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Aula 9

Sumário: Fins do Direito na Sociedade.

Como já vimos, o Direito tem um fim social ao contrário da moral que tem
para alguns autores fim pessoal.

O Direito é uma ordem normativa reguladora da conduta do homem em


sociedade fundamentado num conjunto de valores.

O Direito é uma ordem normativa ligada a valores e fins. Está ligado a


realização de valores fundamentais na convivência social que são a justiça,
a Segurança Jurídica e a Equidade.

1. Justiça

O Direito na resolução ou prevenção dos litígios sociais deve orientar-se


fundamentalmente pelo valor da justiça.

A justiça e o direito são correlativos. Pode afirma-se que a justiça está para
o Direito a beleza está para o Direito a beleza está para a estética.

Não se pode definir Direito, nem mesmo o Direito positivo, senão como
ordem ou uma estatuição que, segundo o seu próprio sentido é determinado
a servir a justiça.

1.1 Conceito de Justiça

A palavra justiça não obstante a ser utilizado no vocábulo diário pela


sociedade, ela é uma palavra ambígua e difícil de analisar pelos vários
sentidos que comporta.

Assim, interessa-nos abordar alguns conceitos ou definição da palavra


justiça:

1. No contexto bíblico- a justiça é encarada como síntese de todas as


virtudes, um atributo de santidade, ou é um atributo de Deus cuja
actuação se processa de forma justa em harmonia com as exigências
da sua natureza e de acordo com a sua palavra.
2. Para tradição cultural de raiz judaico-cristã- supõe a conformidade do
agir humano com a vontade divina.
3. Uma definição clássica e célebre atribuída a Ulpiano refere a justiça
como a vontade perpétua e constante de dar a cada um o seu direito
(iustitiua est constans et perpetua voltas ius suum cuique tribuere).

Segundo Santo Justo, está é a que nos interessa, enquanto virtude social. A
justiça que pretenda ordenar a vida dos homens em sociedade que se integra.

4. Os Jurisconsultos romanos tentaram autonomizar, os três critérios de


justiça representada por três bens jurídicos:
a) Honeste Viver- consiste em viver honestamente. Sofre críticas porque
este critério não responde o que é viver honestamente, visto que o
malfeitor e o homem virtuoso têm entendimento diferente do que é
viver honestamente.
b) Neminem laedare- não prejudicar ninguém. Segundo o qual os direitos
dos outros devem ser respeitados e em caso de violação, dos danos
causados devem ser ressarcidos.
c) Suum Cuique tribuere- atribuir a cada um o que lhe pertence (o que é
seu por direito), cada um segundo as suas obras, o seu mérito ou
capacidade.

Ainda segundo este critério a cada um deve ser tutelado aquilo que lhe
pertence.

5. A justiça é entendida por muitos como princípio da igualdade. Assim,


é exigência da justiça que as situações iguais devem ser tratadas de
forma igual, e desiguais de forma desigual.
6. A justiça é entendida também ligada a ideia de proporcionalidade-
Assim, as situações desiguais devem ser tratadas de forma desigual na
proporção desta desigualdade.
7. Actualmente a justiça está ligada a ideia da dignidade da pessoa
humana. Sendo o homem pela sua humanidade, um ser eminentemente
digno, um valor ético e absoluto, um fim em sim mesmo, não pode ser
degradado em instrumento de outros fins.

Neste contexto, o homem é portador de direitos cuja violação ou degradação


a justiça denega.
Assim, os estados têm tendências de inscrever os nos seus diplomas legais,
os direitos fundamentais reconhecidos aos cidadãos, tal se verifica em alguns
instrumentos de cariz internacional como a convenção europeia sobre o
direito do homem, a carta da ONU e da União Africano.

Entretanto, é importante salientar que a justiça é um valor fundamental de


todas as sociedades, os modernos Estados de Direito visam a realização da
justiça como finalidade dos sistemas político-normativos e da concepção da
sociedade que o preconizam.

Elementos Lógicos da Justiça

Os elementos lógicos da justiça são:

a) A Proporcionalidade: na justiça há uma ideia de proporção. O direito


positivo concretiza-se entre os factos e as consequências, entre o que
se dá e o que se recebe, o que se exige e o que se presta, entre os delitos
e penas e na distribuição dos direitos e deveres correlativos;
b) A igualdade: resulta da proporcionalidade, que implica sejam
igualmente tratados os casos iguais e desigualmente o que é diferente.
c) A alteridade ou imparcialidade: a justiça valora as condutas
socialmente relevantes, ou seja, dirigidas aos outros com quem nos
relacionamos.

Tipos de Justiça.

Existe as seguintes modalidade de justiça:

a) Justiça comutativa: visa corrigir os desequilíbrios que se verifiquem


nas relações contratuais e nos actos involuntários e ilícitos
interpessoais. Assegura a equivalência de prestações ou entre dano e
indemnização, atribuindo a cada um o que é seu por direito.
b) Distributiva: rege a repartição dos bens comuns pelos membros da
sociedade, segundo um critério de igualdade e a situação dos sujeitos
(méritos e necessidades)
c) Geral ou legal: rege a participação dos membros da sociedade nos
encargos comuns, segundo o critério da igualdade proporcional.
1.2 Segurança Jurídica

Além da justiça, também a segurança jurídica constitui uma finalidade


do direito. E bem se compreende que assim seja porque, sendo o
direito uma ordem e uma forma de vida, tem necessariamente de
contribuir para a criação duma situação geral.

A segurança pode ser entendida no sentido de:

1. Paz Social: Traduz o estado de ordem e de paz que a ordem


jurídica tutela prevenindo e reprimindo os actos de agressão
contra pessoas e bens. É a segurança através do direito que
garante a nossa existência pessoal e social contra ataques e
perturbações.
2. Certeza Jurídica: é a segurança que nos permite prever os
efeitos jurídicos dos nossos actos e, em consequência, planear a
vida em bases razoavelmente firmes. Constitui, portanto, uma
condição de previsibilidade sem a qual a vida seria uma
contínua surpresa e a estabilidade não existiria.
3. Segurança Perante o Estado: reflecte a ideia de Estado de
Direito, cujos órgãos devem respeitar os direitos que integram
a esfera de autonomia dos indivíduos e das sociedades menores.
É tutela pelo princípio da legalidade que limita a acção do
Estado.

4.Segurança Jurídica: hoje dia se ampliou o conceito de segurança


devido a importância dos direitos, económicos, sociais e culturais
dos cidadãos. Assim, o Estado passa a assegurar ao cidadão
condições materiais da vida digna.

Traduz as exigências ao direito ao trabalho, á libertação das necessidades e


do temor; e procura assegurar a todo o ser humano a base material do seu
sustento (Santo Justo, 2012, pág.75).
Como exemplo, temos as normas que estabelecem o nível salarial mínimo,
que proíbem o despedimento ilícito, que estabelecem pensões sociais,
gratuitidade de grau de ensino de correspondendo a escolaridade obrigatória
ou na prestação de serviços de saúde grátis etc.

No entanto, a salvaguarda do bem-estar económico, social e cultura constitui


um contributo essencial para a segurança interna e externa.

1.3Equidade.

A palavra equidade vem do latim aequitas, que significa igualdade, simetria,


rectidão, imparcialidade, conformidade.

Também revela o uso de imparcialidade para o reconhecimento do direito a


cada um.

A equidade é a justiça do caso concreto adapta a regra para um determinado


caso específico a fim de deixa-la mais justa, faz com que a lei não se torne
rígida onde poderia prejudicar alguns casos específicos onde a lei não
alcança.

É uma forma justa da aplicação do Direito, porque é adaptada a regra, uma


situação existente, onde são observadas os critérios de igualdade e justiça. A
equidade não somente interpreta a lei, como evita que a sua aplicação possa,
em alguns casos prejudicar certos indivíduos, já que toda interpretação da
justiça deve tender para o justo, para a medida do possível, suplementando a
lei os vazios encontrados na mesma.

O uso da equidade tem de ser ter em conta o conteúdo expresso na norma, a


moral social vigente, o regime político do Estado, os princípios gerais do
direito e os princípios da justiça.

De salientar que há ordenamentos que reconhecem a equidade como fonte


do Direito e outros reconhecem como fonte de integração. É o caso do
ordenamento jurídico angolano, Código Civil que reconhece no seu art. 4°
do cc, a equidade como fonte do Direito.

Nos termos do art. 4° do CC, os tribunais só podem resolver segundo a


equidade nas seguintes situações:

a) Quando haja disposição legal que o permita;


b) Quando haja acordo das partes e a relação não seja indisponível;
c) Quando as partes tenham previamente convencionado o recurso á
equidade, nos termos aplicáveis á cláusulas compromissória.

Segundo Santos Justo (2012, pág.70 e 71) a equidade tem a seguinte função:

a) Dulcificadora: suaviza o rigor da lei e humaniza o Direito com certos


valores ou sentimentos (benignidade, compaixão, indulgencia, etc.)
que sendo expressão das forças mais profundas do espirito,
condicionam a própria ordem da justiça);
b) Resolutória ou decisória- constitui um critério dos casos, em
substituição das soluções jurídicas pré-estabelecidas nas normas
jurídicas;
c) Flexibilizadora - ajusta a norma jurídica geral ao caso a decidir.
d) Integradora- constitui um factor a ponderar no processo de integração
das lacunas que não dispensa a consideração das circunstâncias do
caso que reclamam uma solução jurídica;
e) Correctiva- corrige, modifica ou restringe a lei afastando soluções
absurdas a qual se opõem a teleologia da norma e a intenção do
legislador.

Relação entre a Justiça e a Segurança Jurídica

A realização da justiça e da segurança jurídica na prática apresenta grandes


dificuldade, o que leva a que o Direito uma das vezes de prevalência a justiça
sobre a segurança e outras das vezes o inverso.

A segurança jurídica deve estar ao serviço da justiça dando eficácia á ordem


jurídica medindo-se a eficácia desta em função da segurança jurídica, pois
sem este valor a justiça seria mera intenção numa realizável. A segurança
visa estabelecer a estabilidade nas relações sociais.

Existe enorme relação entre a justiça e a segurança entre os quais podemos


destacar:
a) A segurança jurídica deve estar ao serviço da justiça, dando eficácia,
pois sem este valor a justiça seria uma mera intenção nunca realizável;
b) Se a justiça exige o respeito pela personalidade humana, a perda da
segurança produz degradação da pessoa,
c) Se a segurança traz a ordem e a paz social, não é porém qualquer
ordem social que pode interessar ao homem, mas uma ordem justa, a
paz social deve ser produto da justiça.

Conflitos entre a Justiça e a Segurança Jurídica.

Santo Justo (2012, pág.78 a 80), aponta alguns institutos e princípios em que
a exigência segurança (certeza) jurídica é susceptível de sacrificar a justiça,
que são:

a) O princípio ingnoratia iuris non excusat, art.6° cc;


b) Caso julgado, art. 671° e 672° Código de Processo Civil (CPC);
c) Usucapião, art. 1287° e segs. Cc;
d) A não retroactividade da lei, art. 12°cc
e) A prescrição é um instituto que determina a extinção de direito
subjectivos quando não exercitados durante certo tempo fixado na lei.
f) A caducidade é um instituto por via do qual um direito se extingue
pelo facto de ter decorrido o prazo assinalado na lei ou derivado da
vontade das partes. Fundamenta-se apenas em razoes exige que
decorrido o tempo fixado, a situação jurídica das partes fique
inalteravelmente definida.
Aula 10

Sumário: Nação, Estado e Direito.

Já referimos que o homem é um ser social, visto que a sua vida só é possível
em sociedade. O Direito regula, estrutura, organiza a sociedade e estabelece
padrões de comportamentos.

O Direito é condição sine qua non (condição indispensável) da existência do


desenvolvimento da sociedade humana. Vimos ainda que onde existir
sociedade existirá Direito (ibi societas, ubi ius).

Sem o Direito a vida em sociedade não seria possível, visto que não haveria
coexistência pacífica como: Justiça, Segurança Jurídica e Equidade que são
fins do Direito que visa atingir.

1.1Nação

Tem-se definido nação como “ uma comunidade que assenta numa


convivência mais ou menos longa de homens ligados pela mesma etnia, pela
mesma língua e pelas tradições sedimentadas naquela convivência. Trata-se
duma realidade com uma dimensão simultaneamente natural e cultural.

A nação permite que os homens se ajudem mutuamente ao longo do tempo,


fornecendo-lhes valores que acrescentam e transmitem de geração em
geração e, por isso, constituem uma herança que enriquece e serve de apoio
firme e orienta a vida física e moralmente, Ao mesmo tempo, a nação
imprime um caracter particular que individualiza e distingue os seus
membros com específicos modos de ver, de pensar e de actuar. Transmite-
lhes uma certa civilização a que é inerente um determinado grau de
desenvolvimento.
1.2Estado

O vocábulo Estado, que provém de status, não tem um sentido unívoco, antes
apresenta uma polivalência de significação riquíssima, como condição,
conjunto de direitos e deveres, estado social, dignidade, propriedade, boa
ordenação, etc. Mais restritamente tem-se usado para referir quer uma
comunidade territorial politicamente independente integrada por
governantes e governados (Estado-comunidade ou Estado- sociedade) quer
o poder do governo dessa comunidade (Estado-poder ou Estado-governo).

Referir-nos-emos á primeira acepção e, por isso, na esteira do entendimento


tradicional podemos definir o Estado como uma sociedade que se fixou num
determinado território e se organizou politicamente em termos autónomos e
soberanos.

Na definição de Estado observamos três elementos essenciais que a teoria


tradicional poe em destaque:

1. Povo: é o conjunto de cidadãos ou nacionais, ou seja, de pessoas


ligadas ao Estado pelo vínculo jurídico de nacionalidade que lhes
reconhece o gozo de direitos políticos. Trata-se dum conceito jurídico-
político que não se confunde com o de população que tem natureza
económico-demográfico; e tão-pouco se identifica com o conceito de
nação que tem natureza cultural.
2. Território: é o espaço onde o povo se rege segundo as suas leis,
executadas por autoridade própria com exclusão da intervenção de
outros povos.

Constitui uma exigência iniludível do Estado, cuja etimologia contém a


ideia de estabilidade que o território proporciona. Integra o solo e o
subsolo (território terrestre), espaço aéreo (território aéreo) e o mar
territorial, no caso de o Estado é limitado por fronteiras e define o âmbito
da competência no espaço dos seus órgãos supremos.

3. Poder Político: é a faculdade exercida por um povo de, por autoridade


própria, instituir órgãos que exerçam o poder de um território e nele
criem e imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios
de coacção.

Noa se confunde com soberania que é o poder político supremo (só limitado
pelo Direito na ordem interna) e independente (na ordem internacional
encontra-se numa situação de igualdade com os poderes supremos dos outros
povos).

Ao Estado é necessário um poder político, mas já não a soberania, como os


Estados federados (v.g., os Estados Unidos da América) que, embora
elaborem as suas próprias Constituições e criem e apliquem o seu direito no
âmbito do seu território, não são soberanos: têm de respeitar a Constituição
federal; as suas leis podem ser anuladas pelos tribunais federais se
contrariarem esta Constituição; e não podem estabelecer relações
internacionais próprias.

Os Estado podem ser:

1) Soberano;
2) Sine-Soberanos; e
3) Não Soberanos.

Estado Soberano: são aqueles que teoricamente detém um poder político


absoluto na ordem interna e gozam de independência na ordem externa.
Podem ser:

a) Estado Federal: é a união de estados membros num só Estado central


que se regem por normais constitucionais comuns a todos os membros,
resulta geralmente da constituição e não de um tratado.

Ex: Brasil, E.U.A, Alemanha, Suíça.

Cada um dos Estados membro do Estado Federal chama-se Estado Federado.

Estado Unitário ou Estado Simples: são aqueles em que só a um poder


político em todo território.

Ex: Angola.
O Estado Unitário pode ser:

-Centralizado: aquele em que o poder político está concentrado nos órgãos


centrais. A autonomia da autoridade territorial é muito reduzida, a maior
parte dos actos que lhes dizem respeito são praticados pelos agentes dos
órgãos centrais e não podem ser realizado sem acordo tácito ou expresso
destes.

-Descentralizado: é aquele onde há uma transferência de competência e


atribuições do centro para a periferia, sem diminuir os poderes da
administração nacional ou central.

2) Estado Semi-Soberano: são aqueles que desfrutam de algumas da aquelas


prerrogativas, faculdades ou privilégios, mas reconhecem um poder igual ou
superior na sua ordem interna são:

a) Estados Protegidos: Protectorados é uma associação de Estados, criados


por um tratado em que um Estado Soberano (protector) assumi a obrigação
de proteger o outro (Estado protegido), reconhecendo em contrapartida ou
recebendo a faculdade de dirigir completamente ou parcialmente a gestão de
relações internacionais do segundo.

O Estado protegido tem a faculdade legislar, denunciar o acordo que deu


origem a situação de protectorado, mas não pode perder totalmente a sua
soberania.

Ex: É o caso do Egipto protegido pela Grã-Bretanha de 1914 á 1936; é


também o caso da Tunísia e Marrocos protegidos pela França. Está espécie
de Estado já passou na história.

b) Estados Exíguos: são comunidades políticas que pela sua diminuta


extensão territorial á escassa população não estão em condições de
exercer plenamente a soberania (particularmente o ius Belli).

Têm direitos de celebrar tratados internacionais, podem ser partes em


convecções multilaterais e das organizações internacionais de caracter
técnicos, mas não podem ser partes nas nações unidas.

Ex: Principado de Mónaco (França;

República de S. Marino (Itália);


Liechtenstein (Suícia).

c) Estados Neutralizados: são aqueles que por vontade própria e de


acordo com a vontade manifestadas pelas principais potencias
internacionais gozam de estatuto de neutralidade permanente e
aceitação de estatuto de neutralidade, abdica do direito permanente de
fazer guerra, excepto dos casos de defesa do seu território.

Ex: Vaticano, Suíça.

3) Estado Não-Soberano: são aqueles que não têm um poder político


supremo e independente ( não têm soberania).

Ex: Estados Federados.

Os Estados federados possuem constituição própria, governo próprio, e no


domínio da sua competência legislam, têm polícias, tribunais para garantir a
execução das leis dentro do território que lhes pertencem. Possuem poder
político para elaborar e fazer cumprir as leis que emanam, tendo o mesmo,
cada um deles a sua própria constituição que poderá contudo respeitar a
constituição federal, não podem manter relações internacionais próprias.

Os Órgãos de Soberania

Para que o Estado possa cumprir as suas tarefas ou missões a que se propõem
(fins do Estado), necessita de atribuir poderes ou competência a diferentes
órgãos de soberania.

Os órgãos de soberania são elementos integrantes do Estado. E é através


deles que se exerce as funções (legislativa, executiva e judicial).

Nos termos da Constituição da República de Angola,( art. 105 n1).

 O Presidente da República (art. 108 CRA);


 Assembleia Nacional (art. 141,164 e 165 todos CRA);
 Os Tribunais (art. 174 CRA).
Funções

Para prosseguir os objectivos que constitucionalmente lhe estão atribuídos,


o Estado tem de realizar permanentemente várias actividades que se chamam
funções. Umas são primárias; outras, segundarias. São funções primárias
(principais ou independentes) as que os órgãos do poder político do Estado
podem realizar “de uma forma essencialmente livre ou minimamente
vinculada”. Pertencem a estas funções:

1. Função Política: consiste na definição e prossecução, pelos órgãos


do poder político, dos interesses essenciais da colectividade,
realizando, em cada memento, as opções para o efeito consideradas
mais adequadas.
2. Função legislativa: traduz-se na prática de actos legislativos pelos
órgãos constitucionalmente competentes na forma prevista na
Constituição. É através dela que o Estado cria a maior parte do seu
direito positivo constituído por leis.

As s funções segundarias (subordinadas ou dependentes) decorrem das


funções primárias. São:

1. Função jurisdicional: consiste no julgamento de litígios suscitados por


conflitos entre interesses privados ou públicos e privados; na punição
da violação das normas jurídicas.

É desempenhada por órgãos independentes e imparciais (os tribunais), cujos


titulares (juízes).

2. Função Administrativa: consiste na satisfação das necessidades


colectivas que, por virtude de prévia opção política ou legislava, se
entende que incumbe ao Estado prosseguir.
Direito e Poder

Poder: é a faculdade de intervenção de um ser humana sobre o outro ser de


molde a determinar ou influenciar a conduta alheia. Para tal usa-se a punição
ou a ameaça de punição.

O Direito precisa de força, autoridade não tanto para subsistir, mas para ser
eficiente. Daí se fala que as normas jurídica são coercivas, visto que se impõe
a força sempre que for possível e necessário.

Sem o poder ou autoridade para impor as normas jurídicas, não seria


eficiente, como exemplo podemos imaginar: O que seria de Luanda se não
existisse nas vias públicas Polícias de Ordem Pública e Agentes de regulador
de Transito, que velassem pelo comprimento do Código de Estrada.

Classicamente considera-se três poderes do Estado-

Poder do Estado

 Poder Legislativo;
 Poder Executivo;
 Poder Judicial.

Estado e Direito

Existe relação que se estabelece entre o Estado e o Direito que são as


seguintes:

O Estado tem um ordenamento jurídico ou direito que serve de fundamento


de todas actividades, que organiza e atribui competência aos seus órgãos.

Esse Direito é criado pelo Estado através do seu poder político, através dos
seus órgãos : como a Assembleia Nacional e o Executivo (P.R).
Assim, ninguém ignora a sanção do Direito porque é garantida pelo Estado,
através dos seus órgãos como: O Tribunais, Polícias etc., e as vezes é
necessário o uso da força para aplicar coercivamente uma norma jurídica.

A Justiça moderna é monopólio do Estado art. 1 CPC. Visto que aos


particulares só cabe fazer justiça por mãos próprias: artigos 336, 337, 339,
754 e sgs ambos do CC.

O Estado de Direito

O Estado De Direito tem na juridicidade a sua essência: ubi civitas, ibi ius .
O Direito fundamenta-o e define as suas competências.

Na sua história podemos destacar três etapas que traduzem a luta contra a
arbitrariedade e pela jurisdição da sua actividade:

1. A luta contra o arbítrio judicial. O liberalismo foi buscar á Idade


Média argumentos contra o arbítrio que os Juízes gozavam na
administração da justiça, para ajustarem a pena ás circunstancias em
que os delitos eram cometidos e á posição social dos delinquentes. Os
abusos dos Juízes, que tratavam com brandura os poderosos e ricos e
severamente os pobres e desamparados, foram invocados no séc.
XVIII na defesa da estrita vinculação do Juiz á lei.
2. A instauração duma justiça administrativa que controle os actos da
Administração. Traduz um protesto contra a prática administrativa do
Estado absoluto e significa um voto de confiança na justiça;
3. A institucionalização dum controlo jurisdicional das leis. Implica a
consideração de que o legislador deve respeitar um direito superior
que a Constituição consagra.

Percorridas estas fases, ergue-se o Estado de Direito, como o Estado que


realiza a concepção personalista de justiça e se caracteriza por quatro notas
fundamentais:
1. O ordenamento jurídico é um todo hierarquicamente estruturado e tem
na lei a fonte mais importante;
2. São afirmados e protegidos os direitos humanos fundamentais, entre
os quais o de participação activa na vida do Estado.
3. A actuação administrativa pode ser objecto de impugnação graciosa e
contenciosa, as quais tutelam os direitos dos administrados.
4. A legislativa é jurisdicionalmente controlada.
Aula11

Sumário: Fontes Do Direito

1.1 Noção De Fontes Do Direito

Como vimos o direito é um conjunto de normas jurídicas que regula a vida


na sociedade.

Importa saber agora de onde surgem estas normas jurídicas e como se


formam e se revelam aos particulares, ou de que modo se constitui e se
manifesta o direito positivo vigente numa determinado comunidade
histórica.

Neste sentido fala-se das fontes do direito.

A palavra fonte pode significar segundo o dicionário de língua portuguesa


origem, nascente, facto ou lugar donde brota algo de novo, buraco por onde
sai algo, causa, matriz, procedência, raiz ou influencia.

Assim, quando nos referimos a fontes do Direito será em geral as origens, os


factos, as raízes de onde procedem as normas jurídicas, bem como as causas
que produzem ou influencias que moldam o seu conteúdo.

A expressão fontes do direito tem sido utilizada em vários sentidos que são:

a) Em sentido Sociológico-Material;
b) Em sentido Histórico-Instrumental;
c) Em sentido Político-Orgânico;
d) Em sentido Técnico-Jurídico.
Em sentido Sociológico-Material

São todos os circunstancialismos sociais que estiveram na origem de


determinada norma jurídica.

É o caso por exemplo do código de estrada que proíbe a condução a pessoas


desencartadas, bêbedas e obriga a utilizar o cinto de segurança devido os
excessos de acidentes.

Neste sentido a fonte do direito são as causas da norma ou seja, as


circunstancias que fizeram surgir a norma, como o solo, clima, a riquiza, a
pobreza, a pesca, a agricultura, a guerra, a paz etc.

Em sentido Histórico-Instrumental

São os diplomas ou monumentos legislativos que contem normas jurídicas.


Ex: Lei das XII tábuas; as ordenações manuelinas; a lei constitucional de
Angola de 1992; a constituição em vigor, código Penal, código civil, etc.

Em sentido Político-Orgânico

São os órgãos políticos que em cada sociedade estão incumbidos de emanar


normas jurídicas.

Ex: Podemos citar em Angola a Assembleia Nacional e o Executivo


(Governo).

Em sentido Técnico-Jurídico

São os modos de formação e revelação das normas jurídicas.

Neste sentido, fontes do Direito os processos de criação de normas jurídicas


e o modo como elas se revelam ou se manifestam socialmente.

Para este sentido a actividade assim desenvolvida é que constitui fonte do


Direito em sentido técnico, como também se chama fonte ao texto a que a
mesma actividade se concretiza e não as circunstancias que lhe dao origem.

É importante referir que as palavras produção e revelação não são sinónimas:


- Fontes Produtoras: são os factos normativas que estabelecem Direito novo,
ou seja, que criam, modificam ou extinguem as normas jurídicas. Ex: um
costume inovador, uma lei de alteração parcial de outra lei anterior, um
código novo que revoga outro precedente.

Tais factos tém natureza constitutiva são inovadores e os Romanos


chamavam fontes Júri essendi.

-Fontes reveladoras: são os factos normativos que dão a conhecer pela


primeira vez Direito pré-existente, ou seja, que desvendam aos membros da
comunidade a existência ou o conteúdo de normas jurídicas já em vigor, mas
cuja existência ou conteúdo são ignorados ao público. Trata-se de factos que
tém natureza declarativa, não são inovadores, mas complementares da fonte
inovadora, e, nessa medida, integram-se nela, passado ambos a formar um
todo indissolúvel. Correspondem ao que os romanos denominavam por
fontes Juris cognoscendi (fontes do conhecimento do Direito).

São segundo este sentido fontes do Direito:

a) A lei
b) Costume
c) Jurisprudência
d) A doutrina.

De acordo com o código civil são fontes de Direito: a lei, as normas


corporativas, os usos e a equidade. (art. 1 cc).

Fontes Imediata e Fontes Mediatas

Fontes imediatas ou directas- são aquelas que têm forças vinculativas


própria, sendo, portanto os verdadeiros modos de produção do direito, é o
caso da lei e do costume e normas corporativas.
Têm força vinculativa própria porque qualquer cidadão a que se aplique
determinada lei, costume ou norma corporativa está sujeito a direitos e
obrigações por imposição directa dessa lei.

O costume é fonte imediata porque embora não seja reduzido a escrito são
encaradas por quem a pratica como obrigatórias.

Quando as normas corporativas são fontes imediatas do direito desde que


não contrariem as disposições legais de caracter imperativa.

São normas impostas por organismos representativos de corporações, no


domínio das suas atribuições.

É o caso das normas criadas pelos seguintes organismos corporativos:

a) As associações públicas, exemplo, as ordens profissionais


relativamente aos respectivos membros, é a ordem dos médicos, a
ordem dos advogados, dos engenheiros, etc;
b) Os institutos públicos dotados de funções de regulação profissional,
relativamente aos cidadãos ou entidades por eles fiscalizados;
c) As associações sindicais e patronais, relativamente aos seus membros;
d) As empresas, relativamente aos seus trabalhadores;
e) Em geral todas as pessoas colectivas privadas, relativamente aos
indivíduos que para elas trabalham ou a quem prestam serviços.

Estes organismos corporativos têm função de representar como principal


função representar os seus associados juntos de outras entidades e, em
cooperação com estas celebram acordos (por exemplos, contractos
colectivos de trabalho) onde se estabelecem determinadas normas
corporativas que não podem ser desrespeitadas por nenhuma das partes, art
1 n1 cc.

Fontes mediatas do Direito- são aquelas embora não tendo força vinculativa
própria, são contudo, importantes pelo modo como influenciam o processo
de formação e revelação da norma jurídica. A sua força vinculativa resulta
da lei. O que implica dizer que o Direito nasce a partir da intervenção de uma
entidade que interpreta aplica a norma, os tribunais ou os doutrinários.

Exemplo: A jurisprudência e a doutrina, os usos e a equidade.


1.2Lei

Lei em sentido Formal e em Sentido Material.

A lei é sinónimo de direito, é visto como um dos modos de formação das


normas jurídicas e diploma emanados da assembleia da República por
oposição ao decreto legislativo presidencial e provisório do Executivo.

Enquanto fonte de Direito, a lei é definida como toda a norma escrita


proveniente dos órgãos estaduais competentes. Ex: a Constituição, leis,
regulamentos, decretos-leis, decretos, decreto legislativo presidencial,
decreto presidencial provisório, portaria, despacho.

A lei é vista em sentido formal e em sentido material.

Lei em sentido formal- é um diploma emanado do órgão legislativo com


competência legislativa, que reveste uma forma pré-determinada, quer
contenha ou não uma norma verdadeira regra jurídica, exigindo-se que
revista das formalidade relativas a essas competências. Pode conter normas
jurídicas ou comandos individuais e concretas.

É o caso da constituição, das leis, decreto-lei, decreto, decreto legislativo


presidencial e decreto legislativo presidencial provisório.

São em sentido formal porque são criadas por um órgão com competência
para tal e actua de acordo com o processo de criação que a constituição prevê.

Lei em Sentido Material- é todo acto normativo proveniente de um órgão


estadual competente, ainda que não esteja no exercício da função legislativa.

Exemplo: portaria que aprova um regulamento de exames, leis, decreto-lei


decretos regulamentares, despachos normativos, regulamento.

A lei pode ainda ser vista em sentido restrito e em sentido amplo.


Lei em sentido amplo- são todos os diplomas de caracter geral e imperativo
proveniente de órgãos estaduais competentes. São todos os diplomas que
contêm normas jurídicas.

Lei em sentido restrito- é a lei propriamente dita proveniente do poder


legislativo da Assembleia Nacional e pelo Executivo (ou Governo).

Processo de elaboração da Lei

O processo de elaboração de uma lei consta de três fases que são:

a) Iniciativa legislativa;
b) Discussão e aprovação;
c) Promulgação e Publicação.

Processo de cessação da vigência da lei.

Os processos de cessação de vigência da lei ( art 7 cc), são os seguintes:

1. Caducidade: que traduz na cessação automática da lei. Ocorre quando


um facto que ela própria prevê isto é, quando decorre o prazo que fixou
(trata de lei de vigência temporária) ou quando desaparece a realidade
que disciplinava.
2. Desuso: é a situação em que a lei deixa de se aplicar, porque ninguém
a aplica porque cai no esquecimento geral, ou porque se formou um
costume contra legem que tomou o lugar da lei e a substitui. A lei
perde eficácia jurídica, porque perdeu a sua eficácia social: extingue-
se e definhou. Caiu em desuso.
3. Suspensão da lei: uma lei pode ser suspensa por outra lei, ou por uma
fonte hierarquicamente superior. Neste caso, ela deixará de vigorar
enquanto estiver suspensa. Se for suspensa por certo prazo, (por
exemplo um ano), a lei retomará automaticamente a sua vigência uma
vez decorrido este prazo; se foi suspensa sine die, a lei só voltará a
vigorar se uma nova lei vier repô-la em vigor.
4. Revogação: resulta de uma manifestação de vontade do legislador,
contrária a lei anterior.
Assim, a lei cessa a sua vigência por efeito de uma lei posterior de valor igual
ou superior.

A revogação pode ser:

a) Quanto a forma

-Expressa: a nova lei declara que revoga uma determinada lei anterior;

-Tácita: quando resulta duma incompatibilidade entre a lei nova


(revogatória) e a antiga, isto é, a lei nova regula a matéria já regulada por lei
anterior, sem faze-lo, contudo expressamente.

b) Quanto a extensão:

- Revogação Total- quando todas as disposições de uma lei são antigas,


ou seja, a lei anterior cessa totalmente a sua vigência (Ab-rogaçao);

- Parcial- quando só algumas disposições de uma lei são atendidas pela


nova lei (derrogação).

- Global- ocorre quando o legislador substituir em bloco toda uma


regulamentação jurídica anterior, mas sem afirmar expressamente. Todos os
preceitos da lei antiga ficam revogados pela lei, independemente da
averiguação e da demonstração, caso a caso, de uma eventual
incompatibilidade específica. É o que acontece se a lei nova regular
complentamente um instituto jurídico ou ramo do direito e, por isso, ficam
revogados, os respectivos preceitos da lei anterior.É também chamada de
revogação por instituto ou matéria, por sistema, ou ainda em bloco.

Ex: se um novo código não revogar expressamente o código anterior, revoga


globalmente os institutos que eram aí regulados, mas não atinge aqueles
institutos que não tém correspondentes no código novo.
Lei repristinatória- trata-se de uma lei que repõe em vigor uma lei revogada.

Acontece, sobretudo, com a declaração de inconstitucionalidade de uma lei


que tinha revogado outra. A nova lei que tinha revogado a antiga, ao ser
declarada constitucional, faz com que a lei por ela revogada, seja novamente
colocada em vigor, a isso se chama repristinação.

OBS: nas revogações de leis ou em casos de conflitos de leis é preciso ter


em conta os seguintes critérios:

a) Lex superior derogat legi inferiori;


b) Lex posterior derogat legi priori;
c) Lex specialis derogat legi generali (art.7 n3. Salvo se for intenção
inequívoca do legislador.
Aula12

Sumário: Ramos do Direito

Noção de Ramos do Direito

O Direito como é sabido regula a vida em sociedade. A vida em sociedade


não é homogénea, daí encontram-se na sociedade variedades de normas
jurídicas, quer que regulam as relações entre os povos, as fixam e estruturam
a organização do Estado; as que presidem á gestão dos interesses públicos,
as que reprimem os crimes, as que regulam o modo de aplicação das
diferentes sanções, as que dirigem a vida privada dos cidadãos, como
comerciantes, industriais, profissionais liberais, meros particulares, etc.

A realidade jurídica é extraordinariamente vasta e, para ser devidamente


estudada, torna-se necessário demarcar os conjunto de normas jurídicas que,
estruturados segundo princípios gerais específicos, contem uma
individualidade própria. Tais grupos, que se referem a sectores
individualizados da vida social, denominam-se ramos do direito.

Segundo Freitas de Amaral (2012, pág.215), o Direito objectivo estadual


costuma a ser simbolicamente concebido como uma árvore, com o seu tronco
e com diversos ramos.

A árvore representa o conjunto da ordem jurídica, no plano normativo.

O tronco é constituído pelos valores jurídicos superiores e, bem assim pelos


princípios gerais comuns a todos os ramos do Direito.

Os ramos são as várias partes ou divisões do direito objectivos diferenciadas


em função da matéria que as normas jurídicas regulam (direito
constitucional, direito administrativo, direito penal, direito civil, etc.)

É importante realçar que a divisão do Direito em ramos é feita para a


comodidade e beneficio do estudo (investigação) e do Direito (pedagogia).
Mas esta divisão não separa o Direito em compartimento estanques, sem
ligações ou comunicação de uns com os outros, porque a ordem jurídica de
cada comunidade é una, vigora nela o princípio da unidade da ordem jurídica.
Por outra, cada ramo do Direito tem o seu objectivo específico, uma feição
particular, um espírito próprio, um conjunto de princípios gerais privativos
deste ou daquele ramo.

Assim, o ensino, o estudo e a construção teórica do Direito ganham devem


ser feitos de forma especializada ramo á ramo.

Os aplicadores do direito quando tiverem que aplicar este na vida pártica,


não devem se dar o luxo de lidar com um ramo ou outro ramo isoladamente,
têm que se habituar a aplicação conjunta ou combinada de todos os ramos
que forem aplicáveis a cada caso.

A doutrina largamente dominante divide o Direito em dois grandes


hemisférios: o do direito público e o do direito privado. Porem, se esta
distinção reveste grande importância cientifica, pedagógica e prática, ainda
não foi possível definir um critério que pudesse por termo a uma discussão
multisecular com numerosos e insatisfatório pontos de vista.

Esta divisão é de origem romana, assinala-se como ponto de partida, um


texto do Direito Romano em que o Jurisconsulto Ulpiano escreveu: “Huius
studii duae sunt positiones, pulicum et privatum. Publicum ius est, quod ad
statum rei Romanae spectat, privatum, quode ad singuloum utilitatem; sunte
enim quaedam publice utilia, quadeam privatim.”

Segundo Raul Ventura, (Pág. 159( o jurisconsulto romano ter-se-iam


baseado no critério do sujeito da relação e considera de direito público
“aquelas normas que organizam o Estado Romano e disciplinam a sua
actividade”, o direito privado seria aquele conjunto de normas que, “como
não respeitam ao status rei publicae, respeitam a utilidade de cada um”.

Trata-se, no entanto, duma interpretação que exclui outras, sobretudo a da


doutrina do interesse. Há quem diga que os romanos faziam a distinção com
base no critério do interesse, que segundo o qual o Direito público é que
protege os interesses públicos do Estado; o direito privado é a disciplina os
interesses privados dos particulares.
Critérios de Distinção entre o Direito Público e Privado

Os principais critérios usado pela doutrina para distinguir o direito público


do privado são os seguinte:

a) Critério da natureza dos interesses ou critério do interesse:

Segundo este critério integram o direito público as normas que asseguram a


realização dos interesses da comunidade, ou seja, colectivos ou públicos.
Neste critério quando o interesse protegido é público, então, a norma é
qualificada como sendo do Direito Público. Já ao Direito Privado pertencem
as normas dirigidas á satisfação ou protecção de interesses tão-só dizem
respeito aos indivíduos, ou seja, aos particulares.

Críticas:

Embora este critério seja ainda perfilhado como base da referida summa
divisio , por certos autores, e continua a ser correta e adequando na grande
maioria dos casos, todavia, considera-se este critério inadequado em certas
situações.

- As normas jurídicas (públicas e privadas) prosseguem simultaneamente


interesses públicos e privados. Exemplos, é o caso da norma do Direito Penal
8 que é ramo do direito público) que proíbe o homicídio, protege um valor
da colectividade (interesse público) e, ao mesmo tempo, o interesse pessoal
(privado) que cada um de nós tem na conservação da vida; As normas do
processo civil destinadas a regular os processos que decorem nos tribunais
judiciais para a efectivação de direitos cíveis ou comerciais pertencentes a
indivíduos ou empresas privadas; A norma que consagra o principio da
liberdade contratual (405 cc) protege o interesse privado de as partes fixarem
livremente, dentro dos limites da lei, o conteúdo dos contractos, mas não
deixa de proteger igualmente os interesses colectivos referentes a estrutura
do mercado (livre iniciativa, liberdade de empresa, etc); As regras do Direito
Civil destinada a proteger os interesses dos filhos em caso de separação do
divórcio dos pis, ou a regra também do direito civil, segundo a qual na falta
dos herdeiros legítimos ou designados por testamento, os bens de qualquer
pessoa falecida são atribuídos, a título sucessório ao Estado; As normas que
regulam a invalidades dos actos jurídicos quando esta invalidade é cominada
em atenção a um interesse geral e não o interesse de certa pessoa ou certas
pessoas.

Por isso, procurou-se atenuar este critério acrescentando a nota de


predomínio aos interesses a prosseguir por cada um daqueles direitos: os
interesses predominantemente (ou directamente) públicos pertencem ao
âmbito do direito público; os predominantes privados, ao direito privado.
Porém, nem mesmo esta versão se considera satisfatória: v.g., as normas
sobre o casamento pertencem ao direito privado é, não obstante, algumas
protegem inequivocamente um interesse público, é o caso das normas que
proíbe casamento entre parentes na linha recta e entre perante do quarto grau
da linha colateral, satisfazem interesses eugénicos.

b) Critério da Qualidade dos Sujeitos ou critério dos sujeitos:

O direito público disciplina as relações jurídicas em que intervenha o Estado


ou qualquer ente público, o direito privado, as relações entre particulares.

Crítica:

Critica-se este critério porque o Estado e as demais entidades públicas


também participam em relações jurídicas regidas pelo direito privado,
(exemplo, a compra e venda, doação, o arrendamento, uma herança).

Por outro lado, há situações em que ambos os sujeitos de uma relação jurídica
de direito público são meros particulares. É o que sucede nas relações do
Direito Administrativo entre os concessionários e os utentes de serviço
público ou de uma obra público, nas figuras clássicas da subconcessão e do
trespasse da concessão administrativo e, me geral, no exercício privado de
funções públicas.

Portanto, se a qualidade pública dos sujeitos não afecta a natureza privada


destas relações jurídicas, este critério não se afigura satisfatório;
C) Critério da Posição dos Sujeitos:

Segundo este pertencem ao direito público as normas jurídicas que


disciplinam as relações de subordinação, isto é, aquelas que se ocupam da
constituição e da organização do Estado e dos demais entes públicos e
regulam as relações em que intervém uma posição de superioridade (v.g.,
uma expropriação , a aplicação duma multa, a cobrança dum imposto), por
força do seu ius imperii.

Ao direito privado cumpre disciplinar as relações jurídicas desenvolvidas


entre particulares, ou em que intervenha o Estado ou outro ente público
despido do sue ius imperium ou numa posição de paridade (igualdade),
exemplo, quando o Estado celebra com um particular um contrato de compra
e venda, de arrendamento, quando efectua doação etc.

Críticas:

Este critério também sofre críticas pelo seguinte:

Nem todas estas relações em que o Estado ou ente público participa aí numa
posição igual á da outra parte pertencem ao Direito Privado, pode pertencer
ao direito público. Exemplos: As relações proveniente dum contrato
administrativo não deixa de pertencer ao direito público, embora o Estado
ou outro ente público participe aí numa posição igual á da outra parte; nas
relações entre o Estado estes aparecem actuam em posição de igualdade.

Também, no direito privado, há relações de subordinação e dependência,


exemplo, é o caso no âmbito das relações familiares da relação entre pais e
filhos, numa empresa a relação entre dirigentes e empregados; a relação entre
a empregadas domestica e a patroa.

A dificuldade em encontrar um critério insusceptível de critica explica-se,


em grande parte, no Estado social o direito público tem-se desenvolvido
extraordinariamente com a consequente flutuação das fronteiras que
tradicionalmente o separam do direito privado. Todavia, a distinção entre os
dois direitos mantém-se importante, sobretudo porque o direito privado não
deixou de ser o “baluarte da personalidade e autonomia dos indivíduos” e,
por isso, “deve ser ciosamente preservado de tentativas injustificadas de
invasão do Direito Público”,

No entanto, este parece ser o critério mais aplicável, quiçá por suscitar menos
reparos e, fundamentalmente, por as relações jurídicas se estruturarem em
dois modos típicos: de coordenação (direito privado) e de subordinação
8direito público).

Conceito de Direito Público r Privado

Pode se definir o Direito Público como sistema de normas jurídicas que,


tendo em vista prossecução de interesse colectivo conferem para esse a um
dos sujeitos da relação pública poderes de autoridade sobre o outro.

Diferentemente o Direito Privado é um sistema de normas jurídicas que


visando a regular a vida privada das pessoas não confere a nenhuma delas
poderes de autoridade sobre as outras mesmo quando pretendem proteger um
interesse público considerado relevante.

São Ramos do Direito Público:

1. O Direito Internacional Público.


2. Direito Constitucional
3. Direito Penal
4. Direito Administrativo
5. Direito Financeiro
6. Direito Tributário
7. Direito Fiscal.

São ramos do Direito privados os seguintes:

1. Direito Civil, que abrange


a) O Direito das Obrigações
b) Direito reais ou das coisas
c) Direito da Família
d) Direito das Sucessões

OBS: estes fazem parte do direito privado comum

2. Direito Comercial
3. Direito do Trabalho. Este e o direito comercial fazem parte do Direito
Privado Especial.
4. Direito Internacional Privado.

Ramos do Direito Misto:

Existem ramos que se repartem claramente entre o direito público e o Direito


Privado, são os casos seguintes:

a) Direito dos Registos e Notariado


b) Direito da Segurança Social
c) Direito agrário
d) Direito Bancário
e) Direito do Ambiente
f) Direito do Consumidor
g) Direito Desportivo
h) Direito Económico
i) Direito do Trabalho.
Direito Público

Direito Internacional Público

O Direito Internacional Público- é constituído por um complexo de normas


que disciplinam as relações em que intervém os Estados, outras entidades
colectivas (como a santa Sé e a Ordem Soberana de Malta), certas
organizações internacionais e os próprios indivíduos.

É um direito que conhece actualmente uma transformação rápida e profunda


que, se tem o mérito de dissipar definitivamente as dúvidas sobre a
juridicidade, não facilita a elaboração duma noção com a indispensável
precisão e rigor. A própria denominação é fruto duma evolução que tem, na
sua origem, a expressão roamana ius gentuim , (inicialmente, direito interno
aplicável nas relações entre pregrini e entre cives e peregrini ; depois, uma
espécie de ius commune, substituída, no século XVIII, por International Law
com que BENTHAM procurou exprimir melhor o seu caracter.

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