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As comunidades políticas têm a necessidade de definir a organização do poder político (como se cria e
aplica o Direito), os direitos e deveres perante a comunidade e entre os cidadãos, e as características e
os objetivos fundamentais da comunidade. Daí, estas terem a necessidade de uma Constituição que
regule e defina todos estes pontos.
As constituições podem ser normas escritas e não escritas e podem-se encontrar num documento
único ou disperso (constituição inglesa).
Tipos de constituições:
Constituição normativa: Constituição moderna que prevê limites ao poder político e que
corresponde à prática constitucional.
Constituição nominal: Constituição moderna que prevê limites ao poder político, mas não existe
correspondência entre a prática e o texto constitucional.
Constituição semântica: Constituição que não estabelece limites ao poder político. Apenas é
simbólica e tem o único objetivo de garantir a subsistência da não limitação do poder e dos
regimes ditatorial.
Hans Kelsen defendia a teoria piramidal das fontes de Direito. Esta via a Constituição (que se
encontrava no topo) como o fundamento e o suporte de todo o ordenamento político.
Em suma, a Constituição é o estatuto jurídico fundamental da comunidade política, visto que explicita o
direito sobre, do e para o poder político, sendo por isso o quadro-jurídico fundamental para a ação
desse mesmo poder político (povo / cidadãos).
Poder político
O poder político é o poder de governo da comunidade política, ou seja, o poder exercido pelo povo /
pelos cidadãos. Este é submetido à satisfação dos interesses da maioria, sendo necessário definir uma
determinada forma institucional e modalidades para que seja exercido (de forma direta ou através de
representantes).
Forma de Governo
Olhando para este conceito de uma forma ampla, podemos fizer que a forma de governo é o modo
como se estrutura e exerce o poder político em cada comunidade política. A nível clássico, este
conceito corresponde ao tipo de órgãos superiores a que é atribuído o poder político, de um ponto de
vista aspetual ou institucional. Com base nas normas e nas práticas constitucionais, pode-se determinar
e classificar tipos, categorias, padrões de governo – embora esta via tenha concretização variável
(constituições semânticas).
As formas de Governo eram distinguidas pelo número de titulares do poder político e modo de
exercício do poder político.
Ciclo:
Monarquia sofiocrática – considerada a melhor forma, degenera-se quando o povo deixava de
entender o rei.
Timocracia – governada por aristocráticos / nobres pelo meio de armas, de forma a conseguir
estabilizar a situação política.
Oligarquia ou plutocracia – governada por aristocráticos / nobres, privilegiava os interesses dos
mais ricos e prejudicava os mais pobres.
Democracia – sistema pouco apreciado, pois não era estável.
Tirania – considerada a pior forma de governo, acabaria quando houvesse estabilidade, com o
tirano a converter-se em rei ou a nomear outra pessoa para este cargo.
Aristóteles
Aristóteles acreditava que existiam formas políticas sãs – onde o exercício do poder era feito conforme
o interessa da comunidade – e formas políticas degenerada, onde os interesses privados ou pessoais de
quem governava eram privilegiados. Acreditava, no entanto, que existia a possibilidade de
concretização destes padrões em soluções mistas.
Cícero
Além da prática de um governo ideal misto, Cícero defendia a separação de poderes e a igualdade de
todos à nascença, argumentando que a condição de escravo não era natural, mas sim convencional e
criada pelos mais ricos. Também se mostrava contra a tirania, tendo discursado no Senado em
oposição do caminho que se verifica no Reino Romando de uma monarquia limitada para um império
tirano.
Nicolau Maquiavel
Maquiavel defendia que não havia formas sãs e degeneradas de Governo, mas sim que havia formas
que têm ou não êxito político.
Monarquia absoluta
Deriva do iluminismo – absolutismo despótico;
O poder do rei tem origem divina – este é titular por direito próprio (sistema francês);
Forma de governo puramente monárquica suprema / tirânica.
Perda de relevância da distinção bipartida: a distinção entre monarquia e república designa apenas a
configuração da faceta simbólica do poder público (neste sentido, mais do que a Forma de Governo, a
Forma do Estado).
Assim, o modo de designação pouco esclarece quanto à realidade essenciais da Forma efetiva de
Governo – exemplos: Monarquia Constitucional Inglesa vs. Ditaduras do século XX.
Distinções relevantes
Constitucionalismo moderno e “sistema antigo” (absolutista) – forma de governo.
Regimes Políticos e Sistemas de Governo (partes do conceito de forma de governo).
Regimes políticos
Formas de exercício do poder político no Estado moderno, considerando o tipo de relação estabelecida
entre os governantes e os governados – elemento ideológico (espiritual) que alimenta o
funcionamento do sistema.
Formas de determinação:
Leitura e interpretação dos textos constitucionais;
Análise da prática política e modo de aplicação dos comandos constitucionais.
Dificuldade – enquadrar um sistema em concreto numa categoria teórica quando acolhe
elementos de várias.
Critérios de distinção:
Participação: Papel desempenhado pelos governados na escolha dos governantes, assim como no
controlo e limitação no exercício do poder político.
Regime ditatorial:
Exercício de um poder político efetivo e amplo, com indiferença ou contra a vontade dos governados.
Perpetuação e duração indefinida, sem (renovação da) legitimidade democrática (através de eleições
livres e universais).
Os governantes são designados pelo Chefe de Estado para não se verificarem desvios à linha
programática e ideológica.
Regime totalitário: Controla as liberdades políticas e a vida privada dos cidadãos – para além da
proibição de direitos políticos e perseguição de opositores, registam-se violações sistemáticas a
outros direitos e liberdades fundamentais: proibições de culto, genocídios étnicos, assassinatos em
massa, etc.
Regime democrático:
Baseia-se essencialmente no princípio da soberania popular:
Titularidade e exercício do poder político pelo povo (diretamente ou por representação).
Regra da maioria – o seu fundamento de igualdade de todas as pessoas não pode ser violado, porque o
próprio princípio da igualdade é o fundamento da democracia.
Todas as entidades políticas devem ser legitimadas pelo povo através de eleições ou sendo nomeadas
por pessoas eleitas. Os governados escolhem os governantes, e assim controlam, limitam e influenciam
o seu poder.
Princípio da dignidade humana: estrutural ao regime democrático (faz parte do seu fundamento base)
e parte do princípio do Estado de direito (princípio da legalidade, princípio da juridicidade, princípio da
proporcionalidade).
Democracia representativa (eletiva): Os cidadãos exercem o seu poder político através de eleições
periódicas, livres e universais.
Sistema de governos
Forma de Governo = Regime político (democrático ou ditatorial – carácter filosófico e ideológico) +
sistema de Governo (monarquia ou república – forma defendida por Aristóteles e Maquiavel).
Dada esta caracterização, ao falarmos de órgãos em plural, estamos a falar do princípio de separação
de poderes. Logo, o sistema de governos caracterizaria apenas os sistemas caracterizados pela
separação de poderes (regimes democráticos e não ditatoriais).
Assim, deve ser considerada uma relação estrita entre os elementos ideológicos e os elementos
estruturais. Estes funcionam relacionados: o funcionamento da estrutura do governo é
influenciado/depende do que é determinado pela ideologia do regime.
Concluindo, o sistema de governo não depende apenas da prática dos textos constitucionais, mas da
ideologia de regime que é aplicada à própria constituição – constituição contrária à prática (nominal).
Princípio da separação de poderes:
Princípio que teve por objetivo evitar a existência de um “Superpoder” e proteger contra os atropelos
dos direitos e liberdades fundamentais e os abusos e desvios de poder que se verificavam nas
Monarquias Absolutas. Defende a repartição e especialização, a limitação e fiscalização recíproca, a
colaboração e o equilíbrio entre os poderes.
John Locke
Contratualismo – Teoria defendida por John Locke que caracterizava a passagem do estado de natureza
(estado salvagem) para uma sociedade civil através de uma reunião da comunidade, celebrando um
acordo que garantiria a segurança e a justiça da comunidade. Disto resultaria a soberania do povo –
este tinha o poder de constituir os poderes do Estado, assim como escolher as suas instituições. Para
garantir que não havia abusos de poder e a prossecução dos direitos de segurança e justiça, os poderes
(legislativo, executivo e federativo) seriam divididos, sendo que o poder executivo e federativo
deveriam estar sobre a posse do mesmo órgão.
Montesquieu
Inspirado em Locke e no funcionamento do sistema britânico (Monarquia Limitada).
Tinha o propósito de evitar abusos no exercício do poder através da limitação pela divisão de poderes e
distribuição por órgãos distintos.
Este princípio filosófico foi estabelecido como princípio jurídico-político obrigatório (separação de
poderes - artigo 111º) quando foi primeiro consagrado nas constituições feitas depois das Revoluções
Liberais.
Com este, vem um sistema de checks and balances, ou seja, um sistema onde todos os poderes se
limitam entre si, constitucionalmente determinado. Alguns exemplos:
O poder legislativo não só cria as leis que o poder judicial utiliza na aplicação da justiça, como
também define a sua estrutura organizativa.
O Chefe de Estado (Presidente da República) – poder executivo – tem direito a vetar as leis que
estão a tentar ser passadas – poder legislativo.
O poder executivo tem de seguir as leis escritas pelas leis do poder legislativo.
O orçamento de Estado do poder executivo é aprovado pelo poder legislativo (Assembleia da
República).
O poder judicial deve ser o menos influenciado de todos – os tribunais devem reunir a maior
independência face ao poder legislativo.
Poder moderador:
Chave da organização política – quando os poderes não conseguiam equilibrar-se e concertar-se,
este poder asseguraria a cooperação, assim como impediria a supremacia de um dos poderes.
Poder que viria a ser assumido pelos reis e rainhas nas monarquias constitucionais, em que o rei
progressivamente perde o poder executivo.
Não existe uma separação de poderes absoluta – além do s órgãos de soberania poderem exercer
diferentes funções, estas passaram a ser partilhadas com a intensificação do Estado Social de Direito.
No entanto, cada órgão tem a sua atividade principal, e esta não pode ser violada. Alguns exemplos:
A administração pública (poder executivo) é responsável pela aplicação de contraordenações
(poder judicial).
A competência legislativa do Governo, exposta no artigo 169º e 198º.
Notas / Conceitos
Regras: Normas jurídicas de conteúdo mais determinado (determinam o comportamento a adotar) e as
suas consequências.
Princípios: Normas jurídicas de valor mais indeterminado e concretização variável – fundamento das
regras jurídicas.
Estado Social de Direito: Estado que se preocupa não só com a prossecução dos direitos de segurança e
a justiça, como também com o bem-estar económico-social da comunidade – o governo adquire uma
maior possibilidade de legislar.
Estado liberal: Estado que se preocupa com a prossecução dos direitos de segurança e a justiça da
comunidade.