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Introdução História Descrição de personagemJornalismo da altura

Crítica à sociedade portuguesaAtualidade da críticaConclusão

Este trabalho está dividido em 3 partes, na 1ª pretendemos, resumidamente,


contextualizar as ações presentes no capítulo que se relacionam com o tema que vamos
apresentar e analisar como funcionava o meio jornalístico da época bem como os
personagens envolvidos na trata. Na 2ª, iremos desconstruir a crítica feita à sociedade
portuguesa através dos diversos personagens-tipo que integram a composição dos
jornais bem como da própria ética existente na redação dos mesmos. Já na 3ª e última
parte do trabalho apresentaremos a nossa opinião relativamente à atualidade da crítica
que se faz neste momento da obra.

Numa manhã em que Carlos vai ver o correio nos Olivais, depara-se com uma
carta de Ega acompanhada de um artigo de jornal, no “ Corneta do Diabo “, que
Ega lhe pede para ler. Esse artigo, de teor difamatório, aludia, num tom infame e
em calão, aos amores de Carlos com Maria Eduarda e expunha, em termos
degradantes, a sua relação. Assim, acompanhado de Carlos, Ega vai falar com
Palma Cavalão, diretor do jornal onde teria sido publicada a carta, este
caracterizado pelos temas escandalosos.

Com o objetivo de caracterizar o jornal, o narrador afirma que: "na impressão,


no papel, na abundância dos itálicos, no tipo gasto, todo ele revelava imundície e
malandrice'", e, nas palavras de Eusebiozinho, "É um jornal de pilhérias, de
picuinhas... Ele já existia, chamava-se o Apito, mas agora passou para o <Palma,
ele vai lhe aumentar o formato, e meter lhe mais chalaça..."

O já referido Diretor, de nome Palma Cavalão, é apresentado como um jornalista


corrupto, um homem desonesto que encara o jornalismo como uma forma de
ganhar dinheiro deixando-se por isso corromper e subornar. Este representa o
jornalismo barato, escandaloso e sem escrúpulos e tem a alcunha de "Cavalão"
por simbolizar alguém sem princípios, que faz tudo por dinheiro, sem qualquer
preocupação com o seu semelhante. O próprio nome A Corneta do Diabo não era
inocente porque a palavra “Diabo” tem conotação negativa, mostrando que tal
jornal seria indecente e maléfico, sem bom senso algum.

A suspensão da circulação dos jornais só é conseguida graças ao Ega e a um


suborno de 100 000 réis feita ao diretor, este que aceita e denuncia Dâmaso e o
seu cúmplice Eusebiozinho, violando assim um dos principios do jornalismo:” nunca
revelar as fontes”. Assim, Carlos envia Ega e Cruges a casa do Dâmaso, a
desafiá-lo ou para um duelo ou a retratar-se. Sentindo-se “encurralado” por Ega
e por Cruges, Dâmaso opta covardemente, por assinar uma carta, redigida pelo
próprio Ega, afirmando que tudo o que fizera publicar na "Corneta" sobre Carlos
e Maria Eduarda fora invenção falsa que se devia a um estado de embriaguez.
(doença de família por sinal) Já a carta foi deixada por Carlos ao cuidado de Ega
para que fizesse aquilo que bem entendesse com o documento. Nesta parte do
episódio em específico podemos observar a covardice e a falta de masculinidade
de Dâmaso que prefere não se bater num duelo com carlos.
Mais tarde, no teatro, Ega descobre Raquel Cohen, acompanhada do marido e de
Dâmaso, num camarote. Dâmaso acena a Ega com um ar de vaidade e é esse gesto
que o leva a dirigir-se à redação do jornal “ A Tarde “, com o objetivo de pedir
que publiquem a carta do Dâmaso. No local, Ega encontra-se com o diretor do
jornal.

Sendo este Neves, personagem que tal como Palma Cavalão representa o meio
jornalístico decadente lisboeta, este que, concretamente, influencia
politicamente os seus ignorantes leitores. Neves para além de diretor do jornal é
político e deputado do partido de Dâmaso Guedes, e recusa-se inicialmente a
publicar a carta de Dâmaso Salcede por pensar que fora escrita pelo seu amigo e
líder de partido Damaso Guedes, revelando-se aqui parcialidade por parte do
diretor.

Ega consegue a publicação da carta do Dâmaso não só como represália da injúria


feita a Carlos da Maia, mas também para se vingar de uma possível ligação
daquele com a sua ex-amante Raquel Cohen. Todo o diálogo de Ega com Neves e
outros funcionários do jornal lisboeta mostram a atmosfera política, a
imprudência e a parcialidade do jornalismo daquela época.
É através deste episódio que Carlos irá conhecer Guimarães, tio de Dâmaso, que
lhe veio pedir explicações sobre a tal carta, e é este que vai desequilibrar a
harmonia existente entre Carlos e Maria, pondo a descoberto toda a história que
compromete o relacionamento destas duas personagens da intriga central.

Nesta época, podemos concluir que o jornalismo era encarado não só como um
meio de estratégia de propaganda política, pouco rigoroso, corrupto, com vista ao
lucro e repleto de interesses económicos, como também não seguia os valores
éticos e morais patentes na época, onde as notícias e informações transmitidas
aos leitores, muitas vezes não tinham um caráter verídico.

Este episódio revela fortes críticas à sociedade portuguesa, sendo estas a


degradação do jornalismo, o caráter corrupto desprovido de ética, com
apetência por escândalos e motivado tanto por interesses económicos, tendo
como exemplo o diretor da “Corneta do Diabo”, Palma Cavalão, que aceita
publicar, a troco de dinheiro, uma carta caluniadora que se destinava a humilhar
Carlos, quer pela parcialidade comprometedora de feições políticas, tendo como
exemplo o diretor do jornal “A Tarde”, que recusou publicar a carta em que
Dâmaso Salcede pedia desculpas por ter mandado publicar uma carta em que
humilhava Carlos, porque o tinha confundido com o seu amigo político Dâmaso
Guedes.
Tudo isto demonstra a decadência jornalística daquela época, onde as notícias
eram publicadas em função dos interesses dos diretores de cada jornal. A forma
como os jornais nos são descritos retrata a forma decadente dos mesmos: "mas
só Lisboa, só a horrível Lisboa, com o seu apodrecimento moral, o seu
rebaixamento social, a perda inteira do bom senso, o desvio profundo do bom
gosto, a sua pulhice e o seu calão, podia produzir uma Corneta do Diabo. Lisboa,
neste estado, é o retrato de todo o país” - Ega

Sem dúvida nenhuma, fatos relevantes são notícias que a população quer ver, mas
nem sempre o que as emissoras de TV, rádios, jornais e revistas divulgam são
necessariamente verdades jornalisticamente éticas e incontestáveis. Segundo o
art. 6º do Código de Ética, a conduta profissional do jornalista, o exercício da
profissão do jornalista é uma atividade de natureza social e com finalidade
pública, subordinada, portanto, ao Código de Ética, no entanto, este é
constantemente desrespeitado. Vivemos um tempo de enorme disrupção e
turbulência no mundo da informação, não apenas no meio jornalístico em Portugal
como também no mundo inteiro. E, atualmente, um dos maiores problemas
existentes no meio jornalístico são as tão conhecidas “Fake News”, estas que
sempre existiram ao longo dos tempos, sobretudo na economia e na política, em
que "funcionam muito bem", mas que tiveram um aumento explosivo com a ajuda
das redes sociais. O ditado popular diz que “mais depressa se apanha um
mentiroso do que um coxo”, mas na era das redes sociais, as notícias falsas
propagam-se tão rápido e tão bem, que passam muitas vezes por verdadeiras. Um
amigo dá por certo algo que outro amigo partilhou, e por aí fora forma-se uma
imensa bola de neve de desinformação, tendo sido 2018 o ano prodígio das Fake
News. O problema é que não são muitos os instrumentos que os cidadãos têm
para se proteger, a não ser a tentativa de tentar entender a origem e,
sobretudo, as fontes e os meios que divulgam tais notícias. "Se o público tem de
auferir o trabalho que o jornalista faz, porque pode ser levado por um caminho
que não é a verdade, é um sinal preocupante para o futuro do jornalismo”

Assim, podemos concluir que a crítica presente nesta parte da obra continua
muito atual, até demasiado, onde como foi explicado, reina a falta de ética, a
corrupção, os interesses económicos/políticos e infelizmente o crescente
fenómeno das Fake News. Na realização deste trabalho deparámo-nos com
situações da qual já tínhamos conhecimento mas que ainda não tínhamos
aprofundado, principalmente em relação ao jornalismo na atualidade e a sua
compatibilidade com a crítica que se faz neste momento da obra.

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