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2022/23

Tiago Pedroso

Introdução ao Estudo do Direito

Direito – é o elemento regulador da sociedade e da conduta individual de cada um, tem


prevalência sobre interesses individuais e próprios.

O homem é um ser social

O homem é um ser ontogeneticamente inacabado ou imperfeito. Esta imperfeição radical


decorre da capacidade de pensar. Assim, este só se realiza plenamente na relação com
outros indivíduos, ou seja, tem a necessidade de viver em sociedade.

Da vida em sociedade surgem conflitos de interesses entre as partes:

 Inter – individuais – entre indivíduos;


 Entre indivíduos e comunidades;
 Entre comunidades diferentes;

O direito não procura eliminar estes conflitos de interesse, mas, antes encontrar uma forma
de os resolver pacificamente sob o pretexto de um ideal de justiça. Vivemos na expectativa
de que os outros atuem conforme a norma – o que nos confere segurança na vida Social

Só é possível resolver conflitos numa sociedade através das normas jurídicas, estas têm
como função conter as individualidades do homem que, na maioria dos casos são a génese
do conflito humano.

O direito é um conjunto de normas que limitam a nossa liberdade, são essas limitações que
constituem o preço para a nossa vida em sociedade, atingindo-se paz social.

Quem tem competência para aceitar limites à liberdade individual são os próprios
indivíduos.

Em suma:

O Direito é um conjunto de normas de conduta e regras de comportamento social que


são executadas por órgãos competentes e coercivos, integrando do valor de justiça e
conduzindo a um ambiente de segurança.

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Necessidade original das instituições

- O homem só consegue organizar a sua vida em comunidade a partir da criação de


instituições;

- não detém “os meios biológicos necessários para proporcionar estabilidade à sua
conduta”, o ser humano caracteriza-se pela sua incompletude e abertura ao mundo, isto é,
o seu desenvolvimento ontogenético está inacabado.

- A formação do substrato da pessoa humana é feito através de um radical processo de


aprendizagem, pela exposição ao ambiente, à sociabilidade que também influencia esta
formação, que determina o homem como um ser de aprendizagem.

- Existem, assim, dois ambientes que envolvem o homem: o ambiente físico e o simbólico
(cultural), sendo este último criado pelo próprio homem (artefacto humano) – cultura – a
totalidade dos objetos criados pelo homem, regras, expectativas, padrões de conduta e
interação, atitudes e crenças que constituem um meio-ambiente construído pelo homem;

- O homem é um ser “ontogeneticamente inacabado e aberto para o mundo” precisa de


instituições que o guiem entre o certo e o errado, o justo e injusto, sobre o que vale e o que
não vale, garantindo assim a segurança nas relações entre os homens;

- Estas instituições permitem ao “homem encontrar-se e definir-se”.

- As instituições são importantes, visto que servem de base


para o Homem, indicando-lhe um certo rumo, criando um
consenso à volta de alguns valores (como o da justiça) e
libertando-nos do caos. Proporcionam, portanto, um contexto de ordem, direção e
estabilidade

Funções do Direito

Função ordenadora – ordenar a vida em sociedade, regulando-a, e estabelecendo os limites


para os direitos e deveres de cada um, contemplando as pessoas como são.

Função Estabilizadora – o Direito cria segurança e certeza jurídica, ou seja, com a


positivação das normas os indivíduos podem criar expectativas, pois sabem que elas se
aplicam a si e a todos os outros.

Função Conformadora – também pode ser chamada função transformadora, modeladora,


educativa, pedagógica ou formadora. Aqui o Direito não olha para os indivíduos como eles
são efetivamente, mas como eles deviam ser. Aqui o Direito tem um papel ativo e
impulsionador na evolução social, pois procura alterar as conceções, os valores e as

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condutas dos indivíduos e, consequentemente, a realidade social, com a finalidade de
passar para um “patamar” de desenvolvimento mais justo, realizar a ideia de justiça.

O Direito e a Coação

Visão sociológica do Direito - o que distingue o Direito das restantes ordens normativas é
que tem coercibilidade e, portanto, as suas regras têm de ser respeitas, caso contrário, é-se
sancionado. É um instrumento de controlo social eficaz.

Coercibilidade: é a força de se fazer impor à força. O Estado serve- se de meios coercivos


para impor a observância das normas.

Visão jurídica do Direito - o Direito é uma ordem orientada pela ideia de Justiça, este valor
é lhe uma referência intrínseca e, portanto, é errado nem o ter em conta na definição. A
coercibilidade no Direito só existe para assegurar a Justiça.

Para o Homem se realizar precisa de estar inserido numa sociedade, para a sociedade
prevalecer é preciso haver Direito vigente, a vigência do Direito é dada pela coercibilidade.

Legitimidade da Coação

Se não houvesse coercibilidade ninguém obedeceria às normas e instalar-se-ia a lei do mais
forte e a anarquia. Desta forma, o recurso a meios de coação para repor a Justiça não só é
legítimo como é também exigível.

Necessidade da Coação

Podemos afirmar que sem coação o Direito era uma ordem sem eficácia social e,
consequentemente, um fracasso, uma “lex imperfecta”.

O Direito, num determinado tempo ou espaço, necessita de impor sanções para que as
normas não sejam violadas. Ou seja, o Direito limita e evita este tipo de ocorrências.

As sanções e as coações são aplicadas pelo poder social, confiado ao Estado.

A essência do Direito deve


ser a Justiça, mas para
esta ser assegurada é Direito e o Poder Político
necessário entregar o
A coação depende da Força. O Direito depende da coação. O Direito depende da Força.

- Atualmente, o Direito é ditado por uma autoridade social (Parlamento ou Governo) que
tem por detrás de si o poder político, isto é, o poder do Estado.

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- Se apenas a Força exprime o Direito, já não temos Direito, mas uma sucessão de vontades
discricionárias e caprichosas dos detentores do poder. Por outro lado, o Direito sem a Força
seria impotente, não fazendo respeitar as suas prescrições

O uso da Força para a realização do Direito é traduzido pela ideia de Justiça. “O Direito não
exclui a Força mas a violência”. O Direito vive em simbiose com a Força, cabe ao Direito
legitimar a própria Força de que ele carece para se impor como Direito. O Direito só tem
vigência social quando incarna numa estrutura de ação que lhe empreste a Força. Se o
Direito depende da Força, como poderá dizer-se que é ao Direito que cabe legitimar e
impor limites à Força?

R: O Direito requer uma Força, sim, mas uma Força já legitimada pelo Direito, já por ele
regulada no seu exercício, isto é, já conforme a ideia de Direito (Justiça).

O Direito não depende da Força na sua validade, no seu sentido específico ou na sua
essência; depende dela apenas no seu existir. Trata-se de uma dependência meramente de
facto, não de uma dependência de iure, isto é, situada no plano da validade ou da
legitimidade. Neste plano, é a Força que deve subordinar-se ao Direito, cabendo a este
conferir àquela legitimidade ou não.

 Só numa sociedade ideal o Direito dispensaria a Força


 Todo o ETHOS (legitimidade) requer um Kratos (uma estrutura de ação) em que
incarne para ter vigência social
 O Direito carece da Força; mas, por seu turno, legitima e regula o uso desta. A Força
sem o Direito é violência.

O Direito e o Estado

Relação entre o Direito e o Estado

O elemento fundamental do Estado é o poder (poder político), coincidente com Direito. O


Direito não se confunde com o poder e, também não pode confundir-se com Estado. Antes,
cabe ao Direito limitar o poder do Estado e legitimá-lo – há princípios de Direito que se
impõem ao próprio Estado – este não pode constituir uma ordem jurídica sem se referir ao
princípio superior da Justiça.

Todo o Direito é Estadual? Terá o Estado o monopólio da criação do Direito?

Direito sem ser de fonte estadual: o Direito Internacional Público ou o Direito das
Sociedades Primitivas

Relação entre Direito, Justiça e Segurança

Uma das principais funções das instituições sociais é criar estruturas de ordem e
estabilidade nas relações entre os membros da comunidade. Cabe ao Direito acrescentar a

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essa estabilidade ordenadora específica e própria a que se pode dar o nome genérico de
segurança jurídica.

O Direito proporciona aos seus destinatários segurança e certeza jurídica:

 O Direito está positivado em legislação que é formulada de acordo com


procedimentos regulados;
 Leis gerais (toda a gente) e abstratas (variedade de situações);
 O cumprimento das normas vigentes é garantido pelo aparelho coercivo e judicial;

Exige-se ao direito que proporcione segurança, mas este não pode ser o seu único objetivo,
é também necessário que as normas sejam justas, orientadas por valores como a liberdade
e a igualdade. Então, por vezes, a segurança conflitua com a justiça, porque nem sempre o
que transmite mais ordem é o mais justo (Justiça e Segurança acham-se numa relação de
tensão dialética).
Na maioria
Apesar de a Justiça representar um ideal de hierarquia superior face a Segurança, muitas
dos casos, a
vezes o valor da segurança prevalece, pois está diretamente ligada à utilidade, às
segurança
necessidades práticas e às urgências da vida.
sobrepõe-se
Exemplos em que prevalece a segurança: princípio da não retroatividade; norma que fixa a
maioridade; normas que fixam prazos de caducidade ou prescrição e instituto do caso
julgado.

Uma justiça puramente ideal, desacompanhada de segurança, seria vazia de eficácia e, por
isso não passaria de piedosa intenção. Uma segurança sem justiça representaria pura
situação de força.

Sem segurança a justiça não é eficaz e, sem justiça a segurança representaria pura situação
de força (ordem imposta pelo terror) – a segurança deve estar ao serviço da justiça e
legitimar-se perante ela.

A segurança como certeza jurídica

A segurança jurídica aparece-nos sob forma de certeza jurídica. Para esta concorrem desde
logo as leis formuladas em termos claros e precisos, que não deixem margem a
ambiguidades de interpretação nem a lacunas e que, portanto, evitem o recurso a conceitos
indeterminados e a cláusulas gerais. O legislador não pode deixar de recorrer, em vários
domínios do jurídico, a estes conceitos e cláusulas. Existem duas técnicas legislativas:

Ius strictum – o legislador é bastante preciso, claro e detalhado, garantindo a segurança


jurídica em vez da justiça. As leis são formuladas em termos claros e precisos, não existindo
margem para contestação/outras opções/alternativas, vejamos como exemplo o
Artº280/nº2 do Código Civil: “É nulo o negócio contrário à ordem pública, ou ofensivo dos
bons costumes.”.

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Ius aequum - o legislador não é tão detalhado e, portanto, há uma grande margem de
flexibilidade (manobra), privilegiando a justiça e não a segurança. No domínio deste critério,
a certeza é sacrificada à equidade e à maleabilidade da decisão, conforme as circunstâncias
do caso e as modificações trazidas pela evolução social. Observemos como exemplo o
Artº875 do Código Civil

O Direito e a Moral

Para caracterizar a ordem normativa que é o Direito e distingui-la da outra ordem normativa
que é a Moral (conjunto de normas, baseadas em costumes e opiniões éticas, que visam o
aperfeiçoamento do ser humano), apontamos os seguintes critérios:

Critério do Mínimo Ético: O Direito limita-se a impor aquelas regras morais mais básicas,
cuja observância é indispensável para que na vida em sociedade exista paz, liberdade e
justiça.

Este ritério está errado, visto que as normas jurídicas na sua maioria não correspondem a
regras morais, isto é, são eticamente neutras. Todavia, por vezes, há uma interseção entre o
que é eticamente aceite e a norma jurídica, o critério do “mínimo ético” apenas se reporta à
questão de saber até que ponto o Direito pode ou deve dar relevância a critérios éticos.

Critério da Heteronomia e Coercibilidade: O Direito assenta numa imposição externa


(heteronomia) e é passível de ser imposto pela força (coercível). Já a Moral assenta numa
vinculação natural, as pessoas cumprem as suas normas porque querem (autonomia) e não
porque há algo exterior que as obriga (não coercível).

Este critério está errado, visto que dá uma visão do Direito errada (semelhante à
sociológica), vendo a ordem jurídica como um aparelho de controle eficaz, uma ordem que
se distingue pelo seu aparelho coercivo que a torna eficaz.

Critério da Exterioridade: O Direito apenas se importa com o lado externo da conduta,


enquanto que a Moral exige uma atenção à intenção, vendo se há uma adesão interna, ou
não.

Este critério está errado, visto que muitas vezes o Direito analisa também a vertente interna
do agente, por exemplo, é diferente matar com intenção ou por acidente.

O Direito não pretende impor normas morais, mas isso não significa que imponha normas
imorais. Dado que o valor na essência do Direito é a Justiça e este é um valor ético, o Direito
respeita a moral.

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Macroestrutura: as grandes divisões do Direito

1. Razão de ordem

O Direito abrange todas as atividades humanas que tenham ou possam ter implicações no
“envolvimento” social. Por isso, há imensas normas legisladas em vigor, logo, nenhum
jurista deve ter a pretensão de conhecer todas as normas jurídicas, porque é impossível. O
que um bom jurista deve fazer é ter uma visão compreensiva e desenvolver um pensamento
jurídico autónomo, sendo assim capaz de trabalhar com qualquer lei.

Perante este “mare magum” de leis e normas é importante ter como quadros de referência
as grandes divisões do Direito e os seus ramos, tendo assim uma imagem da macroestrutura
do ordenamento.

2. Direitos objetivos e direitos subjetivos

O direito em sentido objetivo refere-se ao complexo de regras gerais e abstratas que rege a
vida em sociedade, definindo assim o estatuto das pessoas e as relações entre si.

Os direitos subjetivos são as faculdades ou poderes atribuídos pelo direito objetivo a certas
pessoas no caso concreto, quando cumprem os requisitos do direito objetivo. À titularidade
de um direito subjetivo por parte de uma pessoa corresponde logicamente um dever
jurídico (uma obrigação), ou pelo menos um estado de sujeição, por parte de outra ou
outras pessoas – direitos de personalidade, um direito de propriedade, um direito de
crédito, etc...

3. Ramos do Direito

As normas que regulam as diferentes matérias ou se reportam às diferentes áreas


institucionalizadas da vida social tendem a constituir diversos subconjuntos normativos
organizados em torno de certos princípios comuns e de certas técnicas regulamentadoras
que lhes conferem uma relativa especificidade.

Ramos do direito – diferentes disciplinas jurídicas que compõem o plano do curso de direito.

4. “Summa divisio”: Direito Público e Direito Privado

A divisão suprema tradicional do universo jurídico é aquela que distingue entre Direito
Público e Direito Privado. Trata-se de uma distinção para a qual não foi achado um critério
absolutamente satisfatório. Ex: Direito Social não se integra em nenhuma destas duas
categorias tradicionais.

Direito Público: conjunto de normas que regula as relações e a organização das entidades
públicas, baseia-se no princípio da legalidade. Tem uma estrutura vertical porque à
hierarquia.

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Direito Privado: conjunto de normas que regula as relações entre particulares ou
particulares e entidades públicas desprovidas de ius imperii, baseia- se no princípio da
igualdade e da autonomia privada. Tem uma estrutura horizontal, porque os sujeitos estão
no mesmo nível, devido à igualdade na dignidade.

De todos os critérios de distinção propostos, o mais divulgado é o “critério da posição dos


sujeitos”. Nos termos deste critério:

 Se se tratar de uma norma peculiar que não possuí validade para todos, referindo-se
exclusivamente aos titulares do poder de império ou seja, ao Estado e outras
entidades públicas, conferindo-lhes nesta qualidade os respetivos direitos e poderes
ou impondo-lhes as correspondentes obrigações, está-se perante uma norma de
Direito Público - se é uma norma que só pode ser invocada e só tem validade para
titulares de poder de império, então estamos perante uma norma de Direito
Público.
 Quando uma entidade pública, sem recorrer àquelas normas que lhe são peculiares,
age com base numa norma geral que pressupõe a igualdade de todos e que pode ser
invocada também por todos, trata-se de uma norma de Direito Privado – se é uma
norma de aplicação geral, então é uma norma de Direito Privado.

Não tem críticas, é o critério em vigor.

Outros critérios de distinção:

Critério/Teoria da Supra e InfraOrdenação

 As entidades públicas atuam em relação em relação ao cidadão a partir de uma base


de supremacia; esta relação de supra-ordenação e infra-ordenação é característica
para o Direito Público, enquanto o Direito Privado se caracteriza pela relação de
igualdade e/ou equivalência dos sujeitos envolvidos.
 Pertencem ao Direito Público as normas que regulam relações de subordinação,
em que uma parte exerce uma posição de supremacia em relação à outra,
pertencem ao Direito Privado as normas que regulam relações de paridade.

Críticas:

1- Existem relações de Direito Público em que as partes partem de uma posição de


paridade entre si, por exemplo, os contratos administrativos.
2- O Direito Privado também regula relações em que uma das partes parte de uma
posição de supremacia em relação à outra, por exemplo, contratos de trabalho
(empregador e trabalhador).Critério/Teoria dos Interesses

 Está-se perante uma relação jurídica ou norma de Direito Público quando estão em
causa a proteção ou a prossecução de interesses públicos.

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 Inversamente, está-se perante uma relação jurídica ou norma de Direito Privado
quando os interesses afetados são interesses particulares.

Críticas:

1- Há normas que protegem interesses públicos e privados.


2- Há situações em que as entidades públicas se servem do Direito Privado para servir
interesses públicos, não dispondo do seu poder de império, mas atuando como
particulares.

Ramos
Direito Público Direito Privado
Direito Constitucional ou Político Direito Civil
Direito Administrativo Direito Comercial
Direito Penal Direito Internacional Privado
Direito Fiscal

O facto jurídico, a situação jurídica e a relação jurídica

A hipótese legal não se refere apenas a factos ou situações de facto, visto que contempla,
muitas vezes, dados normativos e aí a hipótese legal parece dirigir-se apenas à descrição de
factos, explicar conceitos jurisdicizados. Mas, os factos que se verificam na hipótese legal
são factos jurídicos, isto é, eventos juridicamente relevantes que produzem efeitos jurídicos
– são, então, o elemento que produz alterações na vida jurídica ou no mundo do direito.

Factos
Exteriores
Puros Factos
Jurídicos
Factos
Internos
Factos
Jurídicos Simples Atos
Jurídicos
Declaração
Atos Jurídicos Quase-
Negocial
Declaração de
Vontade
Negocial ou
Negócio Jurídico

Puros Factos Jurídicos Exteriores: independentes do conhecer, da vontade e do agir do


Homem (p. ex. localização de um terreno ou um incêndio).

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Puros Factos Jurídicos Internos: factos relacionados com a vida psíquica do Homem (p. ex.
intenção).

Atos Jurídicos: há uma conduta humana dirigida pela vontade, que pode ser por ação,
quando não se pode fazer, ou por omissão, quando não se pode tolerar um comportamento
(ex. ação: matar; omissão: segurança não pode tolerar que um ladrão roube).

Simples Atos Jurídicos: condutas que produzem uma consequência jurídica, que o indivíduo
até pode não a ter desejado e a sua atuação não visava esse efeito (p. ex. incêndio
começado por alguém que adormeceu com uma vela acesa).

Declaração Quase Negocial: exteriorização de vontade que produz diretamente um efeito


jurídico, independentemente de a consequência ser querida pela pessoa, ou não (p. ex.
declaração de impostos vai levar ao ter que pagá-lo).

Declaração Negocial: exteriorização de vontade que produz os efeitos pretendidos (p. ex.
testamento, contrato ou a renúncia de um direito).

Os factos jurídicos são lícitos ou ilícitos consoante respeitem ou violem normas jurídicas.

Direitos Subjetivos

A norma estabelece uma relação específica de relação de causalidade, entre os factos a que
se reporta na sua previsão e os efeitos jurídicos prescritos na sua estatuição. Os efeitos
podem ser a imposição de um dever jurídico ou a atribuição de uma qualidade, competência
ou faculdade jurídica (p. ex. atribuição da cidadania portuguesa) ou, ainda, a atribuição de
direito subjetivo.

Direito Subjetivo: poder jurídico de livremente exigir/pretender de outrem um


comportamento (positivo ou negativo) ou de por um ato livre de vontade, produzir
determinados efeitos jurídicos, que inevitavelmente se impõem a outra pessoa (a
contraparte).

Ex: os direitos de personalidade, o direito de propriedade, direito de crédito, o direito de


propriedade intelectual, etc...

Quando o direito confere a determinada pessoa um poder destinado à satisfação de um


interesse próprio ou alheio, acompanhado da faculdade de dispor dos meios coercivos do
ordenamento jurídico para proteger esse poder, diz-se que lhe atribui um direito subjetivo.

Ónus jurídico: consiste na observância de certo comportamento, prescrito por lei como
condição da obtenção de uma certa vantagem para o agente, ou como pressuposto da

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manutenção de uma certa vantagem ou benefício de que já está a usufruir, ou para evitar
uma desvantagem (o ato a que se reporta o ónus jurídico não é imposto como um dever).

Ex: ónus da contestação em processo civil – o réu deverá contestar aquilo que o autor
alegou contra ele, para evitar que tal se dê logo como certo e provado.

ónus do registo predial – aquele que adquire um imóvel, se pretende que tal aquisição
tenha eficácia em relação a terceiros, tem de promover a sua inscrição nos livros de registo
predial, caso contrário, aquele que lhe vendeu o imóvel pode vender a outro.

Estado sujeição – estado em que se encontra a contraparte do titular de um direito


potestativo. Ora este consiste no poder conferido a uma das partes numa relação jurídica
de, por ato unilateral modificar ou extinguir a relação jurídica – ou ainda, no poder de
constituir um direito que vai limitar o direito de outrem.

Ex: O inquilino pode denunciar livremente o contrato de arrendamento para o termo do


prazo, extinguido deste modo a relação contratual. Em todos os casos deste tipo, a
contraparte, não pode evitar que se produzam na sua esfera jurídica os efeitos do exercício
do direito potestativo.

Facto Jurídico: eventos juridicamente relevantes, que têm efeitos jurídicos.

Relação Jurídica: sempre que ao direito de um sujeito determinado (privado ou público)


corresponde um dever de outro sujeito jurídico (privado ou público) determinado podemos
falar de uma relação jurídica – uma relação jurídica é sempre uma relação entre duas ou
mais pessoas jurídicas.

O sujeito jurídico e os direitos de personalidade

Os direitos e deveres, as qualidades jurídicas e situações jurídicas – efeitos jurídicos –


recaem sobre as pessoas determinadas, ou seja, são imputados a pessoas determinadas. Por
outro lado, são também pessoas determinadas os autores dos factos jurídicos voluntários a
que chamamos atos jurídicos – simples atos jurídicos e negócios jurídicos.

Personalidade Jurídica - centro de imputação de efeitos jurídicos, ou seja, ter a capacidade


de ser titular de direitos, obrigações e qualidades (como a de cidadania). Hoje em dia, todos
os seres humanos têm personalidade jurídica, a partir do momento em que nascem
(66º,n.º1) e cessa com a morte (68º,n.º1). Mas nem sempre foi assim, p. ex. os escravos não
tinham quaisquer direitos.

Código Civil

ARTIGO 66° - Começo da A personalidade jurídica implica desde logo a titularidade de


personalidade certos direitos: os direitos de personalidade; estes são
intrínsecos à própria natureza humana, são absolutos (há
1. A personalidade
adquire-se no
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momento do
nascimento
completo e com
vida.
2. Os direitos que a
uma obrigação passiva universal) e são tutelados, visto que a sua violação gera uma
responsabilidade (que pode ser civil ou penal).

Mas a personalidade jurídica não é só atribuída aos seres humanos, é também atribuída a
pessoas coletivas, ou seja, a organizações humanas que congregam várias pessoas e que se
destinam a alcançar determinado fim. Se for uma mera organização de pessoas é uma
associação. Se congregar pessoas e bens é uma sociedade (com escopo/fim lucrativo). Se for
uma organização só de bens é uma fundação. Diz-se, então, que a lei personifica
determinado substrato organizacional. Há uma representação orgânica das pessoas
coletivas, ou seja, atuam mediante uma pessoa individual que assume determinado órgão,
que assuma os interesses e execute as vontades da pessoa coletiva.

Capacidade jurídica (art.67.º) : é a capacidade de ser titular de direitos e obrigações, isto é,
ser titular de um círculo maior ou menor de relações jurídicas. Há quem diga que este
conceito não é relevante, pois não acrescenta nada de novo à personalidade jurídica.

ARTIGO 67°- Capacidade


jurídica
Capacidade de exercício de direitos: a capacidade de dispor
As pessoas podem ser dos direitos que se é titular (de sobre eles tomar decisões)
sujeitos de quaisquer ou a competência de intervir modeladoramente (através de
relações jurídicas, salvo negócios jurídicos ou quase negócios jurídicos) na
disposição legal em constituição de situações ou relações jurídicas (capacidade
contrário; nisto consiste a negocial).
sua capacidade jurídica.
(Código Civil) Ao contrário da personalidade jurídica, nem todos os seres
humanos em todos os momentos têm esta capacidade
(menores 123.ºCC e interditos 138.ºCC) e, por isso, carecem de um representante que, em
seu nome e no seu interesse, exerçam tais direitos – representantes legais – ,sozinhos não
podem reger a sua pessoa e dispor dos seus bens. Mas também as pessoas dotadas de
capacidade de exercício podem fazer substituir-se no exercício de certos direitos, ou na
prática de negócios jurídicos, mediante um representante à sua escolha – representação
voluntária. Há ainda os inabilitados (152.ºCC), a quem é atribuído um curador, este tem de
autorizar e controlar os negócios do inabilitado, por isso, diz-se que a sua capacidade de
exercício de direitos existe, mas é limitada.

Nos menores de 18 anos, normalmente, os representantes legais são os pais. Há algumas
exceções à incapacidade dos menores – 127.ºCC
Nos interditos, isto é, aqueles que devido a uma anomalia psíquica, surdez, mudez ou
cegueira não se mostrem capazes de governar os seus bens, normalmente, têm como
representantes legais o tutor. Os inabilitados são quem tem uma anomalia psíquica, surdez,
mudez ou cegueira, mas mostram-se capazes de governar os seus bens, ou até quem abuse
habitualmente de bebidas alcoólicas ou estupefacientes. Os atos destes precisam da
autorização de um curador.

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Capacidade delitual: é a idoneidade para responder por factos ilícitos que a pessoa
cometeu, isto é, capacidade para ser sujeito de uma responsabilidade penal e de uma
responsabilidade civil – têm uma capacidade de imputabilidade, ou seja, capacidade de
responder pelos atos que pratica.

Do ponto de vista da responsabilidade civil (Art 488.º), é imputável quem tem a capacidade
de entender e querer aquilo que estava a praticar, sendo, por isso, necessário observar o
caso concreto, mas presume-se que algumas pessoas à partida são inimputáveis (Art
488º/nº2): as pessoas com menos de 7 anos e os interditos por anomalia psíquica.

Do ponto de vista penal (19.º C.P.), como as sanções são mais graves já se fixa uma idade
para existir responsabilidade – os 16 anos – até aqui todos são inimputáveis, não podendo
ser julgados nem condenados, independentemente do terem a capacidade de entender e
querer.

Espécies de direitos subjetivos

Aos direitos subjetivos correspondem obrigações de os respeitar.

a) Os direitos absolutos, atuam contra todas as pessoas, o que equivale a dizer que são
oponíveis a todos os terceiros, tendo efeitos erga omnes (contra todos). Absoluto
significa para o seu titular a exclusão de todos os outros, acompanhada pela
obrigação de não violar o direito subjetivo. Aos direitos absolutos corresponde assim
uma obrigação passiva universal de os respeitar. Os direitos absolutos são direitos de
domínio quando significam um poder de domínio sobre um objeto em que incidem.

Direitos de personalidade, propriedade ou de autor

b) Os direitos relativos, atuam apenas contra determinadas pessoas, tendo assim


efeitos inter partes. Os direitos relativos estabelecem obrigações limitadas àquelas
pessoas; daí a sua caracterização como relativos. Os direitos relativos são apenas
oponíveis a um círculo delimitado de pessoas (Ex: um contrato bilateral aos dois
contraentes). Ao contrário de certos direitos absolutos, não implicam nunca nenhum
poder de domínio, mas conferem um direito de crédito, um direito a uma prestação.

São direitos obrigacionais (Artº397 CC)

ARTIGO 397°- Noção

Obrigação é o vínculo Os direitos de crédito exigem um


jurídico por virtude do comportamento positivo ou negativo, esse
qual uma pessoa fica comportamento é uma prestação (prestação de
facto ou prestação de coisa). Têm eficácia relativa ou inter-partes. Neste direito

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existe um vínculo jurídico entre as partes. O “devedor” também tem certos direitos
face ao “credor”- 1037º.

c) Direitos potestativos - São aqueles direitos que conferem ao seu titular o poder de,
mediante declaração unilateral, modificar ou extinguir relações jurídicas
preexistentes ou mesmo constituir um direito que limite o direito de outrem (Exs:
direito de anulação, o direito de denúncia, o direito de resolução, o direito de
revogação, entre outros).

 Direito potestativo constitutivo: o titular deste consegue constituir uma relação


jurídica entre si e uma contraparte, estando esta num Estado de sujeição – 414º e
1550º (se tiver um terreno que não tem acesso à via pública posso ter um direito de
passagem/servidão sobre outro terreno, para ter acesso à via pública).
 Direito potestativo modificativo: o titular pode modificar uma relação jurídica que já
existe – 1568º (o proprietário do outro tal terreno pode, por efeitos de incómodo,
modificar o caminho pelo qual o titular de direito constitutivo passa até à via pública)
 Direito potestativo extintivo: extinguir uma relação jurídica – 1773º/nº3 e 1781º (o
divórcio pode ser sem o consentimento de uma das partes, quando a outra requer a
tribunal com algum fundamento, p. ex. a ausência, sem de que do ausente haja

d) Direitos de direção: trata-se de um direito-dever ou direito-função, a ser exercido no


interesse, não do seu titular, mas de terceiro. P. ex., o “poder paternal” (1901º e ss.)
é um direito de direção, visto que alguém tem de reger/dirigir o filho e administrar
os seus bens, no interesse deste

Norma Jurídica: a ordem jurídica decompõe-se em normas, estas exprimem a ordem


jurídica e concretizam-na, ou seja, exprimem os valores do Direito e é através dela que se
aplica o Direito. São como um mediador dos valores do Direitos às situações concretas.

Estrutura da norma: nas normas jurídicas completas há um antecedente um consequente,


isto é, uma previsão e uma estatuição.

 A hipótese legal é um facto ou conjunto de factos, situações típicas da vida, que


quando verificam os determinados requisitos produzem efeitos jurídicos que estão
inscritos na estatuição.
 A estatuição é uma consequência jurídica que resulta da verificação da hipótese
legal os efeitos jurídicos consistem na atribuição de um direito ou na imposição de
um dever.

Todo aquele que ilícita e culposamente causar danos a outrem (hipótese legal) fica
obrigado a indemnizar (por esses danos) o lesado (estatuição).

Características da Norma

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“Imperatividade”(coercibilidade): as normas jurídicas indicam uma conduta aos seus
destinatários que pode ser imposta à força, caso os destinatários não as cumpram. Há certas
normas que não proíbem uma conduta, mas, antes, atribuem um poder ou faculdade.

Generalidade: as normas dirigem-se para um conjunto indeterminado de pessoas, mas que


é determinável segundo critérios objetivos fixados na hipótese normativa. A generalidade
contrapõe-se ao individual. A generalidade não é a mesma coisa que pluralidade, a
generalidade dirige-se a uma categoria de indivíduos, que até pode se aplicar num só
indivíduo. A pluralidade é quando se dirige a mais de uma pessoa em particular e não se
dirige a uma categoria.

Abstração: as normas dirigem-se para um conjunto indeterminado de factos ou situações,


que são determináveis segundo critérios objetivos fixados na hipótese normativa. A
abstração contrapõe-se ao concreto.

Autores, como João Batista Machado, defendem que a generalidade e a abstração viriam
afinal a reconduzir-se a uma categoria única – generalidade. Toda a norma jurídica deverá
ser geral, no sentido de se destinar a regulas uma categoria de situação, factos e pessoas
futuros e/ou presentes.

A lei não pode nunca ser individual e concreta, pois assim violar-se-ia o princípio da
igualdade perante a lei. Só serão admissíveis diferenciações fundadas em elementos
objetivos (a diversidade das circunstâncias ou a “natureza das coisas”), pois estes permitirão
conferir ainda uma categoria de situações.

.Classificação da Norma Jurídica

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Precetivas
Normas Imperativas
Proibitivas

Critério da
Autonomia Privada Permissivas ou
Facultativas

Normas
Interpretativas
Dispositivas

Não Autónomas Supletivas


Critério da
plenitude do
sentido da norma
Autónomas
classificação
das normas
jurídicas Gerais
Critério do âmbito
da validade pessoal
Excecionais

Universais

Critério do âmbito
espacial (territorial) Regionais
da vontade

Locais

Critério da autonomia privada

a) Imperativas: não atribuem relevância à vontade dos destinatários, impondo-se à


vontade dos destinatários, das partes ou sujeitos, logo, não conferem autonomia
privada.
 Precetivas: impõem um determinado comportamento ou conduta (art 483º/nº1;
473º; 762º/2).
 Proibitivas: proíbem um determinado comportamento ou conduta (art 1601º/nº1),
Ex: todas as normas penais são proibitivas sempre que atribuem uma sanção a uma
conduta, pois estão implicitamente a proibir certos comportamentos.

b) Dispositivas: concedem positivamente poderes ou faculdades, põe um poder


jurídico nas mãos dos particulares, conferem direitos.

 Permissivas: atribuem relevância à vontade dos destinatários, reconhecendo


autonomia privada e relevância à vontade (maior número de normas dispositivas no
domínio dos negócios jurídicos).
 Interpretativas: determinam o alcance e sentido imputáveis a certas expressões ou
a certas condutas declarativas ou atos das partes, em caso de dúvida (Artº840).
 Supletivas: são aquelas que se destinam a suprir a falta de manifestação da vontade
das partes sobre determinados pontos do negócio que carecem de regulamentação.
O Direito das Obrigações é o domínio de eleição das normas supletivas. Ex: Artº784
e seguintes, e o Artº455/nº2.

Critério da plenitude do sentido da norma

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a) Normas autónomas: têm, por si próprias, um sentido completo ou pleno,
apresentam uma estrutura completa, encontramos a totalidade da previsão e
estatuição (art. 875 e 487, 2). No entanto, nenhuma norma vale só por si própria,
para ser compreendida temos de ter em conta a sua relação com outras normas.

b) Não autónomas (normas remissivas): não têm, por si próprias, sentido completo ou
pleno, necessitam de outras normas para ganhar esse sentido, pois falta-lhe toda ou
parte da previsão ou da estatuição.

Ex: art 799º/2 - Responsabilidade Contratual, remissão para a norma 487º/nº2, pois
a resposta da norma em causa não é inteligível, logo, não regula diretamente a
situação.

Critério do âmbito de validade pessoal

Normas que se dirigem todas ao mesmo conjunto de indivíduos e situações.

a) Normas gerais: estabelecem o regime-regra para o sector de relações que regulam.


Ex. Celebração de negócios jurídicos: art. 219º - liberdade de forma.
b) Normas excecionais: estabelecem um regime radicalmente oposto ao regime-regra
(consagrado numa norma geral) num setor restrito das relações reguladas pela
norma geral, para tutelar interesses/ específicas desse setor restrito.

Ex. art. 875º: para um tipo específico de negócio jurídico (compra e venda de
imóveis) exige-se uma forma (escritura pública ou documento particular
autenticado), trata-se de uma norma excecional em relação ao art. 219º, surgindo
como uma via de acautelar os interesses públicos e privados.

c) Normas especiais: não consagram uma disciplina diretamente oposta à do direito


geral, consagram, todavia, uma disciplina nova ou diferente para círculos mais
restritos de pessoas, coisas ou relações.

Ex: Direito Comercial: ramo do Direito Privado que criou regras para satisfazer
necessidades específicas dos particulares que se dedicam ao comércio (regime
especial do Direito Civil), destacando-se um conjunto de normas que regulam
situações diferentes, completando conceitos do Direito Civil.

Não pode haver contradição entre as normas especiais e gerais.

Critério do âmbito espacial (territorial) da validade

a) universais: aplicam-se em todo o território de um Estado.


b) regionais: aplicam-se numa parcela do território estadual região (Decretos das
Regiões Autónomas).

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c) locais: aplicam-se numa parcela do território estadual autarquias locais. As normas
regionais e locais têm um âmbito de validade circunscrito espacialmente.

Critério do tipo de sanção (esta classificação tem que ver com as consequências jurídicas
que se seguem à violação de uma norma imperativa)

a) Leis Mais Que Perfeitas: normas cuja violação importa simultaneamente uma
sanção civil (a nulidade) e uma sanção penal (p. ex. Art 280º/nº2 do C.C)
b) Leis Perfeitas: normas cuja violação importa apenas uma sanção civil (a nulidade) (p.
ex. contrato contrário à boa fé – Art 280º/nº2).
c) Leis Menos Do Que Perfeitas: normas cuja violação importa uma sanção, mas não a
nulidade do ato (p. ex. venda de um produto depois da hora regulamentar do
encerramento da loja, a sanção é uma multa para o comerciante).
d) Leis Imperfeitas: normas cuja violação não importa nenhum tipo de sanção (p. ex.
Art 136º CRP).

Codificação

Código: é uma lei em sentido material. Contém a disciplina fundamental de certa matéria ou
ramo de direito, disciplina essa elaborada por uma forma científico-sistemática e unitária.
Distingue-se duma simples compilação de leis, esta contem matérias pertencentes a
diversos ramos do direito. Um código pressupõe um plano sistemático longamente
elaborado pela ciência jurídica, ao mesmo tempo que facilita a construção científica do
Direito ao pôr em evidência os princípios comuns, as grandes orientações legislativas, os
grandes nexos construtivos e funcionais, assim como a articulação precisa entre os diversos
institutos* e figuras jurídicas.

Estatuto: quando a lei regula de uma maneira unitária e sistemática dada matéria
(atividade, carreira ou profissão) que não tem amplitude ou estabilidade suficientes para
justificar a designação de código. Ex: Estatuto do Comerciante.

Leis Orgânicas: são as leis que regulam o funcionamento de um serviço. Ex: Lei Orgânica dos
Tribunais Judiciais.

Leis Avulsas (ou legislação extravagante): os códigos são monumentos legislativos


destinados a longa duração, porém acabam sempre por ser alvo de alterações introduzidas
por leis. Essas leis quando não sejam integradas nos códigos, designam-se de leis avulsas.
Ex: a legislação extravagante relativa ao contrato de arrendamento.

*Institutos jurídicos: complexos normativos, dentro dos códigos, organizados e unificados à


volta de certo núcleo de princípios fundamentais (espécie de “microcódigos”). Ex: o instituto
da usucapião.

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Vantagens de haver codificação:

(1) Conhecimento mais fácil do Direito, graças à concentração e sistematização da


matéria. Um indivíduo não jurista é capaz de entender minimamente a matéria.
(2) Evita incongruências e contradições ao criar-se uma disciplina que é unitária sobre a
matéria.
(3) Facilidade em encontrar a solução para o problema com que se depara, graças à sua
organização.

Desvantagem de haver codificações:

A codificação formaliza e rigidifica o Direito. Daí a sua inadequação para resolver os


problemas de uma sociedade em mutação constante e acelerada. Responde-se a esta crítica
dizendo que a codificação dos conteúdos jurídicos não é um sistema “fechado” e inflexível,
mas sim um projeto que tem de ser complementado, ao longo do tempo, com a
observância da implementação prática da lei. É tarefa fundamental dos juristas levar
concretizar esse projeto, achando as melhores soluções e adaptações, que mantenham a
coesão e unidade do Código. Por isso, poder-se-á dizer que a codificação é o resultado a que
tende todo o esforço da ciência jurídica. É possível tornar o Código menos rígido e mais
flexível, através da utilização de conceitos indeterminados. O Código é, então, um
instrumento para ser aplicado à realidade, fazendo surgir novos sentidos às normas quando
estas são aplicadas no caso concreto.

Técnicas legislativas: técnica utilizadas pelo legislador para garantir ganhos de eficiência e
de clareza na elaboração das normas jurídicas e códigos, garantindo que os códigos não se
mantenham rígidos, mas sim flexíveis.

Partes Gerais: são compêndios de pré-decisões de decisões fixadas antes de tomar posição
perante as diferentes questões particulares. Têm como objetivo evitar repetições, de fixar
desde logo aqueles princípios gerais e aquelas disposições normativas que, de outro modo,
teriam de ser repetidas em fórmulas essencialmente idênticas em diferentes pontos.

Ex: Estamos perante um determinado contrato. Para sabermos se o contrato é vinculante


ou válido, precisamos de responder primeiro à questão prévia de saber quem tem em geral
capacidade para celebrar negócios jurídicos. A esta questão respondo-nos uma disposição
do Título II da Parte Geral do Código.

O livro I do Código Civil chama-se “Parte Geral”, pois tem princípios e regras que se aplicam
a todos os outros livros do Código Civil.

Remissões: técnica legislativa de que o legislador se serve com o objetivo de evitar


repetições.

Normas remissivas (normas não autónomas): são aquelas que o legislador, em vez de
regular diretamente a questão de direito em causa, lhe manda aplicar outras normas do seu

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sistema jurídico, contidas no mesmo ou noutro diploma legal. O legislador vai remeter para
outras normas.

Remissões para a
estatuição

Remissões para a
hipótese legal

Intra-sistemáticas Remissões em cadeia

Remissões

Remissões amplas com


Extra-sistemáticas
função integradora

Remissões por
extensão de aplicação
de um regime

Remissões Extra-sistemáticas: remissões para sistemas jurídicos diferentes (estranhos ou


estrangeiros  Artº1625 CC - remete para o sistema eclesiástico.

Remissões Intra-Sistemáticas: quando o legislador em vez de regular diretamente a questão


de Direito, manda aplicar outra norma do sistema jurídico que tanto pode estar contida no
mesmo diploma legal ou não.

Remissões para a estatuição: a remissão vai dirigida à estatuição da norma. Ex: Artº678 ou
594º do Código Civil.

Remissões para a hipótese legal: a remissão vai dirigida à hipótese legal da norma. Ex:
Artº974 e 113º/nº1 do Código Civil.

Remissões em cadeia ou à segunda potência: remissões em que um artigo remete para


outro e este, por sua vez, remete para outro. Ex: Artº433, 289º e 1269º.

Norma 1  norma 2  norma 3

Remissões amplas com função integradora: remete para um regime completo/outra


secção. Ex: Artº913: Secção VI - Venda de coisas defeituosas  “em tudo que não seja
modificado pelas disposições dos artigos seguintes” remete para o regime dos bens
usurários.

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Remissões por extensão de aplicação de um regime: visam estender a aplicação de um
regime a outras matérias. Ex: Artº939 CC - manda aplicar as normas da compra e venda a
contratos onerosos/o legislador não prevê um regime específico.

Ficções legais: em vez de expressamente remeter para normas determinadas que regulam
determinados factos , o legislador estabelece que o facto a regular é ou se considera igual
àquele facto para que já se acha estabelecido um regime na lei. Trata-se da assimilação
fictícia de realidades factuais diferentes, para efeito de as sujeitar ao mesmo regime jurídico
– o facto que queremos regular é equiparável a um facto que esteja estabelecido na lei (o
legislador vai equiparar duas realidades distintas).

Facto x = Facto y

Ex: Artº275/nº2 e Artº805/nº2/alínea c)

Definições legais: definem determinados conceitos, são normas incompletas, visto que não
têm nem hipótese legal nem estatuição. Ex: Artº202 , Artº204 a 212º (série de definições
legais) e 1577º.

Presunções (Artº349): “as ilações que a lei ou o julgador tira de um facto conhecido para
firmar um facto desconhecido”. Artº350 – “quem tem a seu favor uma presunção legal
escusa de provar o facto a que ela conduz”.

As presunções legais relacionam-se com o regime do ónus da prova, cujo o princípio geral
vem estabelecido no Artº342 do CC: ao que invoca um direito cabe fazer prova dos factos
constitutivos do direito invocado. Quando haja presunção legal, inverte-se o ónus da prova
(Artº344/nº1).

Presunções judiciais: são feitas pelo julgador/tribunal e só podem acontecer quando há
prova testemunhal.

Presunções legais: estabelecidas na lei, mais concretamente previstas no Artº349.

Presunções legais relativas (iuris tantum): são aquelas que podem ser ilididas mediante
prova em contrário, isto é, a prova de que o facto presumido não acompanhou o facto que
serve de base à presunção legal. A título de exemplo, o Artº441 do Código Civil.

Presunções legais absolutas (iuris et de iure): são irrefutáveis, não admitem prova em
contrário. Ex: Artº243

(Na dúvida considera-se sempre relativa)

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Conceitos determinados: são conceitos claros e rigorosos, usados no ius strictum, cujo o
conteúdo está definido na lei; estes garantem a segurança e a certeza do Direito. Ex:
conceito de personalidade jurídica, conceito de crédito.

Conceitos indeterminados: são conceitos carecidos de preenchimento valorativo, não têm


um conteúdo explícito na lei, fazem com que esta não se torne demasiado rígida. Permitem
ao Direito adaptar-se e acompanhar a evolução da sociedade, são aplicados consoante o
caso em concreto, dão flexibilidade ao sistema jurídico. Ex: “boa fé”, “bons costumes”,
“interesse público”, “bom pai de família”, ...

Em suma, os conceitos determinados permitem: que as normas se adaptem à complexidade


da matéria, que se adaptem às circunstâncias do caso concreto, que as normas se adaptem
à evolução social e à realidade, e finalmente, tornar as normas permeáveis às conceções
ético-morais valorativas da sociedade.

Cláusulas Gerais: são as normas que não têm um campo de aplicação previamente definido,
podendo aplicar-se a várias situações. Para as elaborar o legislador utiliza, muitas vezes,
conceitos indeterminados, alargando o seu campo de aplicação (334.o). O legislador aqui
pode servir-se de enumerações, mas estas são meros exemplos (1083o, no2).

Regulamentação casuística – as normas definem perfeitamente os casos em que se


aplicam. O legislador pode servir-se de enumerações, que aqui são taxativas, isto é, não
exemplos, são mesmo só estas que se podem aplicar (1682.o, no3) ou, também pode utilizar
conceitos determinados, conceitos que não carecem de preenchimento. Carateriza-se,
ainda, por fazer com que as normas tenham a facti-species tipificada, isto é, a norma prevê
e regula um grupo de casos especificados e os pressupostos da consequência jurídica são
tipificados.

Vantagens de usar cláusulas gerais: têm um campo aplicação muito alargado, o que
permite evitar lacunas, situações em que a lei não dá uma resposta. Permite também
adequar o direito às particularidades do caso concreto. Desvantagem: traz insegurança
jurídica.

Vantagens de haver regulamentação casuística: traz maior segurança e certeza jurídica,


dando maior previsibilidade. Desvantagem: algum sacrifício da justiça, não é adequado para
regular matérias complexas. Torna a lei muito rígida e pouco flexível, logo, há pouco
permeabilidade do Direito face à evolução das conceções sociais, o que pode fazer a que
haja uma desatualização das normas e dificulta a aplicação das normas ao caso concreto.

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