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SISTEMAS DE GOVRNO

Enquadramento
 Os órgãos de soberania são essenciais para a caracterização do sistema de governo, sendo que a
supressão de um ou a alteração das dinâmicas entre si (a estrutura ou o modo como estes relacionam
no exercício do poder) implica a transformação do sistema.

 Critérios de distinção:
 Posição relativa do chefe de Estado – se este é apenas chefe de Estado ou também chefe do
Executivo.
 Relação de confiança/responsabilidade política entre o Poder Executivo e o Legislativo.

 Existem três sistemas de Governo democráticos com separação de poderes: parlamentar, presidencial
e semipresidencial. Estes são sistemas que, nos modelos de referência – Inglaterra e USA –,
simbolizaram a passagem da monarquia limitada inglesa para sistemas democráticos (e naturalmente
representativos) com separação de poderes.

 No antigo sistema de governo monárquico-representativo inglês:


 O monarca era o titular único do Poder Executivo, sendo auxiliado por um Governo subordinado a
si.
 Apesar de ser limitado pelos atos parlamentares e convenções constitucionais – Poder Legislativo –,
tinha um conjunto de amplo de poderes (controlo sobre a Câmara Alta, possibilidade de dissolução
da Câmara Baixa, etc.) e não era eleito.
 Existia uma responsabilidade do Governo (e do PM) não autónomo perante o Rei, mas não havia
responsabilidade e confiança política do Monarca e do Governo – Poder Executivo – perante o
Parlamento – Poder Legislativo.

Sistema de Governo Parlamentar


Critérios:
 O Chefe de Estado não é um órgão de poder efetivo, ou seja, não tem poder político efetivo, mas sim
simbólico ou protocolar. É politicamente irresponsável por e perante outros órgãos de soberania, não
podendo afetá-los em matérias de mandatos livremente (ex: dissolução do Parlamento) e vice-versa.

 O Executivo (Governo) é formado de acordo com a composição do Legislativo (Parlamento), depende


da sua confiança política – voto de investidura – e é, por isso e em exclusivo, politicamente responsável
perante este.

Chefe de Estado:
 Pode ser hereditário – Monarca – ou eleito indiretamente (eleito por quem o povo elegeu) – Presidente
da República.

 É uma figura simbólica, um símbolo da unidade estadual e independência nacional – representação do


Estado, e é um “órgão politicamente apagado”, pois reina / preside, mas não governa nem exercer
livremente poderes próprios e efetivos.

 Escassos poderes próprios:


 Dissolução do Parlamento, mas depende da iniciativa / pedido do PM – não pode decidir exercer
este poder por si só.
 Nomeação do Primeiro-Ministro, mas tem de fazê-lo de acordo com a vontade do Parlamento e
com base nos resultados eleitorais.

 Ainda tem poderes formalmente atribuídos, como o de impedir ou evitar atuação isolada e
responsabilização política pelo aval, que são de exercício “obrigatório” (ex: não podem vetar as leis
parlamentares) e /ou dependem de referenda ministerial (confirmação ministerial dos atos do
presidente).

Poder Legislativo:
 Assumido pelo Parlamento, cuja totalidade ou apenas a Câmara dos Comuns é eleita. É o único órgão
de soberania diretamente eleito, pelo que é o único com legitimidade democrática direta. Em teoria, é
o órgão central do sistema político e de decisão política.

Poder Executivo:
 Assumido pelo Governo/Gabinete, um órgão colegial (com vários titulares), que é formado de acordo
com a composição parlamentar: Os ministros têm de ter sido deputados eleitos naquelas eleições
legislativas – legitimidade democrática indireta, no entanto forte.

 O Primeiro-Ministro é o chefe do Governo (com maioria simples ou absoluta) e líder da maioria


parlamentar. O chefe de Estado não intervém na atividade do Governo, visto que não tem
competências executivas.

 Existe uma hierarquia e responsabilidade solidária: Programa de Governo e deliberações.

Poder Executivo politicamente responsável perante o Poder Legislativo:


Dependência do Governo na confiança / não desconfiança política parlamentar:
 O Governo depende desta para o início de funções, visto que o Parlamento tem de aprovar (voto de
investidura) ou não rejeitar (voto de confiança negativo ou presumido) o seu programa. Além disso,
encontra-se constantemente dependente desta para a continuidade das suas funções, com a
possibilidade da sua sujeição a moções de censura ou da autoproposta a moções de confiança.

 Quando houver uma perda de confiança por parte do Parlamente, o Governo é obrigado a demitir-se /
cessar funções.

Parlamento como lugar de justificação governamental


 O Parlamento age como lugar de justificação da atividade do Governo na medida em que este se
submete ao seu controlo e fiscalização, sendo chamado a defender opções tomadas e a prestar contas
– debates, comissões de inquérito, etc.

Grau de legitimação popular


 Existe um aparente desequilíbrio e preponderância parlamentar, visto que o Governo “sai” do
parlamento e do facto de o Parlamento deter um grau de legitimidade popular / democrática mais
forte.

 Dissolução do Parlamento (ou da Câmara Eletiva):


 É um mecanismo de equilibro institucional e constitucional, que põe refreio nos poderes de
controlo parlamentares.
 É utilizado como “válvula de respiração do sistema”, ou seja, para salvar o sistema perante uma
situação de instabilidade política (abuso de poder de controlo e fiscalização parlamentares, crises
políticas, impasses inultrapassáveis, etc.), obrigando à convocação de novas eleições legislativas e
à renovação da legitimação.
 Em termos formais, a sua capacidade de exercício é concedida ao chefe de Estado, mas em sentido
material, esta é uma decisão ministerial.

Separação flexível ou atenuada


 Relação de forte interdependência:
 Condicionamento estrutural: O Governo traduz a composição parlamentar, pelo que depende da
confiança política desta ou é demitido. O Parlamento pode também ser dissolvido sempre que é
incapaz de nomear o Governo e de lhe atribuir confiança política – um órgão de soberania pode
por termo a outro.
 Condicionamento funcional: Existência de ações de limitações, controlo e fiscalizações.

 Reserva de autonomia e independência funcional: Exercício autónomo por parte do Governo de


competências próprias delegadas pela Constituição e não pelo Parlamento, sendo apenas submetidas
ao seu controlo e fiscalização.

Na prática política:
 Existe uma distinção entre duas modalidades fundamentais. O seu critério de distinção é o tipo de
maioria parlamentar, ou seja, se esta acontece devido a uma circunstância aleatória e conjuntural, ou
se é influenciada pelo sistema eleitoral.

Sistema de gabinete ou maioritário


 Caracterizado essencialmente por ter um Governo sustentado por maioria parlamentar absoluta, ou
seja, existe uma maioria absoluta de um partido político.
 Apesar do condicionamento estrutural, existe uma garantia de relação de confiança política segura
e duradoura – a possibilidade de rejeição de uma moção de confiança é baixa – e uma margem de
atuação para concretização do Programa, visto que a vontade do Governo será sempre aceite pelo
Parlamento (se não houver instabilidade interna no partido político em questão).

Existe assim uma estabilidade e permanência governativa, que origina a possibilidade para a
verificação de um Governo de Legislatura: Governo cujo mandato tem o mesmo tempo que o
mandato parlamentar – funcionam ao mesmo tempo.

Governo Britânico – sistema de referência:


 Os órgãos de soberania atuam em nome da Coroa, que é o símbolo do povo. O monarca não tem poder
efetivo, mas sim poderes próprios formais e condicionados pelos outros órgãos, de exercício
obrigatório (promulgação das leis) ou dependentes da referenda ministerial.

 O Parlamento é bicamaral:
 Câmara dos Lordes:
 Nomeada pela rainha, com carácter vitalício mas não hereditário, de acordo com o mérito
pessoal.
 Verificara uma progressiva perda de poder político efetivo, pelo que intervém apenas no
procedimento legislativo – fiscaliza, sugere indicações não obrigatórias e pode atrasar a
aprovação dos atos legislativos – mas não toma qualquer decisão nem tem poder de veto.
 Câmara dos Comuns:
 Eleita por sufrágio universal e direto – por cada círculo eleitoral uninominal é eleito um
deputado do partido mais votado.
 Constituída por dois partidos hegemónicos e ideologicamente disciplinados. Por regra, é
reunida uma maioria estável e absoluta de um deles – sistema bipartido perfeito.
 Tem amplas competências de natureza política e legislativa.

 Poder Executivo – Governo:


 Primeiro-Ministro é o chefe de Governo e líder do partido ou coligação maioritária, visto que o
Governo “sai” dos deputados da Câmara dos Comuns.
 Influencia o funcionamento dos Comuns, nomeadamente através da escolha dos assuntos a tratar
na ordem do dia – garantia da atividade do Governo.
 Centro da vida Política partilhado entre o Governo e a Câmara dos Comuns, sendo o Primeiro-
Ministro, na prática, a principal figura de direção política – eventual preponderância do Executivo.

 Responsabilidade política do Governo sobre o Parlamento:


 Para além da regulamentação cuidada e precisa da atividade de controlo parlamentar, a Oposição
tem um papel fulcral no controlo e fiscalização da atividade parlamentar, que poderia, sem estes
refreios, conduzir a um abuso de poder devido à maioria parlamentar do Governo.
 Outros mecanismos de controlo são os Tribunais, a limitação interna por parte do próprio partido
político, e o eleitorado, nomeadamente através de eleições periódicas.
 O Governo, por sua vez, pode utilizar a dissolução do parlamento como estratégia política, na
medida em que dissolve o Parlamento e convoca novas eleições se estiver confiante de que irá
conquistar uma maioria parlamentar ainda maior – estratégia de reforço parlamentar.

Sistema de assembleia ou pluripartidário


 Caracterizado essencialmente um parlamento de composição plural, ou seja, não existe (regra geral)
uma maioria absoluta ou sólida de um partido no Parlamento. Isto deve-se ao sistema eleitoral
proporcional, onde os círculos eleitorais plurinominais elegem mais do que um deputado de acordo
com o princípio de proporcionalidade.

 Isto traduz-se a Governos minoritários ou assentes em coligações partidárias pós-eleitorais débeis e


voláteis, o que leva a uma maior instabilidade e menor garantia de execução do seu programa, visto
que as coligações podem não ser sustentadas. Assiste-se a redefinições das alianças partidárias ao
longo de uma legislatura – instabilidade ideológica – e a quedas constantes de Governos sem recurso a
dissolução parlamentar e eleições legislativas, o que cria um descontentamento por parte do
eleitorado e uma impossibilidade de Governos de Legislatura.
 A estabilidade irá ser influenciada pela capacidade dos partidos políticos de conseguirem chegar a
acordo com os “cabeças de listas”.

 “Parlamentarismo”:
 Sistemas parlamentares do passado em que se verificava um excesso de poderes injustificado e
supremacia parlamentares.
 Degenerescência do sistema parlamenta, caracterizada por práticas constitucionais geradoras de
que instabilidade e ineficácia política e governativa.

 A preponderância parlamentar acentuada verifica-se:


 Subsistência governativa dependente de acordos parlamentares frágeis.
 Amplos poderes de controlo e fiscalização da atividade de Governo, em detrimento do
exercício da função legislativa – O Parlamento está mais interessado em controlar do que em
legislar.
 Forte condicionamento das decisões e atividade de Governo.
 Intervenção nula ou mínima do Governo na gestão dos trabalhos parlamentares, o que faz
com que a Assembleia consiga atrasar de forma ininterrupta a sua atividade política / a
execução do seu programa.
 Ausência da “válvula de respiração” – O poder de dissolução parlamentar ou não existe, ou é
condicionado, ou não consegue ser exercido.

 A instabilidade foi ultrapassada por novos sistemas (ex: alteração para semipresidencialista), novos
regimes (ex: alteração do parlamentarismo para ditadura civil com apoio militar em Portugal), ou
por formas racionalizadas.

 Distinção quanto à conformação constitucional:


 Sistema clássico: Fixação das regras típicas do sistema parlamentar.
 Sistema racionalizado: Previsão de mecanismos jurídico-constitucionais que racionalizem o
funcionamento do sistema, de forma a garantir estabilidade na formação e subsistência de
governos – ex: percentagem mínima de votos, proibição de dissolução parlamentar em certas
alturas, moção de censura construtiva, etc.

 A partir da II Guerra Mundial, os sistemas pluripartidários tornaram-se mais estáveis e eficazes devido à
adoção desta racionalização, com uma moderação e limitação do exercício de poderes de controlo,
uma maior disciplina parlamentar fruto da maior disciplina ideológica dos partidos políticos e uma
maior estabilidade das coligações partidárias e acordos, o que possibilitou uma confiança contínua em
Governos de Legislatura.

Sistema de Governo Parlamentar


Critérios:
 O Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal (transposição do sistema monárquico representativo)
e exerce poderes significativos, próprios e efetivos, sendo o titular único do Poder Executivo. Este é
politicamente irresponsável perante o Poder Legislativo e vice-versa.
 Modelo de referência – EUA.

Chefe de Estado:
 O chefe de Estado é o Presidente da República, que tem um papel muito importante e ativo na vida
política. É eleito por sufrágio universal, direito ou indireto – no caso dos EUA, é eleito através de um
colégio eleitoral próprio, eleito diretamente pelo povo (o que faz com que, depois de se designar os
deputados de cada Estado, todos os outros votos para outros deputados não são considerados para a
eleição do PR).

 Este tem uma legitimidade popular (quase) direta, o que lhe confere importantes poderes próprios
e livres.
 Cada deputado está, na prática, vinculado a um partido.
 O PR é responsável perante e representa todo o eleitorado.

 Este tem um amplo conjunto de poderes – centro da atividade e decisão política:


 Representação Externa do Estado;
 Comandante-Chefe das Forças Armadas;
 Nomeação de Altos Funcionários da Administração e do Supremo Tribunal (nomeação mais efetiva
do que o sistema parlamentar);
 Promulgação e veto das Leis;
 Chefia do Executivo (é o único titular) e Direção da Administração;
 Exercício do Poder Regulamentar.

Poder Executivo:
 O Chefe de Estado é o titular único do Executivo. Existe uma concentração do Poder numa só pessoa,
sendo que as decisões, em última instância, são tomadas por uma única pessoa – princípio da
singularidade na tomada de decisão política. Este define livremente e de forma individual a direção da
execução do Programa de “Governo” – tem auxiliares / colaboradores / consultores que o ajudam na
execução da mesma, mas ele é que tem a última palavra.

 O PR designa o seu “Governo” – secretários de Estado e demais altos funcionários – sendo que esta
designação é dependente da aprovação do Senado, embora a sua reprovação seja muito rara
(condicionamento essencialmente formal).
 Nenhum destes faz parte do Legislativo, nem ter de ser deputado para pode ser nomeado.
 É um órgão não autónomo, de execução e consulta, subordinado apenas ao PR e de exercício
comprometido – Hierarquia e Solidariedade Interna: todos os membros da equipa do PR cessam
funções quando este o faz.
 “President Government”: Ao contrário do Governo Parlamentar, em que o órgão de governo sai do
parlamento, no Governo Presidencial, o órgão de governo sai do próprio presidente. 

 O Vice-presidente é eleito segundo o mesmo processo e, em caso de empate, o Senado é que decide o
vice-presidente. Este preside às sessões do Senado mas não é deputado do mesmo, ou seja, não vota.

Poder Legislativo:
 O Congresso tem o exclusivo da função legislativa. Este é um órgão bicamaral perfeito, ou seja, onde
ambas as câmaras são diretamente eleitas pela população – legitimidade democrática –, pelo que
ambas assumem todo o tipo de competências próprias.
 Câmara dos Representantes: Representação do conjunto de cidadãos num plano Federal, na
medida em que existe uma distribuição do número de deputados proporcional à quantidade de
população em cada Estado.
 Senado: Representação dos Estados federados, na medida em que cada Estado tem direito a
eleger dois senadores – regra da igualdade absoluta.

 Verifica-se um funcionamento em conjunto destas, sendo que as providências legislativas têm de ser
aprovadas pelas duas câmaras – separação e interação interna.
 Além das competências legislativas (bases gerais), estas têm competências de fiscalização e
controlo estrito entre ambas.
 Existe um bipartidarismo perfeito, com dois partidos hegemónicos sem grande ideologia definida que,
normalmente, conseguem cada um a maioria de uma câmara.
Separação Estrita entre o Executivo e o Legislativo:
 Não existe responsabilidade política, nem afetação de mandatos mútuo:
 Não se exige qualquer relação de confiança política entre o PR e Congresso para o primeiro exercer
o seu poder, ou seja, não é obrigatório a aprovação do programa do “Governo”, nem existe a
possibilidade de votar moções de censura ou de confiança.
 O Congresso não pode destituir o PR por razões políticas, apenas por razões criminais –
impeachment: processo criminal contra o PR iniciado pela Câmara dos Representantes, conduzido
no Senado pelo Presidente do Supremo Tribunal, que precisa do voto de dois terços dos deputados
para ser aprovado.
 Impossibilidade de dissolução parlamentar e (quase) impossibilidade de eleições antecipadas.

 Ambos têm uma responsabilidade igual perante o eleitorado e a Constituição, assim como têm um grau
similar de legitimação popular. Por isso, existe um nível de interdependência e controlo menos
acentuado:
 Não há condicionamento estrutural, na medida em que nenhum dos poderes pode afetar a
manutenção do outro num contexto político – independência política mútua e, por consequente,
separação estrita.
 Há uma relação de condicionamento funcional, na medida em que os poderes podem afetar a ação
um do outro – interdependência recíproca e, consequentemente, separação colaborante.

Interação recíproca no exercício de poderes – sistema de checks and balances


 Presidente da República:
 Não pode legislar, a não ser em matéria regulamentar ou administrativa. Tem ainda o poder de
iniciativa legislativa e pode eventualmente ser autorizado para legislar.
 Nenhum membro do Executivo vota no Congresso ou responde politicamente perante este.
 Promulgação ou veto político suspensivo ou de bolso: O PR tem um número de dias para
promulgar ou vetar a lei – se não fizer nada, a lei entra automaticamente em vigor; se decidir
vetar, a lei tem de ter maioria dupla (nas duas câmaras) de dois terços para conseguir ser
promulgada.
 O PR não atua no fim da legislatura e a legitimidade democrática cessa – a lei deixa de ser
válida.

 Congresso:
 Vota a aprovação do OE e das despesas para a Defesa – limitação funcional na execução do
programa do Governo.
 O Senado tem que confirmar a aprovação dos tratados internacionais, assinados primeiramente
pelo PR (ex: EUA não entrou na Sociedade das Nações porque o Senado não autorizou) – limita
indiretamente o veto de bolso e a sua utilização pelo PR.
 Confirma as nomeações para altos cargos da Administração e Supremo Tribunal (vitalício), sendo
que estas não se costumam verificar no fim dos mandatos – acaba a legitimidade.
 Fiscaliza o Executivo através de Comissões de Inquérito, impeachment, etc.

Verifica-se uma proeminência do Senado na atividade de controlo.


Relação de equilíbrio institucional
 O sistema de checks and balances tem o objetivo de impedir abusos e concentração de poderes.

 O Poder Judicial é independente:


 Pratica uma fiscalização difusa – Todos os tribunais podem apreciar a constitucionalidade dos atos
mediante pedido para tal, agindo como “guardiões da Constituição”, na medida em que não
podem aplicar uma lei constitucional, e como limitadores do Poder.
 “Governo de Juízes” – Existe uma intervenção muito frequente, embora já não tão expressiva, do
Supremo Tribunal, sendo que o poder de veto deste é mais acentuado do que o do PR.

 Devido a não existir um condicionamento estrutural, os desencontros de maiorias institucionais


traduzem-se num problema:
 Possibilidade de eventuais bloqueios e conflitos institucionais sistemáticos e permanentes, sem
forma de garantir o regular funcionamento das instituições democráticas (visto que não existe a
“válvula de respiração” – dissolução parlamentar).

Mecanismos de solução nos EUA:


 Os partidos não são ideologicamente disciplinados, a sua atividade é sobretudo a de
apoiar o candidato, pelo que na mesma bancada política, os votos sobre a mesma matéria
são muito distintos.
 Intervenção de grupos de pressão (lobbies)

Formas imperfeitas ou degeneradas:


Preponderância presidencial ou Presidencialismo
 O presidencialismo é uma forma degenerada onde existe uma supremacia injustificada do poder do
Presidente, que provoca o desequilíbrio na relação entre os poderes, pondo em causa o princípio da
separação e interdependência de poderes e diminuindo a proteção de garantias e interesses individuais
dos cidadãos através do(a):
 Concentração e acentuação de poderes pelo Presidente;
 Redução dos poderes legislativos e de controlo do Executivo no Parlamento;
 Apagamento das funções de garantia da Juridicidade e de controlo pelos Tribunais.

Sistema diretorial
 Inspirado na 3ª Constituição Francesa (1795).
 Sistema de Referência: Confederação Suíça (Constituição de 1848)

 Traços parlamentares:
 Executivo colegial (com várias pessoas) – Conselho Federal;
 Membros do Executivo eleitos pelo Parlamento (legitimidade democrática indireta);
 Presidente da Confederação representa a Nação, mas não exerce poderes próprios;
 Alinhamento do Executivo com o Parlamento, visto que o Executivo é designado pelo Legislativo,
pelo que existe um alinhamento de ideias que não provoca bloqueios à atividade executiva.
 Traços presidenciais:
 Irresponsabilidade política entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo;
 Inexistência de condicionamento estrutural – nenhum poder pode por termo ao mandato do
outro.
 Parlamento bicameral – uma proporcional à população de cada cantão e outra constituída por dois
representantes de cada cantão (federalismo);
 O Poder Executivo assume a Chefia do Estado;
 Apenas dois órgãos de soberania: Presidente da República e o Parlamento.

 Traços específicos:
 Competências próprias do Poder Executivo e da Chefia de Estado assumidas pelo Conselho Federal
(7 membros);
 Presidente da Confederação preside às sessões do órgão (um ano de mandato, rotativo) e exerce
as competências de Representação, com respeito pelo Programa e deliberações do Conselho.

Sistema de governo semipresidencial


 É um sistema historicamente mais recente (Europa, séc. XX) que se caracteriza por ser uma
conciliação/convergência de traços parlamentares e presidenciais. É uma categoria mista, sendo que
cada sistema de governo semipresidencial pode ser caracterizado por ser mais presidencial ou mais
parlamentar.

 Existem dúvidas quanto ao facto de se tratar de um sistema autónomo, ou seja, de um sistema à parte
dos dois grandes sistemas. No entanto, a opinião mais difundida é que este é, de facto, um sistema
autónomo com características próprias e aplicado de formas diferenciadas.

 Traços essenciais (e distintivos):


 Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e exerce poderes significativos, próprios e efetivos;
consoante os sistemas em concreto, pode ser cotitular do Poder Executivo.
 O Governo é politicamente responsável perante o Parlamento.

 Traços presidenciais:
 Chefe de Estado é órgão politicamente ativo, ou seja, exerce poderes próprios e efetivos – centro
autónomo de poder;
 Eleição do Chefe de Estado por sufrágio direto e universal – legitimação democrática direta do seu
Poder e poderes;
 Dois órgãos de soberania eleitos no contexto de sufrágios próprios: Parlamento e Presidente da
República;
 O Chefe de Estado é politicamente irresponsável perante o Governo e o Parlamento;
 O Governo responsável perante o Chefe de Estado, visto que todos os secretários de Estado são
apontados pelo PR, que pode nomeá-los e demiti-los quase livremente.
 Exemplos de poderes efetivos de intervenção e direção política do Chefe de Estado:
 Promulgação e veto em relação ao Parlamento e ao Governo;
 Suscitar fiscalização da constitucionalidade;
 Sujeição de questões a referendo (normalmente por iniciativa do Governo ou Parlamento);
 Nomeação de altos funcionários do Estado e titulares de outros órgãos;
 Decretar estados de exceção constitucional (nalguns casos, poderá assumir poderes especiais
nesse contexto);
 Competências (partilhadas ou não) em matéria de defesa e relações internacionais;
 Demitir o Governo – e, nalguns casos, dirigi-lo juntamente com o PM;
 Enviar mensagens ao país e ao Parlamento;
 Dissolução parlamentar.

É o garante do funcionamento do sistema político.

 Traços parlamentares:
 O Primeiro-Ministro é Chefe do Executivo e dirige o Governo;
 O Governo é formado de acordo com os resultados das eleições legislativas (condicionamento do
poder do Chefe de Estado);
 O Governo depende da confiança parlamentar e é politicamente responsável perante o
Parlamento – apreciação do programa de Governo, moções de confiança, moções de censura;
 O Chefe de Estado é politicamente irresponsável perante o Governo e o Parlamento.

 Traços próprios:
 Três órgãos de soberania (PR, Assembleia e Governo) com intervenção efetiva no exercício do
poder político – poderes próprios, livres e significativos;
 Dupla responsabilidade do Governo perante o Chefe de Estado e o Parlamento. Quanto ao
Presidente, poderá haver confiança política ou institucional consoante os sistemas em concreto.
 Possibilidade, geralmente, de dissolução Parlamentar pelo Chefe de Estado por sua decisão e
iniciativa autónoma – entre nós, o PR não pode fazê-lo em certas alturas (ex: estado de
emergência, senão a sua renovação é posta em causa).

 Na maioria dos casos, estes são mais próximos do sistema parlamentar do que do sistema presidencial,
na medida em que acolhem integralmente um traço essencial do primeiro mas só acolhem
parcialmente um traço essencial do segundo.
 Tinham a intenção de racionalizar e corrigir as fraquezas do sistema parlamentar –
parlamentarismo – de forma a garantir a estabilidade, eficácia e continuidade governativa e a
evitar instabilidade política.
 Funcionam com uma base parlamentar com um reforço da posição e poderes do Presidente da
República – sistema de “base parlamentar com corretivo presidencial”: PR tem poderes próprios
atribuídos para controlar o parlamentarismo.
 Em termos práticos, funciona de forma muito variável/diferenciada, baseada no texto e na prática
constitucional. Distinguem-se, particularmente, consoante os poderes exercidos pelo Presidente
da República.
Concretizações distintas:
 Modelo aparente ou meramente representativo (Áustria, Irlanda, Islândia):
 Chefe de Estado não exerce efetivamente os poderes próprios constitucionalmente atribuídos;
 Comporta-se como poder simbólico/de representação (tipo parlamentar).
 Modelo garante ou de moderação (Portugal):
 Chefe de Estado atua como poder moderador, de garantia da Constituição e do sistema político
(papel de garantir, por exemplo, a separação de poderes), e do normal funcionamento das
instituições democráticas. Em teoria, é “não-militante” – não está associado a um partido político,
candidata-se por si, como pessoa individual, não oferece um programa político nas eleições, mas
sim uma visão sobre a sociedade. Deverá comportar-se exterior à lógica político-partidária, tem de
respeitar o Governo/ideologia escolhida pela população.
 Não há coabitação no Governo. Apenas coexistência institucional com o Primeiro-Ministro.

 Experiência Modelo – modelo francês, Constituição de 1958:


 Modelo militante, na medida em que o PR atua como militante de um partido, para fazer cumprir o
programa de Governo, ou de diarquia/bicefalia (se o partido do PR não tiver a maioria absoluta ou
simples parlamentar) no Executivo, liderado pelo PM e pelo PR como co-titulares. O PR preside ao
Conselho de Ministros e assume competências executivas.
 Bicefalia em sentido estrito: O PR é de um lado político e a maioria parlamentar é de outro, o
que faz com que o PR tenha um programa político diferente do que o do Governo, saído da
AR. Solução: o PR não interfere nas decisões a não ser as de matéria de política externa e
defesa, onde conduz de acordo com o seu programa.

 Existe uma preponderância presidencial acentuada consoante as maiorias eleitorais (visto que o
Governo é do mesmo partido da maioria da AR) e a prática política. Fora das situações de
coabitação em sentido estrito, o Chefe de Estado conduz e dirige o Governo, que executa o
Programa do Presidente – o PM é subordinado ao PR –, e dirige uma maioria parlamentar que lhe é
favorável, ou seja, que é o mesmo partido.

 Segundo certas posições, é o único sistema verdadeiramente semipresidencial.

Sistema de governo português


 Doutrina maioritária – Sistema de governo semipresidencial:
 Eleição do PR com sufrágio universal e direto, que lhe confere legitimidade democrática direta e
legitimação popular para o exercício de poderes com relevância política, próprios – atribuídos pela
Constituição – e efetivos – diferente de simbólicos (art.º 121).
 Poder de veto, que limita a função legislativa de forma suspensa (AR) ou absoluta (Governo). Este é
utilizado de forma não arbitrária, visto que o exercesse sem qualquer fundamento a toda a hora,
estaria a ir contra a sua função de garantir o equilíbrio e o regular funcionamento das instituições
democráticas (art.º 134/b; 136).
 O PR tem poderes de direção e decisão politica (art.º 133-135).
 Responsabilidade meramente institucional do Governo perante o PR – o Governo não depende da
confiança política do PR e este não pode demiti-lo por razões políticas (art.º 190, 191 e 195 nº2).
 Dissolução parlamentar como poder próprio e livre do Chefe de Estado (art.º 133/e; 172).

 Outras doutrinas:
 Sistema parlamentar-presidencial (Gomes Canotilho) – o mesmo que semipresidencial, apenas
considera que a expressão semipresidencial não caracteriza os sistemas semipresidenciais de uma
forma "feliz", visto que existe uns que têm mais uma parte do que outra.
 Sistema parlamentar racionalizado (André Gonçalves Pereira) – devido aos poderes do PR agirem
como uma cláusula de racionalização.

 Presidencialismo de primeiro-ministro (Adriano Moreira) – devido ao facto de o PM poder assumir


eventualmente um carácter poderoso se tiver uma maioria absoluta na AR e o PR for apoiante do
seu partido.

 Elementos do sistema semipresidencial na CRP – nos ppt imprimidos:


 Dupla responsabilidade do Governo perante o Chefe de Estado e o Governo.
 Três órgãos de soberania com intervenção efetiva no exercício do poder político (indicar as
competências e eleição de cada um para justificar – artigo 121º).
 Dissolução parlamentar.

 Critérios de caracterização:
 Relação de responsabilidade política do Governo/Executivo perante a AR/Legislativo, que se
encontra na base do sistema parlamentar (e tudo o que dela decorre).
 Posição e estatuto do Chefe de Estado: é eleito de forma direita e universal e tem poderes
próprios, efetivos e significativos, nomeadamente enquanto poder moderador, garante de
estabilização, extrapartidário, etc.

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