas subsistiam, uma vez que “a
ordem internacional é injusta; e injusta é a maioria das ordens nacionais”.
Nota: A justiça portuguesa tem origem nas civilizações grega e romana, tem
influência judaico-cristã e da Revolução Francesa (liberdade, igualdade,
fraternidade).
Elementos lógicos da justiça:
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desigualdade dos resultados. Se, por exemplo, a todas as pessoas que
desempenham cargos oficiais se atribuem por sistema condecorações idênticas,
está-se a praticar uma injustiça substancial, pois foi muito diversa a dedicação, o
zelo e a inteligência com que cada um serviu”. Isto significa que, na opinião do
autor, uma distribuição proporcional das “vantagens entre todos os membros da
comunidade” gera desigualdades, pois não se tem em conta o mérito de cada
pessoa.
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Este valor, apesar de ser referido há muito tempo, não suscita uma
elaboração tão grande como a justiça. Isto porque a segurança é um valor
hierarquicamente menos elevado, por estar “mais diretamente ligado à utilidade, às
necessidades práticas e às urgências da vida” (Batista Machado). No entanto, é
um valor fundamental, na medida em que só se cada um souber o papel social que
lhe compete é que é possível exigir que se comporte dessa forma (“sem segurança
a ordem não existe ou é imperfeita” – Oliveira Ascensão). Podemos dizer, portanto,
que é uma das exigências feitas ao Direito. A segurança promove a estabilidade, a
previsibilidade, a confiança no tráfego negocial e isso é essencial à convivência
pacífica.
A segurança associada à previsibilidade do comportamento é essencial ao
Direito. Não se pode promover a convivência pacífica em sociedade se as pessoas
não sabem como se comportar ou o que esperar dos outros.
Manifestações da segurança no ordenamento jurídico:
(Como é que o Direito promove a segurança?)
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segurança, isto porque, muitas vezes, a solução imposta pela lei parece ir ao
contrário do sentido de justiça do caso concreto.
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■ Abuso de direito (artigo 334º do Código Civil);
■ Alteração superveniente das circunstâncias (artigo 437º do Código Civil).
Ius strictum – técnica de redação que usa conceitos específicos com um sentido
relativamente fechado, de mais fácil apreensão. Normas com um conteúdo mais
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Exemplo: Julgamento de Nuremberga – depois da 2ª Guerra Mundial, vários nazis
foram julgados e posteriormente sentenciados a pena de morte por cumprirem a lei
que, na altura, vigorava na Alemanha (Direito positivo em confronto com a justiça).
Por fim, Batista Machado ainda destaca que, no Estado de Direito
Democrático, o cidadão goza também de segurança perante eventuais
intervenções/intromissões dos poderes públicos na sua vida privada. Essa
segurança é assegurada, sobretudo, pela possibilidade de recurso a um “poder
neutro” (o poder judicial) para defesa dos direitos, liberdades e garantias próprios
dos cidadãos.
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- Jusnaturalismo – surge associado a uma peça de teatro, “Antígona”, de Sófocles.
Esta peça conta a história de uma cidade em guerra civil. Creonte, o seu chefe,
tenta dominar uma revolta liderada por dois dos seus três sobrinhos, irmãos de
Antígona. O terceiro estava do lado do tio. Este último e um dos primeiros acabam
por morrer. Ao seu defensor, Creonte reserva cerimónias gloriosas, ao contrário do
outro, ao qual o tirano impõe uma decisão cruel de que ninguém lhe fará funeral e o
seu cadáver ficará à disposição dos abutres, fora das muralhas da cidade. Ora, na
tradição grega, todos os mortos, para serem recebidos pelos deuses, tinham que ter
um funeral. E foi por isso que Antígona não aceita o ato desumano do tio,
desobedecendo-lhe e, assim, sepultando o irmão. Creonte acaba por descobrir e
Antígona é levada à sua presença, confessando, mesmo sendo condenada à morte,
que ousou desobedecer à lei, porque:
“Não são essas as leis que eles (os deuses) determinaram para sempre aos homens; e eu nunca
pensei que as tuas proibições fossem tão poderosas que pudessem permitir a um simples mortal
violar outras leis, as leis não escritas e invioláveis dos deuses”.
Roma
- Na Roma clássica, ainda antes de Cristo, o Direito Natural é proclamado, descrito
e explicado em palavras de forte vigor intelectual por Cícero:
“Existe, pois, uma lei verdadeira, que é a reta razão, conforme à Natureza, presente
em todos os homens, constante e sempre eterna”.
Surge, assim, a conceção clássica do Direito Natural:
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Existe uma ordem natural, que foi criada por Deus. Essa é descoberta pela
razão humana e dela resulta o Direito Natural, que impõe direitos e deveres aos
homens aos quais estes devem obediência, sob pena de desrespeitarem a própria
natureza humana. As suas normas são universais, eternos e imutáveis e, deste
modo, o Direito positivo não as pode alterar.
Nota: Nesta época, surge também a figura de Ulpiano que diz: o Direito Natural é
“aquele que a natureza ensina a todos os animais. Na verdade, este direito não é
próprio do género humano, mas comum a todos os animais que vivem na terra e no
mar, incluídas as aves”.
Idade Média
- O Cristianismo vem dar ainda mais força à ideia de Direito Natural, porque
apresenta o seu Deus, único e verdadeiro, como criador do universo e proclamou a
superioridade da lei divina face à lei humana.
- Entre vários autores, destaca-se S. Tomás de Aquino, para o qual o mundo e o
homem foram criados por Deus, mas a atuação divina não se esgotou nesse
primeiro momento: continua todos os dias a exercer-se. No entanto, não intervém
caso a caso, atua sim “por causas segundas”, isto é, estabelece as leis gerais do
universo e deixa que os acontecimentos decorram entretanto.
- Existe uma grande diferença para com a conceção greco-romana. Isto porque S.
Tomás de Aquino reduz consideravelmente o conteúdo do Direito Natural,
aumentando na mesma proporção a função e a importância do direito positivo.
Renascimento e o racionalismo
- Em meados do século XV dá-se o Renascimento.
- As transformações dadas no Renascimento refletiram-se naturalmente na ordem
jurídica: não negaram o jusnaturalismo, mas dividiram-no em jusnaturalismo
religioso (de base divina) e o jusnaturalismo racionalista (de base humana). A figura
principal desta época é Hugo Grócio.
- Para este autor, “o direito natural é imutável, mesmo para Deus, e sempre existiria,
mesmo que Deus não existisse”. Deste modo, o Direito Natural é um produto da
razão humana e não da vontade divina.
A escola racionalista do Direito Natural
- Continuadores e inovadores em relação a Hugo Grócio foram Hobbes, Locke e
Rousseau, embora com concessões diferentes. Só que, até estes três grandes
filósofos do Iluminismo, o Direito Natural era encarado como um tipo de direito
superior ao direito positivo estadual. A partir deles, o Direito Natural começa por ser
encarado como anterior ao Estado, por isso que nasce e se afirma na situação de
estado de natureza, em que ainda não há Estado, ou poder político.
A fase da contestação do jusnaturalismo: o positivismo
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- Séculos XIX e XX – surge um movimento chamado positivismo jurídico. Entre
outros autores, destaca-se Hans Kelsen.
● O Direito Natural não é direito, pois Deus não existe (origem divina) e nem
pode ser aceite como uma dedução racional de cada indivíduo, porque,
assim sendo, qualquer pessoa poderia inventar a sua maneira de Direito
Natural;
● O Direito Natural não é direito, dado que não é promulgado pelas autoridades
sociais legitimadas para o fazer;
● O Direito Natural não é direito, uma vez que não há qualquer consenso sobre
o seu conteúdo;
● O Direito Natural não é direito, visto que a violação das suas normas não
gera nenhuma sanção.
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- Hart criticou a decisão do tribunal, de um ponto de vista positivista. Fuller
respondeu, posicionando-se a favor do jusnaturalismo. Importa, no entanto, apontar
que tanto um como outro reconhecem a existência de valores e critérios
supralegais, que devem servir para ajudar o Homem a decidir se há-de obedecer ou
não a uma determinada lei. O ponto em que eles divergem é o seguinte: Fuller
acredita no Direito Natural, deduzindo dele a invalidade jurídica das leis imorais,
extraindo daí a legitimidade da sua desobediência. Já Hart não acredita no Direito
Natural, considerando juridicamente válida qualquer norma produzida de acordo
com as regras estipuladas para se elaborar leis, independentemente do seu
conteúdo, sendo, portanto, obrigatória a sua obediência. Coloca, assim, a tónica,
não em termos jurídicos, mas em termos políticos, ou seja, o combate às leis
imorais e injustas deve ser feito politicamente e não juridicamente.
Em suma, a legitimidade do Direito natural foi modificando ao longo do tempo:
1. “Uma boa parte dos valores humanos supralegais que permitem aferir da
legitimidade ou ilegitimidade do Direito positivo são valores jurídicos” e, por
isso, esse juízo de legitimidade deve caber ao Direito e não à política. Ora,
rejeitando o Direito natural, teria necessariamente que se fazer esse juízo
com recurso à política, porque nada mais haveria dentro do Direito. Não deve
ser a política a dizer o que é lícito ou não para o Direito, mas sim o
próprio Direito. Para o Doutor Freitas do Amaral, os três valores
fundamentais do Direito, que dão corpo ao Direito natural, são a justiça, a
segurança e a dignidade da pessoa humana (proteção dos direitos
humanos).
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Resposta dos juspositivistas: o Direito vigente tem como fundamento o
reconhecimento da comunidade a que se aplica, ou seja, depende da adesão da
comunidade.
Só que esta resposta falha em 2 dimensões: nada nos diz que a
comunidade vá aderir ao regime pós-revolução (ex: ISIS – não houve adesão da
comunidade, foi-lhe imposto) e, além disso, a comunidade podia ter aderido ao
regime que foi derrubado pela revolução.
Já o Direito natural dá essa resposta: se o regime que foi derrubado pela
revolução era ilegítimo (contrário ao Direito Natural), a revolução é legítima
porque, apesar de quem o derrubou ter violado o direito positivo, repõe o Direito
Natural. Na situação oposta, a revolução é ilegítima.
Dr. Freitas do Amaral define esse núcleo essencial como sendo constituído por
“todos os valores, normas e princípios que tenham a ver com o respeito devido à
dignidade da pessoa humana, na sua tripla dimensão política, económica e social”.
Nota: A metáfora normalmente utilizada é a lógica de pêndulo – há princípios
fundamentais comuns a todos os tempos e locais (têm um ponto fixo comum), que é
proteção da dignidade da pessoa humana, mas as suas concretizações vão
variando em função da cultura.
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Nota: Querela – discussão/divergência
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entidades particulares). Relativamente a este critério, e pelas razões de
seguida mencionadas, Oliveira Ascensão considera este critério
insustentável, ao passo que Freitas do Amaral considera que continua a ser
adequado na maioria dos casos, mas há exceções. Ambos tecem uma crítica
ao mesmo:
Crítica: Não existe uma divisão rígida entre o que é interesse público e privado. O
interesse público promove interesses privados de cada cidadão e o interesse
privado é protegido porque existe um interesse público nesse sentido. Há normas de
direito público que protegem a realização dos interesses particulares, bem como
normas há que visam proteger, na esfera da vida privada dos particulares, certos
interesses públicos.
Para tentar salvar este critério introduziu-se uma correção: o Direito público
promove predominantemente interesses públicos e o Direito privado promove
predominantemente interesses privados. Mas, como diz Oliveira Ascensão,
introduzir um juízo de predominância num critério que tem como objetivo facilitar a
realidade, cria insegurança e incerteza. Portanto, não serve, é insuficiente. E, por
isso, avança-se para um segundo critério.
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despojados do seu poder de autoridade (como lhe chama Freitas do
Amaral) ou poder de império (relação de paridade entre as partes em termos
de poder).
Exemplo: Expropriação de um terreno – Direito Público
Compra de um terreno – Direito Privado
A partir daqui, Freitas do Amaral define estes dois ramos do Direito da seguinte
maneira:
Direito Público – “sistema de normas jurídicas que, tendo em vista a prossecução
de um interesse coletivo, conferem, para esse efeito, a um dos sujeitos da relação
jurídica poderes de autoridade sobre o outro”.
Direito Privado – “sistema de normas jurídicas que, visando regular a vida privada
das pessoas, não conferem a nenhuma delas poderes de autoridade sobre as
outras, mesmo quando pretendem proteger um interesse público considerado
relevante”.
Nota: Freitas do Amaral – Tem havido dois movimentos de sentido contrário que
aproximam, e até sobrepõem, os dois ramos: a publicização do direito privado e a
privatização do direito público. Esta aproximação entre eles faz com que, por vezes,
uma mesma situação seja simultaneamente regulada por normas de direito público
e de direito privado.
Segundo Oliveira Ascensão:
Ramos do Direito: setores da ordem jurídica compostos por conjuntos de normas
delimitadas segundo o seu conteúdo. O conteúdo de cada ramo do Direito é
estruturado por intermédio de princípios gerais próprios que lhe conferem
identidade.
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No entanto, esta conceção deixa de parte outros sujeitos de DIP (como as
organizações internacionais) e, além disso, assiste-se atualmente a uma evolução
no sentido de abranger os próprios indivíduos como sujeitos de Direito Internacional.
Isto porque há normas que têm por objeto direto as condutas dos indivíduos (ex:
criminosos de guerra OU o próprio recurso a tribunais internacionais pelos sujeitos
individuais).
Oliveira Ascensão entende que DIP não pode ser considerado nem Direito
Público, nem Direito Privado, uma vez que esta divisão centra-se no âmbito interno
dos Estados. As relações regidas por ele não são de subordinação, mas de
coordenação, pois os sujeitos regulados por ele são entidades soberanas.
Direito da União Europeia – segundo Freitas do Amaral, é o “sistema de normas
jurídicas que regulam a organização e o funcionamento da União Europeia, bem
como os direitos fundamentais dos cidadãos europeus, a fim de prosseguir a
gradual integração política, económica e monetária dos seus países membros, os
quais convencionam para o efeito o exercício em comum dos poderes necessários à
construção da unidade europeia”.
Dentro das fontes de Direito da UE, existem 2 tipos:
- Direito originário – constituído pelos tratados da União Europeia, o segmento do
DIP (Roma, Maastricht, etc).
- Direito derivado – normas jurídicas produzidas pelos órgãos da União Europeia.
São Direito interno da UE, sendo supranacional face aos países (ex: regulamentos e
diretivas).
Direito dos organismos intermédios (segundo Oliveira Ascensão) / Direito
corporativo (segundo outros autores) – ramo do Direito que congrega as normas
jurídicas infraestaduais criadas por ordens institucionais menores, que têm uma vida
jurídica autónoma em relação à vida do Estado (porque não estão em causa normas
infraestaduais com origem na administração pública, como os municípios, mas sim
normas criadas por organismos que representam diferentes categorias morais,
culturais, económicas ou profissionais – artigo 1º nº2 do Código Civil). É um poder
originário (não deriva do Estado) e abrange as normas que regulam a constituição,
estrutura e funcionamento dos organismos corporativos, sejam elas de origem
infraestadual ou estadual, bem como as normas criadas por esses organismos ao
abrigo do seu poder jurisgénico (poder de criar Direito).
Exemplo: Ordem dos advogados; Ordem dos médicos; Direito do desporto é um
dos maiores exemplos.
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Direito Constitucional – segundo Freitas do Amaral, é o sistema de normas
jurídicas que regulam a organização e o funcionamento dos poderes do Estado,
asseguram a proteção da constitucionalidade das leis e dos direitos fundamentais,
definem as tarefas essenciais do Estado e os principais objetivos da governação
pública. Ocupa o lugar central, pois é ele que caracteriza o Estado como detentor do
poder soberano. No entanto, apesar de a maioria das normas constitucionais
estarem presentes na Constituição, há normas constitucionais que não estão lá
previstas, mas sim dispersas por leis avulsas (ex: lei do Tribunal Constitucional, lei
da nacionalidade, o regimento da Assembleia da República, etc).
Direito Administrativo – segundo Oliveira Ascensão, é o sistema que regula a
organização e atividade dos órgãos da administração pública enquanto tais na
prossecução de interesses coletivos, bem como a atividade de outros entes públicos
também na prossecução de interesses coletivos. A doutrina costuma discutir muito a
questão de saber distinguir o Direito Administrativo do Direito Constitucional.
Direito Tributário – segundo Freitas do Amaral, é um sistema de normas que
regulam a administração das receitas públicas (conseguidas através de taxas e
impostos), estabelecendo os direitos e garantias das entidades públicas e os direitos
dos particulares no que concerne a irregularidades cometidas nessa atividade.
O autor aponta-o como sub-ramo do Direito Administrativo, pois é constituído por
normas que estabelecem poderes de autoridade do Estado e dos entes públicos
menores sobre os particulares, bem como deveres, encargos e sujeições dos
últimos perante os primeiros, assim como é também constituído por normas que
impõem limitações, restrições e encargos de direito público aos entes públicos. No
entanto, este ramo autonomizou-se.
Direito Fiscal – segundo Freitas do Amaral, é um sistema de normas jurídicas que
definem impostos e o seu montante a pagar pelos cidadãos e pelas empresas ao
Estado e aos entes públicos menores. Além disso, protege/salvaguarda os direitos
dos contribuintes perante a administração tributária e vice-versa. É um sub-ramo do
Direito Tributário.
Direito Penal – segundo Freitas do Amaral, é o conjunto das normas jurídicas que
qualificam os factos ilícitos de maior gravidade social como crimes e estabelecem
para eles as penas e medidas de segurança tidas como adequadas. É um ramo
particularmente sensível ao modelo político que vigora no país e aos respetivos
princípios constitucionais. Nos Estados democráticos, em caso de dúvida, adota a
regra de que “mais vale não condenar um culpado do que condenar um inocente” (in
dubio pro reo). Não é o arguido que tem de provar em tribunal a sua inocência, mas
a acusação pública tem que mostrar que ele é culpado.
Nota: Oliveira Ascensão é o único autor em Portugal que defende que o Direito
Penal é um ramo do Direito Privado, justificando que os deveres penais são deveres
dos indivíduos e a aplicação das penas em termos judiciais não implica que o Direito
Penal regule a atividade do Estado.
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Maioria da doutrina: o que está em causa é a conduta do sujeito para com a
sociedade como um todo, que é representada pelo Estado, através do Ministério
Público.
Por causa do peso do Direito Penal, ele obedece a um princípio estrito de
tipicidade ou legalidade, o que significa que só há crimes se houver previsão legal
anterior nesse sentido e a aplicação da pena também depende de uma previsão
legal anterior. Isto porque, como a consequência do Direito Penal é tão grave, tem
de haver sempre uma norma a prevê-la para que possa ser aplicada. E por esta
razão, é absolutamente proibida a analogia de normas penais incriminadoras.
As sanções criminais são penas e medidas de segurança. Existem 2 tipos
de penas principais – a prisão e a multa. As medidas de segurança aplicam-se
quando o agente é considerado inimputável, ou seja, alguém que não consegue
avaliar a ilicitude da conduta ou não consegue agir de acordo com essa avaliação.
Nota: A multa é uma sanção exclusiva do Direito Penal. Relaciona-se com a
privação do património, ou seja, elementos do património são confiscados (no caso
da multa, é o dinheiro).
Direito de Mera Ordenação Social – segundo Freitas do Amaral, regula os atos
ilícitos de menor gravidade social por comparação com o Direito Penal, qualificando-
os como “contraordenações”, e estabelece sanções pecuniárias designadas por
coimas. Há, na doutrina, quem defenda que o Direito de Mera Ordenação Social é
um sub-ramo especial do Direito Penal, mas Freitas do Amaral não concorda,
advogando que este segundo é caracterizado pelo binómio crime-pena, aplicada por
um tribunal, para os factos ilícitos de elevada gravidade social e, no primeiro, não há
nem crimes, nem penas, nem factos ilícitos de forte gravidade social, sendo que as
coimas são aplicadas por um órgão administrativo.
Nota: Multa ≠ Coima: São ambas em dinheiro, mas a multa é uma sanção penal,
enquanto a coima é uma sanção contraordenacional.
Direito Processual – segundo Oliveira Ascensão, disciplina a atividade dos juízes
na solução dos casos que lhe são apresentados. Diz-se que é direito adjetivo,
porque é instrumental face aos restantes ramos do direito que se designam por
substantivos (diz qual é a tramitação a seguir para resolver as situações, mas não
dá soluções para problemas jurídicos concretos). É muitas vezes ajustado ao ramo
do direito substantivo, sendo que, em princípio, a cada ramo de direito substantivo
corresponde um ramo adjetivo que lhe dá realização. Até agora, este
desenvolvimento já foi consolidado nos 2 seguintes sub-ramos:
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disponibilidade das partes (é o autor que decide se intenta a ação ou não e o
réu se contesta ou não a ação; as partes definem que provas apresentam, o
que alegam, se chegam ou não a acordo, etc). No entanto, o juiz não está
numa posição passiva, cabendo-lhe assegurar que o processo chegue
efetivamente à descoberta da verdade.
Nota: Ónus da contestação – se um réu ignorar uma petição inicial e não contestar
dentro do prazo, os dados elencados na petição inicial são dados como aceites por
acordo.
Sentença – proferida por apenas 1 juiz.
Acórdão – proferido por 3 ou mais juízes.
Dentro do processo civil, é possível distinguir:
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Ramos do Direito Privado
Nota inicial: Todos os ramos do Direito de seguida enunciados constituem os
principais a saber, mas cada vez são mais as ramificações da árvore definida por
Freitas do Amaral daquela que é a ordem jurídica portuguesa.
Direito Civil – considerado o tronco do Direito Privado, é designado habitualmente
como o Direito Privado comum, por regular os setores de que todos participam.
Segundo Oliveira Ascensão, disciplina a vida das pessoas comuns, abstraindo de
qualificações especiais. Provavelmente é o mais antigo ramo do direito, sendo, por
isso, o que foi mais cultivado, trabalhado e construído. Como diz Freitas do
Amaral, “o Direito Civil cobre com o seu manto regulador toda a vida privada dos
indivíduos, desde o berço até ao túmulo”, além de regular, também, as diferentes
maneiras de organização coletiva de grupos de indivíduos. A sua principal
codificação no ordenamento jurídico português é o Código Civil. Quase todas suas
normas constam nesta codificação, mas também há normas avulsas que regulam
matéria civil.
Tendo por base a classificação germânica, é constituído por 5 livros – Parte
geral; Direito das obrigações; Direito das coisas; Direito da família; Direito das
sucessões.
Nota: a usucapião surge nos direitos reais, porque gera um direito real de
propriedade por aquisição originária.
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pela afinidade (relação que um cônjuge tem com os familiares do outro
cônjuge) e pela adoção.
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Direito do Trabalho – segundo Oliveira Ascensão, é um Direito Privado especial,
pois também especializa os princípios gerais do Direito Civil (sobretudo do Direito
das Obrigações), adequando-os às especificidades das relações de trabalho
subordinado. Por causa da existência deste elemento de subordinação do
trabalhador às ordens do empregador e por causa da especial proteção do
trabalhador que caracteriza este ramo do Direito, muitos autores entendem que o
direito do trabalho não é um ramo do Direito Privado, mas sim do Direito Misto
(abrange uma dimensão do Direito Privado e uma dimensão do Direito Público),
porque se assume que não há igualdade entre as partes na relação laboral (o
trabalhador está em desvantagem face ao empregador).
Há duas grandes dimensões no direito do trabalho:
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Exemplos: Patente (Direito Industrial por excelência, pois é um direito
exclusivo que se obtém sobre invenções); Marcas; Denominações de origem.
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Ex: art. 283º do CC: Todo aquele que ilícita e culposamente causar
danos a outrem (previsão), fica obrigado a indemnizar o lesado
(estatuição).
Nos factos jurídicos temos duas possíveis categorias: os puros factos jurídicos e os
atos jurídicos:
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○ Atos Jurídicos - Resultam da vontade como elemento jurídico
relevante, ou seja, são tratados pelo Direito enquanto manifestação ou
atuação de uma vontade.
Dentro dos atos jurídicos distinguem-se os simples atos jurídicos dos
negócios jurídicos. Esta distinção tem como critério a relação que se
estabelece entre a vontade das partes dirigida a um resultado e o
resultado jurídico. O que está em causa é saber se existe ou não
coincidência entre a vontade das partes dirigida a um determinado
resultado e o resultado jurídico efetivamente produzido.
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No caso dos negócios jurídicos unilaterais, eles são compostos por
uma só declaração de vontade ou por várias declarações de vontade,
mas todas no mesmo sentido, formando um único grupo. Ou seja,
existe só uma parte, ainda que composta por vários sujeitos. Ex: o
testamento (quando eu escrevo um testamento não há outra parte que
concorde), uma procuração ou uma renúncia a um direito.
Os negócios jurídicos bilaterais são chamados de contrato. São atos
jurídicos compostos por duas ou mais declarações de vontade, de
sentido oposto mas convergente, visando a produção de um resultado
jurídico unitário, coincidente com as vontades manifestadas. Ex:
compra e venda, arrendamento, empreitada.
Dentro dos negócios jurídicos bilaterais, é possível distinguir negócios
jurídicos bilaterais unilaterais (contrato unilateral ou não sinalagmático)
de negócios jurídicos bilaterais bilaterais (contrato bilateral ou
sinalagmático). O critério que pressupõe a distinção entre os contratos
unilaterais e os contratos bilaterais está relacionado com o número de
obrigações geradas pelo contrato e a sua titularidade.
Por isso é que se diz que a norma jurídica ou obriga, ou faculta ou confere um
direito subjetivo.
Mas o que é um direito subjetivo?
Corresponde a um poder atribuído a uma determinada pessoa para satisfação de
um interesse próprio ou alheio, acompanhado da faculdade de dispor dos meios
coercitivos que protegem esse poder. Ao poder do sujeito ativo corresponde o
dever/obrigação do sujeito passivo.
Segundo Santos Justo, “o direito subjetivo é a faculdade ou poder, reconhecido pela
ordem jurídica a uma pessoa, de exigir ou pretender de outra um determinado
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comportamento positivo (facere) ou negativo (non facere) ou de, por ato da sua livre
vontade, só de per si ou integrado por um ato da autoridade pública (decisão
judicial), produzir determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a
outra pessoa (adversário ou contraparte).”
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sujeito passivo, no direito potestativo ele impõe o seu direito sem precisar da
colaboração do sujeito passivo. Quando o sujeito ativo tem um direito
potestativo, o sujeito passivo está em estado de sujeição, ou seja, tem de
suportar os efeitos que advêm do exercício do direito. Os direitos potestativos
podem ser constitutivos de relações jurídicas (ou seja, criar relações
jurídicas), modificativos de relações jurídicas (ou seja, alterar uma relação
jurídica pré existente) e podem ser extintivos de relações jurídicas (ex: o
divórcio litigioso, ou seja, mesmo que o outro cônjuge não se queira divorciar,
o sujeito ativo tem o direito de colocar o outro em situação de divorciado).
Figuras próximas de direitos subjetivos e deveres jurídicos, mas que não são nem
uma coisa nem outra, apenas se aproximam deles:
⇨ Mero Interesse Jurídico - Interesse tutelado pela ordem jurídica, a que não
corresponde um direito subjetivo, ou seja, o titular do interesse não tem o
poder de exigir ou pretender de outrem que adote os comportamentos
adequados à salvaguarda do seu interesse. Ex: a questão da vacinação
(tenho interesse que toda a gente seja vacinada, mas não posso obrigar
ninguém a sê-lo), boa conservação das estradas, entre outros. Segundo
46
Santos Justo, “falta-nos a faculdade ou o poder de exigir ou pretender esses
comportamentos que definem os direitos subjetivos.” O art. 483º do CC
abrange direitos absolutos e interesses legalmente protegidos, deixando de
fora os direitos relativos.
⇨ Direitos Reflexos - São posições jurídicas que são tuteladas por efeito de
especiais obrigações que oneram outras. Ex: posição dos filhos perante as
responsabilidades parentais dos pais.
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- Abstração: É abstrato o preceito que disciplina um número indeterminado de
casos e não casos ou hipóteses determinadas, ou seja, concretamente
visados.
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- Permissivas: são aquelas que concedem poderes ou faculdades, deixando ao
titular a liberdade do seu exercício. Também se chamam normas facultativas,
normas de autorização ou normas concessivas.
- Interpretativas: neste contexto, correspondem àquelas disposições legais
cuja função é determinar o alcance e sentido imputáveis a certas expressões
ou certas condutas declarativas das partes em caso de dúvida.
- Supletivas: destinam-se a suprir a falta de manifestação de vontade das
partes sobre determinado ponto do negócio que carece de regulamentação.
Ou seja, são aquelas que podem ser afastadas por vontade das partes em
sentido distinto do seu conteúdo. Ex: comunhão de adquiridos, que é regime
de bens supletivos em Portugal, ou seja, é aquele que se aplica se as partes
não disserem algo diferente.
Mas como é que eu sei se uma norma é imperativa ou supletiva? Aquela norma é
obrigatória ou podem-na afastar se não a quiserem?
Muitas vezes, a própria norma dá a resposta. É muito frequente as normas
supletivas identificarem essa mesma supletividade, por exemplo, começando por
“salvo convenção em contrário” ou “salvo acordo em contrário”. Há casos, porém,
em que a norma nada diz. Nesse caso, identificar a natureza imperativa ou supletiva
da norma depende de um juízo de interpretação, tendo por base a própria norma e a
sua integração no sistema jurídico. O intérprete tem de avaliar se a norma é ou não
essencial à fisionomia daquele instituto e se pode ou não ser posta de parte sem
romper o equilíbrio de interesse fixado pelo legislador.
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- Normas especiais: não consagram uma disciplina diretamente oposta ao
regime regra, mas consagram uma disciplina nova ou diferente para círculos
mais restritos de pessoas, coisas ou relações, em função da sua
especificidade. Ou seja, elas não contrariam substancialmente o princípio
contido no regime regra, mas adaptam-no a um domínio particular. Enquanto
uma norma excessional não pode ser aplicada analogicamente, uma norma
especial pode.
Codificação
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Um código não se confunde com estatutos (que é outro tipo de codificação).
Usa-se a denominação estatutos, em vez de código, para identificar leis que
regulam também de maneira unitária e sistemática uma determinada matéria que
não goza da amplitude, dignidade ou estabilidade suficientes para ser designada por
código. Também se dá o nome de estatutos às leis que regulam de forma unitária e
sistemática uma determinada carreira ou profissão (ex: estatutos da ordem dos
advogados).
Uma outra designação que se distingue de código é a lei orgânica. A lei orgânica
regula de modo sistemático e unitário o funcionamento de um serviço (ex: lei
orgânica do Ministério Público).
Há também uma outra figura, a que se dá o nome de lei avulsa, também chamada
lei extravagante. São leis que introduzem alterações a matérias constantes de
códigos, não sendo neles integradas (ex: lei de defesa do consumidor).
● Vantagens:
● Desvantagens:
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determinados ordenamentos jurídicos, especialmente ao nível da substituição
de um código por outro, pois um código é feito para dar estabilidade a um
determinado ramo do Direito. Ou seja, esta rigidez que é apontada como
crítica é simultaneamente uma crítica e uma vantagem. Os códigos são
“monumentos legislativos”. Não são perfeitos, têm críticas, mas dão
estabilidade, proteção e segurança.
em vez disso, criou o artigo 219). NOTA: a parte geral do livro primeiro tem
dois tipos: “das leis, sua interpretação e aplicação” (parte geral do Direito-
constitui o repositório de princípios gerais de todo o ordenamento jurídico,
diz-se que é uma teoria geral das leis e só está no CC por tradição; é esse
que estudamos em Introdução ao Direito) e “da relação jurídica” (verdadeira
parte geral do Direito Civil- é passível de muitas críticas, diz-se que
desumanizou o Direito, pois passou a ter como centro o ordenamento
jurídico).
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A remissão é extra sistemática quando é feita para sistemas jurídicos
diferentes do sistema a quo/em causa/ao qual pertence (ex: art. 8 nº1 do CC).
Quanto às normas remissivas intra sistemáticas, em regra, a remissão é feita
para a estatuição da norma, mas nada impede que a remissão seja feita para
a previsão da norma. Há situações em que a lei faz uma remissão muito
ampla, dando ao regime para o qual remete a função de integração
subsidiária do regime a quo (ex: artigo terceiro do Código Comercial, que
remete para o regime do Direito Civil em geral quando a questão não puder
ser resolvida pela letra da Lei Comercial, pelo seu espírito nem por casos
análogos).
Noutros casos, a norma remissiva opera através de uma extensão do regime
de um instituto a outros institutos (ex: art. 939 do CC, que estende o regime
de compra e venda a todos os contratos onerosos que impliquem
transferência de propriedade). As normas remissivas iniciam-se geralmente
com “com as necessárias adaptações”, porque neste processo de aplicação
de um regime de um instituto ou outro, o intérprete tem sempre que ter em
atenção a especificidade do instituto. Em quase todas as normas remissivas,
o legislador salvaguarda as necessárias adaptações, não é uma aplicação
cega do regime de um instituto ou outro. O intérprete tem que atender às
especificidades de cada um dos institutos e aplicar a remissão na medida em
que essa afinidade o justifique. Muitas vezes, em remissões, o legislador
remete para outra norma, não para mandar aplicar essa norma, mas para
traçar relações de prevalência ou de subsidiariedade. Quando o legislador
começa por “sem prejuízo do disposto em”, esta norma para a qual se remete
tem prevalência/primazia, e quando diz “não obstante o disposto em”,
significa, em regra, que a norma que se vai enunciar estabelece um regime
especial ou excecional, face ao regime contido na norma para a qual se
remete.
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desconhecido. No art. 350 do CC, quem tem a favor uma presunção legal
não tem que provar o facto que a ela conduz. Isto significa que as
presunções legais têm um impacto direto no ónus da prova (art. 342 do CC).
Nos termos do princípio geral do ónus da prova, quem invoca um direito tem
de provar os factos constitutivos do direito invocado. Quem alega factos
impeditivos, modificativos ou extintivos de num direito tem que fazer prova
desses factos. Por força do art. 344 do CC, se houver uma presunção legal,
há uma inversão do ónus da prova, cabendo à outra parte provar, nos casos
em que é permitido, que essa presunção não corresponde à realidade. Há
dois tipos de presunções: as presunções legais e as presunções judiciais. A
presunção judicial, também chamada de presunção natural/simples/de
facto/de experiência: resulta da normal decorrência das coisas. Só são
admitidas nos mesmos termos em que é admitida a prova testemunhal e
podem ser afastadas por simples contraprova, ou seja, por provas que criem
no espírito do juiz uma incerteza quanto à ocorrência do facto a provar.
As presunções que nos interessam são as presunções legais, as que
resultam de normas jurídicas.
A presunção legal pode ser de dois tipos:
➤ Iuris et de iure: presunções inilidíveis, não podem ser afastadas por prova
em contrário, são absolutas e irrefutáveis (mesmo que se prove que aquilo
não aconteceu, é irrelevante, a presunção aplica-se na mesma). Estas
presunções são a exceção, o que significa que a presunção só é inilidível
quando isso resulta da norma que a consagra (se nada consagrar, a
presunção é iuris tantum). Ex: art. 243 nº3 do CC.
➤ Iuris Tantum: são presunções ilidíveis, podem ser afastadas por prova em
contrário. São a regra, o que significa que, se nada resultar da norma, a
presunção é iuris tantum.
Na prática, é difícil distinguir ficção legal de presunção iuris et de iuri. Mas,
como diz Batista Machado, as duas figuras são conceitualmente distintas. Na
ficção legal, a lei atribui a um facto as consequências jurídicas de outro; Na
presunção inilidível/iuris et de iure, o facto presumido acompanha sempre o
facto que serve de base à presunção.
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legislativa, são muito criticáveis, porque não compete ao legislador fazer
construções conceptuais, essa função é da doutrina. “Ommis definitia
periculosa” (toda a definição é perigosa). Porquê? Porque deixa de fora
coisas que deviam lá estar e pode integrar coisas que não deviam lá estar.
Existe esta consciência de que toda a definição legal representa perigos,
porque pode ser excessivamente lata ou restrita. Mas a verdade é que, não
obstante as definições serem tidas como perigosas, o legislador português
recorre com frequência a elas (ex: art. 202 e 762 do CC). A pergunta que se
coloca é: qual a força normativa de uma definição legal? Obriga o intérprete
55
O Dr. Batista Machado diz que estes conceitos determinados são
estruturas arquitetónicas consolidadas da ordem jurídica que permitem
a construção de um sistema científico e salvaguardam a certeza e a
segurança jurídicas. Ex de conceitos determinados: credor,
personalidade jurídica, caso julgado. Ex de conceitos indeterminados:
boa fé, bons costumes, bom pai de família, prazo razoável.
Já as cláusulas gerais opõem-se à chamada regulamentação
casuística (regulamentação que identifica exaustivamente todas as
hipóteses a que se aplica). É muito comum as cláusulas gerais usarem
conceitos indeterminados, mas os conceitos indeterminados não são
exclusivos das cláusulas gerais. Ex: no art. 1781, alíneas a e c do CC,
o legislador fez uma enumeração casuística, e na alínea d estabeleceu
uma cláusula geral (isto é um exemplo de uma enumeração mista).
As cláusulas gerais opõe-se à regulamentação casuística que
identifica exaustivamente todas as hipóteses a que se aplica a norma.
A norma casuística prevê e regula grupos de casos especificados,
enquanto a cláusula geral não regula tipos de casos especialmente
determinados, deixando indefinidos os casos a que virá a aplicar-se. O
seu objetivo é evitar os dois riscos: não abranger da sua hipótese
todas as jurídicas que merecem o mesmo tratamento jurídico,
abranger inadvertidamente situações que mereceriam pela sua
natureza tratamento diferente, a isto dá-se o nome de lacuna de
exceção.
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indicando apenas o escopo/finalidade da decisão a adotar, mas sem vincular
o órgão ou agente a uma obrigação determinada. Ou seja, a lei estabelece
uma hipótese, mas verificada esta, deixa a fixação da consequência jurídica à
justificada.
● Equidade
● Aqueles que consideram que a equidade é fonte de Direito têm uma razão: o
caso resolve-se pela equidade, pois ela revela-nos o direito aplicável àquele
caso, além de ser modo de revelação do Direito, embora com referência a
casos singulares.
● Aqueles que não consideram a equidade como fonte de Direito, entre eles
Oliveira Ascensão, que diz: se fontes de Direito são os modos de formação
e revelação de regras jurídicas, a equidade, como critério formal de decisão,
está fora desta noção. Isto porque, não só não se determinam, através dela,
regras, como a própria solução do caso não se faz através da mediação de
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uma regra, elaborada pelo intérprete de modo a abranger a categoria em que
o caso se enquadra.
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Vantagens do tribunal arbitral: celeridade, desformalização, especialização e caráter
secreto.
Desvantagem: caríssimo
Pergunta: Deste modo, atendendo que a equidade é a justiça do caso concreto e
que o objetivo do Direito é a promoção da justiça, porquê que não se decide sempre
segundo a equidade?
Resposta: O problema da equidade é que é uma solução restrita que acaba com a
previsibilidade das decisões, o que afeta a segurança jurídica. Em relações
indisponíveis (ex: estado das pessoas ou núcleo dos direitos de personalidade) – as
partes não podem, nem por acordo, mandar aplicar a equidade, precisamente por
causa da falta de critérios (de previsibilidade).
Reflexão feita pelo professor Meneses Cordeiro
A equidade deixou de ser necessária, porque a flexibilização do sistema
jurídico decorrente das normas de ius aequum e o próprio aperfeiçoamento da
metodologia jurídica que se concentra agora mais no fundamento axiológico das
normas substitui, de forma suficiente, as necessidades de individualização e de
adequação ao caso concreto que antes eram respondidas pela equidade. A justiça
do caso concreto agora consegue-se dentro do sistema jurídico e já não é
preciso procura-la fora (na equidade).
Ora, é inegável que a equidade perdeu pelo menos parte da premência. O
sistema jurídico atual tem mecanismos de flexibilização que permitem achar a
justiça dentro do ordenamento jurídico.
Pergunta: Mas ela tornou-se dispensável/desnecessária?
Meneses Cordeiro – Sim, pelo referido acima.
Carneiro da Frada – Não. Ela pode ser menos premente (urgente/essencial), mas
continua a ser útil. Não se negando o aperfeiçoamento da metodologia jurídica, não
se negando que a abertura axiológica do sistema tem um impacto significativo na
procura da justiça perante as soluções concretas, as decisões assentes no sistema
jurídico estão sempre limitadas pela generalidade e abstração e comprometidas
com a norma. Já as decisões segundo a equidade são extra-sistemáticas (fora do
ordenamento jurídico, quer nacional, quer internacional), ou seja, não estão
limitadas por princípios históricos e culturais vigentes na promoção da justiça.
Segundo Carneiro da Frada, a equidade corresponde a uma “forma superior de
justiça”, acima da lei e do Direito constituído. A decisão segundo a equidade
convoca um “modo de decidir” em que a substância, a forma, a matéria e o
processo se fundem. Porém, a equidade não é estranha ao Direito, antes procura a
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concordância entre a sabedoria e a realização de valores no Direito, assinalando a
amplificação e a perfeição a que o Direito tende, em ordem à justiça.
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